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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA
COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

LEANDRO CÂNDIDO DE SIQUEIRA

DESENVOLVIMENTO DO CÁLCULO DA PROTENSÃO


PARA O SOFTWARE DE VIGAS PROTENDIDAS CABBLIC

Salvador
2022
LEANDRO CÂNDIDO DE SIQUEIRA

DESENVOLVIMENTO DO CÁLCULO DA PROTENSÃO


PARA O SOFTWARE DE VIGAS PROTENDIDAS CABBLIC

Monografia apresentada ao Curso de graduação em


Engenharia Civil, Escola Politécnica, Universidade
Federal da Bahia, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Daniel de Souza Machado

Salvador
2022
Dedico este trabalho ao meu pai, Nivaldo, à minha mãe, Armanda, e à minha
irmã, Lívia,
Por todo apoio durante esta jornada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Nivaldo Siqueira e Armanda Siqueira, e à minha irmã Lívia Siqueira,
por terem me apoiado em todos os momentos.

Agradeço aos meus amigos João Rios, Naian Silva, Rafael Tavares e Yann Falcão, que me
acompanham desde o colégio e compartilharam esta etapa de graduação comigo. Agradeço
também à Esther Catarina, Ítalo Barbalho, Márcia Luisa, Monalisa Passos e Samara Lyrio, que
mesmo distantes sempre me apoiaram.

Agradeço aos amigos que fiz na UFBA: Aline Chamusca, Gustavo Cunha, Jade Pessoa,
Leonardo Viana, Manuella Santana, Roberta Rezende e Yan Carneiro, que tornaram o processo
muito mais agradável.

Agradeço também à equipe GETEC, aos amigos que fiz e aos incríveis profissionais que tive a
oportunidade de conhecer, em específico o Prof. Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira e
à Mestre Caroline Silva Araújo, que me orientaram durante o tempo que participei da equipe.

Agradeço à João Bittencourt, pelos ensinamentos de programação e apoio no desenvolvimento


deste software, e à todos que de alguma forma contribuíram para minha formação.

Por fim, agradeço ao Professor Doutor Daniel de Souza Machado, por ter me orientado no
desenvolvimento deste trabalho e por todo o apoio e ensinamentos que tornaram este trabalho
possível.
“Nunca ande por trilhas, pois assim só irá até onde outros já foram” – Alexander Graham
Bell
SIQUEIRA, Leandro Cândido. Desenvolvimento do Cálculo da Protensão para o Software de
Vigas Protendidas Cabblic. 75 p. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso) – Escola
Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2022.

RESUMO

A protensão é uma técnica que utiliza aços de alta resistência para promover estados iniciais de
tensão em elementos de concreto, visando combater as solicitações causadas pela utilização da
estrutura. O concreto protendido possibilita a viabilização de estruturas com grandes vãos,
promovendo flechas menores e fissuração reduzida comparado aos mesmos elementos em
concreto armado. Devido à complexidade dos cálculos da protensão, esta área é muito
beneficiada por programas computacionais, mas a oferta dessas ferramentas ainda é muito
limitada. Este trabalho apresenta o desenvolvimento do módulo de cálculo de protensão do
software Cabblic, como uma continuação ao software de auxílio de traçado e detalhamento de
cabos de protensão Tensor Pro. O Cabblic é um software desenvolvido em ambiente web para
cálculo e detalhamento de vigas protendidas e que faz parte de um projeto maior e muito mais
complexo. Para o escopo deste trabalho, foi optado por discutir como foi desenvolvido o cálculo
da protensão, apresentando o fluxo de projeto no software, o processo de cálculo e como este
foi adaptado e viabilizado em ambiente computacional.

Palavras-chave: Concreto Protendido. Vigas. Software. Engenharia. Cabblic.


ABSTRACT

Prestressing is a technique that uses high-strength steel to promote initial states of tension in
concrete elements, in order to combat the stresses caused by the use of the structure. Prestressed
concrete enables the construction of structures with large spans, promoting smaller deflections
and reduced cracking compared to the same elements in reinforced concrete. Due to the
complexity of prestressing calculations, this area is strongly benefited by computer programs,
but the supply of these tools is currently very limited. This research presents the development
of the prestressing calculation module of the Cabblic software, as a continuation of the Tensor
Pro prestressing cable tracing and detailing tool. Cabblic is a software developed in a web
environment for calculating and detailing prestressed beams and it is part of a larger and much
more complex project. For the purposes of this paper, it was decided to discuss how the
prestressing calculation was developed, presenting the project flow in the software, the
calculation process, and how it was adapted and made possible in a computational environment.

Keywords: Prestressed Concrete. Beams. Software. Engineering. Cabblic.


LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Funcionamento de elementos em concreto armado .............................................. 5
Figura 2.2 – Funcionamento de elementos em concreto protendido ......................................... 6
Figura 2.3 – Efeitos da força de protensão ................................................................................ 7
Figura 2.4 – Pós-tensão não Aderente (Cordoalhas engraxadas) .............................................. 8
Figura 2.5 – Pós-tensão com Aderência Posterior..................................................................... 9
Figura 2.6 - Vista do Software Tensor Pro .............................................................................. 13
Figura 2.7 – Fluxo básico da funcionalidade do traçado de cabos .......................................... 13
Figura 2.8 – Classe que modela uma viga ............................................................................... 14
Figura 2.9 – Diagrama da relação entre as entidades .............................................................. 15
Figura 2.10 – Análise da seção em x = 1000 cm ..................................................................... 15
Figura 3.1 – Função para cálculo do fcd................................................................................... 16
Figura 3.2 – Utilização da função que calcula o valor de fcd................................................... 17
Figura 3.3 – Delineamento da Pesquisa .................................................................................. 17
Figura 3.4 – Logo do software Cabblic ................................................................................... 18
Figura 3.5 – Fluxo de Utilização do Software ......................................................................... 19
Figura 3.6 – Fluxo de cálculo da protensão ............................................................................. 20
Figura 3.7 – Menu de Critérios na Categoria Seções .............................................................. 20
Figura 3.8 – Formulário de geometria da seção transversal .................................................... 21
Figura 3.9 – Formulários opcionais da seção contribuinte e pré-laje ...................................... 22
Figura 3.10 – Parâmetros de geometria da seção da viga ........................................................ 22
Figura 3.11 – Propriedades geométricas da seção transversal (simples ou composta) ........... 23
Figura 3.12 – Seção Triangulada ............................................................................................. 24
Figura 3.13 – Propriedades geométricas de um triângulo ....................................................... 24
Figura 3.14 – Entrada de dados do tipo de concreto estrutural utilizado ................................ 25
Figura 3.15 – Entrada de dados dos carregamentos ................................................................ 26
Figura 3.16 – Entrada de dados do tipo de concreto estrutural utilizado ................................ 27
Figura 3.17 – Menu de Critérios na Categoria ELS ................................................................ 28
Figura 3.18 – Cálculo do Número de Cordoalhas Necessário................................................. 31
Figura 3.19 – Menu de Critérios na Categoria ATO ............................................................... 33
Figura 3.20 – Sequência de Cálculo das Perdas de Protensão ................................................ 34
Figura 3.21 – Cálculo da tangente do ângulo formado pelo cabo em uma seção z ................. 36
Figura 3.22 – Diagrama de Forças P0x com Ancoragem Ativa-Ativa ..................................... 36
Figura 3.23 – Método da Integral por Trapézios ..................................................................... 37
Figura 3.24 – Diagrama de forças P0(x) versus x após perdas por atrito e encunhamento ..... 38
Figura 3.25 – Área do diagrama das forças perdidas .............................................................. 39
Figura 3.26 – Menu de Critérios na Categoria Perdas............................................................. 41
Figura 3.27 – Formulários de materiais................................................................................... 43
Figura 4.1 – Página de gerenciamento dos projetos das vigas ................................................ 48
Figura 4.2 – Projeto da viga de exemplo ................................................................................. 48
Figura 4.3 – Tela de projeto .................................................................................................... 49
Figura 4.4 – Lado esquerdo da barra superior ......................................................................... 49
Figura 4.5 – Lado direito da barra superior ............................................................................. 49
Figura 4.6 – Menu de Entrada de Dados ................................................................................. 50
Figura 4.7 – Desenho das Vistas Lateral e Superior da Viga .................................................. 50
Figura 4.8 – Verificações Globais ........................................................................................... 51
Figura 4.9 – Análise do Corte: Propriedades Geométricas, ELS, Perdas e ATO.................... 52
Figura 4.10 – Gráficos ............................................................................................................. 52
Figura 4.11 – Gráfico de Tensões no ELS-D .......................................................................... 53
Figura 4.12 – Gráfico de Tensões no ELS-F ........................................................................... 53
Figura 4.13 – Gráfico de Tensões no Ato da Protensão .......................................................... 54
Figura 4.14 – Gráfico dos Coeficientes de Fluência ............................................................... 54
Figura 4.15 – Configurações padrão do cálculo ...................................................................... 55
Figura 4.16 – Gráfico da Força de Protensão Após as Perdas................................................. 55
Figura 4.17 – Resultados para Entrada Manual de 22 Cordoalhas.......................................... 56
Figura 4.18 – Perdas de Protensão para o Caso da Pré-Tração ............................................... 56
Figura 4.19 – Erro devido ao posicionamento do cabo acima do centro de gravidade ........... 57

LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Verificações no ELS de acordo com o tipo de concreto estrutural ....................... 9
Tabela 2.2 – Combinações Últimas e de Serviço .................................................................... 10
Tabela 3.1 – Combinações Últimas e de Serviço .................................................................... 46
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ATO é o ato da protensão
Ac é a área de concreto da seção transversal
Ap é a área de aço ativo
Ap,1cord é a área de uma cordoalha
As,ATO é a área de aço da armadura passiva no ATO
CG representa o centro de gravidade de um elemento de área
At representa a área de um triângulo
d é a distância do centro de gravidade de um elemento de área até o centro de gravidade da
seção transversal da qual ele faz parte
Eci é o módulo de elasticidade do concreto tangente inicial
Eci(t) é o módulo de elasticidade do concreto aos t dias
ep é a excentricidade do cabo de protensão
Ep é o módulo de elasticidade da armadura ativa
ELS representa os estados-limites de serviço
ELS-CE representa o estado limite de compressão excessiva
ELS-D representa o estado limite de descompressão
ELS-F representa o estado limite de formação de fissuras
ELU representa o estado-limite último
Ftração representa uma força de tração
fbpd é a resistência de aderência de cálculo da armadura ativa
fck é a resistência à compressão característica do concreto aos 28 dias
fckj é a resistência à compressão característica do concreto aos j dias
fctk,inf é a resistência à tração inferior característica do concreto
fctm é a resistência à tração direta média
fcd é a resistência de cálculo do concreto
Fd é o valor de cálculo das ações para combinação última
Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinação de serviço
Fgk representa as ações permanentes diretas
Fqk representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida principal
fpyd é o valor de cálculo da resistência de escoamento do aço ativo
hfic é a espessura fictícia
Ix é o momento de inércia em torno do eixo x, na altura do centro de gravidade da seção
transversal
Ix̅ é o momento de inércia em torno do eixo x, na altura do centro de gravidade de um
elemento de área
k é o coeficiente de perda por metro de cabo provocada por curvaturas não intencionais do
cabo
l é o comprimento da pista de ancoragem
lbp é comprimento de ancoragem básico para armadura ativa
lbpd é comprimento de ancoragem para armadura ativa
lbpt é comprimento de transferência da armadura pré-tracionada
n é o número de cabos
Ncord é o número de cordoalhas
Pi é a força máxima aplicada à armadura de protensão pelo equipamento de tração
P0(x) é a força na armadura de protensão após as perdas por atrito
P0’(x) é a força na armadura de protensão após as perdas por acomodação da ancoragem
Pimediatas é a força de protensão após as perdas imediatas
Pi,1cord é a força de protensão inicial de uma cordoalha
P∞ é a força de protensão a tempo infinito, após todas as perdas de protensão
P∞,nec é a força de protensão necessária a tempo infinito
s é um parâmetro que depende do tipo do cimento adotado
t é a idade do concreto no período analisado
tfic é a idade fictícia do concreto
t0 é o instante de aplicação de carga
t∞ é a vida útil da estrutura
U é a umidade média do ambiente
Wsup é o módulo de resistência superior
Winf é o módulo de resistência inferior
x é a abscissa contada a partir da seção do cabo, na qual se admite que a protensão tenha sido
aplicada ao concreto
αE é o coeficiente que depende do tipo do agregado
αp é a relação entre Ep e Eci
β1 é o coeficiente de crescimento da resistência do concreto
βs(t) é o coeficiente relativo à retração no instante t
ecs (t) é a deformação por retração, no intervalo de tempo (t, t 0)
ecs∞ é o valor final da retração
e1s é o coeficiente dependente da umidade relativa do ambiente e da consistência do concreto
e2s é o coeficiente dependente da espessura fictícia da peça
γc é o coeficiente de ponderação da resistência do concreto
γf é o coeficiente de ponderação das ações no ELU
γp é o coeficiente de ponderação das cargas oriundas da protensão
φa é o coeficiente de deformação rápida
φd é o coeficiente de deformação lenta reversível
φf é o coeficiente de deformação lenta irreversível
φ(t, ti) é o coeficiente de fluência, para o intervalo (t, t i)
Δl é a distância de acomodação do dispositivo de ancoragem na pré-tração
Δσcgi são as tensões no concreto, na fibra da armadura protendida, devido aos carregamentos
gi, aplicados nas idades ti sucessivas
Δσp é a perda de tensão na armadura de protensão
Δσp,c+s (t, t0) é a perda de tensão devido ao efeito conjunto retração e fluência
Δσpr (t, t0), rel é a perda de tensão devido à relaxação do aço ativo
Δw é o valor da acomodação do dispositivo de ancoragem
σcomb representa a tensão devido à uma combinação
σcp é a tensão no concreto, ao nível do centro de gravidade de Ap, devido à protensão
simultânea dos n cabos
σcg é a tensão no concreto ao nível do centro de gravidade de Ap, devido à ação das cargas
σlim representa a tensão limite
σlim,ELS−CE é a tensão limite no ELS-CE
σlim,ELS−D é a tensão limite no ELS-D
σlim,ELS−F é a tensão limite no ELS-F
σnec,prot representa a tensão necessária devida a protensão
σpi é a tensão na armadura ativa imediatamente após a aplicação da protensão
σp∞ é a tensão devido a protensão a tempo infinito
ψ0 é o fator de redução de combinação para ELU
ψ1 é o fator de redução de combinação frequente para ELS
ψ2 é o fator de redução de combinação quase permanente para ELS
Ω é a área do diagrama de forças perdidas
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
1.1. JUSTIFICATIVAS ...................................................................................................... 2

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA ..................................................................................... 3

1.2.1. Objetivo Principal ................................................................................................. 3


1.2.2. Objetivos Específicos ........................................................................................... 3
1.3. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................... 3

1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................... 4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 5


2.1. CONCRETO PROTENDIDO ..................................................................................... 5

2.1.1. Princípio da protensão .......................................................................................... 5


2.1.2. Tipos de protensão ................................................................................................ 7
2.1.3. Cálculo da protensão .......................................................................................... 10
2.2. SOFTWARES DE ENGENHARIA .......................................................................... 11

2.2.1. Contexto de softwares de protensão ................................................................... 11


2.2.2. Paradigmas de programação ............................................................................... 12
2.2.3. Tensor Pro........................................................................................................... 12
3. METODOLOGIA........................................................................................................... 16
3.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................... 17

3.2. FLUXO DE PROJETO NO SOFTWARE ................................................................ 18

3.3. FLUXO DO CÁLCULO DA PROTENSÃO ............................................................ 19

3.3.1. Seções de cálculo ................................................................................................ 20


3.3.2. Cálculo das propriedades das seções .................................................................. 21
3.3.3. Cálculo dos esforços ........................................................................................... 25
3.3.4. Cálculo das combinações.................................................................................... 27
3.3.5. Cálculo das tensões limites ................................................................................. 28
3.3.6. Cálculo das tensões devido aos carregamentos .................................................. 29
3.3.7. Cálculo das tensões necessárias devido a protensão .......................................... 29
3.3.8. Cálculo da força de protensão necessária a tempo infinito para o ELS ............. 29
3.3.9. Definição da força de protensão inicial de uma cordoalha (Pi,1cord) ................... 30
3.3.10. Cálculo do número de cordoalhas da força inicial de protensão Pi ................ 30
3.3.11. Cálculo do número de cordoalhas adotado, Pimediatas e P∞ ............................... 30
3.3.12. Cálculo das tensões devido à protensão .......................................................... 31
3.3.13. Cálculo das tensões no ELS e no ATO; .......................................................... 31
3.3.14. Cálculo das tensões limites e armadura de tração no ATO ............................ 32
3.4. CÁLCULO DAS PERDAS DE PROTENSÃO ........................................................ 33

3.4.1. Perdas iniciais: acomodação dos dispositivos de ancoragem (Pré-tração) ......... 34


3.4.2. Perdas imediatas: transferência por ancoragem da força de protensão .............. 35
3.4.3. Perdas imediatas: atrito entre cabo e bainha/concreto (Pós-tração) ................... 35
3.4.4. Perdas imediatas: acomodação dos dispositivos de ancoragem (Pós-tração)..... 37
3.4.5. Perdas imediatas: devido encurtamento do concreto (Pós-tração) ..................... 39
3.4.6. Perdas imediatas: devido encurtamento do concreto (Pré-tração)...................... 41
3.4.7. Perdas progressivas (Pré-tração e pós-tração) .................................................... 41
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................ 47
4.1. FLUXO DE PROJETO DE UMA VIGA NO CABBLIC ......................................... 47

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 58
5.1. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..................................................... 58

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 60


1 Introdução 1

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de projetos de estruturas evoluiu drasticamente nas últimas décadas.


O processo de cálculo que era totalmente manual foi otimizado com planilhas e softwares
simples que faziam as etapas repetitivas em alguns minutos, enquanto os desenhos à mão deram
lugar aos desenhos CAD (Computer Aided Design; do inglês, Desenho assistido por
computador), com uma redução considerável do tempo de desenvolvimento de projetos.
Posteriormente, com o surgimento de softwares específicos para dimensionamento de
estruturas, o dimensionamento e geração de desenhos foram interligados, otimizando cada vez
mais o processo.
Atualmente, existem diversos softwares que modelam, calculam e detalham estruturas,
reduzindo o tempo gasto, diminuindo as margens de erro e possibilitando estudos mais
detalhados e mais otimizados, o que torna o uso de softwares essencial para que o engenheiro
consiga desenvolver projetos de forma competitiva. Além disso, muitos deles entregam o
detalhamento dos elementos, que costuma ser a maior dificuldade dos engenheiros,
principalmente os com pouco tempo de profissão.
Para edificações convencionais, em concreto armado, o engenheiro tem diversas opções
de softwares para desenvolvimento de projetos, possibilitando que ele escolha aquele que mais
se adeque às suas necessidades. Já para estruturas concreto protendido, os softwares são
limitados a opções que fazem o cálculo de apenas alguns tipos específicos de protensão, que
possuem restrições quanto às geometrias da seção transversal e que geralmente calculam apenas
seções mais simples ou utilizam de métodos de cálculo não muito precisos, além de deixar a
desejar na utilização, nos relatórios ou na falta de detalhamentos.
Uma alternativa muito utilizada ao uso de softwares é o desenvolvimento de planilhas
em Excel, que fazem parte do dia a dia de muitos engenheiros. Entretanto, estas planilhas
costumam ficar limitadas aos cálculos mais simples e corriqueiros, já que para cálculos mais
complexos e variados, é necessário muito tempo e esforço para que se desenvolva algo que
abranja as necessidades e seja de fácil utilização, já que com o aumento de complexibilidade as
planilhas tendem a ficar extensas e confusas, aumentando a probabilidade de erros no processo
de utilização das mesmas. Além disso, toda a etapa de detalhamento precisa ser feita a mão,
aumentando a carga de trabalho do projetista.
Diante deste cenário, diversos escritórios de engenharia não fazem projetos com
protensão porque a metodologia do desenvolvimento dos projetos não é competitiva em relação
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Leandro Cândido de Siqueira. Salvador: Escola Politécnica / UFBA, 2022
1 Introdução 2

aos projetos em concreto armado, levando a um déficit de projetistas nessa área. Com isso, a
maioria dos profissionais sequer aprende a dimensionar utilizando protensão, que em
contrapartida tem crescido em demanda devido aos ganhos estruturais e maiores possibilidades
para os projetos arquitetônicos que ela oferece. Na últimos anos, houve a introdução de lajes
protendidas em alguns softwares bastante utilizados de edificações que atendem as exigências
das normas brasileiras de estruturas, trazendo uma melhora no cenário. Porém, a maioria não
possui suporte para o projeto de vigas protendidas, e aqueles que possuem, são complexos,
limitados a geometrias mais comuns e de difícil utilização. Além disso, estes softwares para
vigas possuem alto custo de aquisição em relação aos resultados e a flexibilidade que oferecem.

1.1. JUSTIFICATIVAS

Diferentemente de outras áreas, os softwares de engenharia são em grande maioria


desenvolvidos pelos próprios engenheiros, já que os programadores são desestimulados pela
complexidade e necessidade de conhecimentos específicos para o desenvolvimento dos
mesmos. Principalmente nas áreas de estruturas, que precisam atender a exigências normativas
específicas de cada país, o número de programas de engenharia com qualidade se reduz
drasticamente, pois os engenheiros costumam a focar apenas na parte dos cálculos, já que é a
área possuem mais expertise.
Como resultado, têm-se softwares que deixam a desejar nas áreas de desenho e
principalmente na área de UI Design (User Interface Design; do Inglês, Design de interface de
utilizador), que tem como objetivo tornar a interação do utilizador o mais simples e eficiente
possível, bem como na área de UX Design (User Experience Design; do Inglês, Design de
experiência do usuário), que visa garantir a melhor experiência dos usuários durante o uso do
da ferramenta (ALOMARI et al., 2020). Para os escassos programas existentes na área, é
necessário fazer cursos para aprender como utilizá-los, já que são complexos e as interfaces não
são intuitivas, o que dificulta a adaptação dos projetistas com as ferramentas, além de
desestimular aqueles que cogitam entrar na área.
Em contrapartida, Bittencourt (2021) desenvolveu um software de engenharia para
auxiliar no traçado e detalhamento de cabos de protensão, permitindo a visualização em tempo
real das modificações e posterior exportação do modelo em formato DXF. O Tensor Pro, como
foi chamado, possuía uma interface simples e intuitiva, além de ter sido construído com base

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Desenvolvimento do Cálculo da Protensão para o Software de Vigas Protendidas Cabblic
1 Introdução 3

nas tecnologias mais atuais, sendo disponibilizado em ambiente web e acessível de qualquer
computador ou sistema operacional.
Em seu trabalho, Bittencourt (2021) indicou como sugestão para trabalhos futuros a
continuação do software Tensor Pro, visando implementar novas funcionalidades, como o
desenvolvimento do máximo de verificações para vigas. A união da funcionalidade de traçado
e detalhamento dos cabos de protensão desta ferramenta, associado ao cálculo da protensão para
vigas, teria como resultado um software que traria uma contribuição muito enriquecedora para
a Engenharia Civil. A partir disso, deu-se origem a este trabalho.

1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA

1.2.1. Objetivo Principal

O objetivo principal deste trabalho é desenvolver o processo de cálculo da protensão


para vigas como continuidade ao software de auxílio do traçado e detalhamento de cabos de
protensão Tensor Pro.

1.2.2. Objetivos Específicos

Como objetivos específicos, pretende-se desenvolver um software que contemple o que


está citado a seguir:
• Calcular propriedades geométricas de seções transversais variadas;
• Calcular automaticamente o número de cordoalhas;
• Calcular as perdas de protensão de modo preciso;
• Realizar verificações de acordo com a ABNT-NBR 6118:2014 - Projeto de
estruturas de concreto – Procedimento;

1.3. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

• Não serão abordadas vigas contínuas, em que há a necessidade de utilização de


métodos hiperestáticos e cálculo do esforço hiperestático resultante da
protensão;
• Não será abordado concreto protendido nível 1 (protensão parcial);
• Não será abordado o dimensionamento e as verificações no Estado Limite
Último (ELU), com exceção do ELU por ocasião da protensão;
• Não será abordado o processo de desenvolvimento das interfaces do software.
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Leandro Cândido de Siqueira. Salvador: Escola Politécnica / UFBA, 2022
1 Introdução 4

1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é composto por cinco capítulos, além das Referências Bibliográficas.
No Capítulo 1, é feita uma introdução do tema, com apresentação das justificativas de
pesquisa, dos objetivos e da delimitação da pesquisa.
No capítulo 2, é realizada uma revisão bibliográfica sobre concreto protendido e
softwares de engenharia.
No capítulo 3 apresenta-se a metodologia da pesquisa, contemplando o delineamento da
pesquisa, o fluxo de projeto no software e o desenvolvimento do processo de cálculo da
protensão. Nesta etapa, o desenvolvimento do código é explicado, priorizando os conceitos e
métodos utilizados ao invés da programação.
No capítulo 4 os resultados obtidos são apresentados e discutidos, com um exemplo do
passo a passo do projeto, desde a criação de uma viga até a análise dos resultados.
No capítulo 5, são apresentadas as conclusões do trabalho com base nos resultados
alcançados e são indicadas sugestões para trabalhos futuros.

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Desenvolvimento do Cálculo da Protensão para o Software de Vigas Protendidas Cabblic
2 Revisão Bibliográfica 5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. CONCRETO PROTENDIDO

A partir da criação do cimento Portland, em 1824, e das primeiras fábricas, por volta de
1855, iniciou-se a utilização do concreto com armaduras de aço, inicialmente baseados em
observações empíricas (VERÍSSIMO, 1998). Somente em 1877 o efeito da aderência entre o
concreto e armaduras de aço foram compreendidos pelo americano Hyatt, passando a utilizar
as armaduras apenas nas partes tracionadas do concreto, e já em 1886 iniciaram as primeiras
proposições de pré-tensionar o concreto, com aparecimento das primeiras teorias sobre perdas
de protensão em 1912 (VERÍSSIMO, 1998). Por volta de 1930, o engenheiro francês Eugene
Freyssinet, responsável pelas pesquisas de perdas de protensão causadas pela retração lenta do
concreto e uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do concreto protendido como
conhecemos hoje, já apresentava trabalhos sobre aplicação de protensão no concreto, propondo
a utilização de aços e concretos de alta resistência (VERÍSSIMO, 1998; COLLINS;
MITCHELL, 1997). A partir de então, o concreto protendido passou a ser utilizado
mundialmente em pontes, galpões, reservatórios, edificações e nas mais diversas estruturas.

2.1.1. Princípio da protensão

Para compreender o funcionamento e as vantagens da protensão em relação ao sistema


convencional em concreto armado, é necessário entender inicialmente como funcionam estas
estruturas. Segundo a ABNT NBR 6118:2014, elementos em concreto armado são “aqueles
cujo comportamento estrutural depende da aderência entre concreto e armadura, e nos quais
não se aplicam alongamentos iniciais das armaduras antes da materialização dessa aderência”.
A Figura 2.1 apresenta o funcionamento dos elementos em concreto armado.

Figura 2.1 – Funcionamento de elementos em concreto armado

(a) (b)
Fonte: Adaptado de Cholfe e Bonilha (2018).
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Leandro Cândido de Siqueira. Salvador: Escola Politécnica / UFBA, 2022
2 Revisão Bibliográfica 6

A posição inicial (a) é aquela após a concretagem, onde a estrutura encontra-se


descarregada. Durante a utilização da estrutura, há aplicação de carregamentos (b), ocasionando
deformações e o aparecimento de fissuras. Para garantir o conforto dos usuários durante a
utilização, a ABNT NBR 6118:2014 impõe limites de deformações em seu item 13.3 –
Deslocamentos Limites, e também traz exigências quanto à fissuração (item 13.4) para garantir
maior proteção das armaduras e durabilidade das estruturas. Nos casos em que a fissuração está
ligada à funcionalidade da estrutura, como na estanqueidade de reservatórios, a norma
recomenda a utilização de limites ainda menores e cita o uso da protensão: “Para controles mais
efetivos da fissuração nessas estruturas, é conveniente a utilização da protensão.”
Já os elementos em concreto protendido podem ser compreendidos como:

[…] aqueles nos quais parte das armaduras é previamente alongada por
equipamentos especiais de protensão, com a finalidade de, em condições de
serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos da estrutura, bem
como propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no estado-
limite último (ELU). (ABNT NBR 6118:2014).
Estas armaduras são confeccionadas na forma de cordoalhas e podem ser posicionadas
dentro de bainhas, formando cabos, ou de forma individual. Após a concretagem da peça, no
concreto protendido, é aplicada uma tensão no aço, o que gera efeitos nos elementos com
sentido contrário ao da solicitação (Figura 2.2).

Figura 2.2 – Funcionamento de elementos em concreto protendido

(a) (b)

(c)
Fonte: Adaptado de Cholfe e Bonilha (2018).

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2 Revisão Bibliográfica 7

A posição inicial do elemento (a) é alterada na etapa da protensão (b), quando os cabos
ou cordoalhas, ao ser tracionados, geram forças de compressão e momentos fletores na peça.
Como resultado, durante a fase de utilização da estrutura, o elemento protendido (c) apresenta
redução da fissuração e deformações menores em comparação ao concreto armado, para o
mesmo caso de carregamentos.
Os efeitos gerados pela protensão dependem do posicionamento do cabo em relação ao
centro de gravidade da peça (CHOLFE; BONILHA, 2018). A Figura 2.3 apresenta os efeitos
da força de protensão em uma seção transversal, com os diagramas de tensões.

Figura 2.3 – Efeitos da força de protensão

Fonte: Adaptado de Cholfe e Bonilha (2018).

A força de protensão, representada por Np, pode ser entendida como uma força normal,
gerando uma tensão de compressão obtida pela divisão da força de protensão pela área da seção
transversal. Caso esta força esteja aplicada de forma excêntrica em relação ao centro de
gravidade da seção, a excentricidade ep gera um momento fletor no centro de gravidade da peça,
levando as tensões de tração e compressão, que vão variar a depender do posicionamento do
cabo (CHOLFE; BONILHA, 2018). Na prática, o posicionamento do cabo é direcionado pelas
tensões que se deseja alcançar para compensar os efeitos dos esforços solicitantes.

2.1.2. Tipos de protensão

Os sistemas de aplicação da protensão são divididos em pré e pós-tração. Na pré-tração,


as cordoalhas são tensionadas em uma pista de protensão e a peça é concretada aderida ao aço.

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Após atingir uma determinada resistência, os dispositivos de ancoragem das cordoalhas são
soltos, transferindo à protensão ao elemento por aderência (PFEIL, 1984).
Na pós-tração, as cordoalhas de aço podem ser do tipo aderente ou não aderente.
No caso da pós-tensão não aderente, as cordoalhas são envolvidas por uma camada de proteção
preenchida com graxa (Figura 2.4) e a força de protensão é transferida pelas ancoragens nas
extremidades da peça (PFEIL, 1984). Após o concreto atingir uma determinada resistência, é
aplicada a protensão.

Figura 2.4 – Pós-tensão não Aderente (Cordoalhas engraxadas)

Fonte: MAC Protensão (www.macprotensao.com.br).

No caso da pós-tração com cordoalhas não aderentes, as cordoalhas são posicionadas


no elemento dentro de bainhas (Figura 2.5), já que para realizar a protensão o concreto não pode
estar aderido ao aço. Após a protensão, é feita a injeção de uma calda de cimento, promovendo
a aderência das cordoalhas ao concreto nas idades posteriores (CHOLFE; BONILHA, 2018).

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2 Revisão Bibliográfica 9

Figura 2.5 – Pós-tensão com Aderência Posterior

Fonte: MAC Protensão (www.macprotensao.com.br).

O concreto protendido pode ser classificado também quanto ao nível de protensão:


protensão parcial (nível 1), protensão limitada (nível 2) e protensão completa (nível 3). A
ABNT NBR 6118:2014 recomenda a definição do nível de protensão de acordo com o sistema
construtivo utilizado (pré ou pós-tração) e a classe de agressividade ambiental que a estrutura
está submetida. Além disso, para cada nível são feitas exigências relativas à fissuração, que
estão apresentadas na Tabela 2.1 a seguir.

Tabela 2.1 – Verificações no ELS de acordo com o tipo de concreto estrutural


Classe de
Tipo de concreto
agressividade Exigências relativas à Combinação de ações
estrutural ambiental (CAA) e fissuração em serviço a utilizar
tipo de protensão
Pré-tração com CAA
Concreto protendido
I ou
nível 1 (protensão ELS-W wk ≤ 0,2 mm Combinação frequente
Pós-tração com CAA
parcial)
I e II
Concreto protendido Pré-tração com CAA ELS-F Combinação frequente
nível 2 (protensão II ou Pós-tração com
limitada) CAA III e IV Combinação quase
ELS-D
permanente
Concreto protendido ELS-F Combinação rara
Pré-tração com CAA
nível 3 (protensão
III e IV ELS-D Combinação frequente
completa)
Fonte: Adaptada da ABNT NBR 6118:2014.

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As combinações utilizadas no cálculo dos Estados Limites utilizam coeficientes de


ponderação para estimar as solicitações de acordo com a probabilidade de ocorrerem
simultaneamente. As equações são apresentadas na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 – Combinações Últimas e de Serviço


Combinações Descrição Cálculo das solicitações
Combinações Nas combinações quase
quase permanentes de serviço, todas as
permanentes ações variáveis são consideradas 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 = 𝛴𝐹𝑔𝑖,𝑘 + 𝛴𝛹2𝑗 𝐹𝑞𝑗,𝑘
de serviço com seus valores quase
(CQP) permanentes Ψ2 Fqk
Nas combinações frequentes de
serviço, a ação variável principal
Combinações Fq1 é tomada com seu valor 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 = 𝛴𝐹𝑔𝑖𝑘 + 𝛹1 𝐹𝑞1𝑘 +
frequentes de frequente Ψ1 Fq1k e todas as demais
𝛴𝛹2𝑗 𝐹𝑞𝑗𝑘
serviço (CF) ações variáveis são tomadas com
seus valores quase permanentes Ψ2
Fqk
Nas combinações raras de serviço,
a ação variável principal Fq1 é
Combinações 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 = 𝛴𝐹𝑔𝑖𝑘 + 𝐹𝑞1𝑘 +
tomada com seu valor
raras de
característico Fq1k e todas as demais 𝛴𝛹1𝑗 𝐹𝑞𝑗𝑘
serviço (CR)
ações variáveis são tomadas com
seus valores frequentes Ψ1 Fqk
Esgotamento da capacidade
resistente para elementos
estruturais de concreto protendido.
Combinações
Deve ser considerada, quando 𝐹𝑑 = 𝛾𝑔 𝐹𝑔𝑘 + 𝛾𝑞 (𝐹𝑞1𝑘 +
Normais
necessário, a força de protensão
Últimas 𝛴𝛹0𝑗 𝐹𝑞𝑗𝑘 )
como carregamento externo com os
(ELU)
valores Pkmáx e Pkmín para a força
desfavorável e favorável,
respectivamente
Fonte: Adaptada da ABNT NBR 6118:2014.

2.1.3. Cálculo da protensão

O cálculo da protensão pode ser feito de duas formas: a) dimensionamento pelo ELU,
em que é definida a quantidade de cordoalhas necessárias de acordo com a proporção entre
armaduras ativas e passivas, com posterior verificação do ELS e b) dimensionamento pelo ELS,
visando atender às verificações de acordo com o nível de protensão adotado e verificando o
ELU, com cálculo da armadura passiva necessária (CHOLFE; BONILHA, 2018).
Independente da ordem escolhida, para o ELU, é necessário calcular o momento
solicitante devido às combinações normais últimas, utilizando os coeficientes de majoração γ g
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2 Revisão Bibliográfica 11

e γq. Com o momento solicitante, calcula-se a área de aço necessária para resistir aos esforços
de tração gerados.
Para o ELS, é necessário calcular as combinações de ações em serviço de acordo com o
definido na Tabela 2.1, calcular as tensões resultantes e em seguida calcular às tensões
necessárias devido a protensão de acordo com os limites de tensão impostos pela NBR para
cada estado limite. A partir da tensão necessária devido à protensão, calcula-se a força
necessária e o número de cordoalhas que produzem esta força (CARVALHO, 2012; CHOLFE;
BONILHA, 2018).
Uma etapa importante durante o dimensionamento de um elemento em concreto
protendido é o cálculo das perdas de protensão. Este cálculo varia de acordo com o tipo de
protensão definido (pré ou pós tração) e é feito pela aplicação de uma grande quantidade de
fórmulas, definidas na ABNT NBR 6118:2014 e complementadas pela literatura técnica
existente.
Para a pré-tração, as perdas de tensão na armadura ocorrem em três etapas: a) perdas
iniciais; b) perdas imediatas e c) perdas progressivas. As perdas iniciais (a) ocorrem devido à
acomodação dos dispositivos de ancoragem na cabeceira da pista de protensão. Já as perdas
progressivas (b) ocorrem na etapa da transferência da protensão devido ao encurtamento
elástico do concreto e devido à transferência por aderência da força de protensão. Por fim, as
perdas progressivas acontecem ao longo da vida útil da peça, devido aos efeitos de retração e
fluência do concreto e da relaxação sofrida pelo aço (CARVALHO, 2012).
No caso da pós-tração, as perdas são divididas em imediatas e progressivas. As perdas
imediatas ocorrem devido à perda por atrito, provocada pela aderência ao concreto e por
curvaturas não intencionais dos cabos; devido à acomodação dos dispositivos de ancoragem e
devido ao encurtamento elástico do concreto (CARVALHO, 2012). As perdas progressivas são
idênticas ao caso da pré-tração.

2.2. SOFTWARES DE ENGENHARIA

2.2.1. Contexto de softwares de protensão

Em 1997, Collins e Mitchell, em sua publicação “Preestressed Concrete Structures” já


traziam programas para auxiliar o cálculo de estruturas protendidas: os programas
computacionais “RESPONSE”, “SHEAR” e “MEMBRANE”, já que os cálculos relacionados
a protensão eram grandes e trabalhosos.
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2 Revisão Bibliográfica 12

Ao longo dos anos, outros autores e engenheiros também desenvolveram programas


para cálculo de protensão, como o Professor Doutor Paulo Sérgio dos Santos Bastos
(https://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/), que desenvolveu o programa “OblqCalco” para análise
de seções em concreto armado e protendido sujeitas à flexão oblíqua composta em estado-limite
último e de serviço, além de outros programas menos difundidos.
No contexto da engenharia civil, é comum que os projetistas desenvolvam suas próprias
ferramentas, geralmente planilhas, já que o uso de programas computacionais está relacionado
a um grande aumento de produtividade (FALCONER, 2013).
Atualmente existem alguns softwares difundidos que calculam protensão, como o
Eberick, da Alto Qi, o CYPECAD, da multiplus e o TQS, da TQS. Entretanto, o número ainda
é muito limitado, além do fato que estes softwares são focados em edificações.

2.2.2. Paradigmas de programação

O desenvolvimento de softwares é fundamentado na escolha da linguagem de


programação e dos paradigmas de programação utilizados. Um paradigma é o que determina
como a realidade será representada no código, ficando à critério do programador escolher e/ou
combinar os paradigmas mais adequados para analisar e resolver cada problema (JUNGTHON;
GOULART, 2010).
Cada paradigma possui metodologias de desenvolvimentos diferentes. O paradigma de
programação orientada a objetos (POO), por exemplo, tem o objetivo de representar cada
elemento do mundo real para uma abstração em código chamada “classe” ou “objeto”, de forma
a facilitar a compreensão humana e a manutenção e escalabilidade do sistema (LOPES, 2017).
Já o paradigma funcional é mais voltado para resolução de problemas científicos ou
matemáticos (LOPES, 2017).

2.2.3. Tensor Pro

O Tensor Pro é um software para auxílio no traçado e detalhamento de cabos de


protensão (Figura 2.6). Nele, é possível criar diferentes arranjos de cabos, com ajustes precisos
e visualização nas seções ao longo do elemento e exportação em DXF. Ele foi desenvolvido
por Bittencourt (2021), que propôs uma metodologia que poderia ser replicada para outros
softwares, além de ser melhorado e estendido.

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2 Revisão Bibliográfica 13

Figura 2.6 - Vista do Software Tensor Pro

Fonte: BITTENCOURT; J. P. A., 2021.

O objetivo de seu trabalho foi parametrizar viga e cabos, com retorno visual dos
formulários de geometria (desenho da seção transversal) e em seguida gerar resultados com
dados geométricos do cabo e desenhos em formato DXF. O fluxo da funcionalidade do software
é apresentado a seguir (Figura 2.7).
Figura 2.7 – Fluxo básico da funcionalidade do traçado de cabos

Fonte: Bittencourt, 2021.

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2 Revisão Bibliográfica 14

De acordo com Bittencourt (2021), a ferramenta que foi desenvolvida e apresentada em


seu trabalho faz parte da funcionalidade de um projeto maior e muito mais complexo, adaptado
para o escopo de um trabalho de conclusão de curso. Nos resultados apresentados pelo autor
(Figura 2.6), já era possível visualizar na interface da ferramenta algumas funcionalidades de
cálculo da protensão, que foram objeto de estudo deste trabalho e já estavam sendo
desenvolvidas na época.
Para o desenvolvimento do software, Bittencourt (2021) modelou as entidades que
representam o sistema (viga e cabos de protensão) por meio do paradigma de orientação a
objetos (POO), representando os elementos no código por meio de “classes” e “objetos”. As
classes funcionam como formas que possuem a estrutura para a construção dos objetos, que por
sua vez podem ser entendidos como os dados que representam cada elemento.
As classes criadas por Bittencourt (2021) modelavam os seguintes elementos: viga,
cabo, seção da viga e seção do cabo. Ao iniciar o projeto de uma viga, o software cria um objeto
novaViga, por exemplo, a partir da classe Beam (Figura 2.8), que é a classe que possui a
estrutura de dados da viga. Em seguida, o objeto novaViga é preenchido com os dados definidos
pelo usuário no formulário de geometria. Por fim, os cabos são criados de forma semelhante.
Figura 2.8 – Classe que modela uma viga

Fonte: Bittencourt, 2021.

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2 Revisão Bibliográfica 15

Com os dados armazenados nos objetos viga e cabos, são criados os objetos que
representam uma seção transversal, através das classes seção da viga e seção do cabo. Elas
interagem entre si de acordo com o representado a seguir (Figura 2.9).
Figura 2.9 – Diagrama da relação entre as entidades

Fonte: Bittencourt, 2021.

Portanto, para uma viga com 2000 cm, com três cabos (entidades representadas na
esquerda), será gerada uma seção transversal que representa a viga, e três seções que
representam os cabos, uma para cada (BITTENCOURT, 2021) (Figura 2.10).
Figura 2.10 – Análise da seção em x = 1000 cm

Fonte: Bittencourt, 2021.

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3 Metodologia 16

3. METODOLOGIA

Como o objetivo deste trabalho é desenvolver uma ferramenta de cálculo para vigas
protendidas como complemento ao software criado por Bittencourt (2021), a metodologia
adotada baseou-se complementação das funcionalidades do software desenvolvido em seu
trabalho por meio da introdução do procedimento de cálculo e verificações segundo a ABNT
NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento.
Diferente da programação orientada a objetos (POO), que é focada na arquitetura dos
dados da solução e que foi utilizada sabiamente por Bittencourt (2021) na definição de classes
para modelar as entidades relacionadas ao programa, como a própria viga, os cabos e as seções
transversais, neste trabalho foi utilizado o paradigma da programação funcional, já que esta é
muito mais focada na forma em que o código é desenvolvido e replica melhor os cálculos
sequenciais que fazem parte do dimensionamento da protensão.
Com o desenvolvimento das funções de cálculo, a arquitetura proposta e desenvolvida
por Bittencourt (2021) se manteve conservada, com a adição de novas funcionalidades que
poderão ser aplicadas para cada entidade. De maneira geral, será desenvolvida uma função
principal chamada calculate (calcular do inglês), que será responsável por realizar todos os
cálculos e retornar os resultados, que serão exibidos na forma de verificações, tabelas e gráficos.
Para o desenvolvimento, foi utilizada a linguagem de programação TypeScript, que
permite realizar a definição de tipos (número, texto, booleanos, vetores, etc.) para as variáveis
do cálculo, evitando a propagação de erros. Para exemplificar, a seguir é apresentada o código
da função para cálculo do fcd (Figura 3.1).

Figura 3.1 – Função para cálculo do fcd

export const calculateFcd = ( fck: number, gamac: number) => {


return fck / gamac;
};

Fonte: Autor (2022).

Para utilizá-la, basta chamar a função passando os parâmetros exigidos. Com o valor de
fck de 40 MPa e γc de 1,4, o resultado seria 28,5714286 MPa. No código, este valor seria
armazenado na variável declarada, podendo ser utilizado como se desejar. Toda vez que a
função é chamada novamente, o valor é recalculado de acordo com os parâmetros que foram
passados (Figura 3.2).

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3 Metodologia 17

Figura 3.2 – Utilização da função que calcula o valor de fcd

const fcd = calculateFcd(40,1.4);

Fonte: Autor (2022).

Também foram utilizadas softwares gratuitos e algumas ferramentas de código livre


para auxiliar no desenvolvimento, como as listadas a seguir:
• Editor de texto Visual Studio Code, para criação e edição do código-fonte;
• GitHub, para hospedagem do código-fonte com controle de versão;
• Biblioteca Poly2tri, para triangulação de polígonos;
• Biblioteca ApexCharts, para desenvolvimento dos gráficos;
• Biblioteca React, para construção dos formulários e da interface.

3.1. DELINEAMENTO DA PESQUISA

O desenvolvimento do trabalho foi dividido nas etapas apresentadas na Figura 3.3: a)


realização de uma revisão bibliográfica sobre o tema; b) estudo das tecnologias e da linguagem
de programação; c) definição do fluxo de utilização do software e do fluxo de cálculo da
protensão e d) programação dos cálculos pelo paradigma funcional.
Figura 3.3 – Delineamento da Pesquisa

Fonte: Autor (2022).

Como o software foi idealizado para atender ao mercado brasileiro, o processo de


cálculo foi embasado na ABNT NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento, fornecendo as equações e verificações a serem realizadas. De forma
complementar, o produto da etapa revisão bibliográfica (a) foi fundamental para a construção
dos conhecimentos da disciplina e embasamento teórico necessário. Já a etapa de estudo das
tecnologias e da linguagem de programação (b) trouxe os conhecimentos necessários para
possibilitar o desenvolvimento da parte tecnológica do software. Após essas duas etapas, deu-
se início ao planejamento do fluxo de projeto do software (c) e posteriormente desenvolvimento
dos cálculos (d), que serão detalhados de forma aprofundada ao decorrer deste trabalho.

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3 Metodologia 18

Como citado no capítulo introdutório, o objetivo deste trabalho é desenvolver um


módulo de cálculo para protensão e implementá-lo junto ao Tensor Pro, dando origem a um
software de dimensionamento completo para projetos de vigas protendidas, que foi nomeado
de Cabblic (Figura 3.4). Entretanto, como o processo de desenvolvimento do software como
um todo é muito mais extenso e complexo, além de abranger a aplicação de tecnologias voltadas
à área de computação, este trabalho foi adaptado ao desenvolvimento da funcionalidade de
cálculo da protensão para se adequar ao escopo de um Trabalho de Conclusão de Curso em
Engenharia Civil.

Figura 3.4 – Logo do software Cabblic

Fonte: Autor (2022).

A metodologia de desenvolvimento do trabalho é focada no passo a passo do processo


cálculo da protensão, apresentando os métodos utilizados para possibilitar os cálculos de forma
precisa em ambiente computacional. Para facilitar o entendimento, a discussão será
complementada com imagens dos formulários de entradas de dados e da interface do software,
porém sem entrar no mérito da metodologia de seu desenvolvimento.

3.2. FLUXO DE PROJETO NO SOFTWARE

Para manter a essência da ferramenta desenvolvida por Bittencourt (2021), a sequência


de entrada de dados foi aprimorada de maneira que o processo de utilização se mantivesse
simples, seguindo uma sequência lógica durante a definição dos parâmetros de entrada, seguida
da exibição dos resultados dos cálculos.
O fluxo de utilização, apresentado na Figura 3.5, foi idealizado do ponto de vista do
usuário e baseia-se em: a) definição dos parâmetros de entrada: carregamentos, geometria
(comprimento teórico da viga, geometria da seção transversal e da seção contribuinte, caso
existente), definição dos materiais, do traçado dos cabos e dos critérios da protensão (pré ou
pós-tração, aderente ou não aderente; data da aplicação da protensão; umidade; temperatura
média do ambiente e abatimento do concreto); b) análise dos resultados (desenhos da viga,

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Desenvolvimento do Cálculo da Protensão para o Software de Vigas Protendidas Cabblic
3 Metodologia 19

verificações, gráficos e tabelas), c) ajustes nos parâmetros de entrada, se necessário e d) geração


dos exportáveis, como desenho de formas, da cablagem, quantitativos e memorial de cálculo.

Figura 3.5 – Fluxo de Utilização do Software

Fonte: Autor (2022).

Para otimizar o fluxo do projeto, a atualização dos resultados é feita em tempo real. Para
isso, toda vez que houver uma alteração nos parâmetros que influenciam no cálculo, as funções
responsáveis por essa tarefa são chamadas e executadas. Desta forma, a utilização de um botão
para executar a ação de calcular a viga é dispensada e a utilização do software fica mais fluida.

3.3. FLUXO DO CÁLCULO DA PROTENSÃO

Dentro do fluxo do projeto, entre a etapa de definição dos parâmetros de entrada e


exibição dos resultados, há o processo de cálculo da protensão. Este cálculo segue um fluxo
bem definido, que varia de acordo com parâmetros definidos pelo usuário e é subdividido em
várias etapas, as quais são apresentadas na Figura 3.6 seguir.

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3 Metodologia 20

Figura 3.6 – Fluxo de cálculo da protensão

Fonte: Autor (2022).

Para implementação do cálculo, foi criada a função calculateBeam (do inglês, calcular
viga), que abrange a lógica necessária para seguir o fluxograma definido. Cada uma das etapas
do fluxograma foi criada como uma função específica, nomeada seguindo a mesma lógica da
função principal (calculateSectionsPositions, calculateSectionsProperties...), compondo o
cálculo por partes, de maneira sequencial. Ao longo deste capítulo, serão discutidas cada uma
destas etapas, apresentando os formulários para definição dos parâmetros de entrada, as
equações e os métodos de cálculo utilizados.

3.3.1. Seções de cálculo

O primeiro passo do dimensionamento é definir qual será o espaçamento entre as seções


que serão calculadas, que é feito a partir dos dados de comprimento da viga, definido no
formulário de geometria, e do número de seções, definido no menu de critérios (Figura 3.7).
Figura 3.7 – Menu de Critérios na Categoria Seções

Fonte: Autor.
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3 Metodologia 21

A origem do cálculo foi definida no extremo esquerdo da viga e as posições das seções
foram definidas a partir do espaçamento encontrado no eixo Z, já que a seção transversal foi
representada no plano XY, visando manter o padrão do sistema de coordenadas adotado nas
análises de seções. Para um vão de 40 metros, por exemplo, com um número de seções igual a
11, a viga será dividida igualmente em 10 espaços de 4 metros (0, 4, 8, 12, 16, 20, 24, 28, 32,
36, 40), que serão as seções utilizadas em todas as etapas seguintes do cálculo.

3.3.2. Cálculo das propriedades das seções

Com as posições de cálculo definidas, obtém-se a entidade que representa a seção da


viga no software em cada posição, representada pela classe BeamSection, definida por
Bittencourt (2021). A partir dela, é obtido o formulário com a geometria da viga e a posição do
cabo na seção. Neste formulário, o usuário pode fazer seções retangulares, seções “T” e seções
“I”, com ou sem mísulas (Figura 3.8). Além disso, foram acrescentados parâmetros para a seção
contribuinte, em um formulário adicional e optativo (Figura 3.9).
• Largura da seção contribuinte: w;
• Altura da seção contribuinte: h;
• Largura do apoio da pré-laje: t;
• Altura do apoio da pré-laje: s.
Figura 3.8 – Formulário de geometria da seção transversal

Fonte: Autor.

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3 Metodologia 22

Figura 3.9 – Formulários opcionais da seção contribuinte e pré-laje

Fonte: Autor.

Como resultado, tem-se a seção transversal (Figura 3.10) dividida em duas etapas ou
fases de operação: a) seção simples (sem seção contribuinte), utilizada no cálculo de perdas
iniciais/imediatas e no ATO da protensão e b) seção composta (com seção contribuinte),
utilizada no cálculo dos E.L.S., E.L.U. e perdas progressivas. Caso não seja utilizada a seção
contribuinte, os cálculos tanto na etapa de protensão quanto na etapa de operação serão feitos
pela seção simples.
Figura 3.10 – Parâmetros de geometria da seção da viga

Fonte: Autor.
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3 Metodologia 23

Também é possível alargar a seção de apoio definindo um valor adicional para a largura
da alma da viga (w) e o comprimento alargado, em um formulário adicional semelhante aos
apresentados.
Após a definição das seções, são calculadas propriedades como área de concreto (Ac),
centro de gravidade (CG) e momento de inércia no eixo x (Ix). Em seguida, calcula-se a
distância do centro de gravidade até a fibra superior (ysup) e até a fibra inferior (yinf),
excentricidade do cabo de protensão (ep), representados na Figura 3.11 e dos módulos de
resistência superior (Wsup) e inferior (Winf).
Figura 3.11 – Propriedades geométricas da seção transversal (simples ou composta)

Fonte: Autor.

Para o Estado Limite Último, é necessário calcular área e centro de gravidade da parcela
comprimida da seção, em variadas posições de linha neutra, que será utilizado para definição
do braço de alavanca. Como nem sempre o polígono que representa a área comprimida é uma
figura geométrica conhecida, no caso de geometrias irregulares à exemplo de uma seção “I”,
uma opção é dividir a geometria em outras figuras geometrias conhecidas, como triângulos.
Para realizar os cálculos pelo software, foi utilizado o método da triangulação de polígonos,
que a partir das coordenadas de um polígono qualquer retorna o polígono triangulado e os dados
de cada triângulo (Figura 3.12).

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3 Metodologia 24

Figura 3.12 – Seção Triangulada

Fonte: Autor.

Como as propriedades geometrias de um triangulo são conhecidas, calcula-se a área, o


centro de gravidade e o momento de inercia (Figura 3.13) de cada um dos triângulos obtidos
pela triangulação e em seguida calcula-se o valor equivalente da geometria inicial.
Figura 3.13 – Propriedades geométricas de um triângulo

Fonte: Hibbler, R. C. (2015).

Para o cálculo da área equivalente, é feito o somatório de todos os triângulos (Eq. 3.1). Para
o centro de gravidade, faz-se uma média ponderada dos centros de gravidade de cada triângulo
pela respectiva área (Eq. 3.2). Já para a inércia, é preciso usar o Teorema dos Eixos Paralelos
(Eq. 3.3), que possibilita transformar o momento de inércia de uma área em relação a um eixo
arbitrário, neste caso o centro de gravidade de cada triângulo, para um eixo central (BEER, F.
P., 2015).
𝑛

Ac = ∑ 𝐴𝑡[𝑖 ] (Eq. 3.1)


0

∑𝑛0 𝐴𝑡 [𝑖 ] × 𝐶𝐺𝑡 [𝑖 ]
CG = (Eq. 3.2)
∑𝑛0 𝐴𝑡[𝑖 ]
Ix = I̅x + A𝑡 × d2 (Eq. 3.3)

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3 Metodologia 25

Com a função que calcula as propriedades geométricas de uma seção finalizada:


calculateSectionProperties (do inglês, calcular propriedades da seção), para cada seção de
cálculo é chamada à função passando a geometria com a seção simples e seção composta,
resultando em propriedades na etapa de protensão e na etapa de utilização, que poderão ser
iguais ou diferentes, a depender da existência de uma seção contribuinte.

3.3.3. Cálculo dos esforços

Após encontrar as propriedades geométricas, o próximo passo é definir os esforços


solicitantes em cada seção. Para proporcionar maior flexibilidade, foram criadas três opções
para entrada de dados dos carregamentos:
• Carga Linear: define-se o valor do carregamento, em kN/m;
• Entrar com o esforço: o usuário entra diretamente com os valores de momento
fletor (kN.m) e esforço cortante (kN) em seções escolhidas pelo usuário.
• Peso próprio da seção simples: um tipo de carga linear que é calculada e
atualizada automaticamente para agilizar o processo no caso de alteração da
geometria: multiplica-se a área da seção da viga (Ac) pelo peso especifico do
concreto armado, de 25 kN/m³.
O formulário apresentado na Figura 3.14 apresenta escolha do tipo do carregamento,
além de uma entrada para o título. Também existe a possibilidade de adicionar uma descrição
para o carregamento, mas que não aparece na imagem.
Figura 3.14 – Entrada de dados do tipo de concreto estrutural utilizado

Fonte: Autor (2022).

Após a escolha do carregamento, o usuário define também outros parâmetros, que


podem ser visualizados na Figura 3.15 e estão listados a seguir:

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3 Metodologia 26

• Tempo até a aplicação, que representa a idade do concreto na aplicação do


carregamento e que é utilizado no cálculo de fluência (apenas carregamentos
permanentes);
• Coeficiente de majoração no ELU (γf);
• Tipo de ação: permanente ou variável;
• Coeficientes de ponderação das ações (ψ0, ψ1 e ψ2);
• Valor do carregamento linear ou valores dos esforços por seção, a depender do
tipo de carregamento selecionado.
Figura 3.15 – Entrada de dados dos carregamentos

Fonte: Autor (2022).

Com os esforços definidos pelo usuário, são calculados os esforços solicitantes em cada
seção. Para o caso de carga linear, o esforço em cada seção é obtido pela análise isostática da
viga biapoiada, apresentada nas equações a seguir.
𝑝 × 𝐿 × 𝑥 𝑝 × 𝑥2 (Eq. 3.4)
𝑀 (𝑥 ) = −
2 2
𝑝×𝐿 (Eq. 3.5)
𝑉 (𝑥 ) = −𝑝×𝑥
2

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3 Metodologia 27

Onde:
p = carregamento, em kN/m;
L = comprimento da viga, em metros;
x = posição da seção calculada, conforme definido em 3.3.1.

Já para os esforços com entrada manual, é utilizada interpolação linear (Eq. 3.6) para
encontrar os valores nas seções definidas no cálculo, já que estas não precisam necessariamente
coincidir com as seções utilizadas na definição da curva que representa os esforços do
carregamento. Quanto maior a número de seções definidas no carregamento de entrada manual,
maior a precisão da interpolação.
𝑥 − 𝑥0 (Eq. 3.6)
𝑦 = 𝑦0 + (𝑦1 − 𝑦0) ×
𝑥1 − 𝑥0

3.3.4. Cálculo das combinações

Com os esforços de cada carregamento calculados para cada seção de cálculo, são
obtidas as combinações últimas e de serviço a serem utilizadas no cálculo dos ELS e ELU.
A depender do tipo de concreto estrutural utilizado, a norma define a utilização de
diferentes combinações para a verificação do ELS-D e do ELS-F. No software, o usuário pode
escolher entre concreto protendido nível 2 (protensão limitada) e concreto protendido nível 3
(protensão completa) a partir da lista suspensa no menu “Cabos” conforme apresentado na
Figura 3.16. Também é possível ver a entrada de dados sobre o tipo de aderência, diâmetro da
cordoalha e parâmetros utilizados no cálculo de perdas, que serão discutidos mais à frente.
Figura 3.16 – Entrada de dados do tipo de concreto estrutural utilizado

Fonte: Autor (2022).


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3 Metodologia 28

3.3.5. Cálculo das tensões limites

No ELS, a NBR 6118:2014 recomenda a verificação quanto à descompressão (ELS-D),


à formação de fissuras (ELS-F) e à compressão excessiva (ELS-CE). Para o ELS-D, o limite é
a tensão que dá início a descompressão no concreto, ou seja, o valor limite de tensão é 0 Mpa.
Já para o ELS-F, o limite é a tensão que dá origem a primeira fissura, calculado a partir da
resistência a tração na flexão do concreto.
𝜎𝑙𝑖𝑚,𝐸𝐿𝑆−𝐷 = 0 (Eq. 3.7)
𝜎𝑙𝑖𝑚,𝐸𝐿𝑆−𝐹 = 𝛼 × 𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 (Eq. 3.8)
𝜎𝑙𝑖𝑚,𝐸𝐿𝑆−𝐶𝐸 = 0,6 × 𝑓𝑐𝑘 (Eq. 3.9)
𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 = 0,7 × 𝑓𝑐𝑡𝑚 (Eq. 3.10)
Para concretos de classe C20 até C50:
2⁄
𝑓𝑐𝑡𝑚 = 0,3 × 𝑓𝑐𝑘 3 (Eq. 3.11)
Para concretos de classe C55 até C90:
𝑓𝑐𝑡𝑚 = 2,12 × ln(1 + 0,11 × 𝑓𝑐𝑘 ) (Eq. 3.12)

Como valor padrão, o coeficiente α adotado foi de 1,428, segundo as recomendações


propostas por Cholfe e Bonilha (2018). Entretanto, tanto este como a maioria dos parâmetros
do cálculo foram definidos em uma aba de critérios dentro do software, permitindo que o
projetista adeque os cálculos às suas preferências (Figura 3.17).
Figura 3.17 – Menu de Critérios na Categoria ELS

Fonte: Autor (2022).

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3 Metodologia 29

3.3.6. Cálculo das tensões devido aos carregamentos

Para calcular a tensão devido aos carregamentos, são utilizadas as combinações,


divididas pelos módulos de resistência superior (Wsup) e inferior (Winf), resultando em tensões
nas fibras superior (σsup) e inferior (σinf).
𝐶𝑜𝑚𝑏.
𝜎= (Eq. 3.13)
𝑊

3.3.7. Cálculo das tensões necessárias devido a protensão

O próximo passo é calcular a tensão necessária para atender aos estados limites de
acordo com o tipo de concreto protendido selecionado anteriormente. Para o nível 2 (protensão
limitada), verifica-se o ELS-F com a combinação frequente (CF) e o ELS-D com a combinação
quase permanente (CQP). Já para o nível 3 (protensão completa), verifica-se o ELS-F pela
combinação rara (CR) e o ELS-D para a combinação frequente (CF).
Para encontrar as tensões mínimas necessárias para a protensão em cada seção, é
utilizada a tensão limite para o caso estudado, subtraída pela tensão devido à combinação (Eq.
3.14).
𝜎𝑛𝑒𝑐,𝑝𝑟𝑜𝑡 = 𝜎𝑙𝑖𝑚 − 𝜎𝑐𝑜𝑚𝑏 (Eq. 3.14)

Nesta etapa, são calculadas tensões necessárias para atender ao ELS-D e ao ELS-F, tanto
para as fibras superiores quanto para as fibras inferiores.

3.3.8. Cálculo da força de protensão necessária a tempo infinito para o ELS

Com as tensões necessárias em cada seção, calcula-se a força de protensão necessária


(P∞,nec) em cada seção (Eq. 3.15). O maior entre todos os valores encontrados é o P∞ mínimo
necessário.
𝜎𝑛𝑒𝑐,𝑝𝑟𝑜𝑡 [𝑖]
𝑃∞,𝑛𝑒𝑐 [𝑖] =
1 𝑒𝑝 [𝑖] (Eq. 3.15)
(𝐴𝑐[𝑖] + 𝑊 )
𝑠𝑢𝑝/𝑖𝑛𝑓 [𝑖]

Esta etapa de cálculo por tensões em cada seção é extremamente importante, já que o
cabo pode estar posicionado de forma que a seção crítica da tensão solicitante (σnec,prot) não

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3 Metodologia 30

coincida com a maior excentricidade do cabo (ep), levando a força de protensão crítica (P∞,nec)
cair numa seção diferente da esperada.

3.3.9. Definição da força de protensão inicial de uma cordoalha (Pi,1cord)

Para obter a força de protensão inicial de uma cordoalha (Pi,1cord), calcula-se a tensão de
protensão σpi, que depende do tipo de aderência selecionado (Pré-tração, Pós-tração aderente
ou Pós-tração não aderente). Em seguida, encontra-se a força inicial de uma cordoalha,
multiplicando a tensão σpi pela área da cordoalha escolhida (Eq. 3.16);
𝜎𝑝𝑖
𝑃𝑖,1𝑐𝑜𝑟𝑑 = (Eq. 3.16)
𝐴𝑝,1𝑐𝑜𝑟𝑑

3.3.10. Cálculo do número de cordoalhas da força inicial de protensão Pi

Para calcular o número de cordoalhas, é necessário realizar o cálculo de perdas de


protensão. Calcula-se o número de cordoalhas estimado dividindo a força a tempo infinito
necessária (P∞,nec) pela força inicial de protensão de uma cordoalha (Pi,1cord), resultando num
número de cordoalhas como se não houvessem perdas (Eq. 3.17). Este valor é arredondado para
baixo.
𝑃∞,𝑛𝑒𝑐
𝑁𝑐𝑜𝑟𝑑 = (Eq. 3.17)
𝑃𝑖,1𝑐𝑜𝑟𝑑

Em seguida, calcula-se o Pi para o cabo médio, que será utilizado no cálculo das perdas
de protensão (Eq. 3.18).
𝑃𝑖 = 𝑃𝑖,1𝑐𝑜𝑟𝑑 × 𝑁𝑐𝑜𝑟𝑑 (Eq. 3.18)

3.3.11. Cálculo do número de cordoalhas adotado, Pimediatas e P∞

O cálculo do número de cordoalhas adotado é feito de forma iterativa (ver Figura 3.18):
com os valores de Pi, calcula-se as perdas e encontra-se o P∞ em cada seção. Em seguida,
compara-se o P∞ com o P∞,nec, e caso o valor seja menor do que o necessário, aumenta-se a
quantidade de cordoalhas e executa novamente o cálculo, até que a condição seja atingida.
Como resultado, tem-se o número de cordoalhas necessário para atender aos ELS-D e ELS-F,
bem como os valores reais de Pi, P∞ e também da força de protensão após as perdas imediatas

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3 Metodologia 31

(Pimediatas). Como o processo de cálculo das perdas é extenso, ele será abordado separadamente
para não interromper o fluxo do entendimento.
Figura 3.18 – Cálculo do Número de Cordoalhas Necessário

Fonte: Autor.

Em alguns casos, o cabo pode estar mal posicionado ou a geometria inadequada para os
esforços solicitantes. Nessas situações, notou-se que o valor das cordoalhas crescia
indefinidamente, até que as perdas começavam a ser mais significativas do que o aumento da
força de protensão gerado pelo acréscimo de uma cordoalha. Nesses casos, o número de
cordoalhas calculado é alterado para uma cordoalha e o resultado do cálculo fica marcado como
“Falha”. As verificações e resultados serão discutidos detalhadamente mais à frente.

3.3.12. Cálculo das tensões devido à protensão

Com os valores de Pimediatas e P∞ encontrados, calcula-se as tensões devido à protensão


antes e depois das perdas progressivas, que serão utilizados respectivamente nas verificações
por ocasião da protensão (ato da protensão ou simplesmente ATO) e nos ELS (Eq. 3.19).
𝑃 𝑃 × 𝑒𝑝
𝜎𝑝𝑟𝑜𝑡 = + (Eq. 3.19)
𝐴𝑐 𝑊
Onde:
P = valores de Pimediatas ou P∞;
W = módulos de resistência superior (Wsup) ou inferior (Winf).

3.3.13. Cálculo das tensões no ELS e no ATO;

Para encontrar as tensões resultantes após a protensão, soma-se a tensão devido à


combinação à tensão devido a protensão para cada uma das etapas analisadas (Eq. 3.20).

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3 Metodologia 32

𝜎 = 𝜎𝑝𝑟𝑜𝑡 + 𝜎𝑐𝑜𝑚𝑏 (Eq. 3.20)

3.3.14. Cálculo das tensões limites e armadura de tração no ATO

Para validar as tensões encontradas no ATO, calcula-se as tensões limites de tração e


compressão. A ABNT NBR 6118:2014 define o limite de compressão (σmáx’) igual à 70% da
resistência característica fckj do concreto na idade da protensão, com um coeficiente de
majoração da ação desfavorável devido à protensão (γ p) igual a 1,1. Já para o limite das tensões
de tração (σmáx’’), é adotado um valor máximo de 1,2 vez a resistência à tração direta média fctm
correspondente ao valor fckj especificado, conforme as equações apresentadas a seguir:
𝜎𝑚𝑎𝑥′ = 0,7 × 𝑓𝑐𝑘𝑗 (Eq. 3.21)
𝜎𝑚𝑎𝑥′′ = 1,2 × 𝑓𝑐𝑡𝑚 (Eq. 3.22)
2⁄
𝑓𝑐𝑡𝑚 = 0,3 × 𝑓𝑐𝑘𝑗 3 (Eq. 3.23)
𝑓𝑐𝑘𝑗 = 𝛽1 × 𝑓𝑐𝑘 (Eq. 3.24)
28 1⁄2
𝛽1 = 𝑒 [𝑠×(1− 𝑡 ) ] (Eq. 3.25)

Onde:
s = parâmetro que depende do tipo do cimento, igual a 0,38, 0,28 ou 0,20;
t = idade do concreto no período analisado.

Adicionalmente, a norma recomenda o cálculo de uma armadura de tração calculada no


estádio II (Eq. 3.26), com a tensão limitada à 250 Mpa, para o caso de barras nervuradas e 150
Mpa para barras lisas (σlim).
𝐹𝑡𝑟𝑎çã𝑜
𝐴𝑠,𝐴𝑇𝑂 = (Eq. 3.26)
𝜎𝑙𝑖𝑚
Onde:
Ftração = força de tração, calculada pela parcela da área da seção tracionada
multiplicada pela tensão máxima na fibra mais tracionada.

De forma semelhante ao ELS, é possível editar os coeficientes utilizados no menu de


critérios (Figura 3.19).

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3 Metodologia 33

Figura 3.19 – Menu de Critérios na Categoria ATO

Fonte: Autor (2022).

3.4. CÁLCULO DAS PERDAS DE PROTENSÃO

A maior e mais complexa etapa do cálculo no que diz respeito às equações e métodos
utilizados é a função que calcula as perdas de protensão.
A ABNT NBR 6118:2014 divide as perdas em três fases: a) ocorridas antes da
transferência da protensão ao concreto (perdas iniciais, na pré-tração); b) ocorridas durante essa
transferência (perdas imediatas) e c) diferidas ao longo do tempo (perdas progressivas).
Como durante o cálculo das perdas há diferenciação entre as etapas de cálculo para vigas
com pré-tração e pós-tração, a função de cálculo das perdas também foi dividida seguindo esta
lógica. Para facilitar o entendimento,

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3 Metodologia 34

Figura 3.20 – Sequência de Cálculo das Perdas de Protensão

Fonte: Autor (2022).

Boa parte das equações de cálculo das perdas são tratadas como variação de tensão, que
é convertida em perda de força de protensão pela equação a seguir (Eq. 3.27).
Δ𝑃 = Δ𝜎𝑝 × 𝐴𝑝 (Eq. 3.27)

3.4.1. Perdas iniciais: acomodação dos dispositivos de ancoragem (Pré-tração)

As perdas iniciais, que ocorrem no caso da pré-tração, se dão pela acomodação dos
dispositivos de ancoragem na pista de protensão. Como as cordoalhas são protendidas
livremente, já que a viga ainda não foi concretada, a parcela que acomoda se distribui
igualmente pelo cabo, gerando uma queda uniforme de tensão (Eq. 3.28).
Δ𝑙
Δ𝜎𝑝 = 𝐸𝑝 × (Eq. 3.28)
𝑙

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3 Metodologia 35

3.4.2. Perdas imediatas: transferência por ancoragem da força de protensão

Após a liberação dos dispositivos de ancoragem da pista de protensão, no caso da pré-


tração, há uma perda devido a transferência da força de protensão para o concreto. Esta perda
zera o valor da força de protensão na ponta da viga, que aumenta linearmente até transmitir
integralmente a força de protensão por aderência, por um comprimento igual ao comprimento
de transferência lbpt (Eq. 3.30), calculado a partir do comprimento de ancoragem básico l bp (Eq.
3.29). Este valor pode ser ajustado pelo comprimento de ancoragem necessário lbpd (Eq. 3.31)
e foi calculado para o caso de cordoalhas de três ou sete fios.
7𝛷 𝑓𝑝𝑦𝑑
𝑙𝑏𝑝 = × (Eq. 3.29)
36 𝑓𝑏𝑝𝑑
𝜎𝑝𝑖
𝑙𝑏𝑝𝑡 = 0,5 × 𝑙𝑏𝑝 × (Eq. 3.30)
𝑓𝑝𝑦𝑑
𝑓𝑝𝑦𝑑 − 𝜎𝑝∞
𝑙𝑏𝑝𝑑 = 𝑙𝑏𝑝𝑡 + 𝑙𝑏𝑝 × (Eq. 3.31)
𝑓𝑝𝑦𝑑

3.4.3. Perdas imediatas: atrito entre cabo e bainha/concreto (Pós-tração)

Já para o caso da pós-tensão, os cabos sofrem perdas por atrito ao se deslocarem no


interior das bainhas ou do concreto (CHOLFE; BONILHA, 2018). A equação que descreve as
perdas da força de protensão relaciona as perdas à duas parcelas: a) perda variação angular do
cabo, calculada multiplicando o coeficiente de atrito entre cabo e bainha (1/rad) pela variação
angular sofrida pelo cabo (Σα), em radianos, da ancoragem até um ponto de abscissa x, ou z,
para o sistema de coordenadas adotado no software e b) perda por metro devido a curvaturas
não intencionais do cabo, obtido pela multiplicação de um coeficiente k pela abscissa da seção
calculada (Eq. 3.32).
P0 (x) = P𝑖 × [1 − 𝑒 (−𝜇 . 𝛴𝛼 + 𝑘 . 𝑥)
] (Eq. 3.32)

Para o cálculo da variação angular (Σα) são utilizadas as posições do cabo ao longo do
eixo Z. Para cada seção z analisada, é calculado o ângulo formado entre o cabo e o plano
horizontal pela tangente do triângulo formado por um ponto imediatamente antes (z – 1 cm) e
outro imediatamente depois (z + 1 cm). No caso das seções extremas, um dos pontos auxiliares
é substituído pelo ponto da seção (z). Para obter os valores acumulados, basta somar os valores
de cada seção.
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3 Metodologia 36

Figura 3.21 – Cálculo da tangente do ângulo formado pelo cabo em uma seção z

Fonte: Autor (2022).

Para o caso da viga ser protendida pelos dois lados (ancoragem ativa-ativa), é necessário
calcular as perdas por atrito por ambos os lados e adotar o maior valor em cada seção para
encontrar os valores corretos. Na Figura 3.24, é possível ver o resultado da protensão pela
extremidade esquerda da viga, em verde, pela extremidade direita, em azul, e o valor resultante,
representado pelo limite superior da área hachurada.
Figura 3.22 – Diagrama de Forças P0x com Ancoragem Ativa-Ativa

Fonte: Autor (2022).

Para o cálculo do alongamento das cordoalhas na etapa da protensão, é utilizado o valor


da área do gráfico de P0x (parte hachurada), calculado pelo método da Integral por Trapézios:
divide-se a curva que se deseja integrar em partições menores, representadas por trapézios, e
calcula-se a área total pela soma das áreas de cada um deles (Figura 3.23). Quanto maior o
número de trapézios, maior a precisão da integração.

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3 Metodologia 37

Figura 3.23 – Método da Integral por Trapézios

Fonte: ECT/UFRN.

A equação que descreve o alongamento da armadura é apresentada a seguir (Eq. 3.33).


Área Gráfico P0𝑥
Δl = (Eq. 3.33)
𝐸𝑝 × 𝐴𝑝
Uma vantagem do cálculo dessa maneira é a possibilidade de calcular o alongamento
do caso da protensão ativa-ativa para ambos os lados, caso a protensão não seja simultânea: o
primeiro valor do alongamento é aquele correspondente à área do gráfico do lado
correspondente à protensão, a exemplo da protensão pela esquerda, enquanto o segundo valor
é a diferença para atingir a área total do gráfico de P0x.

3.4.4. Perdas imediatas: acomodação dos dispositivos de ancoragem (Pós-tração)

Além das perdas por atrito, também há perda sofrida pela acomodação do dispositivo
de ancoragem (encunhamento). Para o caso da pós-tração, essa acomodação não é absorvida de
forma uniforme pelos cabos, já que nesta etapa a viga já está concretada.
Como resultado, tem-se uma perda partindo da ancoragem dos cabos até uma
determinada seção, onde a perda por acomodação é totalmente dissipada (Figura 3.24). No caso
de cabos curtos e cabos retos com baixo coeficiente de atrito, este valor costuma ser bem
significativo e traz um impacto significativo na força resultante nos cabos (CHOLFE;
BONILHA, 2018).

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3 Metodologia 38

Figura 3.24 – Diagrama de forças P0(x) versus x após perdas por atrito e encunhamento

Fonte: Cholfe e Bonilha (2018).

Como o gráfico que representa a força no cabo após as perdas por atrito, P0(x), é
simétrico de P0’(x), basta traçar novas curvas que representem a força, até encontrar aquela que
condiz com a área do diagrama das forças perdidas (Eq. 3.34).
Ω = Δ𝑤 × 𝐸𝑝 × 𝐴𝑝 (Eq. 3.34)

Normalmente, esses cálculos são feitos de forma aproximada por equações que
consideram os cabos como um traçado reto ou parabólico. Como o traçado adotado no software
é genérico, ou seja, o projetista tem a liberdade de definir da forma mais apropriada, os cálculos
precisaram ser adaptados para garantir a precisão desejada.
Como solução, o cálculo foi feito de forma numérica: são traçadas curvas da força de
protensão após as perdas por encunhamento para as seções de cálculo, partindo da extremidade
da viga até que a área do diagrama das forças perdidas se iguale a perda real devido à
acomodação do dispositivo de ancoragem (Figura 3.25).

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3 Metodologia 39

Figura 3.25 – Área do diagrama das forças perdidas

Fonte: Autor (2022).

Para encontrar a curva simétrica, observou-se que ao imaginar uma reta entre a curva
simétrica, P0’(x), e a original, P0(x), a variação ocorrida pela curva original também deveria
ocorrer na simétrica. Portanto, se a curva original possui uma ordenada Y igual a ΔY em relação
ao eixo de referência, a curva simétrica estaria defasada também ΔY do eixo definido, em
sentido oposto.
Portanto, para encontrar o valor P0’(x) em uma determinada seção, basta subtrair 2ΔY
do valor de P0(x) (Eq. 3.35).
P0′ (x) = P0 (x) − 2 × Δ𝑌 (Eq. 3.35)

Após realizar o cálculo da área que equivale a perda da força de protensão para diversas
seções, encontra-se a seção em que o valor é igual ou maior que a perda real. Em seguida, basta
repetir o cálculo várias vezes entre o intervalo da seção encontrada e da seção anterior, até
encontrar a posição que leva ao valor exato da perda. Para reduzir o número de iterações
necessárias e otimizar o processamento, foi utilizado o método numérico das diferenças
divididas, que permitiu encontrar a seção exata onde a curva do P0’(x) se iguala à curva do
P0(x), com a precisão de 1 cm, em apenas algumas iterações.

3.4.5. Perdas imediatas: devido encurtamento do concreto (Pós-tração)

Durante a protensão dos cabos, a viga é submetida à uma força de compressão e o


concreto encurta de acordo com seu módulo de elasticidade. Quando a protensão ocorre em

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3 Metodologia 40

etapas sucessivas, para vários cabos, o encurtamento provocado pela protensão de um cabo
causa perda de tensão nos cabos já protendidos (Eq. 3.36).
(𝑛 − 1)
Δ𝜎𝑝 = × α𝑝 × (𝜎𝑐𝑝 + 𝜎𝑐𝑔 ) (Eq. 3.36)
2×𝑛

Onde:
n = número de cabos protendidos sucessivamente, um a um;
α = Ep/Eci(t); relação entre os módulos de deformação do aço e do concreto na idade da
protensão;
σcp = tensão no concreto, ao nível do centro de gravidade de Ap, devido à protensão
simultânea dos n cabos;
σcg = tensão no concreto ao nível do centro de gravidade de Ap, devido à ação das cargas
permanentes mobilizadas pela protensão;
Eci(t) = estimativa do módulo de elasticidade do concreto em uma idade entre 7 e 28
dias, conforme a equação (Eq. 3.37) a seguir.

𝐸𝑐𝑖 (t) = [𝑓𝑐𝑘𝑗 ⁄𝑓𝑐𝑘 ]𝛼 × 𝐸𝑐𝑖 (Eq. 3.37)


Onde:
α = 0,5 para concretos de classe C20 até C45;
α = 0,3 para concretos de classe C50 até C90;
Eci = módulo de elasticidade do concreto aos 28 dias, calculado conforme as equações
a seguir:
Para concretos de classes C20 até C50:
𝐸𝑐𝑖 = 𝛼𝐸 × 5600 × √𝑓𝑐𝑘 (Eq. 3.38)
Para concretos de classes C55 até C90:
𝑓𝑐𝑘
𝐸𝑐𝑖 = 21,5 × 103 × 𝛼𝐸 × ( + 1,25)1/3 (Eq. 3.39)
10
Outra opção, muito utilizada para os cálculos manuais, é utilizar o valor máximo da
equação, pelo limite com n → ∞ (Eq. 3.40).
(𝑛 − 1)
Δ𝜎𝑝,𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥. = lim × α𝑝 × (𝜎𝑐𝑝 + 𝜎𝑐𝑔 ) (Eq. 3.40)
𝑛→∞ 2×𝑛
Como resultado, tem-se o valor aproximado, que pode ser útil na etapa que ainda não se
tem o número de cabos que será utilizado (Eq. 3.41).

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3 Metodologia 41

1
Δ𝜎𝑝,𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥. = × α𝑝 × (𝜎𝑐𝑝 + 𝜎𝑐𝑔 ) (Eq. 3.41)
2
Por padrão, as contas são realizadas conforme a equação genérica, mas o usuário pode
escolher no menu critérios qual deseja utilizar (Figura 3.26).
Figura 3.26 – Menu de Critérios na Categoria Perdas

Fonte: Autor (2022).

3.4.6. Perdas imediatas: devido encurtamento do concreto (Pré-tração)

No caso da pré-tração, as perdas por encurtamento do concreto não são influenciadas


pela protensão sucessiva dos cabos, já que na etapa da transferência da força de protensão para
a viga, as cordoalhas já estão aderidas ao concreto. Portanto, a equação da perda por
encurtamento se resume ao apresentado a seguir (Eq. 3.43).
Δ𝜎𝑝 = α𝑝 × (𝜎𝑐𝑝 + 𝜎𝑐𝑔 ) (Eq. 3.42)

3.4.7. Perdas progressivas (Pré-tração e pós-tração)

A etapa de cálculo das perdas progressivas é dividida em três partes principais: retração,
fluência e relaxação. Conforme as recomendações do CEB FIP 78 – Anexo E, as perdas por
retração e fluência podem ser avaliadas pela “Fórmula derivada do método da tensão média”
(Eq. 3.43), com suficiente grau de aproximação, que leva em conta o efeito conjunto do
fenômeno físico.

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3 Metodologia 42

∆𝜎𝑝,𝑐+𝑠 (𝑡, 𝑡0 ) =
𝜀𝑐𝑠 (𝑡, 𝑡0 ) . 𝐸𝑝 + 𝛼𝑝 . 𝜑(𝑡, 𝑡0 ). (𝜎𝑐,𝑝0 + σ𝑐𝑔 ) + 𝛼𝑝 . ∑𝑖[Δ𝜎𝑐𝑔𝑖 . 𝜑(𝑡, 𝑡𝑖 )] (Eq. 3.43)
=
𝜑(𝑡, 𝑡0 )
[1 − α𝑝 . (𝜎𝑐,𝑝0⁄𝜎𝑐,𝑝0 ) . 1 + )]
2
Onde:
Δσp,c+s (t, t0) = perda de tensão da armadura protendida provocada pela retração e
fluência do no intervalo (t, t0);
ti = idades fictícias de aplicação dos carregamentos;
εcs (t, t0) = deformação normal por retração do concreto no intervalo (t, t0);
Ep = módulo de elasticidade do aço;
αp = Ep/Eci28, relação entre os módulos de elasticidade aço/concreto;
𝜑(t, t0) = coeficiente de fluência, para o intervalo (t, t0);
σc.p0 = tensão inicial no concreto, na fibra da armadura protendida, devido unicamente à
protensão aplicada no instante t0, calculada com as forças de protensão (descontadas as perdas
imediatas);
σcg = tensão no concreto, na fibra da armadura protendida, devido às ações permanentes
mobilizadas pela protensão (análise feita pela data de aplicação fornecida pelo usuário para
cada carregamento);
Δσcgi = tensões no concreto, na fibra da armadura protendida, devido aos carregamentos
gi, aplicados nas idades ti sucessivas;
𝜑(t, ti) = coeficiente de fluência, para o intervalo (t, ti);
σp0 = tensão inicial na armadura protendida devido à protensão (tração = P 0/Ap em que
P0 é a força descontadas as perdas iniciais e/ou imediatas).

Para calcular as tensões “na fibra da armadura protendida”, ao invés do módulo


resistente do concreto, é utilizada a fórmula da tensão devido a um momento utilizando o valor
da posição da tensão igual ao centro de gravidade do cabo de protensão e p (Eq. 3.44).
𝑀 × 𝑒𝑝
𝜎𝑐 = (Eq. 3.44)
𝐼𝑐
Segundo a ABNT NBR 6118:2014, a retração do concreto depende da umidade relativa
do ambiente, da consistência do concreto no lançamento e da espessura fictícia da peça,
inseridos no software pelo formulário de materiais (Figura 3.27). Para a espessura fictícia da
peça (Eq. 3.49), são utilizados os valores calculados pela geometria da seção.

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3 Metodologia 43

Figura 3.27 – Formulários de materiais

Fonte: Autor (2022).

A retração, εcs (t, t0), foi calculada num intervalo de tempo em que “t0” é data da
protensão e “t” é infinito. Para garantir a precisão, ao invés de utilizar alguns valores tabelados,
como o de βs(t0), todos os parâmetros foram calculados pelas respectivas fórmulas, listadas a
seguir:
𝜀𝑐𝑠 (𝑡, 𝑡0 ) = 𝜀𝑐𝑠,∞ × [𝛽𝑠 (𝑡) − 𝛽𝑠 (𝑡0 )] (Eq. 3.45)
Onde:
βs (∞) ≈ 1.
𝜀𝑐𝑠,∞ = 𝜀1𝑠 × 𝜀2𝑠 (Eq. 3.46)
𝑈 𝑈2 𝑈3 𝑈4
𝜀1𝑠 = (−8,09 + − − + ) × 10−4 (Eq. 3.47)
15 2284 133765 7608150
33 + 2ℎ𝑓𝑖𝑐
𝜀2𝑠 = (Eq. 3.48)
20,8 + 3ℎ𝑓𝑖𝑐
2𝐴𝑐
ℎ𝑓𝑖𝑐 = 𝛾 (Eq. 3.49)
𝑢𝑎𝑟
𝛾 = 1 + 𝑒 (−7,8+0,1𝑈) (Eq. 3.50)
𝑇 + 10
𝑡𝑓𝑖𝑐 = 𝛼 × × Δ𝑡𝑒𝑓 (Eq. 3.51)
30
Onde:
α = 1, para o caso da retração;
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3 Metodologia 44

Δtef = idade do concreto, na protensão.

𝑡𝑓𝑖𝑐 3 𝑡𝑓𝑖𝑐 2 𝑡𝑓𝑖𝑐


( ) +𝐴×( ) + 𝐵(
100 100 100)
𝛽𝑠 (𝑡) = (Eq. 3.52)
𝑡𝑓𝑖𝑐 3 𝑡𝑓𝑖𝑐 2 𝑡𝑓𝑖𝑐
100) + 𝐶 × (100) + 𝐷 (100) + 𝐸
(

𝐴 = 40 (Eq. 3.53)
𝐵 = 116ℎ𝑓𝑖𝑐 3 − 282ℎ𝑓𝑖𝑐 2 + 220ℎ𝑓𝑖𝑐 − 4,8 (Eq. 3.54)

𝐶 = 2,5ℎ𝑓𝑖𝑐 3 − 8,8ℎ𝑓𝑖𝑐 + 40,7 (Eq. 3.55)

𝐷 = −75ℎ𝑓𝑖𝑐 3 + 585ℎ𝑓𝑖𝑐 2 + 496ℎ𝑓𝑖𝑐 − 6,8 (Eq. 3.56)


𝐸 = −196ℎ𝑓𝑖𝑐 4 + 88ℎ𝑓𝑖𝑐 3 + 584ℎ𝑓𝑖𝑐 2 − 39ℎ𝑓𝑖𝑐 + 0,8 (Eq. 3.57)

Após a substituição de todos os parâmetros, tem-se o valor de εcs (t, t0). Parte-se então
para o cálculo da fluência, onde será calculado o valor de 𝜑(t, t0) conforme as equações a seguir:
𝜑(𝑡, 𝑡0 ) = 𝜑𝑎 + 𝜑𝑓∞ × [𝛽𝑓 (t) − 𝛽𝑠 (t0 )] + 𝜑𝑑∞ × 𝛽𝑑 (Eq. 3.58)

𝑓𝑐 (𝑡0 )
𝜑𝑎 = α × [1 − ] (Eq. 3.59)
𝑓𝑐 (𝑡∞)
Onde:
α = 0,8, para concretos classe C20 a C45;
α = 1,4, para concretos de classe C50 a C90;
fc (t)/fc (t0) = crescimento da resistência do concreto com a idade (Eq. 3.25).

𝜑𝑓∞ = α × 𝜑1𝑐 × 𝜑2𝑐 (Eq. 3.60)


Onde:
α = 1, para concretos classe C20 a C45;
α = 0,45, para concretos classe C50 a C90.

𝜑1𝑐 = α × (4,45 − 0,035 × U) (Eq. 3.61)


Onde:
α = 0,75, para abatimentos entre 0 e 40 mm;
α = 1,25, para abatimentos entre 10 mm e 150 mm;
α = 1, para abatimentos com valores intermediários.
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3 Metodologia 45

42 + ℎ𝑓𝑖𝑐
𝜑2𝑐 = (Eq. 3.62)
20 + ℎ𝑓𝑖𝑐
𝑡2𝑓𝑖𝑐 + 𝐴 × 𝑡𝑓𝑖𝑐 + 𝐵
𝛽𝑓 (𝑡𝑓𝑖𝑐 ) = (Eq. 3.63)
𝑡2𝑓𝑖𝑐 + 𝐶 × 𝑡𝑓𝑖𝑐 + 𝐷
3 2
𝐴 = 42ℎ𝑓𝑖𝑐 − 350ℎ𝑓𝑖𝑐 + 588ℎ𝑓𝑖𝑐 + 113 (Eq. 3.64)
3 2
𝐵 = 768ℎ𝑓𝑖𝑐 − 3060ℎ𝑓𝑖𝑐 + 3234ℎ𝑓𝑖𝑐 − 23 (Eq. 3.65)
3 2
𝐶 = −200ℎ𝑓𝑖𝑐 + 13ℎ𝑓𝑖𝑐 + 1090ℎ𝑓𝑖𝑐 + 183 (Eq. 3.66)
3 2
𝐷 = 7579ℎ𝑓𝑖𝑐 − 31916ℎ𝑓𝑖𝑐 + 35343ℎ𝑓𝑖𝑐 + 1931 (Eq. 3.67)
𝜑𝑑∞ = 0,4 (Eq. 3.68)
𝑡 − 𝑡0 + 20
𝛽𝑑 = = 1 (t = ∞) (Eq. 3.69)
𝑡 − 𝑡0 + 70

Finalmente, basta substituir o valor de εcs (t, t0) encontrado, juntamente com o valor de
𝜑(t, t0), calculados com t = ∞ e t0 = idade do concreto na protensão, que representam a retração
a partir da protensão e a fluência devido à protensão. Adicionalmente, são calculados os valores
de 𝜑(t, ti), referentes à fluência devido aos carregamentos permanentes mobilizados, com suas
respectivas idades. Como resultado, tem-se a variação de tensão, Δσp,c+s (t, t0), que é convertida
na perda da força de protensão no cabo pela multiplicação pela área de aço do cabo (Eq. 3.27).
Para finalizar o cálculo das perdas progressivas, parte-se para o cálculo da relaxação do
aço. Como os efeitos de retração e fluência produzem uma redução da deformação sofrida pelo
cabo, o cálculo da relaxação é feito considerando esta influência, pelo cálculo da relaxação
relativa Δσpr (t, t0), rel com t = ∞ (Δσpr (∞), rel).
|Δ𝜎𝑝 (𝑡, 𝑡0 ),𝑐+𝑠 |
Δ𝜎𝑝𝑟 (∞),𝑟𝑒𝑙 = Δ𝜎𝑝𝑟 (∞) × [1 − 2 × ( )] (Eq. 3.70)
𝜎𝑝𝑖
Onde:
Δσp,c+s (t, t0) = perda de tensão devido ao efeito conjunto retração e fluência;
σpi = tensão no aço, após as perdas imediatas somadas aos efeitos de ações permanentes
posteriores.
Δ𝜎𝑝𝑟 (∞) = Ψ(∞) × 𝜎𝑝𝑖 (Eq. 3.71)
Onde:
Ψ∞ = valor tabelado, que depende da tensão σp0, conforme a tabela a seguir:

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3 Metodologia 46

Tabela 3.1 – Combinações Últimas e de Serviço

σp0 Ψ(∞) Cordoalhas RB


0,5 fptk 0
0,6 fptk 3,25
0,7 fptk 6,25
0,8 fptk 8,75

Fonte: Adaptado de Cholfe e Bonilha (2018).

Para valores intermediários, o cálculo é feito por interpolação linear (Eq. 3.6). Para
valores inferiores a 0,5 fptk, admite-se que não há perda de tensão por relaxação.
Com o valor de Δσpr (∞), rel, encontra-se a perda da força de protensão (Eq. 3.27) e
obtém-se o P∞, pela subtração do Pi por todas as perdas, imediatas/iniciais e progressivas,
finalizando o processo de cálculo das perdas para uma iteração. Para as outras iterações, o
processo é repetido alterando o número de cordoalhas e consequentemente o P i e os outros
parâmetros relacionados.

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 47

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O software desenvolvido possui flexibilidade na definição da geometria da seção


transversal, aceita entrada de dados tanto de carregamentos quanto esforços, permite alteração
dos materiais e personalização dos critérios de cálculo. Além disso, o cálculo das perdas de
protensão é realizado de forma precisa, o que é imprescindível para garantir a confiabilidade
dos resultados.
Para melhor entendimento da ferramenta, a interface do software será apresentada
conforme o fluxo de projeto idealizado, tomando como exemplo a viga com os dados que vem
como padrão no momento em que ela é criada, além de algumas variações para exemplificar o
comportamento do software nas diversas situações.
Como dito no capítulo de metodologia, foi optado por limitar a discussão deste trabalho
ao processo de cálculo da protensão. Entretanto, os resultados que serão apresentados neste
capítulo mostram também os resultados de outras etapas que não tiveram seu desenvolvimento
discutido, já que também fazem parte do software.

4.1. FLUXO DE PROJETO DE UMA VIGA NO CABBLIC

O Cabblic foi desenvolvido em plataforma web e pode ser acessado pelo site
www.cabblic.com.br, de qualquer dispositivo ou sistema operacional. Após acessar o site, basta
criar uma conta e começar a utilizar, sem necessidade de realizar downloads.
Após fazer login¸ o software abre na tela inicial, onde ficam listados todos os projetos
criados e pode-se iniciar um novo pelo botão “Nova Viga” (Figura 4.1).

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 48

Figura 4.1 – Página de gerenciamento dos projetos das vigas

Fonte: Autor (2022).

Para exemplificar a utilização, foi criado um projeto com o nome “Viga de Exemplo”
(Figura 4.2). Para entrar no projeto, basta clicar em cima do card criado.
Figura 4.2 – Projeto da viga de exemplo

Fonte: Autor (2022).

Ao clicar a viga, a tela de projeto do software é aberta (Figura 4.3). Ela está dividida em
algumas partes: 1) barra superior; 2) posição do corte; 3) desenho da seção transversal; 4)
entrada de dados; 5) desenho da vista lateral (e da vista superior, dependendo do menu de
entrada de dados selecionado); 6) análise em corte e 7) verificações globais.

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 49

Figura 4.3 – Tela de projeto

Fonte: Autor (2022).

A barra superior (1) é dividida em duas partes. A primeira (Figura 4.4), à esquerda, traz
respectivamente: a) o botão para voltar a tela de projetos; b) o ícone de status de salvamento
dos dados; c) o título do projeto; d) o modo de cálculo, que pode ser automático, onde o número
de cordoalhas é definido automaticamente, ou manual, onde as verificações são feitas a partir
do número de cordoalhas definido; e) a quantidade de cordoalhas que está sendo utilizada na
viga e f) o status global da viga, que varia entre “Atendido” e “Não Atendido”, de acordo com
as verificações globais.
Figura 4.4 – Lado esquerdo da barra superior

Fonte: Autor (2022).

Já a parte direita apresenta, respectivamente, a tela atual do software,


“Dimensionamento” ou “Resultados”, os critérios de projeto, as opções de visualização, as
opções de exportação e outras opções adicionais (Figura 4.5).
Figura 4.5 – Lado direito da barra superior

Fonte: Autor (2022).


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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 50

A posição do corte (2) pode variar ao longo do comprimento da viga e influencia no


desenho da seção transversal (3) e na análise do corte (6). Na seção transversal, é possível ver
em tempo real as modificações no formulário de geometria, a posição do(s) cabo(s) e possíveis
interferências entre eles, no caso de haver mais de um.
O menu de entrada de dados (4) é dividido em “Carregamentos”, “Geometria”,
“Materiais”, “Cabos” e “Detalhamento” (Figura 4.6). É onde o usuário define os parâmetros
para o dimensionamento, conforme apresentado no capítulo de metodologia. A aba
“Detalhamento” ainda estava em desenvolvimento durante o desenvolvimento deste trabalho,
e, portanto, não será apresentada.
Figura 4.6 – Menu de Entrada de Dados

Fonte: Autor (2022).

O desenho das vistas lateral e superior da viga (5) permite a visualização do


posicionamento do cabo nas três direções, o alargamento da seção de apoio (definido na entrada
de dados de geometria) e a posição dos apoios (Figura 4.7).
Figura 4.7 – Desenho das Vistas Lateral e Superior da Viga

Fonte: Autor (2022).

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 51

As verificações globais (7), apresenta as verificações dos Estados Limites de Serviço e


do Estado Limite Último, tanto no ato da protensão quanto na fase de operação (Figura 4.8).
Caso alguma das verificações não seja atendida, é marcada como “Falha” na coluna “Status”.
A coluna “Gráfico” apresenta os ícones que redirecionam o usuário para o gráfico
correspondente à verificação selecionada, na tela de resultados, que será apresentada mais à
frente.
Figura 4.8 – Verificações Globais

Fonte: Autor (2022).

Por fim, tem-se a Análise do Corte (6), onde é possível ver os resultados da seção para
a posição definida no corte (Figura 4.9). Nela são apresentadas as propriedades geométricas da
seção, as verificações no ELS, os resultados do cálculo das perdas e as verificações no ATO.
Para as seções intermediárias entre as seções de cálculo, os valores obtidos são recalculados
para o caso das propriedades geométricas, enquanto os resultados do cálculo de tensões são
interpolados. Para as verificações, os valores são apresentados na cor verde, quando estão
dentro dos limites, e na cor vermelha, quando então fora.

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Figura 4.9 – Análise do Corte: Propriedades Geométricas, ELS, Perdas e ATO

Fonte: Autor (2022).

Além da página de dimensionamento, foi criada uma página de resultados, onde são
exibidos diversos gráficos das variadas etapas do cálculo (Figura 4.10).
Figura 4.10 – Gráficos

Fonte: Autor (2022).

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 53

Para os gráficos das verificações, foram adicionados os limites de tração e compressão,


visando facilitar a interpretação dos resultados. No eixo X dos gráficos, são apresentados os
valores das seções de cálculo.
Figura 4.11 – Gráfico de Tensões no ELS-D

Fonte: Autor (2022).

Figura 4.12 – Gráfico de Tensões no ELS-F

Fonte: Autor (2022).

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Figura 4.13 – Gráfico de Tensões no Ato da Protensão

Fonte: Autor (2022).

A Figura 4.14 apresenta o gráfico que mostra os coeficientes de fluência, calculados


para cada efeito de acordo com a data de mobilização. Como são calculados por seção, os efeitos
do alargamento da seção de apoio podem ser visualizados nas seções nas posições 0,0 m e 40,0
m, pois há um aumento da área da seção, que influencia da espessura fictícia da peça, utilizada
no cálculo da fluência.
Figura 4.14 – Gráfico dos Coeficientes de Fluência

Fonte: Autor (2022).

Como padrão, a viga vem configurada como cálculo automático de cordoalhas, nível de
protensão Limitada e Pós-Tração com aderência posterior (Figura 4.15).

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 55

Figura 4.15 – Configurações padrão do cálculo

Fonte: Autor (2022).

Para estas configurações, o gráfico das perdas de protensão após cada efeito é o
apresentado na Figura 4.16 a seguir.
Figura 4.16 – Gráfico da Força de Protensão Após as Perdas

Fonte: Autor (2022).

Para complementar os resultados, as configurações da protensão foram alteradas para


nível de protensão completa, com cálculo de cordoalhas automático e Pré-Tração. O número de
cordoalhas foi definido para 17 cordoalhas de Φ15,2 mm, levando a uma falha nas verificações
dos ELS. Nessa situação, o menu da análise em corte mostra quais tensões não ficaram dentro
dos limites, de acordo com a seção selecionada. Já o menu das verificações globais mostra quais
verificações falharam, enquanto a cor de fundo é alterada para uma cor avermelhada. Na barra
superior, o status da viga fica marcado como “Não atendido” (Figura 4.17).
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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 56

Figura 4.17 – Resultados para Entrada Manual de 22 Cordoalhas

Fonte: Autor (2022).

Como resultado, é possível ver a alteração da força inicial de protensão P i, além do tipo
de perdas, que agora são relacionadas à pré-tração (Figura 4.18).
Figura 4.18 – Perdas de Protensão para o Caso da Pré-Tração

Fonte: Autor (2022).

Caso não seja possível dimensionar o número de cordoalhas no modo de cálculo


automático, à exemplo do posicionamento do cabo em uma posição inadequada, o número de
cordoalhas é fixado em 1 e o status da viga fica como “Não atendido” (Figura 4.19).

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4 Apresentação e Discussão dos Resultados 57

Figura 4.19 – Erro devido ao posicionamento do cabo acima do centro de gravidade

Fonte: Autor (2022).

Vale salientar que após a alteração dos dados de entrada, leva cerca de um segundo para
que os cálculos sejam realizados e os resultados atualizados na tela. Este desempenho está
relacionado às tecnologias que foram utilizadas e mesmo em computadores mais lentos, não
houve grandes perdas de desempenho, o que garante uma grande fluidez ao projeto.

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5 Conclusões 58

5. CONCLUSÕES

O presente trabalho teve como principal objetivo desenvolver o processo de cálculo da


protensão para vigas como continuidade ao software de auxílio do traçado e detalhamento de
cabos de protensão Tensor Pro. Como esperado, o programa conseguiu calcular a protensão de
vigas com seções transversais variadas, com cálculo automático de cordoalhas e cálculo preciso
das perdas de protensão, tanto para pré-tração quanto para pós-tração.
Apesar de alguns procedimentos utilizados no cálculo manual não se adequarem
corretamente ao cálculo no software, seja devido à forma que é programado, seja devido à
precisão desejada, os métodos numéricos utilizados para contornar estas situações se mostraram
eficientes.
No quesito de acessibilidade e usabilidade, devido à hospedagem em ambiente web
(www.cabblic.com.br), o software pode ser acessado de qualquer sistema operacional e de
qualquer dispositivo. Entretanto, apesar de funcionar, o site não foi otimizado para dispositivos
móveis, tendo seu uso focado em computadores.
Quanto à questão de processamento, a velocidade obtida no cálculo, de cerca de um
segundo, foi essencial para garantir uma boa fluidez durante o desenvolvimento do projeto.
Sobre a interface do software, a estrutura proposta por Bittencourt (2021) pode ser
mantida, com adequação do software Tensor Pro ao processo de cálculo adicionado,
acrescentando novos formulários de entrada de dados e novas abas de resultados, sem impor
muita complexidade ao uso da ferramenta.
Com a implementação do processo de cálculo, à ferramenta deixou de ser software de
auxílio do traçado e detalhamento de cabos de protensão (Tensor Pro) e se tornou um software
para projeto de vigas protendidas (Cabblic). Além disso, a metodologia proposta para
viabilização dos cálculos por métodos computacionais é de grande valia, podendo ser replicada
em outros trabalhos. Portanto, pode-se concluir que o trabalho atendeu aos objetivos e trouxe
resultados satisfatórios, contribuindo para o desenvolvimento desta área da engenharia.

5.1. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Para continuar trazendo resultados positivos para a área, o software precisa ser
aprimorado cada vez mais. Como o cálculo da protensão se assemelha para todos os elementos,

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5 Conclusões 59

o software pode ser constantemente desenvolvido, incorporando outras funcionalidades e


aplicações. Como sugestões para trabalhos futuros, propõe-se o apresentado a seguir:
• Implementação do cálculo e detalhamento de armaduras passivas, com
exportação em DXF junto ao detalhamento já existente;
• Desenvolvimento de uma opção para calcular as cordoalhas para atender ao ELU
sem armaduras passivas;
• Adaptação do software para o cálculo de vigas contínuas;
• Aperfeiçoamento da entrada de dados para uma geometria qualquer, visando
calcular outros tipos de elementos, como lajes alveolares protendidas;
• Adaptação da entrada de dados de carregamentos, visando a implementação de
envoltórias para cálculo de vigas de pontes;
• Desenvolvimento de um módulo para cálculo de lajes, com vigas faixa;
• Possibilitar a edição dos desenhos gerados antes de exportar.

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Leandro Cândido de Siqueira. Salvador: Escola Politécnica / UFBA, 2022
6 Referências Bibliográficas 60

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHOLFE, L.; BONILHA, L. Concreto Protendido: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Oficina
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Desenvolvimento do Cálculo da Protensão para o Software de Vigas Protendidas Cabblic
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Fundamentos Básicos. 4. ed. Universidade Federal de Viçosa, 1998.

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Leandro Cândido de Siqueira. Salvador: Escola Politécnica / UFBA, 2022

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