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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Autorizada pelo Decreto Federal no 77.496 de 27/04/76


Recredenciamento pelo Decreto n°17.228 de 25/11/2016
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UEFS


SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA - 2021

PREVALÊNCIA DE BAIXO PESO E EXCESSO DE PESO EM ESCOLARES


DE FEIRA DE SANTANA-BA

Filipe Mota Freitas1; Antônio César de Oliveira²; Dyalle Costa e Silva3; Marcus
Vinicius Sousa Mendes4; Fernando Mendes Nogueira Souza5; Ana Mayra Andrade
de Oliveira6
1. Bolsista PROBIC/UEFS, Graduando em Medicina, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
lipemotaf@gmail.com
2.Orientador, Departamento de saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: aldeias@uol.com.br
3. Participante do Núcleo de Pesquisa em Endocrinologia de Feira de Santana, Graduando em Medicina,
Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: dyallecosta@yahoo.com.br
4. Participante do Núcleo de Pesquisa em Endocrinologia de Feira de Santana, Graduando em Medicina,
Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: marcusssm@hotmail.com
5. Participante do Núcleo de Pesquisa em Endocrinologia de Feira de Santana, Graduando em Medicina,
Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: fernandonmendes@yahoo.com
6. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Endocrinologia de Feira de Santana, Departamento de Saúde,
Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: anamayra@uol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: pressão arterial; peso; infantil.

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, países em desenvolvimento como o Brasil, vêm passando
por importantes mudanças sociais, econômicas e demográficas que se refletem no perfil
nutricional de sua população. E, este conjunto de transformações que impactam
diretamente no hábito alimentar do indivíduo, com o aumento do consumo de açucares,
gorduras e redução da ingesta de fibras entre outros recebe o nome de “transição
nutricional”. Este fenômeno, é fator de risco importante para o desenvolvimento de
doenças como obesidade, doenças metabólicas e cardiovasculares (COUTINHO, 2008)
O estilo de vida de uma população ou indivíduo é significativamente influenciado
pelos seus hábitos na infância, sendo o núcleo familiar e escolar fundamentais nesta
construção, pois estes geralmente são mantidos durante todas as fases da vida. Portanto,
o comportamento neste período de vida é fundamental, e pode determinar o
desenvolvimento de baixo peso, sobrepeso e obesidade (SOUZA, 2010).
Apesar do desenvolvimento do Brasil nos últimos anos a Organização Mundial de
Saúde (OMS) ainda o coloca como um dos países mais desiguais do mundo. Esse fato é
refletido não só na economia do país como em medidas educacionais. Baixo peso está
associado a quadros de desnutrição, doença de natureza clinico-social multifatorial cujas
raízes se encontram muito frequentemente na pobreza, que gera privação alimentar ao
longo da vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
A OMS aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no
mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com
sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e
obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. Em 2017 no Brasil
o Ministério da Saúde (MS) divulgou que a prevalência da obesidade passou de 11,8%
em 2011 para 18,9 %, em 2016, demonstrando que o aumento da prevalência da obesidade
é uma tendência mundial. As influências socioeconômicas exercem destaque no contexto
da obesidade. Em um estudo realizado em Feira de Santana em 2001 a prevalência de
sobrepeso infantil foi de 9,3% e obesidade de 4,4%, sendo que a presença de obesidade
familiar se destacou como fator de risco assim como o fato da criança estudar em escola
privada, confirmando heterogeneidade de fatores envolvidos no desenvolvimento do peso
(OLIVEIRA, 2003).
Dessa forma, esse estudo visa determinar o perfil epidemiológico do peso em
crianças de Feira de Santana-BA no ano de 2019 com o objetivo de identificar fatores que
contribuam para o seu desenvolvimento e de suas complicações e assim subsidiar ações
preventivas.

MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional, de corte transversal.
A amostra analisada foi constituída por crianças na faixa etária de 5 a 9 anos de
idade, categorizadas ano a ano, matriculadas na rede de ensino público e privada no ano
letivo de 2019.
A variável dependente utilizada foi o peso, e as variáveis independentes foram o
perfil da residência da criança (presença de aparelhos eletrodomésticos de televisão,
computador, telefone e celular), condição da criança ser ou não filha única e o tipo de
escola que a criança estuda (pública ou privada).
Como técnica da pesquisa foram utilizadas entrevistas semiestruturadas aos
responsáveis e escolares com instrumento previamente construído e validado em
pesquisas anteriores. Após a entrevista realizava-se a coleta de dados antropométricos por
uma equipe composta por estudantes de medicina previamente treinada, pela
coordenadora do projeto.
A partir das medidas de peso e altura, calculou-se o índice de massa corpórea
(IMC) pela fórmula (kg/m2) e o percentil do IMC (pIMC) para cada criança.
Sobrepeso e obesidade foram definidos como IMC igual ou superior ao percentil
85 e 95 para idade e sexo, respectivamente, adotando-se os pontos de cortes obtidos no
estudo promovido pelo The International Obesity Task Force (2000), da OMS,
recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil.
O banco de dados e as análises estatísticas foram realizadas no programa software
Statistical Packard for Social Sciences (SPSS), versão 22.0 (Chicago, USA).
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Feira de
Santana (Parecer N3.034.255).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliadas 567 crianças. A tabela 1 apresenta as características descritivas
da população estudada por sexo, etnia e escola. Todas as crianças participantes
contemplavam os requisitos estabelecidos na metodologia.

Tabela 1. Características descritiva da população estudada


Características n (%)
Sexo
Masculino 262 (47,2)
Feminino 293 (52,8)
Etnia
Brancos 68 (13,4)
Não brancos 442 (86,6)
Tipo de escola
Pública 176 (31,4)
Privada 385 (68,6)

Na análise da variável peso, as prevalências de peso normal, sobrepeso e


obesidade foram 67,0% (380), 21,3% (121) e 11,6% (66), respectivamente.
A tabela 2 apresenta as prevalências de peso normal, sobrepeso e obesidade
segundo as variáveis utilizadas no estudo.

Tabela 2. Prevalência de peso normal, sobrepeso e obesidade segundo variáveis


estudadas
Classificação IMC
Peso normal Sobrepeso Obesidade
Tipo de escola

Pública 130 (34,4%) 31 (26,5%) 15 (22,7%)


Privada 248 (65,6%) 86 (73,5%) 51 (77,3%)
Irmãos
Não 99 (28,0%) 28 (25,2%) 22 (34,4%)
Sim 255 (72%) 83 (74,8%) 42 (65,6%)

Televisão
Não 0 (0,0%) 2 (1,8%) 1 (0,6%)
Sim 358 (100%) 108 (98,2%) 64 (99,4%)
Celular
Não 19 (5,4%) 3 (2,8%) 1 (1,6%)
Sim 335 (94,6%) 106 (97,2%) 63 (98,4%)
Telefone
Não 137 (41,1%) 37 (35,2%) 28 (45,2%)
Sim 196 (58,9%) 68 (64,8%) 34 (54,8%)
Computador
Não 170 (49,9%) 51 (46,8%) 24 (38,1%)
Sim 171 (50,1%) 58 (53,2%) 39 (61,9%)

Dados na literatura têm demonstrado uma variação da prevalência de obesidade


em crianças. Aillo e colaboradores (2015), em revisão sistemática com metanálise de 21
estudos transversais realizados no Brasil entre 2008 e 2014, com uma amostra de 18.463
crianças, apresentou prevalência de obesidade de 14,1%. Panazzolo e colaboradores
(2013), em estudo com 633 alunos, encontraram prevalências de 15,9% de obesidade e
15,4% de sobrepeso em crianças da cidade de Feliz no estado do Rio Grande do Sul. Já
Tassinato e colaboradores (2009), em estudo com 4.210 estudantes em Pernambuco,
Brasil, encontraram uma prevalência de sobrepeso e obesidade de 11,5% e 2,4%
respectivamente. Em estudo realizado por Ribeiro e colaboradores (2013), com 100
crianças, na cidade de Cruz das Almas, Bahia, a prevalência de obesidade foi de 7%. Tais
variações podem ser devido à utilização de métodos diversos, o que resulta em resultados
falso-positivos, além de diferenças metodológicas na estratificação da faixa etária.
Em relação aos fatores ambientais, não houve significância estatística na
associação entre a classificação do IMC e o perfil da residência da criança, possuir celular
(p=0,255), telefone (p=0,402) e computador em casa (p=0,223), tipo de escola (p=0,075)
e condição da criança ser ou não filha única (p=0,427). Porém, houve significância
estatística na associação da classificação do IMC e a criança possuir televisão em casa
(p=0,044). Novais e colaboradores (2009), em estudo com 627 crianças em Viçosa, Minas
Gerais, encontrou associação semelhante ao do presente estudo entre obesidade infantil e
a televisão (p=0,04). De acordo com Ferruzzi e colaboradores (2016), no Brasil, a maior
parte dos comerciais na TV aberta e na internet estão associados a alimentos ricos em
gordura, açúcar e sódio, sendo boa parte voltada para o público infantil. Segundo Bruce
e colaboradores, esse tipo de propaganda induz a criança a querer consumir esses
alimentos, independentemente do valor nutricional, baseado apenas no prazer.
Oliveira e colaboradores (2003), em estudo semelhante ao presente, encontrou
além da televisão, associação da obesidade com a presença nas residências de computador
e telefone (p <0,00001), tipo de escola (p=0,0005) e ser unigênito (p=0,02). Novais e
colaboradores. (2009) também encontraram associação entre o peso infantil e o fato da
criança ser filho único (p=0,03). Tais discordâncias com o presente estudo podem ser
justificadas pelas diferentes amostras populacionais utilizadas.
A prevalência de obesidade infantil no estudo apresenta-se dentro da faixa
encontrada em estudos epidemiológicos anteriores no Brasil, evidenciando que este
problema de Saúde Pública permanece nos dias atuais. Portanto, fazem-se necessárias
medidas preventivas, dirigidas para as classes mais expostas nos núcleos familiar e
escolar com objetivo de reduzir a tendência de aumento dos casos de obesidade infantil.
A criança é fruto do ambiente familiar e escolar sendo a escola é um local estratégico para
promoção de hábitos saudáveis, como a prática de atividade física e a nutrição adequada.

Referências:
Coutinho JG, Gentil PC, Toral N. A desnutrição e obesidade no Brasil: o enfrentamento
com base na agenda única da nutrição. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2008.
Souza, EB. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos
UniFOA. Volta Redonda. Volume 5.
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Coordenação Geral da Política
de Alimentação e Nutrição. Manual de atendimento da criança com desnutrição grave em
nível hospitalar – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
Oliveira AMA, Cerqueira EMM, Oliveira AC. Prevalência de sobrepeso e obesidade
infantil na cidade de Feira de Santana, BA: Detecção na família x diagnóstico clínico. J
Pediatr. 2003.
Aiello, A. M. et al. Prevalence of Obesity in Children and Adolescents in Brazil: A Meta-
analysis of Cross-sectional Studies. Current Pediatric Reviews,v.11, n.1,p.36–42, 2015.
Panazzolo, PR, Finimundi, HC, Stoffel, MOS, et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade
em escolares do município de Feliz, Rio Grande do Sul, Brasil. Rev. Bras. Med. Família
e Comunidade. 2013; 9(31), 142.
Tassitano, RM, Barros, MVG, Tenório, MCM, Bezerra, J, Hallal, PC. Prevalence of
overweight and obesity and associated factors among public high school students in
Pernambuco State, Brazil. Cad. Saude Publica. 2009 ; 25(12), 2639–2652.
Ribeiro, G et al. Prevalência de Sobrepeso e obesidade em crianças na rede pública de
ensino da cidade de Cruz das Almas, Bahia. Revista Baiana de Saúde Pública, v.37,
n.1, p.9-19, 2013.
Novaes, JF, Lamounier, JA, Franceschini, SCC, Priore, SE. Fatores ambientais
associados ao sobrepeso infantil. Revista de Nutrição, 22(5), 661–673, 2009.
Ferruzzi GA, Souza FR, Lima CM. Políticas Públicas de Regulamentação da
Publicidade Infantil no Brasil. 2016.
Bruce AS, Pruitt SW, HA OR, Cherry JBC, Smith TR, Bruce JM, et al. The Influence of
Televised Food Commercials on Children's Food Choices: Evidence from Ventromedial
Prefrontal Cortex Activations. J Pediatr. 2016; 177(1): 27-32.

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