Você está na página 1de 38

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

CURSO DE BIOMEDICINA

KATHYANE DOS SANTOS OLIVEIRA

PREVALÊNCIA DE GLICOSÚRIA, CETONÚRIA E INFECÇÕES URINÁRIAS EM


INDIVÍDUOS DIABÉTICOS ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO ESCOLA DE
GOIÂNIA, GOIÁS

GOIÂNIA-GO

2018
KATHYANE DOS SANTOS OLIVEIRA

PREVALÊNCIA DE GLICOSÚRIA, CETONÚRIA E INFECÇÕES URINÁRIAS EM


INDIVÍDUOS DIABÉTICOS ATENDIDOS EM UM LABORATÓRIO ESCOLA DE
GOIÂNIA, GOIÁS

Monografia apresentada a coordenação do Curso de


Biomedicina, da Universidade Federal de Goiás, para
obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Henrique Nascente
Costa
Co-Orientadora: Farm. Drª. Thalyta Renata Araújo
Santos

GOIÂNIA-GO

2018
Dedico este trabalho à Deus, por sempre guiar
os meus caminhos e aos meus pais, Olímpio e
Juçara, e meu irmão, Christian, por todo apoio.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à Deus, por ter guiado os meus caminhos até aqui.

Aos meus pais, Olímpio e Juçara, ao meu irmão, Christian, e demais familiares por todo apoio,
dedicação e incentivo durante toda esta jornada. Sem vocês eu não chegaria até aqui!

Aos meus orientadores, Prof. Dr. Sérgio e Drª. Thalyta, por todo apoio, paciência e dedicação
durante a execução deste estudo.

Ao Laboratório Rômulo Rocha pelo fornecimento dos dados, tornando possível a realização
deste estudo.

A Universidade Federal de Goiás, pela oportunidade de realizar minha graduação, assim como
todos os seus funcionários que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a conclusão da
minha graduação.

A todos os docentes que me acompanharam durante a graduação pelos seus ensinamentos e


contribuições.

Aos meus amigos Ana Karoline, Ana Carolina, Ana Paula, Antonio, Dalila, Francis, Gustavo,
Igor, Izabela, João Batista, Jomal, Lívia, Tiemi, William, entre outros, por me acompanharem
durante essa jornada tornando-a mais alegre e prazerosa, por me proporcionarem momentos
inesquecíveis e comemorarem comigo todas as conquistas alcançadas até aqui.

E a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram com a realização da minha graduação.
RESUMO

Diabetes Mellitus (DM) é considerado um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos


caracterizados por hiperglicemia. O diagnóstico pode ser realizado por intermédio da análise
dos níveis sanguíneos de glicose. O DM pode evoluir para complicações agudas graves que
podem ser desencadeados por diversos fatores, incluindo infecções urinárias bacterianas. O
objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de glicosúria, cetonúria e infecções urinárias
bacterianas em indivíduos diabéticos atendidos em um laboratório escola de análises clínicas
de Goiânia, Goiás. Foram obtidos dados secundários referentes ao ano de 2017 deste
laboratório, nos quais os indivíduos tivessem realizado os exames de glicemia de jejum e
Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS). Os dados incluíram as variáveis: idade, sexo,
peso e altura e os resultados dos exames de: glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c),
EAS e urocultura, e foram tabulados por meio do software Microsoft Excel® (2013) e
analisados pelo software BioEstat 5.3 (AYRES, et al, 2007) aplicando se os testes de correlação
de Pearson, teste qui-quadrado e medidas de frequência relativa e absoluta. Para obtenção de
tais dados foi realizada a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFG (CEP/UFG),
sendo aprovado no corrente ano pelo CAAE 87146818.9.0000.5083. A partir da análise de
dados, foi encontrada uma prevalência de 11,6% de DM, considerando uma amostragem total
de 4659 indivíduos pertencentes ao banco de dados. Destes 541 (11,6%) indivíduos
considerados portadores de DM, 348 (64,3%) eram do sexo feminino e 193 (35,7%) do sexo
masculino. Onde a glicemia de jejum apresentou uma média de 195,56 ± 68,33 mg/dL, HbA1c
8,71 ± 1,74 % e a Glicemia Média Estimada (GME) 203,31 ± 49,94 mg/dL. Observou-se, ainda,
uma prevalência de 42,9% de glicosúria, 3,1 % de cetonúria e 14,8% de infecção urinária. Nos
casos de infecção urinária 85,4% eram do sexo feminino e 15,6% eram do sexo masculino, além
de que as espécies bacterianas mais frequentemente encontradas foram a Escherichia coli
(64,6%) e Klebsiella pnumoniae (22,92%). A prevalência de glicosúria encontrada pode ser
atribuída ao elevado nível de glicose sanguínea dos indivíduos deste estudo o que pode ser
associado a casos de complicações agudas. Vale ressaltar, que a prevalência de cetonúria
encontrada também pode estar associada a tais complicações. A maioria das infecções urinárias
foram encontradas no sexo feminino.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Glicosúria. Cetonúria. Infecções urinárias.


ABSTRACT

Diabetes mellitus (DM) is considered a heterogeneous group of metabolic disorders


characterized by hyperglycemia. The diagnosis can be made by the analysis of blood glucose
levels. DM can progress to severe acute complications that can be triggered by a number of
factors, including bacterial urinary infections. The objective of this study was to evaluate the
prevalence of glycosuria, ketonuria and bacterial urinary infections in diabetic individuals
attended at a laboratory of clinical analysis in Goiânia, Goiás. Secondary data were obtained
from 2017 of this laboratory, in which individual had performed the fasting plasma glucose and
the abnormal elements and sedimentation (EAS) test. The data included the variables: age, sex,
weight and height and the results of the tests: fasting plasma glucose, glycated haemoglobin
(HbA1c), EAS and uroculture, and were tabulated using Microsoft Excel® software (2013) and
analyzed by BioEstat 5.3 software (AYRES, et al, 2007) applying Pearson correlation tests, chi-
square test and relative and absolute frequency measurements. In order to obtain such data, it
was submitted to the Research Ethics Committee of the UFG (CEP / UFG), being approved this
year by CAAE 87146818.9.0000.5083. From the data analysis, a prevalence of 11.6% of DM
was found, considering a total sample of 4659 individuals belonging to the database. Of the 541
(11.6%) individuals considered as having DM, 348 (64.3%) were female and 193 (35.7%) were
male. Where fasting plasma glucose presented a mean of 195.56 ± 68.33 mg / dL, HbA1c 8.71
± 1.74% and Mean Estimated Glycemia (GME) 203.31 ± 49.94 mg / dL. A prevalence of 42.9%
of glycosuria, 3.1% of ketonuria and 14.8% of urinary infection was also observed. In the cases
of urinary infection, 85.4% were female and 15.6% were male. In addition, the bacterial species
most frequently found were Escherichia coli (64.6%) and Klebsiella pnumoniae (22.92%). The
prevalence of glycosuria found can be attributed to the high level of blood glucose in the
individuals in this study, which may be associated with cases of acute complications. It is worth
noting that the prevalence of ketonuria found may also be associated with such complications.
Urinary infections were found to be more prevalent in females.

Keywords: Diabetes Mellitus. Glycosuria. Ketonuria. Urinary infections.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição de resultados por sexo, faixa etária, IMC e exames laboratoriais dos
dados analisados. 21

Tabela 2 - Prevalência de infecção urinária conforme as variáveis do estudo. 22

Tabela 3 - Frequência de gêneros bacterianos nas infecções urinárias dos indivíduos


considerados portadores de DM. 23
LISTA DE ABREVIAÇÕES

ADA Associação Americana de Diabetes

AVC Acidente Vascular Cerebral

CAD Ceatoacidose Diabética

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DM Diabetes Mellitus

EAS Elementos Anormais e Sedimentoscopia

EHH Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar

GME Glicemia Média Estimada

HbA1c Hemoglobina glicada A1c

IAM Infarto Agudo do Miocárdio

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LRR Laboratório Rômulo Rocha

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFG Universidade Federal de Goiás

UTI Unidade de Terapia Intensiva

.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................10
2 JUSTIFICATIVA..............................................................................................................14
3 OBJETIVOS......................................................................................................................15
3.1 Objetivos Gerais................................................................................................................15
3.2 Objetivos Específicos.........................................................................................................15
4 OBJETO............................................................................................................................16
4.1 Problema............................................................................................................................16
4.2 Hipótese..............................................................................................................................16
4.3 Variáveis............................................................................................................................16
5 METODOLOGIA.............................................................................................................17
5.1 Delineamento do estudo e da população..........................................................................17
5.1.1 Critério de Inclusão.....................................................................................................17
5.1.2 Critérios de Exclusão...................................................................................................17
5.1.3 Variáveis......................................................................................................................17
5.2 Coleta de dados e aspectos éticos......................................................................................19
5.3 Análise de dados.................................................................................................................19
6 RESULTADOS..................................................................................................................20
7 DISCUSSÃO......................................................................................................................24
8 CONCLUSÕES.................................................................................................................27
9 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................28

ANEXO A – Solicitação de dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


– TCLE

ANEXO B – Solicitação do termo de anuência

ANEXO C– Termo de anuência

ANEXO D – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa - CEP


10

1 INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é considerado um grupo heterogêneo de distúrbios


metabólicos caracterizados por hiperglicemia, a qual pode resultar de defeitos na ação da
insulina e/ou na sua secreção (GROSS, et al, 2002; SBD, 2017). Atualmente é classificada pela
sua etiologia, conforme proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS), Associação
Americana de Diabetes (ADA) e Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em quatro classes
clínicas, a saber: DM tipo 1, DM tipo 2, outros tipos específicos de DM e DM gestacional.
Existem ainda duas categorias ditas como pré-diabetes, nas quais há aumento da glicemia de
jejum e diminuição da tolerância à glicose (SBD, 2017).

O DM tipo 1 é resultado da destruição das células beta pancreáticas, gerando deficiência


de insulina. Esta destruição pode estar relacionada a ação de auto anticorpos, sendo classificada
como DM tipo 1A, a qual é encontrada de 5 a 10% dos casos de DM e está associada a fatores
genéticos e ambientais. Por outro lado, pode não apresentar uma etiologia conhecida, sendo
classificada como DM tipo 1B, a qual corresponde a minoria dos casos de DM tipo 1, apresenta
variáveis graus de deficiência de insulina além da chance de desenvolver cetoacidose diabética
(CAD) (GROSS, et al, 2002; SBD, 2017). O DM tipo 1 vem aumentando sua incidência e
prevalência, sendo cerca de 1/3 dos casos diagnosticados em quadros de CAD (ADA, 2018).

O DM tipo 2 é resultado do defeito na ação e/ou secreção da insulina e na regulação da


produção hepática de glicose, causada por uma relação entre fatores genéticos e ambientais,
sendo os fatores ambientais mais conhecidos o sedentarismo, a dieta gordurosa e o
envelhecimento. Esse tipo de DM pode ser visto em 90 a 95% dos casos sendo que a maioria
dos indivíduos acometidos apresentam sobrepeso ou obesidade, com aumento, na maioria dos
casos, da gordura abdominal, e raramente desenvolvem CAD espontaneamente, mas quando
desenvolvem há uma associação com outros fatores, como infecções e uso de certos
medicamentos. Esses indivíduos não são dependentes de insulina, embora possam usá-la para
obtenção de um controle adequado (ADA, 2018; GROSS, et al, 2002; SBD, 2017).

O DM tipo 2 apresenta, na maioria das vezes, um diagnóstico tardio devido ao fato de o


quadro de hiperglicemia ser casual e, inicialmente, não se manifestar de forma severa a ponto
de o indivíduo notar os sintomas (ADA, 2018).

Os outros tipos específicos de DM englobam as formas menos comuns, nas quais as


causas ou processos causadores podem ser identificados. Apresentam uma clínica bem variada,
11

a qual é dependente da alteração de base. Esta alteração pode ser proveniente de defeitos
genéticos na função das células beta ou na ação da insulina, doença do pâncreas exócrino, entre
outras (SBD, 2017).

O DM gestacional corresponde a qualquer intolerância à glicose com início ou


diagnóstico durante a gestação, ela pode estar associada tanto a resistência à insulina quanto a
diminuição da função das células beta. Pode ocorrer em 1 a 14% das gestações, estando
associada a aumento da morbidade e mortalidade perinatais, sendo que o diagnóstico é realizado
entre a 24ª e 28ª semanas de gestação. As pacientes devem ser reavaliadas a partir de 6 semanas
após o parto, havendo reversão do quadro na maioria dos casos, com um risco de 10 a 63% de
desenvolvimento de DM tipo 2 dentro do prazo de 5 a 16 anos após o parto (SBD,2017).

Existem, atualmente, 4 critérios aceitos para o diagnóstico de DM, sendo eles:

 Sintomas de poliúria, polidpsia (sede excessiva) e emagrecimento, acompanhados de


glicemia casual (glicemia dosada a qualquer hora do dia, independente do horário das
refeições) ≥ 200 mg/dL;
 Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL, se houver pequena alteração deve-se confirmar o
diagnóstico através de uma repetição do teste em um outro dia;
 Glicemia após 2 horas de ingestão de solução de 75g de glicose ≥ 200 mg/dL.
 Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 6,5%, sendo que valores entre 5,7 e 6,4% indicam que
o indivíduo apresenta alto risco de desenvolvimento de DM (ADA, 2018; GROSS, et
al, 2002; IDF, 2015; SBD, 2017).

Se a hiperglicemia se tornar persistente, pode levar a alterações irreversíveis que afetam


olhos, rins, nervos, vasos sanguíneos e até mesmo a coagulação. Uma das principais
consequências é a glicação de proteínas, inclusive da hemoglobina A (IDF, 2015; NETTO, et
al, 2009; SBD, 2017).

A hemoglobina A1, uma fração da hemoglobina A, sofre uma reação não enzimática
entre seus grupos amino primários e a glicose, em que a velocidade dessa reação é proporcional
a concentração de glicose plasmática. A hemoglobina A1 pode ser separada, por cromatografia,
em vários subtipos, sendo que na hemoglobina A1c a glicose se liga de forma estável e
irreversível. Dessa forma, a quantidade de hemoglobina glicada A1c (HbA1c) é proporcional a
média de glicose no sangue nos últimos 2 a 3 meses precedentes ao teste. Além disso, seus
valores se mantem estáveis após a coleta, justificando seu uso, ao menos 2 vezes ao ano, para
12

acompanhamento e diagnóstico do indivíduo diabético. Em adultos a HbA1c < 7% indica um


bom controle da DM enquanto para crianças e adolescente o ideal é a HbA1c se apresentar
<7,5% (ADA, 2018; NELSON, COX, 2014; NETTO, et al, 2009; SBD, 2017; SUMITA,
ADRIOLO, 2008).

Variações de glicemia, com valores que oscilam muito em relação à média, são
consideradas fatores de risco por causarem estresse oxidativo e lesão tissular. Dessa forma, o
controle da glicemia reduz complicações do DM, tanto agudas quanto crônicas. Tal evidência
é observada em indivíduos com DM mal controlado, que desenvolvem mais complicações do
que os indivíduos em que o DM se apresenta controlado (SBD, 2017).

O DM pode evoluir para complicações agudas graves como a CAD e o Estado


Hiperglicêmico Hiperosmolar (EHH), sendo que ambas podem necessitar, conforme gravidade,
de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e apresentam um prognóstico dependente
das condições de base do indivíduo. Existem alguns fatores predisponentes para estas
complicações, os quais incluem: infecções, Acidente Vascular Cerebral (AVC), uso abusivo de
álcool, pancreatite aguda, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), traumas e uso de
glicocorticoides. Destes, as infecções são as causas mais comuns. O que ocorre tanto na CAD
quanto no EHH é uma redução da insulina circulante em conjunto com um aumento de
hormônios contrarreguladores (glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento).
Tal situação resulta em um aumento da produção hepática e renal de glicose e redução da
captação de glicose pelos tecidos periféricos, o que gera hiperglicemia e hiperosmolaridade no
espaço extracelular (PIRES, 2004; SBD, 2017).

Além disso, na CAD, a deficiência de insulina estimula a lipólise, resultando na


liberação de ácidos graxos que são oxidados a Acetil-CoA que, em excesso, é convertido a
corpos cetônicos (acetoacetato, beta-hidroxiburiato e acetona), gerando cetonemia e/ou
cetonúria e acidose metabólica, algo que não ocorre tão intensamente no EHH. Em ambos os
caso, CAD e EHH, ocorre glicosúria, desidratação, diurese osmótica e perda de fluídos e
eletrólitos (BARONE, et al, 2007; SBD, 2016).

Para o diagnóstico de CAD são considerados: glicemia ≥ 250 mg/dL, pH arterial ≤ 7,3
e bicarbonato sérico ≤ 15 mEq/L, indicando acidose metabólica, associado a variáveis graus de
cetonemia e cetonúria. A cetonemia e cetonúria podem ocorrer também por cetose de jejum e
cetoacidose alcoólica (gerada por uso abusivo de álcool), devendo ser diferenciadas dos quadros
de CAD. A CAD pode ser classificada em grave (pH venoso < 7), moderada (pH venoso entre
13

7 e 7,25) e leve (pH venoso entre 7,25 e 7,3) (BARONE, et al,2007; JACOB, et al, 2014; SBD,
2016).

A CAD está associada à deficiência de insulina, com geração de corpos cetônicos, sendo
mais frequente no DM tipo 1 e mais comum em mulheres e indivíduos com mais de 65 anos.
Além disso, costuma evoluir rapidamente e apresentar mal prognóstico nos extremos de idade
(PAESE, VIDOR, BOTELHO, 2013).

Para o diagnóstico de EHH são considerados: glicemia ≥ 600 mg/dL, osmolaridade


sérica > 320 mOsm/L, bicarbonato sérico ≥ 15 mEq/L e discreta cetonemia. A EHH acomete,
normalmente, indivíduos com DM tipo 2 e está associada a situações de estresse, como
infecções, traumas, entre outros (PAESE, VIDOR, BOTELHO, 2013; SBD, 2016).

As infecções podem aumentar risco de hiperglicemia em indivíduos com DM, além do


fato de que podem ser desencadeadoras de complicações agudas por estarem associadas ao
aumento da resistência à insulina. Dentre as infecções, as pneumonias e as infecções urinárias
são as mais comuns (JACOB, et al, 2014; PIRES, 2004; SBD, 2016).

Vale ressaltar, que as infecções urinárias bacterianas são as mais frequentes nos seres
humanos, acometendo, em sua maior parte, mulheres adultas, tendo essa prevalência
relacionada a diversos fatores como anatomia feminina, relações sexuais, gestações e DM. Após
os 50/60 anos se torna mais prevalente no sexo masculino devido a problemas relacionados à
próstata (CORREIA, et al, 2007; KAZMIRCZAK, GIOVELLI, GOULART, 2005; LOPES,
TAVARES, 2005; NETO, 2003).

O diagnóstico laboratorial de tais infecções é feito considerando o crescimento


bacteriano ≥ 100.000 colônias/mL, sendo aceito valores menores em determinadas situações,
tais como crescimento > 100 colônias/mL em mulheres sintomáticas e > 1.000 colônias/mL em
homens sintomáticos, além de qualquer crescimento em urina coletada por meio de punção
suprapúbica. Além disso, a presença de leucocitúria e hematúria no sedimento urinário, nitrito
positivo e esterase leucocitária no exame químico da urina apresentam elevada especificidade
para tais infecções (NETO, 2003).

As complicações agudas que acometem indivíduos com DM podem ser prevenidas por
intermédio da adesão ao tratamento do DM e manutenção do seu devido controle, além da
prevenção, identificação e tratamento de seus desencadeadores.
14

2 JUSTIFICATIVA

O DM representa um importante problema de saúde pública, sendo que no Brasil ao


final da década de 1980 o DM atingia 7,6% dos adultos entre 30 e 69 anos, tendo o
envelhecimento e a obesidade da população brasileira, observados na década de 90, como
fatores considerados favoráveis ao aumento de sua prevalência no Brasil (GROSS, et al, 2002;
ROSA, et al, 2007).

Em 2013, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com o


Ministério da Saúde (MS) estimou uma prevalência de 6,2% de DM no Brasil, sendo a maior
parte dessa população composta por mulheres. Em 2015, a prevalência, em indivíduos de 20 a
79 anos, era de 8,8% (IC 95% = 7,2 a 11,4%). É importante ressaltar que no Brasil, o DM é um
dos 10 motivos de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (FARIA, MORRAYE,
SANTOS, 2013; IDF,2015; SBD, 2017).

As infecções, principalmente do trato respiratório e urinárias, estão entre as principais


causas de descompensação do DM. Tendo sua ocorrência favorecida, em indivíduos diabéticos,
pelo defeito na quimiotaxia dos neutrófilos e problemas de circulação (como diminuição do
fluxo sanguíneo, por exemplo). Uma vez instalado o processo infeccioso com um possível
agravamento do controle metabólico, temos um paciente de risco que necessita de cuidados
imediatos (AGUIAR, et al, 1997; IDF, 2015; SBD, 2017).

Complicações agudas do DM representam um importante encargo financeiro no setor


de saúde e podem ser prevenidas por adesão do indivíduo ao tratamento do DM e seu devido
controle, além da prevenção, identificação e tratamento de seus desencadeadores, como
infecções. Além disso, em programas de triagem, é possível se identificar complicações logo
no início, o que favorece o tratamento e a prevenção da piora de tais casos (IDF, 2015).

Dessa forma, um estudo sobre a prevalência de indicadores de tais complicações e seus


principais desencadeadores pode ser útil na tomada de medidas de prevenção, triagem e controle
de tais episódios, podendo, inclusive, causar redução nos gastos de saúde pública gerados por
tais complicações e melhora na qualidade de vida da população portadora de DM.
15

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Estimar a prevalência de glicosúria, cetonúria e infecções urinárias bacterianas em


indivíduos diabéticos atendidos em um Laboratório Escola de Goiânia, Goiás.

3.2 Objetivos específicos

 Estimar a prevalência de DM dentre os indivíduos atendidos pelo laboratório no período


do estudo;
 Comparar os valores de Glicemia Média Estimada (GME) obtidos a partir da dosagem
de HbA1c com os valores de glicemia de jejum;
 Estimar a prevalência de glicosúria e cetonúria nos indivíduos diabéticos;
 Comparar a prevalência de infecção urinária bacteriana entre os indivíduos diabéticos e
entre a população em geral;
 Verificar a associação dos casos de infecção bacteriana entre os indivíduos diabéticos
com sexo, idade, glicosúria, cetonúria e valor de HbA1c;
 Analisar os gêneros bacterianos mais frequentes nas infecções urinárias identificadas.
16

4 OBJETO
4.1 Problema

Custos e transtornos gerados pelas complicações agudas do DM.

4.2 Hipótese

Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL favorece o aparecimento de infecções urinárias


bacterianas que predispõe o surgimento de complicações agudas do DM, sendo que a presença
de glicosúria e cetonúria podem ser indicativos de tais complicações.

4.3 Variáveis

Se apresentam como variáveis deste estudo: sexo, idade, peso, altura, valores de GME
e HbA1c, presença de glicosúria, cetonúria e infecções urinárias.
17

5 METODOLOGIA

5.1 Delineamento do estudo e da população

Estudo retrospectivo visando a análise do banco de dados do ano de 2017 do Laboratório


Rômulo Rocha (LRR)/Faculdade de Farmácia/UFG incluindo indivíduos que realizaram os
exames de glicemia de jejum, HbA1c, Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS) e
urocultura.

O LRR foi fundado em maio de 1971, sendo um dos centros complementares da


Faculdade de Farmácia da UFG. Nele são desenvolvidas diversas atividades relacionadas ao
ensino, a pesquisa e a extensão, além de atender a cerca de 100 pacientes por dia, que são
encaminhados por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS).

5.1.1 Critérios de inclusão

Foram incluídos no estudo indivíduos atendidos no LRR durante o período de janeiro a


dezembro de 2017 que realizaram os exames de glicemia de jejum e EAS.

5.1.2 Critérios de exclusão

Foram excluídos do estudo indivíduos que foram atendidos no LRR fora do período de
janeiro a dezembro de 2017, que não realizaram os exames de glicemia de jejum e EAS e os
que apresentavam dados incompletos e/ou em duplicatas.

5.1.3 Variáveis

Foram consideradas variáveis deste estudo:

 Glicemia de Jejum: é considerada como a dosagem de glicose no soro após 8 à 12 h de


jejum, realizada pelo método enzimático colorimétrico – GOD – PAP (Trinder) com o
reagente da marca BIOCLIN® no equipamento Mindray 380. Sendo considerados
valores < 100 mg/dL normais, entre 100 e 125 mg/dL pré-diabetes e ≥ 126 mg/dL DM
(BIOCLIN; SBD2017).
 HbA1c: é considerada como dosagem da HbA1c no sangue total colhido em EDTA,
realizada pelo método de imunoturbidimetria com o reagente da marca BIOCLIN® no
equipamento Mindray 380. Sendo considerados valores ≤ 5,6% normais, entre 5,7 e 6,4
pré-diabetes e ≥ 6,5% DM (BIOCLIN; SBD, 2017).
18

 GME: para os indivíduos que apresentavam os valores de HbA1c foi possível calcular
a GME através da fórmula: GME (mg/dL) = 28,7 x HbA1c – 46,7 (NATHAN, et al,
2008).
 Glicosúria: considera a presença de glicose > 50 mg/dL, realizada dosagem na primeira
urina da manhã por meio da leitura da fita reagente para urina Combur10 Test® da
marca Roche no equipamento Urysis 1100 ® (FALKENBERG, COLOMBELI, 2006).
 Cetonúria: considera a presença de corpos cetônicos, realizada dosagem na primeira
urina da manhã por meio da leitura da fita reagente para urina Combur10 Test® da
marca Roche no equipamento Urysis 1100 ® (FALKENBERG, COLOMBELI, 2006).
 Presença de infecção urinária: considera crescimento bacteriano > 100.000 UFC/mL em
ágar CLED (Cistina Lactose Eletrólito Deficiente) incubado 24 h à 37ºC. A análise do
crescimento é realizada em uma amostra da primeira urina da manhã, coletada após
higienização da região intima e desprezo do primeiro jato no momento da coleta (LEVY,
2014).
 Gêneros bacterianos: após crescimento bacteriano considera-se o resultado da coloração
de Gram, que cora as bactérias de acordo com a composição de sua parede, para
distinguir bactérias gram positivas (que adquirem coloração violeta) de gram negativas
(que adquirem coloração rosa). Se gram positiva, considera-se o resultado das provas
de catalase, coagulase e oxidase para distinção do gênero e, se possível, espécie. Se
gram negativa, a identificação leva em consideração a modificação que a bactéria realiza
ao ser inoculada no meio de cultura IAL (Meio rugai modificado do Instituto Adolfo
Lutz) com rugai da marca NEWPROV, neste meio são observados os resultados de 9
provas bioquímicas diferentes em um único tubo, sendo possível por meio destes
resultados distinguir gênero e espécie destas bactérias (LEVY, 2014).
 Índice de Massa Corporal (IMC): para os indivíduos que possuíam dados referentes a
peso e altura foi possível o cálculo do IMC pela fórmula: IMC (kg/m²) = peso (kg) /
altura (m) 2. Sendo que para indivíduos adultos, são considerados valores <18,5 kg/m²
como baixo peso, entre 18,5 e 24,9 kg/m² normal, entre 25 e 29,9 kg/m² sobrepeso e ≥
30 kg/m² obesidade (NUNES, et al, 2009).
19

5.2 Coleta de dados e aspectos éticos

Os dados foram obtidos em uma planilha do software Microsoft Excel® (2013), a qual
incluía todos os indivíduos que haviam realizado os exames de glicemia de jejum, HbA1c,
urocultura e EAS.

Foi solicitada a dispensa do uso de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


(TCLE) devido ao fato deste projeto utilizar apenas dados secundários, conforme anexo A.

Além disso, há uma solicitação de autorização para coleta e uso dos dados do LRR,
conforme anexo B, a qual resultou em um termo de anuência assinado pela coordenadora do
laboratório, conforme anexo C.

Para obtenção de tais dados o presente projeto foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da UFG (CEP/UFG), sendo aprovado sob o CAAE 87146818.9.0000.5083, conforme
anexo D.

5.3 Análise dos dados

Os dados obtidos foram tabulados utilizando-se o software Microsoft Excel® (2013) e


analisadas as seguintes variáveis: idade, sexo, peso, altura e valores de glicemia de jejum e
HbA1c, além da presença de glicosúria e cetonúria (analisadas no EAS) e infecções urinárias
(analisadas na urocultura).

As análises foram realizadas pelo software BioEstat 5.3 (AYRES, et al, 2007) aplicando
se os testes de correlação de Pearson, teste qui-quadrado e medidas de frequência relativa e
absoluta.

Todos os testes estatísticos foram interpretados ao nível de significância de 5% (p<


0.05).
20

6 RESULTADOS

No período do estudo foram identificados 4659 indivíduos pertencentes ao banco de


dados do LRR, que apresentavam resultado de glicemia de jejum e EAS obedecendo, portanto,
aos critérios de inclusão. Sendo, 541 (11,6%) destes com glicemia de jejum ≥126 mg/dL.

Dentre os 541 indivíduos com glicemia de jejum ≥126 mg/dL, 348 (64,3%) eram do
sexo feminino e 193 (35,7%) do sexo masculino e a glicemia de jejum variou entre 126 e 439
mg/dL, com média de 195,56 ± 68,33mg/dL. Deste total, 412 (76,5%) realizaram também o
exame de HbA1c a qual variou entre 5,4 e 16,5%, com média de 8,71 ± 1,74%. A GME variou
entre 108,28 e 426,85 mg/dL, com média de 203,31 ± 49,94 mg/dL. Ao comparar os valores de
glicemia de jejum e GME dos indivíduos por meio do teste de correlação de Pearson, obteve-
se um r = 0.6897 (IC 95% = 0.64 – 0.74) e p < 0.0001. Dentre os 541 indivíduos, 232 (42,9 %)
apresentavam glicosúria e 17 (3,1%) cetonúria. Além disso, 324 haviam realizado urocultura,
sendo 48 (14,8 %) com resultado > 100 000 UFC/uL. Todos os dados estão apresentados na
tabela 1.
21

Tabela 1 - Distribuição de resultados por sexo, faixa etária, IMC e exames laboratoriais dos dados
analisados.

Diabetes Mellitus
Sim Não Total p*
n (%) n (%) n (%)
Sexo
Masculino 193 (35,7) 1091 (26,5) 1284 (27,5) < 0.0001
Feminino 348 (64,3) 3027 (73,5) 3375(72,5)
Faixa etária (anos)
Criança (0 a 11) 1 (0,2) 195 (4,8) 196 (4,2) < 0.0001
Adolescente (12 a 17) 4 (0,7) 162 (3,9) 166 (3,6)
Adulto (18 a 59) 232 (42,9) 2353 (57,1) 2585 (55,5)
Idoso (>60) 304 (56,2) 1408 (34,2) 1712(36,7)
IMC adultos (kg/m²)
Baixo peso (<18,5) 7 (1,4) 169 (5,3) 190 (3,9) < 0.0001
Normal (18,5-24,9) 111 (22,6) 1184(36,6) 1738 (36,1)
Sobrepeso (25-29,9) 179 (36,4) 1073 (33,2) 1604 (33,3)
Obeso (≥30) 195 (39,6) 806 (24,9) 1285 (26,7)
Glicosúria
Sim 232 (42,9) 47 (1,1) 279 (6) < 0.0001
Não 309 (57,7) 4071 (98,9) 4380 (94)
Cetonúria
Sim 17 (3,1) 34 (0,8) 51 (1,1) < 0.0001
Não 524 (96,9) 4084 (99,2) 4608 (98,9)
HbA1c
< 5,6 % 6 (1,5) 518 (45,7) 524 (33,9) < 0.0001
5,6 - 6,4 % 27 (6,5) 404 (35,6) 431 (27,9)
≥ 6,5% 379 (92) 212 (18,7) 591 (38,2)
Infecção urinária
Sim 48 (14,8) 233 (10,7) 281 (11,3) 0.0381
Não 276 (85,2) 1938 (89,3) 2214 (88,7)
*p obtido por meio de teste qui-quadrado.
Fonte: Dados do estudo (2018).
22

Dos 48 casos de infecção urinária identificados, 41 (85,4%) eram de indivíduos do sexo


feminino e 7 (15,6%) do sexo masculino. Desses, 13 indivíduos eram considerados adultos (18
a 59 anos) e 35 idosos (≥ 60 anos). Além disso, 19 indivíduos apresentavam glicosúria e um
cetonúria. Outros 34 indivíduos possuíam resultado de HbA1c, dos quais três com HbA1c <
7% e 31 ≥ 7%. Ao se analisar a população em geral, 46,6% (2171/4659) haviam realizado
urocultura, sendo que 10,7% (233/2171) apresentaram resultado de contagem de colônias > 100
000 UFC/uL, conforme demonstrado na tabela 2.

Tabela 2 - Prevalência de infecção urinária conforme as variáveis do estudo.

Infecção urinária
Sim Não Total p*
n (%) n (%) n (%)
Sexo
Masculino 7 (14,6) 107 (38,8) 114 (35,2) 0.0012
Feminino 41 (85,4) 169 (61,2) 210 (64,8)
Faixa etária (anos)
Criança (0 a 11) 0 (0) 1 (0,4) 1 (0,3) 0.8492
Adolescente (12 a 17) 0 (0) 3 (1,1) 3 (0,9)
Adulto (18 a 59) 13 (27,1) 111 (40,2) 124 (38,3)
Idoso (>60) 35 (72,1) 161 (58,3) 196 (60,5)
Glicosúria
Sim 19 (39,6) 122 (44,2) 141 (43,5) 0.5513
Não 29 (60,4) 154 (55,8) 183 (56,5)
Cetonúria
Sim 1 (2,1) 7 (2,5) 8 (2,5) 0.8492
Não 47 (97,9) 269 (97,5) 316 (97,5)
HbA1c
< 7% 3 (8,8) 38 (17) 41 (16) 0.2229
≥ 7% 31 (91,2) 185 (83) 216 (84)
População
Portadores de DM 48 (17,1) 276 (12,5) 324 (13) 0.0381
Em geral 233 (82,9) 1938 (87,5) 2171 (87)
*p obtido por meio do teste qui-quadrado.
Fonte: Dados do estudo (2018).
23

Os gêneros bacterianos identificados nos indivíduos considerados portadores de DM estão


demonstrados na tabela 3, sendo a Escherichia coli a mais frequente (64,9%), seguida pela
Klebsiella pneumoniae (22,92%).
Tabela 3 - Frequência de gêneros bacterianos nas infecções urinárias dos indivíduos considerados
portadores de DM.

Frequência Frequência Sexo Sexo


Bactéria
absoluta relativa (%) feminino masculino
Escherichia coli 31 64,6 29 2
Klebsiella pneumoniae 11 22,92 8 3
Klebsiella sp 1 2,08 1 0
Proteus mirabilis 1 2,08 1 0
Enterococcus faecales 1 2,08 1 0
Enterococcus sp 1 2,08 1 0
Staphylococcus aureus 1 2,08 0 1
Staphylococcus epidermidis 1 2,08 0 1
Total 48 100 41 7
Fonte: Dados do estudo (2018).
24

7 DISCUSSÃO

Um dos critérios para diagnóstico da DM é o valor de glicemia de jejum ≥ 126


mg/dL (ADA, 2018; IDF, 2015; SBD, 2017), sendo este o critério adotado por este estudo
para considerar os indivíduos como portadores de DM tendo em vista os dados e informações
disponíveis. Dessa forma, foi observada uma prevalência de cerca de 11,6% de DM, o que é
superior a prevalência de DM encontrada em indivíduos adultos (20 a 79 anos) na população
brasileira em 2015 que era de 8,8% (IC 95% = 7,2 a 11,4%) (IDF, 2015). Não sendo possível,
neste estudo, classificar estes indivíduos quanto ao tipo de DM devido à falta de acesso ao
histórico dos mesmos.

Mulheres apresentaram maior prevalência de DM (p < 0.0001). Este fato pode estar
associado tanto à menopausa, visto que o hipoestrogenismo, que ocorre nesta fase, pode
gerar obesidade e resistência à insulina favorecendo o risco de DM, quanto a síndrome dos
ovários policísticos, um dos principais distúrbios endócrinos que acomete mulheres em idade
reprodutiva, em que há uma tendência a resistência à insulina e consequentemente aumento
do risco de DM ou, ainda, a uma maior procura das mulheres pelos serviços de saúde,
favorecendo o diagnóstico do DM e outras doenças (FONSECA, BAGNOLI, CARDOSO,
2006; GRILLO, GORINI, 2007; MARTINS, 2009). Devido à falta de acesso ao histórico
desses indivíduos não é possível afirmar qual desses fatores é o responsável por essa
diferença.

Indivíduos adultos com sobrepeso e obesos (conforme classificação pelo IMC)


apresentaram maior prevalência (p < 0.0001). Este fato é condizente com o descrito na
literatura e pode ser associado ao diagnóstico de DM tipo 2, pois o acúmulo de gordura,
principalmente visceral, está relacionado a produção de citocinas pró inflamatórias pelo
tecido adiposo e geração de resistência à insulina favorecendo, assim, o risco de DM (ADA,
2018; GROSS, et al, 2002; SBD, 2017).

Indivíduos adultos e idosos apresentaram maior prevalência de DM (p < 0.0001).


Este é outro dado que pode ser associado ao diagnóstico de DM tipo 2, pois o envelhecimento
é considerado um dos fatores contribuintes para o surgimento deste tipo de DM (ADA, 2018;
GROSS, et al, 2002; SBD, 2017).

Ao se comparar os valores de GME com os de glicemia de jejum, percebe-se uma


relação estatística (p< 0.0001) e positiva (r = 0.6897), indicando que quanto maior o valor
25

da glicemia de jejum maior o valor da GME. Apesar de a GME ser obtida a partir dos valores
de HbA1c e refletir uma estimativa do valor médio da glicemia num período de cerca de 2 a
3 meses (NETTO, et al, 2008; SBD, 2016; SUMITA, ADRIOLO, 2004).

Dentre esses indivíduos, observou-se uma alta prevalência de glicosúria (43,25%),


que pode ser atribuída ao fato da concentração de glicose sanguínea, que se encontra elevada
nesses indivíduos (média de 195,56 ± 68,33mg/dL), ser superior a capacidade de reabsorção
renal de glicose, fazendo com que haja alta excreção de glicose na urina, a qual pode ser
detectada no EAS (PAIS, et al, 2014). Algo que se torna preocupante, visto que a presença
de glicosúria pode estar associada a quadros de complicações agudas da DM (BARONE, et
al, 2007; SBD, 2016).

Entretanto, a prevalência de cetonúria não foi tão elevada (3,14%), mas, nos
indivíduos em que a cetonúria se torna presente ela pode estar associada a um risco de
complicação aguda do DM, a CAD, sendo necessária a investigação da causa desta
ocorrência (BARONE, et al, 2007; JACOB, et al, 2014; SBD, 2016). Neste estudo, não foi
possível definir a causa desses acontecimentos.

Por meio dos resultados de urocultura foi possível encontrar uma prevalência de 14,8%
de infecção urinária bacteriana dentre os indivíduos considerados portadores de DM. Nos
casos de infecção urinária detectados houve uma associação com o sexo (p = 0.0012), sendo
o sexo feminino o mais acometido (p = 0.0012), fato que pode estar relacionado a anatomia
feminina, relações sexuais, gestações e ao próprio DM (CORREIA, et al, 2007;
KAZMIRCZAK, GIOVELLI, GOULART, 2005; LOPES, TAVARES, 2005; NETO, 2003).
Houve associação também com a presença do DM (p = 0.0381), o que pode estar relacionado
a fatores presentes nestes indivíduos, como defeitos na quimiotaxia dos neutrófilos e
diminuição do fluxo sanguíneo, estarem associados a uma maior taxa de infecção ou
favorecimento do crescimento de microorganismos nestes indivíduos. (AGUIAR, et al,
1997; IDF,2015; KARMIRCZAK, GIOVELLI, GOULART, 2005). Além disso, não houve,
neste estudo, associações entre os casos de infecção e a presença de glicosúria e cetonúria
ou faixa etária dos indivíduos nos fazendo, neste estudo, não associar essas variáveis à um
maior risco de infecções urinárias.

Apesar de, neste estudo, não haver associação entre faixa etária e infecção urinária,
apenas indivíduos adultos e idosos foram acometidos por tal infecção (Tabela 2), o que
permite relacionar a HbA1c > 7%, conforme o estabelecido pela SBD para indivíduos
26

adultos, com o descontrole da DM. Entretanto, a presença de infecção urinária não esteve
associada com o descontrole do DM (p = 0.2229) apesar de, na literatura, as infecções serem
uma das principais causas de descompensação do DM. (AGUIAR, et al, 1997; SBD, 2017).

Com relação aos gêneros bacterianos identificados nos indivíduos considerados


portadores de DM, os mais frequentes foram: Escherichia coli (64,6%) e Klebsiella
pneumoniae (22,92%), o que é correspondente aos gêneros mais relacionados a infecções
urinárias (CORREIA, et al, 2007; KAZMIRCZAK, GIOVELLI, GOULART, 2005).
27

8 CONCLUSÕES

O DM é considerado um importante problema de saúde pública devido ao aumento da


sua prevalência, estando associada ao estilo de vida e envelhecimento. Neste estudo foi possível
encontrar uma prevalência superior à descrita pela literatura (11,6%), estando associada ao sexo
feminino, a idade mais avançada (adultos e idosos) e ao excesso de peso (sobrepeso e
obesidade). Essas associações favorecem um diagnóstico de DM tipo 2.

Foi possível ainda associar os valores de glicemia de jejum com os de GME, obtendo se
uma relação positiva entre os dois valores mostrando que quanto maior o valor da glicemia de
jejum maior o valor da GME. Apesar da GME ser calculada ser calculada a partir da HbA1c,
refletindo os valores médios dos últimos 2 a 3 meses.

Encontrou-se também uma prevalência de 43,25% de glicosúria, 3,14% de cetonúria e


14,81% de infecções urinárias bacteriana.

Nos casos de infecção urinária entre os indivíduos diabéticos houve associação entre a
presença de infecção e o sexo feminino. Sendo as espécies bacterianas mais prevalentes
Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae.
28

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, L.G.K. de, et al. Infecção diagnosticada em diabéticos durante internação hospitalar.
Revista da Associação Medica Brasileira, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 314-318, dez. 1997.

AYRES, Manuel et al. BioEstat 5.3: aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e
médicas. Belém: MCT, IDSM, CNPq. 2007.

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION.2. Classification and Diagnosis of Diabetes:


Standards of Medical Care in Diabetes – 2018. Diabetes Care, v. 41, supplement 1, p. S13-
S27, jan. 2018.

BARONE, Bianca, et al. Cetoacidose Diabética em Adultos – Atualização de uma Complicação


Antiga. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, São Paulo, v. 51, n. 9, p.
1435-1447, dez. 2007.

BIOCLIN. Instruções de uso Glicose Monorreagente.

BIOCLIN. Instruções de uso HbA1c Birreagente.

CORREIA, Carlos, et al. Etiologia das infecções do trato urinário e sua suceptibilidade aos
antimicrobianos. Acta Médica Portuguesa, v. 20, p. 543-549, 2007.

FALKENBERG, Miriam; COLOMBELI, Adriana Scott da Silva. Comparação de bulas de duas


marcas de tiras reagentes utilizadas no exame químico de urina. Jornal Brasileiro de Patologia
e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 42, n. 2, p. 85-93, abril. 2006.

FARIA, Cleide Chagas da Cunha; MORRAYE, Mônica de Andrade; SANTOS, Branca Maria
de Oliveira. O diabético numa perspectiva da promoção de saúde. Revista Brasileira em
Promoção da Saúde. Fortaleza, v. 26, n. 1, p. 26-35, jan-mar. 2013.

FONSECA, Ângela Maggio da; BAGNOLI, Vicente Renato; CARDOSO, Eduardo Blanco.
Alterações hormonais da mulher na terceira idade. Revista Brasileira de Medicina, v. 63, n.
7, p. 348-352, 2006.

GRILLO, Maria de Fátima Ferreira; GORINI, Maria Isabel Pinto Coelho. Caracterização de
pessoas com Diabetes Mellius tipo 2. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 60, n.
1, p. 49-54, jan-fev. 2007.
29

GROSS, Jorge L., et al . Diabetes Melito: Diagnóstico, Classificação e Avaliação do Controle


Glicêmico. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia & Metabologia, São Paulo, v. 46, n. 1, p.
16-26, fev. 2002 .

International Diabetes Federation. IDF Atlas. Brussels, Belgium: International Diabetes


Federation, 7th ed., 2015.
JACOB, Thales Abel et al. Cetoacidose Diabética: uma revisão da literatura. Brazilian Journal
of Sugery and Clinical Reasearch, vol. 6, n. 2, p. 50-53. Março-Maio. 2014.

KAZMIRCZAK, Adria; GIOVELLI, Fabíola Henz; GOULART, Letícia Silveira.


Caracterização das infecções do trato urinário diagnosticadas no município de Guarani das
Missões-RS. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 37, n. 4, p. 205-207, out-dez. 2005.

LEVY, Carlos Emilio. Manual de Microbiologia clínica para o controle desinfecção em


serviços de saúde. Brasília: Anvisa, 2014.

LOPES, Hélio Vasconcellos; TAVARES, Walter. Diagnóstico das infecções do trato urinário.
Revista da Associação. Médica Brasileira. São Paulo, v.51, n. 6, p. 306-308, dez. 2005.

MARTINS, Wellington de Paula et al. Resistência à insulina em mulheres com síndrome dos
ovários policísticos modifica fatores de risco cardiovascular. Revista Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia. v. 31, n. 3, p. 111-116, 2009.

NATHAN, David M. et al. Translatingthe A1c assay into estimated average glucose values.
Diabetes Care, v. 31, n. 8, p. 1-6, agosto. 2008.

NELSON, David L.; COX, Michel M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014.

NETO, Osvaldo Merege Vieira. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO. Medicina


(RibeiraoPreto. Online), Ribeirão Preto, v. 36, n. 2/4, p. 365-369, dec. 2003.

NETTO, Augusto Pimazoni et al. Atualização sobre hemoglobina glicada (HbA1C) para
avaliação do controle glicêmico e para o diagnóstico do diabetes: aspectos clínicos e
laboratoriais. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. Rio de Janeiro, v.
45, n. 1, p. 31-48, fev. 2009.

NUNES, Raquel Ramalho et al. Confiabilidade da avaliação do estado nutricional obtida


através do IMC de três diferentes métodos de percentual de gordura corporal em pacientes com
30

diabetes melitus tipo 1. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia & Metabologia, v. 53, n. 3, p.


360-367, 2009.

PAESE, Fernanda; VIDOR, Ana Cristina; BOTELHO, Lúcio José. Eventos Agudos na Atenção
Básica: Diabetes. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.

PAIS, Patrícia et al. Approach to renal glycosuria in children: a case report. Nascer e Crescer,
Porto , v. 23, n. 1, p. 29-31, mar. 2014

PIRES, Antonio C. Crises hiperglicêmicas agudas no diabetes melitos – Aspectos atuais.


Arquivos de Ciências da Saúde, v. 11, n. 4, p. 262-265, out-dez. 2004.

ROSA, Roger dos Santos et al. Internação por Diabetes Mellitus como diagnóstico principal na
Rede Pública do Brasil, 1999-2001. Revista Brasileira de Epidemiologia. São Paulo, v. 10, n.
4, p. 465-478, 2007.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes


2015-2016. Rio de Janeiro: Ac Farmacêutica LTDA, 2016.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes


2017-2018. São Paulo: Editora Clannad, 2017.

SUMITA, Nairo Massakazu; ADRIOLO, Adgmar. Importância da hemoglobina glicada no


controle do diabetes mellitus e na avaliação de risco das complicações crônicas. Jornal
Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. Rio de Janeiro, v. 44, n. 3, p. 169-174, jun.
2008.
ANEXOS

ANEXO A – Solicitação de dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –


TCLE
ANEXO B – Solicitação de termo de anuência
ANEXO C – Termo de anuência
ANEXO D – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa - CEP

Você também pode gostar