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Contemporânea

Contemporary Journal
3(10): 18837-18852, 2023
ISSN: 2447-0961

Artigo

PREVALÊNCIA DO HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO


EM PACIENTES COM SÍNDROME DO OVÁRIO
POLICÍSTICO

PREVALENCE OF SUBCLINICAL HYPOTHYROIDISM IN


PATIENTS WITH POLYCYSTIC OVARY SYNDROME

DOI: 10.56083/RCV3N10-119
Recebimento do original: 20/09/2023
Aceitação para publicação: 23/10/2023

Daiany Maíra Magalhães Franca Santos


Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Endereço: Br-230, Km 9, s/n, Amazônia Park, Cabedelo – PB
E-mail: mairamagalhaes97@gmail.com

Debora Torquato Berto Veras Leite


Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Endereço: Br-230, Km 9, s/n, Amazônia Park, Cabedelo – PB
E-mail: deborator4@icloud.com

Nicole Martins Lessa


Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Endereço: Br-230, Km 9, s/n, Amazônia Park, Cabedelo – PB
E-mail: nicolemlessa@gmail.com

Rodrigo Machado Teixeira


Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Endereço: Br-230, Km 9, s/n, Amazônia Park, Cabedelo – PB
E-mail: rodrigo2mt@hotmail.com

Wille Guedes Magalhães Neto


Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Endereço: Br-230, Km 9, s/n, Amazônia Park, Cabedelo – PB
E-mail: guedeswille@gmail.com

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Kassio Romulo Veras Leite
Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB), Afya
Instituição: Hospital Nossa Senhora das Neves (HNSN) e Clínica de Medicina Integrada (MEDIN)
Endereço: Avenida Antônio Lira, 300, Tambaú, João Pessoa – PB
E-mail: kassio_romulo@hotmail.com

Andreza Stéfane Miranda Magalhães


Graduanda em Medicina
Instituição: Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)
Endereço: Rua Professor José Seabra de Lemos, s/n, Recanto dos Pássaros, Barreiras – BA
E-mail: andrezamiranda1272@gmail.com

Maria Francisca Nascimento Portela


Graduanda em Medicina
Instituição: Centro Universitário Uninovafapi, Afya
Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina – PI
E-mail: mfnascimentoportela@gmail.com

RESUMO: Objetivo: Identificar a prevalência do hipotireoidismo subclínico


em pacientes com síndrome do ovário policístico. Metodologia: Trata-se de
uma revisão integrativa da literatura. Os critérios de inclusão foram: artigos
disponíveis online, com acesso aberto, publicado entre 2013 e 2023, nos
idiomas inglês, espanhol e português. Os critérios de exclusão foram: teses,
dissertações, monografias, relato de caso, relato experiência, editoriais e
publicações duplicadas. A busca foi realizada em agosto de 2023, nas
seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana em Ciências da
Saúde (LILACS), Medline por meio da PubMed, Scopus e Web of Science. A
estratégia de busca utilizada foi: Hypothyroidism OR "subclinical
hypothyroidism" AND "Polycystic Ovary Syndrome". Inicialmente foram
identificadas 788 publicações, as quais passaram pela triagem dos critérios
de exclusão, resultando, dessa forma, na seleção de 09 artigos para a revisão
na íntegra. Resultados: a análise evidenciou variabilidade na prevalência de
hipotireoidismo subclínico entre mulheres com síndrome do ovário policístico,
variando de 5% a 46,9%, e correlações com fatores metabólicos, como
resistência à insulina e dislipidemia. Além disso, os estudos destacam a
importância do monitoramento dos níveis de hormônio estimulador da
tireoide, pois níveis elevados estão associados a alterações metabólicas
como aumento de lipoproteína de baixa densidade, triglicerídeos e
dislipidemia, diminuição de lipoproteína de alta densidade, além de síndrome
metabólica e glicemia em jejum. Considerações Finais: Foram apresentadas
evidências de que a relação estudada tem implicações clínicas significativas,
destacando a necessidade de rastreamento e manejo cuidadoso para
prevenir os riscos associados a essas condições concomitantes, como
infertilidade e abortos espontâneos.

PALAVRAS-CHAVE: Síndrome do Ovário Policístico, Hipotireoidismo,


Prevalência.

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ABSTRACT: Objective: To identify the prevalence of subclinical
hypothyroidism in patients with polycystic ovary syndrome. Methodology:
This is an integrative literature review. The inclusion criteria were: articles
available online, with open access, published between 2013 and 2023, in
English, Spanish and Portuguese. The exclusion criteria were: theses,
dissertations, monographs, case reports, experience reports, editorials and
duplicate publications. The search was carried out in August 2023 in the
following databases: Latin American Health Sciences Literature (LILACS),
Medline through PubMed, Scopus and Web of Science. The search strategy
used was: Hypothyroidism OR "subclinical hypothyroidism" AND "Polycystic
Ovary Syndrome". Initially, 788 publications were identified, which were
screened against the exclusion criteria, resulting in the selection of 09 articles
for the full review. Results: the analysis showed variability in the prevalence
of subclinical hypothyroidism among women with polycystic ovary syndrome,
ranging from 5% to 46.9%, and correlations with metabolic factors such as
insulin resistance and dyslipidemia. In addition, the studies highlight the
importance of monitoring thyroid-stimulating hormone levels, as high levels
are associated with metabolic alterations such as an increase in low-density
lipoprotein, triglycerides and dyslipidemia, a decrease in high-density
lipoprotein, as well as metabolic syndrome and fasting glycemia. Final
considerations: Evidence was presented that the relationship studied has
significant clinical implications, highlighting the need for screening and
careful management to prevent the risks associated with these concomitant
conditions, such as infertility and miscarriages.

KEYWORDS: Polycystic Ovary Syndrome, Hypothyroidism, Prevalence.

1. Introdução

O hipotireoidismo subclínico (HSC) é uma condição caracterizada pela


concentração sérica elevada do hormônio estimulador da tireoide (TSH) (<
4,5mU/L), na presença de concentrações normais dos hormônios tireoidianos
triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) (Silva; Costa, 2013). Sua prevalência, que
varia de 4% a 10% na população geral, é maior em mulheres e idosos. Em

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mulheres inférteis, essa prevalência varia de 0,7% a 10,2% (Sgarbi et al.,
2013; Montoya et al., 2019).
Por outro lado, a síndrome do ovário policístico (SOP) é uma desordem
hormonal prevalente em cerca de 6% a 10% das mulheres em idade
reprodutiva. Caracteriza-se por sintomas como: irregularidades menstruais;
hiperandrogenismo que; presença de ovários aumentados com folículos
policísticos em pelo menos um dos ovários (Santos; Álvares, 2018).
No contexto dessas duas condições endócrinas, surge uma associação
emergente entre o HSC e a SOP. Estudos apontam essa relação indicando
que mulheres com SOP têm 2,87 vezes mais chances de desenvolver HSC.
Essa associação pode ser influenciada por vários fatores, como obesidade,
resistência à insulina, sistema imunológico comprometido e interações
diretas entre a tireoide e os ovários (Ding et al., 2018).
As pacientes com SOP e HSC apresentam níveis significativamente
mais altos de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) em comparação com
as pacientes com SOP eutireoidiana. Além disso, os níveis de colesterol de
lipoproteína de alta densidade (HDL-C), reconhecido como um fator de
proteção cardiovascular, foram mais baixos em pacientes com SOP associada
ao HSC. Também foi observado que as pacientes com SOP e HSC
apresentaram níveis mais elevados de glicose em jejum (Medeiro et al.,
2017).
Achados também indicam que o HSC, especialmente quando
acompanhado por anticorpos antitireoidianos (ATA), está associado a
alterações metabólicas, como resistência à insulina e dislipidemia, em
mulheres com SOP (Gawron et al., 2022).
A prevalência de HSC na SOP varia de acordo com a região geográfica,
etnia e idade (Ding et al., 2018). Além disso, a prevalência de HSC em
mulheres com SOP varia de 11% a 36% e pode agravar as características
metabólicas e reprodutivas das mulheres com SOP, criando a necessidade

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de compreender melhor essa interação complexa (Peddemul et al., 2022;
Singla et al., 2015).
Este estudo tem como objetivo identificar a prevalência do
hipotireoidismo subclínico em pacientes com síndrome do ovário policístico,
explorando as evidências disponíveis e os fatores que contribuem para essa
associação. Além disso, busca-se compreender os mecanismos
fisiopatológicos subjacentes e discutir as implicações clínicas dessa relação
para o diagnóstico, tratamento e manejo das pacientes afetadas por essa
dupla condição.

2. Metodologia

O estudo em questão trata-se de uma revisão integrativa da literatura


(RI), por meio da qual buscou-se evidências a respeito da temática de
interesse. Para tanto, percorreu-se em seis etapas distintas propostas por
Souza; Silva; Carvalho (2010): 1) delimitação do tema e formulação da
questão norteadora; 2) definição de critérios de inclusão e exclusão e
amostragem na literatura; 3) coleta as informações a serem extraídas; 4)
análise crítica dos estudos; 5) discussão dos resultados; 6) apresentação das
evidências obtidas.
Para formulação da questão norteadora adotou-se a estratégia PICO
(problema: hipotireoidismo subclínico; interesse: prevalência; contexto:
síndrome do ovário policístico). Resultando na seguinte pergunta: Qual é a
prevalência do hipotireoidismo subclínico em pacientes com síndrome do
ovário policístico e quais são os fatores que podem influenciar essa
associação?
Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis online, com acesso
aberto, publicado entre 2013 e 2023, nos idiomas inglês, espanhol e
português. Os critérios de exclusão foram: teses, dissertações, monografias,
relato de caso ou/e experiência, editoriais e publicações duplicadas.

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A busca se deu em agosto de 2023, nas bases de dados Literatura
Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Medline por meio da
PubMed, Scopus e Web of Science. A estratégia de busca utilizada foi:
Hypothyroidism OR "subclinical hypothyroidism" AND "Polycystic Ovary
Syndrome".
A sistematização da seleção dos artigos foi realizada com auxílio da
plataforma online Rayyan, para demonstrar o percurso metodológico
adaptou-se um fluxograma PRISMA (Preferred Reporting Items for
Systematic Review and Meta-Analyses), apresentado na figura 1.

Figura 1 – Representação do percurso metodológico por meio do fluxograma Prisma.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

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3. Resultados

Inicialmente foram identificadas 788 publicações, aplicados os critérios


de exclusão, 653 artigos foram excluídos por duplicidade, 119 por não
corresponderam ao objetivo da revisão, resultando, dessa forma, em 135
artigos, os quais foram selecionados para a leitura de títulos e de resumos.
Dessa amostra, apenas 24 artigos foram selecionados para leitura completa,
resultando 9 estudos, os quais foram incluídos na revisão.
No Quadro 1, estão representadas as características gerais dos estudos
incluídos na revisão, com autores, país de realização, título e tipo de estudo.

Quadro 1 – Características gerais dos estudos incluídos na revisão.


Autores País Título Tipo e estudo
Bedaiwy et Estados Clinical, hormonal, and metabolic parameters in Transversal
al., 2018 Unidos women with subclinical hypothyroidism and
polycystic ovary syndrome: a cross-sectional
study
Benetti-Pinto NR Subclinical hypothyroidism in young women with Observacional
et al., 2013 polycystic ovary syndrome: an analysis of de corte
clinical, hormonal, and metabolic parameters transversal
Enzevaei et Teerã Subclinical hypothyroidism and insulin resistance Prospectivo de
al., 2014 in polycystic ovary syndrome: is there a corte
relationship? transversal
Huang China Subclinical hypothyroidism in patients with NR
et al., 2014 polycystic ovary syndrome: distribution and its
association with lipid profiles
Lu China Subclinical hypothyroidism is associated with Observacional
et al., 2016 metabolic syndrome and clomiphene citrate retrospectivo
resistance in women with polycystic ovary
syndrome
Montoya et NR Prevalencia de hipotiroidismo subclínico en Observacional,
al., 2019 mujeres con infertilidad en un hospital de tercer descritivo,
nivel prospectivo e
transversal
Raj Paquistão Frequency of subclinical hypothyroidism in Caso-controle
et al., 2021 women with polycystic ovary syndrome
Tagliaferri et Italia The link between metabolic features and TSH caso-controle
al., 2016 levels in polycystic ovary syndrome is modulated
by the body weight: an euglycaemic-
hyperinsulinaemic clamp study
Gawron NR Association of Subclinical Hypothyroidism with Retrospectivo
et al., 2022 Present and Absent Anti-Thyroid Antibodies with
PCOS Phenotypes and Metabolic Profile
Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

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A análise dos anos de publicação dos estudos revela uma distribuição
ao longo do tempo, com a maioria dos artigos sendo publicados entre 2013
e 2016. Isso sugere um interesse crescente na relação entre a SOP e o HSC
durante esse período. É importante notar que, embora os estudos tenham
sido realizados em diferentes anos, eles ainda contribuem para o
entendimento contínuo dessa relação complexa.
Quanto aos países de publicação, os estudos são provenientes de
diversas partes do mundo, incluindo os Estados Unidos, Teerã, China,
Paquistão e Itália. Essa diversidade geográfica destaca a relevância global do
tema da SOP e do HSC. Além disso, a presença de estudos de diferentes
países pode ajudar a fornecer uma perspectiva mais abrangente e
representativa sobre essa conexão, considerando as possíveis variações
étnicas e ambientais que podem desempenhar um papel nessa relação.
No Quadro 2, serão apresentados os principais resultados dos estudos
analisados, incluindo informações sobre os autores, a amostra estudada, os
principais achados, os critérios diagnósticos para a SOP e a definição de HSC
em cada pesquisa.

Quadro 2 – Principais resultados dos estudos analisados.


Autores Amostra Principais achados Critério Definição
diagnóstico de HSC
de SOP
Bedaiwy 137 A incidência de HSC foi de 21,9%; resistência Rotterdam TSH >2,5
et al., pacientes à insulina e glicose plasmática em jejum mUI/L
2018 anormal por meio da avaliação do modelo
homeostático (HOMA).
Benetti- 168 A incidência de HSC 11,3% tinham, Apenas os Rotterdam TSH de 4,5
Pinto et pacientes níveis séricos de LDL (122,6 ± 25,6) e PRL a 10
al., 2013 (17,7 ± 7,7 ng/mL) foram significativamente mUI/L.
maiores nas mulheres com HSC.
Enzevaei 75 Foi observado que 25.5% das pacientes Rotterdam TSH >3,75
et al., pacientes apresentavam HSC; 22.7% das participantes UI/L
2014 apresentaram resistência à insulina com base
no HOMA-IR >3,2;
Huang 428 A prevalência do HSC em pacientes com SOP Rotterdam TSH >5,0
et al., pacientes foi de 14,0%; pacientes com níveis de TSH mUI/L
2014 acima de 4,07 mIU/L, indicando HSC,
mostraram níveis significativamente mais

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baixos de HDLc e uma correlação positiva
significativa com níveis elevados de LDLc e
dislipidemia, de acordo com os critérios do
NECP–ATP III..
Lu 196 A prevalência do HSC foi de 46,9%; 30,4% Rotterdam TSH > 2,5
et al., pacientes apresentaram resistência ao Clomifeno; mIU/L
2016 34,8% apresentaram Síndrome Metabólica;
apresentaram também níveis mais altos de TG
e resistência à insulina (HOMA-IR) e níveis
mais baixos de HDL-C; o estudo sugeriu
presença de risco cardiovascular aumentado.
Montoya 398 A prevalência do HSC foi 5%; IMC médio de NR TSH > 2,5
et al., pacientes 32,9 kg/m²; 80% apresentou infertilidade mIU/L
2019 primária, 20 % infertilidade secundaria,
histórico de aborto recorrente e gravidez a
termo.
Raj 200 A prevalência do HSC foi relatada como Diagnóstico TSH entre
et al., pacientes 43.5%; O IMC médio dos participantes com prévio 5 e 10
2021 SOP foi de 25,12 ± 2,51 kg/m². mUI/L
Tagliafer 154 A prevalência de HSC foi de 14,28%; Rotterdam NR
ri et al., pacientes Pacientes com SOP obesas e HSC
2016 apresentaram níveis mais altos de insulina em
jejum e menor utilização periférica de glicose.
Gawron 367 A prevalência de HSC foi de 31,1%; a Rotterdam TSH > 2,5
et al., pacientes prevalência de anticorpos antitireoidianos mUI/L
2022 circulantes (ATA) foi de 12,0% e a tireoidite
autoimune (AIT) foi de 4,4%.
Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

A análise da amostra de pacientes nos estudos revela uma variedade


no número de participantes, variando de 75 a 428 pacientes. Isso demonstra
a inclusão de uma gama de pacientes em diferentes estudos, permitindo uma
visão mais abrangente da relação entre a SOP e o HSC. A prevalência do
HSC na amostra também varia consideravelmente, com taxas que vão de
5% a 46,9%. Isso sugere que a prevalência de HSC entre as mulheres com
SOP pode ser significativa e varia em diferentes populações e contextos
clínicos.
Além disso, esses estudos identificaram correlações entre o HSC e
diversos fatores metabólicos e endócrinos. Por exemplo, observou-se
resistência à insulina em algumas pacientes com SOP e HSC, o que tem
implicações clínicas importantes para o manejo da síndrome e a saúde
metabólica dessas mulheres.

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Da mesma forma, a relação entre o HSC e dislipidemia também foi
destacada, sugerindo uma possível conexão entre a função da tireoide e o
perfil lipídico em pacientes com SOP. Esses achados sugerem que o HSC
pode ser uma comorbidade relevante a ser considerada ao avaliar pacientes
com SOP, devido às possíveis implicações para a saúde metabólica e
cardiovascular.
Os critérios diagnósticos para a SOP variam entre os estudos, com base
principalmente nos critérios de Rotterdam: oligo ou anovulação;
hiperandrogenismo clínico ou bioquímico; ovários policísticos visualizados em
ultrassonografia. Por outro lado, os valores de definição do HSC também
variam ligeiramente, com uma faixa de TSH entre 2,5 mUI/L e 10 mUI/L,
dependendo do estudo. Essa variação nos critérios diagnósticos pode
influenciar as taxas de prevalência relatadas e deve ser considerada ao
interpretar os resultados dos estudos.

4. Discussão

O estudo de Benetti-Pinto et al. (2013) revelou que 11,3% das


mulheres com SOP apresentavam HSC, com um nível médio de TSH de 6,1
± 1,2 mUI/L. As pacientes exibiram níveis mais elevados de LDL-C em
comparação com aquelas com função tireoidiana normal. Huang et al., 2014,
evidenciou que, em uma população chinesa, que 14,0% das pacientes com
SOP apresentaram HSC. Isso superou a prevalência observada na população
geral dos EUA que foi de 9,5%. As pacientes apresentaram níveis
significativamente mais altos de lipoproteína de baixa densidade (LDL). O
estudo também identificou um valor de corte de TSH de 4,07 mIU/L como
indicador de risco elevado de LDL elevado.
Em contrapartida os autores Enzevaei et al. (2014) examinaram 75
pacientes com Síndrome do ovário policístico (SOP), identificando que 25,5%
dessas pacientes tinham Hipotireoidismo Subclínico (HSC), no entanto, não

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houve correlação significativa entre os níveis de TSH e os níveis de colesterol,
lipídios séricos e triglicerídeos.
O estudo de Tagliaferri et al. (2016), revelou que as pacientes com
SOP exibiram níveis significativamente mais altos de TSH e T4. O escore de
pontuação de Ferriman-Gallwey foi significativamente maior. Além disso,
foram observadas correlações entre TSH, glicemia, sulfato de
desidroepiandrosterona (DHEAS), cortisol, estrogênios e Globulina ligadora
de hormônios sexuais (SHBG), especialmente em pacientes com alto índice
de massa corporal (IMC).
Mohamed et al. (2018), identificaram uma diferença significativa na
probabilidade de resistência à insulina e glicemia de jejum anormal entre
mulheres com SOP e HSC, usando um valor de corte de TSH > 2.5 mIU/L.
Esta escolha baseou-se nas diretrizes da American Thyroid Association, que
recomendam o tratamento do HSC para melhorar as taxas de gravidez e
reduzir as taxas de aborto em mulheres que buscam tratamento de
reprodução assistida. Além disso, o estudo destacou associações entre HSC,
resistência à insulina, hirsutismo e excesso de androgênios em mulheres com
SOP.
De acordo com Montoya et al. (2019), o HSC representa uma causa
endócrina associada à infertilidade, o estudo evidenciou prevalência de 80%
de infertilidade primária e 20 % infertilidade entre as pacientes. Além de
impactos negativos, aumentando a probabilidade de abortos espontâneos.
Segundo de Lu et al. (2016), revelou que mulheres com SOP e HSC
apresentaram uma série de resultados significativos quanto ao peso corporal,
índice de massa corporal (IMC) e escores de Ferriman-Gallwey
significativamente altos. Além disso, níveis mais elevados de triglicerídeos
(TG) e índice de resistência à insulina (HOMA-IR) e níveis significativamente
mais baixos de lipoproteína de alta densidade (HDL), prevalência
significativamente maior de síndrome metabólica, resistência à insulina e
resistência ao citrato de clomifeno (CC).

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Raj et al. (2021), evidenciaram a presença de um aumento significativo
de peso e índice de massa corporal (IMC). Além disso, o nível do TSH foi
consideravelmente elevado, indicando uma maior prevalência de HSC nesse
grupo. Indicou ainda que a associação entre SOP e HSC pode ser influenciada
por fatores como obesidade, resistência à insulina, sistema imunológico
comprometido e interações hormonais.
De maneira similar, Gawron et al. (2022), demostraram uma
correlação significativa entre HSC e parâmetros metabólicos em mulheres
com SOP, independentemente do fenótipo houve maior risco de resistência
à insulina, hiperlipidemia e outros distúrbios metabólicos. A prevalência de
anticorpos antitireoidianos circulantes (ATA) e a tireoidite autoimune (AIT)
não foram significativamente relevantes para o estudo.

5. Considerações Finais

Esses estudos ressaltam a importância de considerar a complexa


interação entre o hipotireoidismo subclínico e a síndrome do ovário
policístico, especialmente no que diz respeito aos efeitos metabólicos e
cardiovasculares. A associação entre essas condições pode variar em
diferentes populações e é influenciada por fatores como o peso corporal e a
resistência à insulina.
No entanto, uma tendência geral emerge, indicando uma ligação entre
os níveis elevados de TSH e as alterações metabólicas, incluindo a resistência
à insulina e a dislipidemia. Essas descobertas têm implicações clínicas
significativas, destacando a necessidade de rastreamento e manejo
cuidadoso de mulheres com SOP e HSC para prevenir os riscos associados a
essas condições concomitantes como infertilidade e abortos espontâneos.
Além disso, a prevalência do HSC em associação à SOP sofre
interferências de acordo com a região geográfica estudada, variando entre

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11% a 36%, que enfatiza sua relevância mundial. Estudos indicam, ainda,
que mulheres com SOP têm 2,87 mais chances de desenvolverem HSC.

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Referências

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