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Em Debate As Questões de Língua Portuguesa No Enem - Márcia Maria - 2014
Em Debate As Questões de Língua Portuguesa No Enem - Márcia Maria - 2014
Duque de Caxias
2014
1
MÁRCIA MARIA LIMA CANDIDO
Duque de Caxias
2014
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CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIGRANRIO
Em debate: as questões de língua portuguesa no ENEM / Márcia Maria Lima Cândido. – 2014.
184 f. ; 30 cm.
1. Educação. 2. Exame Nacional do Ensino Médio (Brasil). 3. Ensino médio – Brasil. 4. Língua
portuguesa (Segundo Grau). I. Lopes, Jurema Rosa. II. Universidade do Grande Rio “Prof. José de
Souza Herdy”. III. Título.
CDD – 370
3
4
.
minha vida.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Francisco Gonçalves Lima e Reny da Costa Lima que sempre foram
presentes em todas as etapas da minha vida.
Ao meu esposo, Alan Robim Candido por me apoiar neste momento importante da minha
vida.
Aos meus irmãos Lauro e Marina que me ajudaram nesta etapa da minha vida.
À Professora Doutora Jurema Rosa Lopes, minha orientadora, pela dedicação a esse trabalho,
pela orientação valiosa, pelo incentivo, compreensão e apoio nos momentos mais difíceis,
estimulando-me a seguir em frente.
Aos amigos e colegas de trabalho da Escola Municipal Consuelo Estruc Silva, em especial a
Jacira e a Luiza por me ajudarem nos momentos em que precisei de tempo para estudar e
sempre me apoiaram nesses longos anos de estudo.
À professora Denise Barreto, que em vários momentos me escutou e sempre tinha uma
palavra de incentivo.
À professora Mestre e Psicóloga Ana Lúcia, por me incentivar a concluir esta etapa da
minha vida.
À coordenadora Rosimere do Colégio AFA, pela compreensão e pelo exemplo de ser humano.
À coordenadora Patrícia, pelo apoio neste momento tão importante da minha vida e por me
ajudar nos momentos em que precisei para estudar.
Ao professor Doutor Airto Ceolin Montagner, a professora Doutora Haydéa Maria Marino de
Sant‘Anna Reis, que contribuíram com sugestões preciosas para o desenvolvimento dessa
dissertação.
À professora Doutora Nadia Maria Pereira de Souza por participar da Banca Examinadora
Aos jovens Gilson Robim e Rafael Costa por me ajudarem neste momento importante da
minha vida.
A todos os familiares e amigos, que por algumas vezes devem ter detestado essa pesquisa,
pois ela nos furtou muitos momentos que poderíamos ter aproveitado juntos, mas nunca
deixaram de me apoiar e incentivar.
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RESUMO
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ABSTRACT
The aim of this study is to examine the issues of proof languages, codes and its technologies
ENEM (National High School Exam) in the 2012 edition, which address content in
Portuguese. To meet the intent of this research, we organized three steps. At first, we seek to
understand how the Portuguese language is configured in Secondary Education from the First
Republic. For this, we rely on the works of Chagas (1984), Ghiraldelli (2009), Nagle (2001),
Birth (2007), Smith (2002), Silva (2004), Henriques (2009) and analyze the main reforms that
reorganized the Secondary Education to Law 5.692/71. In the second step we try to
understand the public policies we have today reviewed the promulgation of LDB 9.394/96.
We base our analysis with a brief overview of the National Curriculum Guidelines for
Secondary Education (1998), National Curriculum Guidelines for Secondary Education
(2000), Supplemental Educational Guidelines for National Curriculum Parameters-High
School (2002), Curriculum Guidelines for Teaching Medium (BRAZIL, 2006), yet subsidize
our study based on the ideas of Ghiraldelli (2009) and Luckesi (2006), discussing the progress
of public policy evaluation. In the third stage we consult the Reference Matrix New ENEM
and their ordinances, they gave theoretical support to analyze the results of statistical data
ENEM and correlations of these documents with the elaboration of questions of proof of
Portuguese. To examine issues ENEM, we consider the design of reading and the factors that
influence the understanding of a text focused on interaction author-text-reader according
Azeredo (2007), Kato (2007), Kleiman (2004), Koch and Elias (2010), Moita Lopes (1996)
and Geraldi Citelli (2011). The results show that the questions basically asked the association
between the text and the statement according to the overall understanding of the proposal
message. We conclude that evidence of languages, codes and its technologies, presents a
variety of texts with different themes, as the powers of their respective areas and skills
address the conception of language as interaction, ie, has not only a concern with the language
code . Grammar is considered a tool for reflection on language use, aimed not only broaden
the theoretical knowledge of the language, but also assist in the understanding of texts. In this
sense, we did not identify issues that favor the domain of grammatical rules and lexicon of
decontextualized way.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Valorização do Magistério
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PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
10
FIGURAS
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LISTA DE TABELAS
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QUADROS
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................16
14
4.4- Proficiências das médias de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias .............. 172
CONCLUSÃO................................................................................................................ 176
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 180
ANEXOS........................................................................................................................ 184
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INTRODUÇÃO
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podemos dizer que a pesquisa bibliográfica consiste no exame da literatura científica para
levantamento e análise do que já se produziu sobre o tema. Neste sentido, o maior objetivo da
pesquisa bibliográfica é trazer veracidade aos fatos elencados no trabalho. Este estudo é
sistematizado e desenvolvido com base em material publicado. Os resultados das análises e
reflexões sobre a bibliografia e os documentos pesquisados estão organizados nos capítulos
que compõem esta pesquisa (ALVES, 2009, p. 12).
No primeiro capítulo, discutimos a história da educação a partir da Primeira República
com enfoque no ensino da Língua Portuguesa e nas principais reformas que reorganizaram o
Ensino Secundário até a Lei 5.692/71. Analisamos também o contexto histórico da época
com base nos seguintes autores: Chagas (1984), Ghiraldelli (2009), Nagle (2001),
Nascimento (2007), Soares (2002), Silva ( 2004), Henriques (2009), entre outros. Sendo
assim, este capítulo serve de base para o desenvolvimento e entendimento dos demais
capítulos da dissertação.
No segundo capítulo, realizamos uma discussão relacionada as reformas curriculares do
Ensino Médio a partir da LDB 9.394/96, os avanços que ocorreram na educação e os marcos
legais estabelecidos pela Lei 9.394/96; Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(DCNEM- 1998), os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM-
2000), Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais-
Ensino Médio (2002), e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006).
Em seguida, realizamos uma retrospectiva das avaliações públicas educacionais com o
objetivo de compreender até que ponto o discurso estatal acerca da autonomia e qualidade do
ensino condiz com as reformas curriculares orientadas desde a publicação da LDB de 1996.
No terceiro capítulo, O ENEM como norteador de avaliação, analisamos as mudanças
que ocorreram até o Novo ENEM e as interfaces da reforma do Ensino Médio ( LDB
9.394/96) com as portarias do ENEM. Neste contexto, investigamos os documentos que
estruturam o ENEM e os resultados das escolas que participaram do ENEM em 2012, a nível
nacional, estadual (Rio de Janeiro) e municipal (Nilópolis). Cabe ressaltar, que escolhemos o
município de Nilópolis, por apresentar uma das instituições em que trabalhamos na lista do
INEP, e para ter uma visão mais ampla dos resultados das escolas públicas e privadas no
ENEM de 2012, a nível de Brasil, Estado e Município. Finalizamos este capítulo com uma
análise sobre as competências e habilidades referentes à Matriz de Linguagens, Códigos e
suas tecnologias presentes na estrutura da avaliação do ENEM. De um modo geral,
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constatamos que o reflexo das escolas com as melhores médias, está ligado ao
desenvolvimento das questões com proficiência.
No quarto capítulo, apresentamos as questões de Língua Portuguesa com objetivo de
analisar como os conteúdos são apresentados no exame do ENEM de 2012 e verificar as
correlações entre a prova e a Matriz de Referência para o ENEM. Iniciamos esta parte com a
concepção de leitura de acordo com Kato (2007), Kleiman (2004), Koch e Elias (2010), Moita
Lopes (1996), Citelli e Geraldi (2011). Também discorremos sobre os fatores que interferem
na compreensão de um texto com enfoque na interação: autor-texto-leitor. Apresentamos o
caderno de questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias apresenta quarenta questões
que abordam assuntos pertinentes a Língua Portuguesa. Para obter uma visão ampla dessas
questões, apresentamos um quadro com uma síntese dos seguintes dados de cada texto:
Título/ Fonte/ Gênero textual/ Temas abordados/ Presença de imagem e Número de questões
vinculadas ao texto. Em seguida, analisamos todas as questões de acordo com a Matriz de
Referência para o ENEM, e destacamos as competências e habilidades de cada questão
através de um quadro que nos permitiu uma avaliação geral. Consideramos neste contexto,
concepção de leitura, interpretação de textos, estrutura textual, variação linguística e
semântica.
Ressaltamos como positivo a diversidade de assuntos abordados na prova e o fato de
vários deles estarem vinculados a temas transversais. Alguns desses temas como saúde, meio
ambiente, consumo, entre outros, facilitaram a abordagem em outras disciplinas. Além disso,
cabe destacar a diversidade de gêneros textuais predominantes nas questões, que em alguns
casos estavam associados aos enunciados. Como exemplo, a questão 99, o enunciado faz
referência ao gênero textual – relato pessoal, e a resposta está relacionada às características
do gênero do texto. Identificamos na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias todas
as competências de área com suas respectivas habilidades. As competências de área cinco,
seis, sete e oito foram mais enfatizadas.
Verificamos também a média de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias das escolas em
âmbito nacional com o objetivo de analisar como tem sido o desempenho dessas instituições
diante da nova estrutura de avaliação a partir do Novo ENEM. De acordo com esta análise
concluímos que as instituições com as maiores médias são particulares e estão situadas na
região Sudeste, e os resultados inferiores estão concentrados na Região Norte, e são escolas
estaduais. Cabe ressaltar que as questões do Exame são iguais para todas as regiões
brasileiras. Desse modo, concluímos que as questões de Linguagens, Códigos e suas
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Tecnologias, não valorizam as diversidades presentes no nosso país. A realidade de uma
instituição localizada no centro urbano de uma região rica é diferente de uma escola situada
numa região com menos recursos.
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1- A CONFIGURAÇÃO DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO NÍVEL
MÉDIO DE ENSINO NO PERÍODO DE 1889 - 1971
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Com a República o poder do Imperador desapareceu, tivemos o fim do voto censitário, os
títulos de nobreza acabaram e como consequência a descentralização do poder.
No início da República tivemos uma relativa urbanização do nosso país, e os grupos
que estiveram unidos com os militares na idealização e construção do novo regime vieram de
setores sociais urbanos. Associado a isso, e ao clima de inovação política, surgiu a motivação
para que os intelectuais de todos os níveis e projeções viessem a discutir a necessidade de
abertura de escolas. Na Primeira República, surgiram dois grandes movimentos de ideias a
respeito da necessidade de abertura e aperfeiçoamento das escolas, que foram chamados de
entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico. O primeiro movimento solicitava
abertura de escolas. Já o segundo estava preocupado com os métodos e conteúdos do ensino.
Estes movimentos se alternaram durante a Primeira República e em alguns momentos se
complementaram. O que distingue a última década da Primeira República das que
antecederam, foi a preocupação em modificar os padrões de ensino e cultura das instituições
escolares em diferentes níveis.
O início do século XX, foi marcado por um aumento considerável na oficialização e
legalização de normas e reformas, entre elas a reforma ortográfica, na qual observamos uma
dimensão político jurídica em lugar da normatização de regras linguísticas. Segundo
Henriques (2009), o governo português, em 1911, oficializou a nova ortografia, estendida ao
Brasil em 1931, por um acordo firmado entre a Academia das Ciências de Lisboa e a
Academia Brasileira de Letras. Neste sentido, o ensino da Língua Portuguesa representava a
pátria, pois refletia o momento nacionalista da consolidação do Estado. Os objetivos desse
ensino revelaram como intenção a necessidade de garantir a defesa do idioma bem como sua
expansão e seu prestígio.
O estudo da Língua Portuguesa foi marcado pelas condições sociais, econômicas e
políticas que determinavam o tipo de escola e de ensino. O desejo de ingressar na rota da
moderna civilização estava distante, pois, a educação popular era a pedra angular na qual
repousava a estrutura política , econômica e social da Nação que era considerada instável,
porque sobre ela pesava a grande massa de analfabetos (GHIRALDELLI, 2009). Portanto, o
ensino da Língua Portuguesa ficou restrito às camadas das elites que alcançavam o Ensino
Secundário. O final do século XIX e o início do XX, são particularmente importantes para a
história do ensino da Língua Portuguesa. De acordo com Basso e Ilari (2009), este período é
marcado não só por uma série de fatos e eventos que afetam a língua de fora para dentro, mas
também por algumas importantes transformações estruturais. Neste período, a Literatura
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Brasileira atingiu sua plena maturidade, com a atuação de escritores como Machado de Assis
e a criação da Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897.
No novo contexto criado pela República, tomou força a preocupação em contar com
uma escola pública e leiga de alto nível, o que resultou na elaboração das primeiras
Antologias Nacionais para uso escolar. A imagem de língua que prevaleceu na sociedade era
a dos escritores antigos. A mesma preocupação de preservação da pureza da língua que
prevaleceu na Literatura Parnasiana, também apareceu em vários gramáticos que, em suas
escritas combateram os estrangeirismos desnecessários e as formas de expressões populares
(BASSO e ILARI, 2009).
A Língua Portuguesa não predominava no uso social até, pelo menos, a Reforma
Pombalina ocorrida em meados do século XVIII, que instituiu o português para uso
obrigatório no Brasil. A partir de então, acrescentou-se ao ensino o estudo da gramática do
português que começou a surgir no século XIX, ao lado, do estudo do Latim e da Retórica.
Entretanto, o Português servia como instrumento para a aprendizagem do Latim até o
momento em que este começou a deixar de ser estudado na escola no final do século XIX e
início do XX (SOARES, 2002).
Dessa forma percebemos que a educação brasileira, de modo geral, e, principalmente, o
ensino de língua materna continuou em uma situação caótica de cunho livresco, intelectualista
e acadêmico. A falta de organização, de método e como meta apenas os exames de fim de
ano, proporcionava ao estudante um ensino fragmentado. De acordo com Razzini (2000), o
Programa de Ensino de 1926 era predominantemente gramatical. A gramática normativa era
enfatizada no primeiro e no segundo ano, enquanto que alguns tópicos da gramática histórica
eram reservados para o terceiro ano. A leitura e a redação, apesar de serem mencionadas no
primeiro ano, eram comprimidas pela avalanche de assuntos gramaticais.
O estudo da Língua Portuguesa na escola passou a ser conhecido através das disciplinas
de retórica e poética. Um ano após esta inclusão, foi adicionado o estudo da gramática e com
o término do Império, surge a disciplina Português. Entretanto, a única mudança ficou restrita
ao nome. Na verdade, houve apenas uma junção da retórica, da poética e da gramática em
uma única denominação. Isso aconteceu até a década de 1940. Segundo Soares (2002), os
alunos que tinham acesso à escola continuaram a ser os mesmos, isto é, os economicamente
privilegiados.
A gramática ocupava um espaço predominante no ensino da língua, acompanhada da
retórica e da poética, que foram sofrendo alterações a partir do momento em que seu enfoque
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deixa de ser sobre a arte do falar bem para ser sobre a de escrever bem. Chagas (1984),
ressalta que a Língua Portuguesa significava o Português do Brasil. O ensino da língua era
como instrumento de comunicação e veículo de expressão cultural que conduzia à apreciação
de nossa literatura, de nossa história e dos valores mais típicos. Desse modo acreditamos:
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consolidação da equiparação, ao Colégio Pedro II, tanto dos colégios particulares quanto dos
estabelecimentos estaduais, e sua transformação em instrumento de rigorosa uniformização de
todo o Ensino Secundário Nacional.
Nesse sentido, em 1911, Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República,
promulgou o Decreto 8.659, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Superior e
Fundamental, elaborado pelo seu ministro Rivadávia da Cunha Corrêa, que ficou conhecida
como a reforma que desoficializou o ensino brasileiro. Segundo Ghiraldelli (2009), esta
reforma proporcionava a total liberdade aos estabelecimentos tornando a presença facultativa.
Chagas (1984), também ressalta que qualquer cidadão de dezesseis anos ou mais podia
candidatar-se aos vestibulares sem jamais ter ido à escola.
As justificativas apresentadas a esta reforma evocavam as antigas e reiteradas críticas à
má qualidade do Ensino Secundário. Os principais destaques da reforma: o ensino passou a
ser de frequência facultativa, os diplomas foram abolidos e surgiram os exames de admissão
às Faculdades (uma espécie de vestibular), que eram realizados nas próprias instituições de
ingresso dos candidatos. Essas medidas direcionaram a proliferação de cursos sem qualidade,
como consequência, foram desastrosos os resultados da reforma iniciada em 1911. Tão
desastrosos que a mesma acabou revogada parcialmente em 1915, pelo ministro do Interior
Carlos Maximiliano, que voltou a oficializar o ensino, reformou o Colégio Pedro II e
regulamentou o acesso às escolas superiores.
Carlos Maximiliano se preocupou apenas com a função de preparatório ao ensino
superior que, ainda, era o que os estudantes e seus familiares esperavam do Ensino
Secundário. Maximiliano manteve das reformas precedentes o que nelas houvesse de
progressivo e fosse conciliável com a experiência anterior. Assim, da Lei Rivadávia
conservou-se o exame de admissão às escolas superiores; do Código Epitácio Pessoa, o ensino
seriado e a redução do currículo; da Reforma B. Constant, a restrição da equiparação aos
estabelecimentos estaduais; e da relativamente longa experiência do Ensino Secundário
brasileiro, os exames preparatórios.
No final da Primeira República, houve a Reforma Vaz (1925) que, pela primeira vez,
tentou ordenar um acordo entre o que se fazia nos estados e na União e a eliminação dos
exames preparatórios e parcelados (GHIRALDELLI, 2009). Tratava-se de uma reforma de
consolidação da anterior e que preparou o terreno de modo definitivo para a implantação de
um Ensino Secundário seriado, que marcou o fim dos exames parcelados a partir de 1930.
Sendo assim, esta reforma proporcionou ao Ensino Secundário um caráter de ensino regular,
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capaz e preencher funções mais amplas do que a mera preparação fragmentária e imediatista
aos cursos superiores.
Nagle (2001), ressalta que a escola secundária tem, portanto uma posição singular. Os
padrões de ensino e cultura que transmitia não se alteraram, ainda que fossem motivos de
amplas discussões. Para Chagas (1984), as novas ideias que surgiram e a nova consciência
que pouco a pouco se formava só iriam se transformar em soluções efetivas a partir de 1930.
Neste período o que predominou foi o mesmo indefectível regime de preparatórios. Todas as
reformas acabaram seguindo o velho sistema, ainda que sob uma ingênua condição de
transitoriedade que sempre se estendia até a próxima reforma; todas, menos a reforma de
1911, que para combatê-lo simplesmente o dispensava.
Até 1920, a educação brasileira era considerada como um instrumento de mobilidade
social. Os estratos que detinham o poder econômico e político utilizavam a educação como
distintivo de classe. As camadas médias buscavam a educação como a principal via de
ascensão social, prestígio e integração com os estratos dominantes. Nesta sociedade, ainda
não havia uma função educadora para o nível médio (GHIRALDELLI, 2009). A oferta deste
nível era incipiente, restringindo-se, praticamente, a algumas iniciativas do setor privado. Na
verdade, as reformas educacionais não passaram de tentativas frustradas por não
conseguirem gerar transformações concretas no sentido de organizar a estrutura do Ensino
Secundário.
A reforma Francisco Campos, e o conjunto de decretos fizeram parte da década de
1930. Estruturou o ensino secundário em duas fases: fundamental (5 anos) e complementar (2
anos). Os méritos da reforma foram: estabelecer o currículo seriado, a frequência obrigatória
nos dois ciclos: fundamental e complementar, e a obrigatoriedade de cursá-los para o ingresso
no ensino superior. O ciclo fundamental dava a formação básica geral, e no ciclo
complementar oferecia cursos propedêuticos articulados ao curso superior. Sendo assim,
podemos observar que:
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De acordo com a reforma de Francisco Campos , aquilo que até então era uma tradição
passa a ser lei. As constantes referências ao Colégio Pedro II – ao qual o decreto dedicou um
capítulo em especial, estabeleceram relação direta com a estrutura do Ensino secundário.
Sacramenta-o como referência a essa modalidade de ensino, função para a qual foi criado no
século XIX, conforme observamos nos artigos 1º e 27: ―O ensino secundário oficialmente
reconhecido, será ministrado no Colégio Pedro II e em estabelecimentos sob regime de
inspeção oficial‖ (BRASIL, 1931); e artigo 27:
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Segundo Razzini (2000), o programa de português, expedido pelo Ministério da
Educação com os demais programas do curso fundamental em 30 de junho de 1931,
privilegiou a leitura dos bons escritores como ponto de partida de todo o ensino. A ênfase na
língua e na história nacional num currículo estável e obrigatório propiciou a implantação da
cultura nacional na escola secundária brasileira. Este processo começou no século XIX, mas
não foi bem sucedido por causa das condições impróprias do ensino da época.
O Ensino Secundário fazia parte do ensino tradicional das elites brasileiras. Apesar de
ser a etapa posterior do Ensino Primário, pouquíssimas pessoas tinham acesso a esse ensino
extremamente seletivo e, por conseguinte, muito pouco acessível à maioria da população
brasileira. De acordo com Ghiraldelli (2009), no decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, a
organização do Ensino Secundário tinha como referência para essa etapa da educação o
Colégio Pedro II que foi criado em 1837 com o objetivo de torna-se modelo do ensino público
secundário. O Rio de Janeiro, foi o primeiro a oferecer a instrução secundária oficialmente no
Brasil designada às elites condutoras do país.
Para garantir um alto padrão de qualidade, o Colégio Pedro II era rigoroso na seleção do
corpo docente, entre eles Gonçalves Dias, Euclides da Cunha e Heitor Villa-Lobos. Na
seletividade dos estudantes, considerava os exames de admissão e promocionais. Já nos
programas de ensino a base clássica e a tradição humanística. Com base nessa estrutura, o
Colégio Pedro II conquistou o status de preparador dos alunos para o ensino superior, além de
ser o único colégio a conferir o Grau de Bacharel em Letras, o que garantia ingresso direto
nos cursos superiores, sem a prestação dos exames das matérias preparatórias.
O alto grau de seletividade da organização escolar brasileira estabelecia a bifurcação
dos caminhos escolares após o primário: a via para o povo por meio das escolas profissionais,
e a via para a elite através das escolas secundárias (NASCIMENTO, 2007). Este grau de
seletividade ao qual Nascimento (2007), faz referência era adquirido através de avaliações
rigorosas, que tinham como objetivo peneirar os estudantes naquele período histórico, o que,
naquela concepção, garantia a alta qualidade do ensino. A avaliação em questão cumpria um
papel excludente, segregando aqueles que, privados dos meios de reprodução das oligarquias,
não conseguiam se encaixar no modelo padrão do Ensino Secundário. Este alto grau de
seletividade das escolas secundárias constituía uma barreira quase intransponível para as
classes menos favorecidas, dando mesmo a entender que essas pessoas fossem menos capazes
que as outras.
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De acordo com o novo decreto n.º 4.244/42, o Ensino Secundário dividia-se em dois
ciclos: 1ª ciclo – curso ginasial, com 4 anos de duração; 2º ciclo – o estudante optaria pelo
curso clássico, ou o científico, ambos com 3 anos de duração. O ciclo ginasial articulava-se
diretamente com o ensino primário, bem como com o segundo ciclo do Ensino Secundário.
Aos alunos que terminaram o Ensino Secundário, Científico ou Clássico, o decreto garantia o
acesso ao ensino superior mediante as exigências de matrícula de cada instituição.
O objetivo patriótico e nacionalista do ensino, presente nas entrelinhas da reforma
Francisco Campos, foi enfatizado na lei de 1942, privilegiando o estudo da língua, da história
e da geografia nacionais. A história do Brasil e a geografia do Brasil foram destacadas das
cadeiras de história geral e de geografia geral e passaram a ter existência autônoma. As aulas
de português, antes restritas ao ciclo fundamental (1932), foram estendidas por todo o curso
secundário, aumentando significativamente sua carga horária, de 16 para 23 aulas semanais.
A reforma Capanema assinalou, portanto, a ascensão definitiva do ensino de português
no curso secundário, uma vez que sua abrangência e carga horária, daí em diante, só
aumentaram. Com poucas modificações e ajustes, a reforma Capanema marcou o Ensino
Secundário até o início dos anos de 1960. Além do aumento de aulas do vernáculo, o
patriotismo ditou também os temas preferenciais dos textos de leitura no curso ginasial.
Segundo Ghiraldelli (2009), nos decretos referentes ao Ensino Secundário, Ensino
Comercial e Ensino Industrial, é possível observar que apenas o Ensino Secundário tinha o
objetivo de preparar para a continuidade dos estudos em nível acadêmico. Quanto aos
demais, estavam voltados para a formação de mão de obra para o mercado, o que demonstra,
por um lado, a demanda por esse capital humano na sociedade industrial emergente. Sendo
assim, percebemos que:
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diferenças de aquisição cultural, dirigentes e dirigidos. Com o objetivo de formar as elites
condutoras, o Ensino Secundário foi presenteado com um currículo extenso, com intenções de
proporcionar cultura geral de base humanística, e além disso, fornecer aos adolescentes um
ensino patriótico e nacionalista.
De acordo com Chagas (1984), o curso secundário era um curso de passagem, um
instrumento de preparação dos candidatos ao ensino superior, uma chancelaria de exames
transformados em objetivo absorvente e, cada vez mais, reduzidos ao esqueleto das provas
finais. Nagle (2001), também ressalta que os padrões econômico- sociais, pedagógicos e
político administrativos contribuíram para um Ensino Secundário seletivo e, sobretudo,
preparatório. Desta forma, observamos que o Ensino Secundário tinha como objetivos
selecionar e preparar a elite do país para o exercício das atividades político-burocráticas e das
profissões liberais. Vale destacar que para esta pequena parcela da sociedade brasileira
predominava o ensino humanístico e elitista.
Para Ghiraldelli (2009), a avaliação dos estudantes era essencialmente quantitativa,
sendo exigida a valoração de zero a dez para cada trabalho, ou teste. O professor de cada
disciplina atribuía uma nota para o aluno ao final de cada mês, cuja média daquele ano todo
resultaria na nota anual. Havia também as provas parciais, aplicadas quatro vezes durante o
ano e verificadas pelos professores e inspetores da instituição. As provas finais (composta por
prova oral, ou prático-oral), eram aplicadas no mês de dezembro supervisionadas sob o maior
rigor com a composição de uma banca examinadora que descaracterizava a própria instituição
com relatório final de notas enviadas ao Departamento Nacional de Ensino. Os alunos
reprovados por dois anos consecutivos , nos termos do art. 41, não eram admitidos
novamente à matrícula nos estabelecimentos de ensino secundário oficiais, nem a exame nos
estabelecimentos sob inspeção permanente ou preliminar (BRASIL, 1931).
Vale ressaltar, o caráter elitista e excludente do Ensino Secundário e a manutenção
dessa característica durante todo o processo. O exame de admissão era obrigatório para o
ingresso nessa modalidade de ensino que obviamente não era destinado a todos os estudantes
do país. Após o ingresso no Ensino Secundário, ele era submetido a avaliações periódicas que
culminavam na sua aprovação de uma série para outra, no entanto, seu fracasso reincidente
acarretava-lhe o banimento de qualquer instituição oficial de ensino naquela modalidade. A
severidade talvez se explique pela própria natureza do padrão de Ensino Secundário adotado
para todo o país – o do Colégio Pedro II – já que essa instituição foi criada para formar as
elites condutoras do país. Para Nascimento (2007), o caráter enciclopédico de seus programas
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e os níveis de exigências para a aprovação tornava o Ensino Secundário uma educação para a
elite.
De um modo geral, a classe dominante que frequentava a escola secundária, foi
marcada, acentuadamente pelo caráter elitista que caracterizou todo o processo educacional
brasileiro. Nesse período, a escola cumpria o papel para a qual fora determinado, a de
transmitir os saberes e conhecimentos produzidos pelas gerações anteriores. Na análise deste
estudo, a história do Ensino Secundário vem confirmar os motivos políticos e interesses
econômicos, sociais e culturais que marcaram a trajetória do ensino da Língua Portuguesa
desde sua introdução nas escolas até a sua configuração como uma disciplina curricular.
A sociedade brasileira urbana viveu, no início da década de 60, uma fase de intensa
efervescência política e cultural. Os jornalistas, poetas, políticos, cineastas, dramaturgos e
músicos encontraram no povo oprimido o tema predileto de suas obras. Com base nessa
perspectiva, passaram a valorizar as manifestações culturais do povo; a miséria deixou de ser
folclore, tornando-se denúncia de uma etapa a superar, e os oprimidos passaram a ser
encarados como agentes da construção de uma ordem social mais justa. Sendo assim, as
famílias da classe proletária tiveram acesso ao Ensino Secundário e o ginásio, gradualmente ,
foi perdendo a antiga condição de escola que atendia às necessidades das camadas superiores.
Neste período, a escola passou a representar para as diferentes camadas sociais o meio de
conquista de novas e melhores posições na sociedade em transformação. Desse modo, a
informação e a cultura das elites se tornaram cada vez mais acessíveis à população urbana
graças à expansão dos meios de comunicação.
De acordo com essas considerações e a promulgação da nossa primeira LDB 4.024/61,
Azeredo (2007) ressalta que a década de 1960, constituiu uma etapa de transição na história
do ensino da Língua Portuguesa no Brasil. O ginasial passou a ser composto por três partes:
expressão oral, expressão escrita e gramática expositiva. Em cada parte, tinha-se o cuidado de
oferecer os conteúdos de forma gradativa. Assim, a leitura partia de textos simples,
descritivos, em direção aos textos dissertativos. A escrita iniciava com frases breves e seguia
até a redação com tema livre e a análise literária. Já a gramática era calcada na leitura dos
textos, começava da oração para o estudo das classes de palavras, estudo que seria
progressivamente sistematizado.
33
Outras maiores novidades do ensino de português, entretanto, a partir de 1961 eram a
permissão e até estímulo da liberdade de expressão individual nos exercícios escritos de
redação, e a introdução dos estudos de fonética que estabeleciam a pronúncia normal
brasileira, considerada padrão em 1956. Apesar de continuar a oferecer modelos com real
valor literário, a instituição escolar reconhecia, portanto, a criatividade do aluno no ensino de
redação, a qual seria, cada vez mais, incentivada e exigida nas décadas seguintes (RAZZINI,
2000).
No início dessa década três obras foram usadas nas escolas do Rio de Janeiro: o
Português Básico, de Adriano da Gama Kury (editora Agir); a série intitulada Português, de
Domingos Paschoal Cegalla (editora Francisco Alves); e o Manual de português para a
primeira e segunda séries ginasiais, de Celso Cunha, (livraria São José). Segundo Azeredo
(2007), todos apresentavam textos literários com um pequeno glossário, para a atividade de
leitura que dava início às aulas. Essa leitura era geralmente em voz alta pelo professor.
Essa iniciativa revelava a convicção de que o êxito do ensino da Língua Materna
dependia, expressivamente, da disponibilidade de textos diversos e representativos das
variedades da Língua portuguesa nas obras literárias. Sendo assim, a distribuição dos
conteúdos gramaticais pelas séries ginasiais seguia o plano oficial de 1942, da autoria de
Souza da Silveira. O sucesso dessa obra entre professores de português no Rio de Janeiro no
final dos anos 1960 talvez se explicasse pelo equilíbrio que alcançou entre a concepção
tradicional que privilegiava o ensino da descrição gramatical e a tendência renovadora que
colocava a compreensão e o comentário do texto em primeiro plano (AZEREDO, 2007).
As reformulações na disciplina de Língua Portuguesa ocorreram no início da
democratização escolar, ou seja, a reivindicação das classes populares pelo direito à
escolarização. O extraordinário crescimento da demanda escolar em todos os níveis de ensino
contribuiu para o surgimento de uma variedade linguística que não era o foco de estudo da
época, pois as classes populares não dialogavam com o ensino propedêutico disseminado nos
conteúdos de Português. Portanto, a democratização do acesso à educação trouxe para a
escola uma clientela diferente e multiplicada. Vale destacar, que a corrida aos cursos
superiores aumentou a competição no vestibular, potencializou a função preparatória do curso
colegial, a qual se revelou ineficiente, propiciando o desenvolvimento dos cursinhos pré-
vestibulares.
Segundo Soares (2002), o processo de democratização da escola, elevando a quantidade
de alunos determinou também a exigência de professores com menos rigor. Afinal, onde
34
encontrar tantos professores para atender a demanda? Muitas vezes, apresentavam-se
despreparados para a tarefa que desempenhavam. Consequentemente, houve uma mudança
da clientela nos cursos de Letras, que passaram a receber pessoas pouco letradas. Algumas
delas, além de virem da mesma classe social dos alunos, apenas dominavam a variedade
linguística do seu meio social. Neste contexto, vale ressaltar que:
o efeito quantidade se generalizou pelo Brasil em proporções
diversificadas. A qualificação dos professores e das escolas,
geometricamente multiplicadas, desceu a quase nada, com as
exceções conhecidas das escolas particulares para a elite social e
escolas públicas experimentais pontualizáveis no território nacional
( SILVA, 2004, p.101)
A Lei 4.024/61, garantiu igualdade de tratamento por parte do Poder Público para os
estabelecimentos oficiais e particulares. A Lei que tramitou treze anos no Congresso, e que
inicialmente destinava-se a um país pouco urbanizado, acabou sendo aprovada para um Brasil
35
industrializado e com necessidades de avanços educacionais. Era uma fase de transitoriedade
em que havia intensas manifestações e debates a respeito dos rumos do sistema educacional.
A Lei n.º 4.024, foi aprovada em 1961 , estabelecendo as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Seus dispositivos mais significativos eram: tanto o setor público como o setor
privado o direito de ministrar o ensino em todos os níveis.
Na Lei 4.024/61, o nível médio de ensino, denominado de Ensino Médio estava
articulado ao ensino primário com a duração de 4 a 6 anos organizada em dois ciclos
(ginasial e colegial), onde ainda se exigia, para o ingresso no primeiro ciclo, o exame de
admissão, o que não a tornava muito diferente da estrutura assegurada na Constituição de
1937 ao Ensino Secundário. A lei 4.024/6, avançava no sentido de integrar o ensino
profissional ao Ensino Médio, apesar de persistir a distinção entre essas modalidades.
Fazenda (1988), ressalta que dos anos 46 a 61 a luta por uma educação democrática,
como fator social construtivo, que atendesse a todos e que contribuísse para o
desenvolvimento econômico do país era submetida a igreja e a política para sobrevivência do
sistema, o que culminou numa defasagem entre o sistema educacional, econômico, político e
social.
A democratização do ensino que precedeu a lei número 4.024/1961, atingiu amplos
setores da sociedade em defesa da escola pública. No entanto, o texto final consagrou o
predomínio da educação privada, materializado no financiamento público à educação privada,
consequência de um considerável esforço das classes dominantes em reproduzir seus
intelectuais com base numa escola duplamente financiada, numa situação de restrição das
possibilidades de desenvolvimento de uma educação pública e democrática. A educação
estava diante do desenvolvimento econômico em que os hábitos de consumo das classes alta e
média predominava, ou seja, uma modernização transformada em mecanismo de dominação,
ao invés de desenvolvimento autônomo.
A política educacional brasileira articulada na primeira metade da década de 60,
esboçada a partir de 1964, tinha como suporte básico a teoria do capital humano. Esta teoria
estaria ligada a uma pedagogia tecnicista baseada no pressuposto da eficiência e da
produtividade, obtida a partir da neutralidade científica inspirada nos princípios da
racionalidade. Esta pedagogia defendia a reordenação do processo educativo de modo a torná-
lo objetivo e operacional, permeada por uma linguagem científico tecnocrata, precisa e
convincente repleta de símbolos e metáforas.
36
Neste contexto, em 11 de agosto de 1971, foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases
5.692/71, que não significou uma ruptura completa com a Lei 4.024/61. Para Ghiraldelli (
2009), as diferenças entre as duas leis não podem ser minimizadas. A Lei 4.024/61, refletia
princípios liberais vivos na democracia dos anos de 1950, enquanto a Lei 5.692 /71 refletia,
em boa medida, os princípios da Ditadura Militar, verificados pela incorporação de
determinações no sentido de uma racionalização perversa do trabalho escolar e na adoção do
ensino profissionalizante no Segundo Grau de forma absoluta e universal.
A primeira LDB já afirmava que o ensino público era direito de todos, porém a
educação escolar só era obrigatória no ensino primário, ou seja, o ginasial e colegial também
eram públicos, mas não obrigatórios. Durante 10 anos, a educação em nosso país foi apenas o
suficiente para iniciar o processo de alfabetização. Na Lei 4.024/ 61, cuja denominação era
Educação de Grau Médio ou Ensino Médio possuía divisão em dois ciclos: ginasial e colegial.
Nas duas primeiras séries do ciclo colegial, além das práticas educativas, eram ensinadas oito
disciplinas, das quais uma ou duas eram optativas.
A terceira série do ciclo colegial era organizada com currículo diversificado, com vistas
ao preparo dos alunos para os cursos superiores e compreendia, no mínimo, quatro e, no
máximo seis disciplinas. Vale lembrar que na passagem do primário ao ginasial, era feita uma
avaliação de acesso, chamado exame de admissão. Já nos ciclos ginasial e colegial eram
divididos em ramos de ensino secundário, comercial, industrial, agrícola, normal, entre outros.
Após o golpe militar de 1964, a Lei número 5692/71 provocou profunda alteração na
estrutura dos níveis de ensino: houve ampliação da obrigatoriedade de quatro para oito anos
de estudo, pela união do ensino primário com o ginasial, e a criação de uma escola secundária
orientada por uma lógica profissionalizante. A reforma de 1971, ampliou a obrigatoriedade
do ensino escolar, de quatro anos do ensino primário para oito anos, constituindo o Primeiro
Grau. O nível médio de ensino, passou a ser denominado como segundo grau.
Embora tenha disposto um currículo comum e obrigatório aos ensinos de primeiro e
segundo graus, a Lei número 5692/71, de certa forma guardava como princípio a adaptação
do ensino às circunstâncias de aprendizagem dos educandos, destacando uma diversidade
contemplativa das particularidades locais e individuais. No primeiro capítulo, Artigo 1, é
possível observar como objetivo geral:
37
proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento
de suas potencialidades como elemento de auto realização,
qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da
cidadania.
§ 1º Para efeito do que dispõem os Artigos; 176 e 178 da Constituição,
entende-se por ensino primário a educação correspondente ao ensino
de primeiro grau e por ensino médio, o de segundo grau (BRASIL,
1971).
Dessa forma, o ensino de português passou a admitir, cada vez mais, um número maior
e mais variado de textos para leitura, desde os tradicionais excertos literários,
consideravelmente ampliados com a literatura contemporânea, até todo tipo de manifestação
gráfica, incluindo textos das outras disciplinas do currículo (sociais, científicos), textos de
jornais, revistas, quadrinhos, propaganda, etc. ( RAZZINI, 2000).
Para Neves (2010), a lei 5.692/71 considerava a Língua Portuguesa como instrumento
de comunicação. Neste mesmo período, o Congresso Nacional aprovou pequenas alterações
no capítulo da acentuação gráfica em conformidade com parecer conjunto da Academia
Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. As simplificações aprovadas
pela Lei número 5.765 de 18 de dezembro de 1971, sancionada pelo presidente da República,
eram:
1) abolir os acentos diferenciais dos homógrafos (exceto pôde/ pode)
38
2) abolir as indicações do acento secundário nas palavras derivadas com
mente ou sufixo iniciado por z ( sòmente, cômodamente, cafèzal,
pèzinho). ( HENRIQUES, 2009, p.35).
39
Tabela 1 - Número de estados que oferecem o Ensino Médio no Brasil e Unidades da
Federação –(1994)
Nº de Municípios
Unidade da Com ensino Médio Completo
federação Total Com Ensino Médio %
%
Brasil 4.973 4.494 90,4 4.252 85,5
Na tabela 1, analisamos que a rede de Ensino Médio abrange a grande maioria dos
municípios brasileiros, pois 90,4% dessas unidades administrativas contam com escolas desse
nível, sendo que em 85,5% dos casos os cursos instalados são completos. É possível observar
que não se registram discrepâncias extremamente profundas entre as diferentes regiões.
Considerando o Ensino Médio completo e não completo as taxas de cobertura variam entre
40
72,1% e 93,7%. (curso completo) e 84,7% e 98,4% (curso incompleto). Observamos que o
quadro geral de distribuição da escola média corresponde, à taxa de desenvolvimento
econômico regional. As regiões com menos recursos apresentaram os menores índices de
municípios cobertos pela rede: Norte: 72,1% (cursos completos) e 84,7% (cursos
incompletos); Nordeste: 79,7% e 84,5%, respectivamente. (ZIBAS e FRANCO, 1997).
Além disso, é necessário considerar que a expansão geográfica do ensino de 2º Grau
também tem relação com a porcentagem de adolescentes analfabetos nas diferentes regiões.
Por exemplo, todos os 50 municípios com maior índice de analfabetos jovens estão
localizados no Norte e Nordeste (Fonte: UNICEF/IBGE, censo 1991). Com essa carência na
Educação Fundamental, como consequência temos a menor extensão da rede de Ensino
Médio nas regiões mencionadas. Por outro lado, é de se notar que o Centro-Oeste (93,7%
e 98,4%), supera o Sul com cursos médios completos e não completos em seus municípios
(ZIBAS e FRANCO, 1997).
Se considerarmos as unidades federativas dentro de cada região, torna-se marcante, no
Norte, a diferença de cobertura entre Acre e Roraima. O primeiro tem apenas 45,5% de seus
municípios com escolas de Ensino Médio. Roraima tem 100% de seus municípios cobertos
pela rede. As diferenças entre os estados também são extremadas quando examinamos
Nordeste, onde Pernambuco aparece com uma taxa próxima a 100% de extensão da rede aos
municípios (98,3% e 99,4%). Entre os 50 estados com menores taxas de analfabetismo na
faixa etária de 15 a 19 anos, 33 estão com ensino médio completo e não completo,
respectivamente e Piauí apresentando baixíssimos índices (43,9% e 52,0%) .
As taxas que abrangem o Maranhão (94,9% e 96,3%) e Ceará (85,3% e 90,8%) são bem
superiores às médias da região. O Sudeste mostra uma distribuição mais homogênea da rede,
com três estados com índices de 100% ou próximos a isso, Rio de Janeiro e Espírito Santo:
100% dos municípios com ensino médio completo, e São Paulo: 98,4% e 99,2%, Ensino
Médio completo e não completo, respectivamente. Minas Gerais tem as menores taxas da
região (84,1% e 90,5%). Na região Sul, observamos que o Rio Grande do Sul tem a menor
extensão da rede de Ensino Médio completo / incompleto em relação aos demais estados da
mesma região. No Centro-Oeste a implantação de cursos médios é quase a totalidade dos
municípios. No caso de Mato Grosso do Sul, em 100% dos municípios.
41
Tabela 2– Ensino Médio- Matrícula inicial por dependência administrativa no Brasil
(1971- 1994)
Dependência Administrativa
Anos Total geral
Federal % Estadual % Municipal Particular
% %
1971 1.119.421 44.604 4,0 536.695 47,9 51.074 4,6 487.048 43,5
1975 1.935.903 78.888 4,1 919.090 47,5 60.889 3,1 877.036 45,3
1980 2.819.182 86.125 3,1 1.324.68247,0 97.454 3,5 1.310.92146,5
1985 3.016.138 99.422 3,3 1.780.15559,0 132.333 4,4 1.004.22833,3
1989 3.477.859 97.777 2,8 2.170.63262,4 152.981 4,4 1.056.46930,4
1991 3.770.230 103.092 2,7 2.472.75765,6 176.769 4,7 1.017.61227,0
1994 5.073.307 107.267 2,1 3.641.96371,8 268.119 5,3 1.055.95820,8
Fonte: MEC/SEDIAE/SEEC
Figura 2- Ensino Médio – Matrícula inicial por dependência administrativa- Brasil (1971- 1994)
Fonte: MEC/SEDIAE/SEEC
Com base na figura 2, a análise das matrículas do Ensino Médio de acordo com a
dependência administrativa, põe em evidência a grande expansão das redes estaduais e
particulares entre 1971 e 1994. A partir desses números, fica muito evidente a constante
diminuição das matrículas nas redes municipal e federal. De acordo com Zibas e Franco
(1997),o acesso das camadas populares ao ensino noturno público dos grandes centros pode
ser considerado o modelador do novo perfil da escola média. Conforme o que já foi dito, o
conhecido empobrecimento da classe média e o abusivo aumento das mensalidades das
escolas particulares devem também estar pesando no refluxo da rede particular e no avanço da
estadual.
43
Tabela 3-Ensino Médio – Matrícula Inicial por regiões (1985-1994)
Dependência administrativa
Regiões Total Geral
Federal Estadual Municipal Particular
Brasil
1985 3.016.138 99.422 1.780.155 132.333 1.004.228
1988 3.368.150 98.297 2.039.812 145.476 1.084,565
1991 3.770.230 103.092 2.472.757 176.769 1.017.612
1994 5.073.307 107.267 3.641.983 268.119 1.055.958
Tx.Cresc, 85/94 68,2 68,2 104,6 102,6 5,2
Norte
1985 128.874 14.160 81.558 10.588 22.588
1988 157.853 15.845 99.501 7.602 34.905
1991 202.544 13.845 156.866 2.637 29.195
1994 313.283 8.361 268.265 4.111 31.546
Tx.Cresc, 85/94 153,1 -41,0 230,2 -61,2 39,8
Nordeste
1985 695.342 30.747 373.495 54.055 237.045
1988 779.749 30.475 426.593 71.097 251.584
1991 831.009 31.229 472.746 95.078 231.956
1994 1.018.575 35.649 594.378 132.136 256.412
Tx.Cresc, 85/94 45,5 15,9 59,1 144,4 8,2
Sudeste
1985 1.493.980 30.739 855.398 59.965 547.878
1988 1.665.278 25.014 990.310 56.792 593.162
1991 1.894.293 28.578 1.226.768 68.665 570.282
1994 2.594.514 29.420 1.873.565 117.034 574.495
Tx.Cresc, 85/94 61,8 -4,3 119,0 95,2 4,9
Sul
1985 491.617 17.462 320.969 4.153 149.033
1988 523.508 20.412 350.184 5.083 147.829
1991 581.678 19.347 423.021 6.621 132.689
1994 795.678 25.676 629.188 7.530 132.930
Tx.Cresc, 85/94 61,8 47,0 96,0 8,13 -10,8
Centro-Oeste
1985 206,325 6.314 148.735 3.572 47.704
1988 241,762 6.551 173.224 4.902 57.085
1991 250.614 193.356 3.768 53.490
1994 351.611 8.161 275.567 7.308 60.575
Tx.Cresc, 85/94 70,4 29,3 85,3 104,6 27,0
Fonte: MEC/SEDIAE/SEEC
44
política da região, com a extinção de territórios e a criação de novos estados na década
anterior. O Nordeste registrou o menor crescimento de matrículas (46,5%) no período
destacado (1985-1994). O que chama atenção nessa região é que o ensino municipal foi
aquele que apresentou maior crescimento relativo (144,4%).
Percebemos que em comparação às redes municipais de outras regiões, a do Nordeste
foi a que recebeu o maior número de matrículas em 1994 (132.136). A região sudeste nesse
contexto era considerada a segunda maior rede municipal com117.034 alunos e uma expansão
de 95,2%.A região Sudeste registrou o segundo maior crescimento de matrículas (73,7%),
com preponderância do crescimento no âmbito da rede estadual (119%). O Centro-Oeste vem
a seguir com 70,4%. Nessa região, temos na rede municipal (104,6%), enquanto na rede
estadual 85,3% eos menores números de dependência administrativa federal em relação as
demais regiões. Na região Sul, verificamos que a taxa maior de crescimento era da rede
estadual com (96,0%), o municipal 81,4% e o federal 47,0% entre 85 e 94. De modo geral, o
aumento de matrículas na região Sudeste foi de 61,8%, ficando, em termos de Brasil, apenas
na frente do Nordeste quanto a taxa de crescimento no período.
45
Figura 3 – Ensino Médio- Distribuição da matrícula inicial segundo faixas etárias
Fonte: MEC/SEDIAE/SEEC
46
proporcionar cultura geral de base humanística, e além disso, fornecer aos adolescentes um
ensino patriótico e nacionalista. Vale ressaltar que os padrões econômico- sociais,
pedagógicos e político administrativos contribuíram para um Ensino Secundário seletivo e,
sobretudo, preparatório.
As reformas educacionais dessa época não passaram de tentativas frustradas por não
conseguirem gerar transformações concretas no sentido de organizar a estrutura do Ensino
Secundário. O exame de admissão era obrigatório para o ingresso nessa modalidade de ensino
que obviamente não era destinada a todos os estudantes do país. Além das reformas, tivemos
dois documentos importantes a Lei nº 4.024- Lei de Diretrizes e Base da Educação de 1961,
que a democratização do ensino atingiu amplos setores da sociedade em defesa da escola
pública e a Lei nº 5.692/71 que substituiu a divisão do ensino secundário em Ginasial e
Colegial por uma divisão em dois graus (1º e 2º), aboliu o exame de admissão, definiu que a
qualificação para o trabalho era um componente básico do processo de formação integral do
adolescente sendo um dos objetivos específicos do 2º Grau. Neste contexto, o ensino da
Língua Portuguesa era como instrumento de comunicação e veículo de expressão cultural que
conduzia à apreciação de nossa história.
Enfim, o ensino de Língua Materna permaneceu com o ensino da gramática normativa
e a concepção de linguagem como sistema. A ausência de organização, de método e como
meta apenas os exames de fim de ano, proporcionava ao estudante um ensino fragmentado.
No capítulo a seguir, podemos verificar que as portas da década de 1990, foram abertas com
expectativas positivas em relação ao ensino da Língua Portuguesa com a presença dos estudos
linguísticos, a concepção de linguagem enquanto interação e a reforma do Ensino Médio com
a promulgação da Lei 9.394/96.
47
2 -REFORMA DO ENSINO MÉDIO - LDB 9.394/ 96
48
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996).
Desde 1996, o Ensino Médio é a etapa do processo escolar equivalente à última fase da
educação básica, cuja finalidade é o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino
fundamental, bem como a formação do cidadão para a vida social. Pode ser realizado em
paralelo com a educação profissional de nível técnico. Conforme destacado no artigo 35 da
LDB nº 9.394/96, os objetivos do Ensino Médio são:
49
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina
(BRASIL, 1996).
Os objetivos acima em decorrência de sua própria natureza, deixam claro que o aluno
do Ensino Médio deve ser preparado para ingressar em um curso superior com os conteúdos
básicos apreendidos. Além disso, deve ser preparado para o trabalho, promovendo seu
aprimoramento como indivíduo. Os princípios educativos dispostos na letra da Lei exigem
que o estudante domine os conteúdos básicos da ciência contemporânea que fundamentam os
novos processos sociais e produtivos. A LDB, nº 9.934/96, assumiu a característica
indicativa, de modo a permitir o aperfeiçoamento de questões educacionais amplamente
discutidas. Tais discussões, proporcionaram autonomia por parte das instituições de ensino e
suas respectivas secretarias de educação (municipal ou estadual), descentralizando o poder de
decisões da União, definindo assim as ações que devem ser realizadas e quais os objetivos a
serem atingidos conforme a realidade nas diferentes localidades. Desse modo, podemos
observar que:
50
A LDB 9.394/96, estabeleceu que deveria existir um núcleo comum, para todo território
nacional, e uma parte diversificada (GHIRALDELLI, 2009) . Essas orientações primam pela
diversidade curricular, considerando as características sócio culturais de cada escola e
defendendo o princípio de igualdade quanto ao acesso e ao conhecimento escolar. Desse
modo, a LDB 9.394/96, em seu artigo 36 - Seção I, prevê que o currículo deve ser baseado no
domínio das competências e não no acúmulo de informações. Na base comum está o ensino
de Língua Portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e
cidadania, visando à preparação do estudante para a vida profissional (BRASIL, 1996).
Nesse contexto, vale ressaltar que um dos maiores desafios da reforma do Ensino
Médio, foi a adequação entre a necessidade de expandir a oferta do ensino e o esforço para
assegurar uma educação de qualidade. Na década de 90, os estudos sobre políticas públicas
passaram a ganhar uma maior atenção no Brasil. Desse modo, o campo educacional passou a
intensificar orientações curriculares que engajem os propósitos de qualidade e equidade.
Com base nas estatísticas e pesquisas disponíveis pelo Anuário da Educação Brasileira-
(2012) , podemos analisar a educação ao longo dos últimos anos. Cabe ressaltar que uma
diversidade de estudos tem sido produzido pelos especialistas para lançar luz sobre a
complexidade dos desafios brasileiros, em todas as etapas e modalidades de ensino. Contudo,
são trabalhos focados em problemas específicos, raramente permitindo uma abordagem
sistêmica. Os dados apresentados nas tabelas abaixo mostraram que o acesso escolar de
forma equitativa, urgem políticas atentas e inclusivas, voltadas às desigualdades regionais.
Outro aspecto que chama atenção quando se observa os números relativos ao Ensino
Médio é o fato de um percentual relativamente baixo dos jovens que conseguem concluir esta
etapa de ensino na idade correta, ou mesmo com um pequeno atraso, aos 19 anos.
Especialistas apontam o currículo extenso, que não abre perspectivas profissionais nem
prepara para o vestibular, como um dos entraves (ANUÁRIO DA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA, 2012).
51
Tabela 5- Taxa de matrícula líquida no Ensino Médio – Brasil – 1995-2011
De acordo com a tabela 5, a partir da década de 1990 até 2005, correspondeu a um período
de intensa expansão das matrículas no Ensino Médio. Já nos anos posteriores percebemos um
aumento vegetativo. A LDBEN / 96, conferiu ao Estado, em seu Art. 4º, o dever com a
educação básica obrigatória dos quatro aos dezessete anos de idade (Lei nº 12.796, de 4 de
abril de 2013). Por sua vez, o Plano Nacional de Educação (PDE) 2000-2010, indicava metas
definidas de expansão desta etapa de ensino.
Tabela 6- Jovens que concluíram o Ensino Médio – Brasil e Regiões 2005- 2011
Ao analisar esta tabela percebemos que em 2011, a região Norte apresentou dados
inferiores em relação as demais regiões. Em 2005, observamos que a região Nordeste
apresentou 23,2% , sendo considerada a região com a taxa mais baixa. Quanto a região
Sudeste em 2011, teve o maior número de jovens que concluíram o Ensino Médio. Em
seguida a região Centro Oeste (58,4), com um avanço em relação aos anos anteriores. Já a
região Sul, em 2009, ocupou o 3° lugar entre as regiões brasileiras.
52
Tabela 7- Estabelecimentos e matrículas por dependência administrativa- 2011- Ensino
Médio
53
Observamos na tabela 8, que a região Norte apresentou o menor número de acesso à
internet em relação as demais regiões. Quanto a sala de leitura, o percentual foi maior que a
região Nordeste. Vale ressaltar, que o maior número de dep. e vias adequadas a alunos com
deficiência está concentrado na região Centro Oeste com 48,70%, e o menor número na
região Norte com 32,20%. O que nos chama atenção nesta parte é que a região Sudeste teve o
total de 2.146.401 de recursos, sendo a primeira em quase todos os requisitos, menos na dep.
e vias adequadas a alunos com deficiência ( 27,50%). De acordo com a Lei 9.394/96, no
artigo 58, a oferta da Educação Especial é dever constitucional do Estado, com início na faixa
de zero a seis anos, durante a Educação Infantil. Em relação a sala de leitura, o Nordeste foi a
região que teve o menor número. De modo geral, a região Sul ficou em 1° lugar, no
oferecimento de sala de leitura.
54
Tabela 9 -Ensino Médio- Taxa líquida de matrícula – 1995-2011
1
Notas: As estimativas levam em consideração a idade em anos completos em 30 de junho, ou idade escolar. Em 2004 a área
rural da região Norte foi incorporada no plano amostral da Pnad. Assim, até 2003, os dados da região Norte são referentes
apenas à área urbana. A partir de 2004, os valores apresentados se referem à área urbana e à área rural do Norte.
55
Apesar de um salto expressivo na taxa líquida de matrícula entre 1995 e 2011, as
regiões Norte e Nordeste, ainda estão a meio caminho de alcançar a meta de 85% dos jovens
de 15 a 17 anos no Ensino Médio. Os estados da região Norte, registraram em média uma taxa
líquida de matrícula de 43% para essa etapa de ensino; no caso do Nordeste, esse percentual é
de 44,4%. E, em Alagoas, apenas um terço dos jovens estão no Ensino Médio. Concluímos,
que o tempo passou, surgiram novas propostas para a melhoria na educação e os resultados
permaneceram equiparados aos dados da década de 90, como podemos observar na tabela 3,
em relação as regiões Norte e Nordeste.
Fonte: MEC/INEP/DEED.
Na tabela 10, percebemos que o menor número de matrículas no Ensino Médio está
concentrado na região Centro Oeste. Em seguida o Norte com 754.617. O Sudeste ocupou o
1° lugar na tabela com 3.479.392. Já o Nordeste alcançou 2.401.392 matrículas, sendo o 2°
estado com o maior número de matrículas. Ao longo da última década, tornou-se recorrente
entre gestores públicos e também educadores o bordão de que o Brasil já venceu o desafio da
universalização do ensino e agora todas as políticas devem se concentrar no problema da
baixa eficiência do sistema com as elevadas taxas de abandono, evasão e repetência. Se, de
um lado, é verdade que a garantia do direito à Educação de qualidade deve ser um objetivo
central das três esferas de governo, por outro lado, a falsa ideia de que o ensino já está
universalizado ou próximo da universalização pode fazer mitigar o olhar do Estado e da
sociedade, como um todo, para os desafios que precisam ser enfrentados com urgência.
De modo geral, a LDB, assume um caráter inovador, todavia, ainda insuficiente para
atender as necessidades do sistema educacional, no sentido de melhoria da qualidade do
ensino brasileiro frente ao desenvolvimento econômico do país, porém mostrando-se eficaz
56
no que tange a regulamentação da educação nacional. Esta lei também contribuiu para o
surgimento de documentos governamentais que puderam chegar a sala do professor da
Educação Básica e, de alguma forma, despertar nesse profissional o interesse em dar ênfase a
um ensino mais crítico, menos apegado a fórmulas e imposição de normas.
O objetivo central da maioria das análises desenvolvidas acerca das DCNEM de 1998,
era desvendar o caráter ideológico do discurso oficial e as contradições entre a visão de
Ensino Médio presente nas diretrizes e as demais políticas colocadas em prática pelo governo.
A primeira vista, as diretrizes traziam um discurso sedutor e inovador, por meio da
valorização de uma concepção de educação para a vida e não mais apenas para o trabalho.
Sendo assim, colaborou para um Ensino Médio unificado, integrando a formação técnica e
científica. Com o saber fazer e o saber pensar, superou a dualidade histórica desse nível de
ensino através de um currículo mais flexível e adaptado à realidade do aluno e às demandas
sociais, de modo contextualizado e interdisciplinar baseado em competências e habilidades.
57
relação ao Ensino Médio que hoje estão presentes na sociedade brasileira, especialmente entre
seus educadores (BRASIL, 1998). No Parecer 15/98, foram explicitados os procedimentos
realizados para recolha pública sobre as expectativas e inquietudes em relação ao Ensino
Médio, com ênfase na base curricular. Segundo o documento,
58
Humanas que incluem as tecnologias correlatas. Essas limitações partem dos princípios
definidos na LDB, e propõe uma organização apoiada em competências.
Contudo, essa divisão de competências nem sempre tem sido muito bem equacionada.
Além disso, a LDB reforça a ideia já presente na Constituição Federal de 1988, da autonomia
de concepções pedagógicas atribuídas às escolas, o que limita a adoção de uma única
concepção pedagógica em âmbito nacional, como pretendiam os PCN para o ensino
fundamental.
60
Humanas e suas Tecnologias. Todas as áreas estão atreladas ao uso de tecnologias, por
entender que a constante atualização do ensino é indispensável para compreender que o
conhecimento cientifico é o alicerce para tal evolução tecnológica. Esse conhecimento
tecnológico precisa ser trabalhado pela escola para que se compreenda que o avanço da
tecnologia não banaliza o conhecimento escolar, logo, não há solução tecnológica sem uma
base científica e que, por outro lado, soluções tecnológicas podem propiciar a produção de um
novo conhecimento científico. (BRASIL, 2000).
O desenvolvimento dessas áreas não significa a desestruturação do ensino através das
disciplinas escolares, mas a necessidade de inter-relação entre elas, por entender que os
conhecimentos não estão separados no universo e que a apropriação de tais áreas sugere a
mobilização de saberes entre a escola e a realidade. A interdisciplinaridade e a
contextualização são apresentadas pelo PCNEM (2000), como possibilidade de significação
do conhecimento escolar, isso porque
61
fundamental e o Ensino superior, concepção que, além de descaracterizar esse ciclo, dificulta
a inserção do jovem no sistema educacional e não facilita a sua transição para o universo
profissional.
63
O processo de ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio deve basear-se em uma
visão que leva o aluno a adquirir competência discursiva. Competência discursiva de acordo
com os PCNEM (2002), é o sujeito ser capaz de utilizar a língua de modo variado, para
produzir diferentes efeitos de sentido e adequar o texto a diferentes situações de interlocução
oral e escrita. Portanto, podemos inferir que para os PCNEM ( 2002), o objeto de ensino da
Língua Portuguesa na Educação Básica deve ser pautado no uso do texto em sala de aula.
Dessa forma,
Verificamos que os PCNEM (2002), priorizam a ideia de que é por meio da interação
em diferentes instituições sociais (família, grupo de amigos, trabalho, escola, comunidade,
shopping, entre outros) que o sujeito aprende e apreende as várias formas de funcionamento
da língua, bem como os modos de manifestação da linguagem. Isso acontece porque a
interação propicia ao sujeito a construção dos seus conhecimentos relacionados aos usos da
língua e da linguagem, considerando os seus diversos contextos. Sendo assim, as estruturas
linguísticas assumem significados diferentes, dependendo das intenções dos interlocutores.
Há uma diversidade de vozes em um mesmo texto. O uso que fazemos desses recursos nem
sempre é intencional. Os significados dos discursos se constroem nas relações sociais em que
os sujeitos estão inseridos. Quanto mais dominamos o uso da língua, ficamos mais próximos
da eficiência comunicativa estabelecida.
Desse modo, o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa não podem ser vistos
como algo acabado, pronto, fechado em si mesmo, uma vez que as estruturas linguísticas
devem ser explicadas com base no uso real a que elas se prestam na situação de comunicação.
É no âmbito da concepção da linguagem que o fenômeno social da interação verbal encontra o
espaço próprio da realidade da língua, pois, é nele que se dão as enunciações enquanto
trabalho dos sujeitos envolvidos nos processos de comunicação social. Isso implica, portanto,
estabelecer um perfil do que se espera do discente, na disciplina Língua Portuguesa, nessa
última etapa da educação básica. Sobre esse tema, uma nova orientação aos PCNEM (2006),
prevê que, no decorrer da formação do Ensino Médio,
66
avaliar suas chances no mercado de trabalho. Poderia, inclusive, ver gostos, habilidades e
vocações a serem desenvolvidas e que implicariam, certamente, em uma qualidade de vida
melhor.
Na década de 1990, foram gerados dois tipos de diretrizes para a educação brasileira: os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e as Diretrizes do ensino (1998). Os primeiros
foram publicados e ficaram em evidência em nossa sociedade, tornando-se bastante
comentados pelos professores. As Diretrizes Curriculares do Ensino, por sua vez, não
ganharam popularidade e, de certo modo, em alguns casos, como no ensino superior, saíram
tardiamente e de modo incompleto. Todavia, essa documentação apresentava a maior
sofisticação teórica, e que deveria ter nutrido os Parâmetros Curriculares Nacionais. Mas não
foi isso que ocorreu (GHIRALDELLI, 2009) .
Dessa forma, Luckesi (2006), ressalta que a prática da avaliação da aprendizagem, na
escola brasileira, é propriamente apontamentos. A característica que de imediato se evidencia
é de que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino
que a prática educativa escolar passou a ser direcionada por uma pedagogia de exame. O mais
visível e explícito exemplo dessa pedagogia está na prática de ensino do terceiro ano do
Ensino Médio, em que as atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento
de resolver provas, tendo em vista a preparação para o vestibular, com ênfase no ENEM.
Nessa série de escolaridade, o ensino centra-se no exercício de resolver provas a partir de
determinados conteúdos que concernem à seleção no vestibular. Sendo assim, percebemos
que a criação de leis que abrem espaço à autonomia e à gestão democrática, capacitação
pedagógica e outras medidas de ordem técnica são importantes e necessárias, porém não dão
conta da tarefa de reestruturação da escola pública.
As políticas públicas desde a década de 90, vêm intensificando as suas ações com a
elaboração de orientações curriculares que estão voltadas para a qualidade e equidade. Vale
ressaltar que essas orientações valorizam a diversidade curricular considerando as
características sócio culturais de cada instituição, porém destacam a necessidade de uma base
comum no currículo escolar para enfocar a qualidade de ensino, principalmente da rede
pública. Com todas estas iniciativas por parte das políticas públicas brasileiras, os resultados
de tais avaliações vêm evidenciando lacunas na aprendizagem dos educandos. O caráter das
avaliações correspondem aos objetivos traçados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais –
Ensino Médio (2000), buscando evidenciar a necessidade de ações renovadas para o trabalho
em sala de aula, a regulação de conhecimentos que sejam trabalhados aliados ao cotidiano e
67
interesse dos alunos envolvidos no processo de aprendizagem. Logo, as avaliações são muito
mais amplas do que apenas conteúdos, visa trabalhar competências e habilidades necessárias a
serem desenvolvidas.
No que tange à Educação Básica, as metas do Plano de Desenvolvimento da Escola
(PDE), contribuem para que as escolas e secretarias de educação possam viabilizar o
atendimento de qualidade aos alunos. Para identificar quais são as redes de ensino municipais
e as escolas que apresentam maiores fragilidades no desempenho escolar e que, por isso
mesmo, necessitam de maior atenção e apoio financeiro e de gestão, o PDE dispõe de um
instrumento denominado Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O IDEB
pretende ser o termômetro da qualidade da educação básica em todos os estados, municípios e
escolas no Brasil, combinando dois indicadores: fluxo escolar (passagem dos alunos pelas
séries sem repetir, avaliado pelo Programa Educa censo) e desempenho dos estudantes
(avaliado pela Prova Brasil nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática).
A Prova Brasil é na verdade uma ampliação da prova do SAEB. A partir de 2005, o
SAEB, passou a observar o desempenho dos alunos por amostragem a partir da participação
na Prova Brasil que é censitária, mantendo a avaliação no 5° e 9º do Ensino Fundamental,
sendo realizada de dois em dois anos e com o foco em Língua Portuguesa (leitura) e
Matemática. Para o Ensino Médio foi implantado pelo MEC em 1988, o Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM), com o objetivo de servir como referencial para o aluno do Ensino
Médio, antigo 2º grau, que almeja ingressar em curso superior ou mercado de trabalho. Com
o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a
partir de testes padronizados, estes instrumentos compreendem todo o país, por ser censitário,
proporciona dados nacionais, estaduais, regionais, municipais e por escola.
69
Nesse contexto, vale lembrar que o ensino de Língua Portuguesa no período de 1971 a
1996, vivenciou o processo de redemocratização que tinha como princípio impor a soberania
nacional, na qual, contribuiu para que a Língua portuguesa fosse tratada como elemento de
organização e conservação da cultura nacional, sendo seu uso obrigatório para todos os
alunos. Com a promulgação da Lei 9.394/96, o ensino da língua materna apontou para uma
reflexão sobre o seu uso na vida e na sociedade. Desse modo, o ensino de Língua Portuguesa
teve como base os seguintes documentos oficiais: Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio (2000), Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais- Ensino Médio (2002), e as Orientações Curriculares para o Ensino
Médio (BRASIL, 2006). Através desses documentos verificamos o desenvolvimento de
competências e habilidades, com o objetivo de incentivar o potencial crítico do aluno e, dessa
forma, o seu entendimento de mundo, por intermédio do uso adequado da língua e da
linguagem. Portanto, o ensino de Língua Portuguesa começou a visar um saber linguístico
amplo, tendo a comunicação como base das ações.
Em relação às políticas públicas de avaliação para o Ensino Médio na década de 90,
justificaram-se pela necessidade de definição de prioridades e a busca pelo aperfeiçoamento
da qualidade do ensino, deixando de forma clara a intenção de uma avaliação nacional
constituindo uma política reguladora dos diferentes níveis de ensino. Diferentemente dos
exames escolares comuns, surgiu a avaliação do ENEM, que é constituído de exame único,
abrangendo as várias áreas de conhecimento em que se organizam as atividades pedagógicas
da escolaridade básica no Brasil. Utiliza-se, portanto, para tal fim, as referências da LDB
9394/96, Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, e ainda os textos que sustentam a
organização curricular em Áreas de Conhecimento e Matrizes Curriculares de Referência.
Embora, já tenham ocorrido várias reformas na educação, como nós analisamos no primeiro
capítulo, nada mudou para as classes menos favorecidas. A cada ano, o ensino oferecido `a
esta classe, fica mais enfraquecido e distante das necessidades e dos objetivos propostos pela
própria LDB de 1996. Pretendemos, no próximo capítulo, ampliar este assunto através das
análises dos dados divulgados pelo INEP, sobre o desempenho das escolas no ENEM-2012.
70
3- O ENEM COMO NORTEADOR DE AVALIAÇÃO
O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio surgiu em 1998, e sua finalidade era
avaliar o desempenho amostral de estudantes concluintes e egressos do Ensino Médio, sendo
considerado uma política avaliativa sob a responsabilidade do INEP – Instituto Nacional de
71
Estudos e Pesquisas Educacionais. Era a chamada possibilidade de auto avaliação do aluno
concluinte ou egresso do Ensino Médio. Implicitamente, estava a condição de que, levando-se
em consideração os resultados, poderiam ser criadas políticas públicas para a melhoria do
Ensino Médio.
A Portaria MEC nº 438, de 28 de maio de 1998, instituiu o Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM. Criado durante a gestão do Ministro da Educação, Senhor Paulo Renato
Souza, no Governo Fernando Henrique Cardoso. O ENEM, tem por princípio avaliar o
aprendizado dos alunos do Ensino Médio em todo o país. O objetivo principal, anunciado
nesta Portaria, é o de proporcionar uma avaliação de desempenho dos alunos, ao término de
sua escolaridade básica, obedecendo a uma estrutura de competências associadas aos
conteúdos disciplinares, apreendidos na escola pelos estudantes (BRASIL, 1998). No art. 1º
da portaria, são expostos os objetivos do exame do desempenho do aluno:
A LDB 9394/96, artigo 9º, VI, determina, ainda, que a União organize o processo de
avaliação do rendimento escolar no âmbito nacional, incluindo todos os níveis de ensino,
buscando definir prioridades e melhoria da qualidade do ensino. Quais intenções, portanto, há
por detrás dessa avaliação em relação ao ENEM? Gostaríamos de chamar a atenção para o art.
6º da portaria 438/98, que trata dos resultados do exame e o acesso da sociedade a esses
dados, resguardando o sigilo individual:
72
O INEP, resguardado o sigilo individual, estruturará um banco de dados e emitirá
relatórios com os resultados do ENEM, que estarão disponíveis para as instituições de
ensino superior, para as secretarias estaduais de educação e para os pesquisadores,
visando ao aprofundamento e à ampliação de análises de interesse da sociedade
(BRASIL, 1998).
73
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), destinado aos alunos em fase de
concluir ou que já tenham concluído o Ensino Médio, trata-se de um importante instrumento
de avaliação, pois seus dados a partir da segunda versão em 2009, são utilizados com as
seguintes finalidades: acesso ao ensino superior nas Universidades públicas, financiamento
(Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior- FIES) para estudos em
Universidades particulares , critério de concessão de bolsas de estudos em Universidades
privadas (Programa Universidade para Todos-PROUNI) e certificação de conclusão do EM.
Para efeitos de certificação do Ensino Médio, a participação somente é permitida àqueles que
tenham, no mínimo 18 anos de idade, completos até a data de realização da primeira prova
(BRASIL, 2009). Acreditamos, que essas finalidades mostram a abrangência do exame e
conduz uma reflexão sobre sua função dentro da política de reforma do EM.
A partir de 2009, a prova e a estrutura do ENEM passaram por modificações. No bojo
das mudanças, o Ministro da Educação, Senhor Fernando Haddad, juntamente com o INEP,
apresentaram propostas de unificar o vestibular das universidades federais utilizando um novo
modelo de prova para o ENEM. Desde 2009, portanto, a nota do ENEM pode ser utilizada
como acesso ao Ensino Superior em universidades brasileiras que aderiram ao ENEM, como
forma única ou parcial de seleção. A nota do Exame também pode ser utilizada para fins de
pontuação no Programa Universidade para Todos (PROUNI). Outras mudanças que merecem
destaque acerca da nova formatação do ENEM, efetuadas a partir de 2009, dizem respeito aos
seguintes aspectos: objetivos da aplicação do exame, características das provas e organização
curricular. Para uma coerente análise destes elementos, efetuamos estudo comparativo da
Portaria MEC nº 438 e da Portaria MEC nº 109, produzidas, respectivamente, nos anos de
1998 e 2009, o qual passamos a discorrer.
Conforme anunciado pelo Ministro de Educação, Senhor Fernando Haddad, o exame,
apesar de permanecer com sua característica fundamental de avaliar competências e
habilidades adquiridas ao longo da escolaridade básica, a partir de 2009 passa a ser um
processo nacional de seleção para o ingresso no ensino superior (BRASIL, 2009). Com
relação aos objetivos, até 2009 estes estavam voltados ao propósito de: avaliar o desempenho
do aluno ao término da escolaridade básica, a fim de aferir o desenvolvimento de
competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania; servir de instrumento para o
estudante efetivar a sua auto avaliação tendo em vista às suas escolhas futuras, tanto em
relação ao mercado de trabalho quanto em relação à continuidade de estudos. Na Portaria
MEC nº 438/1998,
74
ainda é citado que o governo utiliza o ENEM, para estruturar a
avaliação da educação básica, servindo de modalidade alternativa
ou complementar aos processos de seleção nos diferentes setores
do mundo do trabalho e aos exames de acesso aos cursos
profissionalizantes pós-médios e ao ensino superior (BRASIL,
1998).
75
Quadro 1 - Comparação entre os objetivos do ENEM nas portarias nº 438/98 e nº
109/2009
I – Conferir ao cidadão parâmetro para auto I - Oferecer uma referência para que cada cidadão
avaliação, com vistas à continuidade de sua possa proceder à sua auto avaliação com vistas às
formação e à sua inserção no mercado de trabalho. suas escolhas futuras, tanto em relação ao mundo
do trabalho quanto em relação à continuidade de
estudos.
II – Criar referência nacional para os egressos de II - Estruturar uma avaliação ao final da educação
qualquer modalidades do Ensino Médio. básica que sirva como modalidade alternativa ou
complementar aos processos de seleção nos
diferentes setores do mundo do trabalho.
III – Fornecer subsídios às diferentes modalidades III - Estruturar uma avaliação ao final da educação
de acesso à educação superior. básica que sirva como modalidade alternativa ou
complementar aos exames de acesso aos cursos
profissionalizantes, pós-médios e à Educação
Superior.
IV – Constituir-se em modalidade de acesso a IV - Possibilitar a participação e criar condições de
cursos profissionalizantes pós-médio. acesso a programas governamentais.
V - Promover a certificação de jovens e adultos no
nível de conclusão do Ensino Médio nos termos do
artigo 38, da Lei 9.394/96 - Lei das Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB).
VI - Promover avaliação do desempenho
acadêmico das escolas de Ensino médio, de forma
que cada unidade escolar receba o resultado
global;
VII – Promover avaliação do desempenho
acadêmico dos estudantes ingressantes nas
Instituições de Educação Superior;
Fonte: Portarias nº 438/ 98 e nº 109/ 2009
Até 2008, o ENEM apresentava uma prova com 63 questões interdisciplinares, e sem a
possibilidade de comparação das notas de um ano para outro. A nova proposta foi
reformular o ENEM, com o objetivo de aplicar quatro grupos de provas diferentes em cada
processo seletivo, além da redação. Assim, o novo exame é composto por perguntas objetivas
em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (incluindo
Redação); Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e
Matemáticas e suas Tecnologias. Cada grupo de testes, são aplicados em dois dias, composto
por 45 itens de múltipla escolha. O Novo ENEM, permaneceu um exame voluntário,
permissivo para os alunos concluintes do Ensino Médio e os egressos dos anos anteriores. A
novidade é que a prova serve, também, para certificação de conclusão do Ensino Médio, o que
torna o ENEM, uma oportunidade para cidadãos sem diploma nesse nível de ensino.
O ENEM, também, funciona como Seleção Unificada: o candidato a uma vaga no
ensino superior público poderá concorrer a cinco cursos ou instituições, mas apenas naquelas
universidades que adotarem o ENEM, como única forma de ingresso. As universidades
informam quantas vagas têm disponíveis para cada curso, e qual é o peso que cada uma das
grandes áreas do conhecimento terá na nota final do aluno. Outro ponto importante na
78
proposta apresentada, é que o Novo ENEM, é utilizado como instrumento de indução da
reestruturação dos currículos do Ensino Médio, ou seja, a nova prova trouxe a possibilidade
concreta do estabelecimento de uma relação positiva entre o Ensino Médio e o Ensino
Superior, por meio de um debate focado nas diretrizes da prova. A proposta do Ministério da
Educação é um chamamento às IFES, para que assumam o necessário papel, como entidades
autônomas, de protagonistas no processo de repensar o Ensino Médio, discutindo a relação
entre conteúdos exigidos para ingresso na educação superior e habilidades que seriam
fundamentais, tanto para o desempenho acadêmico futuro, quanto para a formação humana.
Após a discussão sobre o Novo ENEM, é relevante tecer comentários sobre a avaliação
em larga escala. Uma das finalidades dessa avaliação, é identificar a real situação dos
sistemas de ensino através da aprendizagem do aluno. Os dados produzidos a partir da
avaliação educacional servem para subsidiar ações em prol de melhorias na qualidade do
aprendizado e das oportunidades educacionais oferecidas à sociedade brasileira. A avaliação
gera medidas que permitem verificar como os sistemas de ensino efetivamente atingiram os
patamares aceitáveis de desempenho, refletindo o desenvolvimento cognitivo dos estudantes.
A avaliação é essencial para os governos, pois indica como os recursos públicos aplicados em
políticas educacionais estão propiciando uma escolarização de qualidade. Além de ser
importante para os governantes, é fundamental para a sociedade, pois, através da informação
sobre a qualidade do serviço público educacional ou particular ofertado, podem ser escolhidas
as melhores escolas.
Sendo assim, acreditamos, que a avaliação do sistema educacional pode ajudar, mas
não é a solução. Primeiramente, porque, no caso do ENEM, a avaliação não é obrigatória, e
sim facultativa; em segundo lugar, sem uma política pública que acompanhe os resultados,
modificando as deficiências encontradas, não poderemos obter a tão desejada melhora do
ensino. Ora, presumindo-se que esta avaliação possa gerar competição e qualidade, o Estado
assume a função de estimular a produção de ambas. E quais são as consequências? Se existe
competição, a educação deixa de ser um direito de todos, e passa a excluir aqueles que não
atingem um determinado índice. Assim, a educação passa à condição de mercadoria,
administrada pela lógica produtivista, e sob o pressuposto de padrões diferenciados de
qualidade de ensino. Desse modo podemos ressaltar que:
79
A sociedade é estruturada em classes e, portanto, de modo desigual; a
avaliação da aprendizagem, então, pode ser posta, sem a menor dificuldade, a
favor do processo de seletividade, desde que utilizada independentemente da
construção da própria aprendizagem. No caso, a avaliação está muito mais
articulada com a reprovação do que com a aprovação e daí vem a sua
contribuição para a seletividade social, que já existe independente dela. A
seletividade social já está posta: a avaliação colabora com a correnteza,
acrescentando mais um ―fio d‘água‖(LUCKESI, 2006, p.26)
Neste contexto, vale ressaltar que no ENEM, os alunos respondem questões que
não foram elaboradas especificamente para o grupo a que pertencem, e sim para uma
totalidade de alunos de realidades distintas, com grandes variações sócio econômico culturais.
Ao comparar um aluno da região de baixo índice social, de economia essencialmente
extrativista, com um aluno que pertence a um local de economia quase de primeiro mundo
não colabora para a efetivação de resultados. É necessário entender as características dos
sistemas educacionais em diferentes regiões, a natureza dos currículos, a formação e
experiência do corpo docente. Não se pretende aqui afirmar que a avaliação em larga escala
não seja importante e válida para a busca de melhorias educacionais, uma vez que se entende
que a avaliação educacional, não apenas disponibiliza informações a respeito da qualidade do
ensino, mas influencia fortemente na revisão e consolidação de propostas curriculares.
Segundo Gadotti (2010), a busca pelo progresso no país existe, e a avaliação em larga
escala é o primeiro passo. Vale destacar, que esta avaliação possui certas limitações que não
pode deixar de levar em consideração. Em relação à aprendizagem, por exemplo, não é
possível realizar uma avaliação conclusiva da situação de um aluno sem a observação e
acompanhamento de seus avanços. Normalmente há a imposição para a participação, ou seja,
os alunos e os professores são informados que passarão por processo avaliativo. Neste
sentido, ao longo de vários semestres, os alunos fazem avaliações internas e externas, sendo
que destas últimas não conhecem os resultados de seus desempenhos e das primeiras têm
apenas uma nota sem qualquer tipo de feedback que lhes possa servir de orientação.
Dessa forma, a avaliação, pode ser considerada como instrumento de uma cultura
gerencial, buscando efetivamente diagnosticar o cumprimento de currículos que atendam as
necessidades do sistema produtivo, e a eficiência dos sistemas de ensino, resultando em dados
que determinam o investimento e os cortes orçamentários. A categoria avaliação na LDB
9.394/96, portanto, aponta para a avaliação sistêmica do rendimento escolar, bem como dos
profissionais da educação. A avaliação se transforma, neste caso, em uma tecnologia de
80
controle e vigilância sobre a eficiência da escola e dos professores em preparar a força
produtiva do país.
Sendo assim, podemos dizer que o ENEM, pretende provocar transformações na
educação brasileira, não apenas através de políticas centrais, no nível dos sistemas de ensino,
mas incentivar discussões sobre a qualidade da educação no interior das próprias escolas,
entre educadores e alunos, repensando não só os currículos. A divulgação dos resultados do
ENEM (médias por escola), para a sociedade, associada a essa ideia de provocar discussões
sobre a educação dentro da própria escola, leva a conclusão de que é nessa divulgação que
reside o foco do exame, pois, ao ranquear escolas de EM, extrapola até mesmo os limites da
escola, levando toda a sociedade a questionar a qualidade dessa instituição.
1ª 1998 115.575
2ª 1999 316.100
3ª 2000 325.575
4ª 2001 1.200.883
5ª 2002 1.327.577
6ª 2003 1.319.379
81
7ª 2004 1.048.656
8ª 2005 2.199.214
9ª 2006 2.803.328
82
Quadro 5 - Número de inscritos e certificados por região
83
ocupando o 2º lugar. Os demais estados pertencem a outras regiões (Nordeste e Sul). De
acordo com Luckesi (2006), a seletividade social sob a aparente seletividade técnica favorece
o ingresso nas universidades públicas federais de alunos de maior poder aquisitivo e de
regiões mais ricas do país. Desse modo, os mesmos alunos que não têm suas chances ao
ingresso em certos cursos ou instituições superiores, são aqueles que, provavelmente, não
tiveram alterações nos currículos de suas escolas de Ensino Médio.
85
No quadro 8, podemos observar que os estados da região Norte apresentaram os
menores números de inscritos no ENEM de 2012. Enquanto, os estados da região sudeste
ocuparam as primeiras classificações, com exceção do Espírito Santo, que teve apenas
124.950 inscritos. Em relação à região Nordeste, verificamos que os estados apresentaram
discrepâncias; o estado da Bahia, registrou mais inscritos que o Rio de Janeiro, ocupando o 3º
lugar da lista. Os estados : Ceará e Pernambuco, também tiveram uma boa classificação (6º e
7º), lugar. No entanto, Alagoas e Sergipe, obtiveram resultados muito inferiores. Nos estados
das regiões Sul e Centro Oeste, ocorreram resultados similares, apenas o Distrito Federal, teve
uma classificação distante dos demais estados.
86
Na prova de Linguagens, que engloba Língua Portuguesa e Estrangeira (inglês ou
espanhol), Artes e Educação Física, a média dos alunos do último ano do Ensino Médio da
rede federal foi 545,08, em seguida, 544,52 da rede privada; 480,71 da rede estadual, que
concentra a maioria dos alunos; e 513,23 da rede municipal. Na prova de Matemática, a média
federal foi 625,24; a privada, 615,07; a estadual, 491,18; e a municipal, 546,73. Na prova de
Ciências Humanas, a média federal foi 590; a privada, 583,94; a estadual, 506,94; e a
municipal, 539,47. Na prova de Ciências da Natureza, a média federal foi 547,76; a privada,
541,28; a estadual, 457,94; e a municipal, 487,79. Na Redação, a média federal foi 613,07; a
privada, 602,16; a estadual, 491,41; e a municipal, 533,48. Em 2012, as escolas estaduais
novamente tiveram as menores médias nas quatro áreas do conhecimento e na redação, em
comparação às instituições particulares, municipais e federais. Assim, como as estaduais
tiveram o menor desempenho em todas as áreas, as federais ficaram à frente das demais redes
de ensino. Enquanto, as particulares superaram as estaduais e municipais.
Segundo o documento, Nota Explicativa- Proficiências dos participantes no ENEM
2012, por escola, os resultados do ENEM auxiliam os estudantes, pais, professores, dirigentes
das instituições e gestores educacionais nas reflexões sobre o aprendizado dos estudantes no
Ensino Médio e no estabelecimento de estratégias em favor da melhoria da qualidade da
educação. Os critérios para o cálculo das proficiências médias por escola, foram calculadas a
partir das médias dos participantes que realizaram o ENEM 2012, por unidade escolar, em
cada uma das quatro Provas Objetivas e da Redação. O INEP, manteve a decisão de divulgar
as médias, apenas para as escolas que obtiveram no mínimo 50% de seus estudantes
concluintes do Ensino Médio Regular participando de todas as provas do ENEM 2012. Além
de divulgar a média do colégio, a nova ferramenta do INEP, permite à direção da escola saber
como seus alunos se distribuíram por faixa de desempenho (menos de 300 pontos ou mais que
900 pontos, por exemplo) e por área de conhecimento. Desta forma, segundo o governo
federal, cada colégio conhecerá o número de alunos em situação adequada ou inadequada, o
que poderá orientar o ensino em sala de aula. Esta divulgação de todas as notas dos
participantes e escolas no ENEM 2012, serve de base para uma análise do contexto do Ensino
Médio brasileiro.
Os resultados do ENEM, são utilizados pelo INEP ,como ferramenta para avaliar a
qualidade geral do ensino. Para Luckesi (2006), a prática escolar hoje se realiza dentro de um
modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como mecanismo de conservação e
reprodução da sociedade. Ao analisar o ranking nacional, estadual (Rio de janeiro) e
87
municipal (Nilópolis), observamos a distância entre o nível do ensino público e particular.
Isso mostra o reflexo de uma educação excludente, pois as escolas estaduais apresentaram as
menores médias em relação às escolas privadas e federais. Primeiramente apresentamos o
ranking nacional, e verificamos que as melhores médias das escolas se concentram nas
regiões Sudeste e Nordeste. A maioria dos colégios estão ligados à instituições de ensino
superior ou são escolas privadas.
88
Quadro 10 - As escolas com as melhores notas no ENEM- 2012
Privada ou pública
Taxa de participação Nota
Posição UF Escola (federal, estadual,
dos alunos (em %) Geral
municipal)?
1º SP OBJETIVO COLÉGIO Privada 90,0 740,81
INTEGRADO*
2º MG COLEGIO BERNOULLI - Privada 92,9 722,15
UNIDADE LOURDES
3º MG COLEGIO ELITE VALE DO Privada 100,0 720,89
ACO
4º RJ COL DE SAO BENTO Privada 100,0 712,79
5º CE ARI DE SÁ CAVALCANTI* Privada 98,0 711,25
6º MG COL DE APLICACAO DA UFV Federal 98,1 706,22
– COLUNI
7º SP VERTICE COLEGIO Privada 93,8 705,56
UNIDADE II
8º PI INSTITUTO DOM BARRETO* Privada 96,3 700,90
9º MG COLEGIO SANTO Privada 100,0 695,88
AGOSTINHO UNIDADE
NOVA LIMA
10º BA COLEGIO HELYOS Privada 96,9 695,55
11º MG COLEGIO MAGNUM Privada 99,5 694,67
AGOSTINIANO - NOVA
FLORESTA
12º PE COLEGIO DE APLICACAO Federal 100,0 692,42
DO CE DA UFPE
13º SP COLEGIO ANGLO Privada 100,0 692,07
LEONARDO DA VINCI
14º RJ COLEGIO SANTO Privada 95,8 691,24
AGOSTINHO – NL
15º RJ COLEGIO SANTO Privada 99,5 690,05
AGOSTINHO
16º RJ COLEGIO CRUZEIRO- Privada 100,0 689,80
CENTRO
17º GO COLEGIO WR Privada 97,0 689,43
18º RJ COLEGIO IPIRANGA Privada 94,3 686,87
19º SP MOBILE COLEGIO Privada 82,8 685,50
20º MG COLEGIO SANTA Privada 94,5 684,76
MARCELINA
21º SP ANGLO - LEONARDO DA Privada 91,3 682,99
VINCI COLEGIO
89
22º PI CEV COLEGIO UNIDADE Privada 94,3 681,94
JOCKEY
23º SP SANTA CRUZ COLEGIO Privada 55,8 681,47
24º RJ COLEGIO CRUZEIRO – Privada 96,0 681,25
JACAREPAGUA
25º SP BANDEIRANTES COLEGIO Privada 86,3 680,91
EFM
26º RS COLEGIO POLITECNICO DA Federal 100,0 680,62
UNIV FED DE STA MARIA
27º SP ETAPA COLEGIO Privada 98,1 679,60
28º DF COLÉGIO OLIMPO Privada 88,3 679,55
BRASÍLIA*
29º RJ COL ANDREWS Privada 97,6 678,54
30º MG COLEGIO SANTA CATARINA Privada 97,8 677,79
2
Matéria atualizada às 18h do dia 27/11/2013, para incluir duas escolas cujas notas não haviam sido publicadas pelo INEP.
OBS:O ranking foi ordenado de acordo com as médias da escolas. O cálculo da média foi feito somando as notas das quatro provas objetivas
e dividindo por quatro. A nota da redação não entra na soma, pois a correção não é feita com a TRI. São divulgadas apenas as notas de
escolas com mais de dez alunos e com mais de 50% de participação. Os dados foram fornecidos pelo MEC/Inep
90
O Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, conquistou novamente o primeiro lugar.
Foi criado em 2009, localizado na Avenida Paulista. Suas médias foram as maiores na lista
divulgada pelo MEC nas quatro provas: Ciências humanas (684,46), Ciências da natureza
(740,74), Linguagens , Códigos e suas Tecnologias (675,81) e Matemática (847,57). Os
alunos do Colégio Objetivo, participam de atividades extracurriculares como olimpíadas
acadêmicas que acabam usando o período da tarde para permanecer no colégio tirando
dúvidas e responder o conteúdo, ou seja, as aulas acontecem em período integral. Os
estudantes têm aulas das 7h10 às 18h durante a semana, com um intervalo para o almoço entre
as 13h e 14h.
O Estado de Minas Gerais liderou o segundo lugar com o Colégio Bernoulli
com média de 722,15 pontos nas provas objetivas do exame. Sendo o 7º ano consecutivo,
no ranking do ENEM dentre as 10 melhores escolas do Brasil e como a melhor escola de
Belo Horizonte, alcançando pela segunda vez o 2º lugar nacional. O Colégio Bernoulli surgiu
em 2000, com a criação do Pré-vestibular Elite, tendo o objetivo de prestar serviços
educacionais de qualidade aos seus alunos, capacitando-os a serem aprovados nos vestibulares
mais concorridos do país, como os da UFMG, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
do Instituto Militar de Engenharia (IME) e da UNICAMP , entre outros. O terceiro lugar ficou
para o Colégio Elite Vale do Aço, que fica localizado em Ipatinga (MG). De acordo com o
site da própria instituição, uma das estratégias pedagógicas utilizadas são os simulados
frequentes e os plantões semanais que são ministrados pelos professores para sanar as
dúvidas dos alunos. Vale destacar que o estado de Minas Gerais apresentou sete escolas com
bom desempenho.
Na sequência, chegou o Estado do Rio de Janeiro com o Colégio de São Bento, em
quarto lugar. Esta instituição tem 155 anos, exclusiva para homens, localizada no bairro de
classe média. Começou suas atividades em 1858, sendo dirigida até os dias de hoje por
monges beneditinos. De acordo com os dados divulgados pelo MEC, a instituição teve 100%
de participação dos alunos, com as respectivas médias: Ciências humanas (704,48), Ciências
da natureza (686,91), Linguagens , Códigos e suas Tecnologias (635,31) e Matemática
(824,47). Conseguindo uma média geral de (712,79), e na redação ficou com a maior nota
(810,53), entre as escolas avaliadas em âmbito nacional. Em seguida, o estado do Ceará,
ocupando o quinto lugar com o Colégio Ari de Sá Cavalcanti com 98,0 de participação. Sendo
assim, observamos que o percentual de participação não é o fator preponderante para obter a
boa classificação, pois, a escola que ocupou o primeiro lugar teve (90,0), enquanto as
91
instituições que ficaram em 3º e 4º posições alcançaram (100) de participantes. Desse modo,
constatamos que não é a quantidade de participantes que faz a diferença, mas os acertos por
áreas do conhecimento. Contudo, percebemos que os estados da região Nordeste aos poucos
estão ocupando uma boa classificação. No quadro acima, temos duas escolas do estado do
Piauí que alcançaram o oitavo e o vigésimo segundo lugar. Bahia, o décimo e o estado de
Pernambuco a décima segunda posição. Quanto aos estados das regiões Sul , Centro- Oeste e
Norte temos apenas um estado de cada região.
Durante muito tempo foi um privilégio para poucos concluírem a Educação Básica.
Com o decorrer dos anos o Ensino Médio, passou a ser legalmente um direito de todos os
cidadãos, a partir das políticas de reforma do ensino e da LDB 9.394/96. Desse modo, a
universalização do EM, como etapa final da educação brasileira, foi oferecida em todas as
instituições públicas, preferencialmente nas redes estaduais, federais e privadas. Na figura
abaixo podemos observar que o número de escolas estaduais é superior as demais. No entanto,
na classificação entre as melhores escolas no ENEM de 2012, com já verificamos, estão
ausentes. De acordo com Silva (2004), a democratização do ensino, ainda que falsa, trouxe
no seu bojo outra clientela para a escola, ou seja, a maior parte da classe menos favorecida
estuda nas instituições estaduais e municipais.
5.102 Privadas
43%
6.658 Estaduais
55%
214 Federais
26 Municipais
2%
0%
Figura 4: Escolas avaliadas pelo INEP
Fonte: MEC/ INEP
Com base na figura acima, constatamos que temos menos escolas federais, porém
são as que se destacam entre as instituições privadas. Em relação às escolas estaduais e
municipais, percebemos uma discrepância nos resultados divulgados pelo INEP. Superar a
92
exclusão é um fardo pesado demais para um aluno do Ensino Médio que, na realidade, sai
desta etapa de ensino com uma bagagem muito inferior a que se poderia esperar, pois não é a
quantidade de instituições que está sendo avaliada, ou seja, é a qualidade do ensino. Segundo
Silva (2004), o que se passa hoje, não é apenas o resgate de uma injustiça de séculos
anteriores, mas também o aflorar de um respeito por uma realidade, por múltiplas realidades,
linguísticas e, portanto culturais.
93
16º 69º COLEGIO PH* Privada 94,48 657,71
No estado do Rio de Janeiro, das vinte cinco escolas que obtiveram as melhores
médias, vinte quatro são particulares , e uma é federal. Em primeiro lugar, ficou o Colégio de
São Bento, que ocupou o 4º no ranking nacional. Subiu sete colocações em relação à edição
de 2011. Em seguida, o Colégio Santo Agostinho-Novo Leblon, com média 691,24. A única
escola pública na lista entre as 25 melhores escolas no ENEM- 2012, foi o Colégio de
Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ficou na 13º posição, com a média
662,64.
Neste contexto, vale destacar que as médias divulgadas pelo INEP, é o reflexo da
qualidade do ensino de cada escola. A avaliação do ENEM, rompe com o antigo modelo de
avaliação alimentado pela pedagogia tradicional em que o modelo vestibular engessava todo o
sistema de educação básica. Enfim, temos uma nova avaliação, porém a exclusão permanece.
Ao observar o ranking das melhores escolas do Rio de Janeiro, verificamos que todas estão
concentradas em bairros nobres da cidade do RJ, ou seja, o poder socioeconômico
prevalecendo desde a Primeira República, como já vimos no Capítulo I. Nesta época, tinham
acesso ao Ensino Secundário, apenas os filhos das classes dominantes. E hoje, estamos no
século XXI, com uma estrutura educacional similar ao do século XX.
94
Quadro 12- Escolas de Nilópolis que participaram do ENEM
96
3.5-ENEM: competências e habilidades
I-Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e
científica.
II. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos
naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.
98
conclusão do Ensino Médio pudessem ter uma referência de sua formação, tanto para
ingressar no mundo do trabalho, quanto para dar continuidade aos seus estudos.
Competências Características
Competência de área 2 - Conhecer e usar A partir da edição do ENEM, de 2010, duas línguas
língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como estrangeiras foram exigidas: inglês e espanhol, cada uma
instrumento de acesso a informações e a com cinco questões, cabendo ao aluno escolher apenas um
outras culturas e grupos sociais. idioma. A prova não explora descrição gramatical.
Enfatiza a compreensão de pequenos textos, o que requer o
domínio de determinadas estratégias de leituras, como
inferir o sentido de um vocábulo pelo contexto da frase.
Competência de área 4 - Compreender a arte Para avaliar essa competência, o ENEM, aborda a arte em
como saber cultural e estético gerador de diferentes manifestações: artes plásticas, danças, textos
significação e integrador da organização do teatrais, música etc.
mundo e da própria identidade.
Competência de área 5 - Analisar, interpretar Esta competência, ao contrário da anterior, analisa um tipo
e aplicar recursos expressivos das específico de manifestação artística: o texto literário.
linguagens, relacionando textos com seus Citam-se autores representantes
contextos, mediante a natureza, função,
nas poesias (Cecília Meireles, Verissimo), clássicos; (
organização, estrutura das manifestações, de
Camões, Drummond, Lima Barreto), e contemporâneos
acordo com as condições de produção e
(Sonia Queiroz, Cacaso).
recepção.
Competência de área 6 - Compreender e usar O destaque nesta competência é a habilidade que relaciona
os sistemas simbólicos das diferentes estratégias de coesão textual a diferentes gêneros textuais e
linguagens como meios de organização tipos textuais: identificar
cognitiva da realidade pela constituição de
os elementos que concorrem para a progressão temática e
significados, expressão, comunicação e
para a organização e estruturação de textos de diferentes
informação.
gêneros e tipos (H18).
99
Competência de área 7 - Confrontar opiniões Uma das habilidades centrais englobadas pela sétima
e pontos de vista sobre as diferentes competência é inferir em um texto quais são os objetivos
linguagens e suas manifestações específicas. de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos
procedimentos argumentativos utilizados (H23).
Para Luckesi (2006), a importância da avaliação por competência não é priorizar uma
nota, e sim proporcionar informações necessárias sobre o processo de ensino aprendizagem
para que o aprendiz possa avançar seus conhecimentos. A problemática do Ensino Médio está
baseada na tentativa de superação entre cultura geral e conhecimentos técnico-
profissionalizantes, ou melhor, avançar para além da dualidade entre o aspecto propedêutico e
a dimensão profissionalizante. Em síntese, as práticas curriculares do Ensino Médio se
debatem com a reprodução de uma pedagogia tradicional, em que a memorização de
conteúdos e o modelo de escola assume a função de integrar a formação do jovem tendo
como referência o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura.
Desse modo, ao buscar coerência com a perspectiva interdisciplinar, o novo modelo do
Exame é estruturado a partir de quatro eixos, assim distribuídos: trabalho, entendido como
meio de produção de sua existência; ciência entendida como parte do conhecimento
sintetizado na forma de conceitos apreendidos para compreensão da realidade; tecnologia,
entendida como a transformação do conhecimento cientifico em produção real; cultura,
entendida como o processo de transformação dos valores éticos e estéticos de uma sociedade,
através de símbolos representativos a arte de maneira geral. Estes eixos foram definidos como
modalidades estruturais da inteligência, ações e operações para estabelecer relações entre objetos,
situações, fenômenos e pessoas. Estes eixos, articulados no seu conjunto, estão presentes nas
áreas de conhecimento que estruturam a prova a partir de 2009.
100
Verificamos através dos dados divulgados pelo INEP/ MEC, que a grande parte das
instituições privadas que buscam adaptação dos seus currículos à prova do ENEM, propõem
horário integral, ou disponibilizam professores em horários diferentes para tirar dúvidas dos
alunos, ocupam as melhores posições no ranking das escolas em nível nacional, estadual
(RJ) e municipal (Nilópolis). Neste sentido, percebemos que a classe dominadora prevalece,
pois, a maioria dessas escolas estão localizadas em bairros de classe média e recebem alunos
desse meio social. De um modo geral, observamos que no exame do ENEM de 2012, as
instituições federais (escolas técnicas federais e os colégios militares) e particulares tiveram
médias maiores que a rede estadual. Em relação, às questões do ENEM, a proposta é
trabalhar com os conteúdos clássicos interligados as competências e habilidades, ambas
vinculadas as necessidades reais do educando.
101
4- ANÁLISE DA PROVA DE LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
102
4.1– Concepção de leitura: autor-texto-leitor
103
pressupostos e inferências. A leitura é uma atividade que solicita de forma intensificada a
participação do leitor, que aplica ao texto seus conhecimentos armazenados na memória.
Sendo assim, a perspectiva interacionista é concebida como integrante da tríade
comunicativa- autor, texto e leitor contribuindo para a formação de leitores proficientes.
Segundo Kleiman (2004), o processo interativo corresponde ao uso de dois tipos de
estratégias, de acordo com as exigências da tarefa e as necessidades do leitor : aquelas que
vão do conhecimento de mundo para o nível de decodificação da palavra, envolvendo um tipo
de processamento que pode ser denominado TOP-DOWN ou descendente, em conjunto com
estratégias de processamento BOTTOM-UP ou ascendente que faz uso linear e indutivo das
informações visuais. A sua abordagem é composicional, constrói o significado com base na
análise e síntese do significado das partes. Para Moita Lopes (1996), o processamento
ascendente também é identificado com teorias de decodificação de leitura. O leitor só utiliza
os dados apresentados no texto, na tarefa de compreender o texto escrito. A informação flui,
então do texto para o leitor. Já no processo descendente, o foco é colocado na contribuição do
leitor, a informação flui do leitor para o texto. Pode-se concluir que o ato de ler envolve tanto
a informação impressa na página quanto a informação que o leitor traz para o texto ou seja,
seu pré-conhecimento.
A compreensão de textos, para Kleiman (2004), envolve processos cognitivos múltiplos,
justificando assim o nome de faculdade, que era dado ao conjunto de processos, atividades,
recursos e estratégias mentais próprios do ato de compreender. Isto equivale a dizer que o
leitor usa desses processos, que, nesse caso, são inconscientes, para atingir seu objetivo na
leitura. Ao tomar contato com o texto, o processamento da leitura está relacionado ao
conhecimento das regras gramaticais (explícitas ou implícitas), de vocabulários (conhecidos e
desconhecidos), da estrutura do texto e da tipologia textual. Para construir um contexto de
leitura interativa, é necessário que o leitor conheça a natureza da tarefa e deve estar consciente
de sua importância e relevância, pois ao ler um texto, é possível colocar em ação todo o
sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que o leitor está
inserido. Trata-se de uma leitura como uma atividade de produção de sentido em que o leitor
não extrai informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Podemos afirmar
que é uma tarefa que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem
as quais não será possível uma leitura proficiente. Estes procedimentos possibilitarão
direcionar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de
compreensão, avançar na busca de esclarecimentos e validar no texto suposições feitas. Para
104
Koch e Elias (2010), essa concepção de leitura, põe em foco o leitor e seus conhecimentos
em interação com o autor e o texto na construção de sentido estabelecendo relações entre os
conhecimentos anteriormente constituídos e as novas informações contidas no texto, ou seja,
o leitor faz inferências, comparações, formulando perguntas relacionadas com o seu contexto.
Neste caso, consideramos a leitura como um processo de interlocução entre leitor/autor
mediado pelo texto.
Os aspectos gramaticais não perderam o seu espaço no ensino de língua. Pelo contrário,
os fenômenos gramaticais estão presentes como objetos de observação, descrição e
categorização e são essenciais para o estudo do discurso. A partir dos ensinamentos da
linguística aplicada, a aprendizagem da gramática concentrou-se no texto como unidade de
trabalho. O termo análise linguística surgiu para denominar uma nova perspectiva de reflexão
sobre a língua e seus usos, com vistas ao tratamento dos fenômenos gramaticais ,textuais e
discursivos, como nos lembra Santos (2012). Entender como se articulam as diversas frases
de um texto ou como se dá a coesão de um período ganhou importância na análise linguística
praticada atualmente. Sendo assim, algumas minúcias da gramática normativa tornaram-se,
muitas vezes, dispensáveis. Neste sentido,
Fica evidente, que não cabe ao falante rejeitar as regras normatizadas, o que seria um
absurdo, pois estas regras constituem um elemento importante da cultura nacional e seu
domínio é reconhecido como fator de prestígio social. O que Citelli e Geraldi (2011),
chamam de análise linguística, Travaglia (2005), denomina de reflexão linguística, que leva o
falante a entender como a língua funciona e consequentemente, considerando a competência
comunicativa e a interação a partir da linguagem. Portanto,
aprender a língua, seja de forma natural no convívio social, seja de
forma sistemática em uma sala de aula, implica sempre na reflexão
sobre a linguagem, formulação de hipóteses e verificação do acerto
ou não dessas hipóteses sobre a constituição e funcionamento da
língua (TRAVAGLIA, 2005, p.21).
107
Na visão de Azeredo (2007), a gramática contribui para os falantes aprenderem uma
outra variedade da Língua Portuguesa (norma culta), que lhe dará oportunidade de aquisição
de uma maior competência comunicativa e, consequentemente, um melhor desempenho nas
relações sociais. Desse modo, a gramática da língua é um sistema baseado no conjunto de
normas e conceitos que possibilitam uma reflexão sobre a própria língua(gem) e seu
funcionamento. A gramática por razões de natureza histórica e social reflete um modelo de
língua com forte grau de legitimidade, elaborado a partir de uma perspectiva excludente. O
mais interessante é que, como bem aponta Santos (2012), existem os que ainda sustentam o
ensino da língua centrado na gramática devido à preocupação com o sucesso em concursos e
bom desempenho social e profissional e como instrumento de ascensão social e segurança.
Contudo, sabemos que a língua, por si só, não envolve apenas a questão de certo e errado, mas
é um ato humano, social, político, histórico, ideológico, que tem repercussão na vida de todas
as pessoas.
A análise linguística diferencia-se, em diversos aspectos, do ensino de gramática,
conforme mostra o quadro a seguir:
Concepção de língua como sistema, estrutura Concepção de língua como ação interlocutiva
inflexível e invariável. situada, sujeita às interferências dos falantes.
Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de Integração entre os eixos de ensino; a análise
gramática não se relacionam necessariamente com linguística é ferramenta para a leitura e a produção
as de leitura e de produção textual. de textos.
Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de Ênfase nos usos como objetos de ensino
ensino, abordando isoladamente e em sequência (habilidades de leitura e escrita), que remetem
mais ou menos fixa. vários outros objetos de ensino (estruturais,
textuais, discursivos, normativos), apresentados e
retomados sempre que necessário.
108
Verificamos que a análise linguística está associada à leitura e a produção de texto com
ênfase nos efeitos de sentidos associados aos gêneros textuais. Segundo Travaglia (2005), a
análise linguística se identifica com a proposta de gramática reflexiva, que inclui as questões
tradicionais de gramática e ao mesmo tempo enfatiza as questões mais amplas sobre os
textos. Em relação ao ensino de gramática, Kleiman (2004), destaca que o leitor proficiente
usa eficientemente o conhecimento de gramática que ele tem internalizado, fazendo predições
constantes sobre as ocorrências possíveis. Nesse caso, ensino de gramática tem sido
primordialmente prescritivo, apegando-se a regras de gramática normativa que são
estabelecidas de acordo com a tradição literária clássica (TRAVAGLIA, 2005, p. 28).
3
Entenda a Teoria de Resposta ao Item (TRI) utilizada no ENEM. Disponível em: <http: //
download.básico/enem/ nota técnica tri.pdf>. Acesso em 20 de abril de 2014
109
Conforme explicamos no início do capítulo, apresentamos nos quadros abaixo os
principais dados acerca da configuração da prova que analisamos.
Caderno -2
Cor da prova analisada Cinza – 2º dia
Total de questões 90
110
Quadro 19- Síntese dos dados sobre os textos
Quantidade 1 1 1 1
de textos
vinculados a
questão
111
Texto 100 Texto 101 Texto 102 Texto 103
Temas Técnica para vender A relação dos seres Cumprir Cultura brasileira
humanos com os prazos para a
animais entrega de
livros na
biblioteca
Quantidade 1 1 1 1
de textos
vinculados a
questão.
112
Texto 104 Texto 105 Texto 106 Texto 107
SANZIO, R. (1483-
1520) A mulher com
o unicórnio.
Roma, Galeria
Borghese
Quantidade de 2 1 1 1
textos
vinculados a
questão.
113
Texto 108 Texto 109 Texto 110 Texto 111
Quantidade de 1 2 1 1
textos vinculados
a questão.
114
Texto 112 Texto 113 Texto 114 Texto 115
Quantidade de 1 1 2 1
textos vinculados
a questão
115
Texto 116 Texto 117 Texto 118 Texto 119
Quantidade de 1 1 1 1
textos vinculados a
questão
116
Texto 120 Texto 121 Texto 122 Texto 123
Quantidade de 1 1 1 1
textos vinculados a
questão
117
Texto 124 Texto 125 Texto 126 Texto 127
Quantidade de 1 1 1 1
textos vinculados a
questão
118
Texto 128 Texto 129 Texto 130 Texto 131
Quantidade 1 1 1 1
de textos
vinculados a
questão
119
Texto 132 Texto 133 Texto 134 Texto 135
Quantidade 1 1 1 1
de textos
vinculados
a questão
Fonte: adaptação dos dados divulgados pelo INEP- 2012/ Matriz de Referência de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias
Observamos que a maior parte dos textos que não apresentam título, são adaptados,
fragmentos ou retirados de sites. De um modo geral, os textos completos são acompanhados
por um título. Vale lembrar que alguns leitores começam a ler um texto exatamente por
influência do título. A diversidade dos temas abordados na prova, tem sido vistos como um
avanço frente ao enciclopedismo ou literarismo de outrora (AZEREDO, 2007, p.34). A maior
parte dos assuntos são pertinentes à saúde, cultura brasileira, estilo de vida do homem, vida
conjugal, o uso de palavras inglesas, norma culta/ coloquial, revolução da arte, rede social, a
120
questão da identidade nacional, sustentabilidade e alcoolismo. Desse modo, alguns textos
apresentam assuntos do cotidiano e todas as questões são baseadas em textos ou figuras.
As questões de literatura concentram-se na leitura obrigatória indicada pelos processos
seletivos, que se dividem principalmente entre os principais movimentos da Literatura
Brasileira e Literatura Portuguesa. Neste Exame de 2012, podemos destacar Lima Barreto, no
período do Pré-Modernismo, que fez uma arte panfletária, denunciadora, crítica, com
acentuado foco nos subúrbios cariocas, traduzindo as angústias e humilhações sofridas pela
gente humilde e mestiça. Mário de Andrade, da Primeira Geração Modernista que recebeu
também o nome de fase heroica ou de destruição. Os autores dessa fase promoveram a
liberdade da arte, rompendo com a sintaxe, valorizando a língua brasileira (o coloquialismo,
os erros comuns da fala cotidiana), estabelecendo a liberdade formal (versos livres, ausência
de rimas), trabalhando o sarcasmo, a ironia, e buscando no folclore as raízes da cultura local.
Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles marcaram a produção literária da Segunda
Geração Modernista, a poesia e a prosa, serviram de instrumentos de denúncia da realidade
brasileira. Em relação à Literatura Portuguesa, observamos na questão 104, um texto de
Camões, que faz referência a figura feminina.
Neste sentido, em um texto circulam, interagem e se integram várias informações
(explícitas ou implícitas). Segundo Azeredo (2007), todos nós temos a intuição do que seja
um texto, visto que toda interação social mediada pela linguagem verbal se faz por meio de
textos. Sendo assim, o texto é entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível
pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua. Para Travaglia (2005), o texto
pode ser considerado um produto concreto da atividade comunicativa que segue regras e
princípios discursivos. O sentido do texto tem a ver com a intenção comunicativa e, portanto
com a função dos elementos linguísticos.
121
Figura 5- Gêneros textuais presentes na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias no ENEM -2012
Fonte: Adaptação dos dados divulgados pela Matriz de Referência para o ENEM- 2009
No total foram quarenta e três textos, pois três questões apresentam dois textos
relacionados a mesma questão. De um modo geral, verificamos uma charge, que faz
referência à rede social. Duas histórias em quadrinhos, uma aborda a estratégia argumentativa,
e a outra o significado da expressão destacada no enunciado. Dez poesias com assuntos
diversificados, três propagandas com as seguintes abordagens: texto publicitário- assinatura
de revistas, cartaz- cumprir prazos para a entrega de livros na biblioteca e a última sobre a
sustentabilidade. Observamos também, quatro textos não verbais, ou seja, a interpretação das
questões estão baseadas nas figuras. Além desses textos, contamos com sete dissertativos,
cinco informativos e dez narrativos. Em relação aos gêneros textuais presentes nos textos,
verificamos que tiveram como base as necessidades de comunicação e as modificações
sociais.
122
Figura 6- Referências dos textos da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias no ENEM-2012
Fonte: Adaptação dos dados divulgados pela Matriz de Referência para o ENEM- 2009
Com base na figura acima, notamos que 60% dos textos apresentam referências
bibliográficas autênticas, ou seja, são vinte cinco textos completos. Sendo, 21% fragmentos
de textos e 19% de textos adaptados. Cabe ressaltar que todos os textos apresentam
referências bibliográficas e ao lado de cada referência está escrito entre parênteses fragmento
ou adaptação.
123
QUESTÃO 96
Efeitos do exercício físico
A partir dos efeitos fisiológicos do exercício físico no organismo, apresentados na figura, são adaptações
benéficas à saúde de um indivíduo:
124
QUESTÃO 97
Com o advento da internet, as versões de revistas e livros também se adaptaram às novas tecnologias. A análise
do texto publicitário apresentado revela que o surgimento das novas tecnologias
125
QUESTÃO 98
―Ele era o inimigo do rei‖, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, ―um romancista que colecionava
desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil‖. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido
autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira
com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro,
advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse
personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada.
História Viva, n. 99, 2011.
Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se
que
A) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances.
B) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática
atemporal.
C) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do
Brasil Imperial.
D) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e
da identidade nacional.
E) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista.
126
QUESTÃO 99
eu gostava muito de passeá... saí com as minhas colegas... brincá na porta di casa di vôlei... andá de
patins... bicicleta... quando eu levava um tombo ou outro... eu era a::... a palhaça da turma... (risos)... eu acho
que foi uma das fases mais... assim... gostosas da minha vida foi... essa fase de quinze... dos meus treze aos
dezessete anos...
Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de A.P.S. como modalidade falada da
língua é
Vários recursos estruturais da língua podem ser empregados num texto para caracterizar
sua linguagem como reprodução da modalidade falada. No relato pessoal de A.P.S., a
informalidade é marcada em expressões de sentido coloquial, (como ―a palhaça‖ ou ―fases
mais gostosas‖) e nas reticências, que, na transcrição de textos falados, indicam as pausas
organizadoras do discurso oral, que entrecortam o fluxo contínuo da fala. Segundo Bagno
(2011), a relação entre língua falada e língua escrita precisa ser profundamente reexaminada
no ensino. Durante mais de dois mil anos, os estudos gramaticais se dedicaram
exclusivamente à língua escrita literária, pois é totalmente artificial, exige treinamento,
memorização, exercício, e obedece regras fixas, de tendência conservadora. Somente no
começo do século XX, com o nascimento da ciência linguística, que a língua falada passou a
ser considerada como o verdadeiro objeto de estudo científico. Afinal, a língua falada é a
língua aprendida pelo falante em seu convívio com a família e com a comunidade, logo nos
primeiros anos de vida, ou seja, é o instrumento básico de sobrevivência.
127
QUESTÃO 100
Que estratégia argumentativa leva o personagem do terceiro quadrinho a persuadir sua interlocutora?
128
Questão 101
Todas as características tidas como exclusivas dos humanos são compartilhadas por outros animais,
ainda que em menor grau.
INTELIGÊNCIA
A ideia de que somos os únicos animais racionais tem sido destruída desde os anos 40. A maioria das aves
e mamíferos tem algum tipo de raciocínio.
AMOR
O amor, tido como o mais elevado dos sentimentos, é parecido em várias espécies, como os corvos, que
também criam laços duradouros, se preocupam com o ente querido e ficam de luto depois de sua morte.
CONSCIÊNCIA
Chimpanzés se reconhecem no espelho. Orangotangos observam e enganam humanos distraídos. Sinais de
que sabem quem são e se distinguem dos outros. Ou seja, são conscientes.
CULTURA
O primatologista Frans de Waal juntou vários exemplos de cetáceos e primatas que são capazes de
aprender novos hábitos e de transmiti-los para as gerações seguintes. O que é cultura se não isso?
O título do texto traz o ponto de vista do autor sobre a suposta supremacia dos humanos em relação
aos outros animais. As estratégias argumentativas utilizadas para sustentar esse ponto de vista são
A) definição e hierarquia.
B) exemplificação e comparação.
C) causa e consequência.
D) finalidade e meios.
E) autoridade e modelo.
129
QUESTÃO 102
Cartaz afixado nas bibliotecas centrais e setoriais da Universidade Federal de Goiás (UFG), 2011
130
QUESTÃO 103
[...]
Na letra da canção Aqui é o país do futebol, de Wilson Simonal, o futebol, como elemento da cultura corporal
de movimento e expressão da tradição nacional, é apresentado de forma crítica e emancipada devido ao fato
de
A letra da canção de Wilson Simonal aborda a alienação provocada pelo futebol. Isso
fica evidente em versos como: ―Esqueço a casa e o trabalho‖, ―Salário fica lá fora‖, ―A fome
fica lá fora‖, ―E tudo fica lá fora‖. Neste contexto observamos o uso da estratégia paralelismo,
que consiste na repetição sucessiva da mesma estrutura sintática, preenchida por elementos
lexicais diferentes. Koch e Elias ( 2012), ressaltam que esta estratégia é usada pelo produtor
do texto com o objetivo de convencer o leitor a concordar com os seus argumentos, ou seja, as
repetições ficam martelando na mente do leitor. O caráter crítico da letra da canção está na
alienação que o futebol promove, ou seja, nas tardes de domingo as pessoas ficam distraídas
com o espetáculo esportivo e deixam os problemas pessoais, econômicos, sociais e afetivos
de lado em busca da falsa felicidade que o futebol provoca.
131
QUESTÃO 104
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo
contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
A) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no
poema.
B) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas
pelos adjetivos do poema.
C) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
D) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado
pelos adjetivos usados no poema.
E) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela
expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
QUESTÃO 105
Das irmãs
os meus irmãos sujando-se
na lama
e eis-me aqui cercada
de alvura e enxovais
O poema de Sonia Queiroz apresenta uma voz lírica feminina que contrapõe o estilo de vida do homem ao
modelo reservado à mulher. Nessa contraposição, ela conclui que
A) a mulher deve conservar uma assepsia que a distingue de homens, que podem se jogar na lama.
B) a palavra ―fogo‖ é uma metáfora que remete ao ato de cozinhar, tarefa destinada às mulheres.
C) a luta pela igualdade entre os gêneros depende da ascensão financeira e social das mulheres.
D) a cama, como sua ―alvura e enxovais‖, é um símbolo da fragilidade feminina no espaço doméstico.
E) os papéis sociais destinados aos gêneros produzem efeitos e graus de autorrealização desiguais.
134
QUESTÃO 106
O sedutor médio
Vamos juntar
Nossas rendas e
expectativas de vida
querida,
o que me dizes?
Ter 2, 3 filhos
e ser meio felizes?
VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?! Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
A) nos três primeiros versos, em que ―juntar expectativas de vida‖ significa que, juntos, os cônjuges poderiam
viver mais, o que faz do casamento uma convenção benéfica.
B) na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da sociedade são ironizados, o que é acentuado
pelo uso do adjetivo “médio” no título e do advérbio “meio” no verso final.
C) no verso ―e ser meio felizes?‖, em que ―meio‖ é sinônimo de metade, ou seja, no casamento, apenas um dos
cônjuges se sentiria realizado.
D) nos dois primeiros versos, em que ―juntar rendas‖ indica que o sujeito poético passa por dificuldades
financeiras e almeja os rendimentos da mulher.
E) no título, em que o adjetivo ―médio‖ qualifica o sujeito poético como desinteressante ao sexo oposto e inábil
em termos de conquistas amorosas.
135
QUESTÃO 107
Nós, brasileiros, estamos acostumados a ver juras de amor, feitas diante de Deus, serem quebradas por traição,
interesses financeiros e sexuais. Casais se separam como inimigos, quando poderiam ser bons amigos, sem
traumas. Bastante interessante a reportagem sobre separação. Mas acho que os advogados consultados, por sua
competência, estão acostumados a tratar de grandes separações. Será que a maioria dos leitores da revista tem
obras de arte que precisam ser fotografadas antes da separação? Não seria mais útil dar conselhos mais básicos?
Não seria interessante mostrar que a separação amigável não interfere no modo de partilha dos bens? Que, seja
qual for o tipo de separação, ela não vai prejudicar o direito à pensão dos filhos? Que acordo amigável deve ser
assinado com atenção, pois é bastante complicado mudar suas cláusulas? Acho que essas são dicas que podem
interessar ao leitor médio.
O texto foi publicado em uma revista de grande circulação na seção de carta do leitor. Nele, um dos leitores
manifestasse acerca de uma reportagem publicada na edição anterior.
Nesta questão 107, verificamos que o texto é considerado elemento de interação, marcado
pela coesão entre seus elementos e pela sua coerência interna/externa. Observamos uma
relação de significado entre as frases. Sendo assim, cabe ressaltar, que o texto é qualquer
expressão de um conjunto linguístico num ato de comunicação, tematicamente orientado e
preenchendo uma função comunicativa reconhecível (SANTOS, 2012). Não temos dúvida de
que o texto acima, é um texto dissertativo argumentativo, pois a função preponderante é a
exposição de ideias ou pensamentos por meio de argumentos que o autor expõe. A temática
abordada no texto é sobre a separação dos casais. O autor propôs algumas perguntas no texto
para argumentar com o leitor o seu ponto de vista sobre o assunto em discussão. Quanto ao
enunciado percebemos uma síntese do contexto da carta do leitor. Em seguida, foi solicitado
na questão os objetivos da argumentação do autor. Sendo considerada como resposta correta a
letra d, que oferece dicas para orientar as pessoas em processos de separação.
136
QUESTÃO 108
Nem sempre é interessante mandar um e-mail na hora. Há situações em que agendar o envio de uma
mensagem é útil, como em datas comemorativas ou quando o e-mail serve para lembrar o destinatário de algum
evento futuro. O Thunderbird, o ótimo cliente de e-mail do grupo Mozilla, conta com uma extensão para esse
fim. Trata-se do SendLater. Depois de instalado, ele cria um item no menu de criação de mensagens que permite
marcar o dia e a hora exatos para o envio do e-mail. Só há um ponto negativo: para garantir que a mensagem
seja enviada na hora, o Thunderbird deverá estar em execução. Senão, ele mandará o e-mail somente na próxima
vez que for rodado.
Disponível em: http://info.abril.com.br. Acesso em: 18 fev. 2012 (adaptado).
Considerando-se a função do SendLater, o objetivo do autor do texto E-mail com hora programada é
137
QUESTÃO 109
TEXTO I
Antigamente
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes
de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem
tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda.
Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem
escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart
calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d‘água, se bem que no convescote apenas
lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que
carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete,
depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento).
TEXTO II
Palavras do arco da velha
FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado).
Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens
lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que
A) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano.
B) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu.
C) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal.
D) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente.
E) o léxico do português representa uma realidade linguística variável e diversificada.
Para entender o texto da questão 109, outros conhecimentos devem ser ativados no
processo de compreensão. Como por exemplo, o conhecimento linguístico que abrange o
conhecimento gramatical e lexical. Baseados nesse tipo de conhecimento, podemos
compreender: a organização do material linguístico na superfície textual; a seleção lexical
adequada ao tema ou aos modelos cognitivos ativados. O texto aborda assuntos pertinentes ao
uso de palavras obsoletas, que ao longo do tempo do tempo deixaram de fazer parte do
português brasileiro atual. Segundo Faraco (2005), as línguas estão em movimento, mas
nunca perdem seu caráter sistêmico e nunca deixam os falantes na mão. Em outras palavras,
as línguas mudam, mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessários para a circulação dos significados.
138
QUESTÃO 110
As palavras e as expressões são mediadoras dos sentidos produzidos nos textos. Na fala de Hagar, a
expressão ―é como se‖ ajuda a conduzir o conteúdo enunciado para o campo da
139
QUESTÃO 111
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e
voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como
quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências
verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma
informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E
pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse,
Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa
quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de
palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas
entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me
escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos
que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões ―voltou de ateu‖, ―disilimina esse‖ e ―eu não sei a
ler‖. Com essa reflexão, o autor destaca
140
QUESTÃO 112
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades.
Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber
o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das
coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação?
Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E
a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E,
quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa
gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção.
A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento
destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que
141
QUESTÃO 113
A marcha galopante das tecnologias teve por primeiro resultado multiplicar em enormes proporções
tanto a massa das notícias que circulam quanto as ocasiões de sermos solicitados por elas. Os profissionais têm
tendência a considerar esta inflação como automaticamente favorável ao público, pois dela tiram proveito e
tornam-se obcecados pela imagem liberal do grande mercado em que cada um, dotado de luzes por definição
iguais, pode fazer sua escolha em toda liberdade. Isso jamais foi realizado e tende a nunca ser. Na verdade, os
leitores, ouvintes, telespectadores, mesmo se se abandonam a sua bulimia*, não são realmente nutridos por
esta indigesta sopa de informações e sua busca finaliza em frustração. Cada vez mais frequentemente, até, eles
ressentem esse bombardeio de riquezas falsas como agressivo e se refugiam na resistência a toda ou qualquer
informação.
O verdadeiro problema das sociedades pós industriais não é a penúria**, mas a abundância. As
sociedades modernas têm a sua disposição muito mais do que necessitam em objetos, informações e contatos.
Ou, mais exatamente, disso resulta uma desarmonia entre uma oferta, não excessiva, mas incoerente, e uma
demanda que, confusamente, exige uma escolha muito mais rápida a absorver. Por isso os órgãos de
informação devem escolher, uma vez que o homem contemporâneo apressado, estressado, desorientado busca
uma linha diretriz, uma classificação mais clara, um condensado do que é realmente importante.
(*) fome excessiva, desejo descontrolado.
(**) miséria, pobreza.
Com o uso das novas tecnologias, os domínios midiáticos obtiveram um avanço maior e uma presença
mais atuante junto ao público, marcada ora pela quase simultaneidade das informações, ora pelo uso abundante
de imagens. A relação entre as necessidades da sociedade moderna e a oferta de informação, segundo o texto, é
desarmônica, porque
Observamos que o texto apresenta uma crítica ao homem contemporâneo, e faz uma
analogia entre as necessidades da sociedade moderna e a oferta de informação. O texto é
considerado dissertativo, pois verificamos uma linguagem culta e o autor defende o seu ponto
de vista de acordo com seus argumentos. Para obter a compreensão do texto é importante
considerar o contexto. Segundo Elias e Kock (2012), o contexto é um conjunto de
suposições baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a interpretação de texto.
Neste caso, o texto fundamenta sua argumentação na oposição entre a oferta de informação
potencializada pela marcha galopante das tecnologias e a demanda das sociedades por ela. A
desarmonia entre essas duas forças é descrita explicitamente no trecho ―resulta numa
desarmonia entre uma oferta, não excessiva, mas incoerente, e uma demanda que,
confusamente, exige uma escolha muito mais rápida a absorver‖. Em outros termos, as
informações não são compatíveis com as expectativas dos seus enunciatários, que dispõem de
escasso tempo para lidar com elas.
142
QUESTÃO 114
TEXTO I
A característica da oralidade radiofônica, então, seria aquela que propõe o diálogo com o ouvinte: a
simplicidade, no sentido da escolha lexical; a concisão e coerência, que se traduzem em um texto curto, em
linguagem coloquial e com organização direta; e o ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o mais natural
(do diálogo). É esta organização que vai ―reger‖ a veiculação da mensagem, seja ela interpretada ou de
improviso, com objetivo de dar melodia à transmissão oral, dar emoção, personalidade ao relato de fato.
VELHO, A. P. M. A linguagem do rádio multimídia. Disponível em: www.bocc.ubi.pt.
Acesso em: 27 fev. 2012.
TEXTO II
A dois passos do paraíso
Em relação ao Texto I, que analisa a linguagem do rádio, o Texto II apresenta, em uma letra de canção,
A) estilo simples e marcado pela interlocução com o receptor, típico da comunicação radiofônica.
B) lirismo na abordagem do problema, o que o afasta de uma possível situação real de comunicação
radiofônica.
C) marcação rítmica dos versos, o que evidencia o fato de o texto pertencer a uma modalidade de
comunicação diferente da radiofônica.
D) direcionamento do texto a um ouvinte específico, divergindo da finalidade de comunicação do rádio, que é
atingir as massas.
E) objetividade na linguagem caracterizada pela ocorrência rara de adjetivos, de modo a diminuir as marcas
de subjetividade do locutor.
Esta questão é composta por dois textos. O primeiro é considerado informativo,
apresenta as características da oralidade radiofônica. Já no segundo texto, temos uma mescla
de gêneros textuais. A estrutura é de um poema, porém o conteúdo temático está mais
próximo de um anúncio com uma linguagem apelativa. Percebemos neste contexto, o
predomínio da linguagem coloquial e subjetiva. Verificamos também o uso das principais
estratégias de referenciação textual como por exemplo: ―Volte para o seio de sua amada – Ela
espera ver aquele caminhão voltando‖. O pronome Ela, faz referência a amada. De acordo
com Elias e Koch (2012), consideramos esta manutenção no modelo textual de
pronominalização (anafórica ou catafórica). Neste caso, o exemplo citado faz referência a
anáfora. Cabe ressaltar que a letra da música foi construída com o estilo de linguagem
simples e direcionada a um interlocutor definido, a história narrada no poema parece
verossímil na voz de um locutor de rádio.
143
QUESTÃO 115
A) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.
B) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das
palavras.
C) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
D) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
E) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
144
QUESTÃO 116
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, o eu lírico identifica-se com Pote Cru porque
Observamos neste texto o paralelismo sintático. Nesse caso, temos a estrutura sintática
(Pote cru), preenchida com itens lexicais diferentes. De acordo com Koch e Elias (2012), o
paralelismo é muito comum na poesia com a função persuasiva ou retórica. Notamos que a
repetição de termos, não existe uma identidade total entre os elementos recorrentes, ou seja, a
sua reiteração traz consigo o acréscimo de novas instruções de sentido. O eu lírico subverte o
conhecido Salmo vinte três e substitui a imagem de Deus pela figura imaginária de um sujeito
meio monge meio mendigo que vaga a esmo (deambula) testemunhando a vida ínfima.
Manoel de Barros afirmou certa vez: ‖gosto de ver o que não aparece‖. Pote Cru pode ser
traduzido como uma espécie de consciência simples do poeta que o guia pela insignificância
das coisas, por uma certa ignorância que se converte em aprendizado.
145
QUESTÃO 117
O quadro Les Demoiselles d‘Avignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética
clássica e a revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela
146
QUESTÃO 118
A capa do LP Os Mutantes, de 1968, ilustra o movimento da contracultura. O desafio à tradição nessa criação
musical é caracterizado por
147
QUESTÃO 119
Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns
anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática,
que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que
fiz de uma palavra num desses meus badulaques. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das
Minas Gerais, falei em ―varreção‖ — do verbo ―varrer‖. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular,
poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer
uma xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma ―varroa‖(sic!) (você não
sabe o que é uma ―varroa‖?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está certo. O certo é ―varrição‖ e não
―varreção‖. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de
―varrição‖. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a
―varroa‖ no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de
Minas Gerais, fala ―varreção‖ quando não ―barreção‖. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que
nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre
ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.
De acordo com o texto, após receber a carta de um amigo ―que se deu ao trabalho de fazer um xerox da página
827 do dicionário‖ sinalizando um erro de grafia, o autor reconhece
A discussão está voltada para a grafia correta e o uso particular da língua por um grupo
de falantes de Minas Gerais. Neste contexto, o autor ressalta que não é o dicionário que faz a
língua. É o povo, em contato com a variação linguística que estabelece o uso da língua.
Percebemos o uso de estruturas conotativas no decorrer do texto relacionadas ao uso da
língua. Segundo Azeredo (2007), uma língua é um amplo e minucioso documento sobre um
povo, seu tempo e sua cultura. Sendo assim, uma língua não existe por si mesma e em si
mesma, como uma simples estrutura, ou como a soma de suas palavras e das regras
gramaticais. Para Bagno (2011), falar é construir um texto, num dado momento, num
determinado lugar, dentro de um contexto de fala definido, visando um determinado efeito de
sentido.
148
QUESTÃO 120
Logia e mitologia
Meu coração
de mil e novecentos e setenta e dois
já não palpita fagueiro
sabe que há morcegos de pesadas olheiras
que há cabras malignas que há
cardumes de hienas infiltradas
no vão da unha na alma
um porco belicoso de radar
e que sangra e ri
e que sangra e ri
a vida anoitece provisória
centuriões sentinelas
do Oiapoque ao Chuí.
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
O título do poema explora a expressividade de termos que representam o conflito do momento histórico vivido
pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar que
O texto Logia e mitologia, representa o conflito que o poeta vivenciou na década de 70.
Cabe ressaltar, que este período caracterizou o Pós-Modernismo. Uma das características
marcantes desta época nas poesias, é o uso da linguagem conotativa para mostrar a realidade.
Sendo assim, constatamos que o texto é considerado elemento de interação, marcado pela
coesão entre seus elementos e pela sua coerência interna/externa. Uma sequência de frases
não pode, portanto, ser chamada de texto se não houver uma relação de significado entre elas.
A relação do eu lírico com seu próprio tempo é evidenciada nos dois primeiros versos: o ano,
escrito por extenso(―mil e novecentos e setenta e dois‖), remete imediatamente ao contexto da
ditadura civil-militar iniciada em 1964 e a repressão que a caracterizou. As imagens chocantes
exploradas no poema (―morcegos de pesadas olheiras‖, ―cabras malignas‖, etc.) colocam em
destaque o terror resultante da opressão e das perseguições políticas como traços
característicos da ditadura.
149
QUESTÃO 121
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem
como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem
à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que
venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio,
entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é
a emotiva ou expressiva, pois
O título do texto da questão 121, serve de fio condutor para as inferências do leitor
para a interpretação do texto. Um título bem elaborado prepara o leitor para o que vai
encontrar no texto, ativa na sua memória conjuntos de conhecimentos necessários para a
compreensão (KOCH e ELIAS, 2012). Desse modo, ao ler o título ―Desabafo‘,
automaticamente vem a memória um texto narrativo, em que o personagem expõe as suas
angústias e ansiedades. Neste caso, o autor do texto deixa bem claro a insatisfação com a sua
rotina ao finalizar o seu desabafo com as frases: ―Estou nervoso‖. ―Estou zangado.‖ Notamos
também uma linguagem simples e períodos curtos, escrito em 1º pessoa e tem como conteúdo
a visão de mundo do eu lírico. Em relação ao enunciado, observamos que a questão faz
referência a função da linguagem emotiva ou expressiva, enfatizando as emoções do
emissor.
150
QUESTÃO 122
Entrevista com Marcos Bagno
Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se
baseiam nos usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam,
por exemplo, o uso do verbo ―ter‖ no lugar de ―haver‖, como em ―hoje tem feijoada‖, é simplesmente porque
os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo
―ter‖.
No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. Se nós,
brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo ―ter‖ como existencial é
porque recebemos esses usos de nossos excolonizadores.
Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para ―errar‖
na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal,
concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma
gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de
independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora.
Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado
por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português que
em toda a Europa!
Informativo Parábola Editorial, s/d.
Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a
extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele
A) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, uma vez que o gênero entrevista requer o uso
da norma padrão.
B) apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de
ser verificado na materialidade do texto.
C) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma
coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados.
D) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu
cotidiano a gramática normativa do português europeu.
E) defende que a quantidade de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a
hegemonia do antigo colonizador.
Nesta questão, percebemos que o texto aborda um assunto complexo para os leitores que
não tem conhecimento sobre o uso das formas linguísticas coloquiais. A ativação do
conhecimento prévio é, então, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor
tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes
partes discretas do texto num todo coerente. Sendo assim, o leitor que possui uma bagagem
sobre a história da língua consegue obter uma boa interpretação do texto e concluir a questão,
pois o enunciado está baseado no gênero textual- entrevista e nos argumentos usados pelo
autor em relação à obrigatoriedade de seguir uma gramática normativa de outra língua
diferente. Como já comentamos, os conhecimentos linguísticos, prévios, enciclopédicos e
interacionais, uma vez armazenados na memória, sofrem alterações de acordo com as nossas
práticas sociais.
151
QUESTÃO 123
Disponível em: ww
w.ivancabral.com. Acesso em: 27 fev. 2012.
A) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que
pretende veicular.
B) ironia para conferir um novo significado ao termo ―outra coisa‖.
C) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da população
rica.
D) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
E) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família.
Ao ler o texto, observamos que o sentido da charge está baseado nas informações visuais
associadas aos recursos linguísticos. Neste contexto, a repetição da frase ―rede social‖ no
balão, transmite a ideia de união no lar, pois notamos oito crianças e dois adultos juntos na
rede de descanso. Cabe ressaltar que a mesma frase pode ter um sentido diferente, ou seja,
depende do contexto em que as palavras são inseridas. Assim, a compreensão do texto ocorre,
de modo satisfatório quando o leitor ativa esses conhecimentos na sua interação com o texto e
o autor. Para Kleiman (2004), o texto é considerado como unidade semântica onde os vários
elementos de significação são materializados através de categorias lexicais, sintáticas e
semânticas.
152
QUESTÃO 124
Com o texto eletrônico, enfim, parece estar ao alcance de nossos olhos e de nossas mãos um sonho muito
antigo da humanidade, que se poderia resumir em duas palavras, universalidade e interatividade.
As luzes, que pensavam que Gutenberg tinha propiciado aos homens uma promessa universal,
cultivavam um modo de utopia. Elas imaginavam poder, a partir das práticas privadas de cada um, construir um
espaço de intercâmbio crítico das ideias e opiniões. O sonho de Kant era que cada um fosse ao mesmo tempo
leitor e autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer que elas fossem e que, ao mesmo
tempo, pudesse refletir sobre o juízo emitido pelos outros. Aquilo que outrora só era permitido pela
comunicação manuscrita ou a circulação dos impressos encontra hoje um suporte poderoso com o texto
eletrônico.
CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Unesp, 1998.
No trecho apresentado, o sociólogo Roger Chartier caracteriza o texto eletrônico como um poderoso
suporte que coloca ao alcance da humanidade o antigo sonho de universalidade e interatividade, uma vez que
cada um passa a ser, nesse espaço de interação social, leitor e autor ao mesmo tempo. A universalidade e a
interatividade que o texto eletrônico possibilita estão diretamente relacionadas à função social da internet de
153
QUESTÃO 125
O senhor
Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu
ao autor chamando-o ―o senhor‖:
Senhora:
Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele
não é, de nada, nem de ninguém.
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta
nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis você escolhestes a mim para
tratar de senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata
de meus cabelos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu mando é no país do tempo que foi. Essa
palavra ―senhor‖, no meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.
Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez
primeira.
BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso
social. A violação desse princípio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é:
A) “Essa palavra, „senhor‟, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”
B) ―A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.‖
C) ―Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.‖
D) ―O território onde eu mando é no país do tempo que foi.‖
E) ―Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.‖
154
QUESTÃO 126
O léxico e a cultura
Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua própria complexidade e dinâmica de
funcionamento. O texto ressalta essa dinâmica, na
medida em que enfatiza
A) a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular
específica de uma cultura.
B) a existência de línguas limitadas por não permitirem ao falante nativo se comunicar perfeitamente a respeito
de qualquer conteúdo.
C) a tendência a serem mais restritos o vocabulário e a gramática de línguas indígenas, se comparados com
outras línguas de origem europeia.
D) a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria
cultura dos falantes de uma comunidade.
E) a atribuição de maior importância sociocultural às línguas contemporâneas, pois permitem que sejam
abordadas quaisquer temáticas, sem dificuldades.
Esta questão apresenta um texto complexo para os leitores que desconhecem a história da
nossa língua, e a linguística do século XX. O autor enfatiza que todas as línguas podem
expressar qualquer conteúdo, mas as diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades
relacionadas à cultura dos falantes de uma comunidade é uma tarefa que não se realizaria em
pouco tempo nem com pouco esforço. Segundo, Faraco (2005), qualquer parte da língua pode
mudar, desde aspectos da pronúncia até aspectos de sua organização semântica e pragmática.
Assim, na história de uma língua, pode haver mudanças fonético- fonológicas, morfológicas,
sintáticas, semânticas, lexicais e pragmáticas. O texto em análise faz referência ao léxico, ou
seja, ao inventário total de palavras disponíveis para os falantes, embora isso não signifique
que o leitor tenha que entender o léxico apenas como uma longa lista de palavras, mas, como
um conjunto de recursos lexicais que incluem os processos disponíveis na língua para a
construção de palavras. Cabe ressaltar que o léxico de cada língua pode sofrer mudanças por
meio de empréstimos de outras línguas ou surgirem novos termos (palavras). Neste contexto,
é interessante ressaltar que existem diferenças que estão associadas aos aspectos culturais dos
falantes.
155
QUESTÃO 127
Para a autora, a substituição de ―haver‖ por ―ter‖ em diferentes contextos evidencia que
O texto da questão 127, faz referência a substituição do haver por ter em construções da
Língua Portuguesa no Brasil. O texto faz uma abordagem sobre assuntos pertinentes a história
da língua. O enunciado enfatiza o ponto de vista da autora em relação a substituição de ―haver
por ter‖ em contextos diversificados. A alternativa correta é a letra E, que ressalta os
comportamentos puristas como prejudiciais à compreensão da constituição linguística. De um
modo geral, a autora faz uma retrospectiva histórica da língua. Neste contexto, discuti o
domínio do verbo ter na área semântica de posse no final da fase arcaica, ressalta o ponto de
vista de Mattos e Silva (2001:136) que destacaram a obra pedagógica de João de Barros, faz
referência a sintaxe histórica, o verbo haver como verbo existencial lembrado por Ivo Castro,
e anotado como novidade no século XVII por Said ALi. O leitor quando se depara com um ou
alguns desses assuntos, imediatamente usa seus conhecimentos para compreender o texto
com proficiência.
156
QUESTÃO 128
BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989.
Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte
influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de
Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, sua obra
revela
A questão está baseada na escultura barroca esculpida por Aleijadinho no Brasil, que foi
influenciada pelo rococó europeu. A figura em destaque representa um dos profetas do pátio
do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG). O Barroco representou a
fusão entre a perspectiva renascentista antropocêntrica e a retomada de valores ligados à fé
católica, estimulados pela Contrarreforma. A alternativa considerada correta é a letra D, que
retrata a obra como uma personalidade modelada por uma imagem sacra com feições
populares. A compreensão da questão depende de vários fatores complexos e inter-
relacionados entre si. Neste sentido, o leitor por meio da ativação de seus conhecimentos
estabelece relações com a figura e o enunciado.
157
QUESTÃO 129
Verbo ser
QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um
nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só
principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas
coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para
entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.
A inquietação existencial do autor com a auto imagem corporal e a sua corporeidade se desdobra em questões
existenciais que têm origem
158
QUESTÃO 130
E como manejava bem os cordéis de seus títeres, ou ele mesmo, títere voluntário e consciente, como
entregava o braço, as pernas, a cabeça, o tronco, como se desfazia de suas articulações e de seus reflexos
quando achava nisso conveniência. Também ele soubera apoderar-se dessa arte, mais artifício, toda feita de
sutilezas e grosserias, de expectativa e oportunidade, de insolência e submissão, de silêncios e rompantes, de
anulação e prepotência. Conhecia a palavra exata para o momento preciso, a frase picante ou obscena no
ambiente adequado, o tom humilde diante do superior útil, o grosseiro diante do inferior, o arrogante quando
o poderoso em nada o podia prejudicar. Sabia desfazer situações equívocas, e armar intrigas das quais se saía
sempre bem, e sabia, por experiência própria, que a fortuna se ganha com uma frase, num dado momento,
que este momento único, irrecuperável, irreversível, exige um estado de alerta para a sua apropriação.
No conto, o autor retrata criticamente a habilidade do personagem no manejo de discursos diferentes segundo
a posição do interlocutor na sociedade. A crítica à conduta do personagem está centrada
A temática do texto está centrada no uso dos discursos de acordo com a posição do
interlocutor no meio social. A imagem do fantoche, mostra o jogo de poder das palavras, ou
seja, o personagem utiliza a linguagem em favor de si mesmo. Segundo, Koch e Elias (2012),
trata-se, na verdade, de uma boa estratégia do autor para marcar a sua intencionalidade. Em
relação ao enunciado, notamos o enfoque na ideia principal do texto e o foco no gênero
textual- conto. Quanto à resposta, a crítica foi feita à conduta do personagem manipulador,
que neste caso, era a títere. Sendo assim, vale ressaltar que os gêneros textuais distinguem-se
pelo conteúdo temático e pelo estilo (SANTOS, 2012, p.30).
159
QUESTÃO 131
Labaredas nas trevas
Fragmentos do diário secreto de
Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski
20 DE JULHO [1912]
Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: ―Acredite-me, prezado
senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre
Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen Crane ou
lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe.‖
20 DE DEZEMBRO [1919]
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua
inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros
também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo
eles, foi ―um fenômeno hoje esquecido‖ e me pediram um artigo.
Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o
enunciado metafórico ―Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal‖, pretendeu-se estabelecer, entre os dois
fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de
A) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a
consequência.
B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado
nas partes em questão.
C) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de
circunstâncias apresentadas na outra.
D) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação
argumentativa distinta e oposta à outra.
E) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo,
para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.
Esta questão exige do leitor o conhecimento prévio da língua inglesa para compreender o
contexto, que engloba os nomes dos escritores, fatos que marcaram a época para identificar
o estilo das obras literárias e o uso das expressões metafóricas. Segundo Kleiman (2004), o
conhecimento linguístico, o conhecimento textual, o conhecimento de mundo devem ser
ativados durante a leitura para poder chegar ao momento da compreensão, momento esse que
passa desapercebido, em que as partes discretas se juntam para fazer um significado. Neste
sentido, através desses conhecimentos citados pela autora, o leitor consegue alcançar uma
leitura proficiente para concluir a questão. Além desses conhecimentos, Koch e Elias (2012),
ressalta outro fator prospectivo, o nome do autor. Dependendo dos conhecimentos que
tenhamos a respeito dele, poderemos fazer previsões não só quanto ao estilo do texto, à
seleção lexical, mas também como será tratado o tema, conforme já comentamos no início da
análise.
160
QUESTÃO 132
Lugar de mulher também é na oficina. Pelo menos nas oficinas dos cursos da área automotiva fornecidos pela
Prefeitura, a presença feminina tem aumentado ano a ano. De cinco mulheres matriculadas em 2005, a
quantidade saltou para 79 alunas inscritas neste ano nos cursos de mecânica automotiva, eletricidade veicular,
injeção eletrônica, repintura e funilaria. A presença feminina nos cursos automotivos da Prefeitura — que são
gratuitos — cresceu 1 480% nos últimos sete anos e tem aumentado ano a ano.
161
QUESTÃO 133
A publicidade, de uma forma geral, alia elementos verbais e imagéticos na constituição de seus
textos. Nessa peça publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor procura convencer o leitor a
Com base na propaganda, notamos que a linguagem é vista como forma de interação
humana, além de possibilitar a transmissão de informações e a defesa de pontos de vista à
construções de visões de mundo. O autor do texto usa o tema sustentabilidade para convencer
o leitor a consumir produtos de modo responsável e ecológico. Neste caso, a sacola retornável
(produto ecológico), que está sendo usada como parte da estratégia argumentativa. Neste
sentido, o apelo argumentativo da ecologia e da sustentabilidade do planeta induz o leitor a
consumir mais, pois a sacola retornável é um brinde, uma recompensa positiva para cada
cupom com setenta reais em compra.
162
QUESTÃO 134
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana.
Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá.
Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro
ostentava inúmeras coroas de ex- alcoólatras anônimos.
A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao
longo da narrativa, ocorre uma
163
QUESTÃO 135
O trovador
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade.
Em O trovador, esse aspecto é
A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como ―coração arlequinal‖ que, evocando o carnaval,
remete à brasilidade.
B) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas
viagens e pesquisas folclóricas.
C) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como ―Sentimentos em mim do asperamente‖ (v. 1),
―frio‖ (v. 6), ―alma doente‖ (v. 7), como pelo som triste do alaúde ―Dlorom‖ (v. 9).
D) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que
seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os ―sentimentos dos homens das primeiras eras‖ para mostrar o orgulho
brasileiro por suas
164
Ao analisar as quarenta questões da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
verificamos que o exame exige habilidade leitora do participante, sem decoreba. Percebemos
em algumas questões que a compreensão do texto de apoio é apenas uma das etapas do
processo de leitura. Fica abolido, portanto, aquele tipo de questão que se vale só do conjunto
de informações veiculadas pelo texto e que são reproduzidas para formar as alternativas. Uma
ocorrência que pode ilustrar essa afirmação é a de nº 100, em que o objetivo da leitura era
identificar a estratégia argumentativa que conduzia o personagem do terceiro quadrinho a
persuadir sua interlocutora. Desse modo, a resposta da questão não está explicitamente no
texto, o participante deve ser capaz de compreender a influência de um contexto numa
mensagem, ou seja, a presença de outro texto marcado nas ilustrações. Este texto exige do
participante uma busca na memória para a identificação do intertexto e dos objetivos do
produtor do texto ao inseri-lo no seu discurso. De um modo geral, notamos que a leitura dos
textos não se limitavam a um simples processo de decodificação.
Cabe ressaltar que vários níveis de conhecimentos entram em jogo durante a leitura dos
textos da prova, pois a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela
utilização dos conhecimentos: prévio, enciclopédico, linguístico e interacional. Como
exemplo destacamos a questão 104, que aborda assuntos pertinentes à literatura através de
um texto poético de Camões e a pintura de Sanzio. Dessa forma, o participante que não tem
o conhecimento do contexto histórico desses textos poderá ter dificuldades para compreender
a questão. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento que o candidato
consegue construir o sentido do texto. As questões exigiram também a compreensão dos
textos e dos enunciados para o participante chegar à resposta adequada à proposição com base
na capacidade de relacionar todo o conjunto da questão com o conhecimento escolar e até
extraescolar que ele possuía.
Neste sentido, vale destacar que a temática dos textos foram diversificadas, bem como o
gênero textual. Notamos em algumas questões que o participante é provido de pistas para
ajudá-lo na compreensão da mensagem, através da presença do título, imagens ou definição
do tema no enunciado. A questão 121, é um exemplo, o título ―Desabafo‖ e o enunciado, já
conduzem a temática do texto, o predomínio do gênero textual, a função da linguagem que
esta explícita. Outro exemplo, é a questão 120, que no enunciado explora o contexto histórico
dos termos Logia e mitologia, que estão associadas à resposta. Na questão 123, a ilustração e
o enunciado transmitem pistas necessárias à compreensão da alternativa correta
165
Em relação ao termo análise linguística, vale lembrar que é utilizado não só para fazer
uma distinção com a gramática tomada no seu aspecto normativo, como também para
designar uma postura diferente de encarar o ensino dessa gramática. As questões analisadas,
possuíam traços de gramática normativa, mas exigiram capacidade de reflexão do participante
na sua resolução. A questão 110, talvez, tenha sido a que mais exigiu o (re) conhecimento de
conceitos mais específicos, já que, em suas alternativas abordou uma nomenclatura
metalinguística. Não chega a ser uma abolição dos aspectos gramaticais, em termos de regras
e terminologia, mas propõe uma reflexão sobre o uso da língua a partir de situações
comunicativas distintas. Este é o objetivo maior da prova do ENEM, isto significa que o texto
de apoio não se limita a um mero pretexto para a cobrança de um aspecto gramatical.
Na sequência apresentamos uma síntese dos dados analisados, com o objetivo de
mostrar que as questões estão associadas à interpretação de textos verbais e não verbais,
Literatura, Artes, gênero textual, variação linguística, função da linguagem figuras de
linguagem e semântica
166
Conforme nossas análises, verificamos que 49% das questões são baseadas em
interpretação de textos ou figuras . Neste sentido, a prova privilegia a interação entre o
conhecimento adquirido pelo participante e a sua realidade. Abordando uma visão
interacionista ao propiciar à concepção de leitura como uma atividade de produção de sentido,
em que o leitor utilize estratégias, tais como: seleção, antecipação e inferência, estabelecendo
uma relação de interação entre autor- texto e leitor. Consideramos os conhecimentos do
participante como condição fundamental para a realização de uma leitura proficiente.
Assuntos pertinentes à Literatura Brasileira/ Portuguesa e Artes, são 12%. Verificamos
que estas questões conduzem o participante à leitura de textos diversificados sobre os
pintores e escritores que se destacaram em períodos diferentes. Como por exemplos: o texto
da questão 98, que enfatiza a obra de José de Alencar, como o pai do romance no Brasil, a
questão 104, faz referência à Camões que nos lembra a Literatura Portuguesa, e a questão
128, que apresenta uma escultura barroca esculpida em pedra de sabão por Aleijadinho.
Quanto ao gênero textual, temos 19%, algumas dessas questões apresentaram pistas no
enunciado, facilitando a compreensão do texto. Exemplo: questão 99, apresenta um relato
pessoal e o elaborador ressalta uma das características desse gênero textual. As questões sobre
variações linguísticas, são 7% , consideramos alguns textos complexos para os participantes
que não tem conhecimento sobre a nossa língua, exemplo: questão 119, que enfatiza a
necessidade da norma padrão em situações formais de comunicação. Em relação a função da
linguagem temos 2%, destacamos a questão 121, que aborda a função emotiva ou expressiva
no texto e a figura de linguagem com 2%, observamos na questão 134, com a metaforização.
De um modo geral, a parte da semântica com 9%, predomina com os textos que exigem a
compreensão específica do uso da língua, exemplo: questão 127, propõe uma discussão sobre
a substituição do verbo haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil.
Sendo assim, o ENEM, é uma prova diferente dos vestibulares tradicionais, pois tem como
característica a interdisciplinaridade, que consiste em formular questões que dependem do
uso de duas ou mais disciplinas.
O Novo ENEM mantém a exigência de compreensão dos enunciados, exige o
domínio da linguagem e valoriza o lado lógico de interpretação do participante. Adotando um
método totalmente diferente daqueles que os vestibulares geralmente utilizam fazendo com
que o aluno decore fórmulas e datas. No próximo quadro, analisamos as questões de acordo
com as nove competências e trinta habilidades da Matriz de Referência de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. Associamos as questões abaixo, às Competências destacadas, por
167
apresentarem contextos relacionados às suas respectivas características. Quanto às
habilidades, verificamos os enunciados, as alternativas e os objetivos de cada questão.
168
No texto da questão 131, observamos algumas expressões em inglês que estão
associadas ao tema e ao contexto histórico. Vale ressaltar que os textos literários geralmente
estão ligados à cultura. Para a compreensão desse texto, precisamos ter conhecimentos da
língua inglesa e dos aspectos culturais. Sendo assim, as habilidades 5 e 6 estão presentes
nesta questão.
115 H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,
situando aspectos do contexto histórico.
135- 98 H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de
construção do texto literário.
116-120 H17 – Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e
permanentes no patrimônio literário.
110-123 H18 - Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para
a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
102- H19 - Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações
específicas de interlocução.
109- 111 H20 - Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da
memória e da identidade nacional
170
Questões Competência da área 7- Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as
diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
119- 99-114 H21 – Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-
verbais utilizados com a finalidade de criar, mudar comportamentos e hábitos.
126-112-134 H22 – Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos
linguísticos.
133 H23 – Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu
público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
106- 107 H24 – Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o
convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
chantagem, entre outras.
O contexto da questão 119, esta baseado na habilidade 25. Quanto à questão 125, o
enunciado está relacionado a habilidade 26. O texto, o enunciado e a resposta das questões 122
e 127 estão associados a habilidade 27. A questão 130, ressalta o domínio do poder da
linguagem, e faz referência a habilidade 26 na alternativa correta.
171
As questões 124, 108 e 97, apresentam os enunciados e as alternativas de acordo
com suas respectivas habilidades. No decorrer das análises, percebemos que as competências
e as habilidades abordam a concepção de linguagem como forma de interação, não possui
uma preocupação apenas com o código linguístico, ou seja, usar a língua não se restringe à
tradução do pensamento ou à transmissão de informações, mas serve de ação e atuação sobre
o interlocutor (TRAVAGLIA, 2005). Verificamos que as competências de áreas 5, 6 ,7 e 8,
com suas respectivas habilidades dominaram as questões. Observamos que algumas palavras
que estão na definição dessas habilidades encontramos nas alternativas corretas, nos
enunciados ou até mesmo na estrutura do texto. Destacamos um exemplo: o enunciado da
questão 125, com a definição da habilidade 26. Questão: A escolha do tratamento que se
queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso social.
Habilidade 26: Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
Neste sentido, observamos que as questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias estão
baseadas nas nove competências de área e trinta habilidades. Vale lembrar que o ENEM,
avalia competências e não informações, portanto a prova não é dividida em disciplinas.
172
Quadro 21- Escolas com maiores médias em Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
1º SP Privada 661,87
2º MG Privada 654,19
3º MG Privada 638,70
4º RJ Privada 635,31
5º CE Privada 634,48
6º MG Privada 631,60
7º SP Privada 626,49
8º PI Privada 636,23
9º MG Privada 634,74
Ao observar o quadro acima, verificamos que as escolas com as maiores médias são as
instituições particulares, que ficam localizadas na região Sudeste e algumas na Região
Nordeste. De um modo geral, não encontramos escolas dos estados das regiões Centro
Oeste, Norte e Sul. O estado de São Paulo ocupou o 1º lugar na listagem. Em seguida, temos
duas escolas do Estado de Minas Gerais, e depois o estado do Rio de Janeiro ocupando o 4º
lugar. O estado do Ceará ficou em 5º lugar. Vale ressaltar que a maior quantidade de escolas
na lista é de Minas Gerais
173
Quadro 22– Escolas com menores médias em Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Com base no quadro 22, verificamos que as escolas que ocupam os últimos lugares são
da rede estadual, e estão localizadas nas regiões Nordeste, Norte, Centro –Oeste e Sul. Com
estes dados retomamos às tabelas 1 e 3 do capítulo 1, que abordam assuntos pertinentes ao
desenvolvimento da Educação das regiões brasileiras no período de 1985- 1994, e
percebemos que passaram os anos e os dados recentes permaneceram equiparados às décadas
anteriores. Ao observar o quadro 8, com a classificação dos estados com o número de
inscritos no ENEM de 2012, os estados da região Norte também apresentaram os menores
dados.
Finalizamos o quarto capítulo com estas análises, e concluímos que as escolas com as
maiores médias são privadas e estão situadas na região Sudeste, e os menores resultados
fazem parte da Região Norte, e são escolas estaduais. Através desses dados constatamos que
as escolas com médias inferiores, refletem o desempenho dessas instituições diante do novo
padrão de prova a partir do ENEM de 2009. Sendo assim, o Exame acaba não respeitando as
174
diversidades existentes no país. A realidade de uma instituição num grande centro urbano de
uma região rica é bem diferente de uma escola situada na região com menos recursos.
Diferença essa que facilmente se reflete no próprio ensino da Língua Portuguesa, conforme,
verificamos nos quadros 21 e 22. Em relação, a análise da prova percebemos uma variedade
de textos com temas diferenciados. Alguns desses temas como saúde, meio ambiente,
consumo, entre outros, facilitaram a abordagem de outras disciplinas (Artes/ Literatura).
Além disso, cabe observar a seleção dos textos para medir as competências de área e as
habilidades de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Figuraram na prova analisada todas
as competências de área com suas respectivas habilidades. Cabe ressaltar que algumas
foram mais enfatizadas, como por exemplo: as competências de área cinco, seis, sete e oito.
Neste contexto, o modelo de avaliação por competências não é priorizar uma nota, e
sim proporcionar informações necessárias para que o candidato possa avançar seus
conhecimentos. Conforme já comentamos no decorrer das análises das questões, vários níveis
de conhecimentos entram em jogo durante a leitura dos textos da prova, pois a compreensão
de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização dos conhecimentos: prévio,
enciclopédico, linguístico e interacional. De um modo geral, a prova privilegia a interação
entre o conhecimento adquirido pelo participante e a sua realidade. Abordando uma visão
interacionista ao propiciar à concepção de leitura como uma atividade de produção de sentido,
em que o candidato utilize estratégias, tais como: seleção, antecipação e inferência,
estabelecendo uma relação de interação entre autor- texto e leitor.
175
CONCLUSÃO
176
preconiza o domínio dos princípios científicos e tecnológicos. Assim, como a compreensão do
conhecimento das formas contemporâneas, do uso das linguagens e da utilização dos códigos.
Considerando o domínio e aquisição da reflexão filosófica e sociológica para a vida
cotidiana.
Em relação, às questões do ENEM, a proposta foi desenvolver os conteúdos clássicos
associados às competências e habilidades, ambas vinculadas ao contexto do candidato. Para
responder a pergunta que norteia esta pesquisa: Como os conteúdos de Língua Portuguesa são
apresentados no exame do ENEM de 2012? analisamos as quarenta questões da prova de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Verificamos que o Exame exigiu habilidade leitora
do participante sem decoreba e a compreensão do texto de apoio é apenas uma das etapas do
processo de leitura. Como exemplo, temos a questão 100, que exigiu do candidato a
compreensão do contexto para obter a resposta correta. Desse modo, a compreensão de um
texto é um processo que se caracteriza pela utilização dos conhecimentos: prévio,
enciclopédico, linguístico e interacional.
As questões analisadas, possuíam traços de gramática normativa, mas exigiram
capacidade de reflexão do participante na sua resolução designando uma postura diferente de
enxergar o ensino da gramática. Observamos que a questão 110, talvez, tenha sido a que mais
exigiu o (re) conhecimento de conceitos mais específicos, já que, em suas alternativas temos
uma nomenclatura metalinguística. Não chega a ser uma abolição dos aspectos gramaticais,
em termos de regras e terminologia, mas propõe uma reflexão sobre o uso da língua a partir
de situações comunicativas distintas. Este é o objetivo maior da prova do ENEM, isto
significa que o texto de apoio não se limita a um mero pretexto para a cobrança de um aspecto
gramatical. Neste sentido, a análise linguística está associada à leitura e a produção de texto
com ênfase nos efeitos de sentidos associados aos gêneros textuais.
A maior parte dos assuntos abordados no Exame são pertinentes à saúde, a cultura
brasileira, estilo de vida do homem, vida conjugal, o uso de palavras inglesas, norma culta/
coloquial, revolução da arte, rede social, a questão da identidade nacional, sustentabilidade e
alcoolismo. Constatamos que alguns textos apresentaram assuntos pertinentes ao cotidiano, e
todas as questões estão baseadas em textos ou figuras. As questões exigiram também a
compreensão dos textos e dos enunciados para o candidato chegar à resposta adequada
relacionando todo o conjunto da questão com o conhecimento escolar e até extraescolar que
ele possuía. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento que o participante
consegue construir o sentido do texto. Quanto às questões de Literatura concentraram-se na
177
leitura obrigatória indicada pelos processos seletivos, que se dividem entre os principais
movimentos da Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa.
Os textos que não apresentaram títulos, são adaptados, fragmentos ou retirados de sites.
Já os textos completos são acompanhados por um título. Cabe ressaltar que alguns leitores
começam a ler um texto exatamente por influência do título. A estrutura da prova de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias do ENEM (2012), aborda os gêneros textuais por
meio da interpretação textual, trabalhando de modo secundário os aspectos composicionais e
estilísticos. Desse modo, as questões estão associadas à interpretação de textos verbais e não
verbais, Literatura, Artes, gênero textual, variação linguística, função da linguagem, figuras
de linguagem e semântica. Neste contexto, verificamos que as questões sobre variações
linguísticas, apresentam textos complexos para os participantes que não tem conhecimento
sobre a nossa língua, exemplo: questão 119, que enfatiza a necessidade da norma padrão em
situações formais de comunicação. A parte da semântica predomina os textos que exigem a
compreensão específica do uso da língua, exemplo: questão 127, propõe uma discussão sobre
a substituição do verbo haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil.
Notamos que algumas questões apresentaram nível de complexidade bem mais elevado
que outras. Provavelmente, isso seja explicado pelo TRI que determina a discriminação entre
questões fáceis e difíceis. Os enunciados da prova direcionam à leitura para a reconstituição
de informações no texto. Quanto às competências de áreas 5, 6,7 e 8, com suas respectivas
habilidades dominaram as questões. Observamos que algumas palavras que estão na definição
dessas habilidades aparecem nas alternativas corretas, nos enunciados ou até mesmo na
estrutura do texto, conforme comentamos durante as análises. As questões de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias estão baseadas nas nove competências de área e suas trinta
habilidades. Por fim, concluímos que a prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias,
apresenta uma variedade de textos com temas diversificados, pois as competências de áreas
e suas respectivas habilidades abordam a concepção de linguagem como interação, ou seja,
não possui uma preocupação apenas com o código linguístico. A gramática é considerada
instrumento para reflexão sobre os usos linguísticos, visando não só ampliar o conhecimento
teórico sobre a língua, mas também auxiliar na compreensão dos textos.
Os dados divulgados pelo ME/INEP, mostraram que os resultados das médias de
proficiência da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias estão relacionados ao
contexto social. Neste sentido, o domínio da classe dominante prevalece, as escolas
particulares e federais que ocupam as melhores posições no ranking em nível nacional,
178
estadual (RJ) e municipal (Nilópolis), são da Região Sudeste. Enquanto os menores resultados
fazem parte da Região Norte, e são instituições estaduais. Desse modo, o Exame acaba não
respeitando as diversidades existentes no país. Sendo assim, a estrutura da área de
conhecimento (Linguagens, Códigos e suas Tecnologias), desconsidera as diferenças
regionais e a atribuição de liberdade na adaptação dos conteúdos às especificidades locais. A
realidade de uma escola localizada no centro urbano de uma região rica é bem diferente de
uma instituição situada em regiões com menos recursos. Diferenças que refletiram no próprio
ensino da Língua Portuguesa, conforme, verificamos nos quadros 21 e 22. Enfim, décadas se
passaram, e o ensino da Língua Portuguesa oferecido à classe menos favorecida , continua
enfraquecido e distante das necessidades e dos objetivos propostos pela LDB 9.394/96 e
pelos documentos que estruturam a elaboração da prova de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias.
179
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183
ANEXOS
ANEXO B- Nota explicativa; Proficiências das médias dos participantes no ENEM por
escola
184