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AS 22 LÂMINAS

HERMÉTICAS DO
TAROT EGÍPCIO
AS VINTE E DUAS LÂMINAS HERMÉTICAS DO
TAROT ADIVINHATÓRIO
RECONSTITUÍDAS EXATAMENTE SEGUNDO
OS TEXTOS SAGRADOS E A TRADIÇÃO DOS
MAGOS DO ANTIGO EGITO

POR ROBERT FALCONNIER


ILUSTRAÇÕES DE OTTO WEGENER

PARIS
1886

TRADUÇÃO - RAFAEL RESENDE DAHER


REVISÃO - CLÉCIO PEREIRA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

As 22 Lâminas Herméticas do Tarot Egípcio - Robert Falconnier.


Tradução: Rafael Resende Daher. Revisão: Clécio Pereira. Editora
Noesis. São Paulo, 2018.

Título Original: “Les XXII Lames hermétiques du Tarot Divinatoire


Exactement reconstituées d’après les textes sacrés et selon la tradition
des Mages de l’ancienne”. Librarie de l’Art Indépendant, Paris, 1896.

1. Tarot. 2. Hermetismo. 3. Filosofia. 4. Ocultismo. 5. Esoterismo.

ISBN: 978-1723240560

Editora Noesis
CNPJ 13264166/0001-67
Rua Gravataí, 38, Consolação.
São Paulo - SP
01303-040
Composição e Diagramação: Editora Noesis
Impressão: Maxmus Gráfica
Capa e Ilustração: Editora Noesis
SUMÁRIO
07 Prefácio do Tradutor da Edição Brasileira
11 Prefácio da Edição Francesa
13 Introdução

EXPLICAÇÃO DOS HIERÓGLIFOS SIMBÓLICOS


DO TAROT ADIVINHATÓRIO COM A
CORRESPONDÊNCIA ENTRE AS LETRAS E
NÚMEROS. AS SENTENÇAS SACERDOTAIS DOS
MAGOS ESCONDIDAS NAS LÂMINAS, COM OS
SIGNOS DO ZODÍACO E DOS SETE PLANETAS

27 I Lâmina – O Mago
31 II Lâmina – O Santuário
35 III Lâmina – A Natureza
39 IV Lâmina – O Imperador
43 V Lâmina – O Hierofante
47 VI Lâmina – A Prova
51 VII Lâmina – O Triunfo
55 VIII Lâmina – A Justiça
59 IX Lâmina – O Sábio
63 X Lâmina – A Esfinge
67 XI Lâmina – A Força
71 XII Lâmina – O Sacrifício
75 XIII Lâmina – A Morte
79 XIV Lâmina – O Sol
83 XV Lâmina – O Tifão
87 XVI Lâmina – A Pirâmide
91 XVII Lâmina – A Estrela
95 XVIII Lâmina – O Amor
99 XIX Lâmina – O Despertar
103 XX Lâmina – A Coroa
107 XXI Lâmina – O Ateu
111 XXII Lâmina – A Noite
113 Conclusão
117 Nota
119 Três Oráculos Relatados pelo Tarot Adivinhatório
PREFÁCIO DO TRADUTOR
DA EDIÇÃO BRASILEIRA

O mercado atual, felizmente, está repleto de obras sobre o Ta-


rot. Escritores brasileiros também já escreveram várias obras in-
teressantes, diversas obras fundamentais já foram publicadas em
língua portuguesa, em traduções precisas e corretas. Entretanto, a
obra do Sr. Falconnier possui um diferencial interessante: é uma
obra que trata, direta e claramente, da própria origem do Tarot
Egípcio e de seus significados mais profundos. Ao tarólogo ou es-
tudante das Ciências Herméticas, o entendimento do significado
oculto de cada elemento das lâminas é fundamental. Não basta
compreender o significado geral da carta, é preciso saber interpre-
tar os símbolos contidos em cada uma delas. O Tarot é um jogo
que possui incontáveis variáveis e, obviamente, interpretá-las não é
uma tarefa fácil. Neste trabalho, Falconnier fornece as chaves para
a compreensão de cada lâmina, em seus significados essenciais.
Não é uma obra de uma análise geral, de uma explicação quanto

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

aos significados universais dos símbolos. O autor era um estudioso


e, embora o próprio afirme que a obra não trata de egiptologia, suas
análises são fundamentadas em descobertas arqueológicas e evi-
dências históricas. Diante do grande número de obras muitas vezes
fundamentadas nas impressões pessoais de seus autores, estudar o
verdadeiro significado segundo um estudo essencialmente histó-
rico é um bálsamo, uma fonte de segurança para o desvendar dos
verdadeiros significados escondidos nas cartas. Entretanto, Falcon-
nier não escreveu sua análise com base em dados unicamente aca-
dêmicos: como um iniciado no Hermetismo, também fez uso do
entendimento hermético e das ideias comuns entre hermetistas de
sua época, como a insistência na religião comparada, a convergên-
cia dos mitos e deuses de várias religiões em um mesmo arquétipo
e a crença firme na restauração das Ciências Herméticas em uma
nova era, algo que começou décadas mais tarde, principalmente
com Crowley, e que testemunhamos até o presente momento.
As lâminas desta edição são as mesmas da publicação original,
feitas por Otto Wegener, conforme a 1ª edição da Librarie de l’Art
Indépendant, Paris, 1896. Portanto, estão em preto e branco e algu-
mas com anotações da Biblioteca Nacional da França. Não reco-
mendamos, com isso, a impressão e uso das lâminas aqui contidas
para uso adivinhatório.

Rafael Resende Daher

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EM MEMÓRIA DE ALEXANDRE DUMAS FILS, A
QUEM DEVO MINHAS PRIMEIRAS NOÇÕES DE
QUIROMANCIA ASTROLÓGICA.
R.F.
PREFÁCIO Da edição
francesa

Caro Senhor Falconnier,

Aqui temos um pedido que fiz centenas de vezes, o de um livro


simples, claro e preciso, capaz de explicar o que é o Tarot, algo mui-
to perplexo para ser conhecido além do resumo de suas qualidades:
há muitos escritos sobre o Tarot, mas nenhum livro é tão profundo
e preciso quanto este, feito por um pesquisador, estudioso e erudito
neste ramo do ocultismo, reconstituindo e revitalizando o Tarot
Antigo em sua verdade absoluta. O mundo todo, graças a ti, poderá
compreender, admirar e melhor consultar os misteriosos arcanos
da Alta Ciência dos Magos, pois tuas explicações sobre o Tarot são
de uma lucidez física incomparável, tuas máximas consolam todos
os aspectos, servem para todas as vias favoráveis à batalha que tra-
vamos contra o desconhecido.
Todas as minhas saudações de sincera admiração pelo esforço e

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

perseverança da tua pesquisa, caro senhor.

Atenciosamente,
. A. de Tebas.

12
introdução

INTRODUÇÃO

A Astrologia é um tratado da Providência. – São Jerônimo

O Tarot, do sânscrito TAR-O, estrela fixa (provavelmente a


polar, que na Astrologia antiga simbolizava a tradição imutável),
é justamente a síntese teosófica e simbólica do dogma primitivo
das religiões e, ao mesmo tempo, um método simplificado de As-
trologia, descoberto pelo Mago Hermes01, intitulado Trismegisto,
um antigo hierofante dos templos de Tebas, em 2000 a.C.. Ele
utilizava o Tarot como instrumento de adivinhação e gravou as
vinte e duas lâminas em ouro, segundo hieróglifos simbólicos, que
são as figuras do alfabeto hierático dos magos, relacionadas a um
número sagrado (a ciência mágica dos números); também vemos

01 Autor da Tábua Esmeraldina e do Pimandro.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

os símbolos do zodíaco e dos sete planetas, quase totalmente des-


truídos durante a invasão persa durante o domínio de Cambises,
mas reproduzidos em murais nas paredes das criptas dos grandes
templos, que serviam para a iniciação dos profanos que chegavam
ao colégio dos magos, guardado por um sacerdote chamado pastó-
foro02, que explicava os significados simbólicos apenas aos neófitos;
as chaves adivinhatórias só eram totalmente reveladas nos mais
elevados graus do sacerdócio de Ísis e havia pena de morte para
quem revelasse os mistérios arcanos. Segundo Heródoto, o princi-
pal santuário iniciático ficava próximo ao lago Moeris, seu nome
era Labirinto, construído pelos reis menfitas (segundo Clemente
de Alexandria).
Atualmente, encontramos os textos dos rituais sagrados guar-
dados em rolos de Papiro no Museu do Cairo (onde sou tradutor),
além de algumas figuras do Tarot ainda visíveis nas ruínas dos
templos de Tebas, inclusive no teto de uma das salas hipóstilas03,
que era sustentado pelas vinte e duas colunas do Pálácio de Medi-
net-Abu, como também um calendário sacro, esculpido na parede
sul do mesmo monumento, construído por Tutmés III, da XVIII
dinastia.
Nas cerimônias públicas de culto, imagens públicas do Ta-
rot adivinhatório eram carregadas sob formas de estatuetas de
animais04 nas procissões, embora o simbolismo vulgar não fosse
o mesmo utilizado pelos magos. Assim, Osíris era representado
por uma cabeça de falcão e Ísis, a deusa, por uma estátua com um
véu negro, com a seguinte inscrição: EU SOU TUDO QUE ERA,
TUDO QUE É E TUDO QUE SERÁ. NENHUM MORTAL

02 Nota do Tradutor: O sacerdote que guardava as imagens sagradas dos deuses.


03 NT: Salas sustentadas por colunas interiores, chamadas de “bosques de colu-
nas”.
04 Apresentadas de um modo particularmente estranho, as figuras do Tarot ser-
viam como calendário e indicavam a época dos solstícios e equinócios, além do
levante das estrelas e os períodos de transbordamento do Nilo, regulamentando o
trabalho da agricultura (Plínio, L.J).

14
INTRODUÇÃO

PODE LEVANTAR MEU VÉU! (segundo Jâmblico, em seu trata-


do de símbolos e misticismo egípcio). O grande hierofante era ves-
tido por sacerdotes chamados horoscóforos, segundo os quarenta
e dois livros sagrados que guardavam as leis, a história dos reis,
a teologia e a astro-mitologia dos Magos (origem da explicação
dos hieróglifos), de acordo com Manetão, Orígenes e Coeremião.
Ao público, a religião dos magos era simbolizada por um ovo; o
amarelo representava o mundo divino, a clara o mundo espiritual,
a casca o mundo material e a forma elíptica deu início à teoria
do sistema astronômico (Plutarco, de Iside et Osiride). Os magos
também foram cientistas e astrônomos: construíram as criptas da
Grande Pirâmide de Quéops com esferas armilares, astrolábios e
planos de órbita, que serviram para Ptolomeu estabelecer um sis-
tema que é errado em astronomia, mas correto em astrologia (Por-
fírio, De Antro Nympharum), com o universo representado por uma
estrela de cinco pontas, que veio a ser o Grande Todo dos gregos,
o Deus Pan (segundo Apolônio de Tiana).
Os vinte e dois nomes são dispostos segundo a ordem alfanu-
mérica, de acordo com a definição completa do Dogma da Alta
Magia dos anciões. Quando todas as lâminas são misturadas, o
significado individual é modificado de acordo com a mais próxima
e, em seguida, há uma sentença sacerdotal e filosófica, enquanto
uma resposta boa ou má é dada de acordo com a consistência das
letras e dos números, segundo as questões colocadas pela mente
humana05. Este é um resumo da incrível psicologia pitagórica, mas
que não se prova muito útil aos que possuem a chave hermética e
aos intuitivos, capazes de ler no astral06, pois o oráculo sempre é
processado em um sentido esotérico. Há milhares de transposições
para as lâminas e os prognósticos são acertados, segundo minha
experiência pessoal, em uma proporção de 30 a 40 0/0, caso tenha
sido tomado o cuidado em levantar o genetlíaco do consulente se-

05 Foi assim que Cazotte previu os principais eventos da Revolução Francesa.


06 Isto é, um tipo de espelho mágico para visões múltiplas.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

gundo: 1º o sistema astrológico de correspondências planetárias;


2º a teoria dos números e o cálculo das probabilidades; 3º as coor-
denadas quiromantes; assim o Tarot é completamente dominado
pela mão humana07.
Este método forma a astrologia matemática, que era praticada
pelos antigos magos de Tebas e que não deve ser confundida com a
astrologia judicial, praticada na Idade Média08. Os caldeus (segundo
Diodoro Sículo) entregaram seu alfabeto aos magos egípcios que,
por sua vez, repassaram o Zend Avesta dos persas, além dos signos
do zodíaco de Zoroastro; aos assírios, eles repassaram os sete pla-
netas astrológicos de Zoroastro. Na teologia hindu, encontramos
entre os Vedas duas figuras alegóricas: Ot-tara (Grande Suporte)
e Adda-Nari (a Natureza), reminiscências do Tarot que provam
sua origem indo-tártara. Talvez, para reencontrarmos a verdadeira
fonte original, seja necessário voltarmos para o ciclo sinárquico de
Ram, simbolizado por Áries no zodíaco, que teve como seguido-
res: Fohi, na China; Krishna, na Índia; Hormuz, na Pérsia; Tot, no
Egito; Orfaskad, na Caldéia; Enoque, entre os Hebreus; Hésus,
para nossos antepassados celtas; além da antiga espiritualidade da
desaparecida Atlântida. Quem sabe um dia não encontremos entre
os lamas do Tibete ou entre os monges da Manchúria textos desta
antiga teogonia? O Tarot saiu do Egito e passou pela Pérsia, Cal-
déia e Assíria. Encontramos o Tarot na Cabala judaica09, em uma
tradução atribuída a Enoque, como também nos terafins10 do ta-
bernáculo de Moisés, que foi educado pelos magos do Egito. Mais

07 Conforme já foi bem explicado por Decrespe, em sua obra sobre a mão. (Nota
do Tradutor: “Principes de physique occulte. La matière des oeuvres magiques”. Marius
Decrespe. Ed. Chamuel, 1984, Paris.)
08 O Tarot era consultado apenas para questões de Estado e para os faraós, de
acordo com o poder dos magos, os verdadeiros mestres do Egito Antigo, como os
maçons da França atual.
09 O Zohar, o Sepher Bereshit e o Sephir Yetzirá, livros de comentários rabínicos
sobre os livros sagrados (Torá).
10 NT: Imagens de deuses protetores de famílias e lares, origem dos anjos da
guarda.

16
INTRODUÇÃO

tarde, foi levado aos gregos por Cadmo. Platão e outros filósofos
gregos estudaram os mistérios dos magos no Egito, na própria fon-
te (o jogo do ganso11 foi derivado do Tarot grego, assim como o
xadrez, que recebemos dos persas, mas que nasceu do Tarot hindu).
O povo romano tentou ignorá-lo, Cícero não o mencionou em seu
discurso sobre a adivinhação; Hermes teve sua estátua nos templos
renomeada para Mercúrio e passou a ser celebrado em Pompéia no
culto dos mistérios de Ísis12.
Encontramos uma figura do Tarot no Apocalipse de João
Evangelista13; Santo Agostinho faz uma referência ao jogo em uma
carta à sua mãe. No século XI, o Papa Gregório VII fez uma tradu-
ção do Tarot segundo as tábuas de Enoque. Cem anos depois, uma
figura de Baphomet dos templários em um Tarot foi queimada
na fogueira como herética, segundo a ordem de Felipe o Belo; no
século XVI, Guillaume Postel trouxe de suas viagens ao Oriente as
verdadeiras chaves do Tarot Hermético14 e o jesuíta alemão Kir-
cher (1680) fez uma reconstituição quase exata; na mesma época,
um velho padre italiano, Ruggieri, tornou-se astrólogo de Cata-
rina de Médice e reconstruiu o jogo para a rainha; depois disso,
não encontramos mais o Tarot até seu ressurgimento nas mãos dos
ciganos, com o acréscimo de cinquenta e seis cartas novas15. No
século passado, Cagliostro adaptou o Tarot aos números arábicos.
Sob Carlos VI, o Tarot já havia reaparecido na França, mas
completamente desfigurado, transformado em cartas de jogo para
distrair a loucura do principie (segundo Henri Martin). O jogo
das virtudes, inventado pelo monge Alcuíno, para os senhores da
corte de Carlos Magno, é apenas uma transcrição cristã do Tarot.

11 NT: Conhecido na França como Jeu de l’Oie, é um jogo de tabuleiro que, como
o xadrez, é visto como uma parábola para a própria vida.
12 Embora haja mais semelhança entre Asclépio e Hermes.
13 A menos que os livros sibilinos não sejam cópias.
14 O Tarot de Bizâncio é uma corrupção do Tarot de Besaçon.
15 Os chamados Arcanos Menores, que são uma reprodução do jogo dos Bastões
de Alfa.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Gébelin, Alberto Magno, Agrippa e Paracelso16 também tentaram


reabilitar o Tarot, mas nada foi construído. No século passado, Al-
liette, conhecido como Eteilla, fez uma tradução fantástica, editada
atualmente por Lismon, sob o título “O Livro de Tot”, que serve
para a maioria das cartomancias modernas.
O Tarot de Marselha, publicado em 1760 por Conver, é o mais
próximo do tipo tradicional.
Finalmente, Eliphas Levi reproduziu e completou o Tarot de
Guillaume Postel e, por último, em 1889, Stanislas de Guaita e
Wirth publicaram uma edição cabalística precisa. Papus também
escreveu um livro importante sobre a questão. Tento, neste presen-
te ensaio, reconstruir o Tarot Primitivo de Hermes, seguindo um
caminho experimental e arcaico, naquilo que consegui em minha
pesquisa pessoal dos textos antigos, além das evidências arqueoló-
gicas colhidas nos locais e traduzidas por um egiptólogo, meu ami-
go pessoal. Graças ao talento de Otto Maurice Wegener, teremos
as lâminas desenhadas conforme as minhas indicações.
Depois de um ano de labuta, este trabalho está finalmente en-
cerrado, apresentado ao público entusiasta do ocultismo, tão sur-
preendente quanto um livro de literatura – mas este é um estudo
abstrato, diferente do teatro. Também não é como o Tarot mo-
derno17, pois busca reviver o passado e prever a futura evolução da
mente humana.

16 As figuras alegóricas que Nicolau Flamel não relacionou ao Tarot, mas às


Clavículas de Salomão.
17 Mile Lenormand faz uso de um Tarot que, apesar do nome, não possui qual-
quer valor simbólico.

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EXPLICAÇÃO DOS HIERÓGLIFOS SIMBÓLICOS DO
TAROT ADIVINHATÓRIO
COM A CORRESPONDÊNCIA ENTRE AS LETRAS E
NÚMERO.S
AS SENTENÇAS SACERDOTAIS DOS MAGOS
ESCONDIDAS NAS LÂMINAS, COM OS SIGNOS DO
ZODÍACO E DOS SETE PLANETAS01

01 Sobre a concordância dos doze signos do zodíaco, ver as doze tribos de Israel,
os doze apóstolos cristãos etc. Sobre os sete planetas, ver os sete braços do cande-
labro de Moisés, os sete sacramentos da Igreja os sete círculos do Kuran etc. A as-
trologia moderna conta com três tipos planetários novos: o netuniano e uraniano,
que estabeleço como correspondentes à Terra. O último tipo devo ao Sr. Ledos,
astrólogo eminente da atualidade. Foi através da Astrologia que Swift, autor de
“As Viagens de Gulliver”, previu anos atrás a existência dos satélites de Marte, des-
cobertos mais tarde apenas por telescópio. La Verrier descobriu o planeta Netuno
calculando as probabilidades de perturbação, segundo a Astrologia Matemática.
Kepler utilizava em sua meta-astronomia as leis cosmogônicas e zodiacais.
É verdade, o iniciado matará seu mistagogo. - Hermes
Em verdade vos digo que um de vós me trairá. – Jesus Cristo
LÂMINA 1 (A = 1) O MAGO

Simbolismo hieroglífico

O Mago está em pé, com atitude e vontade de agir, vestido de


branco, sinal de pureza, a coroa dourada é o sinal da luz eterna.
Sua mão direita porta um cetro, encimado por um círculo, sím-
bolo da inteligência e fertilidade. Ele aponta ao céu para indicar
sua aspiração à sabedoria, ciência e força moral. Sua mão esquerda
está em direção à terra, para indicar seu domínio sobre a matéria.
Diante dele, um cubo, imagem da solidez perfeita, mas aberto, para
representar as paixões humanas; uma espada, arma dos bravos que
combatem o erro voluntário. Ele também carrega um cinto, em

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

forma de uma serpente mordendo a própria cauda01, símbolo da


Eternidade. No cubo, Íbis representa o emblema da vigilância.
O número 1 representa a unidade divina encontrada no todo e,
quando multiplicado por ele mesmo, é a síntese dos números.

Sentenças Sacerdotais

A vontade humana é o reflexo do poder divino, que é a criação.


A luta moral é a lei do espírito humano, combatendo pela luz, para
conquistar o absoluto. Nada pode vencer o homem que conhece a
verdade e a justiça.

O cometa significa que o verdadeiro mago é um mensageiro de Deus.

01 NT: A serpente Ouroboros,.

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LÂMINA II (B = 2) O SANTUÁRIO

Simbolismo Hieroglífico

A Ciência Oculta está entre as duas colunas do templo, que


representam o bem e o mal, representados pelo crescente lunar e
pela face velada, a verdade que não é visível ao profano. Ao centro,
a cruz solar é o emblema da geração universal, sob seus pés des-
cansa um papiro coberto, para indicar que os mistérios da Ciência
Sagrada são revelados apenas aos iniciados. A tiara significa o po-
der da inteligência iluminada pela sabedoria (crescente lunar). Ela
está sentada, o que significa que a Ciência está unida à sabedoria e
à vontade, sendo imutável.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

O número 2 representa a união entre homem e mulher e o re-


flexo da unidade.

Sentenças Sacerdotais

É possível criar, controlar e comandar a matéria. Fazer o mal


é cometer o suicídio da alma, querer o bem e fazê-lo é tornar-se
imortal, pois o amor é mais forte do que ódio, capaz de vencer a
morte.

Influxo astral da Lua.

32
LÂMINA III (G = 3) A NATUREZA

Simbolismo Hieroglífico

A Natureza é representada por uma mulher com os olhos


vendados, sentada em um cubo, com os emblemas das visões de
Hermes. O emblema da luz repousa em seus pés, isto é, a matéria
submetida à mente, coroada pelas doze estrelas que representam o
curso do ano. O raio de sol em seu peito representa o poder criativo
da mente. Ela segura um centro encimado por um globo, emblema
de sua ação de domínio sobre o mundo. Na outra, segura a cabeça
de uma águia que tenta atacá-la, ou seja, o voo e o poder da alma
humana em busca do retorno para seu princípio: Deus.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

O número 3 representa a trindade universal: divino, espiritual


e físico.

Sentenças Sacerdotais

O correto é criar, seu contrário é a destruição. Dizer a verdade


é o dever, negá-la não é certo. A natureza é um renascimento per-
pétuo. A consciência é um espelho divino, o amor e a criação nela
estão. Ai daquele cujo amor é infértil.

Influxo astral de Vênus.

36
LÂMINA IV (D = 4) O IMPERADOR

Simbolismo Hieroglífico

Um homem coroado simbolizando o poder conquistado, o cubo


é o emblema da obra finalizada. Ele segura o cetro dos Magos, que
simboliza o poder moral adquirido através do estudo do sagrado.
Sua mão esquerda indica o domínio da matéria. A pomba em seu
peito simboliza a inocência. As pernas cruzadas significam a ex-
pansão do poder do espírito humano segundo as três medidas do
infinito (altura, largura, profundidade). O pássaro dentro do cubo
simboliza o pensamento do mago que vê a aurora dos tempos.
O número 4 é o número da força, a unidade que completa a

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

trindade, formando o quadrado perfeito (afirmação, negação, dis-


cussão e solução).

Sentenças Sacerdotais

O mago, em posse do conhecimento do bem e do mal, deve


utilizá-lo pela edificação, pois o mal é apenas uma sombra do bem,
que é a única coisa que realmente existe. A inocência é a inércia do
bem. Lembra-te de não prejudicar e nem ferir os outros com teus
impulsos.

Influxo astral de Júpiter.

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LÂMINA V (E = 5) O HIEROFANTE

Simbolismo Hieroglífico

O sumo-sacerdote de Ísis é exibido sentado entre as colunas


do Santuário. A mão sobre a cruz simboliza a penetração do gênio
criativo através dos três mundos (divino, intelectual e físico). As
duas colunas representam lei e liberdade. Liberdade para obedecer
ou desobedecer. Em sua outra mão, um sinal indicando contem-
plação e silêncio (conhecimento e ficar quieto). Os homens aos
seus pés representam o bem e o mal, dominados por este arcano
soberano.
O número 5 representa o número da lei e a mão humana (os

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

cinco dedos).

Sentenças Sacerdotais

A fé é a ciência da justiça. A religião é a ligação entre o Ser


Absoluto e o relativo, entre infinito e finito. A liberdade de ação
representa o homem diante de Deus. Não julgas a felicidade do
homem que já morreu. A beleza é o esplendor da verdade.

Influxo astral de Marte.


Ciclo de Áries.

44
LÂMINA VI (U - V = 6) A PROVA

Simbolismo Hieroglífico

O neófito hesitante, entre uma flecha apontada e duas fêmeas:


vício e virtude disputando seu gênio, enquanto o arco dirige sua
flecha contra o vício, símbolo da punição que aguarda o homem
que preferiu o caminho mais fácil do vício - ao contrário do cami-
nho austero da virtude. Este arcano resume a luta da consciência
contra as paixões humanas.
O número 6 representa a iniciação, através da prova do conhe-
cimento do bem e do mal, o equilíbrio entre o céu e a terra. Este
número perfeito resulta da união entre seus pares, a repercussão do

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Ternário.

Sentenças Sacerdotais

A vontade do homem justo é a imagem de Deus, além da von-


tade de lutar, com a obtenção do poder. Conquistar a si mesmo é a
vitória suprema. A lei equilibra o dever. O antagonismo de forças
gera o movimento universal. Uma corrente de flores não é resisten-
te como uma corrente de ferro.

Influxo Astral da Lua.


Ciclo de Touro.

48
LÂMINA VII (Z = 7) O TRIUNFO

Simbolismo Hieroglífico

Um guerreiro montado em uma carruagem cúbica, suportada


por quatro colunas, uma delas estelar. As colunas simbolizam os
quatro elementos. A carruagem cúbica é a obra construída pela
vontade vencedora dos obstáculos. O guerreiro é corado pelo cír-
culo ou imagem da luz eterna. Ele segura uma espada, sinal da vi-
tória. Um cetro encimado por um quadrado (a matéria), um círculo
(a eternidade) e um triângulo (divindade). Sua armadura carrega
o emblema do poder, decorada por três símbolos, que simbolizam
julgamento, vontade e ação. Uma esfera com asas abertas na parte

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

traseira da carruagem indica a elevação do poder intelectual ao


infinito do espaço-tempo. Duas esfinges estão atadas à carruagem,
repousando - uma é negra (má) e a outra é boa (branca), represen-
tando o Mago que venceu as provas.
O número 7 representa o número sagrado da Magia e também
de toda geração.

Sentenças Sacerdotais

A luz é o Espírito de Deus e fonte da vida. A escuridão é o


espírito maligno e a semente da morte. Combateras a escuridão,
para que triunfes contra a as trevas, que são o erro, o mal e a morte.

Influxo astral do Sol.


Ciclo de Gêmeos.

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LÂMINA VIII (H = 8) A JUSTIÇA

Simbolismo Hieroglífico

Seus três degraus representam os três mundos. A mulher com


uma coroa de ferro na testa, símbolo da inflexibilidade, está sen-
tada e de olhos vendados, indicando que não se importa com a
situação social das pessoas. A espada em uma mão e a balança na
outra indicam juízo e castigo. O leão simboliza a força submetida
à justiça e a esfinge representa o olho de Deus que lê as almas dos
ímpios. A tartaruga alada representa o arrependimento que ascen-
de através do perdão, apesar do peso do crime. Um gênio divino
simboliza a justiça de Deus que julgará a justiça dos homens.

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AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

O número 8 representa a justiça e a reação equilibradora, é a har-


monia na analogia dos opostos, o primeiro número que é dividido
em números iguais, o número completo em si mesmo.

Sentenças Sacerdotais

A vontade submissa ao absurdo é reprovada pela razão, a von-


tade deve equilibrar as forças que envolvem, temperam ou anulam
as reações contrárias. As inteligências de quem não se equilibra
é semelhante às estrelas mortas. Não julgueis, para que não sejais
julgados01.

Influxo astral de Vênus.


Ciclo de Câncer.

01 NT: Evangelho de São Mateus, 7:1.

56
LÂMINA IX (T-H = 9) O SÁBIO

Simbolismo Hieroglífico

Um ancião simboliza a sabedoria, portando uma lamparina


que representa o intelecto, protegida por um manto, que significa
a discrição. Caminha apoiado por uma bengala, símbolo da força
adquirida pela experiência.
O número 9 representa a síntese, imagem do reflexo dos três
mundos (3x3 = 9).

59
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Sentenças Sacerdotais

A prudência é a arma dos sábios, não mostra a luz aos cegos,


pois são incapazes de vê-la. A educação da vontade é a lei da Na-
tureza. A palavra pode fazer qualquer coisa, mas lembra-te que a
palavra é prata, o silêncio é ouro. Curva-te diante do Faraó, ele é
o poder. Ajoelha-te diante do Hierofante, ele é a lei. Endireita-te
diante da Natureza à tua direita. Venera as crianças e os mais ve-
lhos, eles representam Oriente e Ocidente.

Influxo astral de Júpiter.


Ciclo de Leão.

60
LÂMINA X (I-J-Y = 10) A ESFINGE

Simbolismo Hieroglífico

A roda do destino, em seu eixo, percorre do lado de Kné-phta,


gênio do bem, até Tifão, gênio do mal, que está em queda. Uma
esfinge representa as quatro forças da vontade humana (sabedoria,
audácia, ação e silêncio), a cúpula é ornada com a esfinge equilibra-
da pela roda, que simboliza a visão impenetrável de Deus, dispon-
do o destino dos homens de acordo com suas obras, representado
por uma lança como símbolo da justiça suprema. Abaixo, temos
dois suportes em forma de serpente, que simbolizam o equilíbrio
resultante do antagonismo das duas forças opostas.

63
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Número 10, o número universal e do absoluto, pois é o funda-


mento de todos os outros, do ser e do não-ser (1 e 0).

Sentenças Sacerdotais

Se a vontade é boa, o espírito é justo. Aceitar o mal, mas sem


nunca cometê-lo, para receber o bem absoluto. Morrer pelo mal,
renascer pelo bem - assim é a lei. Quem está no inferior ascenderá
pela virtude, como aquele que está no superior cairá através do
vício.

Influxo astral de Mercúrio


Ciclo da Virgem

64
LÂMINA XI (C-K = 20) A FORÇA

Simbolismo Hieroglífico

Uma jovem abre a boca de um leão sem qualquer esforço, sím-


bolo do poder em si mesmo, adquirido pela educação da vontade e
experiência de vida.

Sentenças Sacerdotais

O medo é apenas a preguiça de enfrentar o leão. O leão é o


medo do teu próprio eu. O erro é apenas um fantasma da verdade
e desaparece diante da coragem inabalável. Acreditar que é possí-

67
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

vel, este é o poder. Morrer pela pátria é um orgulho, pois nada é


maior do que isto. O homem só tem um direito: o direito de fazer
seu dever.

Influxo astral de Marte.

68
LÂMINA XII (L = 30) O SACRIFÍCIO

Simbolismo Hieroglífico

Um homem pendurado por um pé à uma forca, apoiada por


duas árvores, cujos ramos estão cortados. As mãos estão amarradas
e derrubam siclos de ouro. Uma perna está dobrada sobre a outra.
O pendurado simboliza o homem que morre por uma ideia. Sua
perna em forma curvada e o triângulo invertido simbolizam sua
morte nas mãos dos maus. As mãos amarradas e os siclos dourados
representam as ideias sobreviventes, mesmo com seu sacrifício por
elas, que assim são recolhidas por outros, que farão seus renasci-
mentos no tempo correto. Os doze ramos cortados simbolizam

71
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

os signos do zodíaco, que renascem constantemente ao longo do


tempo.

Sentenças Sacerdotais

Morrer pela fé e perdoar seus inimigos, assim é renascer para a


eternidade. O sacrifício do corpo é a apoteose da alma, que adicio-
na uma página ao progresso do signo de seu sangue.

Influxo astral da Lua.


Ciclo da Balança.

72
LÂMINA XIII (M = 40) A MORTE

Simbolismo Hieroglífico

Um esqueleto armado com uma foice simboliza a morte que


atinge todos os homens. Suas cabeças, pés e mãos renascem sem
cessar, ao horizonte vê-se um arco-íris nos céus. Este arcano sim-
boliza o fim fictício do homem, que sempre renasce em seus filhos,
a natureza não passa de matéria orgânica. O arco-íris representa a
imortalidade da alma.

75
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Sentenças Sacerdotais

A morte é apenas um fantasma da ignorância, os olhos fecha-


dos neste mundo se abrem no outro. A alma, parte do sopro divino,
é imortal. O homem sábio não teme a morte, pois morrer é saber.
Bem-aventurados os que morrem jovens, pois vão rapidamente
para o caminho da perfeição.

76
LÂMINA XIV (N = 50) O SOL

Simbolismo Hieroglífico

O gênio do sol resplandece e carrega um vaso de ouro e um de


prata, as forças elementais da natureza, símbolos do grande agente
mágico: os fluídos elétrico e magnético combinados, imagem da
fecundação perpétua da natureza pela luz e calor, que são o movi-
mento e a vida.

Sentenças Sacerdotais

O império do mundo é a Luz. O Sol é o macho da Natureza e

79
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

o princípio vital, é a imagem do esplendor de Deus. Não semear


pedras preciosas causa cegueira e fere os pés e, com isso, teus nas-
cimentos jamais serão vistos.

Influxo astral do sol.


Ciclo de Escorpião.

80
LÂMINA X (X = 60) O TIFÃO

Simbolismo Hieroglífico

O gênio do mal, da fatalidade e do caos, é representado por um


hipopótamo com cabeça de crocodilo. Aos seus pés, dois bodes.
Possui seios de mulher e falo de homem. Uma serpente sai de seu
umbigo, que significa sua incapacidade de gerar crianças, pois só
gera o mal. As asas de morcego indicam seu espírito das trevas.
Surge a partir do caos e das ruínas, com uma mão agita a tocha da
destruição e a outra carrega o cetro da divisão e do ódio, encimado
por duas pontas, separadas por um círculo. O restante da figura
simboliza a bestialidade das paixões, que cai numa profundidade

83
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

maior do que a da besta. O chifre no nariz indica a revolta contra


o Espírito Divino e a ameaça do céu. Seu gesto indica a verdade
suprema, que o homem jamais pode ferir, por mais que queira.

Sentenças Sacerdotais

O serviço do mal é a servidão à morte. A vontade pervertida


é o começo do suicídio, enquanto a razão é o princípio da ordem.
A ignorância e o erro geram a desordem, a noite do caos. A vida
deve ser orientada para que o homem seja o mestre de seu próprio
destino, Caso contrário, a barca sagrada será naufragada e ele será
a presa do Devorador.

Influxo astral de Saturno.


Ciclo de Sagitário.

84
LÂMINA XVI (O = 70) A PIRÂMIDE

Simbolismo Hieroglífico

Uma pirâmide desmorona no cume, atingida por um raio. Dois


homens, um deles coroado, caem no abismo. Este arcano simboliza
o conflito entre as forças mal dirigidas, o colapso do orgulho hu-
mano e a falsa ciência, que é o espírito atingido pelo fluído astral.

Sentenças Sacerdotais

A luz é um fogo sagrado, colocada pela natureza ao serviço da


vontade. Ela ilumina as almas fortes e fulmina as outras. Cuida

87
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

dos teus atos e palavras. Nunca digas nem faças nada que não seja
aprovado pela tua consciência.

Influxo astral de Júpiter.


Ciclo de Capricórnio.

88
LÂMINA XVII (FP = 80) A ESTRELA

Simbolismo Hieroglífico

Uma jovem nua simboliza a verdade. Um pé no mar e outro na


terra, espalhando dois copos que simbolizam a Bondade e a Cari-
dade, o bálsamo que acalma os males humanos. O mar representa
a amargura dos dias tristes. Acima da jovem, há uma estrela de oito
pontas, símbolo duplo do Universo e da tríade Divina. Ao centro,
uma pirâmide branca une-se à outra, invertida e preta, tocadas por
suas bases. Este é o emblema da grande lei oculta da Magia, que é

91
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

a da analogia (O que está em cima é como o que está embaixo01). Sete


estrelas menores são os sete tipos planetários do homem. Perto da
jovem, uma flor, símbolo da esperança, regada por uma borboleta,
imagem da adversidade.

Sentenças Sacerdotais
O homem que descobriu a verdade e deseja fazer a justiça rom-
pe todos os obstáculos. Depurado dos vícios e dos erros, conhece a
Ciência Real e recebe a chave. Nunca quebres a flor da esperança.
A ciência dos números é o movimento da vida, que é a aspiração
e respiração. A misericórdia é o que há de mais divino na huma-
nidade.

Influxo astral de Mercúrio.

01 NT: Uma das máximas herméticas.

92
LÂMINA XVIII (Q = 100) O AMOR

Simbolismo Hieroglífico

Na luz do sol brilhante, um jovem e uma jovem dando as mãos,


em um círculo de flores. Este arcano simboliza o amor, gerador de
felicidade e sinal do Sol, que é o emblema da geração universal.

Sentenças Sacerdotais

O amor é o que nos leva até Deus, é o sol da alma e o grande segre-
do da vida. O amor dá vida, mas respeita a mulher livre e o escravo,
sabe diferenciar se a mulher é uma prostituta ou sua mãe. O amor

95
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

é a tração das forças complementares para a criação, ele é emanado


diretamente do princípio divino, é eterno como a luz e sobrevive
até o fim do mundo, sempre gerando mais.

Influxo astral de Júpiter.


Ciclo de Peixes.

96
LÂMINA XIX (R = 200) O DESPERTAR

Simbolismo Hieroglífico

Um gênio soa uma trombeta, levantando do sarcófago uma fa-


mília humana, simbolizando o julgamento dos mortos e o desper-
tar das almas falecidas no erro ou omissão.

Sentenças Sacerdotais

Os filhos da terra estão mortos, tendo suas vidas julgadas por


seus concidadãos. Por suas vontades, ouvimos o pranto de suas

99
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

consciências, que é o chamado de Deus. Chora pelos vivos, não


pelos mortos. Os corpos dos sábios são embalsamados para que
permaneçam como exemplo aos vivos.

Influxo astral de Saturno.

100
LÂMINA XX (S = 300) A COROA

Simbolismo Hieroglífico

Uma coroa de lótus, com quatro ângulos e uma cabeça: uma de


leão, uma de homem, outra de águia e uma de touro, simbolizando
os quatro ventos do espírito. Ao centro, o falo primitivo, o arcano
supremo da geração universal dos três mundos. No infinito, o ab-
soluto é a conjunção dos sexos. A coroa simboliza a cadeia mágica
dos seres, das coisas e das ideias. Abaixo, uma jovem representa a
religião, tocando uma harpa de três cordas, imagem da tripla har-
monia divina do homem (alma, espírito e corpo). Assim é o sím-
bolo do andrógino primordial, que a Cabala traduziu da fórmula

103
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

latina: solve e coagula.

Sentenças Sacerdotais

Deus é o único princípio e união harmônica das forças ocultas


da natureza. As chaves da ciência do Mistério Divino do bem e do
mal pertencem ao sábio, capaz de discernir ambos, sem qualquer
cobiça. Lembra-te que a lei é para o homem, mas Deus está no
arco, que nasce de Deus e a Ele retorna.

Influxo astral do Sol.

104
LÂMINA XXI (T = 400) O ATEU

Simbolismo Hieroglífico

Este arcano é o símbolo do ateu que não vê a luz divina. Ele


carrega o peso de seus erros e enganos. A vara não serve para gui-
á-lo, pois ele caminha para o nada, representado pelo crocodilo. O
obelisco quebrado representa a ruína de suas obras. A figura astro-
nômica do eclipse simboliza a dúvida removendo sua fé.

Sentenças Sacerdotais

O céu é o livro da via universal, que ele se recusa a ler e acaba

107
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

cego. O ateu cria a fatalidade e o destino é sua punição. Quem não


crê em nada não passa de um morto-vivo.

108
LÂMINA XXII (T-S = 0) A NOITE

Simbolismo Hieroglífico

Duas pirâmides elevam-se em um caminho. Diante delas, dois


cães uivam à lua, entre um escorpião. Uma das pirâmides é branca,
a outra é negra - uma simboliza a ciência verdadeira, a outra sim-
boliza a falsa. A lua é a imagem da consciência, instrutora do ho-
mem em dúvida. Os cães representam o bem e o mal. O escorpião
é o emblema da perversidade, o grande mistério do vício.

111
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Sentenças Sacerdotais

A vida é cheia de armadilhas, devemos combatê-las ou evitá-


-las, mas o ponto da ação é nunca fazer o mal. A inércia é a co-
vardia da alma. Uma grande dor sofrida é um progresso atingido.

Fluxo Astral de Vênus.


Ciclo de Aquário.

112
CONCLUSÃO

A bruxa está morta. Mas a fada renascerá. – Michelet

Em suma, a doutrina dos Magos foi emitida nas frases que


acabamos de ler e infelizmente estão incompletas, reduzidas para a
educação da vontade humana e segundo a ação das forças ocultas
da natureza. Atualmente, é uma ciência oficialmente abandonada01
ou transmitida a mestres muito velhos, cuja superioridade intelec-
tual e valor moral admiramos, mas que nossa civilização moderna
não consegue realizar. Mas como, depois de séculos de gerações
que perderam a formação necessária, poderemos falar um pouco
mais, enquanto a natureza do nosso indivíduo não é particular-

01 Apesar do movimento de reação estética empreendido recentemente por Pe-


ladan.

113
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

mente disposta, diferente do zuavo francês Jacó02 e do Papa João,


na Rússia, que conseguiram resultados extraordinários através da
ação absoluta da vontade.
A fé que falta é a exaltação da vontade, através da crença, que
é capaz de produzir os mesmos milagres de Lurdes, causados uni-
camente por ela03.
O Tarot, considerado como um instrumento adivinhatório,
penso eu, é uma espécie de piano oculto: as teclas são as lâminas
herméticas, relacionadas às faculdades psíquicas; ao mesmo tempo
em que um poderoso poder de sugestão permite à vontade ser ex-
teriorizada, para criar uma magia entre o consulente e o adivinho,
com um acordo mais ou menos perfeito, segundo o grau de acui-
dade sensorial utilizado e, em seguida, permitir a adivinhação dos
eventos futuros que, logicamente, estão relacionados ao consulente,
uma vez que a mesma corrente psicomagnética criada pela concor-
dância das cartas do Tarot é desempenhada como um acumulador
eletro-mental. Por mais confusa e imprecisa que esta explicação
pareça, ela foi confirmada por completo pela Senhora de Tebas,
minha distinta colega na Arte Adivinhatória, cuja prática atual-
mente04 possui autoridade.
Do ponto de vista psicológico, a meu ver, o Tarot é um dogma
poderoso para ensinar ao homem como servir às forças ocultas da

02 NT: Os zuavos formavam uma unidade militar francesa que combatia no


norte da África e em territórios árabes. O zuavo Jacó deixou a infantaria e se
transformou em um místico e curandeiro. Dizia curar por fluídos magnéticos. Foi
processado por curandeirismo e exercício ilegal da medicina, Escreveu uma obra
chamada Le Charlatanisme de la médecine (O Charlatanismo da Medicina, em
tradução livre), com acusações sérias à medicina moderna. Afirmava que era pos-
sível curar qualquer doença através de práticas teúrgicas e operações espirituais.
03 O Pe. Fortin chegou a estabelecer uma concordância entre os raios-de-sol com
as perturbações atmosféricas, conseguindo prever o tempo com a astrologia, sem
perceber o que fez.
04 O fenômeno psíquico que ocorre na interpretação do Tarot não é mais ex-
traordinário que o da sugestão à distância e o da telepatia, feitos pelo Coronel
De Rocha e por Baraduc, que conseguiram experiências com resultados sobre-
naturais.

114
CONCLUSÃO

natureza com inteligência, para se transformar no mestre que pode


retirar a necessária quintessência do bem. Creio que seria bom
entregar a este século do progresso a prática da filosofia de Hermes
que, claramente, é um reflexo da sabedoria divina e do grande livro
da Lei Natural. Já estamos no fim deste século, mas não no fim
da nossa espécie. Muitos estão construindo o futuro com o passa-
do e, sem dúvida, o século XX pertencerá aos homens de ação. A
educação da vontade do indivíduo será a preocupação constante
do povo que buscará o progresso. Podemos atribuir como a causas
dos nossos desastres na década de 1870 à vontade individual ativa
dos oficiais alemães contra a vontade inerte ou passiva dos oficiais
franceses, que estavam contentes com o heroísmo, mas o heroísmo
por si só não garante a vitória, pois é apenas a vingança dos venci-
dos. O povo americano, que é educador da vontade por excelên-
cia, ultrapassou a Europa em um curto espaço de tempo, pois tem
ofuscado o plano do espírito imaginativo para dar lugar ao espírito
da iniciativa05. Combinando os dois princípios inerentes às raças
latinas, continuamos como o primeiro povo do mundo e esta obra
reformadora deve instituir congregações seculares e religiosas, pois
acredito que todas servem à vontade do homem de ação e inte-
ligência saudável, para que ele seja dono de seu próprio destino.
Penso que precisamos separar ciência e religião, para que ambas
cheguem a um acordo sobre a substância e cheguem a Deus por
caminhos diferentes.
Quando aqueles que veem os eventos das manifestações desco-
nhecidas das intervenções de Satã são míopes, não as combatendo
em tempo suficiente e, mesmo assim, são espiritualistas que conti-
nuam a investigar o grande mistério do invisível, tornam-se crian-
ças sem a Ciência e apenas voluntários do progresso. Olhamos
para a noite e tentamos ver o Sol, o passado é a garantia do nosso

05 E por isso os americanos desenvolveram de forma mais eficiente as ciências


materiais.

115
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

futuro. A Química06, este reino das ciências modernas, é apenas o


renascimento da Alquimia, antes reclusa na Idade Média, como
a Astrologia dos antigos que renasceu na Astronomia atual; hoje
conjuramos grimórios inatingíveis, que serão lidos por nossos fi-
lhos amanhã. Somos os penitentes, eles serão os eleitos. Certamen-
te, a tarefa será mais bela e mais fácil do que foi aos mais velhos,
mas não esqueças que foi a fogueira da Inquisição que reacendeu a
tocha da Alta Ciência, que pelo sangue dos seus mártires triunfará!

06 A transmutação dos metais preciosos, mencionada pelos alquimistas, é ape-


nas uma questão de tempo para os químicos modernos e, em outra ideia antiga,
recitada na narrativa bíblica da Arca de Noé, é a transformação dos peixes de
Wichorou, para salvá-los do dilúvio. Os livros sagrados e a escada de Jacó são an-
tigas lendas arianas, encontradas nos Upanishads. O “Cântico dos Cânticos” é bem
semelhante ao Kama-Sutra, assim como Rama e Buda, como Cristo, nasceram de
uma virgem imaculada.

116
os hieróglifos do
tarot adivinhatório

A água benta substituirá a água lustral e a humanidade não será mais


limpa. - A. Dumas

NOTA

Reconstituí as 22 lâminas segundo os monumentos descober-


tos por Mariette-Bey, Champollion, Hereen, Maspero, etc. Para os
caracteres cuneiformes assírios e caldeus, pesquisei nos museus do
Louvre, de Boulogne-sur-mer, no Museu Britânico de Londres e
no Hofburg de Viena, consultando seus antigos papiros. As obser-
vações astrológicas também foram igualmente comparadas com as
astronômicas, com a ajuda de um poderoso telescópio, construído
por Secrétan, instalado em minha propriedade no Parc de Neuilly.

117
AS 22 LÂMINAS HERMÉTICAS DO TAROT EGÍPCIO

Fui convencido de que a Astro-Magia é justamente a metafísica do


universo, com base no magnetismo cósmico, uma ciência que nem
o Cristianismo pode negar: os magos da Caldéia foram conduzi-
dos por uma estrela até a manjedoura de Belém.
O alfabeto egípcio é muito complicado e inclui vários sinais
para uma só letra, tanto na caracterização de sons articulares (ho-
mófonos, polífonos) ou para caracterizar o sentido das frases (de-
terminado ou genérico). Estes sinais variam segundo as escritas
demótica, hierática ou ideográfica. Assim, busquei substituí-los,
para que fosse mais conveniente ao leitor consultar o hieróglifo e
sua explicação, segundo as vinte e duas letras do alfabeto mágico.
Este livro não busca ser uma obra de egiptologia pura. Além dis-
so, nos detalhes das lâminas, alguns sinais do alfabeto egípcio já
mostram as vinte e duas figuras clássicas e os cento e trinta e dois
componentes múltiplos; é interessante notar que, apesar do simbo-
lismo politeísta dos hieróglifos do Tarot, os magos da antiga Tebas
adoravam a um só Deus: Amon. Mais tarde, os faraós ficaram com
ciúmes do poder sacerdotal e atacaram a adoração a Aton (o disco
solar) e a Karmakhouti (o sol nos dois horizontes), mas os magos
recuperaram a supremacia do antigo culto, que prevaleceu com o
nome da religião de RÁ ou melhor, de Amon-Rá (Sol Oculto01),
com seus principais santuários em Tebas, Mênfis e Heliópolis.

01 Ressuscitado em nossos dias no simbolismo do culto ao Sol, através do osten-


sório católico.

118
TRÊS ORÁCULOS RELATADOS PELO TAROT
ADIVINHATÓRIO

A ciência deve ser útil para os homens. – Sófocles

I
O século atual está morrendo, para o novo nascer em um mundo
banhado em sangue.
II
O ganso chocará seus ovos, voará no céu da águia e seu canto será
mais alto que o do galo.
III
Virá a luz do Oriente e os amarelos vingarão os negros.

NOTA: Os prognósticos estão sujeitos à ação dos estadis-


tas, conforme afirma o axioma mágico: Astra inclinant,
non dominant et voluntati fatum cedat.

119

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