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Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações Entre o Brincar e Comportamentos Da Terapeuta e Da Criança
Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações Entre o Brincar e Comportamentos Da Terapeuta e Da Criança
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São Paulo. SP
2006
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São Paulo, SP
2006
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
RC489.B4
4
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO:
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer (USP), Orientadora.
_____________________________________________
Profa. Dra. Emma Otta (USP), Membro.
_____________________________________________
Prof. Dr. Roberto Alves Banaco (PUC), Membro.
ii
APOIO FINANCEIRO:
CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO (CNPq)
iii
Ao longo de todo o Mestrado, aprendi muito mais do que eu podia imaginar. Foi um período
Agradeço à querida Sonia, por ter acreditado na minha capacidade para enfrentar o desafio
Agradeço aos meus pais Almir e Zilda e ao meu irmão Lucas, que sempre estiveram ao meu
lado, me dando muita força nos momentos em que eu estava me sentindo triste e sozinha em São
Agradeço aos meus amigos de trabalho, Alessandra Villas Boas, Esther Ireno, Márcio
Alleoni Marcos, Maria Amália M. Pereira, Michele Oliveira, Priscila Taccolla e Tatiana Araújo.
Agradeço a todos que foram meus professores de Mestrado e de Especialização, pois com
certeza contei com um time incrível: Sonia Meyer, Edwiges F. M. Silvares, Martha Hubner, Almir
Del Prette, Zilda Del Prette, Cynthia Schuck Paim, Cássia R. C. Thomas, Denis R. Zamignani,
Joana S. Vermes, Luiz Guilherme G. C. Guerra, Maly Delitti, Marcelo Benvenuti, Maria Amália P.
A. Andery, Maria Luiza Guedes, Maria das Graças Oliveira, Miriam Marinotti, Nicolau K. Pergher,
Nilza Micheletto, Regina C. Wielenska, Roberta Kovac, Roberto Alves Banaco, Tereza M. A. P.
Por fim, agradeço especialmente às crianças atendidas, “Mauro” e “Erik”, e às suas famílias.
iii
Del Prette, G. (2006). Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações entre o brincar e
comportamentos da terapeuta e da criança. Dissertação de Mestrado, Programa de pós-
graduação em Psicologia Clínica, Universidade de São Paulo.
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS II
RESUMO III
ABSTRACT IV
ÍNDICES VI
ÍNDICE DE TABELAS VI
INTRODUÇÃO 1
O PAPEL DO BRINCAR NA TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL 2
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DE ADULTOS VERSUS DE CRIANÇAS 5
PSICOTERAPIA: VARIÁVEIS DE INTERESSE E METODOLOGIAS DE PESQUISA 8
PROBLEMA E OBJETIVOS DE PESQUISA 13
MÉTODO 15
PARTICIPANTES 15
MATERIAL E INSTRUMENTOS 16
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS 19
TRATAMENTO DOS DADOS 21
RESULTADOS E DISCUSSÃO 29
CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE 34
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA 34
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE 67
COMPORTAMENTOS QUEIXA E COMPORTAMENTOS DE MELHORA 85
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS DO BRINCAR 86
ANÁLISE DAS SESSÕES TRANSCRITAS DE TERAPIA INFANTIL 91
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA: 93
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE: 108
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS DO BRINCAR 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS 137
REFERÊNCIAS 147
ANEXOS 155
vi
ÍNDICES
Índice de Tabelas
Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das categorias do brincar 23
Tabela 2. Modelo de folha de registro utilizada para a classificação das unidades de análise do
comportamento do terapeuta e do cliente. 26
Tabela 5. Reagrupamento das subcategorias do terapeuta que pertencem a mais de uma categoria,
em subcategorias que sugerem procedimentos específicos e que poderiam ser consideradas típicas
de terapia infantil. 92
Tabela 6. Valores e porcentagens das unidades de análise nos atendimentos de mauro e erik. 93
Tabela 10. Categorias do cliente mais freqüentes em cada categoria do brincar, durante os
atendimentos de mauro e erik. 131
vii
Índice de Figuras
Figura 2. Percentagem de verbalizações da terapeuta nas cinco sessões de mauro (n=805) e de três
sessões de erik (n=486), para cada categoria do terapeuta. 94
Figura 3. Percentagem de verbalizações da terapeuta por categoria, ao longo das sessões de mauro
(a) e erik (b). 95
Figura 5. Percentagem de subcategorias do terapeuta no atendimento de mauro (a) e erik (b). 100
Figura 8. Percentagem de categorias do cliente nas oito sessões de mauro e três de erik. 108
Figura 9. Percentagem de categorias do cliente ao longo das três sessões do atendimento de erik (a)
e cinco sessões do atendimento de mauro (b). 110
Figura 10. Porcentagem das categorias do brincar nos atendimentos de mauro e erik. 119
Figura 11. Porcentagem de episódios verbais em cada categoria do brincar, ao longo das sessões
analisadas de mauro (a) e erik (b). 120
Health Survey, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrando que os
distúrbios psiquiátricos têm sido cada vez mais freqüentes, mas pouco tratados. Segundo o autor,
mesmo nas cidades mais isoladas do mundo os transtornos mentais começam cedo, ainda na
dependência de álcool, de nicotina ou de drogas, ou ainda como uma depressão grave, que
38-43).
como parte do compromisso técnico e ético com a qualidade de vida. No caso da criança, esse
investimento é ainda mais crítico pois pode evitar a repercussão de problemas da infância nas etapas
futuras do desenvolvimento.
classe geral dos "Transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância e na adolescência"
(APA, 1995) e que é composta por diferentes tipos, como por exemplo: Distúrbio de
2003). Entretanto, dentro da classe geral referida, é possível classificá-los, ainda, em dois grandes
grupos: os internalizantes e os externalizantes (Achenbach & Edelbrock, 1978; Kazdin & Weiz,
2003). São considerados internalizantes aqueles problemas dirigidos para experiências internas,
como ansiedade, timidez e depressão. Já os externalizantes são dirigidos para o ambiente, como
Weiz, 2003).
2
Os problemas externalizantes constituem a maioria das queixas que levam crianças e
adolescentes à psicoterapia. Em uma análise dos prontuários de 776 clientes com idade até 16 anos,
inscritos em uma clínica-escola, Silvares (1993) observou que 75,3% deles continham queixas de
distúrbios de comportamentos explícitos e de mau desempenho escolar. Além disso, a maioria das
crianças encaminhada tinha idade entre seis e nove anos e era do sexo masculino, exceto para
pesquisa sobre os fatores de eficiência e eficácia da intervenção clínica, o que tem sido considerado
como uma das prioridades pela Força Tarefa em Psicoterapia, da APA, conforme documento oficial
recentemente publicado (Levant, 2005). Esse documento enfatiza que a avaliação das terapias é de
suma importância para o progresso científico da psicologia clínica, permitindo a delimitação das
que são eficazes e dos componentes que contribuem para essa efetividade.
uso do brincar na interação profissional-cliente, cuja importância tem sido referida por inúmeros
autores (Kazdin, 1988; Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000; Regra, 2000; Torres & Meyer, 2003).
Nos tópicos que se seguem são apresentados aspectos da fundamentação conceitual e empírica da
investigam essa temática. No entanto, conforme De Rose e Gil (2003), a maioria das definições
enfatiza a espontaneidade e o prazer deste ato. Brincar, por meio de jogos ou brincadeira,
estruturados ou não, é a atividade mais comum da criança e é crucial para o seu desenvolvimento,
3
além de ser uma forma de comunicação. Del Prette e Del Prette (2005, p. 100) ressaltam que o jogo
é utilizado em todas as tradições culturais, “com objetivos educacionais distintos como socialização,
Segundo Goldstein e Goldstein (1992), a importância dos jogos vem sendo enfatizada por
pesquisadores e teóricos como uma maneira pela qual a criança aprende a controlar o ambiente e
fortalecer suas habilidades sociais e de raciocínio. O jogo intensifica os contatos da criança com o
mundo, fornece a oportunidade de fazer e manter amizades e ajuda a criança a desenvolver uma
básicos para o seu desenvolvimento social. As ações da criança, em contexto de brincadeira, muitas
vezes expressam sentimentos, desejos e valores que ela não consegue, ainda, expressar por meio de
Possivelmente por suas diferentes funções e importância, o brincar passou a fazer parte das
comportamental. Já na década de 60, Ferster (1966), em um estudo que se tornou célebre, descreveu
e analisou funcionalmente o atendimento de uma menina autista de quatro anos de idade e ressaltou
estímulos discriminativos, modelos, instruções e conseqüências, de tal modo que a criança pode, a
partir de seu repertório inicial, refinar seus comportamentos e aprender novos”. Skinner (1991)
distingue, na brincadeira, o jogo do brincar livre, definindo o jogar como uma atividade que envolve
contingências de reforçamento planejadas, isto é, regras pré-estabelecidas. Por outro lado, o brincar
livre, por não ter regras estabelecidas na cultura, pode ser considerado menos controlado pelo
ambiente social imediato. Conforme Kanfer, Eyberg e Khrahn (1992, p. 50), a brincadeira é “um
4
meio efetivo de construir o rapport e reduzir demandas verbais feitas para a criança e [...] um meio
ao manejo de comportamentos clinicamente relevantes na terapia com crianças (Conte & Brandão,
dados importantes para o conhecimento da história de vida da criança (Windholz & Meyer, 1994).
Vê-se, portanto, que o contexto lúdico pode ser utilizado com objetivos de avaliação do repertório
da criança, permitindo o acesso indireto a seus pensamentos e sentimentos e o acesso mais direto às
propicia a ampliação das relações, que passam a se dar não apenas entre a criança e o terapeuta,
como também entre eles e personagens das brincadeiras, conforme ressaltam Conte e Regra (2002,
p. 98):
como, por exemplo, a análise da interação que ela estabelece diretamente com o terapeuta
(análise da relação), a análise das relações que estabelece entre personagens fictícios,
retirados de suas fantasias e sonhos (...), e mesmo seus relatos diretos sobre o que ocorre no
dia-a-dia.
A situação lúdica também pode ser entendida como promotora de aliança terapêutica
efetiva, porque se constitui uma atividade altamente reforçadora para a criança (Guerrelhas, Bueno
5
& Silvares, 2000). O brincar pode contribuir, por essa via, para o engajamento da criança no
Conforme exposto, em suma, os principais objetivos do brincar em terapia seriam: (a) realizar a
do problema, isto é, fazer uma análise das contingências envolvidas na queixa identificada; (c)
qual o terapeuta analisa as contingências ambientais das quais ele é função. A análise de
quanto para o planejamento da intervenção (Neno, 2003), ou seja, “somente uma análise funcional
poderá indicar o que está faltando para que a terapia (...) apresente resultados satisfatórios”
(Banaco, 1999).
interesse, incluindo aspectos como freqüência, duração e intensidade (Meyer, 2003), juntamente
chave na análise das interações organismo-ambiente (Todorov, 1985) e implica na busca pela
comportamental de adultos. Mas a terapia com crianças tem peculiaridades que a diferenciam
(Queiroz & Guilhardi, 2002; Silveira, 2002), o que remete tanto aos procedimentos utilizados, como
às habilidades específicas que o terapeuta deve apresentar. Como exemplo de habilidade, Silveira
(2002) defende que a atuação do terapeuta comportamental infantil requer criatividade e, ao mesmo
tempo, diretividade na condução da sessão psicoterápica. Quanto aos procedimentos, Gaines (2003)
destaca que, na terapia infantil, os terapeutas utilizam a “auto-revelação” com mais freqüência do
atividades lúdicas em terapia infantil (p.e., Penteado, 2001; Regra, 1997) como uma maneira
avaliação diagnóstica. Segundo Silvares (2002), a avaliação diagnóstica implica em uma série de
atividades com o objetivo de analisar funcionalmente a queixa e, com base nessa análise, definir as
cliente. É pela avaliação diagnóstica que o terapeuta coleta informações acerca da história do
cliente, do comportamento que deve ser tratado e das circunstâncias nas quais o cliente vive.
queixa, pois raramente é apresentada pela criança e isso pode interferir no controle do terapeuta
existem membros da comunidade social da criança que estão incomodados com alguns de seus
comportamentos (e não a própria criança, na maioria dos casos) e que então definem: (a) a
necessidade de atendimento; (b) o profissional que irá prestar o serviço; (c) o que consideram
problema para a criança e seu entorno. A queixa, ao ser elaborada pela perspectiva do adulto (nem
sempre compartilhada pela criança), pode dificultar a adesão desta ao processo de atendimento. Isso
realça a importância do processo de estabelecimento de uma aliança terapêutica com a criança, que
7
deve incluir, também, o esclarecimento sobre os objetivos e procedimentos, diminuindo seu
Nesse processo, o terapeuta infantil comumente lida com vários participantes ao mesmo
tempo (mãe, pai, irmãos, professores). A importância dada aos cuidadores envolve a compreensão
de que a família tem um papel importante na gênese e manutenção da queixa: “queixar-se dos
inadequado, é funcional no ambiente em que ela se insere (Silvares & Marinho, 1998), isto é, só se
O papel dos pais na definição da queixa é também ressaltado em Del Prette, Silvares &
infantis, constataram que a entrevista com pais foi um dos recursos mais utilizados para a avaliação
inicial. A participação dos pais continuou a ser importante em outros procedimentos de avaliação
utilizados, como a aplicação de testes e o uso de registros e, sem dúvida, tal participação é muito
importante para a análise inicial do problema da criança. Por meio do contato com os pais, o
terapeuta pode obter informações adicionais, como, por exemplo, prováveis reforçadores e
punidores para a criança, planos e metas dos pais quanto aos filhos etc.
comportamental com adultos, porém, apresenta uma especificidade que pode ter implicações tanto
para a pesquisa quanto para a prática profissional. Em termos de pesquisa, implica em avaliar mais
respeito da avaliação da efetividade de psicoterapias. Uma delas é a de que todos os tratamentos são
tem sido referida como “paradoxo da equivalência”, também denominado por Luborsky, Singer e
dos processos das mesmas. A expressão “veredicto do pássaro Dodô” refere-se a um trecho da
história de Alice no País das Maravilhas, no qual os animais realizavam uma corrida em torno de
um círculo e, ao final, o pássaro Dodô decretava que todos eles ganharam a corrida e seriam
premiados. É respaldada por pesquisas (p.e. Lambert & Bergin, 1994, citado por Stiles, 1999) que
indicam que fazer terapia é significativamente melhor do que não fazê-la, e que placebos também
são melhores do que não-terapia, embora piores do que terapia. Nas razões de não haver diferenças
terapêutica como a única variável de processo preditora de bons resultados (Garfield, 1995).
Outra vertente, referida por Castonguay e Beutler (2006), é a de que alguns tratamentos
seriam mais recomendáveis do que outros, para o tratamento de transtornos específicos, a partir de
comprovação empírica de pesquisas. De acordo com Neno (2005), essa vertente é fruto de um
movimento de validação empírica das psicoterapias que se instalou oficialmente por meio da Força
investigação da efetividade das terapias vem se apoiando em uma base legal e ética. As terapias
psicológicas estão incorporadas aos centros públicos de Saúde Mental, que devem ofertar
intervenções cada vez mais eficazes, o que constitui uma exigência ética e vem se configurando,
nos últimos anos, também como exigência legal: "pesquisas que estão sendo iniciadas em todo o
mundo entrarão diretamente nas situações clínicas e verificarão o que os terapeutas estão fazendo"
Americana para a Pesquisa em Psicoterapia concluíram um estudo (Levant, 2005) que buscou
definir o conceito de prática psicológica baseada em evidência e, com base na atualização de dados
in Psychology, ou EBPP) foi definido como “a integração das melhores pesquisas disponíveis com
a experiência clínica no contexto das características, cultura e preferências do cliente” (p. 5).
para pesquisas que deveriam ser priorizadas em financiamentos de pesquisa futuras. Aqui, foram
incluídas as pesquisas sobre o peso relativo das características dos clientes, do terapeuta e das
determinar e descrever como essas variáveis interagem umas com as outras para afetar
diferencialmente os resultados. Resultados de pesquisas sobre tais aspectos poderiam servir como
indicadores úteis para a prática clínica, esclarecendo quais intervenções (e também modos de
Dentre os problemas que têm sido foco de estudo de efetividade do tratamento pela Força
Segundo Neno (2005), as pesquisas realizadas pela Força Tarefa sobre o tratamento destes
transtornos focalizavam somente a população adulta, deixando uma lacuna no atendimento voltado
à criança. Por esse motivo, uma das atualizações da lista de tratamentos empiricamente validados
o que produziu a melhora no cliente, ela não deve focalizar apenas os resultados mas, também, as
condições que o geraram, ou seja, o processo terapêutico. A literatura mostra que há diversas
moleculares) ou recortes das sessões ou grupos de sessões. Pode-se, por exemplo, dividir sessões de
psicoterapia em unidades temporais. Howe e Silvern (1981) utilizaram o tempo como unidade de
Estrada e Russel (1999) dividiram as sessões em segmentos de vinte minutos, ao elaborarem uma
escala para a análise do processo em psicoterapia infantil. Conforme Shaffer (1982), não existe,
ainda, consenso entre os autores quanto às unidades de análise, mas algum consenso seria
importante para direcionar as pesquisas futuras e possibilitar uma avaliação mais precisa dos
Para estudar os resultados obtidos em cada sessão, Greenberg (1986) utilizou quatro
categorias de análise que ele classificou como: (a) “níveis de conteúdo” (definido como “tudo
aquilo que acontece durante a sessão”); (b) atos de fala (referindo-se à “linguagem e seu sentido no
contexto”); (c) episódios (que seriam porções de comunicação com sentido terapêutico) e (d) inter-
relações (“qualidades inespecíficas que o terapeuta deve possuir”). Como se vê, essas categorias
estão definidas de forma bastante genérica, o que torna difícil operacionalizá-las, limitando o seu
Com relação aos atos de fala e aos demais desempenhos do terapeuta, valorizados por
diferentes autores, pode-se identificar uma falta de consenso também quanto às unidades de análise
Na década de 70, uma pesquisadora americana, Clara Hill (1978) propôs um sistema
classificação dos comportamentos do terapeuta - Hill‟s Counselor Verbal Response Mode Category
System – que incluía as seguintes categorias: (1) aprovação e confiança; (2) questões fechadas; (3)
questões abertas; (4) repetição da fala do cliente; (5) reflexão dos sentimentos; (6) confrontação; (7)
interpretação; (8) auto-revelação; (9) imediação; (10) informação; (11) orientação direta; (12)
outras.
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Em nosso meio, pode-se destacar a análise de Meyer (2001) que identificou e definiu nove
categorias de comportamentos do terapeuta referentes aos objetivos e às táticas para alcançá-los: (1)
como testar hipóteses; (2) fornecimento de informações: comportamentos que esclarecem aspectos
da terapia (contrato, técnicas etc) e aspectos psicológicos ou médicos; (3) empatia, calor humano,
cliente, podendo reformulá-la para enfatizar algum conteúdo; (5) aprovação: comportamentos que
ordens, conselhos, avisos, fornecimento de modelos; (7) interpretação: inferências sobre padrões de
deste; (9) silêncio: não-emissão de respostas orais após o término do relato verbal do cliente.
classificados nas categorias: (1) solicitação de relato; (2) solicitação de relato qualificativo; (3)
[fornecimento de] informação; (4) interpretação; (5) estruturação; (6) recomendação; (7) empatia;
(9) aprovação; (10) facilitação; (11) discordância; (12) registro insuficiente. (Ver definições de cada
utilizado, visto que sempre é possível encontrar vantagens e desvantagens no uso de cada um deles.
como: (a) uma classificação que contempla comportamentos definidos tanto pela sua função como
12
1
por sua forma (o que não ocorre no sistema de Hill, 1978); (b) um detalhamento rigoroso dos
critérios de inclusão e exclusão, facilitando o seu uso; (c) uma descrição mais objetiva das diversas
subcategorias para cada categoria, dependendo do foco de análise do pesquisador. Entretanto, como
o sistema foi construído com base na terapia de adultos, ele não contempla as especificidades da
terapia infantil.
Essa dificuldade também ocorre em outros estudos: alguns autores analisam o processo
terapêutico do ponto de vista de sua experiência com terapia infantil, mas fazem referência a ações
analisando a terapia infantil, destacam ações e habilidades que seriam também aplicáveis ao
atendimento do adulto. É o caso da escala construída por Estrada e Russel (1999), que caracteriza
empaticamente à criança”, “ajudou a criança a explorar seus sentimentos” etc., não seriam
específicas à TACI, pois podem ocorrer também na relação do terapeuta com adultos.
incluindo algumas categorias mais associadas ao brincar (como “propor brincadeira e persuadir a
criança a brincar ou deixar que a criança ensine uma brincadeira” e “promover engajamento em
(como “formular regras e zelar pelo seu cumprimento”). Algumas categorias são definidas em
termos bastante topográficos (ação do terapeuta), como “descrever o que a criança está fazendo”,
enquanto outras pretendem ser mais funcionais (efeito provável ou provavelmente pretendido no
aqueles” enquanto outras parecem difíceis de serem observadas como, “evitar fazer críticas”.
1
Entende-se por definição baseada na topografia aquelas que descrevem a forma do comportamento do terapeuta
enquanto que uma definição funcional descreve os efeitos prováveis ou provavelmente pretendidos pelo terapeuta no
comportamento do cliente.
13
Problema e objetivos de pesquisa
a) A literatura reconhece a especificidade da TACI, mas suas peculiaridades ainda não foram
explicitamente descritos nas formulações iniciais para terapia infantil em geral, nem em sua
particularidades do brincar?
de TACI?
Essas questões norteiam o problema de pesquisa do presente trabalho para dois objetivos,
cliente e elaborando categorias do brincar. Numa segunda etapa, o objetivo consistiu em aplicar esta
14
metodologia na análise descritiva do processo terapêutico inicial de duas crianças com problemas
foi a própria pesquisadora que, no início do processo terapêutico em TACI, tinha 22 anos de idade e
havia concluído sua graduação em Psicologia há um ano. Durante o período do Mestrado, atendeu
grupo.
Cliente 1 – “Mauro”2: Ao iniciar a terapia, Mauro era uma criança de oito anos de idade, do
sexo masculino, trazido pelo pai com queixas de agressividade, hiperatividade e comportamento
“Ele grita com a irmã e com a gente, desobedece para tudo, parece que quando tem uma
regra é aí que ele não faz... Todo dia é uma luta pra ele se levantar de manhã, pra tomar
café, pra fazer lição! Por exemplo, se de manhã tiver vitamina de banana, ele vai dizer que
não quer. Mas é capaz que se tivesse aquilo que ele quer, ele também iria reclamar. Ele é
inteligente, mas vive conversando na escola, a professora tem que ficar chamando a atenção
Mauro vivia com a família, constituída pelo pai, pela mãe e a irmã de cinco anos de idade.
Quando iniciou a terapia, cursava a segunda série do Ensino Fundamental no período da manhã, em
uma escola particular Adventista do mesmo bairro onde mora. Verificou-se, pela entrevista inicial
com o pai, que a família era de classe média e que os pais possuíam nível de escolaridade Superior
Completo (ambos eram funcionários públicos). Além de estudar, Mauro freqüentava a Igreja
Adventista aos domingos, e tinha um amigo (referido por ele como “melhor amigo”) da igreja, com
Cliente 2 – “Erik”: Uma criança de seis anos de idade, do sexo masculino, trazido pela mãe
2
Os nomes dos clientes são fictícios.
16
“está dando problemas na escola porque „do nada‟(sic) ele fica agressivo, grita com os
colegas... Outro dia começou a correr atrás dos irmãos com faca para atacá-los. É muito
teimoso, as coisas têm que ser do jeito dele. Mas é muito amoroso comigo, é o meu filho
preferido, ele sofreu tanto quando nasceu que agora eu tento protegê-lo... Eu tenho muita
dificuldade com os meus filhos, porque eu sou sozinha e quando eu trabalho eles ficam
Erik vivia com a mãe, um irmão de sete anos e uma irmã de oito, na periferia de São Paulo.
Os pais eram separados e ele tinha mais dois irmãos, um com 17 anos que morava com o tio no
mesmo bairro, e uma de três anos que morava com os tios-avós na Paraíba. Erik visitava o pai
esporadicamente aos fins-de-semana com os irmãos, mas normalmente chorava pedindo para voltar
para casa. Quando iniciou a terapia, cursava os últimos meses da pré-escola em uma escola pública
de seu bairro, no período da tarde, e sabia escrever o próprio nome e reconhecer algumas letras do
alfabeto. A partir da entrevista inicial com a mãe, concluiu-se também que a família era de classe
Durante o trabalho da mãe, as crianças ficavam “trancadas” na casa e eram “cuidadas” pela irmã de
oito anos.
Material e instrumentos
Child Behavior Checklist (CBCL) (Achenbach, 1991). Consiste em uma lista de verificação
comportamental para crianças e adolescentes, de seis a 18 anos de idade. Na primeira parte deste
inventário, são apresentadas sete questões (abertas e fechadas) sobre freqüência e adequação das
atividades sociais e escolares da criança, computadas na seguinte escala: “Não sei”; “Menos que a
média”; “Dentro da Média” e “Mais que a Média”. São levantados as atividades esportivas,
passatempos e jogos favoritos, participação em clubes e/ou grupos; empregos ou tarefas em casa;
amigos íntimos; relacionamento com pais, irmãos, crianças, brincar sozinho e desempenho em
disciplinas escolares.
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Na segunda parte (questões fechadas), encontram-se 113 afirmações que descrevem
comportamentos de crianças, para serem avaliados de acordo com a escala: “0=Não é verdadeira”;
respondente.
escores totais para Problemas Internalizantes, Problemas Externalizantes e Outros Problemas. Por
fim, apresenta os gráficos em função de sintomas descritos pelo DSM: Problemas Afetivos;
(2) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola
(5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam considerados de
melhora?
18
(6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola
e outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
identificação do cliente (nome, idade e ano escolar), qual é a fonte de suas informações, qual é o
período da terapia a que se refere o questionário e se há outras intervenções sendo realizadas além
do atendimento à criança (por exemplo, orientação de pais, observação em ambiente natural etc).
Local de coleta
filmadora fixa; em um dos lados há um espelho unidirecional (não-utilizado); no outro lado há uma
janela grande e nos outros dois lados há duas prateleiras de brinquedos, um relógio de parede e uma
casinha de madeira de dois andares, com móveis de madeira e cerca de 12 bonecos de pano
representando uma família (bonecos pai, mãe, avós, bebês, crianças). No centro da sala, encontram-
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se uma mesa pequena com várias cadeiras pequenas (para crianças) e duas cadeiras com tamanho
1. Filmadora;
4 2. Porta de entrada;
3. Falso espelho;
8 4. Janela;
5. Prateleiras de brinquedos;
6. Mesa e cadeiras;
7
7. Casinha de bonecas.
6
8. Relógio de parede
3
2 5
1
dominó; lápis-de-cor; canetinhas; giz de cera; cola; tesoura; rolo de papel pardo. Além destes,
outros brinquedos guardados em outra sala do LTCUSP poderiam ser colocados na sala pela
diversos (Ex: “Jogo da Vida”; “Lince”; “Damas”; “Ludo”; “Jogo da Memória”; “Jogo dos
Sentimentos”), formas de madeira coloridas; livrinhos infantis; gravador com microfone; Mini
Primeiramente, foi solicitada junto à clínica-escola uma lista das crianças em espera por
atendimento, cujos pais já haviam sido entrevistados para realização do cadastro. Foram
selecionadas aleatoriamente crianças do sexo masculino, entre seis e nove anos de idade, com
20
queixa externalizante, considerando a maior incidência de procura de atendimento com essas
características, conforme aponta a literatura (Silvares, 1993). Já nesta etapa, foram selecionadas as
crianças Mauro e Erik, mas a adequação das queixas para a pesquisa só foi confirmada por meio da
entrevista inicial e da aplicação do CBCL. Segundo o CBCL, as duas crianças tinham problemas de
exnternalizantes. De acordo com a escala do CBCL orientada pelos critérios do DSM-IV, Mauro
obteve scores clínicos para problema opositor-desafiante e para problemas de conduta. No caso de
escala orientada pelos critérios do DSM-IV, Erik obteve score limítrofe (entre normal e clínico)
O próximo passo consistiu, portanto, no contato com os pais das crianças via telefone,
marcando uma entrevista inicial. Os cuidadores (pai ou mãe) das crianças que participam deste
estudo leram, e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), junto com a
garantido o total sigilo quanto à identidade dos clientes participantes e a ausência de riscos para os
mesmos (Anexo 1). Também assinado por esta pesquisadora, o TCLE explicitou que somente a
teriam acesso às gravações realizadas. Quanto às transcrições, os nomes das crianças foram
atividades da criança, contrato de atendimento etc. Nesta entrevista, também foi comunicado aos
21
pais que, caso eles concordassem, as sessões seriam gravadas para fins de pesquisa, quando o TCLE
consistiram em sessões semanais individuais com uma hora de duração. Todas as sessões foram
primeiras sessões do atendimento de Erik foram transcritas, obtendo-se como dados para a
pesquisa, portanto, um total de oito sessões transcritas. A escolha das sessões iniciais fundamenta-
se em dados da literatura que apontam para a importância da formação do vínculo entre terapeuta e
cliente no início do processo, inclusive como preditor de bons resultados da terapia. Apesar de ter-
se selecionado somente as gravações em vídeo das primeiras sessões para transcrição e análise, as
parte dos resultados. Essa elaboração se deu por meio da própria análise parcial dos dados (sessões
transcritas). A segunda parte dos resultados apresenta o uso das categorias criadas na análise de
todas as sessões. Sendo assim, o Tratamento de Dados a seguir também se subdivide em duas
partes, enfocando: (a) o processo de adaptação de um sistema de categorias para análise de terapia
o primeiro passo após a gravação das sessões foi a transcrição das mesmas – as cinco primeiras
sessões do primeiro cliente (Mauro) e as três primeiras sessões do segundo cliente (Erik).
terapia infantil.
c) descrições ora topográficas, ora funcionais, ou uma mistura pouco sistemática de ambos;
Apesar dessas limitações, optou-se por escolher um dos sistemas encontrados e verificar a
estudo, a lista de habilidades do terapeuta infantil de Silveira (2002), foi a primeira escolha, com as
possível necessidade de adaptação das categorias de Silveira (2002) foi feita por meio de testagem,
isto é, utilização do sistema para a categorização de trechos das sessões transcritas, analisando as
resultados: (a) a identificação de que algumas categorias envolviam o brincar, enquanto que outras
não; (b) a comparação do resultado da adaptação com outro sistema, o de Zamignani (2006, em
elaboração).
episódios verbais das sessões transcritas foram subdivididos em: (a) lúdicos; (b) não-lúdicos. Em
virtude do foco nos procedimentos lúdicos, foi realizada uma análise minuciosa dos episódios
classificados como lúdicos, identificando que as falas da terapeuta e dos clientes assumiam
diferentes relações com a brincadeira. Assim, emergiram quatro formas de interação em função do
Lúdico e Não-Lúdico. Posteriormente, em uma segunda análise, que abrangeiu todas as sessões
transcritas, foram definidas seis categorias do brincar: (1) Brincadeira-Lúdico, (2) Fantasia-Lúdico,
(3) Cotidiano-Lúdico, (4) Cotidiano Extra-Lúdico, (5) Brincadeira Não-Lúdico e (6) Não-Lúdico.
A Tabela 1, a seguir, esquematiza a relação entre a fala e a ação, na definição das seis categorias,
que combinavam o conteúdo geral da fala com o caráter lúdico ou não lúdico da interação:
23
Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das Categorias do Brincar
TEMA DA FALA AÇÃO
Brincadeira Lúdico
Fantasia Lúdico
Cotidiano Lúdico
Cotidiano Extra Lúdico
Brincadeira Não-Lúdico
(Qualquer) Não-Lúdico
A viabilidade destas categorias foi testada por meio de sua utilização em uma nova tarefa de
classificação dos episódios verbais, que se mostrou pertinente e, por isso, foi adotada neste estudo.
A definição precisa e os exemplos de cada uma dessas categorias constitui um dos resultados do
(2002) e o sistema de Zamignani (2006, em elaboração) mostrou que a maioria das categorias era
traria maiores benefícios, por ser um sistema mais completo, construído a partir de uma extensa
análise da literatura, e com a adoção de critérios funcionais para a formulação das categorias do
terapeuta, sem abandonar a importância da descrição da topografia dos comportamentos. Ainda que
esse sistema não fosse específico para a terapia infantil, ele poderia ser utilizado para categorizar os
brincar, identificadas a partir das categorias de Silveira (2002), seriam utilizadas para analisar o
brincar em TACI.
também testada verificando-se a sua aplicabilidade na análise de trechos das sessões transcritas.
Embora fosse possível o uso desse sistema, a testagem demonstrou serem necessárias algumas
adaptações para a terapia infantil. Tal decisão foi baseada na: (a) identificação da ausência de
24
descrições de interações lúdicas nesse sistema e (b) constatação de que havia comportamentos
bastante diferenciados da terapeuta sendo classificados em uma mesma categoria, o que parecia um
indício de que algumas sutilezas não estariam sendo suficientemente discriminadas pelo sistema.
Parte destas questões foi solucionada por meio de reuniões entre a pesquisadora, o autor do
chegar a um sistema único, em termos das classes mais gerais, explorando-se a possibilidade de
do brincar. Entendeu-se que esse consenso seria uma alternativa que eliminaria diversos problemas
práticos que poderiam decorrer do uso de dois sistemas distintos, um para crianças e outro para
adultos. No caso de crianças mais velhas e/ou adolescentes, por exemplo, qual sistema seria
interação lúdica com os comportamentos relevantes do cliente, procurou-se definir e classificar tais
comportamentos. Na análise das categorias do cliente, com base no sistema proposto por Zamignani
(2006, em elaboração), a categoria Oposição foi inicialmente escolhida uma vez que os dois clientes
segundo momento, a categorização de mais episódios verbais e dos resultados do CBCL mostrou
que outros comportamentos também eram relevantes para a análise, além do comportamento
opositor. Sendo assim, foi examinada também a possibilidade de uso das outras categorias
propostas por Zamignani (2006, em elaboração), optando-se pelo uso de todas as suas categorias do
cliente. Aqui, novamente, foram criadas subcategorias com base no próprio material transcrito,
25
detalhando especificidades dos comportamentos das crianças atendidas. Adicionalmente, foram
brincar e dos comportamentos do terapeuta e do cliente, o que levou à definição de categorias das
unificar seu uso para os dois tipos de clientela (adulta e infantil) e à elaboração de subcategorias do
cliente e do terapeuta.
Para efetuar o tratamento dos dados das sessões transcritas foi inicialmente definida a
unidade de análise. As sessões foram categorizadas considerando-se como unidade de análise uma
do cliente quando:
categorias;
b) Unidade de análise
etc.
etc.
no presente estudo.
Além desses itens computados em planilha do Word, foram acrescentados outros quando da
transposição desses dados para uma planilha do SPSS 13.0. Os itens adicionais incluíram: (a) Tipo
outro; (b) Cliente: “1” para Mauro e “2” para Erik; (c) Sessão: numeração de qual era a sessão
analisada (de 1 a 5 para Mauro e de 1 a 3 para Erik); (d) Subcategorias agrupadas do terapeuta:
27
agrupamento das subcategorias do terapeuta que ocorriam em mais de uma categoria; (e)
Queixa e Melhora: registro de quais comportamentos estavam sendo classificados como “queixa” e
cliente que, pela definição, favoreceriam a qualidade da relação terapêutica e daquelas que não
favoreceriam a relação. Com base nas planilhas então produzidas, as estratégias utilizadas para o
(b) análise da interação de uma categoria ou subcategoria com outra: categorias e subcategorias do
(c) Ilustração gráfica por meio de figuras, comparando-se as diferentes sessões, os diferentes tipos
(d) Agrupamentos de categorias após a elaboração do sistema: conforme a freqüência relativa com
A apresentação dos resultados a seguir foi orientada por uma lista de perguntas a respeito de
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes da terapeuta? Há mudança ao longo das sessões /
entre clientes?
(b) Que tipos de comportamentos dos clientes seguem-se aos comportamentos da terapeuta?
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes do cliente? Há mudança ao longo das sessões?
(b) Qual é a freqüência dos comportamentos de queixa e melhora do cliente? Há mudança ao longo
das sessões?
(d) Há mudança na freqüência de comportamentos do cliente que favorecem e que não favorecem
para a qualidade imediata da relação, ao longo das sessões? Há associação entre esses
(a) Qual é a freqüência de cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik? Há mudanças
anterior?
(d) Qual a relação entre as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente propostas por
(e) Qual Categoria do Brincar propicia mais comportamentos que favorecem e que não favorecem
(f) Qual tipo de interação lúdica propicia maior ocorrência de comportamentos queixa? E de
melhora?
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
resultados obtidos por meio do uso do sistema adaptado, a oito sessões terapêuticas conduzidas
Entende-se que o sistema de análise utilizado neste estudo é uma tecnologia construída e
que, portanto, deve ser considerada como Resultado, enquanto que o processo dinâmico que levou a
essa elaboração é o seu Método. O uso desta tecnologia para a análise das sessões transcritas
consiste em uma segunda etapa dos Resultados, que não apenas caracteriza o processo de terapia
cliente.
(2006, em elaboração), que as elaborou com vistas à terapia comportamental com clientes adultos.
subcategorias de modo a atender à especificidade das condições que ocorrem na terapia com
crianças.
uma breve definição de cada categoria (para a definição detalhada, ver Anexo 2), estão descritas as
adaptações sugeridas neste estudo para a utilização em TACI, com exemplos ilustrativos extraídos
da transcrição de oito sessões (cinco referentes ao atendimento de Mauro e três referentes a Erik).
30
A análise das transcrições indicou que, sob uma mesma categoria definida por Zamignani
(ainda não adaptada), estavam sendo agrupados comportamentos do terapeuta que solicitavam ou se
terapeuta (com base na história prévia de interação terapêutica, nas informações disponíveis sobre o
poderia ser essencial para definir e caracterizar a categoria e para identificar variações que poderiam
classificação dos comportamentos em subcategorias também mostrou que, muitas vezes, estas não
eram mutuamente excludentes, sendo necessário escolher aquela que melhor descrevesse cada
instância sob análise. Por isso, também aqui foram estabelecidos critérios de decisão sobre a qual
comportamento podia ser alocado em duas ou mais subcategoria, a escolha priorizou aquela: (a) que
descrevia um procedimento comportamental; (b) mais pertinente à queixa do cliente; (c) mais
que o mesmo pode ser caracterizado. Subcategorias mais complexas ou específicas têm prioridade
alternativa também, entretanto, sua resposta é monossilábica e essa distinção é importante para a
análise, porque pode implicar, por exemplo: (a) que o cliente está pouco à vontade com a terapeuta;
(b) que o cliente está desconfortável com o assunto; (c) que o cliente tem dificuldade de se
expressar utilizando frases mais longas; (d) um diálogo pouco fluente devido a tais relatos curtos. Já
a terceira resposta contém informações adicionais àquelas perguntadas pela terapeuta. A sinalização
desse tipo de resposta também é importante para a análise, podendo indicar: (a) que o cliente está
bastante à vontade com a terapeuta; (b) que o cliente fala facilmente sobre esse assunto; (c) que o
cliente é capaz de conversar com desenvoltura. Na listagem das subcategorias de Relato (RE), a
subcategoria Informação. Na segunda resposta, o cliente também está dando uma informação para o
terapeuta, porém, especificamente está fazendo isso de maneira exclamativa (com gestos,
relato exclamativo pode indicar, por exemplo, um envolvimento emocional com a atividade e/ou
3
Entre os parênteses ( ), apresenta-se a categoria ou sua sigla (RE = Relato) e, em seguida, a subcategoria. Entre
chaves [ ], apresenta-se uma complementação da verbalização da terapeuta ou do cliente, para facilitar a compreensão
do leitor, como por exemplo: “T: Erik, então escreve aqui [o seu nome]...”.
32
O segundo critério, relação com queixa do cliente, sinaliza que, sempre que possível, a
subcategoria deve ser escolhida de modo a expressar conhecimentos do analista sobre: (a) a história
do cliente; (b) seus comportamentos trazidos como queixa para a terapia; (c) o seu padrão de
C1: Minha mãe não briga comigo porque eu não fico acordando ela quando ela precisa
dormir, só meus irmãos. (opções: EX / Equivocada / Mentirosa ou EX Correta ou EX)
A Explicação (EX) da criança poderia ser categorizada como Equivocada / mentirosa, como
Correta, ou sem subcategoria (apenas EX). Esta fala foi categorizada como equivocada porque a
situações, e não apenas os irmãos. Na continuação do diálogo, a terapeuta fez mais perguntas e a
Caso a informação da terapeuta fosse de que, de fato, a criança não acordava a mãe, a
mesma frase seria categorizada como EX Correta. Caso a terapeuta não tivesse nenhuma
informação, a frase seria categorizada apenas como EX (sem subcategoria). Entende-se portanto
que, caso o categorizador não seja o próprio terapeuta, este deve fornecer-lhe a maior quantidade
critério foi elaborado em virtude da constatação de que algumas verbalizações eram complexas ou
escolheu a palavra “Raiva”. A terapeuta aceitou e concordou brevemente com o cliente, o que fez
com que sua resposta fosse alocada na subcategoria Extinção (procedimento). O conhecimento da
história do cliente (no caso, discussões extensas dos pais diante de verbalizações de sentimentos
negativos, com função reforçadora) é muito importante para a classificação adequada de respostas
como essa.
C: Vamos colocar as letras, bem rápido, na caixa? (cliente com dificuldades escolares, se
esquivando de jogo que envolve letras)
T: Vamos escrever no papel, o seu nome? (levanta e pega o papel) Vamos ver se eu sei
escrever o seu nome, hein... (RE Bloqueio de esquiva)
C: Eu sei escrever...
depende da análise da verbalização anterior, do cliente, que por sua vez, depende do conhecimento
prévio de sua história de vida e queixa. A terapeuta interrompe a esquiva do cliente, faz uma
recomendação que altera parcialmente a atividade mas mantém o tema evitado (uso de letras e
Modelo, um procedimento comportamental, além de ser congruente com o critério da relação com a
34
queixa do cliente, que era a competitividade, pois a terapeuta estava apresentando modelo de
comportamento incompatível, de “espírito esportivo”. Ainda que ele tenha cumprimentado sem
falar nada, a terapeuta aprovou esse comportamento, considerando ser satisfatória essa resposta
mínima no momento.
Deve-se ressaltar que a apresentação das subcategorias do sistema foi ordenada segundo
estes critérios, de modo a facilitar a utilização pelo analista. Observa-se, por exemplo, a ordem das
tem-se o caso de uma verbalização poder se encaixar em (2) ou em (5). Considerando os critérios de
prioridade antes definidos, a ordem indica que o analista deverá escolher a quinta opção, que tem
prioridade sobre a segunda. A seguir, são apresentadas as categorias do terapeuta e, para cada uma
destacando-se as adaptações que se fizeram necessárias para sua aplicação na Terapia Analítico-
Comportamental Infantil.
“Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate eventos, descreva,
forneça informações específicas, detalhes, ou esclarecimentos a respeito de eventos. Os
eventos cujo relato é solicitado podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos
encobertos, aspectos da história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao
comportamento do cliente e podem ter sido relatados pelo cliente ou observados pelo
terapeuta. A solicitação do terapeuta pode se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados
imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão
ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores.”
Os exemplos a seguir demonstram também que os eventos relatados podem ser tanto reais
como fantasias, este último mais provavelmente em interações lúdicas. A classificação dos
episódios verbais em função do brincar será apresentada posteriormente, em outro eixo de análise (o
expostos anteriormente, ou seja, sempre que pertinente, foi escolhida a subcategoria com
Esta categoria é particularmente útil em terapia infantil uma vez que a criança pode se
expressar com dificuldade, devido à idade, nível de desenvolvimento, ao desconforto gerado pelo
subcategoria Informação.
Exemplo 1: Terapeuta solicita que cliente com problemas de fala repita seu relato
(repetição):
C: (fala ininteligível)
T: Mudar de quê?
C: De escola, ano que vem.
Exemplo 2: Terapeuta solicita que o mesmo cliente confirme sua fala (confirmação)
solicitadas pelo terapeuta podem dizer respeito a aspectos variados, tais quais:
solicitadas não são propriamente relevantes, mas é um tipo de verbalização iniciada pelo terapeuta
que tem a função de manter o diálogo e demonstrar que o terapeuta interessa-se pelo cliente:
Outra possibilidade consiste em perguntas do terapeuta sobre assuntos ou temas triviais, que
pela criança e/ou atividade, a verificação de preferências de objetos e assuntos e ainda permitir que
propor soluções. Os desafios podem tornar a interação terapeuta-cliente mais rica, especialmente
quando o jogo por si só não proporciona isso. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para que o
terapeuta possa avaliar a reação da criança diante de tais situações. Tipicamente, o terapeuta maneja
situações que poderiam ser mais simples, para que sejam solucionadas pelo cliente. Exemplos:
compreensão do que está sendo solicitado e/ou evitando que o cliente apresente resposta errada ou
oposição. Nestas ocasiões, muitas vezes parte da resposta é dada pela terapeuta, para que o cliente a
Esta subcategoria também ocorre para outros tipos de categorias, nas quais se solicita ao
cliente outras respostas que não o Relato (como a Solicitação de Relato Qualificativo, a
a mais difícil de ser observada, ou seja, a que possivelmente envolve maior inferência. Por esse
motivo, deve ser analisada com cautela e o observador deve ter conhecimento a respeito da história
de vida do cliente, das queixas que o levaram à terapia, e do modo como ele interage com o
terapeuta. A Extinção também ocorre como subcategoria de outras categorias, como Aprovação,
Estruturação Informação.
5
O termo “extinção” está sendo utilizado para a definição de subcategoria, entretanto, convém ressaltar que na Análise
do Comportamento a extinção é um processo mais complexo que envolve a observação da redução na taxa de respostas.
A escolha do termo, nesse caso, refere-se tão somente ao fato de observar-se que são respostas em que o terapeuta
realiza uma quebra na contingência anteriormente existente (resposta reforço).
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A classificação de uma verbalização do terapeuta como SR Extinção deve obedecer a alguns
critérios. Tem-se a extinção quando a resposta do terapeuta obedece necessariamente aos critérios
como, por exemplo: verbalizações sobre competição em jogos, emitidas por uma criança trazida
(b) Essa Solicitação de Relato do terapeuta é uma resposta diferente daquelas que
normalmente se seguiriam à verbalização do cliente em seu cotidiano. Por exemplo, Cliente coloca
todos os jogadores de cabeça para baixo, olhando para a terapeuta de forma desafiadora. Terapeuta
dispõe da informação de que esse comportamento, no cotidiano da criança, seria seguido por uma
repreensão6, como por exemplo: “Não faça isso! Tinha que ser você!” Terapeuta responde com
humor: “Eles estão dormindo?”, cliente responde que sim e encerra-se a tentativa de desafio.
(c) A Solicitação de Relato do terapeuta seleciona apenas uma parte da resposta do cliente –
aquela que não corresponde à queixa. No exemplo abaixo, tem-se uma criança competitiva, que
emitia algumas verbalizações do tipo “Eu vou ganhar”; “Eu sou o melhor”; “Meu time é o melhor”.
é o melhor”), solicitando o relato apenas naquela direção. Em outras situações, o terapeuta pode
manejar de maneira consistente esse tipo de comportamento do cliente, oferecendo modelo ou até
6
Embora uma repreensão aparentemente seria uma punição, a alta freqüência destas respostas seria um indício de que
repreender teria função reforçadora, por exemplo devido à atenção dispensada à criança.
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2. Solicitação de relato qualificativo (Terapeuta solicita avaliação, julgamento ou sentimento
elaboração) como:
“Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate sua opinião ou avaliação
sobre eventos ou seu sentimento com relação a eventos. Os eventos cuja avaliação, opinião
ou sentimento é solicitada podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos
encobertos, aspectos da história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao
comportamento do cliente e podem ter sido relatados pelo cliente ou observados pelo
terapeuta. A SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO do terapeuta pode se referir
a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em
outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões
anteriores.”
Os eventos cuja avaliação, opinião ou sentimento são solicitados também podem incluir
Zamignani (2006, em elaboração), mas que não se encaixem nas outras subcategorias de
42
Solicitação de Relato Qualificativo, que têm prioridade segundo os critérios anteriormente
T: Agora tem um monte [de varetas] fácil. Você gosta mais quando tá fácil, ou quando tá
difícil também?
C: Os dois.
Quando o relato qualificativo solicitado pelo terapeuta diz respeito a sentimentos do cliente
na subcategoria SQ Sentimento. Nas sessões analisadas, foi percebido que a solicitação de relatos
qualificativos sobre sentimentos foi bastante importante para os dois atendimentos, por que
considerados pela comunidade verbal como negativos, sem serem punidas (especialmente quando
esta questão fazia parte da queixa do cliente), de aprenderem a nomear o que estavam sentindo e de
A contestação ocorre não apenas nesta categoria como também em outras categorias, como a
C: Eu vou ganhar...
T: Como você sabe?
C: Tem que ver quem tem mais.
Aqui, após a SQ Constestação, a criança parece alterar o prognóstico favorável que fez em
relação ao seu desempenho, por uma referência ao critério para classificar o vencedor. Isto sugere
constestação permitiu que a criança alterasse sua avaliação sobre o evento (apanhar), ou que
O exemplo acima mostra que o relato qualificativo solicitado consistia em avaliar, dentre
diversas letras, qual era conhecida pela criança. Esta solicitação foi classificada como de relato
qualificativo (e não apenas relato) por tratar-se de uma criança no início da alfabetização. Assim,
escolher letras conhecidas é uma atividade que, para ela, ainda exigia um processo de avaliação
(olhar para o conjunto de letras) para emissão da resposta final (mostrar as letras identificadas).
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Essa sutileza mostra como às vezes é difícil a categorização dos comportamentos, podendo ser
bastante tênue a diferença entre uma e outra categoria, a depender inclusive do conhecimento prévio
sobre o cliente.
Como a criança não havia executado na primeira tentativa, a terapeuta começou, ela mesma,
a emitir a resposta solicitada à criança, induzindo-a a dar continuidade, o que ocorreu logo em
de Relato, embora aqui o tipo de desafio proposto para a criança seja um pouco diferente, porque
sua resposta para solucionar o desafio deve avaliar o evento em questão. Por exemplo:
Note que o problema poderia ter sido solucionado pela terapeuta, entretanto, esta manejou a
situação de forma que a criança resolvesse. O mesmo ocorre no próximo exemplo, embora esta
C: Um espelho... tá quebrado!
T: É verdade, será que dá pra consertar?
C: Não sei...
terapeuta. Ela podia fazer isso de maneiras diversas, como por exemplo: inventar uma mentira, não
alterando-a, mas mantendo o tema que está sendo evitado pela criança.
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No exemplo a seguir, a criança relata que a mãe é brava porque os irmãos a acordam, e se
coloca como “o bom menino”, que nunca faz nada de “errado”. A terapeuta tem a informação de
que isso não é verdade. Assim, a criança mente para se esquivar de admitir sua participação com os
função do tempo da sessão (por exemplo, quando não sabem ler a hora), a brincar com jogos novos,
lúdicas a serem executadas dentro da sessão. Ou seja, quando a finalidade da fala do terapeuta é
regras já terem sido estabelecidas e entendidas, NÃO se categoriza Estruturação. Isso porque será
46
claro que a fala do terapeuta ocorre em relação a comportamentos clinicamente relevantes da
Terapeuta esclarece para o cliente como é o funcionamento da terapia. Não é uma categoria
muito freqüente, mas pode ocorrer principalmente no início da terapia, como quando o terapeuta se
apresenta para o cliente e explica resumidamente o que faz na atividade de trabalho (atendimento à
T: Psicóloga é aquela pessoa que conversa com os outros, pra ajudar. E aqui alem de
conversar a gente brinca, senão fica muito chato, não é verdade?
C: Hum-hum.
em que dia as sessões ocorrem. Para tanto, pode se valer de um evento conhecido pela criança,
como por exemplo o primeiro dia de aula da semana, associando-o temporalmente à ocorrência da
sessão:
terapeuta que indicam o que o cliente pode ou não fazer na sessão, estabelecendo regras e limites.
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Note que nos três exemplos a seguir as regras vão sendo construídas à medida em que a criança vai
funcionamento da terapia:
C: Quero levar um papel desse tamanho [muito grande], e um pra cada um [cliente e seus
dois irmãos].
T: Olha, desse tamanhão só se for um só, para os três, tá?
Funcionamento da Terapia, visto que o terapeuta constantemente organiza as atividades para que
ocorram dentro do tempo previsto para a sessão, anunciando para a criança o seu encerramento,
especialmente para as que não consultam o relógio ou não aprenderam a verificar as horas. Quando
a criança aprendeu a duração da sessão, pode ocorrer dela mesmo solicitar que o terapeuta estruture
T: Tá vendo esse relógio aqui na parede? Esse ponteiro compridinho tem que chegar aqui
no número 12, de pé. Quando ele andar tudo isso é porque o nosso tempo acabou.
C: E ele ainda tá longe hein!!!
T: Tá bem longe... você acabou de chegar...
T: (No início da sessão) Hoje eu vou propor uma brincadeira nova... você gosta de bala de
maçã?
C: Adoro...
(b) de forma improvisada, como quando ele adapta uma atividade que está muito entediante
ou muito difícil para a criança. No exemplo a seguir, a terapeuta procurava fazer uma avaliação com
a criança sobre uma atividade recém-encerrada, mas a criança não respondia. A terapeuta
T: Como se chama o que você fez quando deu a bala para mim?
C: (silêncio) [cliente não responde]
T: Então você vai adivinhar a palavra jogando forca, que tal? [terapeuta inicia uma
atividade de forma improvisada]
C: Hum-hum!
Terapeuta estabelece as regras de uma brincadeira. Isso pode ocorrer antes de se iniciá-la ou
T: [terapeuta lê as regras do jogo antes de iniciarem] “Você tem que ser muito rápido para
achar as figuras do tabuleiro antes dos adversários”. (coloco o tabuleiro na mesa). Ah olha, e
aqui tem as figurinhas, ta vendo... e tem que encaixar elas no tabuleiro aqui... aí você mostra
uma figura e a gente tem que tentar achar ela bem rápido... você entendeu como que faz? Vai
lá hein, quer começar?
C: (tira uma figura)
T: Quer combinar assim, ó? (durante a brincadeira) Toda vez que chegar na primeira
perninha [da forca], aí eu dou dica. Quer, quer dica?
C: Quero.
ainda assim não a segue, como que desafiando a terapeuta, não se classifica a intervenção
subseqüente como Estruturação. A seguir, tem-se um exemplo disso, em que a criança, com
o exemplo a seguir:
(comportamento opositor), que é ignorada pela terapeuta. Essa subcategoria tem prioridade sobre as
“Esta categoria é usada quando o terapeuta está escutando o cliente, mas fazendo
expressões vocais curtas que sugerem que ele está prestando atenção e que a outra pessoa
deveria continuar falando. Constituída tipicamente por verbalizações mínimas. Caracteriza-
se também por comentários breves apresentados após uma descrição, que resumem em
poucas palavras o essencial do que o cliente disse, ou inferem a continuidade da descrição,
sugerindo interesse no assunto e demonstrando que está atento ao relato.”
brincadeira, como quando ele lê um cartão de um jogo, identifica uma palavra de uma brincadeira,
gira uma roleta e diz o número indicado por ela, avisa de quem é a vez de jogar etc. Estas
seguir:
caso de crianças que relatam eventos com baixa freqüência e/ou utilizando-se de frases mais curtas.
Outra subcategoria consiste na narrativa e/ou leitura de jogos, que embora envolvam
verbalizações do terapeuta, não representam facilitação do relato da criança mas tão somente da
continuidade da brincadeira.
T: Telefone. Aqui.
C: Ai, não acredito!!!
T: Cachimbo.
C: Eu vi ele...
cliente estivesse tentando “passar a vez” da terapeuta e ela respondesse: “Agora sou eu”,
categorizar-se-ia Discordância e não Facilitação, pois o objetivo não seria apenas responder à
continuação da atividade. Isso significa que Facilitação é preterida em relação a outras categorias.
A seguir tem-se um desempenho que não pode ser classificado em Facilitação. Terapeuta e cliente
estão jogando o Jogo dos Sentimentos e fazendo mímicas sobre sentimentos. A expressão de
sentimentos positivos era uma dificuldade do cliente, percebida pela terapeuta ao longo da terapia.
C: (faz a mímica)
T: Alegre? [Interpretação]
C: Não...
O exemplo mostra que, embora seja uma verbalização curta, a relevância do conteúdo para
aquele cliente faz com que seja classificada em Interpretação, e não Facilitação.
“Esta categoria é composta pelas (...) ações do terapeuta, que indicam afeto, compreensão
e aceitação do cliente.”
A seguir, o autor lista uma variada gama de comportamentos do terapeuta, como paráfrase,
humor, exclamação, compreensão etc. Essa variedade na categoria Empatia foi encontrada na
análise de sessões, resultando em cinco subcategorias, algumas delas coincidindo com a definição
expressos pela criança de forma direta, ou de forma indireta por meio do brincar. Por exemplo:
C: Esse aqui (fantoche) não foi convidado para a festa. Ninguém queria ser amigo dele.
T: Eu estou vendo que ele ta muito triste e sozinho.
52
5.1. EM: (sem subcategoria)
Algumas vezes, o terapeuta responde com humor e/ou exclamações após as verbalizações do
cliente, não apenas na categoria Empatia, como também em outras (Aprovação e Discordância, por
apresentados após a descrição de eventos que não ações do cliente, consistentes com o assunto
Em terapia infantil, pode ocorrer quando o terapeuta demonstra que alegra-se quando a
criança é bem-sucedida na brincadeira e se entristece, junto com ela, com o seu fracasso, como nos
exemplos abaixo:
proximidade do terapeuta para com o cliente, isto é, que ele está acompanhando as atividades que
estão sendo executadas. Ao mesmo tempo, traduzir em palavras a ação e/ou o provável sentimento
da criança pode colaborar para que ela própria compreenda o que está fazendo. Neste sentido, com a
Descrição, “o terapeuta demonstra compreender os estados internos e/ou a condição à qual o cliente
está exposto, validando seus atos ou sentimentos, sem julgamento ou avaliação crítica” (Zamignani,
2006, Adaptado de Falcone, 2000). Nos exemplos a seguir, a criança estava brincando com a casa
A descrição pode ocorrer não apenas nos momentos de brincadeira, mas em outras situações,
nas quais o terapeuta traduz as expressões da criança, mostrando assim que está compreendendo-a:
C: (primeira sessão, a criança olha encantada para os brinquedos da sala sem se decidir por
nenhum)
T: E agora, tem bastante brinquedo aqui, né, fica difícil escolher...
C: Hum-hum. Quero brincar com a casinha.
pelo cliente, quando tal relato não sugerir a solução de algum problema” (Zamignani, 2006, em
Verbalizações empáticas podem, naturalmente, servir de modelo para que a criança também
se comporte empaticamente. Além disso, o terapeuta pode, ainda, utilizar-se da empatia para,
à queixa da criança. No exemplo abaixo, os pais da criança queixavam-se de seu “egoísmo”, que na
C: “Você deve impostos, pague 50 mil” (lendo o cartão do jogo)... Ih, eu não tenho!!!
Precisava de 50 mil... mas só tenho 31 mil...
T: Vamos fazer assim, eu vou emprestar dinheiro pra você.
C: Yesss!!!
Trata-se de uma verbalização do terapeuta que ocorre como conseqüência positiva de uma
ação ou verbalização anterior da criança. A topografia da Aprovação, por vezes, pode ocorrer pela
repetição da verbalização do cliente, indicando que o terapeuta concorda com o que foi dito. Na
TACI, a aprovação ocorre também após ações motoras imediatas da criança na situação terapêutica,
terapeuta “confirma ou relata estar de acordo com afirmações verbalizadas pelo cliente”. Também
se encaixam nesta subcategoria verbalizações nas quais o terapeuta aceita ou segue uma solicitação
T: Pode fazer por 50? 50 eu tenho... (dá o “dinheiro” imaginário para o cliente).
C: Obrigado.
T: De nada! (aprova o agradecimento da criança)
A AP Descrição / Repetição é muito importante, porque sinaliza para a criança qual foi o
C: “[terapeuta]”.
56
T: Isso mesmo, “[terapeuta]”, você tem boa memória sabia? Lembrou direitinho... sua mãe
falou pra você?
“Verbalizações nas quais o terapeuta discorda do cliente, mas o faz de forma a ressaltar
subcategoria de AP Contestação. Esta contestação visa salientar que o cliente estava equivocado,
T: Tá, mas vamos esperar um pouquinho então, joga ainda mais um pouco com os
vermelhos (...)
C: Gooool!!!
T: Falei!!! (dá risada)
C: Nove [letras]????
T: Mas você sabe que quando a palavra é grande, é mais fácil??? É porque um monte de
letras que você falar, vai aparecer aqui!!!
C: “A”.
T: Viu só, tem dois A!!!
brincadeiras. Nestas, as exclamações podem consistir de frases com entonação bastante exclamativa
ou mesmo de interjeições, que denotam que o terapeuta está aprovando o desempenho do cliente.
C: É. Gol!
T: Corinthians recupera e já está com seis goools!!!
C: E São Paulo, dois gooools!!!
C: Aê, Gol.
T: Foi gol! Esses dois times são muito bons, hein?
meio de Aprovação também segue os mesmos critérios definidos anteriormente. Entretanto, neste
caso, o terapeuta aprova parte do comportamento anterior do cliente, exceto aquele que se
caracteriza como queixa. A subcategoria Extinção precede a subcategoria Modelo devido ao critério
C: Eu estou ganhando.
T: Você está indo bem.
por outros, desde que a análise do terapeuta demonstre que esse tipo de conseqüência funcione, para
como a raiva, era seguida de repreensões e sermões do pai que, segundo a hipótese da terapeuta,
eram reforçadores devido à atenção dispensada à criança. A reação da terapeuta se encaixa nos
critérios de extinção:
“Verbalizações nas quais o terapeuta relata eventos ou informa o cliente sobre eventos, que
não o comportamento do cliente ou de terceiros, estabelecendo ou não relações causais ou
explicativas entre eles.”
categoriza-se Estruturação e não Informação. Isso porque, neste caso, o objetivo do episódio será
estruturar a sessão para a ocorrência de uma atividade. A categoria Informação foi subdividida em:
C: “Seu bode comeu orquídeas premiadas, pague 3 mil” Hahahaha.... ih, eu não tenho...
T: Então eu vou anotar aqui, tá? Esses 6 mil da casa... e 3 mil do bode...
C: Ai ai ai.... E agora? “Dia do pagamento”!!!!
aprovando nem reprovando a criança, são categorizados em IF Exclamação / humor. Por exemplo:
Certas vezes, as informações fornecidas pelo terapeuta podem implicitamente ter a função de
modelo. No exemplo a seguir, a criança emitia comportamentos de birra e reclamações toda vez que
tinha que “pagar” no Jogo da Vida. A terapeuta se comportava do modo oposto, servindo de modelo
T: Olha só, agora eu posso ir por dois caminhos, então eu vou ver primeiro qual deles é o
melhor... vejamos... por esse aqui eu não ganho nada nem perco nada... já por esse outro
aqui... “receba 280 mil!”
C: Eeeeita!!! O quê???
verbalização da criança, que está associada à queixa. No exemplo a seguir, a criança estava
comemorar o trajeto feito por ambos. É possível que a entonação da voz da terapeuta tenha sido
muito importante: enquanto a criança gritava sobre a vitória, a terapeuta falou em tom neutro.
O terapeuta pode fazer uma interpretação com o objetivo de fornecer para o cliente um
T: Não... Ai, meu Deus, está na hora da dica... deixa eu ver como eu vou te dar... vou pensar
numa dica. É assim, quando você ta fazendo uma conta de matemática muito difícil, aí você
faz e erra, faz e erra, faz e erra... mas você quer fazer... aí você tem que ter muita _ _ _ ????
C: Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!!! Paciência!!!!!!!
61
8.3. IP: Extinção
O terapeuta fornece uma interpretação alternativa à dada pelo cliente. Será categorizado em
Extinção desde que a verbalização anterior do cliente esteja associada à queixa. Por exemplo:
C: Eu estou conseguindo te ganhar hein... eu estava com cinco e você com sete... e agora eu
fiz um gol e depois o outro!
T: É viu só... com o treino a gente vai melhorando.
C: Será que eu ganho?
Observa-se que, neste exemplo, o cliente continuou a falar sobre ganhar depois da fala da
terapeuta. Por outro lado, talvez sua segunda resposta (“será que eu ganho?”) seja mais fraca do que
a primeira, já que ele colocou em dúvida aquilo que anteriormente afirmava com mais certeza (“eu
Terapia Infantil, a Recomendação se refere não apenas a conselhos ou tarefas que a criança deva
realizar fora da sessão, mas também a desempenhos da criança no brinquedo ou jogo que está sendo
a resposta é uma ação, enquanto que na Solicitação de Relato Qualificativo, solicita-se uma
avaliação, opinião ou julgamento. Entretanto, em ambas é possível propor à criança uma situação
problema ou desafio para que ela resolva. Com os desafios o terapeuta pode criar a oportunidade de
avaliar como a criança lida com os problemas (aceita, recusa, negocia, faz tentativas etc) e
eventualmente ensinar maneiras alternativas, quando necessário. Também pode ser um recurso para
tornar a atividade mais atrativa, envolvendo a criança, especialmente quando estiver muito simples
T: Agora vamos negociar esse dinheiro aí... Acho que 50 mil tá muito caro, um pneu custa
menos, custa cinqüenta reais.
C: Cinqüenta.
criança nas quais o próprio terapeuta contribui com parte da resposta que deseja que a criança
emita, o que torna tal resposta mais fácil para a criança, diminuindo o risco de que ela se recuse ou
63
não consiga executá-la. Isso pode ocorrer inclusive no plano motor, como mostra a seguir o
exemplo do início de uma terapia, no qual a criança ainda estava bastante receosa:
O direcionamento pode ocorrer quando o terapeuta percebe que, sem tal auxílio, a criança
associado a um comportamento que o terapeuta deseja que ocorra a seguir. Por exemplo:
O terapeuta pode solicitar que a criança o imite, servindo de modelo para o comportamento
T: Vem cá, me cumprimenta que nem eu fiz com você ontem. (estende a mão para ele)
Obrigada.
C: (cumprimenta, sem falar nada)
quando o terapeuta anuncia que está ensinando à criança uma alternativa ao seu comportamento
anterior. No exemplo que se segue, a terapeuta elaborou um desafio cuja solução seria um
64
comportamento de cooperação. O cliente acaba conseguindo solucionar sem cooperar e a terapeuta
T: Conseguiu?
C: Sim.
T: Posso te ensinar um jeito mais fácil? (...) É assim: come a bala você (T abre a bala para
C comer)
C: Hahaha...
T: E agora, o que você vai fazer para me ajudar? (...)
C: (pega a bala dá para T comer, do jeito que ela mostrou)
exemplo a seguir, a criança havia falado que “quem está ganhando tem que dar os pontos para o
outro, porque Deus não gosta”. A terapeuta informa uma alternativa: “ensinar o outro a ganhar
pontos também” e, em seguida, ao invés de tentar ensinar o cliente, sugere que este a ensine a jogar
o pega-varetas:
Por meio de recomendações, o terapeuta pode bloquear uma esquiva imediatamente anterior
C: Vamos guardar as letras bem rápido? (cliente se esquivando de brincadeira com letras)
T: Vamos escrever o seu nome aqui, antes?
C: Vamos.
relato, semelhantes às de clientes adultos, como também com relação a verbalizações e ações
implicam somente na correção de fatos ou relatos equivocados, emitidos pelo cliente. O equívoco
do cliente pode ter sido proposital (para desafiar o terapeuta) ou acidental. Por exemplo:
O humor ameniza a aversividade desse tipo de verbalização, evitando que a relação entre o
T: “Raiva”.
C: Ah, eu pensei que fosse “Raiza”
T: “Raiza” eu não conheço, como é que alguém faz quando fica com “Raiza”?
C: Hahaha...
comportamento do cliente, direciona-o para o comportamento desejado pelo terapeuta, evitando que
cliente. Assim, o terapeuta contesta a adequação da mesma, com o objetivo de dar ao cliente a
contestação, e que contestar pode ser o início de um diálogo no qual o terapeuta combina outros
tipos de verbalizações para, ao final, levar o cliente ao comportamento desejado. Veja o trecho
abaixo:
Inclui-se aqui as discordâncias nas quais o tom de voz do terapeuta transparece que está irritado
C: (joga a bola para fora do campo com a mão, para colocá-la no lugar errado de propósito)
T: É aqui, você não se garante não? O seu goleiro é bom!
C: Golaço!
A Tabela 4, a seguir, apresenta as categorias do cliente, tal como propostas por Zamignani
Comportamental Infantil:
68
8. Metas (MT)
Segue-se uma definição resumida de cada uma das categorias e subcategorias (para a
definição completa, ver Anexo 3). Quando necessário, apresenta-se também particularidades deste
tipo de resposta no caso do cliente infantil. Em seguida a cada categoria, são listadas todas as suas
procedimentos)
Esta categoria inclui diferentes tipos de pedidos ou questões efetuados pelo cliente, a saber:
(1) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta informações, confirmações ou
esclarecimentos a respeito de eventos, da racional da terapia ou do andamento da sessão.
Os eventos cuja informação é solicitada podem incluir (a) eventos ocorridos/ relatados
imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão
ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores ou em outros momentos da vida do
cliente ou do terapeuta. (Zamignani, 2006, em elaboração).
A categoria Solicitação é particularmente distinta das demais, porque é uma interação verbal
iniciada pela criança, enquanto que grande parte das outras são, pela própria definição, respostas da
criança a uma verbalização iniciada pelo terapeuta. Além da variedade de pedidos e questões, já
presente na definição da categoria Solicitação, na análise das sessões de TACI foram encontradas
subseqüente ou futuro. A solicitação pode ocorrer por meio de gestos, verbalizações explícitas ou
Exemplo 1
Exemplo 2
C: Posso ir no banheiro?
70
T: Pode, vem, eu vou te mostrar onde é.
C: (levanta e sai com terapeuta)
Exemplo 3
personagens da atividade lúdica) ou comportamento a ser emitido por ambos – terapeuta e cliente .
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
C: Ei, mocinha (fala para a boneca), você pode guardar o meu dinheiro aí? Obrigado!
Exemplo 4
jogos, opinião do terapeuta e assim por diante) e perguntas pessoais possivelmente indicativas de
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
Exemplo 4
OBS.: Nos casos como o do Exemplo 4, o terapeuta deve decidir o quanto pode se expor
Inclui pedidos da criança para alterar uma regra ou combinado prévio e é um indicador
importante sobre a forma como ela lida com algumas situações problema (se tenta negociar por
meio de argumentos que convençam o terapeuta ou se procura obter o que deseja por meio de birras
e choramingos) bem como sobre sua persistência e flexibilidade na negociação (se desiste
Exemplo
quanto eles podem ser representativos do envolvimento deste com a brincadeira, o terapeuta e/ou o
conteúdo ou forma: (a) responder de imediato (impulsivamente), sem atentar para o significado da
solicitação feita pelo terapeuta; (b) responder com informações equivocadas ou (c) responder
“qualquer coisa” ou dizer que não sabe, exceto quando está se opondo à tarefa (o que será
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
cabeça, que não contemplam toda a informação solicitada ou não se caracterizam por uma frase
completa. Os relatos curtos são importantes de serem diferenciados porque contribuem para um
diálogo pouco fluente, podendo ser decorrentes de perguntas fechadas do terapeuta (que requerem
apenas respostas “sim” / “não”), mas também podendo implicar em outros fatores, tais quais: (a) o
cliente está pouco à vontade com o tema, o terapeuta ou o atendimento; (b) o cliente tem
Exemplo
Cliente responde com verbalizações que contemplam toda a informação solicitada e/ou
Exemplo
por exemplo, nomeando cartões de jogo, lendo o tabuleiro, falando o número da roleta, indicando
Exemplo 1: Terapeuta e cliente estão falando os nomes dos objetos desenhados nos
cartões do jogo:
Exemplo 2: Cliente gira a roleta e fala os números enquanto movimenta seu peão. No
C: (gira a roleta) Deu oito. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito. “Nasceram gêmeos,
receba os presentes!”
T: Legal, você vai querer dois meninos, duas meninas ou um casal?
humor ou risos, que podem ser tomados como um indicador de seu envolvimento com a atividade, o
terapeuta e/ou o atendimento. Esta subcategoria também ocorre para outras categorias do cliente,
Exemplo 1
Exemplo 2
Cliente apresenta relato que inclui informações não solicitadas sobre eventos ou pessoas.
Exemplo
75
T: Era vira-lata [seu cachorro]?
C: Era, meu pai achou aqui na USP, e levou lá pra casa.
nas quais o cliente interpreta bonecos, fantoches e desenhos. Nesse sentido, a descrição pode
ocorrer tanto na terceira pessoa (cliente relatando o que os personagens estão fazendo ou pensando)
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
3. Relato Qualificativo (Cliente relata sua opinião, julgamento ou sentimento com relação a
eventos)
Verbalizações nas quais o cliente relata eventos ao terapeuta de forma que inclui sua
opinião, julgamento ou sentimento sobre tais eventos, desde que tal relato não
contenha relações explicativas ou causais. (Zamignani, 2006, em elaboração).
Na TACI, muitas vezes a criança não relata a opinião ou sentimento sobre um evento mas,
ao invés disso, relata o evento de forma qualificativa por meio da entonação de risos e humor que
subcategorias:
Exemplo
T: Anel... achei...
C: Eu vou ganhar...
T: Mas como você vai contar os pontos?
Cliente relata sentimentos (raiva, alegria, tristeza), associados ou não a eventos ou pessoas
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
T: Vou fazer [a forca] de um sentimento que eu acho que você está hoje.
C: Feliz!!! Acertei?
T: Hahaha... sem comentários! (cliente acertou)
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 1
Exemplo 2
T: O meu jogador (de pebolim) é o Rogério. Opa agora eu faço hein... mais pra cá... com
calma e...
C: Uhhhh (não fiz o gol). É, o Ronaldinho Gaúcho é bom. Ai, vai vai vai!!! Mais um
pouquinho e eu faço um gol... (espontâneo)
Verbalizações nas quais o cliente relata mudanças ou melhora com relação à queixa clínica,
a problemas médicos, a comportamentos relacionados à sua queixa, ou a comportamentos
considerados, pelo cliente ou pelo terapeuta, como indesejáveis ou inadequados
(independentemente da concordância de ambos quanto à melhora). . (Zamignani, 2006, em
elaboração).
nas sessões analisadas. É provável que esta categoria seja mais freqüente em estágios mais
avançados de terapia e também em terapia de adultos. Estudos futuros poderão testar tais hipóteses
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou deixa implícito, fazendo ou não uso de
metáforas ou analogias: (1) relações explicativas ou causais - relações do tipo "se... então”;
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos sem explicitar caráter
causal; (3) sínteses ou conclusões formuladas sobre seu comportamento ou sobre outros
eventos, independentemente da concordância do terapeuta; (4) padrões de comportamento
do cliente ou de terceiros. (Zamignani, 2006, em elaboração).
78
Cliente verbaliza uma relação entre eventos que é claramente equivocada ou que distorce,
dissimula ou mascara evento conhecido pelo terapeuta. Para que a verbalização seja classificada
nesta subcategoria, o observador deve ter informações que indiquem a não correspondência da
Exemplo
Exemplo
Verbalizações nas quais o cliente descreve comportamentos, estados ou situações que ele
gostaria de atingir com a ajuda do terapeuta. (...) Verbalizações nas quais o cliente
contribui com planos para mudar sua estratégia de ação por conta própria. (...)
Verbalizações nas quais o cliente propõe ações futuras (solicitadas ou não pelo terapeuta)
para a solução de problemas específicos. Zamignani (2006, em elaboração).
79
Não foram elaboradas subcategorias para Metas, devido à baixa freqüência de ocorrência
nas sessões analisadas. As verbalizações classificadas como Metas diziam respeito a atividades que
Exemplo
Na TACI, a concordância pode ser também não verbal, expressa por meio de seguimento de
A concordância se expressa de forma monossilábica (“Sim”; “É”, “Ok” etc) ou por meio de
gestos que indicam concordância, como um aceno de cabeça significado um “sim”. Esta categoria
geralmente ocorre após um pedido de mera confirmação por parte do terapeuta e a análise destas
80
verbalizações pode dar pistas sobre como o cliente reage a solicitações: se ele concorda
Exemplo
terapeuta como em atividades lúdicas nas quais o cliente está interpretando um personagem.
Exemplo
T: Pode fazer por $50? $50 eu tenho... (dá o “dinheiro” imaginário para a criança)
C: Obrigado.
T: De nada!
para fins específicos (como o ensino um repertório de comportamentos de civilidade, por exemplo),
classifica-se essa expressão em outra subclasse mais apropriada segundo os critérios definidos
Exemplo
execução das atividades solicitadas ou recomendadas pelo terapeuta, dentro da própria sessão.
81
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
T: Uuuu... o pneu desse carrinho tá furado... olha... olha aqui... (“furado” no plano da
fantasia)
C: (Olha o pneu)
T: “O meu pneu furou, tem como você consertar para mim?”
C: (Faz que sim com a cabeça e coloca o carro sobre o caminhão).
Exemplo 1
T: Aqui tem uma coisa que você gosta muito! (pega um cartão com o desenho de batatas-
fritas)
C: Hahahaha....
Exemplo 2
Exemplo 1
terapeuta)
Exemplo
uma solicitação do terapeuta ou de personagem por ele representado. A recusa pode ocorrer sob
diferentes formas:
Exemplo 1
Exemplo 2
(b) Cliente permanece em silêncio após uma solicitação ou recomendação (exceto quando
Exemplo 3
Exemplo 4
Exemplo 5
OBS.: Aqui, a última verbalização do cliente, quando questionado sobre o valor da nota,
confirma que ele deu qualquer resposta (ao invés de fazer o cálculo e apresentar a resposta correta),
Exemplo 6
Exemplo
T: (faz um desenho)
C: Eita, mas que menino cabeçudo que você fez!
Cliente expressa oposição por meio de ações ou verbalizações que confrontam o terapeuta,
as regras da terapia ou dos jogos. Uma ação ou verbalização somente é classificada como Oposição
quando está é evidente que o cliente tinha conhecimento de tais regras. Detalhes não-verbais, como
a maneira de olhar e os gestos, também contribuem para caracterizar essa subcategoria, que é mais
Exemplo 1
Exemplo 2
OBS.: Neste segundo exemplo, mais sutil, a verbalização do cliente expressa concordância
com o terapeuta mas seu comportamento não verbal contraria isso, demonstrando oposição.
85
8.5. OP: Insistência
(sedutor), de uma solicitação de algo que já estava estabelecido como não sendo possível de ocorrer
como, por exemplo: estender o horário da sessão, burlar as regras de um jogo, levar brinquedos
embora da clínica para casa etc. Muitas vezes, as ações e verbalizações classificadas como OP
Exemplo 1
Exemplo 2
T: Você não tinha dado o branco para mim? Quando se dá, não pode pegar de volta assim...
C: Deixa vai, eu me arrependi, estou com muita saudade dele...
como problemáticos e associados às queixas que o levaram à terapia. No caso de Mauro, por
ações ou verbalizações do cliente podem ser classificadas também em uma destas quatro
C: Minha mãe falou que se eu não comesse cenoura eu não podia comer o danone.
T: E aí, o que você fez?
C: Eu peguei escondido... hehehe... CQ-a (comportamento-queixa de oposição)
como opostos ou alternativos aos comportamentos queixa. São normalmente incompatíveis com
estes e fazem parte do repertório de comportamentos que o terapeuta objetiva instalar. No mesmo
caso (de Mauro), a terapeuta elencou os seguintes comportamentos de melhora, que o cliente
colaboração; (b) expressão de sentimento positivo; (c) espírito esportivo; (d) autocontrole /
T: Nessa brincadeira eu vou amarrar você e depois me amarro. É difícil porque você não
pode me ajudar... (brincadeira que envolve cooperação para obtenção de balas)
C: Eu posso! CM-a (comportamento de melhora, de colaboração)
T: Pode? Então ajuda!
A seguir, são definidas e exemplificadas cada uma das configurações de interação terapeuta-
cliente em função do brincar, com exemplos ilustrativos retirados das sessões analisadas. Interações
lúdicas foram definidas como as interações terapeuta-cliente que envolvem o uso de jogos,
brinquedos ou brincadeiras.
1. Brincadeira-Lúdico
87
Episódios verbais de interação lúdica, com conteúdo restrito às falas próprias do brinquedo,
brincadeira ou jogo. As falas incluídas nessa categoria podem se referir à leitura do jogo, execução
da atividade definida pelo jogo, comentários sobre o andamento da brincadeira, e assim por diante.
Critérios de exclusão: (a) a ação ou verbalização não apresenta conteúdo de fantasia; (b) a
terapeuta adivinhar:
T: É com Z? Zangado?
C: Quase, quase, quase!!!
T: Zanga?
C: Acertou!
próprios desenhos:
T: Vamos fazer nós dois sobre coisas do mar? Eu vou fazer um peixe.
C: E eu vou fazer um tubarão.
T: Faz, eu quero ver.
C: Eu não sei se vai ficar bom...
T: Não tem problema se não ficar perfeito, viu.
2. Fantasia-Lúdico
Episódios verbais de interação lúdica, com conteúdo de fantasia. Entende-se por fantasia, as
ações ou verbalizações que extrapolam os limites físicos do brinquedo, brincadeira ou jogo, por
meio de representação de papéis, imaginação, simulação, faz-de-conta etc. As falas incluídas nessa
criança.
narram o jogo:
3. Cotidiano-Lúdico
Episódios verbais de interação lúdica, cujo tema, ainda que pertinente ao brinquedo, jogo ou
brincadeira, é direcionado para a obtenção de relatos sobre o cotidiano da criança. As falas incluídas
nessa categoria referem-se a associações entre, por exemplo, brincar de escolinha e conversar sobre
comportamentos dos familiares em relação à criança; brincar com um jogo qualquer e questionar
curso.
Exemplo 2: Terapeuta e criança estão brincando com bonecos. Criança começa a “encenar”
a boneca-mãe gritando com os filhos e terapeuta busca confirmar suposição de que isso
4. Cotidiano Extra-Lúdico
Episódios de interação lúdica, onde as duas atividades (brincar e conversar) estão apenas
temporalmente relacionadas, mas independentes: o brincar é ação (geralmente motora) que ocorre
paralelamente à uma interação verbal sobre diferentes temas não pertinentes ao jogo, brinquedo ou
brincadeira. As falas incluídas nessa categoria referem-se, por exemplo, conversar sobre escola
enquanto se brinca de modelar argila; conversar sobre família enquanto de colore um desenho não
referir ao cotidiano da criança, mas não estar associada ao tema do brinquedo, brincadeira ou jogo
em curso.
sobre o pai deste. O assunto não tem nenhuma relação com o jogo:
T: Qualquer pouquinho da bola que passar pela linha é gol então hein. (Brincadeira-
Lúdico) Com quem você falou que você joga? (Cotidiano-Lúdico)
C: Ah, com o V. Mas ele não mora na minha casa. Ele mora bem longe da minha casa, aí eu
vou de carro. A gente briga mas depois faz as pazes.
T: Quando vocês se vêem? (Cotidiano Extra-lúdico)
C: Nos sábados, domingos e feriados.
T: E ele também gosta de jogar? (volta para Cotidiano-Lúdico)
C: É. Gol! (Lúdico-Brincadeira)
5. Brincadeira Não-Lúdico
Episódios verbais de interação não lúdica, com conteúdo referente a brinquedo, brincadeira
ou jogo. As falas incluídas nessa categoria podem se referir a: comentários sobre brincadeira já
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser não-lúdica; (b) a ação ou verbalização deve
6. Não-Lúdico
quaisquer temas exceto brinquedo, brincadeira ou jogo. As falas incluídas nessa categoria se
referem, por exemplo, a: apresentar-se, fornecer informações sobre a terapia, dialogar sobre o que a
Critério de exclusão: (a) a ação ou verbalização não deve apresentar conteúdo referente a
T: O que o seu pai me disse foi que você conversa demais na escola...
C: É verdade...
Com base no sistema construído no presente estudo, apresenta-se, agora, a análise de oito
sessões transcritas, do atendimento de dois clientes: Erik e Mauro (nomes fictícios). A apresentação
92
dos resultados está organizada com base em três grandes grupos de análise, dentro dos quais foram
construídas para este sistema e que podem ainda ser reagrupadas conforme sua possível função
poderiam ser consideradas específicas desse contexto de atendimento e, portanto, examinadas com
mais destaque. Tais agrupamentos, que constituem um eixo adicional de análise, utilizado no
Tabela 5. Reagrupamento das subcategorias do terapeuta que pertencem a mais de uma categoria,
em subcategorias que sugerem procedimentos específicos e que poderiam ser consideradas típicas
de terapia infantil.
Tipo de agrupamento Subcategorias Pertencentes às seguintes
categorias:
Subcategorias do terapeuta 1. Modelo EM, AP, IF, IP, RE
que sugerem procedimentos 2. Extinção SR, ES, AP, IF, IP
específicos 3. Bloqueio de Esquiva SQ, RE
1. Desafio / Solução de SR, SQ, RE e DI
Problema
2. Direcionamento / Dica SR, SQ, RE e DI
Subcategorias que poderiam 3. Estruturação de ES-Início / mudança /
ser consideradas mais Brincadeira término da brincadeira e ES-
pertinentes ou típicas de Funcionamento da
terapia infantil brincadeira
4. Narrativa e leitura de jogo FA
5. Humor / Exclamação EM, AP, IF, DI
6. Descrição EM, AP, IF
agrupamento funcional em dois grandes grupos: (a) subcategorias de comportamentos que poderiam
contribuir para a qualidade imediata da relação terapêutica e (b) subcategorias que poderiam não
contribuir para a qualidade da relação. Do conjunto total das subcategorias do cliente, nove foram
A quantidade total e os tipos de unidades analisadas nas oito sessões de atendimento de Erik
Tabela 6. Valores e porcentagens das unidades de análise nos atendimentos de Mauro e Erik.
Mauro Erik Total
Tipo de Unidade
N % N % N %
T-C 668 77,5% 417 78,5% 1085 77,8%
T 138 16% 69 13% 207 14,8
C 56 6,5% 45 8,5% 101 7,2
Total 862 100% 531 100% 1393 100%
análise. As três primeiras sessões de Erik compõem-se de 531 episódios verbais. O total de
episódios verbais, das duas terapias, que formam os resultados que serão apresentados a seguir, é de
do cliente (T-C) totalizaram 668 (77,5%) no atendimento de Mauro e 417 (78,5%) no de Erik,
constituindo maioria nos dois atendimentos. As unidades formadas por apenas um comportamento
unidades de análise formadas por apenas o comportamento do cliente (C) ocorreram 56 vezes
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes da terapeuta? Há mudança ao longo das sessões /
entre clientes?
ao longo das sessões, a Figura 2, a seguir, apresenta o percentual dos comportamentos da terapeuta,
Mauro
25 Erik
Média
20
Perce ntage m
15
10
0
SR RE AP IF SQ ES DI FA EM IP
Categorias do terapeuta
Figura 2. Percentagem de verbalizações da terapeuta nas cinco sessões de Mauro (N=805) e de três
sessões de Erik (N=486), para cada Categoria do Terapeuta.
categorizadas em cada Categoria do Terapeuta de modo que, para cada atendimento, a soma das
Relato, independentemente de quem foi o cliente, totalizando 25,3% no atendimento de Erik e 22%
acentuadas: a terapeuta fez consideravelmente mais recomendações para Erik, enquanto que as
7
Considera-se uma verbalização tudo o que o terapeuta disse ou fez dentro de uma unidade de análise.
95
45
1a sessão
40 2a sessão
3a sessão
35
4a sessão
30 5a sessão
Percentagem
25
20
(a)
15
10
0
SR AP SQ FA RE ES IF DI EM IP
Categorias do Terapeuta
40
1a sessão
35 2a sessão
3a sessão
30
25
Percentagem
20
15 (b)
10
0
SR IF AP RE DI SQ ES FA EM IP
Categorias do Terapeuta
Figura 3. Percentagem de verbalizações da terapeuta por categoria, ao longo das sessões de Mauro
(a) e Erik (b).
No eixo X dos gráficos (a) e (b), estão ordenadas as Categorias do Terapeuta, de acordo com
a percentagem de ocorrência na primeira sessão de Mauro (a) e na primeira sessão de Erik (b). Os
sessão.
Antes de analisar os gráficos anteriores, convém fazer uma ressalva a respeito dos dados da
segunda sessão de Erik, que foi atípica devido a circunstâncias externas à terapia. Na semana
prevista para essa sessão, o cliente faltou. Quando a terapeuta entrou em contato com sua mãe,
soube que Erik havia visto seu avô esfaqueado na rua, devido a dívidas de jogo. A mãe estava
bastante abalada e, em supervisão, decidiu-se que mãe e filho participariam do início da sessão. Este
início não fez parte dos dados de análise, mas somente a segunda parte da sessão, de horário
reduzido (cerca de meia-hora). De todo modo, esse incidente pode ser percebido nas diferenças
Qualificativo e, acima de tudo, grande aumento nas verbalizações de Empatia (8,8%; o quádruplo
em relação à primeira sessão). Esses dados apontam que é possível que os comportamentos da
especialmente entre a primeira sessão e as demais, indicaram que a primeira sessão teve
terapia, quando a terapeuta fez diversas perguntas com o propósito de conhecer o cliente (“Quem é
mais velho, você ou sua irmã?”; “Quantos anos você tem?”). Além disso, várias perguntas eram
feitas durante um jogo (“Lince”), tais quais: “Que raça era seu cachorro?”; “E doce, o que você
gosta?”. Pode-se inferir que tais perguntas, juntamente com a baixa freqüência de verbalizações de
Discordância, sejam uma estratégia da terapeuta na formação de vínculo com o cliente, o que é
97
coerente com um dos objetivos relatados pela mesma para o início da terapia, no Questionário de
Objetivos Terapêuticos.
seguintes. A análise do conteúdo indicou que grande parte destas verbalizações de Estruturação
ocorreu enquanto a terapeuta ensinava jogos novos. Na terceira sessão, por exemplo (de maior
T: Não, é assim ó. Não deu 9? Então você só vai ler o que está na nona casa.(Estruturação)
C: (lê a nona casa): „Médico, salário de 50 mil, ande mais 6 casas‟.
Na sessão seguinte (quarta), a Estruturação caiu para 11,8%, quando “Jogo da Vida” foi
repetido e Mauro já lembrava de algumas regras de seu funcionamento. Outras características das
(b) Que tipos de comportamentos dos clientes seguem-se aos comportamentos da terapeuta?
Afim de facilitar a apresentação dos dados, a Figura 4 é representada por duas peças que se
A análise da Figura 4 traz uma informação bastante interessante a respeito da interação entre
comportamentos do terapeuta, em metade delas houve concordância entre Mauro e Erik com
Pode-se demonstrar, a partir daí, uma relação do tipo “chave-fechadura” entre os dois eixos de
categorias – do terapeuta e do cliente. Isso significa afirmar que, para algumas verbalizações do
terapeuta, há certos tipos de verbalizações do cliente mais prováveis de as sucederem. Assim, para a
grande maioria das verbalizações da terapeuta classificadas como Solicitação de Relato, seguem-se
Relatos dos clientes. Por outro lado, Recomendações da terapeuta produziram Concordância,
mesmo no caso de Mauro, que foi encaminhado à terapia principalmente por problemas de
categorias. Ainda assim, há duas ressalvas a serem feitas sobre essa discussão. Primeiramente, de
que das cinco correlações salientadas em itálico na Figura 4, três delas envolvem Relato como
comportamento subseqüente dos clientes. De fato, a categoria Relato superou todas as outras
categorias em freqüência, totalizando cerca de 45% de todas as verbalizações dos dois clientes nas
sessões analisadas, o que indica que esta é uma categoria central. Essa informação levanta algumas
questões, a serem consideradas para atentar aos dados com cautela e também para investigações em
pesquisas futuras: a categoria Relato poderia ser desmembrada em categorias mais específicas,
evitando-se que ela abarcasse uma porcentagem tão grande de comportamentos dos clientes? Caso
desse cliente, extraído do Questionário de Objetivos Terapêuticos, era fonoaudiológico – sua dicção
era de difícil compreensão. Nas três sessões analisadas, observou-se 16 verbalizações de Erik
classificadas como Registro Insuficiente principalmente devido a esse motivo, contra apenas uma
verbalização de Mauro que não foi compreendida, em cinco sessões. Pode-se supor que essa
característica tenha prejudicado o andamento dos diálogos durante as sessões, influenciando o tipo e
a incidência de categorias do terapeuta e também do cliente. Essa é uma questão que poderá ser
esclarecida a partir de novos estudos, em que se acumulem dados de mais clientes e terapeutas,
verificando-se quais são as verbalizações do cliente que se mantêm como mais freqüentes após as
verbalizações dos terapeutas. Outra questão relevante está na variável “idade” dos clientes, visto
que Erik era dois anos mais novo que Mauro e o diálogo com crianças muito novas pode ter
peculiaridades.
dados serão apresentados aqui de forma agrupada. A Figura 5, a seguir, apresenta a porcentagem
(d) 10,3
(l) 31,9
(e) 8
(a)
(f) 6,9
(g) 6,6
(a) 0,60
(b) 2,9
(c) 1
(d) 10,2
(e) 0,6
(b)
(g) 12,4
(h) 2,2
(i) 6,4
supostamente típicas de terapia infantil estão quadriculadas, totalizando 46,4% na terapia de Mauro
e 39,6% na de Erik. A subcategoria SR Informação, com alta freqüência nos dois atendimentos, está
destacada em cinza. As demais subcategorias foram agrupadas e os gráficos apresentam o total das
Assim, a subcategoria mais freqüente, tanto na terapia de Mauro como na de Erik, foi a SR-
infantil (quadriculadas) também obtiveram as mais altas freqüências, ocupando uma parcela
a terapeuta descreve o comportamento que observa a criança emitir na própria sessão, sendo a
descrição uma subcategoria tanto da Empatia (EM), como da Aprovação (AP) e da Informação (IF).
A Descrição foi muito mais freqüente na terapia de Erik (12,4%), principalmente como
subcategoria de Informação (IF), com provável função de mostrar à criança como ela está se
comportando. Pode-se hipotetizar se esta seria uma subcategoria mais freqüente na interação com
da terapeuta que ocorrem, por definição, durante o planejamento e/ou execução de jogos e
colaborando para que ela seja bem sucedida na atividade (RE-Direcionamento), no relato (SR-
Direcionamento) ou que não desista diante de atividades mais difíceis (DI-Direcionamento). Por
exemplo:
um papel de destaque. Estudos futuros poderiam fazer um recorte desses tipos de verbalizações em
outras terapias infantis, afim de esmiuçar suas características e verificar a generalidade dos dados
encontrados aqui.
ocorreram com freqüência um pouco menor. Dentre elas, o Modelo foi o procedimento
comportamental mais utilizado pela terapeuta em ambas as terapias. Entretanto, a porcentagem foi
maior na terapia de Mauro (4,7%) do que na de Erik (2,9%). A Extinção também foi mais utilizada
na terapia de Mauro (1,6%, para 0,6% na terapia de Erik). O Bloqueio de Esquiva, ao contrário, foi
mais utilizado na terapia de Erik (1%, para 0,5% com Mauro). Aqui, a análise do Questionário de
comparação dos questionários sobre a terapia de Mauro e de Erik mostra que a terapeuta tinha mais
pela mãe de Erik ainda eram confusas e a definição exata da queixa só pôde ser formulada ao longo
da queixa do cliente, neste caso? Assim, a comparação das duas crianças demonstra a importância
(d) Quais comportamentos dos clientes sucedem os comportamentos da terapeuta, de acordo com
freqüência. As subcategorias do cliente foram agrupadas em dois conjuntos mais amplos e opostos,
abrange as seguintes subcategorias: Relato: Qualquer / “Não sei” e Curto / Monossilábico; Relato
qualidade imediata da interação, versus 135 verbalizações (20,3%) que, de imediato, prejudicam a
qualidade da interação. A terapia de Erik, cuja análise focalizou apenas três sessões, contém
relativamente menos verbalizações do cliente. Ainda assim, das 417 verbalizações, 327 (77,7%)
Favorável (Erik)
2,5 Desfavorável (Erik)
Favorável (Mauro)
Desfavorável (Mauro)
2
Percentagem
1,5
0,5
0
RE AP IP modelo IF modelo EM SR IP ES AP SQ RE
modelo modelo modelo extinção extinção extinção extinção bloqueio bloqueio
de esquiva de esquiva
Subcategorias do Terapeuta
o atendimento do cliente. Por exemplo, RE-Modelo favorecendo a interação com Erik representa
Em um olhar geral para o gráfico da Figura 6, nota-se claramente a diferença entre os dois
freqüentes e variados no caso de Mauro. Além disso, todos os procedimentos geraram uma
desfavoráveis. Este dado mostra que, apesar dos procedimentos visarem a modificação de
terapeuta-cliente.
Já no caso de Erik, a Figura 6 mostra que a subcategoria RE Modelo superou todas as outras
em freqüência, totalizando 2,4% (ou 11 ocorrências) do total com respostas subseqüentes do cliente
Bloqueio de Esquiva também obtiveram êxito nesse aspecto. Por outro lado, as subcategorias IP
Modelo e SR Extinção produziram, nas sessões de Erik, respostas subseqüentes do cliente mais
cliente desfavoráveis à qualidade da relação, o que é de se esperar uma vez ele se esquiva de algo
10
Favorável (Mauro)
9 Desfavorável (Mauro)
Favorável (Erik)
8
Desfavorável (Erik)
6
Percentagens
0
Direcionamento FA narrativa / leitura Descrição Estruturação da Desafio Exclamação /
brincadeira humor
Subcategorias do Terapeuta
Dois fatores devem ser levados em consideração na análise da Figura 7: a freqüência das
cada subcategoria. No caso de Mauro, o Direcionamento obteve maior porcentagem, porém, foi a
Descrição que, proporcionalmente, mais contribuiu para a qualidade da relação. Nesta subcategoria,
a porcentagem de ocorrências no grupo “Favorável” (4,6%) foi mais de nove vezes maior do que a
No atendimento de Erik, a Descrição foi a categoria com maior freqüência, mas foram as
vezes maior do que “Desfavorável”). Também é interessante notar que os resultados dos dois
106
clientes foram bastante diferentes, indicando as particularidades desses atendimentos. Esta análise é
importante para se discutir sob que condições determinados tipos de comportamentos do terapeuta
outros aspectos devem ser levados em consideração na análise do processo terapêutico, como por
exemplo como o terapeuta lida com os comportamentos-problema, o que será abordado no próximo
com os objetivos por ela definidos no Questionário de Objetivos Terapêuticos, o cruzamento dessas
informações constitui uma possibilidade de se comparar aquilo que a terapeuta relata com aquilo
objetivos listados para o início da terapia foram: (1) Estabelecer vínculo com o cliente; (2)
que já foi exposto a respeito de comportamentos da terapeuta e sua relação com respostas
subseqüentes do cliente, pode-se dizer que o processo terapêutico estava sendo conduzido de acordo
evidências:
(a) A categoria mais freqüente da terapeuta foi a Solicitação de Relato (22%), por meio da
qual a terapeuta obtinha informações sobre Mauro (objetivo nº 2), tanto que a maioria das respostas
subseqüentes do cliente foram Relatos (em 85,8% das vezes). A análise do conteúdo mostrou
também que solicitar relato foi uma estratégia de demonstração de interesse pelo cliente (objetivo
107
nº1). A freqüência desta categoria foi elevada na primeira sessão, decrescendo à medida em que a
(b) A segunda categoria mais freqüente foi a Aprovação (16,5%), que na maioria das vezes
era seguida de mais Relato do cliente (33,3%). Das 78 ocorrências de Aprovação, 91% antecederam
respostas do cliente que contribuem para a qualidade da relação (objetivo nº1). Além disso, a
comportamentos-queixa (objetivos nº 3 e 4), por exemplo, ao elogiar quando Mauro criou regras
é um indicador de que esses comportamentos da terapeuta podiam estar sob controle de observações
(2) Estabelecer vínculo com o cliente e (3) Lidar com os comportamentos-queixa. Percebe-se
semelhança nos dois primeiros objetivos, porém a definição do terceiro objetivo (ver Anexos 4 e 5)
mostra que a terapeuta possuía pouco conhecimento a respeito dos problemas do cliente e, assim,
não especificou claramente sua intervenção neste aspecto. É provável que o pouco conhecimento
sobre o cliente (problemas e recursos) possa ter alguma relação com os resultados obtidos nesse
atendimento (até o momento dessa análise) e, também, explique a menor incidência de categorias
(b) A Empatia com Erik foi a única categoria que produziu 100% de respostas favoráveis à
qualidade da relação. Além disso, sua freqüência aumentou na segunda sessão, que foi
particularmente atípica devido ao incidente com o avô de Erik (conforme relatado anteriormente). É
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes do cliente? Há mudança ao longo das sessões?
longo das sessões, a porcentagem de cada uma das categorias do cliente é apresentada na Figura 8, a
seguir:
50
45 Mauro
Erik
40 Média
35
30
Percentagem
25
20
15
10
0
relato concordância relato solicitação oposição explicação registro metas
qualificativo insuficiente
Categorias do Cliente
Figura 8. Percentagem de Categorias do Cliente nas oito sessões de Mauro e três de Erik.
categoria mais semelhante entre os clientes foi a de Relato, com cerca de 43% de todas as
verbalizações. A análise das subcategorias mostrará, mais adiante que, mesmo nesta categoria, há
detalhes que os diferenciam. A categoria Oposição obteve maiores índices na terapia de Mauro, o
que está de acordo com a descrição de sua queixa (comportamento-opositor). Já Erik emitiu mais
diferenciada das outras categorias, porque indica uma interação iniciada pelo cliente – ele pergunta
ao terapeuta, enquanto que nas demais ele responde. Assim, Erik iniciava interações em proporção
109
muito maior do que Mauro (porcentagem quatro vezes maior). Por fim, a alta freqüência de
Registros Insuficientes nas sessões de Erik decorreu de seus problemas fonológicos, que tornavam
sua fala incompreensível tanto para a terapeuta durante as sessões como também no momento de
de Mauro e Erik:
50
45 1a sessão
2a sessão
40 3a sessão
35
30
Percentagem
25 (a)
20
15
10
0
relato concordância solicitação oposição explicação relato registro metas
qualificativo insuficiente
Categorias do Cliente
110
70
1a sessão
60 2a sessão
3a sessão
50
4a sessão
Percentagem
5a sessão
40
(b)
30
20
10
0
relato concordância relato oposição solicitação explicação metas registro
qualificativo insuficiente
Categorias do Cliente
Figura 9. Percentagem de Categorias do Cliente ao longo das três sessões do atendimento de Erik
(a) e cinco sessões do atendimento de Mauro (b).
Cliente em relação ao total de verbalizações por sessão. Pode-se perceber, nas sessões com Mauro,
especialmente da primeira para as sessões seguintes. Este dado vai ao encontro da análise das
Categorias do Terapeuta por sessões. A categoria Relato predominou fortemente a primeira sessão
(64,5%), mas sua freqüência caiu e tornou-se mais estável nas sessões seguintes, oscilando entre 34
e 41%; embora ainda seja a categoria mais freqüente de qualquer sessão. Outra diferença marcante
ocorreu na categoria Solicitação, com apenas 2,9% na primeira sessão, elevando-se a cerca de 10%
nas sessões seguintes. Dentro da própria sessão, percebeu-se que a freqüência de solicitações foi
baixa no início, aumentando no decorrer do tempo. A primeira solicitação ocorreu na 38º unidade
de análise, quando a terapeuta introduziu uma brincadeira com carrinhos e colocou uma situação
132º unidade, quando ele já estava mais “à vontade” na sessão e conversavam a respeito de objetos
de um jogo (Lince):
Assim como nesta primeira sessão Mauro se limitava a responder as perguntas da terapeuta
na maior parte do tempo, também não se opôs com muita freqüência (3,5%). No entanto, nas
sessões seguintes, a porcentagem de Oposição cresceu, chegando a 23,4% na terceira sessão. Não
por acaso, foi nesta sessão que se obteve maior porcentagem de Discordâncias por parte da
terapeuta (12,2% - Figura 3(a)). E, como já discutido anteriormente, a Oposição foi a resposta mais
freqüente de Mauro diante de Discordâncias da terapeuta. Ainda assim, deve-se analisar os dados
com cautela, evitando-se determinar qual resposta “causa” a outra. Tratando-se de uma interação, é
Várias respostas de Erik, ao longo das sessões, seguiram em direção bastante diferente das
de Mauro. A freqüência de Relatos aumentou (de 38,7% na primeira sessão a 46% na terceira) e a
Oposição, que foi alta na primeira sessão (10,2%), diminuindo drasticamente nas sessões seguintes,
fosse elevada na primeira sessão (13,3%). Essas diferenças mostram que, provavelmente, os dois
clientes lidam diferentemente com situações novas, como por exemplo o processo inicial de
atendimento terapêutico. Na segunda sessão, que foi atípica devido ao incidente com o avô de Erik,
relação às outras sessões) e de Concordância (5,4%, cerca de três vezes menos que nas outras
das sessões?
possíveis mudanças ao longo das sessões, verificou-se que o aparecimento de comportamentos dos
clientes que se assemelhavam às queixas trazidas pelos pais e pela escola ocorreu desde a primeira
respectivamente e, na terceira, atingiram o máximo de 29,8% e 5%. Essa variação deu-se em parte
em função da “inibição” inicial desse cliente, que aos poucos passou a ficar mais “à vontade” com a
terapeuta. Traduzindo em outros termos, o ambiente terapêutico pode ter sido percebido aos poucos
como não-punitivo, de forma que Mauro passou a exibir em sessão os mesmos comportamentos que
exibia fora dela. Depois da terceira sessão, a porcentagem de comportamentos-queixa decresceu nas
duas últimas, para 14,9%. É provável que a terapeuta reagia ao cliente de forma diferente de outros
estavam evoluindo segundo uma típica curva de extinção (aumento inicial e decréscimo posterior)?
Essa é uma questão para pesquisas futuras poderão, caso se analise uma seqüência maior de sessões,
investigando-se se haveria uma regularidade, como se observa em uma típica curva de extinção,
Outro fator que pode estar associado foi o tipo de brincadeira utilizada durante a sessão. Por
quando Mauro brincou com o Pebolim e tentava burlar as regras do jogo. Por outro lado, o
comportamento de melhora classificado como “seguir / negociar regras” também atingiu o pico
(4,3%), em relação a todas as sessões, quando Mauro negociou as regras da duração do Pebolim e
113
utilizou uma regra que ele próprio criou na sessão anterior a respeito desse jogo, o que foi elogiado
pela terapeuta. Outro comportamento queixa, classificado como “competitividade”, teve seu pico
espírito esportivo”, também ocorreu em maior freqüência (4,1%), se comparado às demais sessões.
A terapeuta não respondeu diretamente a verbalizações do tipo “Eu vou ganhar”; “Eu sou o
melhor”, mas em outros momentos deu modelo de verbalizações incompatíveis, como “Com o
treino a gente vai melhorando” e parabenizou o cliente pelo placar final. Na sessão seguinte, em
que o cliente perdeu no mesmo jogo, a terapeuta solicitou que ele a cumprimentasse do mesmo jeito
que ela havia feito quando foi derrotada ao perder. Por fim, outro comportamento queixa, de
“esquiva de expressão de sentimentos positivos”, ocorreu com maior freqüência na quinta sessão
(6,2%), quando foi utilizado um jogo denominado “Brincando com as expressões”, que abordava o
tema.
de Erik, é mais delicada, em virtude da dificuldade de definição clara da queixa. Provavelmente este
fator influenciou no resultado final, que computou apenas 7,6% de comportamentos-queixa; cerca
da metade se comparado a Mauro. Também é possível que as situações estruturadas nas sessões não
tenham propiciado demandas para tais comportamentos. Os comportamentos de melhora não foram
durante as sessões.
Ainda com relação a Erik, pode-se dizer que a evolução dos comportamentos-queixa seguiu
jogo de “Pega-varetas”, por exemplo, Erik negava-se a aceitar o resultado de empate, exclamando
frases como: “Mentira!”; “Você roubou!”. Ao mesmo tempo, durante o jogo, inventava regras que
favoreciam a própria terapeuta (complacência): “Você mexeu, mas tem uma vida!”. Nas sessões
comportamento quando lhe interessava e, por outro lado, poderia abrandar qualquer tipo de
terceira sessão, quando o cliente brincou com um jogo de letras e fez tentativas de se esquivar da
atividade.
Diante das verbalizações de oposição sobre os resultados do jogo, a terapeuta não ficou
brava (provavelmente esta seria a reação de outras pessoas do ambiente de Erik), mas respondeu:
“Então vamos contar novamente [os pontos]”, até que o cliente concordasse com o empate. No
caso das regras inventadas que a favoreciam, a terapeuta não agradeceu, mas confrontou: “Toda vez
que eu mexo [as varetas] eu ganho uma vida? Ué, essa regra eu não conhecia.” Uma hipótese
provável para a diminuição da freqüência de comportamentos queixa pode ser essa diferença entre
tivessem valor reforçador, à medida que mantinham a freqüência desses comportamentos de Erik, o
que não ocorreu na relação com a terapeuta. Novamente, uma análise de mais sessões poderia
queixa do cliente foi a Discordância (17,4%), seguida de Informação (15,2%). Em último lugar, a
categoria que menos produziu comportamentos-queixa foi a Empatia, com apenas 1,1% - ainda que
também não tenha antecedido nenhum comportamento de melhora. A Estruturação, embora seja
uma categoria por meio da qual o terapeuta estabelece uma série de regras durante a sessão (e o
próprio cliente admitiu que “não gosta de regras”), antecedeu poucos comportamentos-queixa
115
(6,5%) e foi a categoria que mais antecedeu comportamentos de melhora, em 30% dos episódios em
que eles ocorreram. É possível que um dos fatores associados a esta associação seja o fato da
posteriormente.
tinha função de contestar a ação anterior do cliente (DI Contestação), produziu a maior
comportamento do cliente para uma resposta final mais adequada (DI Direcionamento), produziu
maior porcentagem de comportamentos de melhora (10%). Essas duas estratégias foram usadas
diversas vezes, de forma combinada, o que pode ser percebido na análise de seqüências de
C: Vamos [continuar o jogo] até 10... Vai, por favor, por favor, por favor!!!!!!! (OP-
Insistência)
T: A gente não combinou? Então. (DI-Contestação)
C: Então vamos começar de novo, tá 0 a 0!!!! (OP-Insistência)
T: Tira a mãozinha daí (vai retirando o jogo da mesa) (DI-Direcionamento)
melhora. Concluindo, esta análise demonstra que, ainda que determinado comportamento produza
ensino de comportamentos alternativos (“de melhora”). Em outras palavras, muitas vezes pode ser
116
necessário permitir ou até facilitar o aparecimento dos comportamentos-queixa para então, utilizar
procedimentos que produzirão outros comportamentos mais adaptativos e com boa probabilidade de
serem consequenciados positivamente pelo ambiente natural da criança. Além disso, a emissão de
utiliza.
cliente para ajudá-la (SQ Contestação), e ele continuava a sustentar sua opinião sobre a necessidade
T: Ih, errei.
C: Você tem uma vida. (complacência)
T: Uma vida?! Quantas vidas eu tenho?!
C: Você vai de novo... e agora tá facinho... (complacência)
T: (erra novamente). Gastei minha vida agora, né.
C: Não... quando você for de novo, você vai ter uma vida. (complacência)
Ainda que a qualidade da relação tenha um papel preponderante para o êxito do processo
terapêutico, não se pode deixar em um segundo plano os procedimentos específicos tanto para
comportamentos que competem para a melhor adaptação da criança às situações do ambiente. Pode-
se dizer que a qualidade da relação é condição necessária, mas não suficiente. Por outro lado, ainda
atendimento.
(d) Há mudança na freqüência de comportamentos do cliente que contribuem e que não contribuem
para a qualidade imediata da relação, ao longo das sessões? Há associação entre esses
terapêutica como um indicador desta qualidade, tem-se que, considerando a importância da relação
terapêutica, as sessões melhor avaliadas seriam a segunda, a quarta e a quinta, com cerca de 84%
porcentagem foi menor (77, 9%), principalmente devido à maior freqüência de respostas curtas e
monossilábicas dadas pelo cliente, sobretudo no início da sessão. A terceira sessão foi a pior
avaliada segundo este critério, com apenas 68,10% das verbalizações no grupo das que favorecem a
(oposição, competitividade e impulsividade) foi mais elevada (na terceira sessão), também se
(problemas externalizantes) seja altamente responsável por essa correlação. Além disso, os dados
demonstram o quanto a relação do cliente com outras pessoas em seu ambiente deve também ficar
prejudicada devido a esses problemas de comportamento. É provável que, caso o perfil das queixas
de Mauro fosse diferente (problemas internalizantes), a relação entre elas e a qualidade da relação
fosse diferente.
Esta é uma hipótese que poderia ser testada pela análise dos dados do atendimento de Erik
pois, dentre seus comportamentos-queixa, inclui-se aquele definido como “complacência”, que é
(a) Qual é a freqüência de cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik? Há mudanças
A análise das categorias do brincar se inicia, como nas duas seções precedentes, com a
identificação da freqüência de cada categoria do brincar nos atendimentos de Mauro e Erik, e como
a identificação de mudanças ao longo das sessões. A Figura 10, a seguir, apresenta a porcentagem
dos episódios verbais para cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik.
119
70
60 Mauro
Erik
50 Média
Percentagem
40
30
20
10
0
brincadeira- fantasia lúdico brincadeira não- cotidiano extra- cotidiano ludico não-lúdico
lúdico lúdico lúdico
Categorias do Brincar
Figura 10. Porcentagem das categorias do brincar nos atendimentos de Mauro e Erik.
em cada categoria de modo que a soma de todas as categorias, para cada cliente, seja 100%. A
interação terapeuta-cliente mediada pela brincadeira compreendeu a maior parte das verbalizações
dos dois atendimentos. Este dado aponta para a importância do brincar em terapia infantil e para a
especificidade da relação com essa clientela (detalhes das características de cada categoria serão
abordados posteriormente).
Observa-se que as percentagens mais semelhantes entre os dois atendimentos foram aquelas
em que terapeuta e cliente não estavam envolvidos em atividades lúdicas (Não-lúdico e Brincadeira
Não-Lúdico), embora nesta última estivessem conversando sobre brincadeiras e, na maioria das
Nas demais categorias, em que a interação terapeuta-cliente estava sendo mediada por
mais freqüentes do que na de Erik. Em contrapartida, na terapia de Erik o uso de fantasia (Fantasia-
Lúdico) correspondeu a 19,8% de todos os episódios verbais. Também com bastante freqüência, a
120
terapeuta e Erik conversavam sobre o cotidiano da criança, enquanto realizavam atividades lúdicas
90
1a sessão
80
2a sessão
70 3a sessão
60 4a sessão
(a)
Percentagem
5a sessão
50
40
30
20
10
0
brincadeira- fantasia lúdico cotidiano ludico cotidiano extra- brincadeira não- não-lúdico
lúdico lúdico lúdico
Categorias do Brincar
60
1a sessão
50 2a sessão
3a sessão
40
Percentagem
(b)
30
20
10
0
brincadeira-lúdico fantasia lúdico cotidiano ludico cotidiano extra- brincadeira não- não-lúdico
lúdico lúdico
Categorias do Brincar
Figura 11. Porcentagem de episódios verbais em cada Categoria do Brincar, ao longo das sessões
analisadas de Mauro (a) e Erik (b).
121
Os valores representados nos gráficos correspondem à porcentagem de verbalizações em
cada Categoria do Brincar, de modo que a soma das categorias seja 100% em cada sessão de
interação da terapeuta com cada uma das crianças teve características diferenciadas e que
particularidades de cada criança podem ter contribuído para tais diferenças. O fato de Mauro saber
ler propiciou o uso de jogos mais estruturados, que por sua vez propiciam verbalizações típicas da
categoria Brincadeira-Lúdico, como por exemplo a leitura e a narrativa dos jogos e a estruturação
de seu funcionamento. Ao brincar com Mauro, principalmente a partir da segunda sessão, ele
Provavelmente esse fator reforçou a terapeuta a manter esse tipo de interação, pela qual ela poderia
observar tais comportamentos acontecendo na própria sessão e buscar alternativas para lidar com
eles. Assim, como se pode observar na Figura 11(a), a Brincadeira-Lúdico foi progressivamente
sendo mais utilizada; ocupou somente 30% da primeira sessão e chegou a 78,7% na quarta.
segunda sessão, com 23,1%, quando a terapeuta criou, junto com a criança, diversos nomes e
decresceu drasticamente a partir da segunda sessão, de 14,20% na primeira para menos de 3% nas
Na interação com Erik, que não sabia ler nem escrever e portanto não poderia utilizar os
mesmos jogos que Mauro, a terapeuta recorreu a outras alternativas, como o desenho e os bonecos.
Nestas atividades, a fantasia e a imaginação puderam ser mais exploradas. Na segunda sessão,
bonequinho desenhado pela criança. Por fim, na primeira sessão, a categoria Cotidiano Extra-
122
Lúdico foi muito mais freqüente (24,7%) do que nas sessões seguintes, quando a terapeuta fazia
perguntas para conhecer o cliente, enquanto brincavam: “Quantos anos você tem?”, “Você tá indo
na escola?” etc.
Em síntese, a análise do brincar, sessão a sessão, mostrou que algumas variáveis devem ser
terapêuticos; (b) as características dos jogos e brincadeiras utilizados em cada sessão; (c) variáveis
externas à terapia, como o incidente com o avô de Erik antes da segunda sessão; (d) as
particularidades de cada criança e (e) a adaptação da terapeuta aos fatores anteriores ao longo da
terapia.
lúdica, a Tabela 8 a seguir apresenta uma lista das Categorias do Terapeuta, ordenadas da mais
freqüente à menos freqüente em cada Categoria do Brincar, nos atendimentos de Mauro e Erik,
respectivamente.
principais da terapeuta diferiram bastante de um cliente para outro, embora a categoria Brincadeira-
Lúdico tenha predominado no processo terapêutico das duas crianças. Com Mauro, as principais
criança. No caso de Erik, as brincadeiras eram menos estruturadas (casinha, desenho), quando então
Lúdico). O tipo de brincadeira utilizada para cada cliente parece, portanto, ter contribuído
fortemente para essas diferenças encontradas. Pesquisas futuras poderão investigar se é possível
estabelecer um perfil padrão para interações baseadas em brincadeiras estruturadas e para as não-
estruturadas.
ambos os clientes, ocupando o primeiro lugar da lista da Tabela 9, no caso de Mauro (16,5%) e o
segundo no caso de Erik (17,5%). Esse dado sugere que esta foi uma situação com maior
124
probabilidade de ser reforçadora à criança e, por esta via, colaborar para a formação do vínculo com
a terapeuta. Além disso, nos dois atendimentos, a Brincadeira-Lúdico foi a interação que mais
Nas duas categorias em que as verbalizações envolvem aspectos do cotidiano das crianças
45%, para ambos os clientes, indicando que essas duas categorias foram compostas principalmente
de perguntas da terapeuta a eles. Pode-se supor que nestas sessões, de início de terapia, as perguntas
predominaram devido à necessidade de conhecer o cliente e que, talvez, essa distribuição das
dois clientes. No caso de Erik, houve predominância de Solicitações de Relato (42,3%) e de Relato
Qualificativo (15,5%), sugerindo que a fantasia foi um recurso da terapeuta para que o cliente se
análise do conteúdo dessas verbalizações confirma que, de fato, a fantasia teve outro papel no caso
125
de Mauro. O primeiro papel foi o de envolvê-lo na brincadeira e, por essa via, fortalecer o vínculo
T: O meu [jogador] é o Rogério. Opa agora eu faço hein... mais pra cá... com calma e...
(Informação)
C: Uhhhh (T não fez o gol). É, o Ronaldinho Gaúcho é bom. Ai, vai vai vai!!! Mais um
pouquinho e eu faço um gol...
T: É! E o seu atacante, como se chama? (Solicitação de Relato)
C: Ele é... hummm... “Ronaldinho Santana”. Hehehehehe... (sobrenome do cliente)
T: Ih eu conheço esse sobrenome hein! “Ronaldinho Mauro Santana”? (Aprova)
C: Hahahaahah.... Ronaldinho Santana.
Outro papel foi o de levar a criança a seguir as regras dos jogos. No exemplo a seguir,
Mauro tentava desfazer um acordo a respeito dos times do Pebolim e a terapeuta o convence por
T: Você vai gostar dos meus. Vou contar pra você: esse aqui é bom, o nome dele é Grafitti...
esse outro aqui dá um chute forte pra caramba que faz gol daqui de trás.
C: Tá bom.
T: E esse outro aqui se chama Rogério (goleiro).
(começam a jogar, C joga bem)
T: Aí você tá indo bem! Os vermelhos gostaram de você!
C: (faz gol) Goooooooooooooool!!!!!!!!
Mais adiante, Mauro incorpora espontaneamente a fantasia, afirmando que “os jogadores [da
Por fim, na Categoria Não-Lúdico, duas categorias comuns aos atendimentos foram a
especialmente no início das terapias (“Você sabe como eu me chamo?”) e estruturava o tempo da
Os dados dos dois atendimentos mostram que a Brincadeira-Lúdico pode ser considerada a
base da interação com essas crianças, com um papel central tanto em termos da sua alta incidência
necessárias para que se completem intervenções importantes do atendimento (como, por exemplo, a
126
interpretação e a estruturação). Ainda que seja importante relacionar diretamente os temas tratados
às questões do cotidiano da criança, nem sempre isso foi necessário para que vários procedimentos
terapêuticos fossem realizados. Outra questão importante diz respeito à correspondência entre a
uma delas, como por exemplo, Estruturação durante a Brincadeira Não-Lúdico; Solicitações de
Relato durante Cotidiano-Lúdico e Cotidiano Extra-Lúdico. Essa correspondência pode ser tomada
anterior?
Categoria do Brincar, acrescenta novos elementos à análise anterior. A Tabela 9, a seguir, lista as
Bloqueio de
SQ opinião 0,9 0,9
Esquiva
ES acordo 0,9
FA não verbal 0,9
EM auto-
0,9
revelação
Bloqueio de
0,4
Esquiva
SR repetição
0,4
confirmação
AP
0,4
agradecimento
% total cinza 55,9 % total cinza 28,1 % total cinza 23,1 % total cinza 37,4 % total cinza 7,2 % total cinza 5,2
% total negrito 4,7 % total negrito 13,0 % total negrito 5,5 % total negrito 9,0 % total negrito 7,2 % total negrito 2,6
Erik
brincadeira-lúdico fantasia lúdico cotidiano extra- brincadeira não- cotidiano lúdico
não-lúdico (7,2%)
(47,1%) (20,0%) lúdico (12,6%) lúdico (11,5%) (1,6%)
Direcionamento 17 SR informação 29,9 SR informação 27,9 RE 14,3 SR informação 37 SR informação 75
SR
Descrição 13,5 Descrição 13,4 13,1 Descrição 14,3 Descrição 12 AP descrição 13
Direcionamento
SR repetição SR repetição
RE 11,4 11,3 ES func terapia 6,6 SR Informação 14,3 11 IP 13
confirmação confirmação
Exclamação / SQ bloqueio de
9,7 SQ sentimento 7,2 IF 6,6 ES brincadeira 12,5 8,6
humor esquiva
Contestação 9,1 Contestação 5,2 DI Contestação 6,6 ES tempo 8,9 RE desafio 8,6
SR informação 8,3 RE 5,2 ES tempo 4,9 IF 8,9 SQ opinião 5,7
Exclamação /
Modelo 5,6 5,1 AP Descrição 4,9 AP concordância 5,4 IP 5,7
humor
SR repetição
AP concordância 4,4 SQ opinião 4,1 IP 4,9 3,6 RE 5,7
confirmação
EM Exclamação
DI correção 3,9 EM 3,1 RE 4,9 ES func terapia 3,6 2,9
humor
SR repetição
IF 3,1 Direcionamento 3 3,3 ES acordo 3,6 IF confirmação 2,9
confirmação
AP
ES brincadeira 1,7 AP 2,1 SQ opinião 3,3 3,6
agradecimento
AP 1,7 IP 2,1 AP concordância 3,3 SQ opinião 1,8
SR repetição
1,3 Desafio 2 AP 1,6 EM 1,8
confirmação
EM auto- IF Exclamação / EM exclamação
FA não verbal 1,3 1 1,6 1,8
revelação humor humor
FA narrativa leitura 1,3 Extinção 1 DI correção 1,6 DI contestação 1,8
EM 1,3 IF confirmação 1 DI desaprovação 1,6
SQ opinião 0,9 Modelo 1
128
Bloqueio de
0,9 DI desaprovação 1
Esquiva
Desafio 0,8
Extinção 0,8
ES tempo 0,4
ES acordo 0,4
IP 0,4
% total cinza 43,2 % total cinza 23,5 % total cinza 19,6 % total cinza 28,6 % total cinza 23,5 % total cinza 13,0
% total negrito 5,6 % total negrito 2,0 % total negrito 0,0 % total negrito 0,0 % total negrito 8,6 % total negrito 0,0
ocorreram durante qualquer forma de interação lúdica, tanto no atendimento de Erik como no de
Brincadeira-Lúdico, o que pode ser percebido mais facilmente no caso de Mauro, onde as cinco
Exclamação / Humor, Descrição e Estruturação de Brincadeira. Este é um dado que parece indicar
que, de fato, tais subcategorias descrevem comportamentos da terapeuta talvez muito fortemente
Categoria do Brincar. A Tabela 9 mostra que esta subcategoria ocorreu com menor freqüência em
Brincar. Pode-se deduzir que a situação de Brincadeira-Lúdico não propicie à terapeuta solicitar
informações do cliente. Hipotetiza-se, também, se solicitar informações poderia ser aversivo para a
criança, o que colaboraria para explicar o porquê do brincar ser tão reforçador.
Lúdico tenha sido a Aprovação no caso de Mauro e a Recomendação no caso de Erik, na análise das
subcategorias, o Direcionamento ocupou o primeiro lugar, com 15,3% e 17% cada. Esta é uma
subcategoria presente em várias Categorias do Terapeuta (e que aqui foi apresentada agrupando-se
estratégias da terapeuta.
mais baixas, com exceção de Modelo, que correspondeu a 9% dos episódios verbais em Brincadeira
reações excessivas (como birras) a cada vez que as casas do Jogo da Vida indicavam algo que o
prejudicasse. A terapeuta dá modelo de reação mais adequada quando o mesmo acontece com ela:
T: Lê para mim???
C: „Recebeu visita, fique 1 rodada sem jogar!‟ hahahahahaha.....
T: Estou com azar hoje. Tudo bem, é você.(Modelo)
exemplo a seguir, quando Erik relata que tem que dar pontos para quem está perdendo “porque
Deus não gosta disso”, a terapeuta dá modelo de comportamento alternativo: “Tá certo, mas sabe
outro jeito também? Eu posso te ensinar a ganhar pontos!!!!” e, em seguida, solicita que Erik a
T: Então vai, você que tá me ensinando, hein? É esse aqui? Como eu jogo, bem rápido???
C: Não... devagarzinho.
Em seguida, a terapeuta o aprova e descreve que ganhou pontos graças à ajuda dele.
em Não-Lúdico (8,6%). Entretanto, como esta Categoria do Brincar foi pouco freqüente, a
exemplo a seguir, a terapeuta e Erik conversavam a respeito do que deixava a mãe dele brava, e ele
colocava-se na posição de “filho bonzinho”. A terapeuta bloqueou a esquiva até que ele assumisse
Algumas subcategorias ocorreram em baixa freqüência, nas sessões analisadas. Ainda que a
freqüência seja um possível indicador da eficácia de uma categoria, considerando-a na sua relação
com os comportamentos subseqüentes da criança, outros aspectos podem ser analisados. Uma
subcategoria com baixa freqüência pode ter relevância no conjunto delas, e em como se articulam
formando uma categoria ampla. É possível que, ainda assim, sejam importantes em pesquisas
importância, como é o caso da solicitação para que o cliente confirmasse ou repetisse um relato (SR
Confirmação/Repetição) ou de quando a terapeuta apenas confirmava algo dito pelo cliente (IF
Confirmação). Mesmo este recorte foi útil, na medida em que foi possível separar estas
verbalizações de outras cujo conteúdo parece merecer uma análise mais cuidadosa. O papel das
verbalizações da terapeuta pertencentes a subcategorias típicas da terapia infantil indica que elas
podem ser tomadas como estratégias no manejo clínico com crianças e que os resultados deste
estudo descreveram aspectos importantes destas estratégias, desde uma definição mais estruturada
de cada uma, até a algumas topografias que elas assumem, em quais situações lúdicas ou não-
(d) Qual a relação entre as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente propostas por
seguir apresenta uma lista destas para cada Categoria do brincar, em ordem decrescente de
Os resultados da Tabela 10 indicam que, para os dois clientes, o Relato foi mais freqüente
última, as solicitações compuseram 38,6% de suas verbalizações, o que pode ser entendido como
uma situação em que a criança apresentou mais iniciativa, fazendo diversas perguntas a respeito de
A análise do conteúdo dos relatos em cada Categoria do Brincar mostra que ele guarda
características distintas. Pode-se dizer que uma das diferenças entre os relatos (e também relatos
qualificativos) dos clientes em cada Categoria do Brincar é que, em algumas categorias, o objeto do
Essa diferença também é encontrada em outras Categorias do Cliente, como por exemplo a
Concordância, que foi uma resposta de alta freqüência dos clientes. Na subcategoria de
Concordância denominada Seguimento, a criança não apenas concorda com o que foi dito ou
solicitado pela terapeuta, como executa na sessão aquilo que lhe foi pedido. Na terapia de Erik, o
Lúdico.
os atendimentos, que foi sistematicamente mais alta nas categorias Brincadeira-Lúdico, Fantasia-
o tema “cotidiano” seja mais aversivo para as crianças do que o tema “brincadeira”, resultando,
(e) Qual Categoria do Brincar propicia mais comportamentos que favorecem e que não favorecem
100%
90%
80%
70%
Percentagem
60%
50%
40%
Mauro
30% Erik
20% Média
10%
0%
cotidiano ludico fantasia lúdico brincadeira não- brincadeira- cotidiano extra- não-lúdico
lúdico lúdico lúdico
Categorias do Brincar
Não houve um padrão comum às duas crianças a respeito de qual Categoria do Brincar
(100%). Nota-se que a maioria dos comportamentos-queixa de Mauro ocorreu quando o tema da
comportamentos-queixa de Erik ocorriam durante interações mais parecidas com uma terapia de
adultos (Não-Lúdico e Cotidiano Extra-Lúdico), embora ele fosse a criança mais nova. Assim, é
possível que seja mais difícil, na interação com Erik, realizar intervenções diretas sobre o
comportamento, tanto é que sabe-se que a terapeuta utilizou menos procedimentos comportamentais
A análise deve ser vista com cautela, devido a outras variáveis envolvidas, dentre as quais:
(a) a variação na quantidade de episódios verbais em cada Categoria do Brincar e (b) as diferentes
134
intervenções da terapeuta em cada Categoria do Brincar. Assim, a categoria Cotidiano-Lúdico, no
atendimento de Erik, foi composta de apenas oito unidades de análise e, provavelmente, este fator
possibilitou que não ocorresse, durante esta categoria, nenhuma verbalização do cliente que
compusesse o grupo das que não contribuem para a qualidade da relação terapêutica. Já no caso de
“provocou” a Oposição do cliente. A Oposição, por sua vez, foi considerada como contra
producente para a relação (exceto no caso de OP Discordância). Esta combinação de variáveis pode
ter contribuído para o resultado apresentado na Figura 12, em que nesta Categoria do Brincar a
porcentagem de comportamentos de Mauro que contribuem para a qualidade da relação foi menor
(77,5%) que em quase todas as outras. Por outro lado, foi nesta mesma categoria, Lúdico-
Brincadeira, que Mauro apresentou a maior parte das verbalizações de exclamação e de humor, que
são fortes indícios de envolvimento com a terapia, a terapeuta e/ou a atividade. Totalizaram-se 70
ocorrências só nesta Categoria, ao passo que a soma das verbalizações de exclamação e humor em
todas as outras Categorias do Brincar chegou a somente a 24. A análise a respeito da Categoria
Não-Lúdico, que obteve a menor freqüência na Figura 12 (75%), já é diferente. Nesta categoria, as
principais respostas do cliente, responsável por esse resultado, foram os relatos curtos e/ou
monossilábicos (16,7%), que também pertencem ao grupo de verbalizações que não contribuem
para a relação.
Cotidiano Extra-Lúdico (62,1%). Nesta última, as verbalizações da criança que não contribuíam
para a relação incluíram: (a) frases ininteligíveis, classificadas como Registro Insuficiente; (b)
relatos ou explicações incorretas, em que Erik tentava convencer a terapeuta de que ele era mais
velho, ou de que ele era “bonzinho” com a mãe, ou em que fingia sabia ler as horas e dizer os dias
da semana, dentre outras coisas. Esta é uma análise relevante para a intervenção terapêutica, pois
demonstra que a relação terapêutica se prejudicava quando Erik era solicitado a falar sobre aspectos
135
de seu cotidiano provavelmente aversivos, ao passo que no caso de Mauro os problemas ocorriam
durante o próprio brincar. Esta é uma diferença marcante entre o repertório comportamental das
duas crianças e, portanto, diferenças nas intervenções da terapeuta para cada uma poderiam ser
(f) Qual tipo de interação lúdica propicia maior ocorrência de comportamentos queixa? E de
melhora?
25%
Mauro
Erik
20% Média
Percentagem
15%
10%
5%
0%
brincadeira- brincadeira não- fantasia lúdico cotidiano ludico não-lúdico cotidiano extra-
lúdico lúdico lúdico
Categorias do Brincar
qualidade da relação terapêutica, mostra que há uma relativa coincidência entre a ocorrência de
sessão, em que Erik desafiava a terapeuta, recusava-se a aceitar o empate do jogo de Pega-Varetas,
mas afirmava que era preciso dar os próprios pontos para agradar a Deus.
(Brincadeira-Lúdico) foi também uma das categorias com menor porcentagem de comportamentos
desta criança, associados à qualidade da relação terapêutica. Como já foi discutido anteriormente, o
suficientemente envolvente para a criança para que a terapeuta pudesse emitir comportamentos
variados (inclusive a Discordância), sem que colocasse em risco a relação com esse cliente. Este
perfil é bastante diferente do Não-Lúdico, em que a criança dava respostas curtas e/ou
diferente caso as queixas das crianças fossem outras, como por exemplo a timidez, que é uma
queixa internalizante. Esta é uma hipótese que poderá ser testada em pesquisas futuras, com
crianças atendidas. Esse objetivo, de cunho empírico, foi associado a um objetivo de cunho
de uma terapeuta com seus dois clientes, sob diferentes condições lúdicas e não-lúdicas de
interação. Esta análise traz implicações práticas para a formação do psicólogo em geral e, em
O conhecimento produzido por este estudo, sobre o processo terapêutico com duas crianças,
permitiu identificar algumas características mais estáveis da terapia infantil ou, pelo menos, da
terapia infantil conduzida pela terapeuta sob análise, levantando-se a questão de sua possível
generalidade para outros terapeutas. Por outro lado, as diferenças no processo terapêutico conduzido
pela mesma profissional com duas crianças distintas, ainda que com queixas semelhantes, traz
e da Aprovação nos dois atendimentos é congruente não apenas com os objetivos da terapeuta
respeito da importância de obter informações diretamente com a criança nas sessões iniciais e de
138
formar vínculo com a mesma, especialmente com o uso de jogos e brincadeiras (por exemplo,
Moura & Azevedo, 2001; Gosch & Vandenberghe, 2004; Moura & Venturelli, 2004). Ao lado das
Recomendações (mais freqüentes para Erik), Facilitações e Estruturações (mais freqüentes para
Mauro). Nesses casos, é possível inferir que a terapeuta, não obstante atuar sob controle das queixas
das crianças, mantinha-se atenta aos seus desempenhos nas sessões, comportando-se diferentemente
(maiores para Mauro), Solicitações, Explicações e Registros Insuficientes (mais freqüentes para
Erik). Tais diferenças foram ser atribuídas principalmente a intervenções específicas da terapeuta
embora as crianças estivessem apresentando problemas que, à primeira vista, pareciam similares,
predominou nos dois atendimentos, mas com diferenças relevantes entre ambas: a Fantasia-Lúdico
Lúdico para Mauro. Algumas explicações possíveis para estas diferenças apontam para: (a) os
objetivos da terapeuta com cada cliente; (b) diferenças entre os clientes quanto à preferência por
criança: predominância de brincadeiras não-estruturadas (desenho, bonecos, pintura) com Erik, que
Lúdico), ao passo que, com Mauro, utilizou mais jogos estruturados, em que as verbalizações
criança (Cotidiano-Lúdico).
139
Com relação ao papel do brincar, a análise das sessões permitiu verificar que este assumiu
diversas funções durante o atendimento terapêutico em TACI. A primeira delas foi a promoção de
uma relação altamente reforçadora com a criança, demonstrada pelas características de seus
pelas solicitações de ambas as crianças, para que continuassem a brincar ou para que voltassem a
escolher os brinquedos já utilizados. Esse dado sugere uma alta qualidade do relacionamento, o que
Outra função foi a de obter informações por meio de perguntas durante a brincadeira.
Algumas dessas informações talvez seriam obtidas com mais dificuldade, caso não houvesse a
quando não estava brincando). Outras informações foram ainda obtidas ao se relacionar as questões
da brincadeira com o cotidiano da criança; outras ainda foram obtidas no contexto da fantasia (por
exemplo, alguns indícios sobre o relacionamento de Erik com sua mãe) durante as atividades com
desenho e com bonecos. O uso da fantasia com este objetivo vai ao encontro de discussões da
literatura (por exemplo, Regra, 1997; Penteado, 2001), a respeito da utilidade do comportamento de
“formar imagens”, isto é, ver na ausência da coisa vista é uma visão condicionada que “explica a
tendência que se tem de ver o mundo de acordo com a história prévia” (Skinner, 1991, 1994). Em
terapia, o fantasiar poderia ser considerado uma estratégia de avaliação e intervenção (Regra, 2001),
o modo como a criança se comporta na interação com o brinquedo e com o parceiro da brincadeira
(no caso, a terapeuta). Inclui-se, aqui, as evidências quanto ao modo como as crianças reagiram às
solicitações para que expresse seus sentimentos. Nestas e em outras situações, pode-se afirmar que
são várias as reações possíveis da criança (aqui não apenas de Mauro e Erik): A criança desiste
140
Reage de maneira agressiva Solicita ajuda Se esquiva mudando o assunto Faz tentativas na
direção da solução do problema De todo modo, algumas reações, mais assertivas ou mais criativas,
puderam ser tomadas como indicadores dos recursos comportamentais das crianças, ao passo que
É nesse sentido que o brincar pode ser entendido como situações que estabelecem
definido por Kohlemberg e Tsai (2001). Estabelecer a relação entre o brincar e os CRBs da criança
pode ser um instrumento útil para a compreensão de particularidades das sessões de atendimento
melhora” (análogos aos CRB2) foi mais freqüente durante momentos de brincadeira, na terapia de
Mauro. A brincadeira é, possivelmente, uma situação mais próxima ao contexto natural de vida fora
de observação direta, ele também permitiu inferir o nível de desenvolvimento da criança, incluindo
a sua alfabetização (no caso de Erik). Isso é importante para comparar os comportamentos
observados com o que seria esperado para a idade da criança, e também para ajustar a escolha dos
Além de procedimento para facilitar a coleta de dados sobre a criança, pode-se ainda discutir
o papel do brincar como estratégia de intervenção do terapeuta para a melhora dos comportamentos
das crianças em longo prazo, algumas considerações podem aqui ser feitas. Primeiramente, os
Esquiva puderam ser emitidos pela terapeuta durante várias brincadeiras, especialmente as que
141
ocorreram durante a categoria Brincadeira-Lúdico. Nesta categoria, a análise de seqüências de
interação mostrou alterações nas respostas das crianças, ao menos em curto prazo como, por
exemplo, o falar sobre raiva, no caso de Erik, e o criar regras para o jogo, no caso de Mauro. O
brincar, no ensino de novos comportamentos, também foi utilizado, conforme De Rose e Gil (2003,
p. 375), “como meio para ensinar outros comportamentos ou como uma condição na qual novos
originalmente elaborado para analisar terapia com adultos e refiná-lo em termos de subcategorias
aplicáveis à terapia infantil. Além de representar uma contribuição metodológica, o sistema aqui
pesquisas futuras.
(2006, em elaboração), foram passíveis de utilização na análise da terapia infantil. No entanto, para
sessões. Nessa análise, foi possível verificar que elas se diferenciavam tanto em termos de
Neste trabalho, optou-se por realizar uma primeira análise a partir das Categorias de
subcategorias para cada categoria do terapeuta e do cliente. O resultado dessa opção foi a
caso das verbalizações da terapeuta. Assim, pôde-se verificar que algumas verbalizações tinham
uma função aparente e mais explícita, que as Categorias do Terapeuta abarcavam, e uma função
142
terapêutica subjacente, mais inferencial, abarcada por algumas subcategorias. Fazer uma pergunta
para a criança, por exemplo, pode ter a dupla função de obter uma resposta a respeito do assunto
questionado, e também de bloquear uma esquiva anterior, por exemplo (ou outras funções, como
No caso das subcategorias do terapeuta, algumas foram destacadas, como mais complexas,
Extinção), que ocorriam em diferentes condições lúdicas e não-lúdicas. Também foram destacadas,
como mais específicas, as subcategorias que descreviam interações consideradas típicas da terapia
Com relação à análise dos comportamentos do cliente, foi possível realizar um detalhamento
em três níveis: (a) elaboração de subcategorias para as categorias propostas por Zamignani (2006,
melhora, individuais para cada cliente e (c) agrupamento das subcategorias em função de
características de suas definições, que poderiam ser tomadas como indicadoras de que aqueles
comportamentos favoráveis ou não à qualidade imediata da interação terapêutica. Por meio do item
(a), foi possível descrever melhor e de forma sistemática como se comportaram as crianças em
sessão. Por meio do item (b), foi possível extrair, do conjunto amplo de comportamentos da criança
em sessão, aqueles que foram considerados mais relevantes para a intervenção terapêutica. Já o item
(c), constituiu uma tentativa de avaliar a qualidade da interação a partir dos comportamentos do
cliente.
categorias a partir das próprias sessões a serem analisadas; (b) a reorganização das subcategorias
143
iniciais em novos agrupamentos pertinentes ao problema de pesquisa e (c) as implicações da
análise dessas sessões, constituiu uma opção metodológica que visou caracterizar o processo
terapêutico a partir de um contexto específico (uma terapeuta e seu atendimento a dois clientes).
Não obstante as possíveis restrições à generalidade dessas subcategorias, os resultados sugerem que
detalhada dos dois processos terapêuticos, ao se organizar os dados, com base no sistema de
categorias e subcategorias, em vários tipos de análise: (a) descrição da freqüência de cada categoria
e subcategoria; (b) comparações entre dois atendimentos; (c) tendências ao longo das sessões; (d)
dados com a queixa e a melhora dos clientes; (g) recorte de procedimentos comportamentais; (h)
agrupamento das subcategorias iniciais em um conjunto considerado como interações “mais típicas”
poderão verificar o quanto tais subcategorias seriam pertinentes a outros atendimentos, e quais
vantagens e desvantagens. Além das dificuldades e cuidados em separar tais papéis, uma
desvantagem mais evidente é a possível falta de objetividade na análise das sessões, somada ao fato
de não ter sido realizado teste de concordância entre observadores. O Questionário de Objetivos
Terapêuticos foi uma alternativa para minimizar este problema, ao disponibilizar informações
informações não presentes na observação direta das gravações das sessões de atendimento,
terapeuta e do cliente. A comparação entre as duas crianças demonstrou que a categorização foi
caso de Erik, a dificuldade na formulação da queixa, das hipóteses e dos objetivos levou a uma
dificuldade de análise. Isso significa que é possível que essa precisão seja um importante requisito
não-terapeuta.
Concluindo...
questões de pesquisa pertinentes para novas investigações. Certamente, é importante que estudos
subcategorias com novos terapeutas e com maior quantidade e diversidade de clientes com queixas
de problemas externalizantes e com outros tipos de queixas. Também seria interessante verificar a
aplicabilidade desse sistema e os resultados por ele produzidos, quando se compara processos de
terapia infantil de diferentes abordagens teóricas. Considerando que, pelo menos no Brasil, ainda
145
não se dispõe de uma tradição de estudos experimentais em terapia infantil, o presente sistema de
categorias poderia ser utilizado para a análise de dados produzidos sob esse delineamento.
Cabe ainda ressaltar que todo o estudo foi realizado com base no atendimento efetuado por
uma terapeuta iniciante, não somente na prática clínica após a conclusão do curso de graduação
três anos em um curso com forte base psicanalítica). Certamente, seria interessante explorar, em
estudos futuros, análises semelhantes com terapeutas experientes como forma de aferir a validade
outro lado, o sistema como um todo poderia ser utilizado como instrumento de reflexão e avaliação
do terapeuta sobre variáveis que controlam seu próprio comportamento. Resultados de pesquisa
sobre tais questões poderiam elucidar requisitos relevantes da capacitação do terapeuta infantil,
desde os estágios iniciais do aluno de Psicologia em Clínica até a formação complementar posterior.
Esse último aspecto decorre, em parte, da experiência da própria autora deste trabalho. O
profissional. A pesquisa, em termos de esforço para produzir conhecimento sobre a prática, teve
também efeitos positivos sobre a capacitação profissional que não foram aqui descritos mas que se
refletiram, em parte, no encaminhamento bem sucedido com os clientes sob análise no presente
caso. Um breve resumo das condições atuais das duas crianças pode ilustrar esse ponto.
Mauro ainda está em terapia. Em uma fase avançada, quando Mauro já não apresentava os
principais comportamentos-queixa durante as sessões, seu pai e sua irmã mais nova começaram a
participar do atendimento, interagindo com ele e com a terapeuta e favorecendo a generalização dos
146
comportamentos de melhora para sua interação com os familiares. Atualmente, os objetivos da
terapia são os de desenvolver o autocontrole de Mauro e de ensinar o pai a auxiliá-lo nos estudos,
substituindo as ameaças de punição por reforço positivo. Para o próximo semestre, as sessões
Erik também está em terapia, assim como sua mãe e seu irmão mais velho (estes com outras
terapeutas). A interação com a mãe melhorou e ele passou a solicitar ajuda da terapeuta para fazer
amizade com outras crianças. Neste ano, os problemas escolares se agravaram, e Erik intensificou a
esquiva do contato com letras e palavras, além de se queixar muito do relacionamento com a
aprendizagem acadêmica. Atualmente, Erik não se esquiva do contato com as letras e já escreve as
primeiras palavras. Sua mãe e sua irmã têm valorizado os seus progressos e a coordenadora da
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Maltese.
ANEXOS
156
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Anexo 1
Declaro que estou ciente do exposto acima e que concordo com as condições apresentadas.
Obs:.........................................................................................................................................................
................................................................................................................................................................
........................................................................................................................
Profissional:
...............................................................................................................................................
(nome completo, função e assinatura)
157
Categorias do Terapeuta – Anexo 2
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate eventos, descreva, forneça
informações específicas, detalhes, ou esclarecimentos a respeito de eventos. Os eventos cujo relato
é solicitado podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos encobertos, aspectos da
história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao comportamento do cliente e podem ter
sido relatados pelo cliente ou observados pelo terapeuta. A solicitação do terapeuta pode se referir a
(a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros
momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores.
Pedidos para que o cliente registre a ocorrência de eventos, como parte de uma técnica terapêutica
ou como estratégia para coleta de dados.
Forma
Solicitações de informação apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se em:
(1) perguntas fechadas - que solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
Ex: T8: O que você disse? [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
T: Ontem você foi à aula de capoeira? [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
(2) perguntas abertas - que solicitam que o cliente descreva, relate ou discorra sobre determinado
assunto.
Ex: T: “Sobre o que você gostaria de falar hoje?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
C: “eu não sei como responder quando meu chefe me critica”. [RELATO]
T: “diga-me um exemplo específico do que ele diz, e como você responde”. [SOLICITAÇÃO
DE RELATO ]
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou ordenando que o cliente descreva
ou relate eventos.
T: Fale-me um pouco mais sobre isso. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
C: “eu estou tão bravo com meu chefe!” [RELATO QUALIFICATIVO];
T: “Me conte o que aconteceu mais recentemente”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
T: Estive pensando sobre o que conversamos na semana passada e gostaria que você me
falasse um pouco mais sobre aquele assunto. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
8
C indica uma fala de cliente, T uma fala do terapeuta. Um novo diálogo é iniciado em cada marcador .
158
T: Agora eu preciso que você me fale um pouco sobre a convivência com sua família.
[SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
T: Eu gostaria que você registrasse as situações que te provocam ansiedade, para que
possamos discutir na semana que vem. [RECOMENDAÇÃO]
T: Vamos fazer uma coisa... eu quero que você anote em um caderninho o que você comeu
em cada refeição, a que horas você comeu, e se a conteceu algo relevante naquele dia ou logo
antes de você comer. [RECOMENDAÇÃO] Vamos ver se com isso a gente entende melhor em
que momentos você tem maior dificuldade em controlar a comida. [INFORMAÇÃO]
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por descrições do cliente, confirmações,
respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações mínimas do tipo “hum hum”, “sei”.
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate sua opinião ou avaliação sobre
eventos ou seu sentimento com relação a eventos. Os eventos cuja avaliação, opinião ou sentimento
é solicitada podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos encobertos, aspectos da
159
história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao comportamento do cliente e podem ter
sido relatados pelo cliente ou observados pelo terapeuta. A SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO do terapeuta pode se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente
antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos
ocorridos/ relatados em sessões anteriores.
Ex: C: “eu viajei durante o fim de semana”. [RELATO]
T: “você gostou?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
C: “Meu marido acha que eu sou muito gorda”. [RELATO]
T: “você acha que você é muito gorda?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
C: “Minha irmã sempre atrai toda a atenção na família”. [RELATO]
T: “Como você se sente com relação a isso?” [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
T: Diga-me o que você pensa sobre isso. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
Forma
Solicitações de relato qualificativo apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se
em:
(1) perguntas fechadas - que solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
Ex: T: E você se sente bem com isso? [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
E para você isso é certo? [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
(2) perguntas abertas - que solicitam que o cliente descreva, relate ou discorra sobre seu sentimento,
explicação ou opinião com relação a eventos.
Ex: T: “Como você se sente quando seu irmão faz essas coisas?”. [SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO]
C: “Você tem alguma explicação para tanta cobrança em seu trabalho?”. [SOLICITAÇÃO
DE RELATO QUALIFICATIVO]
C: “eu estou tão bravo com meu chefe!”; T: “Há várias semanas você vem relatando
problemas com seu chefe. Você vê alguma relação entre todos esses eventos?”.
[SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
T: Teve uma vez que você falou comigo que nunca tinha feito terapia com homem. Que, era
uma experiência nova. Que era legal de experimentar, de ver como é que era... Como você está
se sentindo?
160
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou ordenando que o cliente descreva
ou relate seu sentimento, explicação ou opinião com relação a eventos.
T: Fale-me o que você sente quando isso ocorre. [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por relatos qualificativos do cliente,
explicações, confirmações, respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações mínimas do tipo
“hum hum”, “sei”.
Definição
Serão consideradas ESTRUTURAÇÃO verbalizações do terapeuta que estabelecem as condições
nas quais o processo terapêutico será desenvolvido, tais como...
(1) solicitações de atividades, técnicas ou exercícios terapêuticos a serem executadas com a
participação ou não do terapeuta, durante a interação terapêutica no consultório ou extra-
consultório.
T: Vamos experimentar praticar isso em uma representação? [ESTRUTURAÇÃO]
Dessa vez, tente dizer diretamente o que você sente. [RECOMENDAÇÃO]
161
T: Agora vamos fazer um exercício de exposição: [ESTRUTURAÇÃO] experimente
pegar na maçaneta dessa porta e ficar por quinze minutos sem lavar as mãos.
[RECOMENDAÇÃO]
(2) descrições ou regras sobre o funcionamento de determinadas técnicas, estratégias, jogos,
exercícios ou programas terapêuticos ou sobre o andamento da própria sessão;
Ex: T: Durante a exposição nós vamos trazer para a sessão algo que você teme e você
deverá permanecer em contato com ele sem que você faça o ritual. [ESTRUTURAÇÃO]
T: O exercício de relaxamento que eu vou te ensinar agora serve para você controlar a sua
ansiedade nas situações mais difíceis [INFORMAÇÃO]... você deve respirar em quatro
tempos, contando até quatro bem devagar em cada um deles... inspira em quatro... segura
quatro... solta em quatro... e segura quatro... [ESTRUTURAÇÃO] mas precisa ser treinado
com freqüência para que você possa ter um melhor domínio sobre sua ansiedade. Se você
deixar pra treinar na hora da crise de ansiedade não vai funcionar. [INFORMAÇÃO]
T: Esse assunto é bastante importante. [INFORMAÇÃO] Vamos voltar a falar sobre ele
na próxima sessão. [ESTRUTURAÇÃO]
(3) descrições do terapeuta sobre o funcionamento da terapia (contrato, regras, objetivos), acerto
de horários e local para a realização da sessão, para o estabelecimento do contrato
terapêutico (enquadre).
Ex: C: “Vou me reunir com você semanalmente?” [SOLICITAÇÃO]
T: “Nós nos encontraremos duas vezes por semana.” [ESTRUTURAÇÃO]
T: “vamos falar sobre a última semana primeiro, então nós vamos falar um pouco mais
sobre sua situação em casa e vamos terminar com um exercício de relaxamento.”
[ESTRUTURAÇÃO]
T: “o valor da sessão é $$”. [ESTRUTURAÇÃO]
T: Não tem nada sistematizado, do tipo “eu vou ter que ir por aqui, depois por aqui,
depois ali, tá?” Então, fica à vontade. A gente vai indo. Não se preocupe com essa coisa
da, dessa resistência, desse receio. É natural. Então relaxa. [ESTRUTURAÇÃO]Com o
andamento das sessões você vai se sentindo mais à vontade [INFORMAÇÃO]
(4) Acertos ocasionais de horário e/ou local da sessão.
T: “Então, a gente, na semana que vem faz na terça-feira, das três às quatro.”
[ESTRUTURAÇÃO]
(5) Ordens ou pedidos de parada ou mudança do comportamento do cliente dentro da sessão.
T: “Por favor, preste atenção enquanto eu estou falando”. [ESTRUTURAÇÃO]
T: “Eu gostaria que você não colocasse os pés no sofá”. [ESTRUTURAÇÃO]
T: “Sente-se em sua cadeira enquanto conversamos. Eu não consigo conversar com você
andando pela sala”. [ESTRUTURAÇÃO]
Forma
(1) ESTRUTURAÇÃO apresenta tipicamente a forma imperativa.
Ex: T: Faça... Quero que você vá...
(2) Pode, eventualmente, ser apresentada em forma interrogativa, como uma pergunta que sugere
uma ação:
Ex: T: Você não acha que seria melhor...? E se você fizesse...? Seria possível...?
162
(3) Pode também apresentar a forma afirmativa.
Ex: T: Acredito que você deveria... Penso que a melhor alternativa seria...
(4) Pode apresentar a forma de permissão.
Ex: T: Você pode começar por onde achar melhor...
(5) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder, podem ter a forma de
verbalizações mínimas ou respostas curtas do tipo sim ou não.
Ex: C: Eu deveria começar? T: Hum Hum
Contexto
Precedente:
Estruturação pode ou não ser precedida por solicitação por parte do cliente.
Também é comum ser precedida por verbalizações de DESCRIÇÃO do cliente.
Pode também ser precedida por explicações/ interpretações por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Tipicamente são seguidas por confirmação do cliente, períodos de silêncio ou questionamento ou
reprovação, mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Definição:
Esta categoria é usada quando o terapeuta está escutando o cliente, mas fazendo expressões vocais
curtas que sugerem que ele está prestando atenção e que a outra pessoa deveria continuar falando.
Constituída tipicamente por verbalizações mínimas.
Caracteriza-se também por comentários breves apresentados após uma descrição, que resumem em
poucas palavras o essencial do que o cliente disse, ou inferem a continuidade da descrição,
sugerindo interesse no assunto e demonstrando que está atento ao relato.
Ex: C: ...deixei bem agradável, a cozinha com toalha bonita, e a sala, tal, e no Sábado
falei pra caseira: "cê lava a varanda, coloca essa toalha na mesa da varanda, nesse tripé de
ferro fundido coloca um vasinho”. Ela até nem colocou o meu, ela foi pegar um dela, de
onze horas amarelas, assim. [RELATO]
T: Todo mundo ajudando. [FACILITAÇÃO]
C: Daí, ficamos até de noite, fiquei lá, falei, vou dar uma ligada [RELATO]
T: E ele no plano de sedução... [FACILITAÇÃO]
(6) descrição de diálogos ou assuntos anteriormente discutidos, somente em casos nos quais
essa descrição foi solicitada pelo cliente devido a este ter perdido ou esquecido o rumo da
discussão ou após alguma interrupção, para retomada do assunto.
C: Onde é que eu estava mesmo? [SOLICITAÇÃO]
T: Você estava falando sobre sua viagem de férias. [ESTRUTURAÇÃO].
T (após interrupção da sessão): Então, você estava me falando sobre o seu receio de
prestar o vestibular. [ESTRUTURAÇÃO].
Forma
(1) Expressões paralinguísticas ou afirmações curtas to tipo “Hum hum”, “Ahã”, “Sei”, “certo”,
“sim”.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de FACILITAÇÃO costumam ocorrer simultaneamente a verbalizações de RELATO
do cliente ou imediatamente após estas, entre pequenas pausas (menores que três segundos).
164
Subseqüente:
Verbalizações de FACILITAÇÃO sugerem a continuidade do relato e, portanto, são tipicamente
seguidas por RELATO do cliente.
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes ações do terapeuta, que indicam afeto, compreensão e
aceitação do cliente:
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta demonstra compreender os estados internos e/ou a condição
à qual o cliente está exposto, validando seus atos ou sentimentos, sem julgamento ou avaliação
crítica (Adaptado de Falcone, 2000).
(1a) Terapeuta nomeia ou infere sentimentos, valores e/ou a importância de eventos
experimentados pelo cliente a partir de seu comportamento não vocal, do contexto ou a
partir de sua descrição de eventos.
Ex: T: Imagino que isso te deixa ansioso. [EMPATIA]
T: Isso que você descreve parece mais raiva que tristeza. [EMPATIA]
T: Você me parece muito irritado. [EMPATIA]
T: Vejo que essa tem sido uma parte crucial da sua vida. [EMPATIA]
165
(1b) Comentários em forma de exclamação, apresentados após a descrição de eventos que
não ações do cliente, consistentes com o assunto relatado e que indicam interesse nele.
Ex: T: “é mesmo?” [EMPATIA]
T: “que coisa!” [EMPATIA]
T: “nossa!”. [EMPATIA]
(1c) verbalizações que sugerem que aquilo que o cliente sente ou faz é normal, ou esperado,
unicamente quando essas verbalizações ocorrerem em situações de queixa ou descrição de
sofrimento ou sentimento de inadequação por parte do cliente.
Ex: T: É normal que você se preocupe com isso. [EMPATIA]
(1d) verbalizações nas quais o terapeuta demonstra preocupação pessoal com o cliente,
quando não acompanhada de crítica ou explicação.
Ex: T: Como é que você está? Na semana passada você estava super resfriada.
[EMPATIA]
(1e) verbalizações nas quais o terapeuta relata sua experiência em situações semelhantes
(auto-revelação) àquela relatada pelo cliente, quando tal relato não sugerir a solução de
algum problema em discussão ou da queixa sendo analisada.
Ex: T: Você sabe... eu também já passei por isso... é muito chato quando a gente
investe toda a energia em um negócio e ele não dá certo... posso imaginar o quanto
você está frustrada... [EMPATIA]
(1f) Verbalizações do terapeuta nas quais ele revê suas próprias ações durante o processo
terapêutico, corrigindo sua intervenção, admitindo seus erros ou pedindo desculpas por
alguma ação sua com relação ao cliente.
Ex: C: Estou frustrado. Eu fiz tudo o que você me pediu e você não foi capaz de
me ajudar pra que meu filho largasse as drogas. [RELATO QUALIFICATIVO]
T: Eu gostaria muito de tê-lo ajudado para mudar essa situação. Eu me pergunto o
que poderia ter sido diferente, mas o fato é que não foi possível e eu também me
sinto frustrado por isso. [EMPATIA]
(2) Verbalizações que produzem humor ou extraem o lado cômico ou engraçado de determinada
situação. Inclui verbalizações acompanhadas por risadas, que tenham sido humorísticas, mesmo que
remotamente.
Ex: C: É, mas eu não dei [o beijo que o namorado havia pedido], claro, falei
"magina, tô dirigindo, olha o trânsito!",[RELATO] nessas alturas o trânsito
ridículo, na Castelo, né? Mas eu nem senti passar... [RELATO
QUALIFICATIVO]
T: Quanto mais trânsito melhor, que cê fica mais tempo com ele. (risos) [EMPATIA]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta apresenta de forma resumida o que foi dito em algum ponto
anterior pelo cliente na mesma sessão, por meio de repetição literal ou reorganização das
verbalizações do cliente, desde que essa reorganização não implique em uma interpretação diferente
daquela descrita no relato do cliente ou não acrescente informações ou opiniões do terapeuta que
não estavam na fala do cliente. A reformulação pode também ser uma paráfrase de qualquer
verbalização imediatamente precedente, apenas quando ela não contiver descrição de sentimentos
do cliente.
166
Ex: T: Então você perdeu seu emprego e está muito difícil encontrar um outro.
(sintetizando descrição do cliente). [EMPATIA]
Forma
Não especificada.
Verbalizações de EMPATIA nas quais o terapeuta reformula, sintetiza ou parafraseia a fala do
cliente tipicamente tem a forma afirmativa, e contém menos, mas semelhantes palavras que aquelas
utilizadas pelo cliente e, normalmente são mais concreta e claras que a verbalização do cliente.
Contexto
Precedente:
Verbalizações de EMPATIA tipicamente são precedidas por descrições do cliente, sendo comum
serem precedidas por descrições de queixa por parte deste.
Podem, entretanto, ser precedidas por qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Subseqüente:
Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes ações do terapeuta, que encorajam ou apóiam o cliente a
enfrentar determinadas situações difíceis:
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta encoraja o cliente, sugerindo que ele pode ou é capaz de
mudar determinado comportamento ou de agir em determinado sentido.
(1a) Verbalizações que instilam esperança ao cliente, indicando que é possível superar
determinada dificuldade.
Ex: T: Da forma com que você está fazendo, muito breve você estará livre disso.
[INCENTIVO]
T: Tenho certeza que você é capaz de fazer isso. [INCENTIVO]
T: Eu posso te ajudar nesse problema. [INCENTIVO]
T: Conte comigo. [INCENTIVO]
Forma
INCENTIVO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto
Precedente:
Verbalizações de INCENTIVO tipicamente são precedidas por descrições do cliente.
Podem, entretanto, ser precedidas por qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Subseqüente:
Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes classes de verbalização, todas elas sugerindo aprovação
ou concordância a ações do cliente.
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta expressa julgamento favorável a ações ou características do
cliente (sejam estas relatadas pelo cliente ou observadas pelo terapeuta).
Ex: T: Você tomou a decisão certa, está lidando com isso da maneira correta.
[APROVAÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o terapeuta diz ao cliente que ele está indo bem ou elogia suas ações,
características ou aparência.
Ex: Você está de parabéns! Sua condução foi perfeita! [APROVAÇÃO]
Ex: T: Que lindo esse teu colarzinho! [APROVAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta descreve os progressos ou sucessos do cliente.
Ex: Puxa, C., eu estava me lembrando da época em que a gente começou a trabalhar juntos.
Como as coisas estão mudadas! Você lembra que era difícil pra você até mesmo vir sozinha
para cá? E agora você está se virando sozinha, com o maior desprendimento... acho muito legal
isso! [APROVAÇÃO]
(4) Verbalizações nas quais o terapeuta confirma ou relata estar de acordo com afirmações
verbalizadas pelo cliente.
Ex: Com certeza! Você tem toda a razão. [APROVAÇÃO]
(5) Verbalizações nas quais o terapeuta discorda do cliente, mas o faz de forma a ressaltar
carcaterísticas positivas do cliente.
Ex: C: “Eu só melhorei por causa da medicação”. [RELATO]
T: “De fato, a medicação pode te ajudar, mas se você não tivesse agido, tudo estaria igual”.
[APROVAÇÃO]
(6) Relato de sentimentos que o cliente desperta no terapeuta, que indicam que gosta dele ou que
sente-se bem em sua presença ou que está satisfeito com relação a alguma ação realizada pelo
cliente ou com o andamento da sessão.
Ex: T: Gostei muito da nossa sessão de hoje. Acho que falamos de assuntos bastante
importantes. [APROVAÇÃO]
T: Você conversa super bem! É muito agradável conversar com você. [APROVAÇÃO]
(7) Verbalizações exclamativas após o relato de alguma ação por parte do cliente, sugerindo que tal
ação agradou ao terapeuta.
Ex: C: Consegui recuperar a minha nota de matemática. [RELATO]
T: Que máximo!!! [APROVAÇÃO]
(8) Comentários em forma de exclamação ou risos, apresentados após a descrição de ações do
cliente.
Ex: C: Consegui caminhar todos os dias essa semana. [RELATO]
T: “é mesmo?” [APROVAÇÃO]
C: Você não sabe! Consegui fechar o negócio com meu apartamento! [RELATO]
169
T: “não acredito!”, [APROVAÇÃO]
C: Daí, fomos para a capela e me chamou a atenção o ______, o cachorro do caseiro, porque
desde pequeno ele me acompanha na capela... só que ele não entra. Então ele... põe o pézinho,
ele só olha para mim ele tira o pé do piso e fica no cimento do lado de fora parado olhando, ele
não entra ... é uma coisa bárbara você ver! [RELATO]
T: nossa, e você ensinou ele... [APROVAÇÃO]
(9) Verbalizações nas quais o terapeuta agradece o cliente por alguma ação deste ou após um
elogio.
Ex: C: Não, você é uma das responsáveis, eu tinha que dizer, não, eu faço questão, eu sou
muito franca, sabe, de extrema transparência, é, você, de uma forma assim, muito inteligente, tá
sabendo me conduzir assim, entre aspas[CONCORDÂNCIA], porque eu to tendo mais
discernimento, sabendo o que é mais conveniente e o que não é e tô tentando encontrar o
caminho, não é?, Sem tanto medo de ser feliz. [MELHORA]
T: Que bom, brigada, fico muito contente. [APROVAÇÃO]
Forma
Verbalizações de aprovação apresentam tipicamente a forma exclamativa ou afirmativa (do tipo
descritiva).
Podem também ser acompanhadas por perguntas de confirmação por parte do terapeuta.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de aprovação tipicamente são precedidas por verbalizações de descrição de eventos
por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações do terapeuta do tipo INFORMAÇÃO ou
INTERPRETAÇÃO.
Subseqüente:
Tipicamente são seguidas por CONCORDÂNCIA do cliente, períodos de silêncio ou OPOSIÇÃO,
mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Definição:
Verbalizações nas quais o terapeuta relata eventos ou informa o cliente sobre eventos, que não o
comportamento do cliente ou de terceiros, estabelecendo ou não relações causais ou explicativas
entre eles.
O evento relatado pode consistir em...
(1) dados ou fatos relacionados a determinado assunto em discussão.
Ex: C: Eu penso em fazer uma especialização em biologia. [RELATO]
T: Biologia requer vários cursos adicionais de laboratório. [INFORMAÇÃO]
T: Eu não conheço um médico com esse nome. [INFORMAÇÃO]
Ex: C: Você já atendeu casos como esse? [SOLICITAÇÃO]
T: Sim, muitos. [INFORMAÇÃO]
(2) descrição de relações explicativas ou causais entre eventos - relações do tipo "se... então",
apenas quando não dizem respeito ao comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: T: Um ataque de pânico pode ocorrer independentemente de a pessoa ter síndrome do
pânico. Por exemplo, quando a gente entra em contato com alguma coisa da qual a gente tem
muito medo, isso pode provocar um ataque de pânico. [INFORMAÇÃO]
(3) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos - relações do tipo “o evento X
ocorre quando Y ocorre...”, apenas quando não dizem respeito ao comportamento do cliente
ou de terceiros;
(4) explicações teóricas ou descrição de achados experimentais relativos ao assunto em discussão,
desde que não envolva a queixa ou o comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: T: Não há a necessidade biológica de se dormir por oito horas. A quantidade de sono
necessária para cada um é também aprendida. [INFORMAÇÃO]
Ex: T: O seu desempenho em um teste tende a ser melhor depois de uma noite bem dormida.
[INFORMAÇÃO]
(5) Opiniões, avaliação ou julgamento a respeito de eventos, apenas quando essa não diz respeito a
uma ação emitida pelo do cliente, ao cliente propriamente ou à sessão em curso;
Ex: C: Eu fiquei realmente chocado com aquela cena. [RELATO QUALIFICATIVO]
T: Eu acho que a televisão não deveria mostrar esse tipo de coisa. Não acrescenta em nada a
vida das pessoas. [INFORMAÇÃO]
171
Não-exemplo: T: Eu penso que você poderia, sim, ter comprado o livro. Afinal, o dinheiro é
seu, não é? [RECOMENDAÇÃO] (não é uma opinião do tipo INFORMAÇÃO, porque implica
em uma forma de conselho: compre o livro, além de se referir ao comportamento do cliente)
(6) meta-intervenções, ou intervenções que explicam, justificam ou desculpam as intervenções do
terapeuta.
Ex: “eu não gosto desse tipo de procedimento, mas é o único que vai te ajudar nesse
momento” [INFORMAÇÃO].
Forma:
INFORMAÇÃO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do cliente.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta descreve, supõe ou infere relações a respeito do comportamento
do cliente ou de terceiros. As relações estabelecidas devem ter como foco o comportamento do
cliente ou de terceiros e podem dizer respeito a respostas do cliente e/ou de terceiros, sentimentos,
emoções e pensamentos do cliente e/ou de terceiros, aspectos da história de vida do cliente ou de
terceiros, eventos ambientais relacionados ao comportamento do cliente ou de terceiros. As relações
estabelecidas podem se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos
ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em
sessões anteriores (d) especulações sobre eventos futuros.
172
Essas verbalizações podem incluir:
(1) relações explicativas ou causais entre eventos - relações do tipo "se... então", apenas quando
dizem respeito ao comportamento do cliente ou de terceiros;
Ex: T: Porque quando você faz isso, você fica mais em contato com você. Porque se você
começa a negar... ... Você começa a perder contato com aquilo que você sente. Assim: como é
que as coisas que acontecem no mundo me afetam? Entendeu? [INTERPRETAÇÃO]
T: Muito do que a gente faz, pra que a gente se mantenha fazendo depende da conseqüência
daquilo que a gente faz. Quando a gente faz uma coisa que tem um a conseqüência imediata,
legal. A tendência é que a gente continue fazendo. Quando a conseqüência não é muito legal, a
gente tende não fazer mais. (em situação na qual o cliente relata que não está conseguindo dar
continuidade em seus projetos, pois não se sente motivado) [INTERPRETAÇÃO]
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos - relações do tipo “ o evento X
ocorre quando Y ocorre...”, apenas quando dizem respeito ao comportamento do cliente ou de
terceiros;
T: A impressão que eu tenho é que sempre que ele te faz um elogio, ele é seguido por uma
crítica, do tipo... “você foi ótimo na apresentação, mas...”
(3) explicações teóricas ou descrição de achados experimentais relativos à queixa ou ao
comportamento do cliente ou de terceiros.
(4) apresentação de diagnóstico ou rótulo relativo a algum padrão de interação ou conjunto de
sintomas descritos pelo cliente ou observados pelo terapeuta.
Ex: Você acha que eu estou deprimido? [SOLICITAÇÃO]
T: Você parece mais ansioso que deprimido [INTERPRETAÇÃO]
T: Isso que você acabou de descrever é conhecido pela psiquiatria como Transtorno
Obsessivo-Compulsivo. (após a descrição do cliente de sua queixa) [INTERPRETAÇÃO]
(6) apresentação de conclusão relativa a algum teste, escala ou instrumento de avaliação
psicológica.
Ex: C: Quais foram os resultados do teste? [SOLICITAÇÃO]
T: O teste indica que você tem maior interesse por profissões relacionadas ao cuidado e
atendimento de pessoas. [INTERPRETAÇÃO]
(7) sínteses ou conclusões formuladas sobre o comportamento do cliente ou de terceiros, a partir de
eventos relatados pelo cliente, que apresentem uma interpretação diferente daquela descrita no
relato do cliente ou acrescentam informações ou opiniões do terapeuta que não estavam na fala do
cliente.
Ex: T: Então, você está dependente de álcool e começa a beber de manhã, eu suponho.
[INTERPRETAÇÃO]
(8) descrição de padrões ou temas recorrentes relativos ao comportamento do cliente ou de
terceiros.
Ex: T: Você se dá conta de que suas obsessões sempre são relacionadas a situações nas quais
você age por impulso com outras pessoas e depois se arrepende? Aí você fica ruminando sobre
o que poderia ter sido diferente... é por isso que eu falo que seu problema tem muito mais a ver
com relacionamento do que com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo propriamente dito.
[INTERPRETAÇÃO]
(9) descrições por meio de metáforas ou analogias, que contém, de forma implícita ou direta,
análises sobre padrões de interação do cliente ou sobre relações entre eventos.
173
Ex: T: Quando você falou que tinha dor de cabeça, eu lembrei daquelas mulheres que na
hora de transar "ah, eu não posso, estou com dor de cabeça". [INTERPRETAÇÃO]
(9) inferências ou suposições sobre a ocorrência de relações ou eventos até então não relatados pelo
cliente ou não descritos pelo terapeuta, apenas quando essa inferência não diz respeito a
sentimentos e emoções do cliente.
Ex: T: Imagino que ele tenha sido extremamente gentil nas primeiras semanas e depois...
[INTERPRETAÇÃO]
(10) previsões sobre o comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: T: Acredito que a próxima coisa que ele vai fazer é te convidar para sair...
[INTERPRETAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta aponta discrepâncias ou contradições no discurso do cliente
(seja em tom confrontativo ou agradável).
Forma
(1) Explicações ou Interpretações apresentam tipicamente a forma afirmativa.
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa ou ainda...
(3) como uma afirmação seguida de uma pergunta de confirmação.
Contexto:
Precedente: Explicações ou Interpretações são tipicamente precedidas por descrições do cliente ou
do terapeuta.
Podem também ser precedidas por períodos de silêncio.
Outra situação característica é o uso desse tipo de verbalização ao final da sessão, como forma de
encerramento.
Pode, entretanto, ocorrer após qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Subseqüente:
Explicações ou Interpretações podem ser seguidas por confirmações do cliente, por períodos de
silêncio ou ainda por verbalizações de CONCORDÂNCIA ou OPOSIÇÃO por parte deste.
Em algumas interações pode ser observada a ocorrência de seqüências de explicação/ interpretação,
seguidas por RECOMENDAÇÃO do terapeuta.
Podem, entretanto, ser seguidas por qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Definição
Verbalizações do terapeuta que especificam ações ou conjuntos de ações a serem emitidas pelo
cliente, dentro ou fora da sessão.
Ex: T: Eu quero que você tente conversar com seu pai durante a semana e lhe falar sobre o
que você sente nessas situações. [RECOMENDAÇÃO]
T: Faça a prova amanhã, antes que você esqueça a matéria. [RECOMENDAÇÃO]
T: Você deveria cuidar de sua vida e deixar que seu irmão administre as suas próprias
coisas. [RECOMENDAÇÃO]
T: Agora me diga o mesmo que você acabou de dizer, só que sem mexer as pernas.
[RECOMENDAÇÃO]
Uma verbalização de RECOMENDAÇÃO pode especificar ações de caráter aberto (respostas
passíveis de serem observadas por outros que não o próprio cliente) ou encoberto (respostas
passíveis de serem observadas apenas pelo próprio cliente - pensamentos especificos ou mudanças
em sentimentos).
Ex: T: Você não deve se sentir culpado por uma coisa que não foi sua responsabilidade.
Lembre-se que nem tudo está sob seu controle. [RECOMENDAÇÃO]
Ex: T: Quando você for enfrentar a situação, lembre-se de todas as vezes que você teve
sucesso. [RECOMENDAÇÃO]
Não-exemplo: T: Quero que você reflita sobre o que estava ocorrendo todas as vezes que
você obteve sucesso no enfrentamento. [SOLICITAÇÃO DE AVALIAÇÃO] * não se trata de
recomendação, porque o que é solicitado pelo terapeuta não é o engajamento do cliente em uma
resposta encoberta de topografia especificada.
Também serão consideradas verbalizações de RECOMENDAÇÃO aquelas nas quais o terapeuta
declaradamente comporta-se de forma a oferecer modelos de ação para o cliente.
Ex: T: Agora tente fazer um pedido para mim da mesma forma com que acabei de falar.
[RECOMENDAÇÃO]
Ex: T: Tente repetir a sequência do jogo assim como eu fiz. [RECOMENDAÇÃO]
Ex: T: Eu vou falar como eu acredito que você deveria conversar com o seu chefe.
[RECOMENDAÇÃO]
175
Ex: T: Observe agora como eu estou fazendo para depois você fazer o mesmo.
[RECOMENDAÇÃO]
Forma
(1) Orientações apresentam tipicamente a forma imperativa, consistindo em ordens, conselhos,
avisos, comandos ou instruções.
Ex: T: Faça... Quero que você vá...
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa, como uma pergunta que sugere
uma ação:
Ex: T: Você não acha que seria melhor...? E se você fizesse...? Seria possível...?
(3) Podem também apresentar a forma afirmativa.
Ex: T: Acredito que você deveria... Penso que a melhor alternativa seria...
(4) Podem apresentar a forma de permissão, proibição ou obrigação.
Ex: C: Eu posso anotar tudo à noite, antes de dormir ou tenho que fazer na hora em que
acontece? [SOLICITAÇÃO]
T: Faça como você achar melhor. O importante é que você registre o máximo de situações que
ocorrerem ao longo do dia. [RECOMENDAÇÃO]
(5) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder, podem ter a forma de
verbalizações mínimas ou respostas curtas do tipo sim ou não.
Ex: C: Então eu tenho que ficar na situação, mesmo com medo? [SOLICITAÇÃO]
T: Hum Hum [RECOMENDAÇÃO]
Contexto
Precedente:
RECOMENDAÇÃO pode ou não ser precedida por solicitação por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações de RELATO do cliente.
Podem também ser precedidas por explicações/ interpretações por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Tipicamente, RECOMENDAÇÕES são seguidas por CONCORDÂNCIA do cliente, períodos de
silêncio ou OPOSIÇÃO, mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
Orientações para a emissão de respostas de caráter encoberto só serão consideradas
RECOMENDAÇÃO quando a verbalização do terapeuta especificar a topografia da resposta a ser
emitida pelo cliente. Quando a orientação é genérica no sentido de refletir sobre determinada
questão ou pensar sobre determinado assunto, ela será categorizada como solicitação de avaliação.
(a) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder serão consideradas
RECOMENDAÇÃO.
(b) quando sugestões forem apresentadas de modo sarcástico, categorize CONFRONTAÇÃO.
176
(c) qualquer permissão ou proibição do terapeuta a respeito de ações a serem executadas fora da
sessão será categorizada como RECOMENDAÇÃO.
(d) Quando uma verbalização sugerir que o cliente poderá melhorar caso realize determinadas ações
ou tarefas propostas pelo terapeuta, será categorizada RECOMENDAÇÃO.
(e) Verbalizações nas quais o terapeuta revela sua própria experiência com relação ao evento
supõem a proposição do terapeuta como um modelo e, portanto, serão categorizadas como
RECOMENDAÇÃO.
(f) Quando o terapeuta revela informações pessoais de forma a sugerir compreensão ou
entendimento da experiência do cliente, será categorizado EMPATIA.
(h) Relatos do terapeuta de algum evento de sua própria experiência, quando não sugerirem a
solução de problema ou queixa ou a compreensão ou entendimento da experiência do cliente, serão
categorizadas como OUTRAS.
(g) Quando o terapeuta oferece um modelo de ação e sugere que o cliente siga o modelo
imediatamente na sessão, será categorizado ESTRUTURAÇÃO.
(h) Quando uma RECOMENDAÇÃO é acompanhada de explicações do porquê o cliente deve
seguir aquela RECOMENDAÇÃO, registrar a ocorrência de ambas as categorias –
RECOMENDAÇÃO e INFORMAÇÃO , cada uma no segmento apropriado da interação.
Ex: T: Eu vou sugerir uma coisa. Que você faça um tipo de anotação pra mim, durante essa
semana. Eu vou te dar certinho o que que você precisa anotar e você vai fazer toda vez que
aparecer esse tipo de pensamento, esse tipo de coisa. [RECOMENDAÇÃO] Porque talvez se
você me escrever na hora o que que aconteceu, o que que... talvez eu tenha idéia de quantas
vezes isso ocorreu pela semana. Vou ter idéia do tempo que você demorou pra fazer cada ritual,
vou ter idéia do que está acontecendo. Com isso, a gente tem uma base boa pra estar
trabalhando, se você fizer isso. Durante uma semana, a gente tem uma medida legal de como é
que isso corre durante o dia ao longo de uma semana. [INFORMAÇÃO]
Definição
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta discorda ou expressa julgamento desfavorável sobre ações,
avaliações afirmações propostas ou características do cliente (sejam estas relatadas pelo cliente ou
observadas pelo terapeuta).
(2) Verbalizações nas quais o terapeuta descreve falhas do cliente ou critica suas ações,
características ou aparência.
Ex: T: “eu penso que você faz bem algumas coisas tais como supervisionar, monitorar
[APROVAÇÃO], entretanto às vezes você entra em uma escalada de castigo, castigo, castigo”.
[CONFRONTAÇÃO]
(4) Comentários de qualquer natureza feitos em tom sarcástico ou hostil com relação ao cliente.
Comentários do terapeuta que sugerem incredulidade a respeito de relatos do cliente sobre o que
disse ou fez ou terapeuta ri de algo que o cliente disse ou fez.
Ex: T: “Você quer dizer que você o deixa dormir em sua cama e ele a molha toda noite?
[risada]” [CONFRONTAÇÃO]
T: “Você o deixou escolher seu próprio castigo?” [CONFRONTAÇÃO]
T: “Você de fato pensa que sua mãe deveria deixá-lo vir para casa quando você quer?”
[CONFRONTAÇÃO]
177
T: “Eu vou pegar uma xícara de café. Eu estou perdido.” [CONFRONTAÇÃO]
T: “Você ta fumando com essa tosse? (sorrindo).” [CONFRONTAÇÃO]
T: “Eles pegaram a recompensa mesmo quando eles não a tinham merecido?” (pergunta
apresentada em tom hostil após a cliente dizer que prometeu recompensa aos filhos após uma
tarefa e que os filhos não cumpriram a tarefa e ela os recompensou). [CONFRONTAÇÃO]
(5) Verbalizações nas quais o terapeuta prevê conseqüências negativas ou aversivas para uma ação
(ou pela não ação) do cliente em forma de ameaça.
Ex: T: “Você pode escolher fazer isto deste modo ou ser miserável o resto de sua vida.”
[CONFRONTAÇÃO]
(7) Paráfrase de verbalização anterior do cliente que explicita uma crítica ou aponta uma falta ou
erro do cliente.
(8) Verbalizações nas quais o terapeuta relata sua experiência com relação a um evento do qual o
cliente se queixa, sugerindo que sua atuação foi melhor que a do cliente ou que, se ele conseguiu
solucionar o problema, o cliente também deveria conseguir (auto-revelações desafiadoras).
(9) Verbalizações nas quais o terapeuta insiste na continuidade de algum assunto o qual o cliente
claramente está tentando evitar, por meio de mudanças do assunto ou de silêncio. Vai dividir em
várias categorias
(11) Relato de sentimentos que o cliente desperta no terapeuta que indicam que não gosta dele ou
de algo que ele faça ou que não está sentindo-se bem com algum aspecto relativo ao comportamento
do cliente.
Ex: T: “Eu vou continuar a atendê-lo por que para mim é um desafio, mas eu não gostei de
você.” [CONFRONTAÇÃO]
Ex: T: “Eu fico muito irritado quando você fala comigo dessa forma. e quando isso acontece,
a vontade que eu tenho é de te tratar da mesma forma”. [CONFRONTAÇÃO]
(12) Verbalizações nas quais o terapeuta diz ao cliente que ele está impedindo o progresso
terapêutico ou o andamento da sessão.
Ex: T: “Eu quero ajudá-la, mas é impossível fazermos alguma coisa com tantos atrasos...
hoje você chegou 40 minutos atrasada... o que nós podemos fazer em dez minutos?”
[CONFRONTAÇÃO]
Forma
Verbalizações do tipo CONFRONTAÇÃO tipicamente apresentam a forma afirmativa (do tipo
descritiva).
Podem assumir a forma de pergunta, com entonação sarcástica ou hostil.
Podem também apresentar a forma imperativa quando implicam em um comando para mudança de
comportamento dentro da sessão.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de CONFRONTAÇÃO tipicamente são precedidas por verbalizações de descrição de
eventos por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações do terapeuta do tipo INFORMAÇÃO ou
INTERPRETAÇÃO.
178
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Definição:
Verbalizações do terapeuta não classificadas nas categorias anteriores.
Inclui também verbalizações do terapeuta ao cumprimentar o cliente em sua chegada ou partida,
anúncios de interrupções ou comentários ocasionais alheios ao tema em discussão.
Ex: T: Quer uma balinha?
Forma
(1) Qualquer formato.
179
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Definição
Verbalizações do terapeuta cujo conteúdo está ininteligível devido a problemas no áudio do filme,
ou qualquer outro problema que impeça sua identificação e categorização.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Definição
Esta categoria inclui diferentes tipos de pedidos ou questões efetuados pelo cliente, a saber:
(1) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta informações, confirmações ou
esclarecimentos a respeito de eventos, da racional da terapia ou do andamento da sessão. Os eventos
cuja informação é solicitada podem incluir (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b)
eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/
relatados em sessões anteriores ou em outros momentos da vida do cliente ou do terapeuta.
Ex: C9: A conversa tomou outro rumo, né. ? [SOLICITAÇÃO]
T: Não se preocupe. [ESTRUTURAÇÃO]
C: E comecei. Fui estudar à noite, e... comecei a fumar maconha, foi indo, foi indo, foi indo
e, deu no que deu. Mas porque que a gente falou dessa história toda ? [SOLICITAÇÃO]
T: Então... (pega um papel).Eu quero que você anota pra mim, não sei se você vai precisar
desse lembrete, você me fala... eu anoto. Das situações dentro da sua casa, em que você faz o
ritual. Então, vai falar assim "olha, quando eu entro no quarto..." né? Então você pode até ir por
ponto;, tipo, no quarto, a torneirnha do gás que está lá fora... algumas das coisas fixas da sua
casa, onde a visão ou simplesmente saber que está lá, inicializa esse ritual.
[RECOMENDAÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta que avalie seu comportamento ou o
comportamento de terceiros, emita um diagnóstico sobre o seu problema ou o problema de terceiros
ou, ainda, solicita que o terapeuta analise seu problema ou de terceiros. A resposta cuja avaliação ou
conselho é solicitada pode ser de caráter aberto (respostas passíveis de serem observáveis por um
observador que não o próprio cliente) ou encoberto (respostas passíveis de serem observáveis
apenas pelo próprio cliente).
Ex: C: Aí tinha uns versinhos que eu escrevi para ele que eu trouxe pra você pra ver se eu
não estou exagerando na pedida... [SOLICITAÇÃO]
C: Você acha que isso é possível para mim?. [SOLICITAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta que este sugira alternativas de resposta ou
cursos de ação possíveis10.
C: O que eu poderia fazer se ela começar com isso novamente? [SOLICITAÇÃO]
9
C indica uma fala de cliente, T uma fala do terapeuta. Um novo diálogo é iniciado em cada marcador .
10
Esse tipo específico de solicitação, quando encontrado em freqüência elevada e/ou acompanhado de correlatos
verbais não vocais ou não verbais característicos, pode indicar um padrão superdependente do cliente, que é apontado
na literatura clínica como um tipo de comportamento “resistente”.
181
(5) Verbalizações nas quais o cliente solicita que o terapeuta utilize determinados procedimentos ou
técnicas, solicita que ele maneje determinada questão ou tema ou ainda verbalizações nas quais o
cliente sugere ao terapeuta o que este deve fazer com relação ao seu tratamento.
Ex: C: O Z. falou que tem que ser trabalhado isso, viu?... [SOLICITAÇÃO]
C: Eu quero que você me ensine a aplicar a exposição para pânico. [SOLICITAÇÃO]
(6) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta asseguramento sobre a ocorrência (ou
não) de determinados eventos, sobre fatos ou sobre a correção de sua (do cliente) avaliação ou
opinião a respeito de eventos.
Ex: C: Aí eu falei pra ele que isso é por causa de algum trauma de infância. [RELATO] Você
não acha que pode ser isso? [SOLICITAÇÃO]
Forma
SOLICITAÇÕES apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se em:
(1) perguntas fechadas - solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
(2) perguntas abertas - que solicitam que o terapeuta descreva, relate ou discorra.
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou que o terapeuta faça algo,
informe, descreva ou relate eventos.
(4) afirmações ou comentários de clarificação, que sugerem a continuidade da descrição do
terapeuta.
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por categorias do terapeuta do tipo
INFORMAÇÃO, RECOMENDAÇÃO, INTERPRETAÇÃO ou ESTRUTURAÇÃO. Pode também
ser seguida por confirmações do terapeuta, respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações
do tipo FACILITAÇÃO.
(b) Se um pedido for apresentado ao terapeuta em tom claramente hostil, sarcástico ou de desafio,
categorize OPOSIÇÃO. Na dúvida, mantenha SOLICITAÇÃO.
(c) Perguntas do cliente sobre a experiência ou vida pessoal do terapeuta serão categorizados como
SOLICITAÇÃO.
182
Cliente relata fatos passados ou presentes - RELATO
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou informa ao terapeuta a ocorrência de eventos, ou
aspectos relativos a eventos, sem estabelecer relações causais ou funcionais entre eles e sem
descrever ou demonstrar nenhum tipo de avaliação, opinião ou sentimento.
Ex: C: Ele falou "é, mas pra sair com a F. você sai, né ?". Bom, daí no sábado eu fui lá,
conversei porque eu estava bem e tal, sábado e domingo eu não fui para a chácara porque na
quinta era semana santa tal eu já ia, né, ele me ligou sábado e domingo, ligou segunda tal, ligou
todas as vezes que eu te falei.
C: Na verdade assim: Eu fazia um... Faço ainda um acompanhamento de hepatite. Que eu
tenho hepatite crônica, sei lá... desde 80. E... aí nesse acompanhamento eu pedi para o médico
fazer um teste de HIV, porquê... meu parceiro não era lá muito confiável. Comissário, cê sabe
como que é. Aí, não sei, bateu. Falei, "Não". Quero fazer, quero ver o que que tá pegando aqui.
Não que tivesse algum problema. Pelo contrário. Não tinha nada, me sentia muito bem.
Forma:
RELATO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
O tom de voz é tipicamente monótono ou sociável, sem pausas significativas ou correlatos corporais
indicativos de sentimentos.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão/exclusão:
(a) RELATO inclui respostas para perguntas do terapeuta ou informações factuais sobre eventos
passados ou presentes.
(b) RELATO Pode ser categorizada tanto em situações nas quais o terapeuta solicita maiores
detalhes ou esclarecimentos sobre a queixa do cliente ou eventos relatados pelo cliente como em
situações de conversa ou “bate-papo” sobre assuntos diversos.
(c) quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta uma
descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do terapeuta,
categoriza CONCORDÂNCIA, e não relato.
(d) Verbalizações que começam com “eu acho que...”, “penso que o melhor a fazer é...”, quando se
referem a projetos e ações futuras do cliente devem ser classificadas como METAS, e não relato.
(e) Quando o relato do cliente descreve ou demonstra algum tipo de avaliação, opinião ou
sentimento, categorize RELATO QUALIFICATIVO. Na dúvida entre RELATO E RELATO
QUALIFICATIVO, categorize RELATO.
Cliente relata sua opinião, julgamento ou sentimento com relação a eventos – RELATO
QUALIFICATIVO
Verbalizações nas quais o cliente relata eventos ao terapeuta de forma que inclui sua opinião,
julgamento ou sentimento sobre tais eventos, desde que tal relato não contenha relações explicativas
ou causais.
183
Ex: C: É... foi até engraçado. Chega com um calhamaço de flores (risos). Nunca recebi flores
na minha vida. (risos) Achei aquilo o absurdo do absurdo. Mas, muito legal. foi muito bom.
[RELATO QUALIFICATIVO]
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou informa ao terapeuta algum tipo de experiência
emocional vivida por ele ou descreve eventos apresentando correlatos não vocais ou não verbais
indicativos de respostas emocionais (a consideração desse último critério implica também na
categorização correspondente no(s) eixo relativo(s) a respostas não-vocais).
Ex: C: E, caiu fora. [RELATO] Então, assim: a cabeça vai a milhão. Eu passei o sábado
assim, que nem um leão feroz na jaula. Aí, quando, foi à noite eu falei "não, pára com isso. Não
vai se deprimir agora por uma pessoa que você mal conhece, nem sabe da onde veio". Não é a
primeira vez, aliás, todas as vezes, me acontece isso. Fico mal prá cacete. Aí, depois eu vou me
reabilitando. [RELATO QUALIFICATIVO]
Forma:
RELATO QUALIFICATIVO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva. O tom de voz
consiste tipicamente em fala irregular, com pausas e considerações.
Pode também ser acompanhado de respostas emocionais, ou comportamentos não vocais indicativos
de sentimentos (por exemplo, suspiros audíveis, punhos apertados, cabeça baixa, choro, ou posição
de corpo inconstante).
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão/exclusão:
(a) RELATO QUALIFICATIVO pode ser apresentado com ou sem a solicitação do terapeuta.
(b) quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta
uma descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do
terapeuta (mesmo que em tom emocionado), categoriza CONCORDÂNCIA, e não Relato
Qualificativo.
(c) Verbalizações que começam com “eu acho que...”, “penso que o melhor a fazer é...”, quando se
referem a projetos e ações futuras do cliente devem ser classificadas como METAS, e não Relato
Qualificativo.
(d) Quando o cliente descreve o sentimento que experimentou em algum evento passado, mas sem
demonstrar nenhum tipo de emoção presente, categorize RELATO.
Verbalizações nas quais o cliente relata mudanças ou melhora com relação à queixa clínica, a
problemas médicos, a comportamentos relacionados à sua queixa, ou a comportamentos
considerados, pelo cliente ou pelo terapeuta, como indesejáveis ou inadequados
(independentemente da concordância de ambos quanto à melhora).
Exemplos:
184
Ex: C: Estou me sentindo muito bem. Depois da internação assim: todos os meus problemas
acabaram, sabe - fisicamente falando. [MELHORA]
Verbalizações nas quais o cliente relata ganhos em metas importantes ou positivas, ou diminuição
de problemas.
Ex: C: Eu fiquei muito orgulhoso quando eu vi que eu dei conta de fazer aquilo.
[MELHORA]
Inclui também o relato de medidas de autocontrole ou medidas que o cliente tomou por conta
própria para mudar certos comportamentos ou situações.
Ex: C: então eu comecei a caminhar toda noite, antes de ir dormir. [MELHORA]
C: Você vê que eu estou bem mais controlada. [MELHORA]
C: Eu imaginei cenas calmas, e isso me ajudou a relaxar e pegar no sono mais
rapidamente. [MELHORA]
C: É como eu te disse, na semana passada. Eu tô começando a fazer isso, sabe. Eu tô me
impondo mais pra sair, pra conhecer gente, entendeu? Tá conhecendo mais gente.
[MELHORA]
Verbalizações nas quais o cliente relata que descobriu, tomou consciência ou passou a aceitar ou
compreender de eventos dos quais ele até então não havia se dado conta ou não havia
compreendido, sugerindo explicitamente um ganho do ponto de vista terapêutico (com
verbalizações do tipo “agora eu entendo”, ou agora faz sentido”, “é isso!”, “é claro!” etc.).
Ex: C: Eu estou certo agora de que esse é o melhor caminho para mim. [MELHORA]
Forma:
MELHORA apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por SOLICITAÇÃO DE RELATO por parte do terapeuta.
Subseqüente: Tipicamente, descrições de melhora são seguidas por verbalizações de
FACILITAÇÃO ou de APROVAÇÃO por parte do terapeuta. Podem também ser seguidas por
SOLICITAÇÃO DE RELATO ou INTERPRETAÇÕES do terapeuta em busca de explicar as
razões da melhora relatada.
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou deixa implícito, fazendo ou não uso de metáforas ou
analogias:
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos sem explicitar caráter causal;
(3) sínteses ou conclusões formuladas sobre seu comportamento ou sobre outros eventos,
independentemente da concordância do terapeuta.
185
Estas relações podem dizer respeito a eventos ocorridos no passado, no presente, ou a especulações
sobre eventos futuros; podem se referir a sentimentos, emoções, pensamentos, ações públicas,
interações com terceiros e fatos diversos e podem incluir o comportamento do cliente, do terapeuta
ou de terceiros. Exemplos:
Ex: C: É um bloqueio, eu estou lutando contra isso...; [EXPLICAÇÃO]
C: Ah! Pois é, não sei porquê? Não sei porque. Eu acho que é.... É resistência minha contra
a medicação mesmo, ta... [EXPLICAÇÃO]
C: Em casa é só mulher. Minha mãe, eu e era minha vó. Morava só nós três. Então acho que
é por isso. [EXPLICAÇÃO]
C: Eu acho que eu trabalho tanto porque assim eu evito discussões em casa.
[EXPLICAÇÃO]
Forma
(1) Explicações apresentam tipicamente a forma afirmativa.
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa ou ainda.
(3) como uma afirmação seguida de uma pergunta de confirmação.
Contexto:
Precedente: Explicações são tipicamente precedidas por relato do cliente ou SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO por parte do terapeuta.
Podem também ser precedidas por períodos de silêncio.
Pode, entretanto, ocorrer após qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Subseqüente:
Explicações podem ser seguidas por SOLICITAÇÃO DE RELATO ou SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO do terapeuta, por períodos de silêncio ou ainda por verbalizações de
APROVAÇÃO ou CONFRONTAÇÃO por parte do terapeuta.
Podem, entretanto, ser seguidas por qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Verbalizações nas quais o cliente descreve comportamentos, estados ou situações que ele gostaria
de atingir com a ajuda do terapeuta.
Ex: C: Eu quero aprender como eu posso melhorar a minha relação com meu filho.
[METAS]
186
Verbalizações nas quais o cliente contribui com planos para mudar sua estratégia de ação por conta
própria.
Ex: C: Eu acho que um primeiro passo deve ser eu ir com uma amiga a um restaurante.
[METAS]
Verbalizações nas quais o cliente propõe ações futuras (solicitadas ou não pelo terapeuta) para a
solução de problemas específicos.
Ex: T: E o que você pretende fazer a respeito disso? [SOLICITAÇÃO DE RELATO]
C: Vou ligar para ela e conversar sobre o que aconteceu. [METAS]
C: Tomei uma decisão... eu vou pedir a dissociação da sociedade com meus irmãos [METAS]
Forma:
METAS apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Pode ser seguido por APROVAÇÃO por parte do terapeuta ou qualquer verbalização
do cliente ou do terapeuta.
Verbalizações nas quais o cliente relata que está motivado para se engajar em algum procedimento
ou recomendação apresentados pelo terapeuta ou que está esperançoso de que o trabalho terapêutico
poderá ajudá-lo.
Ex: C: Legal. Ainda hoje vou ligar pro meu orientador... aí vou conversar sobre a data da
defesa com ele. [CONCORDÂNCIA]
Verbalizações nas quais o cliente relata satisfação ou contentamento com os resultados alcançados
com a ajuda do terapeuta.
Ex: C: Você é uma das responsáveis, eu tinha que dizer, não, eu faço questão, eu sou muito
franca, sabe, de extrema transparência, é, você, de uma forma assim, muito inteligente, tá
sabendo me conduzir assim, entre aspas [CONCORDÂNCIA], porque eu to tendo mais
discernimento, sabendo o que é mais conveniente e o que não é e to tentando encontrar o
caminho, não é? Sem tanto medo de ser feliz. [MELHORA].
187
Verbalizações nas quais o cliente relata ter refletido a respeito de interpretações ou recomendações
dadas pelo terapeuta.
Ex: C: Essa semana eu pensei bastante naquilo que a gente conversou na última sessão
[CONCORDÂNCIA]... de fato, a melhor coisa a fazer é eu ficar em casa por mais um tempo, e
depois eu penso se quero me separar ou não [METAS]... você tinha mesmo razão.
[CONCORDÂNCIA]
Risos ou comentários em forma de exclamação, apresentados após a descrição de eventos por parte
do terapeuta, consistentes com o assunto relatado e que indicam interesse nele.
Ex: C: “é mesmo?”
C: “não acredito!”,
C: “nossa!”.
Comentários breves apresentados após uma descrição do terapeuta, que resumem em poucas
palavras o essencial do que ele disse, ou inferem a continuidade da descrição, sugerindo interesse
no assunto e demonstrando que está atento ao relato.
Expressões vocais curtas emitidas pelo cliente, que sugerem que ele está prestando atenção e que o
terapeuta deveria continuar falando.
Forma
Verbalizações de concordância apresentam tipicamente a forma afirmativa. Podem também
apresentar a forma exclamativa.
Podem ocorrer também na forma de expressões paralinguísticas ou afirmações curtas to tipo “Hum
hum”, “Ahã”, “Sei”, “certo”, “sim”.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de CONCORDÂNCIA tipicamente são precedidas por verbalizações de
INTERPRETAÇÃO, RECOMENDAÇÃO ou INFORMAÇÃO por parte do terapeuta.
Podem também ocorrer simultaneamente a verbalizações do terapeuta ou imediatamente após estas.
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Quando sugerem a continuidade do relato, são tipicamente seguidas pela categoria de verbalização
do terapeuta que estava em curso antes da verbalização.
(a) Quando concordância foi acompanhada de descrição do evento que foi alvo da concordância, foi
registrada unicamente a ocorrência da categoria CONCORDÂNCIA.
188
(b) Quando o cliente retoma uma análise apresentada anteriormente pelo terapeuta (mesmo se ele
afirma que concordou com a análise) como justificativa para o seu fracasso em efetuar uma
mudança desejada, ou para o não-engajamento em algo que havia sido planejado, classifique
OPOSIÇÃO.
(c) Quando o cliente refere que concorda ou que refletiu a respeito de alguma interpretação ou
recomendação do terapeuta, mas diz que apesar disso, não consegue mudar ou fazer o que foi
proposto, classifique OPOSIÇÃO.
(d) Quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente emite uma
resposta do tipo concordância e apresenta uma descrição de eventos que corroboram a fala do
terapeuta, mas essa fala sugere que ele não consegue ou que é culpa sua das coisas estarem
assim, categorize OPOSIÇÃO.
(e) Quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta
uma descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do
terapeuta, categoriza CONCORDÂNCIA, e não relato.
(f) A verbalização “certo”, quando dita sarcasticamente, sugerindo oposição, deve ser categorizada
como OPOSIÇÃO.
(g) Quando o cliente relatar uma MELHORA e, na mesma sentença, atribuir ao terapeuta a
responsabilidade ou o mérito por esta melhora, cada trecho da sentença deverá ser categorizado
de acordo com a categoria apropriada. Na dúvida entre MELHORA E CONCORDÂNCIA,
categorize MELHORA.
(h) Quando uma verbalização curta, do tipo hmm hmm, certo, ok, for apresentada em tom hostil
desafiador ou sugerindo que o terapeuta seja mais rápido ou conclua logo seu raciocínio,
categorize OPOSIÇÃO.
(1) Verbalizações nas quais o cliente queixa-se do terapeuta ou do tratamento, descreve falhas deste
ou critica suas ações, características ou aparência.
Ex: C: Esta técnica de time-out não está funcionando com meu filho. [OPOSIÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o cliente relata seu descontentamento com o terapeuta, a terapia e/ou
certos pontos da terapia ou diz ao terapeuta que ele não o está ajudando em sua queixa.
Ex: C: Eu acho que você e seu programa de tratamento não atingem os meus padrões para a
terapia. [OPOSIÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o cliente aponta discrepâncias ou contradições no discurso do terapeuta
(seja em tom confrontativo ou agradável).
Ex: C: Até a semana passada, você disse que eu deveria respeitar o meu ritmo e agora você
vem me cobrar que eu estou indo devagar demais... [OPOSIÇÃO]
(4) Relato do cliente de que não gosta do terapeuta ou de algo que ele faça ou que não está sentindo-
se bem com algum aspecto relativo ao comportamento do terapeuta.
Ex: C: Eu não gosto do jeito que você me olha... parece que tem dois faróis na minha cara...
[OPOSIÇÃO]
189
(5) Comentários de qualquer natureza feitos em tom sarcástico ou hostil com relação ao terapeuta.
Cliente ri de algo que o terapeuta disse ou fez.
Ex: C: Se você pensa que isto vai funcionar, você está louco.[OPOSIÇÃO]
(6) Comentários do cliente que sugerem incredulidade a respeito de qualquer verbalização ou ação
do terapeuta ou que sugerem que o terapeuta não tem conhecimento ou experiência suficiente para
ajudá-lo.
Ex: C: Que idade você tem? [SOLICITAÇÃO] Você parece tão novinha... [OPOSIÇÃO]
Ex: C: Eu vi no seu currículo Lattes que você tem bastantes publicações. [RELATO] Você
tem experiência mesmo ou é daqueles acadêmicos que fica atrás da escrivaninha? [OPOSIÇÃO]
(7) Ordens ou pedidos de parada ou mudança do comportamento do terapeuta dentro da sessão.
Ex: C: Pare de perguntar sobre isso. Eu não quero mais falar sobre esse assunto.
[OPOSIÇÃO]
(8) Verbalizações nas quais o cliente apresente qualquer tipo de ameaça ao terapeuta.
Ex: C: Acho que você não ta entendendo... sabe porque eu parei a minha última terapia?
Porque eu arrebentei todo o consultório dele... [OPOSIÇÃO]
(9) Verbalizações nas quais o cliente se recusa a falar a respeito de um tema solicitado pelo
terapeuta ou se recusa a se engajar em algum exercício.
Ex: Eu não estou interessado em ensaio comportamental. Eu não sou um ator. [OPOSIÇÃO]
(10) Desvio do assunto – Verbalizações do cliente que ocorrem imediatamente após uma
SOLICITAÇÃO DE RELATO ou SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO por parte do
terapeuta e que fogem completamente do assunto solicitado ou verbalizações que sugerem que o
cliente se refere a um assunto tangencial àquele que estava em pauta ou quer discutir um assunto
diferente daquele abordado pelo terapeuta.
Ex: T: Você já se deu conta que o seu único critério para a escolha de um curso é o que ele
tem de chato? [INTERPRETAÇÃO] (situação na qual terapeuta e cliente discutem a escolha de
um curso universitário)
C: Minha cabeça está doendo... [OPOSIÇÃO]
(11) verbalizações nas quais o cliente recusa ou discorda de um elogio feito pelo terapeuta.
Ex: T: Você está muito bonita hoje. [APROVAÇÃO]
C: Não to bonita. To com uma roupinha velha que eu achei.[OPOSIÇÃO]
(12) Verbalizações nas quais o cliente relata o não seguimento de alguma RECOMENDAÇÃO do
terapeuta ou relata que fez algo que o terapeuta havia desaconselhado, quando apresentadas em tom
hostil ou de desafio ou quando acompanhado de crítica à tarefa proposta.
Forma
Verbalizações do tipo OPOSIÇÃO tipicamente apresentam a forma afirmativa.
Podem assumir a forma de pergunta, com entonação sarcástica ou hostil.
Podem também apresentar a forma imperativa quando implicam em um comando para mudança de
comportamento do terapeuta dentro da sessão.
Contexto
190
Precedente:.
Verbalizações de OPOSIÇÃO tipicamente são precedidas por verbalizações de
INTERPRETAÇÃO, RECOMENDAÇÃO ou INFORMAÇÃO por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
(i) OPOSIÇÃO tem precedência sobre RELATO QUALIFICATIVO. Na dúvida entre os dois,
categorize OPOSIÇÃO.
(j) OPOSIÇÃO inclui verbalizações do tipo “Sim, mas...”.
Ex: T: Você pode imaginar como ela deve ter se sentido? [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
C: Sim, mas eu a conheço melhor que qualquer um e acho que não foi nada demais.
[OPOSIÇÃO]
(k) O Relato do cliente de que não fez alguma tarefa, ou de que fez algo que o terapeuta
desaconselha, será considerado oposição apenas quando em tom hostil ou desafiador, ou quando
acompanhado de crítica à tarefa proposta ou recomendação. Quando não tiver essas
características, utilize a categoria apropriada (RELATO OU RELATO QUALIFICATIVO).
191
Outras verbalizações do Cliente - OUTRAS
Definição:
Verbalizações do cliente não classificadas nas categorias anteriores. Inclui também verbalizações do
cliente ao cumprimentar o terapeuta em sua chegada ou partida, anúncios de interrupções ou
comentários ocasionais alheios ao tema em discussão.
Ex: C: Posso fumar?
C: Nossa, que calor.
C: Acho melhor marcar o endereço aqui.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Definição
Verbalizações do cliente cujo conteúdo está ininteligível devido a problemas no áudio do filme, ou
qualquer outro problema que impeça sua identificação e categorização.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
193
Questionário de Objetivos Terapêuticos - Mauro– Anexo 4
- Fonte das informações: Entrevistas com os pais de Mauro, aplicação do CBCL, observação da
interação entre Mauro e o pai no consultório, interação de Mauro com terapeuta nas sessões, visita à
escola e entrevista com coordenadora e professora da criança.
- Período da terapia a que se refere o questionário: cinco primeiras sessões, iniciadas em
Outubro de 2004
- Freqüência de sessões: 1 sessão semanal de 1 hora
- Outra intervenção realizada: Orientação de pais quinzenal; visita à escola
3) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos queixa do cliente?
1. Comportamento-opositor: ocorre diante da solicitação de atividades menos preferidas (arrumar a
cama, fazer a lição, comer comidas menos preferidas, acordar de manhã, tomar banho, escovar os
dentes, trocar de roupa etc). Sua mãe, não raro, desiste de solicitar e acaba fazendo pelo cliente. Em
outros casos (como na alimentação) passa um longo tempo ao lado dos filhos até que eles terminem
de comer. Seu pai também desiste “quando está de bom humor” mas, na maioria das vezes, obriga-o
a executá-las com ameaças de “surras”. Caso M. ainda manifeste oposição, apanha com cinta nas
pernas ou ouve um longo sermão a respeito da importância da obediência, respeito aos mais velhos
etc. Os pais relatam que a oposição se manifesta de forma cada vez mais grave: gritos mais altos,
birras e respostas cada vez mais desafiadoras.
2. Dificuldades na expressão de sentimentos positivos e competitividade: percebi que o pai de M.
supervaloriza comportamentos do filho que demonstram o quanto ele é “independente” e “esperto”,
atitudes que podem estar relacionadas a esta queixa. O próprio pai se utiliza da questão “ganhar /
perder” para motivar a criança a fazer diversas atividades: estudar para ser o primeiro da classe,
jogar um jogo para ver quem vai ganhar mais pontos.
3. Impulsividade: Alguns relatos dos pais indicam que, provavelmente, estes resolvem os problemas
do filho assim que percebem que M. não consegue ou diz que não quer, o que livra o cliente de tais
tarefas.
* É possível que algumas conseqüências relatadas, embora pareçam aversivas, funcionem como
reforçadores para os comportamentos-queixa, mantendo a alta freqüência.
5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam CRB2?
1. Estabelecer vínculo com o cliente: Para mim, o primeiro objetivo para esse início de terapia deve
ser o estabelecimento de uma relação agradável com o cliente, que o faça gostar de ir à terapia e se
sentir bem na sessão.
2. Conhecer o cliente: Outro objetivo importante é conhecer o cliente, para conseguir caracterizar
detalhadamente os seus recursos e déficits comportamentais e, assim, estruturar melhor as
atividades e os objetivos posteriores.
3. Promover comportamentos alternativos e incompatíveis com os comportamentos-queixa: Esses
comportamentos podem incluir, por exemplo: ajudar a guardar os brinquedos (colaboração);
expressar carinho (expressão de sentimento positivo); ter “espírito esportivo” quando perder em um
jogo (competitividade); desenvolver o gosto pela brincadeira enquanto processo ao invés de
somente resultado (de “ganhar” para “participar”); reduzir a impulsividade diante de situações
problema e ser bem sucedido devido a tal alteração.
195
4. Reduzir a freqüência de comportamentos queixa: Caso a hipótese de que as conseqüências dadas
pelos pais são reforçadoras para esses comportamentos, apresentar outras conseqüências e promover
comportamentos alternativos deverá produzir redução na freqüência dos mesmos.
6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
Quando o cliente se comporta de maneira adequada e diferente dos comportamentos queixa, a mãe
consegue finalmente desligar-se dele para cumprir suas tarefas domésticas e a professora, dar
atenção para outras crianças. Também foi percebido que os elogios que M. recebe por tais
comportamentos são bastante genéricos (“Parabéns”) ou encobrem uma crítica (“Finalmente você
conseguiu, hein, já era tempo!”). Os pais, portanto, não consequenciam contingentemente o
comportamento da criança, se restringindo a elogios que ocorrem na maioria das vezes muito tempo
depois do desempenho.
196
Questionário de Objetivos Terapêuticos – Erik – Anexo 5
- Fonte das informações: Entrevistas com a mãe de Erik, aplicação do CBCL com a mãe,
observação da interação entre ela e o filho no consultório, interação de Erik com terapeuta nas
sessões, visita à casa de Erik, entrevista com coordenadora da escola e professora da criança e
observação de uma aula na escola.
- Período da terapia a que se refere o questionário: As informações a respeito dos
comportamentos-queixa, recursos e controles ambientais, foram obtidas ao longo de cerca de um
ano e meio de TACI. No início da terapia, a terapeuta não dispunha de todas essas informações,
visto que o relato da mãe era bastante confuso. A questão cinco diz respeito aos objetivos da
terapeuta somente para as três primeiras sessões, quando a fonte de informações havia sido, ainda,
somente a entrevista inicial com a mãe de Erik. Portanto, as intervenções realizadas neste período
ainda não eram acompanhadas de todas as informações apresentadas neste questionário.
- Freqüência de sessões: 1 sessão semanal de 1 hora
- Outra intervenção realizada: Visita à escola e à casa, encaminhamento da mãe para terapia
individual.
3) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos queixa do cliente?
1. Oposição e agressividade: ocorre na escola, mas tenho informações confusas a respeito de
desencadeadores. A professora relata que “de repente” ele fica bravo com os colegas, joga suas
coisas no chão e fica muito nervoso. Nessas situações, a professora o retira da classe para beber
água, tomar um pouco de ar e se acalmar. Ele gosta muito de ir conversar com a diretora. Em casa,
impõe suas vontades e briga com o irmão. Diante disso, a mãe fica descontrolada e grita muito com
todos, ameaçando deixá-los com o pai, de quem eles não gostam. Às vezes bate nos filhos e ao
perder o controle emocional chegou a agarrar Erik pelo pescoço. Tenho também a informação de
que os filhos ficam trancados na casa sozinhos enquanto a mãe está no trabalho, sem contato com
outras crianças, espaço e nem brinquedos, o que deve aumentar a irritação entre eles.
2. Excesso de complacência: Erik se destaca entre os irmãos por ser o “mais bonzinho, mais
carinhoso”, ganhando atenção e afeto particular da mãe nos momentos de tranqüilidade. Também
parece plausível que esse excesso de complacência seja uma maneira de tentar reparar os
comportamentos anteriores de oposição e agressividade, perante a mãe e os irmãos. Com
freqüência, reparte suas coisas com eles (objeto, comida).
3. Infantilização: A mãe de Erik o trata como uma criança especial, sentindo que deve protegê-lo,
segundo ela, porque ele teve complicações para nascer e o médico disse que seria uma criança com
problemas. Além disso, é o caçula, sendo protegido inclusive pelos irmãos.
4. Dificuldades acadêmicas: Os métodos de ensino da professora são baseados em punição e
humilhação para tarefas mal realizadas e pouca valorização dos esforços e sucessos das crianças. A
classe é grande (mais de 30 alunos) e ela não tem conhecimento do nível de cada criança. As
crianças aprendem a copiar palavras da lousa sem conhecer o significado e a professora desconhece
quem consegue de fato escrever essas palavras e quem está só copiando o formato das letras. A mãe
é semi-analfabeta, dificultando uma possível ajuda que Erik poderia obter em casa.
5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam CRB2?
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Os objetivos abaixo correspondem somente às três primeiras sessões da terapia de Erik. É
importante lembrar que, naquela época, eu não tinha todas as informações sobre o caso que estão
descritas aqui.
1. Conhecer o cliente: No caso de Erik, meu primeiro objetivo consiste em conhecê-lo melhor para
conseguir caracterizar detalhadamente os seus recursos e déficits comportamentais e, assim,
estruturar as atividades e os objetivos posteriores. Isso é importante até porque as informações da
mãe foram confusas, e a terapia se iniciou com pouca clareza a respeito dos problemas da criança.
2. Estabelecer vínculo com o cliente: Esse objetivo é importante para o início de terapia e parece
fácil de ocorrer, já que desde o começo Erik esteve interessado em interagir comigo, brincar e
retornar mais vezes.
3. Lidar com comportamentos queixa: Apesar de não ter muita clareza a respeito da queixa, meu
objetivo era testar uma variedade de situações e observar como ele reagia a cada uma (por exemplo,
como reagia quando confrontado, como reagia com atividades com letras etc). Tendo em vista que
foi encaminhado com queixa de agressividade e oposição pela escola, eu objetivava ficar atenta a
comportamentos desse tipo para tentar lidar com eles à medida em que aparecessem em sessão.
6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
A mãe trabalha no período noturno e, conseqüentemente, dorme durante o dia. Sendo assim, dá
pouca atenção para os filhos e consegue dormir caso eles fiquem “comportados” e quietos em casa.
Assim, nesses momentos de comportamentos adequados, não há interação com a mãe. Na escola, a
professora precisa monitorar uma classe grande e fica atenta às crianças que estão fazendo bagunça,
desligando-se dos que estão calmos e concentrados nas tarefas.