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SUICIDE GIRLS: TATUAGEM E SENSUALIDADE NO ESTILO

ESTÉTICO DA MODA ALTERNATIVA

CARUARU – 2017
1

ANA CATARINA CORRÊA DE CARVALHO

SUICIDE GIRLS: TATUAGEM E SENSUALIDADE NO ESTILO ESTÉTICO DA


MODA ALTERNATIVA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado(a) ao Curso de Graduação em
Bacharelado em Design da Universidade
Federal de Pernambuco, como obtenção do
título de Bacharel em Design.

Área de concentração: Moda e Comunicação

Orientador: Profº Nara Oliveira de Lima Rocha

CARUARU - 2017
2

Catalogação na fonte:
Bibliotecária – Simone Xavier CRB/4 – 1242

C331s Carvalho, Ana Catarina Corrêa de.


Suicide girls: tatuagem e sensualidade no estilo estético da moda alternativa. / Ana
Catarina Corrêa de Carvalho. – 2017.
80f. ; il. : 30 cm.

Orientadora: Nara Oliveira de Lima Rocha.


Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA, Design, 2017.
Inclui Referências.

1. Tatuagem. 2. Moda. 3. Design. 4. Imagem feminina. 5. Estilo. I. Rocha, Nara


Oliveira de Lima (Orientadora). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2017-420)


3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO


CENTRO ACADEMICO DO AGRESTE
NÚCLEO DE DESIGN

PARECER DA COMISSÃO EXAMINADORA


DE DEFESA DE PROJETO DE
GRADUAÇÃO EM DESIGN DE

“SUICIDE GIRLS: TATUAGEM E SENSUALIDADE NO ESTILO ESTÉTICO DA


MODA ALTERNATIVA”

A comissão examinadora, composta pelos membros abaixo, sobre a presidência do


primeiro, considera o (a) aluno (a) ANA CATARINA CORRÊA DE CARVALHO

APROVADO (A)

Caruaru, 14 de dezembro de 2017.

------------------------------------------------------------------------
Prof. Nara Oliveira de Lima Rocha

-----------------------------------------------------------------------
Prof. Andrea Barbosa Camargo

----------------------------------------------------------------------
Prof. Eduardo Romero Lopes
4

DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia aos meus pais, Mauro Oscar Melo de Carvalho e Ana Maria
Corrêa de Carvalho, e ao meu irmão, Oscar Nelson Corrêa de Carvalho, que estão
sempre ao meu lado acreditando e me dando forças para seguir sempre em buscas
dos meus sonhos.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todos os dias eu conseguir abrir os meus olhos e trilhar essa
jornada e aos meus professores que fundamentaram a minha base acadêmica na
minha graduação de Bacharelado em Design. Agradeço a minha professora e
orientadora Nara Rocha pelo apoio e por acreditar que tudo daria certo no final ao
me passar conhecimento e confiança. Agradeço ao meu namorado pelos puxões de
orelha, a minha mãe que sempre que eu estava estudando me trazia lanches e por
fim, agradeço a mim, também, por ter conseguido terminar essa pesquisa.
6

RESUMO
A presente pesquisa toma como base a tatuagem como modificação corporal
expressiva, tendo como objeto de estudo o grupo das Suicide Girls, focando o seu
papel no contexto de moda e imagem feminina. Busca identificar como a tatuagem, e
seus outros requisitos de moda alternativa, tem sido utilizada como expressão
estética através desse grupo social, para a construção de um diálogo entre corpo,
identidade e moda. Conta também, com uma breve contextualização da tatuagem ao
longo do tempo e como ela se encontra hoje diante da sociedade, fazendo a relação
do corpo como suporte de valores estéticos e comportamentais ligados a esse
grupo. Portanto, como procedimento metodológico, foi utilizado o desenvolvimento
da análise de conteúdo de Bardin sobre as Suicides Girls, suas fotos e os seus
elementos de estilos relacionados ao seu estilo de vida. Criando uma ponte para um
possível discurso sobre a imagem feminina, apresentada por esse grupo, diante do
feminismo.
Palavras Chaves: Moda, Tatuagem, Suicide Girl, Estilo Estético, Imagem Feminina.
7

ABSTRACT
This research understands tattoos as expressive body modification and has taken the
Suicide Girls group as its object of study, addressing their role in fashion and female
image contexts. The aim is to assess how tattoos and their other alternative fashion
requisites have been used as aesthetic expression by that social group, in order to
build dialogue between body, identity and fashion. This paper also provides a brief
contextualization of tattoos throughout time and how they are perceived in society
today, considering the body as a support for aesthetic and behavioral values related
to that group. Therefore, we have performed Bardin’s content analysis method to
analyse the Suicide Girls, their photos and their elements of style according to their
lifestyle, building a bridge to a possible discourse about the female image displayed
by that group in face of feminism.
Keywords: fashion; tattoos; Suicide Girl; aesthetic style; female image.
8

LISTA DE FIGURAS

Foto de capa: Fontehttp://www.tradtattoos.com/2011/09/raven-crow.html


Figura 01 - Campanha #DieselReboot (Fonte: https://br.pinterest.com/pin/535576580658896315/)
Figura 02 - Campanha Rockstud “noir” e Rockstud “Rouge” (Fonte:
https://natachabarbosa.wordpress.com/tag/rockstud-rouge/)
Figura 03 - Zombie boy para a Mugler. (Fonte: http://www.julianajabour.com.br/blog/?p=3822)
Figura 04 – Alt Model Manaka (Fonte: http://rebloggy.com/post/hippie-plugs-skirt-etsy-apocalypse-
gauges-stretched-ears-dreads-dreadlocks-alter/41552422319)
Figura 05 - Vanp Suicide (Fonte: https://s-media-cache-
ak0.pinimg.com/236x/a9/55/1d/a9551dd960222807e1d2f40fa4fdae17.jpg)
Figura 06e 07 - Otzi, o homem de gelo e suas marcas de tatuagem.
(Fonte:https://ceticismo.net/2016/02/22/descobertas-tatuagens-escondidas-no-homem-do-gelo/)
Figura 08 - Homem tatuado das ilhas Marquesas, na Polinésia, aonde os espanhóis chegaram em
1595. (Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais)
Figura 09- Mulher maori e Chefe maori, início do séc. XX. (Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras
marcas corporais.)
Figura 10 - Tatuagem no Japão, feita com incisão artesanal de tinta. (Fonte: Livro Tatuagem, piercing
e outras marcas corporais.)
Figura 11 - Esta ilustração de 1868 retrata Shishim, um dos heróis do Suikoden, com nove tatuagens
de dragões nas costas. (Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)
Figura 12 - Presença da Máfia Yakuza no Sanja Matsuri.(Fonte:
http://www.japaoemfoco.com/tatuagem-japonesa-tradicional/)
Figura 13 - Soldado da Marinha Britânica tem o número de seu regimento tatuado no ano de 1942.
(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)
Figura 14 - Soldado da Legião Estrangeira com o retrato da mulher no peito. (Fonte: Livro Tatuagem,
piercing e outras marcas corporais.)
Figura 15 - Estrela de circo dos anos 1930. (Esquerda) e Betty Broadbent a Lady Tattoo (1909 – 83)
(Direita) (Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)
Figura 16 - Exemplo de tatuagem tribal maori (Fonte: http://georgesteinmetz.com/archived-
collections/maori/)
Figura 17 - Exemplo de tatuagem tribal celta
(Fonte:https://i.pinimg.com/736x/20/47/60/204760c440c89fe9529f76abaf9a4266--design-tatuaje-
tattos.jpg)
Figura 18 - Exemplo de tatuagem tribal da américa do norte.
(Fonte:http://www.artenocorpo.com/232/tipos-de-tatuagens-tribais-um-arte-renovado)
Figura 19 - Exemplo de tatuagem tribal da américa do norte.
(Fonte:https://br.pinterest.com/pin/480688960211122928/)
Figura 20 - Exemplo de tatuagem old school (Fonte: https://fortissima.com.br/2015/07/03/onda-
vintage-como-fazer-uma-tatuagem-old-school-14702168/)
Figura 21 - Exemplo de tatuagem new school (Fonte: http://www.portaltattooplace.com.br/new-
school-conhecendo-o-estilo-da-nova-escola/)
Figura 22 - Exemplo de tatuagem de sacrifício (Fonte: http://galeriadorock.com.br/materias/tattoo/53-
nova-moda-transforma-tattoo-em-marca-de-sacrificio)
Figura 23 – Tatuagem tridimensional (Fonte: http://twistedsifter.com/2015/04/trippy-3d-arm-tattoo-by-
tony-booth/)
Figura 24– Tatuagem minimalista (Fonte: https://br.pinterest.com/pin/801781539879972108/)
Figura 25 – Tatuagem Realista (Fonte: http://mais20min.com.br/2014/06/30/tatuagem-realista-roman-
abrego/)
Figura 26 – Tatuagem Geométrica (Fonte: https://br.pinterest.com/pin/318629742368705095/)
9

Figura 27 – Tatuagem em pontilhismo (Fonte: https://www.altoastral.com.br/tatuagens-de-


pontilhismo-inspirar/)
Figura 28 – Tatuagem Biomecânica (Fonte: http://homemfeito.com/tatuagem-biomecanica/)
Figura 29 – Tatuagem Oriental (Fonte: http://testosterona.me/tatuagens-masculinas/tatuagem-
oriental-2/)
Figura 30 – Tatuagem com tinta branca (Fonte: http://galeriadorock.com.br/materias/tattoo/33-a-
moda-e-tatuar-com-tinta-branca)
Figura 31 – Tatuagem graywash (Fonte: https://br.pinterest.com/pin/162340761546113576/?lp=true)
Figura 32 – Tatuagem em aquarela (Fonte: http://sossolteiros.bol.uol.com.br/ta-na-moda-65-
tatuagens-aquarela-para-se-inspirar/)
Figura 33 – Olive Oatman Foto: Arizona Historical Society Tucson, 1927 (Fonte: Livro Bodies of
Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)
Figura 34 - Nora Hildebrandt Foto: Tattoo Archive (Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret
History of Women and Tattoo)
Figura 35 - Maud Wagner Foto: cortesia da autora. (Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret
History of Women and Tattoo)
Figura 36 - Mildred Hull (Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)
Figura 37 - Betty Broadbent (Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and
Tattoo)
Figura 38 - Print Screen da interface do site (Fonte: suicidegirl.com)
Figura 39 - Print Screen da interface do site (Fonte: suicidegirl.com)
10

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 11
1.1 Contextualização 11
1.2 Objetivos 16
1.3 Metodologia Cientifica 17

2 – MODA E COMUNICAÇÃO 19
2.1 Moda e Corpo 20
2.2 Moda e Identidade 22

3 – UNIVERSO DA TATUAGEM 25
3.1 Breve histórico da Tatuagem (Modificações Corporais) 25
3.2 Tatuagem e Moda 32
3.3 Contraculturas 44
3.4 Mulher Tatuada 46
3.4.1 Suicide Girls 50

4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 54
4.1 Analise de Conteúdo 54
4.2 Discussão dos resultados 70

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 72
REFERÊNCIAS 74
APÊNDICE A - Construção do olhar feminino diante das suicide girls 79
11

1 – INTRODUÇÃO

1. 1 Contextualização

A tatuagem carrega as simbologias daquilo que ela representa, possuindo


um valor cultural em si, como uma história e/ou uma lembrança. Expressa algo
marcante na vida que acaba conduzindo, o indivíduo, a marcar o próprio corpo
permanentemente. Essa arte vem adquirindo novos significados e participando de
vários contextos. De marginalizada à status de valores estéticos. Vem se tornando
cada vez mais aceita e adotada como estilo estético, porém, ainda há barreiras e
tabus que influenciam no julgamento dessa arte.

De acordo com o dicionário Aurélio (2010), a tatuagem é o processo de introduzir


debaixo da epiderme substâncias corantes, vegetais ou minerais, para apresentar na
pele, desenhos e pinturas. Gardin (2008) afirma que o corpo é considerado o
primeiro veículo de comunicação e expressão utilizado pelo ser humano para a
produção, a reflexão e a análise de conhecimento. Araujo (2015) complementa
dizendo que o homem usa o corpo como linguagem, onde muitas vezes escreve na
própria pele uma espécie de diário de vida.

Tatuar o corpo é uma tradição milenar, e durante muito tempo era usada não apenas
para ornamentar o corpo, mas, principalmente, com fins ritualísticos. Além desse
uso, a tatuagem serviria também como identificação de grupos sociais, marcação de
prisioneiros, ornamentação e até como camuflagem. Enid Schildkrout (1999),
curador de uma exposição intitulada "BodyArt: Marksof Identity", diz que a tatuagem
é um meio de sinalizar as diferenças culturais, sendo utilizada tanto como uma
expressão de individualidade como uma expressão de identidade de um grupo.

Ainda em seu livro Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo, Araujo (2015)
afirma que nas sociedades tradicionais, a tatuagem, o piercing e os adornos do
corpo funcionam como uma carteira de identidade, onde só de olhar, reconhecemos
a origem de um povo, a posição que cada membro ocupa dentro da tribo e clã e, em
alguns casos, é possível ler nas tatuagens até mesmo as formas de organização
social. Segundo Berger (2009), contudo, é fundamental percebermos que estas
12

marcas, por si sós, nada dizem, ou seja, elas só podem ser entendidas dentro do
contexto sociocultural em que foram produzidas.

A cultura encontra-se essencialmente vinculada ao processo de formação


das sociedades humanas, numa relação de simbiose, interdependente e
dinâmica que acompanha o desenvolvimento dos indivíduos e grupos
sociais, expressando sua linguagem, seus valores, gestos e
comportamentos, enfim, sua identidade. (ONO, 2006, pág. 03)

Diante dessa conceituação, a tatuagem se destaca em importância sociocultural no


estímulo da troca de informações apresentando e aplicando símbolos que
identificam costumes, valores, necessidades, entre tantas informações. Segundo
Pires:

O corpo humano [...] pertencendo a uma sociedade globalizada na qual é


cada vez mais difícil a sobrevivência de características próprias, sejam
estas individuais, sejam sociais, e em que tudo é descartável e mutável, o
indivíduo adquire a opção de construir seu corpo conforme seu desejo.
(PIRES, 2005, pág. 13)

O corpo destaca-se em importância comunicacional, apresentando constantes


informações, como também, em importância educacional, aumentando o repertorio
pictórico, ensinando e desenvolvendo competências.

Ono (2006) mostra que, a função simbólica dos objetos se encontram diretamente
vinculadas à percepção da forma, cores, texturas, à aparência visual, às
associações simbólicas e afetivas, relacionadas a um determinado contexto. O que
nos faz pensar que essa definição pode ser trazida à uma dimensão ampla e
diversa, que compreende os pensamentos, os ritos, os gestos, as artes, as línguas,
entre outros fenômenos.

Portanto, sendo um modo de expressão cultural, social e individual, percebe-se que


as tatuagens podem ser objeto de estudo do design. É através de comportamentos
e atitudes de uma sociedade, grupo ou pessoa que o designer constrói mensagens e
13

gera produtos. A partir deles também são atribuídas funções que levem os
consumidores a uma identificação particular e/ou compartilhada de tal produto.

A tatuagem está sendo cada vez mais admirada e adotada como um estilo estético
capaz de representar um estilo de vida, passando de descriminada para valor de
expressão estética. Contudo há barreiras que influenciam na sentença dessa arte,
Segundo Cox:

Mesmo homens e mulheres convencionais começaram a fazer tatuagens, e,


em muitos países ocidentais, um desenho visível é aceitável na maioria dos
locais de trabalho. Há dez anos não teria sido assim – ainda mais para as
mulheres. A moda às vezes rejeita ou comanda essa opinião. (Cox, 2013,
pág, 233)

O crescimento do poder da informação, da geração de ideias alternativas e de


significados, faz com que a moda e as mídias associadas rompam cada vez mais
com os tabus (PIRES,2005). Uma das armas mais exploradas pela mídia é a
campanha publicitária, onde, tal forma de estratégia consegue atingir uma grande
quantidade de indivíduos, conseguindo influenciá-lo.

As marcas culturais têm por objetivo resolver paradoxos da sociedade. (HOLT


ApudKOTLER, 2010, pag.15). Como exemplos, temos as marcas Diesel com a
campanha #Dieselreboot (figura 01); Valentino com a campanha Rockstud “noir” e
Rockstud “Rouge” (figura 02);Mugler tendo o Zombie Boy como cara da marca
(figura 03);
14

Figura 01 Campanha #DieselReboot

(Fonte: https://br.pinterest.com/pin/535576580658896315/)

Figura 02 Campanha Rockstud “noir” e Rockstud “Rouge”,

(Fonte: https://natachabarbosa.wordpress.com/tag/rockstud-rouge/)

Figura 03 Zombie boy para a Mugler.

(Fonte: http://www.julianajabour.com.br/blog/?p=3822)
15

Como resultado dessa crescente tendência da sociedade, os consumidores


estão não apenas buscando produtos e serviços que satisfaçam suas
necessidades, mas também buscando experiências e modelos de negócios
que toquem o lado espiritual. Proporcionar significado é a futura proposição
de valor do marketing (KLOTER, 2010, p. 21)

Barros e Sant’Anna (2010), em seu artigo Pesquisa de Tendências para o Design de


Moda, também mostram que as inovações dos produtos de moda necessitam ser
guiadas pelas oportunidades de mercado, pois as empresas de moda devem criar
produtos que os clientes não só desejem como também consumam. A moda
influencia tudo o que é relacionado à construção da aparência de uma pessoa.

As AltModels, são modelos com estéticas alternativas ao padrão de beleza do


mainstream1. Algumas delas fazem parte da plataforma Suicide Girls2, que estourou
nos anos 2000, e, veio com o intuito de criar uma diferenciação na área do nu
artístico e a valorização do corpo feminino tatuado assim como sua beleza natural.E
com isso, há muitas opiniões voltadas sobre elas e seu estilo de vida.

Figura 04 AltModel Manaka Figura 05 Vanp Suicide

(Fonte figura 04: http://rebloggy.com/post/hippie-plugs-skirt-etsy-apocalypse-gauges-stretched-ears-dreads-dreadlocks-


alter/41552422319)
(Fonte figura 05: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/a9/55/1d/a9551dd960222807e1d2f40fa4fdae17.jpg)

1
Mainstream é um conceito que expressa uma tendência ou moda principal e dominante.
2
Site erótico, com modelos tatuadas posando em nu artístico. < https://www.suicidegirls.com/ >
16

Ao abordar o conceito tatuagem na imagem feminina no âmbito social, toma-se


como problema de pesquisa saber como se dá a expressão estética da tatuagem no
contexto das Suicides Girls. Tal problema traz alguns questionamentos como: Como
se dá a estética das Suicide Girls relacionada ao título que tem ou que almeja,
através de roupas, acessórios, cabelos, tatuagens e posturas nas fotos que as
representam?

O tema tatuagem é pouco explorado no meio acadêmico, porém de uns tempos para
cá foram elaborados trabalhos que foram tomados como base para o entendimento
dessa manifestação de significados e comportamentos. Ferreira (2014) em seu
artigo, A beleza das pessoas tatuadas: “Uma análise da tatuagem desde a
percepção do belo ou não belo que esta pode gerar”, analisa a tatuagem de acordo
com o belo em contexto histórico, representando a beleza nessa arte comumente
estranha. Scheiner (2006) no artigo, “Marcado na pele: consumo, tatuagem e cultura
de massa”, analisa sobre as narrativas do consumo a partir das tatuagens de marcas
de produtos. Almeida (2017), em #girlswithtattoos: o corpo como território social, faz
um estudo sobre a hashtag #girlswithtattoos utilizada por mulheres tatuadas, em sua
maioria, no instagram, entre outros.

Diante dessa problemática, essa pesquisa procura compreender como a sociedade


se relaciona, hoje em dia, com o assunto tatuagem e como isso influencia na forma
de expressão de imagem feminina de moda, apontando seus elementos de estilos, e
comportamento diante do grupo selecionado, Suicide Girls, fazendo uma ponte
sobre a relação de imagem e identidade.

1. 2 Objetivos

Esse estudo tem como objetivo principal identificar como a tatuagem tem
sido utilizada como expressão de estilo estético pessoal através das Suicide Girls,
construindo um diálogo entre imagem feminina, identidade e moda.

Com isso, tomam-se como objetivos específicos: (a). Apontar as apropriações


estéticas da tatuagem na moda; (b). Compreender o estilo estético das Suicide Girls;
17

(c). Analisar a imagens das Suicide Girls relacionada a construção da identidade


feminina;

1. 3 Metodologia Científica

Esse estudo é uma Pesquisa exploratória e aplicada onde Marconi e Lakatos


(2003, pag. 118) afirmam que a teoria serve para indicar os fatos e as relações que
ainda não estão satisfatoriamente explicados e as áreas da realidade que
demandam pesquisas. Assim, antes de iniciar a investigação, foi necessário
conhecer as teorias já existentes, para serem tomadas como indicador para a
delimitação e aplicação nas análises.

Também, de acordo com Marconi e Lakatos (2003, pag. 187), consiste em


investigações de pesquisa empírica cuja principal finalidade é o delineamento das
características de fatos ou fenômenos, com base na sua frequência de ocorrência.
Na prática, serão analisados os feitos da imagem das Suicide Girls na moda como
imagem feminina e identidade, através da análise das imagens postadas a rede
social instagram.

Trata-se de uma pesquisa explicativa que, segundo Gil (2008, pag. 42) serve para
identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos.

O método de abordagem indutivo parte do particular e coloca a


generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados
particulares. [...] Nesse método, parte-se da observação de fatos ou
fenômenos cujas causas se deseja conhecer. A seguir, procura-se compará-
los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles. (GIL,
2008, pág 12)

Ao trabalhar com método de abordagem indutivo, chegou-se a uma conclusão geral


a partir da percepção das imagens em análise das Suicide Girls. Na prática, as
postagens e os perfis serão coletados para serem analisados.
18

Para a coleta de dados, será utilizada as técnicas de pesquisa bibliográfica. Para


Manzo, a bibliografia pertinente "oferece meios para definir, resolver, não somente
problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas
não se cristalizaram suficientemente. ” (Apud MARCONI e LAKATOS, 2003, pág.
183). A fundamentação teórica será construída com base em conhecimentos de
design de moda, na história da tatuagem e na discussão sobre as Suicide Girls.

Serão coletados 20 perfis do instagram oficial do site Suicide Girls, junto com 3
postagens de cada menina selecionada, de forma aleatória, sendo 10 Suicide Girls e
10 Hopeful Suicide. A partir daí iremos apontar os elementos de estilo apresentados
por elas, como também analisar seu discurso utilizado nessa rede social. Levando
em consideração a imagem do estilo suicide girl na construção da identidade
feminina na moda.

A análise de discurso, como afirma Bardin (2011), é uma das técnicas dentro da
análise de conteúdo. Inscreve-se numa sociologia do discurso e procura estabelecer
ligações entre a situação na qual o sujeito se encontra e as manifestações
semântico-sintáticas da superfície discursiva. O que vamos avaliar nas descrições
dos perfis e nas postagens em relação a sua imagem.
19

2 – MODA E COMUNICAÇÃO

2. 1 Conceituação

Christo (2008) nos aponta que a relação entre design e moda vem se
estreitando cada vez mais, e, não só pelo fato de que o profissional na área de moda
passou a ser nomeado designer de moda, mas também por ser um conceito
participativo do universo da moda. “Onde não só a moda assimilou o design em seu
universo, como também o design incorporou a moda em seu campo. ”

Um dos melhores exemplos disso são as pesquisas de estilo de vida e de


comportamento que, complementaram parte das pesquisas de tendências em moda,
e hoje, trazem facilidade e entendimento em todas as áreas do design.

Saltzman (2008) complementa que o processo de design inicia através de um objeto


imaginário que resulta na realização de um objeto material, nascendo de uma ideia e
se concretizando em uma forma. Com relação a vestimenta, ela afirma que, o design
é a forma que surge entre o corpo e o contexto, pois é a partir do corpo que a
vestimenta toma a sua forma.

O corpo é seu conteúdo e serve a ela de sustento estrutural, enquanto a


roupa o contém, condiciona e delimita. [...] Mas o certo é que o design
começa e termina no corpo, o qual, é seu ponto de partida e seu ponto
culminante, já que é precisamente no corpo do usuário que o design existe
e se expressa. (SALTZMAN, 2008, pág. 305)

Tomando essa ideia, percebemos que o corpo está muito presente, nessa relação
moda e design, desde o planejamento da ideia até produto final e, é, onde o design
se constrói e se expressa. Com isso, buscamos colocar o corpo, aqui, como
receptáculo e propagador de um estilo estético. Pires (2005) afirma que, a relação
de mão dupla entre corpo e cultura sempre existiu e que se espelham conforme os
interesses de cada sociedade.

Para Moura (2008) o desenvolvimento e a expressão da moda ocorrem a partir das


inter-relações entre a criação, a cultura e a tecnologia, bem como os aspectos
20

históricos, sociopolíticos e econômicos. O papel do designer de moda perpassa por


seu entendimento sobre o seu suporte, o corpo.

2. 2 Moda e Corpo

A moda é uma importante área de produção e expressão da cultura


contemporânea. Apresenta reflexos e referências da sociedade quanto ausos e
costumes cotidiano. Permiti refletir, criar, participar, interagir e disseminar estes
costumes. (MOURA, 2008). Acredito que, o indivíduo incluído em uma sociedade,
sente a necessidade de mostrar ou esconder quem é ou o que queria ser, de fazer
parte de um grupo ou de diferenciar-se dele. Utilizando a moda como um diálogo
entre corpo e mente.

Para Pires (2005), moda é prazer. É por meio dela que o indivíduo visivelmente se
faz belo, se modifica conforme seu desejo se torna único e se sente parte de uma
cultura.

A moda, mais do que nunca, exige não apenas o uso de roupas, adereços
ou maquilagens que modelam e modificam externamente o corpo. Ela exige
uma atitude, um comportamento que adapte ou conserve a estrutura física
do indivíduo e do estilo predominante. (PIRES, 2005, pag.73)

Moura (2008) ainda afirma que a moda como expressão também diz respeito à
maneira como as pessoas elegem e utilizam produtos gerados pela indústria e pelo
mercado de moda. Essa utilização vai além do vestir, envolvendo a casa, os objetos
e produtos utilizados, os lugares que frequenta, assim como opções culturais que
compõe o seu estilo de vida e seus referenciais. É o fator simbólico exercido como
significados de status ou não.

Dentro das possibilidades humanas criadas para o fenômeno da


comunicação, a moda pode ser compreendida como a expressão de um
conteúdo e, assim, ela pode ser lida como um texto, que, por sua vez
veicula um discurso. E o corpo, da mesma maneira, também é a expressão
de um conteúdo, isto é, um texto que veicula um discurso. [...]. Ambos
21

constroem e presentificam determinado sujeito, localizando-o em um


momento histórico e numa sociedade particular. (CASTILHO, 2009, pag. 34)

Se observarmos, desde de tempos mais remotos o ser humano faz de seu corpo um
objeto cultural, onde homens e mulheres não estão inteiramente nus, há sempre um
adereço, uma pintura ou um penteado que demonstra sua diferenciação da
natureza, (KURY et. Al., 2000).

O corpo constrói manifestações textuais que se deixam apreender e significar por


efeitos de sentido que produzem. O corpo é, portanto, o que nos personifica e o que
nos torna presentes no mundo, (CASTILHO, 2009, pag. 44).

A utilização do corpo em sistema de signos, como linguagem, implica


necessariamente um posicionamento ideológico. Demanda a construção de um
discurso moral, ético e estético que está inserido em um contexto social, político,
econômico e quer significar algo. (GARDIN, 2008). De acordo com Conti (2008):

O Caráter social da moda e sua relevância se apresentam de forma cada


vez mais evidente. A moda exprime o espírito do tempo e é um dos sinais
mais imediatos das mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais. É a
expressão ampliada e superficial de uma profunda modificação da vida
social. (CONTI, 2008, pag. 224)

O mundo contemporâneo atribuiu ao corpo não apenas a capacidade de produção


de conhecimento, mas também a sua possibilidade de transmitir mensagens ao se
apropriar de diferentes aspectos no setor de comunicação. Eles se constituem em
aspectos artísticos, saúde e estéticos. O que podemos identificar nas campanhas
publicitárias, nos desfiles e em eventos de moda, (GARDIN, 2008).

Para Svendsen (2010) o corpo tornou-se um objeto de moda especialmente


privilegiado. Parecendo ser algo plástico, podendo mudar constantemente para se
adequar às novas normas à medida que elas emergem. Pois, como afirma Oliveira
(2008), o sentido de uma roupa só será completo ao vestir um corpo, onde o corpo
vestido irá mostrar o modo do sujeito estar no mundo.
22

Algumas peças de roupas, como o espartilho, modificavam o corpo ao logo do seu


uso. Outras peças modificavam a silhueta feminina e masculina de acordo com os
ideais de beleza da época. Kury et. al. (2000) nos traz alguns exemplos como,
deformações ósseas causadas por sapatos muito pequenos e argolas no pescoço
para alongá-lo. São exemplos de que, para alcançar determinado status ou
aceitação social em determinada cultura, era necessário modificar o corpo a esses
ideais estéticos.

A primeira técnica de modificação do corpo permanente assimilada pela sociedade e


incorporada na moda foi a tatuagem. Que nada mais é que um desenho, uma
pintura sobre o corpo. Seria onde uma atribuição mental se tornaria visível e parte do
próprio corpo, (PIRES, 2005).

2. 3 Moda e Identidade

Segundo Svendsen (2010), procuramos identidade no corpo, e as roupas


são uma continuação imediata dele. As roupas descrevem o corpo, dão-lhe uma
forma e uma expressão diferente. Isso se aplica não só ao corpo vestido, mas
também ao despido.

Ao ser exposto um sujeito, quer por um texto verbal, oral ou escrito, quer por
uma gestualidade, quer por uma combinatória vestimentar, pode-se
apreender, pelos modos de sua manifestação, a quais movimentos
discursivos ele se filia. Em sua maneira de ser e estar no mundo,
concretizam-se fragmentos das instituições que regem o seu fazer. E esses
mesmos fragmentos possibilitam entrever os limites da aparente liberdade
sob a qual ele se constrói. (MARTINS, 2004 apud CASTILLO, 2009, pág.
17)

As Duas linguagens, a da moda e a do corpo, constroem-se mutuamente e dão um


status ao sujeito, onde, nele se transformaram em marcas de seu estilo próprio e
inconfundível, (MARTINS, 2004 apud CASTILLO, 2009).

A necessidade existente de criar uma identidade e se diferenciar dos demais faz do


corpo um outdoor de si mesmo, onde as interferências atribuídas à pele sejam como
23

um registro da história do indivíduo. (PIRES, 2005). Fazendo um elo entre


personalidade e aparência.

Dessa forma, para Kury et. al. (2000), o nosso corpo exprime diversas significações
que permite com que o outro nos reconheça e nos identifique.

A atividade de consumir pode ser considerada um caminho vital e


necessário para o autoconhecimento, ao mesmo tempo que o mercado
começa a se tornar indispensável para o processo de descoberta de quem
realmente somos. [...] O verdadeiro local onde reside a nossa identidade
deve ser encontrado em nossas reações aos produtos e não os produtos
em si. (CAMPBELL, 2006, pág. 52)

Comprar é uma experiência íntima e pessoal, é provar, tocar, testar, considerar e pôr
para fora a personalidade através de diversas possibilidades enquanto é decidido o
que é preciso e o que é desejo, (CAMPBELL, 2006).

Seguir a moda é, ainda, adotar figurativamente uma identidade e declará-la,


norteando-se pelas regras que garantam o reconhecimento e a identidade
do sujeito e, consequentemente, sua integração a um determinado grupo.
(CASTILLO, 2009, pág.18)

Martins (2004 apud CASTILLO, 2009, pág. 19) ainda fala que a indumentária,
independente da função de proteção e de magia, sempre foi um meio do sujeito se
expressar e ser expressado, concretizando, assim, os anseios de adornar-se e
embelezar-se.

Para Gardin (2008), moda é linguagem, um sistema composto por signos que
indicam uma forma de expressão e comunicação. É quando um indivíduo expressa
uma atitude e um comportamento através da sua roupa, das cores e dos adereços
que compõem a sua estética.

Pires (2005) nos traz a ideia de que a busca pelo corpo perfeito é baseada no
consenso de um grupo social que frequenta ou que se quer participar. E com isso, a
moda, a mídia e a sociedade do consumo propagam um ideal de corpo apresentado
na imagem midiática como o corpo desejado.
24

As mídias sociais passaram a quebrar um pouco este paradigma com a


possibilidade de diferentes representações, oferecendo ao indivíduo elementos
suficientes para que crie seu estilo e que busque a fuga de tudo o que é
padronizado, convencional e esperado.

A ideia de ser aceito em determinado meio faz com que o indivíduo crie uma imagem
pessoal, para saciar a sua necessidade de aceitação como também a sua afirmação
diante do status a ser buscado.

Pires (2005) diz que a mídia estimula ao máximo o aparecimento da singularidade,


da composição e do uso de elementos que são surpreendentes e fundamentais para
a publicidade. Onde esses elementos, ganham espaço nos desfiles e nas
campanhas publicitárias, passando de bizarros para sensuais.

A criação dos conceitos nas passarelas, a exposição de mercadorias em outdoors e


vitrines, a produção de imagens de moda que refletem o que está se passando na
subjetividade é umas das grandes estratégias do capitalismo. (MESQUITA, 2008).
Pois, é quando a mídia e a moda se baseiam na diferenciação das identidades e
estilos dos usuários, para alavancar o consumo na busca da despadronização da
estética estabelecida por elas.
25

3 – UNIVERSO DA TATUAGEM

3. 1 Breve histórico da Tatuagem (Modificações Corporais)

Uma das partes do corpo que mais presta às transformações radicais é a


pele, onde nelas podem ser aplicadas diferentes modificações corporais como,
tatuagens, piercings, escarificações e aplicação de próteses. As tatuagens estão
espalhadas pelo mundo desde a antiguidade, elas podem ser pequenas ou cobrir
todo o corpo. Elas podem adquirir diferentes significados, de acordo com os tempos,
os lugares e os grupos sociais. (KURY et. Al, 2000).

“A pratica da tatuagem nos dias de hoje manifestam um duplo distanciamento em


relação aos modos de significação e abordagem que tradicionalmente a
caracterizavam”. (ALMEIDA, 2006, pág.139)

A antropóloga Lux Vidal, especialista em pinturas corporais da Universidade de São


Paulo, em uma entrevista para a revista Superinteressante (2000) afirma que:

O corpo foi um dos primeiros instrumentos manipulados pelo homem para


expressar um significado. Tatuagens, pinturas, mutilações e cortes de
cabelo são modos de transformar o corpo para que ele comunique códigos,
relações sociais e valores.

Contudo é muito difícil identificar onde e como surgiu essa prática. Um dos registros
mais antigos é Otzi, o “homem do gelo” (figura 06), que viveu há 5.200 anos.
Encontrado na região dos Alpes, trazia cinquenta marcas de tatuagem na pele
(figura 07), todas nas costas e atrás dos joelhos. (ARAUJO, 2005).
26

Figura 6 e 7 - Otzi, o homem de gelo e suas marcas de tatuagem.

(Fonte:https://ceticismo.net/2016/02/22/descobertas-tatuagens-escondidas-no-homem-do-gelo/)

Outro achado foi a múmia da princesa Amunet, de Tebas, que exibe desenhos feitos
de pontos e linhas que certamente chamaram a atenção dos egípcios há mais de 4
000 anos. Não se sabe o que aquela tatuagem significava para os nossos
ancestrais, mas é muito provável que ela não tenha sido desprovida de sentido.
(SUPERINTERESSANTE, 2000).

Para as tribos da Polinésia, a dolorosa prática tinha um significado divino, e


as crianças já eram tatuadas a partir dos oito anos de idade. O objetivo era
chegar à velhice com o corpo tatuado dos pés à cabeça. Caso contrário, os
polinésios acreditavam que uma terrível feiticeira devoraria os globos
oculares dos cadáveres, sua alma ficaria cega e não conseguiria encontrar
o caminho da imortalidade. Quando uma pessoa falecia prematuramente,
seu corpo era tatuado como parte do ritual funerário. (HUERTA, TLC
Discovery,2014)

Na Polinésia em geral, a tatuagem costumava ser usada como símbolo de classe


social (REDAÇÃO MUNDO ESTRANHO, 2011). Segundo Marco Polo descreveu em
seus diários de viagem, o respeito a uma pessoa era medido pela quantidade de
tatuagens, e entre algumas tribos (figura 08), elas também serviam para amedrontar
os inimigos. (HUERTA, TLC Discovery, 2014)
27

Figura 08 - Homem tatuado das ilhas Marquesas, na Polinésia, aonde os espanhóis chegaram em
1595.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais)

O Capitão inglês James Cook, em meados de 1769 a 1779, revelou para a Europa a
tatuagem moko dos Maoris, povo da Nova Zelândia. Tratava-se de desenhos em
espirais profundos na pele que pareciam entalhes de madeira (figura 09), (ARAUJO,
2005).

Os desenhos espiralados típicos da tatuagem maori, como são chamados


os nativos da Nova Zelândia, tinham o objetivo de distinguir os integrantes
de diferentes classes sociais. Cada espiral simbolizava um nível hierárquico.
A prática só era permitida aos homens livres: escravos não podiam se
tatuar. Depois que os líderes maoris morriam, seus familiares conservavam
a cabeça tatuada em casa, como relíquia. (REDAÇÃO MUNDO
ESTRANHO, 2011)

Figura 09 – Mulher maori e Chefe maori, início do séc. XX.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)


28

No antigo Egito, a tatuagem apresentava um sentido ritual e simbólico. Era usada


como oferenda e adoração aos deuses. Exclusivamente sendo realizado por
mulheres, era um processo doloroso, que demonstrava valentia ou confirmava a
maturidade. (HUERTA, TLC Discovery, 2014). Há indício de que a tatuagem poderia
ter relação com cultos à fertilidade. (REDAÇÃO MUNDO ESTRANHO, 2011). Porém
não se sabe ao certo quais eram as reais motivações para elas.

Na Grécia antiga a tatuagem era usada como forma de identificação entre os


escravos fugitivos e recapturados, que trazia marcas em suas testas. Os romanos
seguiam esse costume, seus gladiadores entravam na arena exibindo as marcas de
seus crimes, (ARAUJO, 2005).

A tatuagem japonesa tem como método de realização o Tebori cujo significado é


“entalhado à mão” ou “esculpido à mão”. Ela é feita com um cabo de bambu afiado
ou com agulhas na ponta. Já foi utilizada para diversos fins como espirituais,
decorativos, como símbolo de proteção, status ou coragem ou ainda para marcar
criminosos, (KAWANAMI, 2014). (figura 10)

Figura 10 – Tatuagem no Japão, feita com incisão artesanal de tinta.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)

Assim como no ocidente, no Japão, a partir do período Kofun (300-600 AC), as


tatuagens começaram a ter conotações negativas, pois passaram a ser usadas para
marcar criminosos. Era motivado para que esses fossem facilmente identificados e
para que se sentissem envergonhados pelos crimes cometidos. Tal prática foi
abolida em 1870, (KAWANAMI, 2014).
29

A partir do período Edo, imagens de homens com corpo tatuado passaram a ser
representados em xilogravuras ukiyoye (gravuras em madeira) e mencionados em
literaturas, contribuindo para o desenvolvimento do movimento atual da arte da
tatuagem. Um dos pintores de xilogravuras mais populares fora Utagawa Kuniyoshi,
(KAWANAMI, 2014).

(...) as aventuras dos heróis do Suikoden– como foi chamada no Japão a


novela chinesa Shuihu Zuhan, do século XVI, atribuída a Shih Nai’na, cujas
primeiras edições japonesas datam de 1751. Os 108 heróis desta espécie
de romance de cavalaria chinês lutavam em favor do povo e contra a
corrupção burocrática do governo. Entre os bravos guerreiros pelo menos
dezesseis são tatuados, como Shishim (figura 11), com nove dragões no
corpo, Rochishim, todo coberto de flores, e Busho, com um tigre nas costas.
(ARAUJO, 2005, pág. 58)

Através da identificação dos japoneses com essas novelas, que mostravam os


heróis lutando contra a corrupção burocrática do governo, começaram a reproduzir
em seus corpos as imagens das tatuagens dos guerreiros, (ARAUJO, 2005).

Figura 11 - Esta ilustração de 1868 retrata Shishim, um dos heróis do Suikoden, com nove tatuagens
de dragões nas costas.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)

Suas gravuras se tornaram tão populares que muitos tatuadores profissionais


passaram a imitar o seu estilo. Anos mais tarde, contudo, a tatuagem passaria a
fazer parte da vida dos integrantes da máfia Yakuza (Figura 12), (KAWANAMI,
2014).
30

Durante o período Meiji, a tatuagem chegou a ser proibida pelo imperador e quem
por ventura fosse pego, era punido com rigor. Isso não inibiu a prática da tatuagem
no Japão. Diante da proibição, os tatuadores continuaram a trabalhar
clandestinamente, mantendo a maior discrição possível. (KAWANAMI, 2014). Até
hoje, no ocidente, a arte japonesa é vista entre os tatuadores como a mais refinada
e a mais rica – por se manter artesanal, (ARAUJO, 2005).

Figura 12 - Presença da Máfia Yakuza no Sanja Matsuri.

(Fonte: http://www.japaoemfoco.com/tatuagem-japonesa-tradicional/)

Na partida para a guerra, os soldados tatuaram as próprias iniciais, o símbolo do


regimento e até mesmo o emblema de sua pátria para serem reconhecidos sem
qualquer parte do mundo (figura 13). Durante a Segunda Guerra, virou moda nos
Estados Unidos tatuar, além dos símbolos patrióticos, o desenho das mulheres que
eles deixavam à espera (figura 14), sem saber se um dia voltariam para casa,
(ARAUJO, 2005).

Araujo (2005) ainda afirma que os ingleses que se recusaram a servir na Primeira
Guerra Mundial (1914-18) foram punidos com a marca D, de desertores, no braço.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), o mesmo recurso foi utilizado pelos
nazistas que tatuavam os judeus nos campos de concentração, assim como os
próprios soldados, que recebiam marcas como o tipo sanguíneo para facilitar um
eventual salvamento. Com a derrota de Hitler, esse sinal na pele teve efeito
contrário, foi uma das maneiras de identificar e punir os soldados nazistas.
31

Figura 13 - Soldado da Marinha Britânica tem o número de seu regimento tatuado no ano de 1942.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)

Figura 14 -Soldado da Legião Estrangeira com o retrato da mulher no peito.

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)

Os marinheiros trazem nos braços os símbolos do mar – sereias, peixes,âncoras e


estrelas. No coração, o nome do cais, da mulher amada, e\ou uma frase para
protegê-lo da morte e dos castigos corporais que sofriam no navio. Os trabalhadores
do cais foram grandes difusores da tatuagem pelo mundo, pois fizeram de seus
corpos veículos de transmissão de um costume que atravessou terras e mares,
(ARAUJO, 2005).

No século XIX, a tatuagem se transformou em atração de circo, onde homens e


mulheres com o corpo inteiramente tatuado (figura 15) eram colocados ao lado de
32

esquimós, bezerros de cinco pernas, leopardos, gigantes, tudo o que era fora do
normal para a época, (ARAUJO, 2005).

Figura 15 -Estrela de circo dos anos 1930. (Esquerda) e Betty Broadbent a Lady Tattoo (1909 – 83)
(Direita)

(Fonte: Livro Tatuagem, piercing e outras marcas corporais.)

Devido a esses acontecimentos culturais de cada época e lugar, o significado da


tatuagem veio se tornando desvalorizado, por representar marcas de castigo e de
identificação de escravos e presidiários. É o corpo submetido a um castigo que dura
para sempre, (ARAUJO, 2005).

Ainda associa-se a tatuagem a universos marginais, com pessoas que


tenham tido passagem pela polícia, que usam drogas, etc. A associação
entre tatuagem e prisioneiros é imediata e permanece em nosso imaginário
simbólico como um dos motivos pelos quais as tatuagens, mesmos as
artísticas, são refutadas por boa parte da sociedade. (BERGE 2009, pág.76)

Porém, hoje em dia é bastante comum homens e mulheres terem diferentes tipos de
tatuagens em diferentes locais no corpo. Onde elas podem ser refeitas, repintadas e
até removidas.

3. 2 Tatuagem e Moda

A body modification, termo em inglês, que se refere ao conceito usado


para designar as modificações corporais executadas das mais diversas formas e nos
33

apresenta uma nova realidade, de definições de natureza e cultura, que muitas


vezes causam estranhamento e desconforto, (PIRES, 2005).

O rompimento da fronteira da pele, que nos permite a mudança das cores


da epiderme e a feitura de incisões, queimaduras, perfurações, mutilações e
implantes de diferentes tipos, com a finalidade de modificar os contornos e
acrescentar elementos à silhueta, possibilita a criação de novas dimensões
estéticas, e faz com que o corpo deixe de ser uma “referência estética” e
passe a representar o bem que possui. (PIRES, 2005, pág. 18)

Pires (2005) aponta que muitos jovens, seguidores da moda, vêem as alterações
corporais como um requisito estético necessário para se inserirem no contexto
urbano atual.

Quando falamos em tatuagem não existe um padrão. Grande ou pequena, com


traços mais grossos ou finos, vai da apreciação estética de cada um. Alguns artistas
estão inovando e misturando estilos ou simplesmente criando novas tatuagens, que
ninguém tinha feito antes. Os estilos de desenhos variam de acordo com a cultura de
determinado lugar como também sua época.

Ao falarmos de tatuagens no universo da moda, tendemos a pontuar os estilos


estéticos de traços e desenhos e, como as tendências estéticas modificam-se ao
longo do tempo.

A tatuagem Maori pode ser considerada da família das tatuagens tribais, por ser um
estilo antigo que liga diversas tribos. As Tatuagens Tribais, podem ser chamadas de
tribais contemporâneas ou modernas, já que novos significados foram agregados à
estética. Nas tribos os desenhos podiam representar status, classe social, papel
desempenhado, setor pertencente ou ligação familiar. A partir de 1990 foi possível
notar uma flexibilização do significado das tatuagens tribais, (HELENA, 2013).

Os Maoris da Nova Zelândia usavam estes desenhos para designar prestígio e


orgulho, além da passagem de um status social a outro. Os desenhos são curvos,
mas mais geométricos. Há predominância de figuras triangulas e espirais
na tatuagem maori (figura 16), (HELENA, 2013).
34

Figura 16 – Exemplo de tatuagem tribal maori

(Fonte: http://georgesteinmetz.com/archived-collections/maori/)

As tatuagens tribais celtas (figura 17) são das mais populares entre os tribais. Seu
desenho consiste em vários nós ou fitas sem um ponto de começo ou fim
determinado. Associam-se justamente por isso ao ciclo de nascimento e morte, de
não existir nem um princípio e nem um final. Estes tribais podem sugerir formas
animais, mas sempre com linhas características entrelaçadas, (HELENA, 2013).

Figura 17 – Exemplo de tatuagem tribal celta

(Fonte:https://i.pinimg.com/736x/20/47/60/204760c440c89fe9529f76abaf9a4266--design-tatuaje-tattos.jpg)

As tribos da América do Norte também denotavam posições sociais nas suas


tatuagens, tatuando diferentes armas nas suas peles, assim como deuses e
símbolos. Podem-se distinguir as formas com maior nitidez (círculos, triângulos,
lineares e em ziguezague) (figura 18), (HELENA, 2013).
35

Figura 18 – Exemplo de tatuagem tribal da américa do norte.

(Fonte:http://www.artenocorpo.com/232/tipos-de-tatuagens-tribais-um-arte-renovado)

O conceito da arte de tatuar é bem diferente nas tribos de Borneo. Conhecida


como tatuagem dayak, eles procuravam aproveitar a energia dos espíritos tatuando
as imagens ou criaturas que eles representavam (figura 19), (HELENA, 2013).

Figura 19 – Exemplo de tatuagem tribal da américa do norte

(Fonte:https://br.pinterest.com/pin/480688960211122928/)

Outro estilo com um efeito bastante tradicional é o Old School. Surgiu na década de
1890, mas só se popularizou em 1920. É um estilo ocidental, com contornos pretos
fortes e cores primárias, já que antigamente não haviam tantos tons disponíveis. Nos
primeiros anos dessa onda, as tatuagens eram mal vistas pela sociedade.
Marinheiros, fuzileiros navais, errantes e rebeldes foram os primeiros a registrar na
pele suas viagens e aventuras (figura 20), (LANDIM, 2015).
36

Figura 20 – Exemplo de tatuagem old school

Fonte: https://fortissima.com.br/2015/07/03/onda-vintage-como-fazer-uma-tatuagem-old-school-14702168/)

O estilo New School é uma releitura livre das amarras do Old School. Esse tipo de
desenho tem como característica principal a inspiração em quadrinhos, desenhos da
televisão e filmes. Muitas cores vibrantes e altos contrastes com desenhos
superexagerados e linhas muito bem trabalhadas e grossas. Liberdade,
autenticidade e originalidade são as peças chaves para ter uma boa tatuagem nesse
estilo que foi inicializado em meados dos anos 60 (figura 21), (LOPES, 2014).

Figura 21 – Exemplo de tatuagem new school

(Fonte: http://www.portaltattooplace.com.br/new-school-conhecendo-o-estilo-da-nova-escola/)

Com a crescente procura por tatuagens e inovações, os tatuadores estão sempre se


reinventando e criando novos estilos de desenhos e métodos de tatuar, assim como
as pessoas que buscam por essa arte estão cada vez mais exigentes. Como é o
caso da Tattoo de sacrifício, que é uma técnica que consiste em raspar, cortar e
37

queimar a pele para formar os desenhos desejados, ao invés do trabalho habitual


com agulha e tinta (figura 22), (LANDIM, 2015).

Figura 22 – Exemplo de tatuagem de sacrifício

(Fonte: http://galeriadorock.com.br/materias/tattoo/53-nova-moda-transforma-tattoo-em-marca-de-sacrificio)

Outros estilos que podem ser observados:

 Tatuagem Tridimensional

Elas criam a ilusão de pele arrancada e estilos mais palatáveis. Um dos desenhos
mais escolhidas são animais naturais ou objetos que parecem estar em movimento
(figura 23), (LANDIM, 2015).

Figura 23

(Fonte: http://twistedsifter.com/2015/04/trippy-3d-arm-tattoo-by-tony-booth/)
38

 Tatuagem Minimalista

Caracterizada por linhas finas e discretas, ela deixa o desenho um pouco mais
delicado e modesto. Na maioria das vezes as cores utilizadas são, apenas, preta e
cinza. As figuras geométricas, animais, frases e palavras soltas, todas elas com
minúsculos detalhes (figura 24), (LANDIM, 2015).

Figura 24

(Fonte: https://br.pinterest.com/pin/801781539879972108/)

 Tatuagem Realista

A tatuagem realista é aquela que parece uma foto, só que fincada na pele. Em geral,
as tatuagens realistas homenageiam um parente, um artista ou uma pintura, que são
feitas da forma mais realista e fiel possível (figura 25), (CAVALCANTI, 2015).

Figura 25

(Fonte: http://mais20min.com.br/2014/06/30/tatuagem-realista-roman-abrego/)
39

 Tatuagem Geométrica

Esse tipo de tattoo tem de círculos a formas geométricas complexas, passando por
desenhos formados por formas geométricas (figura 26), (FREITAS, 2014).

Figura 26

(Fonte: https://br.pinterest.com/pin/318629742368705095/)

 Tatuagem em Pontilhismo

São imagens construídas com pontos, geralmente em preto e branco (figura 27),
(FREITAS, 2014).

Figura 27

(Fonte: https://www.altoastral.com.br/tatuagens-de-pontilhismo-inspirar/)

 Tatuagem Biomecânica

São desenhos que simulam partes do corpo feitas de peças de metal integradas à
anatomia humana (figura 28), (FREITAS, 2014).
40

Figura 28

(Fonte: http://homemfeito.com/tatuagem-biomecanica/)

 Tatuagem Oriental

Os desenhos são coloridos e retratam elementos da cultura oriental: peixes, gueixas,


guerreiros da antiguidade, o mar, tigres, dragões e flores (figura 29), (FREITAS,
2014).

Figura 29

(Fonte: http://testosterona.me/tatuagens-masculinas/tatuagem-oriental-2/)

 Tatuagem com Tinta Branca

É tatuar o corpo com tinta branca como cor exclusiva do desenho todo ou só para
realçar. Os desenhos mais comuns são aqueles que imitam cicatrizes, para dar um
efeito de volume e não ficar “apagada” (figura 30), (CAVALCANTI, 2015).
41

Figura 30

(Fonte: http://galeriadorock.com.br/materias/tattoo/33-a-moda-e-tatuar-com-tinta-branca)

 Tatuagem Graywash

São tatuagens feitas inteiras em tons de cinza. Muito populares nos anos 90 (figura
31), (FREITAS, 2014).

Figuras 31

(Fonte: https://br.pinterest.com/pin/162340761546113576/?lp=true)

 Tatuagem em Aquarela

As tatuagens em aquarela são as que emulam pinturas feitas com tinta diluída em
água (figura 32), (FREITAS, 2014).
42

Figura 32

(Fonte: http://sossolteiros.bol.uol.com.br/ta-na-moda-65-tatuagens-aquarela-para-se-inspirar/)

A tatuagem hoje, mais do que uma marca estética ou um amuleto protetor,


representa um prolongamento da mente. Transferindo memórias de fatos ou
situações, lembranças que agora são incrustadas na pele, (PIRES, 2005).

Partindo desse pensamento de que a tatuagem, por ser algo que até pouco tempo
atrás irreversível, e a moda por ser algo que está em constante mudança, a
publicidade lança essa união como base na relação comportamental de seu público,
para assim criar produtos e influenciar na compra dos mesmos.

As tatuagens, porém, são um fenômeno paradoxal. Sua relativa


permanência deveria torná-las em principio bastante inadequadas como
moda, já que não é possível simplesmente livrar-se delas quando a moda
passa. (Svendsen, 2010, pág. 92)

A revista ELLE edição de novembro de 2013, no artigo feito por Isadora Blonde,
aborda a pele tatuada como sendo um novo tecido, onde essa arte estampada no
corpo se torna mais valorizada. Em uma citação afirma que a moda no momento
prefere associar a tatuagem a conceitos como liberdade, individualidade e
perenidade.

Usar as tattoos, ao lado das roupas ou coladas a ela como estampas, seria
uma forma de desenvolver às peças uma qualidade e permanência que elas
perderam. É a pele se transformando em segunda pele e voltando para o
tecido para valorizá-lo. (ELLE, 2013, pag.226)
43

Para Malysse (2008) a grande vitalidade e criatividade da moda de hoje se


transplantou nos novos imaginários do corpo, imaginários esses que sempre fazem
do corpo o principal vetor de comunicação social. Afirma também que lidamos com o
nosso corpo como se estivéssemos em um supermercado de estilos, sempre
procurando se vender da melhor forma possível.

Acredito que, diante desse novo cenário, podemos perceber que a aceitação da
tatuagem vem sendo bem empregada pelos difusores de tendências do sistema de
moda, como modelos, estilistas e blogueiras. Que tanto buscam inspiração nas
discussões atuais em defesa de micropolíticas, ou seja, pequenos grupos que lutam
contra preconceitos e por direitos igualitários, que também saem em defesa de seus
discursos e acabam sendo refletidos nas passarelas.

Como por exemplo, o envolvimento de estilistas na Women’sMarch em janeiro de


2017, onde em um artigo da Revista ELLE de março, Torre (2017) afirma que a
relação está cada vez mais intensa entre a moda e a política.

A moda se apropria de todas as tendências e de todos os temas,


tecnológicos, científicos, políticos, artísticos, etc. A moda e mídia
associadas buscam romper os tabus, denunciar os preconceitos, liberar as
fantasias, modificar os costumes, deixar evidente a existência de
ambiguidades. (PIRES, 2005, pág. 82)

Segundo Blonde, da Revista ELLE (2013), sobre o crescimento da utilização de


modelos tatuados em campanhas publicitárias afirma que:

Um dos caminhos da moda no século 21, como reação à massificação das


tendências e à popularização do acesso a elas, foi revalorizar o corpo – Um
elemento mais durável do que as roupas. A ideia é que se as peças são
iguais para todos, ao menos a pele é única. (ELLE, 2013, pag.224)

Miranda e Moreira (2008) definem a moda comercial e alternativa das seguintes


formas; a Moda Comercial seria a moda padronizada e sem público alvo definido,
onde agrada a todos, feita em larga escala e inovando dentro do que propõe o
mercado. Já a Moda Alternativa vem de um conceito, ela cria as tendências a partir
44

dos valores de quem a cria, da própria identidade e personalização do estilo. Ela não
estaria ligada somente a roupa, mas principalmente a características e
personalidade de quem usa tal estilo.

A Moda alternativa ou Alternative Fashion está intimamente ligada à moda de


subculturas como punk, hippie, gótico, metal, grunge, entre outros. Sana Skull (2014)
afirma que toda moda de subcultura é alternativa, mas nem toda moda alternativa é
de subculturas.

A moda é o fenômeno que melhor demonstra esta capacidade e


necessidade de comunicação da sociedade, refletida no processo de
consumo. Moda é atitude, comportamento, expressão, mas acima de
qualquer coisa moda é mudança. [...] A moda não deve tomar conta de
tudo, possuir o corpo. A moda deve ser recriada a cada instante, a moda
deve ser feita por cada um. A moda é uma exclusividade de quem a usa.
(MIRANDA e MOREIRA, 2008)

3. 3 Contraculturas (Antimodas)

Com as vogas hippie, “baba”, punk, new-wave, hasta, ska, skinhead, a


moda viu-se desestabilizada, os códigos foram multiplicados pela cultura
anticoformista jovem, manifestando-se em todas as direções na aparência
do vestuário, mas também nos valores, gostos e comportamento.
(LIPOVESTKY, pág. 146)

Após a Segunda Guerra Mundial apareceram as primeiras modas jovens,


como afirma Lipovestky (2009), conhecidas como “antimodas”, que só a partir dos
anos 60, ganharam amplitude e novas significações. O nascimento de um dos mais
interessantes fenômenos da moda nos anos 70, como aponta Pires (2005),
apresenta uma proposta de luta. O punk e o new wave são estilos musicais, que
com seus tipos de moicanos futuristas apresentam tendências radicais e diferentes
de tudo o que se tinha visto até então.
45

O visual agressivo adotado pelos integrantes desse movimento, com o


intuito de chocar e de denunciar os problemas vividos pelos jovens da
periferia, foi concebido a partir da junção de elementos associados ao
sadomasoquismo com os trajes utilizados pelos Hell’s Angels. Essa
composição resultou em um estilo carregado de componentes fetichistas,
com roupas preferencialmente pretas e de couro, fartamente adornadas por
elementos metálicos que também adornam o corpo, como correntes,
coleiras, cadeados e alfinetes de gancho. (PIRES 2005, pág 74)

Segundo Lurie (1997), o estilo punk originou-se em Londres entre os adolescentes


marginalmente empregados e desempregados, onde pretendiam provocar emoções
perturbadoras e conflituosas como raiva, medo e piedade. Onde o movimento
ganhou versão própria, contando com bandas como Sex Pistols e The Clash,
através de músicas que criticavam o governo devido ao momento político da época,
(BIANCHIN, 2012).

Biachin (2012) afirma que, os punks foram uma oposição ao movimento hippie, onde
pregavam a independência e a individualidade. A estilista Vivienne Westwood, foi
quem criou o visual da banda Sex Pistols, levando de Nova York para a Inglaterra,
as peças rasgadas, os rebites, os alfinetes e os toques eróticos.

Os góticos deram sequência ao interesse dos punks pelo fetichismo e o


traduziram para um estilo mais chique e exagerado. Então vieram os pevs,
que tivera influencia pronunciada nas tribos de estilo posteriormente (como
os CyberPunks) quanto na moda em geral. (PIRES, 2005, pág. 79)

O mais importante é que essas correntes foram impulsionadas fora do sistema


burocrático da moda como afirma Lipovestky (2009), onde conquistaram uma
autonomia no que parece ser uma admirável criatividade do social em matéria de
moda. Seria a moda dirigida ao protesto político servindo de inspiração para
criadores profissionais. “É o fim da era consensual das aparências”.

Pires (2005) aponta que, esses elementos fetichistas ganharam mais espaços nos
desfiles e nas campanhas publicitárias, e muitos dos que eram vistos como bizarros
passaram a ser visto como sensuais. Esses estilos que começaram de forma
marginal têm suas roupas, penteados e acessório, adotados pela alta moda.
46

[...] trata-se sempre de aumentar a distância, de se separar da massa, de


provocar o espanto, de cultivar a originalidade pessoal, com a diferença de
que agora já não se trata de desagradar para agradar, de se fazer
reconhecer nos círculos mundanos pelo escândalo e pelo inesperado, mas
de ir até o fim da ruptura com os códigos dominantes do gosto e da
conveniência. (LIPOVESTKY, 2009 pág. 146)

Por fim, Lipovestky (2009) aponta que, a moda começou a valorizar o desvio, a
personalidade criativa, a imagem surpreendente, e não mais a perfeição de um
modelo. E complementa que, isso ocorre devido aos desejos de maior
independência e de expressão de si.

3. 4 Mulher Tatuada

E se falarmos em mulheres tatuadas? A imagem feminina padronizada, a


meu ver, é muito clara no que é aceitável e o que cabe a uma mulher, contudo, isso
vem mudando lentamente. Mas o que dizer quando elas enunciam em seus corpos o
seu poder sobre si?

Não é de hoje que a mulher adere a essa arte, apesar de recentemente essa prática
vir sendo menos discriminada. Entre o século XIX e XX as mulheres acabavam
como “animais” apresentados para exibição exótica, com as tatuagens para
exposição, em feiras, circos, espetáculos ambulantes ou museus baratos,
(APIMENTADAMENTE, 2016).

Mulheres tatuadas (havia homens também) iam ao palco falar sobre sua
vida, ou o que tinham encenado e decorado e fantasiado sobre a vida para
deleite do público, enquanto exibiam os seus corpos. Normalmente as
histórias que contavam estavam relacionadas com índios e a captura por
parte dos mesmos que forçaram às tatuagens, e que haviam sido tatuadas
contra a sua própria vontade. Esta era uma forma de aceitação social e de
captar e encantar a audiência, a justificação para os seus corpos repletos e
cobertos de tatuagens. As suas roupas eram diminutas, o que conferia
um caráter sexual ao show e exótico, motivo de fascínio, mas também de
condenação. (APIMENTADAMENTE, 2016)
47

Há indícios de que essas mulheres foram tatuadas forçadamente – revelam a


repressão e o controle sobre o corpo feminino ao longo dos anos sob uma
perspectiva diferente: quebrando paradigmas. As informações e as fotos foram
retiradas do livro “Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo”, da
americana Margot Mifflin, que foi lançado em 1997, e já está na sua terceira edição,
(TANOUE, 2013).

Olive Oatman (figura 33), em 1858. Depois que seus pais foram assassinados, foi
criada por índios Mohave, que lhe fizeram uma tatuagem tribal no queixo. Quando
voltou para a cidade, aos 19 anos, tornou-se uma celebridade, (TANOUE, 2013).

Figura 33

Foto: Arizona Historical Society Tucson, 1927


(Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)

Nora Hildebrandt (figura 34), a primeira artista de circo americana tatuada, em


meados de 1880. Foi tatuada em Nova York pelo marido Martin Hildebrandt, um dos
primeiros tatuadores dos Estados Unidos, (TANOUE, 2013).
48

Figura 34

Foto: Tattoo Archive


(Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)

Maud Wagner (figura 35), a primeira tatuadora americana de que se tem notícia,
1911. Em 1907, ela trocou um encontro com aquele que viria a ser seu marido por
aulas de tatuagem. Sua filha também foi tatuadora, (TANOUE, 2013).

Figura 35

Foto: cortesia da autora.


(Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)

Mildred Hull (figura 36), uma das primeiras tatuadoras que não aprenderam o ofício
com o namorado ou marido, (TANOUE, 2013).
49

Figura 36

(Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)

Uma das mais conhecidas artistas de circo americana, Betty Broadbent (figura 37)
fez história ao aparecer no primeiro concurso de beleza televisionado totalmente
tatuada. Foi na World’s Fair, em 1937, (TANOUE, 2013).

Figura 37

(Fonte: Livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo)

A relação entre mulher e tatuagem vem evoluindo no que diz respeito a livre escolha
dessa prática, deixando de ser algo forçado e exposto de forma bizarra, para ser
vista como forma de representação de sua identidade e personalidade. Até mesmo,
exercendo essa pratica profissionalmente em estúdios e festivais de tatuagens,
como tatuadoras.
50

Hoje, vemos que o número de mulheres tatuadas vem crescendo bastante, e, em um


momento onde elas não se sentiam representadas na moda, surge o site Suicide
Girl. Uma plataforma digital que estourou no início dos anos 2000 e hoje está com 16
anos e 1 mês e conta com 3.071 Suicides Girls, (SUICIDEGIRLS, 2017).

3.4.1 SUICIDE GIRLS

Para Pires (2005), o corpo nu, na sociedade contemporânea, é cada vez


mais exposto. Como se quiséssemos que tudo fosse mostrado, e isso, nos desperta
a libido e nos serve de parâmetro. Onde fortalecemos nossa identidade.

Suicide Girls é um site de assinaturas que contém fotos eróticas de garotas


alternativas, exclusivamente mulheres que fogem do padrão ditado pela sociedade.
Um alt porn. Valorizando as modificações corporais como tatuagens, piercings,
maquiagens, cabelos coloridos, entre várias outras características.

O site surgiu em 2001 através de Missy Suicide (Selena Mooney) e Spooky (Sean
Sunl), atuais donos da plataforma, propondo a ideia de fotografar jovens mulheres
de subculturas diferentes, tendo o estilo e a sensualidade das pin ups do século XX
como referência, (ALMEIDA, 2017).

O acesso a ensaios fotográficos é pago e, dentro do site existe uma rede social onde
formam grupos, comentam e curtem as fotos, vendem produtos, criam blogs, vídeos
e diários pessoais. Dentro do site, além dos assinantes, estão a equipe profissional,
os idealizadores, fotógrafos, staffs, e as modelos, que são divididas em aspirantes
(hopeful) e licenciadas (suicidegirls), (ALMEIDA, 2017).
51

Figura 38

Foto: Print Screen da interface do site


(Fonte: suicidegirl.com)

O site apresenta tal frase em sua descrição “O que algumas pessoas acham que nos
tornam estranhas, ou esquisitas, ou fodidas, nós achamos que é o que nos torna
lindas. Essa é a nossa ideia de beleza redefinida”. (“What some people think makes
us stranger, or weird, or fucked up, we think is, whats makes us beautiful. THIS IS
OUR IDEA OF BEAUTY REDEFINED”),(SUICIDE GIRLS, 2017). Mostrando que o
ideal de beleza feminina é livre.

No começo do Suicide Girls, o site foi visto como problema. Isso porque a
proposta do site é hospedar imagens e propagar o corpo feminino tatuado
erotizado, em ensaios sensuais e provocativos. A erotização incomodava,
enquanto as meninas que estavam ali, só queriam fugir da normalidade e
das definições plásticas impostadas cultural e socialmente. (ALMEIDA,
2017)

O site apresenta duas opções de se juntar a comunidade, ou sendo como um


membro ou como uma modelo. Como membro você faz uma assinatura do site
pagando 48 dólares no ano ou 12 dólares no mês. Para se inscrever como modelo,
terá que ser acima de 18 anos, responder um questionário com seus dados, falar o
porquê você deseja ser uma suicide girl e enviar um set, que seria uma espécie de
editorial contendo fotos suas. Caso seu set seja aceito, você tem 1 ano para ver a
interação dos membros do site, caso seja positiva o SG compra o seu editorial por
500 dólares e você recebe o título de Suicide Girl Oficial.
52

Suas fotos devem dar uma impressão precisa do que você parece. Inclua
fotos de suas tatuagens também. Você não precisa estar nua nas fotos, mas
elas devem mostrar o seu rosto com clareza. Tente deixar sua
personalidade brilhar. (SUICIDEGIRL, 2017)3

Alguns anos depois, o site expandiu seu significado de redefinição de beleza,


distante dos padrões estéticos das meninas Playboy e dos corpos ideais na época.
O termo “garotas suicidas” vem do livro Sobrevivente, de Chuck Palahniuk (autor de
“Clube da Luta”) e, segundo Missy “É uma boa forma de descrever as garotas que
cometem 'suicídio social' ao não aderir aos padrões", (RIOS,2015).

Figura 39

Foto: Print Screen da interface do site


(Fonte: suicidegirl.com)

Muitas garotas dos anos 2000 sentiram-se representadas dentro desse website, pois
nele compartilhavam de experiências e conteúdo. Ter o título “Suicide Girl” era (e é
ainda hoje, acredito) muito importante para essas meninas que buscavam ser
aceitas pelo seu estilo de vida, que fugia totalmente dos padrões.

Até hoje existem garotas que ainda sonham em se tornar uma Suicide Girl. Como é
o caso de Viih Gruwald (2014), em seu canal no youtube, diz que o orgulho de ser
suicide é muito maior do que 500 dólares, pois há muitos sites pornôs que pagariam

3
Your pictures should give an accurate impression of what you look like. Please include photos of your tattoos
as well. You do not need to be nude in the photos, but they must show your face clearly. Try to let your
personality shine through
53

muito mais para ter suas fotos disponíveis nele, mas não trariam o mesmo status.
Mesmo não tendo conseguido o título continua sendo uma hopeful.

Há no ato de se apresentar com determinados tipos de adornos a vontade,


no sujeito, de desestabilizar os indivíduos que não os possuem, de mostrar
uma forma diferente de se expressar e de obter prazer. Prazer esse que é
obtido no momento da manipulação corporal e que se estende a todas as
práticas que a modificação permite, inclusive verificar a reação que sua
imagem causa no outro. (PIRES, 2005, pág.129)
54

4 – Procedimento Metodológicos

4. 1 Analise de Conteúdo

Ao selecionar os 20 perfis do instagram do Suicide Girl, foram separadas


1 postagem da garota no instagram oficial e 2 postagens de seu perfil pessoal, assim
como suas descrições e hastags.

Com esse levantamento, pegamos o método apresentado por Bardin (1977), a


análise do conteúdo que, trata-se de descobrir as conexões que possam existir entre
o exterior e o discurso, entre as relações de força e as relações de sentido, entre
condições de produção e processos de produção. Onde o destinatário é modificado
pelo discurso do locutor em relação a ele através de imagens e sistemas linguísticos
usados.Onde o destinatário seria o analisador da pesquisa, (BARDIN, 1977).

O processo de produção de um discurso resulta da composição das condições de


produção deste discurso com um determinado sistema linguístico, (BARDIN, 1977,
pág 215).

As condições de produção funcionam como um exemplo de seleção-


valorização sobre os elementos da língua. A partir destes elementos, elas
constituem os domínios semânticos e as dependências entre estes
domínios que representam a matriz do discurso analisado. (Bardin, 1977,
pág. 215)

Tomamos por condições de produção e sistema linguístico às imagens, as


descrições em cada perfile hastags utilizadas nas postagens. Onde definimos,
previamente, como domínios semânticos os elementos de estilos e linguagem
apresentados.
55

4.1.1 Condições de Produção - perfis selecionados

 SUICIDE GIRLS – 10 perfis

 HOPEFUL SUICIDE GIRLS – 10 perfis

4.1.2 Processo de produção – analise do discurso

O processo de produção foi dividido em duas partes, na primeira, foram


coletadas, além das fotos, as informações de cada garota, tanto licenciada quanto
aspirante, como: a descrição do instagram pessoal, características, elementos de
estilos estético, observados pelo destinatário em fotos e posições mais recorrentes
do feed4 e as hastags mais usadas. Em um segundo momento, foi analisado o que
havia de mais comum entre elas dividindo-as em grupos nos domínios semânticos.

4
Feed do instagram é onde são organizadas as imagens postadas
56

Para clarificar os processos de produção é necessário definir os "pontos de


ancoragem no corpus, isto é, os domínios semânticos. Entra em jogo a
proximidade de conteúdo dos enunciados. É definido a priori um limiar para
avaliar desta proximidade semântica o que permite decidir se os enunciados
pertencem ou não ao mesmo domínio semântico. (BARDIN, 1977, pág. 219)

 SUICIDE GIRLS – Serão identificadas por seus números no quadrado rosa

01

02
57

03

04
58

05

06
59

07

08
60

09

10
61

 HOPEFUL SUICIDE GIRL - Serão identificadas por seus números no


quadrado verde

01

02
62

03

04
63

05

06
64

07

08
65

09

10

Podemos perceber que em vários países existem Suicide Girls e Hopefuls Suicide,
mostrando que há meninas de diferentes culturas compartilhando os mesmo gostos
e comportamentos. Os países que apareceram na análise foram:

Brasil (1 SG e 1 HSG) Chile (1SG)


Tailândia (1SG) Alaska (1SG)
Louisiana (1SG) Califórnia (1SG)
Itália (1 SG e 2HSG) Austrália (1SG e 1HSG)
66

Venezuela (1SG) Islândia (1SG)


Reino Unido (1SG) 5 meninas não apresentam localização

A escolha das garotas foi baseada totalmente de forma aleatória, através do


instagram oficial do site das Suicide Girls, a partir das hastags utilizadas por eles.
Onde as licenciadas apresentavam a #SuicideGirls e as aspirantes apresentavam a
#SuicideGirlsHopeful.

4.1.3 Domínios semânticos

A partir do grupo de informações criados na análise individual, através do


seu processo de produção (descrição, elementos de estilo, posições das fotos e
hastags), foram divididos 4 domínios semânticos: tipos de cabelos, quantidade de
tatuagens, poses das fotos e roupas utilizadas.

1. Tipos de cabelos

Percebemos que a variação de cor e de textura dos cabelos das meninas


é um dos diferenciais da estética suicide. Dividimos então em 2 tópicos, os coloridos
e os naturais5e, os lisos e cacheados:

Cores Texturas
Coloridos: Rosa | Roxo | Azul | Vermelho Cabelos Cacheados | Ondulados |
Amarelo | Verde Tranças
Naturais: Preto | Castanho | Ruivo | Loiro Cabelos Lisos

5
Naturais está colocado aqui como as cores de cabelos mais frequentes na sociedade, como preto, castanho, loiro
e ruivo. E não que seja o cabelo natural da garota.
67

CABELOS COLORIDOS

CACHEADOS | ONDULADOS | CABELOS LISOS


TRANÇAS
ROSA 03 | 05|10 03 | 05|10
AZUL 03 | 05 | 07 02 | 03 | 05 | 06

AMARELO 05
VERMELHO 09 09
ROXO 02 |05 02 |05| 09
VERDE 06 10

CABELOS NATURAIS

CACHEADOS | ONDULADOS | CABELOS LISOS


TRANÇAS
PRETO 04 | 08 | 08 01 | 04
CASTANHO 03 07

LOIRO 06 06
RUIVO 01

De acordo com as imagens no feed de cada uma, podemos perceber que em


algumas, há variações de texturas e cores do cabelo. Nesse primeiro tópico,
identificamos que, entre elas, há um número maior de garotas com os cabelos em
cor fantasia. Tendo 11 garotas de cabelos coloridos, sendo 5 Suicide Girls e 6
Hopeful Suicide, e, 09 com os cabelos naturais, sendo 5 Suicide Girls e 4 Hopeful
Suicide.

2. Quantidade de tatuagens

Outro elemento muito presente nas garotas são as suas tatuagens. De


vários estilos e formas. Por isso, aqui, decidimos analisá-las pela quantidade de
tatuagens que apresentam ter nas fotos, independente de tamanho.
68

SUICIDE GIRL HOPEFUL SUICIDE


NENHUMA 05
1À5 03 | 07 01 | 02 | 03 | 06 | 08 | 09
5 OU MAIS 01 | 02 | 04 | 06 | 08 | 09 | 04 | 05 | 07 | 10
10

O que podemos perceber é que, pelo site ter esse propósito de abraçar as meninas
que fogem do padrão de corpo e comportamento esperados de uma mulher na
sociedade e, as tatuagens serem um meio de expressão externa do eu, faz sentido a
maioria das garotas apresentarem esse elemento.

Porém, o que me chamou mais a atenção, foram algumas que quase não
apresentavam tatuagens. A número 05 das Suicide Girls (@fays._), por exemplo,
não tem nenhuma, e é uma licenciada, o que torna curioso, mesmo ela tendo
cabelos coloridos, pelo fato de que, acredito eu, há uma associação dessas garotas
com a tatuagem. Ela mostrou que essa identificação independe de ter ou não
tatuagem e sim de expressar tal comportamento nesse estilo de vida.

3. Poses das fotos

A foto é um elemento bastante identificativo paras as garotas suicides


devido a toda a sua trajetória na plataforma. Pois, a divulgação das imagens no site
e a mensagem passada por elas, foi o que conquistou várias adeptas que anseiam
pelo título Suicide Girl. Fotos com poucas roupas e mostrando as tatuagens são
muito recorrentes nos feeds analisados, assim como poses que valorizam curvas e
determinadas partes do corpo.

Classificação das posições em 4partes: de costas, de frente, deitada (ou sentada) e


em pé (ou de joelhos).
69

SUICIDE GIRLS HOPEFUL SUICIDE


COSTA 06 | 07 | 08 | 10 04 | 06 | 07 | 10
FRENTE 01 | 02 | 03 | 04 | 05 | 09 01 | 02 | 03 | 05 | 08 | 09
DEITADA | SENTADA 02 | 04 | 07 | 08 | 09 01 | 02 | 09 |10
EM PÉ | DE JOELHOS 01 | 03 | 05 | 06 | 10 03 | 04 | 05 | 06 | 07 | 08

01 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHOS 01 – DE FRENTE E DEITADA | SENTADA


02 – DE FRENTE E DEITADA | SENTADA 02 – DE FRENTE E DEITADA | SENTDA
03 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHO 03 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHOS
04 – DE FRENTE E DEITADA | SENTADA 04 – DE COSTAS E EM PÉ | DE JOLEHOS
05 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHOS 05 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHOS
06 – DE COSTAS E EM PÉ | DE JOELHOS 06 – DE COSTAS E EM PÉ | DE JOELHOS
07 – DE COSTAS E DEITADA | SENTADA 07 – DE COSTAS E EM PÉ | DE JOELHOS
08 – DE COSTAS E DEITADA | SENTADA 08 – DE FRENTE E EM PÉ | DE JOELHOS
09 – DE FRENTE E DEITADA | SENTADA 09 DE FRENTE E DEITADA | SENTADA
10 – DE COSTAS E EM PÉ | DE JOELHOS 10 – DE COSTAS E DEITADA | SENTADA

Não excluído as outras posições, visto que todas apresentam fotos nos 4 requisitos
analisados. As posições em que a maioria das garotas analisadas utilizam são, as
de frente e as em pé (ou de joelho). A valorização dos seios e dos bumbuns nas
fotos também são notórias, onde geralmente há tatuagens por perto, que além de
adorno corporal, atrair ainda mais a atenção do observador.

Muitas das meninas fazem ensaios com outras modelos em fotos sensuais e com
um apelo íntimo, o que também é muito comum nos sets dentro do site. Poses como
mostrando a língua, boca aberta e a mão perto da boca ou em alguma região do
corpo, tocando-o, também foram recorrentes entre as analisadas. Como forma de
seduzir o observador, através da despadronização de seu corpo em relação ao
comum.

Outra observação com relação às imagens apresentadas, é que, além das poses
abordadas nessa pesquisa, o recurso de posição de câmera, a selfie, é muito
utilizado por todas em suas respectivas contas no instagram.

4. Roupas

As roupas, como já pontuamos lá em cima, é uma extensão daquilo que


queremos parecer ou alcançar. Se eu quero ser uma Suicide Girl, terei que mostrar o
meu corpo, mostrar quem eu sou, vestido e despido. Nas garotas analisadas, a
70

incidência de lingeries e biquínis é muito alta, assim como fotos seminuas e nuas.
Mostrando o corpo em poses atrativas (ou não) para o olhar.

Pontuamos os seguintes elementos de vestuários:

 Lingeries: geralmente nas cores preto e vermelho;


 Biquínis: com estampas de personagens, desenhos e de cores variadas;
 Bodys: cavados e com decotes grandes;
 Pijamas: com rendas e de algodão com estampas;
 Acessório: óculos, alargadores e piercings (nariz, septo, sobrancelha, lábios)
 Blusões e cropeeds: com estampas geeks, frases, lisos e com cores variadas

As cores variam um pouco, mas o preto e vermelho estão muito presentes, por
serem cores fortes e atraírem o olhar com mais rapidez. Dependendo do tom de pele
as cores podem favorecer nessa percepção.

A maioria das meninas analisadas são brancas de olhos claros, o que facilita na
percepção do seu corpo com relação as tatuagens e tons de roupas mais escuros,
criando um contraste que prende o olhar. Já as meninas negras e morenas, umas
com olhos claros e outra com olhos escuros, utilizam bastante de tons claros para
criar esse mesmo contraste, porém, não o percebemos tanto nas suas tatuagens.

Os fundos das imagens analisadas geralmente são ambientes claros, dando o


destaque a estética das garotas na foto, criando um contraste harmonioso. O que
faz com que o observador à perceba antes dos outros elementos que compõem a
foto.

4. 2 Discussão dos Resultados

Lurie (1997) aponta que, o vocabulário das roupas não se diz respeito
apenas a vestimenta, mas também a estilos de cabelos, acessórios, joias,
maquiagens e decorações do corpo. Tudo aquilo que for possível de criar um
discurso onde, emprega variações pessoais de tons e significados.
71

O que nos traz ao ponto de que as Suicide Girls e as Hopeful Suicides buscam, além
de mostrar seus corpos e seus adornos, passar a mensagem de que mesmo sendo
“estranhas”, como elas mesmas se intitulam, se acham bonitas e sexys com seus
corpos modificados.

Já para Svendesn (2010) a moda não é uma linguagem, pois não apresenta uma
gramatica ou vocabulário. Porém, não há dúvida de que comunique algo, mas, as
roupas são semanticamente instáveis e o seu significado está intimamente ligado ao
contexto em que está inserido.

O que de fato podemos observar, é que, a roupa, nesse contexto, pode apresentar
um significado diferente de um outro. Como por exemplo, as lingeries utilizadas
pelas garotas analisadas, apresentam uma conotação diferente das lingeries que
aparecem em uma campanha publicitária. Outro exemplo são os óculos de grau,
onde, colocados em suas fotos, criam um ar mais sensual ao acessório.

Para Castilho (2009), a moda, no estudo da linguagem, é entendida como uma


relação complexa entre distintos códigos, que, encadeia em uma manifestação
discursiva ou em uma textualização vários efeitos de significações. Ela ainda afirma
que, a comunicação vestimentar é tratada exclusivamente corpórea, ou seja,
necessita do corpo como suporte. (CASTILHO, 2009)

Muito antes de eu ter me aproximado o suficiente para falar com você na


rua, em uma reunião ou em uma festa, você comunica seu sexo, idade e
classe social através do que está vestindo - e possivelmente me fornece
uma informação importante (ou uma informação falsa) em relação ao seu
trabalho, origem, personalidade, opiniões, gostos, desejos sexuais e humor
naquele momento. [...] Quando nos conhecermos e conversarmos já
teremos falado um com o outro em uma língua mais antiga e universal.
(LURIE, 1997, pág. 19)

As garotas analisadas apresentam muitas características em comum, porém cada


uma valoriza seu estilo próprio, como estilos de desenhos de tatuagens, posições de
piercings, maquiagens, entre outros. Com relação a moda alternativa, elas criam
todo o seu contexto voltado para a sua estética corporal de forma sensual, dando
um novo significado para as roupas e acessórios utilizados por elas em suas fotos.
72

5 – Considerações Finais

Essa pesquisa foi importante para o entendimento da relação entre a


moda e a tatuagem no contexto das Suicide Girls. Tendo a sua relevância voltada
para a pesquisa de comportamento, estilo e de tendência de moda. Fazendo com
que houvesse uma compreensão sobre a mensagem que esse grupo quer passar
através da sua estética. Que seria o de se sentirem lindas e sexys independente do
padrão, imposto pela sociedade, que não as representam.

A moda apresenta várias vertentes, pois, é um meio de expressão de culturas, de


políticas, de comportamentos e de ideias. Ela é a extensão da união da mente com
corpo exposto. A tatuagem é o caminho para a memória, e é onde a mente também
cria um diálogo com o corpo, marcando-o. Através dessa pesquisa pudemos
perceber que de diversas maneiras uma cruza com a outra, sendo como indicador
de rituais em uma tribo, seja como marcas de punições, como forma da exposição
do bizarro em apresentações circenses ou como forma de chocar e chamar a
atenção através de lutas e manifestos.

Essa modificação corporal foi ganhando espaço na moda, através de campanhas


publicitárias e de desfiles baseados no conceito da significação dessa arte. Como
liberdade, individualidade, expressividade e rebeldia.

O estilo estético aqui analisado, não foge desse contexto. A compreensão sobre a
estética das Suicide Girls renderia uma longa discussão pois, envolve não apenas os
seus elementos de estilo, como também, a sua posição dentro da construção da
identidade feminina.

Nessa pesquisa foi apenas analisado os seus elementos de estilos, fazendo com
que pudéssemos identificar como se dá a estética de cada garota relacionada ao
título que tem ou que almeja, através de roupas, acessórios, cabelos, tatuagens e
posturas nas fotos que as representam.

As analises foram bastante representativas no que diz respeito à estética de uma


Suicide Girl, pude compreender como elas trazem esse estilo para as suas vidas em
redes sociais, pois a ideia, não é só ter o set aceito no site e sim viver esse
73

comportamento diariamente em suas redes sociais, para milhares de seguidores.


Pois isso às tornam quem são.

A influência das suicides na moda alternativa se deu a partir da libertação do corpo


feminino tatuado, onde através de suas modificações passaram a chamar a atenção.
Invertendo o que era bizarro para o que hoje é considerado um estilo de vida, que
faz com que meninas do mundo inteiro se identifiquem e se sintam representadas.

Acredito que a tatuagem na mulher ainda é vista com olhos vulgares. Olhos esses
que, muitas vezes caem não apenas no uso das modificações, como também na sua
forma de comportamento. Um dos pontos iniciais dessa pesquisa, seria pontuar
esses olhares sobre a construção da identidade feminina, no contexto das Suicide
Girls, com relação ao feminismo atual, para saber se essa percepção permanece. O
que deixo em aberto, devido ao fato de que, inicialmente se fez necessária uma
pesquisa sobre o estilo desse grupo para que em uma outra oportunidade de
pesquisa pudesse dar continuação a esse ponto.
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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A - Construção do olhar feminino diante das


suicide girls

O posicionamento feminino vem sendo debatido cada vez com mais


freqüência, tanto em grupos, palestras, movimentos como em redes sociais, mídias,
moda, todo e qualquer meio em que seja possível passar uma mensagem.

Pudemos observar que, a enunciação das garotas no site é de caráter comercial, o


que cria um debate sobre se seria uma forma de empoderamento como agente ativo
dentro da plataforma ou se seria apenas um posicionamento como produto que gera
lucro.

Em uma cultura construída sobre o silêncio das mulheres e empenhada em


manter a parte essencial da relação entre os corpos das mulheres e a
escrita cultural, as regras foram simples: o corpo escrito só pode falar de
forma patriarcal, que tenta limitar a voz e os corpos das mulheres a papéis
de apoio e cenário. Assim, no corpo de uma mulher, qualquer tatuagem se
torna o símbolo de excesso corporal. Quando o corpo de uma mulher é um
objeto sexual, o corpo de uma mulher tatuada é um objeto sexual lascivo;
quando o corpo de uma mulher é natureza, o corpo de uma mulher tatuada
é primitivo (BRAUNBERGER, 2000, p. 1 Apud ALMEIDA 2017).

Almeida (2017), em sua tese, aborda que a proposta do site é ter um canal de
disseminação do corpo feminino tatuado monetizado e desenvolvido para fins
lucrativos, onde há uma seleção das modelos que entrarão ou não para a
plataforma. O que me faz pensar que não será qualquer uma que terá seu ensaio
aceito e disponibilizado no mesmo.

Porém, não posso deixar de pontuar que, as garotas entram no site por vontade de
fazer parte de um grupo no qual elas se identificam. Hoje em dia, a plataforma das
Suicide Girls, pode não ser um meio bem visto entre as feministas, contudo, teve o
seu momento de luta, empoderando muitas garotas que não se sentiam
representadas na época do surgimento.

A força dessa onda suicide atingiu garotas do mundo inteiro, o que me faz pensar
que, mesmo sendo um negócio monetizado, há ainda um apelo feminista, pequeno
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talvez, mesmo a mulher estando seminua ou, muitas vezes, nua. Pois, a nudez
feminina foi idealizada por homens, onde eles decidiam o que era sexy e o que era
vulgar em uma mulher.

A moda Suicide Girls, se é que eu posso nomear dessa forma, tentando se


desvencilhar do padrão de corpo e de beleza, acabou se tornando, com o passar do
tempo, uma estética padronizada do oposto àquilo que iam contra. Pois, nas
imagens analisadas, pudemos notar que, as poses usadas, as localizações das
tatuagens, os tipos de cabelo são elementos recorrentes dessa estética, tanto entre
as licenciadas como as aspirantes.

O poder feminino está nas suas escolhas, na forma como decide usar uma roupa ou
posar para uma foto. As redes sociais têm se tornado um meio de disseminação
muito poderoso para esse discurso, pois, como uma mulher decide usar o seu corpo,
só cabe a ela a definição do que aquilo é.

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