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DOSSIÊ CLUBE MBL
Precatolão: O escândalo
que ainda não virou crise

13 de março de 2024

COORDENADOR DE PESQUISA
Orlando Lima

PESQUISADORES DESTA EDIÇÃO


Luiz Felipe Panelli
Orlando Lima
Equipe Especial

PESQUISADORES DO CLUBE
Airton Nunes
André Levi Pereira
Gabriel Matos
Juliana Wandenkolk
Nils Alexandre
Pablo Aragon

REVISORES
Carlos Sena
Igor Thawan
Thiago de Sá Gomide

ARTE-FINALISTA E DIAGRAMADOR
Arthur Caetano Campos
Vitor Ferreira Mateus

escândalo dos precatórios


02 13 DE MARÇO DE 2024

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introdução
N o tecido jurídico que envolve as rela-
ções entre cidadãos e Estado, há um
elemento que tem sido alvo de controvérsias
e debates: os precatórios. Antes de adentrar-
mos nesse universo, é essencial compreen-
dermos seu significado e sua importância.
O tema, por vezes obscurecido por sua com-
plexidade, revela-se essencial para a trans-
parência e a accountability governamental,
sua responsabilidade de prestar contas a
instâncias controladoras.

Em uma sociedade regida pelo Estado de


Direito, a igualdade perante a lei é um prin-
cípio inegociável. Isso inclui não apenas os
cidadãos comuns, mas também o próprio
Estado, sujeito às leis que regem a nação.
Diariamente, indivíduos movem processos
contra o Estado por uma miríade de razões,
desde contestações fiscais até reclamações
por serviços não prestados. O cerne desse
embate cabe ao Poder Judiciário, incumbi-
do de julgar tais demandas com imparcia-
lidade e equidade.

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03 13 DE MARÇO DE 2024

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A fachada do Supremo Tribunal Federal (Rosinei Coutinho | SCO)

No entanto, quando um cidadão vence uma


batalha judicial contra o Estado, o desafio
está longe de terminar. Para particulares, a
execução da sentença pode ser feita median-
te penhora de bens ou bloqueio de contas,
todavia quando se trata do Estado, a situa-
ção é completamente diferente. A natureza
dos serviços públicos e a forma como o di-
nheiro é arrecadado e gasto tornam inviá-
vel a mesma abordagem.

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04 13 DE MARÇO DE 2024

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Se a execução contra o Estado seguisse o
mesmo padrão aplicado a indivíduos e en-
tidades privadas, surgiriam impasses insu-
peráveis. O que fazer quando o pagamento
não está previsto no orçamento? Como pe-
nhorar bens que são essenciais para a pres-
tação de serviços públicos? Essas questões
evidenciam a complexidade e a singulari-
dade dos desafios enfrentados quando se
trata de demandas contra o Estado.

É aqui que entra em cena o sistema de pre-


catórios, uma solução delineada pela Cons-
tituição para equilibrar os interesses das
partes envolvidas. Em teoria, o sistema é
simples e eficaz: os credores recebem títu-
los que representam sua posição na fila de
pagamento, à medida que o Estado desti-
na recursos para esse fim, a fila avança. No
entanto, na prática, a realidade é outra.

Décadas de negligência por parte de diver-


sos entes públicos resultaram em um ce-
nário caótico, em que muitos credores es-
peram indefinidamente pelo cumprimento
das decisões judiciais. A falta de alocação
adequada de recursos para os precatórios
transformou um sistema promissor numa

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fonte de frustração e injustiça para aqueles
que buscam a reparação de seus direitos.

O Escândalo dos Precatórios o qual acome-


te o Regime Jurídico-Petista que governa o
país deve ser visto como uma explicação de
como o sistema patrimonialista brasileiro é
a principal causa de concentração de renda
e fonte de desigualdade. Os precatórios que
estavam nas mãos de uma diversidade sem-
-fim de credores foram adquiridos por valo-
res mais baixos pelos bancos oligopolistas.

O presidente Lula e ministros do STF (Sérgio Lima | Poder360)

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Enquanto isso, por intermédio do Judiciá-
rio, o governo teve que repassar um valor
que pode chegara R$ 93 bilhões, que serão
pagos aos bancos, atuais credores dos preca-
tórios. As questões levantadas são simples:
houve informação privilegiada por parte
dos bancos para adquirirem tantos papéis
podres? O governo triangulou junto ao Ju-
diciário esse repasse? Os antigos credores
foram vítimas de fraude?

Apesar da simplicidade das perguntas, as


respostas são difíceis. Um “sim” ou um
“não” são categóricos demais para caberem
de modo descompromissado em qualquer
frase. Um escândalo que vem sendo gesta-
do desde o governo Bolsonaro estoura no
governo Lula e, mesmo assim, insiste em
não virar crise. O Banco Central, que su-
postamente opera de modo independente,
afirma que apenas pouco mais de R$ 3 bi-
lhões foram pagos pelo governo aos novos
credores, os bancos. Contudo, falta trans-
parência e, além disso, não significa que
não será pago. Com tanta gente que com-
põe a plutocracia faturando alto, não é di-
fícil entendermos o esforço para acobertar
o esquema criminoso.

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Por sorte, o Clube MBL se junta aos esfor-
ços para que este esquema seja desbarata-
do e exposto ao maior número de pessoas.
Uma exposição didática e bem trabalha-
da é a melhor arma contra a omissão dos
grandes conglomerados de mídia. Aprovei-
te o Dossiê especial sobre o Escândalo dos
Precatórios, o Precatolão.

O político Ciro Gomes (PDT) denunciou recentemente o suposto


esquema corrupto do governo petista (Divulgação | BTG Pactual)

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08 13 DE MARÇO DE 2024

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o precatolão
entendendo a operação

E m tom de indignação com o governo


Lula, o ex-governador do Ceará Ciro Go-
mes (PDT), em entrevista à CNN, no último
dia 2 de março, denunciou a existência de
um esquema bilionário praticado pela atu-
al gestão petista. O esquema seria realizado
a partir de precatórios do governo federal,
comprados por alguns poucos bancos por
um valor abaixo do seu valor real e depois
pagos pelo governo. Segundo Gomes, seria o
maior esquema de corrupção da história do
país, maior até que o Petrolão e o Mensalão
somados. Para entender a operação denun-
ciada por Ciro, primeiramente é necessário
entender as condições que abriram brecha
para que esse esquema fosse possível, que
remontam ao governo de Jair Bolsonaro.

Em 2021, o governo Bolsonaro apresentou


a PEC (Proposta de Emenda à Constituição)
dos Precatórios (PEC nº 23/2021), aprovada
pelo Congresso em novembro, que permi-
tia à União adiar e parcelar o pagamento

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09 13 DE MARÇO DE 2024

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dos precatórios, além de criar um teto para
esta despesa: o valor pago em 2016 corrigido
pela inflação. A intenção era abrir espaço
no orçamento, visto que a pandemia de co-
vid-19 exigiu aumento imprevisto nos gas-
tos do governo, e era necessário garantir a
manutenção dos programas sociais, como
o Auxílio Emergencial. Ademais, com o De-
creto 11.249/2022, publicado em novembro,
logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas
eleições, foi permitido que detentores de
precatórios pudessem usá-los em acertos
de contas com o governo, como no paga-
mento de multas, outorgas e dívidas, e na
compra de ativos, ações de empresas esta-
tais e imóveis da União.

Os presidentes Arthur Lira e Rodrigo Pacheco promulgam a PEC


dos Precatórios no Congresso (Jefferson Rudy | Agência Senado)

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10 13 DE MARÇO DE 2024

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Neste contexto, diversas vezes o então mi-
nistro da economia, Paulo Guedes, adotou
posicionamentos que revelavam uma pre-
tensão de dar calote nos precatórios, como
ficou evidente em entrevista dada à rádio Jo-
vem Pan no dia 3 de março de 2021, em que
ele afirmou que pagamento de precatórios
representa ameaça à União. O ministro des-
creveu a situação com os termos “indústria
de precatórios” e “indústria dos créditos tri-
butários” e disse que o Judiciário deve ava-
liar melhor essa questão. Em outras ocasiões
ele já havia dado declarações semelhantes,
dizendo que o valor gasto pela União para
pagar os precatórios cresce ano após ano.

É importante ressaltar que os precatórios


são dívidas oriundas de erros do Poder Pú-
blico, tais como: impostos cobrados indevi-
damente e salários atrasados de servidores
públicos. Os credores prejudicados, na maio-
ria das vezes pessoas comuns que precisam
do dinheiro, recorrem à Justiça para repara-
ção de seus direitos e a decisão final o paga-
mento costuma demorar anos ou até mais
de uma década. É descabido pressupor que
em contextos lícitos isto possa ser classifica-
do como uma “indústria dos precatórios”.

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11 13 DE MARÇO DE 2024

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O ex-ministro da economia Paulo Guedes (Edu Andrade | ASCOM)

Diante das incertezas causadas pelas decla-


rações do ministro – sem saber quando re-
ceberiam os pagamentos e se sequer seriam
pagos –, muitos credores ficaram preocupa-
dos com a possibilidade de calote em seus
haveres. Assim, muitos deles recorreram à
venda dos precatórios, a fim de antecipar e
garantir o recebimento de algum valor, mes-
mo que por muito menos que o valor real.
Os compradores dessas dívidas geralmen-
te são empresas ou instituições financeiras
que estão dispostas a assumir o risco e as
dificuldades envolvidas na quitação.

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12 13 DE MARÇO DE 2024

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O pulo do gato da malandragem está em um
detalhe muito importante: o fato de os títu-
los serem aceitos como moeda de troca em
acertos de contas com governo, nos quais o
precatório é aceito pelo seu valor integral,
e não pelo seu valor de mercado.

É evidente que um cidadão comum, alheio


à complexidade dessas questões, teria duas
opções: aguardar anos para receber seu di-
nheiro integralmente ou vender seu título
a uma empresa que se dispusesse a com-
prá-lo, recebendo um valor muito abaixo
do que tem direito. Porém, empresas que
tenham negócios ou dívidas com o governo
podem comprar os títulos com um grande
deságio e utilizá-los com seu valor integral,
lucrando na diferença.

Isso criou uma oportunidade que passou a


ser explorada por muitas empresas e que
beneficiaria principalmente aquelas que
tivessem informação privilegiada, que se-
riam então capazes de chegar na frente das
demais. Posteriormente, já no governo Lula,
a brecha foi tão fortemente explorada que
resultou no escândalo denunciado por Ciro
Gomes e discutido neste Dossiê.

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13 13 DE MARÇO DE 2024

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Voltando à denúncia do pedetista, ele veio
a público afirmar que o governo federal es-
taria beneficiando alguns bancos, que te-
riam comprado, por intermédio do Poder
Judiciário, precatórios de pessoas físicas a
um valor muito abaixo de seu valor real. No
final do ano passado, o Supremo Tribunal
Federal derrubou uma das regras da PEC
dos Precatórios, a que criava um teto que
limitava o valor que poderia ser dispendi-
do a cada ano, e autorizou a União a abrir
crédito extraordinário para regularizar os
precatórios de 2022 e 2023.

Fernando Haddad (PT), político atualmente responsável por co-


mandar o Ministério da Fazenda (Marcelo Camargo | Agência Brasil)

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14 13 DE MARÇO DE 2024

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Em seguida, o governo Lula publicou uma
medida provisória para liberar a quitação
da totalidade dos precatórios, correspon-
dente a R$ 93 bilhões. Lula não tinha a obri-
gação de pagar a dívida total, mesmo que
tivesse essa opção.

Essa operação levanta algumas dúvidas. Por


qual razão foi anunciado de repente o pa-
gamento total dessas dívidas, sendo que o
governo está com dificuldade imensa de fe-
char as contas? Já foram anunciados diver-
sos impostos novos que o governo pretende
criar, como a regulamentação do trabalho
por aplicativo, imposto sindical, imposto so-
bre importações, imposto sobre tratamento
de água e esgoto, além de cortes no orça-
mento de áreas importantes, como educa-
ção e meio ambiente. Não seria estranho o
governo estar tão preocupado em bater a
meta fiscal e de forma tão repentina e banal
decidir pagar uma dívida de R$ 93 bilhões?

Com o anúncio do governo, Ciro decidiu


investigar o caso, trazendo à tona sua sus-
peita em primeira mão durante sua entre-
vista à CNN, de forma inesperada, o que
gerou mal-estar nítido durante a entrevis-

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15 13 DE MARÇO DE 2024

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ta. A denúncia trazida foi totalmente ig-
norada pelos entrevistadores –apenas um
deles questionou se Ciro teria provas e o
outro tentou duas vezes desviar do assunto.
Ele então disse que é fácil verificar, basta-
va que o Ministério Público perguntasse à
Justiça Federal quais são os portadores dos
créditos, que não sejam os credores origi-
nais, que estavam cobrando o pagamento
dos precatórios. Segundo ele, seriam ape-
nas dois bancos os beneficiados pela maior
parte do montante.

A Justiça Federal liberou R$ 20 bilhões para pagamento de pre-


catórios remanescentes em 2023 (Conselho da Justiça Federal)

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16 13 DE MARÇO DE 2024

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Já em seu canal do YouTube, em vídeo pu-
blicado no último dia 11 de março, o pede-
tista reafirma suas suspeitas e aponta pre-
juízo em torno de R$ 45 bilhões aos cofres
públicos. Ele cita, inclusive, o envolvimento
do Poder Judiciário para o pagamento dos
precatórios às instituições financeiras. “O
governo, via Judiciário, entregou o que era
do povo aos bancos”, afirma. Ciro também
acusa o governo de tráfico de influência.
“Os bancos, informados pelo governo de
que aquele calote ia ser pago, compraram
do povo pela metade do valor e receberam
100%.” Ele ainda questiona por que não hou-
ve chamamento público para quem tinha
precatórios a receber em busca de uma ne-
gociação: “Por que o próprio governo, via
Advocacia-Geral da União, não chamou es-
ses credores todos para um acordo?”.

Sem citar o nome de nenhuma instituição


financeira ou dar exemplos reais de pessoas
que foram prejudicadas, Ciro cobra mais in-
vestigações e providências das autoridades
do Ministério Público: “Quem são as pesso-
as que chegaram com procuração, em nome
de credores, para receber os precatórios? Aí
vocês vão achar”.

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17 13 DE MARÇO DE 2024

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O jornalista Luís Nassif (Marcos Oliveria | Agência Senado)

O esquema executado era uma tragédia


anunciada – para um bom investigador era
evidente a brecha criada pelo governo Bol-
sonaro, que já vinha sendo explorada e cul-
minou no mega esquema feito após Lula de-
terminar o pagamento dos precatórios. O
jornalista Luís Nassif, do portal GNN, publi-
cou em março de 2023 uma matéria intitu-
lada “Xadrez do Censurado A e a Operação
dos Precatórios”, na qual descreve o merca-
do dos precatórios e as estranhas conexões
do banco Censurado A com figuras do alto
escalão de algumas instituições financei-
ras públicas, principalmente do Censura-
do B – lembrando que os diretores dessas
instituições são indicados pelo ministro da
economia/fazenda.

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18 13 DE MARÇO DE 2024

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Segundo Nassif, o Censurado A estaria su-
postamente envolvido em uso de informa-
ção privilegiada para conseguir negócios
altamente lucrativos. Para facilitar a com-
preensão, pode-se resumir o modus operan-
di do banco Censurado A como:

▶ descobrir oportunidades de negócios que


dependem do setor público, de regulação
ou de administração de bens;

▶ conseguir aproximação com dois setores:


o dos políticos e o dos funcionários públi-
cos. A intenção nesta etapa é obter cone-
xões que possam fornecer informação pri-
vilegiada ou influenciar em licitações;

▶ preparar as operações, antecipando-se


aos concorrentes, de maneira a, no momen-
to da licitação ou da largada da operação,
sair na frente.

▶ na licitação, conseguir a definição de re-


gras que afastem a competição.

O jornalista menciona vários casos que ilus-


tram a proximidade do banco Censurado A
com o alto escalão do Censurado B, o que

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facilitaria a obtenção de informação privi-
legiada. Alguns exemplos são:

▶ em junho de 2022 o gerente nacional de


recuperação de ativos do Censurado B que,
após aposentar-se, assumiu cargo de diretor
em uma empresa do grupo Censurado A;

▶ em outubro de 2022, o conselho-diretor do


Censurado B aprovou a primeira etapa da
contratação de uma empresa de gestão de
investimentos controlada pelo Censurado A;

▶ em novembro de 2022, o Censurado B


anuncia parceria com uma empresa de ges-
tão de fundos controlado pelo Censurado A.

Por enquanto não se tem certeza se de fato


o banco Censurado A utilizou seus contatos
para obter vantagens injustas em relação a
outras empresas, porém é necessário que
sejam feitas investigações aprofundadas.
Mas é claro que o banco tem acesso a figu-
ras de alto escalão capazes de fornecer in-
formação privilegiada. Será o Censurado A
um dos bancos que Ciro Gomes comentou
em sua denúncia do esquema à CNN? Espe-
remos os próximos passos do caso.

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20 13 DE MARÇO DE 2024

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Ciro Gomes foi ministro do governo Lula (Sérgio Lima | Folhapress)

Nota: optamos por usar as alcunhas “censu-


rado A” e “censurado B” para referirmos aos
bancos que estão envolvidos no esquema do Pre-
catolão. Uma ameaça de processo nos chegou
através de funcionários das instituições, por
isso o jurídico preferiu omitir os nomes. Po-
deríamos ter optado por um eufemismo qual-
quer, reescrever as frases, contudo, a escolha
por “censurado” expõe o peso daquilo que foi
feito efetivamente: censura.

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21 13 DE MARÇO DE 2024

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relação promíscua
governo, judiciário e bancos

S e o esquema que explicamos for con-


firmado, será necessário que o enten-
damos como parte do patrimonialismo
brasileiro, tão incentivado pelo PT desde o
primeiro governo Lula.

Tal sistema funciona de uma forma sim-


ples: dão-se migalhas assistencialistas para
o povo e cria-se uma retórica populista, na-
cionalista e agressiva. Por outro lado, faz-se
um sistema de capitalista de fachada, em que
somente grandes empresários próximos ao
governo – preferencialmente, bancos e em-
preiteiras – lucrem. Os bancos e empreitei-
ras ganham bilhões por meio de contratos
(muitas vezes fraudados) e juros altos, além
de baixa concorrência. O mercado bancá-
rio brasileiro é terrivelmente concentrado.

Os bancos e empreiteiras, por outro lado,


ajudam o partido dominante – o PT – a man-
ter a ordem. Você já deve ter percebido que
grandes banqueiros, como Neca Setúbal e

escândalo dos precatórios


22 13 DE MARÇO DE 2024

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os Moreira Salles, são lulistas e têm uma re-
tórica forte de direitos sociais, pautas iden-
titárias, “antifascismo” etc.

Neste esquema, quem lucra são os bancos e


empreiteiras (financeiramente) e o partido
do governo (politicamente). Quem se dá mal
é a classe média brasileira, que é espremi-
da por impostos altíssimos, serviços sociais
sofríveis e falta de concorrência. A classe
média passa a ser uma serva do grande ca-
pital e do partido que domina o governo.

A banqueira Maria Alice “Neca” Setúbal e integrantes do go-


verno Lula (Roberta Aline | Ministério do Desenvolvimento Social)

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23 13 DE MARÇO DE 2024

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O Poder Judiciário, outrora objeto de ódio
esquerdista, hoje está pacificado. O pacto
feito pelo PT com o STF é claro: qualquer
alternativa à esquerda seria criminalizada
e o STF passaria a governar o país com o
PT, sem necessidade de intervenção do Con-
gresso Nacional. O Judiciário teria tudo: al-
tíssimos salários, prédios, mordomias, fé-
rias etc. É comum que ministros do STF e
de Tribunais Superiores sejam convidados
para dar palestras no exterior, em viagens
luxuosas pagas por grandes empresários.

Atualmente, quem governa o Brasil é um


consórcio entre o PT e o STF. O Congres-
so Nacional está cada vez mais imprevisí-
vel, mas também mais irrelevante. E, se o
governo controla a cúpula do Poder Judi-
ciário, não é necessário se preocupar com
a base, porque qualquer decisão inconve-
niente pode ser revertida.

Na prática, não há mais tripartição de Po-


deres, já que os ministros do STF passam
a ser agentes do governo. O regime liberal
tem como dogma a desconcentração de po-
deres (políticos e econômicos); no atual ce-
nário brasileiro, o poder político é mono-

escândalo dos precatórios


24 13 DE MARÇO DE 2024

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polizado pelo consórcio PT-STF e o poder
econômico é dado a estatais e meia dúzia
de grandes capitalistas simpáticos ao PT.
A engrenagem é lubrificada, é claro, com
muito dinheiro.

O esquema dos precatórios – se ele se pro-


var real – pode mostrar isso perfeitamen-
te. O governo e os grandes capitalistas ga-
nham, em detrimento do povo, que apenas
queria fazer valer os seus direitos. O povo,
por sua vez, não tem para onde correr: sen-
do o STF parte do esquema, não há a quem
reclamar. Em suma, o sistema funciona
como um Robin Hood às avessas: tira dos
pobres e dá para os ricos.

A famosa lenda de Robin Hood retratada pelo artista irlandês


Daniel Maclise em 1839 (Nottingham City Museums & Galleries)

escândalo dos precatórios


25 13 DE MARÇO DE 2024

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O resultado é uma paralisação política e
econômica: politicamente, nenhuma alter-
nativa avessa à Esquerda passa a ter chance
real de ascender ao poder – como de fato não
tem. Economicamente, a economia se torna
um paraíso para rentistas, mas um inferno
para trabalhadores e empreendedores. Só
ganha dinheiro quem faz parte do Estado
(políticos, juízes e servidores) ou dos bancos
e empreiteiras amigas do governo. A massa
da população fica cada vez menos emanci-
pada e mais dependente de migalhas assis-
tenciais e péssimos serviços públicos.

A receita é justamente o avesso do que paí-


ses asiáticos fizeram em boa parte do século
XX, ou seja: liberalizar a economia, descon-
centrar o setor bancário, investir pesada-
mente em educação e tecnologia, incentivar
uma enorme concorrência e produtividade
etc. O óbvio acontece: a Ásia formou uma
série de potências econômicas; o Brasil se
tornou insignificante.

Exploremos ainda mais dois pontos deste


suposto escândalo dos precatórios: o pri-
meiro é o fato de que se tornou moda rolar
o pagamento dos precatórios. Praticamen-

escândalo dos precatórios


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te todos os governos o fizeram. Bolsonaro
e Paulo Guedes também agiram da mesma
forma: aprovaram Emendas à Constituição
que permitiam postergar os pagamentos,
liberando o orçamento para fazer obras po-
pulistas em ano de eleição. A tão propagada
doutrina ultraliberal de Guedes foi ignora-
da, à medida que os credores ficaram sem
receber, ferindo a credibilidade do país.
Esta falta de credibilidade torna o crédito
externo mais caro, porque o Brasil passa a
ser conhecido como um país que não hon-
ra seus compromissos.

A cidade de Xangai, centro financeiro chinês (Rodrigo Argenton)

escândalo dos precatórios


27 13 DE MARÇO DE 2024

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O segundo ponto é que o escândalo mostra
um concerto entre os bancos e o governo.
O esquema dos precatórios parte do pres-
suposto de que os bancos sabiam que o go-
verno liberaria o dinheiro para honrar os
precatórios em breve. Este conhecimento
prévio teria atiçado os bancos, fazendo com
que comprassem agressivamente os preca-
tórios das pessoas.

Isto significa que, ou os bancos tinham al-


gum tipo de informação privilegiada ou –
pior – sabiam que o governo anunciaria a
quitação dos precatórios no momento em
que eles, bancos, pedissem, o que significa
que o governo e o PT têm como prioridade
o interesse dos bancos, e não da higidez do
sistema financeiro. Isto confirma que há
uma relação simbiótica entre os grandes
capitalistas e o governo, em detrimento da
classe média, o que gera a paralisia política
e econômica de que falamos.

Uma solução simples que o governo pode-


ria usar sem envolver os bancos seria uti-
lizar o dinheiro que serviu para quitar os
precatórios e promover um “leilão rever-
so”. Trata-se de um mecanismo instituído

escândalo dos precatórios


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pela Emenda à Constituição nº 62/2009, que
permite ao governo quitar as dívidas nas
quais os credores (os detentores do preca-
tório) oferecem maior desconto. Como re-
sultado, o dinheiro usado na quitação dos
precatórios que acabaram sendo vendidos
aos bancos seriam quitados com grande
desconto, permitindo que a fila dos preca-
tórios andasse e que o governo se livrasse
da dívida de forma bem mais barata. No es-
quema que foi feito, os bancos receberam
o valor integral dos precatórios.

Se tal esquema foi feito, houve anuência –


ou no mínimo negligência – do Poder Ju-
diciário, que é quem emite os precatórios
e controla a fila. Quando um precatório é
vendido (cessão onerosa), a operação deve
ser registrada no Poder Judiciário para que,
quando chegue o momento do pagamento,
o Judiciário saiba a quem pagar. Se houve
um enorme fluxo de cessões para bancos
às vésperas da liberação de crédito, o Poder
Judiciário (em especial o Conselho da Justi-
ça Federal – CJF) deveria ter soado o alerta
e avisado os órgãos de controle. Não o fez.
Definitivamente, o Brasil é governado pelo
consórcio PT-STF-bancos.

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patrimonialismo
o perverso sistema brasileiro

C om mais um esquema de corrupção –


um que supera em escala tudo que o
precedeu – sempre retornamos à pergunta:
por que o Brasil é assim? Para responder a
esse questionamento, precisamos voltar à
origem de tantos sofrimentos que afligem
o Brasil, o patrimonialismo.

O patrimonialismo indica muito mais que


apenas a apropriação do público pelo pri-
vado, ele é uma forma de contextualizar
o mundo com base nas relações pessoais,
onde sentimentos como o amor ou o desejo
são forças tão presentes quanto o vento e
a gravidade. Nesse sistema, quase solipsis-
ta, o homem só é capaz de enxergar aquilo
que é tocado por suas vontades; tudo além
desse horizonte é irrelevante. E mais: tais
vontades são a coisa mais importante que
existe, superando, por exemplo, o bem co-
mum, a nação ou até mesmo a vida alheia.
Dessa forma, poderíamos falar que, para o
patrimonialista, tudo no mundo é apenas

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um recurso para ser extraído e utilizado
para satisfazer seus desejos, uma espécie
de extrativismo cultural.

Essa relação parasítica com os outros ho-


mens é um legado de nossa colonização. O
sistema brasileiro se construiu na ponta do
chicote da escravidão – e não, não apenas
para com os negros, mas também para com
os brancos livres. Durante a corrida do ouro
nas Minas Gerais, muitos negros ascende-
riam socialmente para ter seus próprios es-
cravos, imediatamente adentrando o siste-
ma que até então os oprimiu.

A obra o artista alemão Johann Moritz Rugendas retrata escra-


vos trabalhando em numa extração de ouro em Minas Gerais.

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O aproveitamento de um brasileiro pelo ou-
tro transcende a etnia, desenvolvendo um
mecanismo em que o oportunismo, a astú-
cia cínica e a crueldade erguem uma hie-
rarquia do forte sobre o fraco. Nesse extra-
tivismo cultural, o indivíduo capaz de usar
dos demais como recursos é próprio centro
do universo, podendo assim submeter toda
a sociedade ao seu patrimonialismo.

A hierarquia oriunda desse sistema é a per-


petuação da escravidão, que se mantém
desde o Brasil Colonial, passando pelo Im-
pério e finalmente na República. O escra-
vo brasileiro é branco, pardo e negro. Ele é
nordestino e sulista. Ele está no interior e
nas capitais. Ele é apenas um recurso que
deve trabalhar quieto para os seus senhores
e aceitar resignado a pobreza e a violência.
Qualquer insurreição contra essa ordem
será esmagada brutalmente, como ocorreu
no Quilombo dos Palmares, em Canudos,
no Contestado, no Tenentismo e até mesmo
na Revolução Direitista ao longo da década
de 2010. A ordem imposta pelas elites bra-
sileiras é uma de violência indiscrimina-
da para controlar as massas submissas. A
lógica desse extrativismo cultural valoriza

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qualquer homem implacável e oportunista
o suficiente para escalar essa hierarquia e
se tornar outro membro do consórcio.

Ademais, como desenvolvido por Mario


Vieira de Mello, a cultura no Brasil sofre um
esteticismo, em que a aparência prevalece
sobre a essência. No caso do patrimonialis-
mo, seu âmago cínico de cruel é encoberto
com adornos de carinhos e amores. Pode-
mos retornar a etimologia da palavra “pa-
trimônio”, do latim pater (pai) e monium
(recebido), ou seja, as relações de poder no
Brasil são envoltas num sentimento pater-
no e familiar, em que as massas desterra-
das são tratadas, supostamente, como filhos
por seus senhores das elites.

O diplomata brasileiro Mario Vieira de Mello (Göran Schildt)

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Essa relação se estende desde o mito do re-
torno de Dom Sebastião, o herói salvador
que encerará a era das trevas que encobre o
povo a séculos abaixo desse sistema cruel.
Assim, especialmente na República, o bra-
sileiro se entrega à escravidão voluntária,
encontrando figuras paternas em popu-
listas das elites. Ele está desesperado por
amar esse pai, de servi-lo como um bom
filho, movido por sentimentos do homem
cordial descrito por Sérgio Buarque. Tal re-
lação deplorável encontra eco no mito per-
petuado pelos escravocratas sulistas nos
Estados Unidos, que defendiam a escravi-
dão como uma proteção paterna um povo
inferior. No Brasil, esse mito foi realizado
voluntariamente pela população.

Tais figuras paternas definem a história do


Brasil no século XX, desde homens como
Júlio de Castilhos e Getúlio Vargas até Jâ-
nio Quadros e Jango. Os militares tenta-
riam ter êxito em ocupar o papel de patriar-
cas, mas a nova República traria uma nova
leva de populistas que fariam jus ao legado
de seus antecessores. Lula e Bolsonaro são
apenas as mais novas formas do sistema
brasileiro, entorpecentes usados para con-

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vencer o povo da sua escravidão voluntá-
ria. Dessa forma, ao passo que as massas
de digladiam em seu jogo político banal, o
consórcio das elites permanece rico, se re-
fastelando em tudo que conseguem extrair
de seus escravos.

A colaboração entre supostos inimigos –


Bolsonaro, Lula, Judiciário e Bancos – de-
monstra o cinismo oculto na estética da
política. Para lógica da cultura do extrati-
vismo, o poder e o dinheiro são fins em si
mesmos. Caso esse sistema consiga se per-
petuar, novos esquemas de corrupção, ain-
da maiores e mais complexos, ocorrerão
inevitavelmente.

O escritor Sérgio Buarque de Holanda (Nair Benedicto | CSBH)

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Aqui, podemos retornar ao conceito origi-
nal de patrimonialismo, como desenvolvi-
do por Gilberto Freyre, em que o privado se
apropria do público. Desde sua concepção,
a República brasileira não é um Estado no
sentido moderno da palavra, mas sim um
mecanismo para permitir essa apropria-
ção, como um funil invertido que retira dos
muitos para entregar aos poucos. À medida
que o atual paradigma das elites for man-
tido, o único propósito do Brasil como país
será a manutenção desse sistema.

Nesse contexto, a corrupção é mais que um


mero ato criminoso – ela é um miasma que
infecta todos que se aproximam do poder.
Essa influência transcende o Brasil, perme-
ando todos os países latino-americanos. É
por isso que as revoluções que cruzaram
esse subcontinente sempre retornam ao an-
tigo paradigma das elites oligárquicas, até
mesmo as comunistas.

O incentivo para se deleitar nos prazeres


de um sistema que extrai tudo da popu-
lação para satisfazer suas elites são sim-
plesmente muito grandes. O próprio PT,
quando finalmente alcançou o poder, ime-

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diatamente se entregou a esse sistema – e
hoje suas lideranças permanecem atôni-
tas, tentando entender em qual momento
o partido revolucionário se tornou apenas
outra face das elites. Lula, em especial, é
a prova de que o extrativismo cultural re-
compensa o oportunismo e a desonestida-
de, pois essas foram as qualidades que os
ergueram dos ermos sertanejos até o ápice
da ordem podre do Brasil.

O escritor Gilberto de Mello Freyre (Revista Continente)

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Bolsonaro não é muito diferente. Ele, du-
rante sua vida política, representou a bai-
xeza perniciosa do sistema, o crime banal
e pequeno que assalta as fundações da con-
fiança numa sociedade.

Contudo, após sua ascensão à presidência,


conseguiu atingir um patamar até então ini-
gualado de patrimonialismo. Não porque
ele roubou para dar aos filhos, mas porque
ele o fez ao preço das esperanças de meta-
de da população do país. Ele destruiu os so-
nhos de milhões por dinheiro, ele entregou
seus aliados à forca em troca de uma apo-
sentadoria, ele enganou e manipulou por
valores tão pequenos quanto sua dignida-
de. Nesse sentido, Jair Bolsonaro talvez re-
presente o ápice do sistema brasileiro.

A crueldade patológica do extrativismo cul-


tural é demonstrada pela desumanidade da
corrupção. Não faltam histórias de roubos
da saúde, das merendas e da educação, mas
o novo caso revela outro nível de escárnio
sádico com a população. Muitos precató-
rios se tratavam de ajustes salariais, aqui-
sição forçada de terrenos, descumprimen-
to de contratos etc.; todas ações do governo

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que afetaram diretamente a vida de incon-
táveis inocentes. Essas pessoas esperaram
por décadas pelas reparações devidas, mui-
tas famílias foram arruinadas nesse perío-
do pelo descaso público.

Além disso, essas são as mesmas pessoas


submetidas aos juros abusivos dos mono-
pólios bancários, que exprimem seus clien-
tes até a última de suas moedas. E ainda
assim, no momento em que poderia exis-
tir alguma justiça, quando uma reparação
mínima poderia retornar ao povo, ele ain-
da sofre calote de seus governantes – da-
queles que são tratados como pais da na-
ção – que preferem vendê-los exatamente
para esses bancos. Essa é uma máquina
de injustiça, na qual o fraco é torturado e
escravizado pelos fortes.

Em conclusão, o sistema brasileiro usa os


homens como recursos para satisfazer os
desejos de suas elites. Por séculos, esse sis-
tema foi perpetuado ao preço da vida de
milhares – talvez milhões – que são sacri-
ficados no altar das elites. A corrupção é a
apenas a camada mais superficial de uma
visão ainda mais cruel e insidia de mundo,

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em que tudo existe para servir aos fortes.
Eles esmagarão implacavelmente qualquer
resistência, qualquer sonho que busque flo-
rescer para além da ordem de miséria que
impera no Brasil.

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (Sérgio Lima | Poder360)

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conclusão
N o início de 2023, estava subindo a ram-
pa do Planalto o recém-eleito Presi-
dente da República. Para o desgosto de mi-
lhões de brasileiros, via-se retornar ao poder
o partido envolvido no maior escândalo de
corrupção da história do país, um dos maio-
res da história da humanidade. Diz-se que
o brasileiro tem memória curta, mas mui-
tos habitantes da nação verde-amarela ain-
da se recordam do uso da corrupção como
método de governo e das imensas quantias
desviadas da Petrobras.

Diante do histórico do presidente eleito, era


de se esperar que em algum momento um
escândalo viria à tona, mas poucos imagi-
navam que viria tão rápido, com um ano de
mandato – nem que seria maior que o ante-
rior. Ironicamente, o escâdalo dos precató-
rios, o Precatolão, é resultado de ações do
governo Bolsonaro que criaram uma dinâ-
mica de injustiça, que foi em seguida inten-
sificada por uma decisão do governo Lula
– um genuíno escândalo bolsopetista.

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Por enquanto ainda é cedo para fazer acu-
sações, é preciso que investigações mais
aprofundadas sejam feitas. Entretanto, o
que pode ser afirmado agora é que existem
agentes grandes do mercado financeiro en-
volvidos em uma teia de relações escusas
com o alto escalão do governo.

Seria esse um ponto de partida para restau-


rar a força da oposição e reavivar na popu-
lação a memória e a revolta com o despotis-
mo do PT? Talvez. Mas não se deve depositar
muito otimismo nessa expectativa – o Preca-
tolão tem envolvimento de muita gente po-
derosa dos três Poderes e gigantes do setor
bancário, além de contar com o silêncio da
imprensa. Devemos aguardar os próximos
capítulos dessa trama.

O ex-juiz federal Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallag-


nol, principais autoridades da Lava Jato (Aílton de Freitas | O Globo)

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