A contestação inicial do MPF ao TTAC resultou em 2018 em um ajuste chamado
de TAC-GOV. O TAC-GOV procurava incluir os atingidos no processo criando câmaras técnicas regionais, que deveriam ser assistidas por escritórios técnicos que traduziriam as informações geradas para as comunidades. Com essas informações traduzidas, essas comunidades poderiam tomar decisões em seu interesse coletivo e pleitear as suas necessidades junto ao CIF e à FR. Mas as câmaras técnicas começaram a ser formadas e as consultorias técnicas contratadas apenas em 2023, 5 anos após o TAC-GOV. Em 2019, em linha com o que foi feito em relação ao desastre de Brumadinho, foi instituído no âmbito de Minas Gerais o Comitê Gestor Pró-Rio Doce, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. Caberia ao comitê promover a articulação e alinhamento entre os atores internos e externos do CIF; consolidar as informações acerca dos trabalhos desenvolvidos na reparação; subsidiar a atuação do Estado de Minas frente à reparação; e representar e coordenar a atuação do governo na repactuação do acordo vigente. Em 2020, foi instituído o sistema indenizatório simplificado (Novel) como uma alterativa mais rápida para a indenização dos atingidos, tendo em vista o processo movido por um escritório internacional de advogados na justiça de Londres, UK. Com a pressão surgida por essa ação, a justiça do Brasil tomou a frente e criou um sistema indenizatório formado por categorias, condições de enquadramento e prova de afetação pelo desastre. Quando a pessoa cumpria essas condições estabelecidas, era enquadrada em uma das categorias existentes na lista e isso dava o direto a receber uma indenização pré-estabelecida para aquela categoria. Esse sistema acelerou o processo de indenizações e segundo a Fundação Renova, cerca de 11 a 12 bilhões foram pagos em indenizações aos atingidos. Contudo, muitas fraudes foram identificadas nesse processo, com um crescente exponencial de pessoas que alegavam serem atingidos, problemas de falsificação de documentos, entre muitos outros. Grupos de advogados passaram a recrutar pessoas para receber as indenizações, montando redes de incentivos para que pessoas não atingidas buscassem indenizações. Houve também lobby junto ao CIF e à Justiça Federal para que as categorias beneficiárias do Novel fossem cada vez mais ampliadas, com a inclusão de novas cidades até do sul da Bahia. Com o passar do tempo, todas essas disfunções e a troca do Juiz responsável pelo caso, levaram à extinção do Novel em dezembro de 2023. Após todas as idas e vidas do processo, iniciou-se em 2021 um processo de repactuação do TTAC original, prevista após 5 anos, que mesmo com a mudança promovida pelo TAC-GOV continua em vigor. Esse processo iniciou-se pelo CNJ e prossegue no TRF-6 recentemente criado. Nesse novo TTAC, existe um plano detalhado das ações que serão financiadas pelas empresas causadoras do desastre e quem irá executar. O valor estimado pelos governos gira em torno de R$ 140 bilhões e as empresas ofereceram até agora por volta de R$ 50 bilhões. Isso fez com que o processo parasse novamente por uma retirada do Estado das negociações pela falta de maior flexibilidade das empresas em aumentar o valor proposto. Apensar dessa paralisação, com a nova sentença exarada pela justiça nos últimos meses de 2023 com uma condenação de mais de 90 bilhões como obrigação de pagar para as empresas, existe uma expectativa de que o processo de renegociação do TTAC retorne nesse ano de 2024 com as empresas aceitando elevar o valor proposto. Nesse novo plano, a FR não fará mais parte do processo e as ações se concentram mais na obrigação para as empresas de pagar, ficando com o governo a responsabilidade de conduzir as ações. Uma das grandes discussões é que as empresas querem que os valores gastos até agora pela FR sejam descontados dos valores devidos, enquanto o governo não reconhece esses valores, alegando que boa parte deles foram gastos no processo meio da FR e não no objetivo fim de reparação e indenização. O governo alega que consegue executar os programas e demais ações com maior eficiência que a FR, apontando seus programas como exitosos e os da FR como muito lentos. Já a FR usa o argumento contrário, que em um acordo firmado com o Estado para o uso de uma verba para obras específicas, acordadas diretamente com as empresas e a FR, o governo em 3 anos, só conseguiu executar 15% dos recursos disponibilizados. Em todo caso, passados 8 anos do desastre, a FR entregou o novo distrito de Bento Rodrigues para aqueles que optaram por esta alternativa – outros preferiram indenizações. O MPF, MPE, Defensorias Públicas e a Própria Justiça Federal tem sido atores- chave deste processo, que acabaram se comportando hora como antagonistas da colaboração implantada, hora como centros de decisões, hora como apoiadores do processo. O MPF agiu em um primeiro momento rejeitando participar do processo de construção do TTAC original. Apesar de acionado para que participasse, tomou uma postura de ser apenas observador e de contestar todo o processo na Justiça. Outro aspecto muito importante do MPF é que ele procura defender os atingidos, e em muitos casos de forma dúbia, deixando o pragmatismo das soluções viáveis fora de alcance. Um exemplo foi o próprio Novel, que MPF entrou com um processo na Justiça Federal para que o programa fosse extinto, argumento baseado nos problemas de fraudes e desvios observados, mas quando obteve sucesso, entrou com uma nova ação reclamando que a extinção seria injusta, já que muitas pessoas ainda não teriam recebido a sua indenização. Os MPE de Minas Gerais e Espírito Santo apresentaram como maior problema a falta de coordenação em suas ações. Cada um desenvolveu ações próprias que em muitos casos causaram conflitos e perda de sinergia. Um exemplo foi a ação em relação à inclusão das cidades nas discussões. A Justiça Federal, inicialmente colocada como um último recurso em caso de discórdia, já no primeiro TTAC, se transformou no principal recurso da FR e das empresas para paralisar as ações decididas no CIF que elas não concordavam. Isso fez com que uma possibilidade de exceção se transformasse em uma regra, elevando a Justiça federal mais como um órgão decisor dentro da colaboração. O protagonismo e ações quase políticas por parte de alguns juízes do caso, levaram o MPF a pedir o afastamento de um dos juízes do caso, o que foi atendido. Em determinado momento, a colaboração passou a ter três centros de tomada de decisão, o CIF o CC da Renova e a Justiça Federal. Nessa mesma linha, grandes bancas de advogados que trabalhavam para as empresas aproveitaram esse processo para incentivar a judicialização da maioria das decisões do CIF, tendo em vista a possibilidade de evitarem perdas com esse processo. Assim como advogados particulares tiveram grades ganhos com as indenizações do sistema Novel, as bacas de advogados que atenderam as empresas causadoras e outras partes tiveram grandes lucros com a judicialização do processo de paralização das ações decididas pelo CIF. Por fim, a participação dos atingidos em todo o processo foi algo que aconteceu de forma muito precária no seu início, com a total exclusão nas decisões e no processo proposto pelo primeiro TTAC. Essa falta de participação dos atingidos foi um dos argumentos utilizados pelo MPF para impugnar toda a Colaboração erguida para tratar o desastre. Uma das razões para a elaboração do TAC-GOV foi exatamente a inclusão dos atingidos no processo de colaboração. Um dos problemas que inviabilizou a participação dos atingidos logo de início foi a falta de organização e de organismos de representação que pudesse rapidamente responder ao desastre. Essas organizações foram se formando ao longo do tempo, mas tiveram pouca possibilidade de participação no processo decisório até agora.