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EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA –

RAZÕES POLÍTICAS DO DESCUMPRIMENTO


ÀS ORDENS JUDICIAIS
EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA –
RAZÕES POLÍTICAS DO DESCUMPRIMENTO
ÀS ORDENS JUDICIAIS

Série Pesquisas do CEJ, 8

Brasília-DF
2002
Copyright © Conselho da Justiça Federal
ISBN 85-85572-64-7
ISSN 0104-6225

Tiragem: 2.000 exemplares

É autorizada a reprodução parcial ou total desde que indicada a fonte.


PREFÁCIO

O Poder Judiciário brasileiro é vítima de um defeito, intolerável nesta


época dominada pelo economismo: a baixíssima relação custo- benefício.
De fato, o Judiciário passa anos a trabalhar, na solução de determina-
da pendência. Nessa tarefa, põe em movimento estrutura gigantesca, ocu-
pando verdadeira multidão de agentes e órgãos, localizados em diversas
unidades da Federação. De tanto labor resulta, entretanto, documento cuja
força, normalmente, é inferior àquela contida na mais singela das cártulas
comerciais: a duplicata não aceita. Enquanto a duplicata adquire força exe-
cutiva mediante simples protesto, a sentença necessita passar por novo pro-
cesso (o de liquidação), tão complicado quanto aquele que a gerou. Só
então – depois de liquidado – o preceito judicial adquire força executiva.
Tanta desproporção entre esforço e resultado faz lembrar o parto da
montanha, da velha fábula de Esopo, reduzida por Horácio, na expressão
“parturient montes, nascetur ridiculus mus”. A montanha contraiu-se,
revirou-se, urrou e, finalmente, pariu... um rato, desprezível e impotente.
Nosso Poder Judiciário imita a montanha: após vários anos de barulhenta
movimentação, dá à luz uma sentença ilíquida, gongórica e inútil.
A ineficiência da Jurisdição é potencializada quando se trata de sen-
tença condenando o Estado a algum pagamento em dinheiro. Então, a Sen-
tença, além de ser desobedecida, é praticamente inexeqüível. O preceito
judicial transforma-se em precatório – mero pedido dirigido à Administra-
ção, para que reserve, em futuro orçamento, dinheiro suficiente ao cumpri-
mento da condenação. Não há prazo peremptório relativo ao cumprimento,
nem sanção eficaz para a desobediência.
Nos últimos tempos, doutrinadores e pessoas interessadas nas conse-
qüências econômicas dessa anomalia dedicam-se à procura de solução ra-
zoável. Nessa linha de preocupação, o Centro de Estudos da Justiça Fede-
ral, dirigido pelo eminente Ministro Milton Luiz Pereira, aliou-se ao Depar-
tamento de Direito Privado da Universidade Federal Fluminense, desenvol-
vendo trabalho em busca das razões que provocam o descumprimento das
ordens judiciais, pelo Estado.
A pesquisa, coordenada pelo eminente Magistrado e Professor
Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva resultou na coleta de observações pre-
ciosas e estarrecedoras. Destaco, a propósito, a circunstância de que ape-
nas sessenta por cento dos precatórios devidos em 1999 foram efetivamen-
te honrados. Vale dizer: quarenta por cento das requisições não foram aten-
didas.
Tão alarmante estatística assume maior relevo, quando se percebe que
o montante dos valores pagos corresponde a trinta e um por cento da dívida
judicial. Em termos de valor, sessenta e nove por cento das condenações
quedam-se desrespeitadas. Esse descompasso põe à mostra um sistema
profundamente constrangedor: somente as pequenas condenações merecem
acatamento.
A pesquisa, rica em gráficos, bibliografia e comentários, revela a situ-
ação de fraqueza extrema em que se encontra o Poder Judiciário Brasileiro.
Em assim fazendo, oferece preciosos subsídios àqueles que, para encontrar
a solução do problema necessitam conhecer-lhe a etiologia.
Estou certo de que os cultores do processo civil, assim como todos
os que se preocupam em resgatar o Judiciário brasileiro do estado de ane-
mia em que se encontra, retirarão deste livro, subsídios fundamentais.
Merecem parabéns e agradecimentos o Conselho da Justiça Federal,
a Universidade Federal Fluminense e, sobretudo, os autores da pesquisa.

Humberto Gomes de Barros


Ministro do Superior Tribunal de Justiça
SUMÁRIO

Introdução
Precatórios judiciais – análise das matérias veiculadas na imprensa

Análise de dados na imprensa – 1a etapa


Entidades devedoras
Ramo do Poder Judiciário
Natureza dos créditos
Razões do descumprimento
Formas de descumprimento
Reação dos credores
Reação do Poder Judiciário

Análise de dados na imprensa – 2a etapa


Entidades devedoras e natureza dos créditos
Entidades devedoras e razões do descumprimento
Entidades devedoras e forma de descumprimento
Entidades devedoras e reação do Poder Judiciário
Natureza dos créditos e reação do Poder Judiciário
Natureza dos créditos e forma de descumprimento
Razão e forma de descumprimento

Entrevistas com autoridades em Brasília


Entrevista 1 Procurador-Geral do INSS
Entrevista 2 Procurador-Geral do DNER
Entrevista 3 Procurador-Geral do Incra
Entrevista 4 Procurador-Geral da Fazenda Nacional
Entrevista 5 Advogado-Geral da União

Análise de dados do TRF-2a Região


Precatórios distribuídos no período de 1989 a 1999
Fase dos precatórios requisitados entre 1989 e 1999
Fase dos precatórios propostos para o ano de 1999
Valores requisitados e pagos entre 1995 e 1999

Análise de dados na Doutrina


Visão interna do Poder Judiciário
Proposta dos juízes federais

Conclusão

Bibliografia
INTRODUÇÃO

Este relatório apresenta os resultados do programa de pesquisa “Exe-


cução contra a Fazenda Pública – razões políticas do descumprimento às
ordens judiciais”, desenvolvido pelo Departamento de Direito Privado da
Universidade Federal Fluminense – UFF, em parceria com o Centro de Es-
tudos Judiciários – CEJ – do Conselho da Justiça Federal, sob a coordena-
ção do Professor Doutor Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Juiz Federal
da 2a Vara de Niterói, Seção Judiciária do Rio de Janeiro.
No âmbito do CEJ foi executado pela Divisão de Estudos e Pesquisas
da Secretaria de Pesquisa e Documentação. Na UFF contou com a colabo-
ração de bolsistas do CNPq/Pibic.
O programa teve como objetivo investigar as causas da recalcitrância
da Fazenda Pública Federal em relação às ordens judiciais. Para responder a
esta questão maior, buscou-se verificar e analisar as formas de relacionamento
entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, no tocante ao tema pro-
posto, investigar se de fato o inadimplemento do Estado é escusável juridica-
mente, identificar as entidades públicas federais inadimplentes e a natureza
dos seus débitos e verificar, por fim, a reação do Poder Judiciário perante o
descumprimento das suas decisões pela Administração Pública, à luz de cada
justificativa apresentada.
O não-cumprimento de uma decisão judicial, que determina o pa-
gamento de um precatório, além de ser uma ofensa à própria Constitui-
ção Federal, coloca em situação de inferioridade o Poder Judiciário, que
se vê desrespeitado em sua função de autoridade judiciária.
A demora para pagar, ainda que legal, constitui fator de desprestígio para
o Judiciário perante a opinião pública, pois a idéia, em geral, é que esse
poder é o responsável pela situação, o que consiste em marcante injustiça.
A investigação das reais causas dessa situação e a tentativa de encontrar
soluções foram o que motivou a realização deste programa de pesquisa.
O Código de Processo Civil destinou atenção especial, em seu Livro
II, ao processo de execução. Neste há previsão da execução contra deve-
dor solvente e insolvente, em que se destacam: a execução para a entrega
de coisa (certa ou incerta); a execução de obrigação de fazer e não fazer; a
execução por quantia certa contra devedor solvente; a execução por quan-
tia certa contra devedor insolvente; a execução de prestação alimentícia; e a
execução contra a Fazenda Pública.
No âmbito de competência da Justiça Federal, dentre essas espécies,
merece distinção a última: a execução contra a Fazenda Pública, não apenas
pelo procedimento processual sui generis que é verificado, mas também, e
principalmente, pela forma de pagamento do crédito devido pela Fazenda
Pública, por meio de precatórios.
O precatório, instituto tipicamente brasileiro, encontrou amparo cons-
titucional, pela primeira vez, no art. 182 da Carta Magna de 1934, repetin-
do a presença nas Constituições seguintes: 1937 (art. 95), 1946 (art. 204),
1967 (art. 112), Emenda Constitucional de 1969 (art. 117) e na atual Carta
Política (1988), em seu art. 100, inclusive com a redação da Emenda Cons-
titucional n. 30, de setembro de 2000. A sua criação, à época, justificava-se
em virtude de sua finalidade principal, qual seja a de evitar a advocacia
administrativa, efetivando uma ordem de preferência para o pagamento dos
créditos devidos pela Fazenda Pública, decorrentes de decisão judicial, em
detrimento da possibilidade desses pagamentos se efetivarem à
discricionariedade do administrador público, ao arrepio de qualquer critério
justo.
Dessa forma, verificado no processo de execução que a Fazenda Pú-
blica é devedora de determinada quantia, o juiz da execução dirige-se, a
requerimento do credor, ao tribunal que detém a competência recursal ordi-
nária, cabendo ao respectivo presidente formular a requisição à Fazenda
Pública executada, para que efetue o pagamento devido. Tal requisição de-
nomina-se “precatório”.
Não obstante o texto constitucional, na sua redação originária, prever
expressamente que:

Art. 100 – À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os


pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Muni-
cipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamen-
te na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos
ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adici-
onais abertos para este fim.

e que:

§ 1o É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de


direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débi-
tos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de
precatórios judiciários, apresentados até 1o de julho, fazendo-se
o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus
valores atualizados monetariamente.
• § 1o com redação data pela Emenda Constitucional n. 30, de 19-9-2000.

§ 1o -A Os débitos de natureza alimentícia compreendem aque-


les decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e
suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações
por morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil, em
virtude de sentença transitada em julgado,

inúmeras vezes a Fazenda Pública tem-se omitido no cumprimento das deci-


sões judiciais e suas respectivas requisições, por diversas razões.
O tema objeto da pesquisa há muito tempo desperta a atenção da
imprensa brasileira, não em virtude do procedimento especial que se verifica
na execução contra a Fazenda Pública, mas pelas irregularidades envolvi-
das, tanto na emissão da ordem de pagamento pela Fazenda Pública, como
no descumprimento à ordem judicial.
Dentro desse programa foram desenvolvidas as seguintes atividades:
um estudo da bibliografia brasileira (sobre questões de lege lata) e estran-
geira; desenvolvimento da pesquisa “Precatórios judiciais – análise das ma-
térias veiculadas na imprensa”, realizada em jornais de grande circulação,
abrangendo o período de 1998 a abril/2000, para detectar a repercussão na
mídia a respeito do assunto “precatórios”; a realização de um conjunto de
entrevistas com autoridades executivas que atuam diretamente com o
precatório judicial, mais especificamente os procuradores-gerais das princi-
pais autarquias federais citadas na pesquisa dos jornais; uma pesquisa reali-
zada no banco de dados da Secretaria de Informática do Tribunal Regional
Federal da 2a Região, destinada à verificação e à análise do processamento
dos precatórios junto à Presidência do TRF-2a Região, em especial aos in-
cidentes ocasionados pelo seu descumprimento; a realização do Seminário
“Precatórios judiciais na Justiça Federal” no Rio de Janeiro, no período de
11 a 13/abril de 2000, visando abrir espaço ao debate e à manifestação de
idéias sobre o tema, a fim de complementar e subsidiar as atividades do
programa de pesquisa e, por último, a realização do Curso de Extensão
“Execução contra a Fazenda Pública”, em Brasília, no período de 20 a 24
de novembro de 2000, cujo programa abordou os seguintes tópicos:

1 – Execução contra a Fazenda Pública no Direito Comparado


2 – Execução contra a Fazenda Pública no Direito Pátrio
3 – Casos concretos na Execução contra a Fazenda Pública
4 – Litigância de má-fé na Execução contra a Fazenda Pública
5 – Contempt of court e Fazenda Pública

Os resultados das reuniões dos grupos de trabalho, com sugestões e


conclusões, são também apresentados neste relatório.
O ato de julgar é uma função político-social. Qualquer decisão judici-
al traz, em si, um conteúdo social de repercussão, em maior ou menor grau,
na vida política nacional.
Nesse sentido, a Justiça Federal, como garantidora dos interesses
públicos contra procedimentos lesivos à União e aos cidadãos, deve ter em
alta conta o nível de satisfação ou de rejeição de seus atos perante a opinião
pública. Tendo em vista o alto grau de insatisfação que se percebe com
relação ao “instituto do precatório” e o seu processamento, em todos que
lhe são afetos, seja o Judiciário, o jurisdicionado ou as próprias entidades
públicas devedoras, é de fundamental importância que se abra um espaço
para o debate de tão relevante tema.
Este estudo atende aos objetivos do Programa de Pesquisas da Justi-
ça Federal de proceder à análise da imagem da instituição e de aferir o grau
de credibilidade que a opinião pública nela deposita.
PRECATÓRIOS JUDICIAIS – ANÁLISE DAS
MATÉRIAS VEICULADAS NA IMPRENSA

Apresenta a análise das notícias veiculadas pela imprensa escrita a


respeito dos precatórios, em especial às relativas ao seu descumprimento,
num contexto recente, informações que auxiliarão no conhecimento da ques-
tão da execução contra a Fazenda Pública e as razões do descumprimento
das ordens judiciais.
Nesse contexto, apresenta diversas notícias dos jornais brasileiros, re-
ferentes ao tema “precatórios”, que servirão como subsídio prático para o
entendimento dessas razões de descumprimento, além de permitir que se ve-
rifique a repercussão do assunto, não apenas sob a ótica interna do Poder
Judiciário, como também sob o ponto de vista da sociedade civil.
Assim, buscou-se, igualmente: verificar a repercussão no meio social do
descumprimento à ordem judicial; acompanhar a reação do Poder Judiciário
perante o descumprimento de suas ordens; examinar a natureza dos
precatórios não pagos; averiguar de quais esferas da Federação são as en-
tidades públicas devedoras; identificar as entidades públicas devedoras re-
calcitrantes; verificar a credibilidade da Justiça Federal à luz do tema pro-
posto.
Atualmente, sabe-se que o espaço de construção de imagens públicas
reside nos meios de comunicação, em especial naqueles amplamente difun-
didos, em nível territorial ou populacional. O desenvolvimento histórico dos
jornais, revistas, rádio e televisão possibilitou-lhes um alcance e um poder
de formar e influir na opinião pública sem precedentes. Com isso, o Estado
e os Poderes são conhecidos e avaliados publicamente nesses meios. Sendo
assim, uma das formas de conhecimento da imagem da Justiça Federal é
analisá-la por intermédio da cobertura jornalística que recebe.
Optou-se por restringir a análise das notícias veiculadas apenas em
jornais por ser esta menos onerosa que a feita com a televisão, pois ao
utilizar-se esse meio far-se-ia necessária a gravação ou a aquisição de
vídeos de programas, o que acarretaria maiores custos, e pelo fato de os
temas da “ordem do dia” na sociedade serem tratados de forma específica
nos jornais, possibilitando discussão e críticas mais exaustivas.
A pesquisa abrange o período compreendido entre 1/1/1998 e 30/
4/2000, por duas razões principais. A atualidade das informações coletadas
propicia uma visão crítica do contexto recente, na busca de soluções ade-
quadas, e o interstício, superior a dois anos, é considerado satisfatório para
a coleta de uma amostra representativa, permitindo acompanhar o desenro-
lar de um fato jornalístico de maneira abrangente e, principalmente, se houve
desfecho da questão e como este ocorreu.
Para a coleta de dados foi utilizada uma planilha na qual foram enume-
rados os critérios de análise selecionados para a pesquisa: entidades deve-
doras, ramo do Poder Judiciário, natureza dos créditos, razões do
descumprimento, formas de descumprimento, reação dos credores e reação
do Poder Judiciário. Os artigos assinados por juízes, advogados e profes-
sores foram analisados no campo “Visão interna do Poder Judiciário”. Para
cada matéria lida, foi preenchida uma planilha com os itens identificados.
Como já se previa, nenhuma das matérias preencheu todos os quesi-
tos da planilha, visto que cada reportagem possui um enfoque diferente: en-
quanto algumas matérias abordam com mais ênfase a razão do
descumprimento, outras abordam, com destaque, a forma de descumprimento
das ordens judiciais.
Dessa forma, foi feito levantamento dos dados por meio do cômputo
da incidência dos quesitos na totalidade de reportagens pesquisadas, o que
resultou num estudo estatístico dos variados aspectos enfatizados pela pes-
quisa, cujos dados se converteram em gráficos, para um melhor entendi-
mento de cada um desse aspectos.
A pesquisa teve início na segunda quinzena de fevereiro/2000, com a
busca na base de dados JUSNEWS, do Centro de Estudos Judiciários, e a
leitura diária do clipping do STJ, paralelamente à busca nos sites do jornal
O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, no período de 1998/1999 a
30/4/2000, até a sua última atualização, abordando apenas o pagamento de
precatórios.
Aliado a essa pesquisa foi ainda enviado e-mail aos jornais O Globo,
Jornal do Brasil, O Estado de Minas, Gazeta Mercantil e Correio
Braziliense, com o objetivo de buscar um número maior de matérias para
complementar a pesquisa, mas infelizmente não se obtiveram respostas de
todos. O Correio Braziliense informou-nos que apenas as sétimas últimas
edições podem ser encontradas no site, O Estado de S. Paulo, que nem
todas as matérias publicadas são disponibilizadas na rede e os demais não
responderam.
O desenvolvimento da pesquisa mostrou-nos algumas limitações. A
primeira refere-se às fontes pesquisadas, pois dentre os jornais em circula-
ção no país os únicos que disponibilizaram seus arquivos para consulta de
anos anteriores, via internet, foram O Estado de S. Paulo e a Folha de S.
Paulo. A concentração de jornais de um único Estado acaba dificultando a
análise da realidade nos outros.
Em virtude da impossibilidade de trabalhar com todos os jornais em cir-
culação no país (fontes primárias) — porque seria necessária a consulta às edi-
ções anteriores desses jornais, nem sempre disponíveis —,
optou-se pela utilização de fontes secundárias: clippings produzidos pela As-
sessoria de Imprensa do Superior Tribunal de Justiça — STJ, que indexam os
jornais Correio Braziliense, Jornal de Brasília, O Estado de S. Paulo, Fo-
lha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Jornal do Commercio – RJ, O Globo,
Jornal do Brasil, Estado de Minas, O Popular – GO,
A Tarde – BA e Zero Hora – RS; as resenhas do TRF-2a Região, que indexam
os jornais O Globo, O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Jornal do
Commercio – RJ, Folha de S. Paulo, O Dia, Jornal Mercantil, Monitor
Mercantil, Correio Braziliense e Jornal do Brasil; e a base de dados
JUSNEWS, elaborada pelo CEJ, que indexa matérias veiculadas por jornais
de circulação nacional, referentes à atuação da Justiça Federal de 1a e 2a
instâncias, entre outras matérias e artigos assinados, de interesse geral ou es-
pecífico para o Poder Judiciário.
Os jornais O Globo, Correio Braziliense e Jornal do Brasil, apesar
de estarem entre os jornais de maior circulação no país, não disponibilizam,
via internet, edições anteriores e, portanto, foram fontes de pesquisa apenas
quando constaram nos clippings, resenhas e/ou JUSNEWS.
A limitação da consulta às fontes secundárias produziu um viés na pes-
quisa: o fato de os dois jornais que puderam ter consultadas suas edições
anteriores, via internet, serem de São Paulo acabou gerando um maior nú-
mero de matérias selecionadas referentes a esse Estado, o que, por outro
lado, não afetou a verificação de circunstâncias relacionadas ao tema desta
pesquisa, como amostragem do que ocorre em nível nacional. Por outro lado,
os dois jornais abordam igualmente as notícias de São Paulo e do Rio de
Janeiro, por serem os dois principais centros urbanos do país, e são jornais
de circulação nacional.
Além disso, o fato de uma mesma notícia repetir-se nos diversos jor-
nais pesquisados e, em alguns casos, a mesma notícia repercutir em um mes-
mo jornal por dias seguidos, também acabou por prejudicar a realização da
pesquisa no tocante ao quantum das matérias selecionadas; assim, nos ca-
sos de um mesmo assunto ser exaustivamente abordado, optou-se por re-
colher uma única matéria a ser considerada pela pesquisa, aquela que esti-
vesse mais completa, que trouxesse maior quantidade de informações.
Da seleção de matérias que seriam objeto da pesquisa foram excluí-
das aquelas que tratavam do assunto CPI dos precatórios, caso Pitta e ou-
tras que tratavam da emissão irregular de títulos públicos (Santa Catarina,
Pernambuco etc.). As selecionadas foram as que se referiam a casos con-
cretos de não-pagamento de precatórios.
Decidiu-se por manter na pesquisa, separados dos demais, aqueles ar-
tigos assinados por juízes, advogados, juristas etc. em que o assunto é abor-
dado genericamente na forma de críticas ou sugestões ao problema dos
precatórios, bem como as discussões sobre alterações na legislação referente
ao tema. Esses artigos foram utilizados separadamente dos demais, por não se
tratarem de matérias escritas por jornalistas. Foram analisados em separado
no item “Visão interna do Poder Judiciário”.
No total foram lidas 230 matérias, entre genéricas, não afeitas ao tema
– CPI dos precatórios, caso Pitta – e aquelas que abordaram os casos con-
cretos. Consideraram-se, para fins da análise, apenas as 89 que se referiam
ao caso concreto de precatórios, as quais foram separadas em ordem de
preferência para serem analisadas em duas etapas.
Na primeira etapa foram analisadas as matérias a partir das planilhas
utilizadas na coleta dos dados. Na segunda etapa, os itens enfocados inicial-
mente foram confrontados, por meio de gráficos, para melhor visualização e
compreensão.
ANÁLISE DE DADOS NA IMPRENSA
1 a ETAPA

Entidades devedoras

Sujeito passivo da execução contra a Fazenda Pública é necessaria-


mente pessoa jurídica de Direito público, ou seja, União, Estados, Municí-
pios, Distrito Federal e sua respectivas autarquias.
A União aparece em 12% das reportagens, como em notícia do Jornal
do Commercio – RJ, Indenização milionária pode ser suspensa, do dia 29/
2/2000, a qual relata que o Procurador-Geral da República ajuizou ação pe-
rante o STF para que a União não pague indenização milionária. Esse percentual
é elevadíssimo, considerando que as demais entidades foram classificadas
genérica e não individualmente, como a União, o que leva a crer que, à luz da
imprensa, é a maior devedora dos entes públicos.
As autarquias federais são responsáveis pelo descumprimento do pa-
gamento de precatórios em 12% das matérias. A mais incidente é o INSS. É
o caso da notícia veiculada por O Estado de S. Paulo, INSS começa a
pagar precatórios do Rio e de São Paulo, do dia 5/2/2000, em que o
Procurador-Geral do INSS tenta justificar a demora no pagamento alegan-
do dificuldades operacionais e burocráticas.
autarquias União
federais Federal
12% 12%

entidades
municipais
16%
entidades
estaduais
60%

Fig. 1 – Entidade pública devedora

Na análise das matérias de jornais, verificou-se que em 60% são apon-


tadas como devedoras as entidades estaduais, aí compreendidos os entes
estatais e autárquicos. Desses, 60% correspondem ao Estado de São Pau-
lo, que é o recordista em descumprimento das ordens judiciais. Na notícia
de O Estado de S. Paulo, Estado culpa inflação por superprecatórios,
do dia 3/2/2000, o Procurador-Geral da República alega que as
superavaliações impedem o pagamento de precatórios pelo Estado. Veja no
gráfico abaixo a incidência de algumas Unidades Federativas nas notícias:

Dentre as outras Unidades da Federação identificadas podemos des-


outros estados
24%

Estado de São
Estado do Rio de Paulo
Janeiro 60%
16%

Fig. 2 – Estados devedores


tacar: Piauí, Santa Catarina, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia,
Pernambuco, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal.
Os entes municipais são identificados em 16% das reportagens. Den-
tre esses, o município campeão em não-pagamento de dívidas é o de São
Paulo, que aparece em 50% das matérias. Na notícia do jornal
O Estado de S. Paulo, Prefeitura não paga por imóveis desapropriados,
do dia 26/10/1998, os advogados dos credores reclamam que nem as inter-
venções estaduais no município decretadas pelo Tribunal de Justiça têm con-
seguido forçar a prefeitura a pagar as indenizações. Veja o gráfico que ilus-
tra a incidência dos municípios apontados:

Os outros municípios apontados são: Eldorado (SP), Piracicaba (SP),

Município de
São Paulo
outros
50%
municípios
50%

Fig. 3 – Municípios devedores

Cubatão (SP), Itu (SP), Manaus (AM), Guarujá (SP) e Santos (SP).

Ramo do Poder Judiciário

Com relação ao ramo do Poder Judiciário competente para processar


precatórios, o mais incidente é a Justiça Estadual, com 74% das matérias, já
que Estados e municípios juntos representam, nas matérias, as entidades pú-
blicas que mais descumprem as ordens de pagamento de dívidas judiciais. É
o caso da notícia veiculada pela Gazeta Mercantil, Precatório ambiental,
do dia 17/2/1999, informando que o Estado de São Paulo deve bilhões de
reais em precatórios, envolvendo pagamentos de desapropriações e outras
indenizações.
Em seguida vem a Justiça Federal, com 22% das matérias. No Jornal
do Commercio – RJ, MP pede à Justiça saída de diretor do DNER, do
dia 7/4/2000, relata-se que os dirigentes do DNER estão sendo acusados
de improbidade administrativa ao liberar de forma irregular o pagamento de
precatórios.
A Justiça Trabalhista aparece em poucos casos, com 4% das matéri-
as. Como na notícia trazida pelo O Estado de S. Paulo, Justiça determina
bloqueio de recursos do Incra no PA, do dia 25/6/1999, em que o jornal
noticiou que a Justiça do Trabalho determinou o bloqueio de recursos do
Incra, por este não efetuar o pagamento de diferenças salariais a quatro de
seus servidores.
Natureza dos créditos

Justiça Justiça
Trabalhista Federal
4% 22%

Justiça
Estadual
74%
Fig. 4 – Ramo do Poder Judiciário
Cinqüenta e sete por cento (57%) das matérias identificam a natureza
do precatório não pago.
Dezessete por cento das reportagens são casos de precatórios de
natureza alimentar. São aqueles considerados indispensáveis à subsistência
do credor, como os referentes a diferenças salariais e benefícios, a exemplo
da reportagem da Folha de S. Paulo, Universidade do CE tem dívida de
R$ 112 mil com funcionários, do dia 7/2/2000, que relatou o caso de fun-
cionários da Universidade Federal do Ceará que reivindicam o pagamento
de precatórios referentes aos reajustes salariais não pagos pela universida-
de.
As indenizações por desapropriação, presentes em 29% das notícias,
são as mais incidentes. Dizem respeito às indenizações devidas pela Fazen-
da Pública quando da desapropriação de bem imóvel pertencente a pessoa
física ou jurídica. É o caso da notícia Piracicaba pode ter interventor, do
jornal O Estado de S. Paulo, com data de 28/10/1999, em que uma credo-
ra do município de Piracicaba pede a intervenção por não ter recebido R$
20 mil pela desapropriação de uma área, feita há 15 anos pela prefeitura.
As demais notícias, 11%, referem-se a outros tipos de indenizações.
São os casos em que a Fazenda Pública causa algum prejuízo ao credor. Em
notícia da Folha de S. Paulo, Precatório de R$ 380 mil tem defesa falha,
do dia 6/2/2000, diversas empreiteiras sustentam que houve quebra do equi-
líbrio financeiro dos contratos assinados com o governo federal por causa
dos altos índices de inflação existentes na época. Um recurso do DNER
adiou o pagamento da correção dos valores.
Razões do descumprimento
não identificam natureza

a natureza alimentar

43% 17%

outras indenização por

indenizações desapropriação

11% 29%

Fig. 5 – Natureza dos créditos

A maior parte das matérias selecionadas não identifica, claramente, a


causa do descumprimento das ordens judiciais. Contudo, em algumas re-
portagens é possível apontar a fraude, a superestimação dos valores, a falta
de verba, as circunstâncias processuais ou o acúmulo de precatórios como
causas alegadas pelos administradores para o não-pagamento dos
precatórios.
A suspeita de fraude surge, concebida como a alegação nos autos de
que o título é fruto de fato criminoso. É comum, por exemplo, quando o
valor da indenização, no caso de desapropriações de terra, quadruplica o
valor da terra, em relação ao preço de mercado.
O governo paulista já identificou um caso em que a diferença entre a
perícia e a reavaliação do governo é de 116 vezes. A Procuradoria-Geral do
Estado tenta brecar todos os processos em que há suspeita de fraude.
No caso de desapropriações de terras em áreas de preservação
ambiental, já se identificaram casos, em São Paulo, em que há dúvidas sobre
a propriedade da terra desapropriada, ou seja, o estado pode estar indeni-
zando uma área que pertence a ele ou à União.
Quando o Estado levanta essa questão, cria-se uma situação polêmi-
ca porque, segundo alguns advogados ouvidos pela Folha de S. Paulo, se
o Estado não comprovar que houve fraude, acaba sendo punido com multas
e encargos, o que aumenta a dívida a pagar.
Para os credores essa atitude do Estado é vista apenas como tentativa
de protelar o pagamento de precatórios.
A fraude pode ser ilustrada pelo caso abordado no Jornal do
Commercio – RJ e no Jornal de Brasília: Indenização milionária pode
ser suspensa e Expropriação, respectivamente, do dia 29/2/2000, em que
é cobrada da União uma indenização pela desapropriação de terras de sua
propriedade. O Procurador-Geral da República, Geraldo Brindeiro, ajuizou
ação perante o STF para tentar impedir o pagamento da indenização.
A superestimação dos valores dos precatórios é uma das causas mais
incidentes para o não-pagamento de indenizações por desapropriações reali-
zadas por entidades públicas. A superestimação foi compreendida como as
alegações, nos autos, de que há erro no cálculo do quantum devido.
Alguns artigos apontam para o fato de que é o próprio Estado o res-
ponsável pela elevação dos valores das indenizações, considerando-se que
os processos que resultam em precatórios demoram anos e anos nos esca-
ninhos da Justiça e, enquanto isso, os juros de mora e compensatórios vão
elevando as indenizações a valores astronômicos.
A falta de verba também é uma causa muito alegada pela Fazenda
Pública. Segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo, Desalojados
da Vila Parisi lutam há 13 anos para receber indenizações, do dia
17/10/1999, a prefeitura de Cubatão não estava efetuando o pagamento de
indenizações por desapropriação alegando falta de recursos.
Quanto às circunstâncias de natureza processual que impedem o pa-
gamento de precatórios, pode-se observar a matéria do Estado de S. Pau-
lo, Piracicaba pode ter interventor, do dia 29/10/1999, que relata o caso
em que o prefeito de Piracicaba alega não ter efetuado o pagamento por não
ter recebido nenhum ofício do Tribunal de Justiça determinando o pagamen-
to da dívida.
Em notícia do Jornal do Brasil, Acúmulo de precatórios ameaça o
Rio, do dia 6/9/1999, o governador do Rio de Janeiro alega que não tem
conseguido pagar em dia os precatórios em virtude do acúmulo de dívidas
herdadas das administrações anteriores.

Formas de descumprimento

Oitenta e três por cento (83%) das matérias jornalísticas selecionadas


mencionam as formas do descumprimento das decisões judiciais.
fraude
outras razões do superestimação
11%
descumprimento dos valores
47% 20%

acúmulo de falta de recursos


precatórios questões 18%
3% processuais
1%

Fig. 6 – Razões do descumprimento


Dentre as mencionadas, a mais incidente é o não-pagamento, vale di-
zer, a simples omissão, pela Fazenda Pública, com 43% das matérias. Em
notícia do Estado de S. Paulo, Rio enfrenta 100 pedidos de intervenção
por calote no pagamento de precatórios, do dia 12/9/1999, o governo do
Estado do Rio de Janeiro reconhece a dívida de precatórios, mas afirma que
“só pagará quando puder”.
A quebra da ordem de preferência de pagamento, apontada em 11%
das reportagens, é a forma de descumprimento que viola diretamente pre-
ceito constitucional, disposto no art. 100, caput: (...), os pagamentos devi-
dos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sen-
tença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apre-
sentação dos precatórios (...).
No jornal O Estado de S. Paulo, Credores pressionam governador
de MS, do dia 20/8/1998, o jurista Carlos Ari Sundfeld opinou sobre o
descumprimento da ordem de preferência. Sundfeld adverte que enquanto o
governo não saldar o valor determinado pela Justiça, não pode pagar o
próximo precatório. Alguns administradores afirmam que a necessidade de
obediência a essa ordem é uma das causas de atraso no pagamento de
precatórios. No momento em que um dos precatórios é questionado, todos
os demais que se seguem ficam parados aguardando que a questão seja deci-
dida e possa ter seguimento a ordem de preferência.
Segundo informado no Estado de S. Paulo, Auditoria no Rio revela
precatórios supervalorizados, do dia 15/1/1999, um dos problemas dos
precatórios é que seu pagamento segue uma ordem de chegada: Para pagar
os de 1999, é preciso antes quitar os de 1998, 1997 e 1996, do mais anti-
go até o mais recentemente inscrito. O mesmo jornal informou que os bens
da prefeitura de Santos haviam sido seqüestrados porque a administração an-
terior não respeitou a ordem de preferência para o pagamento de precatórios:
Prefeitura de Santos tem bens seqüestrados, em edição do dia 27/8/1998.
Outras formas de descumprimento são o desvio de verba, a protela-
ção e o pagamento parcial. Em alguns casos os credores afirmam que o
Estado alega não ter verba para pagamento apenas como forma de protelar
o pagamento do precatório.
O desvio de verba é identificado em 6% (seis por cento) das matérias.
O administrador, alegando defesa do interesse público, desvia verba desti-
nada no orçamento a pagamento de precatórios. A reportagem do Estado
de S. Paulo, A longa espera pelo dinheiro justo, do dia 25/4/1999, relata
a suspeita de que a Universidade de São Paulo – USP – estava desviando
recursos dos pagamentos de precatórios para outros fins. O próprio coor-
denador de Administração da USP afirmou que a instituição optou por pa-
gar outras despesas, como folha de pagamento, e deixou as dívidas judiciais
em último plano.
A protelação, apontada em 20% (vinte por cento) das notícias, refe-
re-se a atos do administrador que retardam significativamente o processo
de pagamento. Em alguns casos até suspende-se o pagamento, como os
infindáveis recursos a que tem direito a Fazenda Pública, as contestações de
valores, as ações rescisórias, os embargos, a maioria para suscitar questões
já decididas definitivamente. É o caso da notícia Indenização ameaça as
contas da União, do jornal O Globo do dia 6/8/1999, em que a União é
acusada de protelar ao máximo o processo de pagamento de uma indeni-
zação por desapropriação.
A opinião de que o Estado protela suas obrigações é partilhada também
por advogados que litigam com a União; exemplo disso é a matéria veiculada
pelo Jornal do Commercio – RJ, Magistratura, Justiça, fantasia e realida-
de, do dia 22/2/2000, em que o autor afirma: (...) o Estado é o maior
procrastinador dos processos que contra si tramitam (...).
O pagamento parcial, citado em 3% das matérias, viola o direito do
credor da Fazenda de receber integralmente seu crédito. Em reportagem da
Gazeta Mercantil, STF analisa intervenção em São Paulo, do dia 10/9/
1999, relata-se o caso de uma credora que tenta receber o restante de uma
indenização por desapropriação, pois só conseguiu receber parte do valor
do imóvel.

Reação dos credores

Analisando as matérias, observa-se o descontentamento dos credo-


res da Fazenda Pública em virtude da dificuldade em receber o crédito a
que têm pleno direito. Esse descontentamento é manifestado por meio dos
não aponta a desvio de verba quebra da
forma 6% ordem de
17% preferência
11%

protelação
20%

pagamento
não-pagamento parcial
43% 3%
Fig. 7 – Formas de descumprimento
pedidos de intervenção (apontados em 31% das matérias), dos pedidos
de seqüestro de renda da entidade devedora (citados em 10% das matéri-
as) e das denúncias contra o administrador devedor, por crime de res-
ponsabilidade e por improbidade administrativa (observadas em 11% das
matérias).
Os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro apresentam um elevado
número de pedidos de intervenção. O jornal O Estado de S. Paulo: Pro-
motores acusam Covas de evitar intervenção, do dia 15/3/2000, infor-
mou que o Estado de São Paulo tem contra si 2.700 pedidos de intervenção
federal por causa do não-pagamento de dívidas judiciais.
O mesmo jornal, na matéria Rio enfrenta 100 pedidos de intervenção por
calote no pagamento de precatórios, do dia 12/9/1999, informou que o
descumprimento das ordens judiciais provocou cerca de 100 pedidos de
intervenção no Estado do Rio de Janeiro.
A maneira como os credores da Fazenda Pública têm reagido à não-
quitação das dívidas judiciais não é informada em 48% (quarenta e oito por
cento) das notícias.

não aponta
48%
intervenção
31%

seqüestro
sanções penais 10%
11%

Fig. 8 – Reação dos credores


Reação do Poder Judiciário

Em matéria do Jornal do Commercio – RJ, Fórmulas para apres-


sar pagamento via precatórios, do dia 20/4/2000, os magistrados federais
dizem-se preocupados com a defasagem de tempo entre a sentença transi-
tada em julgado e o efetivo recebimento do crédito. A demora no pagamen-
to de precatórios desgasta a imagem do Judiciário, e a sociedade passa a
questionar a efetividade da prestação jurisdicional.
Procurou-se identificar, nas notícias, de que maneira o Poder Judiciá-
rio tem reagido ao descumprimento de suas decisões. Além disso, verificou-
se a existência de preocupação de outros setores da população brasileira
em relação ao tema, como ocorreu, por exemplo, no Estado do Ceará, onde
mais de 250 advogados, acompanhando o Presidente da OAB/CE, Paulo
Quezado, adentraram o auditório do Tribunal de Justiça do Ceará e, que-
brando o protocolo, o Presidente da OAB/CE requereu verbalmente per-
missão para, em nome do Conselho Seccional e de todos os advogados
ali presentes, proceder à leitura de um manifesto no qual exigia do Ju-
diciário uma atitude enérgica, visando coibir a prática desrespeitosa e
nefasta que afronta o Estado de Direito Democrático, conforme noticiou
o Jornal OAB Nacional, ano XI, n. 83, maio/2000.
Nesse contexto, observaram-se variadas maneiras de reação do Po-
der Judiciário, em especial:
– Processos de intervenção, com 28% das matérias. Se a entidade
pública deixa de incluir no orçamento a verba necessária para aten-
der a dívida judicial ou se inclui a verba no orçamento mas não
efetua o pagamento, é cabível a intervenção nos Estados, no Distri-
to Federal, nos Municípios e em suas autarquias, nos termos da
Constituição Federal. O jornal O Estado de S. Paulo, na reporta-
gem Intervenção em São Paulo é decretada, do dia 19/2/1999,
informou que o Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu o pedido
do credor de um precatório não-pago e decretou intervenção no
município de São Paulo. Segundo o mesmo jornal, Pitta não pa-
gou nenhum precatório da sua gestão, do dia 9/4/2000, o Tribu-
nal de Justiça de São Paulo já decretou intervenção em 92 municí-
pios paulistas pelo descumprimento dos precatórios. Só no municí-
pio de São Paulo são 362 requisições de intervenção do TJ. O
governador do Estado, Mário Covas, alega que não adianta defi-
nir um interventor porque ele não iria conseguir pagar a dívida
dos precatórios da mesma forma. No entanto, esses processos
de intervenção estão sempre em tramitação, esperando decisão dos
tribunais quanto ao deferimento ou não do pedido de intervenção.
Como na notícia de O Estado de S. Paulo, Velloso vota contra
pedido de intervenção em São Paulo, do dia 11/5/1999. Segundo
essa notícia, os pedidos de intervenção no Estado de São Paulo
pelo não-pagamento de precatórios estão sendo apreciados pelo
Supremo Tribunal Federal.
– Decreto de seqüestro de bens da entidade pública devedora, em 7%
dos casos. Na matéria veiculada pelo Estado de S. Paulo, Itu tem
receitas seqüestradas para quitar dívidas, do dia 5/8/1999, o jor-
nal noticiou que o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o
seqüestro de receitas da prefeitura de Itu para pagamento de dívidas
trabalhistas. O seqüestro também é medida prevista na Constituição
Federal, sendo cabível em casos de quebra da ordem de preferência
de apresentação dos precatórios.
– Determinação de revisão de valores, em 7% das matérias.
A notícia do Estado de S. Paulo, Auditorias no Rio revelam
precatórios supervalorizados, do dia 15/1/1999, menciona que o
Supremo Tribunal Federal estabeleceu que as presidências dos Tri-
bunais de Justiça podem, antes de quitar os precatórios, checar os
cálculos e, se detectarem falhas, as contas devem ser devolvidas e
refeitas. Essa decisão do Supremo Tribunal Federal pode ser vista
como uma reação do Poder Judiciário às reiteradas alegações das
entidades públicas devedoras de que não pagam os precatórios
porque há erro de cálculo dos valores.
– Apreciação de denúncias por crime de responsabilidade contra os
administradores que não pagam os precatórios, em 7% dos casos.
É cabível a instauração de inquérito penal para apuração do crime
de responsabilidade contra as autoridades responsáveis pelos ór-
gãos inadimplentes. Segundo matéria do Jornal do Commercio –
RJ , Ministros enfrentam ação no STF, do dia
29/3/2000, a ação que acusa os ministros da Fazenda, da Educa-
ção e do Planejamento por crime de responsabilidade já tinha sido
encaminhada ao STF e aguardava julgamento. Os ministros são
acusados de não repassar às universidades recursos para o paga-
mento de precatórios decorrentes de decisões judiciais de natureza
trabalhista.
– A reação do Poder Judiciário não é mencionada em 51% (cinqüen-
ta e um por cento) das matérias.

intervenção
sanções penais 28%
7%

seqüestro
não aponta
7%
51%

revisão de valores
7%

Fig. 9 – Reação do Poder Judiciário


ANÁLISE DE DADOS NA IMPRENSA
2 a ETAPA

Entidades devedoras e natureza dos créditos

Como já registrado, há uma proximidade entre os créditos alimentares


e os de desapropriação, principalmente nas autarquias federais, já que os
maiores devedores são o INSS e o Incra, responsáveis respectivamente por
dívidas alimentares e de desapropriação.
Em contrapartida, os créditos relativos à desapropriação foram os mais
descumpridos pelas Unidades Municipais, contabilizando 13% (treze por
cento) do total de reportagens colhidas. Em segundo lugar esteve a catego-
ria “outra”, com 10% (dez por cento) desse total. No entanto, não podemos
avaliar tal categoria por ser muito genérica.
Do levantamento sobre os créditos alimentares, a União é devedora
em 11% dos casos. As autarquias federais ficaram com 16%, as entidades
estaduais, 57%, e as entidades municipais com 16%. A respeito dos crédi-
tos de desapropriação, os entes estaduais são mencionados em 43% das
matérias, os municipais em 38%, as autarquias em 14% e a União em 5%.
Do total dos precatórios não pagos pela União, 55% eram de nature-
za alimentar e 45% de desapropriação. As autarquias federais apresentaram
50% de precatórios alimentares não-pagos e 50% de precatórios de desa-
propriação não-pagos.
Entidades devedoras e razões do descumprimento

entidades
municipais
União Federal
16%
11%

autarquias entidades
federais estaduais
16% 57%

Fig. 10 – Crédito alimentar por entidade pública devedora

entidades entidades
municipais estaduais
38% 43%

autarquias
União Federal
federais
5%
14%

Fig. 11– Crédito de desapropriação por entidade pública devedora

desapropriação alimentar
45% 55%

Fig. 12 – Descumprimentos da União por natureza do crédito

desapropriação alimentar
50% 50%

Fig. 13 – Descumprimentos das autarquias federais por natureza do crédito


De maneira geral, pela análise das causas alegadas pelos entes da
Administração Pública, constata-se que existem justificativas diversas, sen-
do as mais comuns a falta de verba e a suspeita de fraude.
Observa-se que a alegação de falta de verba é citada como justifica-
tiva de todas as entidades, exceto a União, e a de fraude, das demais. Já as
questões processuais só são mencionadas nas matérias envolvendo as enti-
dades municipais.
No âmbito da União, são apontadas justificativas diversas. Nas
autarquias federais, 11% dos precatórios não-pagos são devidos a falta de
verba, 11% a suspeitas de fraude e 78% por outros motivos.
As entidades estaduais utilizaram com certa freqüência a argumenta-
ção de fraude, que representou 14% das justificativas pelo inadimplemento
dos seus precatórios. A falta de verba foi alegada em 11% dos casos e em
75% apontam-se razões diversas.
O caso em que o governo estadual não pagou um precatório de R$
57,4 milhões, relativo à desapropriação de uma área de quase 3.100 hecta-
res no Parque Estadual da Serra do Mar, no litoral norte, bem exemplifica a
fraude como escusa para inadimplemento. A Procuradoria-Geral do Estado
e a Secretaria do Meio Ambiente contestam os valores, alegando
superavaliação fraudulenta da área. O caso em questão foi divulgado pelo
jornal O Estado de S. Paulo: Procurador ataca governo por não pagar
precatório, do dia 11/3/1999.
Do total pesquisado sobre a escusa “fraude”, nenhuma partiu da União,
sendo 17% das autarquias federais, 66% das entidades estaduais e 17%
das entidades municipais. No tocante à “falta de verba”, 13% envolvem as
autarquias federais e 38% os entes estaduais. Os entes municipais ficaram
com 49% das reportagens.

Entidades devedoras e forma de descumprimento

falta de verba
11%
fraude
11%

outras
78%

Fig. 14 – Autarquias federais e razões do descumprimento

falta de verba
11%

fraude
14%

outras
75%

Fig. 15 – Entidades estaduais e razões do descumprimento


autarquias
federais
17%

entidades entidades
estaduais municipais
66% 17%

Fig. 16 – Entidades públicas devedoras e a escusa de fraude

entidades
estaduais
38%
entidades
municipais
49%

autarquias federais
13%

Fig. 17 – Entidades públicas devedoras e a falta de verba

As três formas de descumprimento às ordens judiciais foram, em pri-


meiro lugar, a simples omissão, o não-pagamento. Em segundo lugar, esteve
a quebra da ordem de preferência e, por último, o desvio de verba.
A União deixou de cumprir os precatórios requisitados em 67% dos
casos por meio do não-pagamento, nenhum por meio da quebra da ordem
de preferência e 33%, da protelação. As autarquias federais foram citadas
em reportagens que acusavam quebra da ordem de preferência (56%).
Das notícias envolvendo as entidades estaduais, 43% são referentes a
não-pagamento, 16% à quebra da ordem de preferência, 19% ao desvio de
verba, 3% ao pagamento parcial e 19% à protelação. Nas entidades muni-
cipais, 58% são sobre não-pagamento, 6%, quebra da ordem de preferên-
cia, 24%, desvio de verba, 6%, protelação e 6%, outras.
De todos os casos a respeito da simples omissão ou não-pagamento, sem
nenhuma justificativa específica, 50% são atribuídos às entidades estaduais, 6%
à União, 13% às autarquias federais e 31% às entidades municipais.
Referentemente à quebra da ordem de preferência, 42% foram praticados
pelas autarquias federais, 50% pelas entidades estaduais, 8% pelas municipais
e nenhuma pela União. O desvio de verba, embora inexistente no âmbito fe-
deral, foi utilizado pelos entes estaduais (64%) e municipais (36%).
Um exemplo de simples omissão no âmbito estadual ocorreu em 1998
no Rio de Janeiro. O presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janei-
ro, deputado Sérgio Cabral Filho, afirmou que iria desobedecer à ordem
judicial de pagar imediatamente R$ 64,8 milhões em atrasados para 307
servidores da Casa que tinham vencimentos acima do teto salarial de R$ 9,6
mil. Numa notícia veiculada pelo Jornal do Brasil, Cabral Filho se recusa
a obedecer à decisão do STF, do dia 7/4/1998, o deputado expressamente
declara: Eu não vou pagar. A ação não está transitada em julgado. En-
trarei com recurso e, se ele (Celso de Mello) decidir o contrário, vou
pedir ao plenário do STF e não pago até o plenário decidir.
A fim de ilustrar a ocorrência do desvio de verba, cita-se um caso ocor-
rido no âmbito da Justiça Estadual, publicado no Jornal do Commercio: Esta-
do deve mais de R$ 500 milhões em precatórios, do dia 23/2/2000.
A reportagem inicia-se relatando a situação caótica do Estado do Rio de Ja-
neiro: Sem efetuar o pagamento de precatórios desde 1996, o Estado já
acumula uma dívida de R$ 450 milhões. Com as fundações e autarquias
estaduais, que devem mais R$ 72 milhões, o débito total ultrapassa os
R$ 500 milhões. O advogado de sete clientes com precatórios para receber,
Martinho Alencar, reclama: É uma vergonha. O valor do precatório é inclu-
ído no orçamento do Estado e desviado para outros fins.
Uma reportagem local de Mônica Bergamo, divulgada pelo jornal Folha
de S. Paulo, DNER desvia recursos de precatórios, do dia 4/11/1999,
relata a quebra da ordem de preferência nas autarquias federais. O jornal
revelou que o órgão estava pagando precatórios sem obedecer à ordem de
preferência em que eles haviam sido expedidos pela Justiça, como manda a
Constituição. Por meio desse trecho da notícia, pode-se bem constatar esse
fato:

O pagamento era possível graças à contratação de escritórios


de lobby que cobravam propina de até 25% para acelerar o pro-
cesso do DNER. Assim, o titular de um precatório que demora-
ria dois anos para receber o dinheiro furava a fila e era reem-
bolsado este ano (1999), antes de centenas de outros.
protelação
33%

não-pagamento
67%

Fig. 18 – União Federal e as formas de descumprimento

não-pagamento
44%

quebra da ordem
de preferência
56%

Fig. 19 – Autarquias federais e as formas de descumprimento

quebra da ordem de desvio de verba


preferência 19%
16%
protelação
19%

pagamento parcial não-pagamento


3% 43%

Fig. 20 – Entidades estaduais e as formas de descumprimento

desvio de verba
24%
outras
6%

não-pagamento
quebra da ordem de 58%
preferência protelação
6% 6%
Fig. 21 – Entidades municipais e as formas de descumprimento
autarquias
entidades
federais
municipais
13%
31%

União Federal
entidades
6%
estaduais
50%

Fig. 22 – Entidades públicas devedoras e o não-pagamento

entidades
municipais
8% autarquias
federais
42%
entidades
estaduais
50%

Fig. 23 – Entidades públicas devedoras e a quebra da ordem de preferência

entidades
municipais
36%

entidades
estaduais
64%

Fig. 24 – Entidades públicas devedoras e o desvio de verba


Entidades devedoras e reação do Poder Judiciário

Por meio dos gráficos a seguir apresentados, procura-se demonstrar, de


forma comparativa, como o Poder Judiciário tem reagido à recalcitrância em
relação à entidade pública devedora. A intervenção, como não poderia deixar
de ser, incidiu somente sobre entes estaduais e municipais.
A União enfrentou sanções penais (50%) e outras formas diversas
(50%) de reação do Judiciário. De modo semelhante, as autarquias federais
ficaram sujeitas em 50% das matérias ao seqüestro e em 25% a sanções
penais. Para os entes estaduais os percentuais foram os seguintes: sanções
penais 15%, intervenção 58%, seqüestro 15% e 12% outras, e para os en-
tes municipais, registraram-se 29% de sanções penais, 59% de intervenção
e 12% de seqüestro.
Os processos de intervenção, em 60% dos casos, envolvem os entes
estaduais e em 40%, os entes municipais. O seqüestro não incide na União,
mas incide em 25% nas autarquias federais, 50% nos entes estaduais e 25%
nos municipais. As sanções penais recaem em 9% na União, 9% nas autarquias
federais, 36% nas entidades estaduais e 46% nas entidades municipais.
O caso do Incra, que não pagou R$ 1,2 milhão a servidores, demons-
tra a reação do Poder Judiciário com o decreto de seqüestro. Diz a reporta-
gem publicada em O Estado de S. Paulo, Justiça determina bloqueio de
recursos do Incra no PA, do dia 25/6/1999, que a ação trabalhista foi
proposta em 1990 pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais
(Sindisef). O Incra já havia sido notificado para depositar o dinheiro
em juízo, o que não foi feito. Então, a vice-presidente do Tribunal Regional
do Trabalho da 8a Região determinou que os recursos ficassem retidos até
a quitação da dívida.

outras
50%

sanções penais
50%

Fig. 25 – União Federal e a reação do Poder Judiciário

outras sanções penais


25% 25%

seqüestro
50%

Fig. 26 – Autarquias federais e a reação do Poder Judiciário

outras
seqüestro 12%
15%

sanções penais intervenção


15% 58%

Fig. 27 – Entidades estaduais e a reação do Poder Judiciário


seqüestro
12%

sanções penais intervenção


29% 59%

Fig. 28 – Entidades municipais e a reação do Poder Judiciário

entidades entidades
municipais estaduais
40% 60%

Fig. 29 – Entidades públicas devedoras e intervenção

entidades
municipais
25%

entidades
autarquias federais estaduais
25% 50%

Fig. 30 – Entidades públicas devedoras e seqüestro

entidades entidades estaduais


municipais 36%
46%

União Federal autarquias federais


9% 9%

Fig. 31 – Entidades públicas devedoras e sanções penais


Natureza dos créditos e reação do Poder Judiciário

Os gráficos a seguir visam a demonstrar uma eventual relação entre as


espécies de reação do Poder Judiciário e a natureza do crédito não cumpri-
do.
Os precatórios alimentares não-pagos resultaram em 68% dos casos
em processo de intervenção, 19% em sanções penais e 13% em seqüestros.
Dos precatórios não-pagos referentes à desapropriação, 54% ocasionaram
processo de intervenção, 13% sanções penais, 20% seqüestros e 13% ou-
tras reações.
De todas as notícias envolvendo processo de intervenção, 58% eram
oriundas de precatórios alimentares e 42% de precatórios sobre créditos de
desapropriação. Os seqüestros foram citados em 40% dos créditos alimenta-
res e em 60% dos créditos de desapropriação. E as sanções penais, em 60%
dos créditos alimentares e em 40% dos de desapropriação.
O jornal O Dia, na reportagem União não paga multa a servidor,
de 18/2/1999, dá exemplo de sanções penais para o não-cumprimento aos
créditos alimentares. Trata-se do caso de não-pagamento a cerca de 360
mil servidores federais ativos e inativos do Rio, o equivalente a dois dias de
salários. No entanto [diz a matéria], o Governo tem tudo pronto para
pagar a multa caso a Justiça determine o pagamento com a ameaça de
prisão de autoridade responsável pelo não-cumprimento da decisão.
O seqüestro, que predomina nos precatórios de desapropriação, é
exemplificado na seguinte matéria: O Tribunal de Justiça do Estado deter-
minou o seqüestro de receitas da prefeitura de Cubatão, até R$ 60 mil,
para pagamento de precatório referente à desapropriação de um terre-
no da extinta Vila Parisi. Dessa forma inicia-se a reportagem da jornalista
Zuleide de Barros, editada pelo jornal O Estado de S. Paulo, Cubatão tem
seqüestro de receita decretado, do dia 27/10/1999, que bem mostra a
determinação da Justiça pelo seqüestro, em face do desrespeito às suas
ordens relativas a créditos de desapropriação.

intervenção
68%

seqüestro sanções penais


13% 19%

Fig. 32 – Precatórios alimentares e a reação do Poder Judiciário

outras
13%

seqüestro
20% intervenção
54%

sanções penais
13%

Fig. 33 – Precatórios de desapropriação e a reação do Poder Judiciário


desapropriação
42%

alimentar
58%

Fig. 34 – Natureza dos precatórios e intervenção

alimentar
40%

desapropriação
60%

Fig. 35 – Natureza dos precatórios e seqüestro

desapropriação
40%

alimentar
60%

Fig. 36 – Natureza dos precatórios e sanções penais


Natureza dos créditos e forma de descumprimento

No contexto dos próximos gráficos, em que se cruzam as formas de


descumprimento de ordens judiciais e a natureza dos créditos desrespeita-
dos, observou-se que o “não-pagamento”, de certa forma, prevaleceu em
todas as espécies de precatórios. Foi quanto aos créditos alimentícios que
essa forma de não-cumprimento obteve maior destaque, 55% do total de
reportagens selecionadas. Os créditos de desapropriação ficaram com 27%
e outros precatórios com 18%.
A quebra da ordem de preferência foi citada em 10% dos casos en-
volvendo os precatórios alimentares, em 30% dos precatórios de desapro-
priação e em 60% de precatórios diversos. A protelação ocorreu nos
precatórios alimentares (20%), nos de desapropriação (60%) e nos diver-
sos (20%). O desvio de verba incidiu em 10% dos precatórios alimentares,
em 30% dos precatórios de desapropriação e em 60% dos precatórios di-
versos.
Os precatórios alimentares foram descumpridos em 85% dos casos
pela simples omissão, em 5% pela quebra da ordem de preferência, em
5% pelo desvio de verba e em 5% pela protelação. Os créditos de desa-
propriação foram desrespeitados por meio da omissão (49%), quebra da
ordem de preferência (17%), desvio de verba (17%) e protelação (17%).
Quanto aos demais precatórios, a pesquisa concluiu os seguintes
percentuais: 32% de casos de omissão, 32% de quebra, 31% de desvio e
protelação, 5%.
outras
18%

alimentar
desapropriação 55%
27%

Fig. 37 – Natureza dos precatórios e não-pagamento

alimentar
10%

desapropriação
outras
30%
60%

Fig. 38 – Natureza dos precatórios e quebra da ordem de preferência

outras
alimentar
20%
20%

desapropriação
60%

Fig. 39 – Natureza dos precatórios e protelação


alimentar
10%

outras desapropriação
60% 30%

Fig. 40 – Natureza dos precatórios e desvio de verba

quebra da ordem
de preferência
5%
desvio de verba
protelação
5%
5%

omissão
85%

Fig. 41 – Precatórios alimentares e forma de descumprimento

quebra da ordem desvio de verba


de preferência 17%
17%

protelação omissão
17% 49%

Fig. 42 – Créditos de desapropriação e forma de descumprimento


Razão e forma de descumprimento

Os gráficos a seguir buscam fazer um entrelaçamento entre as formas


utilizadas para promover o descumprimento às ordens judiciais e as causas
alegadas pelos respectivos administradores.
Sob o fundamento da fraude, os entes públicos deixam de pagar os
precatórios por meio da simples omissão (80%) ou da protelação (20%).
Não houve quebra da ordem de preferência ou desvio de verba. Alegando
falta de recursos, os percentuais passam a ser os seguintes: simples omissão
(60%), desvio de verba (20%), quebra da ordem (10%) e protelação (10%).
A quebra da ordem de preferência ocorre nos seguintes casos: 9%
por falta de recursos, 91% por outras razões. Nos casos em que a forma de
descumprimento é a simples omissão, as razões apontadas são impedimen-
tos processuais (9%), falta de recursos (55%) e alegação de fraude (36%).
A causa alegada que impera em todas as formas de descumprimento é a
que denominamos “outra”, chegando a atingir sessenta e cinco por cento (65%)
do total de reportagens coletadas. Como tal alegação é muito genérica, em vir-
tude da intensa criatividade de nossos administradores, não é possível fazer ob-
servações a partir dessa categoria de alegações.
Em matéria do Jornal do Brasil, Acúmulo de precatórios ameaça o
Rio, do dia 6/9/1999, há um exemplo de falta de recursos relacionada com a
simples omissão do ente público. Mostra-se o caso da alta quantia em precatórios
devida pelo Estado do Rio de Janeiro. De acordo com Tribunal de Justiça deste
Estado, cem pedidos de intervenção federal no Estado chegaram à Justiça, sen-
do a maioria provocada pelo não-pagamento dos precatórios. Segundo a re-
portagem, o governador Garotinho afirma que seu governo não vai defen-
der o calote no pagamento dos precatórios, mas acrescenta que, hoje, não
tem condições de saldar o débito.

protelação omissão
20% 80%

Fig. 43 – Fraude e forma de descumprimento

quebra da ordem
desvio de verba
de preferência
20%
10%
protelação
10% omissão
60%

Fig. 44 – Falta de recurso e forma de descumprimento

falta de recursos
9%
outras
91%

Fig. 45 – Quebra da ordem de preferência e causas alegadas

processual
9%

fraude falta de recursos


36% 55%

Fig. 46 – Omissão no pagamento e causas alegadas


ENTREVISTAS COM AUTORIDADES EM
BRASÍLIA

Entrevista 1
Procurador-Geral do INSS

A entrevista com o Procurador-Geral do Instituto Nacional de


Seguridade Social – INSS, Dr. Marcos Maia Júnior, realizada pelo
Dr. Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Juiz Federal da Seção Judiciária
de Niterói e coordenador da pesquisa, e pela Dra. Rita Helena dos Anjos,
diretora da Divisão de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Pesquisa e
Documentação do Centro de Estudos Judiciários, no dia 3 de maio de 2000,
foi gravada no edifício-sede do INSS.
Primeiramente indagou-se a respeito dos procedimentos no pagamento
de débitos de precatórios judiciais por parte do INSS. O Procurador consi-
derou que, no passado, não havia rotina e era freqüente o atraso no paga-
mento, como, por exemplo, no Rio de Janeiro, em casos em que não havia
dossiê administrativo. Atualmente, a Procuradoria-Geral do INSS em Brasília
requisita todos os processos cujo valor esteja acima de R$ 50.000,00 (cin-
qüenta mil reais) para revisão, pouco importando o número de litisconsortes.
A cópia do processo judicial vem acompanhada de um relatório da Procu-
radoria Regional do INSS no Estado. A Procuradoria-Geral analisa-o, revi-
sa inclusive os cálculos e devolve-o com a autorização para o pagamento,
se for o caso.
A Procuradoria-Geral tem orientação da Advocacia-Geral da União
para solicitar-lhe parecer do montante global a ser pago no exercício se-
guinte ao da requisição. Nesses casos, é enviada uma listagem dos valores à
Consultoria Jurídica da AGU, que faz uma análise por amostragem, utilizan-
do-se de parâmetros próprios, e devolve-a posteriormente com parecer.
O Procurador informou que, quando da sua posse em setembro/1999,
havia precatórios sem pagamento referentes ao ano de 1996 e que atual-
mente – com exceção dos precatórios que estão sendo questionados judicial-
mente, ou seja, retirados da fila de pagamento com permissão da Justiça – o
INSS está em dia com os pagamentos.
Com a reforma administrativa do INSS realizada após a sua assunção,
foram criadas cem Procuradorias em todo o país, existindo em cada uma
delas um Setor de Precatórios. Por Resolução da Diretoria Colegiada esta-
beleceu-se que as Seções de Precatórios das Procuradorias situadas nas
capitais seriam as controladoras da ordem de preferência para pagamento
dos precatórios.
Foi instituído um formulário-base, a ser preenchido para cada
precatório, que permite que os precatórios de valores até R$ 10.000,00
(dez mil reais) sejam liquidados nas Procuradorias Regionais. Uma vez au-
torizado pela gerência e pedido o empenho ao SIAF, é feito o pagamento.
Acima de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), o expediente é encaminhado
à Procuradoria-Geral. Uma vez autorizado o pagamento pela Procuradoria-
Geral, não há mais possibilidade de resistência no âmbito do INSS.
Para aferir eventuais erros no precatório observam-se basicamente
dois pontos: verificação da ocorrência ou não de erro de cálculo – se os
cálculos foram conferidos no sistema de cálculos “AOR” – ou a eventual
desídia do procurador local.
Conforme o Procurador, em São Paulo, há cerca de 1.800 precatórios
suspensos por terem sido requisitados precatórios em execução provisória.
A Procuradoria desconsidera-os para efeitos de ordem cronológica.
A título de informação, o Presidente do TRF da 2a Região autorizou o
INSS a pagar precatórios mais novos, de menor valor, enquanto não houver
definição de precatórios mais antigos e com valores superiores.
O Procurador informou que a grande dificuldade do INSS está no
significativo volume de precatórios e na sua análise, pois o mecanismo de
pagamento já está padronizado. Para tanto, o INSS faz uso até mesmo da
internet, o beneficiário podendo consultar, desde maio de 2000, o número
da ordem bancária e a data de pagamento do seu precatório pelo INSS.
O Procurador destacou que a ordem de preferência observada pelo
INSS é por Tribunal requisitante (TRF, TJ, TRT), em cada capital de Esta-
do. A centralização é por Estado. A ordem de preferência, por Tribunal.
Outro grande problema identificado pelo entrevistado é quanto à exis-
tência de erro de cálculo gerado pelo conflito entre o Poder Judiciário e o
INSS. Quando da relação apresentada pelo Judiciário, para inclusão no or-
çamento da autarquia, já é efetuado um levantamento daqueles precatórios
com valores discrepantes. A título de exemplo, em Jaú e em Bauru, São
Paulo, têm sido constatados erros grosseiros, corrigidos pelo Tribunal Regi-
onal Federal da 3a Região.
A orientação aos procuradores é sempre o questionamento em juízo
dos valores considerados errados. Não ocorre simples omissão. Além dis-
so, a Advocacia-Geral da União tem participação nesse controle. Em casos
considerados graves, a Procuradoria atua com eficácia, montando uma “tropa
de choque”.
O entrevistado diz ter conhecimento da venda de precatórios com
valores exorbitantes para o pagamento de tributos. Isso tem ocorrido, ainda
que o precatório tenha sido requisitado em processo judicial no qual a deci-
são correspondente já fora revogada.
Independentemente do valor, nenhum órgão do INSS paga se houver
decisão em sentido contrário do Procurador-Geral. Nos processos com
valores exorbitantes, chega-se a ponto de chamar a Advocacia-Geral da
União como parceira no processo. Em outros casos, deposita-se o valor
requerido e solicita-se ao juiz para levantar o pagamento de apenas uma
parcela, até que haja solução final do incidente.
A simples omissão do INSS não tem respaldo da Procuradoria-Ge-
ral, pois esta sempre age. A omissão é encarada como uma irregularidade
pelo Procurador entrevistado.
Quando há um processo em que o prazo para pagar está expirando e
o INSS considera injusto ou indevido o valor, a orientação é no sentido de
entrar com um recurso qualquer no Tribunal, recorrer sempre e, se for o
caso, chamar a AGU e o Ministério Público da União ao processo.
Com relação à falta de verba, o problema só existe em liqüidação de
execução com liminares; as liminares de implantação de benefício são feitas
por meio de rubrica de pagamento de pessoal. Outra possibilidade de falta
de verba é quando o Congresso ainda não aprovou o orçamento da União.
Para o ano de 2000, tudo o que foi incluído no orçamento foi apro-
vado e o entrevistado afirmou que os pagamentos deveriam começar no mês
de maio ou junho.
Segundo o entrevistado, nunca se constatou a existência de acordo
extrajudicial, enquanto pendente o precatório.
Por outro lado, o INSS já sofreu seqüestro de verba por quebra na
ordem de preferência do pagamento de precatórios, em São Paulo, Rio de
Janeiro e Distrito Federal, no âmbito de jurisdição da Justiça Federal, casos
estes em que a Procuradoria recorreu.
Foi citado o exemplo de um caso em São Paulo em que o precatório
foi pago na Vara de origem e o Tribunal não foi avisado. Por sua vez, o
Tribunal notificou o INSS, como um caso de preterição, embora o precatório
já estivesse pago.
Entrevista 2
Procurador-Geral do DNER

A entrevista com o Procurador-Geral do Departamento Nacional


de Estradas de Rodagem – DNER, Dr. Luiz Antônio da Costa Nóbrega,
realizada pelo Dr. Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Juiz Federal da
Seção Judiciária de Niterói e coordenador da pesquisa, e pela Dra. Rita
Helena dos Anjos, diretora da Divisão de Estudos e Pesquisas da Secre-
taria de Pesquisa e Documentação do Centro de Estudos Judiciários, no
dia 4 de maio de 2000, foi gravada no edifício-sede do DNER.
Primeiramente foi perguntado se há alguma orientação normativa ou
padronização por parte da Procuradoria para que os procuradores do DNER
atuem nos processos de precatório. O entrevistado informou não haver uma
norma, mas que a Procuradoria-Geral do DNER tem uma delegação de
competência da AGU para a aferição dos cálculos dos precatórios, e quan-
do se aferem os cálculos, naturalmente se afere toda a formação do
precatório.
O momento em que o DNER toma conhecimento do precatório e co-
meça o processo de aferição ocorre quando chega o ofício requisitório no
DNER.
O acompanhamento dos precatórios é feito pela imprensa oficial. O
Ministério Público Federal – MPF, às vezes, supre a deficiência do DNER.
Já a Procuradoria-Geral do DNER toma conhecimento do precatório por
meio de processo administrativo.
A Procuradoria-Geral do DNER tem uma divisão que cuida dos pro-
cessos judiciais, a qual afere a legalidade dos cálculos e coloca os precatórios
na fila para pagamento, aguardando a liberação de orçamento.
Todo precatório, para ser pago, depende de um processo administra-
tivo, paralelo, montado na Procuradoria Regional, que é requisitado pela
Procuradoria-Geral quando este chega a Brasília. Recebida a lista dos
precatórios da SOF – Secretaria de Orçamento e Finanças do Ministério da
Fazenda –, a Procuradoria-Geral requisita o processo administrativo cor-
respondente.
Conforme o Procurador, a ordem para o pagamento é do Procura-
dor-Geral, que faz o papel de Unidade Gestora de Recursos – UGR. Mes-
mo com a ordem do Procurador é possível que haja problemas, como, por
exemplo, a falta de recursos financeiros. Nesses casos, ocorre o empenho,
mas não há pagamento.
No DNER, a grande massa de precatórios refere-se à desapropria-
ção.
Com relação aos precatórios da Justiça Trabalhista, há muita confu-
são. Fica a impressão, consoante o Dr. Luiz Antônio da Costa Nóbrega,
que os Tribunais Regionais do Trabalho não têm coordenação. Alguns che-
gam a ponto de pedir que seja aberta uma conta para cada beneficiário de
precatório.
Nos últimos anos, tem ocorrido previsão orçamentária abaixo do ne-
cessário. A questão, do ponto de vista do Procurador, é política, na elabo-
ração do orçamento. Além disso, o precatório complementar arrasa com
qualquer previsão orçamentária. Nos anos de 1998 e 1999, houve déficit de
R$ 102.000.000,00 (cento e dois milhões de reais), no pagamento de
precatórios.
Foi mencionado um precedente de seqüestro, porém, lembra o pro-
curador que o DNER não possui receita própria, como o INSS. Seus
recursos são do orçamento da União, e às vezes esses recursos são re-
ceitas para outras destinações. No ano de 1999, ocorreram problemas
quanto à preterição. Houve grande pressão de credores desejosos de
receber valores inferiores. Não havia critério e nem tempo de se estabe-
lecer critérios, tamanha a demanda. Com isso, pode ter havido preterição
a credores de precatórios trabalhistas e/ou alimentícios.
O Procurador afirma achar um absurdo a Procuradoria atuar
procrastinando, em razão do fato de que, quanto maior a demora, maior o
ônus para a União.
O problema é que há surpresa na previsão orçamentária e não é pos-
sível alocar verba. O Procurador não é ordenador, é gestor. O Presidente
do órgão é o ordenador e somente ele pode alocar verba.
O Procurador relata que no passado houve alocação de verba a favor
e contra o precatório. Por questões de cumprimento de política de governo,
já teria havido realocação de verbas de precatórios para outros fins.
Com relação a acordos extrajudiciais, o Procurador afirma que o Tri-
bunal de Contas da União já se insurgiu contra os acordos extrajudiciais no
âmbito do DNER.
Na opinião do entrevistado, o descumprimento do precatório pelo
DNER pode se dar pelos seguintes motivos: falta de verba ou previsão or-
çamentária, decorrentes de surpresas (precatório complementar) ou ainda
alocação de verbas autorizadas em lei ou não.
A requisição do precatório deve ser feita diretamente à SOF – Secre-
taria de Orçamento e Finanças do Ministério da Fazenda –, mas também é
feita ao DNER, que a comunica à Secretaria. Se constatado erro, ocorre a
comunicação ao Presidente do Tribunal requisitante. Não havendo respal-
do, ajuíza-se ação rescisória.
A ordem manifestamente injusta não é cumprida. Todavia, até de-
zembro de cada ano (dentro do ano fiscal), o pagamento deve ser efetua-
do, salvo nos casos de decisão teratológica. Têm sido verificados erros
materiais e na avaliação. No entanto, quando a imprensa fala em
superfaturamento, deve-se lembrar que há descumprimentos ocorridos há
muitos anos e, assim, sujeitos a juros compensatórios e moratórios.
A ordem de preferência é por Tribunal requisitante. É possível que
um credor mais novo, de uma região, receba antes de outro credor mais
antigo, de outra região. A divisão de valores é efetuada pela SOF, no
DNER, sem critério legal. Em tese, pode haver favorecimento a um ou
outro Tribunal, todavia, isso não ocorre, pois haveria “gritaria” geral.
No âmbito da Justiça Federal, o DNER divide o montante recebido
por cinco, para distribuição em quantias iguais aos cinco Tribunais Regionais
Federais.
Entrevista 3
Procurador-Geral do Incra

A entrevista foi realizada, no dia 5 de maio de 2000, pelo Dr. Ricardo


Perlingeiro Mendes da Silva, Juiz Federal da Seção Judiciária de Niterói e
coordenador da pesquisa, e pela Dra. Rita Helena dos Anjos, diretora da
Divisão de Estudos e Pesquisas da Secretaria de Pesquisa e Documentação
do Centro de Estudos Judiciários, com dois assessores da Procuradoria-
Geral do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, Dr.
Arthur Vidigal de Oliveira e Dra. Lúcia Maria Pereira de Araújo Bezerra,
indicados pelo Procurador-Geral, que estava impossibilitado de os atender.
A entrevista não foi gravada e realizou-se no edifício Palácio do Desenvol-
vimento.
Primeiramente perguntou-se o procedimento adotado no pagamento
de débitos por parte do Incra, decorrentes de decisão judicial. Conforme os
entrevistados, é formado um dossiê administrativo (cópia do processo) na
Procuradoria-Geral do Incra, a partir do ofício requisitório, mediante docu-
mento em poder dos Procuradores Regionais. O primeiro passo é a remessa
do dossiê à Contadoria da Procuradoria-Geral, para conferência. Se cons-
tatado erro, haverá provocação judicial. Se o Procurador-Geral autorizar o
pagamento, não há nenhum obstáculo posteriormente. Todavia, em qualquer
situação existe o empenho prévio.
Em casos extremos, conforme os assessores, o Incra pode não efetu-
ar o pagamento, mesmo não havendo efeito suspensivo do recurso. Entre-
tanto, é mínima a possibilidade de ocorrer tal hipótese.
Quando, por qualquer motivo, não é pago um determinado credor,
opta-se pelo não-pagamento daqueles credores mais novos, com o intuito
de evitar o seqüestro, decorrente da preterição da ordem de preferência
existente.
Os assessores identificaram precedentes de acordos extrajudiciais para
o pagamento a menor ou em títulos da dívida agrária. Também puderam
identificar precedentes de acordos judiciais, há cerca de cinco anos, o que,
porém, não vem se verificando nos últimos anos.
Questionados a respeito da inadimplência no pagamento de precatórios,
os assessores responderam que há casos em que a falta de pagamento de-
corre da falta de verba, que, embora prevista, não é aprovada em tempo
hábil. Há casos, ainda, em que o Incra incide em erro na solicitação da
previsão orçamentária, até mesmo em razão de falhas na comunicação entre
os Tribunais e o Incra. No entanto, uma vez requisitado, o orçamento aten-
de às solicitações.
Quanto à receita do Incra, não se tem conhecimento a respeito de
alocação de verba destinada para o pagamento de precatórios para outras
rubricas.
Os assessores esclareceram que existe apenas uma fila de espera para
todo o país, independentemente do Tribunal requisitante. Trata-se de praxe,
uma regra não escrita do Incra. A fila é formada de acordo com o protocolo
das requisições dos Tribunais junto à Procuradoria-Geral do Incra. Todavia,
há problemas quando o Tribunal requisitante encaminha o ofício a outro ór-
gão.
Qualquer pagamento de precatório, independentemente do valor, de-
pende da autorização do Procurador-Geral. Nos casos em que ocorre pa-
gamento e posterior verificação de irregularidade, pede-se o bloqueio dos
valores, judicialmente.
Enfim, os assessores do Procurador-Geral puderam verificar a exis-
tência de precatórios atrasados. Os precatórios de 1998 somente foram
pagos em 1999, em virtude da falta de verba e/ou deficiência do dossiê
administrativo.

Entrevista 4
Procurador-Geral da Fazenda Nacional

A entrevista com o Procurador-Geral da Fazenda Nacional, Dr. Almir


Martins Bastos, foi realizada pelo Dr. Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva,
Juiz Federal da Seção Judiciária de Niterói e coordenador da pesquisa, e
pela Dra. Rita Helena dos Anjos, diretora da Divisão de Estudos e Pesqui-
sas da Secretaria de Pesquisa e Documentação do Centro de Estudos Judi-
ciários, no dia 8 de agosto de 2000, no edifício-sede do Ministério da Fa-
zenda, com a presença também de um dos assessores da autoridade entre-
vistada. A entrevista não foi gravada.
Primeiramente foi perguntado o procedimento adotado no pagamento
de débitos por parte da Fazenda Nacional, decorrentes de decisão judicial. O
Procurador informou que há descentralização, no âmbito da Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional – PGFN, para o acompanhamento do pagamento
dos precatórios. No entanto, entende que a atuação do Procurador da Fazen-
da se esgota com a expedição do ofício requisitório. Além disso, informou ter
conhecimento de poucos casos de erro no cálculo na fase judicial, mesmo
após o trânsito em julgado e na fase de expedição do precatório.
A PGFN, segundo ele, não participa nem gerencia a requisição de
valores necessários ao pagamento dos débitos decorrentes de decisões ju-
diciais. O Tribunal, ao elaborar o seu orçamento para o exercício seguinte,
nele inclui a receita destinada ao pagamento de precatórios que devem ser
saldados pela União. A responsabilidade direta é do Tesouro Nacional, pois
os valores são colocados à disposição do Tribunal, que passa a ser respon-
sável pela observância na ordem de preferência.
O Procurador informou desconhecer a existência de acordo na pen-
dência de precatório. No entanto, lembra de precedente na pendência de
sentença transitada em julgado, em que não havia a existência de precatório
expedido.
Nos casos de evidência de erro de cálculo, a PGFN não tem como
impedir a entrega do valor requisitado, pois quem paga é o Tesouro Nacio-
nal, globalmente, com observância do orçamento do Poder Judiciário. O
que está ao alcance da PGFN é tentar evitar o levante do dinheiro nos autos
do precatório.
Além disso, o entrevistado não tem conhecimento de reclamação so-
bre descumprimento de liminar no âmbito da Fazenda Nacional. Todavia,
nos casos de cumprimento material impossível, não fica afastada a argumen-
tação pessoal com o juiz da causa. Dessa maneira, afirmou não existir atrito
entre a PGFN e o Poder Judiciário.
Entrevista 5
Advogado-Geral da União

A entrevista com o Advogado-Geral da União, Dr. Gilmar Ferreira


Mendes, foi realizada pelo Dr. Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Juiz
Federal da Seção Judiciária de Niterói e coordenador da pesquisa, e pela
Dra. Rita Helena dos Anjos, diretora da Divisão de Estudos e Pesquisas da
Secretaria de Pesquisa e Documentação do Centro de Estudos Judiciários,
no dia 9 de agosto de 2000, no anexo IV do Palácio do Planalto. A entre-
vista não foi gravada.
Primeiramente perguntou-se-lhe a respeito da participação da Advo-
cacia-Geral da União – AGU em algumas ações judiciais em que há interes-
se da Fazenda Pública, especificamente aquelas em que a decisão judicial
pode ocasionar a expedição de ofício requisitório para pagamento de débi-
tos pela Fazenda Pública. Conforme o entrevistado, hoje é comum a interfe-
rência da AGU nos cálculos dos grandes precatórios, nos casos em que há a
identificação de erros e controvérsias, perante os Tribunais. Criou-se a
Controladoria, que atua nos cálculos dos precatórios e possui outras atri-
buições correlatas. Quando o erro é verificado posteriormente, a orienta-
ção é no sentido de impugnar e discutir a decisão.
Questionado acerca da orientação aos órgãos subordinados à AGU,
o entrevistado informou que não há orientação normativa. Todavia, enfatizou
que os procuradores devem agir com cautela nos precatórios acima de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais). Por outro lado, nos casos de precatórios
acima de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais), a AGU pede vista dos
autos. Foi citado, como exemplo, o caso do DNER como fator de preocu-
pação, tendo em vista um precatório expedido no valor de R$
380.000.000,00 (trezentos e oitenta milhões de reais), a ser pago pela
autarquia, em uma ação judicial movida por um determinado Sindicato de
Construções, representando diversas empresas que construíram estradas no
país, em virtude da correção monetária sofrida. O DNER, segundo o Dr.
Gilmar Ferreira Mendes, atuou mal na fase judicial e a AGU teve de intervir.
Há uma tentativa da AGU em unir as Procuradorias com o intuito de
centralizar a atividade judicial. Há no Brasil 180 (cento e oitenta) autarquias
com representações judiciais e, em face desse elevado número, têm-se cons-
tatado problemas na sua representação judicial. A AGU assumiu a parte
jurídica de 93 (noventa e três) das 180 autarquias existentes, para que haja
um controle das causas em que estão envolvidas, em razão de problemas no
quadro de procuradores dessas entidades públicas.
Indagado a respeito da efetividade do pagamento de precatórios pela
União e o motivo de o mesmo não ocorrer nas autarquias, o Advogado-
Geral da União destacou que a justificativa é multicausal. Cabe à AGU ins-
pecionar as autarquias, o que não ocorria antes de seu exercício à frente do
órgão. Além disso, manifestou interesse na unidade dos entes públicos, como
uma alternativa viável para a solução da questão.
Quanto à existência de acordos extrajudiciais, a autoridade entrevis-
tada considerou uma questão aberta, pois, não obstante haver leis que per-
mitem acordos condicionados a valores de até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
reais), não há unanimidade de posicionamento quanto a quem pode autori-
zar o acordo até esse limite. Por outro lado, o acordo pode gerar algum tipo
de fraude, como a quebra na ordem de preferência. Além disso, com a cri-
ação e a implantação dos Juizados Especiais Federais, destacou-se a ne-
cessidade de treinamento de pessoal para que se proceda a acordos dessa
natureza.
A respeito da multiplicidade de Tribunais perante a mesma entidade
devedora, ao ser questionado sobre qual dos órgãos do Poder Judiciário
deveria ser pago em primeiro lugar e o porquê do pagamento não obedecer
ao procedimento adotado pelo Incra, o Dr. Gilmar respondeu que ainda não
se pensou nesse aspecto, pois não há previsão da AGU para a criação de
uma fila única de apresentação dos ofícios requisitórios, como no Incra.
Diante da questão da falta de verba para o pagamento de precatórios,
nas autarquias, a informação que a autoridade possuía era a de que esse
pagamento estava em dia.
Finalmente, considerou que parte dos casos judiciais de pequeno va-
lor será solucionada com a regulamentação do art. 100 da Constituição Fe-
deral, bem como com a criação e a implantação dos Juizados Especiais no
âmbito da Justiça Federal.
ANÁLISE DE DADOS DO TRF-2 a REGIÃO

O presente relatório consubstancia-se nos resultados da pesquisa re-


alizada no banco de dados do Centro de Processamento de Dados – CPD
do Tribunal Regional Federal da 2a Região, sobre o processamento de
precatórios no âmbito daquela Corte, desenvolvida pelo Departamento de
Direito Privado da Universidade Federal Fluminense, com apoio da Divisão
de Informática e Divisão de Precatórios do Tribunal Regional Federal da 2a
Região e do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Fede-
ral1 .
A tramitação do precatório no âmbito da 2a Região está pautada na
Resolução n. 211 do CJF, assim como na Instrução Normativa 21-03, Porta-
rias 319/00 e 409/00, todas da Presidência do TRF-2a. Na Divisão de
Precatórios, o processamento ocorre em duas etapas. A primeira é denomi-
nada Seção de Análise e a segunda, Seção de Processamento e Pagamento.
Ambas podem ser mais bem compreendidas por meio dos seguintes
cronogramas.

__________________________
1 No âmbito do TRF-2 a Região, a execução dos trabalhos ficou por conta dos

servidores Carlos Eduardo G. Martellet e Carlos A. Alves Espanhol, ambos lotados


na Divisão de Informática, e de Luiz Alberto de Almeida e Silva, supervisor da
Divisão de Precatórios. A atuação do técnico judiciário Luiz Carlos dos Santos
Moura, lotado no Gabinete da 2 a Vara Federal de Niterói, foi fundamental para a
conclusão final.
Cronograma - Divisão de Precatórios
Seção de Analise Regimental (1ª Etapa)

Juízo de Origem TRF - DIDRA


(Autuação e distribuição)

Precatórios
Seção de Cálculo
acima de R$
DIPRE Judiciário
10.000,00
Seção de Preparo
e Informação Seção de Análise
(Recebimento e lançamento no Regimental
Sistema) Precatórios
DIPRE
abaixo de R$ Seção de Análise Regimental
10.000,00
•Valor
•Data Coleta de Dados Análise Regimental
•Nat Alimentícia Atualização Constitucional IN 21-03 TRF-2 ª R e g i ã o
(CF/88, art. 100) Resolução n. 211, C J F
•El. Despesa
(UF)
Preterimento
DIPRE na ordem Regular Não-Regular
Petição do
Certifica se houve preterimento cronológica
Requerente
( art. 100, § 2º,
CF/88) Conclusão à
Presidência
Opina pelo indeferimento MPF Opina pelo deferimento Aguarda
envio de
dotação DIPRE
DIPRE orçamentária
DIPRE

Determina que Determina intimação da


Conclusão à Conclusão à entidade para depósito em Juízo de
se aguarde o
Presidência Presidência 24 horas, sob pena de Origem
envio de verba
seqüestro

Legenda: DIPRE: Divisão de Precatórios MPF: Ministério Público Federal


Cronograma - Divisão de Precatórios
Seção de Processamento e Pagamento (2ª Etapa)
1. Conferência dos valores;
SPO
Recebimento de verba
DIOFE DIPRE 2. Abertura de C/C junto à CEF;
Comunica à DIPRE os valores Seção de Proc. e Pagamento 3. Emissão e acostamento da certidão de depósito;
via SIAFI
4. Revisão da análise e dos instrumentos procuratórios.

Precatórios com depósitos Precatórios com depósitos Precatórios com valor


efetuados após 03/07/200 efetuados até 03/07/200 abaixo de R$ 10.000,00

Precatórios com valor Precatórios com valor MPF


abaixo de R$ 10.000,00 acima de R$ 10.000,00 IN 21-03 SECAJU
Precatórios acima de R$ 10.000,00

DIPRE
DIPRE Seção de Cálculo Judiciário Seção de Proc. e Pagamento
Seção de Proc. e Pagamento IN 21-03
sem irregularidades com irregularidades
- Emite alvará

conclusão à Presidência
com sem Juízo de Origem SAJ
irregularidades irregularidades para assinatura dos alvarás
para pagamento e
arquivamento Aguarda o cumprimento na
GAB. PRESIDÊNCIA DIPRE
para assinatura dos alvarás

1. Entrega dos alvarás;


2. Aguarda devolução dos alvarás autenticados
Aguarda o DIPRE pela CEF para que sejam acostados aos autos;
Conclusão à Presidência cumprimento 3. Emite ofício para juízo da Execução
na DIPRE comunicando levantamento e arquivamento.
SEÇÃO DE ARQUIVO

Legenda:
CEF: Caixa Econômica Federal – DIOFE: Divisão de Orçamento e Finanças – DIPRE: Divisão de Precatórios – SAJ: Secretaria de Atividade Judiciária
SPO: Secretaria de Plan. Orçam. e Finanças – SECAJU: Seção de apoio de Cálculo Judiciário – SIAFI: Sist. Integrado de Adm. Financeira
Essa etapa da pesquisa, destinada à verificação e à análise do
processamento dos precatórios pela Presidência do TRF-2a, em especial aos
incidentes ocasionados pelo seu descumprimento, num contexto recente, traz
informações que servirão como subsídio prático para o conhecimento das
razões desse descumprimento, além de permitir uma visão global da questão
na 2a Região.
Assim, buscou-se, igualmente: verificar a evolução das requisições de
precatórios desde a criação do TRF-2a, em 1989, incluindo todas as enti-
dades públicas devedoras; identificar as fases processuais desses precatórios;
e averiguar, ainda, a diferença entre os valores requisitados e os pagos.
A pesquisa abrange o período de 1989 a 1999. A atualidade das in-
formações coletadas propicia uma visão crítica do contexto recente, na bus-
ca de soluções adequadas. A limitação ao ano de 1999 decorre do fato de
que o prazo para pagamento dos precatórios requisitados no ano anterior é
sempre no mês de dezembro do ano seguinte.
A pesquisa teve início em abril/2000 com a busca na base de dados do
TRF-2a; todas as informações levantadas têm por parâmetro o mês de setem-
bro de 2000. Para o levantamento dos dados foi necessário que a Divisão de
Informática do TRF-2a desenvolvesse um programa específico. Durante o
período da pesquisa a equipe reuniu-se por três vezes para discussão.
Na coleta de dados utilizou-se uma planilha na qual foram enumera-
dos os critérios de análise selecionados para a pesquisa: precatórios distri-
buídos – evolução ano a ano, entidade por entidade; precatórios em
tramitação ano a ano, entidade por entidade – propostos, arquivados, em
diligência, liqüidados e pendentes; precatórios em tramitação no ano de 1999,
entidade por entidade – aguardando verba; e valor requisitado e pago dos
precatórios, entre 1995 e 1999, entidade por entidade.
Dessa forma, foi feito levantamento dos dados por meio do cômpu-
to da incidência dos quesitos na totalidade pesquisada, o que resultou num
estudo estatístico dos variados aspectos enfatizados pela pesquisa, cujas
informações converteram-se em gráficos, para melhor compreensão.
No entanto, o desenvolvimento da pesquisa mostrou-nos algumas li-
mitações referentes ao preenchimento das planilhas. Somente a partir do
ano de 1995 foi possível o levantamento de valores, uma vez que a moeda
anterior ao Real, não-indexada, trazia distorções na conversão para valores
atuais. Além disso, foi somente a partir do ano de 1999 que se criou um
“campo” para registro das “fases processuais” relativas aos precatórios
“aguardando pagamento”, “com valores depositados, sem liquidação”, e “com
vista ao MPF”. A limitação da consulta acabou reduzindo, nesses casos, o
período da pesquisa.
Precatórios distribuídos no período de 1989 a 1999

A expressão “proposta” foi concebida como o ano para pagamento dos


precatórios requisitados até 1o de julho do ano anterior. Dessa maneira, a
título de exemplo, o precatório distribuído no mês de agosto de 1990 é
contabilizado na proposta do ano de 1992. A “explosão” dos precatórios
propostos a partir de 1999 foi provocada pela elevação dos precatórios ex-
pedidos contra o INSS, que não mais aceitou o pagamento de dívidas judici-
ais pelo mecanismo do art. 128 da Lei n. 8.213/91. No tocante às demais
entidade devedoras, manteve-se uma evolução gradual.
Enquanto não obrigado o INSS ao regime do precatório para paga-
mento de valores de benefícios (art. 128 da Lei n. 8.213), a União era a
maior devedora de precatórios. Por isso, no total geral, a tendência foi o
INSS dever, em quantidade, ao menos o dobro de precatórios do que a
União. No ano de 1999, dos precatórios em tramitação, 44% eram contra a
União e 51% contra o INSS. Com o advento da Emenda Constitucional n.
30/00, que permite o pagamento de crédito de pequeno valor sem precatório,
provavelmente voltaremos aos dados de 1998.
O Incra e o DNER, as outras principais devedoras autárquicas fede-
rais, ocupam no quadro geral uma posição quase insignificante. Do total dos
precatórios distribuídos, 1% é da responsabilidade do Incra e 3% são do
DNER. As demais entidades públicas, classificadas como “outras”, com o
percentual de 2%, compreendem as entidades estaduais e municipais (esta-
tais e autárquicas), assim como as restantes autarquias federais.
PRECATÓRIOS DISTRIBUÍDOS
EVOLUÇÃO POR ANO DA PROPOSTA

PROPOSTA QUANTIDADE DE
PROCESSOS
1990 332
1991 727
1992 595
1993 502
1994 395
1995 392
1996 540
1997 1.259
1998 2.398
1999 6.346

7000
34
6.

6000

5000

4000
8
39

3000
2.

2000
95
1.2
7

0
72

1000
59

54
50

2
39
2

39
33

0
19 90

19 91

19 92

19 93

19 94

19 95

19 96

19 97

19 98

19 99
PRECATÓRIOS DISTRIBUÍDOS (POR ÓRGÃO) E POR ANO
DAS PROPOSTAS

OUTRAS TOTAL
PERÍODO UNIÃO INSS INCRA DNER
ENTIDADES GERAL
1990 1.257 01.13 14 141 117 332
1991 1.523 10.36 14 110 154 727
1992 1.507 10.10 13 145 130 595
1993 1.409 10.17 13 144 129 502
1994 1.317 10.40 12 129 118 395
1995 1.305 10.41 14 134 118 392
1996 1.364 1.106 12 143 125 1.540
1997 1.762 1.397 13 160 137 11.259
1998 1.484 1.786 15 180 143 12.398
1999 1.989 4.181 13 110 163 16.346
1990/1999 6.917 5.627 33 596 314 13.486

No PROCESSOS

4500
4000
1990
3500 1991
3000 1992
total

2500 proposto: 1993


6.917

1994
2000
1995
1500 total total total
total 1996
proposto: proposto: proposto:
5.627 33 596 proposto:
1000 314 1997
1998
500
1999
0
UNIÃO
INCRA
INSS

DNER

OUTRAS
PRECATÓRIOS DISTRIBUÍDOS EM FUNÇÃO DA ENTIDADE
(VISÃO GERAL DE 1990 A 1999)

UNIÃO
52% INSS
41,72%

INCRA
OUTRAS
DNER 0,24%
2,33%
4,42%

Total proposto: 13.486


Fase dos precatórios requisitados entre 1989 e 1999

A situação “em diligência” significa ter havido um incidente no


processamento do precatório, o qual deve ser decidido pelo juiz de 1o grau
que estiver conduzindo a execução. Por exemplo, um precatório instruído
insuficientemente ou a impugnação de valores são sanados pelo juiz da exe-
cução e não pela Presidência, que detém função meramente administrativa.
A “baixa” e o “arquivamento” demonstram que o precatório não está
mais em processamento. Aqui “baixa” e “arquivo” não correspondem ne-
cessariamente a “pagamento”, que está representado pela expressão
“precatório liqüidado”.
A fase “pendente” pode decorrer: da falta de depósito pela entidade de-
vedora; de estarem os autos em poder das partes ou do MPF; ou ainda, embora
com depósito, sem ter sido autorizado o levantamento, excluída a hipótese de
“diligência”. A falta de depósito pela entidade devedora pode, por sua vez,
dever-se à falta de verba ou simplesmente por omissão. Somente a partir de
1997 é que foi possível iniciar o detalhamento do campo “pendente”. Como
consta do capítulo seguinte, no ano de 1999, “pendente” passou a ser o “precatório
não pago por omissão do devedor”.
Assim, do total dos precatórios requisitados para pagamento até de-
zembro de 1999, 75% foram pagos e quitados, 3% encontram-se em dili-
gência na 1a instância, 2% foram arquivados e 20% ainda estão pendentes
de pagamento por motivos diversos, aí incluída a falta de pagamento ou
entraves procedimentais.
Os precatórios devidos pelo INSS encontram-se nas seguintes fases:
59,93% pagos, 5% em diligência, 35% pendentes e 0,07% arquivados. Já a
União apresenta a seguinte situação: 89% pagos, 1% em diligência, 2% pen-
dentes e 8% arquivados. O DNER aponta um quadro mais simples, em vir-
tude do reduzido número de precatórios: 59% pagos, 2% em diligência,
29% pendentes e 10% arquivados.
Acompanhado a evolução do DNER, o Incra mostrou os seguintes
dados: 82% pagos, 3% em diligência, 12% pendentes e 3% arquivados. Os
demais órgãos, agrupados em um único item, demonstraram os seguintes
números: 94,65% pagos, 3,85% pendentes e 1,13% arquivados, havendo
0,37% processos em diligência.

TABELAS DOS VALORES LEVANTADOS POR ANO DE PRO-


POSTA

Proposta 1990 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 025 08 0 19 03 055
Diligência 001 01 0 01 00 003
Liquidado Total 229 04 4 21 14 272
Pendente 002 00 0 00 00 002
Total da Proposta 257 13 4 41 17 332

Proposta 1991 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 039 16 1 030 09 095
Diligência 001 01 0 003 00 005
Liquidado Total 478 18 3 075 42 616
Pendente 005 01 0 002 03 011
Total da Proposta 523 36 4 110 54 727
Proposta 1992 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total
Baixado/arquivado 0025 03 0 05 02 035
Diligência 002 00 0 00 00 002
Liquidado Total 477 07 3 40 27 554
Pendente 003 00 0 00 01 004
Total da Proposta 507 10 3 45 31 595

Proposta 1993 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 016 05 0 03 03 027
Diligência 002 01 0 00 01 004
Liquidado Total 389 11 3 41 23 467
Pendente 002 00 0 00 02 004
Total da Proposta 409 25 3 44 29 501

Proposta 1994 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 001 01 0 00 2 004
Diligência 004 01 0 00 0 005
Liquidado Total 309 38 2 29 5 383
Pendente 003 00 0 00 0 003
Total da Proposta 317 40 2 29 7 395

Proposta 1995 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 001 02 0 00 0 003
Diligência 005 01 0 00 0 006
Liquidado Total 296 35 4 34 7 376
Pendente 003 03 0 00 1 007
Total da Proposta 305 41 4 34 8 392

Proposta 1996 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 003 001 0 2 01 007
Diligência 005 002 0 01 00 008
Liquidado Total 351 095 2 39 21 508
Pendente 005 008 0 01 03 017
Total da Proposta 364 106 2 43 25 540
Proposta 1997 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total
Baixado/arquivado 003 000 0 00 02 000.5
Diligência 004 025 0 00 01 00.30
Liquidado Total 737 337 3 60 17 1.154
Pendente 017 034 0 00 17 00.68
Vista MPF 001 001 0 00 00 000.2
Total da Proposta 762 397 3 60 37 1.259

Proposta 1998 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Baixado/arquivado 0.015 004 0 00 01 00.20
Diligência 0.010 039 0 05 01 00.55
Liquidado Total 1.418 614 2 04 24 2.062
Pendente 0.041 123 3 67 17 0.251
Vista MPF 00.00 006 0 04 00 00.10
Total da Proposta 1.484 786 5 80 43 2.398

Proposta 1999 UNIÃO INSS INCRA DNER OUTRAS Total


Aguardando Verba 0.138 0.687 1 040 16 0.882
Baixado/arquivado 00.15 000.8 0 000 01 00.24
Diligência 00.27 0.215 1 004 05 0.252
Liquidado Total 1.483 2.187 1 007 20 3.698
Pendente 00.70 0.801 0 054 20 0.945
Depositado 0.251 0.152 0 000 00 0.403
Vista MPF 000.5 0.131 0 005 01 0.142
Total da Proposta 1.989 4.181 3 110 63 6.346

Total de precatórios:
13.486
PROPOSTA 1990 a 1999

Proposta
INSS INCRA DNER UNIÃO OUTRAS Total
1990 a 1999
Baixado/arquivado 000.4 01 059 0.143 00. 24 00.275
Diligência 0.286 01 014 00.61 000.8 00.370
Liquidado Total 3.346 27 350 6.167 2.000 10.090
Pendente 1.947 04 173 0.546 00. 81 02.751
Total da Proposta 5.583 33 596 6.917 2.113 13.486

PROPOSTAS DE 1990 A 1999 POR ENTIDADE

7000
total
total
proposto: proposto: 6000
5.583 6.917
5000
3.346

total
proposto: 4000
2.113
1.947

total total
3000

2.000
proposto: proposto:
33 596
2000
350

546
286

173

143

1000
24
59
14

61
27

81
4

4
1

8
1

0
INSS INCRA DNER UNIÃO OUTRAS

Baixado/arquivado Diligência Liquidado Total Pendente

PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999


liquidado total
75%

pendente
20%

baixado/
diligência
arquivado
3% 2%
UNIÃO
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999

liquidado total
89%

pendente
diligência 2%
1% baixado/
arquivado
8%

INSS
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999

pendente
liquidado total
35%
59,93%

baixado/
arquivado
diligência 0,07%
5%
INCRA
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999

liquidado total
82%

pendente
12%

diligência baixado/
3% arquivado
3%

DNER
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999

liquidado total
59%

pendente
29%

baixado/
diligência
arquivado
2%
10%
OUTROS
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA 1990 A 1999

liquidado total
94,65%

diligência pendente
0,37% 3,85%
baixado/
arquivado
1,13%
Fase dos precatórios propostos para o ano de 1999

Na proposta para o ano de 1999, em relação aos precatórios requi-


sitados até 1o de julho de 1998, foi possível constatar que até setembro
de 2000 14% do total está aguardando pagamento por parte da entidade
devedora, muito embora a maior parte (59%) esteja paga ou liquidada
totalmente. Os 15% de pendência significam que parte dos precatórios
está em tramitação no TRF. Foi ainda verificado que 6% dos precatórios
estão com valores depositados, porém não liberados, por questões diver-
sas, 4% estão em diligência e 2% de precatórios estão em poder do MPF
para análise.
Dos precatórios expedidos contra o INSS, 53% foram pagos inte-
gralmente, 5% em diligência, 19% pendentes, 4% depositados, 3% vista
MPF e 16% aguardando verba.
A União, em segundo lugar na quantidade de precatórios requisita-
dos, perfazendo um terço do total, possui 27% de precatórios totalmente
liquidados, 4% em diligência, 10% pendentes, 36% depositados, 1% com
vista ao MPF, 20% aguardando verba e 2% de baixados e arquivados.
O total da demais entidades, aí incluídos o DNER e o Incra, chega a
um valor mínimo se comparado ao do INSS e ao da União Federal, não
chegando a 2% do total de precatórios distribuídos em 1999.
PROPOSTA 1999

Proposta 1999 INSS INCRA DNER UNIÃO OUTRAS Total


Aguardando Verba 0.687 1 040 0.138 16 0.882
Baixado/arquivado 000.8 0 000 00.15 01 00.24
Diligência 0.215 1 004 00.27 05 0.252
Liquidado Total 2.187 1 007 1.483 20 3.698
Pendente 0.801 0 054 00.70 20 0.945
Depositado 0.152 0 000 0.251 00 0.403
Vista MPF 0.131 0 005 000.5 01 0.142
Total da Proposta 4.181 3 110 1.989 63 6.346

ENTIDADE E SITUAÇÃO

2500 7
18
2.

2000 total
3
proposto:
48
4.181 1.
1500 total
proposto:
1.989

1000 80
1
total total total
7
68 proposto: proposto: proposto:
3 110 63
500 5 1
21 1 52 8 25
13 1 40
4 13 0
15

1 1 00 0 4 75 0 5 27
7 5 0
1 6 5 2 20 0 1
8

1
0

0
1

INSS INCRA DNER UNIÃO OUTRAS

Aguardando Verba Baixado/arquivado Diligência Liquidado Total


Pendente Depositado Vista MPF
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999

liquidado total
59%

diligência
4%

baixado/
arquivado
0%
aguardando pendente
verba 15%
14% vista MPF depositado
2% 6%

INSS
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999

liquidado total
diligência 53%
5%

baixado/
arquivado
0%

aguardando pendente
verba 19%
16%
vista MPF depositado
3% 4%
INCRA
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999
baixado/
arquivado diligência
0% 33%

aguardando
verba
34%

liquidado total
vista MPF 33%
0%
pendente depositado
0% 0%

DNER
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999
baixado/
arquivado diligência
4% liquidado total
0%
6%

aguardando
verba
36% pendente
49%

vista MPF
5% depositado
0%
UNIÃO
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999
liquidado total
diligência 27%
4%
pendente
baixado/ 10%
arquivado
2%

aguardando
verba depositado
20% 36%

vista MPF
1%

OUTROS
PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA NO ANO 1999
diligência
liquidado total
baixado/ 8%
31%
arquivado
2%

aguardando
verba
25%

vista MPF pendente


2% 32%
depositado
0%
Valores requisitados e pagos entre 1995 e 1999

Foram observados os valores dos precatórios requisitados (distribuí-


dos) e os efetivamente pagos, no período de 1995 a 1999. Como já regis-
trado, os valores anteriores a 1995 estavam em diversas moedas, as quais,
convertidas para o Real, tendiam a zero, sendo os valores de difícil compa-
ração.
Do total requisitado (R$ 699.351.794,06), somente 30% foram total-
mente liquidados, o que em termos percentuais correspondeu a 47,28% do
valor devido. A diferença entre o valor requisitado e o valor efetivamente
pago apresentou um grande aumento de 1995 para 1996 e manteve-se rela-
tivamente estável nos anos de 1996 e 1998. No ano de 1999 essa diferença
cresceu sobremaneira. Dos 6.346 processos incluídos na proposta de 1999,
somente 3.698 foram totalmente liquidados, o que significa dizer que, do
total aproximado de 423 milhões de reais, somente 207 milhões foram pa-
gos.
Tomando-se o período de 1995 a 1999, pode ser constatado que o
INSS deixou de pagar 58 milhões de reais, a União ficou com uma dívida de
80 milhões, o Incra com 19 milhões, o DNER com 10 milhões e os demais
entes com 199 milhões, tendo pagado neste último caso somente 11,11% do
valor total incluído nas propostas analisadas.
VALOR DOS PRECATÓRIOS PAGOS E DOS REQUISITADOS
EVOLUÇÃO POR ANO DA PROPOSTA

ANOS Valor requisitado (R$) Valor pago (R$) Diferença (R$) % paga

1995 022.767.742,23 021.249.550,59 001.518.191,64 93,33


1996 039.300.773,01 028.009.674,50 011.291.098,51 71,27
1997 057.800.575,57 035.254.212,33 022.546.363,24 60,99
1998 155.576.101,13 111.274.561,46 044.301.539,67 71,52
1999 423.906.602,12 134.854.692,23 289.051.909,89 31,81
TOTAL 699.351.794,06 330.642.691,11 368.709.102,95 47,28

Obs.: Foram apurados os valores somente a partir de 1995, quando a moeda passou
a ser o Real.

em milhões
423.906,00

de Reais

450.000

400.000

350.000
155.576,00

111.274,00

300.000
134.854,00

250.000
57.800,00
39.300,00

35.254,00
28.009,00

200.000
21.249,00
22.767

150.000

100.000

50.000

-
1995

1996

1997

1998

1999

anos
PRECATÓRIOS REQUISITADOS E PAGOS
(ÓRGÃO E ANO DAS PROPOSTAS)

VALOR REQUISITADO
INSS+INCRA+
OUTROS
PERÍODO INSS INCRA DNER UNIÃO DNER + TOTAL
UNIÃO ENTES

1995 665.472,38 296.582,30 1.055.246,56 18.937.821,84 20.955.123,08 1.812.619,15 22.767.742,23

1996 10.514.519,27 1.014.935,58 2.001.099,13 24.065.681,75 37.596.235,73 1.704.537,28 39.300.773,01

1997 15.219.155,32 2.741.392,62 4.809.653,56 32.958.038,33 55.728.239,83 2.072.335,74 57.800.575,57

1998 19.543.868,85 17.119.914,63 4.485.880,39 98.263.008,60 139.412.672,47 16.163.428,66 155.576.101,13

1999 42.881.639 ,23 47.890,48 5.431.183,83 173.236.012,51 221.596.726,05 202.309.876,07 423.906.602,12

1995/1999 88.824.655,05 21.220.715,61 17.783.063,47 347.460.563,03 475.288.997,16 224.062.796,90 699.351.794,06

VALOR PAGO
INSS+INCRA+
OUTROS
PERÍODO INSS INCRA DNER UNIÃO DNER +
ENTES
TOTAL
UNIÃO
1995 631.797,77 292.090,89 1.040.359,81 18.822.245,23 20.786.493,70 463.056,89 21.249.550,59

1996 1.636.999,09 1.014.935,58 1.868.727,66 21.325.150,76 25.845.813,09 2.163.861,41 28.009.674,50

1997 5.375.441,78 0,00 3.922.512,64 25.909.931,86 35.207.886,28 46.326,05 35.254.212,33

1998 7.324.515,37 24.306,24 99.056,87 91.624.390,89 99.072.269,37 12.202.292,09 111.274.561,46

1999 15.721.319,65 5.777,23 22.708,73 109.094.314,46 124.844.120,07 10.010.572,16 134.854.692,23

1995/1999 30.690.073,66 1.337.109,94 6.953.365,71 266.776.033,20 305.756.582,51 24.886.108,6 0 330.642.691,11

DIFERENÇA ENTRE O VALOR REQUISITADO E O PAGO


INSS+INCRA+
OUTROS
PERÍODO INSS INCRA DNER UNIÃO DNER +
ENTES
TOTAL
UNIÃO
1995 33.674,61 4.491,41 14.886,75 115.576,61 168.629,38 1.349.562,26 1.518.191,64

1996 8.877.520,18 0,00 132.371,47 2.740.530,99 11.750.422,64 -459.324,13 11.291.098,51

1997 9.843.713,54 2.741.392,62 887.140,92 7.048.106,47 20.520.353,55 2.026.009,69 22.546.363,24

1998 12.219.353,48 17.095.608,39 4.386.823,52 6.638.617,71 40.340.403,10 3.961.136,57 44.301.539,67

1999 27.160.319,58 42.113,25 5.408.475,10 64.141.698,05 96.752.605,98 192.299.303,91 289.051.909,89

1995/1999 58.134.581,39 19.883.605,67 10.829.697,76 80.684.529,83 169.532.414,65 199.176.688,30 368.709.102,95

PERCENTUAL PAGO
INSS+INCRA+ OUTROS
PERÍODO INSS INCRA DNER UNIÃO DNER + TOTAL
ENTES
UNIÃO
1995 94,94% 98,49% 98,59% 99,39% 99,20% 25,55% 93,33%

1996 15,57% 100,00% 93,39% 88,61% 68,75% 126,95% 71,27%

1997 35,32% 0,00% 81,55% 78,61% 63,18% 2,24% 60,99%

1998 37,48% 0,14% 2,21% 93,24% 71,06% 75,49% 71,52%

1999 36,66% 12,06% 0,42% 62,97% 56,34% 4,95% 31,81%

1995/1999 34,55% 6,30% 39,10% 76,78% 64,33% 11,11% 47,28%


ANÁLISE DE DADOS NA DOUTRINA

Visão interna do Poder Judiciário

Para analisar a visão interna do Poder Judiciário a respeito do assunto


precatório, foram utilizados artigos de jornais assinados por magistrados,
advogados e juristas2 , bem como os relatórios apresentados pelos exposi-
tores, brasileiros e estrangeiros, no Seminário “Precatórios na Justiça Fede-
ral”3 e no Curso “Execução contra a Fazenda Pública”4 .
A execução de sentenças contra a Administração Pública foi apon-
tada pelo Min. José Delgado como uma regra sem paralelos no direito
comparado (palestra “Precatório judicial e evolução histórica”, apresen-
tada no Curso “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF). Aliás,
em certos países como a Alemanha, lembra o Prof. Sommermann (pales-
tra “Execução forçada contra a Fazenda Pública no direito alemão”, Cur-
so “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF), o tema nem sequer é
considerado relevante, dada a cultura dominante no seio da Administração
Pública de que toda decisão judicial deve ser respeitada.
__________________________
2 No período de janeiro de 1998 a abril de 2000.

3 Coordenado pelo Departamento de Direito Privado e realizado pela Escola da Ma-

gistratura Regional Federal, em Niterói, no mês de abril de 2000.


4 Coordenado pelo Departamento de Direito Privado da UFF e realizado pelo CEJ-CJF,

em Brasília, no mês de novembro de 2000.


Em grande parte dos artigos, os autores concordam que o atraso e o
não-pagamento das dívidas decorrentes de decisões judiciais agravam o
desgaste do Poder Judiciário perante a sociedade. Essa é a opinião da Juíza
Federal Simone Schreiber, Vice-Presidente da Associação dos Juízes Fe-
derais do Brasil (Ajufe) na 2a Região, que, em matéria veiculada pelo Jornal
do Commercio – RJ , Fórmulas para apressar o pagamento via
precatório, do dia 20/4/2000, afirmou que o fato [o atraso ou o não-
pagamento de precatórios] causa agravante no desgaste do Poder Ju-
diciário frente à sociedade, que passa a questionar a legitimidade da
prestação jurisdicional. Outro, aliás, não é o escólio do Juiz Arnaldo Lima,
Vice-Presidente do TRF da 2a Região, que, em artigo publicado no caderno
Direito & Justiça, do Correio Braziliense, Precatório, do dia 14/6/1999,
diz que a demora para pagar [precatórios], ainda que legal e, no caso
constitucional, além de constituir-se em relevante fator de desprestígio
para o Judiciário perante a opinião pública, pois a idéia, em geral, é
que é esse Poder o responsável pela situação, constitui-se em marcante
injustiça.
Ademais, o descumprimento da decisão judicial que determina o pa-
gamento de precatório, além de caracterizar ofensa à Constituição, põe em
risco a igualdade dos Poderes da República, pois coloca o Poder Judiciário
em situação de inferioridade perante os demais Poderes, quando suas deci-
sões são desrespeitadas. Assim defende o advogado Benedicto Barros, em
artigo publicado pelo Jornal do Commercio – RJ: Poderes constitucio-
nais: serão iguais?, do dia 3/3/2000, ao destacar que excluindo do man-
do judiciário o cumprimento dos precatórios, marca esse fato a inferio-
ridade do Poder Judiciário, cuja determinação de pagamento quando
não cumprida essa decisão, demonstra uma ofensa à própria Constitui-
ção. E acrescenta que o Poder Judiciário é constitucionalmente igual ao
Legislativo e ao Executivo, e suas determinações não podem ser des-
respeitadas. A verdade é que a indiferença ou o silêncio aos seus
ordenamentos vai ocasionando um abatimento na igualdade, que vigo-
ra entre os demais, sabendo-se que todos eles são objetos da vontade
do povo.
Na mesma linha de pensamento, Marcelo Lima Guerra registra que a
conduta generalizada do descumprimento às ordens judiciais pela Ad-
ministração Pública traduz-se numa das mais graves rupturas do regi-
me constitucional, por violar os dois pilares do Estado Democrático de
Direito, a independência e harmonia dos Poderes constituídos e a pro-
teção dos direitos e garantias fundamentais, aí incluído o princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional (palestra “Contempt of court
e Fazenda Pública”, Curso “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/
CJF).
A lei prevê três possibilidades de punição aos administradores que
não obedecem às ordens judiciais, nesse contexto dos precatórios: 1a) a
possibilidade de seqüestro de bens do ente público, a pedido do credor, em
casos de quebra na ordem cronológica; 2a) a intervenção da União nos Es-
tados e destes nos Municípios; e 3a) a responsabilidade do Chefe do Execu-
tivo por crime de responsabilidade. Entretanto, tais institutos não apresen-
tam muita credibilidade para os juristas. Em linhas gerais, essa é a posição
do Juiz Dárcio Guimarães de Andrade, do TRT da 3a Região, em artigo
publicado pelo caderno Direito & Justiça, do Correio Braziliense, “Execu-
ção contra o Poder Público”, do dia 10/11/1999.
A possibilidade da sanção penal também incidir sobre o servidor pú-
blico de baixo escalão, responsável pelo cumprimento de ordens judiciais
tais como medidas liminares, tem sido admitida pela doutrina. Na opinião do
Min. Félix Fischer, do STJ, a hipótese encerra crime de desobediência. En-
tender diferentemente seria tornar a decisão judicial destituída de
imperatividade, um simples palpite ou conselho, complementa aquele magis-
trado (palestra “Responsabilidade penal dos administradores públicos no
descumprimento às ordens judiciais”, Curso “Execução contra a Fazenda
Pública”, UFF/CJF).
Com o objetivo de tornar eficaz o comando judicial, o Juiz Geraldo
Apoliano, Presidente do Tribunal Regional Federal da 5a Região, defende
que a sanção a ser aplicada ao servidor responsável pelo descumprimento
deveria ser capaz de impor o seu imediato afastamento da função pública
(palestra “Execução contra a Fazenda Pública e casos concretos na Justiça
Federal”, Curso “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF). Já o
Professor Marcelo Guerra chega a admitir, em face do servidor, uma sanção
pecuniária inclusive (palestra citada).
As causas do descumprimento pela Administração Pública, elencadas
pelo Prof. Pedro Aberastury, são as seguintes: burocracia ou ineficiência
estatal; contínuo déficit orçamentário; e falta de respeito às instituições jurí-
dicas (palestra “Ejecucion judicial de sentencias contra el Estado”, Curso
“Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF).
Uma questão bastante polêmica, que foi amplamente divulgada pela
imprensa, especialmente em virtude do argumento do governo federal de
que se trata de uma possível solução para a questão do não-pagamento de
precatórios, refere-se à Emenda Constitucional n. 30, que disciplina o paga-
mento de precatórios judiciais não-alimentícios, prevendo o parcelamento,
em até dez anos, dos débitos resultantes de processos instaurados até 31 de
dezembro de 1999. As teses governistas de que tal providência justificou-se
em razão da falta de orçamento para que a União, os Estados e os Municí-
pios quitem as suas dívidas e de que se trata da única maneira de permitir
que o Poder Público pague efetivamente essas dívidas não convenceram o
meio jurídico.
A OAB pensa diferente e, no entendimento de seu Presidente,
Reginaldo de Castro, o parcelamento representa a oficialização do ca-
lote, consoante se depreende da análise do Jornal da OAB, ano XI, n.
83, Decisão inaceitável, de maio/2000. A ilegalidade da então Proposta
de Emenda Constitucional, nesse caso, foi ainda defendida por outros ju-
ristas. Para o Juiz Federal Renato Martins Prates, em artigo publicado no
Estado de Minas, Privilégio escandaloso, de 25/2/2000, trata-se de
um privilégio inadmissível e escandaloso em um Estado de Direito,
que tem por pressuposto a responsabilidade patrimonial do Poder Pú-
blico por seus atos. Em sua análise, em nome das finanças públicas,
sacrificam-se os direitos individuais já consagrados pelo Poder Judi-
ciário.
A comunidade jurídica não é uníssona quanto às possibilidades de
resolução do não-cumprimento das decisões judiciais pelos entes públi-
cos, na questão dos precatórios. Diversas soluções são defendidas pelo
meio jurídico, apresentando, todavia, uma única vertente: a satisfação da
quantia devida pela Fazenda Pública aos cidadãos credores.
Nesse contexto, uma das alternativas apontadas pelos juristas é a pe-
nhora de bens da Fazenda Pública. Para a OAB, consoante se conclui da
análise da notícia veiculada pelo Jornal do Commercio – RJ, Penhora nos
precatórios não-pagos, do dia 4/9/1999, a penhora de bens, caso os
precatórios não sejam pagos em 30 dias contados da determinação ju-
dicial, é uma alternativa para garantir o pagamento da dívida pela
Fazenda Pública. Tal proposta valeria para os créditos de natureza alimen-
tícia, decorrentes de salários, vencimentos, subsídios, proventos, pensões e
suas complementações, benefícios previdenciários e acidentários, além das
indenizações por morte ou invalidez fundadas na responsabilidade civil.
A tese da penhora dos bens dominiais chegou a ser apresentada pelo
Instituto Brasileiro de Direito Processual, na ocasião presidido pela Profa.
Ada Pellegrini Grinover, ao Congresso Nacional quando da reforma do Po-
der Judiciário e do art. 100 da Constituição, como lembrado pelo Prof.
Petrônio Calmon Filho (palestra “Propostas do IBDP sobre o art. 100 da
CF”, Curso “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF). De toda sor-
te, registra Gérman Farreres, a matéria merece amadurecimento e, uma vez
introduzida no ordenamento brasileiro, deve ser mediante cautelas pela pos-
sibilidade do seu uso indiscriminado (palestra “Posição da Suprema Corte
sobre a penhora dos bens dominiais do direito espanhol”, Curso “Execução
contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF).
Por outro lado, alguns juristas defendem a indexação do valor a ser
pago via precatório até o dia de seu pagamento, evitando a desvalori-
zação do crédito e a infindável expedição de precatórios complementa-
res, providência defendida pela Juíza Federal Simone Schreiber, Vice-Pre-
sidente da Ajufe da 2a Região (Seminário sobre Precatórios na Justiça Fe-
deral, UFF, EMARF e CJF), notícia veiculada pelo Habeas Data 2a Re-
gião: Seminário discute soluções para precatórios.
Outra alternativa verificada no meio jurídico é a criação e a implanta-
ção dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal. Para o Procura-
dor-Chefe da União, José Carlos Sampaio Fernandes, em notícia veiculada
pelo Jornal do Commercio – RJ, Fórmulas para apressar o pagamento
via precatório, do dia 20/4/2000, a regulamentação dos Juizados Espe-
ciais Federais seria um caminho para solucionar o pagamento ágil dos
pequenos valores oriundos das decisões judiciais.
Além disso, inobstante as discussões que a cercam, há a sugestão,
entre outros juristas, de que o credor possa utilizar o precatório para saldar
débitos tributários que possui perante a Fazenda Pública. Nesse particular,
os advogados têm defendido essa tese, como, por exemplo, o Dr. Nelson
Luiz de Miranda Ramos, que, em artigo publicado no caderno Direito &
Justiça, do Correio Braziliense, O que fazer com o precatório, do dia 3/5/
1999, sustenta que pode servir [o precatório] para o pagamento de dívi-
das tributárias? Para adquirir ações de empresas públicas privatizadas?
Para garantir o juízo em execução fiscal? Para pagar dívida junto a
bancos oficiais? A resposta é positiva em todas essas hipóteses. É ver-
dade que existe entendimento em nossos tribunais de que a compensa-
ção de dívidas com o Estado pressupõe a existência de lei [complemen-
tar] que autorize.
Finalmente, há uma corrente no meio jurídico que sugere a extinção
do precatório. Nela localizamos o Desembargador Federal Alberto No-
gueira, para quem, conforme se conclui da análise da notícia publicada no
Habeas Data 2a Região, Seminário discute soluções para precatórios,
do dia 3/5/2000, o precatório é uma patologia que deve ser expurgada
do sistema. A mesma posição defende o advogado e Conselheiro Federal
Paulo Lopo Saraiva (OAB/RN), para quem o sistema de quitação dos
débitos judiciais, por meio de precatórios, só existe no Brasil e constitui
uma farsa, um embuste constitucional, dentre os muitos embustes exis-
tentes no universo jurídico brasileiro, consoante se apura da análise do
Jornal da OAB, ano XI, n. 82, Precatórios, de abril/2000.
A uniformização, pelo Conselho da Justiça Federal, dos procedimen-
tos quanto ao processamento dos precatórios no âmbito da Justiça Federal,
notadamente sobre a Emenda Constitucional n. 30, foi apontada como salu-
tar pelo Juiz Fábio Bittencourt, Presidente do Tribunal Regional Federal da
4a Região (palestra “Regulamentação interna dos precatórios no âmbito da
Justiça Federal”, Curso “Execução contra a Fazenda Pública”, UFF/CJF).
Proposta dos Juízes Federais

No mês de novembro de 2000, no CEJ-CJF, foi realizado o Curso de


Extensão “Execução contra a Fazenda Pública”, sob a coordenação do
Departamento de Direito Privado da UFF, destinado a quatro pós-gradua-
dos em Direito na UFF5 e quarenta juízes federais , de 1a e 2a instâncias, das
cinco regiões6 . Como um dos seus objetivos, o evento buscou a troca de
experiências e a formulação de enunciados e propostas legislativas.
Após as exposições de juristas brasileiros e estrangeiros, e ainda de
magistrados de cortes superiores, os participantes do curso reuniram-se em
workshop para discussão dos seguintes temas: uniformização do
processamento dos precatórios pelos Tribunais Regionais Federais; paga-
mento sem precatório – tutela de urgência e créditos de pequeno valor –
aspectos de lege lata e lege ferenda; Emenda Constitucional n. 30; or-
dem de preferência diante da multiplicidade dos tribunais perante o mes-
mo devedor.
Inicialmente foram compostos quatro grupos nos quais os participan-

__________________________
5 Gilza Maria Rocha; Aluísio Rodrigues; Rosana dos Santos Alvarenga; Luciene Muniz

de Castro S. Brum.
6 Alcides Martins Ribeiro Filho – SJ/RJ; Anselmo Gonçalves da Silva – TRF-1 a ; Cristina

Maria Garcez – SJ/PB; Itagiba Catta Preta Neto – SJ/BA; Joel Ilan Paciornik – SJ/PR;
Luiz Fernando Crespo Cavalheiro – SJ/RS; Mairan Gonçalves Maia Junior – SJ/SP;
Marcos Augusto de Sousa – SJ/DF; Ricardo César Mandarino – SJ/SE; Vânia Hack
de Almeira – SJ/RS; Tânia Heine – TRF-2a ; Alexandre Gonçalves Lippel – SJ/RS;
Aroldo José Washington – SJ/SP; Francisco Roberto Machado – SJ/CE; Fran-
cisco Wildo Lacerda Dantas – SJ/AL; Guilherme Calmon Nogueira da Gama – SJ/
RJ; Hamilton de Sá Dantas – SJ/DF; José Francisco da Silva Neto – TRF3a ; Liliane
do Espírito Santo R. de Almeida – SJ/RN; José Carlos Mota – SJ/SP;
tes discutiram e aprovaram conclusões específicas. Em seguida, todos se
reuniram em plenária para nova discussão e aprovação de um único texto,
fruto da unanimidade ou da maioria absoluta.
Relativamente ao tema 01, “Uniformização do processamento dos
precatórios pelos Tribunais Regionais Federais”, foram acolhidas as seguin-
tes proposições do grupo coordenado pela Juíza Tânia Heine:
a) A resolução de todos os incidentes processuais se dará na 1a ins-
tância, onde se encontram os autos do processo de execução.
b) Antes da expedição do precatório, os autos da execução deverão
ser remetidos ao MP para opinar sobre o valor que será requisita-
do.

c) Ao Presidente do Tribunal será encaminhado apenas um ofício que


conterá todos os dados necessários, excluídas quaisquer cópias
de peças do processo.
d) Cumpre ao Tribunal estabelecer a ordem cronológica e requisitar

__________________________
Luiz Alberto Gurgel de Faria – TRF-5 a ; Sebastião Fagundes de Deus – SJ/DF;
Theophilo Antônio Migues Filho – SJ/RJ; Vladimir Souza Carvalho – SJ/SE;
Willian Douglas Resinente dos Santos – SJ/RJ; Arnaldo Esteves Lima – TRF-2 a ;
André Custódio Nekaschalow – SJ/SP; Elio Wanderley de Siqueira Filho – SJ/
PE; Helena Delgado Ramos Fialho Moreira – SJ/PB; Narciso Leandro Xavier
Baez – SJ/SC; Nery da Costa Júnior – TRF-3 a ; Paulo Pereita Leite Filho – SJ/RJ,
Renato Luís Benucci – SJ/SP; Simone Schreiber – SJ/RJ; Valéria Medeiros de
Albuquerque – SJ/RJ; Vânila Cardoso A. de Moraes – SJ/MA. Atuaram como
coordenadores do w o r k s h o p os Juízes André José Kozlowski – TRF-2 a e
Leopoldo Muylaert – SJ/RJ.
o numerário destinado ao pagamento, sendo prescindível a
interveniência do MP da 2a instância.
e) Caberá ao setor competente do Tribunal a divulgação da lista anu-
al de precatórios pendentes de pagamento.

No tocante ao tema 02, “Pagamento sem precatório – tutela de urgência


e créditos de pequeno valor” – aspectos de lege lata e lege ferenda, relatado
pelo Juiz Francisco Roberto Machado, o grupo, referendado pela plenária, re-
solveu elaborar sugestão de anteprojeto de lei, visando a regulamentar os pará-
grafos 3o e 4o do art. 100 da CF/88, nos seguintes termos:

Art. 1o Considera-se de pequeno valor, para fins do disposto no § 3 o


do art. 100 da Constituição da República, a obrigação decorrente de
sentença judicial condenatória transitada em julgado que não exceda o
valor equivalente a quarenta (40) salários mínimos por autor.
§ 1o Para condenações em valor superior, o excedente seguirá o
sistema de precatório.
§ 2o Para fins do § 4o do art. 100 da Constituição da República, o
valor daquela obrigação não excederá de:
I. trinta (30) salários mínimos quanto às pessoas de direito pú-
blico cuja receita anual não exceda de R$ ...
II. vinte (20) salários mínimos quanto às pessoas de direito públi-
co cuja receita anual não exceda de R$ ...
III. dez (10) salários mínimos quanto às pessoas de direito público
cuja receita anual não exceda de R$ ...
Art. 2o Ficam incluídos os seguintes parágrafos no art. 730 do
Código de Processo Civil:

Art. 730 ........


§ 1o Na execução de créditos definidos em lei como de pe-
queno valor, a Fazenda Pública será citada para pagar ou ofere-
cer embargos no prazo de trinta (30) dias.
§ 2o O recebimento dos embargos referidos no parágrafo an-
terior fica condicionado ao prévio depósito do crédito exeqüendo.
§ 3o O credor poderá levantar, de imediato, no caso de
interposição de embargos, o valor incontroverso do depósito refe-
rido no parágrafo anterior.
§ 4o Na falta de pagamento no prazo designado no § 1o , o
juiz adotará as medidas sub-rogatórias ou coercitivas adequadas
à satisfação do crédito exeqüendo.
§ 5o Sem prejuízo das sanções penais e disciplinares cabí-
veis, o juiz poderá impor multa diária ao agente responsável pelo
pagamento, assegurando-lhe direito de defesa.
§ 6o Visando a garantir a efetividade do provimento, o juiz
poderá ordenar o seqüestro da quantia necessária à satisfação do
crédito.
§ 7o Concedida a tutela em caráter liminar nas demandas
envolvendo obrigação definida em lei como de pequeno valor, o
juiz poderá, para garantir sua efetivação, adotar as providências
previstas nos parágrafos anteriores.

Art. 3o As pessoas jurídicas referidas nos §§ 3o e 4o do art. 100 da


Constituição da República consignarão, em seus orçamentos anuais,
dotação destinada a atender aos pagamentos previstos nesta lei, calcu-
lada pela média dos pagamentos realizados nos últimos dois (02) anos.
Parágrafo único. Não sendo suficiente a dotação prevista, deve-
rão ser solicitados créditos suplementares.

O tema 03, “Emenda Constitucional n. 30”, relatado pelo Juiz Fran-


cisco Wildo Lacerda Dantas, foi introduzido pelo grupo como merecedor
de elogios em alguns pontos. A EC n. 30, por exemplo, prevê a atualiza-
ção dos valores, estabelece o rol exemplificativo definindo verba alimen-
tar e apresenta disposições assecuratórias contidas nos parágrafos 2o e 4 o
do art. 78 do ADCT.
As proposições acolhidas pela plenária para uniformização de juris-
prudência em torno da EC n. 30 são as seguintes:
1 – A nova redação do parágrafo primeiro do art. 100 indica que:
a) a execução provisória contra a Fazenda pode ser promovida;
a exigência do trânsito em julgado da sentença só é necessária
para a expedição do precatório;
b) persiste a execução contra a Fazenda Pública fundada em títu-
lo executivo extrajudicial.
2 – A entidade de Direito público deverá fazer o pagamento com a
devida atualização monetária até a data do pagamento, sendo
possível ao credor, nos casos em que não concordar com os cri-
térios adotados, suscitar a questão nos autos da execução para, se
for o caso, ser expedido precatório suplementar.
3 – O rol do parágrafo primeiro, a, art. 100 da CF, é exemplificativo,
podendo o juiz, fundamentadamente, reconhecer outras hipóte-
ses.
4 – (Eliminado por proposta do relator do grupo e deliberação ple-
nária.)
5 – O credor de precatório pendente na data da promulgação da EC
n. 30/2000 tem direito adquirido ao pagamento integral até o fi-
nal do exercício seguinte, nos termos da antiga redação do pará-
grafo primeiro do art. 100 da CF.
6 – (Eliminado por proposta do relator do grupo e deliberação ple-
nária.)
7 – É inconstitucional, por violar a isonomia e a razoabilidade, e por
criar hipótese anômala de empréstimo compulsório, submeter a
parcelamento os precatórios decorrentes de ações ajuizadas até
31 de dezembro de 1999.
8 – Todas as hipóteses previstas no parágrafo quarto do art. 78 do
ADCT também se aplicam nos casos do parágrafo segundo do
art. 100 da CF, em virtude da isonomia, da razoabilidade, da
efetividade da jurisdição e da equiparação feita entre as mesmas
pelo dispositivo.
9 – Configuradas quaisquer das hipóteses do parágrafo quarto do
art. 78 do ADCT, o Presidente do Tribunal deverá utilizar todos
os meios necessários à satisfação do crédito vencido, não inclu-
ído, ou preterido, podendo o seqüestro dar-se em quaisquer contas
da entidade de Direito público.
10 – É faculdade do credor optar pelas soluções dos parágrafos se-
gundo ou quarto do art. 78 do ADCT e, caso opte pela com-
pensação, esta é direito subjetivo seu, não se sujeitando a anuência
do fisco, mas tão-somente à verificação da correção dos valo-
res.
11 – A hipótese de compensação prevista no parágrafo segundo do
art. 78 do ADCT só será possível se a entidade devedora arre-
cadar tributos.
12 – O parágrafo terceiro do art. 78 do ADCT é inconstitucional por
violar direito individual – artigo 5o , XXIV, CF.
13 – A definição de obrigação ou crédito de pequeno valor é a dada
pela Lei n. 9.099/95, até que lei posterior, quando for o caso,
dispuser sobre os parágrafos terceiro e quarto do art. 100.

As propostas de revisão legislativa e constitucional foram referenda-


das nos termos seguintes.
1 – Incorporar ao art. 100 da CF:
a) O parágrafo segundo do art. 78, atualmente inaplicável por
fazer expressa referência ao caput do próprio artigo 78 da
ADCT;
b) o parágrafo quarto do art. 78, apenas para o fim de não restar
qualquer dúvida quanto à sua aplicabilidade.
2 – Suprimir o parágrafo quinto do art. 100, em virtude de ser des-
cabida a punição por crime de responsabilidade, que envolve ati-
vidade política, em hipótese de mera atividade administrativa.
3 – Prever que eventuais punições sejam aplicadas ao agente pú-
blico responsável, disciplinando a punição por impro-bidade
administrativa nos termos do art. 11, II, da Lei
n. 8.429/92.

Relatado pelo Juiz Narciso Leandro Xavier Baez, o grupo do tema


04 – “Ordem de preferência diante da multiplicidade dos tribunais pe-
rante o mesmo devedor” – registrou que atualmente, ante a ausência de
regramento específico na ordem de preferência diante da multiplicidade
dos tribunais perante o mesmo devedor, não existe uma fiscalização no
tocante à disponibilização dos recursos financeiros pelo órgão adminis-
trativo devedor. Como sugestão para solucionar a questão foi apresen-
tada uma minuta de anteprojeto de lei, regulamentando o art. 100 da
Constituição.

Art. 1o A ordem cronológica de apresentação dos precatórios


a que se refere o art. 100 da Constituição Federal é fixada consi-
derando-se a data e o horário em que forem protocolados nos tri-
bunais.
§ 1o Cada tribunal encaminhará a relação de precatórios
protocolados até primeiro de julho às entidades de Direito público
devedoras, que formarão uma lista única seguindo a ordem cro-
nológica estabelecida no caput.
§ 2o A lista referida no parágrafo anterior será publicada no
Diário Oficial da União pelo órgão que a elaborou até a data em
que enviar seu projeto de lei orçamentária.
Art. 2o O administrador competente que deixar de cumprir
as obrigações estabelecidas no parágrafo segundo do artigo an-
terior incorrerá em crime de responsabilidade.
Art. 3o Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
CONCLUSÃO

A pesquisa “Execução contra a Fazenda Pública – razões políticas do


descumprimento às ordens judiciais”, com ênfase na esfera federal, identifi-
cou casos concretos de inobservância às requisições de precatórios judici-
ais, a partir da análise de dados coletados na imprensa, na própria Adminis-
tração Pública e na Justiça Federal.
A análise das matérias veiculadas na imprensa é capaz de demonstrar
o grau de conhecimento sobre o tema que é levado à sociedade civil. A
União Federal, ao ser mencionada em 12% das matérias, pode ser conside-
rada, isoladamente, como a principal devedora no âmbito judicial, o que
evidencia a importância dessa fase investigatória para a imagem da Justiça
Federal.
De modo geral, a suspeita de fraude ou erro nos valores requisita-
dos foram mencionados pela imprensa como as duas principais justificativas
para o descumprimento. Tais escusas foram levadas ao Judiciário sob diver-
sas formas. Ao lado da apresentação de recursos – alguns protelatórios –,
quebra da ordem de preferência e o desvio de verba, prevaleceu nos
noticiários como postura da Administração Pública a simples omissão.
Nas entrevistas foi confirmada a constante preocupação dos procura-
dores públicos quanto a precatórios com valores suspeitos ou sujeitos a
erros, o que requer a formação de processo administrativo para conferência
prévia. E justamente sobre esse expediente administrativo foram relatadas
algumas dificuldades estruturais como uma das causas do estrangulamento
na fase final do precatório.
A simples omissão à requisição do precatório foi reconhecida pelo
Incra e pelo DNER somente diante de decisões teratológicas, muito embora
haja consenso no seio da Administração Pública de que toda irregularidade
processual ou material deve ser alvo de recurso suspensivo. A inobservância
aos precatórios por falta de recursos financeiros foi admitida pelo DNER,
que até mesmo citou precedentes sobre alocação indevida de verbas como
causa de descumprimento à ordem judicial.
A análise do processamento dos precatórios no Tribunal Regional
Federal da 2a Região (TRF-2a), por meio do seu Centro de Processamento
de Dados (CPD), confirmou parcialmente as informações dos entrevistados
e a imagem sobre o tema retratada pela imprensa.
De acordo com o CPD do TRF-2a, a União e o INSS foram as prin-
cipais entidades contra as quais o Tribunal requisitou precatórios ao longo
da década passada, representando 90% do total geral. Casos de simples
omissão foram relacionados com o INSS e o DNER, que deixaram de
pronunciar-se em respectivamente 19% e 49% dos precatórios devidos no
ano de 1999.
A título de ilustração, vale destacar os dados apurados naquele ano.
Dos precatórios a serem pagos, 60% foram efetivamente liquidados,
correspondendo, entretanto, a 31% dos valores devidos, 330 milhões de
reais dos quase 700 milhões devidos.
A situação geral dos precatórios era a seguinte: a) 59% pagos (com
entrega do bem ao credor); b) 15% pendentes (aguardando providência
do devedor); c) 6% depositados (aguardando providência judicial); d) 4%
em diligência (retornando ao 1o grau para supressão de erros); e) 14%
aguardando verba; f) 2% com vista ao parquet.
Tal quadro demonstra que somente 29% dos precatórios requisitados
(pendentes e aguardando verba) não foram pagos ao credor em virtude de
ato ou de omissão da entidade devedora, o que permite concluir que 71%
dos precatórios foram adimplidos, embora deste último percentual 12% não
resultaram na entrega do bem ao credor em razão do processamento (dili-
gência, depositados e vista ao parquet).
A responsabilidade pela efetividade da jurisdição, na fase de requisição
de precatórios, pode ser imputada a cada um dos Poderes da República, de
acordo com a causa do descumprimento à ordem judicial, que, basicamente,
está calcada em três situações fáticas: a) falta de previsão orçamentária; b)
falta de fluxo financeiro; c) erro judiciário.
A falta de previsão orçamentária somente será imputada ao Executivo
ou ao Judiciário quando houver erro na fase de iniciativa do seu procedi-
mento dito complexivo. Entretanto, ainda assim, no plano processual, a
Administração Pública não pode ser responsabilizada pelo descumprimento
calcado na inexistência de ato legislativo correspondente. A falta de fluxo de
caixa inviabiliza materialmente o cumprimento da decisão.
É compreensível a resistência sempre que constatado no precatório o
erro judiciário, que pode ser assim sistematizado: 1) decisão injusta (error
in procedendo ou error in judicando); 2) erro material na decisão; 3) erro
no processamento do precatório. No entanto, a irresignação, para ser juri-
dicamente aceitável, deve observar as regras processuais.
As alegações de que há decisão injusta ou erro material devem ser
perante o juízo da execução e não têm o condão de suspender o
processamento do precatório, salvo se, a respeito, houver decisão daquele
juízo ou ainda, nos autos do precatório, for alegado erro no seu
processamento.
O Judiciário deve zelar pela efetividade da sua jurisdição, porém des-
de que esteja juridicamente ao seu alcance.
A falta de previsão orçamentária não pode ser solucionada judicialmen-
te, ao menos enquanto subsistir a doutrina dos atos políticos como insuscetíveis
de controle.
A falta de fluxo de caixa, se decorrente de alocação indevida, deve
ensejar medidas contra o responsável, ainda que por meio de processo au-
tônomo, a partir de representação judicial.
A imperfeição processual e procedimental nas alegações de erro judi-
cial deve ser coibida judicialmente. A simplicidade do processamento do
precatório, sujeito à regulamentação interna dos tribunais, evita o atraso
provocado por erros naquela fase.
A doutrina brasileira, a exemplo de precedentes judiciais e acadêmi-
cos no exterior, como já registrado no corpo deste relatório, passou a admi-
tir meios alternativos aos precatórios para a execução de decisões judiciais
em face da Administração Pública, tanto no plano de lege lata quanto no de
lege ferenda.
O Instituto Brasileiro de Direito Processual, responsável pelas refor-
mas do Código de Processo Civil desde 1994, chegou a propor, no ano de
1999, ao Congresso Nacional a execução forçada contra a Fazenda Públi-
ca, para realização dos créditos alimentares.
No seminário “Precatórios Judiciais na Justiça Federal”, coordenado
pela Escola de Magistratura da 2a Região e pela Universidade Federal
Fluminense (UFF), e no curso “Execução contra a Fazenda Pública”, do
Centro de Estudos Judiciários do CJF, em parceria com a UFF, ambos re-
alizados no ano 2000, juízes federais, advogados e juristas obtiveram, pio-
neiramente, ambiente para debater tais questões.
Naquela oportunidade foram diversas as conclusões, dentre as quais
a uniformização de jurisprudência voltada para maior efetividade da jurisdi-
ção e sugestões para alteração de atos administrativos normativos, de atos
legislativos e até mesmo constitucionais, demonstrando a preocupação de
todos os participantes pela garantia do Estado de Direito no plano judicial.
Com a Emenda Constitucional n. 30, os créditos de pequeno valor
não estão mais sujeitos ao regime do precatório, bem como já estão regula-
mentados por lei o juizado federal de pequenas causas e o pagamento de
decisões sobre benefícios previdenciários.
Na esfera administrativa da Justiça Federal, as Resoluções n. 239 e
240 do CJF permitiram aos presidentes dos Tribunais a administração dos
recursos disponíveis no orçamento a fim de autorizar o pagamento de crédi-
tos de pequeno valor sem observância à ordem de preferência, já que se-
quer estariam sujeitos ao precatório.
A EC n. 30 trouxe maiores deveres ao Judiciário quanto à efetividade
da sua própria jurisdição, uma vez que os recursos devidos passaram a per-
tencer ao seu orçamento, impondo aos presidentes dos Tribunais a respon-
sabilidade, quase exclusiva, quanto à ordem de preferência.
Daí, a atual necessidade de concentração de esforços para solução
dos pontos de estrangulamento na execução, identificados na fase adminis-
trativa de elaboração da previsão orçamentária (Executivo e Judiciário) e,
notadamente, na fase de processamento dos precatórios, ou, ainda, das or-
dens para pagamento de crédito de pequeno valor.
É recomendável que no âmbito da Justiça Federal e da Advocacia-
Geral da União seja desenvolvida ação conjunta e permanente para padro-
nização de rotinas e capacitação correspondente, a fim de revisar e simplifi-
car as normas internas sobre processamento dos precatórios e ordens de
pagamento de crédito de pequeno valor, afastando o atraso imputado ao
Judiciário nos erros de processamento e à Administração Pública no tocante
à adequação dos procedimentos para suscitar erro judicial na fase final da
execução contra a Fazenda Pública.
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