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ESCOLHAS AMOROSAS

D E S T I N O O U
C O M P U L S Ã O À R E P E T I Ç Ã O ?

Mônica Lacerda
Psicanalista
Mônica Lacerda

Escolhas
Amorosas
Você já se perguntou como fazemos nossas escolhas
amorosas? São escolhas conscientes? Dedo podre
existe? E por que escolhermos uma pessoa em
detrimento de outra?

@epodefreud
Como escolhemos
Este e-book tem como objetivo, mostrar a visão da
Psicanálise de como fazemos nossas escolhas amorosas, as
razões e sob qual tipo de influência estamos submetidos em
nosso psiquismo, quando nos atraímos ou nos apaixonamos
por alguém.

As razões pelas quais repetimos padrões em nossos


relacionamentos e a forma que nos colocamos perante o
outro.

Escolhemos, de fato? Ou seja, nossas escolhas são sempre


conscientes?

Se você escolheu ter este material, parabéns! Você terá


acesso a anos de pesquisa sobre o que a Psicanálise aponta
como padrões de relacionamento humano.

Desejo que você tenha uma prazerosa leitura!


03 Coisas que este
e-book fará por você:

Te dará autonomia para deixar


de ser refém de atitudes não
compreendidas, tornando-se
assim, mais dono(a) de si.

Te dará a oportunidade de
ressignificar todas as suas
histórias e vivências amorosas,
sob a ótica da Psicanálise.

Te ajudará a entender seus


padrões de escolhas, sua posição
perante o outro e perante a vida.
Índice
Por que Freud?............................................................................08

O Complexo de Édipo.................................................................09

O Mito do Édipo...........................................................................11

Mas do que se trata, de fato.......................................................15

Química Sexual............................................................................18

O Desamparo Humano.................................................................19

Transferência...............................................................................22

O Falo.........................................................................................24

Ser o Falo ou Ter o Falo..............................................................26

Sexualidade como Expressão Cultural.......................................28

Amor Cortês e Amor Romântico..................................................29

Formas de escolha perante nosso desejo...................................31


Índice
O Pai Fantasiado...........................................................................34

Amores Possíveis ou Improváveis....................................................35

Condição ou tendência de salvar a pessoa amada......................38

Condição ou tendência de jovens escolherem amores maduros...39

Amor platônico / onanismo............................................................41

Quando ama não deseja, quando deseja não ama......................43

Édipo Hoje?....................................................................................46

Subjetividade Moderna..................................................................48

Psicopatologias..............................................................................51

Enlace Neurótico............................................................................58

Mito de Aristófanes........................................................................60

Relacionamentos Tóxicos e Amores Líquidos.................................64


Por que Freud?

07
Sigmund Freud - 1.856 – 1.939

Sigmund Freud foi um neurologista austríaco e o fundador da


psicanálise, um método clínico para o tratamento das dores da alma, ou
dores psíquicas, através do diálogo entre um paciente e um psicanalista.
Conhecido como a cura pela fala.

Freud ficou conhecido por suas teorias da mente inconsciente,


especialmente em relação ao papel dos desejos reprimidos e
experiências de infância na formação do comportamento e da
personalidade adulta. Suas ideias e técnicas tiveram um grande impacto
no pensamento ocidental.

Apontar a existência do inconsciente, foi extremamente revolucionário e


um dos maiores furos no narcisismo humano, que até então vinha de
uma lógica de Descartes, do “penso, logo existo”, para uma nova lógica:
“existo, onde eu não penso”.

Isso porque muitas de nossas ações e escolhas são inconscientes.

O Eu não é senhor da nossa casa.

Para Freud, nada “desacontece” psiquicamente. Tudo que vivemos, fica


registrado em alguma instância e o Inconsciente é o maior receptor de
todas as vivências.

O que pretendo aqui é mostrar o quanto da nossa história e formação


psíquica estão ligadas aos nossos processos inconscientes e às nossas
escolhas, inclusive e principalmente às escolhas das pessoas que
decidimos nos relacionar, ou não.
08
O COMPLEXO DE ÉDIPO

A Psicanálise é uma Ciência Humana, que faz questionamentos a


partir da escuta da criança que vive em cada adulto.

Assim, o conceito do Complexo de Édipo é a espinha dorsal da


Psicanálise, e a forma pela qual o sujeito passa por esta etapa da
vida, vai definir sua estrutura psíquica, sua sexualidade, seus
desejos, enfim, seu caráter ou forma de estar no mundo.

A frase que se popularizou atribuída a Freud de que tudo é culpa


da mãe, precisa ser relativizada, primeiro por ser necessário
considerar como mãe, a função materna, ou parental, que pode
ser exercida por diversas outras pessoas que não a mãe
biológica. E segundo, que a palavra culpa não cabe aqui.
Podemos no máximo falar sobre uma responsabilização da forma
de entrada da criança na cultura, no mundo tal como o
conhecemos.

É impossível um adulto cuidador de uma criança, prever todo o


ambiente externo e a forma a qual cada novo sujeito vai
introjetar a experiência vivida.

Mas sim, a mãe ou função materna, é a ponte da criança com o


mundo. A forma que o bebê e a criança atravessam esta ponte,
vai refletir em todos os aspectos da vida do sujeito, inclusive ou
principalmente, em sua vida amorosa.

09
A função parental e seu ambiente, é a ponte da
criança para o mundo.

10
O Mito do Édipo
Tragédia da Mitologia Grega, escrita Os anos se passam e Édipo se torna um
por volta de 427 a.C. pelo dramaturgo belo rapaz, príncipe de Corinto e único
Sófocles / 496-406 a.C. herdeiro do Reino. Certo dia, um velho
Aquele que é pendurado pelos pés. sábio que morava nas redondezas diz
Este é o significado do nome Édipo. para ele que seu futuro estava escrito
Na Mitologia Grega, o Édipo Rei não desde seu nascimento: mataria seu pai e
foge do seu destino. Nasceu filho se casaria com sua mãe.
legítimo do Rei e da Rainha de Tebas.
Édipo, inconformado com seu destino,
Um menino forte e saudável, que seria foge do Castelo e vai perambular pelas
naturalmente o futuro regente. No estradas. No caminho, passava a
entanto, seu pai, consulta um Oráculo comitiva do Rei de Tebas e os soldados
que diz que seu primogênito o matará, foram rudes com ele, empurrando-o da
e se casará com sua esposa. estrada para que saísse do caminho.
Por não duvidar do Oráculo, o Rei Édipo que já estava fora de si pelo que
entrega o recém-nascido para que um acabara de ouvir do velho sábio, começa
de seus soldados o mate, quebrando uma luta com os soldados do Rei de
assim, a maldição. Tebas e com sua força, derrota a todos,
terminando por lutar com o Rei e vencer
O soldado pendura o bebê pelos pés a luta com uma espada no peito de seu
no galho de uma grande árvore e o verdadeiro pai. Sem imaginar que o seu
deixa abandonado para morrer. Mas destino acabara de ser parcialmente
um viajante que por ali passava se cumprido, continua perambulando pelas
depara com o bebê naquela situação, estradas por longos meses.
o tira da árvore e o leva para Corinto,
o reino vizinho, onde foi criado como
filho pelo Rei Pólibo.

pág
O Mito do Édipo
Em um certo dia, ouviu que Tebas, A Rainha não aguenta conviver com este
agora sem um Rei, daria a mão da fato e tira a própria vida. Édipo, por ter
Rainha para o guerreiro que derrotasse prometido que vingaria a morte do Rei,
a Serpente. Édipo aceita o desafio, que fura os próprios olhos e termina sua vida
poderia custar sua vida, já que todos vagando pelo Reino, como um miserável.
que tentaram até então não voltaram. Esta é a história do Mito do Édipo Rei,
Ao chegar na frente da Serpente ela que Freud usou para ilustrar um dos seus
lançou o desafio, com sua máxima: principais conceitos na Psicanálise. Foi
decifra-me ou te devoro: Édipo decifra na Tragédia Grega, escrita cerca de
o segredo da Serpente e recebe sua 1.500 anos de Freud, que ele encontrou
recompensa: casa-se com a Rainha um paralelo ao que depois de séculos,
Jocasta e se torna o Rei de Tebas. ainda assombrava o homem: o incesto e
Tiveram quatro filhos e uma vida o parricídio.
próspera e feliz.
Até que um dia, a pedido da Rainha, Mas porque uma experiência infantil,
Édipo desafia os guerreiros do Reino a vivida muitas vezes somente na
encontrarem aquele homem que fantasia torna-se uma das bases
assassinou o antigo Rei de Tebas, para fundamentais da teoria psicanalítica?
que tal crueldade fosse devidamente
punida.

Quando decide visitar o Oráculo, insiste


para que este o diga quem foi que
matou o Rei. O Oráculo, sem hesitar
responde: foste tu. Neste momento,
Édipo se dá conta de que não
conseguiu escapar de seu destino – se
aquele homem era de fato seu pai,
havia desposado sua mãe.

12
O inconsciente é atemporal, quando falamos
de infância não estamos necessariamente
falando de passado. O que aconteceu pode
ser real ou imaginado, fantasiado. Para
nosso psiquismo, é indiferente.

13
Mas do que se trata, de fato?

De uma forma simplista, podemos dizer que o Complexo de Édipo é a vontade do


menino se livrar do pai para ficar com a mãe somente para ele, ou da menina se
livrar da mãe para ter o pai somente para si.

O Complexo de Édipo não é sobre amor, é sobre a passagem de um desejo


selvagem para um desejo socializado. É o Intermediário entre nós e o mundo: e
neste percurso, que somos levados pelas figuras parentais, precisamos fazer
acordos. Para irmos para o mundo, perdemos coisas e ganhamos outras coisas,
existe uma negociação, uma relação de compromisso.

Quando fazemos a ligação do Édipo ao parricídio reforçamos o quanto se torna


necessário, na vida adulta, fazer esse parricídio simbólico, ou seja, tirar os pais desse
lugar fantasiado, para que possa viver novas relações amorosas, com pessoas as
quais possamos nos relacionar de uma forma mais plena.

Quando não conseguimos fazer essa divisão, de forma inconsciente, por um amor de
transferência, colocamos o parceiro no lugar de pai ou mãe, muitas vezes
dessexualizando o par, ou seja, perdendo o interesse sexual pelo parceiro ou
parceira.
14
Freud ficou popularmente
conhecido como aquele que só
fala sobre sexo, mas para que
possamos entender Freud,
consequentemente a psicanálise
e o psiquismo humano,
precisamos entender que sexo
nesse caso, é tudo aquilo que nos
dá prazer, tudo que nos move,
uma pulsão de vida: não se trata
do ato, ou da genitalidade,
podendo ser a genitalidade
também, mas não apenas.

Quando a criança, na sua primeira infância, por volta dos quatro anos de idade,
entra na fase edipiana, ela entra em uma disputa com um dos genitores para ter
maior atenção do outro. Entra em uma dinâmica de competição, de castração, da
inserção das leis e das normas.

É fundamental que a criança passe pela castração simbólica dada pelos pais, que
neste caso é: a mamãe não pertence somente a mim, ela tem outros interesses no
mundo, é a entrada de um terceiro, que pode ser o pai, mas pode ser também
qualquer outro interesse da mãe, tirando a criança da posição de sua majestade o
bebê.

15
Como assim? É a nossa posição de gozo.
Não estamos falando de um gozo do ato
sexual, mas da sua posição de prazer
perante o outro e perante a vida.

É por esse caminho que nos atraímos pelo


outro, sem saber ao certo o que nos atrai
em determinada pessoa. Trata-se de um
processo inconsciente, formado em nosso
psiquismo, mas que muitas vezes
atribuímos, por não termos a real
compreensão, para coisas externas e
teoricamente maiores que nós como
astros, destino, vidas passadas.

O que apontamos é que nada nos move


mais que o nosso psiquismo. Pelo ou
menos, essa é a visão da Psicanálise.

Se existem outras forças ocultas que nos


guiam, o que podemos dizer, é que não
sabemos e achamos importante, como
psicanalistas, sustentar esse não saber,
para não nos fecharmos para a escuta dos
nossos pacientes. Mas entendemos que
nosso inconsciente já é uma força oculta
extremamente poderosa.

pág
16
Nosso psiquismo tem três grandes
instâncias: inconsciente, pré consciente e
consciente. Nossas escolhas mais
racionais, vindas do consciente e pré
consciente, vão listar uma lista de
qualidades desejáveis para nosso futuro
parceiro ou parceira.

A pessoa ideal: idade, profissão,


interesses em comum, tipo físico etc. Mas
como ressaltei, as escolhas não passam
apenas por essas duas instâncias, ela
sempre passará pela instância
inconsciente.

E quanto mais experiências recalcadas,


afetos não trazidos à nossa consciência,
pela fala, escuta e elaboração das
vivências, maior será a influência da
instância do inconsciente nas nossas
escolhas.

Vamos dar um exemplo: você escolhe


racionalmente uma pessoa de seu convívio
para se relacionar, uma pessoa parecida
com você, com amigos e interesses em
comum, a pessoa que parece a mais certa,
ou ideal para que construam uma vida
juntos. No entanto, o seu desejo está em
outro lugar e se atrai perdidamente por
alguém completamente diferente de você
ou alguém que sua família ou círculo social
desaprovaria. pág
17
Química Sexual

A química é linguagem, é discurso,


o que é dito no tom que é dito, o A química sexual é o
tom corporal que captura ou não
suas fantasias inconscientes. São
pequenos gestos, um tom de voz, a
encontro com a sua fantasia
forma que o outro mexe com o
cabelo, o sorriso. Algo ali faz a
inconsciente.
captura, por uma relação
transferencial, ou seja, um
deslocamento de afetos de uma
experiência já experimentada.

Mas quando se dá este encontro


com o outro, que de preferência
está junto com você na fantasia
do sexo, do Eros, do discurso, da
linguagem, o encontro do que
você é em fantasia de forma a se
conectar com o que o outro é em
fantasia e ainda do que esse
mesmo outro te interessa como
laço humano, esse raro
encontro é chamado de amor.

18
O DESAMPARO HUMANO FUNDA OS LAÇOS SOCIAIS

O Desamparo
Humano

19
Você já parou para pensar em como o
ser humano nasce imaturo para
enfrentar o mundo externo, colocando-
se em absoluta dependência do outro?

Compare com os demais mamíferos,


que já nascem quase andando, o
humano precisa de meses de um
cuidado contínuo de um outro, para
sobreviver.

Por isso, sabemos que é justamente o


desamparo que funda o laço social, visto
que o Sujeito em estado de desamparo,
recorre ao Outro. Segundo Freud,
aprendemos a amar o outro porque
dependemos dele, para evitar esta
condição de desamparo, e ainda para
sobreviver.
BEBÊS PÓS GUERRA
Sabe-se que um bebê não vive se não No pós-segunda guerra mundial, foi feito um
for amado por alguém que, na função estudo, pelo psicanalista Rene Spitz, com os
materna, o acolha, o alimente, o deseje bebês órfãos da guerra.
e o insira na linguagem. É a partir do Mesmo esses bebês recebendo todo o
desejo primeiramente da mãe, e depois cuidado no que se refere à alimentação
também do pai, que o aparelho psíquico e higiene, todos apresentavam sintomas
se estrutura. como apatia, desinteresse, retrocesso no
desenvolvimento, e muitos morriam sem
Quando digo mãe e pai, falo de funções, uma causa aparente. Percebeu-se que, o
não necessariamente as figuras cuidado materno, não necessariamente a
biológicas e não necessariamente o par mãe biológica, mas a função materna, o
feminino masculino. embalar, abraçar, a troca de calor
humano, era fundamental para a sua
sobrevivência.

20
Ou seja, nosso desamparo não está
somente no plano físico dos cuidados
com o bebê, está no que se refere à
nossa constituição como Sujeitos.
Somos formados a partir do olhar do
Outro.

As nossas primeiras experiências de


satisfação, o cuidado materno, o
olhar, a inserção na linguagem. A vida
no útero, a completude inicial da vida,
quando nada nos falta.

Então, nosso objetivo, quando adulto, será


sempre o retorno para este estado de
nirvana, onde todos os nossos desejos
eram satisfeitos. O momento inicial onde
não reconhecíamos a falta, onde havia
uma completude.

E o que fazemos nas relações amorosas a


não ser buscar o retorno a este lugar onde
o outro me completa e eu possa também,
ser o Objeto de desejo e de completude
deste Outro, como fui um dia, sendo o
Objeto de desejo de minha mãe ou da
pessoa que exerceu essa função de forma
amorosa?

21
TRANSFERÊNCIA

O conceito de Transferência é importante para entendermos essa conexão


inconsciente. Transferência é um dos conceitos fundamentais da Psicanálise, é o
que chamamos de amor de repetição.

Uma releitura de um amor que já tivemos com outros personagens na nossa vida. A
cada releitura teremos algumas novas insistências e resistências a este novo
contorno de relação. O que coloca em questão as nossas neuroses, aqueles
momentos que abrimos mão de nosso desejo, para atender a uma demanda do
outro.

Vou simpatizar ou ter antipatia de você, de acordo com o que as suas


características pessoais vão me remeter. A forma como você mexe o cabelo, o tom
da sua voz, a sua risada, o jeito que você cruza a perna. Inconscientemente vai me
remeter a pessoas que passaram pela minha vida, de forma negativa ou positiva.
Podemos falar de alma gêmea, de combinações de signos, astros etc. Mas pra
Psicanálise, é puramente psíquico, é a posição transferencial que você coloca
cada pessoa, e a forma que você se coloca nas relações com o outro.

Pergunto sempre para meus pacientes: onde está o seu desejo perante o outro? Em
qual posição você goza? E não estou falando do ato sexual, estou falando de uma
posição perante a vida, perante as relações. Seu desejo está em se posicionar
como SER o Falo perdido ou como TER o Falo do outro para si? O que veremos
mais adiante.

Independente das características físicas das pessoas que escolhemos a cada


relação, o mais enraizado é a nossa posição de prazer dentro das relações.

22
TRANSFERÊNCIA

Freud introduz a ideia de que há algo que se perda na infância, e que ao longo de
toda a vida, o Sujeito buscará o reencontro com este algo.

Então, o encontro com o outro, é na verdade, um reencontro.


O desejo nasce de uma experiência de satisfação já vivida.

A criança, e depois o adulto, aprende a amar pessoas que a ajudam em seu


desamparo, e satisfazem suas necessidades.
Assim, Freud defende a ideia de que todas as relações amorosas que um Sujeito
terá ao longo de sua vida serão desenhadas à forma como as relações amorosas
se constituíram na infância, o que nos leva a pensar que se vive essa tentativa de
reencontrar o tal algo perdido. E esse algo pode ser fruto de uma experiência não
apenas de prazer, mas também de desprazer.

Experiências de desprazer ou abusivas, muitas vezes criam ciclos de repetição na


vida adulta. O que se busca é o conhecido, o familiar.

Claro que é uma dinâmica inconsciente. O enamoramento é sinal de uma


repetição vinculada ao passado infantil. Ou seja, a noção de tempo não é
cronológica no inconsciente, visto que o futuro está no retorno de uma satisfação
do passado.

É por meio do amor romântico que nós buscamos recuperar este estado mítico de
absoluta felicidade ou infelicidade que supostamente vivemos.

O Complexo de Édipo não é sobre amor, é sobre a passagem de um desejo


selvagem para um desejo socializado, bem como a aceitação dolorosa de que
nossos desejos jamais serão capazes de se satisfazerem totalmente.

23
O Falo
Para a psicanálise, Falo significa a representação da completude, do não
sentimento de falta: qualquer coisa que tenha para uma pessoa a significação de
poder, de força e masculinidade.

Identifica-se com aquele que detém a lei, aquele que a mãe nomeia como detentor:
o pai, ou figura paterna, aquele que tem o falo.
Falocentrismo é a convicção baseada na ideia de superioridade masculina.

O falocentrismo consiste numa visão ou forma de pensamento que defende a lógica


do patriarcado, que estabelece o sistema da divisão simbólica do trabalho e das
funções entre os sexos.

24
O Falo
Neste sistema, o masculino e o feminino
encontram-se numa posição estruturalmente
assimétrica: os homens, como os referentes
empíricos do masculino, possuem o falo, ou
seja, a virilidade.

Esse imaginário promoveu, ao longo da


história, uma atribuição social do poder ao
homem, que este recebia como algo que lhe
era próprio, "por natureza", enquanto
possuidor de um pênis, garantia do "brilho
fálico".

Todo um aparelho institucional estava


destinado a sustentar a lógica que dividia a
espécie entre seres “completos” e
“incompletos”.

Mesmo com significativas mudanças, a


maioria das pessoas hoje, ainda foram
submetidas, seja de forma velada ou
E isso explica muitas
explícita, à cultura do patriarcado em sua
primeira infância. formas de escolha
amorosa.

25
SER O FALO / TER O FALO

O Falo, na Psicanálise, é o O desejo de ser o falo de alguém


elemento organizador da é o desejo de permanecer como o
sexualidade. precioso objeto materno. É um
Em termos gerais, mas não desejo fundante, principalmente
totalitários, o homem subjetiva o nos meninos, que passam a vida
sexo sob o modo “eu tenho o falo” buscando objetos e posições para
e a mulher sob o modo “eu não serem o falo desejante de uma
tenho o falo”. mulher: um bom emprego, o carro
No entanto, nem o homem, nem a mais potente, a força física ou a
mulher, tem de fato o falo. O força do capital.
homem convive com o temor de A primazia fálica é responsável
perder algo que de fato já não tem, por fazer do jogo da sedução
e a mulher convive com a busca de entre os sexos, um autêntico baile
ter este significante fantasiado. de máscaras, onde um parece ser
Cada um de nós lida de uma forma e o outro, se ilude em ter. E neste
com o desejo: ou se identifica com sutil jogo de máscaras, o falo é
o falo de forma a sê-lo, objeto algo que deve ser mantido de
desejante, falo materno imaginário forma velada, pois disso depende
ou não se identifica como detentor sua função, e consequentemente,
do falo e busca o almejado falo, no sua força: na fantasia.
outro.

26
Tudo é sobre sexo, menos o
sexo. Sexo é sobre poder e
fantasia.

O sexual, o que deveria ser


o natural da ordem
biológica, se torna paixão,
a partir da fantasia
fundante de ter ou ser.

27
Sexualidade como Expressão Cultural
Se, por um outro lado, sexo é expressão biológica que define um conjunto de
características anatômicas e funcionais, a sexualidade, entendida de forma
bem mais ampla, é expressão cultural.

Existem diversas características que diferenciam a resposta sexual de homens


e mulheres. A sexualidade masculina está, normalmente, centrada na conquista
e posse, e o ato sexual tem como foco o orgasmo; já a sexualidade feminina
está caracterizada pela sedução e entrega, onde o desejo sexual é o ponto
principal da resposta sexual.

Além disso, encontra-se


necessariamente marcada
pela história, cultura,
ciência, assim como pelos
afetos e sentimentos,
expressando-se então
com singularidade em
cada sujeito.

O estudo da sexualidade
reúne contribuições de
diversas áreas: Educação,
Psicologia, Antropologia,
História, Sociologia,
Biologia, Medicina e
outras.

28
AMOR CORTÊS E AMOR
ROMÂNTICO
Nascido no início do século XI, o Já o amor romântico é
amor cortês é um amor irrealizável. associado à intensa busca pelo
Amar, no amor cortês significa outro, significando também uma
renunciar não ao amor, mas à constante busca em que a
pessoa amada. autoidentidade espera a sua
O paradoxo é que, na busca de valorização a partir da
alcançar o amor perfeito, não ama.
descoberta do parceiro, é como
se sua existência só fosse
De uma maneira generalizada, a
ideia do amor romântico transmite a validada ou percebida a partir do
crença de que o verdadeiro amor momento que esse vazio de busca
envolve a adoração do seu amado, for preenchido.
envolvendo-o em uma combinação
de crenças, atitudes, expectativas e Ao menor sinal de
ideais. descontentamentos, há uma
grande probabilidade de
Na realidade da Europa pré-
rompimento dos laços amorosos e
moderna, o amor não era um fator
relevante, e se conquistado, seria a busca por outro parceiro “ideal”
durante a vida conjugal, pois a maior que vai suprir todos os desejos.
parte dos casamentos não era feita
à base da atração sexual mútua, e Por isso, o amor é o motor
sim da situação financeira e dos ideológico do individualismo.
acordos familiares, onde a mulher Motor de mudança subjetiva.
era só um objeto de troca.
Se ele ou ela me amar, terei o
prazer de ser amado por meu
ideal. Assim, eu me aproximo do
meu ideal de eu.

29
O objeto perdido de cada sujeito pode ser reencontrado,
de algum modo, nos substitutos para ele nas construções
que o sujeito fará para si ao longo de sua vida. Mas a
cada reencontro, uma ausência se presentifica.

Psicanálise Amor
Não é por Ao falarmos de amor,
coincidência que a remetemo-nos à
psicanálise surge esperança humana de
junto com o encontrar a
Romantismo. É a completude, na
partir dessa ideia restauração da perda
romântica, da busca original, colocada por
de uma unidade entre Freud como a
os amantes, que experiência de uma
Freud vê nascer a satisfação inicial que
psicanálise. foi perdida.

Esse amor romântico possui o conceito de que duas pessoas se transformam numa única,
havendo complementação total entre elas, sem nada lhes faltar. E abarca ainda outras
expectativas, que na prática não são realistas: a de que quem ama não sente desejo
sexual por mais ninguém, de que o amado é a única fonte de interesse do outro e que
não é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Logo, a posse é o fio que costura
tais relações, porque, é pelo sentimento de que o outro é uma coisa que me pertence,
que ela só pode ser minha e eu dela. O resultado dessas crenças na vida a dois é que,
com frequência, um acaba imaginando o outro como ele não é e espera coisas que
o outro não pode dar.

30
Temos 2 grandes formas de escolher
um outro perante nosso desejo:

Escolha Narcísica

Escolha por Apoio

Escolha Narcísica
A busca de si mesmo como Objeto amoroso:
O tipo de Escolha Narcísica seria mais característico nas mulheres, que:

- amam no outro, ou melhor, através do outro, aquilo que são,


- amam no outro, ou melhor, através do outro, aquilo que foram um dia,
- ou amam no outro, ou melhor, através do outro, aquilo que gostariam de ser.

Ou seja, amam ter o Falo, que em sua fantasia, está no outro.


31
Escolha por Apoio

Os instintos sexuais apoiam-se na satisfação dos instintos do Eu, ou de


auto conservação. Freud defende que o tipo de Escolha de Apoio é mais
característico ao homem, pois geralmente busca a mulher que nutre.

Ou seja, pessoas que façam em sua fantasia inconsciente, este papel.


Mulheres que o coloquem nesse papel, de ser cuidado.

O tipo de escolha pode variar no mesmo Sujeito de escolha de apoio ou


escolha narcísica, mas geralmente há uma escolha dominante.

32
A seguir, alguns exemplos da
dinâmica do nosso psiquismo:

33
O Pai Fantasiado
O pai fantasiado terá grande Prefere preservar seu pai interior a
importância na vida psíquica da se lançar em uma relação afetiva,
mulher, que é habitada por este pai de pois se sente frágil, exposta ao risco
sua fantasia. de ser abandonada.

Quando essa introjeção do pai não é Não existe satisfação do desejo na


contrabalanceada pela identificação realidade, a não ser de uma
com a mãe, instala-se uma das realidade psíquica.
neuroses femininas mais tenazes, a
histeria de amor, que consiste em uma Assim, o que sustenta o desejo é
rejeição do laço amoroso. Ou seja, a da ordem da fantasia.
mulher inteiramente tomada pelo pai
fantasiado não consegue empreender
uma relação amorosa duradoura, pois
está saturada pela onipresença
paterna.

34
Amores Impossíveis ou
Improváveis

35
E tal como a literatura romântica, a Psicanálise fala de amores interditados. O
Édipo é uma história de amor impossível, que precisou ser interditada.

Freud afirma que para intensificar a libido, se requer um obstáculo. Talvez por isso
as histórias de amores impossíveis nos fisgam de forma tão intensa.

“Não quero rosas, desde que haja rosas. Quero-as só quando não as possa
haver”. Fernando Pessoa

A fantasia do encontro, a expectativa, a superação das dificuldades. Muitas vezes,


é aí que mora o desejo. Vemos pessoas que sentem uma atração irresistível por
pessoas comprometidas, ou com pessoas que moram em outra cidade, outro
estado ou país, quando a idealização do encontro se torna maior do que a relação
em si.

A distância física, ou o interdito, faz com que a relação se realize de forma mais
plena, pois se distancia do real, ficando a cargo dos moldes da minha imaginação
e a do outro, das nossas fantasias que nem sempre precisam se encontrar.

Assim é mais fácil fazer certos acordos com os nossos desejos. O desejo do
encontro, mas que quando se presentifica, perde o aroma das rosas.
Não existe uma relação direta de acontecimentos e vivências específicas na
infância para determinar a forma que nos relacionamos com o outro e com o
mundo. Ou seja, não existe uma previsão do presente para o futuro, mas existe, em
um processo de análise, um retorno à nossa própria história. E esse retorno, não é
exatamente de uma história real, mas um retorno à história percebida por nós,
experimentada dentro de nossos afetos.

Podemos entender, depois de adultos e de repetidas experiências, os nossos


porquês. O que chamamos de ressignificar a nossa história, ou seja, dar novos
significados e trazer experiências recalcadas, esquecidas, jogadas para debaixo
do tapete, para a consciência. A experiência de nos apropriarmos de nossa
história, e por consequência, de nós mesmos.

36
Relacionar-se com uma pessoa comprometida
cria a oportunidade para satisfazer impulsos
competitivos e hostis em relação a esses outros
(homens ou mulheres, os parceiros oficiais) e a
ativação do ciúme parece ser uma necessidade
de estimulação para os amantes desse tipo.
Somente quando estão enciumados, a paixão
atinge o seu ápice.

Percebemos na clínica, que pacientes com o


perfil de escolher amores interditados, não
tiverem uma dissolução satisfatória da fase
edipiana. Ou seja, ainda tem um dos genitores
como par ideal em sua fantasia inconsciente, pois
o que é mais interdito que o incesto?
O que repetimos, como posição perante o outro?

37
Condição ou Tendência de "salvar" a pessoa amada
O Sujeito se convence de que o outro precisa dele, que sem ele perderia todo o
amparo, empresta traços de sua própria constituição. O Sujeito “salva” o outro, ao
não abandona lo.

O tema da salvação tem história e significação próprias e é derivado do complexo


parental. Quando a criança ouve que os pais lhe deram a vida, quer restitui-los deste
Presente, surge uma vontade de recompensa-los.

Note que não se trata do outro. Não estamos falando aqui de pessoas boas ou ruins.
Estamos falando de diferentes neuroses, ou posições que nos colocamos perante a
vida e perante o nosso objeto de desejo, a nossa fantasia.

Quando estou na posição de salvar a pessoa amada, busco pessoas que


reconheceriam minha ajuda, seja emocional, seja financeira, seja intelectual. É uma
posição de certa superioridade que me satisfaz. Assim, eu ajudo, sou vista ou visto
como uma ótima pessoa, aquela que salva, a essencial.
38
Condição ou tendência de pessoas jovens escolherem
amores mais maduros
Para esta condição, Freud teoriza que, ou o desligamento da libido em relação às
figuras parentais, ocorreu de modo relativamente rápido, ou a libido permaneceu
tanto tempo nos genitores, que mesmo após a puberdade, nos objetos amorosos
depois escolhidos ficam impressas as características dos mesmos.

Claro que nem todas as relações são iguais e não podemos ser simplistas de achar
que toda relação com diferença significativa de idade fixa a mesma posição de
gozo de quem escolhe e de quem é escolhido. Mas notamos que jovens que se
atraem por pessoas bem mais velhas tendem a buscar uma revivencia de sua
primeira experiência de amor.

Esse espelho do genitor, traz a forma familiar da relação, seja esta boa ou ruim.
Buscamos um pai protetor como revivência de uma experiência de prazer, ou um pai
punitivo e autoritário, como forma de uma compulsão à repetição, com finalidade
de elaboração do trauma ou tentativa de fazer uma reparação inconsciente.

39
O que não podemos ignorar é a potência
dessa instância, que chamamos
inconsciente.

Ações que nos guiam sem que saibamos colocar em palavras.


Afetos não representados, ou seja, não ligados à uma ideia, é a causa de
angústias e medos sem nome.

40
Amor Platônico / Onanismo
Quanto mais platônico, mais amor? É da estrutura do apaixonamento, ser platônico,
ou seja, não ter um objeto real nem próximo. Porque desta forma, você supõe todo o
saber, o poder, perfeição que quiser. É o sujeito suposto e perfeito.

Ver o que o Outro contém, o que este Outro transborda, pode gerar uma
(des)idealização. Nos elos, revelamos nossa insegurança e angústia, de forma
narcísica fazemos com que o outro nos sustente.

A amor platônico está só no imaginário, não tem o atrito do real. E sendo assim,
serve ao seu sintoma, à sua fantasia. Desta forma, este outro sempre vai satisfazer
suas fantasias.

É primo do onanismo, da masturbação. Eu e meu território imaginário, com os papéis


que os personagens da minha novela particular devem desempenhar.

41
O apaixonamento é como eu amo a mim mesmo,
em uma cópula perfeita com o outro.

Fantasias platônicas. Eu me relaciono com a imagem refletida no espelho,


daquilo que eu suponho ser o outro, mas que casa perfeitamente com o meu Eu.

No entanto, o Eu existe tal como ele se apresenta e o Outro existe tal como ele
se apresenta. Por isso, o amor platônico, não se sustenta.

42
Quando ama não deseja, quando deseja, não
ama
texto
Seus Objetos de desejo são depreciados e desprezados.
aqui

A investigação psicanalítica pode provar que, atrás da ternura, adoração e


estima, se escondem os velhos impulsos sexuais dos instintos parciais infantis,
agora inúteis. Caso não haja esta renúncia infantil, o Sujeito dificilmente
conseguirá a união de amor e desejo em uma única pessoa.

Freud ressalta a impotência psíquica, como efeito inibidor da atividade sexual,


devido a certos complexos psíquicos que fogem do conhecimento do Sujeito.
Uma inibição no desenvolvimento da libido, podendo ser por fixações
incestuosas e/ou impressões penosas acidentais ligadas à atividade sexual.

Freud defende que, para uma vida sexual afetiva e sexual plena, é necessária
a junção de duas correntes: a terna e a sensual. A corrente terna vem dos
primeiros anos da infância e tem base nos instintos de conservação. No
entanto, essa corrente terna desde o início recebeu contribuições dos instintos
sexuais. pág
43
Tais fixações da infância são desviadas de suas metas sexuais, mas já na época da
puberdade sobrevém a corrente sensual, que já não ignora suas metas. Esta corrente
sexual segue os caminhos da corrente anterior, da ternura, e investe os Objetos de
Escolha Infantil Primária com montantes de libido bem mais intensos.

Para que esta corrente não vá ao encontro do incesto, com esforço migra desses
Objetos impróprios na realidade, para outros, desconhecidos, com os quais seja
possível uma vida sexual real. E esses novos Objetos ainda serão escolhidos segundo
o modelo daqueles infantis.

A impotência a qual Freud se refere não é peniana, e sim psíquica. De modo geral,
há ereção no órgão, o que não há, é “ereção” nas fantasias eróticas.
Assim produz-se uma limitação nas possíveis escolhas amorosas, já que a corrente
sensual busca apenas objetos que não lembrem as pessoas incestuosas proibidas, ou
seja, os pais.

A vida amorosa desse Sujeito fica cindida em duas direções, que a arte personifica
em amor celestial e amor terreno. Ou seja, quando amam, não desejam, e quando
desejam, não podem amar. A harmonia de uma relação amorosa deveria sustentar-
se entre o equilíbrio das correntes eróticas e afetivas.

Tendo a mãe como primeiro modelo de amor, o Sujeito na puberdade, apto para
amar e transar, não consegue se organizar afetivamente a não ser pelo mesmo
modelo primário reproduzido com a mãe. Para que o desejo sexual se mantenha vivo,
é necessário depreciar e inferiorizar outra mulher.

Expressões que compõem o jogo erótico como “sua vagabunda”, “vadia”, “cachorra”,
ou tapas na cara, puxões de cabelo, dentre outros, fazem parte do repertório
daquele que Freud designa como impotente psíquico devido ao fato de precisar se
desvincular de toda e qualquer possibilidade de amar para se manter viril.

44
Freud aponta como grande causa desta conduta, a civilização, já que o homem
civilizado precisa reter seus impulsos, ser castrado e passar pelo Édipo. A conduta
social da valorização da pureza da mulher, da pureza da mãe principalmente, traz
consequências psíquicas para a vida adulta.

Na mulher, Freud aponta para a frigidez, também como consequência da


valorização da virtude.

A cultura a qual somos inseridos, faz com que a mulher adquira o íntimo nexo entre
sexualidade e proibição. Vem daí o esforço de muitas mulheres em manter secretas
suas relações amorosas, mesmo quando lícitas, e a capacidade de algumas mulheres
sentirem intenso prazer em relações proibidas.

Sem dúvida migramos o poder das instituições, estamos em uma sociedade mais
fluida, mais livre e mais horizontal. Então cabe a pergunta, o Édipo continua assim,
tão atual?

45
Édipo Hoje?

Freud contextualizou sua teoria no Este estado é comparável a uma


início do século passado, inserido em adolescência prolongada na vida
uma sociedade extremamente adulta, porque o sujeito
patriarcal e machista. Onde as contemporâneo não tem mais uma
funções maternas e paternas eram figura forte e simbólica para se
bem marcadas. emancipar, ou fazer o parricídio como
referência ao Édipo.
Por isso vale questionar se o conceito
do Édipo é ainda válido nos dias de Assim, podemos pensar a atualidade
hoje. do Complexo de Édipo mesmo que
mude ou alterne o protagonismo do
O que observamos, é uma incerteza pai.
das referências, consequência do
declínio da função paterna. Houve nas Continua válido e por vezes até mais
últimas décadas, um declínio das forte do que na sociedade puramente
referências de autoridade, sejam os patriarcal, é o interdito ao incesto, as
pais, as instituições como escola, normas e privações da cultura, sem
igreja, professores e autoridades em que o Sujeito possa fazer o parricídio
geral. ou o luto da morte do pai, já que este
pai deixou de ser uma figura única que
Mas se anteriormente era mais clara a o represente e passou a estar em
definição da autoridade representada todos os lugares, de forma constante e
por determinada pessoa, hoje a vitalícia.
mesma está velada, silenciosa e em
toda parte: são as novas referências, Mesmo com essa diferença marcante
celebridades instantâneas, grupos com da sociedade atual, a lei do interdito e
pensamentos iguais, aos quais o da proibição com essas novas figuras
sujeito precisa seguir o passo a passo representativas, continua agindo de
das condutas para se sentir inserido e forma fundante no processo psíquico e
aceito. nas escolhas de objetos amorosos
destes novos Sujeitos.

46
47
Subjetividade Moderna

As relações modernas são pautadas Ao longo dos séculos, podemos nos


por duas perguntas básicas: quanto eu ver como aquele que arbitra, aquele
dou e quanto eu recebo? Assemelha- que escolhe seus laços e conexões.
se a uma lógica mercadológica, que Mas temos uma nostalgia desta
sai do paradigma do supremo bem, do lógica transcendental, como dizemos
harmônico, da garantia de uma força que amamos e não podemos fazer
transcendental. Ou de um Deus que nada a respeito, nos colocamos em
sabe qual é minha cara metade, que relações tóxicas e apoiamos em uma
vai me mostrar. narrativa de que não temos forças
perante o grande poder do amor, do
Esta virada moderna, do cálculo da divino, dos deuses, onde o outro, a
logica utilitarista é importante para a paixão, me captura. Desta forma,
subjetividade no sentido de libertar o não nos responsabilizamos de fato
sujeito desta logica transcendental de pelos fatos.
que haveria um bem absoluto, mas o
aprisiona dentro desta nova lógica Mas como podemos nos
produtiva. responsabilizar sem conhecer nossos
desejos e fantasias mais
Mas a lógica do erotismo é muito mais inconscientes, já que o desejo não é
complexa. Conhecer a sua posição do egóico. Vai aquém ao Ego. Vem do
feminino e do masculino, sua Id.
identidade, no teu ser, na sua conexão
com o outro, no que te seduz ou não, Por isso é tão difícil ter controle
que tipo de narrativa te atrai. sobre os nossos desejos: e o que
dizer então da nossa pretensão de
O sujeito pré moderno acreditou que termos qualquer controle sobre o
haveria a magia do encontro, algo já desejo do outro?
escrito, pautado pelo destino, a partir
de uma força maior, um Deus, o Pela lógica do inconsciente, ninguém
Universo ou reencontros de vidas de fato escolhe ou rejeita ninguém,
passadas. pois não escolhemos propriamente, o
que desejamos. Isto porque o desejo
Este sistema pré-moderno se apoiava está aquém do Eu.
uma lógica transcendental, o alto
poder das divindades.

48
A Psicanálise quebra a lógica de
Rene Descartes, do

“penso, logo existo”,


para o
“existo onde não penso".

Um furo no nosso narcisismo, ao percebemos que não somos senhores da nossa própria
casa, nosso corpo, nossa mente, nossos desejos.

Muitas vezes queremos apenas cumprir o ideal de eu que circula no nosso universo
familiar, ou no nosso meio, nas pessoas que convivemos, que admiramos etc. Mas, e
quando o desejo se opõe a tudo isso?

O que a Psicanálise nos aponta é justamente esta falta de domínio do nosso desejo.
Dentro dessa lógica, a gente nem rejeita, nem escolhe o outro.

O movimento do desejo ao outro é o que conversa com a minha fantasia, do que me


molda. E se o outro se encaixa no molde do meu desejo, fico acoplado naquilo, e por
mais que eu queira rejeitar ou aceitar, é algo aquém do Eu.

Ou seja, o desejo não é egóico. Mas bem que gostaríamos que assim o fosse. Quem
sabe a vida ficaria mais certeira, mais redonda, talvez mais fácil. Ou não.

49
E para complicar ainda mais, não tentamos apenas controlar o nosso
desejo, mas o desejo do outro. E assim, fantasiar que podemos
manipular o outro para que nos deseje. Mas a fantasia inconsciente
está em uma outra camada. Não controlamos a nossa estrutura
desejante, quem dirá então, a do outro.

E é aí que entra o compasso e descompasso das relações, dos enlaces


neuróticos, das idealizações conscientes e inconscientes.

Muitas vezes não nos apropriamos do que sentimos. A ideia de amor é


muito mais vasta sobretudo na lógica ocidental que é a separação
entre logos e páthos. A razão e o afeto.

Pahos é tanto patologia quanto apaixonamento. Uma fantasia de


imaginar a luta entre razão e emoção.

Eros é sempre a busca do outro, a conexão, o que Freud chamou de


Pulsão de Vida. Uma fantasia, que pode se corporificar em uma
pessoa. Esta força te move, te faz andar, esta força é Eros.

Somos formados de muitas coisas, de muitas camadas, não vemos o


outro em sua totalidade, e sim o que repetimos em nossas neuroses, os
componentes de nossas projeções.

50
Psicopatologias
Na psicanálise não lidamos com
normatizações. Cada sujeito vai carregar
uma posição estrutural, que é o modo de
se inscrever no amor do outro, ou seja, em
qual medida este sujeito precisa se
acomodar em uma série de compromissos
que se estabelece nas relações
interpessoais.

Freud dividiu a forma de subjetivar dos


sujeitos em neuróticos, perversos e
psicóticos. Não vamos adentrar aqui na
perversão e psicose, vamos falar sobre as
neuroses e nas formas que esses dois
modelos de subjetivação se relacionam
com o desejo.

A neurose se forma a partir de uma


divisão: Spaltung, que separa a
representação do afeto.

NEUROSES:
HISTERIA, OBSSESSIVA E FOBIA

O que acredito ser relevante trazer aqui


para o nosso tema, é a forma de
subjetivar a relação com o outro, dentro
do campo neurótico.

51
Modos de estar
fixado na fantasia

Assim, encontramos nas relações amorosas, as neuroses que nos completam.

O que é neurose? É tudo aquilo que te impede de se conectar com o seu desejo. É o
recalque. A repetição. É a ambivalência entre o ID, o desejo e o Super Ego, a
castração.

É o que recalcamos. E o que recalca, sai de alguma forma. Seja no corpo, seja em
uma ideia, seja em um objeto.

Para falarmos sobre relacionamentos amorosos, vamos focar na neurose de histeria e


na neurose obsessiva:

Freud começou sua metapsicologia pelo estudo das histéricas. Uma palavra que
ficou pejorativa no que tange ao feminino, mas vamos à etiologia da palavra:

O termo tem origem do grego hystera, útero. Hoje sabemos que a neurose de histeria
não é de exclusividade das mulheres. É uma forma da representação do desejo, que
pode sim ser representada pelo gênero feminino e masculino.

52
Neurose de Histeria
A marca patente na histeria é a eterna insatisfação, pois na neurose de histeria,
visamos um ideal, e por isso o sujeito está sempre se queixando, tecendo
justificativas para continuar naquele lugar de manter o outro idealizado.

O gozo seria então, a manutenção da tensão, a permanência do desejo


insatisfeito, o que de certa forma, se opõe ao prazer. Seguindo este raciocínio,
podemos perceber a estratégia no sujeito com sua neurose predominante histérica
que, em geral, não quer aquele que a quer, mas sim alguém inacessível, mantendo
seu desejo sempre insatisfeito. Essa é a relação da histeria com o amor e com o
desejo: na insatisfação, sempre há algo melhor para encontrar.

Mas como se identificar com algo que não existe, com algo que não se tem, com a
falta, com o vazio? Eis então que na histeria, o sujeito fica na obstinação de querer
reparar a própria falta e a do outro, se engaja no objetivo de tornar o outro
perfeito e ela também, e aí ela encontra seu limite. As pessoas com neurose de
histeria, tem uma demanda fálica, um desejo de reconhecimento, por isso ela
sempre está numa relação amorosa sem estar, como se ela deixasse uma "saída".
Quanto mais difícil o parceiro mais ela se assegura de que aquele parceiro é o
ideal.

Na histeria, o desejo se mantém na insatisfação e o gozo advém da privação.


É a estrutura do desejo, não uma doença, como já foi vista. E por que vemos hoje
tantos homens com a subjetivação da neurose de histeria?

53
O Novo Homem
O papel do masculino, do fálico e convicto, vai sendo
substituída pelo homem que tem a capacidade de
questionar seus próprios desejos e de se colocar em
divisão, a partir do que o outro espera dele, do
incremento da expectativa amorosa, que deve sim, se
conciliar com o desejo.

O modelo de separação de amor e desejo: da esposa e


mulher ideal e uma relação com uma mulher que apenas
representa o desejo, não é mais tolerado pelo novo
homem, que quer conciliar amor e desejo.

O que marca na histeria é se dar conta da falta e


sempre manter este lugar insatisfeito. O desejo está
sempre no futuro. Como se existisse sempre a
expectativa de que o melhor ainda está por vir.

Fantasia na histeria: tentar encarnar o objeto que


supostamente seria a causa do desejo do outro. Se o
outro me deseja, logo, eu existo. A insatisfação crônica
na histeria: pois a falta é necessária.

A histérica só pode sustentar sua própria existência, no


estado de carência do outro, mantendo o outro sempre
desejante. O seu desejo insatisfeito mantém o outro
desejando.

É a lógica da saída do Complexo de Édipo com a


subjetivação de ter o falo do outro.

Uma insatisfação crônica, como se lhe faltasse sempre


algo, como se o mundo lhe devesse algo.

54
Neurose Obsessiva

Freud dizia que a neurose obsessiva é um subgrupo, sendo a neurose de histeria mais
ampla.

O obsessivo racionaliza demais, é difícil perder o controle, ou deixar fluir.


Formações reativas: pessoas que tem discursos muito politicamente correto, ou
crítico, é uma negação do oposto ao seu próprio discurso, ou pessoas com mania de
limpeza, mas que escondem algo que consideram sujo dentro de si, algo para
tamponar uma falta.

A neurose obsessiva está ligada ao caráter anal, pessoas extremamente


controladoras. Processos ligados à higiene, limpeza, temor de ser contaminado, de se
misturar com outras pessoas, cria um certo distanciamento. Pessoas que gostam de
planejar e ter tudo sob controle.

A neurose obsessiva já foi muito ligada ao masculino, mas hoje vemos que é muito
frequente também nas mulheres. Sintomas hipocondríacos, angústia de natureza
somática, uma angústia permanente.

Tentar tamponar a existência da falta, para não se deparar com a sua própria falta e
a sua própria castração. Retomando o Complexo de Édipo, é a lógica de ser o falo
imaginado da mãe, de se proteger de uma castração.

Fantasia no obsessivo: de que precisa ser completo, autônomo, tendo tudo sob
controle. A fórmula do obsessivo é eu amo desde que permaneça na posição do
meu controle, para que assim, eu me proteja do desejo do outro, pois não suporto o
desejo do outro, já que quando o outro se apresenta desejante, significa que este
outro se apresenta em falta, e o obsessivo se desestrutura, precisa tamponar este
furo do outro, e consequentemente, seu próprio furo.

É a doença da culpa, o obsessivo parece criar motivo para viver em um estado de


culpa: pois teme o desejo, teme o risco. O processo de dúvida é típico para
defender-se para o empenho do seu desejo.

55
“Não consigo viver com você, mas ao mesmo
tempo, não consigo me separar de você.”

a perda é muito difícil para o neurótico obsessivo.

56
Relações ambivalentes, um amor excessivamente idealizado, que nunca pode se
realizar, o que provoca o desamparo do obsessivo de articular a dimensão do desejo
com a dimensão da demanda. Então este amor super estimado pode se transformar
em ódio, na transformação do seu contrário.

Na neurose obsessiva são recorrentes os cortes abruptos, perdidos inexplicáveis, pois


as coisas que saem do controle, são resolvidas quando em fantasia, ficarem isoladas:
a lógica de separar afetos e representações, pensamentos e sentimentos.

Pode ser muito frio, para seguir regras. O obsessivo faz um isolamento de afetos.

Relações que se encerram sem luto, ou sem elaborações, são justificadas por esta
lógica de anulação, de isolamento. Não tem uma transição de afetos, que a gente vê
em outras formas de funcionamento subjetivo.

Outro ponto de isolamento é de separar desejo e amor. Não há este processo de


mistura, de transição, pelo ou menos não de imediato.

57
O ENLACE NEURÓTICO
Marta Siqueira

O que se observava na época de Freud, era o típico enlace da histérica


com o obsessivo com o filho fóbico.

Este funcionamento em casal estava na ideia de que a neurose obsessiva


é uma doença da culpa: pelo medo do desejo, pois o desejo demanda
risco.
58
O homem da culpa e a mulher que o levava
ao estado de impotência permanente.
o que é ser homem e o que é ser mulher, hoje?

Mas esta lógica não é tão marcada na


contemporaneidade, a partir da pergunta
atual do que é ser homem e do que é ser
mulher.

Mudaram as subjetivações e
consequentemente as neuroses, os enlaces
neuróticos, as relações amorosas
contemporâneas.

desejo risco culpa


59
O MITO DE ARISTÓFANES
No livro O Banquete, de Platão, Aristófanes explica o amor a partir de um
mito de completude do homem.

Existiam 3 gêneros: feminino, masculino e o andrógino, que era o mais


forte, por conter as características dos outros dois.

Era da ordem da fusão, que pretende fazer dois virarem um.

Em uma batalha, os andróginos foram vencidos por Zeus, que os


castigou, separando-os em dois. Então, para Aristófanes, é porque os
seres humanos foram cortados ao meio que vivem em busca de suas
almas gêmeas, como se ansiassem pela completude que um dia houve.

Assim, pensamos na fantasia popular, que o amor se dá ao encontrar a


parte que supostamente nos falta, a parte que nos livraria da nossa
própria falta. Mas isso é uma utopia, pois a falta nos constitui como
sujeitos.

60
Talvez venha do mito de Aristófanes, a cultura deste amor fusionado, das
relações adesivadas, onde um precisasse estar sempre ao lado do outro,
sempre prontamente disponível. Como se os interesses individuais
ficassem menores, formando um terceiro sujeito, o casal e qualquer falha
ou falta do outro nesta dinâmica fusionada, gera sentimento de rejeição,
de abandono, de mais falta.

Tal como a literatura romântica, a psicanálise fala de amores


interditados, pois entendemos que é um padrão de repetição, quando o
Objeto que se deseja é substituto para aquele que imaginariamente foi
perdido.

Freud desconstrói ESSE ideal amoroso.

Para a Psicanálise, todo amor, é uma (re)vivência de outro amor. Somos


seres relacionais e somos formados, desde bebe, a partir do outro, e é a
partir das nossas relações com as primeiras figuras de amor, que pode
ser o pai ou a mãe, ou pessoas que representem essas figuras: avos, tios,
tias e por ai vai. A pessoa que cuida do bebe nos primeiros anos de vida.

Então, o amor, o apaixonamento, é uma relação de uma transferência


inconsciente. Pode ser o tom de voz, um gesto, a forma de falar, de
mexer o cabelo, uma risada, a postura perante o outro, tudo isso vai
comunicar com as minhas memórias mais primitivas, trazendo o que
chamamos inicialmente de simpatia ou antipatia. E dessa simpatia, se o
outro me permite estar em uma posição que satisfaça o meu desejo,
desenvolve-se, a paixão.

Quando falo em posição, é a posição que nos colocamos perante o


outro, uma posição de satisfação, é o olhar que o outro me dirige.

61
O amor é o campo do escancaramento do registro do inconsciente.

a paixão que cega


Dizemos que a paixão é cega, pois não conseguimos enxergar o
outro como de fato é, nesta fase da relação.

62
Nos apaixonamos por nós mesmos

No início, as idealizações e projeções são muito grandes, já


que nos apaixonamos por nós mesmos, a partir do olhar do
outro, pois o outro também criou uma série de projeções e
idealizações nossas.

Nada mais atrativo do que identificar no olhar do outro uma


posição de desejo: essa experiência é familiar e buscamos
repeti-la por toda a vida.

63
Relacionamentos Tóxicos e/ou abusivos.

Vemos pessoas passando por situações de humilhação, ou abandono, ou


agressões e continuar ao lado do agressor.

Freud estudou o sadismo e o masoquismo e chegou ao masoquismo


primário. Quando na minha fantasia infantil, e quando dizemos infantil é
o infantil que permanece no adulto, acredita que o outro, é aquele que
sabe mais do que eu, aquele que precisa me dizer de mim. Em algum
lugar arcaico, inconsciente, achamos que o outro precisa me manipular,
pois supomos no outro, um saber maior que o nosso. Aquela parte de
você que tem um furo, o outro pega.

Perceba como o discurso do abusador casa certinho com esse


sentimento: Eu te bati por culpa sua, você provocou, você me tirou do
sério. E a pessoa no fundo dá razão ao agressor.

Olhamos de fora e vemos mulheres independentes, empoderadas,


passando por este tipo de situação, mas tem uma fixação infantil
inconsciente dizendo pra ela que a relação está em equilíbrio. De que
forma essa pessoa aprendeu a amar e principalmente, que artifícios ela
criou para em sua fantasia, ser amada?

Então já que não sou bonita, vou ser a engraçada da turma. Vou ser a
meiga, que acolhe todo mundo, a boazinha. Vou ser mais fechado, pra
me proteger, vou falar demais, preciso ser o centro das atenções, ou vou
ficar isolada no meu canto. Vou ser a melhor aluna da sala, pra ganhar o
amor dos meus pais.

Ou seja, são formas de se colocar no mundo para ter nosso elemento


essencial, de sobrevivência, que é o amor.
Para nós, psicanalistas, não existem pessoas boas, ou más, existem
diferentes sintomas neuróticos.
64
Amores Líquidos

O sociólogo Zygmunt Bauman escreveu


na década de 1.980 o livro que virou um
clássico, chamado Amor Líquido,
criticando a falta de solidez, nas
relações. E eu brinco que hoje já não
são mais liquidas, já estão no estado
gasoso. São rápidas, efêmeras.

As relações contemporâneas são medidas pelo o que eu ganho e o


que eu perco de estar com determinada pessoa. Uma conta quase
que mercadológica.

Não quero fazer nenhuma crítica no que se refere à normalidade, ao


certo ou errado, nem ser saudosista.

O fato é que nossa sociedade mudou muito. Se por um lado as


pessoas estão menos contidas, menos recalcadas, com relações mais
leves e fluidas, por outro lado estão também muito angustiadas, pois
estão sem referências, sem contornos e apoios que as sustentem.

65
Amores Líquidos

As Instituições tradicionais perderam


força nas últimas décadas: família,
escola, igreja. E ganham força o
politicamente correto, as redes sociais, o
fazer parte de um determinado
movimento: seja político, social. Ou seja,
as pessoas vão criando novas
comunidades as quais precisam
pertencer, fazer parte.

Mas note que são movimentos sem uma


hierarquia, não é mais vertical, o pai, o
mestre, o governante, mas sim relações
horizontais, onde tudo flui de forma mais
igualitária.

Sempre seremos seres relacionais.


Precisamos do olhar do outro, pois é a
partir deste olhar que nos constituímos.
Então o amor perfeito só existe mesmo
na nossa fantasia infantil. Decidir dividir
a vida com alguém demanda muita
resiliência. Mas pode ser bastante
compensador.

66
ROMANCES

67
Procuramos relacionamentos românticos, pois
acreditamos que esta dinâmica a dois, vai nos
resgatar de uma falta.

O amor pode até tamponar Muitas pessoas vivem a partir de


parte de uma falta, mas desde um falso Eu, para serem aceitas.
que estejamos dispostos a E as pessoas que se aproximam,
trabalhar por ele. se apaixonam por este falso Eu,
por esse personagem.

Criamos relacionamentos condenados a repetir nossos dramas familiares.

Reforça assim, o ciclo de


Mas inevitavelmente, pedaços do
rejeição que a pessoa que criou
verdadeiro Eu emergem na vida a
o falso Eu fez para se defender
dois. E como a pessoa que a
das crenças fixadas na infância
conheceu, se encantou pelo falso
de que ela não é boa o suficiente
Eu, sente-se decepcionada,
para ser amada.

68
Amar é um aprendizado. A ideia de amor romântico
ser algo transcendental, fruto do destino e que basta
existir para que aconteça, tira de nós a
responsabilidade da escolha.

A noção mística do amor, de algo maior que nós, que não temos controle,
atribuída aos deuses, astros e destino, na Psicanálise reconhecemos como a
força e a potência das escolhas inconscientes, fruto de nossa vivência por
completo, de nossos traumas, nossos medos, nossa forma que aprendemos a
amar e a buscar o amor. A forma que nos posicionamos no mundo.

Amar alguém é acima de tudo, uma decisão. É algo que migra do inconsciente
para a consciência. O desejo de amar, não é amor. O amor se expressa
amando, é um ato de vontade.

Precisamos olhar criticamente para nós mesmos, nossos desejos, medos e


anseios. Nossas falhas, nossas faltas e fazer as pazes com elas. Somente assim
nosso verdadeiro self poderá ser visto pelo outro, sem máscaras. Isso pode ser
assustador, quando percebemos que não há um lugar para onde podemos nos
esconder. Amar é desapegar do medo.

Sexo prazeroso pode acontecer entre duas pessoas que nem sequer se
conhecem. A química sexual passa pelo psíquico, antes do biológico. É nesta
autorização psíquica que o desejo se dá. Química sexual pode até conduzir a
uma relação amorosa, mas não tem ligação direta ou condicional a esta.

Como já vimos, o desejo passa por uma série de autorizações e castrações,


formações psíquicas, lembranças e histórias.

Em uma sociedade patriarcal, a pressão sobre os homens, de apresentar boa


performance sexual é tão grande que eles frequentemente se sentem satisfeitos
por estar com alguém com quem tem prazer no sexo, ignorando todo o resto, e
é comum que levem algum tempo para identificar o desamor que podem sentir.

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Infelizmente, com bastante
frequência, vemos também homens e
mulheres que tem prazeres mais
intensos com parceiros que os ferem
de muitas maneiras.

O caminho proposto aqui é que possamos entrar em novos


relacionamentos de forma mais consciente das nossas repetições de
antigos padrões. Podemos ir da paixão à construção de um amor usando
a energia e intensidade criada por um laço erótico intenso para aumentar
a autodescoberta, seja o que aparecer em nós. É antes de tudo, nos
abraçarmos, nos acolhermos, nos tratarmos com amor.

O mito do felizes para sempre pode nos limitar na visão do amor.


Podemos ser impactados fortemente por um encontro com o outro,
mesmo que ele não leve ao prazer sexual ou a um vínculo de
compromisso. Nem sempre o para sempre, é possível. Ou mesmo a meta
de um futuro. Mas não deixam de ser formas de amor.

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Uma relação duradoura, está relacionada ao trabalho, como escreveu o poeta
Rainer Maria Rilke:

“Como em muitos outros casos, as pessoas também


confundiram o papel do amor na vida,
transformaram-no em diversão e prazer, porque
pensaram que diversão e prazer seriam algo mais
feliz que o trabalho; mas não há nada mais feliz
que o trabalho, e o amor, por ser a felicidade
extrema, não pode ser outra coisa a não ser
trabalho.”

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Mônica Lacerda

@epodefreud

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Obrigada

Mônica Lacerda

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