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Anais Sebsurdos 2018 1
Anais Sebsurdos 2018 1
ANAIS
Congresso Internacional
Seminário de Educação Bilingue para Surdos
ISSN: 2526-6195
15 a 18 de maio de 2018
Contém referências.
1. Educação Bilíngue - Surdos - Congressos. I. Congresso Internacional. II. Santos-Reis da
Costa, Sheila Batista Maia; Cerqueira, Elisama de Jesus Santos; Silva, Hemille Menezes da.
III. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação - Campus I. Núcleo de
Pesquisa e Extensão.
CDD: 371.912
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
EXPEDIENTE
REITOR
José Bites de Carvalho
VICE-REITOR
Marcelo Duarte Dantas de Avila
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO
Daniel de Cerqueira Góes
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
Adriana dos Santos Marmori Lima
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
Maria Conceição Alves Ferreira do Sacramento
COORDENAÇÃO GERAL
Sheila Batista Maia Santos Reis da Costa
COORDENAÇÃO DISCENTE
Anderson Ferreira dos Santos
Carla Eugenia Santos Sales
Maiara Oliveira Gonçalves
Marta Beatriz Campos Luz
Raiane Silva dos Santos
PALESTRANTES NACIONAIS
Adriana Fernandes Barroso – UFSCAR
Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva – UFBA
Álon Mauricio da Silva Silva - UFBA
Enézio de Deus Silva Junior - UNIFASS
Erivaldo de Jesus Marinho - IFBA
Felipe Káyóde - UNIVERSITÉ DE STRANSBOURG
Flaviane Reis – UFU
Glauber de Souza Lemos – INES
Ismar Inácio dos Santos Filho - UFAL
Juliana Matos Macedo - UNIME
Larissa Silva Rebouças - UFS
Laura Jane Messias Belém - INES
Luíz Cláudio de Oliveira Antônio - INES
Luiz Renato Martins da Rocha – UTFPR
Marcia Cruz - UFSCAR
Marcos Luiz dos Santos Brabo – UFRR
Mariléia Lúcia Stolz - UFSM
Norma Abreu e Lima Maciel de Lemos Vasconcelos - UFRPE
Raquel de Oliveira Meira – UFBA
Renata dos Santos Costa - INES
Rosecleide Ferreira Borges Rodrigues - NAPE/ UFBA
Sonia Jay Wright – UFBA
Vinicius Martins Flores - UFRGS
Vinicius Nascimento dos Santos – UNEB
Yndiara Caroline Damasceno- UFRB
PALESTRANTE INTERNACIONAL
Neil Kantilal Patel - DIFFA/Dallas
MONITORES
Alana Karina Gomes Pinheiro
Alberto Marinho Menezes Conceição Santos
Ana Flávia de Souza Gois
Ana Luiza Braga Costa
Beatriz de Souza Santos
Breno de Araújo Bastos
Caio Alan de Oliveira Gomes
Carla Pinheiro Meira Cerqueira
Carla Tercilia Oliveira Venâncio
Cristiane Passos de Jesus
Davi Oliveira dos Anjos
Débora de Jesus Silva
Deyvison Ruan de Jesus Santos
Edson Henrique Alves Fonseca
Elis Cristina Nascimento
Evany Elma Santos Falcão
Fabiana Ribeiro Moraes
Filipe Santana Lima
Flávio Costa de Almeida Filho
Francine Marie Mariano Roschbach
Gabriela Costa Gonçalves
Gabriele dos Anjos Santos
Isabelle Priscilla Castro Santos
Israel Rodrigues de Freitas Souza
Jaiane Oliveira Lopes
Jamile Benjamin de Carvalho Silva
Jaqueline Mota de Oliveira
Jeferson Santos Souza
Jersiane Portela de Jesus
Jessica Francisca Costa de Cerqueira
Jevem Santos de Jesus Lins
Joana Angélica de Castro Bonfim
Karla Santos da Silva
Kézia de Alcantara Pereira da Silva
Laís Márcia da Paixão
Larissa de Jesus Luciano
Larissa dos Santos Costa
Larissa Passos da Silva
Lillian Dantas de Assunção
Luana Costa dos Santos
Luana de Souza Monteiro
Luana Sousa Xavier
Luma Giovana Barreto Moraes
Manuella Garcia da Silva
Marcela Leão Duarte Martins
Maria Eduarda Santana Oliveira
Mileide Elisa Camilo dos Santos
Mirela de Oliveira Matos Ferreira
Monique Lima de Jesus
Mriam Santos de Oliveira
Naiara Bonfim Aguiar
Naira Santos da Silva
Quezia Gomes da Silva
Stéfanie Caires Risério
Tabita Maise de Menezes de Santana
Talita Rodrigues de Santana
Thamires Gonçalves Costa
Vanessa Campos Gomes
Wesley de Sena da Silva
❖ O Luto do Filho Idealizado: Uma Reflexão acerca da Relação dos Pais com os
filhos Surdos
Gabriela Oliveira do Sacramento e Alba Riva Brito de Almeida
OBRAS DE ABERTURAS
Obras de Abertura
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PREÂMBULO
Ao levantar a questão sobre o papel da universidade, Sieutji (1999), afirma que esse
papel não é tão somente “a transmissão do conhecimento em sala de aula”, mas envolve
“a pesquisa, que pode ser pura ou aplicada, e a objetivação da pesquisa aplicada, através
da extensão” (SIEUTJI, 1999, p. 101). Ainda sobre este assunto, Fávero (2006)
acrescenta:
1
Professora efetiva da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, campus I -
Salvador/BA. E-mail: smaia@uneb.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
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Destarte, há discussões e/ou insatisfações sobre o que deve ser ou não ser o papel das
universidades públicas no Brasil, sejam elas federais ou estaduais. O Estado da Bahia,
mediante a Lei Nº 8.352, de 02 de setembro de 2002, trata do Estatuto do Magistério
Público de suas Universidades estaduais. Nesta lei, as atividades do magistério superior,
de acordo com os parágrafos do artigo 3º, referem-se a:
Desta forma, faz parte das ações das nossas universidades estaduais o compromisso com
a aprendizagem, a produção e compartilhamento de conhecimentos, associados às
atividades de ensino e pesquisa. O envolvimento da universidade com a comunidade
externa se dá através de abertura de diálogos sobre os conhecimentos discutidos em sala
de aula e nas pesquisas, a exemplo dos atendimentos clínicos gratuitos. Para além da
associação às pesquisas, as ações extensionistas são de natureza artística e sociocultural
– que fazem parte do bem cultural, folclórico e artístico do povo baiano.
LIBRAS
Fonologia
Bilinguismo Lei 10.436/02 Comunidades Surdas
Morfologia
Português para Surdos Decreto 5.626/05 Artefatos Culturais
Sintaxe
Escrita de Sinais Lei 12.319/10 Identidades Surdas
Quanto aos Projetos de Ensino3, Pesquisa e Extensão cadastrados e coordenados por esta
autora no Sistema Integrado de Planejamento da UNEB4, convém mencionar:
2
Aprovada e admitida no Concurso Público para Professor Auxiliar do Departamento de Educação da
Universidade do Estado da Bahia (Edital Nº 009/2012).
3
É necessário destacar que Projeto de Ensino, não significa Atividades de Ensino Docente, mas Projetos
para Monitoria conforme Resolução N.º 700/2009.
4
O cadastramento digital dos Projetos aconteceram a partir do ano de 2014.
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5
Trabalho desenvolvido com discentes do curso de Pedagogia no semestre de 2014.2, turma ED0604 -
Língua Brasileira de Sinais - Libras (Teórica/Prática - T02). Projeto Paralisado, por naquele momento não
haver estrutura para a magnitude do projeto.
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Pelo exposto, contabilizamos que, entre os anos de 2014 a 2018, foram realizados quatro
(04) Projetos de Extensão; oito (08) Projetos de Pesquisa; cinco (05) Projetos de
Pesquisa/Extensão, e quatro (04) Projeto de Ensino.
6
Trabalho desenvolvido com discentes do curso de Psicologia durante o semestre letivo de 2018.1, turma
PS0142 - Libras (Teórica - T01).
7
Trabalho desenvolvido com discentes do curso de Psicologia durante o semestre letivo de 2018.1, turma
PS0142 - Libras (Teórica - T01).
8
Trabalho desenvolvido com discentes do curso de Pedagogia – Lauro de Freitas, durante o semestre
letivo de 2018.1, ED0604 - Língua Brasileira de Sinais - Libras (Teórica/Prática - LF02)
9
Trabalho desenvolvido com discentes do curso de Psicologia durante o semestre letivo de 2018.1, turma
PS0142 - Libras (Teórica - T01).
10
O Portal SIP está disponível em: http://www.sip.uneb.br/
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Gráfico 1. Projeções dos Projetos cadastrados do SIP – DEDC I, entre os anos de 2014 a 2018.
PROJETOS
Ensino
Pesquisa/Extensão 19%
24%
Extensão
19%
Pesquisa
38%
11
Relato histórico dos Projetos. Disponível em:
https://visebparasurdos.files.wordpress.com/2018/03/seminc3a1rios-de-educac3a7c3a3o-bilc3adngue-
para-surdos-sheila-batista-maia-santos-reis-da-costa-donaldo-rico-de-souza-tavares.pdf.
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Foram contabilizados entre os anos de 2012 a 2014 três (03) Projetos de Extensão, um
(1) Projeto de Pesquisa; um (01) Projeto de Pesquisa/Extensão, e zero (0) Projeto de
Ensino. No gráfico abaixo, estão representados estes valores em termos percentuais.
Gráfico 2. Estatísticas dos Projetos protocolados no DEDC I entre os anos de 2012 a 2014.
PROJETOS
Ensino
0% Pesquisa
Pesquisa/Extensão
19%
23%
Extensão
58%
12
Pesquisa desenvolvida com discentes do curso de Pedagogia no semestre de 2013.1, turma ED0604 -
Língua Brasileira de Sinais - Libras (Teórica/Prática - T01), e apresentado com a discente Bárbara
Febronia da Rocha Da Silva no XII Congresso Internacional e XVIII Seminário Nacional do INES-RJ e
no I Colóquio Docência e Diversidade na Educação Básica da UNEB/DEDCI.
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Este papel, em tese, é desenvolvido pelo corpo docente, e trazemos o recorte para o
Professor de Libras no Ensino Superior. Esta é muito recente no Brasil, tendo seu marco
inicial a partir do Decreto 5.626 no ano de 2005:
Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais
do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser
realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em
Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua
/.../ Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto,
caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em
Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela
poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos
seguintes perfis /.../ 2º A partir de um ano da publicação deste Decreto, os
sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação
superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do
magistério (BRASÍLIA, 2005, grifos nossos).
I13. O quadro abaixo apresenta adequações que a Universidade precisou fazer para
atender a necessidade de inclusão do Professor para o Componente Curricular Libras
nos cursos de graduação. As adequações consideraram a realidade da formação de
professores de Libras no Brasil, o que implicou diretamente na titulação mínima exigida
para a cadeira:
Quadro 4. Dos concursos para docentes efetivos realizados na UNEB14. Grifos nossos.
ANO EDITAL DEPARTAMENTO ÁREA/TITULAÇÃO
2008 Nº 035/2008 DEDC I Graduação em Música com Doutorado em
Música
Licenciatura em qualquer área ou Bacharelado
nas áreas de Informação e Comunicação e
Doutorado em Educação com ênfase em Novas
Tecnologias
2011 Nº 002 / 2011 DEDC I Graduação em Pedagogia com Doutorado em
Educação
Graduação em Letras com Doutorado em
Letras
2011 Nº 037/ 2011 DEDC I Graduação em Letras com Libras ou Letras
com certificado de proficiência em LIBRAS pelo
MEC e Especialização em Letras ou Educação
2011 Nº 035 / 2011 DEDC I Graduação em Geografia com Doutorado em
Geografia ou em Educação
Graduação em Matemática com Doutorado em
Educação Matemática ou em Educação
2012 Nº 009/2012 DEDC I Graduação em Letras ou Pedagogia com
Certificação de proficiência no ensino de
LIBRAS (PROLIBRAS), conforme Decreto
Federal 5626/05, e Pós-Graduação15 em Letras
ou Educação ou áreas afins
Fonte: Portal da UNEB. Disponível em: www.concursodocente.uneb.br
De acordo com exposto, os Editais sempre exigiram Graduação na área solicitada mais
Doutorado, a adequação para atender a inserção do Professor Libras, nesse dado
contexto histórico, foi Graduação em Letras Libras ou Letras ou Pedagogia mais exame
13
Concursos 2011 e 2012: http://www.concursodocente.uneb.br/default.aspx.
14
É relevante mencionar que, para os Editais 076/2009 e 046/2013 (não citados no referido quadro), não
houve abertura de vagas para lotação no DEDC I.
15
Latu Sensu.
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de proficiência em Libras mais titulação Lato Sensu. Esse contexto histórico teve a ver
com o introito da determinação deste Componente Curricular no Brasil no ano de 2005 e
o início das primeiras graduações para Letras Libras em 2006.
Nesta discussão, não trazemos em pauta a competência dos Professores com titulação
Lato Sensu para o ensino do Componente Curricular Libras - embora esse tema traga
profundas e complexas discussões, especialmente ao analisarmos diversos Editais que
solicitam titulação Lato Sensu em Libras, e não levam em conta a Graduação na área
solicitada, no caso, Graduação em Letras Libras - nosso objetivo aqui é tratar como a
necessidade da titulação Strictu Sensu é sentida no decorrer do ingresso na acadêmica -
em ações que demandam escalada vertical na titulação para atuações, e consistência
acadêmica principalmente para a Pesquisa. Consideramos que a natureza do trabalho
docente no nível superior exige a articulação da tríade Ensino, Pesquisa e Extensão,
conforme a Constituição Federativa do Brasil (1988), Sieutje (1999) e o Estatuto do
Magistério Público das Universidades do Estado da Bahia (2002) apontam.
De certo, esses novos docentes, independente da formação Latu Sensu, devem atender
as extensas e densas atividades profissionais que fazem parte dos deveres de todos os
docentes do nível superior: ensino, pesquisa e extensão. Em paralelo às atividades, têm a
emergência de dar continuidade ao seu processo formativo Strictu Senso na intenção de
exercerem plenamente suas atribuições docentes. Destas atribuições, destacam-se,
especialmente as que se dedicam à Pesquisa, sejam projetos individuais, com estudantes,
que envolvam ou não registro no Comitê de Ética em Pesquisa – CEP. Orientações de
Monografias, Dissertações e Teses. Bancas para avaliações de Dissertações e Teses.
Para este docente de formação Latu Sensu as atividades de ensino, pesquisa e extensão
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As tecnologias empregadas pelo SIP e SEI para cadastro digital dos projetos têm
garantido um controle, registro permanente e compartilhamento de saberes que servem
como fonte de pesquisa qualitativa e quantitativa das contribuições docentes para a
promoção da Universidade Pública brasileira. As bancas do Núcleo de Pesquisa e
Extensão – NUPE/DEDC têm garantido aos docentes que suas habilidades pessoais,
conhecimento científico e saberes de diversos campos, possam ser divulgados,
publicados e compartilhados com a comunidade externa, a partir dos deferimentos e
sugestões de adequação para os projetos.
REFERÊNCIAS
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BAHIA. Lei Nº 8.352 de 02 de Setembro de 2002. Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Público das
Universidades do Estado da Bahia e dá outras providências. Publicada D.O.E. Em 03.09.2002.
BRASIL. Decreto n.º 5.626, de 22 de Dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril
de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de
dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em 22 abr. 2017.
BRASIL. Lei n.º 10.436, de 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm.
Acesso em 22 abr. 2017.
COSTA, Roberto César Reis da; SANTOS-REIS DA COSTA, Sheila Batista Maia. Introdução à
Linguística da Libras. (Material didático para Especialização em Libras e Educação Inclusiva). Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Mato Grosso – Várzea Grande. 2017.
SIEUTJES, Maria Helena Silva Costa. Refletindo sobre os três pilares de sustentação das
universidades: ensino-pesquisa-extensão. Revista de Administração Pública, v.33, n.3, p.99-111,
maio/jun.1999.
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INTRODUÇÃO
Nas duas últimas décadas, muito se tem feito no campo da legislação e nas ações
voltadas para a educação da pessoa surda, sendo o Decreto 5.626/2005 (BRASIL, 2005)
o que mais incidiu sobre a presença e importância, do profissional tradutor intérprete de
Língua Brasileira de Sinais - Libras - Língua Portuguesa4- TILSP, no processo da
mediação e acessibilidade à comunicação, informação e à educação nos processos
seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis,
etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior (BRASIL,
2005, Cap. IV, Art. 14)
1
Graduada em Ciências Contábeis. Especialista em Tradução, interpretação e ensino de Libras pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestra em Educação pelo Programa de Pós Graduação em
Educação da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: laurajanemb@yahoo.com.br -
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8372028340382532
2
Graduada em Letras Libras e em Pedagogia. Mestra em Educação pelo Programa de Pós Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. E-mail: reebenezer@hotmail.com -
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2759000860926550
3
Graduado em Sistemas de Informação e graduando em Pedagogia. Especialista em Docência do Ensino
Superior pela AVM/ UCM e em Educação de Surdos pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos. E-
mail: lcoliveira@ines.gov.br - Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5792377846764038
4
Profissional que domina a língua de sinais e a língua portuguesa (de modalidade oral ou escrita) cuja
qualificação para atuar deve abranger: domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de
tradução e interpretação (QUADROS, 2004, p.28).
5
Língua Brasileira de Sinais – modalidade de língua visuoespacial, símbolo por excelência da surdez
(FERREIRA-BRITO, 1995), cuja lei, regulamentada pelo decreto-lei 5.626/2005, reconhece e assegura
como a língua das comunidades surdas dentre outras atribuições.
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6
Lei que define acessibilidade como: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos
transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com
mobilidade reduzida (BRASIL, 2000, Art. 2º, Inciso I) e; interpreta como barreiras na/da comunicação:
qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens
por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa (Inciso II, item d).
7
Lei 12.319 de 1º de Setembro de 2010, que regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua
Brasileira de Sinais – Libras, na competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira
simultânea ou consecutiva e, na proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua
Portuguesa.
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8
O termo “intérprete educacional” é usado em muitos países (EUA, Canadá, Austrália, entre outros) para
diferenciar o profissional intérprete (em geral) daquele que atua na educação, em sala de aula
(LACERDA, 2009, pág. 13). De acordo com a autora, existe uma preocupação no reconhecimento dos
TILSP que se encontram no espaço educacional, não só como aqueles que versam os conteúdos da língua
majoritária para a língua de sinais do país e vice-versa, mas, também, como aqueles que se envolvem de
alguma maneira com as práticas educacionais, constituindo assim em sua forma de atuação, aspectos
singulares.
9
Surdocegueira é uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente
em diferentes graus, levando a pessoa surdocega a desenvolver várias formas de comunicação para
entender e interagir com as pessoas e o meio ambiente, proporcionando-lhes o acesso às informações,
uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho” (Grupo Brasil, 2003).
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 41
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Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
A expressão e no trato com aquelas que não se comuniquem em Libras, e para pessoas
surdocegas [...] presente no Decreto 5.296/2004 em destaque anterior, remete à
importância de uma formação e capacitação das pessoas que já atuam como intérpretes
de Libras ou que pretendem enveredar por essa profissão, pois para se comunicar com
surdos que não possuem língua de sinais ou com surdocegos, será necessário que no
mínimo o profissional seja conhecedor da constituição da pessoa surda ou que tenha um
convívio intenso e forte com a comunidade surda, podendo recorrer a surdos mais
experientes ou, experimentar vivências com pessoas que possuam pouca
comunicabilidade e requeiram abordagens diferenciadas.
Sousa (2017) que atuou como tradutora intérprete terceirizada nos anos iniciais de
criação do Departamento de Ensino Superior (antigo ISBE) e recentemente produziu em
seu curso de especialização um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) resgata questões
vivenciadas, principalmente ao retornar ao DESU compondo atualmente o quadro de
TILSP concursados e efetivos da instituição. A sua contribuição aponta dados relevantes
que compõem o cenário institucional do INES no tocante aos vários conflitos e
implicações no serviço caracterizados pela dificuldade do nível de trabalho em relação a
formação, as condições laborais ou mesmo as relações interpessoais entre surdos e
intérpretes (p. 25).
10
Programa Nacional para a Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais -
Libras e para a Certificação de Proficiência em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa,
cujo objetivo visa realizar, por meio de exames de âmbito nacional, a certificação de proficiência no uso e
ensino de Libras e na tradução e interpretação da Libras. Fonte: http://portal.mec.gov.br/pnaes/194-
secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/17436-prolibras-programa-nacional-para-
a-certificacao-de-proficiencia-no-so-e-ensino-da-lingua-brasileira-de-sinais-libras-e-para-a-certificacao-
de-proficiencia-em-traducao-e-interpretacao-da-libraslingua-portuguesa-novo. Acesso em: 30/04/18
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 43
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Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
11
Conquista nacional após pleito de movimentos e reivindicações sindicais de representatividades dos
servidores federais de todo o país, para serem efetivadas caso fossem deliberadas pelos gestores de cada
instituição federal de ensino para toda a categoria de Técnicos Administrativos.
12
Envolve todos os entes federados e realizou um investimento total de 7,6 bilhões até 2014 através de
um plano de ação desenvolvido por 15 ministérios e a participação do Conselho Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência (CONADE) que trouxe as contribuições da sociedade civil.
(www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/viver-sem-limite) Acesso em: 29/04/18.
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O número total de vagas disponibilizadas para tradutores intérpretes não foi preenchido,
somente 26 candidatos das 36 vagas disponibilizadas foram aprovados, dentre eles duas
profissionais TILSP surdas. O número de candidatos inscritos para o segundo processo
seletivo foi tão expressivo quanto o primeiro. Entretanto, o quantitativo de profissionais
reprovados na banca do segundo concurso superou a do primeiro e impossibilitou que o
quantitativo de vagas almejadas fosse plenamente contemplado. Conclui-se que na
última década ocorreu uma ampliação significativa de oportunidades inserção dos
TILSP no mercado de trabalho formal por meio de cargo efetivo em instituições
públicas federais de ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos autores demonstram em suas pesquisas que o espaço educacional foi um dos
primeiros a garantir mais amplamente que os alunos e as alunas surdas pudessem ter
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Sendo assim, os dilemas, conflitos, crises pelos quais passam os intérpretes demonstram
que eles estão em consonância com a própria língua: vivos e em evolução. Saber uma
língua implica, além de comunicação, em aquisição de conhecimento, e esses são
compartilhados com o outro. Quanto à postura e modos de agir do intérprete, estes
podem influenciar e interferir na inserção da pessoa surda, seja no contexto educacional,
seja na sociedade, pois se faz necessário que a pessoa surda adquira mais conhecimento
acadêmico e habilidades técnicas, fazendo o intérprete se sentir corresponsável pela
situação de aprendizagem dele (LACERDA, 2009).
Manter o difícil equilíbrio entre “evitar impor o modo de ser de uma cultura [...] e de
outro impor ao texto a ser traduzido o modo de ser de sua própria cultura trata-se de
um ato ético, um ato de resposta e de responsabilidade, um ato de arbitragem honesta,
de negociação entre culturas que busca chegar ao acordo do que é o texto fiel”
(LACERDA, 2009, pág. 7 apud SOBRAL, 2006). Para isso é necessário que esse
profissional se desafie continuamente, conheça profundamente ambas as línguas e da
multiplicidade de possibilidades de produção de sentido (LACERDA, 2009, pág. 8 apud
ARROJO, 1996).
REFERÊNCIAS
ALBRES, N. A. Intérprete educacional: políticas e práticas em sala de aula inclusiva. São Paulo:.
Harmonia, 2015.
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BELÉM, L. J. M. A atuação do intérprete educacional de Língua Brasileira de Sinais no Ensino
Médio. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2010.
BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436. htm Acesso
em 30/03/2017.
________. Lei 13.146 de 6 de julho de 2015 Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência, Brasília, 2015.
BRITO, L. F. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, 1995.
FRANCO, M.; ROCHA, M. Surdez E Educação Superior: Que Espaço É Esse? In: 31ª reunião Anual da
Anped, 2008, Caxambú. Constituição Brasileira, Direitos Humanos e Educação, 2008. Disponível em:
<chromeextension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm
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KELMAN, C. A. O intérprete educacional: quem é? O que faz? In: ALMEIDA, M. A.; MENDES,
E.G.; HAYASHI, M. C. P. I. (Org.). Temas em educação especial: deficiências sensoriais e deficiência
mental. Araraquara: Junqueira & Marin, 2008. p.71-79.
Comunicação Oral
Discentes do Campus I
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Psicologia pela universidade do Estado da Bahia, elisareis14@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/6203464121826173
2
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia, gabrielamlyrio@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/2262958987574378
3
Graduando em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia, ibrahim.aragao@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/6101954748183788
4
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia, maelliaraliupaf@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/5640932263320342
5
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia, victoriasantanaa@hotmail.com,
http://lattes.cnpq.br/8095097664297093
6
Orientadora - Professora da turma do Oitavo Semestre do Curso de Psicologia da Universidade do Estado da
Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional: smaia@uneb.br. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
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O conceito de identidade, dentro das ciências humanas, sempre foi alvo de discussões,
especialmente no que se refere à sua relação entre o individual e o coletivo. Dentro da
psicologia, seu estudo acabou se direcionando para o estudo do self, e posteriormente, da
personalidade, sendo especialmente estudada pela Psicologia do Desenvolvimento, que
manteve em pauta a relação entre indivíduo e sociedade (MONTEIRO, 2014). Ainda que não
seja possível encontrar uma conceituação única de identidade, parece ser bastante difundida a
ideia de que “o sentimento de identidade é resultante de um conjunto de características, tanto
pessoais quanto sociais, que se combinam numa configuração particular de cada indivíduo”
(SILVA, 2014).
Cromack (2004), por sua vez, afirma o valor social da comunidade surda para a produção de
uma identidade cultural que compartilha não apenas de uma língua em comum, mas todo um
conjunto de conhecimentos específicos e modos de ser e estar no mundo, nos quais as pessoas
surdas podem se identificar e serem reconhecidas, corroborando com o pensamento de Perlin
(2015) sobre a relevância que tem a incidência do grupo na constituição do sujeito.
O presente trabalho objetiva investigar de que forma a arte interage com a construção da
identidade surda. Para tanto, pretende estabelecer um paralelo entre os conceitos de arte e
identidade a partir da Psicologia Sócio-Histórica, explorar discussões teóricas sobre
identidade e cultura surda e identificar projetos e trabalhos artísticos desenvolvido por
pessoas surda, a fim de traçar os paralelos entre a arte surda e sua importância para a
construção identitária do mesmo.
que o ser humano assume em suas relações fazem parte da constituição da sua identidade.
Segundo a autora, a identidade é representada pela consciência de si próprio, referindo-se à
dimensão dos sentidos e dos significados, sendo assim, o meio pelo qual questionamos os
papéis determinados socialmente.
Segundo Anjos (2008) a arte é um dos meios pelos quais o ser humano interpreta o mundo,
expressa seu imaginário, reafirma valores e os questiona, contribuindo assim com o processo
de construção global da pessoa. Por sua vez, a arte também pode contribuir com o processo
de constituição identitária, pois além da expressão promove a ampliação do contato mais
próximo com o outro, isso porque o sujeito “ao colocar a atenção mais próxima aos
sentidos... se relaciona de maneira diversa com o exterior” (BERSELLI et al., 2015, p. 51).
Considerando que a arte é tão antiga quanto à espécie humana, que está presente em todas as
culturas, sendo considerada “universal e eterna” (ANJOS, 2008, p. 9), pode-se compreender
que as diferentes expressões artísticas representam, para Anjos (2008), a compreensão acerca
si mesmo e ao momento histórico atual ou pré-existentes.
Sobre essa não determinação, deve-se considerar que, como afirma Cromack (2004), o
processo identitário é vivenciado de forma dialética. Nesse sentido, reforça-se que o ser
humano não é apenas depositário das determinações socioculturais, mas que este possui papel
ativo no processo de desconstrução e reconstrução do seu contexto, por consequência na sua
própria identidade. Dessa forma, a arte enquanto favorável ao processo criativo pode possuir
grande potencial de ressignificação e o desenvolvimento de novas possibilidades de atuação
frente ao mundo que oportunizem a mudança tanto contextual quanto subjetiva.
Faz-se necessário pontuar que a pessoa surda vivencia o dilema de conviver com a cultura
ouvinte produtora de uma condição de alteridade que, historicamente, colocou um lugar de
exclusão e negação da cultura surda, impondo uma norma de aprendizagem, comunicação,
desenvolvimento sociocultural pautado no oralismo, que de acordo com Perlin (2015) cria
uma representação distorcida da identidade surda. Sacks (1998 apud CROMACK, 2004)
contrapõe o modelo hegemônico da cultura ouvinte relatando sobre a complexidade existente
na identidade surda, permeada não por uma ideia de condição deficitária sensorial, mas como
um conjunto próprio de crenças, valores, costumes, uma linguagem que compõem a cultura
surda e o modo singular desse sujeito surdo se colocar no mundo.
Segundo Cromack (2004) através da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, por exemplo,
podem-se notar rupturas nos modos linguísticos e comunicativos da cultura ouvinte,
desenvolvendo a cultura surda e desafiando as dificuldades decorrentes das representações e
dominações criadas pela cultura hegemonicamente auditiva.
Por consequência, urge o que se denomina como biculturalismo, reconhecendo que o sujeito
surdo se constitui a partir da relação entre a cultura surda e ouvinte, produzindo uma
multiplicidade de identidades surdas, que se diferenciam de acordo as experiências pessoais,
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Strobel (2008) abre portas para a reflexão de como o campo de Estudos Culturais oferece
sentidos para a compressão da cultura, identidade, política da diferença como gatilhos
capazes de mudar a visão que se tem da pessoa surda, inserindo a perspectiva de alteridade
cultural e comunidade surda como transformadora da dialética presente entre a cultura
ouvinte e surda. Ofertando a possibilidade constante de mudança da identidade surda de
acordo às necessidades dessas pessoas, que se fortalecem em seu grupo social e através da
sensação de pertencimento podem conquistar novas formas de ser e estar no mundo.
O adulto surdo, nos encontros com outros surdos, ou melhor, nos movimentos
surdos, é levado a agir intensamente e, em contato com outros surdos, ele vai
construir sua identidade fortemente centrada no ser surdo, “a identidade política
surda”. [...] É a consciência surda do ser definitivamente diferente e de necessitar de
implicações e recursos completamente visuais. (PERLIN, 2015, p. 63)
A terceira categoria, “identidades surdas de transição”, é formada por surdos que viveram boa
parte da vida sob égide da experiência ouvinte e que ao entrarem em contato com a
comunidade surda, passam por um processo de transição para a experiência visual completa.
Já a quarta categoria, “identidade surda incompleta”, representa os surdos que estão inseridos
numa comunidade que busca socializar o surdo de forma compatível com a cultura
dominante, numa estrutura de poder que dificilmente é quebrada. Tal comunidade, e os
surdos que se enquadram nessa identidade, também entendem a identidade ouvinte como
superior à identidade surda.
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Por fim, a quinta categoria é a de “identidades surdas flutuantes”, onde estão classificados os
surdos que “vivem e se manifestam a partir da hegemonia dos ouvintes” (PERLIN, 2015, p.
65), que constroem suas identidades a partir de fragmentos das diversas identidades pós-
modernas, que podem ou não estarem conscientes de serem surdos, mas ficam sob o domínio
da cultura ouvinte. É um grupo que não consegue completamente nem estar a serviço da
comunidade ouvinte, por uma comunicação deficitária, nem a serviço da comunidade surda,
por ausência de língua de sinais.
Seja expressão de ouvintes ou surdos, a arte se vale das expressões para comunicar,
transmitir, dizer algo sem o uso necessário da língua oral. Segundo Barbosa (apud CALDAS,
2006) a arte funciona como uma ferramenta de representação dos mundos internos e externos
do sujeito. É importante destacar que a arte é uma expressão que depende da cultura e do
tempo na qual se insere.
Como exposto por Caldas (2006), em sua dissertação, no V Congresso Latino Americano de
Educação Bilíngue para surdos, realizado em Porto Alegre, em 1999, foram discutidos temas
ligados à educação do surdo, dentre elas a arte. Da discussão, surgiram propostas para a
educação artística do surdo, tais como: o surdo precisa ter contato com a arte surda no dia a
dia, através de vídeos, pinturas, teatro, para que se aproprie daquele lugar de produção e os
seus significados. As mãos, expressões faciais e linguagem corporal são referências para os
surdos, portanto permeiam a sua arte.
Ao apresentar imagens sobre surdos é preciso que contenha algo dos surdos. Diante disto,
podemos inferir que a arte tem um propósito e que precisa haver identificação por parte do
consumidor daquela arte. Caldas (2006) ressalta ainda que é importante que a arte surda seja
utilizada pela comunidade surda, uma vez que se pretende com ela apresentar expressões da
identidade surda por meio de telas, esculturas, peças, etc.
No campo da arte, Caldas (2006) cita diversos artistas surdos renomados que, muitas vezes,
não tinham essa característica amplamente comentada. Temos entre eles: Thomas Edson,
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Hellen Keller, Beethoven, dentre outros. Chuck Baird foi um artista surdo, ator e pintor,
vindo de uma família com mais três irmãs surdas. Estudou em uma Escola para Surdos, no
Kansas, onde demonstrou uma habilidade para as artes. Depois de sair da escola, frequentou
uma universidade exclusiva para surdos, a Gallaudet University, em Washington. Durante
todo o seu tempo como artista, realizou diversas exposições pelos Estados Unidos. Se
envolveu em um projeto chamado SPECTRUM, que tinha o objetivo de criar um centro de
Artes Visuais e Cênicas para surdos. Durante o seu tempo ativo, o projeto realizou diversos
trabalhos voltados para a discussão da arte surda. Infelizmente, os planos não foram para
frente e a SPECTRUM fechou.
No Brasil, a Companhia Surda de Teatro, dirigida por Nelson Pimenta, se localiza no Rio de
Janeiro e é referência nacional para a comunidade surda no campo do teatro. No entanto,
segundo Caldas (2006), existe ainda uma barreira para a imersão da comunidade surda
brasileira no campo das artes. Sendo um país com disparidades sociais enormes e um difícil
acesso à educação e à arte, esse contato se torna ainda mais complexo. Isso ocasiona em uma
desinformação a respeito da arte, uma não participação social, gerando uma educação social
fragmentada.
Em seu artigo, Berselli et al. (2015) trazem um projeto ligado ao teatro desenvolvido em uma
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escola Bilíngue na cidade de Porto Alegre, cujo objetivo é de promover um espaço que
priorize a expressão artística do surdo, trabalhando suas capacidades criativas e possibilitando
uma reflexão sobre o seu entorno através de atividades que vincule o lúdico e o sensível.
Berselli et al. (2015) chamam a atenção ao respeito à língua, a cultura e saberes das(os)
alunas(os) surdas(os) em um espaço de experimentação.
Berselli et al. (2015) salientam que as práticas utilizadas buscam articular jogos e exercícios
teatrais, aderindo ao lúdico e ampliando as competências criativas. A prática visa a interação
de dois corpos no espaço e, para tal, se faz necessário o desenvolvimento de uma percepção
corporal e dos sentidos ampliados (BERSELLI, et al. 2015). Torna-se foco dos treinamentos
a reafirmação de que “todos os sentidos devem tornar-se elásticos” (PAXTON, 1983 apud
BERSELLI et al., 2015, p. 51).
Tendo em vista certas reflexões relacionadas a escolha de uma série televisiva por
participantes do grupo de teatro para servir de base para a construção das cenas, foi
observado que a série não fazia tradução para LIBRAS e que, por isso, parte do seu humor
não era percebido pelos surdos (BERSELLI et al., 2015). Com isso, surge a necessidade de
trabalhar o aprofundamento do conhecimento acerca do domínio das reações dos
personagens. A ideia é pensar nas construções corporais e exageradas expressões faciais
(BERSELLI et al., 2015).
É importante que as potencialidades do sujeito surdo sejam valorizadas, sendo a ele proposto
“o desenvolvimento de um conhecimento pautado em suas possibilidades” (BERSELLI et al.,
2015, p. 51). É levado em consideração o conhecimento adquirido pelo sujeito ao longo de
sua trajetória e que estejam inscritos em seu corpo, de modo geral é considerado o que é
trazido por eles a partir das suas vivências e cultura (BERSELLI et al., 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
linguagem não se atém a um nível prático e sensorial, sendo a arte, também, uma forma de
linguagem.
REFERÊNCIAS
ANJOS, Rosa Virgínia de Oliveira dos. Auto-estima resgatada pela identidade com artistas surdos. Trabalho
de conclusão de especialização em Pedagogia da Arte. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, Brasil. 2008.
BERSELLI, Marcia. LULKIN, Sergio A. FERRARI, Jonas. Registrando práticas de teatro e dança com alunos
surdos: o registro enquanto recurso de pesquisa. Teatro: criação e construção de conhecimento. Palmas, TO:
UFT, v. 3, n. 4, p. 50-57, 2015. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/131139>. Acesso em:
25 abr 2018.
CALDAS, Ana Luiza Paganelli. O Filosofar na Arte da Criança Surda : construções e saberes. Dissertação
(mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação
em Educação, 2006, Porto Alegre, BR-RS. orientadora: Esther Beyer.
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CROMACK, Eliane Maria Polidoro da Costa. Identidade, Cultura Surda e Produção de Subjetividades e
Educação: Atravessamentos e Implicações Sociais. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 24, n. 4, p. 68-77, 2004.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000400009&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 28 abr. 2018.
LANE, Silvia T. M. O que é psicologia social? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981.
MONTEIRO, Rosa Maria Godinho. Surdez e identidade bicultural: como nos descobrimos surdos? 2014. xi,
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PERLIN, Gládis Teresinha Tachetto. Identidades surdas. In: SKLIAR, Carlos (Org.). A Surdez: um olhar sobre
as diferenças. 7. ed. Porto Alegre: Mediação, 2015.
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106 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014. Disponível em:
<https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/handle/123456789/1844>. Acesso em: 28 abr. 2018.
STROBEL, Karin Lilian. Surdos: Vestígios culturais não registrados na história. 2008. 176 f. Tese (Doutorado)
- Curso de Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
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THOMA, Adriana da Silva. Representações sobre os surdos, comunidades, cultura e movimento surdo. In:
LOPES, Maura Corcini (Org.). Cultura surda & Libras. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2012, p. 154-180
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RESUMO
O presente artigo aborda a dinâmica familiar de pais ouvintes e filhos surdos. Nesse contexto,
pretende-se compreender quais os desafios que a família ouvinte enfrenta diante de um
diagnóstico de surdez, bem como as adaptações necessárias. Mais especificamente, pretende-
se averiguar como se estabelece o vínculo afetivo entre a mãe ouvinte e a criança surda, a
modificação da relação familiar diante desse diagnóstico e o papel da família ouvinte no
processo identitário da criança surda. Diante disso, utilizando-se de pesquisadores como
Gladis Dalcin e Carolina M.P. Ferreira, tornou-se evidente a importância do papel que a
família exerce em relação à criança surda e no seu vínculo com a sociedade, além de enfatizar
a importância do aprendizado da língua de sinais e do estabelecimento da comunicação que
possibilitam a criação de um vínculo maior e um ambiente mais agradável com seus
familiares e suporte para o seu desenvolvimento social.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail: adrianerocha16@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8811874897303933
2
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia E-mail: bmsacmto79@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2771842627242259
5
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail: lilianeca95@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9795986472714994
6
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail: gomesquesia25@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5634123603898983
3
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia.
4
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia.
5
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia.
6
Graduanda em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia.
7
Orientadora - Professora da turma do Oitavo Semestre do Curso de Psicologia da Universidade do Estado da
Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional: smaia@uneb.br. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
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A família é considerada um ponto social de partida de seus membros. É onde deve ocorrer o
nascimento cultural da criança ao dar um nome próprio ao indivíduo e transmitir a ele a
cultura. Esse processo de transmissão é um processo particular para cada família e diante das
particularidades de cada família, busca-se compreender os desafios dos pais ouvintes e
filhos/crianças surdas enfrentam e, quais as adaptações necessárias. O aprendizado da língua
de sinais e o estabelecimento da comunicação indica a possibilidade de criação de um vínculo
maior, o que possibilita que a criança surda tenha um convívio mais agradável com os seus
familiares, além de dar suporte para o seu desenvolvimento social.
Segundo Gladis Dalcin (2009), a medicina e a psicologia parecem não dar muita atenção aos
processos de constituição psíquica da pessoa surda, não levando em consideração que a
pessoa surda, como qualquer outra, precisa ter acesso a uma língua que o possibilite
estabelecer contato com sua cultura, bem como, adquirir recursos para interagir com o mundo
simbólico. Isso só é possível pela aprendizagem da linguagem, de forma que essa inserção na
linguagem possibilite a este sujeito ser humanizado no convívio com outros humanos. A
língua de sinais era considerada pela psicologia como uma modalidade de comunicação
transitória e insuficiente, necessária apenas no período pré-verbal.
estímulo afetivo mais completo para um bebê nos primeiros meses de sua vida. De acordo
com Sousa (2011) o bebê que apresenta uma surdez, ela a surdez, não é
identificada/visualizada facilmente, pois se configura de forma silenciosa e por essa razão
não há um diagnóstico precoce, ressaltando a importância da realização do teste da orelha nos
primeiros dias de vida do bebê.
Segundo Gladis Dalcin (2009), desde muito cedo o aparelho psíquico do bebê começa a se
construir, já nos primeiros meses de vida. Nesse período de total dependência, o bebê precisa
que a mãe supra suas necessidades fisiológicas (fome, sede...), bem como, o nascimento de
sua vida psíquica, que ocorre através do acesso à linguagem. Se faz necessário ressaltar que a
inserção do sujeito no simbólico se dá através da linguagem, não da língua oral ou da língua
de sinais, especificamente.
Nesse caso, a linguagem não deve ser entendida como sinônimo de oralidade, mas como
escritura que vem pelos cuidados com alimentação, com o banho, pelo olhar, pelo sorriso e,
dessa forma, a mãe vai introduzindo o filho no simbólico e dando vida psíquica para que ele
possa existir. Winnicott (apud DALCIN, 2009) nomeou de holding, ou seja, participação no
sentido de sustentação, apoio, o bebê do holding o sentimento de existir. No momento em que
o bebê mama, por exemplo, ele recebe o leite para satisfazer sua fome e, ao mesmo tempo,
ele absorve um conjunto de sinais de sua mãe: sua voz, seu olhar, suas interpretações frente a
seus movimentos. Atribuindo-lhe sentido, que tem como objetivo, o estabelecimento de uma
comunicação entre os dois.
Com o exposto, fica registrado na vida psíquica do bebê de que é alguém que existe para um
outro alguém. A mãe, por sua vez, interpreta os movimentos do bebê, e esta interpretação
independente de serem corretas ou não, são fundamentais para constituição do psiquismo
humano. Esse olhar que a mãe dá ao bebê vai muito além do que os nossos olhos podem ver,
é um olhar mais profundo, em que se consegue ver o que não está visível. É esse olhar que
possibilita o bebê constituir uma imagem de si mesmo e de sua relação com o semelhante. A
comunicação entre o bebê e sua mãe se dá através do choro, no grito, na vocalização, essas
expressões não são apenas reações do seu corpo, elas representam a relação interativa, ou
seja, o estabelecimento do vínculo afetivo entre ele e sua mãe e, através da interpretação a
mãe atribui sentido aos movimentos do bebê (DALCIN, 2009).
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Por outro lado, a mãe também conversa com o bebê explicando a ele o que está fazendo ou o
que está acontecendo. Por exemplo: “Filho, a mamãe vai tomar banho, mas volta logo. Não
chore!” Muitas vezes a mãe fala com o bebê de forma infantilizada, conhecido como o
“manhês”. Por exemplo: “O mamazinho tá gotoso!” (o leite está gostoso!). Essas formas de
comunicação promovem identificações com a mãe. O bebê se vê como uma extensão de sua
mãe. Acha que sua imagem é a imagem de sua mãe. Dessa forma, ele se constitui através
dessas identificações, ou seja, da imagem da mãe que ele pensa ser sua (DALCIN, 2009).
A relação de maternagem vai suprir a criança da sua primeira língua, a língua materna. É a
língua materna [seja oral ou de sinais] que possibilitará à entrada do filho na linguagem, e
isso se dá independente da língua que for usada no primeiro momento, seja ele surdo filho de
pais ouvintes ou surdo filho de pais surdos. É uma linguagem compartilhada em um estágio
anterior à aquisição de uma língua propriamente dita. Nesse período pré-verbal, a mãe tenta
estabelecer um vínculo afetivo com o bebê através da comunicação, essa interação se dá em
vários níveis como vimos acima: na mímica, no sorriso, no choro, na vocalização e no gesto.
Dessa maneira, a mãe não apenas tenta decifrar o que seu bebê diz, mas, lhe acompanhar
naquilo que ele expressa (DALCIN, 2009).
Os filhos ocupam um lugar no simbólico dos pais. Antes mesmo de seu nascimento, através
do desejo do Outro, há uma pré-história que produz marcas constituintes do lugar deste
indivíduo na cultura, geração e família. Esse lugar e a marca podem ser percebidos na escolha
do nome, nas fantasias dos pais sobre este filho ainda não nascido. O diagnóstico de surdez
geralmente ocorre tardiamente. Isso pode estar relacionado, não só ao fato da surdez ser não-
visível, mas com a atitude dos pais em ignorar as suas suspeitas, ainda que
inconscientemente. Segundo Behares (1993, apud SILVA, 2008) a criança surda que nasce
em um meio ouvinte enfrenta, desde o nascimento, uma rede de construções identificatórias,
prefiguradas pelas expectativas de seus pais, os quais, naturalmente, esperam que ela também
seja ouvinte.
Ao receber o diagnóstico de surdez os pais se deparam com o lugar do deficiente, o que causa
um choque num primeiro momento. Isso pode acarretar em uma manutenção da relação
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simbiótica da mãe com seu filho onde não se separam e ambos ficam presos em uma relação
sufocante de alienação. Tendo isso em mente, entende-se a necessidade de superar o
sofrimento de se ter um filho surdo a fim de que este indivíduo possa se desenvolver de
maneira saudável. A criança surda não enfrenta dificuldades práticas, uma vez que não
apresente deficiência motora. O dilema maior é a comunicação, uma vez que o canal de
comunicação da criança se difere da família, o que dificulta a integração - tanto familiar
quanto social. Diante do diagnóstico de um filho surdo, as dificuldades se ampliam, pois é
necessário se adaptar a um membro que “não fala a mesma língua’’ e que com o estigma da
deficiência, rompe esse ideal do filho perfeito, provocando grandes mudanças no interior da
família.
Segundo Almeida (1993, apud OLIVEIRA, 2004), os primeiros momentos dessa descoberta
são traumáticos e inclui fases como: negação, negociação, raiva, depressão e aceitação. O
diagnóstico pode ser tão avassalador quanto à morte de alguém, por isso, Françoso (2003
apud DALCIN, 2009) ressalva a importância de se trabalhar com essas famílias, o luto. Até
porque a não aceitação do diagnóstico pode resultar na falta de participação e de
envolvimento com o filho. É preciso ressaltar que a reação e o processo de adaptação frente a
essa nova situação varia de acordo com a estrutura e características de cada família, uma vez
que não há padrão de reação emocional. Há famílias que aceitarão de imediato as
necessidades do filho e encararão o diagnóstico da melhor forma possível, enquanto outras se
sentirão perdidas, negando o diagnóstico.
Ao longo dessas fases, os pais podem se deparar com uma série de sentimentos de forma
intensa e que podem gerar discussões entre os cônjuges na busca por um culpado pelo
nascimento de um filho ‘deficiente’. Isso pode formar uma série de conflitos sérios no
relacionamento do casal (DALCIN, 2009). Kelman (2011, apud MONTEIRO, 2008) assinala
que muitas mães se sentem culpadas por dar à luz a uma criança surda e justificam a surdez a
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partir de experiências ruins vivenciadas durante a gestação, como estresse, brigas conjugais,
desamparo do cônjuge, gravidez indesejada, entre outras. Não são raras às vezes em que o pai
se sente incapaz de assimilar e se adaptar a essa nova família e se ausenta de seu papel nesse
âmbito.
A maneira como os pais ouvintes lidam com a surdez da criança influencia significativamente
no processo de identificação do seu filho com outros sujeitos surdos, assim como na
constituição da subjetividade. Visto que a família ocupa um lugar primordial nas primeiras
experiências e aprendizados e o contato com o meio social. A inserção ou não da língua de
sinais e contato com a comunidade surda no meio familiar está associado ao desenvolvimento
da criança. (KELMAN, et.al, 2011; DALCIN, 2009).
Quando a família ouvinte não insere no seu cotidiano a língua de sinais, seja por
desconhecimento ou por crenças estereotipadas, a comunicação com a criança fica limitada, o
que pode trazer prejuízos no seu desenvolvimento afetivo, linguístico, social e cognitivo. Pois
como afirma Goldfeld (1997, apud Kelman et.al, 2011) a língua é um dos instrumentos que
permeiam o desenvolvimento infantil, e na criança surda esse processo é fragmentado, já que
ela não pode adquirir a língua oral espontaneamente.
A comunicação estabelecida se restringe ao uso de gestos que representam uma ação, objeto
ou situação concreta, como por exemplo, comer e dormir. As expressões faciais e corporais
também estão associadas ao contato com o outro. E, com isso, as interações com outros
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sujeitos ficam limitadas assim como na sua própria família, o que pode promover um
isolamento da criança no meio social, mas que não oferece muitas informações sobre quem
ele é, sobre os outros, sobre a sua história e da sua família. Além disso, é mais difícil que a
criança se perceba como um sujeito surdo. (DALCIN, 2009; KELMAN, ET.AL, 2011).
Nesse processo, de acordo com Dalcin (2009) a mãe pode ocupar o papel de interpretar o que
a criança quer, de responder por ela, o que pode favorecer a uma identificação com seu
núcleo de origem, mesmo que seja de forma precária, por não compartilharem uma língua
comum. Entretanto, a aquisição da língua de sinais permite uma outra perspectiva para a
criança, pois como afirma Dalcin (2009):
Quando o surdo passa a ter contato com a língua de sinais e com a comunidade
surda. Neste momento opera-se um processo que possibilita ao surdo interpretar o
contexto a qual está inserido e a possibilidade de (se) contar. Ao adquirir a língua de
sinais o surdo passa a apropriar de uma língua que o possibilita expressar suas
ideias, seus pensamentos, suas alegrias, suas tristezas, sofrimentos... Enfim, passa a
ter recursos linguísticos e psíquicos para se expressar, para contar sobre sua vida e
para perguntar a sua família sobre sua história. Consequentemente, se apropria de
sua história, de seu nome próprio, de sua vida, do modo de ser e de viver da
comunidade surda e da língua de sinais (DALCIN, 2009, p. 33):
Ao inserir seu filho na língua de sinais, no caso a Libras, os pais estarão auxiliando a criança
surda a desenvolver sua psique. McCabe e Peterson (1991, apud Pereira, 2015) correlacionam
o estilo conversacional dos pais com o desempenho narrativo das crianças, mostrando como
um estilo que envolva mais perguntas e comentários pode favorecer o desenvolvimento do
discurso narrativo. Devemos considerar o importante papel do discurso dos pais no
desenvolvimento das crianças surdas, que apresentam facilidade para adquirir línguas visuais,
mas não línguas orais-auditivas, faladas pela imensa maioria dos familiares de surdos.
Vorcaro (1999, apud Dalcin, 2009) considera que o encontro com a comunidade surda
possibilita ao surdo a passagem para o acesso de uma língua propriamente dita – no caso a
língua de sinais. O acesso à língua de sinais possibilita ao surdo sair da linguagem dos sinais
caseiros que são restritos a uma linguagem privada e reduzida que não lhe permitia tornar-se
falante de uma língua e que os submetiam as leis familiares para ingressar num universo da
lei da língua e da cultura surda. Ao se deparar com a língua de sinais, o surdo passa a ser
falante. Falante na e pela língua de sinais, é somente com o contato com outros surdos,
participantes da comunidade surda e falantes da língua de sinais que há a possibilidade de o
surdo vir a se constituir como um sujeito falante.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto familiar de pais ouvintes e filho surdo, fica evidente a importância do papel que
a família exerce em relação à criança surda, por ser de sua responsabilidade oferecer o
suporte necessário, seja nos aspectos sociais, cognitivos, físicos e emocionais ou na
promoção do bem-estar. O papel da família contribuirá, portanto, para que a criança tenha
uma aprendizagem mais humana, forme uma personalidade única, desenvolva sua auto-
imagem e se relacione com a sociedade.
É evidente que a problemática que envolve pessoas com deficiência está correlacionada com
o preconceito e a aceitação dessa condição, segundo Quadros (2000) apud Negrelli (2006) “a
surdez não é um problema da pessoa que a tem, mas sim de quem a vê”. Por isso é
fundamental pensar sobre questões que envolvem a qualidade da relação entre pais ouvintes e
filhos surdos, já que a surdez se caracteriza, muitas vezes, pela dificuldade comunicativa
trazendo consequências de ordem afetiva e cognitiva.
REFERÊNCIAS
DALCIN, Gladis. Psicologia da Educação de Surdos. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2009 Disponível em:
<http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoPedagogico/psicologiaDaEducacaoDeSurdos/asse
ts/558/TEXTOBASE_Psicologia_2011.pdf>. Acesso em 15 abr 2018.
FERREIRA, Carolina Magalhaes De Pinho. Surdez, família e mediação profissional: Grupo focal na
construção de conhecimentos e agentividade. Disponível em:
<https://www.maxwell.vrac.pucrio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=23889@1> Acesso em 15
abr 2018.
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KELMAN, Celeste Azulay et al. Surdez e família: facetas das relações parentais no cotidiano comunicativo
bilíngue. Linhas Críticas, v. 17, n. 33, p. 341-365, 2011. Disponível em:
<http://www.redalyc.org/pdf/1935/193521546010.pdf>
MONTEIRO, Rosa; SILVA, D. N. H.; RATNER, C. Surdez e Diagnóstico: narrativas de surdos adultos.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v32nspe/1806-3446-ptp-32-spe-e32ne210.pdf> Acesso em Mai
de 2018
NEGRELLI, Maria Elizabeth Dumont; MARCON, Sonia Silva. Família e Criança Surda. Revista Ciência,
Cuidado e Saúde, Maringá, v.5, n.1, jan./abr. 2006.
OLIVEIRA, R.G et al. A experiência de famílias no convívio com a criança surda. Acta Scientiarum. Health
Sciences. Maringá, v.26, no. 1, p. 183-191, 2004.
SOUSA, RACHEL, C. Reações e expectativas de mães em relação à surdez de seus filhos. Dissertação
(Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente) Centro de Ciências da Saúde. Universidade
Estadual do Ceará. 2011.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: alanacortes23@gmailcom. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5841724633390522.
2
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: claudianasms@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5249449951396251.
3
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: daianansp@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9108880665526565.
4
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: fabiana.cesar77@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5729836201495511.
5
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: lindiarap@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7096716509842626.
6
Graduanda em Universidade do Estado da Bahia. E-mail: lorinsantanna@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1452348128317553.
7
Orientadora - Professora da turma do Oitavo Semestre do Curso de Psicologia da Universidade do Estado da
Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional: smaia@uneb.br. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
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A surdez atinge cerca de 5,1% da população de acordo com o censo de 2010 realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o que coloca esta população enquanto um grupo
minoritário que podem ser classificados como adeptos a língua de sinais ou surdos-oralizados
mediante aparelhos auditivos, diante da maioria Brasileira ouvinte e falante da língua
portuguesa oral. Sendo assim, percebe-se que a população daqueles não-ouvintes vivencia
maiores dificuldades em acessar diversos serviços públicos como educação, saúde e trabalho
visto que a inclusão prevista em lei na maioria das vezes não contempla as necessidades deste
grupo.
Diante do que foi exposto, ao tratarmos do aspecto saúde, torna-se importante refletir sobre
de que forma ocorre o atendimento psicológico a esta população, visto que o principal
instrumento utilizado nas sessões clínicas para acessar as demandas do sujeito é a linguagem,
porém, na graduação não é garantido a fluência na Libras para os profissionais de psicologia.
Poderíamos compreender então que a impossibilidade de comunicação via linguagem
oralizada padrão seria um impedimento ao indivíduo que não escuta no acesso ao serviço de
psicologia? O objetivo principal discutido neste artigo envolve compreender os principais
desafios relacionados ao atendimento psicológico a sujeitos não-ouvintes.
A visão e interpretação sobre o povo surdo é permeada por discursos variados produzidos na
academia científica e no meio social que podem ser inadequados na medida em que defendem
terminologias e significados estereotipados. Deste modo, faz-se necessário inicialmente
conhecer tais definições representadas socialmente que giram em torno de categorizações de
doença e desvinculadas da cultura do povo surdo.
Deste modo, percebemos que existem duas vertentes em que sujeitos não-ouvintes adotam
como forma de vivenciar as diferenças quanto a audição: a primeira corresponde àqueles que
aceitam a concepção da surdez enquanto uma limitação e deficiência auditiva, e assim
buscam se inserir na cultura ouvinte entendida como um processo de “normatização”
constituído pelo treinamento de fala e audição, utilização de amplificadores sonoros e
intervenções cirúrgicas como o implante coclear. Já os adeptos da identidade surda, utilizam
a língua de sinais como forma de expressão própria da cultura surda (STROBEL, 2008).
Tal situação nos faz refletir sobre como estes sujeitos em adaptação a aparelhos auditivos e
principalmente àqueles adeptos a língua de sinais são atendidos em redes de saúde? Como é
pensada a comunicação destes indivíduos em uma sociedade predominantemente ouvinte e
ainda demarcada pelo preconceito diante das diferenças alheias? Além disso a Lei
10.436/2002, garante o reconhecimento da língua de sinais enquanto um meio legal de
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comunicação e expressão e no âmbito da saúde entende-se que o Sistema Único e Saúde deve
adotar medidas, ações, intervenções especializadas, como a capacitação em Libras, que
garantam a atenção integral aos surdos e deficientes auditivos em todos os níveis de
complexidade médica.
Com a oficialização Língua Brasileira de Sinais – Libras, em 2002 a partir da Lei N° 10.436
(Brasil, 2002), as mudanças relacionadas a área da surdez se fizeram mais presentes, além de
algumas matrizes escolares passarem a conter a Libras em seus currículos, fizeram com que
alguns profissionais se atentassem a esse tema (PEREIRA e LOURENÇO, 2017). No que
tange o campo da psicologia, por muito tempo os surdos eram excluídos, por muitas razões,
às psicoterapias, mesmo no período em que a psicologia estava no seu auge, no qual houve
muitos tipos de psicoterapias, não somente para os considerados doentes, mas aqueles que
desejavam se autoconhecer.
Vê-se que o maior desafio da relação entre esse profissional e a pessoa surda ainda é a
comunicação - as dificuldades do psicólogo na comunicação não verbal. Sendo assim, no
caso da pessoa surda, é necessário que o profissional psicólogo seja fluente em Libras, para
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Segundo Briganti (1987) e Gaiarsa (1986) apud Casali (2012) é essencial que o psicólogo
compreenda a comunicação do corpo em movimento, os sinais da comunicação não verbal, e
além disso que conheça uma outra língua para o atendimento a pessoas surdas. Seria
essencial que todos os profissionais tivessem o acesso ao conhecimento da língua brasileira
de sinais, visto que esses sujeitos estão na sociedade e irão participar da mesma tanto quanto
os sujeitos ouvintes. Certamente, o uso da Libras (Língua Brasileira de Sinais) pelo
psicólogo faz com que o surdo se sinta valorizado, aceito, respeitado e mais a vontade no
processo da terapia.
Para Maluf (1994) apud Casali (2012) o psicólogo deve ter formação que lhe permita
compreender o comportamento humano sem estar limitado a técnicas a serem aplicadas, e
sim ter uma formação que lhe permita problematizar esses temas e buscar soluções para os
mesmos. Observamos que tudo acaba recaindo sobre a formação acadêmica e profissional do
psicólogo, o que discutiremos mais profundamente no próximo capítulo.
De acordo com Cardoso e Capitão (2007) apud Casali (2012) há uma escassez de
instrumentos validados no que se refere à surdez e uso apropriado das técnicas de avaliação
que requer ao profissional que entenda os aspectos da surdez e os processos psicológicos
envolvidos, pois isto é necessário para haver diversificação das técnicas (Pasquali, 2001,
apud Cardoso e Capitão, 2007). A aplicação de testes psicológicos sem a devida atenção e
adaptação ao contexto dos surdos provavelmente provocará erros nos seus resultados, um dos
testes validados (CARDOSO e CAPITAO, 2007).
Dentre os testes psicológicos, estes autores destacam o teste das pirâmides coloridas de Pfster
(TPC) para ser usado com os surdos por ser uma técnica não-verbal, é um teste projetivo que
se caracteriza por descrever o sujeito em termos de um esquema dinâmico de variáveis inter-
relacionadas, considerando suas especificidades singulares. (CARDOSO e CAPITAO, 2007)
O TPC transmite informações sobre “a dinâmica emocional tanto em relação aos afetos e
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defesas quanto em relação ao nível de maturidade da sua expressão no mundo das relações"
(Villemor-Amaral, 2002, p. 51, apud Cardoso e Capitão, 2007).
Casali (2012) traz um estudo de caso onde alguns psicólogos que atendem em UBS (Unidade
Básica de Saúde) relataram contar com intérpretes para desenvolver a comunicação com o
paciente, outros que usaram de parentes e um único psicólogo que buscou se apropriar da
língua brasileira de sinais para estabelecer a comunicação, mesmo que lenta, com o paciente.
A autora traz como é complicada a mediação feita por parentes, visto que são levadas
questões familiares não resolvidas para o setting terapêutico, inviabilizando o surdo em
detrimento do que o familiar quer levar ao setting. E ainda, há a quebra do sigilo profissional
quando o intérprete é convidado a participar deste processo.
Vê-se expresso no art. 9º do código de ética: “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo
profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas,
grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.” (Código de Ética da
Psicóloga, 2005, p.13).
Sobre o intérprete no atendimento, Casali (2012) traz como positiva visto a possibilidade de
comunicação com o paciente, no entanto, além do sigilo inexistente, a elaboração do vínculo
é um ponto trazido como negativo da presença do intérprete no setting. Quando paciente e
terapeuta não tem a mesma língua em comum, o vínculo fica comprometido. O vínculo se
forma pela comunicação, pelo olhar e pela percepção das expressões, no caso o paciente
direciona esse olhar e essa comunicação diretamente para o intérprete e não para o psicólogo.
No mais, há ainda a dificuldade de exposição de assuntos mais íntimos por vergonha dessa
terceira pessoa dentro da terapia. No entanto, reconhece-se que atualmente é uma estratégia
viável visto que a formação do psicólogo não abarca o conhecimento em Libras a ponto de a
comunicação ser possível sem o intérprete.
Conforme Vasco (2009) apud Casali (2012) a variação nas estratégias utilizadas pelos
psicólogos com surdos deve variar de acordo com grau de surdez, faixa etária, nível de
pensamento (formal ou concreto), oralização e desenvolvimento cognitivo. Utilizar das
mesmas estratégias do público ouvinte para com o público surdo além de inviável revela falta
de entendimento das especificidades dos surdos de acordo com a cultura surda. Vale salientar
ainda que como o surdo apreende o mundo de maneira visual e espacial, as atividades visuais
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são mais atrativas para o paciente surdo. Logo, “[...] a utilização de desenhos, mapas,
infográficos, e todo material e estratégias onde o psicólogo pode se comunicar utilizando o
sentido da visão são muito bem-vindas e aceitas pelos surdos.” (CASALI, 2012, pg. 43).
No mais, é importante ainda explanar sobre a não continuidade das psicoterapias com surdos
devido a dificuldade de comunicação, da falta de intérpretes no sistema público de saúde e da
ausência de recursos e estratégias considerando as especificidades dos surdos.
A população surda é um público que merece atenção especial tendo em vista especificidades
de sua condição e para o atendimento. Considerando o grande público de indivíduos surdos
no país, é de extrema relevância estar preparado para atendê-los, e assim, profissionais da
Psicologia precisam estar dispostos em seu compromisso com a qualidade de vida, saúde e
bem-estar dos sujeitos, em suas diversidades de situações e condições. No entanto, o que se
observa é que na clínica psicológica ainda há insuficiência de profissionais com qualificação
para realizar o atendimento aos surdos, campo onde se colocam certas limitações para acesso
ao serviço. (SANTOS; ASSIS, 2015, p.27).
É interessante que a/o profissional esteja preparada para atender a população surda na sua
diversidade, por exemplo, considerando desde estar capacitado para acolher sujeitos
oralizados e que assim preferem se manter, quanto para receber sujeitos que façam uso da
Libras. Dessa forma, torna-se fundamental atentar sempre para a necessidade de respeitar a
surdez estando os sujeitos com suas escolhas de identidade e seus momentos, seja entre
escolherem estar em identificação como surdo ou deficiente auditivo, ou se desejam estar
como oralizados ou utilizando comunicação por sinais.
No campo dos estudos há uma tendência ao alinhamento entre dois modelos de surdez, o
clínico-terapêutico e o sócio-antropológico, aos quais se associam aqueles que defendem,
respectivamente, a oralização ou a língua de sinais. O modelo clínico-terapêutico, que obteve
maior reforço nas décadas de 50 e 60, para Bisol et al (2008, p. 396) em estudos da
Psicologia costuma-se verificar discussões sobre a surdez com ênfase na deficiência auditiva
com a existência de déficits biológico ou psicológico, tendo a aquisição da linguagem pela
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Para além das questões que se colocam em diferentes pontos de vista na defesa ou crítica de
um desses modelos, apontamos aqui o questionamento sobre como dar conta das demandas
da comunidade de surdos atendendo evitando a exclusão, até mesmo por conceber um
modelo mais adequado e acabar privilegiando mais a um grupo do que outro na
disponibilidade de atenção. Compreende-se que mais importante seria dispor de maior
número de profissionais suficientemente qualificados para atender a esse público estando
preparado para lidar com eles independente de sua condição de oralizados ou falante de
Libras.
Sugere-se que algumas das soluções para esses impasses seriam a capacitação dos
profissionais e a inclusão de Libras como componente curricular nas graduações. (PEREIRA;
LOURENÇO, 2017). Para Santos e Assis (2015, p.31) “as graduações de Psicologia deveriam
ter como disciplinas obrigatórias a aprendizagem de LIBRAS”. A relevância da
obrigatoriedade do ensino de Libras no curso de Psicologia está em instrumentalizar-se para
atender a um grupo significativo de surdos, pois “aprender Libras é adaptar-se às
modalidades de acolhimento psicológico, promovendo acesso ao cuidado de saúde e
reduzindo barreiras comunicativas, favorecendo a inclusão social desses indivíduos”. (Santos
e Assis, 2015, p. 24).
Mesmo diante da não obrigatoriedade desse ensino nos cursos de formação acadêmica em
Psicologia, é sabido que em algumas instituições do país já constam a disciplina na grade
curricular, como é o caso do curso de Psicologia da UNEB, Universidade de onde parte o
presente estudo. Entretanto, caberia uma pesquisa à parte para identificar a proporção em que
tem sido feita essa integralização nos currículos nas diferentes instituições.
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Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É necessário pontuar a relevância dos desafios para uma ciência e profissão como a
Psicologia, assim, o psicólogo não deve estar coadunado a limitação das técnicas a serem
aplicadas. Deste modo, o atendimento às pessoas surdas deve ser introduzido na pesquisa, e a
formação deve desenvolver a capacidade de problematizar e buscar soluções (MALUF, 1994
apud CATTALINI; FORNAZARI, 2007). Isto implica dizer que aprender Libras é adaptar-se
às modalidades de acolhimento psicológico, somente este caminho poderá possibilitar a
promoção da saúde e a redução de barreiras comunicativas, favorecendo a inclusão social
desses indivíduos.
Esta perspectiva, no entanto, está no campo ideal. Devido ao fato de que muitos psicólogos
não possuem habilidades com a língua de sinais, o uso do intérprete normalmente feito em
grandes palestras públicas - acaba se reproduzindo. Todavia, Piret (2007) apud Santos e Assis
(2015) afirma que o intérprete, por não possuir uma formação técnica especifica na área da
psicologia, não tem como se familiarizar com as especificidades naturais do setting
terapêutico. E assim, a palavra do paciente surdo só será traduzida para o terapeuta através do
inconsciente desse intérprete.
REFERÊNCIAS
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da surdez. Psicologia: Reflexão e Crítica. [online]. 2008, vol.21, n.3, pp.392-400. Disponível em:
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Contribuições Da Literatura. 2017. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1118.pdf.
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psi.org.br/tcc/92.pdf. Acesso: 21 de abril de/2018
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RESUMO
As comunidades surdas do Brasil, mesmo com sansões dos diplomas legais que rezam sobre
a acessibilidade à comunicação, ainda enfrentam grandes adversidades em seu processo de
inclusão social, garantia de direitos e reconhecimento social do status linguístico do seu meio
de comunicação e expressão. Tendo em vista nos últimos anos o potencial que surge com a
internet, enquanto transformadora dos modos de se comunicar e trocar informações, o
presente trabalho buscará compreender como o universo contemporâneo das redes sociais
permeia o sujeito surdo, tendo em vista a ampla gama de formas de comunicação em rede,
prescindindo da comunicação oral, além da possibilidade de se conectar e compartilhar
experiências com outras pessoas das comunidades surdas ou ouvintes, trocando vivências,
relatos e aprendizados. Será investigado como as pessoas surdas se apropriam dos espaços
das redes sociais e dos canais de compartilhamento, e quais os efeitos disso para o seu
processo de socialização e reconhecimento.
INTRODUÇÃO
O advento das mídias digitais e redes sociais têm transformado a vida em sociedade e
revolucionado a transmissão de informação de maneira sem precedentes. As novas
1
Estudante do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
2
Estudante do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
3
Estudante do 10º semestre do curso de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). E-mail:
jimmatheus@gmail.com.
4
Estudante do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
5
Estudante do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
6
Orientadora - Professora da turma do Oitavo Semestre do Curso de Psicologia da Universidade do Estado da
Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional: smaia@uneb.br. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
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Tendo em vista a definição de Taylor (1992, apud GÂRCEZ E MAIA, 2009) de que o
reconhecimento é uma necessidade vital para os indivíduos e só é alcançado por meio de uma
dinâmica relacional que envolve “se posicionar diante do outro”, somos levados a refletir
como os sujeitos das comunidades surdas brasileiras e usuárias da Libras8 ou da Língua dos
Sinais Kaapor Brasileira (LSKB)9 ou da Língua de Sinais Pataxó10, e de tantas outras línguas
de sinais utilizadas nas mais variadas comunidades surdas espalhadas nesse extenso Brasil
irão conseguir participar do sistema de trocas das redes sociais, se posicionando e
relacionando diante de outros sujeitos (surdos ou não), e quais serão os impactos desse
processo em sua subjetivação, sendo que majoritariamente a comunicação utilizada em redes
é de modalidade oral-auditiva?!
7
Sendo uma língua de modalidade viso-espacial, a Libras utiliza as mãos, expressões corporais e faciais (para a
manifestação da expressão) e a visão (para a compreensão da mensagem). Já as línguas orais-auditivas utilizam
o sistema auditivo (para recepção da mensagem) e o aparelho fonoarticulatório (para emissão da mensagem).
(COSTA; COSTA, 2017, p. 8).
8
“Das línguas de sinais “faladas” no Brasil, a Libras é a única língua de sinais que é reconhecida por meio de
documento oficial. Lembre-se: lei 10.436/2002”. (COSTA; COSTA, 2017).
9
Ferreira-Brito (1995[2010]).
10
Damasceno (2017).
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Com o exposto, nosso objetivo com esse trabalho é de compreender como as redes sociais
auxiliam na comunicação e inclusão do sujeito surdo com a comunidade surda e falante. E
analisar o modo em que opera a supremacia da linguagem oral no ambiente das redes sociais;
identificar os principais canais de comunicação utilizados pela comunidade surda para
divulgação de conteúdo, e por fim investigar a relevância da internet/redes sociais na
constituição e socialização das Pessoas Surdas.
METODOLOGIA
A pesquisa foi Qualitativa, compondo-se de uma revisão de literatura, com leitura e discussão
de textos relacionados às temáticas da Surdez, Redes Sociais, Inclusão, Educação, dentre
outros termos utilizados como palavras-chave na pesquisa dos artigos selecionados pelos
alunos e pela docente responsável. A pesquisa Qualitativa é caracterizada por Minayo (2001)
como uma modalidade de pesquisa que “trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis” (MINAYO, 2001, p. 22). O trabalho foi direcionado a entender o significado e o
impacto que as redes sociais têm gerado para as comunidades surdas em seu processo de
socialização.
DESENVOLVIMENTO
De acordo com o Censo 2010, 5,1% da população do Brasil possui algum grau de deficiência
auditiva. Dentro desse grupo, uma parcela significativa, especialmente aqueles com danos
mais severos à audição, irá se utilizar de modalidades de comunicação distintas de línguas
oralizadas. Em 2005, após algumas décadas de luta por reconhecimento, a LIBRAS foi
regulamentada:
Apesar da sanção/publicação da Lei de Libras em 2002, ela ainda não tinha sido
suficiente para garantir plenamente a acessibilidade do sujeito surdo. Então, era
necessário que houvesse a regulamentação dessa lei, assim como do artigo 18 da
Lei de Acessibilidade. Nesse sentido, as comunidades surdas usuárias da Libras
continuaram lutando para que ocorresse essa regulamentação. No ano de 2005, a lei
foi finalmente regulamentada por meio do Decreto n.º 5.626/2005, conforme
discorreremos a seguir. (COSTA; SANTOS-REIS DA COSTA, 2017, p. 8).
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Apesar dessa conquista, a comunidade surda ainda enfrenta diversas dificuldades, sendo
considerada uma minoria linguística, que permanece em luta pela garantia de direitos
básicos, especialmente nos campos da educação e inclusão social. Grande parte das
dificuldades vivenciadas pelas comunidades surdas na atualidade são vinculadas a questões
históricas. Por muito tempo, persistiu-se uma perspectiva de que era necessário um esforço
pela oralização do sujeito surdo, que não poderia ser mediada de forma alguma por uma
Língua de Sinais, pois pensava-se que a surdez (deafness11) e as suas implicações na fala
seriam déficits fisiológicos que poderiam ser reparados através de prática. Em 1880, no
Congresso de Milão, composto majoritariamente por sujeitos ouvintes, o chamado método
oralista, baseado em intervenções clínicas que prometiam curar ou corrigir a surdez e
reabilitar a fala, foi estabelecido como mandatório (GÂRCEZ E MAIA, 2009). Caberia ao
sujeito surdo, portanto, se submeter à norma linguística oral, sendo proibido a utilização de
sinais por acreditar-se que estes atrapalhariam no desenvolvimento da fala (PEREIRA, 2014).
Essa perspectiva seguiu com força até meados do século XX, apesar de forte resistência por
parte da comunidade surda, que se organizava em congregações para discussão de métodos
alternativos para a educação de surdos. No Brasil, essas associações se integraram, a partir de
1987, numa grande organização chamada FENEIS (Federação Nacional de Educação e
Integração dos Surdos), pautada na perspectiva do Bilinguismo do sujeito surdo, que deve
primeiro obter a Língua de Sinais (L1) para depois ser integrado na língua oral de sua pátria
(L2). Sobre a preponderância da linguagem oral sobre as outras modalidades de expressão
linguística, Dizeu e Caporali (2005) trazem que
Mesmo com a superação do estigma do método oralista e com a oficialização das Línguas de
Sinais em boa parte do mundo, a linguagem oral ainda é a modalidade de comunicação que
vai ser mais recorrente no dia-a-dia em sociedade. Disso surgirá a necessidade do
desenvolvimento de tecnologias assistivas, que incluirão produtos, estratégias e serviços que
11
Ver Paddy Ladd.
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visam prover autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social para o sujeito
surdo (LIMA, 2006 apud MORAIS et al., 2017). Um exemplo é o LIBROL, software tradutor
de Português para LIBRAS, que trará a possibilidade de traduzir um texto da língua
portuguesa para a língua de sinais, permitindo a um estudante tornar sua compreensão perante
um texto mais abrangente, levando menos tempo para realizar a leitura (CARVALHO et al.,
2013). Genericamente, a escrita do Surdo em segunda língua, Língua Portuguesa, tem
aspectos que se diferencia quanto ao emprego ou não, e ao local de emprego das classes
gramaticais como conectivos, artigos, preposições, conjunções e o uso dos verbos. Dessa
forma, ler ou escrever um texto de acordo com a gramática específica da Língua Portuguesa
pode se constituir num desafio para sujeitos surdos.
Será justamente a partir das redes sociais que surge, na comunidade surda, um movimento
sem precedentes de produção e compartilhamento de conteúdos feitos por e para sujeitos
surdos, abrindo um campo crescente de youtubers, blogueiros, digital influencers e
instagrammers.
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Atualmente, além de redes sociais já existentes que possuem o uso de ferramentas visuais
como principal forma de expressão, como o Youtube, que permite o compartilhamento de
vídeos previamente filmados, e o Skype, plataforma de vídeo-chamada, outras redes sociais
como o Facebook onde a produção é geralmente escrita, e o Instagram, rede social de fotos,
têm incluído em suas últimas atualizações ferramentas que possibilitam a postagem de
vídeos. Percebe-se que tais ferramentas abrem espaço para se pensar em novas formas de
comunicação e para a apropriação criativa pelos surdos nas mais diversas redes sociais.
Morais (2017) aponta em pesquisa que a apropriação das redes sociais pelos surdos já é uma
realidade. Uma pesquisa quali-quantitativa feita com 17 surdos adultos matriculados na rede
pública de ensino num município no Vale do Paraíba foi conduzida por mestrandas e
professora da UNITAU. Dentre outros achados, verificou-se que a totalidade dos
participantes acessava a internet e utilizava o site Facebook e o aplicativo WhatsApp,
principalmente através de seus celulares.
Em matéria do Huffpost Brasil de 2018, é destacado que uma jovem comunidade de surdos,
constituída principalmente de youtubers, têm encontrado nas redes sociais as ferramentas
para serem ouvidos (ROSA, 2018). Neste cenário, sujeitos surdos passam a ter maiores
possibilidades de comunicação, de troca de informações, de acesso a conhecimento,
contribuindo para sua formação humana, enquanto sujeitos capazes de se inserir na
comunicação em rede, realizando trocas substanciais com outros, além de afirmar o local de
existência daquele sujeito enquanto pertencente a uma minoria, e reconhecendo como válida
a sua modalidade de comunicação.
Os indivíduos surdos que participam das redes sociais usam-nas tanto para divulgar e falar
sobre as questões que concernem a comunidade surda e suas vivências, além da divulgação
da LIBRAS, como também para falar de temas do cotidiano, de entretenimento, de vida. A
internet se estabelece como o espaço que eles encontram para compartilhar seus interesses e
opiniões para alguém que consegue entender e significar o que eles apresentam. Em matéria
do Huffpost Brasil (ROSA, 2018) é trazido um excerto de comentário de uma youtuber surda,
no qual ela afirma que
CONSIDERAÇÕES
Garcêz e Maia (2009) destacam que o sujeito surdo se situa na internet como um produtor e
veiculador de suas próprias narrativas, sem intermediadores. Isso abre uma dimensão de
troca, emissão e recepção de mensagens e conteúdos vários, possibilitando ao sujeito ter um
“outro” para estar diante. A falta da oralidade não é algo que torna a comunicação truncada,
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caduca, insuficiente: os surdos se fazem entender entre si e para os outros a partir das
ferramentas disponíveis nos sites e redes sociais.
Apesar da imensa quantidade de conteúdo feito por e para sujeitos oralizados disponível na
internet, a rede consegue servir como plataforma de comunicação entre surdos através de
sinais de uma forma que outros meios de comunicação desenvolvidos ao longo dos séculos
XIX e XX conseguiram de forma muito limitada. A internet trará uma maior simetria as
possibilidades de comunicação humana. Se dispõe de som e imagem para comunicar-se, não
sendo limitada como o telefone. E diferente da televisão, pois não apenas o sujeito tem uma
gama mais ampla de conteúdo para buscar: ele em si pode ser produtor e veiculador de um
discurso, fora da posição de espectador.
Dessa forma, com o surgimento das redes sociais, possibilitou-se o fortalecimento das
conexões entre surdos, proporcionando novas formas de comunicação (FESTA, 2013). Além
disso emergem como ferramentas contemporâneas essenciais de transformação e luta social,
podendo exercer um papel conscientizador e mobilizador, pois acabam por alcançar um
grande número de pessoas surdas e ou não que antes não conheciam ou não se interessavam
pelo movimento de afirmação e de busca por inclusão dos sujeitos surdos,
independentemente do local onde vivem (SILVEIRA, 2012).
Ainda há muito a se avançar no quesito da inclusão dos sujeitos surdos nas redes sociais, mas
a crescente apropriação dos surdos dessas ferramentas pode possibilitar a ressignificação dos
espaços digitais para a realidade dessa comunidade, principalmente através do uso de vídeos,
viabilizando a propagação e produção de conteúdos feitos por surdos para surdos ou
direcionados ao público ouvinte, dando um local para que esses sujeitos possam se expressar
também através da LIBRAS, sua primeira língua, e não apenas com a língua portuguesa.
REFERÊNCIAS
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internet_a_23353222/
RESUMO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
Proposta curricular desenvolvida com estudantes do primeiro semestre do Curso de Licenciatura Plena em
Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, que atende a proposta pedagógica do planejamento do semestre
de incentivo à leitura e escrita. Este resultado representa descobertas destes estudantes durante o curso do
Componente Curricular Libras no semestre de 2018.1.
2
Graduanda do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado
da Bahia. E-mail: alana2196@outlook.com. http:lattes.cnpq.br/9890651858121553
3
Graduanda do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado
da Bahia. E-mail: flaviocostareal@gmail.com. http:lattes.cnpq.br/4101396934541334
4
Graduanda do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado
da Bahia. E-mail:flavianeconceicao@yahoo.com.br. http://lattes.cnpq.br/0181949252422533
5
Graduanda do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado
da Bahia. Email:flavianeconceicao@yahoo.com.br. http://lattes.cnpq.br/0181949252422533
6
Graduanda do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado
da Bahia. Email:keziapereira@gmail.com. http:lattes.cnpq.br/8964668240095443
7
Orientadora - Professora da turma do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela
Universidade do Estado da Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional:
smaia@uneb.br. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 91
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 20 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195
É notório que entraves para o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais têm sido
destacados em discussões diversas, tanto na academia quanto em tema de redação do ENEM
(Exame Nacional do Ensino Médio) e em outras espaços. Essas discussões vêm a enfatizar a
necessidade de capacitar pessoas de todos os segmentos: sociais, a partir do educacionais, na
área da saúde e atendimento ao público, no entanto, há uma barreira grande a ser quebrada
que é a competência linguística para a comunicação em Libras. Acreditamos que o uso de
aplicativos vem a atenuar a situação facilitando a socialização, no que tange, da difusão de
noções da Língua, fazendo um papel social e intervindo positivamente em não restringir o
saber e assim modificando as relações cotidianas dentro dos diversos espaços sociais,
permitindo uma relação humanizada.
Contudo não defendemos que os uso dos aplicativos devam ter a função de substituir
professores de cursos de línguas de sinais nem substituir profissionais tradutores e intérpretes
de Libras e muito menos impedir que a sociedade seja fluente em Libras. Mas, assim, como
nossas sociedades estão adaptadas a uso de diversos aplicativos para diversas funções e
soluções no dia-a-dia, nesse caso da Libras é otimizador ter diversos tipos de aplicativos
também.
A tecnologia está presente em nosso cotidiano influenciando nossas vivencias, e até mesmo a
nossa comunicação. Nesse universo crescente e diversificado surgem as possibilidades de
dialogo e interação de surdos e ouvintes, ou seja, o uso das tecnologias digitais para
aproximar e facilitar a comunicação. A pessoa surda tem dificuldades de interagir com
ouvintes não fluentes em Libras, não só na escola, mas em todo o meio social, tendo em vista
toda bagagem histórica, suas dificuldades e negação na sociedade. Então vemos este viés da
possibilidade do uso de aplicativos que podem ser usados como instrumento de interação
social dentro e fora da escola.
Entendemos que o uso de aplicativos nas escolas pode facilitar a interação e inserção de
surdos no espaço educativo, ser uma ferramenta que otimize ou estimule a prática da língua
portuguesa. Não obstante, só o aplicativo não solucionará os problemas educacionais
referentes a aquisição da Língua Portuguesa, mas precisa além das relações entre surdos e
ouvintes, a medição pedagógica do professor, apto para utilizar ferramentas digitais nas
práticas pedagógicas. Será necessária a preparação das escolas para a recepção desses
aparatos e utilizá-los em prol do desenvolvimento educacional. Assim, a prática pedagógica
estará na criação de elos entre esses sujeitos de diferentes linguagens e essa tecnologia digital
que possibilita a comunicação.
Entende-se o uso do Aplicativo Hand Talk como ferramenta que pode facilitar as relações
interacionais entre surdos e ouvintes, e o uso de diversos aplicativos também podem servir no
ambiente escolar. Apesar de a legislação atuar como mediadora na inserção dos surdos em
escolas regulares a partir do conceito da educação inclusiva observa-se, que o aluno surdo
enfrenta barreiras na comunicação com os colegas, professores e nas atividades cotidianas da
escola.
escolas especiais é um ato discriminatório, manter todos juntos: surdos, ouvintes e alunos
com necessidades especiais seria um sinal de avanço impulsionado pela solidariedade, e
isola-los em escolas especiais seria um atentado a modernidade ou ao avanço tecnológico.
Diante desse cenário, de exclusão social em espaços educativos por conta da língua, não
temos objeção ao uso e tecnologias, como o aplicativo Hand Talk nas escolas como
instrumento para facilitar o processo interacional e de comunicação entre alunos. O aplicativo
faz gratuitamente a tradução de Língua Portuguesa para a Língua Brasileira dos Sinais
(Libras). Em 2013, o software foi eleito o melhor aplicativo social do mundo no World
Summit Award Mobile, da Organização das Nações Unidas (ONU)8, também9 a plataforma
foi escolhida pelo Ministério da Educação em 2015 para equipar os tablets obtidos para a
rede pública de ensino além de se tornar um complemento ao trabalho realizado pelos
intérpretes em sala de aula.
Em uma sociedade onde o uso de aparelhos eletrônicos é amplamente difundido, o Hand Talk
é uma ferramenta importante no processo de compreensão da cultura interacional do surdo.
Observa-se que o uso de smartphones é abrangente entre os alunos e a conexão com internet é
presente na maioria das instituições de ensino, esse ambiente escolar dispõe de vários
mecanismos para fomentar o uso da Libras através do aplicativo e propiciar essa interação
entre os alunos ouvintes e surdos.
8
Ver: https://www.handtalk.me/Sobre
9
Ver: http://www.assespro-al.org.br/2015/07/hand-talk-foi-escolhido-pelo-mec-como-aplicativo-padrao-nos-
tablets-distribuidos-para-alunos-e-profe/
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 94
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 20 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195
Apesar das escolas intituladas inclusivas reunirem surdos e ouvintes nos mesmos espaços, na
certeza de estarem aproximando-os, o fato de se comunicarem de forma distinta gera
distanciamento entre eles. Fomentar o uso da Libras nesse espaço contribui para a formação
do sujeito surdo, não apenas na construção de saberes, mas na formação da sua identidade.
Nestes contextos, o aplicativo Hand Talk pode ser utilizado nas escolas como ferramenta de
socialização, promovendo interação entre os alunos e profissionais. Apresentar a Libras
através de uma plataforma digital é uma estratégia assertiva em uma sociedade onde o uso de
tecnologias é tão presente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É sabido que a necessidade de inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a
educação infantil até a educação superior, embora isso não seja o difundido não só na
educação brasileira, mas em outros países. Os aplicativos que ajudam na interação entre
ouvintes e surdos servem de apoio para que essas pessoas não se sintam mais exclusas do que
já são. Utilizando deste recurso, é necessário destacar que ele não é visto como uma ou a
solução, mas sim uma ferramenta que teria a condição de superar barreiras no processo
educacional e interacional entre esses indivíduos. Estes já se mostram não só importantes
para o processo educacional, visto que alguns desses dispositivos ajudam nas áreas de
recursos humanos, tendo a tecnologia a seu favor. Com o uso da tecnologia, percebemos que
o objetivo maior é a contribuição e ampliação da acessibilidade, dando visibilidade e
ajudando na diminuição das dificuldades que os surdos já encontram. O aplicativo Hand Talk
foi escolhido para compor este trabalho pela sua visibilidade, importância e acessibilidade,
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 95
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 20 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195
visto que é de origem brasileira e já premiado por sua extrema relevância. Mesmo com seu
devido valor reconhecido, não se pode dizer que o processo educacional de interação entre
surdos e não ouvintes já é algo difundido amplamente. Há muito ainda que ser feito, não só
no processo da educação, como no acesso e difusão dessas ferramentas que são criadas com o
intuito de ajudar, promover e dar reconhecimento da Libras.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002,
que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de
2000. Brasília, DF, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 28 Abril 2018.
Hand Talk. Tradução digital para acessibilidade em Libras. Disponível em: <http://www.handtalk.me>. Acesso
em: 28 de ABR de 2018.
CORRÊA, Ygor et al. Tecnologia Assistiva: a inserção de aplicativos de tradução na promoção de uma melhor
comunicação entre surdos e ouvintes. RENOTE - Revista Novas Tecnologias na Educação. UFRS, v. 12, n. 1,
2014. Disponível em¸ <http://seer.ufrgs.br/index.php/renote/article/view/49824> Acesso em: 28 Abril 2018.
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Editora da Universidade
Federal do Amazonas, 2002.
CORRÊA. Ygor; VIEIRA. Maristela Compagnoni; SANTAROSA. Lucila Maria Costi; BIASUZ. Maria Cristina
Villanova. Tecnologia Assistiva: a inserção de aplicativos de tradução na promoção de uma melhor
comunicação entre surdos e ouvintes. RENOTE - Revista Novas Tecnologias na Educação. ISSN 1679-1916.
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/renote/article/view/49824. Acesso em 28 de ABR de 2018.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 96
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 20 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei n° 8.112 de 11 de Dezembro de 1990, no § 2o do Art. 5o determina que até 20% das
vagas totais de um concurso público seja voltada para Pessoas com deficiência, e isto inclui
as Pessoas Surdas sinalizantes. A Lei n° 8.213/91 que determina que empresas que possuam
mais de 100 funcionários devem ter reserva de 2% a 5% das vagas para Pessoas com
deficiência, e isto inclui as Pessoas Surdas que usam a Língua Brasileira de Sinais como sua
língua materna.
1
Atividade desenvolvida com estudantes do primeiro semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da
Universidade do Estado da Bahia, que atende a proposta pedagógica do planejamento do semestre de incentivo à
leitura e escrita. Este resultado representa descobertas destes estudantes durante o curso do Componente
Curricular Libras no semestre de 2018.1.
2
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I. E-mail: gigig2011@gmail.com. Currículo:
3
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I.
4
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I. E-mail: lilliandantas42@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4527164844336135.
5
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1417459045040336. E-
mail: mahrajoo24@gmail.com.
6
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3172011878109075. E-
mail: monique1700@gmail.com.
7
Graduanda do 1º Semestre de Pedagogia – UNEB/DEDC I. E-mail: squeziagomes@gmail.com.
8
Professora da turma do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do
Estado da Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional: smaia@uneb.br. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 97
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 20 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195
No entanto, podemos perceber que no cotidiano das Pessoas Surdas essas Leis não são
atendidas satisfatoriamente. Buscando entender por que isso aconteceria surgem algumas
hipóteses: não contratam Surdos sinalizantes por pensarem que esses Surdos são incapazes;
baixa escolaridade dos Surdos; falta de capacitação profissional; pelo modo de comunicação
em Libras não fazer parte do habitual das empresas, e isto demandar o serviço de um novo
profissional intermediador entre Surdos e ouvintes o Intérprete de Libras. As dificuldades de
inserção da Pessoa Surda no mercado de trabalho são inúmeras, e este trabalho de propõe a
discutir um pouco sobre estas dificuldades.
DESENVOLVIMENTO
No período da Idade Média, na Espanha, por intermédio do monge beneditino Pedro Ponce
de Leon (1510-1584), que “se preocupava com a educação de surdos ricos e nobres” (SILVA,
2006, p. 18). Em Paris, “junto com um ouvinte o abade L’Epeé, viabilizam uma mudança
drástica /.../ na história da educação dos surdos /.../ permitiu a criação da primeira Escola
Pública para Surdos /.../ em 1760” (SILVA, 2006, p. 19).
Esse movimento francês de atender a Surdos de quaisquer classes sociais chegou ao Brasil:
Nos ultimos dias do anno de 1855, chegou ao Rio de Janeiro, o surdo mudo francez
E. Huet, com a intenção de abrir uma escola para ensinar os seus companheiros de
infortúnio. Apresentou, como prova de sua idoneidade, uma carta do Ministro da
Instrucção Publica de seu Paiz, Drouyn de Lhys, ao Cavalheiro de Saint George,
ministro da França junto ao Governo do Brasil /.../ Por sua vez, o marquez de
Abrantes aprsentou a Huet ao ex-imperador que o acolheu, benevolamente,
prometendo auxilial-o na realização do seu intento. “A pedido do ex-Imperador, o
Marquez de Abrantes incubiu ao Dr. Manoel Pacheco da Silva, então Reitor do
IMPERIAL COLLEGIO D. PEDRO II, de facilitar a Huet os meios de abrir a sua
escola (INES, 2013, p. 81-83).
língua de sinais. Esse modelo apoia-se no pensamento de que a língua oral é a única forma
uma de comunicação. Castro Junior (2011), aborda sobre esse assunto:
Neste século, ainda há quem defenda que este deva ser o modelo ideal para comunicação e
educação de Surdos, mas em paralelo, ao longo dos anos a língua de sinais tem ganhado
espaço, ainda que a disseminação não tem sido o suficiente para incluir satisfatoriamente os
Surdos no mercado de trabalho. Pois nem todos os ouvintes conhecem a Libras o que
dificulta interações sociais no ambiente de trabalho, e isto não permite que haja uma
confortável convivência entre surdos e pessoas que apenas utilizam da língua oral.
Houve outras filosofias para a Educação de Surdos, mas a que tem gerado mais desencontros
em relação ao uso e aceitação da Libras é o Oralismo, no entanto nem todos os Surdos
desejam fazer implante coclear, não é garantido que todos os Surdos consigam desenvolver a
leitura labial e a oralidade por meio do aparelho fonoarticulatório, mas a Libras é e sempre
será tão língua natural quanto a Língua Portuguesa. Essas problemáticas enfrentadas
diariamente pela pessoa surda, são reflexos de um de suporte inexistente na base educacional
da população: tanto para Surdos quanto para ouvintes. É necessário que haja atenção para
esta problemática, com o objetivo de extinguir a discriminação com o aprendizado e uso da
Libras a fim de promover ambientes de trabalho mais aceitáveis à diversidade linguística do
país.
No contexto do sistema capitalista, que tem como objetivo o uso da habilidade laboral,
durante um determinado período de tempo, em troca de um salário, se dá a inserção dos
surdos no mercado de trabalho formal, associada à Lei 8.213 de 24 de Julho de 1991. Antes
dessa lei as empresas não tinham a obrigatoriedade de incluir os Surdos, que permaneciam às
margens da sociedade. Essa Lei determina a obrigatoriedade de empresas, com cem ou mais
empregados, em oferecerem uma porcentagem de seus cargos para pessoas com deficiência,
sob tal proporção:
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 99
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher
de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários
reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte
proporção:
I - até 200 empregados...........................................................................................2%;
II - de 201 a 500......................................................................................................3%;
III - de 501 a
1.000..................................................................................................4%;
IV - de 1.001 em
diante. .........................................................................................5%. (BRASIL.
1991).
É relevante salientar que esta lei foi criada para inserir pessoas sem condições de competir
igualitariamente por uma oportunidade no mercado de trabalho. Outro aspecto importante
sobre a Lei, é a respeito da demissão de funcionários. Caso venha a ocorrer, a vaga não pode
ser extinguida e deve ser preenchida por outro individuo com as mesmas condições do
anterior. Além desta Lei, a Lei n° 8.112 traz consigo um avanço em relação ao mercado de
trabalho, pois ela determina que até 20% das vagas de um concurso público seja reservada
para pessoas com necessidades especiais.
Não é de se espantar que há empresas, infelizmente, que contratam indivíduos com surdez
apenas para cumprirem a lei e não serem multadas pelo descumprimento em relação a
porcentagem destinada a pessoas com deficiência. Mas o que vemos no dia-a-dia são Surdos
em cargos que não exige muito esforço intelectual e com salários baixos. Raramente vemos
Pessoas Surdas em cargos de alto prestígio social e intelectual. Estas leis, que garantem cotas,
na maioria das vezes, torna-se uma obrigação, o que deveria ser espontâneo, a fim de garantir
a acessibilidade dos Surdos ao mercado de trabalho, pois o objetivo deveria ser de fato a
inclusão e o respeito aos indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 100
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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A inserção dos Surdos no mercado de trabalho é um debate que merece muita atenção no
contexto da nossa sociedade, tendo em vista que indivíduos que possuem a surdez, são
descartados dos meios sociais, como o mercado laboral. Porém, não basta apenas oferecer um
emprego ao Surdo, mas também ceder a ele condições para que suas funções sejam realizadas
de maneira justa e competente. É importante que as empresas possuam funcionários com
conhecimentos em Libras para que o Surdo se sinta acolhido e possa interagir com os colegas
do ambiente de trabalho. Em empresas com Surdos quantas profissionais ouvintes, sejam eles
chefes ou empregados são fluentes em língua de sinais? Conclui-se que quanto mais
simplório o cargo para o Surdo menos complicações com as questões comunicativas.
O conceito de surdez como sendo a perda parcial ou total das possibilidades auditivas
sonoras, variando de graus e níveis, resulta na seletividade preconceituosa de muitas
empresas. Na maioria dos casos, são preferíveis as pessoas de grau leve de surdez, que
consigam oralizar com mais nitidez, pois no sistema capitalista que nos cerca, esses
indivíduos representam uma maior vantagem às empresas (que visam lucro, benefícios).
Sendo aqueles com graus mais elevados de surdez e dependente exclusivamente da língua de
sinais, menos contratados e marginalizados.
Sob a ótica do psiquiatra norueguês Terje Brasilier, infere-se que, aceitar a língua de sinais é
aceitar o surdo. Isso traz a reflexão em relação a tais empresas que possuem preferência em
contratar os surdos mais oralizados, rejeitando, assim, grande parte das pessoas sinalizantes e,
consequentemente, a Libras.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 101
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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Em alguns casos, a origem da rejeição às pessoas surda surge no ambiente familiar, quando
os pais não são bem orientados no serviço médico, e não sabem como reagir e lidar quando a
surdez é detectada. “Sabe-se que existe toda uma expectativa em relação à chegada do filho e
quando os pais descobrem a surdez precisam experimentam mudanças significativas na
estrutura familiar, sendo necessária a intervenção de profissionais especializados”
(SACRAMENTO; SANTOS-REIS DA COSTA, 2016, p. 364). É importante que a família
auxilie desde cedo o contato com a Libras, para que a comunicação não seja um entrave no
desenvolvimento cognitivo da criança surda, como vemos nas ações desenvolvidas pelo PAIS
da UFBA:
No entanto, para que isto ocorra, é necessário que os surdos tenham contato com a
língua o mais cedo possível, a fim de proporcionar o desenvolvimento cognitivo,
afetivo e social do sujeito (KELMAN et al., 2011). Pensando nisso, o PAIS conta
com Oficinas de Libras /.../ duas vezes na semana, que são destinadas aos familiares
de crianças surdas atendidas na Clínica Escola de Fonoaudiologia da UFBA –
CEDAF, estudantes da graduação do curso de Fonoaudiologia da UFBA (LIMA Et
al, 2016, p. 242).
REFERÊNCIAS
BRASÍLIA. Lei Nº 8.112, de 11 de Dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores
públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Presidência da República. Casa
Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos.
BRASÍLIA. Lei Nº 8.213, de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência
Social e dá outras providências. Presidência da República. Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos.
CASTRO JÚNIOR, Gláucio de. A Educação de Surdos no Distrito Federal: Perspectivas da Política De
Inclusão. (Monografia). Curso de Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão.
Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento.
Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde. Brasília. 2011.
FERNANDES, Patrícia Martins de Oliveira. Deficiente, Não! Diferente. A Luta dos Surdos pelo
Reconhecimento de sua Identidade Lingüística e Cultural. (Memorial). Curso de Pedagogia - Programa Especial
de Formação de Professores em Exercício. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.
Campinas 2006.
INES. A surdo mudez no Brasil. Série Histórica do Instituto Nacional de Educação de Surdos, Vol. 6. Rio de
Janeiro, 2013.
LIMA, Camila; Et al. PAIS – Projeto para Acolhimento, Informação e Suporte e Familiares de Crianças Surdas.
ANAIS Congresso Internacional Seminário de Educação Bilíngue para Surdos Universidade do Estado da
Bahia. Departamento de Educação. Salvador/BA. Biblioteca Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD:
371.912 Volume 1, 2016. Páginas: 238-245. Publicação: 24 de Abril de 2017 ISSN: 2526-6195.
SACRAMENTO. Gabriela Oliveira do; SANTOS-REIS DA COSTA, Sheila Batista Maia. Atenção à Saúde da
Família com Filho Surdo: Uma Revisão Bibliográfica. ANAIS Congresso Internacional Seminário de Educação
Bilíngue para Surdos Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Salvador/BA. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371.912 Volume 1, 2016. Páginas: 363-373. Publicação: 24 de
Abril de 2017 ISSN: 2526-6195.
SILVA, Vilmar. Educação de Surdos: uma releitura da primeira escola pública para surdos em Paris e do
Congresso de Milão em 1880. In: QUADROS, Ronice Müller (org.). Estudos Surdos I. Editora Arara Azul.
Petrópolis, 2006.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 103
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
RESUMO
Essa proposta trata da educação formal para Pessoas Surdas, perpassando pelo contexto
histórico, ambiente escolar e modelo e metodologia de educacional para estas pessoas.
Retrata sobre a discriminação sofrida pelas pessoas surdas, e como tudo se desenvolveu
até que eles pudessem ser considerados indivíduos capazes de viver socialmente; os
novos trabalhos voltados a educação para surdos e o surgimento das primeiras escolas
no Brasil. Desde a fundação do Instituto Nacional de Educação para Surdos,
considerado referência no país, bem como - ainda que tardiamente por meio da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação do Brasil (Lei n° 9394/96) - o direito a educação para
surdos nas escolas regulares. É ressaltado a importância das escolas bilíngues, e
possíveis complicações na inserção do surdo no ambiente escolar. Nos propomos a
trabalhar o contexto histórico a partir dos densos estudos de Solange Rocha -
historiadora do Instituto Nacional de Educação para Surdos; o ambiente escolar a partir
de Lodi e Lacerda (2014), Machado 2008), Costa (2012); o modelo bilíngue a partir de
Kubashi e Moraes (2009), García (2009), García e Kleyn (2016); e metodologia
educacional com os estudos de Quadros e Schmiedt (2006), Quadros e Cruz (2011),
Guarinello, Berberian, Santana (2006).
1
Atividade desenvolvida com estudantes do primeiro semestre do Curso de Licenciatura Plena em
Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, que atende a proposta pedagógica do planejamento do
semestre de incentivo à leitura e escrita. Este resultado representa descobertas destes estudantes durante o
curso do Componente Curricular Libras no semestre de 2018.1.
2
Estudante o primeiro semestre do curso em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail:
luizabraga2711@gmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1841435036725102.
3
Estudante o primeiro semestre do curso em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail:
deboradjsilva@gmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/6599382553768288.
4
Estudante o primeiro semestre do curso em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail:
carvalho.jamilebenjamin@gmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/6028561062627980.
5
Estudante o primeiro semestre do curso em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail:
lumabarretto@hotmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/2261143389678279.
6
Estudante o primeiro semestre do curso em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail:
vanessagomesvanessa98@gmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0717295845321417.
7
Professora da turma do Primeiro Semestre do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela
Universidade do Estado da Bahia. E-mail Pessoal: sheilacosta528@gmail.com. E-mail Institucional:
smaia@uneb.br. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7213087258602843.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 104
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
LINHA DE INSCRIÇÃO
EDUCAÇÃO
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 106
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
RESUMO
Este estudo apresenta proposta de intervenção pedagógica realizada junto a uma classe
inclusiva em uma escola de grande porte da rede municipal de ensino de Feira de
Santana, com o objetivo de propor atividades de produção textual, a partir do gênero
narrativas autobiográficas, visando ao desenvolvimento da escrita no contexto da
inclusão. Como objetivos específicos, propomos: i. Identificar e analisar as
características do gênero narrativas autobiográficas; ii.Produzir narrativas
autobiográficas; iii. Aprimorar o nível de coesão e coerência nas produções escritas em
Língua Portuguesa de surdos e ouvintes levando em consideração as particularidades da
LIBRAS. Nosso estudo se desenvolveu a partir desta proposta de intervenção por meio
de Sequência Didática que contemplou o estudo da escrita em Língua Portuguesa a
partir das narrativas autobiográficas criadas pelos alunos. Com relação ao referencial
teórico que fundamentou a proposta de intervenção, buscamos as contribuições de
Quadros (1997), Honora (2009), Botelho (2013), Karnopp (2012), Lodi (2005), Salles
(2004), entre outros, que discorrem sobre a educação de surdos e a escrita em Língua
Portuguesa como L2 do sujeito com surdez, no Brasil, em uma perspectiva bilíngue.
Para a análise dos dados apresentados, contamos com 12 alunos ouvintes e 6 alunos
surdos, que participaram das atividades propostas e da atividade diagnóstica. Os dados
analisados mostraram que os alunos apresentaram avanços significativos no que diz
respeito à produção das narrativas autobiográficas, considerando as principais
características do gênero quanto à forma da linguagem, assunto tratado, situação do
autor e posição do narrador enquanto personagem. Constatamos ainda a importância do
trabalho sequenciado para o aprendizado das estratégias de escrita, uma vez que, a partir
de aulas temáticas, a produção final dos alunos mostrou-se rica em detalhes quanto a
episódios da vida do autor-narrador, bem como de reflexões, antes ausentes na produção
inicial, sobre tais fatos. Apesar de perceber que a SD não tenha dado conta de aspectos
linguísticos como ausência de operadores conectivos e inabilidade no uso de referentes
para evitar repetições desnecessárias nos textos, uma vez que tais problemas ainda se
fizeram presentes na produção final de alguns alunos, salientamos a sua importância
enquanto proposta de uma sala de aula de Língua Portuguesa que também valoriza a
diversidade linguística presente na escola inclusiva, em especial, a LIBRAS, fazendo
desta instrumento primeiro na tentativa de ensino da modalidade escrita dos alunos com
surdez.
1
Mestra em Letras (ProfLetras-UNEB), Especialista em Libras (IBPEX) e Metodologia da Pesquisa,
Ensino e Educação em Extensão (UNEB), Licenciada em Letras Vernáculas (UEFS). E-mail:
adrianamatos.am@gmail.com
Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/3120800917116054
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Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
INTRODUÇÃO
O que percebemos nas escolas, em especial nas aulas de Língua Portuguesa, no entanto,
parece destoar desta finalidade da língua destacada por Barkhtin, a partir do momento
em que o ensino de LP ainda se restringe ao ensino de sinais, compreendido por este
autor como uma entidade de conteúdo imutável e que somente pode ser identificado,
mas não descodificado como é o caso do signo. O autor, então, é categórico em afirmar
que “enquanto uma forma linguística for apenas um sinal e for percebida pelo receptor
como tal, ela não terá para ele nenhum valor linguístico” (BAKHTIN, 2006, p. 95).
Esta, porém, tem sido a posição adotada por muitos professores que ainda não estão
sabendo como lidar com a situação de ensinar uma língua dita materna para alunos e
alunas que não fazem uso desta ou sequer a conhecem, como é o caso de sujeitos com
surdez em relação à Língua Portuguesa.
2
Termo utilizado por Honora (2014, p. 67).
3
Termo adotado por Quadros e Karnopp (2007, p. 29)
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produções coerentes, uma vez que muitas são as situações de sujeitos surdos que
conhecem a palavra em LP, mas não conseguem utilizá-las adequadamente de acordo
com o contexto em questão, como é o caso do aluno S3. Os outros três sujeitos surdos,
também apresentam um vocabulário considerável em LP, mas trazem realidades
diferentes quanto à forma de organizar o seu texto. S1, S2 e S6, apesar de não
escreverem de acordo com as normas da LP, em especial no que tange à sintaxe,
conseguem demonstrar que compreenderam o conteúdo e respeitaram o contexto
proposto, ou seja, uma narrativa sobre os principais acontecimentos de suas vidas, como
mostra, por exemplo, a aluna surda S1 na Imagem 3:
As citações de S2 e S6, onde estes expõem alguns desses acontecimentos por meio de
palavras e ou frases justapostas, também nos permitem uma compreensão acerca dos
acontecimentos ou fatos narrados, bem como da sequência cronológica desses
episódios. Vejamos os textos aqui transcritos:
gosta de futebol, é torcedor do Santos e que, em 2009, entrou numa escola de futebol
para surdos onde vivenciou discussões ou algo semelhante. Também compreendemos
que esse ano já não briga mais e que o sujeito que narra mudou de escola. Saiu da
AMOS para AFADA, uma escola para surdos e que lá os jogos acontecem pela manhã e
pela tarde. Já o texto de S6 apresenta frases justapostas, cuja compreensão também
dependerá de algum esforço de quem a lê, não pela ausência de pontuação e conectivos,
em si, mas pela ordem dos fatos em relação ao período marcado a partir dos 10 anos,
quando parece ter iniciado seus estudos no colégio Municipal e aos 11 anos ter tido o
primeiro namorado, como mostra seu texto:
Nesse sentido, S1 parece ter compreendido o lugar das palavras para desenhar a
mensagem que deseja transmitir na sua L2, conseguindo se fazer compreender por meio
da escrita. Quanto ao gênero textual trabalhado, o único fato por ela apresentado é
contado de forma narrativa fazendo uso, inclusive, de pronomes em primeira pessoa,
marcando o protagonismo do narrador. Ao ler os textos de S1, S2 e S6, muitos de nós
professores tenderíamos a apontar erros e apagamentos de conectivos que resultam, para
o usuário da Língua Portuguesa como L1, no entendimento de que a produção desses
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três sujeitos deve ser considerada algo incompreensível e, portanto, não aceitável como
um texto nesta língua. Mas o fato é que o usuário nativo da LP tende a aprender a língua
escrita a partir do processo da escuta, reproduzindo palavras e sentenças assim como
elas são oralizadas. No caso do sujeito com surdez, além de não conviver com esta
língua, ou seja, o português escrito, muitas vezes, não está alfabetizado na sua própria
língua, o que torna o aprendizado de uma L2 praticamente impossível.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
não consigam se enxergar enquanto sujeito social de uma língua. Por fim, a escola
precisa compreender que o que falta aos alunos surdos, na verdade, é o acesso a uma
língua que dominem, a sua nativa (a Libras), e, por meio desta, promover situações que
permitam a esse sujeito pensar e raciocinar com as complexidades necessárias, assim
como acontece ou deveria acontecer com nossos alunos ouvintes.
REFERÊNCIAS
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para reflexões sobre uma experiência suíza (Francófona). In: FLICK, Uwe. Qualidade na pesquisa
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LODI, Ana Claudia Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa de; FERNANDES, Eulalia. Letramento,
bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: Mediação, 2012. p. 173 – 186
HONORA, Márcia. Inclusão Educacional de alunos com surdez: concepção e alfabetização : ensino
fundamental, 1° ciclo. São Paulo : Cortez, 2014.
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet [org. Jovita Maria Gerheim
Noronha]; [trad. Jovita Maria Gerheim Noronha, Maria Inês Coimbra Guedes], 2 ed., Belo Horizonte :
Editora UFMG, 2014
LODI, Ana Claudia Balieiro; HARRISON, Kathryn Marie Pacheco; CAMPOS, Sandra Regina Leite de.
Letramento e surdez: um olhar sobre as particularidades do contexto educacional. In: LODI, Ana Claudia
Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa de; FERNANDES, Eulalia. Letramento, bilinguismo e educação
de surdos. Porto Alegre: Mediação, 2012. p. 11 – 24
QUADROS, Ronice Müller de.; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos
linguísticos. Porto Alegre : Artmed, 2004.
SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima [et at]. Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos
para a prática pedagógica. Brasília\; MEC, SEESP, 2004.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares – das práticas de linguagem aos objetos
de ensino. In: ROJO, Roxane; CORDEIRO, Glaís Sales. [orgs.; trads.) Gêneros orais e escritos na
escola. Campinas, SP : Mercado de Letras, 2004. p. 61 – 78.
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RESUMO
RESUMO
Esse trabalho deriva de uma pesquisa de doutorado que buscou analisar o estado do
conhecimento sobre a educação de surdos com base em pesquisas de mestrado e
doutorado. Foram analisadas, na íntegra, 62 dissertações e oito teses, disponíveis na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, no período entre 2010 e 2014,
sobre o referido tema. Entre as produções analisadas constatou-se um número
significativo de dissertações (n=22) e teses (n=2) que abordaram o tema principal
Inclusão. Desse modo, buscamos no presente trabalho examinar os principais resultados
e considerações das dissertações e teses sobre a educação de surdos que abordaram o
tema principal Inclusão. Atualmente, no Brasil, a educação de surdos orienta-se,
sobretudo, segundo uma política educacional inclusiva. No entanto, essa proposta tem
sido fortemente contestada pela comunidade surda, que em razão das particularidades
linguísticas e culturais dos surdos reivindica o direito de estudarem com seus pares, em
escolas ou classes específicas para surdos, numa perspectiva bilíngue. Nota-se uma
tensão no campo, presente também nas políticas educacionais vigentes, de um lado, o
Decreto n. 5.626 de 2005 estabelece o direito à educação em escolas ou classes
bilíngues para surdos, de outro, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva legitima uma proposta educacional que fixa a inclusão de todos
os alunos em sistemas regulares de ensino. Ao examinar os principais resultados e
considerações das dissertações e teses que abordaram o tema principal Inclusão
constatamos que a despeito de algumas experiências pontuais bem-sucedidas, as
produções revelam fragilidades no processo de inclusão de surdos em diferentes
contextos. A inclusão de surdos em boa parte das escolas regulares não ocorre de forma
efetiva em razão de inúmeros fatores, entre os quais, as barreiras linguísticas
representam um dos principais desafios. O direito à língua de sinais, língua natural do
surdo, é secundarizado nas políticas de inclusão, prejudicando a aquisição linguística e
cultural pela criança surda, seu pleno acesso ao conhecimento e sua participação social.
E na literatura científica há uma vasta produção cujos apontamentos corroboram tal
cenário. Nos perguntamos, então, por que a proposta de inclusão escolar segue
predominante na educação de surdos, embora o Decreto n. 5.626 de 2005 assegure o
direito à escola ou classe específica para surdos numa perspectiva bilíngue? Poderíamos
dizer que muitos aspectos permanecem negligenciados em razão de um pressuposto
tácito de que a inclusão escolar é um bem em si, e para todos? Diante do exposto,
entendemos que principalmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
1
Doutora em Educação Especial. E-mail: <denise.m.ramos1@gmail.com>. Link do Currículo Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/6104659471056145>.
2
Doutora em Educação. Link do Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/7263318849588556>.
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INTRODUÇÃO
Esse trabalho deriva de uma pesquisa de doutorado que buscou analisar o estado do
conhecimento sobre a educação de surdos com base em pesquisas de mestrado e
doutorado. Foram analisadas, na íntegra, 62 dissertações e oito teses, disponíveis na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), no período entre 2010 e
2014, sobre o referido tema. Entre as produções analisadas, constatou se um número
significativo de dissertações (n=22) e teses (n=2) que abordaram o tema principal
Inclusão3. Desse modo, buscamos no presente trabalho examinar os principais
resultados e considerações das dissertações e teses sobre a educação de surdos que
abordaram o tema principal Inclusão.
Assim como demonstram Ferreira (2002) e Bueno (2014), nos últimos anos tem-se
ampliado o número de estudos que se dedicam à investigação da produção científica em
um determinado campo. Especificamente acerca da produção científica sobre a
educação de surdos, foco de nosso trabalho, identificamos na literatura brasileira
balanços já realizados, entre eles o de Bisol, Simioni e Sperb (2008); Espote, Serralha e
Scorsolini-Comin (2013); Ramos, (2013); Pagnez e Sofiato (2014) e Azevedo, Giroto e
Santana (2015).
3
Os demais temas principais identificados foram: Linguagem (11 dissertações); Intérprete educacional
(nove dissertações e duas teses); Formação de professores (seis dissertações e duas teses);
Escola/educação bilíngue (quatro dissertações). Dez dissertações e duas teses versaram sobre temas
específicos.
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disponíveis nos resumos, cuja fragilidade das informações pode refletir, em certa
medida, na precisão dos resultados obtidos (RAMOS, 2013; PAGNEZ; SOFIATO,
2014). Também, não contemplam os resultados e considerações das respectivas
produções, importante indicador do conhecimento produzido no campo, o que denota a
pertinência do presente trabalho.
Sabe-se que atualmente a educação de surdos em nosso país tem sido organizada,
sobretudo, segundo uma política educacional inclusiva (BRAIL, 2008). No entanto, tal
proposta tem sido fortemente contestada pela comunidade surda, que em razão das
particularidades linguísticas e culturais dos surdos, reivindica o direito de estudarem
com seus pares, em escolas ou classes específicas para surdos, numa perspectiva
bilíngue, em consonância com o Decreto n. 5.626 de 2005 (BRASIL, 2005). Nesses
espaços, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) adquire papel central no processo
educacional, como língua de interlocução e de instrução, e a língua portuguesa escrita é
ensinada como segunda língua.
Sob influência de tais movimentos, o governo brasileiro organiza, então, uma série de
ações e programas de modo a consolidar uma política educacional inclusiva no país.
Nesse contexto, promulga, em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que reitera direitos antes previstos
em nossa legislação e orienta o redimensionamento da política educacional brasileira
segundo uma perspectiva inclusiva.
ouvinte, a língua a ser privilegiada nesse espaço será a do grupo majoritário - língua
portuguesa nas modalidades oral e escrita. A Libras estará presente em sala de aula por
meio dos tradutores/intérpretes e seu uso, como língua de instrução, será direcionado
para contextos de atendimento educacional especializado.
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Desse modo, concordamos com a autora ao afirmar que muitos dos problemas
observados na inclusão de surdos em uma determinada realidade não são singulares,
mas repetem-se em muitos contextos, pois, infelizmente, na maior parte das escolas, a
inclusão de surdos é pouco responsável. Nos perguntamos, então, por que a proposta de
inclusão segue predominante na educação de surdos, embora o Decreto n. 5.626 de 2005
(BRASIL, 2005) assegure o direito à escola ou classe específica para surdos numa
perspectiva bilíngue? Em consonância com Lacerda (2006), poderíamos dizer que
muitos aspectos permanecem negligenciados em razão de um pressuposto tácito de que
a inclusão escolar é um bem em si, e para todos?
Em vista disso, sem negar o direito de escolha das famílias e dos alunos surdos,
acreditamos que principalmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental, a escola ou classe específica para surdos numa perspectiva bilíngue
constitui o lugar mais adequado para a sua escolarização, especialmente devido ao papel
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que a língua de sinais assume nesse contexto, como língua de interlocução e instrução.
Para o surdo, estar em um espaço em que a sua língua natural é a língua de instrução e
circula em diferentes contextos e entre diferentes interlocutores, bem como, onde
convive com seus pares, com os quais é possível compartilhar uma língua e
experiências comuns e, ainda, em que as práticas pedagógicas atendem às suas
singularidades cognitivas, linguísticas e culturais, contribui de maneira ímpar para o seu
desenvolvimento e sucesso acadêmico. No entanto, ressaltamos que ao nos colocarmos
favoráveis às escolas ou classes específicas para surdos, não pretendemos nos opor à
proposta de educação inclusiva, pois reconhecemos que representa um avanço na
trajetória da Educação Especial brasileira. Porém, não podemos deixar de considerar
que diante dos resultados apresentados por um número significativo de estudos, a
realidade vivenciada por alunos surdos na maior parte das escolas regulares “inclusivas”
é ainda excludente.
Além disso, diante da relevância dessas questões para as discussões atuais, notamos, no
universo analisado, que os trabalhos que abordaram o tema Escola/educação bilíngue
foram escassos, assim, sinalizamos uma lacuna no conhecimento científico produzido
nesse campo. Contudo, inferimos que tal cenário pode apresentar mudanças, pois diante
das fragilidades observadas no processo de inclusão escolar de surdos, um número
significativo de dissertações e teses indicaram a pertinência da escola ou classe
específica para a escolarização desses alunos. Do mesmo modo, verificamos na
literatura científica um conjunto coeso de publicações que há anos vem apontando esse
caminho, não obstante, acreditamos que a partir de um maior incremento de pesquisas
que explorem essa temática e examinem esses contextos, as suas possibilidades e
limitações, é possível suscitar novos subsídios para as nossas discussões e impulsionar
transformações na organização escolar para surdos.
CONCLUSÕES
alunos. O aluno surdo é muitas vezes incluído na escola comum, mas não conta com
condições de ensino e aprendizagem adequadas às suas necessidades e, como vimos,
muitos são os fatores implicados nesse processo. E essa questão foi reiteradamente
apontada nas dissertações e teses analisadas.
Desse modo, entendemos que diante das condições de escolarização de alunos surdos
observadas em muitos trabalhos, é preciso, como anunciamos, um maior número de
pesquisas voltadas à escola ou classe específica para surdos, que examinem aspectos
como: a formação de profissionais surdos e/ou bilíngues para atuar nesses espaços; o
currículo escolar; o processo de aquisição de linguagem; a prática pedagógica mediada
pela língua de sinais; o ensino/aprendizagem de língua portuguesa como segunda
língua; a constituição da identidade surda; o papel da cultura e comunidade surda nesse
contexto; a relação entre família e escola de surdos; a trajetória escolar dos surdos
egressos; entre outros, a fim de produzir conhecimentos que permitam ampliar o nosso
entendimento sobre esse arranjo educacional e que possibilitem subsidiar e impulsionar
transformações na organização escolar para surdos. No entanto, não podemos ignorar
que é na escola regular que ainda se encontra a maior parte dos estudantes surdos, desse
modo, para além da identificação/denúncia dos problemas observados, é preciso que as
pesquisas apontem possibilidades, caminhos para melhorar o atendimento educacional
de surdos também nesses espaços.
REFERÊNCIAS
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Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 392-400, 2008.
BRASIL. Lei n. 10.172 de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras
providências. Brasília, DF, 2001a.
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BUENO, J. G. S. A pesquisa brasileira sobre educação especial: balanço tendencial das dissertações e
teses brasileiras (1987-2009). In: BUENO, J. G. S.; MUNAKATA, K.; CHIOZZINI, D. F. (Org.). A
escola como objeto de estudo: escola, desigualdades, diversidades. Araraquara, SP: Junqueira&Marin,
2014, p. 211-244.
FERREIRA, N. S. F. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação & Sociedade, São Paulo,
ano 23, n. 79, p. 257-272, ago. 2002.
JESUS, D. M.; VIEIRA, A. B. Políticas e práticas inclusivas no ensino fundamental: das implicações
nacionais às locais. Educar em Revista, Curitiba, n. 41, p. 95-108, jul./set. 2011.
LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes
sobre esta experiência. Cadernos Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 163-184, maio/ago. 2006.
LODI, A. C. B. Educação bilíngue para surdos e inclusão segundo a Política Nacional de Educação
Especial e o Decreto n. 5.626/05. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 49-63, jan./mar. 2013.
PAGNEZ, K. S.; SOFIATO, C. G. O estado da arte de pesquisas sobre a educação de surdos no Brasil de
2007 a 2011. Educar em Revista, Curitiba, n. 52, p. 229-256, abr./jun. 2014.
Erêndira Silva1
Lidinéia Alves Cerqueira Barreiros2
RESUMO
A educação escolar indígena tem como princípio garantir um aprendizado orientado nos
elementos socioculturais de cada etnia indígena ao qual está situada e a educação
escolar para os surdos também está pautada no respeito a diferença, buscando assegurar
o desenvolvimento pleno na aquisição da língua de sinais e da língua portuguesa como
segunda língua. Esta pesquisa apresenta uma abordagem histórica dessas duas
modalidades no sistema de ensino brasileiro em que ambas possuem uma proposta
bilíngue, como consta, respectivamente no Decreto nº 5.626, de 22/12/2005, na Lei nº
9.394/96 e em outros documentos legais do Ministério da Educação e Cultura (MEC). O
presente trabalho tem como objetivos verificar as fronteiras e interfaces dessas
modalidades no processo educativo de indígenas surdos e discutir as mediações
interculturais e linguísticas. A metodologia utilizada para este trabalho é de natureza
qualitativa, conduzida por uma pesquisa bibliográfica e documental, analisando outros
estudos já publicados. Os pressupostos teóricos que contribuíram com a discussão
foram: SKLIAR (2004) que discute a abordagem sócioantropológica da surdez; SÁ
(2006), QUADROS (2005) que abordam sobre a educação bilíngue para os surdos e os
dispositivos legais. Pensar os elos que articulam esses dois campos emergentes do
saberes, é no sentido de aprimorar os estudos sobre a formação de sujeitos sociais, que
em momentos diversos, estiveram à parte ou de forma diminuta na historiografia.
REFERÊNCIAS
QUADROS, R. M de. O “BI” em Bilingüismo na educação de surdos. In: Fernandes, E.(org). Surdez e
Bilinguismo. Porto Alegre: 2005
1
Bolsista PIBIC/CNPq, Graduanda em História, Universidade Estadual de Feira de Santana./ Email:
erendirasilva20@gmail.com
2
Docente do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana / Email:
lidineiacerqueira@uefs.r
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RESUMO
A língua de sinais é uma das formas de produção de identidade e cultura do povo Surdo.
Uma grande conquista dos Surdos pelos seus direitos foi o reconhecimento da Língua
Brasileira de Sinais – Libras como meio legal de comunicação e expressão de acordo
com a Lei Nº 10.436/02. Como a comunicação é utilizada nos museus e centros
culturais para o público Surdo usuário da língua de sinais? Esta pesquisa teve o objetivo
de refletir sobre o tema da acessibilidade comunicacional nas instituições dos museus e
centros culturais do centro da Cidade do Rio de Janeiro, bem como perceber o processo
de conhecimento das pessoas Surdas em relação à mediação através da arte para uma
reflexão em acessibilidade cultural. Como fundamentação teórica utilizou-se os
seguintes autores: Silva et al. (2015) e Sarraf (2015), sobre acessibilidade
comunicacional e acessibilidade em espaços culturais. O referido trabalho apresentou a
informação, comunicação e acessibilidade aos Surdos em Língua Brasileira de Sinais –
Libras nos museus e centros culturais inclusivos do centro do Rio de Janeiro. A
metodologia iniciou-se a partir dos limites de um mapeamento localizados na cercania:
ao leste próximo da Praça XV, ao sul no Aterro do Flamengo, e oeste na Praça
Tiradentes, ao norte no Píer Mauá. Concluímos através de um quadro comparativo entre
os anos de 2015 e 2017 que durante dois anos, poucas são as instituições acessíveis em
Libras, possuindo uma metodologia própria de trabalho ao visitante Surdo: um
profissional ouvinte bilíngue fluente em Libras e/ou um profissional surdo usuário em
Libras e/ou um tradutor/intérprete de Libras.
1
Mestre em Diversidade e Inclusão pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense-
UFF/RJ (2015). Pós-Graduando Lato-Sensu em Educação de Surdos: uma perspectiva bilíngue em
construção pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos-INES/RJ (2017). Graduando em Licenciatura
em Letras Libras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (2017). Graduado em Pedagogia
pela Universidade Salgado de Oliveira-UNIVERSO/RJ (2005). Professor de Libras do Centro
Universitário La Salle do Rio de Janeiro - UNILASALLE/RJ.
2
Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (2016). Graduanda em
Licenciatura em Letras Libras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (2017).
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 130
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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INTRODUÇÃO
1
Este artigo é uma versão revisada e atualizada do artigo intitulado “APLICATIVOS DE TRADUÇÃO
DE LIBRAS NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM LÍNGUA PORTUGUESA” apresentado no II
CINTEDI. Link:
https://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/TRABALHO_EV060_MD1_SA7_ID3827_13102
016210635.pdf.
2
Graduando em Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Inglesa pela
Universidade Católica de Pernambuco. E-mail: matheus.luks@hotmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7858450085258861.
3
Professor Assistente do Curso de Letras da Universidade Católica de Pernambuco. Doutorando e Mestre
em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco. Licenciado em Letras pela
mesma instituição. E-mail: antonio.moraes@unicap.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8010588396875226.
4
Professora Assistente do Curso de Letras da Universidade Católica de Pernambuco. Doutoranda e
Mestre em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco. Graduada em
Fonoaudiologia pela mesma instituição e em Letras/Libras pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
izabelly.correias@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9720815767329338.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 131
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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Assim, nosso objetivo foi o de verificar as vantagens no uso feito por surdos de
tecnologias como ferramentas para a construção de sentido e do conhecimento lexical
acerca da língua portuguesa. Para alcançar nosso objetivo, buscamos nos fundamentar
em autores como Frei et al (2011), Leffa (2006), Mattar (2010), Moraes e Cavalcanti
(2015), Prensky (2010), dentre outros.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Desde os anos 90, computadores vêm sendo utilizados com mais frequência e de forma
mais intensiva e sistemática por professores, estudantes e membros da sociedade em
geral (MATTAR, 2010; PRENSKY, 2010; FREI et al., 2011). A evolução e a utilização
de tecnologias da informação e comunicação (TIC) modificam formas de convivência
social e aprendizagem, e seu uso em diversos espaços educacionais vem auxiliando no
ensino de línguas nas duas últimas décadas.
A partir dessa afirmação, chamamos atenção para uma das grandes inovações
resultantes da introdução das TIC: meios eletrônicos são, segundo Levy (1999), os
principais instrumentos de acesso ao conhecimento. Assim, algumas habilidades são
necessárias aos seres humanos para obter sucesso em suas carreiras. Dentre elas
podemos destacar o domínio da tecnologia de informação com a capacidade técnica de
leitura e interpretação de dados, uma vez que, atualmente, a informação é mais
acessível, não restringida apenas aos livros, revistas, jornais e periódicos, mas, presente
também, no meio virtual.
Nesse contexto, a leitura e a escrita de textos através de TIC implica acionar novos
conhecimentos e estratégias cognitivas. No âmbito da Internet, a existência de
hiperlinks permite o acesso a vários tipos de texto. Esse movimento propicia uma
trajetória de leitura diferenciada, tornando-a mais dinâmica, não linear e, até mesmo,
imprevisível. Segundo Lopes (2011), essa dinâmica obriga o leitor a apresentar novas
competências, pois a leitura interativa dos textos eletrônicos mescla linguagens
audiovisuais, icônicas e pictóricas, entre outras.
A pesquisadora (ibidem) acredita que o aluno que faz uso de textos manuscritos ou
impressos para interagir com o outro poderá, também, utilizar o computador como um
instrumento que propicie interações mais ricas e dinâmicas, uma vez que a tecnologia
amplia seus horizontes, viabilizando aprendizagens superiores qualitativamente.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 133
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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Portanto, entendemos que essa tecnologia deve ser parte integrante do processo de
comunicação, ou seja, os recursos tecnológicos devem manter conexões estreitas com a
leitura e a escrita.
O conhecimento lexical é útil à construção de sentido quando interage com outras fontes
de conhecimento, segundo Leffa (2006), a compreensão de um texto, em qualquer que
seja a língua, vai muito além da competência lexical do leitor.
Leffa (2006) afirma, então, que a leitura não é mera soma de diversas fontes de
conhecimento, mas, sim, interação e troca de informações entre essas fontes de
conhecimento. O pesquisador destaca ainda a necessidade de contar com a capacidade
daquele que lê em promover uma interação entre os dados encontrados no dicionário e
os dados do contidos no texto e, claro, com o seu conhecimento prévio no intuito de
construir um sentido do texto. Só assim seria possível medir o impacto de um dicionário
eletrônico na compreensão de um texto, uma vez que a informação encontrada no
dicionário aparece descontextualizada (LEFFA, 2006, p. 322).
Com o uso cada vez mais comum de dicionários eletrônicos e aplicativos de tradução,
alunos sentem-se mais estimulados a digitar palavras desconhecidas em busca de uma
resposta imediata. Embora esse tipo de prática raramente ajude os alunos a internalizar a
palavra para que ela possa ser lembrada e usada mais tarde (BROWN, 2001),
acreditamos que permitirá a construção de sentido no momento da leitura.
Além disso, como colocam Dantas e Aragão (2015, p. 32), é através do uso das TIC que
os surdos podem vivenciar características comunicacionais vigentes em seu modo
peculiar de estar em um universo oralizado e, apesar de toda a contextualidade
histórica de negação deles, perceber que se fazem tão vivos e atuantes quanto qualquer
falante de uma língua.
1. Hand Talk
O Hand Talk foi criado no ano de 2012 e eleito pela ONU – Organização das Nações
Unidas – o melhor aplicativo social do mundo. Seu objetivo é a tradução digital LP-
Libras efetuada por Hugo, um personagem animado em 3D. O funcionamento do
aplicativo é simples e se encontra disponível gratuitamente para dispositivos móveis
(android ou IOS).
As traduções no Hand Talk podem ser realizadas através de texto, áudio e foto (Figura
4). Para traduções de texto LP – Libras, o usuário digita (máximo de 140 caracteres)
uma palavra, termo ou pequenas frases e logo o avatar Hugo realiza a tradução. As
traduções em áudio são realizadas a partir do ícone microfone: o aplicativo captura o
áudio ambiente e grava a sua fala; após o encerramento da gravação, é possível
visualizar a tradução. A tradução também pode ser efetuada através de fotografias ou
imagens que contenham texto escrito, que o usuário pode escolher na galeria do
dispositivo móvel ou fotografar (exemplo: o título de uma reportagem em uma revista).
2. ProDeaf
Criado em 2013 pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, através do curso de
Ciências da Computação, o ProDeaf é um software de tradução de texto e voz LP –
Libras. O aplicativo está disponível gratuitamente para android, IOS e Windows Phone
8.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
5
A Universidade Católica de Pernambuco – Unicap – possui tradição e é pioneira, no estado de
Pernambuco, com o trabalho de Grupos de Convivência, envolvendo atualmente afásicos, gagos, autistas
e surdos. Em todos os grupos o objetivo principal é a estimulação da linguagem.
6
O texto escolhido compõe a Avaliação de Compreensão Leitora de textos Expositivos: Para
Fonoaudiólogos e Psicopedagogos (SARAIVA, 2009), a seleção desse instrumento deu-se pelo fato de
serem textos expositivos, que provocam diferentes expectativas no leitor.
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Após a leitura com o auxílio das tecnologias, os sujeitos envolvidos na pesquisa foram
capazes de recontar o texto, o que não havia acontecido antes da consulta, uma vez que
desconheciam palavras-chaves. Esse fato corrobora com as ideias de Vygotsky (1998) e
Leffa (2006) quanto ao fator sociocultural do desempenho anterior à competência, uma
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vez que os sujeitos foram capazes de construir o sentido do texto com mais facilidade a
partir do uso das tecnologias – mesmo não tendo a competência linguística necessária
ao entendimento do texto antes da leitura.
CONCLUSÕES
Os resultados alcançados pelo estudo não podem e não devem ser generalizados, uma
vez que se referem a uma pequena parcela de surdos apenas, mas sugerem reflexões
iniciais. Uma reflexão interessante é a de que parece haver uma possibilidade de
compreensão de um texto antes mesmo da respectiva competência linguística, desde que
o leitor seja assistido no seu desempenho por tecnologias (dicionários e aplicativos de
tradução) e professores. Essa ideia está em consonância com as de Vygotsky (1998) e
Leffa (2006).
Dantas e Aragão (2015), de Fischer e Kipper (2016) e de Leffa (2006), uma vez que
houve uma melhora significativa na apreensão do conteúdo do texto.
REFERÊNCIAS
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naturalizado que insiste em normalizar o surdo. In: CAVALCANTI, M. C. e KLEIMAN, A. B. (orgs.).
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___________ Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
MATTAR, J. Games em educação: como os nativos digitais aprendem. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2010.
PRENSKY, M. Teaching digital natives: partnering for real learning. Thousand Oaks, CA: Corwin, 2010.
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___________ The fundamental problems of defectology. In: The collected works of L S Vygotsky. Vol 2.
Nova York, Plenum Press, 1929/1993. Disponível em
http://www.marxists.org/archive/vygotsky/works/1929/defectology/index.htm, acessado em 10 de maio
de 2016.
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Alexandra A. de Oliveira
RESUMO
RESUMO
RESUMO
RESUMO
A Educação de surdos tem ganhado cada vez mais força com o empoderamento da
cultura surda e de seus atores, graças a essa valorização o número de surdos no ensino
superior cresceu consideravelmente nos últimos 10 a 15 anos, visto que até meio século
atrás o acesso a educação para as pessoas surdas ainda era limitado. Porem mesmo com
a melhoria no acesso, e o ingresso da comunidade surda no ensino superior ainda se
percebe um descaso com a educação fundamental dos mesmos, aquela que é obtida
antes do ingresso na Universidade, sua alfabetização, conhecimentos concretos logico-
matemáticos, além de conhecimentos de história, geografia e as outras ciências sociais.
É nesse contexto de desconsideração com a educação inicial e fundamental da pessoa
surda que nasce a pesquisa intitulada de Alfabetização de Surdos no Ensino Superior,
observando tal lacuna de aprendizagem nos alunos surdos calouros da Universidade
Federal de Rondônia, se viu a necessidade enquanto grupo de pesquisa de intervir em tal
situação a fim de através de procedimentos, métodos e práticas alfabetizadoras,
respeitando a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua materna, na busca por
uma alfabetização bilingue, é que se efetivará tal trabalho. Enquanto metodologia nos
utilizaremos de um estudo de caso, afim de responder a problematização da pesquisa
que vem a ser: Como após realizar todo Ensino Fundamental e Médio o aluno surdo
chega ao ensino superior com tantas dificuldades em leitura e escrita? Quais concepção
e métodos de alfabetização são mais indicados na construção de uma alfabetização
bilingue? Enquanto objetivos de pesquisa, ficam definidos: entender quais as principais
razões para que o surdo ingresse no ensino superior sem os conhecimentos
fundamentais para tal etapa, também elaborar um referencial teórico e prático afim de
auxiliar o trabalho dos professores alfabetizadores, além de verificar quais métodos de
alfabetização já existentes são eficazes em uma alfabetização bilingue. Através do
trabalho proposto espera-se alavancar ainda mais as pesquisas referente a educação de
surdos no Brasil, para que através da valorização acadêmica tal movimento ganhe ainda
mais força, respeito e empoderamento no cenário nacional. Seguindo inicialmente a
trilha teórico-metodológica de BRASIL (2011, 2015, 2016), Cervo, Bervian e da Silva
1
Pedagogo, pesquisador voluntário da Linha de Pesquisa em Língua, Identidade e Cultura Surda:
Bilinguismo, Inclusão e formação docente para o trabalho com surdos na Amazônia – LICUSBI – do
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Migração – GEPRAM.
2
Professora Especialista, Coordenadora da Linha de Pesquisa em Língua, Identidade e Cultura Surda:
Bilinguismo, Inclusão e formação docente para o trabalho com surdos na Amazônia – LICUSBI – do
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Migração – GEPRAM.
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(2007), Chizzotti (2009), Ferreiro e Teberosky (2008), Honora (2014), Martins (2012),
Pereira (2011), Reichert (2012) e Veloso e Maia (2015).
RESUMO
através dos desafios do contexto em que se vive olhar e perceber os obstáculos como
possibilidades de construção do novo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto n. 5.626 de 2005. Regulamenta a lei n. 10.436 de 24 de abril de 2002, que dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 13 abr.2016.
VYGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. Tradução Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Graduada em Pedagogia, lucianamapero@hotmail.com/ http://lattes.cnpq.br/9411162366994173
2
Graduada em Pedagogia, danikgbi@gmail.com e http://lattes.cnpq.br/6940188640382180
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Os alunos com perda auditiva se comunicam por meio da Língua de Sinais e têm um
modo peculiar de escrever assim, é de grande importância os professores saberem como
avaliar esses alunos, pois a maioria desses profissionais nunca trabalhou com essas
pessoas e ao não experienciar essas situações, pode encontrar dificuldade de
compreensão e falta de atenção à da escrita diferenciada do aluno surdo, o que torna o
processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, o processo avaliativo para o
surdo, ainda mais complexo.
DESENVOLVIMENTO
básica, Luckesi (2011, p. 199) explana que “a avaliação da aprendizagem deveria servir
de suporte para a qualificação daquilo que acontece com o educando, diante dos
objetivos que se têm, de tal modo que se pudesse verificar como agir para ajudá-lo a
alcançar o que procura”. Dessa maneira o professor pode e deve oferecer estratégias
metodológicas específicas para esse grupo linguístico que tem o português como uma
segunda língua.
Ao se referir à atual situação dos alunos surdos e partindo do pressuposto de que essas
pessoas quase sempre não dominam a norma culta e padrão da Língua Portuguesa (no
caso do Brasil), pelo menos nos anos iniciais do processo escolar, verifica-se que o
processo de constituição da escrita por parte dos surdos não segue as mesmas
características daqueles ouvintes, os quais se apoiam na linguagem oral internalizada
para produzir a escrita.
A língua do surdo e sua identidade é uma fonte rica de difusão do que é o surdo e como
a sociedade pode compreender suas particularidades em meio a cultura ouvinte. Por
vezes alguns equívocos acontecem pela falta de compreensão sobre a pessoa surda, sua
cultura, sua língua e sua escrita.
Segundo Gesser (2009), a surdez ser encarada como uma questão unicamente
fisiológica, como doença, é o que amplia questões equivocadas e preconceituosas a
respeito do aluno, da pessoa surda. Existem posições contrárias à inclusão desses alunos
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conectivos formam períodos e assim por diante, até chegar ao texto. (DAMÁZIO, 2007,
p. 3). A figura 10 apresenta uma crítica negativa sobre as avaliações as quais os alunos
em geral são submetidos.
Quanto à correção do texto dos alunos surdos, o professor pode procurar fazer boas
escolhas, levar a questão de avaliar o sujeito surdo a partir do respeito ao
desenvolvimento da escrita do educando e sua identidade, através do viés da perspectiva
coerente da surdez. Essa ideia é contemplada através da abordagem de Pereira sobre o
processo da leitura e escrita: “Para que leiam e escrevam, as crianças surdas, assim
como todas as outras, necessitam ter conhecimento de mundo de forma que possam
recontextualizar o escrito e daí derivar sentido”. (PEREIRA, 2009, p. 26). Necessitam
de conhecimento sobre a escrita para que possam encontrar as palavras, as estruturas das
orações, assim como para criar estratégias que lhes permitam compreender os textos
lidos.
A presente pesquisa foi realizada com os professores da educação básica e com a análise
das avaliações e alguns depoimentos de sujeitos surdos inseridos nessas turmas da
escola escolhida. Para a obtenção dos dados, utilizamos como instrumentos de coleta: o
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Os professores das mais diversas áreas não estão buscando formação continuada ou
cursos de Libras para atender as especificidades do aluno surdo e por vezes não é
oferecido a eles. Constatou-se que grande parte dos professores confere somente ao
intérprete a inclusão e responsabilidade de mediação dos alunos surdos.
Em vista disso, foi possível a partir da análise e reflexão dos dados desta pesquisa,
compreender que os professores não estão avaliando a escrita de seus alunos surdos de
acordo as suas especificidades, pois as avaliações são corrigidas de maneira automática,
comparando-os com os outros alunos. Consequentemente se percebe que nos textos
escritos dos surdos, somente a aproximação da escrita deles e o português são levados
em consideração, aquilo que não condiz com os parâmetros da educação dos surdos.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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DONATO, Adriana Di. Desempenho da escrita de palavras do português por aprendizes surdos:
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FERREIRA BRITO, L. Por uma Gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro:
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QUADROS, R. M.; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília:
MEC, SEESP, 2006.
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RESUMO
O acesso dos surdos a ambientes acadêmicos tem se tornado cada vez mais frequente,
porém não basta apenas assegurar a entrada dos mesmos no meio acadêmico, mas sim
assegurar sua permanência. Um impedimento que se observa é a ausência, ou escassez,
de materiais que atendam as necessidades linguísticas dos alunos surdos no meio. Dessa
forma, instaura-se um grande desafio às universidades: a transição de políticas
monolíngues a projetos, de fato, bilíngues, visando garantir condições de acesso e
permanência dos alunos surdos por meio de políticas de inclusão. Segundo o Decreto
5.626/05 é responsabilidade de instituições privadas e públicas dos sistemas de ensino
federal, estadual, municipal e do Distrito Federal assegurar aos surdos o acesso à
comunicação, à informação e à educação (Capítulo VI, Art. 23, §2º ). A escassez de
profissionais que dominem a Libras tem dificultado o cumprimento do decreto e
caracterizado uma barreira no processo de uma educação bilíngue. Apesar disto, há
produções acadêmicas na área, elas estão aumentando gradativamente, porém muitos
profissionais ainda não tem acesso a este material. O projeto Estágio Interno
Complementar (EIC) “Acessibilidade à pesquisa e aos espaços acadêmicos:
investigações na área da surdez”, oferecido pelo Departamento de Estágios e Bolsa
/CETREINA (UERJ) tem por objetivo a divulgação de materiais, já produzidos por
outras instituições pela própria UERJ, para uma maior democratização dos mesmos.
Para isto, optamos pelo uso das tecnologias de informação e comunicação uma vez que
apresentam possibilidades múltiplas de inovações metodológicas e podem viabilizar
significativamente o acesso à Libras e às suas pesquisas, privilegiando a experiência
visual dos surdos. Porém, apenas o uso das tecnologias de informação não é o
suficiente. A acessibilidade na web está relacionada à informação e à comunicação, mas
também a como o usuário interage com as informações disponibilizadas (ASSIS, 2010).
Frente a isto realizamos uma pesquisa sobre acessibilidade e verificamos como a mesma
se daria para o surdo. Para tornar esses espaços acessíveis aos surdos, levou-se em conta
a predominância do estímulo visual, considerando aspectos da cultura surda, e a
condição da língua portuguesa como L2. Por meio destes dados elaboramos nossas
redes sociais pelas quais realizamos a divulgação científica por meio de um blog e de
uma página no Facebook. Tais ferramentas têm por característica o dinamismo de
produção e maior contato com o público, por meio dos comentários e redes de apoio,
permitindo assim horizontalidade na divulgação e produção de conhecimento.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Fagner de Amorim. WEB 2.0: a utilização de blogs como ferramenta de apoio na inclusão social
de surdos. Vitória de Santo Antão, 2010
STROBEL, K, As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora UFSC, 2008. 118p
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RESUMO
RESUMO
Esta pesquisa está inserida no campo dos Estudos Surdos, que compreende a surdez
como uma diferença e os sujeitos surdos como uma minoria cultural e linguística. Desde
campo de estudo utilizo alguns autores como Nascimento e Costa (2014) e Giordani
(2010). Volto meu olhar para a Educação Bilíngue por esta ser a maior pauta de
reivindicações do movimento surdo nos últimos anos, principalmente após a publicação
da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Me
inspiro na noção de discurso de Michel Foucault (2006, 2012, 2013), olhando para
discursos de alguns documentos entendendo-os como práticas que produzem os objetos
sobre os quais fala. Neste sentido, objetivo verificar como se dão as relações de poder-
saber nesses discursos para a produção da educação bilíngue. As noções de saber e
poder se tornam produtivas, pois, nos discursos, há tensionamentos imbricados em
relações de saber-poder, que produzem verdades sobre a educação bilíngue. O material
empírico desta pesquisa é composto por documentos elaborados pelo Ministério da
Educação (MEC) e movimento surdo, este, representado pela Federação Nacional de
Educação e Integração do Surdo (FENEIS). Estes, baseiam-se em outros documentos
nacionais e internacionais para potencializar suas verdades e justificar e argumentar
diferentes significações a respeito da educação bilíngue e, neste sentido, percebe-se
recorrências e silenciamentos nos documentos analisados. Sendo assim, ao investigar
discursos acerca das práticas de implementação da educação bilíngue de surdos é
possível afirmar que estes estão atravessadas por lutas em torno da imposição de
sentidos. De modo geral, os discursos que circulam no MEC, quando remetem-se, por
exemplo, à Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (2007), afirmam,
genericamente, o direito de todos à educação inclusiva. Em contrapartida, no discurso
que circula no movimento surdo, a igualdade de direitos será contemplada quando for
reconhecida a diferença linguístico-cultural dos sujeitos surdos (FENEIS, 2011b), o que
também consta na Convenção. Conforme argumentam Nascimento e Costa (2014),
quando se trata de oferecer educação de qualidade a todos, isso não pode significar
oferecer a mesma educação para todos.
INTRODUÇÃO
1
Graduada em Normal Superior – Anos Iniciais pela Feevale. Graduada em Letras Libras pela UFSC.
Especialista em Educação Especial – Atendimento Educacional Especializado pela UFC. Mestre em
Educação pela UFRGS. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7748046872802672 E-mail:
ingridsturmer@gmail.com
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Neste sentido, este artigo apresenta algumas análises realizadas em documentos, que
foram elaborados pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
(FENEIS), que representa o movimento surdo, ou pelo Ministério da Educação (MEC).
Muitos desses documentos, tratam-se de notas e cartas trocadas entre ambos.
2
Já em 1996 a LDB apontava este redimensionamento da Educação Especial.
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A noção de poder é tomada aqui como uma ação sobre as ações, ou seja, ele circula e
está nas relações sociais, constituindo-se historicamente. A compreensão horizontal do
poder aparece de forma produtiva e positiva enquanto produtor de saber. O poder entra
em pauta como “um operador capaz de explicar como nos subjetivamos imersos em
suas redes” (VEIGA-NETO, 2011, p. 62); o saber entrará como elemento condutor do
poder, “como correia transmissora e naturalizadora do poder” (p. 119), havendo,
portanto, uma relação de imanência entre poder e saber.
Neste sentido, na próxima sessão, é possível verificar alguns excertos dos documentos
nos quais, em todos, é mencionada a Convenção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência (2007). Os discursos dos documentos distribuem-se em suas recorrências e
silenciamentos para produzir diferentes significações a respeito da educação bilíngue e
legitimar-se enquanto verdades.
com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente” (BRASIL, 2007, p.
16). Em razão de sua importância, esse documento é tão citado nos materiais analisados.
De modo geral, os discursos que circulam no MEC, que remetem a este documento,
afirmam genericamente o direito de todos à educação inclusiva, não abordando outras
questões, como orientações a respeito da educação de surdos. No entanto, de acordo
com Nascimento e Costa (2014), quando se trata de oferecer educação de qualidade a
todos, isso não pode significar oferecer a mesma educação para todos.
Outra questão que o MEC aponta aparece na Nota Técnica nº 34/2012 que versa sobre a
Política Nacional de Educação Bilíngue para Surdos, ao se reafirmar o compromisso da
educação inclusiva, preconizando o que estabelece também o Art. 24, § 2º, ou seja, que
“as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de
qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais
pessoas da comunidade em que vivem” (BRASIL, 2007, p. 28). Esse excerto é utilizado
para justificar que a Convenção, não prevê nenhum tipo de escola especial. A Nota
Técnica também apresenta um posicionamento contrário à criação de colégios de
aplicação bilíngües, desejo do movimento surdo, afirmando que:
Pelo excerto anterior verifico que, para o MEC, a criação de colégios de aplicação
bilíngues não atenderia à proposta inclusiva, já que, dessa maneira, os surdos não
estariam em igualdade de direitos com as demais pessoas, nem poderiam estudar na
comunidade em que vivem, ou seja, próximos de suas casas. No entanto, o discurso que
circula no movimento surdo, afirma que a igualdade de direitos apenas será
contemplada quando for reconhecida a diferença linguístico-cultural dos sujeitos surdos
(FENEIS, 2011b).
[...] com base nos nossos irrenunciáveis direitos humanos, entre os quais o de
ter uma língua, nossas escolhas ouvidas, nossas opções respeitadas, queremos
que as Escolas Bilíngues para Surdos sejam uma realidade no Brasil e que,
por fim, Nada (seja dito, feito ou decidido) sobre nós, sem nós! (FENEIS,
2011b, p. 37) [grifo meu]
Não são todos que estão autorizados a dizer tudo em qualquer circunstância, para que o
poder circule e ganhe força nos discursos. Os surdos buscam participar das decisões e
seus discursos são marcados pela necessidade de dar visibilidade à posição de quem se
expressa. Existe a ligação com o desejo e o poder, pois o discurso é aquilo que é objeto
de desejo, é “aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual queremos nos apoderar”.
(FOUCAULT, 2012, p. 10)
Ainda, voltando o olhar aos discursos que circulam no movimento surdo, estes apontam
que o MEC não atende à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
particularmente no que diz o Art. 24 – que estabelece sobre a educação - e o Art. 30 –
que estabelece sobre a participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte. O
movimento cita estes artigos, porém, focando a diversidade linguística e cultural dos
surdos:
Artigo 24:
a. Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da identidade
linguística da comunidade surda; e
b. Garantia de que a educação de pessoas, inclusive crianças cegas,
surdocegas e surdas, seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de
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comunicação mais adequados às pessoas e em ambientes que favoreçam ao
máximo seu desenvolvimento acadêmico e social.
Artigo 30, § 4:
As pessoas com deficiência deverão fazer jus, em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas, a que sua identidade cultural e linguística específica
seja reconhecida e apoiada, incluindo as línguas de sinais e a cultura surda.
(BRASIL, 2007, p. 29 e 34) [grifos meus]
Esses excertos estão silenciados nos discursos que circulam no MEC, o que reafirma as
diferentes posições discursivas. Assim, observei, ao longo das análises, o poder sendo
exercido estrategicamente de acordo com a vontade de verdade que se pretende, pois a
verdade está ligada a sistemas de poder, que a produzem e a apoiam, e a efeitos de
poder que ela induz e que a reproduzem (FOUCAULT, 2006). Nessa relação circular
entre poder e verdade, são operadas estratégias de exclusão de alguns discursos,
enquanto outros são evidenciados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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RESUMO
A leitura é uma ferramenta fundamental para uma participação ativa na sociedade, pois
ela oferece o acesso à educação e à cultura e, consequentemente, a integração social. O
panorama da educação dos surdos nos remete aos repetidos insucessos de crianças,
jovens e adultos na aquisição dos conhecimentos que circulam na escola, enfatizando a
língua portuguesa escrita como veiculo de acesso para as outras disciplinas. Os PCNs de
língua portuguesa mencionam que os alunos, ao concluírem o ensino fundamental,
deverão estar familiarizados com as atividades de leitura, no entanto, os alunos surdos,
conforme as pesquisas de Garolla e Chiari, geralmente, não atingem esses níveis. Diante
dessas colocações, o objetivo desse trabalho é refletir sobre as principais dificuldades
encontradas por esses alunos no processo de aquisição da leitura em língua portuguesa.
A pesquisa qualitativa documental representa a base para esse estudo e como referencial
teórico nos fundamentamos em Moraes e Cavalcanti; Vygotsky; Bakhtin; Leffa; Koch;
Cavalcanti e Kleiman; Sim-Sim, Duarte e Ferraz, Goes, Quadros, Fernandes, Lodi,
dentre outros. Esperamos que a discussão estabelecida direcione os profissionais que
atuam na educação de surdos para revisar as estratégias utilizadas nesse processo.
Esperamos facilitar a criação de novas perspectivas para o ensino de surdos, além de
contribuir para a valorização da leitura como estratégia que permite a ampliação do
conhecimento de mundo e a melhoria do capital linguístico dos surdos.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
formação, e-mail e link do Currículo Lattes
2
formação, e-mail e link do Currículo Lattes
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O que sabemos sobre esse panorama é que ele não é privilegio da contemporaneidade.
O empenho para uma melhoria na educação de Surdos tem sido uma busca por
resultados satisfatórios há mais de um século. Ao entendermos que a leitura é uma
ferramenta fundamental para uma inserção na sociedade, ao visualizarmos a
comunidade surda dentro desse processo, devemos considerar a Língua Brasileira de
Sinais3 como língua de instrução dessa comunidade.
Cremos ser importante progredir com os estudos no que diz respeito ao surdo e seu
processo de aprendizagem da l2, já que ainda há muitas questões a serem resolvidas
quanto à aprendizagem do português (moraes, 2015). Para isso, consideramos
importante definir o que é leitura, as relações entre o ato de ler e a escola, e por fim,
elencarmos as dificuldades dos alunos surdos na aprendizagem da língua portuguesa
escrita.
3
Doravante Libras.
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O QUE É LEITURA?
Desse modo, essas contribuições nos permitem, ainda hoje, mesmo que esse autor não
tenha tratado especificamente sobre o tema, leitura, refletir sobre especificidades desse
grupo de pessoas com deficiência. Portanto, as ideias de uma defectologia moderna
poder-se-ia explicar o que ocorre no desenvolvimento ao trabalhar com a criança com
deficiência compreenderia que independente da deficiência, essa criança se desenvolve
como qualquer outra.
Retomando a questão central desse estudo, podemos afirmar que Leffa (1996) percebe a
leitura como um processo de levantamento de hipóteses, e não apenas como um
processo linear que tem seu significado construído através de palavra por palavra. Ou
seja, a construção dos sentidos no ato da leitura não é formado através apenas de
significados isolados dos itens lexicais que constituem o texto, mas sim, no
conhecimento de mundo, as inferências, levantamento de hipóteses e deduções
realizadas pelo sujeito-leitor.
Nesse sentindo, percebe-se que “o significado não está na mensagem do texto, mas na
série de acontecimentos que o texto desencadeia na mente do leitor” (LEFFA,
1996.p.14) Dessa maneira, as (re)construções de significações ocorrem em uma relação
entre o texto, o leitor e o contexto, o que concorda com a definição de Koch (2011).
Por isso, autores como Leffa (1996) e Koch (2011) afirmam que o leitor precisa possuir
uma competência específica da realidade histórico-social refletida pelo texto. Nesse
sentido, três aspectos devem ser levados em consideração no processo de leitura:
Tendo em vista que cada elemento acima citado é de suma importância no ato da leitura,
percebe-se que esse processo pode ser regido por múltiplos processos que envolvem
habilidades distintas – umas mais, outras menos complexas- fazendo com que sua
aquisição não seja espontânea e que o seu domínio exija um ensino direto que não se
esgote na aprendizagem, sendo a frequência dessa prática leitora que constitua os
cidadãos (SIM-SIM, DUARTE E FERRAZ,1997).
Pensando dessa maneira, nota-se que a relação leitor – texto – contexto é uma tríade
quase que essencial para a compreensão satisfatória do objeto que está sendo analisado;
o texto. Fazendo com que se perceba os leitores como atores, construtores sociais e
sujeitos ativos que, dialogicamente, se constroem e são construídos no texto (KOCH,
2011). Assim, o sentido do que é lido é desenvolvido a partir dessa interação.
As questões relacionadas à aquisição da língua portuguesa por surdos são temas que
instigam os pesquisadores no campo da surdez no Brasil e o principal questionamento é
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a urgência em melhorar o desempenho dos surdos. Percebe-se que o tema tem várias
ramificações e envolve uma atuação de diferentes ciências, como: Letras, Linguística,
Pedagogia, Fonoaudiologia e outras áreas afins.
Esse viés possibilita pensar na aquisição da leitura por surdos, tendo em vista à língua
que, prioritariamente, eles utilizam na sua comunicação, a Libras, e a língua que lhes
proporciona o acesso aos conteúdos escritos da nossa sociedade, a língua portuguesa.
Outro obstáculo é a abordagem educacional atual do nosso país, o Bilinguismo. Góes
(1996), Quadros (1997) e Fernandes (2006) são unânimes ao destacar que o bilinguismo
é uma proposta de ensino que considera a língua de sinais como a língua própria da
criança surda, ou seja, como sua primeira língua (L1), que deve ser aprendida o mais
cedo possível, e a língua portuguesa escrita como segunda língua (L2), língua de acesso
ao conhecimento, que deve ser ensinada a partir da língua de sinais, baseando-se em
técnicas de ensino de segundas línguas.
das salas de aula, além de uma atuação contrastiva: professores e alunos — surdos e
ouvintes — lendo os textos, debatendo os assuntos e recontando os significados na
língua de sinais do país.
Esse fato ocasiona aos surdos uma condição de carência linguística permanece durante
toda a infância, até que cheguem à escola e aprendam a língua de sinais com outros
surdos e/ou instrutores de Libras, o que dificulta o rendimento desses alunos na
aprendizagem da L2.
Quadros (1997) afirma a língua portuguesa é ensinada como língua materna para todos
os alunos, porém os alunos surdos, em sua maioria, já possuem uma L1, a Libras, sendo
ela o veículo de comunicação e a base para o desenvolvimento de competência e
capacidade linguística na L2. A autora nos permite a reflexão de que as maiorias dos
surdos não partilham da mesma língua de uso do seu professor, o que para Lacerda
(2004) esse fato cria um patamar de desigualdade linguística na sala de aula,
dificultando a garantia de que os conteúdos ensinados foram absorvidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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SIM-SIM, I.; DUARTE, I.; FERRAZ, M. J. A língua materna na educação básica: competências
nucleares e níveis de desempenho. Ministério da Educação. Departamento da Educação Básica, 1997.
RESUMO
1
Graduando em Letras Língua Portuguesa/Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS); E-mail:
chicolibrasufrn@gmail.com; Lattes: http://lattes.cnpq.br/4165095415147659.
2
Professora do curso de Letras Língua Portuguesa/Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS); E-mail:
giseleoliveira.psi@gmail.com; Lattes: http://lattes.cnpq.br/2375349784728232.
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INTRODUÇÃO
Com isso, inicia-se através do conhecimento de mundo desses surdos, das experiências
trazidas em suas leituras e suas produções textuais. Dessa maneira, mostram-se os
registros das identidades bilíngues enquanto sujeitos produtores de textos. Assim, tendo
a escrita como ponto de partida, em que essa é fundamental ao sujeito social. Mostrar o
nível da produção textual e escrita desses alunos bilíngues ao chegarem à academia é o
que vamos investigar como sujeito social. Logo, o sujeito surdo como ser social é
3
PIRES, V.O.D. (2014, p.118-122).
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Desse modo, o surdo universitário como qualquer outro estudante tem essa
responsabilidade de produzir e registrar na forma escrita, os seus conhecimentos
adquiridos ao longo de sua formação acadêmica. Assim, outros possam ler e dar
continuidade a produção cientifica, construindo uma literatura sólida desses saberes
acadêmicos.
O homem como ser social e que interage com o meio através da comunicação, sempre
buscou formas que marcasse essa interação através do tempo. Desse modo, registrando
seus conhecimentos para futuras gerações como forma de comunicar-se com aqueles
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que virão posteriormente. No entanto, desde os homens das cavernas, a escrita já estava
fazendo parte do meio de interação, com registro dos acontecimentos como podemos
ver através das pinturas rupestres – uma das formas de comunicações – gravadas nas
paredes das cavernas eram lidas como uma escrita.
Observando os princípios abordados por Koch, o sujeito surdo também faz parte dessa
interação social, pois eles vivem em uma sociedade que necessita da produção textual
para se comunicar através dos textos. Mas como essa produção está sendo feita por
esses sujeitos? Para Marcuschi (2008, p.70), o sujeito "é aquele que ocupa um lugar no
discurso e que se determina na relação com o outro". Dessa maneira, vemos que a
interação no mundo da escrita é construída através do discurso do sujeito com o outro, a
maneira como ele se coloca. Dessa forma, o sujeito surdo ocupa um lugar na escrita
como forma de interação e que constrói uma identidade. O indivíduo tem uma
identidade bilíngue que possibilita o seu deslocamento entre duas línguas em diferentes
modalidades.
A modalidade escrita é vista pelo ouvinte como algo diferente da modalidade oral, não
se pode escrever da mesma maneira que se fala. O surdo tem como sua primeira língua
(L1) a modalidade visual-espacial e a modalidade escrita como sua segunda língua (L2),
porém, ambas não compartilham da mesma língua, a L1 do surdo é a língua de sinais e a
L2 é a língua portuguesa. Dessa forma, o surdo é um sujeito bilíngue, mas como
caracterizamos esse surdo bilíngue nas produções textuais que produz? Esse surdo
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bilíngue sofre ao usar a segunda modalidade, por se tratar da sua segunda língua e não
se ter um ensinamento profundo e adequado, Segundo Karnopp (2012, p.65):
Portanto, a construção desse sujeito surdo bilíngue é marcada por barreiras do campo
linguístico no qual compete à diferença das duas línguas, tornando uma árdua tarefa de
construção de sentido. Mas mesmo assim, a sociedade impõe através das leis essa
competência para os surdos, como podemos ver na Lei Nº 10.436, de 24 de Abril de
2002. Art. 4º, parágrafo único: "A Língua Brasileira de Sinais Libras não poderá
substituir a modalidade escrita da língua portuguesa". Da mesma forma no decreto Nº
5.626, de 22 de Dezembro de 2005, que oficializa a Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), mas que coloca a modalidade escrita de língua portuguesa como a segunda
língua do sujeito surdo, impondo o bilinguismo a esses sujeitos. Por isso, fica a
pergunta, que identidade bilíngue é essa que o sujeito surdo assume?
O sujeito surdo bilíngue o qual apresenta traços de sua língua natural na modalidade
escrita é apenas um copista e não adquiriu a competência linguística para o uso da
segunda língua. Muito surdos sofrem por serem cobrados por uma competência que não
é ensinada nas escolas e sim, apenas é apresentado um modelo, "copia" e "cola". Essa
relação com a estrutura sintática e como é difícil para o surdo quando é preciso sair do
modelo sugerido, Karnopp (2012, p.65):
Dessa forma, o modelo de sujeito que se pode ver neste primeiro momento é de um
sujeito que sofre com sua crise linguística (bilinguismo), um sujeito que marca suas
relações no texto através da coerência, por estabelecer uma unidade de sentido
comunicativo, como nos afirma Antunes (2005, p.176), em que “a coerência é uma
propriedade que tem a ver com a possibilidade de o texto funcionar como uma peça
comunicativa, como um meio de interação verbal”, e não por reproduzir da mesma
forma já dada, mantendo uma unidade sintática no texto.
Desse modo, um sujeito bilíngue que sofre com a transição de suas línguas na academia
e em outros lugares, acaba registrando as falhas linguísticas na sua L2. A produção
escrita em língua portuguesa desses sujeitos surdos bilíngues é marcada por um
sentimento de negação a sua língua natural, deixar de lado a LIBRAS é doloroso, pois
ambas as línguas seguem estruturas diferentes, mas é preciso por ter assumido um
campo de formação discursiva em que a língua de maior prestígio é o português. Veja
o que diz Karnopp (2012, p.70):
O surdo não é livre para dizer o que quer, a própria opção do que dizer já é
em si determinada pelo lugar que ocupa no interior da formação discursiva a
qual está submetido, mas as imagens que o sujeito constrói ao enunciar só se
constituem no próprio processo discursivo.
Nesse segundo texto, um ponto bem relevante a ser observado é sobre o uso de
conectivos, preposições e conjunções na LIBRAS ou em quaisquer outras línguas de
sinais, a presença de conectivos é praticamente nula, salvo em algumas combinações,
ficando restrito a marcação na língua oral, o uso repetitivo e sem adequação a
gramática, mostra a falha em seu bilinguismo, mas basicamente por saber que existe e
que é preciso usar, a aluna preenche as lacunas das preposições de forma aleatória.
Desse modo, o sujeito surdo bilíngue tem que se adaptar a esse mecanismo linguístico
das línguas orais, causando um grande desconforto e esforço para que consiga se
enquadrar na língua majoritária, se tornando um ser bilíngue. A própria Pires (2014, p.
119) trabalha a questão do "O uso inadequado de conectivos, preposições e conjunções
interfere na organização textual e impede a atribuição de sentido conforme esperado".
Com isso, o surdo enquanto sujeito bilíngue imposto pela sociedade é algo que
precisasse trabalhar em futuras pesquisas. Ver que tipo de bilinguismo é esse que o
surdo está assumindo e como pode se ver, esse bilinguismo causa sofrimento em boa
parte desses sujeitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não poderia finalizar esse estudo, sem trazer algo do sofrimento desses sujeitos surdos
bilíngues. Ao apontar o sofrimento através do depoimento de uma surda de 40 anos que
fala, Karnopp (2012, p.73):
Logo, é com esse depoimento extraído do trabalho de Karnopp que termino essa análise
sobre o sujeito surdo bilíngue e que chega à universidade sendo cobrado de um
bilinguismo que ainda não é ensinado da melhor forma. Contudo, nosso trabalho nos
mostra um pouco desse processo linguístico em que transitam duas línguas por
modalidades diferentes.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 186
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Queremos aqui finalizar essa análise, juntamente, com esse discurso, dizendo que ainda
tem muito trabalho pela frente. O sujeito surdo bilíngue está em construção, os
documentos apontam para um bilinguismo, mas como esse bilinguismo é desenvolvido?
Tem-se que fazer um trabalho bem feito. Reafirma-se a importância desse trabalho para
a comunidade acadêmica, sobre a visibilidade linguística dos surdos para o campo da
linguagem humana. O trabalho ainda está incompleto, pois precisa-se fazer uma boa
investigação sobre as teorias que o cerca, para então assim, produzir um bom fruto de
conhecimentos. Portanto, é preciso que esse estudo se torne um campo de pesquisa de
estudo e debate sobre a temática do “sujeito surdo bilíngue universitário” como aqui dei
nome, mas que para isso se torne um estudo de relevância, é preciso que a comunidade
científica da linguagem, através da linguística, desenvolva em suas teorias e pesquisas
esses conceitos. Por isso, arrisco a instigar os estudiosos sobre a temática com essas
provocações.
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RESUMO
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Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 190
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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RESUMO
Esta pesquisa tem ponto de partida em anseios em contribuir para uma inclusão de
Surdos mais igualitária e em dúvidas que surgiram a partir da atuação docente frente à
disciplina de Libras no curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – Câmpus Jataí. O objetivo do estudo é
compreender o papel da disciplina de Libras e analisar como ela pode contribuir para a
prática dos licenciandos da Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí, a fim de
que os alunos Surdos sejam incluídos. Para isso, com uma proposta qualitativa, utiliza-
se como metodologia o estudo de caso, com observações das aulas de Libras da UFG,
análise de documentos escolares, além da aplicação e análise de questionários. A análise
disso permite concluir que a disciplina de Libras na formação de professores é encarada
como momento para ensinar comunicação, de modo que os licenciandos acabam sendo
privados de conhecimentos acerca de abordagens metodológicas que possibilitem
conhecer o Surdo e suas especificidades educativas. Com base nisso, este trabalho busca
desenvolver uma mídia educacional, um site no qual as aulas e os materiais utilizados
nesse curso são disponibilizados com intenção de alcançar o maior número de pessoas
possível, almejando contribuir para a aceitação das diferenças educacionais dos Surdos.
Por fim, conclui-se que, apesar de não haver receita que acabe com as dificuldades
educativas enfrentadas pelas pessoas Surdas, a compreensão do papel da disciplina de
Libras na formação de professores e a contribuição quanto aos conteúdos necessários
para formar um professor apto para atuar frente a uma turma que tenha alunos Surdos
servirão para minimizar essas barreiras educacionais contidas na inclusão, buscando
efetivar os objetivos de nossa pesquisa.
RESUMO
[1] Acadêmico do Curso de Licenciatura Plena em Química pela Universidade do Estado da Bahia
(UNEB). Lattes: http://lattes.cnpq.br/7829899194549053
[2] Doutor em Ensino, Filosofia e História das Ciências Pela Universidade Federal da Bahia.
(UFBA)/Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestre em Ensino, Filosofia e História das
Ciências Pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)/Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS), Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em regime de dedicação exclusiva e
do Instituto Cultural Steve Biko, como voluntário. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9983275589668249
*Email: afpenha@uneb.br
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Desse modo, o ensino de química deve incutir nos aprendizes, a compreensão dos
significados e construtos científicos edificados histórica e criticamente, por intermédio
da epistemologia associada ao observar dos fenômenos naturais, entrevendo significado
a essa linguagem científica própria. Como pontuado por Mortimer (1998, p. 2) “A
linguagem científica possui características próprias, diferentes da linguagem comum,
que foram historicamente estabelecidas ao longo do desenvolvimento da ciência como
forma de registrar e ampliar o conhecimento científico”.
Na escola, o contato dos alunos surdos com a língua de sinais (sua língua de
acesso à linguagem), dependerá de pessoas fluentes nessa língua, e na
maioria dos casos da presença de um intérprete de LIBRAS para intermediar
estas relações dialógicas entre professor e aluno (OLIVEIRA; BENITE,
2011, p. 1)
parcela que compõe os sujeitos surdos, já que como construído historicamente, possui
signos próprios, simbologia e termos específicos – que em muito tem origem e
influência de culturas estrangeiras – que não possuem equivalente em libras (PEREIRA
et al. 2011; SOUSA; SILVEIRA, 2011). Além disso, essa dificuldade é acrescida à
“complexidade de interpretação e compreensão da Língua Portuguesa, com relação à
coerência e coesão textuais, presentes nos conteúdos dos materiais didáticos, geralmente
baseados quase que exclusivamente na modalidade escrita, utilizados na disciplina de
química” (LUZ, 2016, p. 28).
Um outro entrave recorrente está na formação quer seja dos docentes em Libras,
acarretando ao uso corriqueiro da língua oral como principal canal de comunicação,
quer seja na pobreza formativa do intérprete de Libras em química, acarretando em
déficits no aprendizado dos discentes surdos, entrevendo a falta de interesse e baixo
rendimento escolar (PEREIRA et al. 2011; LUZ, 2016). Muito embora os docentes de
química reconheçam e assumam uma posição de militância em que “Nossa luta é para
tornar o ensino menos asséptico, menos dogmático, menos abstrato, menos a-histórico e
menos ferreteador na avaliação” (CHASSOT, 2000, p. 93), deve haver espaço para
reflexão, um olhar particular para a práxis pedagógica e (re)avaliar: Libras, que língua é
essa?
3
Atual Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris (Institut national de jeunes sourds de Paris, INJS).
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Conquanto haja certa nebulosidade em termos cladisticos das línguas de sinais, pode-se
afirmar com clareza que a Libras tem ao menos 160 anos de existência, a partir da
formação da comunidade surda do atual Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES) desde sua criação em 18574, edificado durante o período do segundo reinado de
D. Pedro II, na capital Rio de Janeiro (BENARAB; OLIVEIRA, 2007).
Quase vinte anos mais tarde, em 1875, surgiria a iconographia dos signaes dos Surdos-
Mudos, em reprodução à estrutura do dicionário da LSF5 (DINIZ, 2010). Contudo,
bruscamente, a liberdade de expressão dessas comunidades foi ablada, já que em 1880
foi divulgada a decisão final sobre a língua de sinais na educação escolar, que abalou
sensivelmente as comunidades surdas ao redor do globo, decisão essa instaurada no II
Congresso Internacional de Educação de Surdo em Milão (BENARAB; OLIVEIRA,
2007). O congresso foi engendrado predominantemente por uma parcela oralista, com
intuito de dar força a projetos de leis que contemplassem seus propósitos. O método
oralista alemão6 se estendia progressivamente adquirindo mais adeptos nos países
europeus, dado o papel de destaque da Alemanha no Velho Continente como um dos
ícones do imperialismo (LENIN, 2011).
4
Muito embora compreenda-se que as línguas de sinais no Brasil sejam ainda mais antigas, o primeiro
registro histórico da Libras data deste período do século XIX.
5
Tratava-se de um tomo/dicionário de sinais para facilitar a comunicação entre docentes ouvintes e
discentes surdos do INES.
6
Desenvolvido por Samuel Heinicke em 1755, proibia o uso de sinais, acreditando que inibia a fala,
principal veículo de comunicação e instrumento necessário para a aceitação social.
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Avaliando a constituição da ASL em tal nível de detalhes, fora publicado pela primeira
vez, sobre o grau de complexidade das línguas gestuais, um primeiro passo rumo ao
estatuto e a compreensão da comunidade acadêmica, científica e educacional das
línguas gestuais como língua natural. Peremptoriamente, tornou-se mais difícil afirmar
que as línguas de sinais não passam de canais de comunicação incompletos, decalcados
em primeira instância à riqueza da linguagem oral e realizadas em forma de pantomimas
e mímicas, muito devido às demonstrações de Stokoe, nas quais os itens lexicais das
línguas gestuais são compostos por unidades recorrentes em semelhança àqueles das
línguas orais. Aos poucos, a cortina de ferro edificada no período nebuloso e histórico
do congresso de Milão foi desanuviando. Não obstante, resultado de muitas décadas do
7
Os trabalhos de Stokoe foram aditivados por seus sucessores, donde se destacam os estudos de Battison
(1978; 2000) que adicionou um quarto parâmetro nos quais um sinal pode contrastar lexicalmente: a
orientação da mão.
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uso do método da linha oralista, não retomara grandes desenlaces. A maior parcela dos
surdos profundos não desenvolvera fala articulada socialmente satisfatória concomitante
ao desenvolvimento tardio das faculdades mentais, resultando em atrasos de
desenvolvimento global significativo. Concatenado ao fato das dificuldades ligadas à
leitura e à aprendizagem da escrita, quase sempre extemporâneos, os quais expiavam
sujeitos muitas vezes, facciosamente alfabetizados após muitos anos de escolarização
(LACERDA, 1998).
No Brasil, por volta dos de 1980, a importância da Libras voltou às pautas de discursão,
graças a pesquisas em linguística e pedagogia. E no início do século XXI, houve uma
das maiores vitórias da comunidade surda brasileira, das associações surdas e da
Federação Nacional de Integração e Educação de Surdos (FENEIS), em sua luta pela
valorização de sua língua natural, instaura-se a lei 10.436 (BRASIL, 2002) e
conseguinte, fortificada pelo decreto 5.626 (BRASIL, 2005), que regulamenta a Libras e
intensifica a sua importância nos contextos educacionais (FENEIS, 2007).
Essa realidade está muito aquém das escolas do Brasil, dado o fato que poucas
instituições de ensino superior logram êxito na introdução de Libras no currículo dos
cursos voltados ao magistério. Além disso, após formados poucos docentes têm êxito
em inserir em suas dinâmicas, abordagens e estratégias onde se inclui o fator humano
expresso pelos discentes surdos. À margem do ambiente escolar, o surdo encontra
dificuldades em se integrar nos grupos sociais e entrementes, em dar continuidade a
seus estudos, ficando à deriva da sociedade que cada vez mais exige conhecimento
especializado.
Figura 1: Sinal atribuído a Cátion. Configuração de íon – mão esquerda em O, mão direita configurada
em I horizontal, palma para baixo, próxima ao lado direito da boca. Movê-la em torno da mão esquerda,
tremulando rapidamente. Em seguida realizar Configuração de próton – Mão esquerda em D, palma para
a direita; mão direita em D horizontal, palma para baixo, atrás da mão esquerda, dedos indicadores
cruzados. Mover a mão direita para frente e para trás, tocando o indicador esquerdo durante o movimento
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Figura 2: Sinal atribuído a ânion. Configuração de íon seguido de configuração de negativo.
Figura 4: Sinal atribuído à radioatividade. Configurações de mãos esquerda passiva em O, com dedos
unidos e direita ativa em L com polegar e indicador recurvados dispostas em espaço neutro e movimento
unidirecional retilíneo na transversal e orientação para o lado direito. Fonte: Costa (2010, p. 161).
Segundo o autor, foi o sinal proposto que causou mais discussões, muito devido à
complexidade e abstração ligado ao campo da físico-química nuclear. O informante
surdo responsável pela criação do sinal esclarece que o sinal expressa a carga
energética de partículas irradiadas do núcleo atômico (COSTA 2010, p. 161). Mais uma
vez verifica-se a adequação do sinal em cenários específicos como a radiação de
partículas 01β (beta) ou de partículas 42α (alfa), partículas que possuem carga negativa e
positiva respectivamente. Partículas bariônicas a exemplo do neutrino (00n) ou bósons,
como a radiação gama (00γ), não detentores de carga seriam claramente
desconsiderados.
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Figura 5: Sinais relativos às substâncias: Ferro (esquerda); Alumínio (direita) e Ouro (abaixo):
Fonte: Capovilla e Raphael (2001, p. 1067; 182, 1643)
Entende-se Libras como uma língua recente, moderna, que deve passar por processos
semelhantes de transformação linguística que as línguas orais. Com isso, a atribuição de
novos significados e de novos signos se dá de forma progressiva, já que “as línguas
mudam sem cessar e não podem funcionar senão mudando” (BALLY apud
CORSERIU, 1979, p. 15) e assim se conformando com a rigidez científica e específica
da linguagem química.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Matheus Oliveira Silva- Técnico em Química – matheussf_silva@hotmail.com-
http://lattes.cnpq.br/4863783983448531
2
Gislaine Barbosa Cabral Silva- Pedagogia -gsln.barbosa@gmail.com-
http://lattes.cnpq.br/8215028613114699
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Assim, o objetivo deste trabalho é investigar como a identidade cultural dos surdos e
sua influência na região norte Fluminense. Para tal, realizou-se uma pesquisa de
natureza bibliográfica qualitativa, enfocando o processo de construção de identidade. Os
resultados apontaram a necessidade de os surdos desenvolverem ações afirmativas,
consolidando uma comunidade e uma cultura singular. A contribuição deste estudo é
mostrar como a condição funcional é importante para a constituição da identidade.
A identidade implica o processo de consciência de si próprio, sendo que esta ocorre por
meio de relações intersubjetivas, de comunicações linguísticas e experiências sociais,
tornando-se um processo ativo (Doron e Parot, 2001).
Isso faz com que essas pessoas busquem articulações de poder e de defesa dos seus
direitos de cidadania através de movimentos autônomos, ou desvinculados do Estado.
Frente a isso, percebe-se a relevância do processo no qual os surdos estão passando para
a constituição da identidade, ou seja, o processo de construção de políticas afirmativas,
que marcam o espaço dos surdos não como seres subalternos em relação à sociedade
ouvinte, mas, sim, como membros de uma cultura singular, para que não seja
marginalizado, mais uma vez, seu modo de se colocar no mundo. Assim, tais políticas
afirmativas lutam contra todo tipo de subordinação que existe no contexto das trocas
sociais.
Uma vez que o termo linguagem tem um sentido bastante amplo, a linguagem é tudo
que envolve significação, que tem um valor semiótico e não se restringe apenas a uma
forma de comunicação. É pela linguagem que se constitui o pensamento verbal do
indivíduo. Assim, a linguagem está sempre presente no sujeito, mesmo no momento em
que este não se comunica com outras pessoas. A linguagem constitui o sujeito, a forma
como este recorta e percebe o mundo e a si próprio (Goldfeld, 2002; Góes, 1999;
Vygotski, 1996).
Na pessoa surda, não é diferente; o que muda é que a linguagem deixa de ser sustentada
em fonemas, letras, palavras, enfim, em sons, e passa a se sustentar em sinais
imagéticos, que são signos linguísticos para os surdos da mesma forma que as palavras
são para os ouvintes. Sacks (1998), inclusive, em seu livro sobre surdez, propõe um
trocadilho com a condição ouvinte e intitula seu livro “Vendo Vozes”.
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É também partindo desse estereótipo social que o sujeito surdo se constitui, afirmando-
se e/ou opondo-se dialeticamente, ou seja, é com base nas significações produzidas
através das relações sociais, envolvendo esta, em grande parte, a relação com os
ouvintes, que o surdo constrói seu autoconceito. Essa significação não se dá somente
pelo que verbaliza ou deixa de verbalizar, seja isso concretizado por sons ou gestos, mas
também pelo lugar social que é atribuído a essas pessoas nas relações e pelas situações
de desvantagem a que são submetidas numa cultura hegemonicamente auditiva.
É importante mencionar que o surdo através do contato com uma língua espacialvisual
tem a sua estruturação linguístico-cognitiva veiculada por uma língua natural. Essa
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estrutura é justamente, em termos linguísticos, aquilo que permite o que Paulo Freire
chamou de “Leitura de mundo”, que segundo ele, antecede a leitura da palavra. Se não
houver uma leitura de mundo, não haverá compreensão e produção de texto. Sem um
apoio de uma língua materna, não haverá estruturação linguístico-cognitiva acima
mencionada. Para surdo, o Português falado dificilmente será sua língua materna
naturalmente adquirida. (RINALDI, 1997, p.156)
Apenas o domínio de uma língua adquirida em sua totalidade e fluência permite ao ser
humano a captação dos signos, a produção de novos signos, da combinação entre signos
e novos sentidos para os signos em jogo, não apenas no processo de comunicação como
no processo cognitivo. Admitir tais recursos instrumentais em uma criança surda
privada de língua de sinais, como sua primeira língua, e apenas aprendiz da língua
portuguesa equivale a desconhecer os caminhos básicos da aquisição de uma língua e,
consequentemente, privá-la de seu direito a ter à disposição os caminhos naturais a seu
desenvolvimento. (FERNANDEZ, 2005, p. 19)
Como diz Sá, não há como negar que o uso da Língua de Sinais é um dos principais
elementos aglutinantes das comunidades surdas, sendo assim, um dos elementos
importantíssimos nos processos de desenvolvimento da identidade surda/de surdo e nos
de identificação dos surdos entre si. (2000, p.106)
(...) O ano de 1943 ficou marcado pela inauguração de uma grande obra que
muito veio impulsionar toda esta região norte fluminense, com especialidade
o município de Campos: a rodovia Amaral Peixoto, ligando Niterói, capital
do estado, a Campos. Esse acontecimento se revestiu da grandiosidade dos
seus objetivos de ordem econômica, tendo (-o) realçado a presença, em
Campos, do Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, presidente da República, Ernani
do Amaral Peixoto, interventor federal. (...) (Monitor Campista, 04/01/1945,
p.1)
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Segundo Neves, localizada na Região Sudeste – esta, para efeitos dessa territorialização,
sempre contra-posta como a mais desenvolvida do país –, a Região Norte Fluminense
ou Norte-Fluminense, mediante o privilegiamento de determinados atributos sociais,
agregava l4 municípios, tendo no de Campos2 o pólo econômico e político: Bom Jesus
do Itabapoana, Itaperuna, Laje do Revista Rio de Janeiro, n. 18-19, jan.-dez. 2006 13
Norte Fluminense: índices de pobreza e reivindicações políticas Muriaé, Natividade,
Porciúncula, Campos, São Fidélis, São João da Barra, Macaé, Conceição de Macabu,
Cambuci, Miracema, Santo Antonio de Pádua e Itaocara.
MATERIAIS E MÉTODOS
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Assim, levantaremos materiais que comprovem como a cultura surda vem influenciando
os ouvintes na região e como a Língua de Sinais pode ser inovadora no processo de
educação e comunicação do surdo e ouvinte.
SOARES (1999, p. 218) fala sobre a falta de conhecimento acerca desta língua ao dizer
que "a LIBRAS é vista como uma metodologia oral e por ser considerada apenas como
mímica, motivaram a cultura hegemônica ouvinte a estigmatizarem a condenarem o uso
desta língua considerando-a imprópria". E muitas vezes também foi vista na educação
do surdo como algo prejudicial à aquisição da linguagem oral, bem como a sua
integração na sociedade. (SOARES, 1999)
Estes motivos perderam força com o tempo e o avanço nas pesquisas linguísticas acerca
dessa língua trouxe como consequência o seu reconhecimento linguístico e atualmente
já tem status linguístico, ou seja, já é reconhecida como língua. A língua de sinais é a
língua natural dos surdos, mas para entender esta língua com suas características e
peculiaridades faz-se necessário entender o conceito de língua e a sua importância na
comunicação. (SOARES, 1999)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a LIBRAS é a língua natural das comunidades surda e é adquirida por
quaisquer sujeitos, quando estes interagem/dialogam com surdos fluentes em língua de
sinais, socializam-se como iguais. Assim, podemos afirmar que a aquisição da língua é
um processo criativo. Segundo Svartholm (1997, p.29).
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A análise realizada nesse estudo aponta a cultura surda como meio mais adequado para
a aprendizagem do aluno surdo: a Libras, porque promove sua compreensão e
possibilita o desenvolvimento cognitivo; e a língua portuguesa , por ser necessária ao
seu convívio social, possibilitando a aquisição da escrita e da leitura, e de uma formação
profissional.
O que se quer ao reivindicar uma identidade, no caso dos surdos, é poder fazer parte da
vida social, tendo porém sua diferença marcada exatamente para ser respeitada. A
apreensão das coisas é diferente, a língua é diferente e os resultados disso são diferentes.
Não há como respeitar essa diferença sem conhecê-la minimamente, sem se tornar
sensível a ela, o que significa perceber a si mesmo e ao outro em sua alteridade, isto é,
como pessoas com formas distintas de apreensão do mundo e linguagem, o que implica
em diferentes formas de compreensão de ideias e expressão de pensamento.
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VIGOTSKI, Liev Semiónovitch. Teoria e Método em Psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
O mesmo ocorria com os sujeitos surdos, pois a linguagem desde a Antiguidade estava,
erroneamente, relacionada à utilização da língua oral; o que fazia com que esses
indivíduos também fossem vistos de modo inferior, pois preocupava-se com a produção
da fala e esquecia-se da constituição do sujeito – processo que envolve diversos outros
tipos de manifestações.
Todavia,
[...] no Brasil, os anos de 1888, quando é assinada a Lei Áurea – da libertação
dos escravos, e em 1889 quando é constituída a República no país, os surdos
em sua educação passam a ser escravizados diante dos ditames do oralismo,
sendo-lhes muitas vezes, atadas suas mãos para se comunicarem visualmente,
obrigando a se manifestarem através da oralidade. Vemos dissonante estes
dois lados, de um a liberdade, democracia e a evolução política e social do
Brasil, de outro a escravidão, a ditadura e o retrocesso na educação de surdos.
(MORI e SANDER, 2015, p. 7)
Independente dos avanços sociais e educacionais que temos vivenciado ao longo dos
anos em relação à educação de surdos, ainda há grandes obstáculos à serem vencidos.
Dentre eles, as reformulações e aplicações das filosofias educacionais que permeiam a
relação professor/aluno nas escolas do país.
Como comenta Silva e Silva (2016, pág.38) “uma educação sob os moldes bilíngues
considera a Língua de Sinais como fator central para o processo de escolarização, pois a
língua é um elemento basilar da identidade cultural dos surdos e da comunidade à qual
eles pertencem.”. Isto é, será em decorrência dos estímulos e da maneira como eles
ocorrem que os sujeitos irão desenvolver melhor ou pior tanto a L1 quanto a L2. O que
nos faz perceber que o meio ambiente e as interações sociais influenciam diretamente a
organização cerebral e, automaticamente, a organização da linguagem.
No Brasil, mais de 90% das crianças surdas nascem em lares de pais ouvintes, o que
normalmente acarreta a aquisição tardia da Língua de Sinais (FERNANDES, 2006).
Além disso, os fios que conduzem as decisões dos pais ouvintes sobre as ações que irão
tomar acerca de seus filhos surdos circulam, grosso modo, sobre a vontade de vê-los
falar (SANTANA, 2007). O que torna a escola o único ambiente com possibilidades
bilíngues. Espaço no qual, em tese, ocorre o uso da língua portuguesa na modalidade
escrita e o uso da Libras como meio comunicacional. Todavia, a realidade educacional
dos surdos tem apontado níveis insatisfatórios (KARNOPP, 2003), o que evidencia que
aquilo que é elucidado na teoria não está funcionando – ao menos não do jeito que se
pretendia.
TABELA 1
PERGUNTAS S1 S2 S3 S4
Com quantos 11 IDADE 4 IDADE HOJE 10 IDADE MAIS OU
anos você HOJE TER 20. TER 18. HOJE TER MENOS 6
começou a 17. IDADE.
aprender
libras?
Qual a sua 2° ANO 1° ANO 1° ANO 1° ANO
série na MÉDIO. MÉDIO. MÉDIO. MÉDIO.
escola?
Todo mundo SÓ MÃE SÓ. NÃO SABER. MAIS OU NÃO
na sua casa MENOS. SABER.
sabe libras?
Você possui MATEMÁTICA MATEMÁTICA. BIOLOGIA. QUÍMICA.
dificuldades E
na escola? PORTUGUÊS.
Você conhece SABER MAIS SIM, TALVES MAIS OU MAIS OU
a abordagem OU MENOS, SE TEM MENOS MENOS,
bilíngue? Se MAS NÃO LÍNGUA MUITA MAS NÃO
sim, o que SABER OUTRO PALAVRA SABER
acha? RESPOSTA. LUGAR PAÍS. SABER. RESPOSTA.
(FELIPE, 1997)
Como se pode observar nas respostas dos sujeitos, a participação deles em seus
processos de ensino-aprendizagem parece ser mínima, para não dizer existente. Visto
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que suas respostas sobre a realidade analisada são bastante genéricas. Ou seja, a escola
não está alcançando seu papel de provocar o questionamento e instigar o espírito
crítico deles, fazendo-os enxergar que fazem parte de uma sociedade, e que, portanto,
devem ter uma posição crítica-reflexiva enquanto tais dentro dela. Esta por sua vez está
apenas aplicando metodologias de modo que deixa a desejar – como se pode perceber
ao se analisar os níveis insatisfatórios nos quais os sujeitos surdos estão em relação ao
aprendizado, como pontua Karnopp (2003).
Além disso, apenas um sujeito comenta possuir dificuldades com o português, todavia,
nos encontros semanais que ocorrem no GEPLIS conseguimos identificar diversas
defasagens e dificuldades em relação à Língua Portuguesa. O que é preocupante, visto
que, como dito anteriormente, ela é a língua base para a compreensão dos enunciados
que estão dispostos nas demais disciplinas.
Outra questão que merece ser pontuada diz respeito a falta de conhecimento acerca da
abordagem bilíngue - filosofia na qual eles, em teoria, estão inseridos. Ou seja, apesar
de serem os principais indivíduos afetados por ela, os sujeitos da pesquisa possuem um
conhecimento escasso sobre tal. Não obstante, na casa dos pesquisados poucas pessoas
utilizam a Libras, ou seja, a escola torna-se o único ambiente no qual eles poderão
vivenciar experiências reais utilizando não apenas a língua de sinais, mas também, a
língua portuguesa. O que, como podemos perceber, não está acontecendo.
Ao que nos parece, estamos sitiados numa realidade na qual o meio importa mais do
que os conhecimentos que ele pode proporcionar. Isto é, apesar dos avanços que se tem
visto ao longo dos anos, os sujeitos surdos ainda não têm participado com tanta
efetividade nas decisões em seus lócus escolares; eles estão apenas alocados em espaços
nos quais, na maioria das vezes, seu elo social resume-se em intérprete – surdo e surdo
– surdo. Ambiente no qual, frequentemente, a língua de sinais é comparada à do ouvinte
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– tomado como falante “ideal” que fala uma língua “ideal”. Ou seja, as singularidades
dos estudantes surdos não estão sendo levadas em consideração do modo que se
deveria.
CONCLUSÕES PRELIMINARES
Apesar de, teoricamente, vivenciarmos no Brasil uma realidade bilíngue que está em
consonância com o que se vive ao redor do mundo, ainda não atendemos as
necessidades postas. Os dados aqui levantados, apesar das poucas possibilidades de
analises - visto que o conhecimento dos sujeitos acerca da realidade estudada era menor
do que o esperado – ratificam aquilo que já é de conhecimento popular: os alunos
surdos ainda são alocados em instituições que não respeitam suas especificidades
linguísticas e não os inserem de modo significativo nos âmbitos educacionais
Portanto, o maior desafio a ser superado está na reformulação dos espaços escolares e
formação dos profissionais que irão trabalhar diretamente com esse alunado. Ou seja, as
Instituições de Ensino Superior devem proporcionar uma formação consistente para os
profissionais que atuam na educação de surdos e os espaços educacionais devem ser
repensados para que todos, independentemente de suas especificidades, sejam incluídos.
Além disso, que ocorra, também, a participação nos processos decisórios que dizem
respeito às políticas e filosofias educacionais que permeiam sua vida acadêmica.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
BIBLIOGRAFIA
Brasil/ MEC/SEESP,2001. Declaração de Salamanca :Sobre Princípios, Políticas, Práticas na Área das
Necessidades Educativas Especiais ,1994,Salamanca Espanha
INTRODUÇÃO
1
Graduação em Geografia (Licenciatura)
E-mail: raquellopes_14@hotmail.com
Link do Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5338610372870917
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Segundo porque trata-se de um direito proclamado que, como afirma Pereira (2008)
precisa torna-se real, vivido. Assim sendo, a implementação dessa política requer um
movimento institucional, decisões políticas-pedagógicas e mobilização dos profissionais
na compreensão e reconhecimento da Libras como língua natural e disciplina curricular.
Tomando esses três aspectos como referência, entendemos que o estudo sobre a
inclusão da Libras como disciplina em cursos de formação é uma temática que requer
estudos, pesquisas sobre diversas questões inerentes à constituição da política, sua
criação, seu processo de implementação e resultados formativos.
Essa pesquisa teve como motivação acadêmica em razão de seu processo histórico da
implantação de Libras como língua oficial, e inclusão dela no ensino superior como
disciplina, considerando o tema relevante, pois podemos obsevar o quanto é importante
aprender sobre educação inclusiva principalmente para futuros professores, sendo que
se encontra poucas publicações, tendo carência bibliográfica, o que motiva ainda mais o
interesse. Assim, propomos a pergunta orientadora para o estudo: em que condições
ocorreu o processo de inclusão de Libras em cursos de graduação na UFOB.
Na história de algumas civilizações, as pessoas com surdez eram vistas como sujeitos
incapazes, doentes, com déficit de inteligência. Segundo Silva (2009), os romanos
privavam os surdos de direitos legais, eles não podiam se casar, e não tinham direito à
herança da família. Ainda segundo o autor, a Igreja Católica considerava que os surdos
eram sem salvação, pois não tinham alma, assim, não iriam para o céu após a morte e,
assim, por muito tempo a sociedade considerava-os como imbecis anormais e
incompetentes.
Ainda segundo o autor, esses professores que ensinavam os surdos, não compartilhavam
os seus métodos para ninguém mantendo em segredo, sendo ensinado apenas de pai
para filho. Assim, com poucos educadores para surdos, esse ensino tinha um custo
financeiro caro, somente pessoas ricas e nobres poderiam custear-lo. As pessoas surdas,
na grande maioria, das famílias ficavam sem estudar e viviam isolados. Sem que esses
surdos tivessem relação com a maioria da sociedade ouvinte, surgiu o gestualismo, onde
os surdos criavam gestos caseiros para se comunicar com seus familiares (LACERDA,
1998).
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L'Epée foi muito criticados por outros professores que tinham métodos
diferente do dele, por exemplo, Pereira, em Portugal, e Heinicke, na
Alemanha. Heinicke é considerado o fundador do oralismo e de uma
metodologia que ficou conhecida como o "método alemão". Para eles, o
pensamento só é possível através da língua oral, e depende dela (LACERDA,
1998, p.03).
Para Skliar (2013), as razões que sustentavam a aprovação do método oral, eliminando a
utilização da língua de sinais, estavam vinculadas às questões políticas, filosóficas e
religiosas. Pois, os padres necessitavam que as confissões fossem feitas por meio da
oralidade, pois a utilização da linguagem de sinais poderia dar margens a interpretações
errôneas, no momento da confissão.
A educação dos surdos ficou defasada, mesmo a Língua de Sinais e gestos por serem
mais fácil e de melhor comunicação, o gestualismo estava proibido e que, durou por
muitos anos, sendo que os surdos eram considerados sob o prisma da deficiência
auditiva, por uma visão médico-clínico, e, por isso deveria ser curada e/ou recuperada.
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Segundo Goldfeld (2002), as crianças surdas passam a receber uma educação com
metodologia de ensino da língua oral, sendo o objetivo principal a oralização das
crianças surdas, utilizando o tempo escolar para ensinar oralismo, atrasando o ensino
das disciplinas escolares, e as crianças com surdez profunda desenvolveram a fala
insatisfatória, e que tinham muita dificuldade na leitura e escrita, com isso diminuindo o
número de surdos escolarizados, e aumentando a defasagem dessas crianças nas escolas.
Desse modo, o ensino de Libras cumpre com um importante papel na inclusão social de
todos os educandos. Pensar também nos alunos surdos, nos desafios que eles encontram
no ensino em geral torna-se profícuo e salutar.
A luta da comunidade surda, pela inclusão social, teve um marco importante, e foi
assistido pelo Decreto nº 5.626/2005 que, assevera a obrigatoriedade da disciplina de
Libras nos cursos superior em licenciatura e não mais como optativa.
Art. 3º- A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos
cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível
médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino,
públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 2005, p.01).
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METODOLOGIA
irá estudar as leis, inclusão social, história do surdo... assim, posteriormente sobre
Libras na universidade. A segunda será a coleta de dados realizada por meio de um
questionário com estudantes e professores. O processo de levantamento bibliográfico e
documental também existirá nesta fase.
Administração Bacharelado 2
BI Ciência e Tecnologia Bacharelado 8
BI Humanidade Bacharelado 8
Ciências Biológicas Licenciatura 12
Engenharia Civil Bacharelado 5
Engenharia Sanitária e Ambiental Bacharelado 2
Física Bacharelado/Licenciatura 0
Geografia Bacharelado/Licenciatura 34
História Licenciatura 3
Matemática Bacharelado/Licenciatura 0
Total respondido 74
Com base nessas informações, fica evidente que, de fato, a instituição procurou atender
uma determinação legal. A inclusão de Libras como disciplina foi realizada. No entanto,
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o tempo de aula definido pelo ICADS-UFBA não levou em consideração que se trata de
uma língua, com elementos que demandam um tempo institucional mais longo.
O grupo que afirmou ter na aula de Libras o primeiro contato com pessoa com surdez
representa 59% dos participantes da pesquisa. Com isso, é preciso ter mais participação
dos surdos na sala de aula para que 100% dos estudantes tenham oportunidade de
colocar em prática o seu aprendizado com pessoas surdas, conforme relatos, a seguir:
Sim. Porque ele levou surdos para a sala de aula a fim de facilitar o
aprendizado. (E16)
Sim. O professor ajudou muito com livros e sua experiência. Levou para
dentro da sala de aula alguns membros da comunidade surda, isso fez toda
diferença. (E04)
Por isso, é necessário ter um conhecimento em Libras para que possa estabelecer o
processo de ensino e aprendizagem. Nesse caso, é importante ressaltar que, para alguns
estudantes pesquisados, é importante eles aprenderem sinais específicos da área de
formação, a exemplo da Geografia, Biologia. Como comunicar determinados conceitos
que são próprios de conteúdo. Assim se for ministrar aula já terá conhecimento prévio
nos sinais da disciplina que lecionará.
Apesar da Libras ser uma língua brasileira oficial desde 2002, no ano de 2014 quando
aconteceu a pesquisa, somente 31% dos estudantes que fizeram a disciplina de Libras
tinham algum conhecimento sobre essa língua.
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Todos os estudantes ou seja, 100% dos estudantes afirmaram que depois de ter
participado da disciplina de Libras sua compreensão sobre a comunidade surda mudou,
mostrando assim, o quanto é importante ter essa disciplina nos cursos de graduação.
Como observamos nos relatos dos estudantes:
Sim. Por que embora a carga horária fosse pequena conseguimos entender a
importância da educação inclusiva e pudemos conhecer um pouco da
comunidade surda. (E74)
CONSIDERAÇÕES
Foi possível perceber que a carga horária é insuficiente a aprender a Libras. Para os
pesquisados se aprende apenas conhecimentos básicos, pois é impossível aprender uma
nova língua somente em 34 horas. Apesar do pouco tempo de ensinar a Libras, os
principais objetivos da disciplina são concretizados, pois os estudantes têm o
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Ainda sobre a carga horária da disciplina ser considerada insatisfatória pelos professor e
estudantes, percebemos a necessidade de formação continuada, com cursos da área de
educação inclusiva, fora da universidade a exemplo do PRONATEC, e outros como da
Movimento de Inclusão e Qualificação do Especial Independente (MIQUEI), cursos
oferecido em igreja e entre outros, que podem ser encontrado em Barreiras e região.
Podendo assim os estudantes que desejar se aprofundarem em conhecimentos dessa
área.
Em suma, a pesquisa mostrou que a disciplina de Libras é garantida por lei, que é a
língua majoritária utilizada pelos surdos brasileiros. É preciso que os dos cursos de
graduação promovam estudos sobre surdez de acordo com as políticas educacionais, a
exemplo da inclusão de Libras como disciplina. No entanto, a inclusão requer condições
de destaque no currículo, de infraestrutura. Dizemos isso porque o ICADS-UFBA
cumpriu a lei, anteriormente mencionada, no entanto, as condições disponibilizadas não
possibilitam aprofundamento e diversificação do estudo de Libras.
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RESUMO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Objetivando-se verticalizar essa discussão este trabalho está organizado em seções que
abordam o percurso metodológico da pesquisa, aspectos do referencial teórico, análise
dos dados e por fim as considerações finais onde são feitas as discussões a partir dos
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dados coletados e dos objetivos propostos para esta pesquisa, buscando-se responder as
questões de investigação.
2. PERCURSO METODOLÓGICO
Este estudo foi realizado com dois estudantes surdos usuários da Libras e um estudante
surdo oralizado matriculados no curso de Licenciatura em Letras/Libras/Língua
Estrangeira da UFRB que, atualmente, o referido curso conta com 18 (dezoito)
docentes, destes, uma docente é surda e ministra suas aulas em Libras, e seis docentes
têm formação em Libras. A instituição possui seis Profissionais Tradutores-Intérpretes
de Libras-Português (TILSP) que atuam no Centro de Formação de Professores em
Amargosa e dois profissionais que atuam em Cruz das Almas, na Pró-Reitoria de
Graduação.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
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Nesse sentido, Vygotsky (2001) assegura que a relação do homem com o mundo não é
direta, mas mediada por instrumentos ou signos. Assim, o uso de instrumentos (objetos
orientados externamente, visando ao domínio da natureza) e de signos (representações
orientadas internamente) implica numa relação mediada do homem com o mundo. É,
então, de fundamental importância a participação do outro na aprendizagem, pois a
pessoa envolvida na aprendizagem, “orientada, ajudada e em colaboração sempre pode
fazer mais e resolver tarefas mais difíceis do que quando sozinha” (VYGOTSKY,
2001, p. 328).
Nesse processo de mediação pedagógica o professor deve saber lidar com as diferenças
linguísticas em sala de aula estando atento e envolvido no processo da aprendizagem do
estudante surdo.
Dentre os três estudantes surdos entrevistados, dois são homens e uma é mulher e estão
numa faixa etária compreendida entre 22 a 24 anos. Objetivando favorecer a
identificação por parte do leitor e preservando a identidade dos entrevistados, Es1
significa Estudante surdo um; Es2 significa estudante surdo dois e assim como o
estudante surdo três identificado como Es3.
Na categoria “Desafios do acesso à Educação Superior” ficou evidenciado que, de
acordo com as percepções dos estudantes surdos entrevistados, os desafios enfrentados
por eles no acesso à Educação Superior vão desde a não conseguir realizar o curso
pretendido, até as barreiras comunicacionais vivenciadas durante a vida acadêmica, a
saber:
Antes eu queria Curso Biologia, mas fui aprovado em Letras com Inglês,
cursei dois semestres e desistir, não tinha intérprete na sala de aula (Es1).
internet, entre outros elementos que possibilitam as condições físicas e econômicas para
permanecer na universidade. Nessa categoria apenas um dos participantes da pesquisa
relata receber bolsa acadêmica por ser participante de um Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência de formação de professores, o PIBID.
Quando traz slides ou textos imagens, fico feliz quero mais participar aula
(Es1).
Não percebo estratégia que alcance o surdo. Às vezes são quatro horas só de
leitura e o professor oralizando. Os ouvintes falam todos de uma vez e isso
atrapalha o intérprete por causa do barulho (Es3).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, conclui-se que as narrativas dos três participantes desta pesquisa revelam por um
lado a importância e a necessidade de estratégias de mediação pedagógicas
institucionalmente referendadas que assegurem a permanência dos acadêmicos surdos
na Educação Superior, mas por outro lado evidenciam a satisfação desses sujeitos em
serem partícipes dessa experiência acadêmica, ampliando suas perspectivas e
oportunidades na vida pessoal, profissional e social.
6. CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA
7. REFERÊNCIAS
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 245
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Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
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ROCHA, T. B; MIRANDA, T. G. A inclusão de alunos com deficiência no Ensino Superior: Uma análise
de seu acesso e permanência. IN: Diáz, F; BORDAS, M; GALVÃO, N; MIRANDA, T. Educação
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SKLIAR, C. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 2013.
UFRB. Resolução CONAC nº 17/2014. Dispõe sobre a reserva de vagas no Curso de Licenciatura
Letras/Libras/Língua Estrangeira para estudantes surdos na Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia. Disponível em: < http://www.ufrb.edu.br/conac/resolucoes-conac/category/9-resolucoes-
2014>. Acesso em: 23 de março de 2015.
VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. Tradução de Paulo Bezerra. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2010.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 246
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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Sheila Vicente1
RESUMO
O sujeito surdo é duplamente cindido: pelo português e pela libras, por viver em contato
com ouvintes e pelo contato com a comunidade surda. É uma condição bilíngue e,
inevitavelmente, bicultural (SILVA e SILVA, 2015; CICILINO, 2016; MARTINS,
2016; GUIMARÃES, 2017; LEÃO, 2017). O tema é essencial para discutir sobre a
educação inclusiva dos surdos, mas sempre respeitando suas singularidades culturais e
de identidade. À luz dos estudos culturais, as políticas devem primar pela inclusão dos
alunos surdos em classes regulares, buscando possibilidades para que a escola se
transforme em um espaço aberto à convivência com as diferenças, onde a luta por uma
educação de qualidade seja comum a todos, de modo a construir saberes, identidades e
culturas a partir das duas línguas: eis o caminho de uma efetiva consolidação linguística
da libras (e do que ela representa). A inclusão de alunos surdos na escola regular atende
às determinações legais de construir um sistema educacional inclusivo, com objetivo de
fortalecer a formação da identidade, enquanto indivíduo pertencente a uma comunidade
específica de pessoas surdas. O bilinguismo como proposta pedagógica suscita
mudanças no sistema político educacional para o desenvolvimento integral, mediado
pela língua de sinais e a língua portuguesa como modalidade escrita. Este trabalho tem
por objetivo discutir possibilidades da implantação da metodologia bilíngue
(português/libras) em escolas de ensino regular. Em pesquisa realizada sob o paradigma
socioantropológico da surdez, tomando por base os estudos culturais. Para tanto,
desenvolve, a partir de metodologia de revisão de literatura sobre a temática, discussões
sobre o aspecto histórico, linguístico e político da libras no que diz respeito aos
processos de ensino-aprendizagem em ambiente formal. O modelo do bilinguismo
oferece possibilidade de ressignificar condutas em relação à comunidade surda, de
reivindicar direitos, lutando para que os preceitos estabelecidos em lei se efetivem
enquanto práticas. Se a lei 10436/02, que oficializou a libras como língua oficial do
Brasil, foi um grande avanço nesse sentido, é necessário refletir sobre uma proposta
linguística para surdos brasileiros como garantia não somente de acesso e permanência
de todas as pessoas na escola, mas, sobretudo, de aprendizagem efetiva que permita o
exercício da cidadania e da autonomia. Devemos considerar uma reflexão sobre em que
direção se deve propor educação significativa para esta minoria linguística, que convive
em situação bilíngue/bicultural, a qual, contudo, não possibilita por uma série de razões
(culturais, políticas, da ordem do preconceito social, etc.) condições favoráveis para seu
desenvolvimento intelectual e social.
1
Graduada em Pedagogia e em Letras-Libras. Professora de Educação Especial dos municípios
de São Vicente e Cubatão-SP, Baixada Santista. Mestranda do programa Interdisciplinar em
Educação, Ambiente e Sociedade. Na linha de pesquisa “Educação e Cidadania” da
Universidade Pública Municipal - FAE. UNIFAE. E-mail: professorasheilavicente@gmail.com.
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REFERENCIAS
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e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF.
GUIMARÃES, Natally Nobre. Ouvir com os olhos: como promover a inclusão de alunos surdos em
sala de aula. Revista Vernáculo. Paraná, n.° 39, ISSN 2317-4021 – primeiro semestre /2017.
LEÃO, Gabriel Bertozzi de Oliveira e Sousa; SOFIATO, Cássia Geciauskas; OLIVEIRA, Margarete de.
A imagem na educação de surdos: usos em espaços formais e não formais de ensino. Rev. educ.
PUC-Camp., Campinas, 22(1):51-63, jan./abr., 2017.
MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira. Educação de Surdos e Proposta Bilíngue: ativação de novos
saberes sob a ótica da filosofia da diferença. Educ. Real. vol.41 no.3 Porto Alegre July/Sept. 2016.
SILVA, Carine Mendes da Silva; SILVA, Daniele Nunes Henrique. Libras na educação de surdos: o
que dizem os profissionais da escola?. Psicologia Escolar e Educacional , SP. Volume 20, Número 1:
33-43, Janeiro/Abril de 2016.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de São Paulo, abreuste@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/3526283127158180
2
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação, da Universidade de São Paulo,
egarrutti@yahoo.com.br, http://lattes.cnpq.br/6006817586830268
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Para isso, a análise documental em seu sentido exploratório teve como base as
dissertações e teses defendidas no ano de 2005 a 2015 que tivessem como tema
educação e educação de surdos como palavras chaves, sendo estes disponibilizados na
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD). Inicialmente, realizou-se uma
caracterização geral das dissertações e teses. Após esta ação, analisamos
detalhadamente aquelas que enfatizavam as práticas pedagógicas como objeto de estudo
e a partir daí, criaram-se categorias que foram: Educação, surdo/surdez/cultura/história,
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DESENVOLVIMENTO
Corroborando com isso, o modelo que mais traz benefícios para a comunidade surda é o
bicultural, que deve permitir o acesso rápido e de forma natural da criança surda à
comunidade ouvinte e que ela se reconheça como parte da sua comunidade surda.
Afonso cita Cortesão que colabora com a construção do conceito
multiculturalismo/interculturalismo, segundo ele é “a capacidade de se mover na cultura
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dominante e utilizar os mesmos instrumentos, facto que poderá contribuir para que a
pessoa em formação possa (sobre)viver nessa sociedade, sem que isso implique o
esmagamento e/ou desvalorização e esquecimento da sua cultura de origem (2008,
p.79). O surdo, além de ter uma língua de conforto que é adquirida pelo canal visual-
espacial, possui particularidades na questão cultural. É necessária, então, uma reflexão
não apenas sobre essa nova forma do processo educacional do surdo tendo a Libras
como primeira língua, mas também o seu desenvolvimento como um sujeito e a sua
participação como indivíduo na sua sociedade (FERNANDES; RIOS, 1998). Além do
mais, a proposta bilíngue implica em, através do ingresso em duas línguas, que se
possibilite a integridade do indivíduo ao meio sociocultural a que pertence
naturalmente, ou seja, nas duas comunidades, a surda3 e a ouvinte. Nesse sentido, a
cultura e a identidade surda são elementos importantíssimos que devem estar presentes
na constituição da proposta curricular bilíngue.
Para tratar sobre cultura e identidade, é necessário primeiro definir o que é cultura, pois
é por meio dela que a identidade dos sujeitos se constitui. Segundo Kraemer (2012),
cultura é o lugar no qual são produzidas diferentes posições de sujeitos e de identidades;
é neste lugar que são firmadas as formas de ser e de relacionar com o outro. A
maneira que vemos o mundo, no caso nossas representações, está intimamente ligada ao
campo cultural em que estamos inseridos.
Na escola, não há educação que não esteja imersa nos processos culturais dos alunos.
Isso implica em consentir com Candau (2013, p. 13), ao afirmar sobre a educação e os
processos culturais:
[...] não há educação que não esteja imersa nos processos culturais do
contexto em que se situa. Neste sentido, não é possível conceber uma
experiência pedagógica ‘desculturizada’, isto é, desvinculada totalmente das
questões culturais da sociedade.
Diante disso, a partir da análise dos trabalhos coletados (COSTA, 2013; BARBOSA,
2011; ROCHA, 2012), concluímos que o trabalho pedagógico em geral é voltado para o
padrão cultural do grupo majoritário, no caso, os ouvintes, e a cultura do outro é
3 Entende-se por comunidade surda o lugar no qual acontecem as partilhas linguísticas e os mesmos
interesses em uma determinada localização que podem ser as associações de surdos, federações de surdos,
igrejas e outros... (SÁ, 2009).
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Partindo para o currículo, entendemos que ele é a ferramenta fundamental para entender
as relações do processo educativo na escola. Desde muito tempo, este instrumento tende
a priorizar a cultura dominante, o padrão social buscar a uniformização das ações dentro
do interior da escola. Dorziat colabora ao mencionar a postura da escola com relação ao
currículo:
Com relação às publicações analisadas para este artigo, Rocha (2012) descreve um
problema encontrado na escola pesquisada. Segundo ele, implementar a proposta de
educação bilíngue da cidade de Vitória, no contexto de educação de jovens e adultos,
refere-se também a organização e a oferta do Atendimento Educacional Especializado
dentro do currículo dos alunos. Diante disso, surgem, então, os questionamentos: Como
se daria essa oferta para os alunos surdos matriculados no noturno? A oferta seria em
outro turno? Mas se pensarmos no perfil dos alunos dessa modalidade, muitos são
trabalhadores durante o dia e estudam no período noturno. Como aconteceria isso?
Nesta direção, encontramos outro problema na tentativa de solucionar uma lacuna. O
anseio pela concretização das ações é válido, entretanto, se torna prejudicial o que
caracteriza o AEE como substitutivo ao atendimento em sala regular, sob a
problematização do currículo, que precisaria ser flexibilizado em virtude das
necessidades dos alunos, além de não proporcionar o principal objetivo da inclusão
(contexto analisado), que é à admissão de todas as crianças em escolas regulares e na
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mesma sala, sem exceção por sua condição física, social, emocional ou linguística
(LIMA, 2015), promovendo sua participação efetiva.
Ainda em relação a este ponto, em outra dissertação, Costa (2013) destaca que:
[...] mostraram perceber que não basta apenas [...] ‘aceitar a criança surda na
sala de aula, ou respeitar sua condição bilíngue assumindo a Língua de Sinais
nesse espaço se a questão da Surdez não for considerada de forma integral. É
preciso um projeto educacional comprometido que reveja as estratégias
pedagógicas, a organização do espaço acadêmico, o currículo proposto de
maneira a contemplar as necessidades e características da comunidade Surda’
(LACERDA, 2000, p.16) (2011, p.177)
As ações dentro do currículo voltadas para esses alunos deveriam ser mediadas pela
Língua de Sinais com práticas pautadas na visualidade, porque o conceito tradicional de
educação linear continua sendo dominante e para os surdos, a imagem apenas é usada
como um apêndice do texto escrito; é preciso que o texto seja explorado em toda a sua
potencialidade (extra) linguística em ações práticas para o desenvolvimento de
metodologias de aprendizagem para os alunos surdos (LEBEDEFF, 2010).
Dentro deste cenário diante das dissertações lidas, observa-se a necessidade não só de
readequação curricular, mas também – e talvez principalmente – do reconhecimento da
importância da língua de sinais como a possibilidade de usufruto de um direito
fundamental aplicado ao contexto cultural que envolve a população surda. Fazer-se
compreendida a língua de sinais é possibilitar o enriquecimento cultural advindo da
contribuição dessa população específica ao contexto que a circunda.
Segundo Witkoski e Douettes (2014, p. 45), “[...] educação na diferença deve se dar
pela via da mediação intercultural, colocando esse aluno em contato com sua diferença,
a fim de que aconteça a subjetivação e as trocas culturais”. É importante que os alunos
tenham uma educação que abarque a sua própria cultura nesta mediação intercultural,
objetivando-se desconstruir preconceitos e discriminação. Abandonar a visão
monocultural é uma posição que todos devemos ter principalmente os docentes que
estão diretamente ligados aos educandos e poderão possibilitar uma educação
intercultural dentro de um interculturalismo que proporcionará o acesso dos
participantes de grupos minoritários à sua cultura e às outras culturas.
visual. Além disso, é necessária a compreensão acerca da relação com o tema proposto,
lembrando-se do contexto cultural do aluno e da sua ligação com o assunto
Para Witkoski e Douettes (2014, p.45), trabalhar com o interculturalismo é destacar que:
“o currículo escolar necessita conter não apenas os elementos temáticos da cultura
surda, mas ser organizado dentro da perspectiva visual da aprendizagem dos mesmos
(alunos surdos)”. O letramento visual é uma dessas possibilidades, pois consiste no uso
de recursos para representar a imagem e no planejamento de estratégias para interpretar
e entender os conteúdos e, com isso, precisa ser compreendido a partir de práticas
sociais e culturais de compreensão de imagens. “Esse letramento necessita de práticas
intencionais, sejam práticas escolares ou não” (2010, p.180). Isso é importante, porque o
conceito tradicional de educação linear continua sendo dominante e a imagem apenas é
usada como um apêndice do texto escrito.
CONCLUSÃO
Diante dos dados coletados na base de dados dos trabalhos selecionados, conclui-se que
o currículo caminha a passos lentos rumo a se permanecer o mesmo, mas em muitas
vezes, aspectos mais basilares são priorizados, inferiorizando então os aprendizados dos
surdos. A questão linguística torna-se um dos desafios curriculares nas dissertações
analisadas sendo apenas uma ferramenta para a concretização das ações que se
denominam inclusivas. A visualidade nem sempre é explorada em toda a sua
potencialidade e geralmente é restrita ao uso da imagem.
É notável o anseio pela concretização das ações bilíngues dentro do currículo e estas
devem ser reconhecidas, entretanto há muito que caminhar para favorecer uma educação
de qualidade aos surdos, pois eles ainda sofrem com o problema da incompatibilidade
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Compreende-se que apesar de estados distintos entre as pesquisas, elas transitam pela
mesma realidade. Apesar de a educação de surdos contar com um crescente
conhecimento e aumento considerável de publicações sobre o assunto, o que leva a
pensar que existe um interesse nessa área, é necessário que o interesse transite entre,
além de discursos e linhas teóricas, práticas para atender as especificidades desse
alunado e maximizar as potencialidades deles.
REFERÊNCIAS
CANDAU, V. M.; Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: CANDAU, V.
M. Multiculturalismo diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ, Vozes, 2013
COSTA, M. C. S. Educação inclusiva e prática docente: tenho um aluno surdo em minha sala. E
agora? Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2013, 115p.
FERNANDES, E.; RIOS, K.R. Educação com bilinguismo para crianças surdas. Intercambio, v. VII,
p. 13-21, 1998.
LACERDA, C. B. F. de. Um pouco da história das diferentes abordagens na Educação dos surdos.
Caderno CEDES, Campinas, v. 19, n. 46, 1998.
LEBEDEFF, T. B. Aprendendo a ler “com outros olhos”: relatos de oficinas de letramento visual
com professores surdos. Cadernos de Educação, FaE/PPGE/UFPel, Pelotas, p.175-195, 2010.
LIMA, N.M.F. de. Inclusão escolar de surdos: o dito e o feito. In: Letramento, bilinguismo e educação
de surdos. Porto Alegre, Mediação, 2015.
QUADROS, R. M. de. Bilinguismo. In: Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre:
Artmed, 1997, p. 21-33.
LINHA DE INSCRIÇÃO
LINGUÍSTICA
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RESUMO
1
Graduando do curso de Letras – Libras/Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. E-mail: augusto.cdea@gmail.coml 2 Graduanda do curso de Letras –
2
Libras/Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:
vanessapedagogica@gmail.com
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RESUMO
RESUMO
Esse artigo visa discutir abordagens teóricas sobre os conceitos de língua, surdez e
linguagem, desmistificando preconceitos sociais e culturais sobre o sujeito surdo, que
muito luta para que seja validada sua autonomia identitária, cultural e linguística. Para
tal, objetiva-se compreender os conceitos de língua, linguagem e surdez numa
perspectiva sócioantropológica, representando um grande passo para que se entenda a
importância da Língua de Sinais na vida do povo surdo. Assim, perceber que a
linguagem é um campo amplo que engloba toda forma de comunicação, que a língua
está dentro desse campo possuindo regras que norteiam seu funcionamento, e que a
surdez é uma diferença a ser compreendida pela sociedade, é essencial para que se
compreenda que o surdo é na realidade bilíngue — tem a língua de sinais como natural,
mas está inserido numa comunidade de ouvintes, que utilizam uma língua oral, essa
culturalmente mostra-se como língua dominante a partir de uma lógica de hegemonia.
Para isso é preciso que a sociedade como um todo reconheça as línguas de sinais como
legítimas, tão quanto elas são, comprovadas pelos estudos de STOKOE em 1960. O
reconhecimento das línguas de sinais, nos leva, consequentemente à ideia de surdez, que
tem sido associada a uma patologia, visão medicalizada e preconceituosa, ela
desconsidera totalmente o sujeito surdo como parte de uma cultura surda, excluindo-o,
limitando-o de modo hegemônico, egocêntrico e dominador. A relevância dessa
pesquisa se dá na assimilação social de que a pessoa surda, como qualquer outra, tem o
direito de ocupar qualquer espaço, não por inclusão, mas por direito. A história dos
surdos é um exemplo do quanto foram cruéis as tentativas de impedir a comunicação
por sinais. Porém, o modo como resistiram, passando de geração para geração, mostra
como são de fato, línguas, que possuem princípios e parâmetros como qualquer outra.
Tendo como referência autores como GESSER (2009), QUADROS (2004), STROBEL
(2008), MOURÃO e KARNOPP (2008), HALL(1997), BRASIL (2002), BRASIL
(2005), PERLIN (2004), SKLIAR (2001), CHOMSKY (1998), BAKTHIN (1992) e
outros, que contribuíram na busca investigativa das implicações sociais na vida do
sujeito surdo quando os conceitos básicos de língua, surdez, linguagem e cultura não
são compreendidos. A metodologia deste estudo foi à pesquisa bibliográfica que nos
norteou a luz de estudos dos já elaborados e consistentes sobre a temática aqui
abordada. Ao fim dos nossos estudos consideramos que os conceitos de língua, surdez,
linguagem e cultura ainda reverberam na sociedade como senso comum, as pessoas os
desconhecem na área da surdez e por conta disso, o domínio de uma língua tida como
majoritária tenta impedir a expansão e difusão da língua de sinais como língua natural
das comunidades surdas brasileiras. Dito isso, esse artigo representa um passo rumo ao
1
UFBA – Universidade Federal da Bahia – carolinessribeiro@outlook.com
2
Professora Auxiliar de Libras da Universidade Federal da Bahia- UFBA
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entendimento de que a cultura surda existe e deve ser respeitada e validada como
qualquer outra e que a visão patológica sobre a surdez contribui bastante para que
fossem impostos padrões normativos e dominantes, no entanto os estudos surdos têm
objetivo de evidenciar a surdez numa ótica de diferença identitária e cultural.
RESUMO
1
Curso de Letras- Libras/Língua Portuguesa como L2/ danibnatal@gmail.com
2
Curso de Letras - Libras/Língua Portuguesa como L2/ gabrieladantas2012@gmail.com
3
Professor do Curso de Letras- Libras/Língua Portuguesa como L2/ joatanfm@yahoo.com
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RESUMO
O proposto trabalho tem por objetivo discorrer, acerca da Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), os aspectos linguísticos e, por sua vez, semânticos que envolvem esta
língua, explanando o conceito de linguagem, língua, como também a função da
linguística e a importância deste estudo. Desta forma, pretende-se também esclarecer os
processos linguísticos que determinado grupo utiliza na própria relação e uso da
LIBRAS , assimilando assim os sinais na produção de sentido, uma vez que o estudo
linguístico da comunidade surda localizada na cidade de Irecê-BA, visa compartilhar
um relato de experiência no qual propicia conhecimento teórico e prático , visto que os
dados apresentados foram analisados na sua própria instância .Além disso, tenciona
estimular à novas pesquisas e ajudar na disseminação da língua Brasileira local,
facilitando então identificar as variações linguísticas .Várias contribuições teóricas
foram imprescindíveis para a assimilação do conteúdo , dentre alguns, Quadros
(2004,2008) , Skliar (1998) , Mussalim e Bentes (2004) .
INTRODUÇÃO
Desta forma, a linguística foi tomando estrutura em decorrer de estudos durante os anos
e estabelecendo áreas da língua para serem pesquisadas como a
Fonética, Fonologia, Morfologia,Filologia Sintaxe,Semântica, Lexicologia, Terminologi
1
Aluna do 6º semestre do Curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia, DCHT – Campus XVI,
Brasil.- gildenicebarbsouza@gmail.com
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a, Estilística e Pragmática. Vale salientar que, até então, estamos falando dos estudos
linguísticos das línguas orais. E as línguas de sinais? Por muito tempo os surdos foram
proibidos de usar sua língua, pois aquele conjunto de gestos não eram reconhecidos
como língua, ouvintes insistiam em impor a língua oral como melhor alternativa
“proibiam as manifestações do signo visogestual das expressões espontâneas do
corpo”, mas isso foi em vão (SKLIAR 2015, p35). A língua de Sinais resistiu,
permanecendo viva durante um século de proibição, provando assim, as propriedades
linguísticas resistentes ao tempo e a significância para aquele determinado grupo. Foi a
partir de 1960 que os estudos Linguísticos da Língua de Sinais foram aprofundados,
sendo reconhecida, como objeto para estudo e não mais como gestos vazios ou
“mímicas” (LUZ ,2013,p.109).
Desde 1856 aqui no Brasil que a Língua Brasileira de Sinais ( LIBRAS) foi
expandindo-se com influência de alguns Sinais da França (LSF), pois o primeiro
professor era francês, e por meio de alguns sinais já desenvolvidos pelos surdos
brasileiros ( SKLIAR ,2015 ,p39). Porém, foi regulamentada como Língua oficial do
País somente em abril de 2002 registrada na lei Nº 10. 436, possibilitando o
reconhecimento e disseminação da língua por meio de seus usuários. Atualmente é
possível o uso de uma língua própria deste grupo de pessoas, e através desta
comunicação permite-se a interação com surdos e ouvintes e também abre portas para a
educação e interação.
Assim, pretende-se com este trabalho descobrir e avaliar como acontecem os processos
linguísticos e semânticos do município de Irecê visto que os dados apresentados foram
analisados na sua própria instância, explanar o conceito de linguagem bem como a
função da linguística e contribuir com a visibilidade da comunidade surda do território
além de estimular à novas pesquisas e ajudar na disseminação de informações.
inclusivo a respeito dos surdos, Mussalim e Bentes (2004) nos auxilia com informações
referentes à constituição desta ciência chamada Linguística e procura compreender o
complexo fenômeno da linguagem em decorrer da história.
Há até mesmo, surdos que não compreendem a própria língua, alguns foram
descobertos e estão aprendendo depois da vida adulta, outros certamente estão fugindo
da vida social acorrentados em seu próprio mundo imaginário, temerosos da sociedade
que pouco soube lidar com tal diferença . Esta realidade não se restringe à nossa região,
há lugares em todo o país nesta mesma condição ou em situação pior. É necessário
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 267
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Mas nos últimos anos o movimento da comunidade surda aqui no município, tem
fortalecido e proporcionado conhecimento da Língua e da cultura surda para a
sociedade. Com a ajuda de surdos já sinalizados o Colégio Estadual Governador
Antônio Carlos Magalhaes em parceria com a Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) tem colocado em prática desde 2015 um projeto chamado Filhos do Silêncio,
pensado e articulado por uma determinada professora que brilhantemente tem assumido,
com amor e determinação, a responsabilidade de impulsionar conhecimento da LIBRAS
para todos, inclusive surdos que não tinha esse conhecimento. Com a ajuda de surdos já
sinalizados, que estudam no próprio colégio, ela ministra aulas expositivas e praticas
fornecendo um curso gratuito certificado pela UNEB-DCHT campus XVI, de 120
horas. Promovendo aos graduandos dos cursos de licenciatura aprofundar e agregar
conhecimentos imprescindíveis para a formação dos mesmos.
Foi lançada a causa para todos os presentes, o apoio à ASISTIR e a oferta de cursos
preparatórios sobre a LIBRAS para as pessoas interessadas. Discutiu-se como a
sociedade vem segregando os surdos e deixando à margem, sem direito a conhecer a
vida por meio de sua própria língua, que se difere do português pela sua gramática e
pela representação viso-espacial. A comunidade contribuiu com depoimentos
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Para entendermos melhor, a partir do nascimento, uma criança ouvinte é inserida em seu
meio linguístico e desde pequena começa a aprender a sua própria língua, esta criança
vai pra escola e mesmo sendo instruída por muito tempo por seus pais , familiares e
sociedade, não garante um bom desempenho escolar. Analise então uma situação real
que resume a vida de muitos surdos da região principalmente daqueles que possuem
poder aquisitivo menor, na qual, a criança nasce surda numa família de ouvinte em que
nada sabe sobre língua de sinais e não recebe orientação nenhuma sobre como educar
seu filho, por conta disso a comunicação é impossível, requer muito tempo e paciência
para que seu contato diário entre todos seja possível .
Chega então a hora de colocar na escola, pois já se passou muito tempo em casa, numa
forma de proteção os pais temem colocar muito cedo por ser uma criança “diferente” e
sem suporte específico com profissionais adequados, talvez porque a cidade pacata não
disponibiliza intérprete muito menos apoio pedagógico na Língua mãe do aluno, ou
talvez uma escola regular com atendimento especializado, que é um direito, garantido
por lei sob o Decreto Nº 5. 626 de 22 de dezembro de 2005, que enfatizou por meio do
direito legal que a educação bilíngue é imprescindível para a educação dos surdos.
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Olhar para uma educação bilíngue é dar primazia a língua que aquele falante utiliza
como a primeira língua dele, no caso dos surdos aqui no nosso país: a LIBRAS.
[...] Assim, a semiótica não se ocupa, por exemplo, da descrição frasal, mas
filia-se às abordagens semânticas que rompem a barreira da frase atingindo o
texto. Tradicionalmente atenta às teorias linguísticas, no entanto, a semiótica
vai, logo e a seu modo, juntamente com a linguística enunciativa, incorporar
em seus domínios a questão da enunciação. (BENTES, 2004, Pp394)
Desta forma podemos afirmar que a semiótica é uma “teoria geral da significação,
mesmo sendo uma teoria da linguagem” não exclusivamente da linguística (BENTES,
2004, Pp394) exerce um papel importante que é de levar a semântica para sua
construção, uma vez que, a semântica constitui um elemento responsável para
entendermos a criação de sentido em uma língua. Visto que nosso foco é a Língua
Brasileira de Sinais, precisamos desmistificar a ideia de que a LIBRAS é apenas uma
linguagem e não uma língua. A linguagem é definida pelas tendências funcionalistas
“como um instrumento de interação social, empregado por seres humanos com o
objetivo primário de transmitir informação entre interlocutores reais” (BENTES, 2004,
p 169) Porém, QUADROS descreve como “meio de comunicação abrangente que
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Em meio aos estudos linguísticos percebemos que a Língua de Sinais requer transmitir
sentido mais do que ordem ou significado de sinal quando isoladamente, porém, isso
não anula a necessidade de seguir a gramatica da Língua, isso quer dizer que há
variações linguísticas e é necessário “ter consciência da representação das diferenças:
cultural, histórica e de identidade [...]” (ROSA, 2008 Pp 58), assim como as demais
línguas, e que muitos surdos estabelecem uma comunicação morfologicamente correta
sem ao menos estudar os cinco parâmetros que envolve a LIBRAS, ou até mesmo, se
comunicar gramaticalmente “incorreto” porém, transmiti o sentido desejado com o
interlocutor que também está inserido no mesmo contexto social e cultural do falante e
por isso compreende o discurso “Isso significa que o enunciador, ao construir seu
discurso, leva em conta o discurso de outrem” (ROSA, 2008 Pp 98). Mas pode ocorrer
variação de sentido caso a mesma comunicação seja estabelecida com um interlocutor
que foi imergido a contextos sociais e culturais diferentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Educação (CNE/CP). Decreto no. 5.622, de 2005. Dispõe sobre a
Regulamentação do art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Brasília, 2005
QUADROS, R. M. de & KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre:
ARTMED, 2004.
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ROSA, Andréa da Silva Rosa. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade
da tarefa do intérprete. Niterói: Arara-Azul, 2008.
SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferenças. In: ______. A surdez:
um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 7 Ed 1998b, 2015 .
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RESUMO
1
Mestre em Diversidade e Inclusão pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal
Fluminense-UFF/RJ (2015). Pós-Graduando Lato-Sensu em Educação de Surdos: uma
perspectiva bilíngue em construção pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos-INES/RJ
(2017). Graduando em Licenciatura em Letras Libras pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro-UFRJ (2017). Graduado em Pedagogia pela Universidade Salgado de Oliveira-
UNIVERSO/RJ (2005). Professor de Libras do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro
- UNILASALLE/RJ.
2
Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (2016).
Graduanda em Licenciatura em Letras Libras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-
UFRJ (2017).
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RESUMO
A publicidade utiliza cada vez mais estratégias, no intuito de obter uma identificação do
público para com os produtos anunciados, estabelecendo, a partir daí, uma relação, que
se deve tornar familiar e, muitas vezes, quase íntima, aos olhos do consumidor. Desse
modo, a publicidade trabalha com a sedução, isso por que ela não tem a autoridade de
ordenar, “compre este produto”, ela usa da manipulação disfarçada, convencendo e
seduzindo o consumidor para que este, depois de manipulado, considere o produto uma
necessidade em sua vida; desse modo, objetivamos analisar a construção da imagem do
ethos no discurso publicitário como uma estratégia manipulativo-persuasiva utilizada
pelo enunciador para persuadir seu leitor-consumidor. Este trabalho tem como propósito
analisar a capacidade de persuasão da publicidade frente ao consumidor, identificando
as estratégias utilizadas à luz da Análise do Discurso. É nosso objetivo “desconstruir” o
texto e “reconstruí-lo” para depreender efeitos de sentido e observar como nele se
constrói a imagem do ethos como uma estratégia manipulativo-persuasiva utilizada pelo
enunciador para persuadir seu público-alvo. Elegemos para a nossa análise um anúncio
publicitário do Itaú Seguros, lançada na mídia impressa em outubro de 2016. Essa
pesquisa se desenvolveu por meio de um estudo de caso de abordagem qualitativa. A
fonte de pesquisa foi um grupo de 10 alunos surdos de um curso de extensão de uma
instituição federal no município de São Carlos. Foram trabalhados 4 anúncios
publicitários do Itaú Seguros, destacando os elementos persuasivos como cores,
posição, traçados, formas e o texto verbal do gênero apresentado. Destacamos a
importância de se trabalhar a composição da imagem publicitária na perspectiva
bilíngue como forma de apresentar uma abordagem reflexiva e crítica em relação às
técnicas de manipulação do gênero anúncio publicitário.
RESUMO
1
lucimeirefurlaneto@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso/CEFAPRO/Cuiabá
2
mendesdearruda74@gmail.com, IFMT Campus Cuiabá/UFMT-PPGEL
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RESUMO
Com o objetivo de refletir acerca dos desafios das pesquisas linguísticas sobre as línguas de
sinais no contexto brasileiro, este trabalho pontuará e discutirá as seguintes questões: os
desafios das descrições e análises linguísticas das línguas de sinais indígenas; os caminhos e
desafios emergentes das análises fonológicas dos sinais; a incipiência dos estudos em
sociolinguística da Libras; as políticas linguísticas para as línguas de sinais; e, por fim, os
estudos do discurso nas línguas sinalizadas. Adotando-se uma perspectiva quantitativa de
análise, foi realizado um estudo de levantamento nos bancos de dados da CAPES, SciELO e
PubMed, a fim de se verificar o quantitativo de estudos linguísticos com enfoque nas línguas de
sinais. Em prosseguimento, foram discutidas as questões mencionadas com base na leitura
minuciosa dos trabalhos que foram selecionados a partir do estudo de levantamento. Para que as
pesquisas linguísticas das línguas de sinais contemplem não apenas as visões estruturalistas ou
funcionalistas, é necessário (re)conhecer e examinar as questões emergentes no tocante à
Linguística dessas línguas.
PALAVRAS-CHAVES: Linguística. Libras. Fonologia. Sociolinguística. Políticas linguísticas.
ABSTRACT
With the purpose to reflect on the challenges of the linguistic researches about sign languages in
Brazilian context, the present work will point out and discuss the issues which follow: the
challenges on the linguistic descriptions and analyzes of indigenous sign languages; the paths
and challenges emerging from the phonological analysis of the signs; the incipience of
sociolinguistic studies of Libras; language policies for sign languages; and lastly discourse
studies in sign languages. By adopting a quantitative analysis, I conducted a survey on CAPES,
SciELO and PubMed aiming at verifying the amount of linguistic studies focusing on signed
languages. After the survey study, relevant works were selected to discuss the issues
abovementioned. It is thus necessary to (re)cognize carefully through a scrutiny the emerging
topics as concerns sign languages’ Linguistics, so that linguistic researches of those languages
consider other views apart from structuralist and functionalist perspectives.
KEYWORDS: Linguistics. Libras. Phonology. Sociolinguistics. Language policies.
1
Professor Assistente no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. Também é tradutor e
intérprete de Libras e Língua Inglesa. Atualmente, é doutorando no Programa de Pós-graduação em
Língua e Cultura (PPGLinC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail institucional:
rcrcosta@ufba.br. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1729585565660340.
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INTRODUÇÃO
Com o propósito de refletir acerca destes desafios, este artigo busca conjecturar as
questões emergentes que estão inextricavelmente relacionadas a estes desafios, a fim de
que, a partir das problematizações que serão doravante apresentadas, elas se configurem
não apenas como temas para discussão/reflexão, mas também como pontos de partida
para futuras investigações por linguistas e/ou outros estudiosos da linguagem.
Convém pontuar que serão discutidos em seções específicas neste artigo os seguintes
tópicos: (i) os desafios das descrições e análises linguísticas das línguas de sinais
indígenas; (ii) as caminhos e desafios emergentes das pesquisas em fonologia da Libras;
(iii) a incipiência dos estudos em sociolinguística aplicada às línguas de sinais; (iv) as
questões de políticas linguísticas relativas às línguas de sinais no contexto brasileiro; e,
(v) os estudos do discurso e a Libras.
DA METODOLOGIA
DOS RESULTADOS
Nas tabelas abaixo, estão descritos os resultados quantitativos. Estes resultados foram
dispostos da seguinte forma: a primeira tabela (Tabela 1) expõe os dados relativos aos
trabalhos encontrados no Banco de Teses e Dissertações da CAPES; a segunda tabela
(Tabela 2) expõe os dados relativos aos trabalhos encontrados no banco de dados do
portal SciELO; e a terceira tabela (Tabela 3) expõe os dados relativos aos trabalhos
encontrados no banco de dados do portal PubMed. Em cada uma das tabelas
apresentadas, os dados estão organizados em termos de: TE – Trabalhos Encontrados;
TNS – Trabalhos Não-Selecionados; e, TS – Trabalhos Selecionados.
2
Na realidade, com relação ao DES – sociolinguistica AND “lingua de sinais” –, foram achados 4
(quatro) artigos na SciELO. Entretanto, tendo em vista que o artigo de Ianni e Pereira (2009) estava com
entrada duplicada, para fins da análise aqui apresentada, essa duplicação foi desconsiderada e, por isso,
colocou-se 3 (três) artigos encontrados em vez de 4 (quatro).
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Ao observar as tabelas anteriores, pode-se inferir que os bancos de dados das bibliotecas
da CAPES e da PubMed contêm muito mais estudos sobre as línguas de sinais quando
comparados ao banco de dados da biblioteca da SciELO. Em geral, os estudos mais
encontrados referem-se às pesquisas sobre fonologia, políticas linguísticas e discurso
em língua de sinais. Convém lembrar que este levantamento foi realizado no período de
abril de 2018.
Vale ressaltar, também, que os estudos que foram descartados (TNS), apesar de terem
sido exibidos nas buscas, não apresentaram contribuições significativas para a reflexão
acerca dos desafios das pesquisas linguísticas.
Enfim, a breve análise quantitativa foi necessária para o levantamento dos estudos
linguísticos sobre as línguas de sinais. Porém, já que nem todos os trabalhos
encontrados serviriam de embasamento para a análise qualitativa, foram selecionados
trabalhos (TS) de acordo com os critérios anteriormente mencionados. A partir da
leitura destes trabalhos, foi possível refletir e elucidar os desafios das pesquisas
linguísticas sobre as línguas de sinais. Estes desafios serão explicitados nos tópicos
subsequentes.
Ruben (2005) apresenta que, no período que compreende o século V a.C. até o século
VI d.C., são encontrados registros que demonstram a existência de línguas de sinais
autóctones/nativas. Deste modo, no Crátilo de Platão, narra-se que havia formas de
comunicação gestual/visual ainda no século V a.C. (cf. PLATÃO, 2001).
Azevedo (2015), Damasceno (2017), Giroleti (2008), Sumaio (2014) e Vilhalva (2009)
realizaram pesquisas linguísticas com enfoque nos sinais caseiros ou emergentes
utilizados em comunidades de prática indígenas. Embora estes pesquisadores tenham
contribuído de maneira significativa para a discussão e defesa das políticas linguísticas
para os povos indígenas, ainda há necessidade de pesquisas mais robustas com relação
aos aspectos linguísticos, sobretudo os de natureza morfofonológica, sintática e
semântica, dos sinais utilizados pelas diversas etnias indígenas do Brasil.
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Entrar no mundo indígena muitas vezes ainda é visto como enigma para
alguns. [...] Quando entro no mundo das línguas ágrafas sem intérprete ou em
uma língua em construção, como algumas línguas indígenas na modalidade
escrita, sempre busco material que possa me dar um norte. Com relação ao
índio surdo, eu não encontro algo específico nas escolas indígenas de
referência ou mesmo dados nas narrativas orais ou sinalizadas sobre a
existência destes. (VILHALVA, 2012, p. 7-8)
3
Cf. Battison (1974; 1978), Boyes-Braem (1981), Brentari (1998), van der Hulst (1989, 1993, 1996),
Liddell e Johnson (1989), Padden e Perlmutter (1987), Perlmutter (1990), Sandler (1986, 1987, 1989,
1990) e Uyechi (1994, 1996).
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Embora a ideia de “fonologia de língua de sinais” possa causar estranheza, este não é
um objeto novo no campo dos estudos linguísticos. Além das bibliotecas eletrônicas
utilizadas para este estudo, uma pesquisa rápida em outros indexadores (p. ex. Elsevier,
Medline, Google Scholar)4 indicou que podem ser encontrados centenas ou até milhares
de artigos com os termos “sign language phonology” (fonologia da língua de sinais).
Que caminhos temos trilhado para a reflexão acerca da fonologia de língua de sinais na
conjuntura nacional? Para responder essa questão, serão elencados cronologicamente as
pesquisas com ênfase na fonologia da Libras [itens 1 a 8] que foram encontradas no
banco de dados da CAPES:
[1] Karnopp (1999) investigou a produção dos primeiros sinais na Libras, com
base em princípios da Fonologia da Dependência. Seu estudo focou na
aquisição fonológica de configurações de mão, locações e movimentos, numa
criança surda, filha de pais surdos;
[2] Xavier (2006) buscou descrever as unidades do nível fonético-fonológico da
Libras, baseando-se no modelo de análise sublexical proposto por Liddell
(1984) e desenvolvido por Liddell e Johnson (1989);
[3] Cruz (2008) propôs um instrumento para avaliar a consciência fonológica de
crianças surdas, usuárias da Libras. Em seu estudo, o foco da avaliação foi o
parâmetro da configuração de mão, e, além disso, a autora analisou também o
próprio instrumento em termos de aplicabilidade e eficácia;
[4] Antunes (2011) apresentou o desenvolvimento de um modelo para a descrição
computacional dos aspectos fonológicos dos sinais;
[5] Costa (2012b) propôs um instrumento para avaliar a fonologia da Libras
(FONOLIBRAS) e, utilizando-se do modelo prosódico (cf. BRENTARI,
1998), realizou descrições de processos fonológicos;
[6] Aguiar (2013) sugeriu uma hipótese para a estrutura silábica da Libras. Em seu
estudo, ele postulou que a estrutura silábica na Libras é composta de: (i)
Ataque – Configuração de Mão (que embute o formato da mão e a orientação),
(ii) Núcleo – Ponto de Articulação ou Locação, e (iii) Coda – Movimento;
[7] Baseando-se em pressupostos da sociolinguística laboviana, Andrade (2013)
realizou descrições da variação fonológica da Libras observada na comunidade
surda paraibana;
4
Cf. Elsevier (https://www.elsevier.com/pt-br), Medline (https://bvsalud.org/) e Google Acadêmico
(https://scholar.google.com/).
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[8] Zancanaro Jr. (2013), ao observar a estrutura interna dos sinais produzidos por
dois grupos de usuários da Libras como segunda língua (usuários fluentes e
não-fluentes), analisou as distorções fonológicas em termos dos processos
fonológicos de apagamento, epêntese, substituição e metátese;
[9] Apesar do estudo de Silva (2015) estar inserido no campo dos estudos da
tradução, a sua relevância para o campo dos estudos fonológicos está no fato
de ele apresentar descrições de processos fonológicos que ocorrem para a
formação das gírias na Libras.
Esses desafios não devem ser entendidos como críticas para desqualificar a relevância
dos estudos acima mencionados, mas devem ser considerados como pontos de reflexão
para que tenhamos uma linguagem mais universal que aproxime cada vez mais os
estudiosos da fonologia das línguas de sinais.
Tendo como foco o estudo da língua em seu uso real, a Sociolinguística leva em
consideração “as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da
produção linguística.” (CEZARIO; VOTRE, 2009, p. 141).
E quanto aos estudos sociolinguísticos dos sinais? Quais campos de investigação têm se
constituído?
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 286
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Nosso conhecimento da estrutura linguística básica das línguas de sinais está
aumentando a cada dia, e a noção de que as línguas de sinais não são “línguas
autênticas” está felizmente em risco de extinção. As pesquisas têm sido
realizadas em todas as áreas da sociolinguística, incluindo o multilinguismo,
o bilinguismo e o contato linguístico, a variação, a análise do discurso, o
planejamento e a política linguística, e as atitudes linguísticas. (LUCAS,
2001, p. 5, tradução nossa)
No tocante à Língua Americana de Sinais (ou American Sign Language – ASL), há uma
gama de estudos no domínio da sociolinguística. Quanto aos estudos neste domínio,
podem-se destacar as seguintes obras: “a língua de sinais em seu contexto social”
(WASHABAUGH, 1981); “a sociolinguística das línguas de sinais” (LUCAS, 2001);
“variação sociolinguística na Língua Americana de Sinais” (LUCAS; BAYLEY;
VALLI, 2001); “a língua e a lei nas comunidades surdas” (LUCAS, 2003); “variação
sociolinguística e mudança nas línguas de sinais” (SCHEMBRI; JOHNSTON, 2013);
“sociolinguística e comunidades surdas” (SCHEMBRI; LUCAS, 2015); “a tipologia
sociolinguística e as línguas de sinais” (SCHEMBRI et al., 2018). Todas estas obras
foram publicadas em língua inglesa e não há traduções delas disponíveis para a língua
portuguesa.
Dos trabalhos apresentados no quadro acima [13], dez [10] representam estudos em que
há análises linguísticas no que tange à Língua Brasileira de Sinais. Destes dez estudos, a
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 288
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
Pelo exposto, nota-se que são incipientes os estudos no que diz respeito à
sociolinguística da Libras. Vislumbra-se, portanto, que o desafio neste campo esteja
concatenado à seguinte questão: por que as instituições de ensino superior, sobretudo os
programas de pós-graduação em Letras e/ou Linguística, têm se mantido reticentes para
dar crédito às pesquisas na área da sociolinguística da Libras? Não sendo possível
responder esta questão por ora, resta-nos, então, conduzir pesquisas dentro dos referidos
programas para fazer o levantamento das possíveis respostas.
5
Cf. Skliar (1997), Silva (2006), Machado (2008) e Lulkin (2015).
6
As línguas brasileiras de sinais abarcam, além da Libras (reconhecida através da Lei n. 10.436/2002), os
sinais emergentes ou caseiros que estão presentes, sobretudo, nas comunidades indígenas.
7
Cf. Lei n. 10.436/2002 e Decreto n. 5.626/2005.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 289
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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Essas conjecturas também podem ser entendidas como desafios emergentes no que
tange às políticas linguísticas. Sobre a relevância da implantação/implementação de
política(s) linguística(s) para as línguas de sinais, é oportuno citar que:
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 290
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Podemos considerar que a política linguística, com a sua preocupação entre o
poder e as línguas, é uma proposta de realizar a planificação linguística,
incluindo a criação de escolas bilíngues e de legislações específicas para as
questões referentes às línguas, seja elas na modalidade oral, escrita ou de
sinais. (VILHALVA, 2012, p. 36)
Não se julgou, pois, cabível trazer os TS da PubMed, levando-se em conta que os oito
trabalhos encontrados, além de apresentar questões de políticas linguísticas de outras
línguas sinais, debatiam pontos semelhantes aos que já foram acima mencionados.
De acordo com Valli et al. (2005), em sociolinguística, o termo discurso é utilizado para
se referir a qualquer uso da língua que extrapola a sentença. Este termo carrega sentidos
tão diversos como a referência para uma conversa particular ou para arenas sociais mais
amplas (p. ex. o “discurso político”). (VAN DIJK, 1997).
Para fins de análise linguística do discurso, este termo é um pouco mais restrito. Isso
não quer dizer, no entanto, que a análise discursiva neste sentido está limitada às
análises linguísticas que vão dos níveis fonológicos aos sintáticos. Segundo Stubbs
(1983), a análise do discurso se refere ao estudo da linguagem para além do nível da
análise gramatical.
“Falar em Análise do Discurso [AD] pode significar, num primeiro momento, algo vago
e amplo, já que toda produção de linguagem pode ser considerada ‘discurso’.”
(MUSSALIM, 2012, p. 113). Por isso, não será pertinente neste momento discorrer
acerca das diversas correntes filosóficas da AD. É importante contextualizar, no entanto,
que:
Posto isso, questiona-se: que estudos têm sido realizados na perspectiva da AD com
enfoque na Libras? Embora não seja possível dar uma resposta categórica para esta
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 291
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questão, serão ilustrados alguns dados da pesquisa realizada com o intuito de fornecer
uma visão geral a respeito das pesquisas em AD que tocam na área de línguas de sinais.
É necessário esclarecer que se fez referência às línguas de sinais, e não somente à
Libras, tendo em vista que houve trabalhos de outras línguas de sinais encontrados na
SciELO e na PubMed.
50
45
40
35 13
30
25
20 12
15 24
10 -
11 1 8
5 5
-
CAPES SciELO PubMed Total por Áreas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Que os desafios referidos ao longo deste artigo possam ser problematizados e discutidos
em estudos futuros, a fim de que as investigações em línguas sinalizadas sejam
fomentadas e ampliadas. Possivelmente, devem existir outros desafios que não tenham
sido mencionados neste trabalho. Assim sendo, espera-se que os estudiosos da área
façam o levantamento de novas problemáticas, a fim de que haja o (re)conhecimento
e/ou recrudescimento de outros tópicos relevantes para as pesquisas em linguística da
língua de sinais.
REFERÊNCIAS
8
Cf. Quadros (2014).
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 294
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
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Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
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24, Graduate Linguistic Student Association, University of Massachusetts, Amherst,
1994.
RESUMO
Esta pesquisa faz parte dos estudos do Mestrado Acadêmico em Ensino, pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e encontra-se em fase inicial. Objetiva-se,
por meio deste estudo, analisar a prática docente construída por uma professora, do
Centro de Apoio Pedagógico de Ipiaú-BA, para ensinar leitura e escrita a alunos surdos
por meio do sistema SignWriting e as contribuições desse sistema no processo ensino e
aprendizagem dos alunos. O SignWriting é um sistema de escrita capaz de registrar no
papel qualquer Língua de Sinais sem o auxílio do sistema alfabético convencional.
Apesar deste trabalho focalizar o seu estudo no SignWriting – por esse ser o sistema de
escrita de sinais mais difundido, atualmente, no Brasil e no mundo – reconhece-se que
existem outros sistemas propostos. O SignWriting tem sido utilizado por algumas
instituições educacionais que adotam uma abordagem de ensino bilíngue para surdos,
pois seu ensino pode propiciar imersão na leitura e escrita visual, favorecer o
fortalecimento da Língua de Sinais valorizando-a como língua natural das pessoas
surdas. É importante salientar que o relatório sobre a Política Linguística de Educação
Bilíngue para Surdos (BRASIL/MEC/SECADI, 2014), defende que numa proposta
educacional bilíngue, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) deve ser a Primeira Língua
(L1) – a língua de instrução – e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, a Segunda
Língua (L2) a ser ensinada aos discentes surdos. O relatório destaca, ainda, que no
ensino de Libras precisa ser privilegiada a sua escrita, ou seja, a escrita de sinais
mediante o sistema SignWriting. No Brasil, as pesquisas em torno do SignWriting, a
exemplo de Ribeiro (2016), Wanderley (2015), Barreto e Barreto (2014), Silva (2009),
Capovilla et. al. (2006), Stumpf (2005), dentre outros, têm demonstrado que o
aprendizado da escrita de sinais pode favorecer o desenvolvimento linguístico do surdo
e ser um elemento a mais a ser exigido nas políticas educacionais bilíngues, sendo essas
premissas levadas em consideração nesta pesquisa que ora esboça-se neste resumo.
Esta, portanto, é uma pesquisa de natureza aplicada cuja abordagem metodológica é
qualitativa com as características típicas de uma pesquisa etnográfica. Para produção e
obtenção dos dados serão realizadas entrevista semiestruturadas com a docente bilíngue
do Centro de Apoio pedagógico de Ipiaú-Ba e com três discentes surdos(as) que
frequentam esse mesmo espaço de ensino. Também serão feitas observações a fim de
obter mais dados como, por exemplo, consulta aos planejamentos didáticos da
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino, PPGEN da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, UESB, BRASIL. E-mail: bibidabahia@gmail.com
2
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,UESB, BRASIL. Orientadora. E-mail:
prof.cida2011@gmail.com
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2012.
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2015.
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métodos. Porto: Porto, 1994.
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2016.
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arara-azul.com.br/site/edicao/86>. Acesso em: mar. 2017.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 301
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
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STUMPF, M. R.. Aprendizagem de Escrita de Língua de Sinais pelo sistema SignWriting: Língua de
Sinais no papel e no computador. Porto Alegre: UFRGS, CINTED, PGIE, 2005.
RESUMO
RESUMO
Esta pesquisa, em andamento, pretende contribuir para uma comunicação mais acessível
entre surdo e ouvinte, bem como a divulgação da sua língua na comunidade ouvinte da
cidade de Itapecuru-Mirim no Estado do Maranhão. A metodologia do trabalho, baseou-
se em três fases: a primeira no estudo da língua e da comunidade surda, a segunda: o
mapeamento dos locais a serem pesquisados e a terceira fase: a socialização do projeto
com a comunidade surda local, bem como a construção dos léxicos e o registro dos
sinais já existentes. Na construção dos sinais, utilizou-se de registro fotográfico dos
locais, como mecanismo de apoio visual para a construção dos léxicos. Elementos
linguísticos presentes na estrutura interna da língua de sinais (os cinco parâmetros) foi
utilizado para criar os sinais pela comunidade surda. Esta pesquisa tem como objetivo
de estudo a verificação de como a comunidade surda de Itapecuru-Mirim se refere a
logradouros e as instituições públicas e particulares, auxiliando-os caso não tenham
léxicos específicos para os referenciar e mapeá-los por meio de registro de imagem.
Durante o processo foi analisado se estes, sofreram alguma mudança fonológica e/ou
lexical em uma perspectiva diacrônica. Este trabalho está baseado nas ideias da
lexicografia e da teoria dos campus lexicais como também da teoria da variação e
mudança linguística, fundamentadas pelas pesquisas de Willian Labov, que considera as
influências externas (históricas, sociais, ideológicas, etc.) como o fator que influencia as
mudanças ocorridas na língua. Acredita-se que esta pesquisa ajudará a diminuir o
pensamento estereotipado e preconceituoso dos discentes com relação à Língua de
Sinais, valorizando a comunidade surda local, sua língua e sua identidade. O registro
dos sinais poderá servir de base para futuras pesquisas, pois como a Libras é uma língua
visual, registro desta língua na maioria das vezes se dá por meio de imagens ou vídeos e
assim explorar o campo linguístico desta comunidade.
1
keylliane.martins@ifma.edu.br
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Diante dos novos paradigmas que sinalizam para a construção de uma sociedade
inclusiva que acolha à diversidade, aceitando as diferenças, equiparando as
oportunidades, trazendo a pessoa surda para uma inclusão educacional e social de modo
que compartilhem suas experiências e moldem assim, suas relações sociais. A leitura
como um ato político, social, cognitivo e linguístico; e certamente, um dos aspectos que
mais preocupam os educadores de surdos. Cabendo nesse espaço a argumentação como
fundamental no processo de leitura para possibilitar a criação de uma determinada
intuição (defendida pelo argumentador) em torno de um sujeito ativo, participativo e
reflexivo.
Em detrimento disso, o decreto 5626/2005 dispõe que a Língua Portuguesa deve ser
ensinada a comunidade surda como segunda língua, o que torna o contexto educacional
e social fundamentado no bilinguismo. Dessa forma, temos o uso da Libras como
primeira língua (usada para comunicação) e, como segunda língua, a Língua Portuguesa
(que permite o acesso aos conteúdos escritos) (GOLDFELD, 2002).
Solé (1998), de uma forma simplificada, pontua como se processa o ato de leitura na
perspectiva interacional. Segundo a autora, o leitor se situa perante o texto, e os
elementos que o compõem (letras, palavras, imagens...) provocam nele diferentes
expectativas, de modo que as informações, ao serem processadas, funcionam como
input para o nível seguinte. Ou seja, simultaneamente, o leitor utiliza seu conhecimento
do mundo e suas expectativas no nível semântico, para que a compreensão do texto se
realize com potencial.
Por isso, é de extrema importância que os sujeitos surdos mantenham contato com as
duas línguas de maneira equivalente, mas que os conteúdos da Língua Portuguesa sejam
ensinados em Libras. Pois esse é caminho mais eficaz e confortável para que os
indivíduos aprendam a Língua Portuguesa, e assim possam argumentar melhor nela.
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Nesse contexto, a argumentação surge como produtora de efeitos na língua para além de
instruções estritamente denotativas, pois como afirma Koch (1996) todo discurso possui
uma ideologia que o subjaz. Ou seja, não há neutralidade e, automaticamente, sempre
haverá questões implícitas que foram construídos histórica e socialmente e que são,
naturalmente, cristalizados nas memórias e relações sociais dos indivíduos.
Nesse processo, os topois não constituem apenas uma relação entre dois conceitos, mas
constituem por si mesmos relações complexas. Nas quais, eles são possibilidades de
encadeamentos discursivos e devem ser compreendidos como possibilidades do
discurso, e não como conclusões dele. Nesse caso, um topos segundo o qual a riqueza
traz felicidade, não põe em relação uma ideia de riqueza e uma ideia de felicidade, mas
forma a noção de uma felicidade obtida a partir da riqueza e de uma riqueza capaz de
trazer felicidade. Ou seja, a atribuição da propriedade felicidade ao termo riqueza se faz
dentro da enunciação.
Parece-me que a ideia geral que domina todo o meu trabalho é a percepção de
que a língua (mais precisamente, deveríamos falar em discurso) não pode ser
reduzida à função informativa e que as frases da língua comportam,
semanticamente, elementos que não equivalem às condições de verdade
(DUCROT, 1996).
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TABELA 1
Oficina 1 Oficina 2
Oficina 3 Oficina 4 Oficina 5 Oficina 6
1. Transcrição dos dados: Os dados foram transcritos de Libras para Língua Portuguesa,
seguindo o Sistema de Transcrição utilizado pelo Grupo de Pesquisas da FENEIS
apresentado no livro LIBRAS em Contexto (1997) e pelas autoras Quadros e Karnopp
no livro Língua de Sinais Brasileira – Estudos Linguísticos (2004).
2. Seleção dos fragmentos a serem analisados: a escolha destes teve como critérios a
presença dos elementos: dificuldades com o léxico, dificuldade com a leitura, o uso da
argumentação no processo de leitura e a identificação das estratégias de mediação entre
as duas línguas. Para fundamentar a pesquisa utilizamos as propriedades da Teoria dos
Topoi Argumentativos de Ducrot (2002), que permitiram a identificação dos argumentos
construídos pelos sujeitos.
Após a realização das seis oficinas que introduziram nosso trabalho e proporcionaram a
coleta dos materiais necessários para analisar a argumentatividade no processo de
leitura em Língua Portuguesa por surdos que utilizam a Libras como meio de
comunicação, chegamos a alguns resultados que foram categorizados nos seguintes
tópicos: 1. Níveis de Leitura; 2. Dificuldades com o léxico da Língua Portuguesa; 3.
Uso da argumentação no processo de leitura; 4. Estratégias de mediação entre a Libras e
a Língua Portuguesa.
possuíam muito contato e, na maioria das vezes, possuíam mais de três silabas, como é
possível observar no gráfico 1.
Conjugações
Verbais
Palavaras de
temáticas
especificas
Palavras com mais
de três silabas
Além dos verbos, e os verbos em suas conjugações, situações nas quais apesar de
compreenderem o verbo quando lhes era explicado o seu sinal em Libras, eles não
discerniam o significado da palavra escrita em Língua Portuguesa, muitas vezes por
conta das conjugações que possibilitam diversas formas de uso para um mesmo item
lexical.
Após a leitura completa do texto lhes foi perguntado o que eles sabiam sobre o tema, e
mesmo eles não tendo compreendido cerca de 50% dos itens lexicais que ali se
encontravam (que em sua maioria eram palavras com mais de três sílabas como
“intensamente”, “proprietário” e “guloseimas”), a argumentação em torno da temática
foi realizada com o auxílio de seus conhecimentos prévios e partilhados pelo grupo. O
que nos remete a Teoria dos Topois, pois nota-se a presença de questões universais e
gerais no momento da leitura. Além do recorte citado, nas outras oficinas empregadas
também foram identificados elementos universais e gerais, não sendo evidenciado o uso
de elementos graduais, algo que também é proposto por Ducrot (2002).
No mais, baseado nas estratégias para mediação da leitura entre a Libras e a Língua
Portuguesa propostas por Aguirre (2009), identificamos em nossa pesquisa duas das
seguintes estratégias elencadas pela autora: mediação na leitura, processo no qual após a
leitura individual os pesquisados solicitavam a leitura em Libras; e o uso da datilologia,
uma soletração para requerer o significado na Libras, que ocorria quando as palavras
não eram compreendidas durante a leitura. Além dessas estratégias, os sujeitos tinham a
sua disposição em todas as oficinas o Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da
Língua de Sinais Brasileira (CAPOVILLA, 2013), que era sempre consultado quando
surgiam dúvidas sobre os itens lexicais da Língua Portuguesa.
APONTAMENTOS FINAIS
Construir significados em uma segunda língua implica fatores como a experiência com
o léxico e a sintaxe da língua, o conhecimento de mundo, e as habilidades
argumentativas. Nossa pesquisa teve como foco analisar a argumentação no processo de
compreensão da leitura em Língua Portuguesa por surdos que se comunicam em Língua
de Sinais, e por meio desta, foi possível evidenciar que apesar das dificuldades
encontradas por eles na leitura em Língua Portuguesa, a presença de elementos
universais e gerais propostos pela Teoria dos Topois Argumentativos de Ducrot (2002)
possibilitou a construção de sentidos ao que foi lido. Além disso, os dados do estudo
reforçam nosso entendimento sobre o resultado positivo do incentivo a atividades de
leituras em Língua Portuguesa por pessoas surdas, o que pode proporciona-las a criação
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MAURÌLIO, Heronides de Melo Moura. Semântica e argumentação: diálogo com oswald ducrot.
1998. Em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000100008 Acesso:
Outubro, 2015.
RESUMO
PALAVRAS INICIAIS
1
Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana, professora de
Libras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
idi_souza@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/7672463077671823
2
Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia, professora da Universidade
Estadual de Feira de Santana, verapepe2010@gmail.com http://lattes.cnpq.br/0926309539489881
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Durante muito tempo, os sujeitos com perda auditiva tiveram seu acesso à educação
negado. Esse processo justificava-se por uma concepção de que esses sujeitos não
estariam aptos a viver em sociedade.
Quando os surdos adentram o espaço escolar, alguns conflitos são gerados, e um deles é
o ensino da leitura e da escrita da língua portuguesa. Legalmente, os sujeitos em questão
precisam aprender a língua portuguesa na modalidade escrita. Segundo a Lei Federal 10.
436/2002, citada anteriormente, em seu Artigo 4º: " A Língua Brasileira de Sinais -
Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa." (BRASIL,
2002). Os surdos têm o direito ao acesso à língua de sinais, mas isso não exclui a
existência da língua portuguesa em suas vidas. É refletindo sobre essa imposição legal
que surgiu a pesquisa aqui apresentada.
Hoje, o ensino da leitura e escrita é realizado a partir do som, logo o sujeito surdo fica
em desvantagem nesse processo e acaba passando pela fase escolar com baixa
autoestima por acreditar que é impossível aprender a ler e a escrever. Diante dessa
dificuldade do estudante surdo, pretendemos apresentar, nesse trabalho, um breve
estudo descritivo sobre alguns processos fonológicos encontrados na escrita de
estudantes surdos do município de Amargosa-BA durante a aquisição do português
como segunda língua. Nossos objetivos específico são: a)Identificar se os processos
apresentados por Teixeira (2015) são encontrados em estudantes surdos baianos e
b)Descrever os processos encontrados.
O estudo de uma língua pode ser feito em vários níveis de estruturação linguística. Um
deles é o nível fonético-fonológico. Sendo assim, procede retomar os conceitos de
fonética e de fonologia. Segundo Silva (2008, p. 23), entende-se como Fonética "a
ciência que se apresenta os métodos para descrição, classificação e transcrição dos sons
da fala". Fonologia é a ciência que estuda os sons da língua, a ideia mental que se tem
do som. Como a Fonologia é entendida como aspecto mental, acreditamos que ela
também se faz presente em surdos durante a aquisição de uma língua.
Existe uma estreita relação entre Fonética, Fonologia e Ortografia. Essa relação termina
oportunizando a presença de processos fonológicos na fala e escrita do sujeito que está
aprendendo uma língua. Segundo Stampe (1973, p. 1),
A permutação, por sua vez, é a troca entre fonemas de sílabas diferentes. Para melhor
compreensão, Pepe (2010a, p. 73) apresenta exemplos de palavras como gaveta é
produzida como vageta.
O processo de elisão das sílabas fracas envolve o apagamento de sílabas pré e pós
tônicas em palavras dissilábicas e trissilábicas. Pepe (2010a, p.73) também apresenta
exemplos como acarajé realizada como jé , em que temos a elisão total das sílabas
fracas, sendo, neste caso, as pré-tônicas.
Este trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida pela
autora do presente artigo e, sendo assim, a metodologia utilizada foi a mesma, conforme
detalhado a seguir.
3
Entende-se como sinais caseiros o uso de gestos criados por surdos e seus familiares para comunicação.
Os sinais caseiros não seguem a estrutura gramatical da Libras.
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Dos sujeitos entrevistados, nesse artigo, só usaremos os dados dos sujeitos S1 e S2.
Obedecendo à temática deste trabalho, apenas estes sujeitos apresentaram processos
fonológicos em sua escrita.
Como nossa pesquisa foi com sujeitos surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais,
essa leitura em voz alta não foi possível. Tendo em vista que o nosso objetivo é a
escrita, fizemos adaptações. Inicialmente, transformamos as primeiras 30 palavras em
ideias visuais, valendo lembrar que não usamos as 30 pseudopalavras do teste, pois seria
impossível transformá-las em imagens. Então, os sujeitos fizeram a leitura visual das
imagens e, em folha de resposta, registraram por escrito a palavra correspondente em
língua portuguesa. Essa resposta é que foi utilizada em nossa análise.
Moreira (2009), ao construir esse teste, objetivava analisar a leitura das sílabas nas
palavras do português brasileiro. Para a escolha das palavras, a pesquisadora selecionou
vocábulos com todas as estruturas silábicas possíveis, tanto em posição absoluta quanto
em posição interna. Em cada posição, foi escolhida uma palavra que contivesse a
estrutura silábica acentuada e outra palavra com a estrutura silábica selecionada não
acentuada. Por exemplo, a primeira estrutura silábica é a consoante com vogal. Em
posição inicial, a autora escolheu os vocábulos sábado e maluca, pois a primeira é sílaba
acentuada e a segunda é não acentuada.
investigados são surdos e o que diferencia a tonicidade silábica para eles é apenas a
representação gráfica. Então, selecionamos palavras com as seguintes estruturas
silábicas: CV, VC, CVC, CCV, CCVC, onde C é a representação para consoante e V é
a representação para vogal. Escolhemos as palavras em que essas estruturas aparecem
em posição inicial absoluta, em posição interna e em posição final absoluta. Ficamos
com quatorze palavras para o teste, contemplando quatorze fonemas do português
brasileiro. As palavras foram: MARACUJÁ, SAPATO, BONECA, ÁRVORE,
MAESTRO, CASTELO, LANTERNA, CELULAR, PRATO, BICICLETA, LIVRO,
TRISTEZA e LIBRAS4.
Neste caso, a palavra prato foi produzida por patiro. A sílaba inicial (pra) possuía um
padrão CCV que passou a CV (pa). A segunda consoante sofreu silabificação com a
última vogal, o que tornou uma palavra dissílaba- prato- em trissílaba- patiro.
4
Vale ressaltar que as palavras maracujá, boneca, maestro, lanterna, celular, prato, bicicleta, livro e
Libras não foram as utilizadas por Moreira (2009). Como algumas palavras apresentavam conceitos
abstratos, precisamos substituí-las por aquelas palavras de modo a torná-las passíveis de representação
visual.
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Aqui, a resposta esperada era sapato, no entanto o sujeito escreveu satopa. Teixeira
(2015) caracteriza a permutação como a troca de fonema, mas, neste caso percebemos a
troca da sílaba por completo, ou seja, o que a sílaba tônica (pa) se transformou em pós
tônica e vice-versa. Apesar de Teixeira (2015) não ter encontrado essa permuta silábica,
tal fato nos chamou bastante atenção.
Tal troca pode ser justificada pela não percepção que o sujeito surdo tem da sílaba
tônica de um vocábulo, quando esta não vem acentuada. Assim, a falta da percepção
auditiva pode comprometer a escrita destes sujeitos.
O que apresentamos aqui é apenas uma parte de uma pesquisa maior. Analisando todos
os dados que temos, tanto de surdos de Amargosa quanto de Feira de Santana, ambos na
Bahia, encontramos outros processos fonológicos na escrita desses sujeitos. Aqui
apresentamos apenas um recorte do que já foi possível observar. Contudo, é preciso
continuar a análise para que possamos compreender a influência da classe bilíngue e da
classe regular na escrita dos surdos baianos. Até o presente momento, percebemos que
apesar de processos fonológicos estarem ligados à fala, observamos reflexos destes
processos em sujeitos privados de informações auditivas e que aprendem o português
como segunda língua a partir de estímulos visuais, e não fonêmicos, como acontece com
os ouvintes. Assim, acreditamos que isto acontece pelo fato desses processos serem do
âmbito fonológico, ou seja, parte de uma percepção mental e não fonéticos, o que
implicaria relação direta e concreta com som. Se fossem processos fonéticos, não
haveria motivo para que estes acontecessem na escrita de pessoas privadas de percepção
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 322
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PALAVRAS FINAIS
O trabalho aqui apresentado nos permitiu perceber alguns aspectos da escrita dos surdos
do município de Amargosa matriculados em classe bilíngue. A primeira percepção é
que os surdos amargosenses da classe bilíngue tendem a simplificar a estrutura das
sílabas para o padrão mais comum da língua (CV). A segunda é que a percepção
auditiva influencia diretamente no reconhecimento da tonicidade das palavras.
É importante destacar que os dados apresentados aqui são recortes de uma pesquisa
maior que está em desenvolvimento. Assim, é preciso confrontar os achados das salas
bilíngues de Amargosa com os outros dados coletados, tanto em Amargosa quando em
Feira de Santana, para que se possa ter uma compreensão mais ampla da escrita dos
surdos baianos.
REFERÊNCIAS
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LINHA DE INSCRIÇÃO
FONOAUDIOLOGIA
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 325
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
caso de crianças que nascem ou desenvolvem surdez nos primeiros anos de vida
(LAMOGLIA, 2015).
Por outro lado, a perspectiva inclusivista adotada como orientador das ações em
educação voltadas para os surdos no Brasil, não dão conta de garantir o direito à
educação, considerando a comunidade surda como minoria linguística (PEREIRA et al.,
2017).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste sentido uma integração entre as práticas dos profissionais de saúde, que irão
garantir o diagnóstico precoce, as primeiras orientações e o acolhimento à família, com
as práticas dos profissionais de educação, que trabalharão para desenvolver programas
de aquisição precoce da língua de sinais, é imperativa.
Fernandes (2016) relata que a experiência clínica permitiu a percepção de que quando
há uma escolha espontânea e consciente feita pela família, quanto ao tipo de tratamento
a ser seguido, maior o comprometimento será com as exigências pertinentes ao trabalho
que será desenvolvido. Isto aponta para a importância da capacitação dos profissionais
de saúde e educação para acolher, esclarecer e orientar as famílias de crianças surdas,
permitindo a esta realizar escolhas conscientes e responsáveis para o seu
desenvolvimento.
3. METODOLOGIA
Para a análise de das questões foi utilizado o agrupamento dos sujeitos da pesquisa. A
distribuição dos profissionais da saúde em relação a sua identificação profissional gerou
o Grupo S.1 composto por médicos (11 sujeitos, 44% do total); o Grupo S.2 composto
por enfermeiros e técnicos de enfermagem (11 sujeitos, 44% do total) e o Grupo S.3
composto por psicólogos e fonoaudiólogo (3 sujeitos, 12% do total). Dos 20
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Optamos por presentar apenas a análise dos achados de dois eixos principais nas
subseções a seguir. Outras diversas questões foram voltadas para os conhecimentos e
posicionamentos sobre quais as intervenções necessárias nos casos de surdez na
infânica, o desenvolvimento da linguagem e a sua relação com a surdez, o status
linguístico da Libras e o impacto da sua regulamentação, as políticas educacionais
voltadas para surdos no Brasil e, por fim, a importância de uma capacitação integrada
para profissionais de saúde e educação sobre orientações e atendimento a sujeitos surdos
e suas famílias.
Dos 68% que assinalaram a opção “outros”, ao descreveram onde seria realizado o
exame, indicaram ser realizado pelo sistema público em uma instituição filantrópica do
município conveniada à prefeitura, e em uma clínica particular pelo sistema privado.
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Isso nos confirma que a maioria dos profissionais de saúde do estudo tem o
conhecimento de que a TAN não é oferecida no local indicado por lei. A TAN sendo
realizada fora da maternidade municipal não garante que seja posto em prática o que
preconiza as diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal (BRASIL, 2012), que
o exame deve ser realizado nos primeiros dias de vida ou no máximo até o primeiro mês
de vida da criança. Como muitas famílias que realizam o parto na maternidade
municipal de Nova Friburgo residem longe de onde o exame é realizado, o retorno para
a realização deste em outro serviço fica dificultado e o diagnóstico precoce não ocorre.
Isso corrobora o achado de Silva, Pereira e Zanolli (2012) de que o diagnóstico se dá
muitas vezes pela observação e desconfiança da mãe que com o passar tempo percebe
que existe algo diferente no desenvolvimento de seu filho.
Silva, Pereira e Zanolli (2012) e Fernandes et al. (2016) afirmam que, em geral, o
diagnóstico da perda auditiva só ocorre por volta de um ano e meio a dois anos,
principalmente, pela desconsideração, por parte do pediatra, dos relatos das mães sobre
o desenvolvimento de seus filhos e pelo desconhecimento de quais seriam os
encaminhamentos adequados.
para realizar o processo diagnóstico da surdez. Cabe ressaltar que até o final do ano de
2017 não existia avaliação audiológica básica (audiometria) na rede de saúde pública do
município.
Questão 5: Na sua opinião, qual a maior dificuldade que o profissional de saúde encontra ao
comunicar um diagnóstico de surdez à família? (pode ser marcada mais de uma opção)
Nº. de seleção de opção Totais de
Opções por grupo respostas
S. 1 S. 2 S. 3
1. Acolher e lidar com os sentimentos gerados a 6 3 3 12
partir do diagnóstico
2. Saber quais as primeiras orientações e condutas 3 6 3 12
mais adequadas
3. Informar de maneira clara e adequada os 2 2 1 5
aspectos orgânicos
4. Responder perguntas da família em relação às
expectativas quanto ao desenvolvimento da
criança 5 6 1 12
Tabela 1: Respostas dos profissionais de saúde à questão 5.
Ainda sobre a questão 5, respondida pelo grupo S.1, três (3) sujeitos não selecionaram
nenhuma das opções e do Grupo S.2 um (1) sujeito não selecionou nenhuma opção.
Nenhum sujeito dos três grupos assinalou a opção de resposta “Outros”.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao procurar conhecer a relevância que o diagnóstico precoce das perdas auditivas tem
para os profissionais da saúde e da educação pode-se perceber que o município de Nova
Friburgo está aquém do que é preconizado para a realização da TAN, precisando
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garantir mais visibilidade no que se refere ao seu impacto na vida das famílias e dos
bebês, assegurando o direito ao acesso do diagnóstico precoce da surdez. Os
profissionais de saúde da maternidade municipal demonstram ter conhecimento que a
triagem não ocorre como preconizado por lei, entretanto, demonstram dificuldades em
apontar os encaminhamentos mais adequados para o diagnóstico audiológico e saber
quais estratégias são desenvolvidas pelo serviço para minimizar os efeitos da ausência
da TAN, como programas pré e pós natais de orientação e acompanhamento das
famílias e dos bebês. Os profissionais de educação, por sua vez, identificam
fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas como centrais no diagnóstico da perda
auditiva. E, por fim, de uma maneira geral, os profissionais de saúde estudados apontam
dificuldades quanto ao acolhimento, saneamento de dúvidas e orientações das primeiras
condutas à família no processo diagnóstico.
É importante destacar que essa é uma pesquisa que apresenta limitações em termos de
abrangência, mesmo que seja corroborada por outros achados encontrados na literatura.
Faz-se necessário, portanto, o desenvolvimento de outras pesquisas que abordem o tema
com maior número de sujeitos, visando também o ponto de vista dos professores que
recebem o aluno surdo, da família e da comunidade surda.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Priscila Starosky1
Francelise Piveta Roque2
Larissa Macedo Pereira3
Caroliny de Faria do Couto4
Fabíola Ronsac Oliveira Ramos5
Instituto de Saúde de Nova Friburgo
Universidade Federal Fluminense (UFF)
1. INTRODUÇÃO
Outras políticas e ações para a garantia de direitos sociais aos sujeitos surdos são
construídas e formam um conjunto de dispositivos legais chamado de “Lei da Libras” –
Lei 10.436/02 e Decreto 5.526/05 – garantindo do ensino de Libras para os cursos de
graduação em Pedagogia, em Fonoaudiologia e para todas as licenciaturas, entre outros
aspectos que resultam em uma política linguística brasileira que dê conta dessa minoria.
Guarinello et al. (2013), entretanto, apontam a necessidade de aprofundamento da
discussão sobre o ensino de Libras nos cursos de fonoaudiologia e de parâmetros e
critérios que possam balizar a sua qualidade.
[…] está ligada à filosofia Bilíngue de educação de surdos que entende que
existe uma diferença na construção da linguagem para o surdo por intermédio
da língua de sinais, que será um processo mais espontâneo, do que pela
língua oral, que é mais artificial quanto a aprendizagem para esse grupo. A
língua de sinais (Libras ou outras), portanto, seria a primeira língua do surdo
e a língua majoritária (oral e /ou escrita, como o Português e outras) seria a
segunda. Desta forma, a identidade surda seria marcada pela diferença em
relação à identidade ouvinte a partir da experiência visual do sujeito surdo
que define todo o seu desenvolvimento. (RUIZ, 2017, p. 6 e 7).
6 Nos termos de Merhy (2006), as tecnologias duras estariam relacionadas ao emprego de instrumentos
centrados em uma intervenção em saúde objetiva, centrada no corpo físico. As tecnologias leves seriam o
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resultado de uma compreensão contra hegemônica das práticas de saúde, tendo como centro o aspecto
relacional profissional-usuário no processo de cuidado.
7 “(…) o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni),
que tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior. Com o Reuni, o
governo federal adotou uma série de medidas para retomar o crescimento do ensino superior público,
criando condições para que as universidades federais promovam a expansão física, acadêmica e
pedagógica da rede federal de educação superior. Os efeitos da iniciativa podem ser percebidos pelos
expressivos números da expansão, iniciada em 2003 e com previsão de conclusão até 2012.” (retirado de
http://reuni.mec.gov.br/o-que-e-o-reuni).
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em alguns aspectos se aprofundam até o momento atual, e que acabam por impactar
negativamente o cotidiano dos estudantes e do trabalho dos docentes.
O currículo do curso foi criado por uma comissão constituída por professores de
diferentes áreas da saúde da universidade, nenhum destes fonoaudiólogos. Depois de
criado, foram realizados concursos para os professores efetivos que foram adequando-se
ao projeto político pedagógico (PPP) já existente. Este PPP inclui algumas disciplinas
relacionadas à atuação fonoaudiológica no campo da surdez que abordam temas e
objetos de estudo de duas principais áreas da fonoaudiologia: a linguagem e a
audiologia. No primeiro momento, as disciplinas da área de audiologia foram assumidas
por uma professora efetiva. As disciplinas da área de linguagem, que referiam-se à
atuação fonoaudiológica com surdos e/ou sujeitos com deficiência (Libras I e II,
Audiologia Educacional, Trabalho de Campo Supervisionado em Fonoaudiologia V)
foram consideradas um conjunto temático e, somente no momento em que seriam
oferecidas à primeira turma do curso, no segundo ano do seu funcionamento (2012),
foram assumidas por uma professora temporária. Apesar de parte da ementa do
concurso ser constituída por conteúdos de duas disciplinas que têm como objetivo e
ensino-aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais, os pré-requisitos do concurso não
previam a formação específica do/a candidato/a (graduação ou pós-graduação em
Letras-Libras e/ou certificação do Pró-Libras). O processo seletivo não incluiu
avaliação de proficiência da Libras e/ou qualquer outro dispositivo que garantisse que o
professor que assumiria as disciplinas Libras I e II tivesse formação e conhecimentos
que dessem conta do conteúdo programático posto no PPP.
Ao final de 2013, é realizado um concurso para professor efetivo que incluía em sua
ementa conteúdos relativos à Libras e a sua relação com o desenvolvimento de
linguagem de sujeitos surdos. A área do concurso foi denominada “Linguagem e
Necessidades Especiais” e, além do conteúdo relativo à disciplina de Audiologia
Educacional e Libras, envolvia todas as outras temáticas relacionadas a linguagem em
sujeitos com deficiência. Novamente os pré-requisitos do concurso não previam a
formação específica e/ou avaliação de proficiência em Libras. Em ambos os concursos,
a docentes aprovada e classificada no concurso, foi a primeira autora deste trabalho que
vem lecionando o conjunto temático destas disciplinas no curso desde 2012. A
formação em Libras apresentada pela atual professora inclui Libras I, II, III e IV como
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diferencia muito, pois professores ainda demonstram que valorizam mais intervenções
de oralização e normalização da audição do que estratégias pedagógicas de
desenvolvimento da Libras pelas crianças surdas e suas famílias. Aparentemente há um
processo de subnotificação de alunos surdos na rede o que resulta em apenas um
professor intérprete contratado para atender toda a demanda no Atendimento
Educacional Especializado contra turno escolar, sendo as interações em sala de aula
regular mediadas por auxiliares de ensino sem formação. Um aspecto, entretanto, é
consenso entre os profissionais: é necessário formação continuada e integrada entre as
áreas para que possam aprimorar seu processo de orientação (RAMOS, 2016; RUIZ,
2017).
Desta forma, neste território de disputas e revisão de práticas, a formação dos estudantes
do Curso de Fonoaudiologia da UFF é conduzida e reconduzida, por meio de um
conjunto de práticas pedagógicas que dinamizam e buscam fundir as dimensões
propostas por Miller (1990). Uma dessas práticas é o projeto de ensino (monitoria)
“Iniciação à prática docente no campo da Fonoaudiologia Educacional, Surdez e
Inclusão” que tem por finalidade desenvolver aptidões reflexivas e práticas nos
estudantes vinculados a ele em dois eixos: do monitor/a, no sentido de aproximá-lo de
uma experiência de liderança didático-pedagógica, e dos estudantes matriculados nas
disciplinas constitutivas do projeto, no sentido de proporcionar experiências mais
diversificadas e mais simétricas, considerando a relação estudante/estudante, no seu
processo de aprendizado. O projeto, que é desenvolvido desde o ano de 2014, envolve
disciplinas teóricas e práticas, como: Audiologia Educacional, Libras I e II, Trabalho de
Campo Supervisionado em Fonoaudiologia V e Práticas em Surdez e Linguagem.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho expôs e discutiu criticamente uma realidade ainda muito presente na
formação de fonoaudiólogos no que diz respeito as visões sobre a surdez e o sujeito
surdos e as práticas de cuidado em saúde que encontram-se em processo de revisão
neste campo do saber. Identificamos que a complexidade que o contexto sócio, político
e econômico da universidade e do território agregam ao processo ainda é atravessada
por uma disputa ideológica. Essa disputa está para além da universidade. Ela permeia a
vida de sujeitos que buscam a garantia de seus direitos mais essenciais: à saúde, à
educação e a uma língua que os permita tomar consciência do mundo, de si e dos
outros. Nos resta lutar para transformar os discursos e as práticas sistemicamente e
pedagogicamente, construindo profissionais que realmente sejam cuidadores.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
Introdução: Como parte do trabalho oferecido pelo PAIS – Projeto para Acolhimento,
Informação e Suporte à familiares de crianças surdas no CEDAF – Centro Docente
Assistencial em Fonoaudiologia, vinculado ao Curso de Fonoaudiologia da UFBA -
Universidade Federal da Bahia, está subsidiar as famílias sobre aspectos que envolvem
o filho surdo. Neste sentido, conhecer os itinerários terapêuticos percorridos pelas
famílias em busca do diagnóstico e orientação sobre as perdas auditivas, nos diz muito
sobre conceitos e preconceitos, esclarecimentos necessários e estereótipos construídos
sobre perdas auditivas e principalmente, sobre a pessoa surda. Sabemos que esse fato
afeta o desenvolvimento da criança e, também, a relação da família com o filho surdo.
Afinal, o filho não escuta, mas sua família sabe como falar com ele? A família
compreende a nova realidade a qual está submetida? Como a família vê esse novo
membro, seria como o “deficiente”? Desta forma, evidencia-se na família, local de
grande relevância para o processo de constituição e desenvolvimento do sujeito.
Geralmente famílias ouvintes, não sabem como agir ao receber uma criança surda e os
caminhos possíveis a seguir, o que tem importante significado para todo o processo de
desenvolvimento, visto o tempo despendido desde o diagnóstico. Assim, é importante
conhecer o itinerário terapêutico dos assistidos no Serviço de Fonoaudiologia Bilíngue
da UFBA a fim de entender o processo de cada usuário, assim como, refletir sobre o
tipo de cuidado que tem sido prestado pela rede de atenção à saúde auditiva na cidade
de Salvador. Entende-se que o momento do diagnóstico e os encaminhamentos iniciais
são preponderantes para a construção da visão sobre o surdo e seu desenvolvimento
quer seja a partir do entendimento da sua diferença linguística ou do que é considerado
por “deficiência” a qual, a concepção clínico-terapêutica, entende que precisa ser
“tratada” a fim de normalizar a audição e a criança. Metodologia: A fim de
identificarmos os itinerários terapêuticos percorridos pelos familiares dos surdos
atendidos na clínica escola de Fonoaudiologia, as mães participaram de atividades com
as monitoras do projeto, de forma a que fosse possível conhecer os percursos realizados
por cada uma delas na busca por encaminhamentos para o filho surdo. As famílias
participantes no Serviço de Fonoaudiologia Bilíngue, assinam Termo de Consentimento
prévio às ações desenvolvidas. Objetivos: Conhecer e refletir acerca do itinerário
terapêutico percorrido pelas famílias de crianças surdas atendidas no CEDAF.
Considerações: Os conhecimentos sobre o itinerário terapêutico percorrido pelos
familiares de surdos na cidade de Salvador (BA), contribuem de forma a esclarecer
sobre a rede de atenção à saúde auditiva na cidade de Salvador, além de subsidiar a
escolha de estratégias adequadas que garantam acesso aos familiares em momento
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Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
INTRODUÇÃO
O PAIS teve início em junho de 2016 e desde então tem desenvolvido diferentes
atividades com os familiares das crianças surdas que encontram-se em atendimento
fonoaudiológico bilíngue no CEDAF. Tais ações são desenvolvidas ao reconhecer a
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Ao levar em consideração que cerca de 90 a 95% das crianças surdas são filhas de pais
ouvintes, pressupõe-se que muitas delas desconhecem o que é ser surdo ou o que
significa a perda auditiva para a vida e para o desenvolvimento da criança, gerando um
sofrimento ainda maior diante do diagnóstico que praticamente se configura como uma
sentença levando-os a adentrar em um mundo até então obscuro (QUADROS E CRUZ,
2011). É possível que irrompam então, sentimentos negativos que podem afetar a
relação da família com a criança, influindo em seu processo de desenvolvimento, ou
ainda, é muito comum reações de negação o que posterga, involuntariamente, as
tomadas de ações necessárias a partir de então. O PAIS, ao promover atividades
semanais com as famílias, verifica a relevância em conhecer percursos, e também o que
se passou na vida de cada uma delas até o encontro com o atendimento atual, o que
possibilita descobrir os medos, as angústias, as superações que certamente modificaram
a constituição familiar e possivelmente a forma de ser e estar de cada um dos membros
desta família.
Com base no exposto, o objetivo deste trabalho é conhecer e refletir acerca do itinerário
terapêutico percorrido pelas famílias de crianças surdas atendidas no CEDAF.
METODOLOGIA
Coclear (IC) e se foi percebida alguma diferença após o início do uso. Além disso
também foram questionadas quanto aos encaminhamentos recebidos a partir de cada
serviço por onde passou e a quais profissionais a família foi orientada a procurar, como
por exemplo, o atendimento de Fonoaudiologia. É evidente que dentre estes
questionamentos surgiram situações em que os sentimentos das mães foram
apresentados a partir de sua experiência com todo o percurso, pois sabe-se que não há
como separar os aspectos práticos oriundos de um diagnóstico e os sentimentos gerados
a partir de então, assim houve oportunidade de perguntar sobre como foi o momento do
diagnóstico, como lhe passaram a notícia e como esta foi recebida. Outro ponto bastante
importante e igualmente questionado, foi sobre a aquisição da linguagem da criança
buscando saber qual foi a primeira língua adquirida e com que idade teve contato
buscando conhecer quando e com quem a criança teve o primeiro contato com a Libras,
e quando entrou na escola e qual foi.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O contato com as famílias atendidas pelo projeto PAIS nos permitiu começar a
compreender os dados referentes à detecção da perda auditiva da criança, levando em
consideração que é a partir deste momento que se inicia o percurso ao qual nos
destinamos a estudar. Face ao exposto e para tornar mais fácil a interpretação dos
itinerários de cada família, volta-se o olhar para possibilidades de análises qualitativas e
quantitativas. Além disso, para melhor elucidar e ilustrar os dados apresentados,
mostraremos falas das mães retiradas das transcrições das entrevistas.
Começaremos a nossa análise pelo ponto onde se inicia a história destas famílias com a
surdez, ou seja, pelo momento onde surgem as primeiras desconfianças de que há algo
de “errado” com a audição da criança. Verifica-se que 16,7% da população estudada
suspeitaram da perda auditiva ainda na maternidade, diante do resultado do teste da
orelhinha. Para 50% das famílias, a desconfiança surgiu antes do primeiro ano de vida e
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para as outras 33, 3% quando o filho tinha entre um a dois anos. É importante destacar
que para a maioria das mães, a desconfiança surgiu após perceber que o filho não reagia
à barulhos, tal como pode ser observado na fala da mãe 1 “Ele não se atentava à
barulho nenhum, a partir de 4 meses de idade a gente, eu e quem convivia com ele,
começamos a perceber que ele não se atentava para barulho nenhum, entendeu?”.
Silva, Pereira e Zanolli (2012), também afirmam que os principais fatores que levam a
família a desconfiar da surdez é o fato de não reagir aos sons e a ausência da fala.
Uma vez instalada a desconfiança, o passo seguinte é buscar pelos serviços de saúde
para que possam confirmar se há ou não veracidade na suspeita. É certo que o caminhar
de cada família é singular, ou seja, cada uma tem o seu próprio tempo a depender da
forma como interpreta e aceita a desconfiança. Além disso, há outros fatores que
também influenciam na procura por uma instituição de saúde para o diagnóstico tais
como a condição socioeconômica, o apoio da rede familiar, o acesso aos serviços de
saúde, dentre outros. Em relação ao grupo estudado, os dados obtidos nas entrevistas
mostraram que a idade média do diagnóstico foi de um ano e três meses, sendo
importante deixar claro que existem crianças cuja confirmação da surdez ocorreu ainda
no primeiro mês de vida por terem realizado o teste da orelhinha e outras que só
conseguiram os exames para detecção da surdez quando já tinham três anos. Cabe
informar aqui que a Lei nº 12.303, que obriga a realização da Triagem Auditiva
Neonatal – TAN em todos os hospitais e maternidades só foi sancionada em 02 de
agosto de 20101 e as 12 crianças participantes desta análise nasceram entre os anos de
1
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12303.htm
Acesso em: 18/04/2018
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2002 e 2008, ou seja, antes da lei entrar em vigor. Apesar disso, quatro das crianças
realizaram o teste da orelhinha.
Nesse sentido, as mães relatam sentimento de tristeza, choque, decepção entre outros. A
exemplo disso, a mãe 02 afirma: “Eu não vou ficar com esse menino. Esse menino é
defeituoso e eu não vou ficar com ele. Esse menino não é meu filho, alguma coisa
aconteceu... Eu entrei em pânico.” A mãe 03 também diz o seguinte: “Aí eu perdi o
chão, comecei a chorar, eu sempre chorei muito, passei mal na sala.”
Apesar de tudo isso, a vida dessas famílias não para neste momento, elas seguem
construindo suas trajetórias. Após a confirmação diagnóstica, começam então a buscar
meios de reabilitação e é comum que ainda não compreendam a surdez como uma
diferença, desconhecendo também que o povo surdo tem uma cultura e uma língua que
os permite comunicar e se desenvolver normalmente. Esse desconhecimento faz com
que a surdez seja vista como um defeito, o que a torna mais dolorosa para os pais e, por
isso, eles tendem a buscar meios de “normalizar” o filho. É por esta razão que o passo
seguinte ao diagnóstico é a procura pelas tecnologias de reabilitação auditiva, ou seja,
os Aparelhos de Amplificação Sonora Individual – AASI e os Implantes Cocleares - IC.
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Na nossa análise, buscamos identificar a idade que cada criança recebeu o aparelho ou
realizou a cirurgia do IC. Observou-se que a aquisição da primeira tecnologia de
reabilitação variou entre oito meses a quatro anos. Sígolo e Lacerda (2011) apontaram
em seu estudo que a idade média para a primeira intervenção foi de seis anos e um mês.
As informações acima chamam a atenção, pois demonstram que, mesmo que para
algumas crianças o contato tenha sido precoce enquanto para outras foi tardio, todas as
famílias buscaram por estes métodos de intervenção. Em relação à isso, o que pode ser
observado nas falas das mães é que essa foi a única alternativa apresentada para a
maioria delas. Além disso, muitas famílias viram no AASI ou no IC uma possibilidade
de “cura” para a surdez. A exemplo disso, a mãe 04 diz o seguinte: “Botei o aparelho
pensando, vai falar, vai falar, mas aí ele não falou nada.”. neste sentido reside algo
bastante relevante, pois se houve a colocação do AASI e não houve melhora, a “culpa”
recai então sobre a criança e sua incapacidade o que afeta de forma bastante relevante as
relações.
Nóbrega e colaboradores (2012) discutem essa questão e afirmam que a sociedade tem
uma visão patológica da surdez e, por isso, tende a impor a oralização e o uso dos
aparelhos auditivos, no entanto, o próprio estudo traz falas de pessoas surdas alegando
que não utilizam o AASI ou o IC pois estes incomodam e causam desconforto. E é desta
forma que as famílias vão traçando seu percurso, aprendendo a lidar com os sentimentos
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que as acometem e apostando nas possibilidades que lhe são apresentadas. Assim os
filhos vão crescendo, a maioria sem sucesso com o uso das tecnologias de reabilitação.
Vão seguindo seus caminhos privados do contato com uma língua pois, até então, a
maioria das famílias desconhecem uma outra possibilidade terapêutica, a Língua de
Sinais. Para muitos, o primeiro contato com a Libras só vai acontecer na escola, e é
falando sobre esta que seguiremos a nossa discussão.
Dentre as crianças atendidas, cinco tiveram o primeiro contato com a escola quando
tinham entre um a dois anos e oito meses, três delas ingressaram em um
estabelecimento de ensino entre três a quatro anos, outras três crianças passaram a
frequentar a partir dos cinco anos e uma delas só iniciou a vida escolar quando já tinha
sete anos. Observa-se que a maior parte das crianças tiveram acesso em tenra idade,
sendo que este primeiro contato foi em escola regular, isso porque, com as políticas de
inclusão, o surdo tem direito de estar em uma escola regular. No entanto, as escolas não
estão suficientemente preparadas e a criança surda é colocada em uma sala de ouvintes
onde a língua que predomina é a língua oral, impossibilitando-o de um contato
adequado com o conteúdo (OLIVEIRA, et al., 2015).
Diante disso, a tentativa de estudar em uma escola regular inclusiva também foi sem
sucesso para 91,7% das crianças que, em seguida, tiveram que se matricular em escola
de surdo, dando assim continuidade ao seu percurso. Isso aconteceu quando elas tinham
entre cinco a nove anos. Estes dados são relevantes, primeiro porque demonstra que a
maior parte das crianças ingressaram tardiamente na escola específica para surdos e
segundo porque chamam a atenção para o fato de que a escola regular se configura
como a primeira opção e só quando os pais percebem que o filho não está se
desenvolvendo de forma satisfatória é quem buscam pela escola que possa atender ao
filho surdo de forma integral.
Ainda sobre a trajetória dessas famílias de surdos, outro dado já mencionado, mas que
deve ser melhor discutido é em relação ao primeiro contato das crianças com a Libras.
Obtivemos o dado de que 41,7% delas conheceram a língua quando tinham entre dois a
quatro anos, 50% entre cinco e sete anos e 8,3% aos nove anos. Observa-se que para
boa parte o contato com a língua de sinais acontece de forma tardia, justificando assim o
atraso para a aquisição da linguagem, e mesmo para aqueles que tiveram um contato
mais precoce, que também apresentam esse atraso, nos leva a questionar: como se deu
esse contato com a língua? Passou a fazer parte do seu cotidiano de forma efetiva ou era
utilizada apenas em momentos isolados?
E o que pode ser observado nos relatos das mães é que as famílias de forma geral
desconhecem a língua de sinais, ou seja, mesmo que a criança utilize em alguns
espaços, como na escola, mas segue sem comunicar em casa, com a família, que é onde
passa a maior parte do seu tempo e isso também influencia para o desenvolvimento da
linguagem.
Por falar em linguagem, este também foi um dos aspectos analisados nos itinerários,
pois entendemos que este é um dado de extrema importância no percurso das famílias.
Observou-se no relato das mães que antes da aquisição da Libras, as crianças eram
agressivas, agitadas, nervosas, costumavam gritar, usar gestos caseiros e mímicas. Um
exemplo disso pode ser observado na fala da mãe 07: “Era marrento, nervoso, quando
queria as coisas, queria porque queria e eu não sabia explicar e ele também não sabia
pedir, como é que pedia?”.
Observa-se que essa é uma queixa comum na literatura em estudos sobre famílias de
surdos, e em todas elas, o fato é justificado pela ausência de uma língua que seja
acessível à criança e que permita a ela compreender as situações ao seu redor, assim
como expressar seus pensamentos (FREITAS e SOECKI, 2017).
Após o contato com a Libras, as mães afirmam que os filhos modificaram o seu
comportamento. Referem que atualmente estão se desenvolvendo e conseguem se
comunicar de forma efetiva, fazendo uso dos gestos e mímicas com pessoas que não
tem o conhecimento da Língua de Sinais (LS), principalmente em brincadeiras com
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A Libras exerce um papel de extrema importância para a pessoa surda, permitindo que
ela se desenvolva de maneira adequada (ALVES e FRASSETO, 2015). As mães que
fazem parte deste estudo, mesmo aquelas que ainda não aceitaram completamente a
surdez do filho, tem vivenciado a evolução deles após a oportunidade do contato com a
língua. Essa descoberta também se configura como uma parte importante de seus
percursos e foi para conhecer essa nova possibilidade terapêutica que essas famílias
chegaram ao serviço bilíngue da clínica escola de Fonoaudiologia da UFBA. É sobre
essa parte de seus itinerários que falaremos agora.
Das crianças em questão, duas chegaram ao centro terapêutico bilíngue quando tinham
três anos. Outras duas chegaram com cinco e seis anos, uma chegou com sete anos,
quatro crianças chegaram aos oito anos, uma chegou com nove anos e as duas últimas
chegaram aos dez anos. Nesse espaço terapêutico é respeitada a especificidade
linguística do surdo e usada sua língua para dar significação ao português, tido aqui
como sua segunda língua.
A criança surda pode aprender uma segunda língua a partir do momento que adquire sua
língua natural. Partindo desse pressuposto a LS, como língua natural do surdo deveria
ser adquirida o mais rápido possível, mas vemos que isso não é o que ocorreu. As
crianças citadas nesse artigo chegaram ao serviço bilíngue como “última opção”, após
não obterem êxito com a oralidade. Isso acontece em partes porque a Libras não
costuma ser indicada pelos profissionais de saúde quando os pais recebem o diagnóstico
de surdez (TOSCANO; DIZEU; CAPORALI, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma e a partir das constatações aqui levantadas, observa-se que os itinerários
terapêuticos vivenciados pelos familiares de surdos ainda se inscreve em caminhos de
caráter normalizador e curativo demonstrando as características da rede de cuidado
existente atualmente. Urge que as perspectivas se alarguem de forma a compreender o
diferente em sua diferença e não pela necessidade de igualar demonstrando finalmente,
o respeito às subjetividades e anseios das famílias envolvidas.
REFERÊNCIAS
GUARINELLO, A. C. et al. Clínica fonoaudiológica bilíngue, uma proposta terapêutica para surdos com
a língua escrita: estudo de caso. In: CoDAS. 2015. p. 498-504.
MONTEIRO, R.; SILVA, D. N. H.; RATNER, C. Surdez e Diagnóstico: narrativas de surdos adultos.
Psicologia: teoria e pesquisa, v. 32, n. 5, 2017.
QUADROS, R. M.; CRUZ, C. R. Língua de sinais: instrumentos de avaliação. Porto Alegre: ARTMED,
2011.
TOSCANO, L. C.; DIZEU, B.; CAPORALI, S. A.. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito.
Educ. Soc, v. 26, n. 91, p. 583-597, 2005.
WITKOSKI, Sílvia Andreis. A interface entre a família e o direito ao ensino bilíngue para sujeitos surdos:
rompendo oposições binárias. Educação Temática Digital, v. 19, n. 3, p. 882, 2017.
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RESUMO
1
Mestranda em Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da Universidade Federal
Fluminense – UFF.
2
Professora Adjunta do Curso de Graduação em Fonoaudiologia, Departamento de Formação Específica
em Fonoaudiologia, Instituto de Saúde de Nova Friburgo, Universidade Federal Fluminense – UFF.
3
Professora Adjunta do Instituto de Química, Professora Colaboradora do Curso de Mestrado
Profissional em Diversidade e Inclusão Universidade Federal Fluminense – UFF.
4
Professora Adjunta do Curso de Graduação em Fonoaudiologia, Departamento de Formação Específica
em Fonoaudiologia, Instituto de Saúde de Nova Friburgo, Universidade Federal Fluminense – UFF.
5
Discente do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da UFF.
6
Discente do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da UFF.
7
Fonoaudióloga, egressa do Curso de Graduação em Fonoaudiologia – UFF.
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REFERÊNCIAS
NÓBREGA, JD. et al. Identidade surda e intervenções em saúde na perspectiva de uma comunidade
usuária de língua de sinais. Ciênc. saúde coletiva, v. 17, n. 3, p. 671-679, 2012.
STROBEL, K. L. Escolas bilíngues para surdos: longo caminho de lutas. Palavra da Presidente. P.3-5.
Revista da Feneis, JUN-AGO, 2011.
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LINHA DE INSCRIÇÃO
LGBT
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RESUMO
REFERÊNCIAS
LOURO, G. L. (org.) O corpo educado: pedagogias da sexualidade – Belo Horizonte: Autentica, 2003.
____________ et al. (Org.). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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RESUMO
surdos serem tratados e vistos como pessoas e cidadãos comuns. Não se acha um meio
de como abordar a cultura LGBT para surdos já pelo fato da educação para surdos ser
tão precária com esse atraso na alfabetização e também pelo viés do preconceito que
rodeia este tema. O pensamento de exclusão ou anormalidade deles também acarreta no
distanciamento de debater essa sexualidade já que, na cultura, têm-se o desejo afetivo
como somente pertencentes às pessoas típicas e pessoas atípicas não sentem ou não
afloram seus sentimentos, sendo tratados como infantis e inocentes.
REFERÊNCIA
Álon Mauricio
Mauricio Damasceno
RESUMO
O presente trabalho tem como tema "Comunidade e Cultura Surda LGBT+: informação
e empoderamento nasredes sociais". Tal tema é de extrema relevância para a sociedade
em geral e principalmente para a comunidade surda, considerando que a LGBTfobia se
faz presente em todos os âmbitos e que tratar sobre temas acerca das sexualidades ainda
é um tabu, ainda mais para o povo surdo que carece de informações na sua língua e de
referências na área, se faz necessária a produção de estudos que tragam à tona a
temática LGBT+ relacionada à comunidade surda. Trata-se de uma pesquisa
quali/quanti que utiliza como metodologia a análise de vídeos produzidos por surdos
nas principais redes sociais como YouTube e Facebook que dão visibilidade às
temáticas LGBT+, além disso utilizou-se um questionário voltado para o público surdo.
O objetivo do trabalho é identificar, por meio da análise dos vídeos nas redes sociais e
questionário para os surdos as principais referências para o povo surdo e os possíveis
impactos das mensagens contidas nos vídeos produzidos. Considera-se que a pesquisa
não visa esgotar o assunto, visto que esse campo mostra-se em desenvolvimento e há
escassez de trabalhos que abordem a temática, verifica-se a necessidade de produção
científica sobre as comunidades LGBT+ e a comunidade surda, atravessando outros
temas como saúde, família, mercado de trabalho e religião, garantido ainda mais
discussões e visibilidade ao assunto, que é marginalizado pelo preconceito.
REFERÊNCIAS
GESSER, Audrei. LIBRAS? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da
realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
HALL, Stuart et al. “The work of representation”. In: _______. Cultural representation and cultural
signifying practices. London: SAGE Publications Ltd, 1997.
IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível em: . Acesso em: 08 abr. 2015.
MOURA, Maria Cecília. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
SACKS, Oliver; MOTTA, Laura Teixeira (Trad.). Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São
Paulo: Companhia de bolso, 2010.
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LINHA DE INSCRIÇÃO
PSICOLOGIA
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RESUMO
Uma orientação bem conhecida no campo da surdez é a de que não basta apenas fazer
curso de Libras, é necessário ter contato com surdos. Outra orientação bem conhecida
na psicologia clínica é a de que não basta apenas ler sobre o caso, mas é preciso
conhecer, entrar em contato com o cliente. A palavra contato tem sentido diferentes em
cada uma das frases, porém se complementam. Entrar em contato com os surdos, no
sentido da primeira frase, implica em aprender a respeitar e conhecer sobre língua,
cultura e diferentes identidades surdas. No caso da segunda frase, remetemo-nos ao
termo teórico da gestalt-terapia, que também implica em aprender a respeitar e
reconhecer o universo do outro pois só assim, na fronteira da legitimação das diferenças
é que o encontro é possível. O presente trabalho visa fomentar a discussão sobre a
importância do psicólogo compreender a diversidade existente dentro do campo
da surdez, para além do conhecimento de sua Língua. No encontro com o surdo é
importante não se acomodar e ir instrumentalizado de estereótipos buscar ferramentas
para a compreensão do surdo considerando apenas sua formação teórica ou seu próprio
ponto de vista. Um surdo permeado por línguas, culturas e histórias, um surdo que é
afetado por inúmeros fatos decorrentes do “não ouvir” que pode ser encarado diferente
do termo deficiência. Para a compreensão deste encontro apostamos na noção de
contato, tal como concebida pela abordagem gestáltica, que se daria por meio de uma
tomada de consciência acerca da delicadeza de lidar com o outro, o diferente.
Estabelecer contato é também aceitação mútua, afetar e ser afetado constituindo o
encontro como um processo dialógico onde ao lidar com o outro contornamos nossas
fronteiras e conhecemos algo novo acerca de nós mesmos. A surdez vai além dos
termos médicos e além dos livros teóricos, pois são tantas nuances que só podem ser
apreendidas no contato e acredito que posso dizer a mesma coisa da psicologia. Não
descarta-se aqui a importância da teoria mais é necessário ir além.
REFERÊNCIAS
PERLIN, Gladis.Identidades surdas. In: SKLIAR, Carlos (org). A surdez: um olhar sobre as diferenças.
Porto Alegre: Mediação, 1998, 2001, 2010.
STROBEL, K, As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora UFSC, 2008.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Graduada em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia. E-mail: gabisacramento18@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7300242475546973
2
Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: alba-Riva@uol.com.br
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6954596261735071
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Este artigo tem o propósito de abordar a questão do luto enfrentado pelos pais com
filhos surdos e o relacionamento existente entre eles. Durante a realização da pesquisa,
considerou-se relevante compreender o processo do luto, os complexos familiares e a
assistência prestada pelas políticas públicas para os pais com filhos surdos.
É necessário revelar que esse artigo é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso, no qual
a escolha pelo tema se sucedeu durante o 7º semestre do curso de Psicologia, com a
realização do estágio em Psicologia em um centro de reabilitação localizado na cidade
de Salvador. Dessa maneira, foi indispensável refletir sobre a relação entre a família e a
criança surda, uma vez que constata-se que os genitores se desvinculam da idealização
de um bebê magnífico, precisando elaborar o luto e aceitar o real da surdez.
LUTO
A existência humana sempre esteve marcada por perdas, para as quais os homens
necessitaram encontrar estratégias de enfrentamento. A ocorrência da perda de um ente
querido ou perda de um objeto de amor convoca o sujeito a realizar processos psíquicos
importantes a fim de elaborar a perda real ou simbólica do objeto. Desse modo,
compreende-se que ao abordar a surdez é relevante discutir acerca do luto, já que, após
a sua descoberta, os pais precisam elaborar a perda do filho magnífico e lidar com o
filho real, o filho com a surdez.
Freud (1917), no artigo “Luto e Melancolia”, conceitua o luto como a reação do sujeito
à perda de um ente querido, assim como à perda de alguma abstração que ocupou o
lugar de um ente querido; entende também que o luto não pode ser considerado uma
patologia, pois o sujeito consegue superá-lo após algum tempo. Dessa forma, existem
alguns traços mentais que caracterizam o luto, são eles: o desânimo profundamente
penoso, a perda de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar e a
inibição de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele.
A melancolia também se refere à reação a perda do objeto amado, a uma perda retirada
da consciência. Entretanto, as causas se diferenciam, pois, na melancolia, a perda é fruto
de uma idealização, ou seja, o objeto não morreu, mas foi perdido algo do objeto de
amor que o sujeito não sabe. Além deste fato, também ocorre o rebaixamento de auto-
estima e auto-recriminação do sujeito, no qual o seu ego se torna pobre e vazio. Dessa
forma, estes são fatores que se diferenciam do luto. (FREUD, 1917).
Desse modo, os pais cujo filho é surdo enfrentam o luto, não a perda real de um filho,
mas a perda de um filho imaginário, o qual foi idealizado antes mesmo do seu
nascimento. Compreende-se que para que ocorra a aceitação desse filho é necessário o
deslocamento da ideia de perfeição que todos os pais irão ter, independente da criança
nascer surda ou não.
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OS COMPLEXOS FAMILIARES
Diante deste fato, considera-se que a relação entre pais ouvintes e filho surdo é marcada
por equívocos na comunicação. Apesar do aparelho fonador, dos mecanismos de
produção dos sons e da utilização da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, a
comunicação não se constitui de forma íntegra. Os pais ouvem o que a criança quer
dizer, entretanto, ao escutar, o seu significante irá se ligar com o significante do filho e
ocorre o que se compreende por equívocos na comunicação. A demanda da criança é
formada pelos significantes dirigidos à mãe e essa demanda trata-se de uma demanda de
amor. Segundo Leclaire (1997), a criança maravilhosa que incide no imaginário dos pais
se torna a representação inconsciente primordial, do qual fazem parte a nostalgia, os
anseios, os sonhos, o desejo e a esperança dos pais. Entende-se que no desejo dos pais
existirá uma perda em que eles não se conformaram. Diante deste fato, cabe ao analista
fazer com que se torne manifesto o desejo de matar essa criança maravilhosa, trata-se de
uma morte necessária, mas irrealizável já que a criança maravilhosa sempre irá renascer.
Entretanto, com a criança surda, a comunicação ocorre por meio da língua de sinais, a
qual propicia aos pais uma determinada escuta visual estável e dialogal, a fim de que
reorganizem o desenvolvimento da personalidade infantil. É sabido que a percepção, a
análise e a elaboração do pensamento da pessoa surda percorrem caminhos cognitivos
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Quando a mãe afirma não deixar o filho interagir com as outras crianças, revela a
superproteção existente nessa relação. Sobre esse fator, Falcão (2010, p.79) afirma que:
Para Oliveira et al. (2004 apud NEGRELLI; MARCON, 2006), há uma resistência no
que se refere à aceitação e aderência a LIBRAS dentro de casa. Assim, as mães
conversam com os filhos através de mímicas e sem a existência de linguagem. Este fato
consiste numa forma de negação à condição da surdez, que ocasiona conflitos
emocionais no filho surdo. A falta de comunicação também gera dificuldades em
entender as necessidades do filho, assim como problemas na socialização da criança,
levando, ocasionalmente, ao surgimento de comportamentos agressivos.
ACOLHENDO OS PAIS
Compreendendo a necessidade de espaços nos quais os pais com filhos surdos sejam
acolhidos e escutados, os serviços Psicológicos e de Assistência Social devem
possibilitar momentos de orientação e informação para esses pais. Neles, deve existir a
oportunidade de dividir com outros pais que passam pelos mesmos dilemas a sua
experiência, os seus sentimentos, os medos e as dúvidas. Dessa maneira, é necessária a
estruturação de redes de apoio sociais populares e institucionais. Estas redes devem
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No que se refere aos conteúdos abordados no Programa de Orientação aos Pais, deve-se
ajustar esses conteúdos em concordância com as suas necessidades, introduzindo
conteúdos sobre o perigo da família ser um foco de pulsões destrutivas e autopunitivas,
violentamente acentuadas por ocasião do nascimento da criança surda e pelo sentimento
de incapacidade de interagir normalmente com ela; a desestruturação familiar que pode
acontecer por causa do diagnóstico médico; das funções criativas de suporte e de
estimulação das potencialidades da criança surda, para que se tornem agentes do
desenvolvimento do filho; de valores positivos como: coragem, realismo,
autoconfiança, apoio e entusiasmo, que provocam mudanças de atitudes frente ao
desafio que é a educação de um filho surdo; do papel da família no processo de
interação e integração social do filho surdo. (BRASIL, 1997)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo compreender o processo de elaboração do luto de pais
com filhos surdos, assim como discorrer sobre os equívocos da comunicação entre pais
e filhos surdos e investigar como as Políticas Públicas se ocupam da atenção integral a
essa população.
No decorrer do estudo percebeu-se que a relação dos pais com filhos surdos é marcada
por equívocos da comunicação, a qual é um fato inerente ao sujeito. Quando o sujeito
fala, o outro pode ouvir o que ele falou, mas nunca o que escutou. Entende-se que a
comunicação vai além do ouvir e, no caso de pais com filhos surdos, essa comunicação
perpassa por caminhos que impossibilitam a comunicação eficaz. Apesar da LIBRAS, a
comunicação não se faz de forma íntegra: alguns pais apresentam resistência à aceitação
e aderência à LIBRAS dentro de casa, consistindo, dessa maneira, em uma negação à
condição da surdez, que pode desencadear conflitos emocionais, problemas de
socialização e mudança de comportamento.
Durante a realização da pesquisa foi constatado que a correlação entre luto dos pais e
surdez é um tema ainda incipiente e pouco explorado pelos profissionais de Psicologia.
Dessa forma, é necessária a realização de mais pesquisas e a elaboração de projetos nas
instituições públicas que acolham esses pais, visto que os mesmos necessitam ser
escutados. Este trabalho é finalizado, portanto, com a perspectiva de que as reflexões
elaboradas sejam capazes de contribuir para a resolução de ações efetivas, as quais
favoreçam a qualidade de vida dos filhos surdos e de seus pais dos pais com filhos
surdos e a dos seus filhos.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Deficiência auditiva Organizado por Giuseppe Rinaldi et al.
Brasília: SEESP,1997.
BRAUER, J. F. O sujeito e a deficiência. Estilos clin., vol.3, n.5, p.56-62, 1998. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v3n5/08.pdf>. Acesso em: 12 out. 2016.
FALCÃO, L. A. Surdez, Cognição Visual e Libras: estabelecendo novos diálogos. Recife: Autor, 2010.
FREUD, S. (1917). Luto e Melancolia. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974, v.XIV, p.275-291.
LECLAIRE, S. Pierre-Marie ou sobre a criança. In: LECLAIRE, S. Mata-se uma criança. Rio de
Janeiro: Zahar, 1997.
Raissa Tostes
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Fonoaudióloga, Licenciada em Letras com Habilitação em Libras, Doutoranda em Psicologia Cognitiva.
E-mail: daniele.veras@gmail.com; Link para o currículo Lattes:
2
Pedagoga, Doutora em Educação, Professora da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail:
ana.daxenberger@gmail.com; Link para o currículo lattes:
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A fim de responder esta pergunta, o objetivo geral desta pesquisa é identificar e discutir
sobre as contribuições da teoria de Vigotski para a Educação de surdos e objetivos
específicos, apresentar os principais conceitos da teoria de Vigotski; expor os
fundamentos da Defectologia e relacionar a obra de Vigotski com a educação de surdos.
Para atingir este objetivo, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico nas obras
de autoria de Vigotski, especificamente: a Construção do Pensamento e da Linguagem
(VIGOTSKI, 2009), A Formação Social da Mente (VIGOTSKI, 2007), Psicologia
Pedagógica (VIGOTSKI, 2010) e Obras Escogidas, Tomo V - Fundamentos de la
Defectologia (VIGOTSKI, 2012) além dos pressupostos básicos e históricos da
Educação de Surdos.
Para entender esta relação se fez necessário primeiramente apresentar a teoria basilar de
Vigotski e em seguida os aspectos voltados a Defectologia, logo após um panorama
geral da Educação de Surdos e posteriormente a relação entre essas duas temáticas. Este
trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem crítica sobre as
contribuições de Vigotski à educação de surdos.
Nascido em 1896 na pequena cidade de Orsha na extinta União Europeia, Lev Vigotski
tornou-se um dos principais teóricos da chamada Psicologia Sócio-Histórica. Apesar do
pouco tempo de vida, Vigotski faleceu em 1934, com apenas 37 anos, devido a
complicações de uma tuberculose, os postulados de Vigotski se expandiram pelo mundo
e se tornaram base para novas formas de enxergar a aprendizagem e o desenvolvimento
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Podemos assumir que para Vigotski (2007; 2010) a linguagem estrutura o pensamento –
este que surge, por exemplo, quando uma criança conta em voz alta – a chamada fala
interior ou egocêntrica, não dirigida ao outro – sobre uma ação, ou seja, faz com que
linguagem e o pensamento se encontram. Ainda assim, a linguagem ajuda a efetivar e
controlar o comportamento.
Sendo assim, é na relação que se a criança se inicia a constituir como sujeito: quando
estiverem construindo as zonas de desenvolvimento proximais.
FUNDAMENTOS DE DEFECTOLOGIA
Sendo assim, este olhar indica que não se considere apenas as falhas e faltas do sujeito,
mas também um contexto vívido de suas funções psicológicas superiores que via trazer
3
Usaremos o termo Defectologia como Vigotski utilizou em sua obra. É importante ressaltar que os
estudos e registros por ele realizados forma aproximadamente entre 1920 e 1930 e, portanto, é natural que
algumas nomenclaturas utilizadas por ele em sua obra não sejam mais utilizadas atualmente, como o
termo surdo-mudo e anormal.
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na educação de pessoas surdas. O Oralismo (ensino para pessoas surdas com base na
comunicação oral, através de treinamentos de leitura orofacial e de fala, baseado em
diferentes metodologias, geralmente utilizando resíduos auditivos.) foi adotado como
método de ensino.
O método da Comunicação Total chegou, no Brasil, por volta dos anos 1970, após a
visita da educadora de surdos da Universidade de Gallaudet, Ivete Vasconcelos. Através
desse novo método de ensino o aluno surdo tem a permissão de escolher quais seriam os
recursos que eles se valeriam para executar a comunicação: língua de sinais, gesto,
mímica, leitura-escrita, fala e leitura labial.
linguísticos para que o surdo tenha acesso à linguagem de qualquer forma, o que
corrobora com os fundamentos da Comunicação Total, apesar do autor enfatizar o
gestual, ainda mostra uma preocupação com as demais formas de linguagem que o
surdo poderia utilizar para a sua comunicação com outros surdos e ouvintes.
Por não ouvir, o surdo dificilmente irá apoiar-se na relação oralidade/escrita o que
tornará ainda mais relevante o aspecto visual no processo de aquisição/aprendizagem da
língua escrita e demais conceitos, como afirma Vigotski (2004), o desenvolvimento da
linguagem escrita independe do desenvolvimento da fala e as funções mentais que
envolvem são diferentes. Para Vigotski (2007), a escrita é um processo que não será
construído nos primeiros anos de escolaridade, e, sim ao longo da vida. O que nos leva a
repensar nas concepções tradicionalistas do ensino de Língua Portuguesa escrita para
surdos enfatizando o aspecto visual como fator constitutivo desse processo e (pseudo)
fundamentadas no bilinguismo.
Ao professor, cabe se distanciar cada vez mais e de forma mais efetiva de alguns
‘tradicionalismos’ no ensino do Português, ‘tradicionalismos’ esses que se tornam ainda
mais prejudicial quando usados na educação de surdos Além disso, o professor assumirá
o papel de mediador na aprendizagem do aluno surdo, será o adulto experiente – seja
surdo ou ouvinte – que proporcionará a vivencia do aluno surdo na Zona de
Desenvolvimento Proximal e, consequentemente, na sua aquisição de conhecimentos
linguísticos e não-linguísticos.
Vigotski (2012) classifica a surdez como uma deficiência orgânica, considerada apenas
do ponto de vista do desenvolvimento físico e formação da criança, não é vista como
uma lacuna particularmente grave. Na maioria das vezes esta deficiência permanece
mais ou menos isolada, sua influência direta sobre o desenvolvimento como um todo é
relativamente pequena; geralmente não cria perturbações ou atrasos particularmente
graves no desenvolvimento global. Além disso, enfoca que foi criada a língua de sinais,
ou seja, o alfabeto digital e o discurso dos surdos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra de Lev Vigotski contribuiu em vários aspectos para Educação no mundo todo,
ao realizar um paralelo de seus pressupostos com a especificidade de Educação de
Surdos, fica claro que Vigotski foi um estudioso além de seu tempo e com ideias que
corroboram as teorias atuais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de
2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá
outras providências. Brasília, 2002.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. Teoria e Método em Psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Editora WMF, 2016.
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RESUMO
REFERÊNCIAS
QUADROS, R.M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
VYGOTSKY, L.S. Obras Escogidas. Tomo V. Fundamentos de defectología. Madrid: de. Visor, 1997
RESUMO
1 Acadêmico do Curso de Licenciatura Plena em Química pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
2 Doutor em Ensino, Filosofia e História das Ciências Pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA)/Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestre em Ensino, Filosofia e História das
Ciências Pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)/Universidade Estadual de Feira de Santana
(UEFS), Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em regime de dedicação exclusiva e do
Instituto Cultural Steve Biko, como voluntário. *Email: afpenha@uneb.br
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REFERÊNCIAS
LINDINO, Terezinha Corrêa et al. Química para discentes surdos: uma linguagem peculiar. Trama, v. 5,
n. 10, p. 145-158, 2009.
SOUSA, Sinval Fernandes de; SILVEIRA, Hélder Eterno da. Terminologias químicas em Libras: a
utilização de sinais na aprendizagem de alunos surdos. Química Nova na Escola, v. 33, 1, 2011.
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LINHA DE INSCRIÇÃO
CULTURA E IDENTIDADE
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RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEn), cillablack20@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/4039568535729921.
2
Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEn), beneditoeugenio@bol.com.br,
http://lattes.cnpq.br/1274035318009124.
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surda, pois aborda conjuntamente dois marcadores sociais de diferenças: raça e surdez.
O texto objetiva apresentar a trajetória do Congresso Nacional de Inclusão Social do
Negro Surdo – CNISNS da origem até os dias atuais.
Imagem 1: A foto do encontro de negros surdos no evento de ENJS, em São Paulo, no ano de 2008.
Acima, da esquerda para direita: Edvaldo Santos (SP), Wilson Silva (SP), Bruno Ramos (RJ), Paulo
Prexedes (SC). Abaixo, da esquerda para a direita: Adriano Rodrigues (CE), Priscilla Leonnor (BA),
mulher negra surda (sem referência de identificação) e Sandro Pereira (SP).
Imagem 2: O símbolo do Negro Surdo feito por um ilustrador surdo de São Paulo
O símbolo remete à abordagem dos grupos étnicos e não dos grupos de cor. Percebemos
que casos de preconceito e discriminação com negro acontecem tanto com o surdo
quanto com o ouvinte, ambas as vítimas de discriminação racial, muito embora, os
negros surdos, além disso, sofrem com a barreira comunicacional. O Congresso de
negros surdos abre portas para discussão dessas e de outras demandas extremamente
importantes.
“as identidades sociais que envolvem as questões de classe, raça, cor, etnia,
gênero, religião, língua, idade, orientação sexual, entre outros, tem sido
substituída por um discurso universalista, voltado especificamente para a
deficiência, desconsiderando aspectos fundamentais na formação dos sujeitos
e de suas comunidades.”
É importante considerar que do ponto de vista étnico podemos ter os negros surdos,
brancos surdos, ruivos surdos, surdocegos negros, etc. Assim, quando esses sujeitos
assumem suas identidades sociais, contribuem para dar visibilidade à luta por
reconhecimento. Para Buzar (2012), a identidade social se dá por meio da participação
da comunidade nos variados contextos, fazendo valer o direito democrático.
METODOLOGIA
Nesse tipo de pesquisa faz-se o uso de documentos, este entendido não apenas como
material impresso ou texto escrito, mas também filmes, vídeos, slides, reportagens,
relatórios, fotografias, materiais que ainda não passaram por nenhum processo de
tratamento científico, utilizados como fontes de informação, indicações e
esclarecimentos e que auxiliam no entendimento ou reconstrução de determinada
questão.
No caso deste texto, as fontes empregadas podem ser consideradas como fontes
primárias, visto que ainda não passaram por nenhum tratamento analítico anterior.
Valemo-nos de fotografias e panfletos, relatórios dos congressos, informações
disponíveis no site de cada edição do CNISNS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo como base o direito legal e humano, discutiu-se sobre o mercado de trabalho e a
diferença na remuneração do trabalho para pessoas com deficiência. Comparado aos
ouvintes, os surdos não recebem salários equiparados, o que torna-se desmotivante e
tem como uma das consequências a baixa produtividade no trabalho.
Outro ponto de grande valia foi a discussão da Lei nº 5346/2008, quando no art.1º
institui o sistema de cotas para negros, indígenas, pessoas com deficiência e alunos de
escola pública. Já no art. 2º institui o percentual de cotas para raças, pessoas com
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deficiência, alunos de escola pública. Esse sistema de cotas para vagas nas
universidades é de extrema importância.
A organização do evento tomou um molde diferente, até mesmo devido a sua trajetória,
quando a metodologia precisou ser alterada devido às parcerias conquistadas, sendo elas
a Feneis, a Prefeitura Municipal de Salvador e parceria de diversas instituições. Recebeu
como convidado o palestrante Benro Ogunyipe, vice-presidente da National Black Deaf
Advocates, dos Estados Unidos – NDBA. O congresso aconteceu na Universidade
Estadual da Bahia – UNEB, nos dias 15 e 16 de novembro de 2013, tendo como tema
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Sobre os movimentos sociais voltados pela luta do espaço do negro na sociedade, Souza
(s/p, p.15) aponta que “O Movimento Negro tem sido um espaço de fortalecimento da
identidade negra, muitas vezes representa à práxis, a ação política que possibilita o
conhecimento e o encontro com a ancestralidade negra”.
A Associação Educacional Sons do Silêncio – AESOS levou seus alunos negros surdos
para uma apresentação cultural com o tema Ancestralidade, contando a história de
negros escravizados, a sua culinária, cultura, vestuário, dança e demais componentes da
cultura afrodescendente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho reforça a ideia de que o Congresso, pauta principal deste trabalho, não surgiu
facilmente, haja vista a sua organização, devido à pouca aceitação logo nos primeiros
trabalhos. Com isso, percebe-se a importância do apoio para que o evento seja realizado
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REFERÊNCIAS
BUZAR, Francisco José Roma. Interseccionalidade entre raça e surdez: A situação de surdos(as)
negros(as). São Luís – MA. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade de Brasília –UnB,
Faculdade de Educação, Programa de Pós –Graduação em Educação, 2012.
CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques
epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, Vozes, 2008.
GOLDENBERG, Miriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.
SOUZA, Edileuza Penha de. A ancestralidade africana de Mestre Didi expandindo a intelectualidade
negra Brasileira. Disponível em http://www.brasa.org/wordpress/Documents/BRASA_IX/Edileuza-
Penha-de-Souza.pdf.
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INTRODUÇÃO
Nesse contexto, a fotografia pode ser vista como uma aliada em vários processos de
aprendizagem, sendo utilizada como ferramenta de ensino em diversos temas e
abordagens, tornando-os mais práticos e dinâmicos. Como foi proposto no presente
artigo, à intenção de dialogar fotografia e educação ambiental, que para Carvalho
1
Graduada em Gestão de Turismo – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano campus
Uruçuca. Graduanda em Agronomia – UESC. E-mail: tatiane_reis7@hotmail.com,
(Lattes: http://lattes.cnpq.br/3332238592358163);
2
Graduado em Gestão de Turismo – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano campus
Uruçuca. E-mail: almeidaandersonsilva@outlook.com, (Lattes: http://lattes.cnpq.br/5032106447970945);
3
Docente Especialista em Libras - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano campus
Uruçuca – coorientadora do projeto. E-mail: daniele.barreto@urucuca.ifbaiano.edu.br,
(Lattes: http://lattes.cnpq.br/0127218296711043);
4
Docente Msc. em Meio Ambiente – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano campus
Uruçuca – orientador do projeto. E-mail: diogo.gomes@urucuca.ifbaiano.edu.br,
(Lattes: http://lattes.cnpq.br/8613343535456091).
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(2008), foi criada através da preocupação com a qualidade de vida da espécie humana
presente e futura de acordo com um movimento ecológico, tendo como intuito a
sensibilização individual com o meio ambiente. Nesse caso, a fotografia possui um
papel importante de sensibilização e educação ambiental para as pessoas surdas, por ter
como foco o sentido visual, estimulando a percepção destes à natureza ao seu redor, que
por vezes pode passar despercebida, por não serem incentivados a admirar, cuidar e
preservar da natureza, não serem devidamente “apresentados” ao bioma predominante
em sua região, que certamente possui muitas riquezas, como é o caso da Mata Atlântica
no sul da Bahia.
Silva e Dias (2012) ainda ponderam que é necessário se trabalhar como multiplicador da
educação ambiental, no incentivo ao cuidado e proteção do ecossistema, tendo em vista
a inclusão de pessoas com necessidades especiais, de maneira mais abrangente e
imparcial, fazendo valer o direito destes ao ensino. Uma vez que educação ambiental
também envolve questões sociais e culturais, pois se assim não for, a sociedade
continuará egoísta e indiferente às necessidades alheias, principalmente com relação aos
deficientes.
Considerando que a região Sul da Bahia possui uma das principais áreas de Mata
Atlântica do planeta, se mantendo preservada, apesar da constante devastação que vem
ocorrendo há muitos anos. E sendo o de maior importância para a conservação da
biodiversidade global e onde se encontra um dos mais significativos centros endêmicos
(ARAÚJO et al., 1998). Buscou-se conciliar inclusão social, cultura surda, fotografia,
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 407
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educação ambiental e Mata Atlântica, visto que o Instituto Federal Baiano campus
Uruçuca encontra-se em meio a essa riqueza natural, possuindo um remanescente de
Mata Atlântica dentro do campus, denominado como Reserva Ecológica da Matinha,
que é uma reserva de Mata Atlântica com 18ha, com trilhas interpretativas utilizadas
como laboratório das disciplinas e em projetos.
Sendo assim, o projeto teve como objetivo promover educação ambiental para pessoas
surdas através de oficina de fotografia e meio ambiente para pessoas da comunidade
surda de Uruçuca, Ilhéus e Itabuna, oportunizando o contato com o ambiente natural,
através de visita a reserva ecológica que o campus possui.
METODOLOGIA
A oficina foi realizada dia 1° de abril de 2017, no Instituto Federal Baiano campus
Uruçuca, sendo adaptada com recursos para a aprendizagem visual e com participação
de tradutora e intérprete de Libras que o campus possui; primeiramente foi apresentada
a oficina de iniciação à fotografia digital, explicando os conceitos básicos da fotografia,
como enquadramento, close, foco e perspectiva; Em seguida, foi apresentada a oficina
sobre meio ambiente, mostrando os diferentes biomas, a importância da Mata Atlântica
e da preservação ambiental. Depois da oficina, os participantes puderam colocar em
pratica o que aprenderam na oficina, através de visita a Reserva Ecológica da Matinha
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Nessa visita, os surdos puderam ter contato direto com o ambiente natural e fotografar a
natureza, como demonstra as imagens 1 e 2. Após a visita, os surdos responderam a um
questionário para relatar sobre a experiência da oficina e visita à reserva, para essa
entrevista, o questionário foi lido por um integrante do projeto, enquanto a interprete de
libras traduzia a pergunta para os participantes individualmente, este respondia, e a
interprete traduzia sua resposta, enquanto outro integrante do projeto gravava as
entrevistas, de modo que entrevistados e entrevistadores se compreendessem; depois
estas entrevistas foram transcritas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Respondendo sobre o que não gostaram na visita, os surdos responderam que a chuva
atrapalhou um pouco, pois no dia estava chovendo muito. Também se incomodaram
com os mosquitos. Quando questionados sobre o que mais gostaram na visita,
responderam que gostaram muito de observar as arvores, sentir o ar fresco e puro, a
variedade de arvores, as flores, plantas brotando, o cantar dos pássaros.
Com relação aos banners que foram confeccionados, até o momento foram realizadas
cinco exposições fotográficas: duas no IF Baiano campus Uruçuca, outra em um evento
da semana do meio ambiente em Serra Grande (vila litorânea – distrito de Uruçuca), na
praça pública de Uruçuca (figura 5) e no 9° Festival do Cacau e Chocolate, em Ilhéus.
CONCLUSÕES
Podemos concluir que a oficina de fotografia e meio ambiente junto com a visita à
reserva de Mata Atlântica foi uma experiência muito positiva, tanto para a comunidade
surda, como para os integrantes do projeto, onde todos puderam interagir entre si
conhecimentos mediados em Libras, e com a natureza, agregando conhecimento a todos
os presentes.
As pessoas surdas ficaram muito empolgadas com o dia da oficina e o contato com a
natureza, tanto que dias após a oficina, eles continuaram mandando fotografias,
mostrando como estavam conseguindo aperfeiçoar suas fotos através das praticas que
aprenderam. Os integrantes do projeto também puderam analisar o ambiente natural de
outra forma, e aprender com os surdos os elementos naturais em libras, usar a visão de
uma maneira mais aguçada, prestando mais atenção aos detalhes, graças às observações
do comportamento dos surdos.
REFERÊNCIAS
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2013.
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RESUMO
1
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Docente da Universidade Federal do
ABC (UFABC). E-mail: kate.kumada@ufabc.edu.br. http://lattes.cnpq.br/2746290295878975
2
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Docente da Universidade de São Paulo
(USP). E-mail: rosangel@usp.br | http://lattes.cnpq.br/9335359966061935
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ABSTRACT
Decree 5,626 / 05, among other legal provisions, established the training of teachers of
Libras, determining to deaf people the priority in entering these courses. With regard to
federal institutions of higher education that offer bilingual undergraduate Education or
Bachelor of Arts with specialization in pounds, in addition to compliance with the deaf
applicants, it is necessary obedience to the affirmative action policy (PAA) of Law No.
12,711 / 12 by guaranteeing the reservation of places for subjects coming from public
schools, self-declared "blacks, pardos and natives" and / or with income equal to or less
than 1.5 minimum wage. Given the above and considering that in our contemporary
society the postmodern subject consists of fragmented and multi-faceted identities, we
must ask: how has been addressed the occurrence of multiple identities in a single
participant, for example, deaf and black or deaf and Indian? In order to answer this
questioning, the present work had the objective of discussing the (in) visibility of
fragmented identities in selective processes of higher education courses for teachers of
Libras. The qualitative approach guided the methodology of this documentary research
conducted from a corpus of 80 notices and 217 attachments and additional documents of
selection processes for entry into higher education courses aimed at training Pounds
teachers, being adopted as clipping the period 2006 to 2015 and the edicts belonging to
the federal institutions offering the courses in question. Among the results found, we
identified that there was greater compliance with Law No. 12.711 / 12 compared to
Decree No. 5,626 / 05. Thus, 59 of the 80 edicts (74%) analyzed attended the PAA, with
only 31 of those (39%) who fulfilled the determination of both of the aforementioned
legal documents. However, among the selective processes that obeyed the priority for
the deaf and the PAA, 11 edicts (35%) imposed on the candidate to choose between
competing for vacancies for the deaf or the vacancies for PAA. The results denote an
interpretation still restricted, on the part of some institutions, of the constitution of the
postmodern subject, determined under different identities. This scenario reveals the
flagrant need for more discussion about deaf identities, especially regarding the policies
of differentiation for subjects who are situated in more than one situation of exclusion.
REFERÊNCIAS
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 2005. Seção 1, p. 28-30. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de
2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de
nível médio e dá outras providências.
RESUMO
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
Inquietações da vida contemporânea e suas formas atuais de organização: uma relação de imanência.
HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação e
Realidade, Porto Alegre: UFRGS/Faced, v.22, jul./dez. 1997, p.15- 46.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2. ed. rev. Florianópolis: Ed. da UFSC,
2009.
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LINHA DE INSCRIÇÃO
TRADUÇÃO/
INTERPRETAÇÃO
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RESUMO
RESUMO
1
Licenciando em Letras – Libras pela Universidade Federal de Juiz de Fora
2
Licenciando em Letras – Libras pela Universidade Federal de Juiz de Fora
3
Bacharelando em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Juiz de fora
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REFERÊNCIAS
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Alejandro Colás. Barcelona; Icaria Fuhem, 1994.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
4
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino, PPGEN da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, UESB, BRASIL. E-mail: bibidabahia@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3381997630021198
5
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,UESB, BRASIL. Orientadora. E-mail:
prof.cida2011@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0811302121043675
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Este artigo faz parte de uma pesquisa de estudos do Mestrado Acadêmico em Ensino,
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), sobre a prática pedagógica
de uma professora bilíngue (na pesquisa chamada de Laura) do Centro de Apoio
Pedagógico de Ipiaú no ensino da leitura e escrita através do sistema SignWriting (SW).
Em seu trabalho didático Laura se utiliza dos editores de texto SignPuddle e do SW-
Edit, nas atividades pedagógicas, para registro do sistema de escrita de sinais.
Neste trabalho, portanto, nosso objetivo é discutir, ainda que de forma sucinta, o uso
desses sistemas no ensino/aprendizagem do SW.
Nas práticas de alfabetização e prática da Libras na sala de aula, Laura trabalha com
gêneros textuais diversos fazendo uso do sistema SW como prática diária. Por meio dos
editores de texto, SignPuddle e do SW-Edit o SignWriting é registrado no computador e
editado para leitura, produção de textos e demais atividades pedagógicas.
Assim, no contexto escolar deve-se trabalhar com os vários níveis de proficiência com
leitura e escrita na língua de sinais (inicial, intermediário e avançado) para que as
capacidades individuais e sociais possam ser desenvolvidas com autonomia e
compreensão.
Ao fazer referência ao uso da escrita de língua de sinais pelo sistema SW, reportamo-nos
ao conceito de letramento, conforme explicitado por Lodi et. al. (2012, p. 11, apud
Signorini, 2001. p.8-9) como: “[...] conjunto de práticas de comunicação social
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Quanto ao letramento dos surdos, Thoma et. al. (2014, p. 10) complementam que:
Soares (2003, p. 89) afirma que “É na escola que se ensina e que se aprende a
tecnologia da escrita”. Para alunos surdos podemos usar a tecnologia da escrita de
sinais, o uso de SW também nas redes sociais. O crescente número de adeptos ao uso da
Escrita de Sinais, provavelmente, se deve a clareza visual e leitura mais inteligível, ou
seja, por ser mais fácil compreender e memorizar, permitindo maior desenvolvimento
na aquisição de linguagem tecnológica. É importante ressaltar que o grupo social de
pessoas surdas que utilizam as línguas de sinais, tem o direito de expressar sua
experiência e sentimentos na sua língua, inclusive na tecnologia móvel a exemplo do
celular, do tablet, do notebook, etc.
O editor de texto SignPuddle é usado com frequência nos sistemas tecnológicos, visto
que está disponível on-line. Ainda disponibiliza textos em literatura, artigos, manuais,
lingüística e outros. Segundo Wanderley e Stumpf (2016, p. 158) “[...] no software
desenvolvido para o sistema de escrita no site SignPuddle, criado por Valerie Sutton
(2003), servindo para nós, sinalizadores, que criamos ou traduzimos os sinais na
escrita”.
Fonte: http://www.signbank.org/signpuddle2.0/searchsymbol.php?ui=12&sgn=46
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O grupo de pesquisas de software de criação dos editores de textos traz uma reflexão
sobre a importância dos editores de textos para surdos, utilizando os símbolos de Língua
de Sinais pelo sistema de SignWriting, (fig. 5) dando a possibilidade de ler e escrever no
editor de texto para formatação de textos, arquivo, objetos, dados, e outros, organizando
as estruturas visuais e ajudando com as regras de gramática em Libras
Fonte: http://www.signwriting.org/forums/software/archive/softarc11.html
A Utilização de editores dos textos tem vários objetivos, de produção livre, livros,
gênero textual, e outros, mas o software SW-Edit não está atualizado, por isso apenas o
SignPuddle tem sido usado com freqüência.
Ainda assim, já averiguamos que no CAPI, a professora opta por utilizar o SignPuddle e
afirma que esse programa permite melhores recursos na tradução. Também justifica a
escolha deste programa pelo fato de dispor de ferramentas que facilitam a tradução.
Figura 6 – Atividade de SW
Essa foto mostra a atividade com uma aluna no CAPI. A professora explica o
significado das questões e solicita as respostas. A atividade é uma forma de treinar a
escrita em SW. É importante ressaltar que a relação de interação entre professor e aluno
é muito importante nesse processo de aquisição e construção de conhecimento.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratar de editores de texto para o sistema SW ainda é algo complexo, pelo fato de ser
uma nova perspectiva. Existem poucos registros e recursos nessa área e os editores de
textos mais usados são o SignPuddle e o SW-Edit. Esse último não foi atualizado e por
isso ficou em desuso, por não acompanhar a evolução e dinamicidade da língua.
É possível afirmar que os editores de texto têm sido desenvolvidos para registrar as
produções dos textos em SW nos ambiente sociais. Assim também os docentes que
conduzem as práticas de letramentos nas suas áreas para discentes surdos, contribuem
no processo de aprendizagem das atividades de produções textos através da utilização
dos softwares. É importante para os alunos utilizarem a Libras, leitura e escrita de sinais
como estratégia para aperfeiçoar a prática da língua sinalizada.
REFERÊNCIAS
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2012.
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2015.
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Sinais no papel e no computador. Porto Alegre: UFRGS, CINTED, PGIE, 2005.
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Silva; LOPES, Maura Corcini (Orgs.). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença
no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.
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Língua. Portuguesa. Disponível em:
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RESUMO
A partir da Lei 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como
meio legal de expressão e comunicação da comunidade surda brasileira e do Decreto
5.626/2005 que dispõe da legalidade dessa língua e das políticas públicas para inclusão
educacional e social do sujeito surdo, torna-se necessário um aprofundamento teórico
sobre a formação do Tradutor e Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP) e
refletir de que maneira esse processo formativo tem potencializado a atuação desse
profissional, haja vista, a presença do TILSP tornou-se constante nos mais diversos
espaços sociais. O presente trabalho tem como objetivos verificar como está
acontecendo, atualmente, à formação do TILSP no Brasil, analisar o percurso histórico
desse profissional na direção de identificar o processo de formação e refletir a respeito
da sua atuação nos diversos espaços educacionais e sociais. A escolha metodológica, de
natureza qualitativa, define o caminho do estudo que configurou-se em uma pesquisa
bibliográfica, revisão de literatura exploratória, partindo de uma análise estrita de fontes
de estudos já elaborados como artigos, dissertações e teses publicados após o Decreto
5.626/2005. Para alcançar os objetivos propostos por esta investigação, fez-se
necessário aprofundar o referencial teórico que possibilitou a análise dos dados
levantados e a resposta à problemática deste estudo. Dentre os autores que subsidiaram
esta discussão destacam-se: BASSNET (2003) com as contribuições acerca da tradução-
interpretação não apenas como uma transferência entre línguas, mas também um
processo cultural; AUBERT (1994) que traz a discussão acerca das competências do ato
tradutório: competência linguística e referencial; QUADROS e KARNOPP (2004),
GURGEL (2010) e TUXI (2009) que debatem sobre a história desse profissional e a sua
formação. Com base nesses autores, dentre outros, os dados foram analisados e
permitiram concluir sobre a relevância da formação acadêmica do profissional Tradutor
e Intérprete de Libras/Língua Portuguesa, posto que, é uma profissão em ascensão e
como outros campos do saber exige uma qualificação formal e o almejado
reconhecimento da sua atuação nas diversas áreas.
1
Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Docente
de Língua Brasileira de Sinais (Libras) da UEFS. Email: lidineiacerqueira@uefs.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4339681902722176
2
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Educação (UFBA).
Docente de Língua Brasileira de Sinais (Libras) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB). E-mail: satila@ufrb.edu.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7990073246941713
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INTRODUÇÃO
A formação inicial dos TILSP foi empírica em contato com os surdos, a fluência era
adquirida e normalmente quem atuava eram familiares ou amigos dos surdos que quase
sempre estavam em situações que era necessária uma comunicação mais efetiva com os
ouvintes. Essa prática teve início no âmbito religioso, em meados da década de 80 e
estavam vinculadas ao trabalho filantrópico. De acordo com Souza e Silva (2006)
Assim, esses sujeitos não buscavam uma formação/qualificação profissional que até
aquele momento não era ofertada e nem exigida. Todavia, com o aumento da demanda
para o serviço de interpretação da Língua de Sinais Brasileira (LSB) e a qualidade do
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Vale ressaltar, que o ato de traduzir e interpretar não é apenas substituir, transferir as
palavras de uma língua para outra, mas é um processo cultural que envolve línguas e
culturas diferentes. (BASSNETT, 2003). No contexto da LSB a interpretação é mais
utilizada, pois o sistema de escrita de sinais ainda não é amplamente utilizado pelos
surdos, mas podemos relacionar as palavras de Eco (2007) com o ato interpretativo
uma tradução não diz respeito apenas a uma passagem entre duas línguas,
mas entre duas culturas, ou duas enciclopédias. Um tradutor não deve levar
em conta somente as regras estritamente linguísticas, mas também os
elementos culturais, no sentido mais amplo do termo. (2007, p. 190)
Destacamos que existia uma restrição de cursos para TILPS que era ofertado apenas
pela FENEIS, que não possui filial em todos os estados e os cursos de capacitação
existentes ainda não supriam todas as lacunas para uma formação mais qualitativa deste
profissional, pois a falta de preparo pode impactar em prejuízos nas informações
repassadas.
3
Assume-se o termo pessoa com deficiência como “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
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Posto isto, refletimos a cerca deste momento em que o sujeito surdo começa ocupar
vários espaços a partir das lutas encabeçadas pelos movimentos surdos e revindicar seus
direitos de acessibilidade linguística, narrando suas experiências e o ser Surdo como
“um modo de vida, um jeito diferente de viver, perceber o mundo através da visão e ter
o direito de utilizar a sua língua natural – a língua de sinais” (CERQUEIRA, 2018, p.
88), pois não querem ser vistos somente com um “indivíduo a ser corrigido”
(FOUCAULT, 2001, p. 72) através de cirurgias ou treinamentos para desenvolverem a
oralização, porque este é o discurso da medicina em que estes sujeitos são reduzidos a
sua condição orgânica.
participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas” (BRASIL,
2011, p.3).
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Este mesmo documento ainda dispõe sobre outros perfis de profissionais que poderiam
ser aceitos (no prazo de 10 anos), bem como uma certificação para aqueles que já
estavam no mercado de trabalho. Para cumprir esta exigência, o Ministério da Educação
e Cultura (MEC) junto com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
realizaram o primeiro Exame de Proficiência em Libras (Prolibras), em 2006, os
aprovados eram certificados para atuar como professores de Libras ou
tradutor/intérprete de Libras/Língua Portuguesa, porém o exame não aconteceu
anualmente como estava previsto.
Segundo Tuxi (2009) entre 2004-2008 foram fundadas várias associações de TILSP e
em agosto de 2008 foi criada a Federação Brasileira das Associações dos Profissionais
Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils),
fortalecendo as lutas e as conquistas destes profissionais que buscavam a valorização e
o reconhecimento da profissão. E para implementar a formação em nível superior foi
criado em 2008 o curso de Bacharelado Letras/Libras em tradução e interpretação, na
modalidade semipresencial, uma parceria da UFSC e do MEC com 15 pólos em todo o
Brasil. Este curso ficou conhecido como o pioneiro do país, entretanto, conforme relata
Gurgel (2010) outras instituições já promoviam cursos de formação nesta área
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a Universidade Estácio de Sá, que, no ano de 2004, promoveu um curso
tecnológico; em Piracicaba - interior de São Paulo, a Universidade Metodista
de Piracicaba (Unimep) que iniciou um curso superior de formação específica
de TILS em 2005 e, em Minas Gerais, a PUC-Minas Gerais, que, no ano de
2007, ofereceu um curso de Tecnologia em Comunicação Assistiva
(Libras/Braille). (GURGEL, 2010, p. 59)
O Plano Viver sem Limite, nas metas 2011-2014 de acesso à educação previu a criação
de 27 cursos de Letras-Libras, todavia estas metas não foram alcançadas em relação aos
cursos de tradução e interpretação, pois atualmente apenas três instituições oferecem
esta formação: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de
Santana Catarina (UFSC) e a Universidade Federal de Goiás (UFG). Em contrapartida,
houve um aumento na oferta de cursos de extensão ou de formação continuada de curta
duração que possibilita a certificação para profissionais de nível médio e graduados em
outras áreas. Houve também um crescimento circunstancial de cursos de pós-graduação,
de acordo com o e-MEC (base de dados oficiais referentes a cursos de graduação e
especialização das Instituições de Educação Superior – IES) estão em funcionamento 15
cursos, na modalidade presencial que também abarca profissionais com formações
variadas e que já atuam como TILSP.
Estas mudanças são de suma importância, pois vislumbramos um novo cenário para os
TILSP, por isso, desejamos que a aprovação deste documento seja efetivada e
implementada com celeridade, a fim de possibilitar benefícios para esta categoria.
Porém, o cargo de tradutor e intérprete de nível E, no âmbito federal, foi extinto
recentemente, caracterizando um retrocesso e mais uma vez a desvalorização deste
profissional.
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________. Decreto nº 7.612/2011. Institui os Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Nacional
Viver sem Limites. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/decreto/d7612.htm>. Acesso em: 01 de março de 2018.
________. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –Libras e dá
outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>.
Acesso em: 15 jan. 2018.
________. Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá
outras providências. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2000/lei-10098-19-
dezembro-2000-377651-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 15 jan. 2018.
ECO, H. Quase a mesma coisa. Experiências de tradução. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de
Janeiro/São Paulo: Record, 2007.
FOUCAULT, M. Os Anormais: curso no Còllege de France (1974-1975). Trad. Eduardo Brandão. São
Paulo: Martins Fontes. 2001.
RESUMO
RESUMO
1
Tradutora Intérprete de Libras, graduanda em Pedagogia, luciana.teixeira@ ifbaiano.edu.br, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, currículo
Lattes<http://lattes.cnpq.br/3237738847281216.
²Técnico em Assuntos Educacionais, junio.batista@ifbaiano.edu.br, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Baiano, Currículo Lattes < http://lattes.cnpq.br/0246349034307229>.
³Técnica em Assuntos Educacionais, grace.oliveira@ ifbaiano.edu.br, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Baiano, currículo Lattes <http://lattes.cnpq.br/2763864679046112>.
Congresso Internacional. Seminário de Educação Bilíngue para Surdos. 440
Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus I. Biblioteca
Professor Edivaldo Machado Boaventura. CDD: 371-912. Volume 2, 2018.
Publicação: 04 de maio de 2020. ISSN: 2526-6195.
1 INTRODUÇÃO
A constituição do campo de atuação do TILSP se deu a partir das demandas dos sujeitos
surdos, e da conquista de dispositivos legais que exigiram do poder público a
institucionalização de mecanismos de promoção da escola inclusiva.
Assim, ancorados nos preceitos do Art. 205 da Constituição Federal, que dispõe sobre o
direito de todos à educação, e no Art. 59 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, que preconiza aos estudantes currículo, métodos, recursos e organização
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Esse novo desenho pedagógico da escola inclusiva resgatou no sujeito surdo, que
historicamente situou-se à margem do processo educacional, o desejo de ingressar no
espaço escolar, compreendendo que a presença deste profissional configurara o estímulo
necessário ao desenvolvimento de seu potencial cognitivo, significando o elo capaz de
potencializar a aprendizagem significativa em um ambiente heterogêneo.
Neste artigo, são discutidos os achados de uma investigação qualitativa realizada junto a
5 (cinco) TILSP que atuam no Instituto Federal Baiano, buscando elucidar de forma
refletida a relevância do revezamento entre tradutores/intérpretes, e suas implicações na
saúde do profissional e na aprendizagem do estudante surdo.
Década de 1980 Realização o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos -FENEIS (1988).
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A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos escritórios
regionais da FENEIS;
Criação de escritórios estaduais da FENEIS em: São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte,
Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz no Rio de Janeiro (2002);
Década de 2000 Homologação da Lei Federal 11.796 que institui o dia 26 de setembro de cada ano como
Dia Nacional dos Surdos (2008);
Homologação da Lei 12.319/2010, que regulamenta a atuação dos TILS nos mais
diversos níveis e modalidades de ensino, desenvolvendo a comunicação entre surdos e
ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da
Libras para a língua oral, ou vice-versa (2010);
Assim, a partir de atividades laborais voluntárias que foram realizadas, à medida que os
surdos conquistavam o exercício da cidadania, ocorreu a profissionalização dos
Tradutores e Intérpretes de Libras/Português. Outro elemento também fundamental, foi
o reconhecimento da Libras como língua, garantindo-se o acesso a ela enquanto direito
linguístico. Desta maneira, as instituições, por força dos dispositivos legais, passaram a
assegurar acessibilidade e inclusão de pessoas surdas e promover a contratação de
profissionais TILSP.
Desta forma, pessoas com surdez e deficiência auditiva ingressam nos diversos Campi e
cursos do Instituto Federal Baiano. Concomitantemente, o Tradutor e Intérprete de
Libras/Português começou a compor o quadro de servidores técnicos do IF Baiano, a
fim de cumprir o que está expresso no Decreto 5.626/05, que dispõe o seguinte em seu
Art. 23,
Neste contexto, é importante destacar que o TILSP não realiza apenas tradução e
interpretação na sala de aula; ele deve, também, mediar a comunicação sempre que
necessário, em reuniões, palestras, diálogos, atendimentos e, ainda, deve dispor de
tempo para planejar. As atividades de planejamento envolvem compreender textos,
assuntos a serem abordados, estudar termos e expressões da língua fonte, a fim de
traduzi-los ou interpretá-los para a língua alvo. É necessário pesquisar os termos e
expressões da língua alvo, a fim de utilizá-los de maneira correta e coerente durante a
tradução ou interpretação.
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5 METODOLOGIA
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4A google forms é um serviço Google que tem por objetivo facilitar a criação de formulários e
questionários diversos. O serviço é disponibilizado gratuitamente para todos que possuírem uma conta
Google e o serviço pode ser acessado em diversas plataformas, como web, desktop e celular.
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O revezamento é ideal, considerando o cansaço físico e mental que a
interpretação exige. Após um longo período interpretando, o profissional
começa a apresentar confusões exatamente por causa do cansaço, e a
interpretação perde na qualidade. (TILSP A)
Uma infinidades de questões pelo motivo do tradutor não poder trabalhar só,
e isso leva uma séries de questões tanto físico, mental, esgotamento físico,
estresse e além de outras coisas. (TILSP E)
O estudo também objetivou compreender como o não revezamento entre TILSP reflete
na aprendizagem do estudante surdo. As afirmações dos TILSP destacam que o cansaço
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7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
8 REFERÊNCIAS
RESUMO
A palavra comunicar deriva do latim communicare que significa “partilhar algo”, “pôr em comum”.
Portanto, a comunicação é uma necessidade do ser humano e para os surdos esta é a maior dificuldade
para serem incluídos, socialmente. Na área da saúde a relação entre paciente-profissional é de suma
importância, pois a barreira da comunicação pode comprometer o processo do diagnóstico e/ou
tratamento. Este trabalho é resultado de um estudo descritivo do tipo empírico, que teve como objetivo
analisar e discutir a falta de acessibilidade linguística no atendimento ao surdo na rede de saúde no
município de Feira de Santana. Constatou-se que, nos consultórios e clínicas da rede pública e privada
urge a necessidade de profissionais qualificados para atender aos surdos usuários da Língua Brasileira de
Sinais (Libras), pois aqueles não sabem ou não possuem fluência nesta língua. Além disso, estes
ambientes também não dispõem de tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP), entretanto,
a presença do TILSP durante o atendimento pode interferir na autonomia do surdo e até causar
constrangimento. O decreto 5626/05 prevê apoio à capacitação e formação de profissionais da rede de
serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) para o uso de Libras e sua tradução e interpretação, mas não
consta a obrigatoriedade para as empresas privadas de assistência a saúde. O referencial teórico que
embasou as discussões foi: ARANHA (2001), SASSAKI (2010) contribuíram com as reflexões sobre
inclusão social e acessibilidade; ROSA (2003), GOÉS (2006) e QUADROS (2007) discutem sobre a
atuação e os princípios éticos do TILSP; CHAVEIRO, BARBOSA, PORTO (2008), CHAVEIRO et al
(2010) debatem sobre o atendimento ao paciente surdo. Vale salientar, a relevância desse trabalho porque
os estudos nessa área ainda são incipientes, porém de suma importância para este campo profissional.
Conclui-se assim, que a acessibilidade linguística para os surdos na rede de saúde ainda é um desafio,
urge a oferta de cursos de Libras, capacitação e formação continuada para os profissionais em atuação,
mudanças significativas nos espaços físicos a fim de propiciar a independência da pessoa com surdez e
alteração nos currículos dos cursos da área de saúde para que contemple uma formação voltada para essa
especificidade linguística.
PALAVRAS-CHAVE: Surdos. Atendimento. Saúde. Língua Brasileira de Sinais
REFERÊNCIAS
CHAVEIRO, N., BARBOSA, M.A., PORTO, C.C., Revisão de literatura sobre o atendimento ao
paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm .USP, 2008 Disponível
em: <www.scielo.br/scielo.<wbr></wbr>php>. Acesso em 25 jul de 2017.
ROSA, A. S. A presença do intérprete de língua de sinais na mediação social entre surdos e ouvintes. In:
SILVA, I.R.; KAUCHAKJE, S.; GESUELI, Z. M. Cidadania, surdez e linguagem. São Paulo: Editora
Plexus, 2003.
SASSAKI, R.K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 8 ed. Rio de Janeiro: WVA, 2010.
1
Docente do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Email: m-cv@hotmail.com
2
Docente do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
/Email: lidineiacerqueira@uefs.br