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Maria Marta Nolasco Chaves1, Liliana Müller Larocca2, Aida Maris Peres3
Palestra Apresentada na Mesa Redonda “O Ensino e a Pesquisa de Enfermagem em Saúde Coletiva frente à Consolidação do SUS”, 2º Simpósio
Internacional de Políticas e Práticas em Saúde Coletiva na Perspectiva da Enfermagem – SINPESC, Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo, São Paulo, 9-11 out. 2011. 1Enfermeira. Doutoranda do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem das Escolas de Enfermagem da
Universidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, Bolsista CNPq. mnolasco@terra.com.br 2Enfermeira. Professora Adjunta
do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Membro do Grupo de Estudos em Gestão, Políticas e Práticas de Saúde. Curitiba,
PR, Brasil. 3Enfermeira. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil.
Enfermagem em saúde
conhecimento crítico
coletiva:
Português a construção do
/ Inglês
sobre a realidade de saúde
www.scielo.br/reeusp
Chaves MMN, Larocca LM, Peres AM
Recebido: 24/10/2011
Aprovado: 16/11/2011
Rev Esc Enferm USP
2011; 45(Esp. 2):1701-4
www.ee.usp.br/reeusp/
1701
INTRODUÇÃO normatizadas e supervisionadas por pessoas com quali-
ficação profissional em posições superiores às suas, nor-
malmente profissionais com escolaridade universitária.
O artigo aborda o processo ensino-aprendizagem e de Nesse caso, atendendo às lógicas colocadas pelo modelo
produção do conhecimento de Saúde Coletiva em Enfer- econômico capitalista, no qual a produção em massa e o
magem a partir de uma reflexão, sob o prisma materialis- lucro eram premissas que se impunham à forma de orga-
ta histórico e dialético, que apresenta as relações entre o nização da produção(2).
trabalho em saúde coletiva e a formação do trabalhador
enfermeiro, inalienáveis ao processo de construção do co- Entretanto, no desenvolvimento dos novos modelos
nhecimento da área de Enfermagem. Aqui, o processo en- de produção para atender ao mercado de consumo em
sino-aprendizagem aliado à construção do conhecimento um mundo globalizado, foram introduzidas tecnologias
são tratados como potencialmente transformadores da nos processos de produção para que assim se tornassem
realidade de saúde da população no sistema de saúde mais dinâmicos e com maior capacidade produtiva . A crí-
brasileiro. tica sobre a formação de trabalhadores apontava que esta
atendia aos modelos de produção fragmentados e estáti-
O TRABALHO E A FORMAÇÃO cos que estavam sendo superados e, portanto, também
DO ENFERMEIRO necessitava ser modificada. Logo,
(...) a noção de competência emergiria dos novos modelos
de produção, sendo afeta à dinamicidade e à transforma-
O trabalho, segundo o pensamento materialista histó- ção (...) a qualificação e as categorias que lhe são associa-
rico e dialético, permite ao ser humano ir além da nature- das sofreriam um feroz ataque tendendo a ser substituídas
za, contrapondo-se como sujeito no mundo, pois estabe- pela noção de competência (...)(3).
lece a relação sujeito-objeto. Ele permite ao
indivíduo produzir-se a si mesmo simulta- Os modelos de qualificação e compe-
neamente à produção do objeto. (...) o tra- tência se complementam, uma vez que a
balho é o conceito-chave para nós compre- Nos espaços coletivos qualificação é necessária para a aproxima-
endermos o que é superação dialética (...)(1) o sujeito tem a ção com os conhecimentos utilizados no
Considera-se que a superação dialética seja possibilidade de se trabalho e a competência é a maneira que
simultaneamente a negação de uma deter- desenvolver plena- esse indivíduo utilizaria esses conhecimen-
minada realidade com a conservação de al- mente, de definir tos juntamente com as outras dimensões
go essencial que nela existe e é negado ao do saber para enfrentar os eventos no pró-
seus valores, sua
ser elevada a um nível superior. Afirma que prio trabalho. Para os autores, o modelo de
personalidade e a competências é o retorno à elaboração das
a matéria-prima é negada ao mesmo tempo
em que é conservada para ser transformada
ética de sua ideias, por meio do pensamento crítico, pa-
em objetos segundo os objetivos humanos. existência. ra a ação do sujeito no trabalho(2).
Assim, a superação da realidade é encontra- Contraditoriamente, aponta-se que a
da na relação homem-trabalho-natureza(1). base do modelo de competência é conver-
Nas últimas décadas as mudanças no modelo econô- gente à lógica do pensamento pós-moderno na qual o
mico promoveram mudanças no mundo do trabalho, o individualismo se sobrepõe aos interesses e à construção
que levou a consolidação do modelo de competência pa- de uma sociedade que toma o coletivo como princípio.
ra o trabalho e, consequentemente, na formação para o Nessa lógica de pensamento, nega-se a identidade social
trabalho. O desafio posto para o trabalhador, assim como em nome da ética individual, e assim a sociedade e os su-
para as organizações industriais e empresariais, por essa jeitos coletivos podem ser negados por um indivíduo que
mudança é significativo, uma vez que esse modelo veio se encerra em si mesmo. Ao contrário, afirma-se que nos
para substituir aqueles que até então foram dominantes: espaços coletivos o sujeito tem a possibilidade de se de-
o modelo do posto de trabalho e o modelo da profissão, senvolver plenamente, de definir seus valores, sua perso-
que vinham se desenvolvendo há mais de dois séculos. Es- nalidade e a ética de sua existência(3).
ses modelos até hoje convivem nos trabalhos que se tem Nos pressupostos do modelo de competência, o pro-
no mundo, pois o modelo da profissão, em suas especifici- fissional teria uma visão mais ampla sobre sua profissão
dades, regulamenta saberes, formações e formas de atua- e na prática colocaria conteúdos de outras áreas de co-
ção técnica em diferentes espaços nos quais se encontram nhecimento, combinando-os criteriosamente, pela sua
os profissionais(2). O modelo do posto de trabalho não ne- própria experiência, e assim desenvolveria ações mais re-
gou o modelo da profissão, mas acabou por ser mais de- solutivas no enfrentamento de eventos não previsíveis em
senvolvido em processos de produção que tiveram avanço seu trabalho(3).
na divisão social do trabalho. Pelo posto de trabalho hou-
ve a inserção de não profissionais, ou seja, trabalhadores Ao analisar a aprendizagem pela experiência percebe-se
sem formações anteriores que desenvolviam atividades que é necessário compreender o papel da aprendizagem
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