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ROSA, J.
BARTH, P. O.
GERMANI, A. R. M.
com a realidade que presenciamos no dia a como verdadeiros protagonistas. Dessa for-
dia de um projeto de extensão. ma, a saúde passou a ter a dimensão de quali-
O termo promoção à saúde surgiu ainda dade de vida e não simplesmente de ausência
na década de 70, gerando diversas discussões da doença, o que exige pessoas informadas
que pretendiam renovar a atenção prestada. sobre os cuidados para se ter saúde e com
No entanto, essa visão era somente para pro- capacidade pessoal para melhorar as condi-
vocar mudanças no quadro epidemiológico ções físicas e psicossociais nos espaços onde
do período, que acarretavam em gastos cada vivem (BUSS apud GOMES et. al., 2006).
vez maiores para o setor saúde, sobrecarre- Uma das essências que a promoção da
gando financeiramente os governos. Por sua saúde destaca é a informação, o que significa
vez, é somente em 1986 que esta definição que todos os profissionais da saúde devem
ganhou um reforço substancial. Foi com a ser promotores da informação, possibilitan-
Primeira Conferência Internacional sobre do e desenvolvendo mecanismos em que o
Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, processo reflexivo sobre os determinantes de
Canadá, que o termo passa a representar saúde sejam facilitados. As ações em campos
uma conquista para a sociedade, definindo da educação em saúde, assim, precisam ser
estratégias para alcançá-la. investidas como uma importante estratégia
No nível das estratégias, as direções de promoção à saúde.
propostas pelo evento apontam então, para Conforme Vasconcelos (2001) nos coloca,
a necessidade de construir uma comunidade a educação em saúde é o campo de prática
participativa, ressaltando a importância para e conhecimento do setor saúde que tem se
uma vida ativa em sociedade e no controle ocupado mais diretamente com a criação de
desta para a promoção da saúde. O documen- vínculos entre a ação em saúde e o pensar e
to propõe também uma concepção positiva de fazer cotidiano da população. Ela é, portanto,
saúde em que os recursos sociais e pessoais uma das ferramentas que os profissionais de
são enfatizados, bem como deixa claro que saúde dispõem para que sejam constituídos
fatores políticos, econômicos, sociais, cul- espaços de trocas de experiências e infor-
turais e ambientais podem tanto favorecer mações entre a comunidade e os serviços
como desfavorecer a saúde (BRASIL, 2002). de saúde.
Sendo assim, a saúde como um fenômeno Do mesmo modo, a educação em saúde
influenciado por fatores socioeconômicos, fundamenta-se em um saber desprendido,
culturais, físicos, ambientais, bem como as em que todos os saberes estão em um mes-
ações em prol da promoção à saúde visam mo nível de conhecimento, sendo todos eles
maximizar as possibilidades de evitar os respeitados e valorizados na sua máxima,
agravos que as doenças trazem e de constituir tornando-se como um elemento fundamen-
indivíduos conscientes, responsáveis e com tal para a luta de espaços de conquistas e
qualidade de vida. Esse é o bem maior que transformação da realidade. Esta remonta
pode representar e, portanto, as ações devem, a necessidade de aguçar nos indivíduos a
necessariamente, ter como plano de fundo necessidade de pensar e refletir sobre as
essas pretensões. suas condições, o que, inevitavelmente, gera
Nesse sentido, promover a saúde passa a transformações.
significar uma luta/ação que deve envolver Freire (1979) destaca a importância de
todos os seguimentos da sociedade, inclusive, uma educação que trabalhe com o desen-
os próprios indivíduos, transformando-os volvimento da consciência crítica, processo
facilitado pelo trabalho conjunto da análise dos sujeitos. Assim, com um melhor enten-
coletiva dos problemas vivenciados, faci- dimento do próprio corpo, da sua doença,
litando a busca de soluções e estratégias das relações com o meio em que vivem, dos
conjuntas para a mudança da realidade. seus desejos, medos, esperanças, entre tantos
Dessa forma, ao promover a educação em outros. É possível instituir possibilidades que
saúde, estamos fomentando a criticidade e os ampliem a autogestão da sua vida.
questionamentos dos sujeitos, possibilitando Conforme Souza et al (2005), é importan-
o compromisso com a mudança. te construir espaços de reflexão coletiva com
Neste contexto, os momentos de educação os sujeitos das nossas ações acerca das suas
em saúde realizada no referido projeto, atra- realidades de vida, considerando que isso
vés dos momentos de sala de espera constitu- pode resultar em uma práxis, ou seja, ação
ídos até o momento, buscam a construção de conjugada com reflexão, na busca de soluções
processos educativos reflexivos à autonomia para os problemas de saúde e de melhores
dos sujeitos, bem como o desvelamento de condições de vida. É importante dinamizar
pensamentos preestabelecidos acerca de ações no fazer saúde que valorizem a troca
alguns conceitos. Para tanto, é este processo de experiências e de informações para uma
que facilita a troca dos saberes, bem como maior aproximação entre o saber popular e
visa à construção de novos, por meio dos o saber científico, tão fragmentado muitas
conhecimentos que cada indivíduo possui. vezes.
Nesse aspecto, a educação em saúde Por sua vez, é preciso que haja uma boa
organiza-se em torno de um papel agenciador. relação entre usuário e profissional de saúde,
Em um sentido mais genérico, desenvolve relação esta que deve ser construída sobre o
reflexões acerca da realidade dos indivíduos, respeito, o companheirismo e a cooperação.
proporcionando informação para uma tomada Nesse sentido, é necessário que haja vínculo
de decisões que levem a mudanças, ou seja, e acolhimento, o que requer compromisso
ela dá suporte para que escolhas possam ser com um fazer diferente em saúde, abando-
tomadas e, assim, para que novos rumos nando, muitas vezes, o modelo mecanicista
possam ser trilhados ou mesmo reafirmados. e bioligicista da doença.
Problematizando a realidade tomada Nessa perspectiva, para a realização dos
como referência, a educação mostra-se momentos de sala de espera do referido pro-
como um dispositivo de crítica social e das jeto, o acolhimento dos usuários constitui-se
situações vivenciadas pelos indivíduos, per- como foco principal, proporcionando mo-
mitindo a visão de fragmentos que estavam mentos de apresentação dos acadêmicos/
invisíveis, favorecendo a liberação de pen- bolsistas e dos usuários presentes, bem como
samentos e de atos ativos de mudança social expondo aos mesmos do que se tratava a
(PEDROSA, 2008). Dessa forma, promover atividade a ser realizada. Para tanto, tornou-
a educação em ambientes de saúde possibilita se necessário em alguns momentos, utilizar
aos usuários do serviço conhecer territórios de assuntos relacionados a patologias, por
de subjetivação e projetar novos caminhos exemplo, para ser introdutório em um pen-
em que pese a sua própria autonomia. sar diferente acerca do que seja o processo
Nesses campos, é parte fundamental do de saúde/doença e a busca pela qualidade
processo de trabalho dos profissionais de de vida
enfermagem desenvolver métodos voltados Nesse aspecto, o posicionamento de
para potencializar a capacidade de autonomia forma crítica e responsável, ao se promover
educação em saúde possibilita tanto promo- tuições de saúde (CAMPOS, 1997). Sendo
ver o acolhimento ao usuário que, muitas assim, as ações em torno dessas concepções,
vezes, ainda não está consciente dos diversos criam uma estratégia, na qual o profissional
determinantes da saúde, quanto redimen- de saúde atua em defesa de um serviço mais
sionar possíveis mudanças no seu processo integral e holístico.
reflexivo, apontando para uma nova conduta
frente à vida. Não obstante, isso requer uma
quebra com paradoxos individuais e internos O cenário de sala de espera em um
dos próprios profissionais. Programa de Saúde da Família
Diante desse cenário, o acolhimento é
outra ferramenta dentro dessa “caixinha de Pensando em efetivar momentos de re-
possibilidades”. Uma das traduções de aco- flexão acerca dos processos da vida e dos
lhimento que Merhy (1997) nos traz é a con- determinantes de saúde, é que se desenvolve,
cepção de relação humanizada, acolhedora, desde o segundo semestre de 2008, o projeto
que os trabalhadores e o serviço, como um de extensão “Implantação e Implementação
todo, têm de estabelecer com os diferentes da sala de espera no Programa de Saúde da
tipos de usuários, primando pela cidadani- Família-PSF II”, o qual conta com um total
zação da assistência que dispomos. Assim, de 930 famílias, distribuídas entre três bairros
é fundamental que os profissionais utilizem do município de Frederico Westphalen, Rio
de métodos, recursos e dinâmicas, para que Grande do Sul, ambiente este que proporcio-
desenvolvam as ações de forma criativa, bus- na um cenário de ação informativo/reflexiva,
cando um vínculo e sensibilizando a forma considerando-se a realidade do seu contexto
de agir e pensar da comunidade. de vida e das suas particularidades.
Entretanto, subentende-se a criação de É importante salientar, ainda, que o re-
uma ligação entre usuário e profissional, ferido projeto está inserido no programa de
em que ambos têm o compromisso com a extensão da Universidade Regional Integrada
efetivação do serviço, ou seja, o profissional do Alto Uruguai e das Missões- URI, Campus
reconheça e respeite o usuário como um ser de Frederico Westphalen, financiado pela
singular e mutável e o usuário perceba o Fundação Regional Integrada – FuRI. As
profissional da mesma forma. Essa interação atividades propostas ocorrem sempre duas
de vínculo e acolhimento prende-se, então, vezes por semana, durante a espera para as
à noção de valorização e à constituição de consultas de enfermagem, desenvolvendo
espaços propícios à produção de sujeitos sempre atividades socioeducativas com
autônomos e independentes, onde o autocui- temas diferentes, de caráter preventivo e
dado e a responsabilização capacitam para de promoção à saúde, direcionadas às reais
mudanças, rompendo com o clientelismo necessidades e ao interesse da população e
quando se fala em serviços de saúde. da equipe do ESF.
Independência aqui não quer dizer rompi- As discussões dos momentos de sala de
mento ou tampouco desligamento, ao contrá- espera representam sempre assuntos perti-
rio, imagina-se até uma prática renovadora, a nentes ao processo saúde-doença, a configu-
qual se pode contribuir para que os indivíduos ração do SUS e a organização dos serviços
tenham relações mais produtivas, madurar locais de saúde. Assim, as discussões sempre
com a doença e com a prevenção delas, com iniciavam com um convite informal aos usuá
os profissionais e até mesmo com as insti- rios, para a participação em discussões, com
nência dos usuários para a efetivação de tal sujeitos, bem como para alcançar os objetivos
atividade, buscando a consolidação de um propostos. Nessa direção, para consolidar
processo educativo-reflexivo entre usuários os momentos de sala de espera proposto
e acadêmicos/bolsistas. pelo projeto, empregamos vários materiais
Diante disso, o lugar de realização da sala didáticos para facilitar a troca de saberes
de espera não precisa ser, necessariamente, entre usuários e acadêmicos/bolsistas, sendo
uma sala propriamente dita, pois pode ser em alguns deles folderes, cartazes, dinâmicas de
um corredor ou em um local mais apropria- grupos e mensagens motivacionais.
do para tal atividade. Desde que o mesmo Nessa perspectiva, as atividades educa-
seja adequadamente organizado, onde todos tivas realizadas na sala de espera devem ser
possam participar de forma integradora e planejadas por uma equipe multiprofissional
com ações planejadas com criatividade, as juntamente com os envolvidos. No entanto,
finalidades propostas podem ser tranquila- a capacidade de estruturação e planejamento
mente alcançadas. advém mais especificamente do campo da
No entanto, como Levy et al. (2002) nos enfermagem (TEIXERA E VELOSO, 2006).
Assim, a sala de espera pode ser considerada
coloca, sabe-se que a qualidade da recepção
como mais um instrumento importante de
da informação é afetada por alguns fatores,
trabalho para os serviços de saúde, princi-
dentre eles, as condições ambientais, a cla-
palmente para o profissional enfermeiro,
reza e decodificação da mensagem recebida,
que é considerado o profissional de perfil
a interação emissor-receptor e o respeito ao
apropriado para a realização de tal atividade.
código cultural. Desse modo, é importante
utilizar-se de uma linguagem simples, clara e Para tanto, vale ressaltar que o enfer-
objetiva, uma vez que as pessoas que viven- meiro é o profissional apto a realizar tal
ciam a espera por um atendimento de saúde prática, pois, através de seus conhecimentos
possuam as mais diversas culturas, valores e técnico-científicos e de suas experiências
profissionais, tem autonomia para organizar
condições econômicas possíveis.
melhor o processo de trabalho, assim como
Outros tipos de linguagem podem ser pode desenvolver ações de educação em
utilizados, como a não verbal, uma vez que saúde mais efetivas. Isso se deve ao fato
esta ao abranger o toque, o olhar, os gestos, deste possuir um contato mais próximo com
permite perceber e conhecer mais humana- os usuários, pois atua junto à comunidade,
mente o outro, seus sentimentos e anseios, tendo a capacidade de desenvolver e prestar
além de facilitar a comunicação e a interação. um cuidado mais humanizado, atendendo os
Assim, para que ocorressem os momentos usuários dos serviços de saúde de uma forma
de sala de espera, utilizamos estimulos à holística e integral.
reflexão, interação e troca de experiências, Portanto, é a partir da sala de espera que
seguido por momentos de problematizações podemos detectar problemas de saúde, atra-
que intercalavam-se, não seguindo uma vés das expressões faciais dos clientes e de
sequência lógica, a fim de não engessar as suas dimensões físicas e psicossociais. Nesse
reflexões dos usuários e dos próprios ani- espaço, também avaliamos, interagimos,
madores, que compartilhavam também do desmistificamos determinados tabus e enten-
mesmo contexto social. demos determinadas crenças e certos mitos
Além disso, ao se propor a sala de es- que fazem parte da condição humana, vendo
pera, é preciso utilizar diversos materiais o usuário na sua totalidade e oferecendo um
e metodologias para prender a atenção dos serviço de maior qualidade à população.
AUTORES
REFERÊNCIAS