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Humanização da saúde em um serviço de emergência

ARTIGO ARTICLE
de um hospital público: comparação sobre representações
sociais dos profissionais antes e após a capacitação

Humanization health at emergency service in a public hospital:


comparison on social representation of professional
before and after training

Maria Angélica Carvalho Andrade 1


Elizabeth Artmann 2
Zeidi Araujo Trindade 3

Abstract This article presents the results of a study Resumo Este artigo apresenta os resultados de um
of the type before and after training in Shelter estudo do tipo antes e depois da capacitação em
with Risk classification compared to the human- acolhimento com classificação de risco, que com-
ization of social representations of health among parou as representações sociais de humanização
111 health professionals in an emergency hospi- da saúde entre 111 profissionais de saúde em uma
tal. Data collection was performed using the tech- unidade hospitalar de urgência e emergência. A
nique of free evocation and analysis was done us- coleta de dados foi realizada por meio da técnica de
ing the EVOC software. The results showed changes evocações livres e a análise pelo software EVOC. Os
in the symbolic meaning attributed to terms in- resultados mostraram modificação no significado
ducers towards incorporation of the right perspec- simbólico atribuído aos termos indutores na dire-
tive in the representation of the Unified Health ção da incorporação da perspectiva do direito na
System, the translation of Humanization in health representação do Sistema Único de Saúde, na tra-
as Shelter, and the progression of understanding dução da humanização na saúde como acolhimento
the Shelter, the humanistic focus to the qualifica- e progressão da compreensão do acolhimento, do
tion of processes of care of the users demand at foco humanístico para a qualificação dos processos
emergencies. The results indicate that the differ- de atendimento da demanda dos usuários nas ur-
ences found in the core before and after training gências e emergências. Os resultados indicam que
were due to an apprenticeship, which based in as diferenças encontradas no núcleo central antes e
peripheral elements, was able to question the core após a capacitação foram decorrentes de uma apren-
elements and interchange between the central and dizagem que, ancorada em elementos periféricos,
1
Hospital Dr. Dório Silva.
Eudes Scherer de Souza s/n, peripheral system, recognizing the functional com- foi capaz de questionar o núcleo central e inter-
Laranjeiras. 29165-680 plementarity between these two systems and the cambiar elementos entre o sistema central e perifé-
Serra ES.
relationships between representations and prac- rico, constatando a complementaridade funcional
geliandrade@hotmail.com
2
Departamento de tices. However, the method does not assert the per- entre estes dois sistemas e as relações entre repre-
Administração e sistence of such changes in the social representa- sentações e práticas. Contudo, o método utilizado
Planejamento em Saúde,
tions of the objects studied in depth or measure the não permite afirmar a persistência de tais mudan-
Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca, changes in daily practices. ças nas representações sociais dos objetos estuda-
Fundação Oswaldo Cruz. Key words Humanization of assistance, Public dos, nem medir em profundidade as mudanças nas
3
Centro de Ciências
health, Health policies, Social representation práticas cotidianas.
Humanas e Naturais,
Universidade Federal do Palavras-chave Humanização da assistência, Saú-
Espírito Santo. de pública, Políticas de saúde, Representação social
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Andrade MAC et al.

Introdução objeto social6. Toda realidade é representada, quer


dizer, reapropriada pelo indivíduo ou pelo grupo,
A concretização da universalidade, da integrali- reconstruída no seu sistema cognitivo, integrada
dade e da equidade da atenção em saúde, no co- no seu sistema de valores, dependente de sua his-
tidiano das instituições de saúde, depara-se com tória e do contexto social e ideológico que o cer-
inúmeros problemas que persistem sem solução, ca6, funcionando como um sistema que guia para
impondo a urgência, seja de aperfeiçoamento do ação, orientando as reações e as relações sociais.
sistema, seja de mudança de rumos1. As representações e as práticas modificam-se e se
Uma série de tecnologias de planejamento e transformam reciprocamente7, embora não se
gestão tem sido utilizada para melhorar a quali- trate de uma influência equivalente.
dade da assistência prestada aos usuários; po- Para o presente estudo, utilizou-se como
rém, a maioria dos modelos adotados, princi- aporte teórico a teoria das representações sociais
palmente pelos hospitais públicos, pouco têm (TRS), inaugurada por Serge Moscovici em 1961,
contribuído para enfrentar estas questões2. As e o emprego complementar da teoria do núcleo
dificuldades para a implementação de um mo- central, proposta por Abric6. Segundo esta teo-
delo de gestão alternativo decorrem principal- ria, as representações são estruturadas pelos sis-
mente da resistência das corporações, em especi- temas central e periférico. Baseado nesta concep-
al os médicos e os enfermeiros, às mudanças pro- ção, o sistema central é constituído pelo núcleo
postas e, também, à profissionalização da gerên- central da representação, com funções de gerar o
cia. Estas práticas de resistência e/ou oposição às significado básico da representação e determinar
novas propostas de funcionamento institucio- a organização global de todos os elementos8. O
nal variam com a categoria profissional: a resis- núcleo central é marcado pela memória coletiva;
tência passiva dos médicos traduz-se por igno- reflete as condições sócio-históricas e os valores
rar as novas propostas, enquanto a enfermagem do grupo; constitui a base comum, consensual e
apresenta reações ativas à quebra do esquema coletivamente partilhada das representações; é
anterior de funcionamento, em um processo de estável, coerente e resistente à mudança; é relati-
discussões fechadas na categoria2. vamente pouco sensível ao contexto social e ma-
Assim, para enfrentar os desafios de tornar terial imediato no qual a representação se mani-
os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) festa. O sistema periférico é constituído pelos
operativos na prática, o Ministério da Saúde ela- demais elementos da representação e suas fun-
borou a Política Nacional de Humanização ções consistem, em termos atuais e cotidianos,
(PNH), na qual a humanização é entendida como na adaptação à realidade concreta e na diferenci-
um instrumento para a mudança nos modelos ação do conteúdo da representação e, em termos
de atenção e gestão, tendo como foco as necessi- históricos, na proteção do sistema central8. Per-
dades dos cidadãos, a produção de saúde e o mite, ainda, a integração das experiências histó-
próprio processo de trabalho em saúde, valori- ricas individuais, suporta a heterogeneidade do
zando os trabalhadores e as relações sociais no grupo e as contradições, é evolutivo e sensível ao
trabalho1. contexto imediato8. Não se trata de um compo-
A proposta de humanização da atenção à saú- nente menor da representação; ao contrário, ele
de surge no cenário das políticas públicas como é fundamental, posto que, associado ao sistema
uma oportunidade de propor, discutir e empre- central, permite a ancoragem na realidade6.
ender um processo de mudança na cultura de O dispositivo acolhimento com classificação
atendimento vigente em toda a rede do SUS3, de risco (ACCR), para a PNH, representa um
quebrando as fronteiras impostas historicamen- importante disparador dos processos de mudan-
te4. A possibilidade de mudar a cultura em longo ça. Acolhimento é uma ação tecnoassistencial, que
prazo reside na capacidade de construção legiti- pressupõe a mudança da relação profissional/
mada de novas representações que os atores po- usuário e sua rede social por meio de parâme-
dem ter em função de sua participação em pro- tros técnicos, éticos, humanitários e de solidarie-
cessos comunicativos de aprendizagem5. dade9, e classificação de risco é um processo di-
As práticas e os comportamentos dos indiví- nâmico de identificação dos pacientes que neces-
duos são orientados pela forma que os indivídu- sitam de tratamento imediato, de acordo com o
os interpretam sua realidade, entendida como re- potencial de risco, agravos à saúde ou grau de
presentação social. Uma representação é consti- sofrimento9. Estas duas tecnologias complemen-
tuída de um conjunto de informações, de crenças, tares, o acolhimento com classificação de risco,
de opiniões e de atitudes a propósito de um dado tem por objetivo acolher todo usuário que pro-
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curar a instituição, fazendo uma escuta qualifi- o acolhimento com classificação de risco no con-
cada, responsável e resolutiva, pressupondo [...] texto do Sistema Único de Saúde como um dis-
a determinação de agilidade no atendimento a partir positivo de intervenção para a mudança nas prá-
da análise, sob a óptica de protocolo preestabeleci- ticas de saúde, realizado em quatro horas. Para
do, do grau de necessidade do usuário, proporcio- atingir esse objetivo, utilizou-se a exposição dia-
nando atenção centrada no nível de complexidade logada para transmitir os conteúdos relaciona-
e não na ordem da chegada. Desta maneira exerce- dos ao SUS (breve histórico de sua construção,
se uma análise (avaliação) e uma ordenação (clas- objetivos, princípios e contextualização da insti-
sificação) da necessidade, distanciando-se do con- tuição hospitalar na rede SUS por meio do plano
ceito tradicional de triagem e suas práticas de ex- diretor de regionalização do estado) e à PNH (con-
clusão, já que todos serão atendidos9. ceito, identificação de práticas produtoras de de-
Contudo, para empreender um processo de sumanização e de humanização, breve histórico e
mudança nas práticas, a PNH e seus dispositi- inserção da instituição na PNH, objetivos, princí-
vos, como objetos representacionais, devem ser pios, método, dispositivos, dando ênfase ao dis-
integrados cognitivamente pelos indivíduos ou positivo acolhimento com classificação de risco e
grupos no seu sistema de valores. E, quanto à sua relação com a concretização do SUS).
mudança, de acordo com a teoria do núcleo cen- A amostra foi selecionada a partir de convoca-
tral, duas representações ou dois estados suces- ção gerencial dos 272 profissionais de saúde da
sivos de uma mesma representação devem ser Unidade de Trabalho de Urgência e Emergência para
considerados distintos [...] se, e apenas se, seus participar do módulo de alinhamento conceitual
respectivos núcleos centrais tiverem composições da capacitação em acolhimento com classificação
nitidamente diferentes. Caso contrário, ou seja, se de risco. Desses 272 profissionais convocados, ape-
as diferenças se apresentam apenas no nível dos nas 121 concordaram em participar da capacita-
seus sistemas periféricos, trata-se de uma mesma ção, divididos em seis turmas, de acordo com a
representação que se manifesta diferentemente em disponibilidade. Todos os 121 profissionais parti-
função de condições circunstanciais diversas, de cipantes foram incluídos na pesquisa, embora dez
ordem grupal ou interindividual8. tenham sido excluídos posteriormente.
O objetivo desta investigação foi analisar o Esta pesquisa está inserida no projeto huma-
papel da experiência concreta de humanização nização nos serviços de saúde: como interferir
em um hospital público, por meio de implanta- nos processos de gestão no trabalho e produção
ção do acolhimento com classificação de risco, e de saúde considerando a dimensão cultural em
comparar as representações sociais de SUS, hu- diferentes abordagens, e foi aprovada pelo Co-
manização na saúde e acolhimento em profissi- mitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Públi-
onais de saúde, antes e depois da capacitação em ca Sérgio Arouca (ENSP). Após autorização do
ACCR, adotando a teoria de representações so- termo de consentimento livre e esclarecido para
ciais em sua abordagem estrutural, visando ex- participação na pesquisa, segundo Resolução
plorar o potencial deste instrumento como agente CNS no 196/96, pela direção geral e gerente da
de mudanças. unidade de urgência e emergência, garantindo-se
o anonimato dos profissionais da instituição,
iniciou-se a coleta de dados.
Método A coleta de dados foi realizada no primeiro
semestre de 2007, em dois momentos: antes de
O estudo consistiu em avaliar uma intervenção iniciar e imediatamente após a conclusão da ca-
em uma unidade de urgência e emergência em um pacitação, por duas facilitadoras, profissionais
hospital público estadual, no Espírito Santo, in- de saúde do setor de humanização da própria
serido desde 2001 no Programa Nacional de Hu- instituição, responsáveis pelas capacitações.
manização Hospitalar (PNHAH) e, posterior- Os dados foram obtidos diretamente dos
mente, em 2003, na Política Nacional de Humani- profissionais de saúde por meio da técnica das
zação. Realizou-se um estudo comparativo do evocações ou associações livres. No campo de
tipo antes e depois para medir o efeito da capaci- estudo das representações sociais, esta técnica tem
tação dos profissionais de saúde de um serviço de por objetivo apreender a percepção da realidade
emergência na compreensão de humanização da de um grupo social a partir de uma composição
saúde, com foco no dispositivo acolhimento com semântica preexistente e consiste em solicitar ao
classificação de risco. A capacitação consistiu em indivíduo que produza todas as palavras ou ex-
um primeiro módulo com objetivo de introduzir pressões que possa imaginar a partir de um ou
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Andrade MAC et al.

mais termos indutores. O teste consistiu em pe- riféricos, mas também para destacar a comple-
dir aos sujeitos individualmente que associassem, mentaridade funcional entre estes dois sistemas e,
livre e rapidamente, a partir da audição de três principalmente, para possibilitar a comparação
termos indutores: Sistema Único de Saúde (SUS), entre duas representações ou dois estados suces-
humanização da saúde e acolhimento, outras sivos de uma mesma representação, em termos
palavras ou expressões, nos dois momentos re- da articulação entre os dois sistemas internos e as
feridos. Este instrumento foi autopreenchido, relações entre representações e práticas8.
após a realização de um breve treinamento com Dos 272 dos profissionais de saúde da Uni-
outros termos indutores, diferentes daqueles a dade de Trabalho de Urgência e Emergência do
serem pesquisados. No momento de tratamento Hospital Dr. Dório Silva (HDS), 111 profissio-
dos dados, deu-se a exclusão de dez profissio- nais participaram do estudo (40,8%). As catego-
nais que não responderam. rias profissionais que tiveram, proporcionalmen-
Para efeito de controle, foi utilizado o auto- te, as maiores participações na capacitação fo-
pareamento: os dados brutos obtidos dos pro- ram: enfermeiros (92,8%), auxiliar de enferma-
fissionais de saúde foram comparados com os gem (86,1%), técnico de enfermagem (82,2%) e
dados obtidos desses mesmos profissionais an- secretários de clínica (80%). Apenas um médico
tes e após a capacitação. clínico (4,1%), do total de 24, compareceu à ca-
Para a análise estatística das evocações, foi pacitação.
utilizado o software EVOC (Ensemble de Pro- As palavras relacionadas aos indutores SUS,
grammes Permettant L´Analyse dês Évocations), humanização e acolhimento, com maior frequên-
versão 2003, que realiza cálculos estatísticos e a cia de evocação, antes e após a capacitação, en-
construção de matrizes de co-ocorrências que contram-se descritas nas Tabelas 1, 2 e 3 respecti-
servem de base para a construção do “quadro de vamente.
quatro casas” (ou distribuição em quatro qua- A análise dos dados com relação ao termo
drantes), por meio do qual se discriminam o indutor SUS evidenciou, no início da capacita-
núcleo central, os elementos intermediários e os ção, que os profissionais associavam o SUS tan-
elementos periféricos da representação. Na pers- to com a sua prática cotidiana (hospital, lotado,
pectiva teórica de Abric6, esta técnica de análise dificuldade, trabalho, medicação, atendimento,
permite, a partir da frequência média de ocor- cuidado e assistência médica) quanto com o pro-
rência das palavras evocadas e da média das or- cesso saúde/doença, e, ainda, com entendimento
dens de evocações produzidas, a identificação dos do SUS como direito de todos (direito e univer-
elementos considerados centrais e periféricos na salidade), associado à humanização e acolhimen-
representação. As palavras que provavelmente to. Após a capacitação, os dados demonstraram
formam o núcleo central dos termos estudados uma ampliação da compreensão dos princípios
são aquelas que tiveram as maiores frequências e do SUS (equidade e integralidade), sendo identi-
que foram mais prontamente evocadas, situan- ficado um contexto de mudança com ênfase po-
do-se no quadrante superior esquerdo da figura, sitiva (solução, qualidade, respeito, atendimento
segundo a teoria utilizada6. As palavras situadas bom, melhoria, organização, pode melhorar,
nos quadrantes superior direito e inferior esquer- qualificação, agilidade, esperança, mudança, pri-
do são consideradas elementos intermediários, oridade) e inclusão da responsabilização (respon-
enquanto as localizadas no quadrante inferior sabilidade) como fatores importantes para a
direito são os elementos mais periféricos8. identificação do SUS.
Os elementos constituintes do núcleo central
da representação social do SUS, compartilhados
Resultados antes e após a capacitação, parecem revelar um
entendimento da finalidade do SUS para a saúde
Os resultados são apresentados dando-se ênfase da população (saúde, universalidade, atendimen-
aos elementos do núcleo central, pois é a identifi- to). A palavra humanização, no núcleo central
cação do núcleo central que permite o estudo com- do SUS, pode referir a uma dimensão de sua ne-
parativo das representações6. Porém, inicialmente, cessidade para o atendimento de saúde à popu-
após caracterização da amostra, serão considera- lação. As diferenças destacadas entre os elemen-
das todas as palavras evocadas identificadas como tos constituintes do núcleo central da represen-
os elementos centrais e periféricos da representa- tação social do SUS dizem respeito às palavras
ção, antes e após a capacitação, não apenas para doença e hospital, encontradas no núcleo central
conceber igual ênfase aos elementos centrais e pe- apenas antes da capacitação e que, após a capaci-
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Tabela 1. Estrutura da representação social do conjunto de profissionais sobre SUS antes e após a capacitação.

OME* < 2,4 > 2,4


Antes da capacitação

F média Termo evocado F ** OME Termo evocado F OME

>8 Atendimento 17 1,412 Acolhimento 11 2,636


Doença 10 2,000 Lotado 14 2,929
Hospital 9 2,222
Humanização 10 2,300
Saúde 22 1,818
Universalidade 8 1,875
<8 Cuidado 6 2,167 Assistência médica 7 3,286
Dificuldade 6 2,333 Direito 7 2,429
Trabalho 7 2,143 Medicação 6 2,500

Após a capacitação

F média Termo evocado F OME Termo evocado F OME

>8 Atendimento 18 2,056 Equidade 13 2,462


Direito 21 2,000 Respeito 8 3,000
Humanização 10 2,200
Saúde 19 2,105
Universalidade 19 1,867
<8 Atendimento bom 5 2,000 Acolhimento 5 3,000
Integralidade 7 1,714 Agilidade 4 3,500
Melhoria 4 1,250 Cuidado 4 3,750
Organização 7 1,857 Doença 6 2,667
Pode melhorar 5 1,600 Esperança 5 2,800
Qualificação 4 2,250 Igualdade 7 3,143
Mudança 5 2,800
População 4 3,000
Prioridade 4 2,500
Qualidade 5 2,800
Responsabilidade 4 2,500
Solução 4 2,500
*
OME = Ordem média das evocações; ** F = Frequência.

tação, “migram” para o sistema periférico e para mento (acolhimento, atendimento bom, melho-
fora da estrutura da representação, respectiva- ria, organização). Após a capacitação, o termo
mente. Além disso, após a capacitação, reafir- humanização na saúde, além das concepções an-
mam-se os elementos centrais do termo SUS, teriores, ganhou importância (necessário) e con-
associando-se a noção de cidadania, expressa pelo cretude, sendo associado à ação (atendimento,
“trânsito” da palavra direito do sistema periféri- empatia, ouvir) e relacionado a resultados posi-
co para o núcleo central. tivos (qualidade, resolutividade).
Com relação à temática humanização na saú- As palavras em destaque no núcleo central
de, antes da capacitação, os dados apresentados do termo humanização na saúde indicam que
mostraram que a estrutura da representação so- antes da capacitação estão, igualmente, relacio-
cial do objeto humanização encontra-se associa- nadas ao acolhimento e a uma concepção huma-
da a uma concepção humanística (amor, cuida- nística (amor, cuidado e respeito) ligada a uma
do, respeito, dignidade, atenção, carinho, ser qualificação do atendimento da demanda (aten-
humano, igualdade), relacionada a um compor- dimento bom e melhoria). Após a capacitação,
tamento voltado para a qualificação do atendi- observa-se o deslocamento dos elementos, asso-
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Andrade MAC et al.

Tabela 2. Estrutura da representação social do conjunto de profissionais sobre Humanização na Saúde antes
e após a capacitação.
OME * < 2,3 > 2,3
Antes da capacitação

F média Termo evocado F ** OME Termo evocado F OME

> 10 Acolhimento 16 1,563


Amor 19 2,211
Atendimento bom 13 1,692
Cuidado 10 2,000
Melhoria 11 1,727
Respeito 22 2,273
< 10 Dignidade 7 2,286 Atenção 8 2,750
Carinho 8 2,625
Igualdade 7 2,571
Organização 6 2,500
Ser humano 8 2,375

Após a capacitação

F média Termo evocado F OME Termo evocado F OME

> 12 Acolhimento 16 1,750 Amor 15 2,600


Entender 12 2,583
Respeito 26 2,385
Atendimento 9 2,111 Carinho 9 2,556
Atendimento bom 8 1,250 Cuidado 7 3,000
< 12 Atenção 9 1,667 Dignidade 5 3,600
Empatia 6 1,500 Igualdade 6 2,500
Melhoria 5 1,800 Ouvir 9 2,333
Necessário 5 2,200 Qualidade 9 2,333
Organização 6 2,167 Resolutividade 5 2,400
Ser humano 8 1,375 Solidariedade 5 3,400
*
OME = Ordem média das evocações; ** F = Frequência.

ciados à concepção humanística e à qualificação culada às questões relacionais afetivas, também


do atendimento, do núcleo central para o perifé- em uma concepção humanística (ajuda, amor,
rico, e o termo humanização na saúde passa a carinho, receptividade, atenção e respeito), po-
ser representado apenas pela palavra acolhimen- rém associada a condições necessárias para a
to. Os elementos periféricos, associados ao siste- qualificação da prática (acolhimento, atendimen-
ma central, permitem a ancoragem na realida- to, cuidado, entender, humanização, ouvir e aten-
de6. Assim, as dimensões de importância e con- dimento bom). Entretanto, os dados mostraram
cretude que aparecem entre os elementos perifé- que, após a capacitação, esta associação foi acres-
ricos, após a capacitação, sinalizam que a repre- cida da dimensão de organização de processos
sentação social de humanização na saúde como de trabalho (organização, prioridade, direciona-
acolhimento expressa a importância desta ferra- mento, encaminhamento) e perfil profissional
menta para lidar com a problemática da quali- (paciência e solidariedade), ligada a um contexto
dade do acesso e da recepção dos usuários nos positivo (satisfação e melhoria).
serviços de saúde. A análise comparativa do núcleo central da
Quando a palavra acolhimento se torna o representação social dos profissionais, antes e após
alvo da associação dos participantes, antes da a capacitação, revela uma associação diferencial
capacitação, evidenciou-se que a temática é vin- de acolhimento, expressa pela “saída”, do núcleo
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Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1115-1124, 2011


Tabela 3. Estrutura da representação social do conjunto de profissionais sobre acolhimento antes e após a
capacitação.
OME* < 2,4 > 2,4
Antes da capacitação

F média Termo evocado F** OME Termo evocado F OME

> 15 Ajuda 15 2,000 Respeito 22 2,909


Amor 19 2,263
Carinho 15 2,000
Receptividade 16 1,438
< 15 Abraçar 7 2,143 Atendimento bom 8 2,750
Acolhimento 11 1,818
Atendimento 9 1,778
Atenção 8 2,250
Cuidado 9 1,889
Entender 10 2,300
Humanização 11 2,182
Ouvir 13 2,154

Após a capacitação

F média Termo evocado F OME Termo evocado F OME

>8 Amor 16 1,875 Ajuda 11 2,543


Atendimento 10 1,600 Encaminhamento 9 3,333
Atenção 13 2,231 Entender 8 2,500
Cuidado 13 2,308 Humanização 14 2,500
Ouvir 22 2,318 Respeito 27 2,481
Receptividade 13 1,385
<8 Acolhimento 4 1,250 Carinho 7 2,571
Atendimento bom 7 1,571 Direcionamento 4 2,750
Organização 5 1,400 Melhoria 4 2,500
Prioridade 4 2,000 Paciência 7 2,429
Satisfação 4 2,250 Solidariedade 6 2,833
*
OME = Ordem média das evocações; ** F = Frequência.

central para o periférico, de algumas palavras li- ta pelas representações sociais de profissionais
gadas a uma concepção mais humanística (aju- de saúde, esta pesquisa mostrou uma modifica-
da, carinho) e pela inserção no núcleo central de ção no significado simbólico atribuído ao SUS,
novos elementos “vindos” do sistema periférico humanização e acolhimento, com a capacitação.
(atendimento, atenção, cuidado e ouvir). Estes A capacitação possibilitou mudanças na direção
dados sugerem que, com a capacitação, os pro- da incorporação da perspectiva do direito à re-
fissionais atribuem um sentido que traduzem uma presentação do SUS, na tradução da humaniza-
progressão do foco humanístico para a qualifica- ção na saúde como acolhimento, ou seja, como
ção dos processos de atendimento da demanda uma ferramenta para lidar com a problemática
dos usuários nas urgências e emergências do SUS. da qualidade do acesso nos serviços de saúde, e a
progressão na compreensão do acolhimento, do
foco humanístico para a qualificação dos pro-
Discussão cessos de atendimento da demanda dos usuários
nas urgências e emergências do SUS. Mas, em-
As representações sociais são produtos da reali- bora se possa considerar que houve uma modi-
dade cotidiana que se concretizam e se transfor- ficação inicial na representação social do SUS,
mam a partir da ação10. Com a perspectiva aber- humanização e acolhimento, após a capacitação,
1122
Andrade MAC et al.

não se pode afirmar a persistência e profundi- de uma evolução nas situações nas quais a trans-
dade da mudança. formação de uma representação está em anda-
Entretanto, apesar das limitações, consequ- mento6. Porém, uma vez iniciado o processo de
ência do caráter exploratório deste estudo e da transformação das representações, segundo Fla-
delimitação da análise ao estudo comparativo ment, citado por Sá8, isto não quer dizer que ele
das representações, é possível inferir que as dife- deva ir obrigatoriamente até o efetivo surgimen-
renças encontradas no núcleo central antes e to de uma nova representação. Como pré-requi-
após a capacitação foram decorrentes de uma sito para a mudança representacional, este autor
aprendizagem significativa, em que o material sustenta a existência de um esquema sequencial
da aprendizagem se relacionou com os conheci- que consiste na modificação das circunstâncias
mentos prévios, já presentes no sistema perifé- externas; modificação das práticas sociais; mo-
rico da representação, possibilitando esta mo- dificação dos prescritores condicionais e modifi-
dificação na representação social do SUS, hu- cação dos prescritores absolutos (núcleo cen-
manização e acolhimento. tral)8. E, ainda, somente se essas novas condições
A aprendizagem é considerada significativa e práticas persistem e, principalmente, se são per-
quando é motivada pelo desejo ativo dos partici- cebidas como irreversíveis, o núcleo central pode
pantes pela apropriação de novos saberes e práti- chegar de fato a ter sua composição alterada e,
cas4 e ocorre quando o seu conteúdo é considera- portanto, surgir uma representação realmente
do significativo, ou seja, quando se relaciona com diferente do objeto8.
aquilo que a pessoa já sabe, e quando há motiva- Na medida em que a aprendizagem no tra-
ção pessoal para relacionar o que se aprende com balho mobiliza e convida à ação ativa, ela é con-
o que já se sabe e para interagir com o outro de siderada uma ação política4. Assim, para a cons-
forma aberta4. Esta inferência respalda-se na aná- trução de novas representações e práticas, desta-
lise da avaliação realizada com os participantes da ca-se a importância do comprometimento insti-
capacitação, em que 60,2% consideraram o con- tucional com a mudança na direção da humani-
teúdo do curso ótimo e 39,8%, bom. E, com rela- zação, expresso pela garantia de participação de
ção à motivação pessoal para a capacitação, para todos os atores envolvidos; pelo desenvolvimen-
51,7% dos participantes foi ótimo e para 47,5%, to de ações concretas, que garantam a crença dos
bom. Importante ressaltar o viés existente na po- atores na irreversibilidade da mudança; e por um
pulação estudada, pois provavelmente, em fun- processo permanente de aprendizagem significa-
ção da não obrigatoriedade da participação na tiva. É preciso criar condições favoráveis para
capacitação, compareceram os profissionais que propiciar a permanente reflexão sobre as práti-
já tinham interesse em humanização. cas e a produção de coletivos e construir novos
As proposições da teoria do núcleo central pactos de convivência e práticas que aproximem
quanto aos estudos comparativos das represen- os serviços de saúde dos princípios do SUS4.
tações sociais evidenciam a relação entre as prá- Mas, nas organizações em geral, segundo al-
ticas e as representações. Na avaliação dos pro- guns autores11,12, existe uma cultura que inibe a
cessos envolvidos na mudança de atitudes, na aprendizagem e a comunicação, caracterizada
abordagem estrutural das representações soci- pela concentração do poder no topo da organi-
ais, Abric6 demonstra que o questionamento zação, poder desequilibrado, estrutura vertical,
(ataque) do núcleo central é necessário para a autoritarismo; foco nos sistemas e não nas pes-
transformação de uma representação. Assim, soas; descrédito da possibilidade de mudanças
uma afirmação possível é a de que a aprendiza- (ceticismo); falta de tempo para a aprendizagem;
gem significativa, ancorada em elementos peri- abordagem pouco histórica dos problemas, pre-
féricos, é capaz de questionar o núcleo central e domínio de uma visão de tratamento de sinto-
intercambiar elementos entre o sistema central e mas; comunicação transmissional vertical, falta
periférico, constatando a complementaridade de uma comunicação aberta, lateral; predomí-
funcional entre estes dois sistemas e as relações nio do individualismo, descrédito do trabalho
entre representações e práticas. em equipe e padrão de liderança-herói, carismá-
Os dados mais interessantes que surgem da tica, que se esconde, e que não reconhece erros e
análise neste trabalho confirmam a importân- vulnerabilidade. E, ainda, nas organizações de
cia do elemento periférico no estudo dos pro- saúde, estas características são acrescidas do pa-
cessos de transformação das representações, drão apresentado pelas organizações profissio-
sendo um indicador bastante pertinente de fu- nais, caracterizado por um processo de autono-
turas modificações ou um sintoma indiscutível mia dos centros operacionais, coordenação do
1123

Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl. 1):1115-1124, 2011


trabalho por meio do ajustamento mútuo, debi- A abordagem das representações sociais, tanto
lidade da tecnoestrutura e ausência de linha hie- no plano teórico como no empírico, conduz, ne-
rárquica nítida. Isto resulta em uma forte dife- cessariamente, à cultura14. Referindo-se ao con-
renciação com várias dimensões, tais como dife- ceito de cultura como recurso, Artmann e Rive-
renciação entre o mundo administrativo e o ra11 propõem um sistema de gestão comunicati-
mundo assistencial; diferenciação entre logística va para operar indiretamente como reforço dos
e centro operacional e diferenciação no centro traços da nova cultura que emerge e que traz al-
operacional13. Estas características, para Rivera e guns elementos de uma cultura de humanização
Artamann5, dificultam a possibilidade de um e comunicação. Para estes autores11, estas difi-
projeto gerencial que enfatize a integração intra- culdades apontadas poderiam ser superadas com
institucional, a racionalidade econômica da mis- a utilização de ferramentas de gestão estratégica,
são específica e a negociação de uma rede de cui- desenhadas para organizações profissionais, com
dados com os outros estabelecimentos da ambi- base no respeito ao dado cultural da autonomia
ência imediata. Dificultam, mas não impossibili- profissional dos centros operadores, que valori-
tam a transformação e reorganização das repre- zam as estratégias de negociação e cooperação.
sentações e práticas. Apesar da teoria e da pesquisa do núcleo cen-
Segundo Artmann e Rivera11, estabelecer o tral fundamentarem-se, desde suas origens, em
modo como a gestão pode apoiar o atendimento uma perspectiva metodológica experimental, não
humanizado constitui o grande desafio. Desta basta buscar inferir as representações a partir de
forma, a questão que se coloca é a de como im- seus suportes discursivos manifestos8. A mudan-
plementar um modelo de gestão que viabilize a ça (das práticas e/ou representações) se refere à
construção destas novas condições externas e história e não à ação de variáveis descontextuali-
práticas sociais, pré-requisitos para a mudança zadas e monológicas7. Assim, é preciso articular
representacional, superando, principalmente, as esses dados com aqueles provenientes da investi-
dificuldades decorrentes: da resistência dos pro- gação das práticas vigentes no grupo sob estudo,
fissionais às mudanças propostas; da profissio- porque estas são as principais fontes das cogni-
nalização gerencial necessária à concretização de ções condicionais, que se manifestam mais pron-
ações e da frequente descontinuidade gestora. A tamente no discurso espontâneo8, que, confor-
característica gerencial organizativa que respon- me Flament, citado por Sá8, está longe de revelar
de a esta questão é representada pela necessidade a complexidade das representações sociais. Por-
de construir um sistema de gestão coerente com tanto, o método utilizado não permite afirmar a
processos comunicativos de aprendizagem afi- persistência de tais mudanças nas representações
nados com a proposta de humanização11. sociais dos objetos estudados nem medir em pro-
fundidade as mudanças nas práticas cotidianas.

Colaboradores

MAC Andrade, E Artmann e ZA Trindade parti-


ciparam igualmente de todas as etapas da elabo-
ração do artigo.
1124
Andrade MAC et al.

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