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A Cultura do Palco

O Barroco
1600-1750

Escola Secundária Artística António Arroio


Alexandra Leal Barradas (f34. Cod.600)
2010-11
Contexto histórico, social e político

. Europa dilacerada com guerras quase ininterruptas (1ª metade do séc. XVII)
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) - série de guerras que diversas nações
europeias travaram entre si a partir de 1618, especialmente na Alemanha, por
motivos variados: rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais.
As rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais
germânicos foram gradualmente transformados numa luta europeia. Apesar de os
conflitos religiosos serem a causa directa da guerra, ela envolveu um grande
esforço político da Suécia e da França para procurar diminuir a força da dinastia
dos Habsburgos, que governavam a Áustria. As hostilidades causaram sérios
problemas económicos e demográficos na Europa Central e tiveram fim com a
assinatura, em 1648, de alguns tratados que, em bloco, são chamados de
Tratados de Vestfália.
Fim da União Ibérica (1640) – restauração da independência de Portugal, com a
deposição da dinastia Filipina que governava Portugal desde 1580.

Revolução Gloriosa (1685-1689) – Jaime II, rei de Inglaterra (católico) deposto e


substituído por Guilherme de Orange (holandês), casado com Maria II (filha de
Jaime II), ambos protestantes
Formação da República Holandesa (1579 -1795) – antecessora dos actuais
Países Baixos, agrupou 7 províncias do norte dos países baixos: Frisia,
Gronninguen, Gueldres, Holanda, Overrijssel, Utrech e Zelândia. Transformada
em República da Betânia na sequência da ocupação francesa em 1795.

Tratados de Utrech (1715) – conjunto de acordos assinados entre diferentes


países europeus que estiveram em conflito durante o século XVII. Portugal
assinou um Tratado de Paz com a Espanha que normalizou as suas relações
diplomáticas. Os tratados assinados em Utrech marcam o declínio do poderio
francês e espanhol permitindo a ascensão do poder colonial britânico.

Luis XIV, Rei Sol (Luis de Borubon 1638-1715) – reinou de 1643 a 1715; foi o
maior monarca absolutista da França – L´Etat c´est moi ! (O Estado sou eu).
Construiu o Palácio des Invalides em Paris e o luxuoso Palácio de Versailles
que transformou em residência oficial e onde morreu. No seu reinado uma série
de transformações foram levadas a cabo nas artes que alteraram o rumo da
artes europeia.
Expansão territorial e influência da cultura europeia – geografia, política,
religiosa

Exploração do(s) mundo(s) novo(s) – colonização de novos territórios das


costas orientais da América do Norte
e do Sul, até às distantes Polinésia e
continente asiático.

Acção missionária da Companhia de Jesus – Japão, China, Índia e América

Criação da Companhia das Índias Orientais – funda as rotas comerciais com o


oriente, com sede na Indonésia;

Desenvolvimento das Manufacturas (pré-industrialização)

Desenvolvimento de práticas capitalistas: Mercantilismo (acumulação das


reservas de ouro e prata); Criação dos Monopólios;
. Sociedade de ordens – dividida em diferentes estado sociais ou ordens: clero,
nobreza e Terceiro Estado – de acordo com o nascimento determinando diferentes
Estatutos jurídicos no corpo político-social.

.Organização política:

Absolutismo – estado centralizado, governado por um autocrata com poderes


Ilimitados (Antigo Regime)
VS
Parlamentarismo – poder legislativo e executivo estão nas mãos de uma
assembleia constituída por representantes da sociedade

Avanço da Ciência – Francis Bacon,Nicolau Copérnico, Kepler, Galileu, Descartes,


Isac Newton (leis da mecânica geral); avanços da óptica e da fisiologia;

Criação das Academias

Relação entre os artistas e o mundo científico


A arte efémera e a festa barroca – A Ópera
Ópera - a palavra opera significa "obras" em Latim, plural de opus
("obra", na mesma língua), sugerindo que esta combina as artes do
canto coral e solo, recitativo e balet, num espectáculo encenado.
A primeira obra considerada uma ópera, no sentido geralmente
entendido, data aproximadamente do ano 1597 e chamava-se Dafne
(actualmente desaparecida), escrita por Jacopo Peri para um círculo
elitista de humoristas florentinos letrados, cujo grupo era conhecido
como a Camerata. Dafne foi uma tentativa de reviver a tragédia grega
clássica, como parte de uma ampla reaparição da antiguidade que
caracterizou o Renascimento.

Não obstante, o uso do termo ópera começa a ser utilizado a partir de


meados do século XVII para definir peças de teatro musical, referidas
até então como Dramma per Música (Drama Musical) ou Favola in
Música (fábula musical).
Geralmente uma Ópera é constituída por uma Abertura (peça musical
que faz a síntese da obra) seguida de vários Actos que narram o
libreto (história ou guião narrativo, geralmente da autoria de um
dramaturgo ou escritor, a partir da qual é composta a música, escrita
por um compositor).
A ópera mais antiga que se conhece foi composta por Monteverdi (1567 – 1643);
chama-se “Orfeu”; foi estreada em 1607 no Teatro da corte de Mântua e publicada
em 1609, em Veneza.

Outro autor barroco e igual importância, no que respeita à composição operática


foi Henry Purcell (1659 – 1695),
considerado um dos mais importantes compositores ingleses. Escreveu várias
óperas de temática mitológica e também profana, de entre as quais se destacam:
The King Arthur, uma alegoria à luta entre bretões e saxões, representada a
primeira vez em 1691 e
The Fairy Queen (cujo libreto é uma adaptação anónima da peça de Shakespeare
“Sonho de uma Noite de Verão”), escrita para comemorar o aniversário de
casamento da Rainha D. Maria II, apresentada em 1692.

As óperas destes compositores ainda não apresentavam a estrutura que


posteriormente foi fixada, sendo uma mistura de texto declamado e cantado, tendo
geralmente um número de actos maior (nunca menos de 5) do que mais tarde foi
comum (geralmente 3).
Os cantores/personagens são classificados de acordo com os seus timbres vocais:
Masculinos: baixo, baixo-barítono, barítono, tenor e contratenor.
Femininos: contralto, mezzo-soprano e soprano
Mas a época barroca é fértil em compositores, destacando-se de entre
eles os que são considerados os mestres da geração de compositores
famosos dos séculos XVIII e XIX:

Johann Sebastien Bach (1685-1750), compositor alemão considerado o


Maior nome da música barroca. Escreveu uma vastíssima, variada e inovadora
quantidade de peças musicais, a maior parte destinada a ser tocada em festas e
cerimónias religiosas;
e
George Frideric Handel (1685-1759) – nascido alemão mas naturalizado
cidadão britânico em1726, também considerado um dos grandes mestres do
barroco; foi autor de uma vasta obra instrumental: óperas, oratórias
(textos sagrados colocados em música), música instrumental,…
Uma das obras mais originais que compôs - Water Music é constituída por
uma série de peças orquestrais e foi encomendada pelo Rei Jorge I para ser
tocada no Rio Tamisa, durante uma cortejo marítimo. Foi ouvida a primeira vez em
17 de Julho de 1717 e executada por 50 músicos, também eles num barco,
que acompanhou o cortejo do rei e da corte pelo rio londrino. O rei ficou tão
agradado com o que ouviu que a peça foi repetida 3 vezes!
A Arte Barroca
Inicialmente o termo barroco designava a forma de pérolas
deformadas e irregulares, tendo um carácter pejorativo, associado a uma
deformidade da natureza; a partir de 1888, o historiador de arte Heinrich
Wolfflin usou o termo “barroco” para descrever as produções artísticas
produzidas a partir de seiscentos, perdendo assim este adjectivo a carga
negativa original.

O Barroco inicia-se em Itália, na Roma dos Papas, no século XVII


difundindo-se pela Europa e sendo gradualmente adoptado pelos países
católicos. Os países protestantes, não seguiram a estética barroca uma vez
que esta está intimamente ligada às orientações do Concílio de Trento,
estando portanto associada ao espírito da Contra-Reforma.
(1) O Barroco celebra o triunfo da Contra-Reforma
sendo o maior programa arquitectural deste período, em Roma, a conclusão
da Basílica de S. Pedro, acabada no final do século XVIII reflectindo a nova
glória da Igreja Católica, Apostólica Romana;
(2) e o Barroco é o estilo do Absolutismo ( Luis XIV e Versailles)
A partir da última metade do século XVII verifica-se o aparecimento
de palácios, em escala cada vez mais monumental, como ostentação
do poder e grandiosidade dos seus proprietários (reis, príncipes, nobres,…)
O pode absolutista sugere um estilo avassalador que infunde respeito no
observador.
Objectivos da arte Barroca

Desejo de influenciar estados emocionais, apelando aos sentidos do observador


(manipulação do crente/súbdito)

Persuadir, por vezes, de forma teatral e dramática (produzir espectáculo)

Instrumentalização da arte através da sedução sensorial

Características gerais da arte Barroca

Arte de imponência, de grande riqueza sensual, exuberante, fantasiosa.

Tensão, movimento, dinamismo

Intensidade, complexidade e ornamentação

Ânsia de novidade, gosto pelo infinito.

Unificação das artes num mesmo espaço (arquitectura, escultura, pintura, música,…)
Caraterísticas da arquitectura Barroca
Para os arquitectos barrocos, o edifício era uma grande escultura.
Procura de movimento, quer real (uso de linhas e superfícies onduladas,
côncavas, convexas, plantas com formas geométricas complexas e dinâmicas –
elipses, ovais, elaborados traçados geométricos,…), quer sugerido;
Tentativa de representar ou sugerir o infinito;
Importância dada à luz e aos efeitos luminosos na percepção final e na
concepção da obra:
Gosto pelo teatral, pelo cenográfico, pelo faustoso;
Tendência para não respeitar os limites das disciplina (onde acaba a
arquitectura e começa a escultura ou a pintura…)

Assim, as plantas apresentam formas complexas e as paredes tanto


interiores como exteriores são onduladas. O vocabulário usado na composição
das fachadas é igual ao usado no Renascimento e Maneirismo, mas apresenta-se
complexo: colunas torsas, volutas muito volumosas e enroladas, frontões contra-
curvados e quebrados (composição geométrica cheia de concordâncias); cartelas
(elemento que imita uma folha de papel ou pergaminho, de cantos gastos ou
enrolados); os arcos não se limitam aos semicirculares, mas são usados os
abatidos, ovais, e sobretudo de dupla curvatura.
Na arquitectura o ênfase foi dado ao tamanho, à teatralidade e à
iluminação, à sumptuosidade na decoração de interiores, dos pavimentos às
coberturas, com um apetite pelos materiais luxuosos – reflexo de poder
económico e político.

Os edifícios característicos da arquitectura barroca são: a igreja e o


palácio (tipologias)

Às realizações arquitectónicas deverá ser acrescentado o arranjo


urbanístico. O edifício passa a funcionar com a sua envolvência pelo que o
espaço que o rodeia passa também a ser alvo de arranjo/projecto arquitectónico
– avenidas, alamedas, praças, sendo estas animadas por fontes com conjuntos
escultóricos e jogos de água.

Relativamente aos palácios eles contemplam sempre, para além


do edifício, espaços ajardinados, pontuados de elementos escultórico-
arquitectónicos: fontes, tanques, escadas, colunatas, arcadas, parterres
(canteiros), conjuntos escultóricos,…
Barroco Italiano (arquitectura/escultura/urbanismo)
Carlo Maderno (1556-1629) - arquitecto
. Conclusão da Catedral de S. Pedro. Roma.1607-26
Gianlorenzo Bernini (1598-1680) – escultor, pintor, arquitecto e dramaturgo
. Arranjo urbanístico e colunata da Praça de S. Pedro. Roma.1656-67
. Igreja de Santo André do Quirinal, Roma .1658-70
. Palácio Barberini. Roma.1628
Francesco Borromini (1599-1667) – arquitecto
Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane. Roma. 1634-67
Igreja de Sant Inês. Piazza Navona. Roma.1653
Piero de Cortona (1596-1669) - arquitecto, pintor
Baldassare Longhena ( 1598-1682) – arquitecto
. Igreja de Santa Maria da Saúde. Veneza. 1631
Guarino Guarini ( 1624-1683) – arquitecto e matemático
Palácio Carignano. Turim. 1678
Igreja de São Lourenço. Turim
Capela do Santo Sudário. Turim. 1667
Filippo Juvara ( 1678-1736) - arquitecto
A grande obra do barroco italiano foi a conclusão da Basílica de
S. Pedro em Roma, da autoria do arquitecto Carlo Maderno e o respectivo
arranjo urbanístico com desenho e esculturas de Bernini

1506- Projecto de Bramante

1546- Projecto de Miguel Ângelo

1506 - Projecto inicial de Bramante (praticamente lançado em planta)


1514 - Rafael continua até 1520, o projecto de Bramante com pequenas
alterações, mas pouco foi construído.

1546 - Miguel Ângelo, define a planta da igreja sendo concluída, em vida


deste arquitecto, toda a cabeceira com a grande cúpula mas não a fachada
do edifício.
1607-1626 – Carlo Maderno,
conclui a Basílica, alterando o
projecto de Miguel Ângelo:
prolonga o braço frontal da
cruz grega da planta original,
transformando-o numa nave
(planta basilical) e cria um
nartex, que alberga, ao nível
do segundo piso, uma galeria
que tem a varanda que dá
para a praça e
outra para o interior da igreja
bem como vai permitir fazer a
ligação ao Palácio do Vaticano
(residência do Papa).
Fachada da Catedral de S. Pedro. Roma
Bernini, assistente de Carlo Maderno, dirigiu as obras de construção e
coordenou a decoração e realização das esculturas do interior da igreja, de que
se destaca o Baldaquino com colunas torsas, por baixo da cúpula de Miguel
Ângelo, que assinala a zona do cruzeiro, onde se situa o acesso à cripta (onde
está o túmulo de S. Pedro) e o local da celebração /altar papal, espantosa fusão
de escultura e arquitectura.
1656-57 – Bernini concebe os arranjos exteriores da catedral de S. Pedro: praça
ovalada, colunata e todas as estátuas que foram colocadas neste conjunto
bem como as duas fontes e o obelisco central.
Colunata e vistas exteriores
da Praça de S. Pedro. Roma
Gianlorenzo Bernini (1598-1680)

Igreja de Santo André do Quirinal. Roma. 1658-70


Francesco Borromini (1599-1667)

Igreja de San Carlo alle Quatro Fontane.


Roma. 1634-67

Planta Fachada
Pormenor da fachada

Interior: vista e cúpula


Oratório de S. Filipe Neri. 1637- 49
Igreja de Santa Inês. Roma. 1652
Piero de Cortona (1596-1669)

Igreja de Santi Luca e Martina.


Roma. 1635-50

Planta e fachada
Baldassare Longhena (1598-1682)
Igreja de Stª Maria da Saúde. Veneza. 1630-1651
Guarino Guarini (1624-1683)

Capela do Santo Sudário. Turim. 1667

Interior
Igreja de San Lourenzo.
Turim. 1668-80
Palácio Carignano. Turim. 1679
Urbanismo
As cidades converteram-se em autênticas manifestações de poder e
conheceram um desenvolvimento extraordinário
Traçam-se os primeiros planos urbanos de cidades como Londres ou
Paris, pensando a cidade como uma unidade integrada num sistema muito mais
vasto que a simples aglomeração de edifícios que perdem a sua individualidade
para se tornarem parte integrante de uma totalidade urbana mais complexa.
A cidade converte-se num espaço simbólico, cenário de festas, procissões,
desfiles, manifestações religiosas ou civis, de grande afirmação simbólica de
poder, autoridade e domínio.
A praça, em frente da igreja/catedral ou do palácio é o espaço urbano
por excelência do Barroco e o palco onde se desenrolam os grandes
acontecimentos públicos.
Não há praça sem, fonte, pois elas são o elemento predilecto do
urbanismo barroco. De formas variadas, são ornamentadas com figuras
mitológicas e jogos de água, em cascata ou em repuxos jorrantes. Salientam-se
a Fonte dos 4 Rios na Praça Navona que Bernini esculpiu com naturalismo e a
Fonte de Trevi de Nicola Salvi que é uma das últimas obras do Barroco em
Roma, apresentando já algumas influências rocaille (rocócó).
Praça Navona. Roma (antigo hipódromo da Roma Imperial). 1648-51.Bernini
Praça de Espanha .1660. (Fonte da Barca 1627-28. Bernini)
Praça do Povo
1784-1816
Carlo Rinaldi
Fonte de Trevi
Nicola salvi
Escultura do Barroco
A escultura foi a actividade artística do barroco que melhor caracterizou
esta época e, de certa maneira, também a mais popular : ela é presença
Constante nas igrejas e palácios, mas também nos espaços públicos, ora
assumindo carácter efémero (realizada em materiais leves – gesso e madeira)
nos cenários montados para as grandes festas, procissões e outros eventos
espectaculares, ora com carácter definitivo, presente nas fontes que animam as
praças ou rematando as construções, conferindo-lhes monumentalidade e
enriquecendo-os estética e plasticamente.
(p.e. Catedral de S. Pedro e respectiva colunata exterior).
Expressão por excelência das imagens e dos sentidos do Barroco.

Pode afirmar-se que existem duas grandes categorias na escultura barroca:


a) a destinada a ornamentar/completar a arquitectura: filas de estátuas a
rematar uma construção (em superfícies horizontais de edifícios, muros de jardins,
parapeitos de pontes; em apoios que fazem as vezes das colunas; nos frisos,
enquadrando brasões, cartelas, troféus e outros elementos);
b) a de vulto propriamente dita.
Características gerais da escultura barroca:
. Tecnicamente perfeita – a perícia dos escultores chega ao verdadeiro
virtuosismo;
. Movimento e dinamismo – as figuras deixam de ser apresentadas
paradas ou em atitude de repouso, mas sempre em movimento/acção, fixando de
preferência um momento de instável equilíbrio, fortemente dramático, e tenso
(tanto física como psicologicamente) em atitudes de grande plasticidade;
. Ambição “fotográfica” de fixar o movimento/acção que leva à utilização
de esquemas livres e soltos (não já os rígidos triângulo e círculo do Renascimento), sendo a
captação do gesto instantânea e vigorosa;
. São usadas proporções mais esguias do corpo humano (diferentes do
canône do Renascimento);
. Uso da figura “serpentinada” – o corpo humano descreve um
movimento em espiral, consequência de uma rápida rotação;
. Os panejamentos aparecem agitados pelo inevitável movimento dos
corpos – amplos, flutuantes, enfunados e descompostos pelo vento (vestes
anormalmente abundantes…), chegando-se ao exagero de sugerir mais a ideia
de desordem do que de movimento
. Ponto de vista único – situando fisicamente o espectador perante a
acção, em que o espaço real (o da escultura) se confunde com o espaço fictício
(ocupado pelo espectador, perante a acção)
. Temática – religiosa e mitológica sendo representados momentos
dramáticos e/ou de forte sugestão mística
“…ao Barroco não faltaram escultores, embora não se possa gabar de ter muitos
de grande envergadura; na prática, apenas terá havido Gian Lorenzo Bernini,…”
a)

Fonte do Tritão.1624-43.Praça Barberini. Roma


Intervenções na
Catedral de S. Pedro. Roma
(interior e exterior)

Baldaquino 1624-33
Altar / Trono de S. Pedro 1657- 66
Esculturas que coroam o edifício e colunata da Praça da Catedral de S. Pedro. 1656-57
Fonte da Barca. 1627-28 (Praça de Espanha. Roma)
Capela Cornaro e Êxtase de Santa Teresa. 1645.52 Igreja de Stª Mª da Vitória. Roma.

Vista geral e pormenor do Balcão dos Doadores


Fonte dos Quatro Rios. 1648-51
Piazza Navona. Roma
Rio Nilo
(pormenor da Fonte dos Quatro Rios. Piazza Navona e maquete em terracota)
b)

Bacanal 1616-17
Rapto de Proserpina. 1621-22 (vista geral e pormenor)
Apolo e Dafne. 1622-25 (vista geral e pormenor)
David. 1623-24
Barroco Francês (arquitectura clássica francesa)
. linguagem deliberadamente classicista e racional, por oposição à
extravagância do barroco italiano
. muito mais contido que o barroco italiano: plantas menos complicadas,
fachadas mais severas, maior respeito pelas proporções e pelos elementos
tradicionais da arquitectura clássica (p.e. as ordens são respeitadas), renúncia
aos efeitos violentos e dramáticos
. todas as artes – arquitectura, escultura, pintura, mobiliário, objectos
utilitários transformados em objectos de luxo – convergem para um mundo
fantástico e artificial
. expressou ideais de tradição, força e permanência, aliados a uma
elegância da composição, que facilmente estabelece as diferenças com o
gosto italiano
. gigantismo da escala, repetição formal
. associado ao poder régio absolutista, assume uma afirmação de
carácter político que se materializa sobretudo na edificação de palácios reais
e/ou para a corte de proporções gigantescas, que inauguram e novo modelo de
edifício de habitação nobre, pois a fachada já não comunica directamente para a
rua, como em Itália, mas recolhe-se para trás de um muro, onde se situa um
grande pórtico de acesso à propriedade cujos jardins, cuidadosamente traçados
/desenhados são o cenário que enquadra o edifício que tem geralmente a planta
em forma de U. Interiormente destacam-se a(s) grande(s) escadaria(s) de
aparato cenográfico e a galeria – amplo corredor ornamentado, onde estavam
expostas as obras de arte mais valiosas da casa, local de ostentação.
Os grandes arquitectos do barroco (classicismo) francês são:
. Jacques Lemercier (1585-1654)
. Renovação do Palácio Real do Louvre. Paris – Ala da Torre do Relógio
. Igreja da Sorbonne. Paris.1635
. Igreja de Val-de-Grace. Paris. 1645 (projecto)

.François Mansart (1598 – 1666)


Igreja de Val-de-Grace. 1645-1710 (construção)
Igreja de Nº Sª da Visitação. 1632-33
Inúmeros palácios para a nobreza francesa da época

. Louis le Vau (1612-1670)


. Renovação do Palácio Real do Louvre. Paris. 1667-70, em colaboração
com o Arqtº Claude Perraut – Ala de Apolo (inicialmente, encomendado a Bernini, este projecto, cuja
proposta foi recusada)
. Palácio de Vaux-le-Vicomte.1656-61
. Palácio de Versailles. 1668-74 (1ª fase do projecto)
. Academia Francesa. Paris.

. Jules Hardouin-Mansart (1646-1708)


. Igreja dos Inválidos. Paris, 1677-91
. Palácio de Versailles. A partir de1678 : Estábulos reais, Orangerie,
Grand Trianon, Capela
. Place Vândome. Paris
. Jacques Lemercier (1585-1654)

Renovação do Palácio Real do Louvre. Paris – Ala da Torre do Relógio


Igreja da Sorbonne. Paris.1635
Igreja e mosteiro de Val-de-Grace. Paris. 1645 (projecto de Mansart, concluído por
Jacques Lemercier)

A planta da igreja e a elevação da nave até à altura do entablamento são de François Mansart que
foi substituído por Jacques Lemercier, que a concluiu.
François Mansart (1598-1666)

Igreja de Nº Sª da Visitação. 1632-33


Vários palácios para a nobreza

Hôtel Guénégaud
Paris. 1638

Castelo Maisons-Laffite
Yvelines. 1642-46

Mansarda – andar superior de um edifício sobre


o qual assenta o telhado e de cuja estrutura faz
parte (F. Mansart foi o “inventor” deste
aproveitamento do vão da cobertura, derivando
por isso, a palavra, do seu nome)
Renovação do Palácio Real do Louvre. Paris
Bernini a quem foi inicialmente encomendado este projecto, apresentou
duas propostas que foram recusadas

1664

1665
. Louis le Vau (1612-1670)
. Renovação do Palácio Real do Louvre. Paris. Ala de Apolo.1667-70
(em colaboração com o Arqtº Claude Perraut (arquitecto e matemático)
Palácio de Vaux-le-Vicomte.1656-61
Pequeno palácio construído numa propriedade do Ministro das Finanças de
Luis XIV, Nicolas Fouquet, constitui o exemplo de uma construção unitária entre três
elementos: o palácio, os jardins (projectados por André Le Nôtre) e o bosque. Os
interiores foram concebidos pelo pintor Le Brunn (1616-1690). Foi inaugurado, com
Uma grande festa que teve a presença do rei, em 17 de Agosto de 1661. Pouco tempo
Depois o ministro foi preso, acusado de se aproveitar dos dinheiros públicos para
financiar este esplendoroso palácio que fez inveja ao rei.
Colégio das 4 Nações (actual Academia Francesa). Paris.1719 (conclusão da edificação)
. Palácio de Versailles
Arquitectos: Louis le Vau (1661-70) e Jules Hardoins Mansart(1678-1708)
Concepção dos jardins: André Le Nôtre
Interiores: Charles Le Brunn

Luis XIV, decide edificar uma enorme palácio régio, que foi residência régia e
sede do governo da França até à Revolução Francesa, numa propriedade nos arredores
de Paris, onde o seu pai, Luis XIII, tinha construído, em 1624, um pavilhão de caça. As
Obras iniciaram-se em 1668/9 e boa parte do conjunto foi edificado durante a vida do Rei Sol.
Mas todos os monarcas que se lhe seguiram, até 1789, o foram completando.
O pátio de honra, chamado Pátio dos Mármores, em cuja fachada central, interiormente,
tem ainda as paredes originais do edifício do tempo de Luis XIII
Sala da Guerra
. Jules Hardoins Mansart ficou responsável por Versailles a partir de1678, apesar
de figurar na relação de canteiros a partir de 1673, sendo da sua exclusiva
responsabilidade os Estábulos Reais, a Orangerie (laranjal) 1681-86, o Grand
Trianon (1687) e a Capela (1689)

Le Grand Trianon
Capela do Palácio de Versailles
. Jules Hardouin-Mansart (1646-1708) (sobrinho neto de F. Mansart)
Igreja do Hospital dos Inválidos. Paris, 1680-1707
Place Vândome. Paris.1698

Obra de J. Hardouin-Mansart segundo projecto de F. Mansart


(a coluna foi erguida em 1810 no Império de Napoleão)
Pintores do período Barroco

Itália
Annibale Carracci (1560-1609)
Pietro da Cortona (1596-1669)
Andrea del Pozzo (1642-1694)
Giambattista Tiepolo (1696-1770)
Caravaggio (1571-1610)

Flandres
Franz Halls (c. 1580-1666)
Rembrant (1606-1669)
Vermeer (1632-1675)
Peter Paul Rubens (1577-1640)

Espanha
Zurbarán (1598-1664)
Vélasquez (1599-1660)
Murillo (1617-1682)
Pintura Barroca
Suporte preferido: paredes e tectos de edifícios pintados em trompe
l´oeil, usando a técnica do escorso (desenho/composição em perspectiva vista de
baixo para cima ou vice-versa). Estas pinturas tinham como objectivo dar a
impressão de que o espaço era infinito, conferindo uma sensação de dilatação
impressionante. Nos períodos artísticos anteriores a realização de pintura de tectos
e paredes era comum em Itália, mas durante o barroco esta torna-se presença
praticamente obrigatória no interior dos edifícios, sobretudo religiosos (o que
anteriormente não acontecia) e são italianos os exemplo mais notáveis.
Frequentemente é difícil perceber onde termina a arquitectura e começa
a pintura porque esta “finge” materiais, elementos e estruturas arquitectónicas
que se fundem ou misturam com a realidade construída.

Temática – são geralmente narrativas: vidas de santos, soberanos, heróis,


personagens mitológicos

Elementos utilizados – arquitecturas triunfais, projectadas em direcção ao céu;


o espaço é “povoado” de anjos e santos ou figuras que simulam movimentos
rápidos; os gestos/acções das figuras são amplos sugerindo uma mímica teatral;
as vestes estão representadas como que insufladas por vento.

Este género de pintura foi de uma enorme vitalidade e tornou-se de tal


forma popular que o seu uso se prolongou por todo o século XVIII.
Annibale Carracci (1560-1609)

Triunfo de Bacchus e Ariadne. 1597-1602/5


Palácio Farneso. Roma
Vista da cena central
Homenagem a Diana O Ciclope Polipheus
(pormenor) (pormenor)
Pietro de Cartona (1596-1669)

Alegoria da Divina Providência .1633-39


Palácio Barberini. Roma
Pormenor
Andrea Pozzo (1642-1694)

Glória de Stº Inácio. 1691-94. Tecto da nave da Igreja de Stº Inácio. Roma
Pormenor
Tecto da Capela Mór da Igreja de Stº Inácio. Roma
Giambattista Tiepolo (1696-1770)

Entrada do Palácio Imperial de Wurzburg


1751-53
Sentença de Salomão. 1726-29. Tecto. Palácio Episcopal de Udine
Apoteose da Família Pisano. 1761-62
Vila Pisano. Stra
Pormenor
Pormenor
Mas a pintura sobre tela ou madeira, também foi naturalmente usada e
por toda a Europa se desenvolveram escolas nacionais, que seguindo os
princípios e objectivos da arte barroca a interpretaram de acordo com a respectiva
situação económica, politica e/ou religiosa.

Característica gerais da pintura barroca


A luz, ou melhor, a representação dos efeitos por ela criados, é o traço
distintivo da pintura barroca.
A atmosfera é alterada: são usados tons escuros, onde sobressaem
zonas iluminadas, como se de luz focal se tratasse, criando assim dramáticos
contrastes entre zonas banhadas de luz intensa e zonas em sombra/penumbra
(chiaroscuro). Uso da luz rasante.
Atmosferas densas, expressivas e de intensa espiritualidade.
Captação do momento – importância dada ao acontecimento/acção.
Sobreposição de formas de forma a conseguir maior profundidade do
campo visual.
Uso de formas dinâmicas e sinuosas.

Diversidade temática: religiosa, profana e/ou mitológica, retrato.


Novos temas: naturezas mortas; cenas de género (cena retirada do quotidiano);
paisagem; retratos colectivo (muito populares no norte da Europa, mais civilista
e laico)
Caravaggio (1571-1610)
Após o domínio perfeito da
representação da natureza alcançado
no Renascimento e Maneirismo,
Caravaggio, no início do século XVII,
assinala o início de uma nova época,
que traduz o interesse deste pintor em
representar a verdade e não o ideal.
Assim a importância recai não no que
se representa mas como se representa.
Pintura próxima da vida, dos seus
males, dos seus mistérios e das suas
contradições.

Crucificação de S. Pedro. 1600


Capela Cerasi.
Igreja de Stª Mª Del Popolo. Roma
Pormenor

Vista geral da Capela Cerasi. Ig. De Stº Mª del Popolo. Roma


Conversão de S. Paulo. 1600
Ceia em Emaús. 1601
O Sepultamento de Cristo. 1603
Morte da Virgem. 1606
Retrato de Manffeo Barberini. 1599
Com Caravaggio, pela primeira vez, flores e frutos são tema central, inaugurando
assim, uma nova temática – a natureza morta

Cesto com fruta. 1597

Natureza morta com flores e


fruta. 1590
Pintura holandesa

Devido à reforma protestante a pintura religiosa deixou de ser primordial.


Verifica-se uma maior diversidade temática caracterizada por um forte realismo,
típico do Norte da Europa e das sociedades burguesas: arte de mercadores,
burgueses e artesãos bem sucedidos, executada em reduzidas dimensões,
realizadas para casas de gente vulgar. Comerciada livremente, comemora os
prazeres e acontecimentos da vida do homem comum.

Folclore, literatura e as peças de teatro foram elevadas a categorias


independentes, sendo representados como cenas de género – uma cena
retirada do quotidiano e conheceram grande popularidade no século XVII
Peter Paul Rubens (1577-1640)

Pintura vigorosa, sanguínea,


sensual, decorativa, teatral, de uma
viva grandiosidade. Estudou em Itália
onde esteve 8 anos, tendo sido muito
influenciado pelos pintores venezianos
(pintura colorista). Pintor de sucesso a
sua oficina chegou a empregar 200
ajudantes, cada um especializada
numa área da representação: animais,
tecidos, natureza,… Rubens era
especialista na representação do
corpos humano: carnes rosadas,
movimentos largos e violentos,
incessante jogo de linhas curvas. Os
seus quadros seguem geralmente um
esquema compositivo que respeita o
losângulo, o círculo ou um S e as cenas
assumem sempre um carácter teatral.

O Artista e sua mulher, Isabelle Brant


1609-10
Tumulação de Cristo. 1611-12
Rapto da filhas de Lisipo
c. 1617
Senhora do Chapéu. c. 1625
(Helene Formant ?)
As três Graças. 1639
Rembrant (1606-1669)
É considerado o herdeiro de Caravaggio nos Países Baixos. Usa os efeitos
de luz e sombra com a mesma intenção mas de uma forma ainda mais densa, pois
esses efeito estão agora em toda a tela e a luz que geralmente recai sob o tema/
personagem/acção central, com Rembrant por vezes foca elementos acessórios:
um livro, uma mesa, um objecto. A luz é utilizada na composição por forma a fazer
realçar o tema.
São muito comuns na pintura de Rembrant os retratos colectivos, sendo
disso exemplo duas das suas obras mais conhecidas : A Ronda da Noite e A Lição
de Anatomia. Mas o pintor não se limitava a representar fisionomicamente o grupo;
confere já, a cada personagem, características psicológicas (retrato moral), dando
início a um novo tipo de representação no retrato.
Rembrant inaugurou aliás um subgénero do retrato – o autoretrato, tendo
realizado grande número destes ao longo da sua vida.
Encarna um sentido dramático e introvertido sendo um pintor de grande
Personalidade, interessado sobretudo na pesquisa pictórica e lúmina que o barroco
inaugurou.

O sucesso que alcançou na primeira metade da sua carreira permitiu-lhe


adquirir inúmeras obras (pintura e desenho) de artistas do Renascimento, que teve
que vender no final da vida por razões económicas, pois a sua pintura deixou de
agradar à clientela burguesa que se via representada nas telas não com a
dignidade dos nobres mas com os seus defeitos e virtudes.
Lição de Anatomia. 1632
Pormenores
A Ronda da Noite. 1642
Danae. 1637-47
Hendrickje banhando-se no rio.
1654
Autoretratos

1629 (com 23 anos)


1640

1669 (ano da morte)


1659
Vermeer (1632-1675)

A Leiteira. c.1658
(45 x 41 cm)
Paisagem de Delft. 1659-60
O Astrónomo. c. 1668 Rapariga com brinco. C. 1665
(50 x 45 cm) (46 x 45 cm)
A Arte de Pintar. 1665-67
120 x 100 cm
Pintura espanhola
Velásquez (1599- 1660)

Autoretrato. c. 1640
Retratos de Filipe IV

1652-53

1624-27
Triunfo de Bachus (Los Borrachos). c. 1629
Vénus ao Espelho. 1649-51
As Meninas. 1656-57
(318 x 276 cm)
Pormenores
As Fiandeiras. 1657. (220 x 289 cm)

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