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Universidade Federal de Santa Catarina

Campus de Joinville
Curso de Engenharia de Mobilidade

Profa. Viviane Lilian Soethe

Joinville - SC
09/05/2017

1
A compreensão da natureza e do
papel que as mesmas desempenham
nos processos de deformação plástica
permitem compreender algumas das
técnicas empregadas para aumento de
resistência e dureza dos materiais
metálicos e ligas.

Possibilidade de adaptação das


Distribuição das discordâncias de um propriedades mecânicas dos materiais
monocristal de LiF atacado – tenacidade e resistência em um
quimicamente compósito em uma liga metálica -
• Temos dois tipos de deformação: plástica e elástica
• A deformação plástica é relacionada com o movimento de um
grande número de átomos em resposta a aplicação de uma
tensão – ligações interatômicas devem ser rompidas e
formadas novamente.
• Nos sólidos cristalinos geralmente a deformação plástica
envolve o movimento de discordâncias

Estudo das características da deformação plástica com relação as discordâncias


e apresentação das técnicas para aumento de resistência de metais
monofásicos, bem como processos de recristalização e recuperação de metais
deformados.
• Inicialmente os valores de resistências teóricas medidas eram
discrepantes com relação aos obtidos experimentalmente.

1930 - Discordâncias

1950 – visualizadas por


MEV

Desde então foi utilizada para explicar muitos dos


fenômenos físicos e mecânicos que ocorrem nos metais
• Dois tipos de discordâncias: aresta e espiral

Com uma tensão de cisalhamento sendo aplicada perpendicularmente ao plano


da discordância verifica-se que a mesma é transferida de uma posição a outra
podendo emergir da estrutura.
Antes e depois do movimento de uma discordância através de uma região
específica do cristal há um arranjo ordenado e perfeito de átomos – somente
durante a passagem do semiplano extra a estrutura é rompida.
Escorregamento: processo pelo qual uma deformação plástica é
produzida pelo movimento de uma discordância.

Direção de escorregamento

Plano de escorregamento
Uma distância
interatômica
A deformação plástica macroscópica corresponde simplesmente
à deformação permanente que resulta do movimento das
discordâncias, ou do escorregamento em resposta a aplicação
de uma tensão de cizalhamento.
Similar ao movimento de uma lagarta – movimento de discordâncias

Metais e ligas: discordâncias introduzidas durante o processo de


solidificação, deformação plástica ou devido a tensões térmicas por
resfriamento rápido.
Densidade de discordâncias: comprimento total de discordâncias
por unidade de volume.
Metais deformados: 109 a 1010 mm-2.
Cerâmicas: 102 a 104 mm-2.
• Quando os metais são deformados plasticamente cerca de 5% da
energia é retida internamente, o restante é dissipado na forma de
calor.
• A maior parte desta energia armazenada está associada com as
tensões associadas às discordâncias
• A presença de discordâncias promove uma distorção da rede
cristalina de modo que certas regiões sofrem tensões compressivas
e outras tensões de tração.
• Campos de deformação que se irradiam a partir da linha de
discordância. As deformações se estendem aos átomos vizinhos
e sua magnitude se reduz com a distância á discordância.
• Os campos de deformação podem interagir promovendo o
surgimento de forças sobre cada discordância.
• Estes campos de deformação e as forças associadas são
importantes mecanismos de aumento de resistência dos metais.
• Durante a deformação plástica o número de discordâncias aumenta
drasticamente:

Discordâncias existentes, que se multiplicam; contornos


de grão, defeitos internos e irregularidades da superfície:
riscos, entalhes – aumentam a concentração de tensões
e atuam como sítios para formação de discordâncias
• Há um plano preferencial para o movimento das discordâncias
e uma direção neste plano para este movimento – plano e
direção de escorregamento.
• Plano de escorregamento: possui o empacotamento atômico
mais denso – maior densidade planar.
• O deslizamento ocorre em planos e direções mais compactas
pois nestes a distância de deslocamento da rede cristalina é
reduzida.
• Este deslizamento pode ocorrer em diferentes direções e
planos equivalentes – família de direções e planos.
PARA ALGUNS MATERIAIS COM ESTRUTURAS CCC E HC O ESCORREGAMENTO DE
ALGUNS PLANOS SÓ SE TORNAM OPERATIVOS A ALTAS TEMPERATURAS
• No caso de materiais policristalinos a direção de
escorregamento varia de um grão para outro.
• O escorregamento vai ocorrer na direção que possui
orientação mais favorável.

• Amostra de Cu policristalino – dois


sistemas de escorregamento.
• Durante a deformação a integridade
mecânica e a coesão são mantidas ao
longo dos contornos de grão: não se
abrem ou rompem.
• Limitado pela vizinhança.
• Antes da deformação: grãos equiaxiais – mesma dimensão
em todas as direções.
• Após deformação: alongamento dos grãos na direção de
deformação.
• Neste caso a deformação ocorre pela formação de maclas de
deformação.
• Este tipo de deformação é dependente da estrutura do cristal
e ocorre em plano e direção específicos: CCC (112) e [111].
• Geralmente busca-se ligas com altas resistências, com alguma
ductilidade e tenacidade – normalmente sacrifica-se a ductilidade com
o aumento da resistência.
• Existem várias técnicas de aumento de resistência e a seleção da liga
depende da capacidade de um material em se adaptar as exigências
mecânicas de uma certa aplicação.

Comportamento mecânico x movimento das discordâncias

A habilidade de um metal se deformar plasticamente depende


da habilidade de as discordâncias se moverem
• Como a dureza e a resistência estão relacionadas com a facilidade à
deformação plástica, reduzindo-se a mobilidade das discordâncias
pode-se alterar a resistência de um material.

As técnicas de aumento de resistência se baseiam no princípio:

Restrição ou impedimento do movimento das discordâncias


torna o material mais duro e mais resistênte

Metais monofásicos mediante redução do tamanho do grão,


formação de ligas por solução sólida e encruamento
redução
tamanho do grão

• O tamanho médio de um grão influe nas propriedades


mecânicas.
• Durante as deformações plásticas, o escorregamento ou
movimento de discordâncias deve ocorrer através deste
contorno comum.
redução
tamanho do grão
• O contorno de grão atua como uma barreira ao movimento de
discordâncias:
• Como dois grãos possuem orientações cristalográficas
diferentes a discordância terá de modificar sua direção – mais
difícil quanto maior for a diferença na orientação
cristalográfica;
• A fronteira é desordenada fazendo com que os planos de
delizamentos sofram descontinuidades.
• Contornos de grão de alto ângulo promovem acúmulo de
discordâncias e aumento de tensão a frente dos planos de
escorregamento – novas discordâncias.
• Materiais com grãos menores apresentam-se mais duros e
resistentes que aqueles com grãos maiores – diferença na
área de contornos que impedem o movimento das
discordâncias.
redução
tamanho do grão
• Relação entre o tamanho do grão e a tensão de escoamento:
equação de Hall-Petch
Tamanho médio do grão

Constantes dependente do material

O tamanho do grão pode ser


alterado durante o processo de
solidificação e com tratamentos
térmicos apropridados.
solução sólida
• A introdução de impurezas seja por solução sólida intersticial ou
substitucional promove um aumento na dureza e resistência dos
metais.
• Metais com alta pureza geralmente são mais deformáveis e menos
resistentes que ligas compostas deste metal base.
• O aumento de impurezas eleva o limite de resistência a tração e de
escoamento.
solução sólida
• A presença de impurezas promove uma distorção na rede cristalina.
• Ocorre a interação do campo de deformação da rede cristalina
entre as discordâncias e esses átomos de impurezas – restringe o
movimento das discordâncias.
• No caso de átomos intersticiais promove deformações de tração na
rede cristalina vizinha e os substituicionais – compressão.

Menor tamanho - compressão Maior tamanho - tração


encruamento

• Fenômeno no qual um metal dúctil se torna mais duro e mais


resistente quando deformado plasticamente – endurecimento
por trabalho ou trabalho a frio.
• A maioria dos metais encrua a temperatura ambiente.
• A porcentagem de trabalho a frio é dada por:

A0 – área original
Ad – área após a deformação
encruamento
Limite de escoamento e resistência a tração do aço, latão e
cobre.
encruamento

• O aumento na dureza promove uma redução na ductilidade


do material.
• Gráfico tensão-deformação para materiais com diferentes
graus de encruamento.
Valor relativo a
porcentagem de
encruamento
Recuperação Recristalização Cr esciment o de
grão

• Em resumo a deformação plástica produz alterações


microestruturais e de propriedades nos metais que incluem:
• Alteração na forma do grão;
• Endurecimento por encruamento;
• Aumento na densidade de discordâncias;
• Propriedades como condutividade elétrica e resistência a corrosão
podem ser alteradas em função da deformação plástica.
• Para recuperar a estrutura anterior a este processo de deformação
utiliza-se tratamentos térmicos a temperaturas elevadas:
recuperação e recristalização seguida de crescimento de grão.
Recuperação Recristalização Cr o de
esciment
grão

• Recuperação: a altas temperaturas ocorre um aumento da difusão


atômica e consequentemente das discordâncias promovendo uma
liberação da energia armazenada na rede.
• Propriedades físicas como condutividade elétrica e térmica são
recuperadas a seus estados anteriores.
• Recristalização: formação de um novo conjunto de grãos
equiaxiais e livres de deformação com baixa densidade de
discordâncias e característicos das condições anteriores ao
processo de trabalho a frio.
• Este processo é gerado devido a diferença energética entre o
material deformado e não deformado.
Recuperação Recristalização Cr o de
esciment
grão
Recuperação Recristalização Cr o de
esciment
grão
• A recristalização depende do
tempo e da temperatura.
• Figura: limite de resistência a
tração e a ductilidade de uma
liga de latão em função da
temperatura para TT de 1h.
• Temperatura recristalização:
temperatura na qual a
recristalização atinge seu
término em 1h.
• Ocorre mais facilmente em
metais puros que em ligas.
Recuperação Recristalização Cr esciment o de
grão

• Crescimento do grão: após o processo de recristalização, deixando-se a


amostra exposta a uma temperatura elevada verifica-se o crescimento do
novo grão formado.
• A medida que os grãos aumentam de tamanho, a área total do contornos
diminui, promovendo uma redução na energia total – força motriz para o
crescimento do grão.
• Os grãos crescem pela migração dos contornos
de grão. Os grãos maiores aumentam as
custas dos menores que se extinguem.
Recuperação Recristalização Cr esciment o de
grão

• O diâmetro do grão varia em função do tempo de acordo com a relação:

• Este crescimento é dependente do tempo e da temperatura.

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