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Aula 9 - 10

UTILITARISMO I - Jeremy Bentham

UTILITARISMO II - John Stuart Mill


Referências
• GIANNETTI, E. F. Vícios privados, benefícios públicos? A ética
na riqueza das nações. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. pp. 27-
59).
• SANDEL, M. J. Justiça, O que é fazer a coisa certa, Civilização
Brasileira, 5ª ed, 2012, pp. 45-74.
Ética
Normativa

Teleológica Deontológica
o correto de acordo com a finalidade Outros padrões do que é
correto

Ética das Virtudes Ética do Dever: regras


Consequencialista
Ênfase sobre o caráter para o moralmente
virtuoso correto

Egoísmo Ético Utilitarismo


agir em interesse próprio o maior bem para
todos
PONTO DE PARTIDA

Jeremy Bentham (1748-1832)

Todos somos governados pelos sentimentos de


dor e prazer (nossos “mestres soberanos”)

Prazer e dor nos governam em tudo que fazemos


e determinam o que devemos fazer. Os conceitos
de certo e errado “deles advêm”

 Prazer e dor como fundamentos da moralidade


Propósito do hedonismo psicológico

Cada indivíduo deve agir de forma a


proporcionar o maior bem ou a maior
felicidade para todos que o cercam

 Princípio da maior felicidade


Princípio da utilidade

Critério: ações corretas aumentam a


felicidade (prazer) e incorretas diminuem a
felicidade (dor)

Formas de mensuração do prazer: intensidade,


duração, certeza, proximidade etc

O MAIS ELEVADO OBJETIVO DA MORAL É


MAXIMIZAR A FELICIDADE, ASSEGURANDO A
HEGEMONIA DO PRAZER SOBRE A DOR!
Direitos e deveres

O princípio da utilidade serve para testar a legitimidade


das normas positivas, das funções governamentais, das
instituições públicas etc.

Maximizar a “utilidade” para o cidadão/legislador: ao


determinar as leis a serem seguidas, o governo deve
fazer o possível para maximizar a felicidade da
comunidade em geral (soma de indivíduos).

Questão sempre a ser feita: somando os benefícios de


determinada diretriz e subtraindo os custos, ela produzirá
mais felicidade do que uma decisão alternativa?
Impasses
O caráter ético de uma ação depende unicamente das
consequências que ela acarreta: a coisa certa a fazer é a
que produzirá os melhores resultados, considerando-se
todos os aspectos SEM JULGAR (apenas avaliando
quantitativamente, pesando custos e benefícios...)

As consequências não são tudo com que devemos nos


preocupar; devemos observar certos deveres e direitos
por razões que não dependem das consequências sociais
de seus atos (alguns deveres são tão fundamentais que
estão acima dos cálculos)
Problemas...
Utilitarismo ortodoxo de Bentham é acrítico:

 desconsidera o elemento moral na constituição


humana, reduz o que tem importância moral a
uma única escala de prazer e dor: distingue-se
uma experiência melhor ou pior do que outra
pela intensidade e duração de prazer ou da dor
ocasionada (prazeres mais elevados são mais
intensos e duradouros)
Problemas...
Utilitarismo ortodoxo de Bentham é acrítico:
“[Bentham] assume que a humanidade
é igual em todos os tempos e lugares,
que ela possui os mesmos desejos e
está sujeita aos mesmos males [...],
supõe que a humanidade é dominada
por apenas uma parte das motivações
que de fato a dominam, e em relação
a esta parte ele a imagina uma
calculadora mais fria e atenta do que na
realidade ela é”. MILL, J. S. “Remarks on
Bentham’s philosophy”(Works, vol. 10, p. 15)
UTILITARISMO II
JOHN STUART MILL (1806-1873)

 Profundo defensor da liberdade individual que conciliou


os direitos do indivíduo com o utilitarismo

 Para Mill, as pessoas devem ser livres para fazer o


que quiserem, contanto que não façam mal aos outros:
se não prejudico o próximo, minha “independência” é,
por direito, absoluta

 Demonstra a importância do caráter e das virtudes, e


não apenas do prazer, para se alcançar a felicidade

 Introdução de elementos qualitativos que avaliam os


prazeres (há prazeres mais desejáveis)
A escolha como exercício da liberdade

“As faculdades humanas de percepção, julgamento


[...], atividade mental e até mesmo a preferência moral
só são exercitadas quando se faz uma escolha. Aquele
que só faz alguma coisa porque é o costume não faz
escolha alguma. Ele não é capaz de discernir nem de
desejar o que é melhor. As capacidades mentais e
morais, assim como as musculares, só se aperfeiçoam
se forem estimuladas [...] Quem abdica de tomar as
próprias decisões não necessita de outra faculdade,
apenas da capacidade de imitar, como os macacos.
Aquele que decide por si emprega todas as suas
faculdades” Mill J. S. On Liberty, cap. 3
Perfectibilidade humana

Impulso ao auto-aperfeiçoamento (ser melhor como


pessoa na medida em que a liberdade permite
experimentar essa evolução): “vejo a utilidade como
a instância final de todas as questões éticas; mas
deve ser uma utilidade no sentido mais amplo,
baseada nos interesses permanentes do homem
como um ser em evolução” Mill, J. S. On Liberty,
cap 1.

Capacidade de pautar a conduta pela consciência


moral, maximizando a utilidade em longo prazo, e
não caso a caso (a utilidade de hoje pode tornar a
sociedade pior no longo prazo)
Defensor do progresso, mas crítico
da “acumulação” a qualquer preço

Sobre a prosperidade dos povos no norte dos


Estados Unidos: “Tudo o que tais vantagens
parecem ter feito por eles é que a vida de todo
um sexo é dedicada à caça aos dólares,
enquanto a do outro sexo se dedica à
reprodução de caçadores de dólares”
Defensor do progresso, mas crítico
da “acumulação” a qualquer preço

Aperfeiçoamento moral impedido pelo crescimento


populacional e econômico desenfreados:

“É duvidoso que as invenções mecânicas tenham


aliviado a labuta diária das pessoas. Elas
aumentaram o conforto das classes médias, mas
ainda não começaram a produzir grandes
mudanças no destino humano que são da sua
natureza e estão no seu futuro realizar” Mill J. S.
Principles of Political Economy. In Giannetti, op. cit.,
pp.46-47
Contribuições do utilitarismo de Mill

•As virtudes morais não podem se dissociar de uma vida feliz

•Utilitarismo econômico (herdeiro de Bentham): quanto maior o benefício tanto


melhor a decisão (cálculo leva em conta as consequências do ato sobre o
bem-estar do maior número de pessoas)

•HIERARQUIA DE PRAZERES: utilitarismo distingue os prazeres mais


elevados dos menos elevados; as virtudes são um meio (e não um fim em si)
para um tipo especial de felicidade; o prazer intelectual é qualitativamente
melhor do que o prazer sensual: “é melhor um ser humano insatisfeito do
que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um
imbecil satisfeito. E se o imbecil, ou o porco, não pensam assim, é
porque eles conhecem apenas o seu próprio lado da questão” Mill, J. S.
Utilitarianism.
ONDE ESTÁ O(A) UTILITÁRIO(A)?

No boteco de esquina perto da casa de Rosso, são servidas refeições no almoço (PFs) com
ampla aceitação dos clientes. Rosso indicou o estabelecimento a Bruno, Marisa e Wilson,
dizendo: “A comida é boa, boa parte da vizinhança gosta. É um empreendimento novo, mas já
é conhecido por todos do bairro”. Também lhes explicou uma prática interessante do
estabelecimento:
“Seu Zé – dono do boteco – quer fidelizar sua clientela e resolveu emprestar, gratuitamente,
vasilhames (ou tupperwares), quando a comida é comprada para viagem. Para tanto é preciso
que os clientes os devolvam ao boteco em perfeito estado de limpeza. Do contrário, seu Zé
será obrigado a incluir no preço da refeição o valor do vasilhame”.
Rosso arrematou: “É um serviço diferenciado e informal, baseado na confiança de que todos
que levam o tupperware vão retorná-lo; estão dizendo até que é um esquema ‘sustentável’. Eu
mesmo compro comida lá uma vez por semana.”
Bruno, Marisa e Wilson decidiram conhecer o boteco e levaram comida para viagem. Bruno
ouviu as recomendações de Rosso e considerou que, quando estivesse com mais tempo, dado
o acúmulo de tarefas, devolveria o tupperware para seu Zé, e se tivesse alguma dificuldade,
falaria com Wilson para fazê-lo. Marisa, por sua vez, foi direta: antecipou-se deixando um
tupperware de reserva com seu Zé, caso ela, por via das dúvidas, não tivesse tempo para
devolvê-lo ou não quisesse voltar mais ao estabelecimento. Wilson, que logo devolveu seu
vasilhame, acreditava que Bruno deveria devolver o quanto antes o tupperware emprestado.
Seminário 31/10/2013

Renato Janine Ribeiro, “Ética ou o fim do


mundo”, Revista organicom:
http://revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/
organicom/article/view/151/251

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