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PROCESSOS

PSICOPATOLÓGICOS NA Profa. Ma. Raíssa Almoedo


INFÂNCIA E NA
ADOLESCÊNCIA
QUANDO AS CRIANÇAS BRINCAM
• “Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.
• E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
• Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.”
• Fernando Pessoa – Quando as crianças brincam
“HÁ TRÊS MODOS GERAIS PARA CONDUZIR AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS. O PRIMEIRO
É CONSIDERAR SOMENTE A SI MESMO, DESCONSIDERANDO OS OUTROS. O SEGUNDO É
SEMPRE COLOCAR OS OUTROS ANTES DE VOCÊ. O TERCEIRO É A REGRA DE OURO:
CONSIDERAR A SI MESMO E AOS OUTROS.” JOSEPH WOLPE
UMA CRIANÇA SAUDÁVEL É UMA
CRIANÇA FELIZ?
• Na sua concepção, quais os fatores que influenciam ou
determinam a felicidade (ou bem-estar) na infância e
adolescência?
• Há como prevenir o desenvolvimento de psicopatologias
na infância e adolescência?
• Como os pais podem contribuir para o desenvolvimento
psicológico e afetivo saudável de seus filhos?
• O que a escola e a sociedade têm a ver com isso?
• Como a Psicologia pode contribuir para essa infância
saudável?
BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
• Diferentemente da visão hedônica de bem-estar subjetivo, o conceito de bem-estar psicológico vai
além do sentimento de felicidade e satisfação geral com a vida, associado à vivência de mais afetos
positivos que negativos (Ryff & Kayes, 1995). O modelo estrutural do funcionamento psicológico
positivo de Ryff e Singer (2008) se apoia em diversas teorias humanistas clássicas na psicologia e é
constituído por seis componentes: (i) Autoaceitação (atitudes positivas para consigo mesmo), (ii)
Relacionamento positivo com outras pessoas (capacidade de amar e manter amizades), (iii)
Autonomia (lócus interno de avaliação e o uso de padrões internos de autoavaliação), (iv) Domínio
do ambiente (capacidade de escolher, criar e manejar ambientes complexos), (v) Propósito de vida
(intenções e de senso de direção perante a vida), e (vi) Crescimento pessoal (abertura a novas
experiências, para vencer desafios que se apresentam em diferentes fases da vida).

• SANTANA, Vitor Santos; GONDIM, Sônia Maria Guedes. Regulação emocional, bem-estar psicológico e bem-
estar subjetivo. Estud. psicol. (Natal),  Natal ,  v. 21, n. 1, p. 58-68,  Mar.  2016 .  
SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS
HABILIDADES SOCIAIS
• “(...) Também as crianças vivem situações complexas: são pressionadas por diversos tipos de
grupos; percebem regras sociais contraditórias na escola e na família; convivem com
diferentes valores; defrontam-se com uma realidade violenta exibida diariamente pelos
meios de comunicação. De um lado , vivem sob constantes cobranças, e, de outro
identificam uma permissividade que as deixa perplexas.
• Para lidar com os desafios e demandas atuais, a criança precisa desenvolver um repertório
cada vez mais elaborado de habilidades sociais. A competência social é considerada um
indicador bastante preciso do ajustamento psicossocial e de perspectivas positivas para o
desenvolvimento, enquanto que um repertório social empobrecido pode constituir um
sintoma ou correlato de problemas psicológicos”
COMO É VISTA A FELICIDADE NA
INFÂNCIA HOJE?
“A felicidade da criança é muitas vezes vista na perspectiva da ausência de problemas ou,
simplesmente, sob uma concepção de bens materiais, conforto, diversão. Embora esses
aspectos sejam importantes, não se pode ignorar que o seu bem-estar pode ser ampliado com a
melhoria dos relacionamentos em diferentes contextos. Mesmo quando enfrenta os problemas
inerentes Às situações de vida, a criança pode se sentir mais feliz se usufruir interações
prazerosas onde se sinta compreendida e amada.
Um repertório elaborado de habilidades sociais (como a comunicação, expressividade e
desenvoltura nas interações sociais) contribui decisivamente para relações harmoniosas com
colegas e adultos na infância.”
FATORES DE PROTEÇÃO
• A competência social na infância vem sendo vista como um dos fatores de proteção para
uma trajetória desenvolvimental satisfatória, porque aumenta a capacidade da criança para
lidar com situações adversas e estressantes. Tal capacidade se expressa em maior senso de
humor, empatia, habilidades de comunicação, de resolução de problemas, autonomia etc.
DEPRESSÃO INFANTIL
• Os sintomas depressivos na infância são reconhecidos hoje como mais comuns do que se
imaginava. Eles estão relacionados a dificuldade em várias áreas do funcionamento
adaptativo, à perda de interesse e prazer pelas atividades usuais, à autorrecriminação e À
desesperança. A queixas somáticas de dor de cabeça, dor de estômago, cansaço, náusea e
insônia são correlatos comuns desse quadro.
• Quando associado à ansiedade e depressão, o isolamento social geralmente reflete um
desempenho pobre em habilidades sociais, principalmente de conversação e expressividade
de sentimentos.
• Com frequência a criança se sente insegura e desconfortável nos contatos sociais,
particularmente em situações em que precisa falar de si, expressar afeição ou desagrado,
defender os próprios direitos, aceitar ou refutar críticas.
PREVENINDO PROBLEMAS NA
INFÂNCIA
• A plasticidade do comportamento social na infância justifica a necessidade de investimento na
promoção de saúde e bem-estar, por meio de estratégias educativas e terapêuticas. Mesmo
reconhecendo-se a multideterminação dos transtornos psicológicos e a importância do investimento
dos órgãos públicos em mudanças estruturais mais amplas que reduzam os fatores de risco, defende-
se também, o investimento concomitante em programas de Treinamento de Habilidades Sociais, sob
duas vertentes: alternativa de prevenção, por meio da ação integrada entre escola e família. A
segunda, associada a intervenções clínicas visando a superação de dificuldades interpessoais e dos
problemas a elas associados.

• DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda AP. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática.
Editora Vozes Limitada, 2017.
A REGULAÇÃO DAS EMOÇÕES
• “Diversos estudos têm demonstrado que o cumprimento das tarefas desenvolvimentais com
sucesso na infância e na adolescência requer a capacidade de regular as emoções, que se
traduz na sua adaptação e saúde mental. Aliás, o próprio aprender a regular as emoções
(regulação do afeto, coping e regulação do humor inclusos) é, em si, uma das principais
tarefas desenvolvimentais da infância.
• (...) Considera-se que a emergência de psicopatologias e problemas na competência social
surgem aquando da manifestação da desregulação da emoção.”

• ROCHA, Ana Maria; CANDEIAS, Adelinda Araújo; DA SILVA, Adelina Lopes. Regulação das emoções na
infância: Delimitação e definição. Psychologica 61-1, p. 7, 2018.
E A TRISTEZA?
• (...) Um conceito importante no estudo das emoções são as chamadas emoções básicas ou
primárias, como alegria, tristeza, medo e coragem (Frijda, 1995).
• (...) A tristeza foi definida como uma forma de desprazer aliada à retirada de desejo e
sensação de estar indefeso, conforme proposto por Frijda (1995). Além disso, a tristeza
também possibilita o embotamento afetivo, a imobilidade e lentidão fisiológica, em
consonância ao proposto por Marino Júnior (1975). Enquanto a alegria está associada à
formação de vínculos sociais, a tristeza reduz a atividade da pessoa, que busca restaurar sua
energia por meio da simpatia e atenção alheias. De acordo com Verztman (1995), a tristeza é
caracterizada como uma fase passageira, diluída pela vida cotidiana.
• RUEDA, Fabián Javier Marín; SISTO, Fermino Fernandes. Relação entre emoções e autocontrole em crianças e
adolescentes. Psicologia Argumento, v. 25, n. 51, p. 393-400, 2017.
E A TRISTEZA?
• Ela tem alguma função?
• A regulação das emoções tem a ver com a forma que nos comportamos (e que somos e estamos no
mundo e em relação);
• Assim como o medo, a tristeza tem um papel importante na nossa proteção – nos ajuda a identificar
e evitar o que nos faz mal;
• Sentimos 🡪 atribuímos um significado 🡪 reflexo no comportamento 🡪 avaliação e resolução de
problemas
• Precisamos experimentar porque precisamos aprender a lidar; compensações como doces e
brinquedos podem invalidar ou mascarar os sentimentos;
• Acolher e ajudar a reconhecer as emoções e sentimentos – pensar sobre as causas, os motivos e
sobre como atravessá-los;
• A criança que não quer falar x a criança que não consegue se expressar
• Parceria e atenção (família, escola, sociedade);
E QUANDO NÃO É SÓ TRISTEZA?
• Que sinais precisamos estar atentos?
• Qual a medida entre a tristeza normal e a patológica?
• Como avaliar se uma criança está em depressão?
• Qual o seu olhar para a depressão infantil?
• E quando não é depressão nem tristeza?
A DEPRESSÃO
• A depressão na infância e adolescência tem sido foco de estudos internacionais devido ao
aumento de sua prevalência nos últimos anos. Além disso, pesquisas recentes relacionam a
depressão na vida adulta com fatores de risco na gestação e na primeira infância.
• Embora a prevalência real da depressão ainda seja desconhecida no Brasil, estima-se que a
doença está se tornando um problema de saúde pública, pois dados de tentativas ou
consumação de suicídios têm aumentado na adolescência e em idade cada vez mais precoce.
Estudo realizado na cidade de Recife, por exemplo, demonstrou que as prevalências de
sintomas depressivos expressivos e de ansiedade se igualaram a 59,9% e 19,9%,
respectivamente, em adolescentes de 14 a 16 anos naquela capital.
• www.sbp.com.br (2019)
A DEPRESSÃO
• Em crianças menores de 12 anos, a depressão costuma se apresentar com um forte componente somático e
uma extrema dependência emocional.
• Sintomas inespecíficos podem ocorrer, como – dor abdominal, cefaleia, náuseas, dores em membros
inferiores; choro fácil; comportamento de roer unhas ou morder lápis, mutismo seletivo abrupto,
maneirismos e tiques; além de distúrbios do sono; recusa em ir à escola; dificuldades escolares; e
comportamento opositor.
• A irritabilidade e a agitação podem ser confundidas com sintomas de TDAH, por exemplo; medos extremos
também são comuns (medo de dormir só, de ir para a escola).
• Em adolescentes há o perigo de confundir o isolamento social, a falta de disposição e de vontade de interagir
com a família ou amigos, como comportamentos esperados para a fase de desenvolvimento. É preciso estar
atento para os sinais de sofrimento, prejuízo social e emocional.

• www.sbp.com.br
A DEPRESSÃO NA INFÂNCIA
E ADOLESCÊNCIA
TISSER, LUCIANA. TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS
NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA. NOVO
HAMBURGO: SINOPSYS, 2018.
DEPRESSÃO
• Como pontuado anteriormente, os sintomas da depressão na infância e adolescência (IA)
costumam se apresentar de modo diferenciado e atípico, manifestando-se como um espectro
de sintomas que variam desde manifestações subsindrômicas (sintomas que não preenchem
critérios para o diagnóstico) até episódios depressivos graves.
• As características clínicas e diagnósticas do transtorno depressivo são semelhantes em
crianças, adolescentes e adultos. Porém, existem especificidades oriundas de cada etapa
desenvolvimental que devem ser levadas em consideração já que trazem um impacto
específico na manifestação psicopatológica, interfere no prognóstico e no planejamento de
estratégias terapêuticas.
DEPRESSÃO
• Trajetória de desenvolvimento afetada – desempenho escolar, prejuízos sociais e emocionais.
• A depressão IA está fortemente associada a outros transtornos mentais, aumento do risco de
ideação suicida, tentativas de suicídio e de taxas de suicídio consumado, além de depressão
recorrente na vida adulta.
• A depressão unipolar é a principal causa de incapacidade dentre jovens com idade entre 10 e
24 anos
• Na adolescência – muitas vezes não é reconhecido (apesar de ser comum).
• Estima-se que a prevalência seja de 1 a 2% entre a idade pré-escolar até a fase pré-puberal e
de 3 a 8% em adolescentes.
• Aproximadamente 20% dos adolescentes preenchem os critérios diagnósticos para depressão
pelo menos uma vez até os 18 anos.
DEPRESSÃO
• Impacto maior em países de baixa e média renda;
• Jovens com IA têm alta probabilidade de recorrência (40% em dois anos e 70% em 5 anos)
além de duas vezes mais chances de desenvolver depressão na vida adulta.
• A predominância de casos femininos aumenta acentuadamente após a puberdade e mantém-
se assim ao longo da vida adulta (2:1) – mudanças hormonais e maior procura feminina
pelos serviços de saúde.
DEFINIÇÕES E CRITÉRIOS
• Desafio: Critérios diagnósticos atuais foram desenvolvidos para a população adulta (embora
a literatura tenha mostrado que a utilização desses critérios é bem sucedida em crianças e
adolescentes).
• A CID-10 e o DSM-V definem a depressão de forma similar (contudo, o DSM destaca
algumas peculiaridades da depressão em crianças e adolescentes).
• Na depressão IA o humor irritável é permitido como sintoma nuclear ao invés do
humor deprimido.
DEFINIÇÕES E CRITÉRIOS
• Transtorno depressivo maior – é uma desordem episódica, recorrente, caracterizada por
tristeza persistente e pervasiva, perda de prazer nas atividades do dia a dia e irritabilidade.
Sintomas como pensamento negativo, falta de energia, dificuldade de concentração,
distúrbios do apetite e do sono também estão associados.
• A depressão pode ser classificada de acordo com a gravidade dos sintomas de pervasividade,
do comprometimento funcional, da presença ou ausência de episódios maníacos e ou de
fenômeno psicóticos.
• O humor deprimido e/ou a anedonia, devem estar presentes na maioria dos dias, em uma boa
parte do dia, por um período mínimo de duas semanas. Alguns sintomas associados (mínimo
4) devem estar presentes quase todos os dias, na maior parte do dia, causando sofrimento e
prejuízo nos âmbitos social, familiar e escolar.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
• Transtorno Depressivo Maior (DSM-V): Apresentar cinco dos sintomas abaixo, sendo
que, obrigatoriamente, o sintoma 1 OU 2 deve(m) estar presente(s):
• – Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias;
– Interesse ou prazer marcadamente diminuídos em relação a todas ou quase todas as
atividades, quase todos os dias;
– Perda ou ganho de peso significativo;
– Insônia ou sono excessivo quase todos os dias;
– Agitação ou lentidão psicomotora quase todos os dias;
– Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
– Sentir-se sem valor ou com culpa excessiva, quase todos os dias;
– Habilidade reduzida de pensar ou se concentrar, quase todos os dias;
– Pensamentos recorrentes sobre morte, pensamentos suicidas sem um plano, tentativa de
suicídio ou plano para cometer suicídio.
PRINCIPAIS SINTOMAS E SUAS
FAIXAS ETÁRIAS
• Pré-escolares: sintomas somáticos e queixas comportamentais (imaturidade cognitiva para
expressar emoções pela linguagem).
Recusa alimentar, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e linguagem, problemas de
sono e somatizações, ansiedade, medos e fobias, irritabilidade, intolerância a frustração,
agitação psicomotora e isolamento. Tentativas de suicídio e sintomas psicóticos são menores.
• Escolares: A criança já consegue verbalizar seus sentimentos de forma mais clara e direta. A
escola poderá propiciar o início ou piora (exigências, convívio e interação social, rotinas
novas etc.). Frequentemente primeiros sintomas são notados pelos professores (piora no
desempenho escolar e dificuldade de interação com os pares).
Alterações no humor, dificuldade em se divertir, diminuição das brincadeiras, desenhos e
interação social, baixa autoestima e alterações do sono.
PRINCIPAIS SINTOMAS E SUAS
FAIXAS ETÁRIAS
• Adolescentes: sistemas emocionais, cognitivos e comportamentais amadurecem em
velocidades diferentes o que torna a fase mais suscetível ao desenvolvimento de transtornos
mentais; Flutuação e reatividade do humor e irritabilidade são observados em adolescentes
SEM psicopatologia – desafio diagnóstico.
• Sintomas depressivos mais comuns: humor deprimido ou irritável, com flutuações,
descontrole de impulsos, lentificação psicomotora, isolamento social, aumento do apetite e
de necessidade de sono, queda no rendimento ou abandono escolar, isolamento social, abuso
de substâncias, exposição de risco à atividade sexual, agressividade com familiares e fugas
de casa.
• Há uma compreensão clara da morte nessa fase e seus significados, o que contribui para
maiores taxas de comportamento suicida.
SUICÍDIO NA IA
• Entre os anos 2003 e 2013, o Brasil registrou um aumento de 10% nos casos de suicídio entre crianças e
adolescentes dos 9 aos 19 anos. Entre 1980 e 2012, o acumulado é ainda mais expressivo, chegando a 62,5%
de suicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos. Os dados fazem parte dos estudos “Mapa da Violência”,
publicados em 2014 e 2015, e que utilizam dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
• Os casos de depressão também têm aumentado entre crianças e adolescentes, especialmente em meninas. De
acordo com o Centers for Disease Control and Prevention, pelo menos duas crianças entre 5 e 11 anos em
cada 1 milhão morrerão por suicídio. Essa também é uma das principais causas de óbito entre jovens de 15 a
24 anos de idade, segundo a Associação Americana de Pediatria.
• Em 2013, somente nos Estados Unidos, ocorreram 1748 suicídios entre indivíduos de 15 a 19 anos. No
entanto, este número pode estar sendo subestimado. O verdadeiro número de mortes por suicídio pode ser
maior porque algumas dessas mortes podem ter sido registradas como acidentais.

• https://pebmed.com.br/duas-a-cada-um-milhao-de-criancas-irao-cometer-suicidio-no-mundo-alerta-agencia/
ETIOLOGIA
• Interações multifatoriais complexas entre vulnerabilidades biológicas (fatores genéticos e pré-natais) e
influências ambientais (fatores psicossociais – relacionamento familiar/social/escolar, estilo cognitivo).
• Influências ambientais mais importantes: eventos estressantes de vida (perdas, negligências e maus tratos) e
disfunções no relacionamento familiar. Estudos demonstram que a depressão parental é um fator chave que
prediz risco para depressão na juventude. Depressão materna se relaciona a riscos mais elevados de
desenvolvimento de psicopatologia em geral.
• Jovens com história de bullying (bullies e vítimas), jovens LGBTQI apresentam altas taxas de depressão,
com cerca de três a quatro vezes mais risco de desenvolverem sintomas depressivos.
• A regulação das emoções é um fator de risco chave para o desenvolvimento da depressão em jovens,
incluindo um estilo cognitivo negativo, com crenças automáticas negativas sobre si, sobre o mundo e sobre o
futuro.
• Jovens com maior resiliência (maior nível de inteligência, relações suportivas com pais, habilidades
emocionais mais adaptativas e estilo cognitivo focado em resolução de problemas) parecem estar mais
protegidos de desenvolverem depressão.
FATORES DE RISCO
• Dentre os fatores de risco para a depressão em pediatria pode-se citar problemas emocionais graves
durante a gestação; história família de depressão ou transtornos psiquiátricos; tentativa de suicídio
em parente próximo; depressão materna; estresse tóxico na infância, incluindo agressões físicas,
morais e verbais; excesso de cobrança, abuso sexual; entre outros.
• Também estão entre os fatores de risco o cyberbullying; a exposição excessiva às telas, como
televisão, tablets e celulares; exposição a conteúdos inadequados ou violentos (através de games,
vídeos, filmes, desenhos e mensagens de texto); quadro de ansiedade excessiva; privação crônica de
sono devido a horários inadequados de dormir e despertar e quantidade insuficiente de horas de
sono pela faixa etária; terceirização da infância com redução do tempo de presença dos pais;
oportunidades de brincadeiras restritas; pouca convivência com os pares; e o tempo ao ar livre e
brincadeiras na natureza limitadas.
• www.sbp.com.br
FUNÇÕES COGNITIVAS
• Crianças e adolescentes deprimidos apresentam: déficits na capacidade de inibição,
desempenho da fluência verbal, memória verbal, atenção e capacidade de planejamento;
memória de trabalho, capacidade de mudança, inteligência e desempenho de aprendizagem.
COMORBIDADES
• Ocorre em até 70% dos casos, com um total de 20 a 50% dos pacientes tendo dois ou mais
diagnósticos comórbidos.
• Quanto mais grave a sintomatologia depressiva, maior a probabilidade de comorbidades
psiquiátricas; a presença desses indica um prognóstico mais reservado, com piores desfechos e
respostas a tratamentos e maiores taxas de comportamento suicida.
• Diagnósticos comórbidos mais comuns: transtornos de ansiedade (ansiedade de separação em
crianças mais novas), transtorno de conduta, TOD, TDAH, Transtorno por uso de substâncias e
transtornos alimentares (dois últimos com maior incidência na adolescência).
• Com exceção do TUSP a depressão parece preceder o início de outros transtornos.
• Condições médicas associadas: epilepsia, enxaqueca, asma, síndrome do intestino irritável;
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL OU
COMORBIDADES
• Hipotireoidismo, mononucleose, anemia, quadros infecciosos, câncer, doenças autoimunes e
apneia do sono (fadiga, diminuição de energia, avolia).
• Episódio depressivo unipolar ou bipolar; risco de TB em depressão infantil é de 20% com
maior risco naqueles com história na família (de TB ou psicose) e naqueles que se
apresentam com sintomas psicóticos ou catatonia e com história de indução de hipomania
com o uso de antidepressivos.
• TB inicialmente se apresenta com sintomas depressivos (sem hipomania ou mania prévios) –
necessidade de acompanhamento longitudinal.
• Uso de substâncias psicoativas, transtornos psicóticos, transtornos comportamentais e
irritabilidade (disfunção familiar, pobreza, abandono, institucionalização – depressão clínica
ou TDAH, TC ou TOD); transtornos de ansiedade e transtornos alimentares.
AVALIAÇÃO
• Psicológica e psiquiátrica – frequentemente sendo multidisciplinar (neuropediatra,
endocrinologista, pediatra, psicopedagogo etc.).
• Avaliação com informantes é útil – familiares, cuidadores, professores (para que possam
participar do tratamento, modificar condutas e manejos);
• Entrevistas com o paciente – mais fidedignas para sintomas internalizantes.
• A avaliação poderá incluir instrumentos de triagem para a depressão infantil (autoaplicados,
direcionados a professores, cuidadores e familiares);
• Inventário BECK (BDI-II)* ; CDI -2 (escala formulada a partir de Beck; 6 a 17 anos); Escala
Batista de Depressão (EBADEP –IJ) 7 a 18 anos; etc.
• * estudos de normatização vencidos desde 2018.
AUTOMUTILAÇÃO E SUICÍDIO
• Com que idade a criança é capaz de entender o significado da morte e desejá-la?
• Um adulto pode deliberadamente relatar errado o motivo da hospitalização ou morte (negligência ou
infanticídio seriam ocultados).
• Ocorrência real de autolesão não suicida ou mesmo comportamento suicida.
• Independentemente de qualquer fator, a literatura sobre suicídio infantil reconhece que as cognições
suicidas são preditoras de uma futura tentativa de suicídio. Além disso, a magnitude da influência
exercida pela psicopatologia e pelo histórico familiar de tentativas de suicídio é diferente na
infância e na pré-adolescência. Existem também evidências de que o desenvolvimento de
pensamentos suicidas em crianças está associado a vulnerabilidades cognitivas específicas, como
estilo inferencial negativo, questões de regulação emocional e ocorrência de traumas na infância
com recursos de enfrentamento ineficazes.
AUTOMUTILAÇÃO E SUICÍDIO
• A puberdade é um período de maior vulnerabilidade para sintomas depressivos e comportamentos
autolesivos ( cortes, arranhões, queimaduras) e de suicídio.
• Nas últimas décadas as taxas de suicídio e automutilação têm aumentado vertiginosamente
especialmente entre adolescentes.
• 49 a 64% de adolescentes que cometem o suicídio apresentam TDM.
• Cerca de 10% dos adolescentes relatam comportamentos de automutilação, em alguns casos
associados a pensamentos de morte.
• A automutilação é mais comum em adolescentes do sexo feminino, a partir dos 12 anos a prevalência
é 5 a 6 meninas para um menino.
• Cutting é o método mais comum.
• Existe uma busca por alívio do sofrimento psíquico, raiva, tristeza, solidão ou amenizarem o
sentimento de vazio.
• Sintomas de depressão, abuso de substâncias e início da vida sexual são fatores desencadeantes para
comportamentos de mutilação.
SUICÍDIO
• Globalmente, o suicídio é a causa de mortes mais comum em adolescentes do sexo feminino entre
15 e 19 anos. Entre 15 e 24 anos o suicídio é a causa mais comum de mortes após acidentes de
trânsito.
• Métodos mais comuns de tentativas: ingestão medicamentosa e cortes nos pulsos.
• Suicídios consumados: armas de fogo, enforcamento, defenestração (atirar janela afora) e
intoxicações medicamentosas.
• Fatores de risco associados ao comportamento suicida e automutilação: tentativa de suicídio prévia,
história de transtorno psiquiátrico (pessoal ou familiar), uso de substâncias psicoativas, sexo
feminino (automutilação), sexo masculino (suicídio consumado), baixo nível socioeconômico e
educacional, orientação sexual (LGBTQIA), eventos de vida estressantes, perda parental, abuso
físico ou sexual, impulsividade, desesperança e baixa autoestima.
COMPORTAMENTOS
PARASSUICIDAS
• Kreitman (1977) conceituou no meio científico o termo “parassuicídio” para identificar
comportamentos de autodestruição, que buscam causar qualquer tipo de dano físico ao
corpo. Observa-se é que nesses quadros não há o desejo de morrer por parte daquele que o
pratica, no entanto, muitas vezes, isso ocorre acidentalmente.
COMPORTAMENTOS AUTOLESIVOS
• Na literatura, durante muito tempo, a autolesão foi estritamente relacionada ao suicídio e aos
comportamentos suicidas (Guerreiro & Sampaio, 2013). Atualmente, os critérios para
“autolesão não suicida” são apresentados no capítulo “Condições para estudos posteriores”
no DSM-V e o comportamento também aparece como um dos critérios para diagnóstico do
transtorno de personalidade Borderline (Zetterqvist, Lundh, Dahlström, & Svedin, 2013).
• Um dos maiores obstáculos ao estudo do comportamento autolesivo é a heterogeneidade da
terminologia na literatura (Nock, 2010), pois há vários termos utilizados como sinônimos de
conduta autolesiva: autoinjúria, autodano, automutilação, autolesão, cutting, caving,
parassuicídio, comportamento autolesivo sem intenção suicida, comportamento suicidário
(Guerreiro & Sampaio, 2013).
COMPORTAMENTOS AUTOLESIVOS
• Em relação aos comportamentos indiretamente autolesivos, não existe intencionalidade de
causar dano a si, mas sabe-se que eles são realizados porque resultam em prazer ou diversão
durante o ato (comer assiduamente em junk food, por exemplo), com o dano como um efeito
colateral indireto e na maioria das vezes involuntário e a longo prazo (Completo, 2014).
Comportamentos diretamente autolesivos são aqueles nos quais há intenção de causar dano a
si mesmo, seja ele em qualquer grau de severidade, que acontecem com objetivo de
regulação afetiva ou sinalização social e se classificam em suicidas ou não suicidas, de
acordo com a intenção de letalidade do comportamento (Nock, 2010).
COMPORTAMENTOS AUTOLESIVOS
• Comportamentos autolesivos suicidas subdividem-se em: ideação (pensar sobre
comportamentos lesivos que podem levar à morte), plano (considerar um método específico cuja
finalidade é empregá-lo para morrer) e tentativa (engajar-se em comportamentos potencialmente
danosos com a intenção de morrer; Nock, 2010).
• Já os comportamentos autolesivos não suicidas classificam-se em ameaça ou gesto suicida (o
indivíduo leva outros a acreditar que ele tem a intenção de morrer, entretanto sua intenção é
sinalização social), pensamentos autolesivos (pensamento de engajar-se em comportamentos
autolesivos, mas não fazê-lo) e conduta autolesiva propriamente dita, nos níveis leve, moderado ou
severo (Nock, 2010).

• SANTOS, Luana Cristina Silva; FARO, André. Aspectos conceituais da autoinjúria: Uma revisão
teórica. Revista Psicologia em Pesquisa, v. 12, n. 1, 2018.

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