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Projeto Terapêutico Singular - Isadora

Queixa da família: Quadro de ansiedade com episódio de automutilação (Isadora).

Histórico familiar: Mãe possui histórico de quadro depressivo e tentativa de


suicídio (episódio à 4 anos), realizou tratamento psiquiátrico durante um ano (uso de
fluoxetina durante o período), trabalhava na área de produção, mas teve de se
afastar devido à problemas de ordem física, como síndrome do túnel do carpo e
outras dores na região toráxica da coluna. Pai é ex-dependente de álcool e outras
drogas, segundo relato da mãe, iniciou o uso abusivo após perder a visão de um
dos olhos no trabalho (em abstinente à 7 anos). Isadora é acompanhada com
relação a seu sobrepeso corporal desde os 9 anos, quando também foi identificada
uma intolerância ao glúten, porém não houve continuidade no acompanhamento.
Após discussão familiar, mãe verificou sinais de que Isadora se automutilou. Não há
relatos de que a automutilação tenha ocorrido outras vezes, mas o fato evidenciou
uma crise no sistema familiar.

Aspectos a serem trabalhados (diagnóstico multiaxial):


Bio: Isadora - sobrepeso e possível doença celíaca. Mãe - síndrome do túnel do
carpo.
Psico: Isadora e a mãe - ansiedade elevada (sofrimento psíquico)
Social: contexto familiar hostil, falta de espaços sociais para além da família e
igreja.

Genograma:
Ações a serem desenvolvidas, objetivos, profissionais responsáveis e
período:

1. Ação: acolhimento de Isadora e seus familiares. Objetivo: oferecer escuta


atenta e permitir que as emoções sejam verbalizadas; coletar informações
iniciais. Profissional: Psicólogo e enfermeira da equipe. Período: ação inicial
no primeiro encontro com cada usuária.

2. Ação: atendimento psicológico individual de Isadora e familiares. Objetivo:


compreender em detalhes a percepção dos usuários sobre os fenômenos que
vivenciam e vivenciaram; orientar a família sobre formas de agir que possam
respeitar a existência do outro. Profissional: Psicólogo. Período: mínimo de 3
atendimentos, critério de alcance dos objetivos.

3. Ação: compartilhamento do caso com equipe NASF e CAPS IJ . Objetivo:


discutir a necessidade da participação do dispositivo no cuidado da família e a
partir da discussão construir coletivamente um projeto terapêutico singular
(PTS). Profissional: Equipe NASF e profissionais do CAPS IJ. Período:
durante matriciamento (evento mensal).

4. Ação: atendimento compartilhado (psicólogo e profissional de educação física).


Objetivo: orientar familiares sobre aspectos relacionados à percepção corporal,
benefícios de atividades coletivas e possíveis dentro do contexto dos usuários;
explorar vivências. Profissional: psicólogo e profissional de educação física.
Período: mínimo de 1 atendimento, critério de alcance dos objetivos.

5. Ação: atendimento compartilhado (psicólogo e fisioterapeuta). Objetivo:


orientar familiares sobre a possibilidade de ações que reduzam a dor corporal e
promovam maior bem-estar. Profissional: psicólogo e fisioterapeuta. Período:
mínimo de 1 atendimento, critério de alcance dos objetivos.

6. Ação: avaliação das ações e estado atual dos usuários. Objetivo: avaliar a
efetividade das ações e decidir pela manutenção, redução ou implementação de
novas ações Profissional: Equipe NASF. Período: reunião de equipe (evento
semanal).

Embasamento Teórico

A adolescência é uma fase crucial da vida: é a transição entre a infância e o


mundo adulto, tempo e lugar de consolidar sua personalidade, de conhecer e
experimentar fenômenos novos. Para Levy (1997), a adolescência é considerada
um período de transição e inúmeras modificações ocorrem: físicas, emocionais e de
expectativa do meio social. É um ciclo natural da vida: é o corpo e a mente em
transição para a idade adulta. Em um ambiente inseguro, ou hostil, essa fase do
desenvolvimento humano ganha potencial autodestrutivo, podendo ser período
disparador de diversos transtornos mentais (LEVY, 1997).
A automutilação se caracteriza por um ato intencional de agressão ao próprio
corpo sem intenção de causar suicídio, a fim de aliviar relevantes sofrimentos e
tensões internas através da dor física. É um comportamento que incide
principalmente na adolescência, que por se tratar de uma fase de transição onde
ocorrem mudanças físicas, psicológicas e emocionais, acaba tornando-se propícia
para esse tipo de comportamento. Os jovens que apresentam esse tipo de
comportamento geralmente possuem baixa autoestima, sentem-se sozinhos no
mundo e possuem grandes dificuldades em externar os sentimentos, que vão se
acumulando até chegar em um nível insuportável. A automutilação surge como a
solução para o alívio emocional, pois além de possuir significado social, o cérebro
libera endorfinas para aliviar a dor física (DUARTE, 2019).
É nos períodos de transição entre as diferentes fases do ciclo de vida que mais
frequentemente surgem sinais de mal-estar e que o sistema familiar, reconhecendo
a sua dificuldade de mudança, pode pedir ajuda. A fase do ciclo de vida familiar
caracterizada pela adolescência dos filhos é reconhecidamente um período de
grande vulnerabilidade para o sistema. O adolescente, quando recorre aos serviços
de saúde, pode ser o portador do sintoma da família, o elemento que leva a família
a pedir ajuda. É essencial enquadrar o sintoma no contexto familiar para ajudar a
modificá-lo. Por vezes a adolescência dos filhos coincide com uma fase mais
cinzenta da vida em que os pais questionam a sua relação enquanto casal. Poderá
então ser mais fácil procurar ajuda através do filho adolescente (que poderá até
estar tendo uma adolescência perfeitamente normal), em vez de pedi-la diretamente
para si próprios. (FONSECA, 2004)

Referências

DUARTE, L. A. Automutilação Adolescente: Um Projeto de Intervenção.


Mografia disponível no Acervo Digital UFPR, 2019.
FONSECA, H. Abordagem sistêmica em saúde dos adolescentes e suas famílias.
Adolesc. e Saúde, Lisboa, v. 1, n. 3, 2004. Disponível em:
<https://cdn.publisher.gn1.link/adolescenciaesaude.com/pdf/v1n3a02.pdf> Acesso
em: 03 de Mai, 2021.

LEVY, M. L. Adolescência - Uma Fase do Ciclo de Vida. Acta Pediatr. Port: 1997.

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