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ABORDAGENS

PSICOLÓGICAS
CONTEMPORÂNEAS
PROFA. MA. RAÍSSA ALMOEDO
C. G JUNG

• “Diferentemente de Freud, Jung não pedia que seus pacientes se


deitassem no divã; dizia que não tinha a intenção de colocá-los na
cama. Jung e o paciente sentavam-se em confortáveis poltronas,
um de frente pro outro. Às vezes, ele realizava as sessões de
terapia a bordo do seu barco a vela (…) algumas vezes, chegava
até a cantar para seus pacientes. No entanto, outras vezes, chegava
a ser deliberadamente rude. Nessas ocasiões, quando um paciente
chegava para a consulta, jung dizia “(…) Vá pra casa e cure-se
sozinho” (Brome, 1981).
• Reflexões sobre o documentário “Questão de
coração”: Como foi esse primeiro encontro
com Jung?
• Quais as suas impressões e primeiras
opiniões sobre o criador da Psicologia
Analítica?
• E sobre a Psicologia Analítica?
JUNG POR JUNG
• “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo
o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a
personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas
condições inconscientes e experimentar-se como totalidade. A fim
de descrever esse desenvolvimento, tal como se processou em
mim, não posso servir-me da linguagem científica; não posso me
experimentar como um problema científico.
• (...) A lembrança dos fatos exteriores de minha vida, em sua maior
parte, esfumou-se em meu espírito ou então desapareceu. Mas os
encontros com a outra realidade, o embate com o inconsciente, se
impregnaram de maneira indelével em minha memória. Nessa
região sempre houve abundância e riqueza; o restante ocupava o
segundo plano.” (Jung, 1961; Memórias, sonhos e Reflexões);
PISTAS BIOGRÁFICAS
• Nasceu em 26 de julho de 1875 e faleceu em 6 de junho de1961;
• Sobre sua infância: "O padrão do meu relacionamento com o mundo já estava preestabelecido. Hoje, assim como
naquela época, sou um solitário" (Jung, 1961 – Memórias, sonhos e reflexões - autobiografia).
• O Pai era um pastor protestante e de acordo com algumas fontes, era um homem “irascível e rabugento”; Acessos de
raiva também parecem fazer parte de seu funcionamento.
• A mãe (e a família materna) apresentavam traços de insanidade. Ela exibia um comportamento excêntrico – passava em
um instante de uma esposa feliz para uma mulher endemoniada e incoerente, falando coisas sem sentido.
• Jung aprendeu desde cedo a não confiar ou acreditar nos pais e, por analogia, a desconfiar do restante do mundo. Se
afastava do mundo consciente da razão e se aventurava para dentro de si, no mundo de seus sonhos, visões e fantasias,
em seu inconsciente. Esse tipo de fuga dirigiu sua infância e assim seguiu até a vida adulta.
• Um vizinho da família Jung, 50 anos depois, escreveu sobre Jung “Jamais havia conhecido um monstro tão antissocial
antes” (Bair, 2003).
• Jung costumava resolver seus problemas e tomar decisões a partir do que seu inconsciente lhe dizia através dos sonhos.

(SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)


PISTAS BIOGRÁFICAS
• Em 1899, na reta final de sua formação acadêmica, Jung ponderou a escolha pela especialização em
cirurgia devido à inclinação para a anatomia, mas, devido a restrições financeiras, contentou-se com a
possibilidade de trabalhar como clínico em um hospital. Ao se preparar para os exames finais, Jung
entrou em contato com um manual de psiquiatria de Richard Von Krafft-Ebing, disciplina que não lhe
despertava o menor interesse (Jung, 1961).
• O que impactou Jung, no entanto, foi a afirmação de que a psiquiatria lida com a personalidade. “num
relance, como que através de uma iluminação, compreendi que não poderia ter outra meta a não ser a
psiquiatria. Somente nela poderiam confluir os dois rios do meu interesse, cavando seu leito num único
percurso” (Jung, 1961).
• “lá estava o campo comum da experiência dos dados biológicos e dos dados espirituais, que até então
eu buscara inutilmente. Tratava-se, enfim, do lugar em que o encontro da natureza e do espírito se
torna realidade” (Jung, 1961).

• (HENRIQUES & MELO JUNIOR, 2019)


PISTAS BIOGRÁFICAS
• Jung concluiu a faculdade de medicina em 1900, tornando-se médico-assistente de psiquiatra do
Hospital Burghölzli, em Zurique. De início, a maior parte do trabalho de Jung consistia na dissecação e
análise de cérebros no intuito de descobrir, através da anatomia, alguma causa para os transtornos
mentais. Essa atividade teria se revelado pouco produtiva para ele.
• A grande contribuição de Jung para a psiquiatria em seus tempos de médico-assistente se deu através
dos testes de associação de palavras, como “instrumento que ajudasse no diagnóstico diferencial dos
distúrbios mentais”. A hipótese de Jung era a de que determinadas respostas eram frutos de
perturbações do campo da consciência, advindas de associações afetivas estruturadas para além do
campo da consciência. Jung denominou como complexo de tonalidade afetiva a estrutura responsável
por tais perturbações. Os testes de associação renderam amplo reconhecimento a Jung.

• HENRIQUES, Victor de Freitas; MELO JUNIOR, Walter. A recepção das premissas de Haeckel na obra de Jung. Fractal,
Rev. Psicol.,  Rio de Janeiro ,  v. 31, n. 1, p. 11-15,  Apr.  2019 .
JUNG & EMMA

• Emma Jung (1880-1955) foi esposa do psiquiatra Carl Gustav


Jung (1875-1961) durante mais de 50 anos e, também durante
muitos anos, foi um dos diretores do Carl Gustav Jung Institute
de Zurique, onde deu palestras e trabalhou como
psicoterapeuta e supervisora.
• Emma e Jung casaram-se em 1903 e tiveram 5 filhos;
• “[...] o doente tem uma história que não é contada e que, em
geral, ninguém conhece. Para mim, a verdadeira terapia só
começa depois de examinada a história pessoal. Esta representa o
segredo do paciente, segredo que o desesperou. Ao mesmo
tempo, encerra a chave do tratamento. É, pois, indispensável que
o médico saiba descobri-la. Ele deve propor perguntas que digam
respeito ao homem em sua totalidade e não se limitar apenas aos
sintomas” (Jung, 1961)
PISTAS
BIOGRÁFICAS
• Desse trabalho, que aos 30 anos já o havia
estabelecido como uma figura de destaque na
psiquiatria, Jung desenvolveu os primeiros
elementos de sua teoria do complexo, que seria
um aspecto central de seu pensamento clínico
posterior.
• O interesse de Jung em relação aos aspectos
inconscientes levou-o ao encontro do círculo
psicanalítico de Viena, com o qual romperia anos
mais tarde, devido a divergências político-
conceituais. Foi através do livro A Interpretação dos
Sonhos que o psiquiatra suíço conheceu o
pensamento de Sigmund Freud. A noção de
inconsciente possibilitou a Jung lançar um novo
olhar sobre a relação entre a base orgânica e os
conteúdos psíquicos para além da formação
estritamente médica.
PISTAS BIOGRÁFICAS
• Jung interessou-se pelo trabalho de Freud em 1900, quando leu “A interpretação dos sonhos”,
considerando-o uma obra-prima. Por volta de 1906, os dois começaram a se corresponder (1906 –
1913, 359 cartas) e, um ano depois, Jung viajou para Viena, a fim de visitar Freud. O primeiro encontro
entre os dois durou 13 horas.
• Biógrafos geralmente destacam a relação de proximidade que os dois desenvolveram e frequentemente
a classificam como uma relação “de pai e filho” (Freud era 20 anos mais velho do que Jung).
• Há relatos de que devido a uma experiência traumática de Jung aos 18 anos de idade, na qual ele havia
sido abusado sexualmente por um amigo mais velho da família (que via como figura paterna), tenha
desempenhado um fator importante no rompimento com Freud – Quando este tentou assegurar que
Jung daria continuidade ao movimento psicanalítico como ele previa (“o príncipe coroado”). A rebeldia
de Jung pode traduzir uma sensação de contestação a essa dominação de um homem mais velho.

(SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)


PISTAS BIOGRÁFICAS

• Jung foi incapaz de sustentar a estreita relação emocional desejada por Freud.
• Embora durante algum tempo Jung se identificasse como discípulo de Freud, jamais deixou de expressar sua
opinião. Demorou muitos meses para publicar a obra “Transformações e símbolos da libido” (1912) tamanha era a
preocupação com a provável reação de Freud.
• Em 1911, por insistência de Freud, Jung se tornou o primeiro presidente da IPA – International Psychoanalytic
Association. Pouco tempo depois a amizade entre os dois terminou. Em 1914 Jung renunciou e deixou a associação.
• Aos 38 anos (1913), Jung foi acometido de problemas emocionais profundos, que persistiram por três anos; Freud
passara por um período de turbulência semelhante na mesma etapa da vida. Acreditando que estava ficando louco,
Jung sentia-se incapaz de realizar qualquer tipo de trabalho intelectual ou até mesmo ler um livro científico. Pensou
em suicídio, e mantinha ao lado da cama uma arma “caso sentisse que havia chegado ao ponto sem retorno”.

(SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)


PISTAS BIOGRÁFICAS
• Durante aqueles anos, ele era atormentado por visões sangrentas do
apocalipse e por uma carnificina e desolação generalizadas. Ele registrou,
meticulosamente esses sonhos e elaborou 200 desenhos em quase duzentas
páginas (The Red Book). Este diário foi mantido em segredo, em um cofre
de banco suíço, e não foi publicado até 2009 (50 anos após sua morte).
• Jung resolveu o seu dilema confrontando a sua mente inconsciente. Embora
não analisasse constantemente os próprios sonhos, como fazia Freud, Jung
seguiu as questões inconscientes revelados neles e em suas fantasias. Esse
período foi de intensa criatividade, levando-o a formular a sua teoria da
personalidade.
• “Os anos em que estava voltado às minhas imagens interiores foram os mais
importantes da minha vida – nesses anos, foi decidido tudo o que é
essencial” (Jung, 1961)
• Jung permaneceu altamente produtivo e continuou a escrever e desenvolver
seu sistema até os quase 86 anos.
• (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)
O LIVRO VERMELHO

• "Meu discurso é imperfeito. Não porque eu queira


brilhar com palavras, mas pela impossibilidade de
encontrar essas palavras, eu falo em imagens. Com
mais nada posso expressar as palavras das
profundezas.” Jung – Red Book
• A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG
Reflexões a partir do artigo “Reflexões teóricas sobre a psicologia analítica”
(Padua e Serbena, 2019)
JUNG E A PSIQUIATRIA MODERNA

• “Outro movimento crítico a Psiquiatria Clássica inicia-se em meados do século XIX e início do século XX.
Este movimento denominado Psiquiatria Moderna ou Psicodinâmica adota uma concepção psicogênica
das doenças mentais, diferenciando-se das concepções organicistas da Psiquiatria Clássica. O paradigma
psicodinâmico compreende as psicopatologias pela afetividade na regulação, direção e perturbação da
vida psíquica. Valorizam-se mais os aspectos psíquicos, interpessoais, ambientais buscando a integração
e inter-relação entre a doença, o tratamento e a pessoa adoecida. Tem como hipótese fundamental o
conceito de “inconsciente”, que possibilita a compreensão dos adoecimentos pelos sentidos e
significados subjetivos.
• Carl Gustav Jung (1875-1961) pertence a este contexto histórico que compreende as doenças mentais
como psicogênicas;
JUNG
• Como médico psiquiatra suíço, trabalhou
no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli
(Suíça) na primeira década do século XX.
Inicialmente, suas pesquisas eram de
caráter experimental fundamentadas nas
concepções psicanalíticas. Entretanto,
devido às influências acadêmicas, culturais,
filosóficas de Jung, somando com o vasto
material de psicóticos e de sua experiência
pessoal, este psiquiatra vislumbra outras
possibilidades de compreensão da psique
e sua dinâmica, diferenciando-se da Escola
Psicanalítica de Sigmund Freud.
(Ellemberger, 1976; Martinez, 2006).
JUNG E A CRÍTICA AO MODELO BIOMÉDICO
• O posicionamento de Jung, com base nas teorias da psicologia profunda e da psiquiatria dinâmica de
sua época, contesta as abordagens organicistas inerentes da Psiquiatria Clássica. Para ele, o
materialismo científico não permite a apreciação da importância decisiva dos fatores psicológicos,
relacionais, ambientais para o adoecimento psicológico.
• “A psique não é uma coisa dada, imutável, mas um produto de sua história em marcha. Assim, não só
secreções glandulares alteradas ou relações pessoais difíceis são as causas de conflitos neuróticos;
entram em jogo também, em igual proporção, tendências e conteúdos decorrentes da história do
espírito. Conhecimentos biomédicos previamente são insuficientes para compreender a natureza da
alma. O entendimento psiquiátrico do processo patológico de modo algum possibilita o seu
enquadramento no âmbito geral da psique. Da mesma forma, a simples racionalização é um
instrumento insuficiente. A história sempre de novo nos ensina que, ao contrário da expectativa
racional, fatores assim chamados irracionais exercem o papel principal, e mesmo decisivo, em todos os
processos de transformação da alma. (Jung, 2013, p.17).”
O PARADIGMA PSICODINÂMICO
• Para Jung, a perspectiva organicista e racionalista não é suficiente para a compreensão do pathos da
alma. Não se trata de negar a existência organogênica, certamente muitos adoecimento como
intoxicação, má formação, traumas, entre outros levam a manifestações psicopatológicas. Mas, de
modo geral, o problema da alma vai além do viés fisiológico, pois é ela um território em si, com leis
próprias, diferente das leis fisiológicas. Assim, o empreendimento de Jung como pesquisador da alma
humana é identificar as leis inerentes de tais processos, a natureza particular da psique.
• A psicogênese das doenças mentais implica em reconhecer que há uma condicionalidade para a gênese
das doenças mentais, que “(...)é de natureza psíquica. Pode ser um choque psíquico, um conflito
desgastante, uma adaptação psíquica errônea ou uma ilusão fatal” (Jung, 1990, §496). Em outras
palavras, o paradigma psicodinâmico consiste em enfatizar a afetividade como causa do desequilíbrio
“na regulação, direção e perturbação da vida psíquica”. (Martinez, 2006, p.94).
• (Padua e Serbea, 2019)
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• A publicação do livro “Transformações e Símbolos da Libido”  marco inicial que se deu pelo
rompimento de Jung com Freud e a Psicanálise e sua apresentação de um novo método de investigação
dos fenômenos psíquicos: o método associativo-comparativo. Este método se fundamenta na filogênese
(coletiva, arquetípica) dos elementos psicológicos, em detrimento da perspectiva ontogenética
(individual, biográfica) de Freud. Isto significa dizer que é neste momento que Jung aponta para a
hipótese de um inconsciente mitológico: o material individual possui um correlato com o material
mitológico e coletivo (humanidade em geral). O método comparativo seria a raiz da amplificação
simbólica, que mais tarde seria desenvolvido.
OS ARQUÉTIPOS
• Os Arquétipos
• As tendências herdadas, armazenadas no inconsciente coletivo (nível
mais profundo da psiquê, que contém as experiências herdadas das
espécies humanas e pré-humanas), são denominadas arquétipos e
consistem em determinantes inatos da vida mental, que levam o
indivíduo a comportar-se de modo semelhante aos ancestrais que
enfrentaram situações semelhantes. A experiência do arquétipo
costuma se concretizar na forma de emoções associadas a
acontecimentos importantes da vida, como nascimento, adolescência,
casamento e morte, ou a reações diante de um perigo extremo. Jung
se referia aos arquétipos como “divindades” do inconsciente.
• Jung investigou as criações artísticas e místicas das civilizações antigas
e descobriu símbolos arquetípicos comuns (mesmo entre culturas
distantes no tempo e espaço). Também descobriu traços desses
símbolos nos sonhos dos pacientes.
• (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)
OS ARQUÉTIPOS

• Os Arquétipos
• Os arquétipos que ocorrem com mais frequência e que são os mais importantes na formação da nossa
personalidade são: persona (máscara que usamos e contato com outras pessoas; a persona pode não
corresponder a verdadeira personalidade do indivíduo), anima e animus (cada indivíduo exibe algumas
características do sexo oposto), a sombra (parte animalesca da personalidade, contém atividades e
desejos imorais, violentos e inaceitáveis. Mas tem um lado positivo, fonte de espontaneidade,
criatividade, insight e emoção profunda) e o self (principal arquétipo, integra e equilibra todos os
aspectos do inconsciente, proporciona unidade e estabilidade à personalidade. Impulso para a
completude, pleno desenvolvimento das habilidades individuais).

• (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)


A INTROVERSÃO E A EXTROVERSÃO

• O indivíduo extrovertido libera a libido (energia de vida) dentro dele, direcionando-a aos
acontecimentos e às pessoas do mundo exterior. Este tipo é bastante influenciado pelas forças do
ambiente, além de ser sociável e confiante nas diversas situações. Ao contrário, o introvertido direciona
a libido para o seu interior. Este tipo é pensativo, introspectivo e resistente às influências externas. O
introvertido costuma ser mais inseguro que o extrovertido ao lidar com pessoas e situações.
• Todo indivíduo é dotado de algum nível dessas atitudes opostas, mas, em geral, uma é mais forte que a
outra. Nenhum indivíduo é completamento extrovertido ou introvertido. A atitude dominante em
algum momento pode ser determinada pelas circunstâncias.
TIPOS PSICOLÓGICOS

• As diferenças de personalidade são expressas não apenas por atitudes introvertidas ou extrovertidas,
como também por meio de quatro funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Essas
funções são as maneiras pelas quais o indivíduo se orienta tanto diante do universo exterior objetivo
quanto diante do universo interior subjetivo.
• O pensamento é o processo conceitual que proporciona o significado e a compreensão.
• O sentimento é o processo subjetivo de ponderação e avaliação.
• A sensação é a percepção consciente dos objetos físicos.
• A intuição envolve a percepção de maneira inconsciente.
• A combinação das funções dominantes com a atitude dominante da extroversão e introversão produz
os oito tipos psicológicos.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Os Arquétipos
• Os arquétipos que ocorrem com mais frequência e que são os mais importantes na formação da nossa
personalidade são: persona (máscara que usamos e contato com outras pessoas; a persona pode não
corresponder a verdadeira personalidade do indivíduo), anima e animus (cada indivíduo exibe algumas
características do sexo oposto), a sombra (parte animalesca da personalidade, contém atividades e
desejos imorais, violentos e inaceitáveis. Mas tem um lado positivo, fonte de espontaneidade,
criatividade, insight e emoção profunda) e o self (principal arquétipo, integra e equilibra todos os
aspectos do inconsciente, proporciona unidade e estabilidade à personalidade. Impulso para a
completude, pleno desenvolvimento das habilidades individuais).

• (SCHULTZ & SCHULTZ, 2019)


PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• O conceito de inconsciente mitológico ou coletivo lança bases para o desenvolvimento de uma


abordagem simbólica dos fenômenos psicológicos por meio do método hermenêutico sintético-
construtivo. Esta abordagem da experiência psicopatológica e dos sintomas desenvolvida por Jung
implica em compreendê-los não apenas pela lógica racional e causalista, mas por meio de analogias de
imagens com sentidos e significados (hermenêutica). Para abordar o humano é preciso considerar seus
aspectos irracionais, imaginativos, intuitivos. Suas contribuições para o campo da psicopatologia se
distinguem das concepções médicas clássicas, pois avança em termos metodológicos, insere
conhecimentos além do campo da medicina, tais como filosofia, mitologia, história, ciências da religião,
etologia, etc. sem perder o caráter clínico e empírico das investigações e intervenções (Whitmont, 1969,
p.24).
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA
• Para Jung, a psiquiatria clássica é racionalista e mecanicista, pois avalia os conteúdos psicológicos em
nível de normalidade, de conceito/diagnóstico em detrimento de sentido e de experiência/imagem. A
abordagem sintomática da psiquiatria compreende os adoecimentos em termos de causalidade e
disfunção, como se algo errado estivesse ocorrendo naquele indivíduo. (Whitmont, 1969, p.19).
• A abordagem simbólica de Jung apresenta uma perspectiva dialética ao invés de lógica e linear. Para ele,
a psique se expressa por meio de símbolos que possuem uma finalidade de desenvolvimento
psicológico (individuação) e não apenas expressão do material inconsciente reprimido.
• O símbolo é uma totalidade que une polaridades consciente e inconsciente ou fatores heterogêneos
que podem estar em conflito na psique visando uma superação transcendente (síntese da relação
dialética dos opostos) de modo que se alcance uma nova consciência, uma nova perspectiva. O símbolo
é “(...) uma imagem de um conteúdo em sua maior parte transcendental ao consciente. É necessário
descobrir que tais conteúdos são reais, são agentes com os quais um entendimento não só é possível,
mas necessário”. (Jung, 2013, §114).
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Sintoma
• Os sintomas devem ser compreendidos simbolicamente e isto significa que apontam para além de si,
para além da compreensão acessível da consciência. Sendo a linguagem da alma subjetiva, imagética e
coletiva, demonstra que para compreendê-la é preciso apropriar-se do pensamento hermenêutico e
analógico para alcançar os sentidos e significados dos símbolos e sintomas, pois “mais precisamente, ela
possui leis e estruturas próprias que correspondem às leis estruturais da emoção e do conhecimento
intuitivo.” (Whitmont, 1969, p.19).
• A experiência psicopatológica quando compreendida simbolicamente apresenta, por traz de sua
aparente irracionalidade, desadaptação e contradição, profundos significados, possibilidades de
desenvolvimento e de renovação da postura do indivíduo perante sua realidade (Whitmont, 1969,
p.23).
NISE DA SILVEIRA
• Nise da Silveira nasceu em 1905, em Maceió (AL). Filha
única de Faustino Magalhães da Silveira, professor e
jornalista, e de Maria Lídia da Silveira, pianista, Nise cresceu
em um ambiente de muita liberdade, repleto de música, de
arte e de poesia. Depois de concluir o curso secundário, aos
15 anos, mudou-se para Salvador onde frequentou a
Faculdade de Medicina da Bahia. Na turma estava também
seu primo, Mário Magalhães da Silveira – que se
transformaria em um dos grandes médicos sanitaristas do
Brasil e seu marido. Única mulher da turma, formou-se em
1926 e no ano seguinte, após a morte do pai, foi viver no
Rio de Janeiro. Lá, especializou-se em neurologia e
psiquiatria sendo aprovada em concurso público para
trabalhar no Hospital da Praia Vermelha.
• https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/nise-da-silveira/nise/
NISE DA SILVEIRA

• Nise foi readmitida no serviço público em 1944 e


começou a trabalhar no Centro Psiquiátrico Pedro
II. Lá teve contato com os “progressos” da
medicina no campo da psiquiatria, como a
lobotomia, o eletrochoque e o choque insulínico.
Foi preciso um curto período de tempo para que
Nise discordasse de tais tratamentos e buscasse
novas formas terapêuticas, até que em 1946
fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional e
Reabilitação (Stor), cujo principal objetivo era
estimular os pacientes – que ela preferia chamar
de clientes – a se expressar por meio da arte.
NISE DA
SILVEIRA
• Nise era uma admiradora da
psicologia junguiana e foi a
responsável pela introdução da
psicologia analítica no Brasil.
• Ao identificar um padrão de imagens
circulares nos trabalhos dos clientes
do ateliê, ou que tendiam ao círculo,
associou-as às mandalas referidas por
C. G. Jung em sua obra.
CLIENTE OU PACIENTE? (NISE DA SILVEIRA)

• Nise da Silveira rejeitava a palavra paciente em relação aos internos dos hospitais psiquiátricos. Ela
determinava o uso de clientes para reforçar a relação de troca, mas preferia sempre se referir a eles
pelos nomes. Cada pessoa é um universo. São muitas as histórias de reações severas da doutora
quando ouvia alguém se referir a seus clientes como pacientes.
• Em uma entrevista, retrucou: “Paciente! Que coisa ruim. Paciente é uma coisa passiva. Que se trabalha
em cima. Não chamo ninguém de paciente. Considero o maior insulto do mundo”.

• https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/nise-da-silveira/o-que-e-a-loucura/
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Segundo Clarke (1993) e Shandasami (2011), a teoria de Jung é alvo de muitas críticas, considerada
contraditória, sem sistematização do pensamento e com lacunas teóricas. Ela segue uma linha não
racional (analógica) e não linear (circular) de pensamento, semelhante a sua proposta metodológica de
investigação dos fenômenos psíquicos: a amplificação. Trata-se de uma forma de pensamento por
semelhanças, em torno de um objeto central: o símbolo. Assim, suas investigações se apropriam de
caminhos diversos, com múltiplas referências de conhecimentos, como a história da humanidade, as
religiões, a biologia, a filosofia, entre outras, para alcançar uma compreensão profunda dos fenômenos
psicológicos.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Segundo Silveira (1997, p.16), por um lado Jung possuía uma postura científica: desenvolve seus
trabalhos como médico psiquiatra e pesquisador da alma humana com base em procedimentos
científicos experimentais e empíricos, além de um grande aprofundamento nos conhecimentos
humanos gerais. Por outro lado, grande parte de sua obra foi constituída a partir das elaborações de
suas experiências pessoais interiores, suas visões, sonhos, insights profundos, etc.
• A obra junguiana é atravessada por duas perspectivas: uma científica natural e outra poética. Para
Brooke, Jung utiliza a linguagem das ciências naturais que advém de sua prática médica e de
pesquisador. Porém, sua perspectiva científica não se consolida totalmente nos moldes da ciência
clássica cartesiana e positivista. Tende mais a perspectiva moderna de ciência, a-causal, sistêmica,
reconhecendo a influência do observador, do contexto histórico nas elaborações teóricas do
conhecimento, uma epistemologia relativista.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Segundo Silveira (1997, p.16), por um lado Jung possuía uma postura científica: desenvolve seus
trabalhos como médico psiquiatra e pesquisador da alma humana com base em procedimentos
científicos experimentais e empíricos, além de um grande aprofundamento nos conhecimentos
humanos gerais. Por outro lado, grande parte de sua obra foi constituída a partir das elaborações de
suas experiências pessoais interiores, suas visões, sonhos, insights profundos, etc.
• A obra junguiana é atravessada por duas perspectivas: uma científica natural e outra poética. Para
Brooke, Jung utiliza a linguagem das ciências naturais que advém de sua prática médica e de
pesquisador. Porém, sua perspectiva científica não se consolida totalmente nos moldes da ciência
clássica cartesiana e positivista. Tende mais a perspectiva moderna de ciência, a-causal, sistêmica,
reconhecendo a influência do observador, do contexto histórico nas elaborações teóricas do
conhecimento, uma epistemologia relativista.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Já a perspectiva poética origina-se das suas experiências pessoais, corroborando com Silveira (1997), e a
preocupação de encontrar os significados intrínsecos dos fenômenos e da existência humana. Sua
sensibilidade e pensamento poético o aproximam das teorias fenomenológicas existenciais,
desconstruindo a perspectiva objetivista cartesiana.
• A perspectiva poética é alegar a sensibilidade poética como ontologicamente válida para se alcançar o
conhecimento sobre a alma humana, a psique. A imaginação e a fala por metáforas adquirem status
ontológico, na medida em que, por elas, se faz um aprofundamento nas perspectivas da psique e
possibilita a descrição com mais precisão sobre a realidade psicológica. Como exemplo, o uso das
imagens alquímicas, os mitos e os contos de fadas para ilustrar e aproximar a compreensão significativa
dos processos psicológicos profundos.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Ao mesmo tempo em que se aproxima da perspectiva fenomenológica, é indisciplinado e incoerente,


pois não apresenta um campo epistemológico bem elaborado. A crítica que recebe da perspectiva
fenomenológica é que Jung não se desvincula totalmente do pensamento cartesiano quando parece se
preocupar mais em classificar estruturas, categorias, dar uma anatomia e fisionomia à experiência,
como por exemplo seus conceitos de arquétipos (anima, sombra, self, etc.) e as dinâmicas psicológicas
destes. Por outro lado, sua teoria se aproxima da fenomenologia quando faz uso do pensamento
hermenêutico, metafórico e imaginativo.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• O que se faz relevante aqui é destacar o caráter contraditório e não sistematizado da elaboração teórica
de Jung. Esta ambivalência teórica implica numa concepção de psicopatologia que, segundo Samuels
(2002, p.9), pode ser compreendida metaforicamente como um espectro que oscila: de um lado
denominado “profissional”, do outro denominado “poético”.
• A dimensão profissional se remete ao jargão médico psiquiátrico com diagnósticos, termos
classificatórios que pode ser encontrado tanto na psicopatologia geral como na Psicologia Analítica.
Termos como “depressão”, “complexo paterno”, “tendências regressivas”, “constelação do arquétipo”,
entre outros, são jargões científicos que definem e delimitam uma experiência psicológica. Por outro
lado, a dimensão poética remete a leitura mitopoética, fenomenológica, como uma análise artística dos
fenômenos encontrados, inclusive uma releitura do próprio jargão médico.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Não se deve abandonar nem um, nem outro, posto ser ambos fundamentais no processo
psicoterapêutico. O termo profissional orienta o procedimento terapêutico, mas tende a ser insuficiente
para a compreensão do processo subjetivo do paciente, sendo assim fundamental a compreensão
poética. (Samuels, 2002, p.10)
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Jung era declaradamente contra sistematizações de pensamento e escolas ditas “junguianas”, institutos
que se propunham a uma “linha de produção de analistas para uso imediato” (Jung, apud Shandasani,
2011, p. 359). Desejava que suas contribuições teóricas possibilitassem uma visão mais psicologizada do
mundo, mas que cada um desenvolvesse sua própria forma de ver e abordar a realidade. O intuito de
Jung era conceber sua psicologia como uma “função cultural”, contrabalanceando a fragmentação das
ciências e possibilitar uma compreensão sintética de todo o conhecimento (Shandasani, 2011, p. 35).
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA

• Para Samuels (1989, p.32), a Psicologia Analítica pode ser resumidamente definida em três aspectos no
campo teórico e três aspectos na prática clínica. No que tange ao aspecto teórico, temos o conceito de
arquétipo, de Si-Mesmo/Self e de desenvolvimento da personalidade. No que tange ao aspecto da
prática clínica, temos a análise da transferência e contratransferência, a ênfase na experiência simbólica
do self e o exame de imagens muito diferenciadas.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA
• Samuels propõe, em sua famosa obra de revisão da literatura contemporânea da Psicologia Analítica “Jung
e os Pós Junguianos” (1985/1989, p.32), uma clara distinção na produção de conhecimento
contemporâneo da Psicologia Analítica. Isto possibilitou a delimitação teórica de três escolas junguianas,
embora não instituídas: a Escola Clássica, a Escola Desenvolvimentista e a Escola Arquetípica. Cada uma,
devido a suas peculiaridades conceituais, implicam em variações teóricas e práticas.
• Esta sistematização foi superada por Samuels em 2008, quando publica um artigo “Novos
desenvolvimentos no campo pós-junguiano”, onde reformula sua classificação das escolas em Psicologia
Analítica, atualmente são: Escola Fundamentalista, Escola Clássica, Escola Desenvolvimentista e Escola
Psicanalítica. Esta nova sistematização propõem provocações críticas ao enrijecimento teórico na
concepção tradicional de Jung (referindo-se a Escola Fundamentalista) e das contribuições da psicanálise
(Escola Psicanalítica). Também articula uma integração da Escola Arquetípica como desdobramento
teórico da Escola Clássica.
PSICOLOGIA ANALÍTICA: UMA ABORDAGEM
SIMBÓLICA DA PSICOPATOLOGIA
• A pluralidade de teorias da psicologia profunda e da Psicologia Analítica reflete a inerente característica
plural da psique: é como um mosaico, composta de diversas vozes internas, imagens, complexos,
subpersonalidades, objetos internos, etc.
• O paradigma do pluralismo esclarece as questões de unidade e multiplicidade da psicologia profunda,
da dinâmica psicológica, da fragmentação das teorias e dos aspectos psíquicos como inerentes da
própria psique. Desta forma, não há razão para cisão, a multiplicidade é característica ontológica da
psique. Samuels (1992, p.6) alerta que os debates e conflitos revelam necessidades profundas de
contato e diálogo.
• A perspectiva simbólica possibilita o aprofundamento na compreensão de sentidos e significados dos
fenômenos psicopatológicos diferenciando-se da prática convencional da psiquiatria.

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