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Prof.

Bruno Curcino Hanke


A perda da realidade na
neurose e na psicose
 Contexto teórico:
 Não esquecer que esse texto decorre de “Neurose e Psicose”
(1924).
 Não esquecer que Freud ainda está preocupado com a
viabilidade teórica de sua nova tópica psíquica: id, ego e
superego.
 Em ambas as nosografias, o sujeito perde o contato com a
realidade. Na neurose, a fantasia é o mecanismo mais
característico; na psicose, é o delírio.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 Neurose: o ego, dependente da realidade, reprime uma parte do
id (vida pulsional). Há um predomínio da influência da realidade.
 Psicose: o ego, a serviço do id, afasta-se de uma parte da
realidade. Predomínio do id.
 A perda da realidade está necessariamente presente na
psicose. Na neurose, essa perda é evitada.
 “toda neurose perturba de algum modo a relação do paciente
com a realidade servindo-lhe de um meio de se afastar da
realidade” → apenas no segundo momento da formação da
neurose.
 Na neurose, a realidade perdida é a que foi recalcada.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 2 momentos: o sujeito se afasta de uma experiência traumática
e a relega à amnésia.
 Caso Elisabeth von R. → moça apaixonada pelo cunhado fica
abalada com a ideia de que o rapaz estava livre para ela, já que
sua irmã acabava de falecer.
 Freud alerta que a neurose desvaloriza a alteração real, pois o
amor pelo cunhado (exigência da pulsão) é recalcado. Na
psicose, a recusa seria o fato de a irmã ter morrido.
 Há 2 momentos na psicose e na neurose: na psicose, o ego é
retirado da realidade para depois ela ser substituída a partir da
sua relação com o id; na neurose, o segundo momento também
acontece por influência do id.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 A distinção entre neurose e psicose se dá na reação inicial:
 Neurose → obediência inicial e tentativa de fuga logo em seguida.
Não há recusa da realidade, o ego só não quer lidar com ela.
 Psicose → fuga inicial seguida de reestruturação da realidade. Há
recusa da realidade e posterior substituição.
 Para Freud, o normal seria a reunião entre uma leve recusa da
realidade, mas com o esforço de modificá-la, como entende
que acontece na psicose.
 A diferença entre a condição normal e a psicose é que o esforço
exigido à modificação do mundo externo se refere a uma
alteração externa, não interna.
 Autoplástica: referente ao mundo interior do sujeito; aloplástica:
referente ao mundo externo.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 Analogias entre neurose e psicose:
 Psicose: realidade reelaborada a partir de dados antigos de memória que
nunca se completaram, o que indica enriquecimento e alteração realizados
por novas percepções. A alucinação, alimentada por relevante angústia,
contribui para que novas percepções sejam agregadas ao material psíquico
previamente estabelecido.
 Neurose: o avanço de uma pulsão recalcada provoca angústia.
 Psicose: parte da realidade rechaçada se impõe à vida psíquica, assim
como o material recalcado na neurose.
 Na neurose e na psicose, o segundo passo fracassa parcialmente: a
pulsão recalcada não consegue encontrar um substituto satisfatório, a
representação da realidade não pode ser remodelada satisfatoriamente.
 Psicose: recusa da realidade é patológica; neurose: o fracasso do recalque
é o que adoece.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 A neurose evita a parte desagradável da realidade e evita
encontrá-la.
 É característica da neurose também substituir a realidade
indesejada de diversas maneiras, mas sua especificidade se
refere ao mundo da fantasia.
 “[...] um domínio que ficou separado do mundo externo real na
época da introdução do princípio de realidade. Esse domínio,
desde então, foi mantido livre das pretensões das exigências da
vida, como uma espécie de ‘reserva’; ele não é inacessível ao
ego, mas só frouxamente ligado a ele. É deste mundo de fantasia
que a neurose haure o material para suas novas construções de
desejo e geralmente encontra esse material pelo caminho da
regressão a um passado real satisfatório”.
A perda da realidade na
neurose e na psicose
 Segundo Freud, a fantasia teria o mesmo efeito para a psicose,
pois o protótipo de uma nova realidade vem dela.
 Na neurose, o fantástico se apoia em uma parte da realidade, e,
na psicose, o fantástico se coloca no lugar da realidade externa.
 O fantástico, na neurose, ganha importância especial e um
sentido oculto, a que Freud chama de simbólico.
 Final: há de se considerar entre as duas nosografias não apenas
a perda da realidade, mas a substituição dela.

 ATENÇÃO! Seguir para o próximo slide.


A perda da realidade na
neurose e na psicose
 “Dificilmente se pode duvidar que o mundo da fantasia
desempenhe o mesmo papel na psicose, e de que aí também ele
seja o depósito do qual derivam os materiais ou o padrão para
construir a nova realidade. Ao passo que o novo e imaginário
mundo externo de uma psicose tenta colocar-se no lugar da
realidade [o da neurose, por sua vez, gosta de se apoiar, como a
brincadeira da criança, em uma parte da realidade] - um
fragmento diferente daquele contra o qual tem de defender-se -,
e emprestar a esse fragmento uma importância especial e um
significado secreto que nós (nem sempre de modo inteiramente
apropriado) chamamos de simbólico. Vemos, assim, que tanto na
neurose quanto na psicose interessa a questão não apenas
relativa a uma perda da realidade, mas também a um substituto
para a realidade”.

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