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A tradição freudiana de Donald Winnicott

A situação edípica. E sobre o pai?

José Outeiral1, Porto Alegre


Eloisa Helena Rubello Valler Celeri2, Campinas

In this paper the authors aim to close together Winnicott


´s and Freud´s psychoanalytic contribution, taking the
Oedipus complex and the father role as an interseccion
point beetwen them. Using as reference both the
theoretical papers and the clinical material presented in
“Holding and intepretation” and “The Piggle” we tried
to demonstrated the importance that Winnicott had
given to the Oedipus complex and the clinical and
theoretical thought of S. Freud.

Os autores tem por objetivo realizar uma aproximação


entre o pensamento de Winnicott e o de Freud, tomando
como ponto de intersecção a questão do complexo de
Édipo e o papel do pai. Não buscamos legitimar o
pensamento de Winnicott através de Freud.,
pretendemos, sim, através do resgate de seu pensmento
teórico e do material clínico descrito em “Holding e
interpretação” e “The Piggle”, demonstrar a significativa
1
Médico. Ex-professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Membro titular e analista didata da Sociedade Psicanalítica de Pelotas
2
Médica. Profa. Assist. Dr. Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria FCM-Unicamp; Candidata do
Intituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de psicanálise de São Paulo
importância que este autor dava ao complexo de Édipo e
ao pensamento teórico e clínico de S. Freud.

“Sinto-me um estranho na cadeira de presidente, porque


não conheço meu Freud da forma como um presidente
deveria conhecer, porém acho que tenho Freud em meu
sangue”
Winnicott, 1956, Carta a Clifford Scott, ao se tornar
Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise

1- Abertura

“ Como sabemos, Winnicott foi contemporâneo de Freud,


que faleceu quando ele estava se iniciando como um ativo
membro da Sociedade Britânica de Psicanálise. Nada
conheço acerca da convivência entre os dois, a não ser o
trecho de uma carta de Anna Freud a Winnicott, citada por
Rodman, em que ela escreve que depois que a família Freud
mudou-se para Londres ele era o único membro da
Sociedade Britânica de Psicanálise que era chamado à casa
de Freud para dizer se eles estavam de todo certos, em
algumas questões.”(Mello Filho,1989, Nota 1)
O leitor certamente estará se perguntando o por que deste
trabalho: tendo sido Donald Winnicott psicanalista por mais
de quatro décadas e até o final de sua vida membro da
Associação Internacional de Psicanálise, criada por Sigmund
Freud, qual a necessidade e atualidade desta questão?
Pedimos paciência ao leitor e o convidamos a seguir adiante
conosco, no alinhavo de certas idéias e no re-visitar de
conhecidos conceitos e, quem sabe, lá pelas tantas nossa
intenção adquirirá clareza, valendo sempre lembrar com
Goethe que “... a nitidez é uma conveniente distribuição de
luz e sombra...”.
Vivemos atualmente uma espécie de boom de interesse no
pensamento de Winnicott. Moisés Lemlij, por exemplo,
apresentou no Congresso Internacional de Psicanálise da
Associação Psicanalítica Internacional, em São Francisco, no
ano de 1995, um trabalho no qual comparou a influência na
América latina de três analistas da Sociedade Britânica de
Psicanálise: Anna Freud, Melanie Klein e Donald Winnicott.
Donald Winnicott foi o autor mais citado nos 1.241 trabalhos
publicados em revistas e livros da especialidade, estudados
pelo autor peruano (Outeiral & Abadi,1999). Esta
investigação nos mostra a influência que assume no
pensamento psicanalítico contemporâneo a obra de
Winnicott. Léon Chetock, por sua vez, escreveu no livro O
divã de Procusto, que “ ... recordo um artigo que li, de
Joyce Mc Dougall, que é, como todo o mundo atualmente,
um pouco winnicottiana e pratica o holding”. Caso esta
idéia seja realmente verdadeira, talvez o momento presente
seja interessante para “focarmos” as nossas lentes e
resgatarmos um pouco da tradição freudiana de Winnicott.
Em inúmeras ocasiões, ao longo de seus mais de duzentos
artigos teóricos e, particularmente, em seus relatos clínicos,
Winnicott nos dá claras demonstrações de sua “filiação”
freudiana. Vamos tomar duas situações exemplares.

(a) No capítulo intitulado A localização da experiência


cultural (1967) do livro O brincar e a realidade (1971),
publicado postumamente, Winnicott desenvolve mais
profundamente o tema que abordou numa conferência,
proferida durante o banquete comemorativo do término da
publicação da Standart Edition das obras de Sigmund Freud,
e onde podemos ler:

“ Quando vim a tornar-me freudiano...”.

Na introdução de seu livro O ambiente e os processos de


maturação (1988) ele escreve:

“O objetivo principal desta coletânea de estudos é retomar a


aplicação das teorias de Freud à infância. Freud
demonstrou que a neurose tem o seu ponto de origem no
relacionamento interpessoal do amadurecimento inicial,
pertencente à época da lactação”.

Não devemos experimentar nenhuma surpresa diante destas


afirmações de Winnicott, pois este autor escreveu também
que “ ninguém pode ser original senão baseado na
tradição”. A palavra “original”, paradoxalmente, pode ser
entendida nos dois sentidos que comporta, “único, novo” e,
ao mesmo tempo, tendo seu étimo relacionado a “gene”,
origem, genealogia, tribo, grupo humano. E a genealogia de
um psicanalista o leva, reconheça ele ou não, ao criador da
psicanálise, Sigmund Freud .

(b) Winnicott foi fundamentalmente um clínico. O


desenvolvimento teórico de seu pensamento é conseqüência
de sua larga experiência clínica, durante mais de quarenta
anos e com cerca de 60.000 pacientes atendidos, conforme
contabilizou Masud Khan, no prefácio que fez para o livro
Da pediatria à psicanálise . Winnicott, partindo da teoria
freudiana e de sua própria experiência, passa a estudar o
desenvolvimento e o processo maturacional humano,
construindo um corpo teórico e clínico que, ao contrário de
contradizer a teoria de Freud, a esclarece e a confirma
(Macedo,1999). Como sabemos, podemos avançar em
psicanálise até onde nossos conflitos permitam ...
A compreensão do pensamento de Winnicott passa, pois,
necessariamente, pela leitura não só de seus textos teóricos,
mas, especialmente, pela leitura de seus trabalhos clínicos.

O texto clínico mais importante de Winnicott é o relato de


um atendimento, com uma detalhada descrição comentada
das sessões de um paciente adulto, que resultou no livro
Holding e interpretação. Surpreendentemente, este é um de
seus textos menos conhecido e menos citado. Inicialmente
publicado como um capítulo, com o título de Fragmento de
uma análise, do livro Tactics and techniques in
psychoanalytic therapy (1972), editado por Peter
Giovacchini, o relato clínico inicia, significativamente, com
a seguinte frase, que resolvemos citar no idioma original,
para não deixar dúvidas:
“ This fragment of an analysis is given in illustration of the
oedipus complex as it can appear in the course of an
analysis”.

A tradução publicada em nosso idioma com o título de


Holding e interpretação (1991), teve modificações
introduzidas e o “oedipus complex” da citação anterior foi
substituído por “posição depressiva”, por Masud Khan.

Uma leitura deste relato permite-nos compreender que o


autor, talvez o mais freudiano dos analistas nascidos na
Inglaterra, dava uma significativa importância ao complexo
de Édipo e ao pensamento teórico e clínico de Sigmund
Freud, desenvolvendo, entretanto, uma teoria sobre os
aspectos pré-edípicos e o papel do ambiente no
desenvolvimento emocional do bebê e da criança, que tanto
nos auxiliam na compreensão dos estados de mente mais
primitivos e na importância da organização de um setting
capaz de possibilitar o contato analítico com estes pacientes,
até que eles possam, como ele escreveu, realizar uma análise
standart. A leitura do trabalho, Aspectos clínicos e
metapsicológicos da regressão dentro do setting
psicanalítico ( 1954 ) é elucidativo e nele Winnicott
escreveu como conclusão:

“ Ao se recuperar da regressão, o paciente, com o self agora


mais completamente rendido ao ego, necessita da análise
comum da forma como é planejada para o manejo da
posição depressiva e do complexo de Édipo nas relações
interpessoais. Por esta razão, se não por outra, o estudante
deveria adquirir proficiência na análise de não-psicóticos
cuidadosamente escolhidos, antes de proceder ao estudo da
regressão. Um trabalho preliminar pode ser feito através de
um estudo do setting da psicanálise clássica”.

O parágrafo citado nos mostra a posição clara de Winnicott,


na letra do próprio autor, neste seminal e esclarecedor texto.
Sugerimos ao leitor que pare e retome a leitura do que
Winnicott escreveu, antes de seguir adiante, se tal ainda for
necessário.

A leitura de um outro material clínico de Winnicott,


publicado com o título de The Piggle. An Account of the
Psychoanalytic treatment of a little girl ( 1977 ), nos
permite acompanhar o tratamento psicanalítico de uma
criança pequena através de dezesseis sessões, descritas e
comentadas, onde o autor revela seu modo de trabalhar. E de
forma inequívoca podemos ver, mais uma vez, clara e
explicitamente, a influência de Freud, inclusive com
elementos metapsicológicos, através, por exemplo, das
diversas referências à segunda tópica freudiana. A ligação
com Melanie Klein também é clara e basta acompanhar a
descrição das sessões e os comentários feitos por Winnicott
para percebermos os pontos de contato.

A idéia de desvincular o pensamento de Winnicott da


tradição freudiana, mais do que uma valorização do
pensamento winnicottiano, poderá sugerir, na verdade, entre
diversos outros aspectos, uma resistência à psicanálise,
evento bastante conhecido dos psicanalistas desde o final do
século XIX. Acreditamos que correlações devam ser feitas e
interfaces encontradas, encontros e desencontros sejam
apontados,mas que cuidados sejam tomados e o sentido da
obra seja preservado. É oportuno reler a conhecida carta que
DWW escreveu para Melanie Klein, em 17 de novembro de
1952 ( Rodman, 1987 ) , lembrando de que esta tomasse
precauções, pois os “kleinianos” poderiam desvirtuar a
autenticidade de suas idéias. O “uso” da obra de Winnicott
deve ser feita no sentido que ele dá a palavra “uso” e não
como uma obra subjetivamente concebida. Quando alguém
toma um “rabisco” de Winnicott, à moda de um squiggle
game, e faz o seu próprio “rabisco”, devemos compreender e
reconhecer que temos uma “nova obra”, mas uma “nova
obra” criada em uma tradição.
Winnicott fez este “este jogo” com a obra de Sigmund Freud
e de vários outros autores psicanalíticos, incluindo entre eles
Melanie Klein. Ele seguiu vários elementos básicos da obra
destes autores, desenvolveu outros e contestou alguns, como
a idéia de “instinto de morte”, levado a radicalidade na
leitura kleiniana da época. Mas os analistas sabem da
importância da filiação pela natureza própria de sua prática
psicanalítica.

Nesta aproximação, entre o pensamento de Winnicott e o de


Sigmund Freud, tomaremos um ponto de intersecção entre
estes dois autores, considerando o momento de nossos
estudos sobre o tema e a necessidade de priorizar alguns
aspectos, embora vários outros pudessem ser considerados.
Não pretendemos, é óbvio, esgotar as possibilidades de
discussão, mas, sim, abrir espaço para uma interlocução mais
ampla. Nossa escolha é pela questão do “complexo edípico”
e a questão do “pai”, objeto deste artigo. Em outros textos
abordaremos a questão da transicionalidade e da teoria
instintiva.
Não estamos procurando legitimar os desenvolvimentos de
Winnicott buscando enlaces no pensamento de Sigmund
Freud. Ana Delia de Said, analista didata da Asociación
Psicoanaltica Argentina, um dos colegas com quem temos
trocado idéias sobre estes temas, escreve, a propósito, que “
esta legitimização somente pode vir da coerência interna do
pensamento do próprio Winnicott e da validação que
encontra na prática clínica. Além disso, lido desde
Winnicott, Freud pode ser uma vez mais reinterpretado.
Qual, senão este, é o destino dos grandes mestres?”

2- Winnicott e Freud

“ Após ler a obra-prima de Freud ( 1900 ), A interpretação,


dos sonhos , ele decidiu dedicar a vida ao estudo da mente
humana e, particularmente, a divulgar as idéias e os
conceitos psicanalíticos entre o público britânico mais
amplo”. (Kahr, B.,1997)

“ A faculdade de medicina não apenas lhe forneceu a base


para suas atividades profissionais futuras como também
durante esse período, ele teve a oportunidade de travar
contato pela primeira vez com o trabalho de Sigmund Freud
e a psicanálise – descoberta que transformaria sua vida”.
(Kahr, B.,1997)
Nos relatos biográficos ( Geets, 1981; Phillips,A., 1988;
Winnicott,C.,1989; Kahr,B., 1997); na autobiografia
inconclusa, intitulada Not less than everything; em sua
correspondência ( Rodman, 1987 ); assim como ao longo de
sua obra teórica e clínica, Winnicott explicita seus vínculos
com o pensamento freudiano. Não há muito que especular
quanto a isto, pois está registrado na escrita do autor. Mas, se
viver não é preciso, navegar é preciso e gostaríamos de
estabelecer uma cartografia que poderá ser útil nesta nossa
discussão.

2.1-O encontro

Após a Primeira Guerra Mundial, quando serviu como


cirurgião a bordo de um destróier da marinha de guerra
britânica, participando de combates, Winnicott retomou suas
atividades civis. Em 1918, logo após a dispensa militar,
ingressou no St. Barholomew´s Hospital, em Londres, para
continuar seus estudos de medicina. Em 1920 concluiu sua
especialização em pediatria. Donald Winnicott costumava
lembrar de seus sonhos mas, após a guerra, não conseguia
mais fazê-lo (Kahr,1997). Teria, então, ido até uma
conhecida livraria e biblioteca médica londrina e solicitado
um livro sobre sonhos. Foi-lhe recomendado o livro do
filósofo francês Henri Bergson que teria se mostrado de
pouca utilidade (Outeiral,1995 ). Ao devolver o livro o
bibliotecário teria lhe sugerido ler o livro de Oskar Pfister,
pastor e psicanalista suíço, sobre psicanálise, lançado em
inglês, em 1915, com o título The Psychonalytic Method.
É, entretando, em 1919 que DWW teve o primeiro contato
com Sigmund Freud, ao ler uma tradução inglesa do Die
Traumdeutung, o livro dos sonhos, a obra-prima do criador
da psicanálise. Adam Phillips (Phillips, 1988 ) também faz
um relato do encontro do jovem pediatra inglês com o
pensamento freudiano registrando: “ é evidente que o livro
( A Interpretação dos Sonhos ) o impressionou enormemente
e ele escreveu uma carta de um entusiasmo quase visionário
para sua irmã Violet, na qual lhe explicava a psicanálise” .

Contando a Violet suas descobertas psicanalíticas, em 15 de


novembro de 1919, Winnicott registra:

(...)Chegamos então à psicanálise. Essa palavra comprida


denota um método desenvolvido por Freud, através do qual
podem ser curados distúrbios mentais sem o auxílio da
hipnose, e com resultado duradouro, em oposição à cura
temporária às vezes produzida pela hipnose. A psicanálise é
superior à hipnose e deve suplantá-la, mas está sendo
adotada vagarosamente pelos médicos ingleses porque exige
trabalho duro e estudo prolongado ( também grande
solidariedade ), nenhum dos quais é necessário à hipnose.
(...) Posso lhe oferecer algumas explicações sobre esse
método que Freud elaborou de modo tão inteligente para a
cura das doenças mentais? Vou expor tudo isso de modo
extremamente simples (...) agora estou praticando para
algum dia ser capaz de ajudar a apresentar o tema aos
ingleses, de modo que a pessoa entender. (...)

2.2- Winnicott leitor de Freud


A partir deste primeiro encontro Winnicott tornou-se um
“leitor atento” e um “admirador”, na acepção do que o étimo
desta palavra nos fornece, de Sigmund Freud, e decidiu fazer
sua formação na Sociedade Britânica de Psicanálise, da qual
foi duas vezes presidente.
Foi analisado por James Strachey por quase 10 anos
(provavelmente 6 vezes por semana) e depois por Joan
Rivière, ambos com experiência de análise com Freud e
grandes conhecedores de sua obra (Kahr,1997)
James Strachey, deixou marcas profundas em Winnicott, o
que pode ser constatado no afetuoso obituário que ele
escreveu em 1969 e publicado no International Journal of
Psycho-Analysis (Winnicott,1994) e numa carta, escrita em
maio de 1951, pedindo a seu ex-analista que leia seu ensaio
Objetos e fenômenos transicionais, que pretendia
apresentar no final daquele mês numa reunião científica da
Sociedade Britânica:

“Estou lhe escrevendo para saber se você concordaria em


ler o esboço que já fiz deste trabalho e se permitiria que eu
fosse discuti-lo com você. Gostaria muito de destacar a
teoria psicanalítica comum, na sessão teórica do ensaio, o
suficiente para tornar aceitável aquilo que julgo ser minha
contribuição pessoal.
Você ficará aliviado ao saber que andei fazendo uma
quantidade até que razoável de leituras
psicanalíticas...”(Rodman,1987)

O “jovem” Winnicott, que escrevia entusiasmado com a


“descoberta” da obra de Freud, seguiu um trajeto de
coerência profissional e, após 48 anos como psicanalista, já
idoso e doente, quatro anos antes de sua morte, proferiu uma
palestra em janeiro de 1967, para o Clube 1952, que levou o
título D.W.W sobre D.W.W., quando ele disse que “ ...
assim que descobri Freud e o método que ele nos deu para
investigação e tratamento, estive de acordo com ele... se
houver algo que eu faça de não freudiano, gostaria de sabê-
lo”.

O Clube 1952 reunia, informalmente, um grupo de analistas


britânicos mais antigos e experientes e foi exatamente frente
aos colegas de muitos anos e quase ao final de sua vida que
Winnicott, da maneira autêntica que lhe era peculiar, fez
este definitivo depoimento.

3. O complexo edípico

3.1- E sobre o pai, elemento fundamental para a


triangulação edípica ?

Dois são os enfoques que ele dá à figura paterna


(Valler,1990). Nos seus primeiros artigos, Winnicott
considera o pai como uma extensão da figura materna
durante a fase de dependência absoluta. Inicialmente, o pai
assume algumas das funções da mãe e posteriormente passa
a ser objeto de projeção de certas qualidades maternas, que
ele denomina de aspectos ´austeros´ e que estão associadas a
regras e regulamentos, pontualidade, rigor, severidade e
indestrutibilidade, elementos que estão referidos já no texto
E o pai? , capítulo do livro A criança e seu mundo,
publicado em 1944. No artigo O uso de um objeto no
contexto de ´Moisés e a religião monoteísta´, em 1969,
Winnicott não volta a se referir aos ´aspectos austeros´ e
passa a sustentar que durante o período de dependência
relativa (estádio da preocupação) o pai desenvolve um papel
muito importante na vida da criança, independentemente de
ter ou não desempenhado funções maternas no período
anterior. Sem se estender demasiado, Winnicott considera
que no período de dependência relativa o pai entra na vida da
criança como uma unidade, como um objeto total,
contribuindo para os processos de integração que estão
ocorrendo no ego do bebê. Com o pai fazendo parte de sua
vida, a criança pode desenvolver uma nova atitude para com
a mãe, influenciada pela descoberta do pai. Um longo
caminho foi percorrido no seu desenvolvimento emocional.
Mas o desenvolvimento não para por aí. Como escreve no
capítulo XI de O brincar e a realidade, um texto em que
trata, entre outros temas, da adolescência e das funções
parentais:

“Semeamos um bebê e colhemos uma explosão”

Consideramos (Outeiral, 2003) este um artigo


importantíssimo para prosseguirmos este nosso navegar
pelas idéias de Winnicott. Nele, nosso autor afirma que o
adolescente é “imaturo”, sendo esta imaturidade um aspecto
importantíssimo da saúde do adolescente. Sua “cura”
sustenta-se por um lado, na “passagem do tempo”, pois só o
tempo e a experiência é que vão permitir ao adolescente
assumir a responsabilidade por tudo o que está ocorrendo em
seu mundo interno, e por outro, na necessidade de
confrontação, isto é: “um adulto se ergue e reinvidica o
direito de expressar um ponto de vista pessoal, um ponto de
vista que pode ter o apoio de outras pessoas
adultas”(Winnicott, 1968)

Neste artigo Winnicott fala aos adultos:

“Espreitam a puberdade os mesmos problemas presentes


nos estádios primitivos , quando estas mesmas crianças
eram bebês vacilantes e relativamente inofensivos. É
importante observar que, embora tenhamos cumprido nossa
tarefa durante os estádios primitivos e observado resultados
positivos, não podemos contar com o melhor funcionamento
da máquina. Na verdade podemos esperar por certas
dificuldades que são inerentes a esses estágios posteriores.
É- nos de grande valia compararmos as idéias adolescentes
com as da infância. Se, na fantasia do crescimento primitivo
estiver contida a palavra morte, então, na adolescência, ver-
se-à contido o assassinato. Mesmo quando o crescimento,
no período de puberdade, progride sem maiores crises, é
possível nos defrontarmos com agudos problemas de
manejo, porque crescer significa ocupar o lugar do genitor.
E realmente o é. Na fantasia inconsciente, crescer é,
inerentemente, um ato agressivo. E a criança agora já não é
pequena.”

A leitura de Natureza humana ( 1988 ) nos auxilia a


prosseguir em nossa caminhada. Neste livro, entre variados
temas, Winnicott trata dos “relacionamento interpessoais eo
complexo de Édipo”. Ele escreveu:
“Qualquer estágio no desenvolvimento é alcançado e
perdido, alcançado e perdido de novo, e mais uma vez: a
superação dos estágios de desenvolvimento só se transforma
em fato muito gradualmente, e mesmo assim sob
determinadas condições”.

Winnicott prossegue afirmando que ao chegar no estágio em


que se torna uma “pessoa total” e consegue perceber a
existência de três pessoas ( ela e outras duas ), o bebê
saudável, isto é, maduro de acordo com a idade, tem uma
estrutura familiar a sua espera, onde pode vivenciar toda a
intensidade dos relacionamentos a três e a poder, com o
tempo tornar-se capaz de experienciar outros ainda mais
complexos.

Partindo de um “ambiente suficientemente bom”, ele


escreveu que “ a chave para a saúde na primeira infância
(...) é o INSTINTO”, que ele define como “poderosas forças
biológicas que vêm e voltam na vida do bebê ou da criança e
que exigem ação”. Esta força, que se acompanha de
“elaboração imaginativa”, pode contribuir para os processos
de integração do bebê, permitindo que ele se sinta um “ser
total”. Com Freud, Winnicott refere-se de forma bastante
esclarecedora, neste mesmo livro, Natureza Humana, às
fases de progressão da libido ao longo da infância, que
culmina com a dominância do que ele chama de “excitação e
fantasia erótica genital”, característica da criança que está
aprendendo a andar . Winnicott considerou a existência, no
início do desenvolvimento, de uma fase caracterizada por
todos os tipos de excitação, inclusive genital, mas sem a
fantasia genital correspondente. Segue-se a esta fase um
estágio intermediário ( fase fálica ), no qual o genital
masculino, no bebê do sexo masculino, passa a ocupar uma
posição central, sendo que na menina ocorre um estágio
caracterizado pelo que ele descreveu como “um fenômeno
negativo”.

Winnicott divida a fase fálica em duas> Na primeira “ a


ereção é o elemento mais importante. A idéia é que aí está
uma coisa importantíssima, cuja perda seria terrível. A
ereção e a sensibilização surgem em relação direta com uma
pessoa ativamente amada, ou através de idéias de
rivalidade, tendo como pano de fundo a pessoa amada” . Na
segunda fase há “ um objetivo mais declarado de penetrar e
engravidar, e aqui uma pessoa real é o mais provável
objeto de amor”. Nesta fase o menino exibe uma
performance fálica e se sente completo, só vindo a se dar
conta de que “depende da fêmea para se completar” na fase
seguinte. O próximo estágio é o genital, “no qual a fantasia
se encontra enriquecida por incluir tudo aquilo que no
adolescente reaparece em termos de atos masculinos e
femininos ( tais como penetrar, ser penetrado, fecundar, ser
fecundado )”. Nesta fase a criança se dá conta que sua
performance é deficiente, mas seu ego já é capaz de lidar
com “esta tremenda quantidade de frustração” e “medo à
castração pelo genitor rival torna-se uma alternativa bem-
vinda para a angústia de impotência”. Nas meninas, por
outro lado, o apelo ao pré-genital é extremamente forte, pois
a genitalidade completa, a gravidez e a capacidade de
amamentar são experiências localizadas num futuro distante
( exceto nos sonhos e no brincar ). Além do mais, o menino
dentro da menina estará sempre presente, assim como a
inveja do pênis. Winnicott escreveu, tratando de esclarecer
estes pontos fundamentais:

“Eu tenho um pênis. É claro que vai me crescer um pênis.


Eu tive um pênis, um pênis por procuração, algum macho
pode agir por mim. Vou deixar o macho me usar. Desta
forma terei um defeito corrigido, mas terei de reconhecer
que dependo do macho para estar completa. Desta forma
descubro minha genitalidade feminina verdadeira”.

É importante ressaltar que, para Winnicott, qualquer


descrição da sexualidade feminina como “a percepção da
mulher como um macho castrado” é insuficiente, pois ele
reconhece o papel fundamental da teoria kleiniana,
especialmente suas considerações sobre “a fantasia que a
menina desenvolve a respeito do interior do seu próprio
corpo e do corpo da mãe”.

A saúde, avança Winnicott no Natureza Hunana, “se


estabelece na organização do primeiro relacionamento
triangular, onde a criança é impulsionada pelos instintos de
natureza genital recém-surgidos, característicos do período
entre os 2 e 5 anos. É desta forma que, pessoalmente,
interpreto o complexo de Édipo freudiano...”. Seguindo no
tema, Winnicott descreveu o complexo de Édipo como
ligado à saúde, pois, reassegura freudianamente Winnicott ,
os sintomas neuróticos são “organizações de defesa contra a
ansiedade de castração, ansiedade que surge dos desejos de
morte inerentes ao complexo de Édipo”.
Mostrando toda a sua “tradição” freudiana, Winnicott
arremata:

“No complexo de Édipo, ao menos do meu ponto de vista,


cada um dos componentes do triângulo é uma pessoa total,
não apenas para o observador, mas especialmente para a
própria criança. Desta forma o termo “complexo de Édipo”
possui um valor econômico na descrição da primeira
relação interpessoal em que os instintos estão em vigor.
Tanto a fantasia quanto o funcionamento corporal estão
incluídos. Na fantasia, o alvo é a união sexual entre o filho e
a mãe, o que implica em morte, a morte do pai. O castigo
acontece através da castração simbólica da criança,
representada pela cegueira do antigo mito. A ansiedade de
castração permite à criança continuar viva, ou deixar que o
pai viva. A castração simbólica traz alívio, e a cegueira
mencionada no mito sugere a idéia daquilo que atualmente
denominamos ´o inconsciente reprimido´. Através da
castração e do sofrimento, o filho pode alcançar alívio
psicológico enquanto que, houvesse ele sido morto, não
ocorreria o sofrimento, mas ele não estaria em condições de
chegar à uma solução, de modo que a tragédia teria se
revelado fútil ou improdutiva, um mero dramalhão”.]

Citamos apenas alguns comentários de Winnicott e se o


leitor tiver curiosidade, a leitura de Natureza humana lhe
permitirá ir mais além.

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Em outro texto fundamental no qual completa suas idéias
sobre o “uso” do objeto, intitulado O uso de um objeto no
contexto de ´Moisés e a religião monoteista´, escrito em
1969, Winnicott é bastante claro quanto ao papel da
triangulação edípica e à função do pai. Sobre este texto os
editores do livro de Winnicott, Explorações psicanalíticas,
Clare Winnicott, Ray Shepherd e Madeleine Davis
consideram que:

“A última parte deste capítulo contém um trabalho não


concluído e não corrigido por ele ( Winnicott ), “ O uso de
um objeto no contexto de ´Moisés e a religião monoteísta´”,
escrito em janeiro de 1969... Neste trabalho, Winnicott
vincula seus conceitos com a obra de Freud, o que lhe
permite trazer o pai para o primeiro plano na vida do bebê
de uma maneira que é raramente encontrada alhures em sua
obra teórica”.

Leiamos o que o próprio WiW escreve a respeito neste


trabalho, já ao final de sua vida.

“... na última parte se percebe que Freud deseja reafirmar


sua crença na repressão... quer declarar a importância do
monoteísmo como conseqüência universal do amor ao pai e
à repressão a que este sentimento é submetido... Não é que
Freud se equivocasse quanto ao pai e a ligação libidinal que
se reprime: somente que é necessário advertir que uma boa
proporção de pessoas no mundo não chegam ao complexo
de Édipo. Nunca avançam até este ponto do desenvolvimento
emocional e, por fim, a repressão da figura paterna
libidinizada tem escassa relevância para eles... Grande
parte das religiões está ligada a uma quase psicose e aos
problemas emocionais emanados dessa grande zona da vida
do bebê que tem importância antes que se atinja a relação
triangular, como a que se dá entre pessoas totais...”.

Neste trecho Winnicott comenta a importância que confere à


situação edípica, à libidinização da figura paterna, ao
mecanismo de repressão e, particularmente ao pensamento
freudiano.
No mesmo trabalho o autor prossegue, explicitando suas
idéias, ao escrever:

“... à medida que o bebê passa do fortalecimento do ego,


graças ao reforço do ego da mãe, a uma identidade própria
– ou seja, a medida que a tendência herdada da interação o
leva adiante graças a um ambiente suficientemente bom ou a
um ambiente medianamente previsível -, a terceira pessoa
começa a desempenhar, ou assim me parece, um grande
papel. O pai pode ter sido ou não um substituto materno,
porém o certo é que se sente em algum momento que ele está
ali em papel distinto: e sugiro que é então que o bebê
provavelmente o use como padrão de sua própria
integração, ao converter-se por momentos em uma unidade.
Se o pai não está presente, o bebê tenderá a ter esta mesma
evolução, porém lhe resultará mais difícil ou terá que usar
alguma outra relação bastante estável com uma pessoa
total... Deste modo parece que talvez o pai seja para a
criança quem lhe dá o primeiro elemento de integração e da
totalidade pessoal”.
São, pois, inúmeras as referências que Winnicott faz ao pai e
ao seu papel no desenvolvimento da criança, como um
elemento imaginário e real do que ele chama “ambiente
facilitador”, inclusive como uma imago que faz parte da
realidade interna da mãe e que, por outro lado, faz o
“holding” da “unidade mãe-bebê”, como se o pai fosse,
paradoxalmente, uma “mãe/pai suficientemente boa”.
Podemos também encontrar, no abundante material clínico
que nos oferece Winnicott, como ele interpretava a
transferência paterna, os aspectos edípicos e os elementos da
imago paterna. Em Notas sobre um caso vinculado à
inveja ( Winnicott, 1963 ), ele nos dá um claro exemplo do
que estamos nos referindo.

“... existem muitas coisas a ter em conta sobre a imago do


pai na realidade interna da mãe e no destino que lhe cabe
ali...”.

O papel continente do pai no estabelecimento de limites e no


controle da agressividade é dado em um Exemplo clínico
do O uso de um objeto (1968), onde Winnicott descreve a
análise de um homem, comentando o seguinte:

“... seu sofrimento se devia a uma reação ante um ambiente


cuja dificuldade se devia a um pai débil e uma mãe forte.
Seu pai não lhe possibilitava o controle da agressão e a mãe
é quem devia fazê-lo, de modo que ele se viu obrigado a usar
a violência da mãe, mas com o corolário de ver-se
impossibilitado de usar a mãe como refúgio... “.
Sobre esta mesma questão ele fala na palestra “O que
irrita?”, transmitida pela BBC em 1960:

“Mas eu espero que, em última instância seja o pai que


intervenha e defenda a esposa. Ele também tem os seus
direitos. Não só quer ver sua esposa recuperar uma
existência independente mas também quer estar apto a ter
sua esposa para si, mesmo que em certos momentos isso
signifique a exclusão da criança. De sorte que, com o tempo,
o pai acaba por fazer finca-pé, o que me traz de volta à
minha palestra de várias semanas atrás a respeito de “
Dizer não”. (...) quando o pai bate o pé com firmeza é
quando ele se torna significativo para a criança pequena,
desde que ele tenha conquistado antes o direito de assumir
uma atitude firme ao ter uma presença assídua e afetuosa
em casa. “

3.2-O paciente médico e o livro pouco lido

Em seu livro Holding e interpretação, já referido,


Winnicott nos possibilita, ao descrever minuciosamente as
sessões de um tratamento psicanalítico, acompanhar sua
maneira de compreender estes aspectos de sua prática
clínica. Ele escreve sobre seu paciente:

“O material era rico e já havia um considerável trabalho


feito, mas era impossível alcançar, por exemplo, a dinâmica
da situação edipiana. O período de transição foi
prenunciado quando o paciente reconheceu a realidade do
ciúme no mundo externo. Esse reconhecimento manifestou-
se na forma de uma declaração fortuita, quando ele disse
que havia lido algo sobre uma coisa chamada complexo de
Édipo e que não concordava com ela (...)”.

É uma ingenuidade clínica supor que ou interpretamos os


elementos pré-edípicos ou interpretamos os elementos
edípicos. Os elementos de uma determinada fase libidinal,
poderão se mostrar dominantes no material de um paciente,
mas geralmente, encontram-se num ir e vir, de acordo com a
tendência flutuante, de movimentos regressivos e
progressivos, característicos do processo psíquico.

Voltemos ao material clínico de Winnicott:

“... me arrisquei a repetir a interpretação em função de seu


pai. Disse-lhe que se agora ele comprovasse que seu pai
havia sido forte e útil, isto lhe confortaria tanto quanto a
descoberta de que era esse o pai que ele queria castrar, por
ser o pai do triângulo edípico...”

Na sessão do dia 24 de março encontramos o seguinte


registro:

Analista: “ Não, não creio. O fato é que você está


procurando pelo seu pai, o homem que proíbe a relação
sexual com sua mãe. Lembre-se do sonho no qual a sua
namorada surgiu pela primeira vez. Era sobre um homem,
um homem que estava doente”.

Paciente: “Isto explicaria a falta de sofrimento e pesar


quando meu pai morreu. Ele não me vira como um rival e
por isso deixou-me com a terrível incumbência de fazer eu
mesmo as proibições”.

Analista:”Sim, por um lado, ele nunca lhe deu a honra de


reconhecer a sua maturidade proibindo as relações sexuais
com sua mãe, mas ele também o privou da alegria e do
prazer da rivalidade, assim como da amizade que surge da
rivalidade entre homens. Então, você não podia sentir dor
por um pai que você nunca ´matou´”.

Trechos como este, explicitamente referidos ao complexo de


Édipo, estão presentes em inúmeros momentos deste
tratamento, bastando ler o material clínico para encontrá-los.

Sessão de 17 de maio:
Analista:” Existem duas formas de encarar a situação. Uma
delas é a racional, sobre a qual você falou. Mas devemos
considerar também uma manifestação iminente de muitas
angústias decorrentes do reconhecimento de que pode haver
rivalidade entre homens e de que no confronto entre dois
homens, um deles pode ser mutilado, ao invés de morto (...)

Sessão de 24 de maio. Após algumas associações do


paciente Winnicott interpreta:

Analista: ”Você vai perceber que sou sempre seu pai ou sua
mãe, de forma que nunca há mais de duas pessoas aqui.
Portanto, o que o perturba é, ora sua mãe, que pode se
preocupar e fazê-lo se sentir abandonado, ora seu pai, que
está morto. A idéia do pai que se interpõe entre você e sua
mãe não ocorre, a menos que pensemos no pai vivo, dentro
de você, interrompendo a sua tagarelice”.

Após algumas associações, o paciente, diferentemente do


habitual, passa a brincar com um elástico, esticando-o e
fazendo barulhos. Winnicott intervem:

Analista: ”Parece que existe um pai vivo. Que o domina e o


impede de ser uma criança com movimentos espontâneos.”
Paciente: ”A idéia de carregar meu pai dentro de mim
parece-me correta. Ele está sempre pronto a atacar se eu
fizer um movimento em falso ou cometer alguma
indiscrição.”
Analista: ”Isso quer dizer que você não consegue manifestar
o seu self real.”
Paciente: “É estranho. É como se eu tivesse um pai ao invés
de um superego. Ou, talvez, um superego seja isso mesmo.”
Analista: “Bem, pode ser um superego patológico.”(...)

Pelo pouco que reproduzimos destas sessões, torna-se


evidente que este é um livro que mereceria ser mais
conhecido e discutido, pela sua riqueza e clareza no tocante à
clinica e à teoria. Queremos que o leitor se motive, caso
ainda não tenha lido o material e os comentários, a ler este
livro: se já o tiver lido, a lê-lo novamente .

3.3- A pequena sedutora e, por vezes, sádica Gabrielle


No caso da pequena Gabrielle, The piggle, e é importante
ressaltar que se tratava de uma menina de apenas dois anos e
quatro meses, e que já na primeira sessão, em 3 de fevereiro
de 1964, Winnicott introduz determinadas questões.

“Eu tinha associado a idéia da mamãe preta à sua


rivalidade com a mãe, uma vez que ambas amavam o mesmo
homem, o papai. Sua ligação profunda com o pai era bem
evidente, por isso eu me sentia bastante seguro ao fazer essa
interpretação...”.

Na décima-quinta sessão, em 3 de outubro de 1966, desta


“análise sob demanda”, quando Gabrielle estava com quase
cinco anos, lemos o relato de Winnicott, que “resume o
trabalho dessa análise”:

“Parece que era isso que ela desejava, pois, em seguida,


contou-me um sonho; tinha-se a impressão de que ela veio,
talvez, para contar-me aquele sonho.
Gabrielle: “Eu tive um sonho com o senhor. Eu bati na
porta da sua casa. Eu vi o Dr. Winnicott na piscina de sua
casa. Então eu mergulhei. Papai me viu na piscina
abraçando e beijando o Dr. Winnicott, então ele também
mergulhou. Então, mamãe mergulhou, depois Susan ( e aqui
enumerou todos os outros membros da família, inclusive os
quatro avós ). Tinha peixes e tudo. Era uma água seca
molhada. Nós todos saímos e caminhamos no jardim. Papai
desembarcou na praia. Foi um sonho bom”.

Senti que ela trouxera, então, tudo na transferência e tinha,


daquela forma, reorganizado toda a sua vida em termos da
experiência de um relacionamento positivo com a figura
subjetiva do analista em seu interior.

Em seguida, pegou a figurinha do pai ( de aproximadamente


oito centímetros de comprimento, de aspecto muito real,
feita sobre a base de um limpador de cachimbo ) e começou
a maltratá-la”.
...
Gabrielle: “Estou torcendo as pernas dele (etc.).
Winnicott: “Ai!Ai! (como uma interpretação ao papel
atribuído a mim ).
Gabrielle: “Eu estou torcendo ele mais- sim- o braço dele
agora.
Winnicott: “Ai!”.
Gabrielle: “Agora o pescoço dele!”.
Winnicott: “Ai!”.
Gabrielle: “Agora não sobrou nada. Ele tá todo torcidinho.
Eu vou torcer o senhor mais um pouco. O senhor chora
mais.

Ela estava muito satisfeita

Gabrielle: “Agora não sobrou nada. Tá todo torcidinho e a


perna dele soltou, e agora a cabeça dele soltou, então o
senhor não pode chorar.Eu vou jogar o senhor fora.
Ninguém gosta do senhor”.
Winnicott: “Então nunca vou poder ser de Susan”.
Gabrielle: “Todo o mundo odeia o senhor”.

Temos nesse material uma elucidativa mostra de como


Winnicott ratava a questão do “pai”, da “situação edípica”,
da “transferência paterna” e, inclusive ( o que é tema para
um outro momento) da “agressividade”.

3.4- Alguns autores que escreveram sobre o tema

Anna Maria de Lemos Bittencourt comenta, em seu artigo O


complexo triângulo simples em Winnicott: o brincar e a
realidade (1993), que “ Winnicott não difere de Freud
quanto à forma como compreende o complexo de Édipo” e
que “ em sua forma simples de abordar os complexos
fenômenos humanos, Winnicott diz, referindo-se à situação
triangular edípica: a criança odeia a terceira pessoa”.

A autora conclui seu texto escrevendo:

“ Fiz um pequeno resumo da situação edípica clássica, tal


como é exposta por Winnicott, para quem o complexo de
Édipo define um critério de saúde mental. Como Freud, ele
considera o Édipo como o complexo nuclear das neuroses,
onde o mecanismo de defesa, por excelência, é a repressão,
processo típico da organização genital da libido”.

Um dos livros mais importantes sobre a obra de Winnicott,


Le paradoxe de Winnicott, de A Clancier e J.
Kalmanovitch,, tem num capítulo intitulado Sobre algumas
críticas feitas a Winnicott. A questão do pai, onde é feito
um comentário sobre o papel designado ao pai na obra de
nosso autor. É interessante ler:

“No que concerne à primeira dessas críticas, é ter lido


superficialmente Winnicott dizer que ele esquece o pai ou a
relação edípica. Ao ocupar-se de pacientes psicóticos ou de
crianças muito pequenas, sua atenção se dirigiu aos estágios
pré-genitais, o que não impediu de que ele sublinhe o papel
do pai no começo da vida e afirme que, se a mãe não tem um
marido que lhe dê sustentação, ou se ela não investe o pai
na criança, o desenvolvimento psíquico da criança se
ressentirá”.

Um outro livro capital sobre a obra de Winnicott é


Boundary and space. Na introduction to the work of D.
W. Winnicott, de Madeleine Davis e David Wallbridge,
onde o pensamento de nosso autor é apresentado de uma
forma didática. Encontramos alguns comentários que
julgamos interessante re-visitar Os autores explicitam que “
quando Winnicott falava do papel do pai tinha como
pressuposto que o pai é necessário por seus próprios
direitos e não como uma réplica da mãe” e, ainda, que “ ...
há certos pasi que efetivamente seriam melhores mães que
suas esposas... homens maternais podem ser muitos úteis...
eles são bons substitutos das mães, o que é um alívio para a
mãe, quando esta tem muitos filhos, quando está doente ou
deseja voltar a trabalhar”. Winnicott, entretanto, ressaltava
que quando estes pais “ tornavam-se mães excessivamente”
isto interferia em suas funções como pais e, a propósito desta
questão, ele escreveu sobre o pai de um de seus pacientes:
“... pode-se dizer que ele é tão maternal que nos indagamos
como ele será capaz de lidar com as situações quando
passar a ser usado como um homem e um pai de verdade”.

Nos últimos meses da gravidez, quando a mãe começa a


ficar mais envolvida com o bebê. Winnicott considera que o
pai torna-se “ o agente protetor que libera a mãe para que
esta se dedique ao bebê...”.Assim, ela é “... poupada da
necessidade de voltar-se para fora para lidar com o mundo
que a cerca no momento em que tanto deseja voltar-se para
dentro”. Para Winnicott as doenças ligadas ao puerpério
poderiam “ até certo ponto, ser provocadas por uma falha
da cobertura protetora neste período”.

Madeleine Davis e David Wallbridge, escrevem, ainda mais,


no livro já citado:

“ Quando o bebê emerge da fase de dependência absoluta e


começa a relacionar-se com pessoas separadas completas, o
pai torna-se importante para ele enquanto pessoa; parte
desta importância reside no fato de que, embora o pai seja
uma figura familiar para o bebê, ele é essencialmente
diferente da mãe, a partir de quem o bebê cresceu. É
verdade que a relação com a mãe assume uma nova
dimensão quando acaba a fusão; mas, para o bebê e para a
criança pequena, a mãe ainda retém uma característica
subjetiva, pois é parte de sua função estar disponível para
uma volta ao estado de fusão sempre que o bebê precisar.
Com o pai, a criança pode aprender sobre o fato de um ser
humano ser diferente de si mesmo e diferente de outros seres
humanos, em outras palavras, singular. Aqui se vê um
padrão que ele pode usar para sua própria integração
ulterior. Winnicott acreditava que as crianças têm sorte
quando podem vir a conhecer seus pais, ´até mesmo quando
os pegam em flagrante`, pois, a partir do pai como indivíduo
separado, conhecido pelo que ele é, a criança pode aprender
algo sobre relações que incluem amor e respeito sem
idealização”.

Os autores seguem comentando que, para Winnicott, o pai


em nossa cultura e história, tem representado ´o ambiente
indestrutível´ e concluem da seguinte maneira:

“... e se o papel do pai é, em parte, continuar o processo de


desilusão iniciado pelo fracasso adaptativo da mãe, tal
processo é desenvolvido dentro do contexto de uma relação
rica – e crescentemente rica. O pai “abre um mundo novo
para a criança”, à medida que esta começa a entender e a
aprender os detalhes de seu trabalho, seus interesses e suas
opiniões. Quando ele participa do jogo da criança,
acrescenta elementos novos e valiosos, e quando ele os
retira, a criança vê o mundo através de um novo par de
olhos. Se à mãe pertence “a estabilidade da casa”, ao pai
pertence, então, “a vivacidade das ruas”.”

Dois são os dicionários dedicados ao pensamento de


Winnicott, o primeiro é Non-Compliance in Winnicott´s
Words, de Alexandre Newman, publicado em 1995, que faz
extensas considerações ao abordar o verbete “father”, com as
inúmeras referências ao tema em diversos livros de
Winnicott, inclusive com os números das páginas das
citações. Ao se ler este dicionário não se poderá dizer depois
que Winnicott não considerou a questão edípica e o papel do
“pai” em sua obra.

O segundo foi escrito por Jan Abram, em 1996: um livro


precioso chamado The language of Winnicott. A
dictionary of Winnicott´s use of words, onde encontramos
um verbete esclarecedor: Father, the indestructible
environment.

4- Winnicott e seu pai

A importância da figura do “pai” pode ser dada também


pelas várias referências feitas por Winnicott em seu relato
“autobiográfico”. Ele comenta momentos importantes de sua
vida ocorridos com a figura paterna e descreve com minúcias
a figura do pai. A mãe, entretanto, é citada apenas en passant
em algumas situações menos relevantes e quase não há
descrições dela, exceção a um poema que Winnicott
escreveu e lhe dedicou.

No relato “autobiográfico” Winnicott registrou:

“... peguei meu taco de críquete ( com um tamanho de 30


centímetros, pois eu não tinha mais de três anos ) e destruí o
nariz da boneca de minhas irmãs. Aquela boneca havia se
convertido para mim em uma fonte de irritação, pois meu
pai não deixava de brincar comigo. Ela se chamava Rosie e
ele, parodiando uma canção popular, me dizia ( com uma
voz que me exasperava ):
Rosie disse a Donald
Eu te amo
Donald disse a Rosie
Eu não creio
Assim, pois, eu sabia que tinha de destroçar aquela boneca e
grande parte de em minha vida se baseou no fato de que eu
havia realmente cometido este ato sem me conformar em
deseja-lo e arquitetá-lo apenas. Provavelmente me senti
aliviado quando meu pai, acendendo vários fósforos
seguidos, esquentou o nariz da cera para modelá-lo e o
rosto voltou a ser um rosto. Aquela primeira demonstração
do ato de restituição e reparação me impressionou e talvez
me tenha feito capaz de aceitar o fato de que eu, pequeno e
querido ser inocente, me havia tornado violento, de maneira
direta com a boneca e indireta com aquele pai que, naquele
justo momento, acabava de entrar em minha vida
consciente”.

Ao falar da descoberta da capacidade de restituição e da


reparação através do gesto do pai e da entrada deste na vida
consciente, o texto sugere que a relação com o “pai” havia
passado da “relação de objeto” ao “uso do objeto”, elemento
central em seu pensamento teórico e clínico. Ele segue
escrevendo no mesmo relato autobiográfico:

“ Como minhas irmãs eram mais velhas que eu cinco ou seis


anos, em certo sentido eu era como um filho único com
várias mães e um pai, que durante minha infância se achava
muito absorvido pelos assuntos da cidade e seus próprios.
Foi duas vezes prefeito e depois recebeu um título de
nobreza... Eu era consciente de certas lacunas de sua
educação ( ele havia tido dificuldades escolares ) e sempre
dizia que por esta razão não se apresentou para concorrer
ao parlamento... Meu pai tinha uma fé ( religiosa) simples;
um dia, como eu lhe fizera uma pergunta que poderia ter-
nos arrastado a uma discussão interminável, ele se
contentou em dizer-me:`Lê a Bíblia e ali encontrarás a
resposta exata´. Assim foi que deixou-me resolver o
problema sozinho ( graças a Deus! ). Porém um outro dia
( eu tinha doze anos ) entrei para almoçar dizendo
“maldição!” e meu pai pareceu lastimar-se como só ele
podia fazê-lo e reclamou com minha mãe para que ela
vigiasse mais de perto minhas amizades. O incidente fez com
que ele me enviasse ao colégio quando completei treze anos.
Dizer “maldição!” não é uma blasfêmia muito terrível,
porém meu pai tinha razão. Meu novo amigo não era muito
recomendável e as coisas poderiam ter tomado outro
caminho se nos houvesse deixado em completa liberdade”.

Fica claro assim como o pai desenvolveu um importante


papel na vida de Winnicott. Ele próprio ( Winnicott, 1989 )
nos conta que “... de maneira que meu pai estava ali para
matar e ser morto”.

5- Conclusão

A teoria de objetos de DWW ( objeto transicional, objeto


subjetivamente concebido e objeto objetivamente percebido )
está ligada às funções parentais, e pressupõe, como
pensamos a partir de nossas leituras e de nossa atividade
clínica, tanto a existência de uma “mãe suficientemente boa”
( ou “ambiente facilitador” ou “mãe devotada comum” )
capaz de exercer suas funções graças ao estado de
“preocupação materna primária”, como a um pai, tanto no
imaginário como no real, que esteja presente e possibilite à
mãe exercer suas tarefas.
O corolário desta postulação, que trouxemos para discussão
é o seguinte: a existência de uma “mãe suficientemente boa”
está ligada a presença de um “pai suficientemente bom”.

Acreditar que DWW não deu relevância à situação edípica e


ao papel do pai é subestimar a formação teórica e,
especialmente, a vasta experiência clínica deste autor,
médico, pediatra, psiquiatra e psicanalista, e sua
compreensão do desenvolvimento humano. A constituição
do espaço potencial, espaço dos objetos e fenômenos
transicionais, e a passagem da “relação de objeto” ao “uso do
objeto”, por exemplo, está na dependência , como sabemos,
da adequada existência das funções parentais.
A questão edípica é considerada por DWW desde a
concepção freudiana. O desenvolvimento e o processo
maturacional de uma pessoa pressupõe uma série de “fases”,
dentre elas a edípica. Embora em certos momentos do
desenvolvimento emocional haja “domínio” de determinados
aspectos, as diferentes configurações – elementos orais,
anais, fálicos e edípicos, assim como os da latência – estarão
presentes em todos momentos. É necessário, pelo vértice da
técnica, compreender o tratamento psicanalítico como um
“processo”. Um “processo” onde se faz uma análise de
configurações pré-edípicas e, em determinadas situações,
concomitantemente, também nos defrontamos com
configurações edípicas, como, nos parece, acontecer no
relato clínico do paciente de Holding e interpretação e no
atendimento da adorável Gabrielle, do caso Piggle.
É evidente, também, que determinados indivíduos estão
circunscritos demasiadamente a aspectos pré-edípicos e
outros as aspectos edípicos. Correríamos o risco de uma
simplificação demasiada dizer que “agora” faremos uma
análise “pré-edípica” e “depois” uma análise “edípica”. A
clínica contemporânea nos demonstra, em sua diversidade, o
que estamos querendo configurar. Vários autores, e não
apenas DWW, referem-se a estes aspectos.
DWW deixou bem claro que utilizava suas modificações de
setting no intuito de auxiliar determinados pacientes e
possibilitar que, eventualmente, pudessem experienciar uma
análise standart. Esta questão está claramente exposta na
classificação diagnóstica que ele estabelece no seu trabalho
Queremos concluir com um epílogo que parodia uma citação
de Jacques Lacan, que Raquel Zak de Goldztein utilizou,
como epígrafe, em uma conferência realizada no Columbia
University Center for Psychoanalytic Training and Research,
em março de 1994 ( Goldztein, 1994 ):

Jacques Lacan escreveu:

“Está acima de você se você quer ser lacaniano ou não.


Quanto a mim eu sou freudiano”

Pensamos, que DWW diria o mesmo.

“Está acima de você se você quer ser winnicottiano ou não.


Quanto a mim eu sou freudiano”.

Aliás, ele disse exatamente isso e é necessário relembrar, e


esta afirmação perpassa e alinhava toda sua obra clínica e
teórica, desde a carta que escreveu à irmã Violet em 1919,
até seu trabalhos finais, como a conferência no Club 52 , em
janeiro de 1967, ou em A localização da experiência
cultural, também em 1967.
Este foi o “rabisco” que conseguimos fazer neste momento.

Notas
Nota1. Júlio de Mello Filho, em seu livro O ser e o viver,
escreve um abrangente capítulo dedicado às correlações
clínico-teóricas entre DWW e Sigmund Freud, que nos
conduz através do tema.

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