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Psicoterapia Breve de Grupo em crianças:


Procedimentos técnicos de seleção –
Indicações e contra-indicações

José O. Outeiral Maria O. T. Silva


Sílvia M. Lima Milton Comassetto
Mara Leite Myriam S. L. Thormann
Aldicir Antonelli Rubens Rotta Pereira

Introdução

Esta comunicação preliminar é resultado de experiência clínica de Psicoterapia Breve de


Grupo com crianças, no Centro Psiquiátrico Melanie Klein e no Hospital de Clínicas de Porto
Alegre.
Com a abertura do serviço assistencial à comunidade, através da consultoria e orientação
junto às escolas, grande tem sido a demanda à assistência psiquiátrica infantil.
Devido a crescente procura criou-se uma defasagem entre o número de crianças e o
número de técnicos habilitados a atendê-las.
Surgiu então a necessidade de criação de técnicos grupai breves para este atendimento.
Nosso objetivo é relatar os procedimentos técnicos que temos utilizado para a seleção, as
indicações e contra-indicações em Psicoterapia Breve de Grupo com crianças.
Não é nossa intenção descrever a técnica utilizada nesta modalidade de atendimento o que
será objeto de uma comunicação posterior.

Procedimentos técnicos da seleção indicações e contra-indicações

Os procedimentos técnicos da seleção se constituem de: Entrevistas com os pais e com as


crianças, Testes Psicológicos e Grupo Diagnósticos.
Excluímos nas entrevistas de avaliação os hipercinéticos graves, as reações agudas de
ansiedade, os quadros psicóticos, os deficientes mentais definidos e aqueles pertencentes a
família, que, por motivos emocionais e/ou materiais não possam assumir um compromisso
terapêutico.
Apresentamos a seguir material clínico ilustrativo destas situações.

REAÇÕES AGUDAS DE ANSIEDADE


Mário foi trazido à consulta por apresentar agressividade em seu meio familiar, terror
noturno e de sonhos com temática de morte. Após a entrevista inicial constatou-se que se
tratava de uma reação depressiva com muita ansiedade, ligada a morte do pai. Apesar deste
caso constituir uma crise acidental bem definida o que – via de regra – é uma indicação de
Psicoterapia Breve, acreditamos que no entanto não estava indicada a Psicoterapia Breve de
Grupo, porque o núcleo conflitivo estava muito intenso, determinando alto nível de ansiedade
que poderia monopolizar a atividade e a atenção grupal sobre Mário. Por outro lado, pensamos
que as reações demasiado agudas, podem beneficiar-se mais com um atendimento individual.
Tivemos um caso semelhante de um menino que matou acidentalmente a irmã e no mês
seguinte começou a freqüentar um gripo. A temática de crise e a ansiedade despertada no
grupo fez com que os assuntos tratados em várias reuniões se ligassem ao caso, impedindo o
exame de outras situações importantes e intensificando a culpa e ansiedade paranóide no
menino que terminou por abandonar o grupo.

* Trabalho realizado no Centro Psiquiátrico Melanie Klein


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PSICOSE
Jorge, 10 anos, veio à consulta por apresentar auto e hetero agressividade e dificuldades de
paranóide e regressão a nível psicótico. Este caso é contra-indicado pela dificuldade de
estabelecer vínculos, em decorrência da ansiedade paranóide, e pelo nível de comunicação
predominantemente pré-verbal, em função da regressão.
Após estes procedimentos técnicos iniciais, em que vimos ser aquelas crianças contra-
indicadas para terapia grupal, iniciamos as duas outras etapas, ou seja, Grupo Diagnóstico e
Testagem Psicológica.
Deteremos-nos aqui em esclarecer o que entendemos por Grupo Diagnóstico e quais os
objetivos de Testagem Psicológica, assim como descrever o que transcorreu num destes
grupos e quais as crianças que foram indicadas para iniciar o tratamento.
O Grupo Diagnóstico visa observar a interação das crianças entre si, para podermos
determinar quais as que realmente possuem condições de um tratamento conjunto. Nas
sessões se oferece à criança matéria de brinquedo (adequado a etapa evolutiva) e de desenho.
Estimula-se a verbalização das razões pelas quais vieram à consulta como também desenhar e
brincar livremente. É esclarecido a elas, que estas duas outras entrevistas primeiras serão para
determinar qual dos tratamentos individual ou grupal, será o mais adequado a cada uma delas.
Os elementos que pretendemos obter deste Grupo Diagnóstico são os seguintes são os
seguintes: Tipos de interação, nível predominante de expressão (verbal ou não verbal) papéis
que assumem no grupo, modalidade de expressão da agressividade, nível intelectual,
capacidade de tolerar a presença dos outros e compartilhar o terapeuta.
Iniciamos um grupo diagnóstico com 7 crianças. Observamos que Carlos, Conceição, Ana e
Nilo começaram a verbalizar seus problemas com certa facilidade, desenharam com
criatividade, mostraram boa interação e inclusive, capacidade de ajudar os outros
componentes.
Outras duas crianças Suzana e Cristiana, que nas entrevistas individuais mostraram
diagnóstico. Já nas primeiras entrevistas notou-se que não só ficaram mais tímidas como
também ansiosas não puderam verbalizar nem se expressar graficamente de forma adequada
a sua idade. Paulo que na entrevista individual não deixou transparecer sua hipermotilidade, no
grupo mostrou-se muito hipercinético, levantando a todo instante, exigindo colocação de limites
e perturbando a interação do grupo.
Fizemos uma reavaliação nestes casos solicitando testes psicológicos tendo sido concluído
que Suzana e Cristina eram portadores de Deficiência Mental moderada, porém que impediu
um trabalho razoável a nível das demais crianças, e Paulo por ser portador de Disfunção
Cerebral Mínima onde a hipercinesia era muito acentuada, não pode também continuar no
grupo.
Na terceira sessão, as crianças foram inteiradas de que três dos presentes seriam
afastados, pois conforme tínhamos combinado na primeira reunião estavam ali para
verificarmos quais os que poderiam se beneficiar com terapia grupal u individual, e que para
Suzana, Cristina e Paulo o tratamento em grupo não seria melhor.
Foi constituído, então, um grupo de psicoterapia Breve com Nilo, Carlos, Conceição e Ana,
remanescentes do grupo diagnóstico.
Caracterizaremos os motivos pelos quais julgamos que estas crianças são indicadas para
este tipo de tratamento.
Nilo, 9 anos, 3ª série primária, veio à consulta por agressividade com os irmãos e queda no
rendimento escolar, sintomas ligados à uma crise familiar determinada por um acidente com
seu pai.
Carlos, 9 anos, 3ª série primária, consultou por apresentar ansiedade e aparecimento de
lesão dermatológica perioral , provocada por um “tic” que consistia em passar a língua ao redor
da boca. Estes sintomas surgiram após conflito familiar intenso desencadeado pela vinda da
família de Minas Gerais para Porto Alegre, por vontade do pai e revelia dos demais membros
da família.
Conceição, 10 anos, 3ª série primária, veio com queixas de agressividade com os pais,
choro constante, sentimentos de abandono, não procurando com que sair ou brincar, sintomas
surgidos desde a menarca ocorrida há alguns meses.
Ana, 8 anos, 2ª série primária, desejava muito uma irmã e deste o último aborto de mãe,
ocorrido há três meses, apresenta rebeldia com os pais, insônia, crise de choro e fuga para a
casa da vizinha, onde nasceu uma criança há dois meses.
Estas crianças foram indicadas especialmente pelos seguintes aspectos:
a) em todos os casos havia um nítido fator desencadeante;
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b) na avaliação constatou-se que todas apresentavam adequado desenvolvimento evolutivo;


c) pela participação, já descrita no grupo diagnóstico.
Estes foram atendidos em uma sessão semanal de sessenta minutos e apresentara uma
boa evolução, integrando-se e verbalizando seus problemas. Os sintomas de Ana e Conceição
regrediram, Nilo melhorou da agressividade e sua família está em atendimento, Paulo não
apresentou melhoras, sua lesão dermatológica e os “tics” oscilam conforma sua ansiedade
frente ao conflito familiar.

Comentários

Na literatura que revisamos acerca das indicações e contra-indicações da Psicoterapia


Breve de grupo de crianças, encontramos que de forma geral – ainda não existiam critérios
definidos. Alguns autores referem, inclusive, casos que constituiriam indicações formais não
obtiveram bons resultados e outros, contra-indicados, puderam se beneficiar deste tipo de
atendimento. Em nossa experiência são contra-indicados os hipercinéticos, os deficientes
mentais, os psicóticos, os que apresentam quadros agudos de ansiedade intensa e aqueles
cuja família, por motivos emocionais e/ou econômicos não podem assumir um compromisso
terapêutico.
São indicadas aquelas crianças sem desenvolvimento psicopatológico grave e que
apresentem um nítido fator desencadeante dos sintomas.

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