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Entre Margens

12.º ano

FELIZMENTE
HÁ LUAR!

Luís de Sttau Monteiro


Entre Margens
12.º ano

O TEMPO DA HISTÓRIA

Acontecimentos marcantes
Entre Margens
12.º ano

1806

Nenhuma nação europeia


podia manter relações com
a Inglaterra.

BLOQUEIO CONTINENTAL
Entre Margens
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junho de 1807

Portugal recebe uma nota diplomática que:

ordena o encerramento dos portos aos


ingleses;
força a prisão de todos os cidadãos ingleses
residentes em Portugal;
impõe o confisco dos navios e bens britânicos.

QUEBRA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS


COM O GOVERNO INGLÊS
Entre Margens
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agosto de 1807

 ou Portugal declara guerra à Inglaterra;


 ou os exércitos franco-espanhóis invadem
o país.

ULTIMATUM AO
GOVERNO PORTUGUÊS
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1808

 a família real e o governo embarcam para


o Brasil;
 a nova capital do reino é estabelecida
no Rio de Janeiro.

A REVOLUÇÃO EM MOVIMENTO
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Regime político vigente

MONARQUIA
ABSOLUTISTA
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Representantes do poder

OS GOVERNADORES DO
REINO EM LISBOA
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FORJAZ
D.MIGUEL
in http://blogesss-biblioteca.blogspot.pt

SOUSA
PRINCIPAL
in http://blogesss-biblioteca.blogspot.pt
GENERAL
BERESFORD

in http://blogesss-biblioteca.blogspot.pt
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Situação económica e social

Pablo Picasso, Pobres à beira-mar, 1903


POBREZA E MISÉRIA
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Van Gogh, A vinha encarnada, 1888


RUÍNA AGRÍCOLA, COMERCIAL
E INDUSTRIAL
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D. João VI no Rio de Janeiro, in http://www.consciencia.org


DISTÂNCIA ENTRE O CENTRO
DO PODER POLÍTICO E O REI
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Reação

Delacroix, A liberdade guiando o povo, 1830


SURGE O MOVIMENTO
REVOLUCIONÁRIO DE GOMES
FREIRE D’ANDRADE (1817)
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Reação

Delacroix, A liberdade guiando o povo, 1830


INFLUENCIADO PELOS IDEAIS
DA REVOLUÇÃO FRANCESA (1789)
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O TEMPO DA HISTÓRIA
E
O TEMPO DA ESCRITA
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Júlio Pomar, Salazar


Domingos António de Sequeira, D. João VI, 1818-1826
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DUAS ÉPOCAS
=
UMA REALIDADE
SEMELHANTE
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PARALELISMO
REGIME POLÍTICO
1817 1961
ABSOLUTISMO RÉGIO DITADURA FASCISTA

O rei D. João VI está Américo Tomás é


ausente no Brasil; o Presidente da
República;

O poder é exercido O poder é exercido


pela Junta de por Salazar, Presidente
Governadores; do Conselho de
Ministros;
Entre Margens
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PARALELISMO
REGIME POLÍTICO
1817 1961
ABSOLUTISMO RÉGIO DITADURA FASCISTA

A supremacia pertence Há uma forte


à Igreja e à Nobreza; influência da Igreja;

Impõe-se o poder A conivência entre os


militar britânico. detentores do poder
é muito intensa.
Entre Margens
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PARALELISMO
CRISE POLÍTICO-SOCIAL
1817 1961
ABSOLUTISMO RÉGIO DITADURA FASCISTA
Pós-guerra Guerra colonial;
(Invasões Francesas);
Revolta fracassada Tentativas frustradas
de 1817; de golpes militares;
Ausência de liberdade; Falta de liberdade
(censura);
Miséria; Pobreza extrema;
Entre Margens
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PARALELISMO
CRISE POLÍTICO-SOCIAL
1817 1961
ABSOLUTISMO RÉGIO DITADURA FASCISTA

Recurso à repressão Recurso a medidas


para manter o regime; repressivas (PIDE,
prisões do Aljube,
Caxias e Tarrafal);

Manifestação da Oposição constante


vontade de às atrocidades
implementar um cometidas e ao
sistema de cortes. regime vigente.
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CONSEQUÊNCIAS

1817
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in http://histgeo6.blogspot.pt
O General Gomes Freire d’Andrade é
delatado e condenado à forca
por traição à Pátria.
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CONSEQUÊNCIAS

1961
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O General
Humberto
Delgado,
candidato da
oposição às
eleições
presidenciais
de 1958,
é perseguido
pela PIDE e
assassinado
em 1965.
in http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com
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CONSEQUÊNCIAS

1817
1961
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Exílios
Prisões
Mortes
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Alguns anos mais


tarde…
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Lutas liberais, in http://racarte.webs.com/


1834 – Triunfo do Liberalismo
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25 de Abril
de 1974 –
Triunfo da
democracia e
da liberdade.

in http://noseahistoria.wordpress.com
Leitura Metafórica
• A peça retrata, indiretamente, a situação política, económica e
social que se vivia na época em que foi escrita (1961), durante
a ditadura salazarista: desigualdade entre ricos e pobres;
repressão e exploração do povo; miséria, medo, analfabetismo,
obscurantismo; perseguição da PIDE; denúncia dos «bufos»;
repressão, tortura, condenação mesmo sem provas.
• O autor pretende então retratar um tempo de opressão , seja
no caso concreto do século XIX, seja no século XX salazarista,
seja noutra época qualquer. Assim é possível considerar que a
obra mantém atualidade numa época democrática; ela
adquire uma função didática , quer ao nível do conhecimento
histórico quer como advertência para os problemas de um
sistema repressivo.
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

“Foi aquela peça


em que um homem
voltado para
o dia seguinte
– o Gomes Freire – Sttau Monteiro encontrava-
se preso no Aljube quando
foi morto Felizmente Há Luar! foi
premiado pela Associação
pela gente da véspera.” Portuguesa de Escritores.
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

Viveu num tempo que mutilou obras; que


perseguiu e privou da liberdade todos
aqueles que constituíam uma ameaça ao
poder instituído

Inspirou-se num tempo que, à semelhança


do presente da escrita, se aproxima da
comum esperança na chegada da liberdade

Escolheu a lua, o verde e a árvore como


símbolos da mudança, da esperança, da
evolução e regeneração a que se aspira
Dina Baptista | www.sebentadigital.com
EB 2,3/S de Vale de Cambra
2009\2010

| Português – 12º ano | Felizmente há Luar, de Luis Sttau Monteiro

BIOGRAFIA DO AUTOR- Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro


Para mim há uma coisa sagrada:
ser livre como o vento.
Nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa.
Partiu para Londres com dez anos de idade, acompanhando o pai que exercia as funções de
embaixador de Portugal. Regressa a Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido
do cargo por Salazar.
Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo a advocacia por pouco tempo. Parte
novamente para Londres, tornando-se condutor de Fórmula 2. Regressa a Portugal e
colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A
Mosca" do Diário de Lisboa, e cria a seção Guidinha no mesmo jornal. Em 1961, publicou a
peça de teatro Felizmente Há Luar!, distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo
sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada em 1978 no
Teatro Nacional. Foram vendidos 160 mil exemplares da peça, resultando num êxito
estrondoso.
Foi preso em 1967 pela Pide após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A
Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Escreveu o romance inédito
Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o
título Chuva na Areia.
Faleceu no dia 23 de Julho de 1993.
O que distingue as suas obras: valorização da Liberdade individual e colectiva.
34
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

. Obra publicada em 1961


. Distinção com o Grande Prémio de
Teatro da Associação Portuguesa
de Escritores, em 1962
. Antestreia em Paris (Club Franco-Portugais
de la Jeunesse), no dia 1 de Março de
1969
. Estreia no dia 30 de Março no
Theatre de l’Ouest Parisien, pelo
Teatro-Oficina Português

Capa da edição do “Jornal do Foro – 1962


(duas edições)
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

. Proibição, pela censura, da sua


representação em Portugal

. Afastamento face a um “intuito político


imediato”, embora o autor reconheça que
“foi uma espécie de espirro” contra tudo
o que o irritava, na altura, em Portugal:
“- a torpeza
- a sacanice
- a cobardia dos que se acomo-
dam”.

Capa da edição da Portugália -


1962
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

. Sucesso editorial:
160 mil
exemplares
vendidos nas
primeiras edições

Capa de uma edição da Ática -


1963
Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

. Primeira
representação
em Portugal, em
1978 (após o 25
de Abril de
1974),
no Teatro
Nacional D.
Maria II, numa
encenação a
cargo do
próprio autor

Capa de edição da Areal - 1999 Capa de edição da Areal - 2004


Felizmente Há Luar! (1961)
de Luís de Sttau Monteiro

“Dezassete anos depois da sua edição, o


texto de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente
Há Luar!, subiu à cena do Teatro Nacional D.
Maria II, Casa de Garrett. E, curiosamente,
encenada pelo autor. A noite de estreia
encheu a majestosa sala de espectáculos.
Foi, sem dúvida, um acontecimento cultural
que a Democracia felizmente permitiu. O
fascismo não consentia a sua teatralização,
já que a imagem do General Gomes Freire
de Andrade – herói da peça – se parecia
muito com a figura carismática do ‘general
sem medo’(GENERAL HUMBERTO DELGADO)
que fizera tremer o edifício salazarista.”

in Jornal de Notícias, 1 de Outubro de 1978 Capa do folheto da peça


(29 de Setembro de 1978)
“Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,


Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,


Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez


De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim


E quando percebi,
Já era tarde.”

Bertolt Brecht (1898-1956)


 CLASSIFICAÇÃO DA OBRA
• Drama narrativo de carácter épico (teatro moderno)
Bertolt Brecht considerava que o teatro não devia meramente levar o público a
sentir empatia em relação às personagens e às situações por elas vividas (como
sucedia com o teatro de modelo aristotélico- teatro clássico) , mas obrigá-lo a
distanciar-se da ação, de modo que, mais do que sentir, fosse obrigado a pensar.
• Brecht considerava que o teatro tinha uma função didática, devendo levar os
espetadores a refletir sobre uma dada situação histórica, que, ao ser colocada em
paralelo com o presente , lhes permitia posicionar-se criticamente face à sociedade
do seu tempo e, posteriormente, agir para melhorá-la.

• É precisamente isto que sucede em Felizmente Há Luar!: Sttau Monteiro


seleciona um acontecimento histórico que encoraja o público a refletir sobre o
regime opressivo do Estado Novo. Mostra o mundo e o homem em constante
transformação; mostra a preocupação com o homem e o seu destino, a luta contra
a miséria e a alienação e a denúncia da ausência de moral; alerta para a
necessidade de uma sociedade solidária que permita a verdadeira realização do
homem.
 OBJETIVOS
• Pôr em evidência a luta do ser humano contra a tirania, a opressão,
a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição.

• O teatro é encarado como uma forma de análise das transformações


sociais que ocorrem ao longo dos tempos e, simultaneamente, como
um elemento de construção da sociedade. A rutura com a conceção
tradicional da essência do teatro é evidente: o drama já não se
destina a criar o terror e a piedade, isto é, já não é a função catártica,
purificadora, realizada através das emoções, que está em causa,
pela identificação do espectador com o herói da peça, mas a
capacidade crítica e analítica de quem observa. Brecht pretendia
substituir “sentir” por “pensar”.
Temática da Peça
• A ação da peça inspira-se nos movimentos
liberais que tentaram implantar entre nós o
regime liberal, mais especificamente a
revolução de 1817, que foi abortada e levou à
condenação e morte de doze acusados, entre
eles o General Gomes Freire de Andrade,
personagem principal da peça ( embora
nunca apareça).
Felizmente Há Luar!, de Luís Sttau Monteiro
(1926-1993)

• Texto Dramático- é constituído por:


• Texto Principal: as falas das personagens
• Texto secundário: As DIDASCÁLIAS ( fornecem indicações ao
encenador e aos atores, fundamentalmente sobre o cenário,
a movimentação das personagens em palco, o jogo
fisionómico, a indumentária, as iluminações, o som, etc.)
• As didascálias revestem duas formas:
• Indicações cénicas em itálico ou entre parêntesis ( orientam
fundamentalmente a encenação e a representação das
personagens)
• Notas à margem ( estas funcionam sobretudo como linhas de
leitura, comentários que orientam a interpretação do texto.
Felizmente há luar!
Im p o r tâ n c ia d a s d id a s c á lia s

Luz Som M o v im e n ta ç ã o C a r a c te r iz a ç ã o
C é n ic a das
P e rso n a g e n s
Diminui de intensidade no final de cada acto.

Movimenta-se em palco/muda de
Luz tonalidade/altera a intensidade.

Permite perceber:
-a mudança de cenário;
- a mudança de espaço;
- o destaque das figuras em palco;
- entrada e saída das personagens;
- relações entre as personagens
SOM (didascálias)

Ruído dos tambores Sinos a rebate Vozes humanas

Ameaçador Clima de terror Dramatismo

Obriga ao silêncio Prisão dos Execução


revolucionários

Aumenta de intensidade no final de cada acto.


Movimentação cénica
(didascálias)

• Indicação aos actores.

• Saída/entrada de personagens.

• Posição das personagens em cena.

• Expressão fisionómica dos actores.

• Linguagem gestual.
Caraterização das personagens
(através das didascálias)

• Tom de voz/flexões.

• Expressão do estado de espírito.

• Sugestão do aspecto exterior.


Estrutura da peça
• A peça divide-se em dois atos:
• 1º ato : Tempo de agitação revolucionária e, sobretudo, de
preparação revolucionária. Depois de uma primeira parte mais
lenta, em que é apresentada a situação de miséria do povo e
as opções de Vicente e dos outros delatores, o ritmo acelera-
se progresssivamente, assumindo a pressa dos governadores.
Termina num ritmo alucinante, em que os discursos dos três
governadores se apresentam em sequência.
• 2º ato: Tempo da repressão sem limites. O ato começa na
noite da prisão de Gomes Freire de Andrade e dos outros
conjurados ( historicamente, em 27 de maio de 1817) e
termina com a execução de Gomes Freire de Andrade
(historicamente, em 18 de outubro de 1817)
Estrutura externa e interna
As personagens interagem divididas em três núcleos- I ATO

1º Núcleo-POVO MANUEL Acreditam em Gomes


RITA Freire de Andrade:
ANTIGO SOLDADO acreditam na libertação
OUTROS POPULARES do terror e da opressão
2º Núcleo- OS TRAIDORES DO VICENTE São hostis ao General
POVO ANDRADE CORVO Gomes Freire de
MORAIS SARMENTO Andrade: provocam e
DOIS POLÍCIAS denunciam
3º Núcleo- OS GOVERNANTES MARECHAL BERESFORD São hostis ao General
(representa o domínio Gomes Freire de
britânico) Andrade: receiam
PRINCIPAL SOUSA perder o seu poder
(representa a influência da
Igreja)
D.MIGUEL FORJAZ
(representa a Nobreza)
Estrutura externa e interna- II ATO
Gomes Freire de Andrade é encarcerado no forte de S Julião da Barra
1º Núcleo- POVO MANUEL Já não acreditam em Gomes Freire de
RITA Andrade que foi preso e depois
ANTIGO SOLDADO executado: é o descrédito, o desânimo e
OUTROS POPULARES a desilusão
2º Núcleo- FORÇAS OS DOIS POLÍCIAS Exercem uma atividade esporádica :
DA ORDEM VICENTE dispersar o povo e impedir movimentos
(referências para dizer que foi de solidariedade para com o General.
feito «chefe da polícia»)
3º Núcleo- NOVAS MATILDE DE MELO Matilde revoltada contra Portugal e o seu
PERSONAGENS (mulher do General) povo, reclama a Beresford a absolvição
SOUSA FALCÃO do marido/amante, satiriza o Principal
(«o inseparável amigo») Sousa, ouve dizer a Frei Diogo que «se há
FREI DIOGO santos, Gomes Freire é um deles» e, em
(confessor de Gomes Freire de diálogo com Sousa Falcão, admite que o
Andrade) clarão da fogueira é o sinal da
intensificação da luta contra o regime
absolutista «Aquela fogueira há de
incendiar a terra»
Personagens
• Representantes dos orgãos de poder:
• D. Miguel Forjaz: governador do Reino, representante do poder
civil;
• Principal Sousa: representante do poder da igreja;
• Marechal Beresford: representante do poder militar e da ajuda
estrangeira a Portugal.
• Toda a sua ação vai no sentido de impedir a revolução que se
conspira contra o poder absolutista, a fim de preservarem os seus
interesses pessoais ( privilégios de classe)
• Tal ação só é possível com a ajuda dos elementos do POVO
( delatores)- Vicente, Corvo e Morais Sarmento- que fornecem o
nome dos conjurados.
• Outros elementos do POVO ( Antigo soldado, Manuel, Rita) estão
do lado do general e acreditam nele mas não têm coragem de
assumir essa atitude, pois o ambiente em que se vive é de medo.
Personagens
• Matilde- a companheira de Gomes Freire de Andrade, é o pólo
definidor e central do II ato. Ela faz tudo o que está ao seu
alcance para salvar o companheiro. Apela a Beresford , ao Povo,
a D. Miguel (que não a recebe) e ao Principal Sousa, obrigando-
os, desta forma, a definirem-se.
• Frei Diogo- que traz notícias do General da prisão, representa a
facção da Igreja que não concorda com a atuação que esta tem
ao lado do regime e procura proceder de acordo com os
princípios cristãos ( equivale, no regime salazarista, aos
católicos progressistas)
• Sousa Falcão- pelo seu papel de confidente ajuda a desvendar o
que se passa no mundo interior de Matilde. Exprime um
conflito de consciência.
Título e Elementos Simbólicos
• A frase Felizmente há luar! Aparece duas vezes na peça:
• Quando D. Miguel Forjaz a pronuncia, referindo-se à noite em que os
condenados vão ser condenados à fogueira.
• No fim da peça, pronunciada por Matilde, quando o seu companheiro está a
ser queimado e exprimindo com isto que a sua morte não é em vão, que ela-
a morte do General- plantou a semente da libertação.
• As palavras de esperança de Matilde são então simbolizadas pelo Verde da
saia que enverga( ao contrário do que é habitual que veste de negro) e pela
referência ao Luar ( fim de um ciclo, fim da noite, das trevas). Quando a
palavra Luar é pronunciada por D. Miguel, associa-se à simbologia de Noite.
• Outros Símbolos -Noite: mundo dominado pela opressão; mas também o
tempo das gestações, das germinações , das conspirações...
• Fogueira: representa o máximo da repressão e do terror ;
• mas surge também como elemento criador: basta que o sofrimento atinja o
limite da tensão e da consciência e se transforme em mola inevitável da ação.
Linguagem

• A linguagem em Felizmente Há Luar! É natural, viva e


maleável, utilizada como marca caracterizadora e
individualizadora de algumas personagens;
• Uso de frases em latim, com conotação irónica, por
aparecerem aquando da condenação e da execução;
•  Frases incompletas por hesitação ou interrupção;
•  Marcas características do discurso oral;
•  Recurso frequente à ironia e ao sarcasmo.
Linguagem Verbal
• A linguagem da peça, que tem uma evidente intenção didática,
caracteriza-se por uma certa simplicidade, procurando transmitir uma
mensagem que implique rapidamente o leitor/espetador.
• A linguagem funciona essencialmente ao serviço da caracterização e
conceção de cada membro do triunvirato do poder.
• As personagens detentoras do poder apresentam um discurso de
repressão e de demagogia. O seu discurso oscila entre o religioso
(Principal Sousa) e o político (Beresford e D. Miguel)
• Principal Sousa- Tom paternalista: «Entre, minha filha, entre nesta casa»;
marcas aforísticas: «A sabedoria é tão perigosa como a ignorância»;
linguagem messiânica: «Esta noite sonhei que...» ; linguagem autoritária
e exaltada : «Saia!»; linguagem hipócrita e cínica: «Os pormenores, Sr.
Capitão, são consigo. Não me interessa saber como são castigados os
inimigos do Senhor mas, apenas, que o são»;
Linguagem Verbal
• Beresford- linguagem caracterizada pelo pragmatismo :«
Excelências: não vim aqui para perder tempo com conversas
filosóficas. Venho falar-lhes de coisas mais sérias», ou pelo
realismo político objetivo: «É o tempo, Reverência, o tempo
que corre contrsa nós. O velhos está sempre a ceder perante o
novo e o novo sempre a destruir o velho...».
• Usa ainda uma linguagem sobranceira, irónica e
provocatória: « Poupe-me os seus sermões, Reverência»,
«Como a vida num país pequeno acaba por atrofiar as almas!
Diga-me, Excelência, onde estava Deus Nosso Senhor, em
1793, quando os franceses cortaram a cabeça ao
representante da sua autoridade?»
Linguagem Verbal
• D. Miguel Forjaz-caracteriza-se, antes de mais, pela
inquietação que veicula: « De toda a parte me vêm relatórios
inquietantes...»
• É também a linguagem de um estadista obstinado em lutar
contra a revolução que se anuncia: « Senhores! A paz deste
Reino e a missão que el-rei nos confiou não permite que
percamos tempo em conversas fúteis»; revela também um
cru e cínico realismo político: « Não há inocentes,
Reverência. Em política, quem não é por nós, é contra nós»;
deteta-se também um fundo messiânico: « A Pátria,
Excelências, não é, para mim, uma palavra vã...Vejo o clero,
uma nobreza e um povo conscientes da sua missão,
integrados na estrutura tradicional do Reino...»
Linguagem Verbal
• Quanto à linguagem do Povo, é marcada fortemente
pelos registos familiar e popular, concretizados em
frases inacabadas, reticências, interrogações,
pausas, repetições e referências a provérbios.
• É de salientar a notável densidade psicológica de
Matilde, que nos é dada em primeiro lugar pelas
palavras que profere. São marcas principais do
discurso de Matilde a inquietação, a indignação, o
desespero, a exaltação interior asociada à
consciência de superioridade moral e ainda o Amor e
a Esperança que habitam o final do texto.
Rita, Manuel e populares.
Miguel Pereira Forjaz
Coutinho Barreto de Sá e
Resende, conde da Feira).
Beresford (2 de 1 de Novembro de 1769/ 6
de Novembro de 1827.
Outubro de 1768)
(Irlanda)- 8 de janeiro
de 1854 em Gomes Freire de
Bedgebury Andrade
(Inglaterra). (27 de Janeiro de 1757
em Viena) (Áustria)- 18
de outubro de 1817 na
Torre de São Julião
(Portugal).
Marcelo Caetano
(1906/1980).
António de Oliveira
Substitui Salazar em 1968. Salazar(1889/1970). Ministro
das Finanças e Presidente do
Conselho de Ministros
PIDE
Guerra colonial (1961/1974)
25 de Abril de 1974

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