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Prof.

Otoniel Linhares

ATUALIDADES
• ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente
completa 25 anos
• A violência contra a criança e o adolescente sempre esteve presente na
sociedade e em diferentes classes sociais. No Brasil, um avanço
importante para reconhecer crianças e adolescentes como cidadãos
com direitos e deveres foi a criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), criado pela Lei 8.069, e que em julho de 2015
completa 25 anos.

• O ECA representa um marco jurídico que instaurou a proteção integral e


uma carta de direitos fundamentais à infância e à juventude. Ele
considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e
adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.
• A lei estabelece: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária".

• Ao todo, o estatuto tem 267 artigos que abordam diversos temas como o
acesso a saúde e educação, proteção contra a violência e tipificação de
crimes contra a criança, proteção contra o trabalho infantil, regras da
guarda, tutela e adoção, proibição do acesso a bebidas alcóolicas,
autorização para viajar, entre outras questões.
• A criação da lei
• Antes de 1988, o Brasil contava com o Código de Menores, documento
legal para a população menor de 18 anos e que visava especialmente à
questão de menores em “situação irregular”, de vulnerabilidade social. A
visão tradicional da época era de que crianças e adolescentes eram
incapazes e consideradas um problema para o Estado e autoridades
judiciárias.

• O ECA foi criado pouco depois da promulgação da nova Carta Magna, a


Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição
Cidadã”, por prever novos direitos fundamentais aos brasileiros.
• A lei regulamenta o artigo 227 da Constituição, que
garante os direitos das crianças e dos adolescentes: É
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
• Em 1989 houve a Convenção sobre os Direitos da Criança pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, ocasião em que foram
discutidos compromissos internacionais que abriram caminho
para as discussões do ECA no ano de 1990.
• Brasil, então, tornou-se o primeiro país a adequar a legislação
interna aos princípios consagrados pela Convenção.
• Ao longo dos anos, o Estatuto teve alterações introduzidas em eu
texto, como por exemplo, a Lei de Adoção (2009), que acelera o
processo de adoção e cria mecanismos para evitar que crianças e
adolescentes fiquem mais de dois anos em abrigos.
• Hoje o Estatuto é considerado um dos melhores do mundo, uma referência
internacional em legislação para essa faixa etária e inspirou legislações
semelhantes em vários países. Apesar disso, ainda hoje suas leis são
desconhecidas pela maioria da população brasileira e em muitos municípios
sua aplicação prática é descumprida.

• Apesar de o ECA ter transformado a relação da sociedade com a questão dos


direitos de crianças e adolescentes, ele ainda é ineficaz em diversos aspectos.
Há muito que avançar nos direitos fundamentais assegurando a meninos e
meninas uma educação de qualidade, assistência médica, moradia,
alimentação, convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer,
liberdade, dignidade e respeito.
• Mudanças que a lei trouxe
• Antes de o ECA ser promulgado, o Estado entendia que não havia diferença entre
criança e adolescente. Também era comum ver crianças trabalhando ao invés de
estudarem ou brincarem. O ECA contribuiu para que muitas mudanças
acontecessem:

• Reconhecimento de direitos: garantir que as crianças e adolescentes brasileiros,


até então reconhecidos como meros objetos de intervenção da família e do Estado,
passem a ser levados a sério e tratados como sujeitos autônomos. Hoje as crianças
são vistas como cidadãos em desenvolvimento e que precisam de proteção.
• Ensino: todo jovem tem direito a escola gratuita. E os pais são obrigados a
matricular os filhos na escola.
• Lazer: toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e se divertir
• Saúde: crianças e adolescentes têm prioridade no recebimento de socorro
médico, devem ser vacinados gratuitamente.
• Políticas públicas de atendimento à infância e juventude: estabeleceu uma
maior participação da sociedade civil, poderes públicos e dos municípios em
ações de proteção e assistência social.
• Proteção contra a violência: reconheceu a proteção contra a discriminação,
violência, abuso sexual e proibição de castigos imoderados e crueis
• Proibição do trabalho infantil: determinação da proibição de trabalho infantil
e proteção ao trabalho do adolescente. A única exceção é dada aos
aprendizes, que podem trabalhar a partir dos 14 anos com carga horária
reduzida.
• Conselho Tutelar: para cumprir e fiscalizar os direitos previstos pelo ECA,
foi criado o Conselho Tutelar, órgão municipal formado por membros da
sociedade civil. Atualmente 98% dos municípios contam com o apoio de
conselheiros.
• Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente: foram criados os
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, que existem nas
esferas municipal, estadual e nacional e têm como atribuição o
monitoramento e a proposição de políticas públicas.
• Novas regras para o adolescente infrator: foram definidas medidas
socioeducativas para infratores entre 12 e 18 anos que precisam cumprir
pena em unidades que visam à reeducação e a reintegração do jovem.
• A polêmica da redução da maioridade penal
• Um dos pontos mais criticados do ECA é a questão de como tratar o ato
infracional praticado por menores. A maioridade penal é a idade mínima
para uma pessoa ser julgada como adulto. No Brasil, essa idade é 18 anos. Se
menores cometerem atos ilegais, a legislação que julga e decide a punição é
o Estatuto, que possui artigos que se dedicam ao ato infracional.

• A lei prevê que a menor idade de responsabilidade criminal é 12 anos. Entre


12 e 18 anos, estes jovens infratores devem ser atendidos por um sistema de
justiça juvenil e com medidas socioeducativas que podem incluir internação
em instituição para adolescentes. A pena máxima é de três anos.
• Há quem considere a lei branda demais para punir adolescentes que comentem
crimes ou infrações. Isso vem motivando um debate acalorado sobre a questão da
redução da maioridade penal.

• Em março de 2015, a Câmara dos Deputados retomou a discussão da PEC 171, projeto
que propõe baixar de 18 para 16 anos a idade mínima para, em casos de crimes
violentos, uma pessoa ser julgada pela Justiça Comum. O projeto ainda está em
tramitação.

• Defensores do ECA afirmam que o crime deve ser punido, mas é preciso considerar as
diferenças no desenvolvimento físico e psicológico nos adolescentes em relação aos
adultos. Para críticos, o Estado não é eficaz em recuperar o menor, e o ECA seria um
instrumento que garantiria a impunidade em relação aos adolescentes em conflito com
a lei.
• Na esteira da votação da proposta de emenda
constitucional que visa reduzir a maioridade penal de
18 para 16 anos para alguns crimes específicos, os
debates em torno das reformas do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) devem ganhar força no
Congresso nas próximas semanas, com grupos de
promotores já preparando propostas para apreciação
no Senado - além das que já foram apresentadas por
parlamentares e aguardam discussão.
• Distorções
• Segundo uma pesquisa dos Ministérios Públicos dos Estados do Rio de
Janeiro e São Paulo, na prática isto gera distorções no sistema, fazendo
com que a grande maioria dos menores infratores cumpra períodos de
internação de apenas seis meses, independentemente de terem sido
julgados por um furto ou um assassinato.
• Dados recentes do Ministério Público de São Paulo mostram que a
comarca da capital paulista conta atualmente com 1.552 menores
internados em unidades. Destes, 1.046 estão privados de liberdade entre
cinco a nove meses, e apenas um está internado há 15 meses, um há 20
meses e um há 33 meses. Outros 503 estão internados por diferentes
períodos, mas por menos de 15 meses.
• Mais de 28 mil menores infratores cumprem medidas socio
educativas no Brasil
• Um levantamento inédito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
revela o perfil dos 28.467 menores infratores com processos
ativos que cumprem atualmente medidas socioeducativas no
Brasil.

• Deste total, 4.546 são internos em estabelecimentos


educacionais, 1.656 cumprem internação provisória e 8.676 estão
em liberdade assistida.
• Os dados fazem parte do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes em
Conflito com a Lei (CNCA), criado em fevereiro de 2009 e atualizado por juízes das
varas da infância e juventude em todo o país. Antes, não havia em funcionamento
nenhum sistema com informações unificadas.

• Mais de 90% dos jovens (25.802) que cumprem medidas educativas são do sexo
masculino, contra 2.665 do sexo feminino. Como se trata de um cadastro recente,
ainda deve passar por aprimoramentos a fim de fornecer dados mais precisos.

• A cor dos adolescentes, por exemplo, não foi informada em 13.483 dos casos.
Sabe-se que os jovens de cor branca são 4.967 e os negros, 2.101. Os pardos
totalizam 7.774 e os indígenas, 47.
• Desde que o sistema foi criado, 86.696 adolescentes foram cadastrados. O total
de processos chega a 112.673, levando-se em consideração que um mesmo
jovem pode ter cometido mais de um ato infracional.

• Atualmente, existem 80.490 processos ativos e 4.796 foram extintos porque o


menor cumpriu a medida estabelecida. Outros 900 deixaram de existir porque
foram prescritos.

• Mais de nove mil menores cumprem serviços comunitários Já foram extintos


1.259 processos porque o jovem cumpriu mais de 21 anos. Segundo a lei, o
tempo máximo de internação para um menor é de três anos. Há cada seis meses,
há uma reavaliação da medida sócio-educativa estabelecida ao jovem.

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