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Cidadania e o Conceito

de (A)bando(no)
Bando

Conceito: bando é a tradução portuguesa do termo alemão Bann, que significa o poder de governo, a
soberania, o direito de estatuir comandos e proibições, de impor e executar penas; também o direito de
banir.

Para Oswaldo Giacóia Jr.: ”o significado da palavra remete a bandido, mas também a BANIDO –
excluído (…), designa tanto a expulsão da comunidade quanto a insígnia do governo soberano”.

• É preciso reconhecer a íntima relação do bando com o banido. O termo Bann guarda relação com a
sacratio, designando o fora da lei, proscrito ou banido da proteção do bando.
O Bando como relação política originária (o paradoxo
do contratualismo).

• A ideia de bando como relação política originária se apresenta em todo o decorrer do


desenvolvimento histórico da humanidade, fato que confirma sua potência originária e que
permite, a partir de figuras como o abandonado no desenvolvimento histórico, compreender o
sentido constitutivo e como se projetam as relações sociais no ambiente de tensões que figuram
como elementos principais os conceitos de direito e violência, portanto, também das expressões
de política, poder e religião.

• A figura elementar indicada como principal para se iniciar esta abordagem é o homo sacer.

• É justamente a figura do homo sacer, aquele que não se encaixa, dentro dos ”parâmetros” do
bando que acaba sendo o estopim dessas tensões e, ato contínuo, desencadeando os primeiros
suspiros de uma política.
A necessidade do bando de abandonar e a criação
de uma identidade e fortalecimento.

• Para a criação de uma identidade e de um fortalecimento do bando se faz necessário o abandono.


Constata-se que o conceito de bando e de abandono estão umbilicalmente ligados, existe sim uma
relação de interdependência entre estes dois conceitos.

• Para que ocorra o abandono, necessário antes fazer parte de um bando. Em verdade o bando
sempre estará ligado a figura do abandonado, mesmo depois do abandono. O abandonado
sempre permanecerá ”a mercê de ..” do bando. O abandonado jamais será inteiramente livre, pois
a exclusão não permite (o bando ainda exerce poder sobre ele – não volte a nossa terra) e jamais
pertencerá a lugar algum (condição de indeterminação).

• O abandonar puro e simples não faz com que o abandonado deixe de existir. O abandonado passa
a existir como um ”não ser”. É na diferença que se encontra identidade.
Do bando ao Homo Sacer (zona de indeterminação).

• Para Agemben, o homo sacer é um ser cuja vida nada vale, uma vida matável. O homo sacer
aparece como um paradoxo, apresenta sentidos contraditórios: o de sagrado, mas impuro, o de
não sacrificável, mas matável.

Matabilidade Insacrificabilidade

Homo Sacer
Do bando ao Homo Sacer (zona de indeterminação).

• A figura do homo sacer não é humana, nem divida. Tal figura encontra-se em uma ”zona de
indeterminação”.

• O homo sacer tem sua condição de vida mitigada a tal ponto que sua vida pode e é excluída de
todos os direitos civis, do mesmo modo, sua vida é considerada ”santa”.

• Esse despojamento de direitos do homo sacer aparece como vida nua, uma vida aberta à
morte e simultanêamente insacrificável. É uma vida sagrada, destituída de valor.
A análise do Paradoxo Incluído/Excluído do Homo
Sacer (Giorgio Agamben).
A soberania do bando está intimamente ligada a sacracio, pois é essa que permite a criação do homo
sacer, do abandono.

Para Agamben o bando seria uma forma de consagração da divindade. A estrutura da sacracio
apresenta 2 aspectos:

• Impunidade da matança: pode ser morto sem acarretar pena ao que matou;

• Exclusão do sacrifício: matar não é considerado sacrilágio (profano).

O homo sacer despojado de qualquer direito (excluído) e submetido ao poder do soberano (incluído).
Sua existência é ambígua, pois apesar de emergir de dentro da lei (poder soberano) não possui
qualquer direito.
O não lugar e a biopolítica

• O homo sacer é um corpo deslocado de sua origem (abandonado). O mundo como lugar de
sua liberdade é também o seu não lugar. (não há ideia de pertencimento)

• O ”não lugar” é o lugar do homo sacer, é onde encontra-se identidade, a identidade daqueles
que estão em abandono.

• No ”não lugar” há homogeneidade, muito embora, o homo sacer seja heterogeneo em relação
ao bando e isso que o faz sagrado e ao mesmo tempo o exclui.

• O ”não lugar” nos leva a analizar um modelo de biopolítica, em que pessoas postas for a da
condição humana, são considerados anormais, monstros, deuses. Em verdade o ”não lugar é
uma política de aniquilamento planejada do outro”.

• O ”não lugar” também é um paradoxo pois é um lugar real que também está for a de todos os
demais lugares.
O constante abandono e o Estado de Exceção. O
Homo Sacer Contemporâneo.

• Vive-se hoje em constante processo de abandono, vive-se construindo muros, abandonando.


O homo sacer moderno com o seu ”não lugar”, possui um lugar especificado: o campo….de
refugiados, de concentração, de exilados, de detenção.

• Prisão de Guantânamo.
Estado de Exceção como busca da cidadania?
(inversão)

Será que o estado de excecão está virando regra? Observa-se cada vez mais campos, será o abandono,
a criação do homo sacer o meio perverso, pelo qual hoje buscamos a ideia de cidadania?

O campo é o espaço que se abre quando o estado de excecão torna-se regra (…) é um pedaço de
território que é colocado fora do ordenamento jurídico normal, mas não é, por causa disso, simplesmente
um espaço externo; (…) a estrutura em que o estado de exceção, em cuja possível decisão se baseia o
poder soberano, é realizado normalmente; (…) é o próprio paradigma do espaço político no ponto em qua
a política se confunde com a biopolítica e o homo sacer se confunde virtualmente com o cidadão; (…) é o
novo regulador oculto da inscricão da vida no ordenamento – ou, antes, o sinal da impossibilidade do
sistema de funcionar sem transformar-se em uma máquina letal.

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