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A cultura e a sua relação com o

trauma na literatura de testemunho


POR
ROMILTON BATISTA DE OLIVEIRA
DOUTORANDO EM CULTURA E SOCIEDADE/UFBA
Este mini-curso propõe analisar o trauma em duas narrações
de dimensão testemunhal autobiográfica e ficcional: A trégua
(2010), Os afogados e os sobreviventes (2004), É isto um
homem?(1988) do italiano Primo Levi e Os Cus de Judas
(2007), do português Lobo Antunes, obras oriundas de duas
guerras: O Holocausto e a Guerra Colonial em Angola. A
memória produz discurso que dá sentido ao passado e às
experiências pessoais. Nesse sentido, faz-se necessário
identificar a relação do trauma no tecido narrativo da
memória e a relação com o corpo. O resultado da pesquisa do
qual este curso está inserido demonstra que a literatura é um
importante aliado da sociedade, tornando-se um valioso
instrumento que não permite que se esqueça de tais tragédias.
António L. Antunes nasceu em Lisboa no dia 01 de
setembro de 1942. Licenciou-se em Medicina e
especializou-se em Psiquiatria, decorrendo daí sua
tendência de analisar, sob o prisma da Psicologia, a
criação artística, o que o levou a escrever romances
como “Os Cus de Judas”. Após sua participação na
guerra Ultramar, exerceu a profissão de médico, em
Lisboa, no Hospital Miguel Bombarda, até o ano de
1985. Como romancista, vem publicando desde
1979. Seus três primeiros livros - Memórias de
Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e
Conhecimento do Inferno (1980) constituem uma
trilogia autobiográfica. Estes primeiros livros estão
muito ligados ao contexto da guerra colonial;
transformaram-no imediatamente num dos autores
contemporâneos mais lidos e discutidos, no âmbito
nacional e internacional.
O judeu italiano Primo Levi foi levado para Auschwitz, mas sobreviveu. Em larga medida, por ser
um químico competente. Ao sair, continuou trabalhando como químico e se tornou um dos mais
poderosos escritores do século 20. “É Isto um Homem?” é um dos livros mais notáveis sobre o
cotidiano dos indivíduos no campo de extermínio nazista. O leitor que quiser conhecer a história
do campo localizado na Polônia talvez deva começar por esta obra séria e penetrante. Com seus
livros sobre Ausch­witz — escreveu ficção sobre outros assuntos —, Primo Levi consagrou-se
como um dos principais memorialistas, senão o maior, do horror nazista. Fica-se com a impressão
de que sobreviveu para contar, para contar bem, com largueza de visão e certa implacabilidade.
Porém, mesmo consagrado e respeitado praticamente em todo o mundo — Philip Roth é um dos
mais apaixonados leitores de sua obra, que ajudou a divulgar e estabelecer nos Estados Unidos
—, Primo Levi tinha depressão, às vezes chamada de “mal silencioso”. Em abril de 1987, aos 67
anos, Primo Levi matou-se, jogando-se da escada do edifício no qual morava, em Turim. Estava
muito deprimido. Não houve testemunhas, mas ninguém o empurrou. A conclusão da perícia
técnica de Turim é que se suicidou. Recém-operado de uma cirurgia de próstata, estava mal
psiquicamente, e dizia não acreditar que algum dia ficaria bem (da depressão) e admitia que era
muito difícil receber visitas. A enfermeira Elena Giordanino, que cuidava da mãe de Primo Levi,
Ester, contou à polícia que o escritor estava “muito alterado. Às vezes o via sentado com a cabeça
entre as mãos, pensando”. Estava angustiado. Lucia, mulher do escritor, relatou que ele estava
“deprimido”. “Primo estava cansado da vida… Fizemos o possível para nunca deixá-lo só. Nunca.
Mas só um momento foi suficiente.”
Não é fácil contar a vida de Primo Levi, porque ele próprio revelou parte dela,
aparentemente “encobrindo” detalhes, quem sabe por julgá-los sem importância, e
não com o objetivo de falsificar. Era cioso com sua própria história. O inglês Ian
Thomson, de 53 anos, embora desencorajado por algumas pessoas, decidiu
pesquisar a vida do escritor com o objetivo de escrever uma biografia não
definitiva, porque isto é ficção, e sim a mais ampla possível. Descobriu, por
exemplo, que, mesmo antes de ser enviado para Auschwitz, na década de 1940,
Primo Levi já sofria de fortes crises de depressão. O campo de extermínio por certo
potencializou seu problema de saúde. Porém, mesmo com depressão, trabalhou
como químico e se tornou um dos maiores escritores do século 20. A depressão
levou-o à morte, mas não impediu que escrevesse bons livros, como “É Isto um
Homem?” e “A Trégua”. A intenção do biógrafo não é demolir Primo Levi, até
porque não há o que demolir, e sim compreender como este homem, atormentado a
vida inteira, sobreviveu a Ausch­witz e escreveu uma obra literária e de testemunho
a um só tempo bela, dolorosa e poderosamente informativa. O autor italiano é a
prova de que o indivíduo — aquelas pessoas ímpares — faz a diferença em
qualquer lugar.
Primo Levi nasceu em Turim em 1919, dentro de uma família judia liberal.
Em 1934, ele entrou para o Massimo d'Azeglio liceo classico, uma escola
secundária especializada no estudo dos clássicos. A escola era conhecida por
seus professores anti-fascistas, entre eles Norberto Bobbioa e, por alguns
meses, Cesare Pavese, que mais tarde se tornaria um dos mais conhecidos
romancistas italianos. Muitos biógrafos diziam que Pavese foi o professor de
italiano de Levi - e, por isso, uma de suas maiores influências intelectuais.
Este mito foi refutado por Thomson, biógrafo definitivo de Levi. Levi
terminou a escola em 1937 e entrou para a Universidade de Turim, onde
estudou Química. Em 1938, o governo Fascista aprovou uma série de leis
raciais que proibiam cidadãos judeus de frequentar escolas públicas. Como
resultado destas novas diretrizes, Levi, apesar de seu desempenho, teve
dificuldade em encontrar um orientador para sua tese. Mesmo assim, ele
conseguiu se formar em 1941, com méritos. Seu diploma, no entanto, foi
marcado com a expressão de “raça judia”. As leis raciais também impediram
que Levi encontrasse uma ocupação permanente na faculdade, depois de
Em setembro de 1943, depois que o governo italiano assinou o armistício com os Aliados, o ex-Primeiro
Ministro Benito Mussolini foi resgatado da prisão pelos alemães. Ele passou a comandar um pequeno
estado ítalo-germânico no norte da Itália, conhecido como República Social Italiana. O movimento de
resistência italiano se tornou muito ativo nesta zona ocupada parcialmente pelos alemães. Levi, assim
como vários de seus colegas, se juntaram aos partisans, que atendiam pelo nome de Movimento Justiça e
Liberdade. Sem o menor treinamento militar, ele e seus companheiros foram feitos prisioneiros pela
milícia fascista. Assim que os milicianos descobriram que ele era judeu, enviaram-no para um campo de
prisioneiros em Fossoli, perto de Modena. Em 11 de fevereiro de 1944, os prisioneiros do campo foram
transportados para Auschwitz. Levi ficou onze meses no chamado campo da morte, até ser libertado
pelo Exército Vermelho. Dos 650 judeus italianos mandados para Auschwitz com Levi, apenas vinte
sobreviveram. Levi sobreviveu devido a um conjunto de fatores. Ele sabia um pouco de alemão, por causa
das publicações sobre química que lia; ele percebeu rapidamente que precisava a todo custo passar
despercebido, sem chamar a atenção nem dos guardas nem dos prisioneiros. Sua experiência profissional
também foi de grande ajuda: em novembro de 1944 ele passou a trabalhar como assistente no laboratório
de Buna, que pesquisava um novo tipo de borracha sintética. Assim, ele conseguiu ao menos se manter
aquecido dentro do laboratório. Logo depois da libertação do campo, ele foi acometido por escarlatina.
Isso também salvou sua vida, porque os demais prisioneiros foram evacuados do campo pelas forças da SS
no que ficou conhecido como marcha da morte. Embora tenha sido libertado em 27 de janeiro de 1945,
Primo Levi não voltou a Turim antes de 19 de outubro daquele ano. Depois de ficar algum tempo num ex-
campo de concentração soviético, se recuperando, ele embarcou numa longa jornada até sua casa, na
companhia de outros italianos, prisioneiros de guerra na Rússia. Durante esta jornada, ele passou pela
Polônia, Ucrânia, Romênia, Hungria, Áustria e Alemanha, tema do livro A Trégua.
OBSERVAÇÕES RELEVANTES:
• A escarlatina é uma doença infectocontagiosa provocada por uma bactéria que atinge
crianças e adolescentes. Consiste em uma infecção de garganta caracterizada e
acompanhada por manchas na pele. Essas manchas são vermelho escarlate – daí o nome
da doença.
• Benito Mussolini (1883-1945) foi um político italiano, líder do Partido Fascista,
fundado em 1919, no final da Primeira Guerra Mundial. Foi professor e jornalista,
escrevia para jornais de esquerda. Alistou-se no Exército, chegando a patente de
sargento. Em 1919 fundou o Partido Fascista. Em 1922 organizou a "Marcha sobre
Roma", e com o apoio do rei Vítor Emanuel III passou a organizar o gabinete
governamental, no cargo de Primeiro-Ministro da Itália. Por meio de eleições
fraudulentas, os fascistas ganharam a maioria do parlamento. Em 1925 Mussolini
tornou-se "Duce" (o condutor supremo da Itália). Estava formado o Estado totalitário.
Benito Mussolini nasceu em Predappio, província de Forli, Itália, no dia 29 de julho de
1833. Filho de Alessandro Mussolini, um ferreiro, socialista, e Rosa Maltoni, professora
primária. Em 1901 Mussolini formou-se professor de escola primária, trabalhou como
professor, mas seu interesse era a revolução. Em 1902 foi morar na Suíça, fugindo do
serviço militar, mas suas atividades esquerdistas acabaram o expulsando do país.
Em política externa, as aspirações de Benito Mussolini foram limitadas
na prática pelo reduzido poderio militar da Itália. Em 1927, ele
estabeleceu um protetorado sobre a Albânia, em 1935 invadiu a Etiópia e
em 1937 interveio na guerra civil espanhola. Durante a Segunda Guerra
Mundial, sua aliança com Hitler, decidida no auge das conquistas
militares alemãs, permitiu-lhe incorporar parte do território da
Iugoslávia. Derrotado na Grécia em 1940 e na África em 1941, e com o
desembarque dos aliados na Sicília, teve sua liderança repudiada pelo
Grande Conselho Fascista, em 1943. Destituído e preso, foi libertado
pelos alemães. Tentou manter-se no poder no norte da Itália, mas já
desmoralizado e isolado foi preso por guerrilheiros italianos ao tentar
fugir para a Suíça. Benito Amilcare Andrea Mussolini foi julgado
sumariamente e fuzilado junto com sua amante, Claretta Petacci, em
Mezzegra, Itália, em 28 de abril de 1945. Seus corpos foram levados para
Milão e expostos, pendurados de cabeça para baixo, na Praça Loreto.
“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar
o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu” (NIETZSCHE/Assim falava Zaratrusta)).

 O empenho da Literatura de testemunho e o papel do sobrevivente que passou pela


experiência violenta e traumática.
 Experiência: perigo, travessia (BONDÍA, 2002)
 Século XX: “Era dos Extremos”/Século das catástrofes/Descentramentos e Desconstruções
de paradigmas e de ideologias de poder (ERIC HOBSBAWM, STUART HALL)
 A representação continua ainda em cena, comandando ou tentando comandar os
acontecimentos que envolvem a vida dos homens, seus discursos e sentimentos. A
linguagem é o fio condutor desse processo.
PROBLEMÁTICA
O trauma segundo vários pesquisadores no assunto é algo irrepresentável e
indizível. Esta pesquisa pretende problematizar interrogando que esta
irrepresentabilidade precisa ser rompida, questionada e desconstruída, pois
acreditamos que no momento em que o sobrevivente narra sobre o evento
traumático, por meio da literatura de ficção ou de testemunho está, de certa
forma, “destravando” a linguagem de sua imobilidade e de seu silêncio. No
entanto, entendemos que nada que aconteça no passado pode retornar
integralmente ao presente. Acredita-se que o trauma ou o próprio passado
retorna-se como um “outro”, mas um outro que é capaz de substitui-lo e por
meio desta substituição, narrativas, linguagens e discursos são produzidos
num processo de perdas e reconstituições.
O aspecto mudo da linguagem se faz presente no momento em que o acontecimento traumático está a acontecer,
porém, como o próprio Freud afirma, após um período, o sobrevivente pode ou silenciar-se para sempre ou
expressar por meio da linguagem o que ele vivenciou nos limites do extremo da alma e da existência humana. É
de suma importância as palavras de Marisa Schargel Maia
“A constituição do sujeito se dá no interior de um campo linguístico, no qual um universo de significações
participará dessa construção radicalmente singular. A linguagem é um aspecto vital e fundamental na constituição
do sujeito e na gênese dos processos de criação de sentido, [...] Cada cultura, diante das adversidades e exigências
da vida, descobrirá modos, os mais variados, para estar no mundo. (2005, p. 121).
Na parte II (Trauma ou catástrofe na experiência subjetiva) de seu livro “Extremos da alma: dor e trauma na
atualidade e clínica psicanalítica”, a autora afirma:
“O lugar ocupado pelo traumático ou catastrófico na economia psíquica é paradoxal. Desde as suas raízes
etimológicas, o evento traumático atende a duas vertentes: em sua raiz indo-europeia, trauma pode ser definido
tanto por “friccionar”. “triturar”, “perfurar” quanto por significações opostas como “ultrapassar”, “suplantar”,
“passar através”. A raiz etimológica grega de catástrofe aponta para a mesma direção: “virado de cabeça para
baixo”,, “grave perturbação”, “crise” ou “solução”, “desatar nós” (ZINGARELLI, 2000). Essa dupla possibilidade
aparece também quando se abordam os desdobramentos dos eventos traumáticos nos processos de subjetivação”
(2005, MAIA, p. 91).
 A língua(gem) passa pela experiência em pleno silêncio, para depois da experiência, voltar enriquecida
pelo acontecimento que ela vivenciou. Como exemplo temos a voz de Paul Celan, sobrevivente de
Auschwitz, que consegue “traduzir” por meio da poesia esse processo traumático no qual a língua
consegue sair “viva” de toda essa tragédia, porém se suicida por não suportar o forte trauma que como
ferida e cicatriz atormentava o seu corpo. Daí entendermos que o trauma se inscreve no corpo, mas
neste momento, atentamo-nos para a potência da linguagem:

 “No meio de tantas perdas, uma coisa permaneceu acessível, próxima e salva – a língua, permaneceu a
salvo. Mas depois de atravessar o seu próprio vazio de respostas, o terrível emudecimento, mil trevas
de um discurso letal. Ela fez a travessia e não gastou uma palavra com o que aconteceu, mas travessou
esses acontecimentos. Fez a travessia e pôde reemergir “enriquecida” com tudo isso” (CELAN, 1996,
p. 33).
Os sujeitos afetados pelo trauma são conduzidos por um processo dessubjetivante. A desconstrução nos leva a pensar

com outra “mente”, desligada de seu fixo discurso sobre a vida e o mundo, apoiada em sentidos dispersos,

fragmentados e descentrados, gerando o que podemos chamar de crise de sentidos, que tem a ver com a crise da

representação, da identidade e dos valores culturais. Nesse sentido, podemos constatar, por meio da leitura e análise

das obras de Lobo Antunes e de Primo Levi que elas absorvem uma dimensão autobiográfica relevante para reavaliar

o conhecimento em torno da vida e do saber/poder, oriundo do pensamento cartesiano. São escritas que refletem de

forma crítica e desconstrutivista os sentimentos, valores e formações ideológico-discursivas que antes serviam de eixo

norteador para a sociedade e, respectivamente, para os escritores que, durante o acontecimento traumático não

conseguiam entender com exatidão o que estava realmente acontecendo. Só depois, por meio da linguagem, que

estava “muda” e silenciosa na época do acontecimento, emerge com uma potencialidade capaz de “destravar” o

trauma que residia silenciosamente no interior dos sobreviventes escritores, contrariando, de certa forma, o que

pensou Adorno ao afirmar que após o holocausto é impossível fazer poesia. O que temos visto é uma enxurrada de

produção cinematográfica e literária acerca deste indizível.


Lobo Antunes consegue produzir uma literatura sob um olhar crítico e feroz
que acaba desconstruindo discursos, crenças, costumes, linguagens e
paradigmas que ideologicamente dominavam a vida portuguesa. Nesse
sentido, o papel da Literatura, em linhas gerais é o de dar vida às vozes que
foram silenciadas por esses regimes autoritaristas. Lobo Antunes é movido
por uma força interior, conduzido por um imaginário que ressignifica o
passado por meio da linguagem. Sua difícil escrita literária representa sua
experiência como homem que desde os cinco anos de idade escrevia
conforme ele mesmo afirmou em entrevista dada em 2002, presente eno livro
“Conversas com António Lobo Antunes”, de María Luisa Blanco.
Convém citarmos o que pensa a principal escritora, e pesquisadora das obras de Lobo Antunes,
Maria Alzira Seixo, por meio de seu livro Os romances de António Lobo Antunes:
“O colonialismo deve considerar-se de importância central e determinante nesta obra, na medida
em que não só desencadeia o processo de publicação dos romances, na prática, como preenche o
mundo romanesco dos primeiros livros do escritor... [...] A guerra, a luta contra quem se não quer
destruir; o sofrimento, a morte, a separação da família e da terra natal; o alheamento progressivo
em relação a uma natureza humana em que o indivíduo se reconhecia e que parece depois
abandoná-lo irremissivelmente, a observação da outra terra que se ocupa, em atitude de
estrangeiro fascínio e de gradual e afectiva adopção – são componentes da experiência colonial e
da má-consciência de parte dos portugueses combatentes em África, que fazem da obra de Lobo
Antunes um lugar literário privilegiado para o estudo dessa situação humana complexa e, do
ponto de vista que nos interessa, para a consideração dos modos narrativos e da questionação da
subjetividade na sua modalidade de escrita, nomeadamente através da problematização da
identidade, do sentimento de pertença e da relação com o outro” (SEIXO, 2002, p. 499-500).
Vejamos o que diz Maurice Blanchot acerca da experiência limite em seu livro A
conversa infinita: a experiência limite:
A experiência limite é aquela que espera esse homem último, capaz uma última vez de
não se deter nessa suficiência que atinge; ela é o desejo do homem sem desejo, a
insatisfação daquele que está satisfeito “em tudo”, a pura falta, ali onde no entanto há
consumação do ser. A experiência limite é a experiência daquilo que existe fora de
tudo, quando o tudo exclui todo exterior, daquilo que falta alcançar, quando tudo está
alcançado, e que falta conhecer, quando tudo é conhecido. [...] O que está implícito em
nossa proposição é absolutamente outra coisa, exatamente isto: que ao homem, tal
como é, tal como será, pertence uma falta essencial de onde lhe vem esse direito de se
colocar a si próprio sempre em questão. (BLANCHOT, 2007, p. 187-188).
[...] continuo a escutar, sentado na sanita, olhando no espelho o meu rosto que
irremediavelmente envelheceu, as falanges amarelas dos cigarros, os cabelos brancos, que eu
não tinha, as rugas, Sofia, que me vincam a testa do mole cansaço dos quem definitivo
desistiram. [...] prolongava nas feições em repouso algo das minhas feições de antes, quando
a amargura e o sofrimento da guerra me não haviam transformado ainda numa espécie de
bicho desencantado e cínico, procedendo ao acto do amor nos gestos indiferentes e alheios dos
comensais solitários nos restaurantes, olhando para dentro de si próprios as sombras que os
habitam. [...] Porque foi nisto que me transformei, que me transformaram, Sofia: uma
criatura envelhecida e cínica a rir de si própria e dos outros o riso invejoso, azedo, cruel dos
defuntos, o riso sádico e mudo dos defuntos, o repulsivo riso gorduroso dos defuntos, e a
apodrecer por dentro, à luz do uísque, como apodrecem os retratos nos álbuns,
magoadamente, dissolvendo-se devagarinho numa confusão de bigodes. [...] porque o
isolamento e a solidão se me enrolam nas tripas, no estômago, nos braços, na garganta, me
impedem de me mover e de falar, me tornam num vegetal agoniado incapaz de um grito ou
de um gesto, à espera do sono que não chega” (ANTUNES, 2007, p. 59-151-152-156-176-
182/Grifos nossos).
É absurdo pensar que a justiça humana possa extingui-la. Ela é uma inexaurível fonte
do mal: quebra o corpo e a alma dos esmagados, os destrói e os torna objetos; recai
como infâmia sobre os opressores, perpetua-se como ódio nos sobreviventes, e pulula
de mil maneiras, contra a própria vontade de todos, como sede de vingança, como
desmoronamento moral, como negação, como fadiga, como renúncia” (LEVI, 2010, A
Trégua, p. 11).
“O lugar que me foi designado era um quarto enorme e escuro, cheio até o teto de
sofrimentos e lamúrias. Para uns oitocentos doentes, havia apenas um médico de
plantão, e nenhum enfermeiro: eram os próprios doentes que deviam responder às suas
necessidades mais urgentes, e àquelas de seus companheiros mais graves. Passei lá
uma só noite, que recordo como um pesadelo; de manhã, contavam-se às dúzias os
cadáveres nos beliches ou espalhados no chão. [...] (LEVI, A Trégua,2010, p. 18).
“É natural e óbvio que o material mais consistente para a reconstrução da verdade
sobre os campos seja constituído pelas memórias dos sobreviventes” (LEVI, 2004, Os
afogados e os sobreviventes, p. 13).
“[...] nos damos conta de que a nossa língua não tem palavras para expressar esta
ofensa, a aniquilação de um homem. Num instante, por intuição quase profética,
a realidade nos foi revelada: chegamos ao fundo. Mais para baixo não é possível.
Condição humana mais miserável não existe, não dá para imaginar. Nada mais é
nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos
escutarão – e, se nos escutarem, não nos compreenderão. Roubaram também o
nosso nome, e, se quisermos mantê-lo, deveremos encontrar dentro de nós a
força para tanto, para que, além do nome, sobre alguma coisa de nós, do que
éramos”. [...] Porque nos Campos perde-se o hábito da esperança e até a
confiança no próprio raciocínio. No Campo pensar não serve para nada, porque
os fatos acontecem, em geral, de maneira incompreensível: pensar é, também,
um mal porque conserva viva uma sensibilidade que é fonte de dor, enquanto
uma clemente lei natural embota essa sensibilidade quando o sofrimento passa de
certo limite” (LEVI, 1988, É isto um homem?, p. 24-25 e 172-173).
 Para Pablo Augusto Silva, em seu livro “O mundo como catástrofe e
representação: testemunho e trauma na literatura do sobrevivente”, o
autor dá uma definição de sobrevivente. Para o autor:
 “O sobrevivente é aquele que vivenciou uma catástrofe, um evento
traumático que deixa marcas em todos aqueles que passaram por uma
experiência como essa. O sobrevivente é alguém que viu tombar
semelhantes e inimigos; foi o único que conseguiu suportar a travessia.
Exposto à morte permaneceu vivo de um determinado holocausto (que
em grego significa destruição total pelo fogo). [...] E, por fim, a luta do
sobrevivente por um significado, por um sentido da realidade, quer
dizer, de uma necessidade de dar alguma coerência à experiência única
do trauma. E isso só é possível se conseguir dar significado ao absurdo
e ao indizível: a experiência da morte. A morte é algo presente na vida
do indivíduo tornado Sobrevivente”. (SILVA, 2010, p. 42,44).
Escrever é uma tarefa muito difícil, também é uma atitude face
à morte, escreve-se contra a morte. Há em mim uma parte
muito autodestrutiva, isso é muito claro e a ideia de suicídio
persegue-me sempre. Uma ideia que não sei por que existe
porque nunca tive depressões. Passei por situações de enorme
desespero, mas nunca caí em depressões ou em tristezas. Não
sei, É um pensamento que sempre me acompanhou. Uma
espécie de vontade de não ser. (BLANCO, 2002, p. 91).
De acordo com Seligmann-Silva:
“A solidão do sobrevivente é dor de descobrir-se em um
mundo em que tudo tem a mesma aparência, homens,
carros, médicos, caminhões, chuveiros, e não poder
entender como tudo isto se transfigurou em uma
gigantesca máquina de morte. É dor pela sensação de
absoluto isolamento em um mundo no qual seres
humanos – máxima semelhança – se tornaram assassinos
de um povo”. (2003, p. 136-137)
 O homem, presença no mundo, que mora na proximidade das coisas, é um ser capaz, por seus projetos, de sair de
si para ir na direção delas e imprimir-lhes a sua marca. Nesta ação transformante modela o mundo e plasma a si
mesmo. A temporalidade marca o ritmo da história deste movimento modelador. Existir no sentido forte do termo
(ex-sistere) é justamente exercer este movimento incessante de transcendência pelo qual o sujeito constrói
construindo o mundo. Uma presença antecipadora do futuro, que se move a partir de um passado que continua a
repercutir no presente. – Ou – como diz fortemente Merleau-Ponty – “cada presente reafirma a presença de todo o
passado que expulsa e antecipa a de todo o futuro. O presente, por definição, não se encerra em si mesmo e se
transcende na direção de um futuro e de um passado”. Tal é o sentido da temporalidade. (NOGUEIRA, Carlos
João, O inconsciente e a linguagem na compreensão do homem, 1976, p. 66).
 Para Nogueria (1976), “O inconsciente – diz Lacan – é esta parte do discurso concreto, enquanto transidividual, do
qual o sujeito não pode dispor para restabelecer a continuidade do discurso consciente”. Ou – para continuar na
companhia de Lacan – o inconsciente é como o capítulo em branco ou distorcido da história da minha existência
pessoal. E se é assim, é porque houve aí um trabalho de censura. Mas isto não para sempre. A verdade perdia pode
ser novamente recuperada, porque se acha inscrita em mim, no universo do meu corpo, que tem (que é) uma
linguagem embora possa ser apenas a linguagem de um sintoma doentio; porque está inscrita igualmente nas
lembranças de minha infância, no conteúdo do meu vocabulário pessoal, bem como no meu modo de ser e de me
comportar. [...] O inconsciente é, portanto, uma linguagem. Constitui uma cadeia de significantes que em algum
lugar – Freud dizia: “numa outra cena se repete” – se repete e vem interpolar-se nas lacunas do discurso
consciente. [...] Sendo linguagem, há que ter também um estatuto intersubjetivo. Como diz Lacan numa fórmula
célebre, ele é “o discurso do Outro”. (NOGUEIRA, 1976, p. 29-30).
 Em relação ao corpo, Nogueira, ele afirma:
 “O nosso corpo é, pois, o mediador da nossa presença no mundo e ao mesmo tempo um foco de significações. Por
ele, exteriorizamos o sentido que dorme nas coisas. Desse modo todas as significações que começam a brotar, num
maravilhoso surto, em toda parte por onde passamos, vão-se entrelaçando e unindo para projetar o horizonte
colossal do mundo. [...] Pelos múltiplos caminhos que retalham o nosso corpo vivido, circula uma linguagem
primeira quem antecedendo todo o discurso manifesto, o contamina e o mobiliza nas expressões mais diversas em
que se desenrola a sua dicção. É aqui o campo onde se desenvolve a dialética do sentido manifesto e do sentido
latente que anima o esforço de compreensão da psicanálise”. (NOGUEIRA,1978, p. 135).
 Para Tedesco, autor do livro “Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração: “A categoria
sociocultural da linguagem e a representação do tempo e do espaço são formas a priori nas quais os conteúdos das
memórias individuais se depositam. É por isso que os limites da linguagem denotam os limites do mundo, da
compreensão e expressão dos indivíduos. A través da linguagem é possível estabelecer relações com o mundo, é
possível comunicar experiências, fundar tradições comuns, subjetivar experiências, intercambiar e se apropriar de
símbolos e memórias coletivas”. (TEDESCO, J. Carlos. Passo Fundo: UPF: Caxias do Sul: EDUCS, 2004, p.
157).
 Para Maurice Halbwachs, em seu livro “Memória Coletiva”, É ao espaço, ao nosso espaço – o espaço que
ocupamos, por onde passamos muitas vezes, a que sempre temos acesso e que, de qualquer maneira, nossa
imaginação ou nosso pensamento a cada instante é capaz de reconstruir – que devemos voltar nossa atenção, é
nele que nosso pensamento tem de se fixar para que essa ou aquela categoria de lembrança apareça
(HALBWACHS, Maurice, p. 170).
Analisar as obra de António Lobo Antunes e Primo Levi é uma tarefa que nos faz ver o grau de
importância da literatura de testemunho, diante do pós-colonialismo, da ascensão de uma literatura
alicerçada num conjunto de memórias tecidas por signos traumáticos. A literatura, dessa forma, torna-se
um valioso instrumento de espaço de discussão sobre a violência e o trauma causado por essas guerras nas
vidas de seus partícipes. Os dois autores conseguem representar, por meio de suas obras duas guerras que
dizimaram milhões de africanos, portugueses e judeus. Precisou um grande derramamento de sangue na
história para que novos paradigmas surgissem, derrubando o sistema colonial e imperialista que , durante
muitos anos, escravizaram pro meio de um sistema de pensamento homogêneo e centralizador. Só depois
de uma longa batalha contra esse sistema colonial português e nazista, um novo homem nasceu, trazendo
consigo as marcas e cicatrizes de um passado (século XX) que continua ainda, no tempo presente, fazendo
várias vítimas, contaminados ainda pelos restos/resíduos do colonialismo. A experiência desses
sobreviventes (do Holocausto e da Guerra Colonial em Angola) reserva à literatura, fortes “ingredientes”
para a produção de uma vasta narrativa literária, ancorada na memória individual, coletiva e traumática.
REFERÊNCIAS

 ADORNO, Theodor W. Posições do narrador no romance contemporâneo. In: ______. Notas de Literatura I. Tradução de Jorge M. B. de Andrade. São Paulo: Duas Cidades/ Editora 34, 2003.

 ANTELO, Raúl. Potências da imagem. Chapecó: Argos, 2004.

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