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“No meio de tantas perdas, uma coisa permaneceu acessível, próxima e salva – a língua, permaneceu a
salvo. Mas depois de atravessar o seu próprio vazio de respostas, o terrível emudecimento, mil trevas
de um discurso letal. Ela fez a travessia e não gastou uma palavra com o que aconteceu, mas travessou
esses acontecimentos. Fez a travessia e pôde reemergir “enriquecida” com tudo isso” (CELAN, 1996,
p. 33).
Os sujeitos afetados pelo trauma são conduzidos por um processo dessubjetivante. A desconstrução nos leva a pensar
com outra “mente”, desligada de seu fixo discurso sobre a vida e o mundo, apoiada em sentidos dispersos,
fragmentados e descentrados, gerando o que podemos chamar de crise de sentidos, que tem a ver com a crise da
representação, da identidade e dos valores culturais. Nesse sentido, podemos constatar, por meio da leitura e análise
das obras de Lobo Antunes e de Primo Levi que elas absorvem uma dimensão autobiográfica relevante para reavaliar
o conhecimento em torno da vida e do saber/poder, oriundo do pensamento cartesiano. São escritas que refletem de
forma crítica e desconstrutivista os sentimentos, valores e formações ideológico-discursivas que antes serviam de eixo
norteador para a sociedade e, respectivamente, para os escritores que, durante o acontecimento traumático não
conseguiam entender com exatidão o que estava realmente acontecendo. Só depois, por meio da linguagem, que
estava “muda” e silenciosa na época do acontecimento, emerge com uma potencialidade capaz de “destravar” o
trauma que residia silenciosamente no interior dos sobreviventes escritores, contrariando, de certa forma, o que
pensou Adorno ao afirmar que após o holocausto é impossível fazer poesia. O que temos visto é uma enxurrada de
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