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A morte e a ressurreição de

Jesus

Cristianismo e Cultura
Universidade Católica Portuguesa
«Só o amor é credível, nada mais do que o amor pode e deve ser crido. A
realização, a “obra” da fé, consiste em reconhecer esta prioridade absoluta do
amor, por nada alcançável e acessível. Crer que o amor, o amor absoluto existe – e
tal como realidade última, sem nada mais além. Crer contra toda a plausibilidade
da experiência da existência (credere contra fidem, tal como sperare contra spem),
contra todo o conceito de Deus elaborado pela razão, que pode pelo pensamento
chegar à impassibilidade e, no melhor dos casos, a uma bondade totalmente
purificada, mas de forma alguma a este contra-senso inconcebível. A primeira coisa
que, na fé dos cristãos, deveria surpreender um não-cristão é que eles, de um
modo visível, arriscam demasiado. É demasiado belo para ser verdadeiro: o
mistério do Ser desvelado como Amor absoluto que se rebaixa até lavar os pés e
também as almas das suas criaturas, e que toma sobre si toda a infâmia da culpa,
todo o ódio que se encarniça contra Deus, toda a acusação que contra Ele se
desencadeia, toda a descrença que cobre a sua manifestação com um véu de
escárnios, todo o desprezo que prega definitivamente à cruz a sua descida
inconcebível, e tudo para desculpar a sua criatura perante si e o mundo inteiro.
É realmente demasiado bom; nada no mundo justifica semelhante metafísica, e
muito menos ainda este sinal particular, atestado de modo demasiado fraco no
plano histórico, dificilmente decifrável, de “Jesus de Nazaré”. Construir um edifício
tão esplendoroso sobre um fundamento tão frágil é ultrapassar todo o limite da
razão.»

«Na sua realidade íntima, o amor só pelo amor é conhecido. Para que o amor
desinteressado de um amante possa por um amado egoísta ser compreendido (não
só como algo de proveitoso entre outros bens, melhor do que outros, mas como
aquilo que é), deve no último haver um pressentimento, um começo de amor.
Assim também o contemplador de uma grande obra de arte precisa de um dom –
inato ou adquirido pelo exercício – para nela perceber os valores de beleza, que a
distinguem da arte menor ou do kitsch.»
Hans Urs von Balthasar – Só o amor é digno de fé. Assírio & Alvim, 2008, p. 71. 91.
«O amor constitui imortalidade e a imortalidade provém exclusivamente do amor.
Este enunciado que acabamos de proferir significa também que Aquele que amou
por todos constitui também a imortalidade para todos.»
Joseph Ratzinger – Introdução ao cristianismo. 2.ª Edição. Cascais: Principia, 2006, p. 222.

«O amor constitui imortalidade e a imortalidade provém exclusivamente do amor.


Este enunciado que acabamos de proferir significa também que Aquele que amou
por todos constitui também a imortalidade para todos.»
F. X. Durwell – Pai Deus em seu mistério, p. 120.
«A doçura do ar me faz sonhar com o que foi e o que seria se tu lá estivesses lá. Eu
sei que esse devaneio é apenas uma incapacidade de viver o presente. Deixo-me
levar por essa corrente sem olhar demasiado longe ou demasiado profundamente.
Aguardo o momento em que recuperarei a força. Ele virá. Eu sei que a vida me
apaixona ainda. Quero me salvar, não livrar-me de ti. (…)
Eu amei-te demasiado para aceitar que o teu corpo desaparecesse e para
proclamar que a tua alma é suficiente e que vive. E então como fazer para os
separar, para dizer: isto é o teu corpo e isto é a tua alma? O teu sorriso e o teu
olhar, o teu andar e a tua voz eram matéria ou espírito? Ambos, mas
inseparáveis.»
Anne Philipe – Le temps d'un soupir. Paris: Julliard, 1963, p. 120.
«Quantas vezes, no ponto de morrer, alegres se mostram os homens? É o clarão da
despedida, dizem quantos o doente estão velando. Oh! Poderei chamar clarão a esta
hora? Ó meu amor! Querida esposa! A morte que sugou todo o mel do teu doce hálito
poder não teve na tua formosura. Não, conquistada ainda não foste; a insígnia da beleza
nos teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido
pendão da morte. […] Ah! Querida esposa, por que ainda és tão formosa? Devo pensar
que a morte insubstancial se apaixonasse de ti e que esse monstro magro e horrível te
conserva para amante nas trevas? Com medo disso, ficarei contigo, sem nunca mais
deixar os aposentos da tenebrosa noite; aqui desejo permanecer, com os vermes, teus
criados. Aqui, sim, aqui mesmo quero fixar meu eterno repouso, e desta carne lassa do
mundo sacudir o jugo das estrelas funestas. Olhos, vede mais uma vez; é a última. Um
abraço permiti-vos também, ó braços! Lábios, que sois a porta do hálito, com um beijo
legítimo selai este contrato sempiterno com a morte exorbitante. Vem, condutor amargo!
Vem, meu guia de gosto repugnante! Ó tu, piloto desesperado! Lança de um só golpe
contra a rocha escarpada o teu barquinho tão cansado da viagem trabalhosa.»
William Shakespeare – Romeu e Julieta.
Ato V, Cena III. 1592.
«O tempo pascal mostra incontrovertivelmente que para se poder ser cristão, isto é,
digno seguidor de Cristo, não se pode ser cobarde. Não por causa das pobres emoções de
nível psicológico que os pormenores grosseiros associados à maldade humana expostos
na fase mais dolorosa da Paixão mostram, mas porque, para se ser digno seguidor de
Cristo, é necessário, como ele, obedecer, até à morte, ao mandamento do amor.
Ora, o amor, como perene ato em favor do bem do que nos transcende e de nós próprios,
assim transcendendo o nosso egoísmo, que nos arrasta para a bestialidade, implica
coragem, determinação, capacidade e atualidade de possível padecimento. Implica ser
capaz de, como Cristo, beber o cálice da amargura até ao fim, no mais incompreensível
abandono, sem qualquer voz que nos aconselhe, mesmo a do Pai, sem qualquer colo que
nos conforte, mesmo o da Mãe.»

Américo Pereira – Razões da fé: acreditar e refletir. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2019.
«Quem esticou a sua existência de tal maneira que está a um só tempo mergulhado
em Deus e mergulhado nas profundezas da criatura abandonada por Deus, esse
não tem como evitar o dilaceramento, esse é realmente “crucificado”. […] O
crucificado oferece ao ser humano o espelho em que ele pode ver-se tal como é.
Mas a cruz não revela apenas quem é o ser humano, revela também como é Deus:
Deus é assim, identifica-se com o ser humano até nas profundezas do seu abismo, e
julga-o salvando-o. No abismo do fracasso, revela-se o abismo ainda mais profundo
do amor divino. Assim, a cruz é o verdadeiro centro da revelação, de uma revelação
que não desvenda enunciados até então desconhecidos, mas sim nós mesmos,
porque nos revela diante de Deus revelando Deus no meio de nós.»

Joseph Ratzinger – A introdução ao cristianismo. 2.ª edição. Cascais: Principia, 2006, p. 211. 213.
Londres, final do séc. XIV
Painel de alabastro
«Não é a morte o que atrai Jesus, porque ela nada tem de atraente nem para Jesus
nem para Deus. A vida verdadeira é que atrai Jesus, ainda que para alcançá-la seja
preciso deixar-se matar. Atrai Jesus a rejeição do poder e das suas mentiras, ainda
que para persistir nesta sua atitude ele próprio tenha que ser a primeira vítima do
poder. A vontade de revelar Deus misericordioso é que atrai Jesus, ainda que para o
revelar até às últimas consequências tenha de ser sacrificado por aqueles que
obtêm o poder e o benefício do falso deus dos sacrifícios. Atrai, enfim, Jesus, é o
desejo de libertar os pequenos, ainda que, para enfrentar os seus errados desejos
de poder, tenha de ser entregue à violência dos grandes, que não têm qualquer
intenção de perder nem de modificar o seu poder.»

François Varone – El Dios «sádico». ¿Ama Dios el sufrimiento?. Santander: Sal Terrae, 1988, p. 235.
Ghislaine Howard – The Empty Tomb
Exposição na catedral anglicana de Liverpool (2008)
Timothy Schmalz – Jesus Homeless
Escultura original em bronze (2012)
Timothy Schmalz – When You Visited Me (Jesus in Prison), Escultura em bronze Timothy Schmalz – Whatsoever ye do, Escultura em bronze (2012)
Jacob Epstein – The Risen Christ, 1917
National Galleries Scotland
Agostino Arrivabene – Anastasis
2011
Kintera Kristof – Ressurreição
Exposição na Estação de Nice
(França)
Emile Bernard – Ressurrection
Museu do Vaticano
Pericle Fazzini – Ressurreição
Escultura em bronze vermelho (1970-1977), auditório Paulo VI
(Vaticano)
Janet Brooks Gerloff – Unterwegs
nach Emmaus
Kornelimünster/Walheim (Stadt
Aachen, Nordrhein-Westfalen), 1992

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