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Trabalho do adolescente – não da criança

• A primeira consideração a fazer é que a criança (pessoa que ainda


não completou 12 anos) não pode trabalhar.

• O adolescente pode trabalhar em determinadas condições.


 
IMPORTANTE: Idade mínima para trabalho

• O trabalho é possível para quem conta com 14 anos de idade na


condição de aprendiz.

• A partir de 16 anos, o adolescente pode trabalhar como


empregado regular, mas não pode executar trabalho noturno,
perigoso ou insalubre.

• A partir dos 18 anos pode exercer qualquer tipo de trabalho.


Direitos trabalhistas e previdenciários

• A condição de aprendiz do adolescente não lhe subtrai os direitos


trabalhistas e previdenciários.
 

Conceito de trabalho educativo e remuneração

• A remuneração percebida pelo adolescente não descaracteriza o


caráter educativo de atividade laboral, em que as exigências
pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do
educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
Transmissão de TV durante o horário de verão – posição do STJ

• O art. 76 do ECA determina que as emissoras de rádio e televisão


devem exibir programas para o público infanto-juvenil de acordo
com o horário recomendado.

• Esse dispositivo está regulamentado pela Portaria 1.220/2007 do


Ministério da Justiça.

• A Corte entendeu que a modificação do horário de verão não


permite que as emissoras de televisão deixem de cumprir aquilo
que foi determinado pela Portaria.
 
Proibição de ingresso e permanência em ambientes perniciosos

• O art. 80 proíbe a entrada e permanência de crianças e


adolescente em estabelecimentos que explorem bilhar, sinuca e
jogos em geral.

• A proibição é absoluta, o menor não pode ficar nesses lugares,


ainda que o pai ou o responsável acompanhe.
 
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:

I - armas, munições e explosivos;

II - bebidas alcoólicas;

III - produtos cujos componentes possam causar dependência física


ou psíquica ainda que por utilização indevida;

IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu


reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico
em caso de utilização indevida;

V - revistas e publicações a que alude o art. 78;

VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.


Produtos e serviços proibidos a crianças e adolescentes

• O artigo 81 apresenta um rol de itens que não podem ser vendidos


a crianças e adolescentes.

• Vale destacar a proibição de venda de bilhetes lotéricos e


equivalentes (inciso VI), buscando afastar crianças e adolescentes
de jogos de azar.

• Por “equivalentes”, termo utilizado no referido inciso do art. 81,


entendem-se “raspadinha”, “tele-sena” e etc.

• Não há exceção se o jogo lotérico é federal, estadual ou municipal.


A vedação inclui qualquer criança ou adolescente.
 
• A venda desses produtos traz consequência dentro e fora do ECA.

• Um exemplo é a venda de armas e munições a criança e ao


adolescente, que consta como crime no art. 242 do ECA.

• No entanto, a conduta hoje está tipificada no Estatuto do


desarmamento, e, se tratando de lei posterior, entende o autor
que revogou-se tacitamente o art. 242 do ECA.
ATENÇÃO: Venda de bebida alcoólica
Hospedagem de criança ou adolescente – infração administrativa

• O objetivo da norma que veda a hospedagem de criança ou


adolescente é claramente o combate a prostituição infantil e
exploração sexual, crimes previstos no art. 244-A do ECA.

• Ainda que não haja o fim sexual criminoso, a hospedagem da


criança ou adolescente sem autorização ou desacompanhada
incide em infração administrativa, prevista no art. 250
AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR
Observações importantes:
 
 A comprovação que a criança ou adolescente tem residência no exterior se dá
por documento emitido por repartição consular brasileira, há menos de 02 anos,
sem o que se aplicam as regras dos residentes no Brasil.
 Saída do Brasil em companhia de estrangeiro demanda autorização judicial,
exceto: (i) se se tratar do pai; (ii) se a criança ou o adolescente não for
brasileiras;
 Supre o reconhecimento de firma na autorização se esta for emitida na
presença da autoridade consular brasileira, que deve também assinar o
documento;
 A comprovação de que um dos genitores é falecido se faz pela apresentação da
certidão de óbito;
 Não se exige autorização de pais cujo poder familiar foi destituído ou
suspenso, desde que essa circunstância conste expressamente da certidão de
nascimento da criança ou adolescente;
 Autorização pode ser dada pelo guardião lega ou tutor nomeado
judicialmente;
 As autorização de viagem não incluem a autorização para fixação de residência
no exterior, salvo previsão expressa nesse sentido;
 No momento da expedição do passaporte, pode apresentar-se a autorização de
que esta conste do próprio documento.
Autorização para viagem e Dano Moral – posição do STJ

• O STJ apreciou caso em que pai e filha pleiteavam da companhia


aérea reparação por danos morais, ao argumento de que foram
impedidos de realizar vôo internacional por faltar à autorização
de viagem concedida pela mãe o reconhecimento público da
firma.

• A Corte entendeu não há dano moral na espécie, porque a


companhia aérea apenas aplicou o disposto no art. 84, inciso II do
ECA.
Das Medidas de Proteção

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são


aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
 
• Medidas de proteção aplicáveis a crianças e adolescente em
situação de risco.

• A verificação da existência dessa situação é importante por duas


razões:
(i) aplicação de medidas específicas de proteção;
(ii) fixação da competência do Juízo da Vara da Infância e
Juventude.
Situação de risco e fixação de competência

• Situação de risco se trata de hipótese em que os direitos da


criança ou adolescente estão ameaçados ou foram violados.

• O objetivo das medidas de proteção, naturalmente, é sanar a


violação do direito ou impedir que tal ocorra.

• Ao criar esse parâmetro de fixação de competência, o Estatuto


delimita as hipóteses que serão analisadas pelo Juízo da infância
e Juventude, não obstante algumas serem tipicamente vistas
como demandas cuja competência é da vara de família.

• Em outras palavras, tais demandas em geral são de competência


da vara de família; se, porém, estiver caracterizada situação de
risco, então a competência é da justiça da Infância e Juventude.
Agentes

• O art. 98 elenca os agentes responsáveis pelas lesões ou


ameaças de lesões aos direitos da criança e adolescente.

• São eles:
-> a sociedade
-> o Estado
-> os pais
-> o responsável
-> a própria criança ou adolescente
Rol de princípios: A lei 12.010/2009 inseriu o parágrafo único ao art.
100 para elencar 12 princípios pertinentes à aplicação à aplicação das
medidas de proteção, são eles:
Medidas específicas de proteção

• O Estatuto traz um rol de medidas especificas de proteção no art.


101.

• Como deixa clara a redação do caput desse dispositivo, trata-se de


elenco meramente exemplificativo.

• O cumprimento das medidas é feito pelo Conselho Tutelar (art.


136, inciso I).
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as
seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de
ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à
criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em
regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional; 
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; 
IX - colocação em família substituta. 
Proteção à vítima de abuso sexual

• Só a autoridade judiciária poderá determinar o afastamento do


menor do seio de sua família em caso de abuso sexual.

• O procedimento judicial contencioso será deflagrado pelo MP ou


por legítimo interessado (art. 101, §2°).

Plano Individual de Atendimento

• Quando o jovem é encaminhado a programa de acolhimento


institucional ou familiar, deve ser estabelecido um plano de
atendimento à sua situação peculiar, a ser elaborado pela equipe
técnica do programa.

• A opinião da criança ou adolescente, de acordo com a sua


capacidade de discernimento, e dos pais deve ser levada em
consideração.
Reintegração à Família

• O acolhimento deve ser realizado em local próximo da residência


dos pais ou responsável, para permitir e estimular o contato da
criança ou adolescente abrigado.

• Além disso, dentro da ideia de se “trabalhar a família”, pais,


responsáveis e irmãos devem ser incluídos em programas oficiais
de orientação, apoio e promoção social.

• Somente se forem frustradas as tentativas de melhoria de


condições de toda a família através dos programas oficiais, ou
seja, somente depois de esgotadas as possibilidades de
reintegração familiar, o programa de acolhimento deve
encaminhar relatório ao MP para que este tome as providências
referentes à destituição do poder familiar, da tutela ou da
guarda.
Cadastro de Crianças e adolescentes em programa de acolhimento

• É obrigação da Justiça da Infância e Juventude criar e manter


cadastro de atualizado das crianças e adolescentes em
programas de acolhimento institucional e familiar, ao qual terão
acesso o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da
Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da
Criança e do Adolescente e da Assistência Social.

• Não se entende por que não consta a Defensoria Pública neste


rol. Afinal, a imensa maioria das famílias envolvidas com
programas de acolhimento é pobre, hipossuficiente.

• Se a missão constitucional da Defensoria Pública é prestar


assistência jurídica ao hipossuficiente, é certo que deve atuar
junto aos demais órgãos já citados na promoção e implementação
desses programas.
Medida de proteção e regularização de registro civil

• No bojo da aplicação das medias de proteção será feita a


regularização do registro civil.

• É gratuito os serviços referentes à regularização do registro de


nascimento da criança ou adolescente. Trata-se de disposição em
consonância com o art. 5°, inciso LXXVI, alínea “a”, CF. O §3°
determina que se intente a ação de investigação de paternidade.
 
IMPORTANTE: Medida de proteção X mediada socioeducativa:
 
Ato infracional

• Crime é ato típico, antijurídico e culpável. Essa é a definição


majoritária da doutrina.

• Um dos elementos que compõem a culpabilidade é a


imputabilidade, ou seja, uma pessoa inimputável não comete
crime.

• O menor de 18 anos é inimputável e está sujeito à legislação


especial (ECA).

• Daí se extrai que a criança ou adolescente não pratica delito, mas


sim ato infracional análogo (ou equiparado) a crime ou
contravenção.

• Para se verificar se foi praticado crime ou ato infracional, deve-se


observar a idade da pessoa à data do fato.
• Acerca do tempo em que o ato é praticado, o CP e o ECA adotam o
mesmo princípio, o da atividade (momento da ação ou omissão).

• Dessa forma, se o adolescente, na véspera de completar 18 anos,


atira na vítima, que fica agonizando no hospital e falece dias
depois, quando o adolescente completara a maioridade, ser-lhe-á
aplicado o ECA, pois a ação (atirar) foi praticada quando era
inimputável.

• Ainda que o adolescente complete 18 anos no dia seguinte à


pratica do ato infracional, sua conduta será apurada com base no
ECA, que é aplicável também a que já completou a maioridade,
conforme frisado no início do livro (art. 2°, § único).
IMPORTANTE: Criança também pode praticar ato infracional, mas são
aplicáveis a ela apenas medidas de proteção (sem qualquer caráter
punitivo), nunca medida sócio-educativa.

Ao adolescente que pratica ato infracional podem ser aplicadas medida


sócio-educativas e medidas de proteção.

Medidas de proteção e medida socioeducativa não se confundem.

A medida de proteção é aplicável a criança ou adolescente, sempre que


verificada hipótese de lesão ou ameaça de lesão aos seus direitos. Estão
previstas no art. 101, em rol exemplificativo.

Por sua vez, medida socioeducativa é aplicável ao adolescente que


pratica ato infracional análogo a crime ou contravenção. Suas
modalidades estão previstas nos incisos I a VI, do art. 112, cujo rol é
taxativo (numerus clausus). O rol das medidas de proteção é
exemplificativo, enquanto o rol de medidas sócio-educativas é taxativo.
Proposta de Emenda à Constituição 171/93

• A Proposta reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos nos casos de crimes


hediondos – como estupro e latrocínio – e também para homicídio doloso e
lesão corporal seguida de morte.

• Em julho, a proposta foi aprovada em 1º turno com o voto favorável de 323


deputados e 155 votos contra.

• Em agosto, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou em 2º turno. A


proposta obteve 320 votos a favor e 152 contra.

• A matéria será enviada ao Senado.

• Essa emenda excluiu da proposta inicialmente rejeitada pelo Plenário os crimes


de tráfico de drogas, tortura, terrorismo, lesão corporal grave e roubo
qualificado entre aqueles que justificariam a redução da maioridade.

• Pela emenda aprovada, os jovens de 16 e 17 anos deverão cumprir a pena em


estabelecimento separado dos adolescentes que cumprem medidas
socioeducativas e dos maiores de 18 anos.
Dos Direitos Individuais
 

• Direitos individuais do adolescente que comete ato infracional.

• O rol de direitos do adolescente estão espalhados pelo ECA,


inclusive alguns que não encontram correspondência com o
direito dos presos, como, por exemplo:
-> art. 178: garante ao adolescente o direito de não ser conduzido
ou transportado em compartimento fechado de veículo policial
-> art. 185: veda o cumprimento de internação em
estabelecimento prisional.
 
• Termos jurídicos próprios do estatuto: A linguagem jurídica
utilizada pelo Estatuto é peculiar e diversa daquela contida nas leis
penais. Seguem as diferenças:
Privação da liberdade

• A exceção ao direito de liberdade do adolescente está prevista no


art. 106 do Estatuto – que tem redação análoga ao inciso LXI, art.
5°, da Constituição, que determina que:

“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita


e fundamentada de autoridade judiciária competente, [...]”.

Assim, tem-se que há duas hipóteses legitimas de privação de


liberdade:
1) o flagrante e
2) a ordem judiciária.
 
Flagrante de ato infracional: Aplicam-se os conceitos de flagrante do
art. 302 do CPP:
 
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Ordem da autoridade judiciária

• A outra hipótese que permite a privação de liberdade do


adolescente é a ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente.

• Para que seja determinada a apreensão provisória do adolescente,


a decisão deve se fundar em 03 requisitos, elencado no parágrafo
único do art. 108:
(i) indício suficiente de autoria,
(ii) materialidade; e
(iii) imperiosa necessidade da medida. A gravidade em abstrato do
ato infracional não é motivação idônea para fundamentar o
decreto de apreensão provisório do adolescente.
 
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em
abstrato do crime não constitui motivação idônea para imposição de
regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
ATENÇÃO: Importante destacar que o adolescente apreendido em
razão de ordem judicial deve ser apresentado à autoridade judiciária
(art. 171), ao passo em que aquele apreendido em decorrência de
flagrante de ato infracional é encaminhado à autoridade policial (art.
172).
 
• Identificação dos responsáveis pela apreensão: "o preso será
informado dos seus direitos” e “o preso tem direito à identificação
dos responsáveis por sua prisão” (garantias do art. 5, incisos LXIII e
LXIV)
 
• Comunicação à família: Trata-se do direito fundamental previsto
no CF para o preso, no art. 5°, inciso LXII: “a prisão de qualquer
pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada’.
• Liberação imediata:

O adolescente pode ser liberado quando sua apreensão tiver sido


ilegal (ex: ordem de autoridade incompetente),

OU

quando, apreendido em flagrante de ato infracional, possa ser


reintegrado imediatamente a família (art. 174).

-> O adolescente não está submetido ao pagamento de fiança.


Internação provisória

• Uma vez apreendido, deve-se verificar a possibilidade de sua


liberação imediata (art. 107, § único e art. 174).

• Não sendo liberado, o adolescente permanece internado durante o


processo de apuração do ato infracional que lhe foi atribuído.

• O prazo máximo de internação provisória a que o adolescente está


submetido é de 45 dias, conforme determinam os artigos 108 e
183.

• Decorrido esse prazo sem que o processo tenha chegado ao fim, ao


adolescente deve ser posto imediatamente em liberdade

• Sua não-liberação nessa situação acarreta constrangimento ilegal,


sanável por HC.
IMPORTANTE:

Improrrogabilidade do prazo de internação provisória – posição do


STJ e do STF:

• O prazo de internação provisória do adolescente é improrrogável,


independentemente da fase em que se encontrar o processo de
apuração de ato infracional.

• Quando se trata de adolescente infrator, devido às peculiaridades


do estatuto, afasta-se a Súmula 52 do STJ (Encerrada a instrução,
fica superada a alegação de constrangimento por excesso de
prazo).
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido
a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e
judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida
fundada.
 
• Identificação compulsória: Trata-se de direito previsto na CF (art.
5°, LVIII).

• Há lei especifica para a matéria, que disciplina a identificação


criminal (Lei n° 10.054/00).
 

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