-POR QUE VOCÊ ACHA QUE ESTAMOS NESTE MUNDO, SUSANITA? -PRA DIZER A VERDADE, NÃO SEI... - SÓ LEMBRO QUE A CEGONHA ME TROUXE. DECOLOU DE ORLY ÀS 17:22, HORA DE PARIS, É CLARO. DEPOIS FIZEMOS UMA ESCALA EM DAKAR, OUTRA NO RIO, ONDE TROCARAM UMA PENA QUE NÃO ESTAVA BOA E, FINALMENTE, ELA ME DEIXOU AQUI, MAS NÃO ME LEMBREI DE PERGUNTAR PRA QUE ELA ME TROUXE. MINHA PRIMEIRA PROFESSORA
A primeira presença em meu aprendizado escolar que me causou impacto, e causa
até hoje, foi uma jovem professorinha. É claro que eu uso esse termo, professorinha, com muito afeto. Chamava-se Eunice Vasconcelos (1909-1977), e foi com ela que eu aprendi a fazer o que ela chamava de "sentenças". Eu já sabia ler e escrever quando cheguei à escolinha particular de Eunice, aos 6 anos. Era, portanto, a década de 20. Eu havia sido alfabetizado em casa, por minha mãe e meu pai, durante uma infância marcada por dificuldades financeiras, mas também por muita harmonia familiar. Minha alfabetização não me foi nada enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de terra do quintal. Não houve ruptura alguma entre o novo mundo que era a escolinha de Eunice e o mundo das minhas primeiras experiências - o de minha velha casa do Recife, onde nasci, com suas salas, seu terraço, seu quintal cheio de árvores frondosas. A minha alegria de viver, que me marca até hoje, se transferia de casa para a escola, ainda que cada uma tivesse suas características especiais. Isso porque a escola de Eunice não me amedrontava, não tolhia minha curiosidade. Quando Eunice me ensinou era uma meninota, uma jovenzinha de seus 16, 17 anos. Sem que eu ainda percebesse, ela me fez o primeiro chamamento com relação a uma indiscutível amorosidade que eu tenho hoje, e desde há muito tempo, pelos problemas da linguagem e particularmente os da linguagem brasileira, a chamada língua portuguesa no Brasil. Ela com certeza não me disse, mas é como se tivesse dito a mim, ainda criança pequena: "Paulo, repara bem como é bonita a maneira que a gente tem de falar!..." É como se ela me tivesse chamado. Eu me entregava com prazer à tarefa de "formar sentenças". Era assim que ela costumava dizer. Eunice me pedia que colocasse numa folha de papel tantas palavras quantas eu conhecesse. Eu ia dando forma às sentenças com essas palavras que eu escolhia e escrevia. Então, Eunice debatia comigo o sentido, a significação de cada uma. Fui criando naturalmente uma intimidade e um gosto com as ocorrências da língua - os verbos, seus modos, seus tempos... A professorinha só intervinha quando eu me via em dificuldade, mas nunca teve a preocupação de me fazer decorar regras gramaticais. Mais tarde ficamos amigos. Mantive um contato próximo com ela, sua família, sua irmã Débora, até o golpe de 1964. Eu fui para o exílio e, de lá, me correspondia com Eunice. Tenho impressão de que durante dois anos ou três mandei cartas para ela. Eunice ficava muito contente. Não se casou. Talvez isso tenha alguma relação com a abnegação, a amorosidade que a gente tem pela docência. E talvez ela tenha agido um pouco como eu: ao fazer a docência o meio da minha vida, eu termino transformando a docência no fim da minha vida. Eunice foi professora do Estado, se aposentou, levou uma vida bem normal. Depois morreu, em 1977, eu ainda no exílio. Hoje, a presença dela são saudades, são lembranças vivas. Me faz até lembrar daquela música antiga, do Ataulfo Alves: "Ai, que saudade da professorinha, que me ensinou o bê-á-bá' (Paulo Freire, publicado pela Revista Nova Escola em dezembro de 1994). http://ccmc1ano.blogspot.com.br/2012/05/relato-pessoal.html Situação comunicativa PRODUTOR DO TEXTO Uma pessoa – ou um grupo - que relata fatos vivenciados por ela (individualmente ou não), a fim de compartilhar experiências ou para organizar registros que organizem a memória de aspectos da vida relacionados com situações específicas, tempos e temas determinados. INTERLOCUTOR Leitores que se interessarem pelo compartilhamento das experiências em questão. PORTADORES POSSÍVEIS Livros, revistas, blogs, diários, memoriais, dossiês. FINALIDADE Construir uma memória escrita de situações vivenciadas, compartilhando experiências vividas. Conteúdo temático Situações vivenciadas por uma pessoa (individualmente ou não), relacionadas com períodos específicos da sua vida (infância, adolescência, férias na escola, segundo ano de escolaridade...), espaços determinados (acontecimentos ocorridos no sítio, tempo de residência no interior, tempo vivido na cidade grande, tempo de vida num apartamento), temas pontuais (travessuras, situações engraçadas, situações tristes, momentos de medo, demonstrações de amizade, situações de bullling, p. e.). Narrado em 1ª ou 3ª pessoa. Narra fatos reais vividos ou presenciados. Apresenta os elementos básicos da narrativa. Os temas são cotidianos. Retrata com fidelidade o fato acontecido. Traz marcações de tempo (começo, meio e fim de uma ação passada). Enfoque nas ações. Personagens, tempo e espaço sem muito enfoque. Não há conflito, muito menos clímax. Deve-se evitar o emocional extremo. Durante dois anos, Cibele tentou de tudo, desde regimes mirabolantes até as famosas bolinhas (anfetaminas). Nada adiantou. Pelo contrário, além de gorda, estava anêmica. Nessa época, ela encontrou uma amiga que a mostrou sobre nutrição celular de Herbalife. Ela então comprou o programa e começou a fazê-lo rigidamente. De acordo com a moça, tudo mudou. Ganhou energia, a pele ficou mais bonita e o seu intestino passou a funcionar regularmente. Antigamente, ficava cinco dias sem ir ao banheiro. Para acelerar o processo, a dona de casa ainda comprou uma estação completa de musculação e, duas vezes por semana, investe pesado em uma hora de exercícios. Então, a dona de casa, Cibele, 34 anos, enxugou 25 kg em seis meses e ganhou o título “Mãe Fitness” nas comemorações deste ano na escola dos filhos. Ela está ou não está com tudo? Organização interna Contextualização inicial do relato, identificando tema/espaço/período. Identificação (implicar) do relator como sujeito das ações relatadas e experiências vivenciadas. Referência à(s) ação(ões)/situação(ões) que será(ão) relatada(s). Apresentação das ações seqüenciando-as temporalmente, estabelecendo relação com o tema/espaço/período focalizado no texto, explicitando sensações, sentimentos, emoções provocados pelas experiências. Nesse processo poderá ou não ser estabelecida relação de causalidade entre as ações/fatos relatados, pois se trata de ações acontecidas no domínio do real e, dessa maneira, o que define a relação de causalidade são os fatos, em si, ou a perspectiva/compreensão do relator. Encerramento, pontuando os sentimentos, efeitos, repercussões das ações relatadas na vida do relator e dos envolvidos. Marcas linguísticas Relato de experiência vivida é organizado na primeira pessoa, seja do singular ou do plural. Essa marca de autoria se revela na pessoa do verbo e, além disso, nos pronomes pessoais utilizados. Por exemplo: Lembro-me bem da maneira como ele me falou; A partir de então, todos nós passamos a não mais ir pra escola por aquele caminho; Eu, Juca e Mariela, a partir daquele momento, nos coçamos de curiosidade...; Desde então nos sentimos responsáveis por tudo o que...; O relato rememora experiências. Dessa forma, na textualização sempre haverá marcas desse processo por meio da alternância entre hoje e ontem, aqui e lá: Hoje, quando penso na maneira como tudo aconteceu...; Naquela época, quando estudava na escola D. João VI, eu não pensava como agora, certo? Como se trata de ações organizadas no eixo temporal, essas marcas também serão explicitadas por meio dos tempos verbais utilizados e dos articuladores textuais: Depois daquele dia...; Em seguida, MAriela saiu correndo pela praça...; Naquela semana não dissemos uma palavra sobre o assunto; Dois dias depois para nossa surpresa, o casaco apareceu bem diante de nossos olhos. Como se trata de experiência pessoal, sempre haverá a marca das sensações, efeitos, repercussões da experiência no sujeito relator: fiquei surpreso naquele...; decepcionei-me com...; fiquei confuso com a reação de...; aquela situação provocou-me uma reflexão sem precedentes..., por exemplo. Contextualiza, inicialmente, a(s) experiência(s) que será(ão) relatada(s). Elabora o relato em 1ª pessoa do discurso – seja do plural ou do singular -, revelando-se como autor e sujeito da experiência vivida. Apresenta as ações sequenciando-as temporalmente, de maneira coerente. Indica os efeitos das ações relatadas e/ou as emoções que estas provocaram no relator, por meio de expressões que as caracterizam. Encerra o relato, pontuando os sentimentos, efeitos, repercussões das ações relatadas na vida do relator e dos envolvidos. Articula adequadamente as referências ao hoje e ao ontem, indicando- as com clareza. O relato é o gênero textual que tem por objetivo apresentar uma sequência de fatos vivenciados, segundo uma ordem cronológica, em um determinado espaço, por pessoas ou personagens. A partir das informações contidas na coletânea composta pelos textos 1, 2 e 3, escreva o relato de um fato (uma situação) que você presenciou ou vivenciou, em que fiquem evidentes as relações entre os seres humanos e os animais de estimação, com no máximo 15 linhas. (PAS 2010)
Após a leitura do texto O dia em que a web parou, coloque-se no
lugar da personagem que teve o sonho e escreva um relato, com no máximo 15 linhas, sobre o que aconteceu nesse sonho. (PAS 2010) Como repórter, redija um RELATO, a partir da leitura do texto 1, com até 15 linhas, que fará parte da reportagem da Folha de S.Paulo sobre ensino a distância, no qual você exponha como Renato realizou seu curso de graduação nessa modalidade de ensino. (EAD INVERNO 2009)
Como repórter, redija um relato, com até 15 linhas, que
fará parte da reportagem da revista Veja sobre a “nova lei antipalmada”, no qual se exemplifique uma experiência sobre o tema. (VERÃO 2010) Exemplo 1 Lembro-me de uma saraiva de cintadas aos oito anos. Era a primeira semana de aula depois das férias. Eu e Jorge estávamos lamentando a estréia de um novo anime na tevê que estava sendo exibido no horário de aula. Gostávamos muito de desenho animado. Foi então que tive uma ideia - nada parecido com fingir estar doente. Fui mais imediato, coisa de criança. Iriamos fugir. O portão era de fácil acesso no intervalo, sendo apenas cruzar o pátio sem ser visto. Além de que, para nossa sorte, não ficava trancado. Então fomos ao ataque. Puxamos o trinco e saímos. Ninguém nos viu. Até chegarmos em casa. Minha mãe estava lá, eu sabia, mas não tinha consciência que ficaria brava. Isso bastou para que colocassem cadeado no portão da escola e eu nunca esquecer de minha mãe dizendo, enquanto batia-me: "a cinta vai lembrá-lo que estudar é Exemplo 2 Fui fazer uma visita a um casal de primos e presenciei uma situação em que um animal de estimação é tratado como uma pessoa da família. Eles têm uma cachorrinha, a Beth, que recebe tratamento de filha. Assim que se casaram, meu primo resolveu dar de presente a cachorrinha à minha prima para que ela não pensasse em ter filhos logo. A Beth, então, ocupou o lugar que um filho poderia ocupar: tem quarto próprio, brinquedos, caminha, banheirinho. Apesar de todo esse conforto, ela prefere dormir na cama com os “pais”. Aonde minha prima vai, a cachorrinha vai junto. Além disso, ela recebe cuidados especiais por ser uma cachorrinha albina, o que faz com que precise de xampu específico, banho e tosa frequentes, laços, perfumes e tudo o que uma maltês merece e um pouco mais. Hoje, depois de três anos de casados, meu primo já pensa em filhos; a prima, não quer nem ouvir falar. Onde ficaria a Beth? GÊNERO TEXTUAL – RELATO Contexto e comando de produção: Não tem jeito, pelo menos uma vez na vida todo mundo pagou ou viu alguém pagar um mico. Nem todos, porém, sabem encarar com bom humor situações que podem ser humilhantes ou embaraçosas. Mas quem consegue diz que vale a pena. Considerando os textos de apoio e a sua história de vida, escreva um RELATO de um mico que você pagou (ou presenciou), com o objetivo de refletir sobre como a reação bem humorada contribui hoje para o enfrentamento dos fatos da vida com mais leveza. Seu texto será publicado no blog Encarando a vida com bom humor, cujos interlocutores são jovens que buscam viver a vida com otimismo. Caso opte por assinar, utilize apenas FELÍCIO ou FELÍCIA. Seu texto deve ter o mínimo de 15 e o máximo de 22 linhas.
Relações entre Afetividade e Cognição: de Moreno a Piaget Do Construtivismo Piagetiano à Sistêmica Construtivista - Da Clínica Privada à Clínica Social