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“Seminário dos ratos”

1977
Contexto e estilo

• Realismo fantástico +
recorrência simbólica  alegoria
do Brasil dos anos 70 (Governo
Geisel 74-79).

• Ditadura Militar  Desde “As


meninas”, Lygia Fagundes Telles
se opõe a ditadura.
V
Os tapetes envelheciam

Epígrafe pisados por outros pés.

Do cassino subiam músicas


e até o rumor das fichas.

“Edifício Nas cortinas, de madrugada


a brisa pousava. Doce.
Esplendor”, Carlos A vida jogada fora

Drummond de voltava pelas janelas.

Andrade. (1942) Meu pai, meu avô, Alberto…


Todos os mortos presentes.

Já não acendem a luz


com suas mãos entrevadas.
“Que século, meu Fumar ou beber: proibido.

Deus! — Os mortos olham e calam-se.

exclamaram os O retrato descoloria-se,


era superfície neutra.

ratos e começaram As dívidas amontoavam-se.

a roer o edifício.” A chuva caiu vinte anos.

Surgiram costumes loucos


e mesmo outros sentimentos.

– Que século, meu Deus! diziam os ratos.


Personagens
• Chefe das relações públicas
• Secretário do bem-estar público e privado
• Diretor das classes conservadoras armadas e desarmadas
• Delegação americana (Miss Glória)
• Empregados da casa
Enredo
A narração se organiza a partir do VII
Seminário dos Ratos. Evento que “— Hoje mesmo o senhor poderia
deveria resolver o problema da invasão lhe telefonar para dizer que
dos ratos no país. Durante a narração estrategicamente os ratos já se
se nota que em nenhum momento os encontram sob controle. Sem
personagens responsáveis pensam em detalhes, enfatize apenas isto, que
solucionar o problema, pelo contrário, os ratos já estão sob inteiro
só se preocupam em manipular a controle. A ligação é demorada? “
informação que virá a público. Ao final
o próprio evento é invadido e
destruído. Supostamente o único
sobrevivente é o Chefe das Relações
Públicas.
Universo político brasileiro
• Revolução de 1932  Revolução — Pois eu escuto demais, devo ter um
Constitucionalista  contrária a ouvido suplementar. Tão fino. Quando
Getúlio Vargas fiz a Revolução de 32 e depois, no Golpe
de 64, era sempre o primeiro do grupo a
pressentir qualquer anormalidade. O
primeiro! Lembro que uma noite avisei
• Golpe de 1964
meus companheiros, O inimigo está aqui
com a gente, e eles riram, Bobagem,
você bebeu demais, tínhamos tomado
Movimentos conservadores que no jantar um vinho delicioso. Pois
desejavam manter só uma camada quando
social no poder. saímos para dormir, estávamos cercados
— É algo... grave?
Universo político — A gota.
brasileiro — E dói, Excelência?
— Muito.
“Gota d'Água”, peça teatral de Chico
Buarque de Holanda e Paulo Pontes, — Pode ser a gota d’água! Pode ser a gota
1975  adaptação de Medeia a d’água! — cantarolou ele,
sociedade brasileira. ampliando o sorriso que logo esmoreceu
no silêncio taciturno que se seguiu à sua
intervenção musical. Pigarreou. Ajustou o
"O fundamental é que a vida brasileira nó da gravata. — Bueno, é uma canção
possa, novamente, ser devolvida, nos que o povo canta por aí.
palcos, ao público brasileiro. Esta é a — O povo, o povo — disse o Secretário do
segunda preocupação de Gota d'Água. Bem-Estar Público, entrelaçando as mãos.
Nossa tragédia é uma tragédia da vida A voz ficou um brando queixume. — Só se
brasileira." fala em povo e no entanto o povo não
passa de uma abstração
Universo político — Que se transforma em realidade quando os
brasileiro ratos começam a expulsar os favelados de suas
casas. Ou a roer os pés das crianças da
periferia, então, sim, o povo passa a existir nas
• Uma espécie de novo estado manchetes da imprensa de esquerda. Da
oligárquico. imprensa marrom. Enfim, pura demagogia.
Aliada às bombas dos subversivos, não
esquecer esses bastardos que parecem ratos
• Enquanto o povo passa fome, é — suspirou o Secretário, percorrendo
esbanjado dinheiro e comida no languidamente os botões do colete.
Seminário  corrupção Desabotoou o último. — No Egito Antigo
resolveram esse problema aumentando o
número de gatos. Não sei por que aqui não se
• Vinho  Pinochet (Ditadura exige mais da iniciativa privada, se cada família
1973-1988) tivesse em casa um ou dois gatos esfaimados...
— Mas Excelência, não sobrou nenhum gato na
cidade, já faz tempo que a população comeu
tudo. Ouvi dizer que dava um ótimo cozido!
Movimento até a invasão

1. Aumento do barulho nas 6. Toda a casa é invadida


paredes e tetos
2. Telefone sem fio
3. Ratos comeram toda a comida
(“Pela alma da minha mãe,
doutor, me representou um
homem vestido de rato!” )
4. Todos os empregados fogem
5. Nenhum carro funciona (ratos
roeram os fios e motores)
Desfecho
“Foi a última coisa que viu, porque nesse instante a
casa foi sacudida nos seus alicerces. As luzes se “No rigoroso inquérito que se processou para apurar os
apagaram. Então, deu-se a invasão, espessa como se acontecimentos daquela noite, o Chefe das Relações
um saco de pedras borrachosas tivesse sido Públicas jamais pôde precisar quanto tempo teria ficado
dentro da geladeira, enrodilhado como um feto, a água
despejado em cima do telhado e agora saltasse por gelada pingando na cabeça, as mãos endurecidas de
todos os lados numa treva dura de músculos, câimbra, a boca aberta no mínimo vão da porta que de
guinchos e centenas de olhos luzindo negríssimos. vez em quando algum focinho tentava forcejar.
Quando a primeira dentada lhe arrancou um pedaço Lembravase, isso sim, de um súbito silêncio que se fez no
da calça, ele correu sobre o chão enovelado, entrou casarão: nenhum som, nenhum movimento. Nada.
na cozinha com os ratos despencando na sua cabeça Lembrava-se de ter aberto a porta da geladeira. Espiou.
e abriu a geladeira. Arrancou as prateleiras que foi Um tênue raio de luar era a única presença na cozinha
encontrando na escuridão, jogou a lataria para o ar, esvaziada. Foi andando pela casa completamente oca,
esgrimou com uma garrafa contra dois olhinhos que nem móveis, nem cortinas, nem tapetes. Só as paredes. E
já corriam no vasilhame de verduras, expulsou-os e a escuridão. Começou então um murmurejo secreto,
num salto, pulou lá dentro. Fechou a porta, mas rascante, que parecia vir da Sala de Debates e teve a
deixou o dedo na fresta, que a porta não batesse. intuição de que estavam todos reunidos ali, de portas
Quando sentiu a primeira agulhada na ponta do fechadas. Não se lembrava sequer de como conseguiu
dedo que ficou de fora, substituiu o dedo pela chegar até o campo, não poderia jamais reconstituir a
gravata.” corrida, correu quilômetros. Quando olhou para trás, o
casarão estava todo iluminado.”
Análise da alegoria

• Representantes do governo –
Governo militar
Quem está no casarão
dando continuidade ao
• Presença dos Estados Unidos – seminário?
relação ditadura-EUA

• Ratos = população que vive nas


regiões sombrias e é desprezada
Unicamp 2022
Gabarito
Desempenho

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