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CONTO DE AMOR

I
Vejam bem… Quando servi o exército eu me tornei especialista em bombas. Sei
fabricar qualquer tipo de bomba portátil, muito usada por terroristas. A bomba que
eu estava fazendo tinha que ter efeito fulminante, para que a vítima nada sofresse. E
antes da explosão, era necessário, que fosse emitido um feixe de luz radiante que
fizesse a vítima perceber a iminência da explosão. A pessoa que eu queria matar era
o meu filho João. Minha mulher Jane estava grávida quando fui enviado ao exterior
com um contingente do exército a serviço das nações unidas. Fiquei ausente cerca
de dois anos.
II
Escrevia constantemente para Jane e ela respondia. Quando o meu filho nasceu e
recebeu o nome de João, as cartas de Jane ficaram bem estranhas. Ela dizia precisar
falar comigo, uma coisa muito séria, mas não sabia como. Eu respondia impaciente
para ela dizer de qualquer maneira, mas ela persistia na falta de clareza, que cada
vez piorava mais. Afinal, Jane deixou de responder minhas cartas. Quando voltei da
missão da ONU, corri para casa assim que desembarquei no aeroporto. Jane abriu a
porta para mim. Seu aspecto me surpreendeu. Estava envelhecida, pálida, parecia
doente. “Onde está o João?”, perguntei.
III
Jane começou a chorar convulsivamente, apontando a porta do quarto onde ele
estava. Entrei no quarto, seguido de Jane. João estava deitado no berço, um menino
lindo, que, a meu ver, deu um sorriso. Peguei-o no colo. Então, tive uma surpresa
que me deixou atônito. João só tinha uma perna e um braço, eram os únicos
membros que possuía. Jane estendeu-me um papel, todo amassado, uma receita
médica onde estava escrito: esta criança sofre de focomelia, uma anomalia
congênita que impede a formação de braços e pernas. Jane cuidava do João com o
maior cuidado e com grande carinho.
IV
Mas ela definhava cada vez mais e morreu quando João tinha seis anos. Dei baixa
no exército para poder cuidar do meu filho. Quando eu perguntava se ele queria
alguma coisa, ele dizia “eu quero ir para a guerra”. Sua deficiência física se
agravava com a idade. Ele tinha 15 anos, mas não podia andar, estava
impossibilitado de exercer as mínimas atividades físicas. “Eu quero ir para a guerra,
papai”, ele pediu mais uma vez.
V
Então decidi que ele iria à guerra. Foi quando preparei a bomba. Com a bomba na
mão, eu disse: “meu filho, você foi convocado para ir à guerra”. “Obrigado, meu
pai querido, eu te amo muito”. Eu o amava mais ainda. Coloquei a bomba na sua
mão. “Essa bomba vai explodir. É a guerra”, eu disse. “É a guerra”, ele repetiu feliz.
Saí do quarto onde estava. Pouco depois observei o clarão. João também viu esse
clarão, feliz, antes da bomba explodir, matando-o. Eu amava o meu filho.
JOSÉ RUBEM FONSECA
• Nascido no dia 11 de maio de 1925, na cidade de
Juiz de Fora, Minas Gerais
• Filho de emigrantes portugueses
• Policial, professor e escritor
• Alguns de seus livros sofreram censura
• Alguns de seus romances: Bufo & Spallanzani,
(1986)Agosto (1990), O selvagem da ópera (1994),
O seminarista (2009), José (2011), entre outros
• Publicou muuuuuitos contos
• Conto de amor faz parte do livro Amálgama,
de 2013
• Foi vencedor várias vezes do Prêmio Jabuti,
ganhou o Camões em 2003 e o Prêmio
Machado de Assis em 2015
• No dia 15 de abril de 2020, Rubem Fonsceca
faleceu após sofrer um infarto.
1° PARÁGRFO
Trazer o contexto e informações sobre a obra

Qual o nome da obra? De que ano é a obra?


Quem é o autor? Quais informações sobre o escritor são importantes?
Quem são os personagens principais?
Qual o assunto que o livro aborda?
2° PARÁGRFO
Estrutura da obra/o que acontece na história

Como começa o conto?


Quem narra a história?
O que é narrado?
O que acontece de mais importante em um primeiro momento?
3° PARÁGRFO
Estrutura da obra/o que acontece na história

O que acontece ao longo da narrativa?


Qual o desfecho?
4° PARÁGRFO
Quais reflexões o conto traz?
Os assuntos tratados no conto podem ser relacionados com a vida
real?
Por que o conto é bom? Por que o conto não é tão bom assim?
Dê sua opinião, fale sobre o que você aprendeu com o livro.
Diante da história... Após a leitura é possível concluir que...

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