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Apego não é amor

Como se libertar de relacionamentos ruins


com a nova Teoria do Apego

MARCELLA YOUNES
“Às vezes o amor não basta...”
(crença popular)
Caro(a) leitor(a),
Espero que este livro te encontre bem. Mas seja lá qual for a
situação em que você esteja agora, fique tranquilo. Antes de me
tornar pesquisadora na Teoria do Apego, eu também não estive bem
pela maior parte de minha vida.
No momento em que redijo este livro, curei duas doenças
físicas crônicas e me recuperei de um ciclo sem fim de doenças
psíquicas. E, lógico, já tive mais de sete relacionamentos frustrados.
A mudança só é possível quando você não se considera
vítima dos fatos.
Este livro é para você se:
Por algum motivo estranho, seus relacionamentos
sempre dão errado e você sempre sofre muito quando
gosta de alguém.
Você até queria se envolver com alguém, mas tem um
medo estranho que não sabe de onde vem.
Não consegue ficar sozinho e não faz a mínima ideia do
motivo.
Se relaciona com pessoas não tão legais que não te
tratam como você quer. Por que você insiste nessas
relações, ainda?
Você sente que vive num ciclo infindável, repetindo a
mesma história inúmeras vezes, e não sai do lugar.
Você precisa entender o que ocorre, e por que ocorre.
Dito isso, ao invés de sair jogando um milhão de explicações
científicas sobre relacionamentos logo de cara, primeiro vou te
contar a minha história.
PARTE 1
1. O CICLO DO ABANDONO
A primeira crise foi aos dezenove.
Quando eu tinha dezenove anos, fiz um intercâmbio para
Londres. Três meses porque era o período de férias de faculdade.
Em Março, voltaria para Porto Alegre para seguir na faculdade de
Psicologia, na Universidade Federal de Ciências da Saúde, onde eu
cursava. O ano era 2011.
Logo no primeiro mês em Londres, conheci um rapaz, inglês,
num pub em Camden Town, um dos bairros mais descolados da
cidade. Em pouco tempo, começamos a namorar. Vou chamar ele
aqui de J.
Eu e J. estávamos curtindo a vida como nunca, parecia um
filme, acho que eu nunca tinha sido tão feliz. Ele me trazia tanta
alegria que eu achava que meu peito ia explodir.
Mas logo os três meses acabaram e eu tinha que voltar para
o Brasil, continuar a faculdade e seguir a vida. No dia em que tive
que me despedir, no aeroporto de Heathrow, achei que ia ter um
ataque cardíaco, desmaiar ou morrer, mas entrei no avião e voltei
para Porto Alegre.
Eu e J. nunca mais nos vimos depois daquele dia.
Apesar da distância, seguimos falando por Skype (vídeo),
mas aos poucos ele foi se afastando. Retomei minha vida
normalmente em Porto Alegre... Mas algo estava diferente.
Comecei a ter crises de pânico, tirar notas ruins. Algo não
estava normal.
Fui em vários psiquiatras e tive que tomar medicação. Meu
diagnóstico: Depressão moderada com crises de pânico. O motivo?
Ninguém sabia.
Meu relacionamento com J. acabou, mas o surto continuou.
Meu desempenho nas aulas e provas ia cada vez pior, a ponto de
eu ter que trancar a faculdade. Eu estava no quarto ano, trancar não
fazia sentido, mas não tive opção. Um dia, peguei uma faca na
cozinha porque queria acabar com tudo. Nada fazia sentido.
Levei dois anos para me recuperar deste “episódio”. Até que
fiquei bem. Não me envolvi com ninguém. A vida seguiu. Tinha que
seguir.
Eu sabia que faltava algo, e a sensação de vazio no meu
peito era crônica, mas de alguma forma eu estava vivendo e
fazendo aquilo que eu tinha que fazer.
Em 2014, eu decidi mochilar pela América Latina sozinha
como se isso fosse a solução para os meus problemas. Quando eu
voltei, comecei a namorar com um garoto, R. Ele ouviu as minhas
histórias da viagem e ficou encantando comigo “que mulher incrível,
independente, segura”. Eu realmente estava bem naquela época.
Eu tinha perdido minha vaga na faculdade pública graças ao
episódio anterior de depressão e resolvi fazer outro curso na
faculdade privada... Então, naquele momento, tudo estava em
ordem, eu tinha recém começado Letras na PUCRS, até que
comecei o relacionamento com R.
E aí tudo começou de novo.
Foi só uma questão de tempo até ele ver que eu não era a
“mulher independente” que transparecia ser. Eu demandava
mensagens e telefonemas o tempo todo. Ele se irritava com isso,
dizia que não gostava de mulheres assim, “meio depressivas”. Eu
planejei tudo: quando terminasse a faculdade, íamos morar juntos.
Precisava dele comigo.
Não foi isso que aconteceu. Ele tinha outros planos de vida,
que eram mais importantes do que estar comigo.
2. DIAGNÓSTICOS
Depois que eu e R. Terminamos, experimentei o fundo do
poço. Foi aí que começaram as dores crônicas. Primeiro, foi uma
dor no estômago que ninguém sabia de onde vinha. Na endoscopia,
gastrite leve, nada grave. Todos os gastroenterologistas de Porto
Alegre riam da minha cara: “tu não tens nada, guria, vai descansar”.
Mas a dor, a dor no meu estômago era tão insuportável que parecia
uma úlcera ou um câncer! O médico disse que era na minha
cabeça, e provavelmente hipocondria. Hein?
Perdi as contas de quantas vezes fui a um Pronto-Socorro
que tinha no meu bairro, o Cruz Azul.
Fui em outro psiquiatra, que por sua vez diagnosticou
(errado) Transtorno Bipolar de Humor, e me passou mais remédios.
Mais uma vez, este episódio depressivo e de dor crônica
durou mais de um ano. Eu e R. Nunca mais nos falamos,
principalmente depois das coisas que ele me disse – você tem que
aprender a gerenciar melhor suas emoções, você é muito sensível,
você chora demais. Não me entenda errado, ele não era um mau
namorado. Em comparação a outros, um dos melhores dessa
época. Ele só não queria lidar comigo. Ele queria ficar sozinho. É
um direito dele.
Nunca mais nos falamos, mas ele me deixou perdida de mim.
3. ENXAQUECA
A enxaqueca crônica veio depois. Eu já tinha me formado em
Letras e estava morando agora no Rio de Janeiro. Tentei me
relacionar, de forma frustrada, com vários caras. Alguns ficaram
pouco tempo no Rio, outros simplesmente não estavam
interessados. Cada vez que alguém ia embora, a enxaqueca só
piorava.
Era como se a dor do estômago tivesse migrado para a
cabeça.
Legal: agora eu estava no Rio de Janeiro, meu primeiro
emprego depois de formada, trabalhava como professora de
português. Amava a minha vida lá, mas eu não podia ser feliz como
todas as outras pessoas? Não, eu não podia, eu nunca ia ser feliz,
tinha algo de errado comigo... Eu simplesmente não conseguia me
relacionar com os homens sem parecer uma louca!
Eu estava cada vez mais próxima de descobrir o que era....
De chegar ao cerne da questão...
Ainda não foi dessa vez que aprendi e entendi qual era o
problema.
Me mudei para São Paulo pois tinha um novo trabalho como
escritora. No dia em que eu cheguei em São Paulo, sozinha no meu
apartamento na Bela Vista, fui tomada por uma angústia profunda.
Eu tinha que dormir sozinha naquele apartamento, numa cidade em
que eu não tinha um único amigo! Eu tinha que ficar sozinha, e dar
conta da minha vida. Durante quantas noites eu teria que viver
aquilo?
Baixei um aplicativo, o famoso Tinder, sem grandes
expectativas, e foi lá que conheci o meu próximo namorado, D.
Nosso namoro durou três meses. Ele não gostava de muita
intimidade, falar sobre sentimentos, ficar muito tempo lá em casa.
Ainda assim, a gente se deu bem. Até o momento, lá pelo terceiro
mês, em que eu comecei a pedir mais do que ele estava disposto a
dar.
Namorar trazia uma sensação de ansiedade esquisita, o
corpo ficava o tempo todo em estado de alerta, sempre tinha um
celular para olhar, uma mensagem para mandar, algo para esperar,
e se aquele algo não vinha... Parecia que o mundo ia cair, sabe?
Teve um fim de semana em que fiquei mais doente que o normal e
pedi para ele ficar comigo. Ele disse que não. Que ele tinha vida
própria, e não podia dedicar a vida a cuidar de mim. E terminou
tudo.
Nesse momento – eu achei de verdade que não ia ter saída.
Eu estava fadada a um ciclo de repetição eterna, passar uma vida
de doença, com relacionamentos ruins, mendigando amor de
pessoas que não queriam nada comigo, sendo diagnosticada nomes
absurdos por Psiquiatras e Médicos que mal olhavam na minha cara
e pagando mil reais a consulta. Eu trabalhava exclusivamente para
alimentar a indústria farmacêutica e pagar terapia.
O que eu tinha, afinal? Minha enxaqueca nunca ia passar. O
vazio no meu peito nunca ia passar. E eu precisava daquele menino
que eu mal conhecia, como se ele fosse a única salvação da minha
vida!
Olha, eu não desejo metade disso para você. Mas se você
passou por algo parecido com isso, saiba que eu te entendo.
4. A CIÊNCIA DO APEGO: O DIA QUE TRANSFORMOU MINHA
VIDA
Quando este último ciclo de relacionamento ruim terminou,
fiquei em casa durante semanas sem comer direito, sem sair, sem
tomar banho. Bem, você conhece o script, né? Eu não conseguia
ler, então eu tive uma ideia: acho que consigo ouvir um Audiobook.
(Para quem não sabe, audiobooks são livros em áudio, que você só
ouve no celular sem fazer esforço algum).
Eu usava um aplicativo americano para ouvir Audiobooks em
inglês, e foi quando eu vi ali dois livros cujos títulos me chamaram
atenção: um chamava Attached e o outro chamava Avoidant.
Eu comecei a desconfiar que tinha algo de esquisito comigo e
algo de esquisito com meu ex-namorado, D., que nós éramos
incompatíveis. E que aquilo nada tinha a ver com amor.
Ele me disse: Às vezes o amor não basta.
Era exatamente isso, era como se ele soubesse o que eu
viria a estudar depois.
Esses dois Audiobooks continham as informações
introdutórias sobre a Ciência do Apego – e explicaram toda a minha
vida! Todo o meu sofrimento! Por que eu sofri a vida toda atrás de
caras que não me diziam nada.
Entendendo a Ciência do Apego, curei a minha vida, minha
enxaqueca (é sério, ela não dói mais como antes), meus
relacionamentos, minha auto-estima, meu trabalho. Alguns dias
depois de esse último namorado terminar comigo, eu lembro de ficar
olhando uma cartela de Rivotril e pensar: se eu tomar tudo isso,
será que acaba a dor? Será que nunca mais vou sentir isso?
Eu não tinha opção: eu estava entre a vida ou a morte. Viver
daquela forma não era vida. Ou eu melhorava, ou era melhor
morrer. Não havia outro jeito. Ou eu me curava, ou não valia a pena
continuar acordando um dia após o outro.
Estar preso em um desses ciclos que o nosso inconsciente
constrói é a pior armadilha que alguém pode viver.
É por isso que eu estou oferecendo aqui o caminho.
Você merece se curar. Você merece uma vida plena, feliz,
com relacionamentos verdadeiros e recíprocos. Isso existe. Isso é
possível, mesmo que você hoje desconheça.
Pode ser difícil acreditar que você tem o poder de fazer essa
escolha.
O único motivo pelo qual eu compartilhei, aqui, minha
história, é para que entenda que sim.
Não importa o quanto paralisada esteja sua vida agora.
Você pode estar vivendo no pior ciclo de relacionamentos
ruins, o que gera doenças psicológicas e geralmente físicas – não
tenho dúvidas! Existe sempre uma escolha. Existe sempre um outro
lado. Você tem esse poder.
Existem relacionamentos afetivos, saudáveis, que fazem
sorrir e não trazem angústia.
Isso existe, e você pode tê-lo. A questão é a seguinte: você
esteve olhando no lugar errado.
Oi, como assim?
Sim, eu sei que é uma ideia simplista. Mas pensa comigo, se
você e eu compartilhamos do mesmo modelo de apego, você
geralmente se atrai pelas pessoas que não te dão bola, não é? E
quanto mais ela vai se afastando, mais você se envolve?
E quando alguém gosta muito de você, você imediatamente
perde o interesse pela pessoa?
Você tem um padrão de homem ou mulher bem definido,
mesmo que você não tenha consciência disso.

Mas o que diabos é essa Ciência do Apego?


Nos últimos vinte anos, os pesquisadores americanos e
ingleses têm estudado a forma como nos relacionamos. Trata-se de
uma teoria Moderna, derivada da teoria do Apego de John Bowly, a
qual trata do Apego em crianças. Bem, esses cientistas descobriram
que a forma como nos apegamos aos nossos namorados, maridos,
ficantes, etc, é a mesma forma como nos apegávamos aos nossos
pais quando crianças.
Isso quer dizer que a culpa é do meu pai/mãe?
É, mais ou menos... Eu não trabalho com a palavra culpa.
Por ex, se você se sentiu sozinho na infância porque um dos
pais foi embora, você desenvolve um modelo de apego Ansioso. Se
seus pais eram frios e distantes e ignoravam seus pedidos, você
desenvolve um modelo de apego Evitativo. Se seus pais batiam em
você quando criança, você desenvolve um modelo de apego
Desorganizado.
Isso explica o comportamento de um adulto que é mega
carente nos relacionamentos, que está sempre em depressão
(modelo Ansioso).
Explica por que algumas pessoas criam uma trava e não
querem se relacionar (modelo Evitativo).
5. A SUA, A NOSSA HISTÓRIA
Depois de descobrir tudo isso, eu logo fiquei feliz porque já
sabia o que eu tinha que fazer para me curar. Eu tinha um caminho,
uma direção. Eu sabia que podia me livrar daquele ciclo horrível. O
mais curioso é isso: amigos vinham me contar sobre seus
relacionamentos fracassados, e eu logo diagnosticava: Isso é
problema de Apego Ansioso com Apego Evitativo, e mandava um
vídeo para eles.
A reação deles era o melhor. “Marcella, você explicou meu
relacionamento”.
Eu sei, de nada.
Passei horas, com amigos, em jantas, falando sobre os
modelos de apego e explicando por que os namorados deles agiam
de determinada forma. Eles logo se empolgavam, iam para o
Google, nós tentávamos pesquisar, mas a verdade é que é um
terreno desconhecido aqui no Brasil. Eu sentia como se eu fosse a
portadora de uma sabedoria secreta, que podia salvar vidas. Nesse
momento, eu já fazia parte de um grupo de estudo americano sobre
a Teoria do Apego e de vários grupos de psicologia do Reino Unido.
Em pouco tempo, ficou claro que eu tinha que fazer algo com
isso. Não seria justo não compartilhar, não trazer para o meu país
tudo o que eu descobri.
Eu via pessoas sofrendo e conseguia diagnosticar e
direcionar a questão delas muito mais rápido do que nunca. Se
antes eu fiz seis anos de terapia, recebi diagnósticos de médicos e
psiquiatras, tomei remédios, gastei mais de dez mil reais com tudo
isso, em um ano de estudo da Ciência do Apego e com uso da
minha própria intuição eu consegui me curar e parar de sofrer como
antes! Eu não podia acreditar que finalmente eu estava pronta para
o melhor relacionamento da minha vida.
6. OS QUATRO MODELOS DE APEGO
Existem quatro modelos de apego: ANSIOSO
EVITATIVO
DESORGANIZADO
SEGURO
Pessoas de apego Seguro se sentem confortáveis com
intimidade. Se sentem bem na presença e na ausência do outro.
Conseguem ser amáveis e queridas, sem esperar milagres ou
sufocar o parceiro. Estão atentas às necessidades do parceiro, sem
se esquivar ou sentir que o outro demanda demais dela.
Crença central: confio nos outros; também confio em mim.
Pessoas de apego Ansioso têm um desejo de se fundir com
o outro, anseiam por intimidade e passar o máximo de tempo juntos.
Geralmente estão preocupados com o seu relacionamento o tempo
todo. Gostam de se doar, ao máximo!
Crença central: não confio em mim; confio nos outros.
Pessoas de apego Evitativo costumam entender que
intimidade vem com uma perda de independência e do seu senso
de si mesmo, e por isso não chegam próximo demais de ninguém.
Crença central: confio em mim mesmo; não confio em
ninguém.
Você pode ser Ansioso e Evitativo ao mesmo tempo, o que
leva a um novo nome de modelo de apego, um pouco mais
complexo, geralmente vinculado a um trauma profundo ou questões
de abuso. Chamarei este modelo de Apego (Evitativo + Ansioso) de
Modelo de Apego Desorganizado.
Pessoas com o modelo de apego Desorganizado não
sabem o que querem, uma hora aproximam o parceiro e outra o
afastam. É 8 ou 80, não tem meio termo. Costumam ser agressivos,
mas desejam amor de verdade e conexão, porém sentem um medo
tão grande que não conseguem chegar perto. O fato de desejarem
estar junto mas sentirem medo cria uma dinâmica maluca de
quero/não quero, vem/vai embora, que fica quase impossível pra
qualquer parceiro acompanhar seus desejos e tentar entender o
sentido naquilo. Por isso, o nome Desorganizado. Basicamente,
nem a própria pessoa sabe o que ela sente.
Crença central: não confio em mim; não confio em ninguém.
Todas as pessoas têm um modelo de apego, não importa
se estão solteiras ou em um relacionamento.
Os modelos de apego não são estanques, ou seja, eles
podem mudar ao longo do tempo. Uma pessoa pode nascer numa
família ótima, desenvolver o modelo de apego seguro, mas sofrer
inúmeros traumas de apego (término de namoro traumático, abuso)
na adolescência e acabar com o modelo de apego desorganizado,
por exemplo. Isso é mais comum do que se pensa e já analisei
diversos estudos de caso em que isso ocorreu.
O contrário também é possível. Veja o meu caso. Meu
modelo de apego foi majoritariamente ansioso a maior parte da vida.
Depois do último término com o rapaz de São Paulo, D., adquiri
características evitativas que não tinha antes, fiquei com um medo
extremo de me relacionar de novo! Depois disso, passei pelo
processo de autocura e hoje meu modelo é Seguro.
É muito importante aprender sobre os modelos de apego e
identificar o seu tipo de apego para ter relacionamentos saudáveis.
Se você sempre se perguntou por que as outras pessoas têm vidas
amorosas leves, descontraídas, sem grandes dificuldades –
enquanto a sua vida amorosa é puro drama, a resposta pode estar
aqui.
7. DEPENDER NÃO É O PROBLEMA
A sociedade nos ensina que temos que ser independentes.
Que não podemos nos entregar.
A sociedade, com isso, gera adultos MEDROSOS.
Que preferem suprimir seus sentimentos.
Que não falam o que pensam ou sentem para não se
machucar.
Que sentem arrepios só com a ideia de rejeição.
Temos que ser independentes? Até que ponto?
Por que não podemos depender de alguém? Por que não
podemos contar com alguém, estar com alguém, ter alguém para
dividir a vida?
Por que essa ideia é tão horrível?
Certamente é para aqueles de Apego Evitativo, e os livros de
auto-ajuda para pessoas codependentes corroboram com essa
ideia. “Seja independente, cuide da sua vida, você nasce sozinho e
morre sozinho”.
Estudando a Ciência do Apego, descobrimos que tudo isso é
muito extremista e completamente desnecessário.
Se você quer se tornar mais seguro, a ideia de ser
dependente não devia te assustar.
Se apaixone por uma pessoa que não te faça sofrer e
dependa dela, sem medo. Essa é a base dessa nova teoria do
apego.
8. CARÊNCIA AFETIVA
Outra palavra que eu não uso e não vou usar é carência. Ou
dizer que alguém é carente. Só utilizei no início, e uso algumas
vezes em vídeos e postagens, para me fazer entender. Você sabia
que nos Estados Unidos eles não usam essa palavra (needy) como
algo científico? Eu não sei de onde as pessoas tiraram que carência
é um diagnóstico, traço de personalidade, ou seja lá o que for!
Essa palavra é super pejorativa, traz a ideia de uma falta
insuperável. De agora em diante, só me referirei aos modelos de
Apego: Ansioso, Evitativo e Desorganizado sem classificar as
pessoas com essas palavrinhas que nos definem e criam crenças
limitantes.
9. OS OPOSTOS SE ATRAEM
Pessoas de Apego Seguro se atraem por quaisquer pessoas,
de todos os modelos de apego. Pessoas de modelo de apego
Desorganizado costumam namorar Ansiosos e Evitativos, de acordo
com seu modelo de apego predominante.
A grande sacada é esta, a informação que muda vidas:
pessoas de Apego Ansioso acabam se atraindo por Evitativos.
E Evitativos se atraem por Ansiosos.
Duas pesquisas americanas confirmaram esse dado: mas por
quê?
Esses dois modelos de apego complementam um ao outro.
Cada um reafirma as crenças do outro sobre si mesmo e sobre
relacionamentos. A crença do Evitativo de que ele é forte,
independente é confirmada, assim como a ideia de que todo mundo
vai exigir dele mais aproximação do que ele pode dar e ele não está
confortável com isso nunca. Já o Ansioso tem suas crenças
reforçadas quando o Evitativo começa a desaprovar suas tentativas
de aproximação. Isso reforça a crença principal do Ansioso – viu só,
fui deixado mais uma vez, ninguém me quer – gerando um ciclo
vicioso. Por outro lado, o ciclo vicioso também é gerado para o
Evitativo, que se alimenta da ideia: viu só, não sei me relacionar,
olha o que as pessoas fazem comigo, os outros são tóxicos.
10. QUANDO SUA VIDA AMOROSA VIRA UM CAOS: APEGO
NÃO É AMOR
Tem outro motivo pelo qual pessoas de apego Ansioso têm
uma atração química louca por Evitativos. No relato do início deste
livro, em todos os relacionamentos eu me sentia insegura. Quando
você entra num relacionamento com um Evitativo, começa a receber
sinais contraditórios. Ele manda mensagem, mas não sempre, ele te
quer, mas não demonstra. Você é deixada no escuro, à deriva,
questionando. Toda vez que algo é confuso, seu sistema de apego
ansioso se ativa. Mas aí ele faz um gesto romântico ou te elogia, e
você conclui que ele te ama, isso causa euforia. Infelizmente, essa
alegria dura pouquíssimo. Rápido as mensagens fofas se misturam
com mensagens ambíguas e você se vê no escuro, um verdadeiro
caos. Sem saída.
Você vive numa novela, esperando o próximo gesto de amor
que vai te acalmar e deixar eufórica. Quando você vive assim por
anos, algo automático acontece no seu cérebro. Você começa a
equivaler essa ansiedade doentia, essa obsessão, e essas migalhas
de afeto com amor.
Infelizmente, você entendeu que seu sistema de apego
ansioso ativado é amor. É paixão.
Mas não é. Sistema de apego ativado é sistema de apego
ativado.
O amor verdadeiro é pacífico, acolhedor, não causa
angústia nem obsessão. Por favor, lembre disso. Qualquer
coisa que não seja isso é Apego. Sistema de Apego Ativado. Eu
sei, eu sofri disso a vida toda. Eu quase deixei a minha carreira,
minha saúde física, as minhas amizades, a minha vida toda ir por
água abaixo diversas vezes por conta do Apego Ativado. O amor
não faz isso.
O amor acrescenta, te faz sorrir, traz o melhor de você. Te faz
sentir segura, por você ter com quem contar sempre. Um parceiro
de vida. Qualquer coisa que não seja isso não merece ser chamado
de amor. Eu sei, eu também não entendia, eu levei uma vida e
muitos anos de estudo científico para entender.
É difícil, os filmes de Hollywood passam a ideia errada ao
dramatizar tudo.

Nós não somos defeituosos, não somos pessoas


horríveis com traumas incuráveis. Só escolhemos as relações
que traziam o pior de nós.
Depende de nós, de agora em diante, fazer uma escolha
consciente.
11. O APEGO SEGURO
Pessoas de apego Inseguro (Desorganizado, Evitativo,
Ansioso) terão sua ansiedade acalmada ao se relacionarem com
alguém compreensível e amável, alguém capaz de estar junto
quando é para estar junto e ficar longe quando for preciso. Alguém
que não faz drama desnecessário pois é bem resolvido quanto às
questões de Apego. E porque essa pessoa é bem resolvida consigo
mesma, ela tem mais a doar para o outro! Seu amor é genuíno e
verdadeiro, não é necessidade de aprovação, e nem está encoberto
por medos de rejeição. Seu amor é puro amor – apenas. Talvez
você nunca tenha se relacionado com alguém assim e não tenha
ideia do que eu estou falando? Eu sei, eu também não tinha! Eu te
convido a tentar, faça a experiência.
É a única forma de romper o ciclo.
É mudar o nosso padrão de pessoa.
Eu sempre me relacionei com evitativos. Veja em que estado
minha vida estava. Eu te convido a pensar e analisar, será que você
tem um padrão?
Mas como eu sei o modelo de apego de alguém?
Existem técnicas. Algumas pessoas são muito fáceis de
sacar, outras nem tanto. Eu sei que este livro é só uma introdução, e
vai deixar muitas questões em aberto.
Mas, basicamente, te diria para analisar como a pessoa se
comunica.
Evitativos não falam de sentimentos e quando você chora ou
fala de emoções eles se incomodam. Isso é inconsciente, eles não
têm controle, mas simplesmente não lidam bem com isso. O
evitativo é também o cara que não dorme na sua casa depois de
ficar junto porque evita intimidade, sabe? Evitação, é isso... Tem um
senso de superioridade.
O ansioso é aquele que te cobra, demanda atenção o tempo
todo... e o papo é sempre sentimental. Menos racional. Vai falar de
abandono, que você deixou ele/a esperando, vai se colocar no lugar
de vítima, porque inconscientemente a pessoa com esse modelo de
apego se vê como vítima. É bem ruim. Se vitimizar é tipo um
mecanismo de defesa. Tem um senso de inferioridade.
Com o seguro você se sente bem, e ele não se esquiva e
nem faz drama por tudo.

Como eu posso me curar e adquirir o modelo de apego


seguro?
Além de mudar o seu padrão de relacionamentos – porque
isso é só uma parte do processo, o trabalho de autocura é muito
individual. Mas eu gosto de guiar as pessoas a seguirem o mesmo
caminho que eu fiz, sem curas milagrosas, sem precisar de médico
ou remédio e nem psicólogo caso você não queira (ainda que eu
acredite em terapia). Nós passamos a vida toda olhando para fora,
buscando a felicidade em coisas externas. E queremos achar a
solução onde está o problema.
Durante anos, busquei todos os métodos. EFT, Terapia
Cognitivo Comportamental, Psicanálise, Acunpuntura, pensei até em
tentar Hipnose. Era um desespero. Do tipo: Preciso de algo que me
salve.
Até que entendi. Esse “preciso de algo que me salve” fazia
parte da doença. Nada ia me salvar. Eu era completa dentro de mim
mesma. Eu já estava bem. Eu não era doente. Eu não era
defeituosa. Eu não era depressiva. Eu não tinha transtorno nenhum.
Era só isso que eu precisava entender.
Eu estava bem.
Eu tinha tudo dentro de mim para ser feliz.
Eram apenas escolhas – circunstâncias que levavam àquele
ciclo de sofrimento.
Só você pode encerrar o seu ciclo. Ninguém vai fazer isso
por você. Nenhum terapeuta, por melhor que seja. Nenhum
remédio. Nenhum médico.
Nenhum relacionamento saudável vai encerrar seu ciclo.
Não vai chegar o príncipe (ou princesa) no cavalo branco
para tirar o seu sofrimento. Não vai.
O método que desenvolvi consiste em meditação para
acesso do inconsciente, olhar para dentro, praticar autoaceitação e
autoamor. Através da meditação profunda, você pode acessar
lembranças inclusive sobre a origem do seu trauma. E, depois que
você cura a origem, e perdoa a si mesmo, você se liberta para
sempre.

Talvez você não esteja pronto para isso.


Se for esse o caso, eu vou te entender.
Se este for o caso, guarde este livro numa pasta do seu
computador. Um dia, você vai dizer: BASTA!
12. EXERCÍCIOS PARA MUDAR
Quando temos pensamentos disfuncionais sobre nós
mesmos e baixa auto-estima, a tendência é que temos maior
chance de atrair parceiros ruins, abusivos, ou com uma energia
negativa.
O primeiro passo é mudar essas crenças.
Se você já se sente pronto para sua mudança, vou propor
dois exercícios simples.
1. ENTRANDO EM CONTATO CONSIGO MESMO
Você sabia que as pessoas de Apego Inseguro têm dificuldade
em dizer o que querem, sentem e estipular limites entre o eu e
o outro? É verdade, muitos têm dificuldade até mesmo em
dizer não! Para isso, é importante entrar em contato consigo
mesmo de tempos em tempos e ENTENDER o que queremos
e e o que estamos sentindo.
Sente-se numa almofadinha no chão em postura
meditativa.
Coloque uma música relaxante para facilitar.
Respire. Expire. Respire e expire por 2 min até se sentir
relaxado antes de iniciar o próximo passo.
Pergunte a si mesmo: O que estou sentindo? Espere a
resposta.
Pergunte a si mesmo: Eu estou bem? Espere a resposta.
Pergunte a si mesmo: Do que eu preciso? Espere a
resposta.
Pergunte a si mesmo: O que eu quero? Espere a resposta.
Explicação sobre o exercício: no dia-a-dia, perdemos o
contato com nossas necessidades. Uma pessoa pode estar
precisando desesperadamente de Segurança ou Afeto, por
exemplo, sem se dar conta, porque ela não parou para sentir o
seu corpo e ouvir a sua mente. O fato de não pararmos para
sentir o nosso corpo e mente e ouvirmos o que eles têm para
dizer é o que gera doenças físicas também. Se você praticar
isso com frequência, você terá consciência do que você
quer/precisa, e suas atitudes irão de acordo com isso. Ou
seja, aos poucos você deixa de agir só no automático.
2. QUAIS PALAVRAS TE DEFINEM?
Pense em cinco coisas que você acredita sobre você mesmo
e escreva. Faça frases que comecem com “Eu sou...”
Agora analise o que escreveu.
Suas palavras foram boas ou ruins?
Para as frases com adjetivos negativos, vamos usar o efeito
contrário. Pois são apenas pensamentos. E pensamentos
podem ser mudados.
Vou te ensinar.
Se você escreveu – eu sou incapaz, basta escrever eu sou
capaz.
Mas não pode, Marcella, isso é muito simples!
Eu sei, você não quer uma solução simples assim. Você quer
sofrer, pagar uma fortuna no psiquiatra, tomar remédios,
receber um diagnóstico e continuar com os mesmos
pensamentos. Você quer alguém que reforce suas crenças
ruins sobre você mesmo. Porque você é doente mesmo. Você
está certo de pensar negativo, depois de todos os abusos que
você sofreu. Se for esse o caso, feche este livro. Você não
está pronto para eu te ajudar. Eu te entendo, sei de onde vem
essa sensação. Eu compreendo, de verdade! Tudo tem seu
momento. Quando estiver pronto, volte aqui.
Por que é que tem que ser difícil? Quem te falou que tem que
ser difícil?
Mudar pensamentos é algo extremamente simples. O trabalho
é manter essa mudança.
Se você escreveu, por exemplo, na segunda frase, eu sou
incompleto, você escreve eu sou completo. Algumas frases
podem ser mais difíceis de substituir, e para isso você irá usar
a sua criatividade. Por exemplo, se você escreveu Eu sou
negativo, você escreve algo que faça sentido para você na
substituição de pensamentos. Nesse caso, não acredito que
escrever Eu sou positivo funcione. Você pode usar eu sou
uma pessoa incrível. Eu sou uma pessoa boa. Eu sou uma
pessoa forte. Você escolhe o que fizer sentido dentro do seu
sistema de pensamentos e suas experiências de vida,
ninguém pode escolher suas frases por você.
Depois que você tiver suas frases, coloque num post-it em
algum lugar visível e veja-as todos os dias. Cada vez que você
as ver, diga-as em voz alta. Apenas observe como você vai
incorporar essas frases ao seu sistema de crenças.
Aos poucos, isso pode ser feito para qualquer coisa que você
queira mudar em você mesmo, e qualquer resultado que você
queira atingir.
13. FELIZES PARA SEMPRE EXISTE?
O caminho que descobri é este: Buscar a autocura através da
mudança de pensamentos (não existe nada lá fora, nada vai te
salvar!) +
Se relacionar com pessoas com quem você antes você não
se relacionaria (mudança de padrão na escolha do parceiro) Sim, é
um tanto inovador, mas venho analisando muitos estudos de caso
ao longo dos anos de pesquisa para chegar à conclusão de que
esta é a única possibilidade.
Em um dos livros referencia sobre Ciência do Apego,
Attached, os pesquisadores tratam somente da questão ambiental
(mudança de padrão de parceiro), e o livro fez muito sucesso nos
Estados Unidos. Porém, o livro recebeu muitas críticas nesse
sentido. Porque a cura do trauma original não é tratada.
Em relação às questões internas, sobre a individualidade da
pessoa e o que ela tem de fazer para chegar à cura, há muita
bibliografia também nos Estados Unidos. A maior referencia é o
criador da Teoria do Apego, o Bowlby, e a pesquisadora Diane Poole
Heeler, cujo teste de modelos de Apego é até hoje uma grande
referencia. Então eu utilizei esses teóricos para me aprofundar
sobre como curar um trauma de apego, e vim analisando casos de
pessoas que hoje – nessa sociedade contemporânea – sofrem com
o apego inseguro e estão tentando se tornar mais seguras.
Mas, você percebe uma lacuna? Ninguém até hoje, nem nos
Estados Unidos e na Inglaterra, onde eu fiz minha pesquisa, pensou
em juntar esses dois pólos (externo + interno).
Nós somos pessoas sociais. Com quem nos relacionamos
interfere diretamente na nossa auto-estima e visão de mundo. Não
adianta eu focar num caminho de autocura e amor próprio mas
começar uma relação com uma pessoa abusiva ou negativa – essa
pessoa vai me puxar para baixo!
Da mesma forma, não adianta eu começar um
relacionamento com uma pessoa afetiva e que gosta de mim
enquanto eu ainda tiver os mesmos pensamentos de antes – dentro
de alguns meses eu vou sabotar essa relação, por conta da minha
crença central de que eu não mereço essa relação legal!
Foi por isso que eu decidi, de forma inovadora, juntar as
duas linhas de pesquisa vigentes lá no exterior, onde estudei, e
trazer para cá, um método integrativo, novo, um método meu, porém
científico. Afinal, é esse o único caminho possível para cura.
Trabalhar as questões internas. E mudar o padrão de pessoa com
quem nos relacionamos.
Não tem outro jeito. Não adianta fazer só um, e não fazer
outro.
Faça os dois. É tiro e queda.
Eu estava tendo dificuldades em aplicar os conceitos da
Ciência do Apego, porque eu não tinha mudado internamente. Eu
sabia que queria um amor de verdade mas eu sabotava todo os
relacionamentos com caras legais. Por algum motivo, quando eu
conhecia narcisistas e caras malandros, eu me sentia bem ali, como
se fosse o meu lugar. Foi aí que eu entendi que ter estudado por
anos a Ciência do Apego e saber as coisas na teoria não adiantava
de nada!
Meu melhor amigo tinha se apaixonado por mim. Ele era a
pessoa mais incrível, fofo, e com ele eu me sentia segura. Mas eu
não sentia nada, em relação a paixão. Eu só sentia alguma coisa
por esses caras toscos que descrevi, pois é quando disparava o
apego.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
Iniciei um programa de autocura para poder ser feliz.
Será que se eu mudasse meus pensamentos por completo
eu conseguiria aceitar um relacionamento saudável, feliz? Com uma
pessoa que me ama, e sem traumas?
Foi um processo, não houve milagre. Mas, hoje, vivemos
muito felizes. Ele me apoia no meu projeto, e eu apoio ele no seu
plano de doutorado e formação em Psicanálise.
No passado, tive muitos problemas quando as pessoas
começam a ir por caminhos diferentes e se desencontram.
Isso não aconteceu dessa vez porque não precisamos ficar
concorrendo o tempo de quem importa mais e nenhuma dessas
dinâmicas tóxicas. Mas isso só foi possível porque eu me curei
primeiro, para acreditar que era possível estar onde estou hoje.
Hoje, eu entendo que apesar de estar vivendo um
relacionamento ótimo, minha felicidade também não depende 100%
disso.
Você acreditaria se eu te dissesse que, do outro lado, tem
uma versão de você que é leve, livre e autêntica?
Você acha que merece ser feliz?
Feche os olhos, fique em silêncio por alguns segundos. Tente
ouvir a resposta.
Tudo bem se a resposta for negativa.
Agora você já sabe como mudar seus pensamentos.
Nos vemos no próximo capítulo.
PARTE 2
14. VIVENDO A CIÊNCIA DO APEGO NA PRÁTICA
Atenção: Esta parte do livro é uma transcrição de vídeos
gravados para um Workshop sobre a Ciência do Apego. Por isso, a
linguagem e a forma de explicar os conceitos está um tanto
diferente da anterior.
Eu me perguntei se deveria ou não adicionar essa parte...
Mas acredito que, sim, você merece ter acesso a todo o
conteúdo sobre a Ciência do Apego, já que há tão pouco na internet
em português.
1. O APEGO INSEGURO
“Eu conheci um cara novo faz pouco tempo, e
já estou completamente obcecada pensando se ele
vai me ligar e se vamos sair esse fim de semana. Já
começo a pensar que não sou boa o suficiente para
ele, que nunca vou encontrar alguém, e que ele vai
acabar enchendo o saco de mim assim como
aconteceu com o meu ex. No fundo, eu sei que
estrago todos os meus relacionamentos.”
“Não consigo achar ninguém que realmente me
interesse. Sinto como se eu fosse uma muralha.
Prefiro manter as pessoas a uma certa distância, e
preservar meu espaço pessoal. Às vezes acho que
pode ter algo errado comigo, mas não sei o que é...”
“Estou num relacionamento mas me sinto
completamente sozinha. Ele não me dá atenção e já
não há conexão entre a gente. Eu preciso implorar
para passarmos tempo juntos. Daria na mesma se eu
estivesse solteira.”
“Terminei um ciclo de relacionamentos abusivos
e agora não quero me relacionar com ninguém, nunca
mais.”
Analisando esses relatos eu te pergunto, o que essas quatro
pessoas têm em comum?
Se antes você não sabia responder essa pergunta, a partir de
hoje você saberá: apego inseguro.
Existem quatro modelos de apego. Um deles é seguro, e os
outros três são inseguros.
Você já ouviu uma frase que diz... Às vezes o amor não
basta?
Pode ser difícil aceitar isso, mas um dos princípios da Ciência
do Apego é que o amor não é o suficiente para manter uma
relação. E, na segunda parte deste livro, nós vamos entender o
porquê.
Você está pronto para embarcar nessa jornada comigo?
15. INTRODUÇÃO À TEORIA DO APEGO
Valéria é a CEO de uma grande empresa em
São Paulo. Ela conheceu Lucas, um rapaz artístico e
desencanado, num aplicativo de relacionamentos. No
início, ela teve certeza de que ele era o homem da
sua vida. O primeiro encontro foi maravilhoso, o sexo,
a conexão, as conversas... E ela esperava, todos os
dias, por uma mensagem dele. No trabalho, seus
colegas achavam esquisito como ela ficava encarando
o celular que nem uma idiota. O problema é que
Lucas quase nunca mandava mensagens. Para não
dizer nunca, ele aparecia quando era conveniente
para ele. Mandava sinais mistos: dizia que gostava
muito dela, que a noite tinha sido incrível. Dizia que
ela era especial e que queria passar muito tempo com
ela. Mas só dava o ar da graça de vez em quando,
geralmente na sexta-feira. O resto da semana ele não
aparecia. Valéria começou a ficar completamente
desequilibrada. Ela tinha um trabalho pesado, de
trabalhar 12 horas por dia, e não podia estar
passando por isso. Ninguém sabia o que ela tinha. Ela
olhava o Instagram e Facebook dele quando devia
estar focando nas metas da empresa. Valéria
começou a ter crises de ansiedade graves, e ninguém
sabia o que fazer. Finalmente, uma amiga descobriu
que Lucas estava saindo com outra garota, e aí foi a
gota d´água. Valéria finalmente deletou ele das redes
sociais. Mas o estado de crise em que ela estava
permaneceu.
Por quê isso? Antes ela estava bem!
Se Valéria fosse num médico, iriam diagnosticar o quê?
Ansiedade? Dar um rivotril? Ou diagnosticar Borderline?
Valéria estava com o apego ativado. Vamos entender um
pouco mais sobre isso.
Uma pesquisa americana realizada nos anos 80, de Philip
Shaver e Cindy Hazan indicou que os adultos mostram padrões de
apego em relação ao seu parceiro romântico similares àquele
modelo de apego aprendido quando criança com os pais.
16. OS QUATRO MODELOS DE APEGO
Temos quatro modelos de apego. Ansioso, Evitativo,
Desorganizado e Seguro.
O seu modelo de apego vai determinar:
O quanto de intimidade você quer numa relação
Como você lida com conflito
Sua atitude em relação ao sexo
Se você comunica claramente suas necessidades e
vontades
Sua expectativa em relação ao seu parceiro
Pessoas de perfil ansioso costumam se preocupar muito com
a relação e desejam estar muito perto.
Seguros se sentem confortável com qualquer nível de
intimidade.
Os evitativos pensam que a intimidade vem com uma perda
de independência.
Pessoas de apego desorganizado desejam conexão mas têm
medo uma vez que a relação se inicia.
Na sociedade americana, segundo pesquisa de Amir Levine e
Rachel Heller, 50% da sociedade possui o Apego Seguro, 20%
possui o Apego Ansioso, 25% o Apego Evitativo e o restante
possuiria o Apego Desorganizado.
Porém, segundo as minhas pesquisas, esses dados são
falhos... há bem mais gente com o modelo Desorganizado... Na
minha pesquisa, grande parte das pessoas tinha esse modelo de
apego.
Eu compartilho esses dados para que vocês vejam que 50%
das pessoas são seguras.
PRINCÍPIOS DA CIÊNCIA DO APEGO
Muita gente me pergunta: como eu posso deixar de me
apegar?
“Por favor, Marcella, me fala como me libertar do apego,
como ser menos carente.”
E eu não julgo você que perguntou isso. Porque a sociedade,
os livros de autoajuda, todo mundo está falando dessa forma.
Maaas...
O primeiro princípio que eu preciso que você entenda é o
seguinte: DEPENDER não é um problema Às vezes a gente cai no
senso comum de acreditar que nós somos muito carentes, o que
somos dependentes, e que isso é algo horrível. Que nós temos que
aprender a nos virar sozinhos, ser autossuficientes, sem precisar de
ninguém.
Quantas vezes você já ouviu alguém dizer “sou eu e Deus,
não confio em ninguém”?
Só que isso não é saudável.
Por quê?
Se o teu parceiro falha em te responder e acolher, nós somos
programados a continuar nessas tentativas de contato até que a
gente se sinta segura. Até conseguir uma resposta. Isso é a forma
como a nossa biologia funciona. E quando vem essa resposta é um
alívio (aaah, o alívio!).
Um princípio de apego é que as pessoas são tão carentes ou
dependentes na proporção que as suas necessidades não estão
sendo atendidas.
Quando sua necessidade é atendida, a pessoa fica bem, e aí
desfoca do parceiro e vai fazer outra coisa. Me diz se isso é ou não
verdade?
Isso tudo é consequência de um MITO DA
CODEPENDÊNCIA que a nossa sociedade reproduz.
Pessoas que não estudaram o suficiente, ou que querem
ganharam dinheiro em cima do sofrimento dos outros, reproduzem
esse tipo de viés. O mito da “mulher independente”, da “mulher
bem-resolvida” vem disso. Coaches de relacionamento ganham
fortunas em cima disso.
Ainda mais num país em que nós só temos um programa que
chama MADA, que é exclusivo para mulheres e exclui totalmente os
homens. Aqui nós vamos entender que isso não tem nada a ver com
gênero mas sim com apego aprendido na infância. Logo, homens
com ferida de apego todos esses anos foram ignorados como se
eles não tivessem o direito de se sentir assim.
Portanto, eu não trabalho com a palavra codependência. E
eu não trabalho com a ideia de que existem mulheres que amam
demais. Ninguém é dependente de ninguém. Ninguém é viciado em
amor.
Você não é viciado em amor.
O movimento da codependência acredita nisso: “sua
felicidade deve vir de dentro, o seu bem estar não depende do seu
parceiro, cada pessoa deve cuidar de si mesma. Você não pode ser
perturbado por nada que a outra pessoa fizer.
E se você não faz isso, você é defeituoso... Foque em si
mesmo. Se você estiver em uma relação e acabar precisando
demais do seu parceiro, é porque você ainda não se curou então
seja mais autossuficiente.”
A nossa realidade biológica é bem diferente disso.
Quando estamos conectados com alguém numa relação
amorosa, é óbvio que vamos depender em algum nível daquela
pessoa. E tentar reprimir isso só vai causar sofrimento.
Biologicamente, o ser humano foi feito para se conectar com alguém
especial e uma vez que isso é feito essa pessoa vai ser essencial na
sua vida. A ponto de essa pessoa: 1.Regular suas emoções
2.Causar um impacto nos seus pensamentos, na sua saúde mental
e física.
Não há autossuficiência que possa contestar isso.
Certo, então esse é o primeiro princípio da CIÊNCIA DO
APEGO: depender não é um problema.
Vamos lembrar: não existem pessoas carentes ou
dependentes demais. Existem relacionamentos que não
atendem às necessidades dessas pessoas.
Aí a gente chega no nosso segundo princípio, que é
encontre a pessoa certa.
E quando o nosso relacionamento atual não está cumprindo
com o papel que deveria, de nos acolher e manter seguros? Eu
estou dependendo de alguém que... me deixa mais ansioso? Nós
somos programados a buscar por aquela pessoa como uma base
segura, e tudo bem, isso é natural, desde a idade das pedras o ser
humano não era um lobo solitário. Ele sobrevivia nas florestas com
seus recursos, mas ele dependia dos outros. Isso vem da nossa
programação neural, dá para entender? Mas e se a pessoa que a
gente escolheu não estiver disponível com uma certa consistência?
Nesse livro, eu vou te orientar sobre o que fazer nessa
situação. Se você está solteiro, eu recomendo que encontre um
parceiro seguro, e para isso temos um módulo inteiro sobre
identificar um parceiro seguro. Se o teu parceiro não é seguro, não
significa que você precisa se desesperar, largar essa pessoa e
arranjar uma com outro modelo de apego. Existem estratégias para
amenizar o conflito na relação, e também trataremos disso aqui.
Mas um dos princípios da CIÊNCIA DO APEGO é que você
encontre a pessoa que não vai te fazer sofrer, no lugar de acreditar
que você é o culpado pelos sofrimentos e o fracasso de todas as
relações passadas.
17. O Apego Ansioso
TUDO ESTAVA BEM... até que eu me apaixonei.
Nesse capítulo, vamos estudar o modelo de apego ansioso.
Você lembra do caso da Valéria? A CEO da grande empresa?
Lembra como ela ficou completamente vidrada por um rapaz que ela
mal conhecia, como se ele fosse a coisa mais importante da vida
dela?
A Valéria chegou a adoecer por causa dessa história. O
Lucas quase não mandava mensagem. E uma amiga dela descobriu
que ele era sacana, estava saindo com outra ao mesmo tempo. E
nem a terapeuta dela conseguiu entender direito o que tinha
acontecido que justificasse tamanha crise – eles mal se conheciam.
Valéria estava com o apego ativado. Lucas era somente um
objeto de apego. Pouco importa há quanto tempo eles se conheciam
ou quem ele era.
Pessoas como Valéria têm um sistema de apego sensível. O
sistema de apego é o mecanismo no nosso cérebro que verifica se a
nossa figura de apego está disponível e se está tudo seguro. Se
você tem esse modelo de apego Ansioso, você tem uma capacidade
única de prever quando a sua relação está entrando em perigo.
Você costuma tirar conclusões muito rápido sobre o que está
acontecendo, e quando faz isso, interpreta errado o estado
emocional da outra pessoa.
Uma vez que o sistema de apego é ativado, pensamentos
consomem a mente... esses pensamentos têm o único propósito de
reestabelecer a conexão com o parceiro.
Chamamos esses pensamentos de...
1. ESTRATÉGIAS DE ATIVAÇÃO.
São quaisquer pensamentos que te mantém próximo do seu
parceiro. (Vou usar aqui o pronome ele porque geralmente temos
mais mulheres heterossexuais me lendo, ok?) Uma vez que ele te
responde de forma satisfatória, você volta ao seu eu normal e
calmo.
EXEMPLOS DE ESTRATÉGIAS DE ATIVAÇÃO
obcecar com o outro, com dificuldade em concentrar em
outras coisas, inclusive coisas mais importantes.
sensação de ansiedade que some magicamente quando
encontra a pessoa
colocar o outro num pedestal: diminuir os teus talentos e
aumentar os dele
acreditar que se vocês terminarem, você não terá outra
chance no amor
acreditar que relacionamentos são assim mesmo, cheio de
problemas
acreditar que o que você sente é amor e por isso sofre
Valéria passou quatro meses na sua terapia falando sobre
Lucas. Esse é um exemplo clássico de estratégia de ativação: focar
no outro para se sentir mais próximo.
Quando terminamos um relacionamento, costumamos entrar
nesse estado, porque queremos nos sentir mais próximos da
pessoa que não está lá. Então obcecamos com a pessoa e isso é
normal. Principalmente quem tem o modelo de apego ansioso.
Eu já fiquei tão louca que ficava ouvindo áudios sem parar de
um namorado no Whatsapp. Ele morava na Europa e eu morava no
Brasil, então a gente não tinha contato físico. Eu criei essa mania
louca de ficar repetindo mil vezes os áudios dele. E o pior não é
isso. Depois, quando terminou o namoro, eu continuei fazendo isso,
para mantê-lo por perto de alguma forma.
Uma pessoa com outro modelo de apego não faz isso.
Porque isso é estratégia de ativação clássica do modelo de apego
ansioso.
Com o tempo essa estratégia de ativação dá lugar à AÇÃO e
vira...
2. COMPORTAMENTO DE PROTESTO
Pensa num bebezinho ansioso, que estava junto da mãe. A
mãe se afastou, e por isso ele chora. Ele quer que ela volte.
Chamamos esse choro, na Ciência do Apego, de
comportamento de protesto. O cérebro do bebê não se desenvolveu
ao ponto de ele saber se comunicar efetivamente, não é? A única
coisa que ele pode fazer é ter esse comportamento.
Se você se formou com o apego ansioso, você reproduz
algum comportamento de protesto na vida adulta.
EXEMPLOS DE COMPORTAMENTO DE PROTESTO
Excesso de tentativas de reestabelecer contato...
Ligar, mandar mensagem, e-mails, esperar uma
mensagem, passar na frente do trabalho dele esperando
ver a pessoa por acaso.
Desligar-se...
Ignorar o parceiro, falo com os outros e com você não.
Fazer igual...
Se ele não me contata, eu também vou ficar na minha. Se
ele vai sair com os amigos sexta, eu também vou sair com
as meninas. Se ele é amigo da ex e eu tenho ciúmes, vou
voltar a falar com meu ex para incomodar...
Agir de forma cruel...
Virar os olhos, não querer falar, não me toque estou brava...
sai daqui...
Ameaças de ir embora
Acho que temos que terminar, isso não está dando certo.
Acho melhor ficar sozinha.
Você fala isso já esperando que ele te pare e implore para
mudar de ideia.
Manipulação...
Fingir estar ocupado, dizer que tem planos quando não
tem... ignorar ligações sem necessidade...
Fazer sentir ciúmes
Falar constantemente dos ex, falar que alguém deu em
cima de você na rua.
Os COMPORTAMENTOS DE PROTESTO têm um propósito:
Chamar a atenção do outro.
Existem extremos nos comportamentos de protesto. Eu
conheço gente que mentiu estar doente gravemente, ou mentiu
estar grávida. É tudo comportamento de protesto, o objetivo único
é conseguir uma atenção que não está sendo dada.
Tanto as estratégias de ativação quanto o comportamento de
protesto são o que costumam acabar com os relacionamentos da
pessoa de modelo de apego ansioso.
“Meu Deus, Marcella, estou desesperada, eu faço alguns
desses comportamentos...”
Tudo bem, eu também fazia.
Uma vez que a gente identificou quais são esses
comportamentos...
Você vai ficar ligada. Vai prestar atenção. Quando isso estiver
vindo à tona no teu relacionamento, você vai falar: opa, eu não paro
de falar nele, isso é estratégia de ativação. Não é saudável. Vou
parar. Você pode reprogramar o seu cérebro a parar de fazer isso.
Você imprime essa lista, anota todos os comportamentos. Decora
todos eles.
Quando você tiver fazendo algum deles, você vai lembrar.
Leia esse livro quantas vezes for preciso.
Essas ameaças são um comportamento infantil. Os
comportamentos de protesto estavam literalmente destruindo meus
relacionamentos.
Tarefa aqui: se você se identificou, você vai anotar todas
as estratégias e comportamentos dessa lista, para que quando
você tiver prestes a fazer besteira você lembrar.
Chamamos zona de perigo o momento em que o sexto
sentido do ansioso começa a funcionar, ele deixa de receber uma
mensagem ou nota que algo não vai bem... E aí gera muita
ansiedade.
Chamamos zona de segurança o período em que não há
ansiedade, inquietação e nenhum sofrimento na relação. O apego
ansioso não está ativado.
3. DE ONDE VEM O MEU MODELO DE APEGO ANSIOSO?
Os modelos de apego são formados majoritariamente até os
6 meses de idade. Mas cada experiência relacional que a gente tem
na nossa vida, seja quando criança, adolescente ou adulto, vai
determinar a manutenção ou não do nosso modelo de apego.
O meu modelo de apego se formou ansioso, porque eu sofri
um trauma de apego quando eu tinha 09 anos. Minha mãe foi viajar
para os Estados Unidos, fazer doutorado em Chicago e eu fiquei
com o meu pai. Só que o meu pai tem o modelo de Apego Evitativo.
Ele não sabe confortar uma criança, fazer com que ela se sinta
segura. Da mesma forma como um namorado não sabe fazer isso,
um pai ou mãe evitativo não faz isso com o filho. E eu me senti
muito sozinha nesse período... Foi tão traumático que eu me lembro
até hoje de cenas desse período da vida.
Além disso, meus pais sempre viajaram demais e
trabalharam demais. Embora eles fossem bons pais, amorosos,
acolhedores, esse nível de inconsistência – uma hora a pessoa está
aqui, em outra não está, para uma criança que não consegue
entender racionalmente que coisas como trabalho são importantes,
esse nível de inconsistência gera uma sensação de vazio, de
abandono e de rejeição. Essa sensação, quando formada na
infância, vai acompanhar a pessoa pela vida toda, até o momento
em que a gente cria consciência sobre isso. E aí pode se libertar.
Eu compartilhei isso para fazer entender que não é
necessária uma grande experiência traumática para ter um modelo
de apego inseguro. Todos nós podemos nos formar com um modelo
inseguro, dependendo de como interpretamos as mensagens
recebidas e o afeto dado pelos nossos pais.
Em alguns casos da minha pesquisa, eu avaliei que o modelo
de apego ansioso era comum em meninas que não tinham uma
figura paterna presente por qualquer motivo. E também em meninos
que tinham uma mãe fria, com o apego evitativo.
E o que você pode aprender com tudo isso?
Bem, houve alguma experiência na infância em que você
sentiu rejeição. Isso ficou gravado no cérebro. Como expliquei, o
cérebro da criança não é racional, ele pensa só naquilo que ele
precisa receber, que naquele momento é um carinho, um afeto, um
contato... e aí... você gravou aquilo, travou ali. Você revive essa
mesma experiência e sensação em todos os teus relacionamentos
amorosos.
A dor de rejeição que você sente, hoje, quando um namorado
não responde uma mensagem ou quando alguém não demonstra
interesse em você. É essa dor. Exatamente a mesma sensação que
ficou gravada no seu cérebro daquela experiência traumática, do
momento em que ocorreu o trauma de apego.
No meu caso, era a dor de chorar na cama e meu pai me
mandar ficar quieta. Uma solidão extrema. Não tinha ninguém no
mundo para mim, eu era uma criança, não sabia me cuidar sozinha,
eu precisava desse cuidado adulto. Minha mãe de repente não
estava lá, foi viajar...
Então nos relacionamentos... a minha intolerância a qualquer
tipo de rejeição vem daí. Não é a Marcella adulta que sofre. É a
Marcella de nove anos.
Se você quer estudar mais sobre esse assunto, sugiro que
procure sobre a Teoria do Apego Infantil de John Bowlby. Essa
teoria, bem como a nova Ciência do Apego em adultos, foram a
base de toda a pesquisa por trás deste livro.
Conforme a gente for trabalhando as questões aqui, talvez
você lembre de algo da sua infância. Talvez você entenda por que
você tem esse modelo de apego. E inicialmente, é natural... sentir
uma certa raiva... porque muitas pessoas têm o modelo seguro e
não precisaram passar por tudo isso...
...eu sei o tamanho dessa dor.
Você pode até se revoltar contra os seus pais agora que
entende que eles são a causa.
Mas vou te dizer outra coisa: Os nossos pais fizeram o
melhor que puderam com o grau de consciência que eles
tinham no momento. E com o apego que eles tinham.
Se eu tenho um modelo de apego Ansioso e eu tenho um
filho, as chances são que eu vou... OU passar o meu modelo de
apego para aquela criança através de um espelho, de uma
imitação... OU por ter repulsa à forma como a mãe é, como a mãe é
carente e sufoca o filho ele vai adquirir o modelo de apego
EVITATIVO.
Então cria pavor de relacionamentos, conexões... Eu analisei
muitos relatos de pessoas evitativas com mãe ansiosa. Geralmente,
quando o filho é homem, o último caso acaba acontecendo
(desenvolver o apego evitativo), e quando mulher, o primeiro
(desenvolve o apego ansioso igual a mãe).
Se eu tenho um modelo de apego Ansioso e eu quero ter
filhos... agora é a hora de eu aprender sobre a Teoria do Apego e
criar estratégias, para que eu não passe isso para os meus filhos.
Para que eles sejam seguros.
Não julgue os seus pais... Pense que se você fosse ter um
filho sem passar por um processo de consciência e de estudo da
Ciência do Apego, talvez não saberia também como assegurar que
eles terão o modelo Seguro.
4. PARA VOCÊ QUE TEM O MODELO ANSIOSO
Identifique suas necessidades num relacionamento. Defina
o que exatamente você quer.
Seja específico. E quando alguém não corresponder a isso,
saiba que essa pessoa provavelmente não é segura e não é a
pessoa certa para você.
Seja você mesmo e use a comunicação efetiva
Não tente manter uma imagem de ser alguém
autossuficiente, forte, segura, que manda poucas mensagens e não
se importa muito com nada... porque algum coach de sedução te
falou pra agir assim. Você não é assim. Aceita isso. Eu caí nessa
armadilha por muito tempo, e nem era seguindo conselho de coach,
mas porque eu construí toda uma imagem social em volta de ser
uma pessoa fria, distante. Se você fizer isso, isso vai te trazer muito
sofrimento e você vai atrair as pessoas erradas. Eu queria muito que
alguém tivesse me dado essa sugestão...
Eu sei que a gente parece carente demais se for sincera, mas
não esconde as suas vontades para se acomodar naquilo que o
outro quer. O parceiro correto não vai achar isso ruim.
Uma estratégia aqui é USAR A COMUNICAÇÃO EFETIVA.
Anota aí. Diga o que você quer ou sente de forma clara e direta.
Isso é algo que um parceiro seguro vai achar atrativo e que
um parceiro evitativo vai achar brochante. Logo, se você fizer isso, a
RESPOSTA da pessoa vai te dizer se ele é bom para você ou não.
Se a pessoa ficar com medo por você estar sendo
comunicativo e claro, ALERTA SINAL VERMELHO: esta pessoa
está cheia de travas, traumas, emocionalmente indisponível e quer
jogar joguinhos em que ninguém fala nada e só enrola.
Eu já aconselhei isso para várias pessoas dentro do meu
grupo de pesquisa, dentro de uma etapa em que elas estavam indo
em encontros e desesperadas sem saber como agir...
Vou contar a história da Shay...
Shay estava saindo com um rapaz novo, e eles ficaram de
marcar um novo encontro. Tudo estava indo bem. Mas sabe quando
a data fica meio no ar? Bom, isso de não marcar com precisão a
data e hora do próximo encontro estava deixando ela ansiosa, afinal
ela precisava ter a segurança de que aquele encontro ia rolar
mesmo e ele estava de fato interessado!
Aí ela postou no grupo que estava desesperada, não sabia o
que fazer, achava que o rapaz não era bom para ela porque ele só
enrolava... não queria sentir essa ansiedade...
Gente, eu me surpreendo. Essas pessoas são como eu,
estudam a Ciência do Apego. Mas quando Apego Ansioso se ativa,
a gente esquece tudo o que aprendeu!
Eu respondi para ela: Shay, você pode usar a comunicação
efetiva. Não tem nada de errado com você falar para ele algo do
tipo: Oi, e aí, a gente vai se ver essa semana, né? Ou – Quando
ficou combinado o nosso próximo encontro?
É só falar, ué. O que não dá para fazer é falar as coisas num
tom de cobrança ou ameaça, porque aí seria comportamento de
protesto e não comunicação efetiva.
Comunicação Direta, Clara, Preto no Branco,
sem jogos: isso é Comunicação Efetiva.
A resposta dela veio alguns dias depois, no grupo: “Ele achou
atrativo o fato de que eu me comuniquei sem joguinhos. Isso é
incrível porque é algo que não é natural para mim... Mas eu fiz e o
resultado foi maravilhoso.”
Só com base nisso não dá para ter 100% de certeza de que o
parceiro dela era seguro, mas as chances são que sim.
É verdade que pessoas de Apego Inseguro não têm o dom
da Comunicação Efetiva. Mas a gente pode treinar isso. Vai ser bem
difícil no começo, assim como foi para a Shay.
É só uma questão de prática.
Saiba que existem muitas pessoas no mundo que podem te
fazer feliz.
Chamamos isso de princípio da abundância. Então quando
algo não dá certo com alguém, ainda que você vai se sentir rejeitada
ferozmente e eu compreendo isso, tente lembrar que existe uma
abundância de pessoas com modelo de apego seguro que podem te
proporcionar um relacionamento feliz.
Nota: Eu tinha muita dificuldade com esse princípio, porque
sempre que eu terminava um namoro era o fim do mundo, eu
achava que eu ia morrer, que aquela era a única pessoa para
mim.
Eu recomendo agora, que você ANOTE todas essas
recomendações em algum lugar e que você OLHE para elas com
frequência. Porque OLHAR é importante para incorporar isso ao
sistema de crenças.
18. O APEGO EVITATIVO
“AMOR É PARA OS FRACOS...”
Você conhece alguém que escolheu viver a vida num estado
de solidão? Sem depender de ninguém, sendo autossuficiente...
Essa pessoa às vezes viaja o mundo sozinho, não mantém relações
com a família nem com os amigos. E todo mundo inveja essa
pessoa, como se isso fosse uma habilidade incrível.
Uma habilidade... de se desconectar emocionalmente. Uma
habilidade... de não manter relacionamentos.
Nesse capítulo, vamos entender esse modelo de apego.
Apego evitativo.
No que essas pessoas acreditam?
Dependência é besteira.
Amor não é uma necessidade.
Se eu me envolver com alguém, vou sofrer
Valorizo minha independência acima de tudo
Prefiro relações casuais assim ninguém vai exigir nada
de mim
Me orgulho do quanto sou autossuficiente
Se alguém não é tão autossuficiente quanto eu,
considero essa pessoa fraca
(isso é uma generalização com base nos pensamentos
comuns desse tipo de apego) Claro que ter esse modelo de apego é
uma estratégia de sobrevivência. Um mecanismo de defesa para
anular qualquer sentimento de afeto, ternura ou intensa conexão
que possa evoluir durante a relação. Geralmente esse mecanismo
de defesa foi criado na infância, e de nada adianta querer mudar o
seu parceiro caso ele tenha esse modelo de apego. Somente a
pessoa que tem o modelo de apego é que pode trabalhar em si
mesma.
Os Evitativos sempre dão um jeito de manter as pessoas a
uma certa distância. Mesmo quando estão com alguém que amam.
Se tem algo que a ciência do Apego ensina, lembremos dos
princípios aprendidos na parte 1, é que nada disso tem a ver com
amor.
Pessoas evitativas mantêm distância através de mecanismos
que chamamos... ESTRATÉGIAS DE DESATIVAÇÃO.
- Carol namora há dois anos com Elisa. Embora elas se
gostem, ela sente que falta algo na relação. Que ela não sabe dizer
o que é. Será que ela é mesmo a mulher ideal?
- Marina se casou mas pensa na liberdade que tinha quando
solteira...
- Jorge nunca namorou. Ele tem 29 anos. Por algum motivo,
nunca quis firmar um compromisso embora muitas mulheres
interessantes tenham aparecido e ele gostasse delas.
Então vamos ver exemplos de ESTRATÉGIAS DE
DESATIVAÇÃO?
Pensar: Eu não estou pronto para um relacionamento.
Focar nas imperfeições do parceiro.
Flertar com outras pessoas ainda que estando num
relacionamento
Não dizer eu te amo
Formar relacionamentos com um futuro impossível, como com
alguém que mora em outro país ou com alguém casado.
Manter segredos e deixar tudo no ar
Evitar contato físico – não querer dividir a mesma cama, não
querer fazer sexo, andar na frente.
Querer ir embora para sua casa depois do sexo.
Dizer coisas como: “tenho problemas de intimidade”, “não
quero me comprometer”, “nunca namorei, porque não é
necessário”. (PS: Acredite, quando alguém diz isso, é do fundo
do coração.)
Pessoas com esse modelo de apego podem mudar quando
chegam num fundo do poço, se sentem extremamente sozinhas e
entendem que as suas conexões são vazias... Mas geralmente leva
muito tempo pra isso acontecer...
Bem, eu conheço pessoas que passaram por algumas
experiências transcendentais, como muitas sessões de meditação
(é verdade!) e criaram consciência sobre o seu modelo de apego
evitativo, o quanto sua vida era vazia, e desde então tudo melhorou
bastante.
Na minha experiência de observação de relatos, a terapia da
fala não é tão efetiva, ou demora muito tempo. Terapia Corporal,
quando a pessoa quer, funciona muito bem. Porque o Evitativo
racionaliza demais e tem muita resistência. Então o processo
psicanalítico, por exemplo, tende a ser muito lento e às vezes
ineficaz.
Isso quando a pessoa tem o modelo de apego Evitativo
desde a infância, o modelo Dismissive Avoidant (nome em inglês do
termo)... no entanto, todo mundo tem características evitativas. E
talvez você tenha identificado que você pratica algumas dessas
estratégias de desativação, ou que pensa como evitativo, mas que
nem sempre foi assim. Nesse caso, é um pouco diferente. Eu vou
explicar isso no próximo módulo, sobre Apego Desorganizado.
De qualquer forma, todos os modelos INSEGUROS tendem a
sabotar os relacionamentos. Um erro comum é pensar que o modelo
Evitativo é quem termina os relacionamentos, o monstro das
relações... já vimos que os Comportamentos de Protestos e o
comportamento infantil de uma forma geral, que as pessoas de tipo
Ansioso projetam no relacionamento são muito prejudiciais e são
uma forma de sabotagem inconsciente.
“O evitativo é só uma forma de sobrevivência, de funcionar,
que é diferente do ansioso.”
Enquanto o ansioso precisa botar tudo para fora e ter muita
aproximação, o evitativo precisou suprimir sentimentos e se isolou
como estratégia.
1. De onde vem o modelo evitativo?
O modelo de apego Evitativo, o Dismissive Avoidant, se
origina na infância, de uma criança que foi ignorada com frequência.
Então vamos lembrar do modelo Ansioso...
A criança tinha pais inconsistentes... às vezes estavam lá e
davam carinho... e aí de repente... oops, alguém foi embora, ou às
vezes não eram tão afetivos, trabalhavam muito e a criança ficou
sozinha.
Mensagens confusas. Inconsistência. Por isso, esse modelo
de Apego – Ansioso, no Brasil, foi traduzido, para o contexto infantil
pra modelo de apego Ansioso Ambivalente. Porque tem essa
ambivalência.
O modelo Evitativo não tem ambivalência nenhuma. A
criança foi ignorada o tempo todo. Com muita frequência eu vejo
pais depressivos ou frios que não estavam emocionalmente
disponíveis... e aí a criança foi obrigada a voltar toda a energia dela
para ela mesma e entendeu que...
ela tinha que cuidar de si mesma.
Ela tinha que ser autossuficiente. Porque era a única forma
se sobreviver.
Às vezes não foi isso. Tinha muitos irmãos e os pais não
tinham como dar atenção para todo mundo. E aí esse filho é
ignorado...
Isso é o mais clássico. Eu vi casos frequentes também em
que houve a morte de um parente próximo. E esse foi o trauma que
desencadeou as crenças de que é melhor não se apegar as
pessoas, afinal as pessoas vão embora, se apegar é perigoso... E
essa morte pode ser na infância, na adolescência ou no início da
vida adulta...
Agora, se você se identificou com alguns traços do modelo
evitativo, é comum ter uma mistura. Mas nesse caso, quando a
pessoa é uma mistura do Ansioso com o Evitativo, o modelo de
apego da pessoa é o Desorganizado. O Desorganizado é um mix
desses dois modelos de apego. Vai ter um capítulo só dele, apenas
vire a página.
19. O MODELO DE APEGO DESORGANIZADO
O apego desorganizado não é incluído por todos os
pesquisadores na Teoria do Apego.
Caso você venha a buscar vídeos ou livros sobre esse
assunto, é possível que você fique um pouco confuso. Alguns
modelos não trabalham com esse Apego, dizem que ele é raro, e
por ser uma mistura, não haveria necessidade de incluir.
Porééém... Eu aqui, não estou trabalhando com livros
teóricos, eu mas com prática, com dia-a-dia. E no dia-a-dia muita
gente se identifica com esse padrão aqui. Então pareceu totalmente
absurdo deixar isso aqui de lado.
Senta que lá vem história (de novo!).
Marília conheceu Jaques num aplicativo. Ela
estava solteira há três anos, desde que se divorciou
de um cara maluco que roubou todo seu dinheiro e
expôs ela nas redes sociais, e suas amigas
começaram a dizer que ela deveria dar chance para
alguém. Jaques foi legal com ela no primeiro encontro.
Mas tinha algo de esquisito com ele. Não sabia o que
era. Talvez ele fosse um psicopata como o ex dela. No
fim da noite, Jaques se aproximou dela para dar um
beijo. Marília sentiu um medo intenso e disse que
tinha que ir embora. Não ia marcar outro encontro tão
cedo.
No caso da Marília, o que se passa realmente com ela?
“Não sei qual é o problema, me sinto extremamente
desconfortável nos relacionamentos. Eu quero ter uma conexão real
com as pessoas. Tenho um desejo muito forte dentro de mim pra
isso. Mas quando eu começo um relacionamento com alguém, eu
sinto um medo tão forte que essa pessoa possa me machucar.”
Assim que ela se aproxima de qualquer pessoa, ela começa
a enxergar essa pessoa como uma ameaça real. E começa a buscar
pelo o que possa haver de errado com essa pessoa.
Jacques mandou uma mensagem essa noite.
Disse que não sabia o que tinha de errado com ela,
mas que gostou dela. Sabia que ela estava
machucada por algo que ele não sabia o que era e
que ele jamais poderia remediar, mas que se ela
quisesse dar uma chance, ele estaria disposto e
entendê-la e até mesmo ter um relacionamento sério.
Jacques demonstrou claramente ter o modelo de
apego SEGURO. Marília chorou, e foi incapaz de
responder essa mensagem. A última coisa que ela
queria era um relacionamento sério. Algumas
semanas depois, ela sente vontade de se conectar
(por algum motivo o apego ansioso se ativa), e o
chama. Eles se dão bem. E passam uma ótima noite.
Ela consegue superar o medo. No dia seguinte,
Jacques manda outra mensagem, e Marília não
consegue responder. Ela começa a duvidar dele. Que
tipo de pessoa você mal conhece, já quer ter um
relacionamento sério e está disponível toda hora? Eu,
hein. Tô fora. Melhor ficar sozinha!
Ficou claro o padrão de sabotagem inconsciente onde está
presa Marília?
Jacques era um rapaz de apego SEGURO nessa história
inventada.
Lógico que ela não tinha como saber isso, mas estou dando
um exemplo de uma história que eu ouvi mais de vinte vezes nos
relatos que eu acompanhei!
Pessoas que cortam relações no início quando sentem algo
estranho.
A pessoa de Apego Desorganizado uma hora quer o parceiro,
e outra não quer. Isso porque ela pode oscilar entre os modelos
ansioso e evitativo. Logo, pode evitar ou buscar aproximação.
O que vai determinar isso é o modelo de apego do parceiro.
Quando o parceiro é seguro e consistente, a pessoa de modelo
Desorganizado pode atravessar o seu medo e evoluir.
Nesse modelo de Apego, também é muito comum haver
dissociação. A dissociação é uma sensação de falta de controle, de
tontura, de não estar aqui. Na verdade, ela é um sintoma do Stress
Pós Traumático das relações disfuncionais do passado.
No momento em que ajustarmos as crenças, e certificarmos
que você se relacione com alguém de modelo Seguro, esse sintoma
tão chato vai aliviar.
1. DE ONDE VEM MEU MODELO DESORGANIZADO?

É mais raro que se origine na infância. Esse modelo se


origina na criança quando os pais são abusivos mesmo, ou
dependentes químicos.
Para ser bem sincera com você, isso é o que está nos livros.
As pessoas que eu analisei que tinham o modelo Desorganizado,
uma ou outra era filha de pais narcisistas ou filha de dependente
químico. Nesse caso, tinha esse apego desde a infância.
Mas 85% desenvolveu esse modelo na vida adulta, sendo
que antes tinha o tipo Ansioso.
E depois de uma relação abusiva ou traumática, adquiriu
características evitativas.
Eu sempre tive um modelo Ansioso nos relacionamentos.
Mas depois que o último namorado terminou comigo, aquilo gerou
um trauma. E no primeiro teste de apego que eu fiz, logo que eu
descobri que tudo isso existia, o meu resultado foi:
DESORGANIZADO.
Em inglês, o nome desse modelo é Fearful Avoidant –
Evitativo Medroso. A questão do medo realmente é uma crença
central. Então o tratamento todo gira em torno de identificar esse
medo, escutar esse medo, e não deixar que esse medo domine a
sua vida. E você pode fazer isso sozinho. Eu venci isso sozinha, não
foi com nenhum terapeuta, nenhum método mágico, só eu mesma
mudando minha forma de pensar e, claro, escolhendo um parceiro
seguro para me relacionar.
PARTE 3
20. RELAÇÕES INSEGURAS + RELAÇÕES SEGURAS
1. O QUE ACONTECE QUANDO ANSIOSO E EVITATIVO
NAMORAM
O que acontece quando pessoas de modelos inseguros
namoram? A pessoa ansiosa na relação vai ficar presa num looping
de se sentir rejeitada.
A pessoa evitativa vai se sentir eternamente cobrada e
sufocada.
Como superar isso?
É isso que vamos estudar nesse módulo.
Quando pessoas ansiosas namoram evitativos, ambos estão
reencenando papéis infantis. É por isso que tudo o que acontece
nesses relacionamentos é tão doloroso, porque na verdade é uma
projeção de algo que já aconteceu no passado.
É bastante frequente que o homem evitativo tenha tido uma
mãe superprotetora, que ficava muito em cima e não deixava ele se
sentir uma pessoa que existia separada da mãe.
O que acontece quando esse homem evitativo namora uma
mulher de modelo ansioso? Ele está voltando ao mesmo lugar da
infância – um lugar temido, em que ele se sente sufocado, cobrado,
mas ao mesmo tempo inundado de amor. É conflituoso porque é
ruim, mas ao mesmo tempo é bom.
O que acontece quando uma mulher ansiosa namora um
homem evitativo? Ela está sentindo a mesma dor de rejeição que
sentiu há anos atrás, possivelmente tinha um pai frio que não lhe
deu o afeto que ela desejava. Sentir todo esse sofrimento é horrível,
mas é familiar. E a gente tem medo de sair do familiar, então tende a
repetir o mesmo modelo de relação.
Bem, nem sempre é assim, isso é um exemplo comum
apenas. Pode ser um homem ansioso e mulher evitativa. E as
feridas podem ser causadas por fatores diversos.
O que eu quero fazer entender aqui é que isso não tem a ver
com amor, infelizmente.
Cria-se um apego doentio – às vezes de ambos os lados –
nessa dinâmica, porque ambos sentem um profundo medo de
abandono.
Mas, Marcella, é só ruim? Tô quase chorando aqui...
Não, deixa eu te falar como é.
Quando vocês se conhecem, é tudo maravilhoso. É filme de
Hollywood, é a Disney. Os dois acham que encontraram o amor da
vida, querem passar todo o tempo juntos – no início até o evitativo
quer isso – rola uma super obsessão, você vê estrelinhas em todos
os lugares, tudo é mágico, arrepios na pele, coração acelerado,
sexo maravilhoso, aquela coisa toda.
Só de receber uma simples mensagem da pessoa no celular
o teu coração já para.
E você acha que aquilo é amor, porque a vida toda você só
teve isso.
Você nem imagina que o nome disso é Sistema de Apego
Ativado.
Se eu te falar que eu não sinto falta disso, eu estaria
mentindo. Eu sinto falta de toda essa emoção, essa adrenalina. Mas
hoje, eu entendi que ela não vale a pena.
Eu prefiro ter relacionamentos calmos, pacíficos, em que eu
não vou sentir nada disso porque o meu sistema de apego não se
ativa, mas que vai ter segurança.
E quais relacionamentos são esses? Relacionamentos com
pessoas de modelo Seguro.
21. A DINÂMICA ANSIOSO-EVITATIVO OU DESORGANIZADO-
ABUSIVO
A Ciência do Apego revela que pessoas Ansiosas quase
sempre se relacionam com Evitativas, e vice-versa.
As pessoas de modelo Desorganizado têm uma tendência
maior a se relacionar com pessoas abusivas, mas a dinâmica que
vamos discutir aqui se aplica a esse modelo. A pessoa de modelo
Desorganizado costuma fazer o papel Ansioso numa relação
abusiva enquanto o abusador faz o papel Evitativo. Se este for o seu
caso, tudo o que for explicado sobre Ansioso-Evitativo vai se aplicar
pra você, mesmo que o teu modelo seja o Desorganizado, ok? É só
você pensar no papel que você desempenha nos relacionamentos.
Como o modelo Desorganizado é uma mistura dos dois modelos,
você pode pensar: nos relacionamentos, você costuma ser ansioso
ou evitativo?
The anxious-avoidant trap (a cilada ansioso-evitativo):
Num relacionamento ansioso-evitativo, tudo começa muito
bem, tudo começa maravilhoso.
Vocês se conhecem, e é tipo filme de Hollywood. Amor da
minha vida, não desgruda, vê estrelas de felicidade, arrepio na pele.
Aquele sexo maravilhoso. Isso, é assim.
Com o tempo, vocês começam a se desentender. Por
motivos que nem vocês entendem, afinal... Vocês se amam.
É como ter aquele emprego X que te empolga, fascinante, faz
teu olho brilhar e você querer mais... mas é de curto prazo, a
empresa não precisa de você por mais do que alguns meses, e o
salario é mediano. Mal dá para pagar as contas.
22. A DINÂMICA SEGURA
A gente pode pensar no relacionamento com uma pessoa
segura como um emprego novo.
Você começa numa empresa, você tem que aprender a
mexer em novas ferramentas, entender como funciona tudo, e
aquilo não te empolga muito, porque aquele é um trabalho sério, é
um trabalho meio chato. Mas é um trabalho estável, e é um trabalho
onde você tem chances de crescer muito e que vai pagar suas
contas muito bem. Ou seja, aí na empresa Y as tuas necessidades
tão sendo preenchidas, mas você não se entusiasma, e no início é
tudo difícil porque você não sabe como funciona.
Você estava acostumada com o emprego X...
É exatamente assim quando você vai se relacionar com uma
pessoa segura pela primeira vez.
Não vai ter adrenalina, emoção, sexo maravilhoso, química
perfeita entre o casal. NÃO VAI TER, ok? Vocês vão ter que
construir isso. E passar por um período de adaptação, que é o início
do relacionamento.
Você nunca teve um relacionamento seguro, saudável,
calmo, tranquilo? Se você é como eu, você nunca teve.
As pessoas seguras parecem chatas num primeiro momento.
Sem graça. Entediantes. E você não vai querer estar com aquela
pessoa.
Naturalmente, você só sente atração química por pessoas de
apego inseguro.
Porém, existem muitas razões por que você deveria
considerar namorar uma pessoa SEGURA:
Resolvem conflito: Durante uma briga não sentem
necessidade de agir na defensiva
Flexibilidade de Pensamento: Reconsideram suas
crenças e estratégias quando necessário
Comunicadores Efetivos: Esperam que as outras
pessoas sejam compreensivas e responsivas, então
expressam seus sentimentos com facilidade e isso é
natural para a pessoa de Apego Seguro
Não jogam jogos: Eles querem intimidade e acreditam
que o outro também quer isso, então pra quê encobrir
isso e jogar joguinho?
Confortáveis com intimidade, sem preocupação com
limites: Procuram intimidade e não têm medo de estarem
fundidos com alguém. Por não estarem sempre com
medo de rejeição (como o ansioso) ou necessidade de
se retirar (como o evitativo), para eles é muito fácil ficar
junto, seja de forma física ou emocional.
Perdoam fácil: Imaginam que a intenção do outro é
sempre boa.
Tratam muito bem o parceiro
Têm segurança no poder de melhorar o relacionamento
Respondem bem às chamadas e demandas do parceiro.
As pessoas que viveram a vida toda com parceiros inseguros
nem imaginam o que é viver com alguém assim.
Num relacionamento seguro, não temos aquela dança de –
eu me aproximo um pouco – você se afasta um pouco mais típica da
Cilada Ansioso-Evitativo. No lugar disso, temos uma CRESCENTE
de intimidade e segurança no relacionamento, que só tende a
melhorar com o tempo.
O melhor de tudo é que o parceiro seguro pode discutir suas
emoções de forma direta para que nunca haja um problema ou
briga. O parceiro seguro pode servir como uma base segura para
que o outro parceiro, que tem o modelo de Apego Inseguro, se sinta
acolhido. Para que assim ele se sinta protegido e possa encarar o
mundo com mais facilidade.
Li num livro (Apegados, de Cindy Hazan e Philip Shaver) a
seguinte frase. “As pessoas que mais apreciam as relações seguras
são as que já tiveram relacionamentos com parceiros inseguros e
seguros.”
E de onde vem o apego seguro?
O Apego Seguro é originado por uma criança que entendeu
que pode contar com os seus pais, que não duvida da
disponibilidade desses pais.
Pais com apego seguro vão tender a ter filhos com o apego
seguro.
Bowlby, o criador da Teoria do Apego, acredita que a criança
de apego seguro carrega essa confiança até a vida adulta e
consequentemente leva isso às suas relações amorosas.
Mas as descobertas de pesquisa não param por aí!
Se você se formou com o apego seguro na infância, o seu
apego pode mudar conforme os relacionamentos amorosos que
você entrar.
Se você tiver um relacionamento muito ruim, com alguém de
modelo Evitativo, você pode acabar ficando mais Ansioso.
Ou seja, o nosso modelo de Apego é variável.
Essa descoberta é incrível para as pessoas de Apego
Inseguro.
Isso quer dizer que se eu tenho o Apego Ansioso, por
exemplo, e eu entro num relacionamento com uma pessoa de
Apego Seguro...
Eu vou me tornar mais Seguro.
Sim, é isso mesmo.
E o mesmo serve para pessoas de tipo Evitativo ou
Desorganizado.
23. ESCOLHENDO UM PARCEIRO SEGURO
Se você está solteiro, por favor, nem pense duas vezes, e
escolha um parceiro seguro.
Agora, o melhor que eu posso fazer por você é te preparar,
porque eu quase sabotei a minha relação por causa disso.
No início, não vai ter química, ok?
Não, não vai.
No início, você vai achar a pessoa sem graça.
Continue apesar de tudo. Uma pessoa segura é ouro para
você que tem outro modelo de apego.
Quando a gente namora uma pessoa segura, a gente pratica
o apego seguro com aquela pessoa, muda a nossa forma de ver
relacionamentos. É um processo de cura.
Claro, se você tentar por um tempo e realmente não tiver
atração por aquela pessoa, desiste. E tenta com outra pessoa, em
outro momento.
Para você ter noção como era só uma questão de enxergar...
Antes eu não enxergava que tinha tantos homens seguros por aí.
Pare e pense. Sabe aquele seu primo legal? Aquele seu
melhor amigo bacana que trata bem as mulheres? Aquele seu
amigo que namora a mesma garota há anos e não parece viver
nenhum grande drama? As chances são que todos esses homens
devem ter apego seguro.
E isso serve para mulheres também, é claro. A ausência do
drama e de sofrimento excessivo nos relacionamentos é um
indicativo do apego seguro. Você consegue facilmente identificar
essas pessoas após uma conversa franca...
Pergunte com quantas pessoas ele(a) já teve um
relacionamento sério. Pergunte o que ele(a) espera nesse momento
da vida. Uma resposta sincera, simples, que demonstre um grau de
vulnerabilidade mediano, será indicativo de apego seguro.
Uma pessoa evitativa vai se apavorar ao ouvir essa pergunta.
O ansioso vai demonstrar sua fragilidade de imediato. O
desorganizado não vai saber responder.
É fácil, viu só? Identifique a pessoa de apego seguro e faça
um teste com ela.
Depois que você descobre a Ciência do Apego, você só
sofre num relacionamento se você não conseguir colocar isso
em prática. Porque o conhecimento você vai ter.
24. UM PEDIDO
Muito obrigada por ter finalizado este livro. Eu espero, de
coração, que ele tenha te ajudado de alguma forma nessa jornada.
Meu desejo era poder tomar um café com você e olhar nos seus
olhos enquanto conversávamos sobre a Ciência do Apego. Eu
espero que você tenha se sentido abraçado e acolhido da mesma
forma como eu me senti quando descobri esta ciência.
Gostaria de te pedir: se isso te ajudou, você poderia deixar
uma avaliação sobre o livro na Amazon?
Isso vai ajudar mais pessoas a sofrerem menos e ter
relacionamentos saudáveis. Pois quanto mais avaliações o livro
tiver, mais o algoritmo da Amazon vai recomendar o livro.
Para deixar sua avaliação é só clicar no canto direito da
página (como se fosse passar a página) ao finalizar o livro. Você
pode também entrar na Amazon.com.br e deixar uma avaliação
personalizada ali.
Estou muito grata a você. Espero que estejamos conectadas
de agora em diante por essa rede de conhecimento, e que você
guarde um pedacinho de mim dentro de você após essa leitura.

Um abraço,
Marcella.
25. AGRADECIMENTOS E REFERÊNCIAS

Aos membros do grupo de estudo Insecure Attachment Styles


– Love and Relationships dentro do qual muitas pessoas serviram
como estudo de caso para a pesquisa.
Ao meu parceiro, G., por me mostrar o que é um
relacionamento normal e saudável. E por ter tido paciência comigo
quando ainda estava aprendendo o que é amar sem projetar apego.
Agradeço aos autores Adam Levine, Diane Pole Heeler, às
referencias modernas em apego Alan Robarge, N. Mframe, à coach
espiritual Candance von Dell, todos me auxiliaram imensamente
com insights grandiosos na fase inicial de cura e, posteriormente, de
pesquisa.

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