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MARCELLA YOUNES
“Às vezes o amor não basta...”
(crença popular)
Caro(a) leitor(a),
Espero que este livro te encontre bem. Mas seja lá qual for a
situação em que você esteja agora, fique tranquilo. Antes de me
tornar pesquisadora na Teoria do Apego, eu também não estive bem
pela maior parte de minha vida.
No momento em que redijo este livro, curei duas doenças
físicas crônicas e me recuperei de um ciclo sem fim de doenças
psíquicas. E, lógico, já tive mais de sete relacionamentos frustrados.
A mudança só é possível quando você não se considera
vítima dos fatos.
Este livro é para você se:
Por algum motivo estranho, seus relacionamentos
sempre dão errado e você sempre sofre muito quando
gosta de alguém.
Você até queria se envolver com alguém, mas tem um
medo estranho que não sabe de onde vem.
Não consegue ficar sozinho e não faz a mínima ideia do
motivo.
Se relaciona com pessoas não tão legais que não te
tratam como você quer. Por que você insiste nessas
relações, ainda?
Você sente que vive num ciclo infindável, repetindo a
mesma história inúmeras vezes, e não sai do lugar.
Você precisa entender o que ocorre, e por que ocorre.
Dito isso, ao invés de sair jogando um milhão de explicações
científicas sobre relacionamentos logo de cara, primeiro vou te
contar a minha história.
PARTE 1
1. O CICLO DO ABANDONO
A primeira crise foi aos dezenove.
Quando eu tinha dezenove anos, fiz um intercâmbio para
Londres. Três meses porque era o período de férias de faculdade.
Em Março, voltaria para Porto Alegre para seguir na faculdade de
Psicologia, na Universidade Federal de Ciências da Saúde, onde eu
cursava. O ano era 2011.
Logo no primeiro mês em Londres, conheci um rapaz, inglês,
num pub em Camden Town, um dos bairros mais descolados da
cidade. Em pouco tempo, começamos a namorar. Vou chamar ele
aqui de J.
Eu e J. estávamos curtindo a vida como nunca, parecia um
filme, acho que eu nunca tinha sido tão feliz. Ele me trazia tanta
alegria que eu achava que meu peito ia explodir.
Mas logo os três meses acabaram e eu tinha que voltar para
o Brasil, continuar a faculdade e seguir a vida. No dia em que tive
que me despedir, no aeroporto de Heathrow, achei que ia ter um
ataque cardíaco, desmaiar ou morrer, mas entrei no avião e voltei
para Porto Alegre.
Eu e J. nunca mais nos vimos depois daquele dia.
Apesar da distância, seguimos falando por Skype (vídeo),
mas aos poucos ele foi se afastando. Retomei minha vida
normalmente em Porto Alegre... Mas algo estava diferente.
Comecei a ter crises de pânico, tirar notas ruins. Algo não
estava normal.
Fui em vários psiquiatras e tive que tomar medicação. Meu
diagnóstico: Depressão moderada com crises de pânico. O motivo?
Ninguém sabia.
Meu relacionamento com J. acabou, mas o surto continuou.
Meu desempenho nas aulas e provas ia cada vez pior, a ponto de
eu ter que trancar a faculdade. Eu estava no quarto ano, trancar não
fazia sentido, mas não tive opção. Um dia, peguei uma faca na
cozinha porque queria acabar com tudo. Nada fazia sentido.
Levei dois anos para me recuperar deste “episódio”. Até que
fiquei bem. Não me envolvi com ninguém. A vida seguiu. Tinha que
seguir.
Eu sabia que faltava algo, e a sensação de vazio no meu
peito era crônica, mas de alguma forma eu estava vivendo e
fazendo aquilo que eu tinha que fazer.
Em 2014, eu decidi mochilar pela América Latina sozinha
como se isso fosse a solução para os meus problemas. Quando eu
voltei, comecei a namorar com um garoto, R. Ele ouviu as minhas
histórias da viagem e ficou encantando comigo “que mulher incrível,
independente, segura”. Eu realmente estava bem naquela época.
Eu tinha perdido minha vaga na faculdade pública graças ao
episódio anterior de depressão e resolvi fazer outro curso na
faculdade privada... Então, naquele momento, tudo estava em
ordem, eu tinha recém começado Letras na PUCRS, até que
comecei o relacionamento com R.
E aí tudo começou de novo.
Foi só uma questão de tempo até ele ver que eu não era a
“mulher independente” que transparecia ser. Eu demandava
mensagens e telefonemas o tempo todo. Ele se irritava com isso,
dizia que não gostava de mulheres assim, “meio depressivas”. Eu
planejei tudo: quando terminasse a faculdade, íamos morar juntos.
Precisava dele comigo.
Não foi isso que aconteceu. Ele tinha outros planos de vida,
que eram mais importantes do que estar comigo.
2. DIAGNÓSTICOS
Depois que eu e R. Terminamos, experimentei o fundo do
poço. Foi aí que começaram as dores crônicas. Primeiro, foi uma
dor no estômago que ninguém sabia de onde vinha. Na endoscopia,
gastrite leve, nada grave. Todos os gastroenterologistas de Porto
Alegre riam da minha cara: “tu não tens nada, guria, vai descansar”.
Mas a dor, a dor no meu estômago era tão insuportável que parecia
uma úlcera ou um câncer! O médico disse que era na minha
cabeça, e provavelmente hipocondria. Hein?
Perdi as contas de quantas vezes fui a um Pronto-Socorro
que tinha no meu bairro, o Cruz Azul.
Fui em outro psiquiatra, que por sua vez diagnosticou
(errado) Transtorno Bipolar de Humor, e me passou mais remédios.
Mais uma vez, este episódio depressivo e de dor crônica
durou mais de um ano. Eu e R. Nunca mais nos falamos,
principalmente depois das coisas que ele me disse – você tem que
aprender a gerenciar melhor suas emoções, você é muito sensível,
você chora demais. Não me entenda errado, ele não era um mau
namorado. Em comparação a outros, um dos melhores dessa
época. Ele só não queria lidar comigo. Ele queria ficar sozinho. É
um direito dele.
Nunca mais nos falamos, mas ele me deixou perdida de mim.
3. ENXAQUECA
A enxaqueca crônica veio depois. Eu já tinha me formado em
Letras e estava morando agora no Rio de Janeiro. Tentei me
relacionar, de forma frustrada, com vários caras. Alguns ficaram
pouco tempo no Rio, outros simplesmente não estavam
interessados. Cada vez que alguém ia embora, a enxaqueca só
piorava.
Era como se a dor do estômago tivesse migrado para a
cabeça.
Legal: agora eu estava no Rio de Janeiro, meu primeiro
emprego depois de formada, trabalhava como professora de
português. Amava a minha vida lá, mas eu não podia ser feliz como
todas as outras pessoas? Não, eu não podia, eu nunca ia ser feliz,
tinha algo de errado comigo... Eu simplesmente não conseguia me
relacionar com os homens sem parecer uma louca!
Eu estava cada vez mais próxima de descobrir o que era....
De chegar ao cerne da questão...
Ainda não foi dessa vez que aprendi e entendi qual era o
problema.
Me mudei para São Paulo pois tinha um novo trabalho como
escritora. No dia em que eu cheguei em São Paulo, sozinha no meu
apartamento na Bela Vista, fui tomada por uma angústia profunda.
Eu tinha que dormir sozinha naquele apartamento, numa cidade em
que eu não tinha um único amigo! Eu tinha que ficar sozinha, e dar
conta da minha vida. Durante quantas noites eu teria que viver
aquilo?
Baixei um aplicativo, o famoso Tinder, sem grandes
expectativas, e foi lá que conheci o meu próximo namorado, D.
Nosso namoro durou três meses. Ele não gostava de muita
intimidade, falar sobre sentimentos, ficar muito tempo lá em casa.
Ainda assim, a gente se deu bem. Até o momento, lá pelo terceiro
mês, em que eu comecei a pedir mais do que ele estava disposto a
dar.
Namorar trazia uma sensação de ansiedade esquisita, o
corpo ficava o tempo todo em estado de alerta, sempre tinha um
celular para olhar, uma mensagem para mandar, algo para esperar,
e se aquele algo não vinha... Parecia que o mundo ia cair, sabe?
Teve um fim de semana em que fiquei mais doente que o normal e
pedi para ele ficar comigo. Ele disse que não. Que ele tinha vida
própria, e não podia dedicar a vida a cuidar de mim. E terminou
tudo.
Nesse momento – eu achei de verdade que não ia ter saída.
Eu estava fadada a um ciclo de repetição eterna, passar uma vida
de doença, com relacionamentos ruins, mendigando amor de
pessoas que não queriam nada comigo, sendo diagnosticada nomes
absurdos por Psiquiatras e Médicos que mal olhavam na minha cara
e pagando mil reais a consulta. Eu trabalhava exclusivamente para
alimentar a indústria farmacêutica e pagar terapia.
O que eu tinha, afinal? Minha enxaqueca nunca ia passar. O
vazio no meu peito nunca ia passar. E eu precisava daquele menino
que eu mal conhecia, como se ele fosse a única salvação da minha
vida!
Olha, eu não desejo metade disso para você. Mas se você
passou por algo parecido com isso, saiba que eu te entendo.
4. A CIÊNCIA DO APEGO: O DIA QUE TRANSFORMOU MINHA
VIDA
Quando este último ciclo de relacionamento ruim terminou,
fiquei em casa durante semanas sem comer direito, sem sair, sem
tomar banho. Bem, você conhece o script, né? Eu não conseguia
ler, então eu tive uma ideia: acho que consigo ouvir um Audiobook.
(Para quem não sabe, audiobooks são livros em áudio, que você só
ouve no celular sem fazer esforço algum).
Eu usava um aplicativo americano para ouvir Audiobooks em
inglês, e foi quando eu vi ali dois livros cujos títulos me chamaram
atenção: um chamava Attached e o outro chamava Avoidant.
Eu comecei a desconfiar que tinha algo de esquisito comigo e
algo de esquisito com meu ex-namorado, D., que nós éramos
incompatíveis. E que aquilo nada tinha a ver com amor.
Ele me disse: Às vezes o amor não basta.
Era exatamente isso, era como se ele soubesse o que eu
viria a estudar depois.
Esses dois Audiobooks continham as informações
introdutórias sobre a Ciência do Apego – e explicaram toda a minha
vida! Todo o meu sofrimento! Por que eu sofri a vida toda atrás de
caras que não me diziam nada.
Entendendo a Ciência do Apego, curei a minha vida, minha
enxaqueca (é sério, ela não dói mais como antes), meus
relacionamentos, minha auto-estima, meu trabalho. Alguns dias
depois de esse último namorado terminar comigo, eu lembro de ficar
olhando uma cartela de Rivotril e pensar: se eu tomar tudo isso,
será que acaba a dor? Será que nunca mais vou sentir isso?
Eu não tinha opção: eu estava entre a vida ou a morte. Viver
daquela forma não era vida. Ou eu melhorava, ou era melhor
morrer. Não havia outro jeito. Ou eu me curava, ou não valia a pena
continuar acordando um dia após o outro.
Estar preso em um desses ciclos que o nosso inconsciente
constrói é a pior armadilha que alguém pode viver.
É por isso que eu estou oferecendo aqui o caminho.
Você merece se curar. Você merece uma vida plena, feliz,
com relacionamentos verdadeiros e recíprocos. Isso existe. Isso é
possível, mesmo que você hoje desconheça.
Pode ser difícil acreditar que você tem o poder de fazer essa
escolha.
O único motivo pelo qual eu compartilhei, aqui, minha
história, é para que entenda que sim.
Não importa o quanto paralisada esteja sua vida agora.
Você pode estar vivendo no pior ciclo de relacionamentos
ruins, o que gera doenças psicológicas e geralmente físicas – não
tenho dúvidas! Existe sempre uma escolha. Existe sempre um outro
lado. Você tem esse poder.
Existem relacionamentos afetivos, saudáveis, que fazem
sorrir e não trazem angústia.
Isso existe, e você pode tê-lo. A questão é a seguinte: você
esteve olhando no lugar errado.
Oi, como assim?
Sim, eu sei que é uma ideia simplista. Mas pensa comigo, se
você e eu compartilhamos do mesmo modelo de apego, você
geralmente se atrai pelas pessoas que não te dão bola, não é? E
quanto mais ela vai se afastando, mais você se envolve?
E quando alguém gosta muito de você, você imediatamente
perde o interesse pela pessoa?
Você tem um padrão de homem ou mulher bem definido,
mesmo que você não tenha consciência disso.
Um abraço,
Marcella.
25. AGRADECIMENTOS E REFERÊNCIAS