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Título

original:
Hold Me Tight
Copyright © 2012 by Sue Johnson
1ª edição – Agosto de 2012
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no
Brasil em 2009
Editor e Publisher
Luiz Fernando Emediato (LICENCIADO)
Diretora Editorial
Fernanda Emediato
Produtor Editorial
Paulo Schmidt
Assistente Editorial
Erika Neves
Capa
Silvana Mattievich
Projeto Gráfico
Alan Maia
Diagramação
Kauan Sales
Preparação
Josias Andrade
Revisão
Marcia Benjamim
Dados Internacionais de Catal ogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Johnson, Sue
Abrace-me Apertado : sete conversas para um amor duradouro / Sue Johnson ; [tradução Samuel Dirceu]
-São Paulo : Jardim dos Livros, 2012.
Título original: Hold me tight : seven conversations for a lifetime of love.
eBook ISBN 978-85-63420-23-7
Print ISBN 978-85-63420-24-4
1. Amor 2. Comunicação interpessoal 3. Comunicação no casamento 4. Homem-mulher -
Relacionamento 5. Intimidade (Psicologia).
12-05662 CDD: 158.24

Índices para catálogo sistemático


1. Casais : Relações interpessoais : Psicologia aplicada 158.24
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Para meus colegas, que me ajudaram
a entender o amor.
Ao meu parceiro, John,
e meus filhos Tim, Emma e Sarah,
que me ensinaram a sentir e a dar amor.
Dance comigo em sua beleza com um violino ardente

Dance comigo por entre o pânico até que me sinta seguro e coeso

Erga -me, como um galho de olivas, e seja a pomba que me leva de regresso à
casa

Dance comigo até o fi m do amor

— LEONARD COHEN
Sumário
Introdução

PARTE UM
Uma nova visão do amor
Amor — uma nova visão revolucionária
Para onde foi o nosso amor? Perdendo a conexão
Receptividade emocional — A chave para uma vida inteira de amor

PARTE DOIS
Sete conversas transformadoras
CONVERSA 1: Reconhecendo os diálogos do demônio
CONVERSA 2: Localizando os pontos frágeis
CONVERSA 3: Revisitando um momento instável
CONVERSA 4: Abrace-me — apertado — engajando e conectando
CONVERSA 5: Perdoando ofensas
CONVERSA 6: Criando vínculo por meio do sexo e do contato físico
CONVERSA 7: Mantendo vivo seu amor

PARTE TRÊS
O poder de Abrace-me Apertado
Curando feridas traumáticas — o poder do amor
A conexão definitiva — o amor como a fronteira final
Agradecimentos
Glossário
Bibliografia
Sobre a autora
Introdução
empre fui fascinada pelos relacionamentos. Cresci na Inglaterra, onde

S
meu pai tinha um pub, e passei muito tempo observando as pessoas se
encontrando, conversando, bebendo, brigando, dançando, namorando.
Mas o ponto focal de minha juventude foi o casamento de meus pais. Eu
observava, impotente, enquanto eles destruíam seu casamento e a si
mesmos. Contudo, eu sabia que eles se amavam profundamente. Em seus
últimos dias meu pai chorou lágrimas doloridas pela perda de minha mãe,
embora eles estivessem separados havia mais de 20 anos.
Minha resposta ao sofrimento de meus pais foi jurar que Nunca me casaria. O
amor romântico, decidi, era uma ilusão e uma armadilha. Eu ficaria muito
melhor sozinha, livre e desembaraçada. Depois, naturalmente, me apaixonei e
casei. O amor me enredou, ainda que eu o estivesse afastando de mim.
Afinal, o que era essa emoção misteriosa e poderosa, que derrotou meus pais,
complicou a minha vida, e que parecia ser o ponto central de alegria e
sofrimento para tanta gente? Será que haveria um caminho nesse labirinto que
levasse a um amor duradouro?
E esse meu fascínio pelo amor e as ligações amorosas me levaram até ao
aconselhamento e à psicologia. Como parte do meu treinamento, estudei a
descrição desse enredo, feita por poetas e cientistas. Lecionei para crianças
desajustadas às quais o amor tinha sido negado. Aconselhei adultos que lutavam
contra a perda de uma relação amorosa. Trabalhei com famílias cujos membros
amavam uns aos outros, mas que não conseguiam reunirse e não conseguiam
viver separados. O amor continuou sendo um mistério.
Então, na fase final de obtenção de meu doutorado em aconselhamento
psicológico na Universidade de British Columbia, em Vancouver, comecei a
trabalhar com casais. Fiquei imediatamente hipnotizada pela intensidade de suas
brigas e pela maneira como, muitas vezes, falavam de seu relacionamento em
termos de vida ou morte.
Eu tinha conseguido um considerável sucesso tratando de in-divíduos e
famílias, mas aconselhar dois parceiros em guerra me derrotou. E nenhum dos
livros disponíveis na biblioteca, ou as técnicas que estava aprendendo, pareciam
ajudar. Meus casais não ligavam para as revelações sobre suas relações na
infância. Eles não queriam ser lógicos e nem aprender a negociar. Eles,
certamente, não queriam que lhes ensinássemos regras para lutar mais
efetivamente.
Parecia que o amor era tudo, menos negociável. Não se pode regatear pela
compaixão, a conexão. Essas não são reações intelectuais; são respostas
emocionais. Então simplesmente comecei a me ater às experiências dos casais, e
deixálos me ensinar seus ritmos emocionais e seus passos na dança do amor
romântico. Comecei a gravar minhas sessões com os casais e revêlas repetidas
vezes.
Enquanto eu observava os casais gritando e chorando, e batendo boca e se
fechando em copas, comecei a entender que havia momentoschave emocionais,
negativos e positivos, que definiam uma relação. Com a ajuda de meu orientador
de tese, Les Greenberg, comecei a desenvolver uma nova terapia para casais, e
que era baseada nesses momentos. Nós a chamamos de Terapia Focada nas
Emoções, ou TFE, abreviadamente.
Desenvolvemos um projeto de pesquisa dando a alguns casais uma versão em
desenvolvimento da TFE; a outros, uma terapia comportamental, ensinando-lhes
habilidades de comunicação e de negociação, e a outros, terapia nenhuma. Os
resultados da TFE foram espantosamente positivos, melhor do que tratamento
nenhum ou que a terapia comportamental. Os casais brigavam menos, sentiamse
mais próximos, e a satisfação com suas relações aumentou. O sucesso desse
estudo me guindou a uma posição acadêmica na Universidade de Ottawa, onde,
com o passar dos anos, pude desenvolver mais estudos com tipos diferentes de
casais em consultórios de aconselhamento, centros de treinamento e clínicas
hospitalares. Os resultados continuaram sendo surpreendentemente bons.
A despeito desse sucesso, percebi que eu ainda não entendia o drama
emocional que se apossava de meus casais. Eu estava navegando pelo labirinto
do amor, mas ainda não tinha alcançado o seu âmago. E tinha milhares de
indagações. Por que em minhas sessões os casais angustiados estavam repletos
de emoções tão fortes? Por que as pessoas lutavam tanto para conseguir que a
pessoa amada correspondesse? Por que a TFE funcionava, e como poderíamos
melhorála ainda mais?
Então, em meio a uma conversa com um colega em um pub, o lugar onde eu
primeiramente começara a aprender o que eram as ligações humanas, tive um
desses cliques de inspiração e entendimento sobre os quais a gente lê. Meu
colega e eu estávamos discutindo o porquê de tantos terapeutas acreditarem que
relações amorosas saudáveis são apenas acordos racionais. O raciocínio é que
todos nós buscamos o máximo de benefícios com o menor custo possível.
Eu disse que sabia porque muito mais do que isso estava acontecendo em
minhas sessões com os casais. “Tudo bem”, meu colega desafiou, “se as relações
amorosas não são acordos, o que são, afinal?” Então me ouvi dizer, com uma
voz descontraída: “Ora, são laços emocionais. São parte da necessidade inata de
uma conexão emocional segura. Exatamente aquilo sobre o que John Bowlby
[psiquiatra britânico] fala em sua teoria do apego no que diz respeito a mães e
filhos. A mesma coisa está acontecendo com os adultos”.
A discussão pegou fogo. De repente vi a lógica sutil por trás de todas as
queixas apaixonadas e a desesperada atitude defensiva dos casais. Eu sabia o que
eles almejavam, e entendi como a TFE transformava as relações. O amor
romântico significa necessidade de apego e vínculo emocional. Significa nossa
necessidade programada de ter alguém de quem depender, um amor que possa
oferecer conexão e conforto emocional confiáveis.
Acreditei que tinha descoberto, ou redescoberto, o significado do amor, e
como podemos restaurálo e fazêlo durar. Logo que comecei a usar a abordagem
do apego e do vínculo, passei a ver o enredo envolvendo os casais angustiados
muito mais claramente. Também vi meu casamento muito mais claramente.
Compreendi que nesses enredos somos envolvidos por emoções que fazem parte
de um programa de sobrevivência desenvolvido por milhões de anos de
evolução. Não há como fugir dessas emoções e necessidades sem nos
desfigurarmos. Compreendi que o que estava faltando à terapia de casais era
uma visão científica clara do amor.
Mas quando tentei publicar minhas ideias, a maioria dos meus colegas
absolutamente não concordou com elas. Primeiro, disseram que as emoções
eram alguma coisa que os adultos deveriam controlar. Sem dúvida, emoção
demais era o problema básico na maioria dos casamentos. A emoção deveria ser
vencida, e não atendida ou tolerada. Mas o que era mais importante, eles
argumentavam, é que os adultos saudáveis eram autossuficientes. Só as pessoas
disfuncionais precisam depender das outras. Nós tínhamos nomes para essas
pessoas: elas eram emaranhadas, codependentes, fundidas, amalgamadas. Em
outras palavras, elas eram confusas. Cônjuges excessivamente dependentes uns
dos outros é que arruinavam os casamentos!
Os terapeutas, meus colegas decidiram, deveriam encorajar as pessoas a
andarem por suas próprias pernas. Isso era como o conselho do Dr. Spock sobre
como os pais deveriam lidar com seus filhos — agradar uma criança birrenta é o
caminho para criar um adulto fraco, ele advertia. O problema é que o Dr. Spock
estava redondamente enganado no que dizia respeito às crianças. Da mesma
forma que os meus colegas, quanto aos adultos.
A mensagem da TFE é simples: esqueça a necessidade de aprender a discutir
melhor, analisando sua primeira infância, fazendo grandes gestos românticos, ou
experimentando novas posições sexuais. Em vez disso, reconheça e admita que
você está emocionalmente ligado e é dependente de seu par da mesma forma que
uma criança é dependente dos pais para a educação, cuidado e proteção. Os
vínculos adultos podem ser mais recíprocos e menos centrados no contato físico,
mas a natureza do vínculo emocional é a mesma. A TFE foca a criação e o
fortalecimento desse vínculo emocional entre parceiros ao identificar e
transformar os momentoschave que estimulam uma relação amorosa adulta:
estar aberto, sintonizado e receptivo, um em relação ao outro.
Hoje, a TFE está revolucionando a terapia de casais. Estudos rigorosos feitos
nos últimos 15 anos mostram que de 70% a 75% dos casais que se submetem à
TFE se recuperam da angústia e estão felizes em seus relacionamentos. Os
resultados parecem ser duradouros mesmo no caso de casais que estão correndo
um grande risco de divórcio. A TFE foi reconhecida pela American
Psychological Association como uma fórmula empiricamente comprovada de
terapia de casais.
Existem milhares de terapeutas treinados na TFE na América do Norte, e mais
centenas na Europa, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. A TFE está sendo
ensinada na China, em Taiwan e na Coreia. Mais recentemente, grandes
organizações, entre elas as Forças Armadas dos Estados Unidos e do Canadá, e o
Corpo de Bombeiros de Nova York, buscaram minha ajuda para a introdução da
TFE a seus membros com problemas de relacionamento com seus pares.
A crescente aceitação e aplicação da TFE também gerou no público uma
percepção cada vez maior dessa abordagem. Progressivamente, eu fui sendo
assediada por solicitações de uma versão simples e popular da TFE, que pudesse
ser lida pelas pessoas e aplicada por elas mesmas. Aqui está ela.
Abrace-me Apertado está projetada para ser utilizada por todos os parceiros,
sejam jovens, velhos, casados, noivos, coabitando, felizes, angustiados,
heterossexuais ou gays; em resumo, todos os pares que aspirem uma vida de
amor. É para mulheres e homens. É para pessoas de todos os estratos sociais e
todas as culturas; todo mundo neste planeta tem as mesmas necessidades básicas
de ligação afetiva. Não é para pessoas envolvidas em relações ofensivas ou
violentas, nem para aquelas com dependências, ou em affairs de longa duração;
essas atividades comprometem a habilidade de se engajar positivamente com os
parceiros. Nessas circunstâncias, um terapeuta é o melhor recurso.
Dividi o livro em três partes. A Parte Um responde à velha indagação sobre o
que é o amor. Ela explica por que muitas vezes escorregamos para a separação e
perdemos nosso amor, a despeito das melhores intenções e das mais nobres
percepções. Também documenta e sintetiza a maciça explosão de estudos
recentes sobre as relações amorosas. Como Howard Markman, do Center for
Marital and Family Studies da Universidade de Denver, afirma: “Este é o
momento oportuno para a terapia e educação de casais”.
Estamos, finalmente, construindo uma ciência de relações amorosas. Estamos
mapeando como nossas conversas e ações refletem nossas necessidades e
temores mais profundos, e constroem, ou destroem, nossas mais preciosas
ligações com os outros. Este livro oferece aos que se amam um novo mundo,
uma nova percepção sobre como amar, e como amar bem.
A Parte Dois é a versão simplificada da TFE. Apresenta sete conversas que
captam os momentos determinantes numa relação amorosa e instrui você, leitor
ou leitora, a como formatar esses momentos para criar um vínculo seguro e
duradouro. Relatos de casos e sessões de Jogue e Pratique em cada conversa
trazem as lições da TFE ao seu relacionamento.
A Parte Três trata do poder do amor. O amor tem a imensa habilidade de
ajudar a cicatrizar as devastadoras feridas que a vida, algumas vezes, nos inflige.
O amor também amplia nosso sentido de conexão com o mundo em geral. A
capacidade de resposta do amor é o fundamento de uma sociedade humanitária e
civilizada.
Para ajudálo a ler o livro, incluí no final um glossário de termos importantes.
Devo o desenvolvimento da TFE a todos os casais que atendi ao longo dos
anos, e faço uso generoso de suas histórias, mascarando nomes e detalhes para
proteger sua privacidade, no decorrer de todo o livro. Todas as histórias são
misturas de muitos casos, e são simplificados para refletirem as verdades gerais
que aprendi com os milhares de casais que atendi. Elas ensinarão a você, da
mesma forma que me ensinaram. Este livro é minha tentativa de passar à frente
esse conhecimento.
Comecei a atender casais no início dos anos 1980. Passados 25 anos ainda me
surpreendo como me sinto intensamente entusiasmada quando me sento numa
sala para trabalhar com um casal. Ainda fico feliz quando os pares, de repente,
entendem as mensagens sinceras de um para o outro, e tentam se estender a mão.
Sua luta e determinação diariamente me iluminam e inspiram a manter vivas
minhas conexões com os outros.
Todos nós vivemos o drama da ligação e da separação. Agora podemos fazer
isso com entendimento. Espero que este livro vá ajudálo e ajudála a transformar
sua relação numa aventura gloriosa. A caminhada delineada nestas páginas fez
exatamente isso comigo.
“O amor é tudo o que se diz dele”, escreveu Erica Jong. “Vale a pena lutar por
ele, enfrentálo, arriscar tudo por ele. E o problema é que, se você não arrisca
tudo, você arrisca ainda muito mais.” Concordo integralmente.
PARTE UM
Uma nova visão do amor
Amor — uma nova visão revolucionária
“Nós vivemos na proteção um do outro.”
PROVÉRBIO CELTA

mor talvez seja a mais utilizada e mais poderosa palavra da nossa

A
língua. Escrevemos volumes e volumes sobre o amor, dedicamoslhe
poemas inteiros. Cantamos o amor e rezamos por ele. Lutamos por ele
(veja-se Helena de Troia), e erigimos monumentos a ele (veja-se o Taj
Mahal). Subimos ao céu na sua declaração (“Eu te amo!”), e
despencamos na sua dissolução (“Eu não te amo mais!”). Nós
pensamos no amor, e falamos nele — incessantemente.
Mas o que é realmente o amor?
Estudiosos e profissionais divergem há séculos sobre sua definição e
entendimento. Para alguns observadores mais insensíveis, o amor é uma aliança
mutuamente benéfica baseada na troca de favores, um acordo do tipo dar e
receber. Outros, mais historicamente inclinados, consideramno um costume
social sentimental criado pelos menestréis da França do século XIII. Biólogos e
antropólogos o veem como uma estratégia para garantir a transmissão dos genes
e a descendência.
Mas para a maioria das pessoas o amor tem sido e continua a ser uma emoção
mística fugidia, aberta à descrição, mas desafiadora de uma definição. Por volta
dos anos 1800, Benjamin Franklin, um arguto estudioso de tantas áreas, somente
conseguiu considerar o amor como sendo “mutante, transitório e acidental”.
Mais recentemente, Marilyn Yalom, em seu ensaio sobre a história da esposa,
admitiu a derrota, e chamou o amor de “uma inebriante mistura de sexo e
sentimento que ninguém consegue definir”. A descrição da mãe da garçonete
inglesa do pub de que o amor “são cinco minutos divertidos”, é também
apropriada, embora um pouco mais cínica.
Hoje, contudo, não podemos mais nos permitir definir o amor como uma força
misteriosa acima de nossa compreensão. O amor ficou muito importante. Para o
bem ou para o mal, no século XXI, um relacionamento amoroso se tornou a
ligação emocional na vida da maioria das pessoas.
Uma razão é que estamos vivendo cada vez mais em isolamento Bowling ,
observam que sofremos de uma perigosa perda de “capital social”. (Essa
expressão foi cunhada em 1916 por um educador de Virgínia, que observou a
contínua ajuda, solidariedade e camaradagem que os vizinhos ofereciam uns aos
outros.) A maioria de nós não vive mais em comunidades solidárias, tendo à mão
nossas famílias de origem, ou amigos de infância. Trabalhamos cada vez mais
horas, moramos cada vez mais distantes do trabalho, e dessa forma temos cada
vez menos oportunidades de desenvolver relações mais próximas.
Em grande parte dos casos, os casais que atendo em minha prática vivem
numa comunidade de duas pessoas. A maioria das pessoas consultadas numa
pesquisa feita pela National Science Foundation em 2006, informou que o
número de pessoas de seu círculo de amigos íntimos estava caindo, e um número
crescente relatou que não tinha absolutamente ninguém em quem confiar. Como
o poeta irlandês John O’Donohue afirma: “Há um isolamento imenso e pesado
como chumbo, envolvendo cada vez mais pessoas como um inverno gélido”.
Inevitavelmente, agora pedimos das pessoas a quem amamos a ligação
emocional e o sentido de dependência que minha avó podia obter de uma
povoação inteira. E misturandose a isso está a celebração do amor romântico
estimulada por nossa cultura popular. Os filmes, tanto quanto as novelas e o
teatro, nos saturam com imagens do amor romântico como o fim e o objetivo de
todos os relacionamentos, enquanto os jornais, as revistas e os noticiários de tevê
relatam avidamente a busca incessante do romance e do amor entre atores e
celebridades. Portanto, não é nenhuma surpresa que as pessoas ouvidas
recentemente nos Estados Unidos e no Canadá elegessem uma relação amorosa
satisfatória como seu objetivo número um, acima do sucesso financeiro e de uma
carreira bem-sucedida.
Portanto, é imperativo que compreendamos o que o amor é, como
desempenhálo, e como fazêlo durar. Felizmente, nas últimas duas décadas, um
novo, excitante e revolucionário entendimento do amor está emergindo.
Nós agora sabemos que o amor é, na realidade, o apogeu da evolução, o
mecanismo de sobrevivência mais irrefutável da espécie humana. Não porque
nos induz a acasalar e a reproduzir. Nós conseguimos acasalar sem amor! Mas
porque o amor nos impele a ligarnos emocionalmente com uns poucos que nos
oferecem um refúgio seguro nas tempestades da vida. O amor é nosso baluarte,
projetado para nos dar proteção emocional a fim de podermos enfrentar os altos
e baixos da existência.
Esse impulso para nos ligar emocionalmente — encontrar alguém para quem
podemos nos virar e dizer “Abrace-me Aperta-do” — está programado em
nossos genes e em nossos corpos. É tão básico para a vida, saúde e felicidade
quanto a nossa atração pela comida, abrigo ou sexo. Nós precisamos de vínculos
emocionais com uns poucos insubstituíveis para estarmos física e mentalmente
saudáveis — para sobreviver.

UMA NOVA TEORIA DO APEGO

Pistas sobre o verdadeiro sentido do amor vêm circulando há muito tempo. Por
volta de 1760, um bispo espanhol, em carta a seu superior em Roma, observou
que crianças de orfanatos, embora tivessem regularmente alimento e abrigo,
“morriam de tristeza”. Nos anos 1930 e 1940, nos corredores de hospitais
americanos, crianças órfãs, desprovidas apenas de afagos e contato emocional,
morriam em massa. Psiquiatras também começaram a identificar crianças que
eram fisicamente saudáveis, mas que pareciam indiferentes, insensíveis, e
incapazes de se relacionar com outras. David Levy, relatando suas observações
num artigo de 1937 no American Journal of Psychiatry, atribuiu o
comportamento desses jovens à “carência emocional”. Nos anos 1940, o
psicanalista americano René Spitz cunhou a expressão “déficit de crescimento”
para crianças separadas de seus pais e submetidas a uma tristeza debilitante.
Mas coube a John Bowlby, um psiquiatra britânico, explicar exatamente o que
estava acontecendo. Deixeme ser honesta. Como psicóloga e ser humano, se eu
tivesse que dar um prêmio para o melhor conjunto de ideias que alguém jamais
teve no quesito “entender as pessoas”, eu daria para John Bowlby sem o menor
acanhamento, e não a Freud ou mais quem quer que seja. Ele pegou os fios de
observações e relatórios e os teceu numa teoria coerente e magistral do apego.
Nascido em 1907, Bowlby, filho de um baronete, foi criado, à maneira das
classes ricas, por babás e governantas. Seus pais só permitiram que se juntasse a
eles à mesa do jantar depois que ele completou 12 anos, e mesmo assim apenas
para a sobremesa. Ele foi enviado para um internato e depois estudou no Trinity
College, em Cambridge. A vida de Bowlby afastouse da tradição quando foi
trabalhar como voluntário nas inovadoras escolas residenciais para crianças
desajustadas, e que estavam sendo criadas por visionários como A. S. Neil. Essas
escolas procuravam focar no oferecimento de apoio emocional, e não na
disciplina austera usual.
Fascinado por suas experiências, Bowlby estudou medicina, e depois se
aprofundou em psiquiatria, o que incluiu submeterse a sete anos de psicanálise.
Seu analista aparentemente o achou um paciente difícil. Influenciado por
mentores como Ronald Fairbairn, que sustentava que Freud tinha subestimado a
necessidade de relacionamento com outras pessoas, Bowlby se rebelou contra a
máxima profissional segundo a qual o ponto decisivo dos problemas dos
pacientes residia em seus conflitos internos e fantasias inconscientes. Bowlby
insistia que os problemas eram predominantemente externos, radicados em
relacionamentos reais com pessoas reais.
Trabalhando com crianças emocionalmente desajustadas na Child Guidance
Clinics, em Londres, ele começou a acreditar que as relações deterioradas com
os pais as tinham deixado apenas com modos negativos de lidar com os
sentimentos e as necessidades básicas. Mais tarde, em 1938, como um clínico
iniciante sob a supervisão da famosa psicanalista Melanie Klein, Bowlby foi
incumbido de atender um adolescente hiperativo e que tinha uma mãe
extremamente ansiosa. Mas ele não obteve permissão para falar com a mãe, pois
apenas as projeções e as fantasias do jovem eram consideradas de interesse. Isso
enfureceu Bowlby. Sua experiência o estimulou a formular sua própria teoria,
segundo a qual a qualidade da ligação com os entes amados, e uma precoce
privação emocional, são a chave para o desenvolvimento da personalidade e para
a maneira habitual como os indivíduos se relacionam com os outros.
Em 1944, Bowlby publicou o primeiro livro a tratar da terapia familiar, Forty
Four Juvenile Thieves, no qual observou que “por trás da máscara da indiferença
existe um sofrimento inesgotável, e por trás da aparente insensibilidade existe
desesperança”. As queixas dos jovens pacientes de Bowlby foram congeladas na
atitude “nunca mais vou ser atingido” e paralisadas em desesperança e raiva.
Logo depois da Segunda Grande Guerra, Bowlby foi incumbido pela
Organização Mundial da Saúde de fazer um estudo sobre as crianças europeias
que o conflito deixou sem lar ou órfãs. Suas descobertas confirmaram sua crença
na realidade da privação emocional, e sua convicção de que o contato afetuoso é
tão importante quanto a nutrição física. Com seus estudos e observações,
Bowlby ficou impressionado com as ideias de Charles Darwin sobre como a
seleção natural favorece respostas que ajudam a sobrevivência. Bowlby chegou à
conclusão de que manter pessoas queridas próximas é uma brilhante técnica de
sobrevivência programada pela evolução.
A teoria de Bowlby era radical e foi estrepitosamente rejeitada. Na verdade,
ela quase o fez ser expulso da British Psychoanalytic Society. A sabedoria
convencional estabelecia que ser mimado pelas mães ou outros membros da
família gerava jovens sem iniciativa, ultradependentes, e que se transformavam
em adultos incompetentes. Manter uma distância racional antisséptica era a
maneira correta de criar filhos. Essa postura objetiva prevalecia mesmo quando
os jovens estavam angustiados e fisicamente doentes. Na época de Bowlby não
era permitido que os pais ficassem no hospital com os filhos e filhas doentes;
eles tinham que se despedir deles na porta de entrada.
Em 1951, Bowlby e um assistente social, James Robertson, fiZeram um filme
chamado “A Two-Year-Old Goes to Hospital”, mostrando graficamente o
protesto irado, o terror e o desespero de uma menininha ao ser deixada sozinha
num hospital. Robertson mostrou o filme à Royal Society of Medicine, em
Londres, na esperança de que os médicos compreendessem a tensão provocada
na criança pela separação de seus entes queridos, e sua necessidade de conexão e
consolo. O filme foi repudiado como uma fraude e quase banido. E ainda nos
anos 1960, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, os pais só tinham permissão
para visitar seus filhos hospitalizados apenas uma hora por semana.
Bowlby precisava encontrar outra maneira de demonstrar ao mundo aquilo de
que tinha convicção. Uma pesquisadora canadense, Mary Ainsworth, que se
tornou sua assistente, mostrouhe como fazer isso. Ela desenvolveu uma
experiência simples para analisar os quatro comportamentos que Bowlby e ela
acreditavam ser básicos para a ligação: que nós monitoramos e manTemos a
ligação emocional e física com aqueles que amamos; que nós procuramos essa
pessoa quando estamos inseguros, angustiados ou nos sentindo deprimidos; que
nós sentimos falta dessa pessoa quando estamos separados; e que nós precisamos
contar que essa pessoa esteja presente quando saímos pelo mundo afora.
A experiência foi chamada de A Situação Estranha e gerou literalmente
milhares de estudos científicos, e revolucionou a psicologia do desenvolvimento.
Um pesquisador convida mãe e filho para uma sala não familiar a eles. Depois
de alguns minutos a mãe deixa o filho sozinho com o pesquisador, que tenta
oferecer consolo à criança, se necessário. Três minutos depois a mãe volta. A
separação e a reunião são repetidas uma vez mais.
A maioria dos filhos fica incomodada quando a mãe sai; agitamse, choram,
jogam brinquedos no chão. Mas alguns demonstram ser emocionalmente mais
flexíveis. Acalmamse rápi-da e efetivamente, reconectamse facilmente com as
mães quando elas retornam, e rapidamente recomeçam a brincar ao mesmo
tempo em que verificam se a mãe ainda está lá. Parecem estar confiantes de que
a mãe estará lá se precisarem dela. Crianças menos flexíveis, contudo, são
ansiosas e agressivas, ou desligadas e distantes quando a mãe retorna. As
crianças que podem se acalmar geralmente têm mães mais afetuosas e mais
receptivas, ao passo que as mães das crianças zangadas são imprevisíveis em seu
comportamento, e as mães das crianças desligadas são mais frias e indiferentes.
Nesses estudos simples de separação e reencontro, Bowlby viu o amor em ação e
começou a codificar seus padrões.
A teoria de Bowlby ganhou ainda mais aceitação uns poucos anos mais tarde,
quando ele produziu uma famosa trilogia sobre a ligação humana, a separação e
a perda. Seu colega Harry Harlow, um psicólogo da Universidade de Wisconsin,
também chamou a atenção para o poder do que ele chamou “conforto do
contato” ao relatar sua dramática pesquisa sobre bebês macacos separados de
suas mães no nascimento. Ele descobriu que os filhotes isolados ficavam tão
ávidos de conexão, que quando lhes era dada a oportunidade de escolher entre
uma “mãe” feita de arame, e que lhes dava comida, e outra feita de pano macio e
que não dava comida, eles escolheriam quase invariavelmente a de pano. De
maneira geral, as experiências de Harlow mostravam a perniciosidade de um
isolamento prematuro: filhotes de primatas fisicamente sadios que eram
separados de suas mães durante o primeiro ano de vida se tornavam adultos
socialmente desajustados. Os macacos eram incapazes de desenvolver habilidade
para solucionar problemas ou compreender as sinalizações dos outros.
Tornavamse deprimidos, autodestrutivos e incapazes de acasalar.
A teoria do apego, de início ridicularizada e menosprezada, acabou
revolucionando os métodos de criação de crianças na América do Norte. (Agora,
quando vou dormir ao lado da cama de meu filho enquanto ele se recupera de
uma operação de apendicite, agradeço a John Bowlby.) Hoje é amplamente
aceito que os filhos têm absoluta necessidade de segurança, de contínua
proximidade emocional e física, e que só com um grande custo ignoramos isso.

AMOR E ADULTOS

Bowlby morreu em 1990. Ele não viveu o bastante para testemunhar a segunda
revolução estimulada pelo seu trabalho: a aplicação da teoria do apego ao amor
adulto. O próprio Bowlby tinha insistido que os adultos têm a mesma
necessidade de apego — ele tinha estudado as viúvas da Segunda Grande
Guerra, e descoberto que elas exibiam padrões de comportamento similares
àqueles das crianças sem lar — e que essa necessidade é a força que modela as
relações adultas. Mas novamente as suas ideias foram rejeitadas. Ninguém seria
capaz de imaginar que um inglês tradicionalista, das classes superiores, fosse
solucionar o mistério do amor romântico! E de qualquer forma, achávamos que
já sabíamos tudo o que era preciso saber para entender o amor. O amor é
simplesmente uma paixão passageira, disfarçada de atração sexual — o instinto
básico de que fala Freud — um pouco enfeitado. Ou um tipo de necessidade
imatura de depender dos outros. Ou, amor é uma postura moral — um sacrifício
abnegado que tem tudo a ver mais com o dar do que com o necessitar ou receber.
Mais importante, contudo, a visão do amor como apego era, e ainda talvez
seja, radicalmente uma contradição em relação a nossas ideias culturais, sociais e
psicológicas estabelecidas sobre a idade adulta: que a maturidade significa ser
independente e autossuficiente. A noção do guerreiro invulnerável que enfrenta a
vida e o perigo sozinho está há muito enraizada em nossa cultura. Veja o caso de
James Bond, o herói simbólico impenetrável, ainda um ícone depois de quatro
décadas. Os psicólogos usam palavras como indiferenciado, codependente,
simbiótico, ou mesmo amalgamado, para descrever as pessoas que parecem ser
incapazes de ser autossuficientes, ou de se impor perante os outros. Em
contraste, Bowlby falava de “dependência efetiva”, e de como ser capaz, “do
berço ao túmulo”, de virarse para os outros em busca de apoio emocional, um
sinal e fonte de força.
Pesquisas documentando os vínculos adultos começaram um pouco antes da
morte de Bowlby. Os psicólogos sociais Phill Shaver e Cindyn Hazan, da
Universidade de Denver, decidiram fazer perguntas a homens e mulheres sobre
suas relações amorosas, para ver se exibiam as mesmas respostas e os mesmos
padrões que mães e filhos. Eles formataram um questionário amoroso que foi
publicado no jornal local Rocky Mountain News. Em suas respostas, os adultos
falaram da necessidade de proximidade emocional da parte do par amoroso, de
estarem seguros de que o par responderia quando estivessem angustiados, de
ficarem deprimidos quando se sentiam separados e distantes, e sentiremse mais
confiantes de explorar o mundo quando sabiam que o par os apoiava. E também
indicaram maneiras diferentes de lidar com seus pares. Quando se sentiam
seguros em relação à pessoa amada, podiam buscar e fazer contato facilmente;
quando se sentiam inseguros, ou ficavam ansiosos, com raiva e dominadores,
evitavam completamente o contato e permaneciam distantes. Justamente o que
Bowlby e Ainsworth tinham encontrado nas relações entre mães e filhos.
Hazan e Shaver deram seguimento à pesquisa com estudos formais sérios que
reforçaram as descobertas do questionário e as teorias de Bowlby. Esses estudos
provocaram uma avalanche de pesquisas. Centenas de estudos agora confirmam
as previsões de Bowlby sobre as ligações dos adultos, e eles serão citados ao
longo de todo o livro. A conclusão geral: uma sensação de conexão segura entre
pares românticos é básica para uma relação amorosa positiva e uma enorme
fonte de força para os indivíduos nessas relações. Entre as descobertas mais
importantes:
• Quando nos sentimos geralmente seguros, isto é, estamos confortáveis com a proximidade e
confiantes em podermos depender das pessoas amadas, somos melhores em procurar apoio — e
também em dar apoio. Num estudo feito pelo psicólogo Jeff Simpson, da Universidade de Minnesota,
cada um de 83 casais preencheu questionários a respeito de sua relação e depois foi para uma sala. A
parceira feminina tinha sido advertida de que logo participaria de uma atividade que fazia a maioria
das pessoas ficar muito ansiosa (a atividade não era revelada). As mulheres que se descreviam como
seguras nas relações amorosas nos questionários foram capazes de compartilhar abertamente sua
infelicidade com relação ao exercício seguinte, e de pedir apoio a seus pares. As mulheres que
geralmente negaram suas necessidades de apego, e evitavam a proximidade, se afastavam mais nesses
momentos. Os homens reagiam a suas parceiras de duas formas: quando se descreviam como seguros
com as relações, ficavam ainda mais apoiadores do que o normal, tocando e sorrindo para as parceiras
e oferecendo conforto; se se descreviam como desconfortáveis, tornavamse claramente menos
simpáticos quando suas parceiras expressavam suas necessidades, subestimando a angústia delas, e
tocandoas menos.
• Quando nos sentimos seguramente ligados aos nossos pares, suportamos mais facilmente as feridas
que eles inevitavelmente infligem, e somos menos propensos a sermos agressivamente hostis quando
nos irritamos com eles. Mario Mikulincer, da Bar-Han Universidade em Israel, dirigiu uma série de
estudos fazendo aos participantes perguntas sobre o quanto se sentiam conectados nos
relacionamentos, e como lidavam com a irritação quando os conflitos surgiam. A frequência cardíaca
dos participantes era monitorada enquanto eles respondiam a situações de conflito. Aqueles que se
sentiam mais próximos, e podiam depender das pessoas amadas, revelaram sentirse menos irritados
com elas, e lhes atribuíam intenções menos malintencionadas.Descreviamse como expressando
irritação de uma maneira mais controlada, e expressando objetivos mais positivos, tais como
solucionar problemas e religarse a seus pares.
• Conexão segura com a pessoa amada nos fortalece. Num grupo de estudos, Mikulincer mostrou que
quando nos sentimos seguramente ligados aos outros nós nos compreendemos melhor e gostamos mais
de nós. Quando lhes era mostrada uma lista de adjetivos, para escolherem os que melhor as
descreviam, as pessoas mais seguras escolhiam qualidades positivas. E quando questionadas sobre seus
pontos frágeis, prontamente diziam que se sentiam aquém de seus ideais, mas mesmo assim se sentiam
bem consigo mesmas.

Mikulincer também verificou, como Bowlby previra, que adultos com


ligações mais seguras eram mais curiosos e mais abertos a informação nova.
Eles estavam confortáveis com a ambiguidade, dizendo que gostavam de
perguntas que podiam ser respondidas de várias formas. Em um exercício, o
comportamento de uma pessoa foi descrito, e eles tinham de avaliar os pontos
negativos e positivos dessa pessoa. Participantes com ligações absorviam mais
facilmente novas informações sobre a pessoa e reviam suas avaliações. Abertura
a novas experiências e flexibilidade de opinião parece ser mais fácil quando nos
sentimos seguros e conectados a outros. A curiosidade deriva de uma sensação
de segurança; a inflexibilidade, de estarmos vigilantes em relação a ameaças.
• Quanto mais estendemos a mão para nossos pares, mais separados e independentes podemos ser.
Embora isso contradiga o credo de autossuficiência de nossa cultura, foi isso exatamente o que a
psicóloga Brooke Feeney, da Carnegie Mellon Universidade, de Pittsburgh, encontrou ao observar 280
casais. Aqueles que sentiam que suas necessidades eram aceitas por seus pares tinham mais confiança
em poder resolver por si mesmos seus problemas, e tinham mais possibilidades de atingir com sucesso
seus objetivos.

UMA ABUNDÂNCIA DE EVIDÊNCIAS

A ciência, em todas as áreas, nos diz muito claramente que não somos apenas
animais sociais, mas animais que necessitam de um tipo especial de ligação mais
próxima com os outros, e negamos isso por nossa conta e risco. Na verdade,
historiadores há muito tempo observaram que, nos campos de extermínio da
Segunda Grande Guerra, a unidade de sobrevivência era o par, não o indivíduo
solitário. Também já se sabe há muito tempo que homens e mulheres casados
geralmente vivem mais do que solteiros.
Ter ligações próximas com os outros é vital para cada aspecto de nossa saúde
— mental, emocional e física. Louise Hawkley, do Center for Cognitive and
Social Neuroscience da Universidade de Chicago, calcula que a solidão aumenta
a pressão arterial até o ponto em que o risco de um ataque cardíaco é duas vezes
maior. O sociólogo James House, da Universidade de Michigan, afirma que o
isolamento emocional é um risco mais perigoso para a saúde do que o fumo ou a
pressão alta, e agora nós alertamos todo mundo para esses dois riscos! Talvez
essas descobertas reflitam a frase consagrada pelo tempo: “Sofrer é uma certeza;
sofrer sozinho é intolerável”.
Mas não se trata apenas de termos ou não relacionamentos em nossas vidas —
a qualidade desses relacionamentos também importa. Relações negativas
solapam nossa saúde. Em Cleveland, pesquisadores da Universidade Case
Western Reserve perguntaram a homens com histórico de angina e pressão alta:
“Sua mulher demonstra amor por você”? Aqueles que responderam “não”
sofreram, nos próximos cinco anos, duas vezes mais episódios de angina do que
os que responderam “sim”. O coração das mulheres também é afetado. As que
acham que seu casamento está estremecido, e têm interações hostis regulares
com seus pares, são mais suscetíveis a ter pressão arterial significativamente
elevada, e altos índices de hormônios causadores de estresse, em comparação
com as que têm casamentos felizes. Outro estudo revelou que mulheres que
tinham sofrido um ataque cardíaco tinham três vezes mais chances de sofrer
outro se havia discórdia em seus casamentos.
Mas não se trata apenas de termos ou não relacionamentos em nossas vidas —
a qualidade desses relacionamentos também importa. Relações negativas
solapam nossa saúde. Em Cleveland, pesquisadores da Universidade Case
Western Reserve perguntaram a homens com histórico de angina e pressão alta:
“Sua mulher demonstra amor por você”? Aqueles que responderam “não”
sofreram, nos próximos cinco anos, duas vezes mais episódios de angina do que
os que responderam “sim”. O coração das mulheres também é afetado. As que
acham que seu casamento está estremecido, e têm interações hostis regulares
com seus pares, são mais suscetíveis a ter pressão arterial significativamente
elevada, e altos índices de hormônios causadores de estresse, em comparação
com as que têm casamentos felizes. Outro estudo revelou que mulheres que
tinham sofrido um ataque cardíaco tinham três vezes mais chances de sofrer
outro se havia discórdia em seus casamentos.
Em homens e mulheres diagnosticados com insuficiência cardíaca congestiva,
o estado do casamento do paciente é um indicador de sobrevivência, após quatro
anos, tão bom quanto a severidade dos sintomas e o grau de dano, afirma Jim
Coyne, um psicólogo da Universidade da Pensilvânia. Os poetas que fizeram do
coração o símbolo do amor certamente sorririam diante da conclusão dos
cientistas de que a saúde do coração das pessoas não pode ser separada da força
de suas relações amorosas.
O sofrimento numa relação afeta adversamente nossos sistemas imunológico e
hormonal, e até nossa capacidade de sarar. Numa experiência fascinante, a
psicóloga Janice Kiecolt-Glaser, da Ohio State University, fez com que recém-
casados brigassem, e depois colheu sangue para testes nas horas seguintes. Ela
descobriu que quanto mais beligerantes e altivos eram os parceiros, maior era o
nível de hormônios provocadores de estresse e mais deprimido era o sistema
imunológico. Os efeitos persistiam por até 24 horas. E num estudo ainda mais
impressionante, Kiecolt-Glaser utilizou uma bomba de vácuo para produzir
pequenas bolhas nas mãos de mulheres voluntárias, e depois as fez brigarem
com os maridos. Quanto mais desagradável era a briga, mais tempo era preciso
para a pele sarar.
A qualidade de nossa relação amorosa também é um grande fator para a nossa
saúde mental e emocional. Temos uma epidemia de ansiedade e de depressão em
nossas sociedades mais afluentes. Conflito com as pessoas amadas, ou crítica
hostil delas, aumentam nossas dúvidas e geram um sentimento de desamparo,
gatilhos clássicos para a depressão. Nós precisamos de aprovação da parte das
pessoas que amamos. Pesquisadores afirmam que a angústia conjugal aumenta
10 vezes o risco de depressão.
Tudo isso são notícias ruins — mas há também notícias boas.
Centenas de estudos mostram agora que ligações amorosas positivas com os
outros nos protegem do estresse e nos ajudam a enfrentar melhor os desafios e
traumas da vida. Pesquisadores de Israel indicam que casais com uma ligação
emocional segura são muito mais capazes de lidar com perigos como os ataques
de mísseis Scud1 do que outros casais menos conectados. Eles são menos
ansiosos e têm menos problemas depois dos ataques.
Simplesmente segurar a mão da pessoa amada pode nos afetar profundamente,
literalmente acalmando os neurônios que provocam turbulência em nosso
cérebro. O psicólogo Jim Coan, da Universidade de Virgínia, disse às mulheres,
suas pacientes cujos cérebros estavam passando por uma ressonância magnética,
que quando se acendesse uma pequena luz vermelha no aparelho, elas poderiam
receber um pequeno choque elétrico nos pés — ou não receber. Essa informação
ligava os centros de estresse no cérebro das pacientes. Mas quando os parceiros
seguravam suas mãos, as pacientes registravam menos estresse. E quando
recebiam os choques, sentiam menos dor. Esse efeito era ainda mais
intensamente percebido nas relações mais felizes, aquelas cujos parceiros tinham
índices maiores nas medidas de satisfação, e que os pesquisadores denominavam
de Supercasais. O contato com a pessoa amada atua literalmente como um
atenuador de choques, estresse e dor.
As pessoas que nós amamos, assevera Coan, são os reguladores de nossos
processos corporais e de nossa vida emocional. Quando o amor não funciona,
sentimos dor. Sem dúvida, “sentimentos feridos” é uma expressão
completamente precisa, de acordo com a psicóloga Naomi Eisenberger, da
Universidade da Califórnia. Seus estudos de imagens de cérebros demonstram
que rejeição e exclusão ligam os mesmos circuitos, nas mesmas partes do
cérebro — o córtex cingulado anterior — que a dor física. De fato, essa parte do
cérebro desperta toda vez que somos emocionalmente separados daqueles que
são próximos a nós. Quando li esse estudo, lembro-me de ter ficado chocada
com a minha própria experiência de tristeza. Quando soube que minha mãe tinha
morrido, sentime golpeada, como se tivesse sido literalmente atropelada por um
caminhão. E quando estamos próximos, tocando ou fazendo sexo com a pessoa
amada, somos inundados pela oxitocina e vasopressina, os “hormônios do
amor”. Esses hormônios parecem ativar os centros de “recompensa” do cérebro,
inundandonos com substâncias calmantes e geradoras de felicidade, como a
dopamina, e bloqueando os hormônios do estresse, como o cortisol.
Percorremos um longo caminho no nosso entendimento sobre o que é o amor
e sua importância. Em 1939, as mulheres indicavam o amor como o quinto fator
para a escolha de um marido. Mas em 1990, já era o primeiro fator da lista, tanto
para as mulheres quanto para os homens. E os estudantes universitários agora
afirmam que sua expectativa básica no casamento é a “segurança emocional”.
O amor não é a cereja do bolo da vida. É uma necessidade primária básica,
como o oxigênio e a água. Uma vez que compreendamos e aceitemos isso,
poderemos chegar mais rapidamente ao coração dos problemas de
relacionamento.
Para onde foi o nosso amor?
Perdendo a conexão
“Nunca somos mais vulneráveis do que quando
estamos amando.”
SIGMUND FREUD

“Ofato básico é que Sally não entende nada de dinheiro”, Jay afirma. “Ela é
muito emocional e tem problema em confiar em mim e me deixar
administrar o dinheiro.” Sally explode: “Sim, claro. Como sempre o
problema sou eu. Como se você realmente entendesse de dinheiro! Acabamos
saindo e comprando aquele ridículo carro que você queria. O carro de que não
precisamos e não temos como manter. Você só faz o que quer. De qualquer
forma, minha opinião sobre as coisas não tem importância para você. Na
verdade, eu não tenho importância para você, ponto”.
Chris é um “pai desumano, rígido e indiferente”, acusa Jane. “Os meninos
precisam ser cuidados, não é? Eles precisam da sua atenção, e não apenas das
suas normas!” Chris vira a cabeça para o lado. Ele fala calmamente da
necessidade de disciplina e acusa Jane de não saber impor limites. Eles vão e
vêm, discutindo. Finalmente, Jane põe o rosto entre as mãos e lamenta: “Eu não
sei mais quem é você. Você virou um estranho”. Outra vez Chris se afasta.
Nat e Carrie sentamse num silêncio obstinado até que Carrie rompe o mutismo
e põe para fora, em choro, o quanto se sente chocada e traída com o affair de
Nat. Ele, com um ar de frustração, relata suas razões para o affair. “Já te falei,
dezenas de vezes, por que aconteceu. Fui sincero. E, por Deus, foi dois anos
atrás! É coisa do passado! Já não está na hora de você passar uma borracha e me
perdoar?” “Você não sabe o significado de ‘ser sincero’”, Carrie fala meio
gritado. Depois sua voz vira um sussurro. “Você não liga para mim, para meu
sofrimento. Você só quer que tudo volte a ser como antes.” Ela começa a chorar,
e ele olha para o chão.
Pergunto a cada casal o que eles acham que seja o problema básico na relação
deles, e qual poderia ser a solução. Eles pensam um pouco e oferecem algumas
ideias. Sally diz que Jay é muito controlador e que precisa ser ensinado a
compartilhar o poder de maneira mais equânime. Chris sugere que ele e Jane têm
personalidades tão diferentes, que um acordo sobre como cuidar dos filhos é
impossível. Eles poderiam resolver a divergência fazendo um curso sobre como
educar os filhos com um “especialista”. Nat está convencido de que Carrie tem
algum tipo de grilo sexual. Talvez devessem procurar um terapeuta sexual a fim
de que pudessem voltar a ser felizes na cama.
Esses casais estão se esforçando bastante para entender o seu sofrimento, mas
suas formulações fogem do ponto central. Muitos terapeutas concordariam que
suas explicações são apenas a ponta do iceberg, a crista superficial tangível de
um monte de problemas. Então, qual é o “problema real” que continua
escondido?
Se eu perguntar a terapeutas, muitos dirão que esses casais estão envolvidos
em lutas destrutivas pelo poder, ou em padrões de brigas cáusticos, e que
precisam aprender a negociar e a melhorar suas habilidades de comunicação.
Mas os analistas, também, estão ignorando o ponto crucial do problema. Eles
apenas desceram para a linha da água.
Temos que mergulhar abaixo para descobrir o problema básico: esses casais
estavam desconectados emocionalmente; não se sentiam emocionalmente
seguros uns com os outros. O que os casais e os terapeutas muitas vezes não
veem é que as brigas, em sua maioria, realmente são protestos contra a
desconexão emocional. Por baixo de todo o sofrimento, os parceiros estão
pedindo a cada um: Posso contar com você, depender de você? Você está
disponível para mim? Você responderá a mim quando eu precisar, quando eu
chamar? Eu importo para você? Sou valorizado e aceito por você? Você precisa
de mim, confia em mim? A irritação, a crítica, as reclamações, realmente são
brados para seus amados, chamados para mexer com seus corações, para
recuperar seus cônjuges emocionalmente e restabelecer uma sensação de
conexão segura.

UM PÂNICO PRIMAL
A teoria do apego nos ensina que a nossa pessoa amada é nosso abrigo na vida.
Quando essa pessoa está emocionalmente indisponível ou impassível, nós nos
sentimos desamparados, sozinhos e indefesos. Somos tomados por emoções —
irritação, tristeza, dor, e acima de tudo, medo. Isso não chega a ser tão
surpreendente quando nos lembramos de que o medo é o nosso sistema de
alarme inerente; ele se ativa quando nossa sobrevivência está ameaçada. Perder a
conexão com a pessoa amada coloca em risco nosso sentido de segurança. O
alarme se desativa na amígdala do cérebro, ou Central do Medo, como o
neurocientista Joseph LeDoux, do Center for Neural Science, da Universidade de
Nova York, batizou. Essa área do cérebro em forma de uma amêndoa
desencadeia uma resposta automática ao medo. Nós não pensamos; nós
sentimos, nós agimos.
Todos nós experimentamos algum tipo de medo quando temos
desentendimentos ou discussões com a pessoa amada. Mas para aqueles de nós
com vínculos seguros, tratase de uma angústia momenânea. O medo é rápida e
facilmente contido quando percebemos que não existe uma ameaça real, e que
nosso par vai nos tranquilizar se pedirmos. Mas para aqueles de nós com
vínculos mais frágeis ou esgarçados, o medo pode ser opressivo. Nós somos
inundados pelo que o neurocientista Jaak Panksepp, da Washington State
University, chama de “pânico primal”. Então, geralmente fazemos uma de duas
coisas: ou nos tornamos impositivos e nos aferramos a um esforço de obter
conforto e tranquilização da parte do outro, ou nos retiramos e nos isolamos
numa tentativa de nos acalmar e proteger. Independentemente das palavras
exatas, o que estamos realmente expressando com essas reações é: “Perceba-
me.Fique comigo. Preciso de você”. Ou, “Não vou deixar você me magoar. Vou
ficar calmo, tentar ficar no controle”.
Essas estratégias de lidar com o medo de perder a conexão são inconscientes,
e funcionam, pelo menos no início. Mas quando parceiros angustiados recorrem
a elas com frequência, elas geram espirais de incerteza que apenas os fazem ficar
cada vez mais distantes. E então mais e mais episódios ocorrem, em que nenhum
dos parceiros se sente seguro, ambos se tornam defensivos, e cada um fica
supondo o pior a respeito do outro e da relação.
Se nós amamos os nossos pares, por que simplesmente não ouvimos os
chamamentos de cada um por atenção e conexão, e reagimos com carinho?
Porque na maior parte do tempo não estamos em sintonia com eles. Estamos
distraídos e absorvidos com a nossa própria agenda. Não sabemos como falar a
linguagem do apego, não emitimos mensagens claras sobre as nossas
necessidades ou o quanto nos importamos. Muitas vezes falamos hesitantemente,
porque nos sentimos ambivalentes sobre as nossas necessidades. Ou emitimos
chamamentos para conexão com um quê de irritação e frustração, porque não
nos sentimos confiantes e seguros em nossos relacionamentos. Acabamos
exigindo, e não pedindo, o que com frequência leva a brigas pelo poder, e não a
abraços. Alguns de nós tentam minimizar nosso anseio natural de estarmos
emocionalmente ligados, e em vez disso, focamos em ações que dão apenas uma
expressão limitada de nossa necessidade. O mais comum: focando o sexo.
Mensagens camufladas e distorcidas impedem que demonstremos todos os
nossos anseios, mas também tornam difícil para nossos amados responderem.

OS DIÁLOGOS DO DEMÔNIO

Quanto mais tempo os parceiros se sintam desconectados, mais negativas se


tornam suas interações. Pesquisadores identificaram diversos padrões danosos
desse tipo, e eles têm vários nomes. Chamo aos três que considero os mais
básicos de “Diálogos do Demônio”. São: De Quem é a Culpa, a Polca do
Protesto, e Estacar e Fugir, e você vai conhecêlos em detalhes na Conversa 1.
De longe, o mais dominante do trio é a Polca do Protesto. Nesse diálogo, um
dos parceiros se torna crítico e agressivo, e o outro, defensivo e distante. O
psicólogo John Gottman, da Universidade de Washington, em Seattle, relata que
os casais que ficam enredados nesse padrão nos primeiros anos do casamento
têm mais de 80 por cento de chance de se divorciarem num prazo de quatro ou
cinco anos.
Vejamos um casal. Carol e Jim desenvolveram uma longa discussão sobre o
hábito dele de chegar atrasado aos compromissos. Numa sessão em meu
consultório, Carol critica Jim por sua última transgressão: ele não chegou a
tempo para irem a uma sessão de cinema combinada. “Por que é que você está
sempre atrasado?”, ela provoca. “Não importa a você que temos um
compromisso, que estou esperando, e que você sempre me deixa na mão?” Jim
reage com calma: “Fiquei preso no trânsito. Mas se você vai começar a reclamar
de novo, talvez seja melhor voltarmos para casa e esquecer o compromisso”.
Carol revida listando todas as outras vezes em que Jim se atrasou. Jim começa a
discutir a “lista”, depois para e se retrai num silêncio de pedra.
Nessa discussão interminável, Jim e Carol ficam enredados no conteúdo de
suas brigas. Quando foi a última vez que Jim se atrasou? Foi na semana passada,
ou meses atrás? Eles ficam esmiuçando os dois becos sem saída do “que
realmente aconteceu” — de quem é a história mais “exata”, e “quem está mais
errado”. Eles estão convencidos de que o problema deve ser ou a
irresponsabilidade dele ou as reclamações dela.
Na verdade, contudo, a razão que os leva a brigar passa a não ter importância.
Em outra sessão em meu consultório, Carol e Jim começam a bater boca sobre a
relutância de Jim de falar sobre o relacionamento deles. “Falar desse assunto só
nos leva a brigas”, Jim afirma. “Qual é o sentido disso? A gente fica dando
voltas. E acaba ficando frustrante. E, de qualquer forma, no final são sempre as
minhas ‘falhas’. Sintome muito mais ligado a você quando estamos fazendo
amor.” Carol balança a cabeça. “Não quero sexo quando a gente nem está se
falando!”
O que aconteceu nesse caso? A maneira tipo ataquerecuo de Carol e Jim
lidarem com o tema dos “atrasos” acabou desembocando em outros dois temas:
“nós não conversamos” e “não fazemos sexo”. Eles estão enredados num terrível
círculo, em que suas respostas geram mais respostas e emoções negativas no
outro. Quanto mais Carol culpa Jim, mais ele se retrai. E quanto mais ele se
retrai, os ataques dela ficam mais furiosos e mais mordazes.
No final das contas, a “razão” de qualquer briga passa a não ter nenhuma
importância. Quando os casais atingem este ponto, toda a sua relação fica
marcada pelo ressentimento, prevenção e distanciamento. Eles passam a ver
qualquer diferença, qualquer desentendimento, através de um filtro negativo.
Vão ouvir comentários banais e entender ameaças. Verão uma ação ambígua e
presumirão o pior. Serão consumidos por temores catastróficos e dúvidas, ficarão
constantemente vigilantes e na defensiva. Mesmo que queiram se aproximar um
do outro, não conseguirão. A atitude de Jim é perfeitamente definida por uma
canção do Notorious Cherry Bombs, “It’s Hard to Kiss the Lips at Night that
Chew Your Ass Out All Day Long”.
Os parceiros, algumas vezes, podem ter vislumbres dos Diálogos do Demônio
em que estão metidos — Jim me fala que “sabe” que vai ouvir o quanto ele
desapontou Carol antes mesmo que ela comece a falar, e daí erigiu uma “parede”
que o impeça de “pegar fogo” — mas o padrão se tornou tão automático e tão
incontrolável, que eles não podem parálo. A maioria dos casais, contudo, não
está consciente do padrão que tomou conta da sua relação.
Com raiva e frustrados, os parceiros lutam por uma explicação. Decidem que
a pessoa amada é insensível ou cruel. Transferem a culpa para si mesmos.
“Talvez haja alguma coisa profundamente errada comigo”, Carol me diz. “É
como minha mãe sempre falava, sou muito difícil de ser amada.” Eles concluem
que ninguém merece confiança e que o amor é uma mentira.
A ideia de que esses círculos de exigência-distância dizem respeito ao pânico
da ligação ainda é revolucionária para muitos psicólogos e conselheiros. A maior
parte dos colegas que me procuram para treinamento aprendeu a ver o próprio
conflito e as brigas pelo poder entre casais como os principais problemas numa
relação. Como resultado, eles se concentraram em ensinar aos casais habilidades
de negociação e de comunicação como forma de conter o conflito. Mas isso
cuida apenas dos sintomas, não da doença. É como dizer a pessoas presas numa
interminável dança de frustração e distanciamento que mudem os passos, quando
o que têm de fazer é mudar a música. “Pare de me dizer o que devo fazer”, Jim
ordena. Carol pensa nisso por um nanossegundo antes de retorquir irritadamente:
“Quando faço isso você não se mexe, e não chegamos a lugar nenhum!”
Nós podemos propor muitas técnicas para lidar com diferentes aspectos das
angústias dos casais, mas até que entendamos os princípios básicos que
organizam as relações amorosas, não poderemos realmente entender os
problemas do amor, ou oferecer ajuda duradoura aos casais. O padrão de
exigência-recuo não é apenas um mau hábito, mas reflete uma realidade
subjacente mais profunda: esses casais estão morrendo à míngua
emocionalmente. Estão perdendo sua fonte de sustento emocional. Eles se
sentem desvalidos. E estão desesperados para recuperar aquele sustento.
Até que abordemos a necessidade fundamental da conexão e o medo de
perdêla, as técnicas padrão, como aprender técnicas para solucionar problemas,
ou habilidades de comunicação, examinar as feridas da infância, ou dar um
tempo, são equivocadas e ineficazes. Gottman demonstrou que os casais felizes
não falam um com o outro de maneiras mais “hábeis” ou mais “perspicazes” do
que os casais infelizes. Eles nem sempre ouvem o outro com empatia e
entusiasmo, ou compreendem como seus passados podem ter gerado
expectativas problemáticas. Em meu consultório atendo casais muito
angustiados e que são extraordinariamente articulados, e mostram uma
percepção primorosa sobre o seu comportamento, mas que não conseguem falar
a seus pares de uma maneira coerenteemocional acontece. Minha cliente Sally
me diz: “Sou muito boa para conversar, você sabe. Tenho um monte de amigos.
Sou afirmativa e ótima ouvinte. Mas quando chegamos nesses silêncios terríveis,
tentando lembrar os tópicos de nosso treinamento para casais, é como tentar ler o
manual de ‘como armar seu paraquedas’ quando se está em queda livre”.
Os remédios padrão não tratam dos desejos ou das ameaças à conexão
emocional segura. Eles não dizem aos casais como reconectar ou ficar
conectado. As técnicas que eles aprendem podem interromper uma briga, mas a
um custo terrível. Elas, muitas vezes, aumentam a distância entre os casais,
reforçando temores de rejeição e abandono justamente quando os casais
precisam reafirmar seus vínculos.

MOMENTOS-CHAVE DE APEGO E INDIFERENÇA

A concepção de apego no amor nos fornece uma maneira de compreender os


padrões prejudiciais. Guianos aos momentos que interrompem e estabelecem um
relacionamento. Clientes, às vezes, me dizem: “As coisas estavam indo tão bem.
Tivemos quatro dias maravilhosos. Parecia que éramos amigos. Mas aí aquele
incidente aconteceu e tudo virou um inferno entre nós. Eu não entendo”.
Trocas dramáticas entre pessoas que se amam evoluem tão rapidamente e são
tão caóticas e acaloradas, que não percebemos o que realmente está acontecendo,
e não vemos como poderíamos reagir. Mas se nos acalmamos, vemos os pontos
decisivos e nossas opções. As necessidades de apego e as poderosas emoções
que as acompanham, muitas vezes, surgem repentinamente. Elas catapultam a
conversa de assuntos mundanos para o tema da segurança e da sobrevivência.
“Johnny está vendo televisão demais” imediatamente transformase em “Não
consigo mais suportar as explosões de raiva de nosso filho. Sou uma mãe
abominável. Mas você não está me escutando agora. Eu sei, eu sei, você tem que
continuar trabalhando, isso é o mais importante aqui, não é? Não o que eu sinto.
Estou completamente sozinha”.
Se nós estamos nos sentindo basicamente seguros e ligados ao nosso par, esse
momentochave é como uma rápida brisa fresca em um dia ensolarado. Mas se
não estamos tão seguros de nossa relação, ele começa uma espiral negativa de
insegurança que esfria a relação. Bowlby nos deu um guia geral sobre como
nosso alarme de apego dispara. Acontece, ele disse, quando nos sentimos de
repente incertos ou vulneráveis no mundo, ou quando percebemos uma alteração
negativa em nosso senso de conexão com a pessoa amada, quando percebemos
uma ameaça ou perigo para a relação. As ameaças que percebemos podem vir do
mundo exterior ou de dentro de nós mesmos. Podem ser verdadeiras ou
imaginárias. É a nossa percepção que conta, não a realidade.
Peter, que está casado com Linda há seis anos, ultimamente vem se sentindo
menos importante para a mulher. Ela tem um trabalho novo e eles fazem menos
sexo. Numa festa, um amigo comenta que enquanto Linda está radiante, Peter
parece estar perdendo cabelo. E quando Peter observa Linda conversando
atentamente com um homem extremamente bonito — um homem com vasta
cabeleira — seu estômago revira. Será que Peter se acalmaria se soubesse que é
querido por sua mulher e que ela vai voltar para ele e apoiálo se ele pedir?
Talvez ele lembre um momento em que isso aconteceu e use essa imagem para
acalmar sua inquietude.
O que acontece, contudo, se ele não puder controlar o estômago? Ele fica
irritado, vai até sua mulher e faz um comentário sarcástico sobre ela estar
flertando? Ou afasta a preocupação, diz a si mesmo que não se importa, e vai
tomar um novo drin-que, ou seis? Quaisquer dessas duas maneiras de lidar com
o temor — atacando ou recuando — apenas vão fazer Linda ficar distanciada.
Ela vai ficar menos conectada e menos atraída por seu parceiro. E isso, por sua
vez, só vai aumentar o pânico primal de Peter.
Um segundo momentochave ocorre depois que a ameaça imediata passou. Os
parceiros têm então a oportunidade de se reconectarem, a menos que suas
estratégias negativas para lidar entrem em ação. Mais tarde, na festa, Linda
procura Peter. Ele se aproxima dela, permitindo que ela perceba a mágoa e o
medo que ele sentiu quando a viu falando de maneira tão à vontade com outro
homem? Ele expressa essas emoções de uma maneira que a convida a
tranquilizálo? Ou ela o ataca por estar “galinhando por aí” e exige que os dois
voltem para casa imediatamente e façam sexo, ou permanece em silêncio e
retraído?
Um terceiro momentochave acontece quando conseguimos ficar em sintonia
com nossas emoções que buscam apego e procuramos conexão e apoio e a
pessoa amada responde. Digamos que Peter consiga puxar Linda para um lado,
respirar fundo e dizerlhe que sofreu ao vêla falando com o estranho bonito. Ou
apenas que ele só conseguiu ir até ela e expressar sua contrariedade por meio de
um olhar preocupado. Suponhamos que Linda reaja positivamente. Mesmo que
ele não consiga expressar claramente seus sentimentos, Linda percebe que há
alguma coisa errada, e oferece a mão a Peter. Pergunta gentilmente se ele está
bem. Fica acessível, fica receptiva. Mas será que Peter vê isso, confia nisso? Ele
pode captar, sentirse confortado, chegar mais perto, e continuar a confiar? Ou,
em vez disso, fica na defensiva e a afasta do caminho para não se sentir tão
vulnerável? Ou reclama para ver se ela “realmente se importa”?
Finalmente, quando Peter e Linda retornam à sua maneira normal de se
conectarem, eles estão confiantes de que o outro está lá como um lugar seguro
em tempos de dificuldade ou dúvida? Ou Peter ainda continua inseguro? Ele
tenta controlar e forçar Linda a respostas que assegurem o amor dela por ele, ou
Peter minimiza sua necessidade por ela e, ao contrário, foca mais em tarefas que
o distraiam?
Esse enredo focou em Peter, mas um cenário centrado em Linda revelaria que
ela tem as mesmas necessidades de ligação e os mesmos temores. Na verdade,
todos nós, tanto homens quanto mulheres, compartilhamos essas sensibilidades.
Mas podemos expressálas de maneiras um pouco diferentes. quando uma relação
está em queda livre, os homens tipicamente falam de se sentirem rejeitados,
inadequados, e de ser um fracasso; as mulheres, de se sentirem abandonadas e
desconectadas. As mulheres parecem ter uma reação adicional quando estão
angustiadas. Os pesquisadores chamam a isso “busca de apoio”. Talvez porque
tenham mais oxitocina, o hormônio do amor, no sangue, as mulheres buscam
mais os outros quando sentem uma falta de conexão.

Quando os casamentos fracassam, não é um crescente conflito a causa. São o


afeto e a receptividade decrescentes, de acordo com um estudo fundamental de
Ted Huston, da Universidade do Texas. Na verdade, a falta de receptividade
emocional, mais do que o nível de conflito, é o melhor indicador de como um
casamento sólido vai estar daqui a cinco anos. O fim dos casamentos começa
com uma crescente ausência de interações íntimas receptivas. O conflito surge
mais tarde.
Quando nos enamoramos, nos equilibramos delicadamente numa corda
bamba. Quando os ventos da dúvida e do temor começam a soprar, se entramos
em pânico e nos agarramos no outro, ou se abruptamente nos afastamos e
buscamos abrigo, a corda balança mais e mais, e nosso equilíbrio fica ainda mais
precário. Para continuarmos em equilíbrio, precisamos balançar no ritmo do
outro, responder a cada emoção do outro. Quando nos conectamos, balançamos
com o outro. Então estamos em equilíbrio emocional.
Receptividade emocional — a chave
para uma vida inteira de amor
“O coração de uma pessoa murcha quando não
responde a outro coração.”
PEARL S. BUCK

im e Sarah estão sentados em meu consultório. Tim não tem certeza do

T
motivo de estarem ali. Tudo o que sabe, ele diz, é que ele e Sarah tiveram
uma briga violenta. Ela o acusou de ignorála numa festa, e está
ameaçando pegar a filha deles e ir morar com a irmã. Ele não entende.
Eles têm um bom casamento. Sarah está sendo “muito imatura” e “quer
sempre mais”. Ela não percebe o quanto ele está pressionado no trabalho,
nem por que não consegue sempre se lembrar das “partes ditosas e sentimentais
do casamento”. Tim vira-se na cadeira e olha fixamente pela janela com uma
expressão de “o que se pode fazer com uma mulher dessas?” no rosto.
As queixas de Tim acordam Sarah de um transe angustiado. Ela anuncia, num
tom ácido, que Tim não é tão esperto quanto acha que é. Na verdade, ela fala
para ele: “é cretino quando se trata de comunicação”, e tem “zero de
habilidades”. Mas a tristeza toma conta dela, e Sarah murmura numa voz que
mal posso ouvir, que Tim é uma “pedra” que se afasta quando ela está
“morrendo”. E que nunca deveria ter se casado com ele. Ela chora.
Como eles chegaram a esse ponto? Sarah, de cabelos escuros e pequena, e
Tim, elegante e bem vestido, estão casados há três anos. Foram colegas de
trabalho de sucesso, e felizes parceiros de brincadeiras, e bem integrados em
habilidades e energia. Têm uma casa nova e uma filha de 18 meses, e para cuidar
dela Sarah tirou licença do trabalho. E agora estão brigando o tempo todo.
“Tudo que ouço é que chego em casa muito tarde, e que estou trabalhando
muito”, Tim fala com exasperação. “Mas estou trabalhando por nós, você sabe.”
Sarah resmunga que não existe nenhum “nós”. “Você fala que não me conhece
mais”, Tim continua. “Bem, é assim que o amor dos adultos é. É fazer
concessões e virar amigos.”
Sarah morde o lábio e retruca: “Você nem ao menos tirou uma licença para
ficar comigo quando sofri o aborto. Com você são sempre negócios e
compromissos...”. Ela balança a cabeça. “Eu me sinto tão sem esperança quando
não consigo te fazer entender. Nunca me senti tão solitária, nem quando morava
sozinha.”
O tom da mensagem de Sarah é de urgência, mas Tim não percebe. Ele a acha
“muito emotiva”. E aí está o problema. Quando nosso relacionamento amoroso
mais importante está ameaçado ficamos muito emotivos. Sarah precisa
desesperadamente se reconectar com Tim. Ele está desesperadamente temeroso
de ter perdido sua intimidade com Sarah — a conexão é vital para ele da mesma
forma. Mas sua necessidade de reconectar-se está mascarada pela conversa de
comprometerse e virar adulto. Ele tenta descartar as preocupações de Sarah
quanto a manter tudo “calmo e no caminho certo”. Podem eles começar a ouvir
um ao outro “emocionalmente”? Podem eles ficar sintonizados outra vez? Como
eu posso ajudálos?

O COMEÇO DA TFE

Minha percepção sobre como ajudar casais como Sarah e Tim começou
lentamente. Eu sabia que ouvir, e trabalhar com as principais emoções, era
essencial para a mudança das pessoas que vinham me procurar para
aconselhamento. Então, quando comecei a trabalhar com casais angustiados nas
tardes quentes de Vancouver, no Canadá, no início dos anos 1980, reconheci as
mesmas emoções, e como os casais pareciam criar a música para a dança entre
eles. Mas minhas sessões pareciam balançar entre o caos emocional e o silêncio.
E logo eu estava passando todas as manhãs na biblioteca da universidade
buscando um caminho, um mapa onde alocar os enredos que eram exibidos em
meu consultório. A maior parte do material que encontrei dizia que o amor ou
era irrelevante ou era impossível de ser entendido, e também que emoções fortes
eram obviamente perigosas, e melhor seria deixálas em paz. Oferecer novas
percepções aos casais, como alguns daqueles livros sugeriam, percepções sobre
como parecemos repetir com as pessoas que amamos o relacionamento que
tivemos com nossos pais, não parecia trazer muita mudança. Minhas tentativas
de fazer os casais praticarem habilidades de comunicação geraram comentários
de que esses exercícios realmente não chegavam ao cerne do problema. Eles não
atingiam o alvo.
Decidi que os casais tinham razão — e que eu, de alguma forma, também
estava errando o alvo. Mas eu estava fascinada, tão fascinada, que me sentava e
ficava horas e horas vendo os vídeos das sessões. Decidi então que ficaria vendo
até que realmente entendesse aqueles dramas de amor que deram errado. Até que
eu aprendesse o que era o amor! Finalmente o quadro começou a tomar forma.
Eu me lembrei de que nada une mais as pessoas do que um inimigo comum.
Percebi que poderia ajudar os casais a ver seus padrões negativos de interação —
seus Diálogos do Demônio — como o inimigo, e não cada um. Comecei
recapitulando as conversas dos casais em minhas sessões, ajudando os parceiros
a ver a espiral em que estavam enredados, e não apenas focar na última resposta
do outro e reagir a ela. Se compararmos com game, e não apenas do serviço ou
do voleio que jogou a bola com efeito do outro lado da rede. Os clientes
começaram a ver o diálogo inteiro, e como ele tinha vida própria e estava
machucando os dois. Mas por que esses padrões eram tão fortes? Por que eles
eram tão convincentes e tão angustiantes? Mesmo quando ambos os parceiros
reconheciam sua natureza prejudicial, esses diálogos continuavam se repetindo.
Os parceiros pareciam ser puxados de volta por suas emoções, mesmo quando
entendiam os padrões e como eles os prendiam na armadilha. Por que essas
emoções eram tão potentes?
Eu me sentava e ficava ouvindo casais como Jamie e Hugh. Quanto mais
Jamie ficava com raiva, mais ela criticava Hugh, e mais silencioso ele ficava.
Depois de dezenas de perguntas gentis, ele me disse que por baixo do seu
silêncio ele se sentia “derrotado” e “triste”. A tristeza nos faz desacelerar e
sofrer, e então Hugh começou a lamentar seu casamento. E, naturalmente,
quanto mais ele se fechava, mais Jamie exigia ser ouvida. Sua queixa raivosa era
a senha para o sentimento dele de derrota silenciosa, e seu silêncio era a senha
para mais queixa raivosa dela. Sempre e sempre. Os dois estavam empacados.
Quando desaceleramos o “rodopio” dessas danças circulares, emoções mais
brandas, como tristeza, temor, constrangimento e vergonha, sempre apareciam.
Falar dessas emoções, talvez pela primeira vez, e ver como o seu padrão os fazia
cair na armadilha, ajudou Jamie e Hugh a se sentirem mais seguros um com o
outro. Jamie não pareceu tão perigosa quando foi capaz de dizer a Hugh o
quanto ela se sentia sozinha. Nenhum dos dois tinha de ser o bandido aqui. Eles
começaram a ter novas maneiras de conversar, e sua estreita troca de repreensões
e distanciamento silencioso abrandou. Ao compartilharem emoções mais suaves,
eles começaram a ver um ao outro de forma diferente. Jamie admitiu: “Eu nunca
via o retrato inteiro. Apenas sabia que ele não estava próximo de mim. Eu o via
como indiferente. Agora vejo como ele estava se desviando de minhas balas e
tentando me acalmar. Eu atiro quando fico desesperada e não consigo reagir de
outro jeito”.
Agora eu estava chegando a algum lugar em minha prática. Os casais estavam
mais gentis uns com os outros. O enredo das emoções dolorosas não parecia
mais ser tão opressivo. Esses padrões negativos sempre começavam quando um
parceiro tentava se aproximar do outro e não conseguia fazer um contato
emocional seguro. Esse era o momento em que os Diálogos do Demônio
começavam. Uma vez que um casal entendia que os dois estavam sendo vítimas
do diálogo, e eram capazes de se revelar mais, de arriscar, compartilhar emoções
mais profundas, então os conflitos se acalmavam e eles se sentiam um pouco
mais próximos. Então tudo estava indo muito bem. Estava mesmo?
Meus casais diziam que não. Jamie me disse: “Somos mais gentis um com o
outro e brigamos menos. Mas de qualquer forma nada realmente mudou. Se
pararmos de vir aqui, tudo vai começar de novo. Sei que vai”. Outros me falaram
a mesma coisa. Qual era o problema? Ao rever as gravações, vi que emoções
mais profundas como tristeza e “terror” concreto, como um cliente destacou,
realmente ainda não tinham sido ataca-das. Meus casais ainda estavam vigiando
as suas costas.
Emoção vem da palavra latina emovere, que significa mover. Falamos de
sermos “movidos” pelas nossas emoções, e somos “movidos” quando aqueles a
quem amamos expressam seus sentimentos mais profundos em relação a nós. Se
era para os parceiros se reconectarem, eles realmente precisavam deixar suas
emoções os levarem a novas maneiras de responder. Meus clientes tinham que
aprender a tomar riscos, a mostrar os seus lados mais gentis, os lados que eles
aprenderam a esconder nos Diálogos do Demônio. Percebi que quando os
parceiros fechados eram capazes de confessar seus temores de perda e
isolamento, eles então podiam falar de seus desejos de carinho e conexão. Essa
revelação “moveu” seus pares queixosos a responderem mais afetuosamente, e a
compartilhar suas próprias necessidades e temores. Era como se as duas pessoas
de repente ficassem cara a cara, desnudadas, mas fortes, e buscassem uma à
outra.
Momentos como esses eram maravilhosos e dramáticos. Eles mudavam tudo,
e davam início a uma nova espiral de amor e conexão. Casais me disseram que
esses momentos eram absolutamente transformadores. Eles não podiam apenas
escapar dos Diálogos do Demônio, podiam mover-se para um novo tipo de amor
com receptividade, segurança e proximidade. Eles podiam então criar uma nova
narrativa, e planejar, numa atmosfera de fácil cooperação, como cuidar da sua
relação e salvaguardar sua nova aproximação. Mas eu ainda não compreendia
por que esses momentos eram tão poderosos!
Eu fiquei tão fascinada por essa série de descobertas, que persuadi meu
orientador de tese, Les Greenberg, a fazermos o primeiro estudo para testar essa
abordagem e chamála de terapia focada, ou Terapia Focada na Emoção. Nós
queríamos enfatizar como certos sinais emocionais alteravam a conexão entre
pessoas que se amam. O primeiro estudo confirmou todas as minhas expectativas
de que essa forma de trabalhar com relacionamentos não apenas ajudava as
pessoas a se afastarem de padrões negativos, mas criava um novo sentido de
conexão amorosa.
Então, nos próximos 15 anos, meus colegas e eu faríamos cada vez mais
estudos sobre a TFE, e descobriríamos que ela ajudou mais de 85% dos casais
que vieram nos procurar com o objetivo de fazer mudanças significativas em
seus relacionamentos. Essas mudanças também pareciam ser duradouras, mesmo
no caso de casais que enfrentavam fatores estressantes terríveis, como um filho
com uma doença crônica séria. Descobrimos que a TFE e para heterossexuais,
para casais de muitas e variadas culturas, para casais em que as mulheres
consideravam o marido “inexpressivo” e os homens chamavam as mulheres de
“raivosas” e “impossíveis”. Em contraste com outras abordagens de terapia de
casais, o nível de angústia que expressavam quando chegavam para a terapia não
parecia fazer muita diferença no nível de satisfação que demonstravam ao final.
Qual a razão? Eu queria descobrir, mas antes havia outros quebra-cabeças a
esclarecer.
Afinal, no que consistia esse drama emocional? Por que os Diálogos do
Demônio eram tão comuns e tão poderosos? Por que esses momentos de
conexão transformavam completamente os relacionamentos? Era como se eu
tivesse encontrado um caminho numa terra estranha, mas eu ainda não tinha um
mapa, ou entendia realmente onde estava. Eu tinha visto casais saírem de um
estado de ameaça de divórcio para se apaixonarem novamente, e até tinha
descoberto como encorajar e conduzir a mudança. Mas as respostas a essas
questões me escapavam.
Pequenos momentos são definidores em nossas vidas, tanto para casais com
relações amorosas quanto para jovens terapeutas como eu. E um dia, quando um
colega me indagou que, se “as relações amorosas não eram trocas, acordos de
perdas e ganhos, então o que eram?”, ouvime dizer, casualmente: “Oh, são laços
emocionais... Não se pode pensar o amor logicamente, nem regatear por amor. É
uma resposta emocional”. E de repente minha mente deslizou para um novo
lugar.
Voltei e revi minhas fitas, prestando particular atenção às necessidades e
temores sobre os quais as pessoas falavam. Observei aqueles momentos
dramáticos que transformaram os relacionamentos. Eu estava vendo vínculos
emocionais em ação! Então eu entendi. Eu estava vendo a receptividade
emocional que John Bowlby dizia ser a base para amar e ser amado. Como não
fui capaz de perceber? Foi porque tinham me ensinado que esse tipo de vínculo
termina na infância. Mas essa era a dança do amor adulto. Corri para casa para
escrever e levar essa percepção para meu trabalho com os casais.
A teoria do apego respondeu às três questões que tinham me atormentado.
Muito simplesmente, ela me disse que:
1. As poderosas emoções que tinham aflorado em minhas sessões com os casais eram tudo, menos
irracionais. Elas faziam completo sentido. Os parceiros agiam como se estivessem lutando por suas
vidas na terapia, porque era justamente isso o que eles estavam fazendo. O isolamento e a perda
potencial da conexão amorosa estão codificados no cérebro humano como uma resposta do pânico
primal. Essa necessidade de conexão emocional segura em relação a uns poucos amados está
codificada por milhões de anos de evolução. Parceiros angustiados podem usar palavras diferentes,
mas estão sempre fazendo a mesma pergunta básica: “Você está disponível para mim?”, “Eu sou
importante para você?”, “Você virá quando eu precisar de você, quando eu chamar?”. O amor é o
melhor mecanismo de sobrevivência que existe, e sentirse de repente afastado de um parceiro,
desconectado, é aterrorizante. Precisamos reconectar, expressar nossas necessidades de uma forma que
estimule o parceiro a responder. Esse desejo de conexão emocional com os mais próximos é nossa
prioridade emocional, eclipsando até o impulso para a alimentação ou o sexo. O drama do amor é
essencialmente essa fome de conexão emocional, um imperativo de sobrevivência que
experimentamos do berço ao túmulo. A conexão do amor é a única segurança que a natureza nos
oferece.
2. Essas emoções e necessidades de ligação eram a trama por trás das interações negativas como os
Diálogos do Demônio. Agora eu entendi por que esse tipo de padrão era tão irresistível e interminável.
Quando a conexão segura parece perdida, os parceiros vão para o modo lutar-ou-lutar.Eles culpam, e
ficam agressivos na busca de uma resposta, qualquer resposta, ou se fecham e tentam não se importar.
Os dois estão aterrorizados; mas apenas estão se comportando de maneira diferente. O problema é que
quando começam esse círculo queixa-distanciamento,ele confirma todos os seus temores e se soma à
sua sensação de isolamento. Leis emocionais tão velhas quanto o tempo determinam essa dança;
habilidades racionais não a alteram. A maior parte das queixas nesses diálogos é um grito desesperado
por apego, um protesto contra a desconexão. E que só pode ser acalmado pela pessoa amada movendo-
se emocionalmente para abraçar e reafirmar apoio. Nada mais servirá. Se essa reconexão não ocorrer, a
briga continua. Um parceiro tentará freneticamente obter uma resposta emocional do outro. O outro,
ouvindo que ele ou ela fracassou no amor, vai estacar. A imobilidade em face do perigo é uma maneira
codificada de lidar com a sensação de desamparo.
3. Os momentoschave da TFE foram os momentos de vínculos com segurança. Nesses momentos de
afinação e conexão, ambos os parceiros podem ouvir o grito do outro por apego, e responder com
carinho, forjando um vínculo que pode resistir às diferenças, feridas, e ao teste do tempo. Esses
momentos formatam a conexão segura, e isso muda tudo. Eles fornecem uma resposta tranquilizadora
para a pergunta “Você está disponível para mim?”. Uma vez que os pares saibam como expressar suas
necessidades, e trazer o outro para perto, toda provação que passem juntos simplesmente fará seu amor
ficar mais forte. Não é estranho que esses momentos criem uma nova dança de conexão de segurança
para os casais submetidos à TFE. Nem tampouco que possam se fortalecer como indivíduos. Se você
sabe que a pessoa amada está disponível e atenderá quando chamar, você estará mais seguro de sua
importância, de seu valor. E o mundo é menos amedrontador quando se tem outro com quem contar e
sabemos que não estamos sozinhos.

Com o primeiro estudo da TFE eu soube que tinha descoberto um caminho


para conduzir os casais de um sofrimento desesperado a uma conexão mais feliz.
Mas quando percebi que todos os temas e o enredo giravam em torno dos
vínculos de apego, percebi que também tinha descoberto um amplo mapa para o
amor, e que poderia tramar os passos da jornada para um tipo especial de
conexão amorosa.
Imediatamente minhas sessões com os casais mudaram. Enquanto eu
observava parceiros reclamando e se afastando, eu via os conceitos de Bowlby
sobre separação sofrida em ação. Alguns parceiros gritavam, cada vez mais alto,
para fazer com que o outro se virasse para eles; e outros murmuravam, cada vez
mais fracamente, como se não quisessem perturbar a “paz”. Ouvi parceiros
engolfados nos Diálogos do Demônio falarem a linguagem do apego. Uma
necessidade desesperada de resposta emocional que termina em acusação, e um
temor desesperado que termina em retraimento — isso era o suporte por baixo
desses conflitos intermináveis. Agora era mais fácil sintonizar as emoções dos
parceiros. Eu compreendi a urgência que eles tinham. Enquanto aplicava meu
novo entendimento aos casais que atendia, colocando suas emoções, suas
necessidades, seus intermináveis conflitos num quadro de apego, e os conduzia a
momentos de conexão, eles me revelaram que isso lhes servia. Os casais me
contaram que agora entendiam seus desejos não revelados e temores
aparentemente irracionais, e que podiam conectar-se com a pessoa amada de
uma maneira completamente nova. Eles me contaram que foi um alívio saber
que não havia nada de errado ou “imaturo” nesses desejos e temores. Eles não
tinham que esconder nem negar nada. Agora nós podíamos polir a forma de
trabalhar com os casais usando a TFE — não estávamos apenas no terreno certo,
tínhamos um mapa que levava ao gol. Nós podíamos ir até o essencial.
Com o passar dos anos, enquanto estudos científicos sobre os relacionamentos
dos adultos continuaram e confirmaram o que eu tinha aprendido conduzindo e
observando milhares de sessões de terapia de casais, as conversas básicas, que
promovem um vínculo emocional e uma conexão protegida e segura, tornaramse
cada vez mais claras. Mostramos em nossos estudos que, quando elas ocorrem,
os casais se recuperam do sofrimento e formam um vínculo mais forte entre si.
Este livro é sobre o compartilhamento dessas conversas com você, de modo que
possa utilizálo no seu próprio relacionamento. Até agora esse tem sido um
processo supervisionado por profissionais treinados em TFE. Mas ela é tão
valiosa e tão necessária, que simplifiquei os processos a fim de que você, leitor
ou leitora, possa facilmente usála para mudar e desenvolver seu relacionamento.

A.R.E.

A base da TFE são sete conversas que têm por objetivo encorajar um tipo
especial de receptividade emocional, que é a chave para um amor duradouro
entre casais. Essa receptividade emocional tem três componentes principais:
• Acessibilidade: Posso aproximar-me de você?

Isto significa permanecer aberto para o seu par, mesmo quando você tem
dúvidas e se sente inseguro. Muitas vezes sig-nifica estar desejoso de falar
racionalmente de suas emoções, de modo que elas não sejam tão opressivas.
Então você pode evitar a desconexão e colocarse em sintonia com os sinais de
afeto da pessoa amada.
• Receptividade: Posso contar com você para me apoiar emocionalmente?

Isto significa entrar em sintonia com seu parceiro e mostrar que as emoções
dele, ou dela, especialmente as necessidades de apego e os temores da separação,
têm impacto sobre você. Signi-fica aceitar e dar prioridade aos sinais emocionais
que o seu parceiro expressa, e mandar sinais claros de conforto e afeto quando
seu parceiro precisar deles. A capacidade de reação afetiva sempre nos toca
emocionalmente e nos acalma no nível físico.
• Engajamento: Eu sei que você vai me valorizar e continuar disponível?

O dicionário define engajar como ser absorvido, atraído, pu-xado, cativado,


comprometido, envolvido. Engajamento emocional, aqui, significa o tipo muito
especial de atenção que nós damos só à pessoa que amamos. Nós a fitamos por
mais tempo, tocamos por mais tempo. Parceiros muitas vezes falam disso como
sendo estar presente emocionalmente.

AS SETE CONVERSAS DA TFE

Voltemos à história de Sarah e Tim e vejamos como a TFE funciona. Podemos


examinar as quatro primeiras conversas que transformaram o relacionamento de
Sarah e Tim. Elas vão ajudar você a entender as mudanças que Sarah e Tim
fizeram e a usar a Parte Dois deste livro para introduzir essas mudanças no seu
relacionamento. Como Sarah e Tim, você pode aprender a interromper o
mergulho na carência afetiva e distanciamento que afligem tantos
relacionamentos. Mais do que isso, contudo, você pode aprender a lógica
primorosa do amor e as conversas que o desenvolvem.
Na primeira conversa, Reconhecendo os Diálogos do Demônio, encorajei o
casal a identificar a dança prejudicial em que se meteram, quando essa dança
acontece, e como os movimentos de cada parceiro aumentam a confrontação.
Uma vez que estejam alertados de seus passos negativos, peço-lhes que
observem os comentários destrutivos e pensem no que realmente estão dizendo.
Os ataques e as exigências de Sarah são um desesperado protesto contra a erosão
de seus vínculos com Tim, enquanto a atitude defensiva de Tim e sua controlada
racionalidade são expressões de seu temor de que Sarah esteja desapontada com
ele e que ele a esteja perdendo. Quanto mais ele tenta ignorar suas preocupações,
tanto mais sozinha ela se sente e mais raivosa fica. Depois de algum tempo, tudo
o que lhes sobra são acusações e hostilidade.
Mas agora Tim e Sarah podem ter uma nova e positiva conversa, que lhes dê
mais poder sobre essa Polca do Protesto dos Diálogos do Demônio. Sarah é
capaz de dizer: “Acho que pego muito pesado. Fico hostil. Sintome tão
menosprezada.
Então eu confronto para que você perceba o que está acontecendo e volte para
mim. Mas isso só o afasta mais, e leva você a ficar se justificando. E acho que
pareço muito perigosa nessas horas, e então você se retrai ainda mais. Aí eu fico
mais angustiada. A gente está travado. Nunca vi isso antes”. Tim é capaz de
perceber como o seu distanciamento faz com que Sarah fique ainda mais
queixosa. Eles começam a ver o padrão, e cessam de culpar um ao outro pelos
passos. Agora estão prontos para uma segunda conversa.
Em Descobrindo os Lugares mais Frágeis, Tim e Sarah começam a
compreender as reações de cada um e dos dois, e de que o drama aqui consiste
basicamente na segurança de sua li-gação emocional. Cada parceiro começa a
olhar além das reações imediatas, tais como a raiva de Sarah e a indiferença de
Tim. Começamos a nos ligar mais nos sentimentos mais brandos, sentimentos
conectados nas necessidades de afeto e temores de separação. Tim se vira para
uma Sarah mais calma e atenta e diz: “Você tem razão. Na noite passada,
naquele momeno, eu não consegui perceber sua mágoa. Tudo o que vejo nessas
horas é sua raiva. Tudo o que ouço é que escangalhei tudo de novo. Que
fracassei de novo. Simplesmente nunca consigo acertar”. Ele ergue as mãos para
cobrir o rosto. Suspira e continua: “Então acho que tento colocar uma tampa
sobre tudo. Para interromper a briga e os exemplos de como escanga-lhei mais
uma vez. Mas você acha que eu não sei que estou te perdendo?”. Ele abaixa a
cabeça. Sarah se inclina à frente e coloca a mão gentilmente no braço dele. O
problema não é que não se importe com ela, ou não precise dela; o problema é
que ele não pode lidar com o medo de perdêla.
Sarah e Tim começam a perceber que ninguém pode dançar essa dança com
um parceiro e não se tocarem nos pontos frá-geis. Precisamos saber o que são
esses pontos frágeis, e sermos capazes de falar deles de uma maneira que traga
nosso parceiro para mais perto de nós. Sarah e Tim agora conhecem as pistas do
perigo e as sensibilidades de certos eventos que deflagram ansiedades sobre a
separação. “Eu fico mesmo furiosa quando você se atrasa”, Sarah diz a Tim.
“Faz me lembrar de meu pai. Depois que ele nos deixou, sempre ligava e dizia
que me amava e quando viria me pegar, mas ele nunca apareceu. Eu aguarda-va
— e depois achava que era uma tola de pensar que era importante para ele.
Nessas horas meu sentimento é o mesmo.” Falar com Tim de seu
desapontamento e anseio, e não da sua raiva, dá a ele uma nova percepção de
Sarah e do que está em risco para ela. Ele ouve mais, e começam a se conectar
num nível emocional mais profundo.
Numa terceira conversa, Revisitando um Momento Instável, esse casal repete
o tempo em que estavam embrenhados num círculo exigência-distanciamento,
reconhecendo os passos que cada um tomou e as emoções que cada um sentiu.
Agora eles estão no controle da dinâmica criada pela dança. E como é isso?
SARAH: Nós ficamos tão absorvidos naquela história da polca do protesto.
Antes que percebesse, me ouvi ameaçando ir embora. Mas dessa vez parte da
minha cabeça estava falando: “O que eu estou fazendo? O que nós estamos
fazendo?”. Estamos metidos nisso novamente. Mas entendo agora que essa
necessidade de fazêlo reagir é apenas parte do amor que se tem por alguém. Não
tenho que me sentir mal com isso. Mas eu ficava esquentada só de falar nisso.
Estava ficando com medo. Ele soava como se estivesse quebrando a promessa de
que iríamos passar fora o final de semana, e perdi o controle. Aí eu percebi,
“Calma aí. Lá vamos nós de novo. Vamos baixar o tom”. Mas naquele momento
ele já tinha saído da sala. [Ela se vira para Tim.] Então eu fui atrás, encontrei
você e disse: “Hei, estamos enredados naquela coisa da polca de novo. Estou me
sentindo abandonada, como se você não fosse manter a pro-messa. [Ela abre um
sorriso resplandecente.]
TIM: Você tem razão. Eu já tinha me fechado em copas. desistido. Mas bem lá
no fundo da minha mente eu me lembrei de nossas conversas. Então, quando
você veio e me encontrou, fiquei aliviado. Daí eu pude dizer que queria muito
viajar no final de semana com você. Fomos capazes de sair daquela dança e de
certo modo nos aproximarmos, nos acalmarmos. Ajudou o fato de eu ter me
lembrado de você dizer que estava com medo de que eu a desapontasse e que
não tiraria uns dias para a viagem. Eu não ouvi somente você me dizer, com
raiva, o quanto eu a despontava.
SARAH: Eu nunca percebi que o afetava tanto quando eu ficava com raiva.
Na verdade, eu achava que isso não importava nada para você. Bem, então, eu
ficava desesperada, realmente furiosa. E não conseguia que você reagisse. E não
adiantava nada quando você e sua família me passavam uma mensagem de que
eu deveria crescer e lidar com tudo sozinha. Aí eu me sentia ainda mais sozinha.
TIM: [Estende a mão para ela.] Eu sei. Eu não compreendia. Nós acabávamos
enredados nessa coisa — você sofrendo e soli-tária e eu me sentindo como um
idiota. Eu não conseguia perceber o que estava errado; e quanto mais eu evitava
e subestimava, pior ficava. Sue diz que isso acontece um monte de vezes. Acho
que nunca conversamos tanto sobre as nossas necessidades emocionais, sobre o
que precisávamos um do outro.
SARAH: Essa dança em que nos metemos é o problema, embora você, no que
diz respeito a estar próximo, às vezes parece um aspirante a astronauta. [Ela ri.
Ele dá uma pancadinha na cabeça para indicar que entendeu, e ri de volta.]
Tim e Sarah agora podem fazer o que casais com um relacionamento seguro
podem fazer. Podem reconhecer e aceitar as necessidades de apego de cada um.
Eles têm um lugar seguro onde ficar e começar uma nova conversa para
aprofundar seus vínculos emocionais.
Essas três primeiras conversas diminuem a tensão na relação e preparam o
casal para os próximos diálogos, que desenvolvem e fortalecem o vínculo.
A quarta conversa, Abrace-me Apertado, é a que transforma os
relacionamentos. É a troca que move os parceiros a serem mais acessíveis, mais
emocionalmente receptivos, e mais profundamente envolvidos um com o outro.
As três conversas finais, Perdoando Ofensas, Criando Vínculos por meio do
Sexo e do Contato Físico, e Mantendo Vivo seu Amor, se baseiam todas na
conexão íntima criada por esse diálogo. Uma vez que os casais saibam como ter
a quarta conversa, eles contam com um remédio para os altos e baixos do amor,
e uma rota de fuga das armadilhas da desconexão.
Abrace-me Apertado é uma conversa difícil, mas inebriante. O vínculo
emocional forjado aqui é alguma coisa que muitos casais nunca experimentaram,
mesmo em meio à paixão inicial, quando seus corpos estavam inundados de
hormônios da paixão. É similar à ligação feliz entre pais e filhos, exceto que é
mais complexa, recíproca, e envolve sexo. À medida que essa conversa se
desenrola, os parceiros se veem, e à pessoa amada, de maneira diferente;
percebem-se sentindo novas emoções e reagindo de novas maneiras. Agora eles
podem correr mais riscos e buscar mais intimidade.
Vejamos como essa conversa se desenvolve para um casal como Tim e Sarah,
quando tudo se encaixa.
Tim agora pode dizer à mulher que fica “completamente paralisado” quando
sente que não pode agradála.Ele acaba se fechando, mas não quer mais fazer
isso. Agora ele acrescenta: “Mas eu não sei como ficar ‘próximo’. Nem tenho
certeza de como é. Não consigo, a menos que Sarah queira fazer sexo”.
Mas as respostas do apego estão ligadas, e quando pergunto a Tim como ele
demonstra à sua filhinha o quanto ele a ama, seu rosto se ilumina. “Oh, eu
sussurro para ela, e a abraço, principalmente antes de ela ir dormir”, ele
esclarece. “E quando ela ri para mim quando chego em casa, digo pequenas
frases para ela saber que estou feliz em vêla. Ela gosta quando beijo sua
bochecha e digo que ela sempre vai ser minha namorada. E brinco com ela, dou
toda a minha atenção a ela nesses momentos especiais.” Então seus olhos se
arregalam; ele sabe o que eu vou dizer. “Oh, então, quando você se sente seguro,
você demonstra muito bem amor e afeto. De fato, você sabe como sintonizar
com as pessoas que ama. Sabe como responder com ternura e como conectar-
se.” Tim sorri, incerto, mas esperançoso. Então discutimos sobre o que o impede
de ser tão recep-tivo e afetuoso com sua esposa. Ele se vira para Sarah e diz que
muitas vezes fica muito “ansioso”, muito temeroso de brincar e buscar sintonia
com ela.
Esse é um momento crucial na relação entre Tim e Sarah. Ele para por um
momento, depois continua. “Eu sei que tenho sido omisso com você”, ele
confessa. “Sei que a decepcionei.
Fico tão envolvido em me sair bem no trabalho — e com você. Então, quando
vejo que você está com raiva a despeito de todos os meus esforços, isso me
mata. Não consigo suportar, então me fecho. Mas eu quero que fiquemos juntos.
Preciso de você. Quero que me dê uma chance nessa hora, que pare de ficar
esperando pelo meu erro, e que ouça que você é muito importante para mim.
Quero que fiquemos juntos. Mas nem sempre sei como conseguir isso.” Sarah
arregala os olhos e suas sobrance-lhas franzem quando ela chora.
Tim ficou acessível. Ele já consegue falar com sua mulher sobre suas
necessidades de apego e suas vulnerabilidades. Ele está emocionalmente
engajado. É isso o que importa, não exatamente o que ele diz. Mas a princípio
Sarah não sabe como lidar com esse estranho. Ela pode confiar nele? Em muito
pouco tempo ele mudou a música da relação, de uma polca para um tango, uma
dança de intensa conexão. Então, ela tem um lapso e volta a um comentário
hostil. “E quando você ‘não sabe’, como você coloca — vai correndo trabalhar
onde você é ‘perito’, não?”
Gradualmente, enquanto Tim continua expressando suas necessidades, Sarah
vê “o homem pelo qual me apaixonei, o homem que sempre quis”. Então é a vez
de Sarah mudar para uma nova dança, na qual ela pode amenizar sua postura rai-
vosa. Ela pode falar a ele de seu temor de que ele a tivesse “abandonado” e do
seu anseio de que ele diga que precisa dela. Eu a encorajo a pedir o que necessita
para se sentir segura. “É um risco tão grande, como saltar de uma grande altura
na esperança de que você vai me pegar”, ela diz, de forma hesitante. “Eu deixei
que fosse criada tanta desconfiança.” “Peça”, ele murmura. “Eu estou aqui.” Ela
responde: “Preciso que me dê tranquilidade. Preciso de sua atenção. Saber que
eu estou em primeiro lugar, mesmo que por alguns momentos. Preciso que você
sinta, e reaja, se estou sofrendo, se estou com medo. Você pode me abraçar?” Ele
fica de pé, e a puxa, para um abraço.
Eu sei, por ter atendido a milhares de casais, que esses são os momentoschave
que movem uma relação do terreno instável para o terreno sólido, que ajudam os
casais a encontrarem uma vida inteira de amor. Nesses momentos Tim e Sarah
criam aque-la confiança, aquela conexão segura que todos nós buscamos.

JOGUE E PRATIQUE
O questionário e os exercícios mostrados abaixo vão ajudar você a ver seu
relacionamento através das lentes do apego.

O QUESTIONÁRIO A.R.E.

Este questionário é uma ótima maneira de aplicar o conhecimento exposto neste


livro na sua própria relação. Simplesmente leia cada afirmação e faça um círculo
no V (para “verdadeiro”) ou no F (para “falso”). Para fazer a pontuação do
questionário, marque um ponto para cada resposta “verdadeiro”. Você pode
completar o questionário e refletir isoladamente sobre o seu relacionamento. Ou
você e seu par podem completar e depois discutir suas respostas juntos, na
maneira descrita depois do questionário.
Do seu ponto de vista, seu par é acessível para você?
1. Posso conseguir a atenção de meu par facilmente. V F
2. Meu par é fácil de ser conectado emocionalmente. V F
3. Meu par deixa claro que eu estou em primeiro lugar. V F
4. Não estou me sentindo solitário/solitária ou excluído/excluída nesta relação. V F
5. Posso compartilhar meus sentimentos mais profundos com meu par. Ele/ela vai me
escutar. V F
Do seu ponto de vista, seu par é receptivo a você?
1. Se eu precisar de conexão ou conforto, ele/ela está disponível para mim. V F
2. Meu par responde a sinais de que preciso que ele/ela se aproxime. V F
3. Sei que posso me apoiar em meu par quando estou ansioso/ ansiosa ou inseguro/insegura.
V F
4. Mesmo quando brigamos ou discordamos, sei que sou importante para meu par e vamos
encontrar uma maneira de nos entender. V F
5. Se eu preciso estar seguro/segura de minha importância para o meu par, eu vou tê-la.V F
Vocês estão positivamente engajados um com o outro?
1. Sintome muito confortável em estar próximo/próxima e em confiar em meu par. V F
2. Posso confiar em meu par com relação a quase tudo. V F
3. Sintome confiante, mesmo estando separado/separada um do outro, de que estamos
conectados. V F
4. Sei que meu par se importa com minhas alegrias, meus sofrimentos e meus temores. V F
5. Sintome seguro/ segura o suficiente para assumir riscos com meu par. V F
Se você marcou sete pontos ou mais, você está no caminho certo para uma
ligação segura, e pode usar este livro para ampliar esse vínculo. Se você marcou
menos de sete, agora é a hora de decidir usar as conversas deste livro para
fortalecer os vínculos com a pessoa amada.
Entender a ligação entre você e a pessoa amada, e compartilhar a maneira
como você a vê, é o primeiro passo para possibilitar a criação da conexão que os
dois querem, e necessitam. A percepção de seu parceiro sobre o quanto você é
acessível, receptivo/recepti-va, e engajado/engajada, equivale à visão que você
tem de si e do quanto a relação dos dois é segura? Tente lembrar que o seu
parceiro está falando sobre o quanto ele ou ela se sentem seguros e conectados,
agora, no seu relacionamento, não sobre se você é um par perfeito ou imperfeito.
Vocês podem se revezar na pergunta/ resposta que pareceu mais positiva ou
importante para vocês. É melhor dar cinco minutos para cada um.
Agora, se você se sentir confortável, tente explorar a pergunta/ resposta que
parece ter levantado a emoção mais difícil para você. Tente fazer isso com o
espírito de ajudar seu par a sintonizar com seus sentimentos. Ele/ela não serão
capazes de fazer isso se você se mantiver negativo; portanto, tente evitar críticas
ou reclamações. É melhor manter essa conversa, outra vez, por cinco minutos.

EXPLORANDO SUAS CONEXÕES EMOCIONAIS

Talvez você se sinta mais confortável refletindo sobre pontos gerais do que
usando o questionário. Você pode simplesmente refletir sobre as questões
listadas abaixo, ou querer anotálas num diário e então aprofundar sua reflexão
sobre elas. Você também talvez queira compartilhar e discutir suas respostas com
seu par em algum momento.
• A história de Tim e Sarah faz sentido para você? Ela parece familiar? Qual parte realmente pareceu
importante para você, e como chegou a isso?
• Quais mensagens sobre amor/casamento você recebeu de seus pais? Da sua comunidade? Fazer
contato com os outros, ou confiar, era visto como uma força e um amparo?
• Antes do seu atual relacionamento você experimentou uma relação segura e amorosa com alguém em
quem confiava, sentia-se próximo/próxima, ou podia apoiar-se se necessário? Você tem na mente uma
imagem do que isso representa, um modelo que pode ajudar enquanto você desenvolve sua atual
relação? Pense num momento alegre ou típico que retrate essa relação e o partilhe com seu par.
• Seu relacionamento anterior lhe ensinou que as pessoas amadas não eram confiáveis e que você tinha
que ser vigilante e lutar para se fazer notar e obter receptividade? Ou você aprendeu que depender dos
outros é perigoso, e que é melhor se distanciar, para não necessitar dos outros e evitar proximida-de?
Essas estratégias básicas, muitas vezes, afloram quando sentimos que a pessoa amada está distante ou
desconectada. Que estratégia você usou em relacionamentos passados, digamos com seus pais, quando
as coisas começaram a dar errado?
• Você pode se lembrar de um momento em que realmente precisava saber se a pessoa amada estava do
seu lado? Se ele ou ela não estava, como lidou com a situação e o que aprendeu com isso? Como você
superou a situação? Isso causa impacto nos seus relacionamentos agora?
• Se para você é difícil procurar e confiar nos outros, deixálos se aproximar quando realmente precisa
deles, o que você faz quando a vida fica muito complicada ou quando se sente sozi-nho/ sozinha?
• Nomeie duas coisas concretas e específicas que uma pessoa amada que fosse segura, acessível,
receptiva e engajada numa relação com você faria num dia típico, e como essas coisas fariam você
sentirse naquele momento.
• Na sua atual relação você pode pedir ao seu par, deixar que ele ou ela perceba que você precisa de
intimidade ou conforto? Isso é fácil ou difícil para você? Talvez imagine que isso é um sinal de
fraqueza, ou talvez pareça muito arriscado para você? Avalie sua dificuldade de fazer isso numa escala
de 1 a 10. Uma avaliação mais alta significa que é muito difícil para você. Par-tilhe isso com seu par.
• Quando se sente desconectado ou sozinho na sua atual relação, você possivelmente vai ficar muito
sensível ou mais ansioso e forçar seu parceiro a responder? Ou é mais provável que você vá se fechar e
tentar não sentir sua necessidade de conectar-se? Você pode se lembrar de um momento em que isso
aconteceu?
• Pense numa época em seu relacionamento quando perguntas como “Você está disponível para mim?”
estavam pairando no ar e você acabou se enredando numa briga por um problema corriqueiro. Partilhe
isso com seu par.
• Você pode pensar em momentos de seu relacionamento em que um dos dois procura e o outro
responde de uma maneira que faz com que os dois se sintam emocionalmente conecta-dos, e seguros,
um com o outro? Partilhe isso com seu par.

Agora que você tem uma visão do que o amor e a criação de uma dependência
positiva realmente são, as conversas transformadoras dos capítulos seguintes vão
lhe mostrar como criar esse tipo de vínculo com a pessoa amada. As quatro
primeiras conversas lhe ensinam como limitar as espirais negativas que deixam
vocês dois desconectados, e como sintonizar um com o outro de uma maneira
que gera receptividade emocional dura-doura. As duas conversas seguintes
demonstram como você pode forjar vínculos emocionais por meio do perdão a
ofensas e da intimidade sexual. A conversa final lhe mostra como cuidar
diariamente do seu relacionamento.
PARTE DOIS
Sete conversas transformadoras
Conversa 1: Reconhecendo os diálogos
do demônio
“A rixa é melhor do que a solidão.”
PROVÉRBIO IRLANDÊS

ara todos nós, a pessoa que mais amamos no mundo, aquela que pode nos

P
mandar alegremente para os céus, é também a que pode nos devolver
esborrachando de encontro à terra. Tudo que é preciso é virar o rosto para
o outro lado, ou fazer uma descuidada observação. E não existe
proximidade sem esse tipo de reação. Se nossa conexão com o cônju-ge é
segura e forte, podemos lidar com esses momentos de sensibilidade. Na
verdade, podemos usálos para trazer nosso par ainda para mais perto. Mas
quando não nos sentimos seguros e conectados, esses momentos são como uma
fagulha numa floresta ressecada. Eles incendeiam a relação inteira.
Isso foi o que aconteceu nos primeiros três minutos de uma explosiva sessão
com Jim e Pam, casados havia muito tempo, e que estavam experimentando um
sério declínio na relação, embora ainda percebessem as qualidades atrativas de
um e do outro. Jim tinha me dito várias vezes em sessões anteriores que o cabelo
louro e os olhos azuis de Pam o “enfeitiçavam”, e Pam muitas vezes observou
que ele era um bom marido e bom pai, e até um “pouquinho” atraente.
A sessão começa de forma bastante inocente, com Pam dizendo que ela e Jim
passaram um agradável final de semana juntos, e que tinha decidido tentar
apoiálo mais toda vez que percebesse que ele estava se sentindo estressado por
causa do trabalho. Ela também diz que gostaria que ele fosse capaz de falar toda
vez que precisasse de apoio emocional. Jim ri com desdém, move os olhos, e
gira a cadeira para longe da mulher. Naquele momento juro que podia sentir uma
lufada de vento quente passando pelo consultório.
Pam explode: “Que diabos você quer dizer com essa ridícula expressão? Fiz
muito mais esforço para dar apoio nessa relação do que você, seu presunçoso
filho da puta. Aqui estou eu te oferecendo apoio, mas você prefere ficar com
esse ar superior, como sempre”. “Lá vem você esbravejando”, Jim retruca. “Eu
nunca vou te pedir apoio. E a razão está aí. Você iria simplesmente me censurar.
Você vem fazendo isso há anos. É essa a razão para estarmos nessa confusão,
para início de conversa.”
Eu tento acalmálos,mas estão gritando tão alto, que não me ouvem. Eles
finalmente param quando digo que é triste que tudo tenha começado com Pam
sendo positiva e oferecendo uma imagem amorosa. Pam então irrompe em
lágrimas e Jim fecha os olhos e suspira. “Isso é o que sempre acontece conos-
co”, Jim fala, e ele está certo. E é aí que podem começar a modificar o que
sempre acontece. A mudança começa quando se vê o padrão, e se foca no jogo, e
não só na bola.
Nós ficamos enredados em três padrões básicos — eu os chamo de Diálogos
do Demônio — quando não conseguimos nos conectar em segurança com nosso
par. De quem é a Culpa é o beco sem saída de acusações mútuas que
efetivamente mantém um casal completamente distanciado, bloqueando o
reencontro e a criação de refúgio seguro. Os casais dançam a um metro de
distância. É o que Jim e Pam estão fazendo quando passam a culpar um ao outro
pela relação aflitiva. Alguns casais caem nesse padrão por períodos curtos, mas é
difícil mantêlo por anos a fio. Para a maioria, De quem é a Culpa é o breve
prelúdio para a dança mais comum e traiçoeira da afli-ção. Muitos pesquisadores
chamaram a esta próxima dança de Ataque-Fuga ou CriticarDefender.Eu a
chamo de Polca do Protesto, porque a vejo como uma reação, ou mais
exatamente, um protesto contra a perda do sentimento de ligação segura que
todos necessitamos num relacionamento. A terceira dança é estacar e Fugir, ou
como muitas vezes a chamamos na TFE, Fugir-Fugir.Isso geralmente acontece
quando a Polca do Protesto está sendo dançada há algum tempo, quando os
dançarinos se sentem tão desesperançados, que começam a desistir e colocam
suas emoções e necessidades no congelador, deixando de fora apenas
entorpecimento e distanciamento. Ambos os parceiros recuam, para escapar do
sofrimento e do desespero. Em termos de dança, de repente nenhum dos
parceiros está no salão; ambos estão sentados. Essa é a dança mais perigosa de
todas.
Em algum momento de nossas relações amorosas todos nós somos apanhados
por uma ou todas essas interações negativas. Para alguns são danças breves,
porém arriscadas, em conexões de outra forma seguras. Para outros, com
conexões menos seguras, elas se tornam respostas habituais. Depois de algum
tempo, tudo o que é preciso é um toque de negativismo de um dos parceiros para
desencadear um Diá-logo do Demônio. Eventualmente os padrões prejudiciais
podem se tornar tão arraigados e permanentes, que minam o relacionamento,
bloqueando todas as tentativas de entendimento e reconexão.
Nós temos só duas maneiras de nos proteger e preservar as conexões com os
pares quando não nos sentimos seguros e receptivos. Um caminho é evitar o
engajamento, ou seja, tentar amortecer nossas emoções, fecharnos e negar nossas
necessidades de afeto. O outro é ouvir a nossa ansiedade e lutar pelo seu
reconhecimento e pela resposta.
Qual estratégia nós adotamos quando nos sentimos desconectados —
tornandonos exigentes e críticos ou recuando e nos fechando — reflete
parcialmente nosso temperamento, mas na maioria das vezes ela é ditada pelas
lições que aprendemos nos relacionamentos básicos de nosso passado e presente.
Além do mais, porque aprendemos com toda nova relação, nossa estratégia não é
fixa. Podemos ser críticos numa relação e indiferentes numa outra.
Se eu não tivesse intervindo no caso de Jim e Pam durante a sessão, eles
provavelmente teriam passado por todos os três Diálogos do Demônio,
impotentes, exauridos, alienados, e sem esperança; e depois teriam voltado para
o Diálogo que eles conheciam melhor. Inevitavelmente, eles fariam julgamentos
condenatórios de sua relação, os quais iriam turvar as intera-ções futuras e
destruir pouco a pouco a confiança mútua. Cada vez que fazem isso e não
conseguem encontrar um caminho para conexões seguras, a relação se torna cada
vez mais tênue. Nas circunstâncias, tudo o que fizemos na sessão foi acalmar as
coisas um pouco. Jim e Pam sugerem que eu dê jeito no problema. Claro que,
para cada um deles, isso significa dar um jeito no outro parceiro. A trégua dura
apenas 30 segundos antes que se lancem novamente na busca de De quem é a
Culpa.

DIÁLOGO DO DEMÔNIO 1 — DE QUEM É A CULPA

O objetivo de De quem é a Culpa é a autoproteção, mas o movimento principal é


o ataque, a acusação e a responsabilização recíprocas. O ponto de partida para
esse padrão é a sensação de que fomos feridos pelo parceiro, ou nos sentimos
vulneráveis em relação a ele, e de repente perdemos o controle. A segurança
emocional é perdida. Quando ficamos com medo, usamos qualquer coisa que
prometa trazer de volta o controle. Podemos fazer isso definindo nosso par, de
maneira negativa, lançando uma luz negra sobre ele ou ela. Podemos atacar com
uma raiva reativa ou como uma ação preventiva.
De quem é a Culpa poderia ser facilmente chamado de Não sou eu, é você.
Quando nos sentimos encurralados e inundados de medo, tendemos a reagir da
maneira óbvia. Posso ver e sentir o que você acabou de me fazer. É muito mais
difícil ver o impacto de minhas reações sobre você. Nós nos concentramos em
cada passo e em “você acabou de pisar no meu pé”, e não na dança. Depois de
algum tempo os passos e o padrão ficam automáticos.
Uma vez que ficamos enredados num padrão negativo, nós o esperamos,
vigiamos, e reagimos ainda mais rapidamente quando pensamos que o estamos
vendo chegar. Claro que isso só reforça o padrão. Como Pam diz: “Já não sei
mais o que vem primeiro. Estou aguardando pelo seu comentário mordaz. Estou
com minha arma apontada. Talvez eu puxe o gatilho quando ele nem mesmo está
me atacando!”. Se ficamos desconfiados e precavidos contra a agressão,
fechamos todas as formas de fugir do beco sem saída dessa dança. Não podemos
relaxar com nossos pares, e certamente não podemos conectar ou confiar neles.
O alcance das respostas torna-se mais restrito, enfraquecendo aos poucos a
relação.
Jim se manifesta assim: “Não sei mais o que sinto neste relacionamento. Eu
fico ou entorpecido ou fervendo de raiva. Acho que perdi o contato com todos os
tipos de sentimento. Meu mundo emocional ficou menor, mais espremido. Fico
muito ocupado me protegendo”. Essa reação é especialmente típica dos homens.
Muitos, quando me procuram pela primeira vez, respondem à pergunta “O que
você sente neste instante quando vê sua mulher chorando?” com um simples “Eu
não sei”. Quando estamos atacando ou contra-atacando tentamos colocar nossos
sentimentos de lado. Depois de algum tempo já não conseguimos vêlos mais.
Sem os sentimentos como nossa bússola no ter-ritório das relações amorosas,
ficamos efetivamente perdidos.
Começamos a ver a relação cada vez mais como insatisfatória ou insegura, e
nosso par como indiferente ou até imperfeito. Então Jim fala: “Fico lembrando
toda hora de minha mãe dizendo que Pam não era suficientemente madura para
mim, e acho, depois de todas essas discussões, que começo a pensar que minha
mãe tinha razão. Como se pode ter um relacionamento com alguém que é tão
agressiva? É impossível. Talvez seja melhor para nós dois simplesmente desistir,
mesmo que seja difícil para as crianças”.
Quando os parceiros fazem a dança de De quem é a Culpa apenas
ocasionalmente, e a maneira carinhosa de conectar ainda é a norma, eles podem
buscar um ao outro depois que se acalmaram. Algumas vezes podem ver o
quanto se magoaram e pedir perdão. Podem até rir das “idiotices” que os dois
disseram. Lembro-me de uma vez gritar para meu marido, John, “Você, seu
canadense grandão”, e depois cair na gargalhada, pois isso é justamente o que ele
é! Contudo, uma vez que os padrões que já discutimos aqui se tornam enraizados
e habituais, então um poderoso e autoalimentador se instala. Quanto mais você
ataca, quanto mais perigoso você parece para mim, mais eu aguardo o seu
ataque, e com mais violência eu ataco de volta. E vira um círculo vicioso. Esse
padrão negativo precisa ser bloque-ado antes que um casal possa erigir
segurança e confiança verdadeiras. O segredo para interromper a dança é
reconhecer que ninguém tem de ser o vilão da história. O próprio padrão acuso/
acuso é o vilão aqui, e os parceiros são as vítimas.
Olhemos novamente Jim e Pam no De quem é a Culpa, e vejamos como eles
podem sair desse padrão destrutivo usando umas poucas sugestões simples e
novas respostas.
PAM: Simplesmente não vou ficar sentada aqui ouvindo você dizer o
quanto eu sou impossível. De acordo com você, tudo o que acontece de
errado entre nós é por culpa minha!
JIM: Eu nunca disse nada disso. Você exagera tudo. Você é tão negativa.
Como naquele dia em que meu amigo veio nos visitar e tudo estava indo
muito bem, até que você disse...
Jim está desconectado e deslizando para o que chamo de Tubo de Satisfação.
É quando os parceiros trazem exemplo após exemplo, todos detalhados, de erros
de cada um para provar o seu ponto de vista. O casal briga sobre a “veracidade”
ou não desses detalhes e quem “começou”.
Para ajudálos a reconhecer os seus Diálogos do Demônio, eu sugeri que eles:
• Se fixassem no presente e no que está acontecendo entre eles neste momento.
• Olhassem no círculo vicioso de críticas que os faz ficar girando. Não há nenhum “começo”
verdadeiro num círculo.
• Considerassem o círculo, a dança, como o seu inimigo, e refletissem sobre as consequências de não
romperem o círculo.

Veja o que acontece:


JIM: Bem, acho que é isso. A gente fica preso nisso, nós dois. Mas eu
nunca tinha visto dessa forma antes. Eu sei que fico tão irritado depois de
algum tempo, que vou dizer qualquer coisa para atingir Pam.
SUE: Sim. O desejo de ganhar a briga e provar que o outro é o vilão tem
essa força. Mas, de fato, ninguém ganha dessa vez. Os dois perdem.
PAM: Eu não quero ficar brigando desse jeito. Isso me mata. E você está
certa. Está destruindo nossa relação. Nós estamos cada vez mais de
sobreaviso um com o outro. O que importa quem tenha “razão” no final das
contas? Nós dois estamos cada vez mais infelizes. Acho que mantenho o
círculo girando na tentativa de mostrar que ele não pode me menosprezar.
Tento fazer com que ele se sinta menor.
SUE: Sim. E sabe o que você faz, Jim? [Ele balança a cabeça.] Bem, há
poucos minutos você disse “Não vou te procurar, não vou confiar em você,
porque às vezes você é perigosa para mim”. E depois acho que você a
acusou de ser o problema, não foi?
JIM: Sim, é como eu digo a ela: “Você não pode me atingir”. E então eu
a menosprezo.
SUE: E depois de dispararem um contra o outro, os dois desistem, cada
vez mais derrotados e sozinhos, não é?
JIM: É. E então esse círculo, ciclo, espiral, dança, seja o que for, nos
enredou. Percebo isso. Mas como parar? Esse é o problema. O incidente
que estamos discutindo agora, por exemplo, eu não falei nada, foi ela que
começou este ciclo!
SUE: [Eu ergo as sobrancelhas. Ele para.] Bem, primeiro vocês
precisam ver o círculo vicioso das respostas e entender realmente que
inculpar o outro só coloca vocês cada vez mais distantes. A tentação de ser
o “vencedor” e fazer o outro admitir a culpa é apenas parte da armadilha.
Depois, será necessário interromper a dança, como está acontecendo agora,
e não ficar cada vez mais mesquinhos, buscando provas em intermi-náveis
versões de fatos ou incidentes. Se quiserem, os dois podem se juntar para
deter este inimigo que está assumindo o comando da sua relação.
JIM: [Olhando para a mulher.] Então, neste momento, eu não quero
continuar com esses ataques. Estamos enredados nesse círculo vicioso.
Talvez pudéssemos chamálo de “Quem é o abominável?” [Eles riem.] Isso
está nos matando. Então, vamos tentar parar com isso agora mesmo. Você
estava me dizendo que queria me dar apoio. Então, por que eu estava
insistindo no seu xingatório? Eu quero que você me apoie mais!
PAM: Sim, acho que se podemos parar e dizer “Hei, estamos naquele
círculo novamente. Não vamos pôr mais lenha na fogueira nem magoar o
outro”, então podemos ser melhores amigos e talvez até um pouco mais que
isso! Talvez um pouco como a gente costumava ser. [Ela começa a chorar.]
Pam está certa. Ser capaz de parar a dança de De quem é a Culpa é uma
maneira de voltar a ser amigos. Mas os casais querem muito mais do que
amizade entre eles. Fazer essa dança do ataque/ataque ficar sob controle é
apenas o primeiro passo. Temos que continuar e olhar para outros lugares em
que ficamos emperrados nas relações amorosas. Mas antes façam alguns dos
exercícios abaixo.

JOGUE E PRATIQUE

As dúvidas e reflexões apresentadas podem ajudar a pensar como você e seu


cônjuge se movem na dança quando os dois ficam emperrados no modo brigar-
para-vencer.Você pode refletir sobre elas, anotálas, lê-las em voz alta, e, claro,
partilhálas com seu par.
Muitos de nós somos ótimos para responsabilizar o outro. Desde o tempo do
Jardim do Éden Adão culpa Eva e Eva culpa Adão. Os dois dizem a Deus: “A
culpa não foi minha. O outro é o culpado”. Mais recentemente, Frank McCourt,
em seu livro , observou o quanto é fácil fazer com que as crianças escrevam se
você deixar que redijam desculpas por não terem feito o dever de casa; elas são
brilhantemente inventivas no culpar os outros por sua inércia. Então, pense numa
época em que você claramente era o culpado ou culpada por ter criado um
pequeno problema.
Por exemplo, fui à casa de um amigo para um jantar e deixei cair a entrada no
chão da cozinha ao tentar ajudar. Agora pense em suas ações numa situação
dessas, e em quatro diferentes Mas o prato estava pesado e ela não me falou!)
Descubra o quanto você é bom nisso. Imagine três maneiras de um companheiro
reagir negativamente às suas observações. O que teria acontecido então? Você
entra num círculo vicioso?
Agora veja se você pode se lembrar de um incidente similar com sua mulher.
O que você usou para “vencer” a briga e provar a sua inocência? Como você
acusou sua parceira? Quais são suas réplicas usuais quando você se sente
encurralado?
Você pode fazer um esboço do círculo de crítica hostil e qualificações que
aprisionou vocês dois na armadilha? Como cada um começou a definir o outro?
Como cada um feriu e enfureceu o outro? Houve um “vencedor”?
(Provavelmente não!)
O que aconteceu depois da sua luta pelo De quem é a culpa? Como você se
sentiu consigo mesmo, com a pessoa amada, e com a conexão entre vocês?
Vocês foram capazes de arrepender-se e falar novamente da briga e consolar um
ao outro? Se não, como você lidou com a perda da confiança entre vocês? O que
você acha que teria acontecido se você tivesse dito: “Estamos começando a
desqualificar um ao outro, para provar que o outro é o vilão. Vamos acabar
ficando mais magoados, se ficarmos emperrados nessa dança. Vamos parar de
ficar presos a uma dança tipo ataque-ataque. Talvez possamos falar sobre o que
aconteceu sem colocar a culpa no outro”.

DIÁLOGO DO DEMÔNIO 2 — A POLCA DO


PROTESTO

Essa é a dança mais difundida e mais enganosa dos relacionamentos. Estudos


feitos pelo psicólogo John Gottman, da Universidade de Washington, em Seattle,
indicam que muitos dos casais que se enredam nesse padrão no início do
casamento não comemoram o quinto aniversário. Outros ficam atolados
indefinidamente. Essa qualidade de “continuar” faz sentido, porque os
movimentos principais da Polca do Protesto criam um círculo estável, em que
cada movimento provoca e reforça o seguinte. Um parceiro estende a mão, ainda
que de uma maneira negativa, e o outro recua, mas ocasionalmente responde. A
dança também se perpetua porque as emoções e as necessidades por trás dela são
as mais poderosas deste planeta. Liga-ções com apego são os únicos laços da
Terra em que qualquer resposta é melhor do que nenhuma. Quando não obtemos
ne-nhuma resposta emocional da pessoa amada ficamos ligados no protesto. A
Polca do Protesto se concentra em obter uma resposta, uma resposta que devolva
a conexão e dê confiança.
Contudo, os casais têm dificuldade para reconhecer esse padrão. Ao contrário
do óbvio padrão ataque-ataque de De quem é a Culpa, a Polca do Protesto é mais
sutil. Um dos parceiros está exigente, protestando contra a desconexão; o outro
está recuando, protestando em silêncio contra a crítica implícita. Parceiros
insatisfeitos, não captando o sinal de cada um, muitas vezes se queixam de um
pouco claro “problema de comuni-cação”, ou de “constante tensão”.
Vejamos como os casais dançam a Polca do Protesto:
Pergunto a Mia e Ken, o jovem casal sentado em meu consultório: “Qual
parece ser o problema? Vocês me disseram que se amam e querem ficar juntos.
Vocês estão juntos há seis anos.
O que é que vocês gostariam que mudasse na relação?”
Mia, pequena, morena e veemente, fita o marido, Ken, um homem alto e
bonito que ainda está silencioso, aparentemente hipnotizado pelo tapete a seus
pés. Ela franze os lábios e suspira. Então olha para mim, indica o marido com
um gesto, e fala com um sibilo: “Esse é o problema. Ele nunca fala, e isso me
cansa! O silêncio dele me põe louca de raiva. Sou eu que carrego o fardo dessa
relação. Carrego tudo, e cada vez mais. E se eu não carregasse ...”. Ela estende
as mãos para cima, num gesto de resignação. Ken respira fundo e olha para a
parede. Gosto quando o quadro fica tão claro e a polca é tão fácil de ser
percebida.
O instantâneo da sua relação me mostra a posição básica de cada parceiro na
dança do sofrimento. Mia está batendo na porta, protestando contra seu
sentimento de separação, enquanto Ken segura a porta fechada firmemente. Mia
me conta que deixou Ken duas vezes, mas cedeu quando ele a chamou e
implorou que voltasse. Ken diz que não entende o que está acontecendo, mas
que se sente muito desesperançado com a situação deles. Ele me fala que na sua
mente decidiu que é sua culpa — talvez ele não tenha nascido para se casar —
ou simplesmente que ele e Mia não combinam. Num caso ou no outro, ele não
tem certeza se é uma boa coisa vir às sessões. Eles já tentaram aconselhamento
antes.
Pergunto se eles brigam, e Ken diz que raramente têm uma grande briga. Eles
não ficam presos em De quem é a Culpa. Mas então há momentos em que Mia
diz que o está abandonando, e Ken diz “Tudo bem”. Esses momentos são muito
ruins. E, ele me diz, ela tenta “adestrá-lo”. Ao dizer isso ele se contrai e ri.
Mia e Ken então me contam uma história. Muitos casais, quando indagados,
podem falar de um incidente básico, de um pequeno momento que capta a
natureza essencial da conexão entre eles. Se esses episódios são bons, são
contados em aniversários ou em momentos de ternura. Se são ruins, tentam
decifrálos, na expectativa de compreender o que o momento fala da sua relação.
KEN: Penso muito num jeito de agradála.Quero muito que ela seja feliz
comigo. Mas simplesmente não consigo. Um dia ela realmente queria
dançar. Então eu concordei. Mas aí tudo desmoronou quando chegamos lá.
MIA: Desmoronou porque você não queria dançar! Primeiro, você não
queria ir para o salão; e quando foi, simplesmente ficou lá parado.
SUE: E o que você fez, Mia?
MIA: Eu o peguei e comecei a movimentálo. Tentei mostrar a ele como
dançar!
KEN: [Balançando a cabeça.] Na verdade, você se abaixou e começou a
movimentar minhas pernas. Aí eu explodi e deixei o salão.
MIA: Se eu não faço, nada vai acontecer. E é a mesma coisa para toda a
relação. Se eu não faço acontecer, nada vai acontecer. [Ela se vira para
mim.] Ele simplesmente não participa.
SUE: Então é isso o que está errado entre vocês dois, e não apenas na
pista de dança. Esse padrão de você querer que Ken responda, e Ken ficar
imóvel, falando tão baixo, que você não consegue ouvilo.Isso os faz ficar
desalentados e sentiremse inseguros um com o outro?
MIA: Faz. Nunca consigo ouvilo.Ele resmunga demais. Então outro dia
tentei fazêlo falar mais claramente. Aí ele parou de falar comigo!
KEN: Então eu resmungo de vez em quando. Você estava gritando
comigo no carro na estrada. Enquanto eu dirijo você quer que eu fale cada
vez mais alto!
SUE: Mia, parece que você se tornou a professora da dança, dizendo a
Ken como se mover e falar. E você faz isso sem o temor de que Ken ficará
distante e que não haverá nenhuma dança entre vocês. [Ela concorda com a
cabeça enfaticamente.] Você continua aguardando que Ken volte e se
conecte com você, e quando isso não acontece se sente completamente só.
E então você tenta consertar, ensinar a ele como responder. Mas essa atitude
é muito impositiva, até crítica. Então Ken ouve que ele está estragando tudo
— o que fala está errado, sua dança está errada — e faz menos ainda?
KEN: É isso. O que faço é ficar estático. Não faço nada certo. Ela não
gosta até do meu jeito de comer.
SUE: Aha. E quanto mais estático você fica, Ken, acho que tanto mais
Mia tenta te instruir.
MIA: Eu fico tão frustrada. Eu dou um cutucão nele, eu empurro, é isso
o que faço. Eu o cutuco para ver se tenho resposta. Qualquer resposta.
SUE: Certo, então vamos prosseguir. Você cutuca e empurra, Ken fica
estático e responde cada vez menos. Você se fecha, Ken? [Ele concorda
com a cabeça.] E quanto mais você se fecha, mais Mia se sente excluída e
aí mais ela cutuca. É um círculo vicioso que fica girando e girando, e que
assumiu o controle da relação de vocês. E o que está acontecendo com
você, Ken, quando fica “estático”?
KEN: Eu fico meio paralisado, com medo de fazer qualquer coisa.
Qualquer coisa que eu faça vai dar errado. Então faço cada vez menos. Eu
me enfio numa concha.
MIA: E então eu me sinto só. Eu tento, da melhor maneira que posso,
conseguir uma reação dele.
SUE: Certo. Essa espiral realmente assumiu o controle. Um fica estático,
sente-se paralisado, fecha-se numa concha, o outro se sente excluído e
cutuca mais e mais para obter uma resposta.
MIA: É muito triste para nós, para nós dois. Como podemos interromper
isso, essa espiral?
SUE: Bem, já conseguimos ter uma boa ideia. É como se esses passos
estivessem tão automáticos quanto a respiração de vocês agora. Vocês nem
percebem que estão dando os passos. Vocês precisam entender claramente
como esse círculo vicioso está criando um campo minado no meio da
relação de vocês. Ele está tornando impossível se sentirem seguros. Se eu
fosse Ken, iria resmungar caso o que eu dissesse fosse errado. Se eu fosse
Mia, eu empurraria e cutucaria porque por dentro eu estaria implorando:
“Leve-me para dançar. Venha e fique comigo”.
MIA: Eu me sinto desse jeito. É isso o que estou tentando fazer, alcançá-
lo.Mas sei que meu chamado tem uma ponta afiada. Eu fico frustrada.
KEN: Então não há nada errado conosco que nos faça ficar presos? Não
quer dizer que não fomos feitos um para o outro?
SUE: É isso mesmo. Muitos de nós ficamos enredados desse jeito
quando não conseguimos encontrar uma maneira de nos sentirmos seguros
e conectados. Como eu vejo, você é tão importante para Mia, que ela
simplesmente não pode esperar que você se afaste. E você está ficando
estático porque está horrorizado com a possibilidade de fazer a coisa
“errada”, de aborrecê-la e estremecer o relacionamento novamente. A ve-
lha frase “Na dúvida, não diga nada nem faça nada” é um pés-simo
conselho nas relações amorosas. A questão é: vocês podem se ajudar a
interromper essa “espiral”? Vocês podem perceber quando foram
aprisionados, e se moverem juntos para trazer de volta a relação?
KEN: Talvez possamos!
Nas sessões seguintes, Ken e Mia repassam a polca repetidas vezes. Eles
descobrem que a “espiral”, como a chamam, ocorre especificamente quando
surgem sinais de apego. Momentos de protesto ocorrem em todos os casamentos,
mas quando os vínculos básicos são seguros, esses eventos podem ser anulados
ou até usados como um trampolim para reforçar a ligação.
Por exemplo, num casamento feliz, Mia ainda protestaria nos momentos em
que se sentisse emocionalmente separada de Ken, mas num tom controlado.
Estando menos preocupada com a conexão entre eles, ela se expressaria de
maneira mais gentil e clara. E Ken, do seu lado, seria mais tolerante e receptivo
aos seus protestos. Ele não entenderia o sofrimento ou o desapontamento dela
como uma sentença de morte para ele como amado ou para a relação, mas como
um sinal da necessidade dela de mais proximidade.
Numa relação insegura, contudo, a Polca do Protesto se acelera e fica mais
intensa. E eventualmente acaba criando tanto caos, que os parceiros não podem
resolver problemas ou comunicarse com clareza sobre nada. Então a desconexão
e o sofrimento impregnam cada vez mais a relação. É importante notar, contudo,
que nenhuma relação é inteiramente imersa pelo padrão destrutivo sobre o qual
eu falo aqui. Ainda há momentos de proximidade. Mas eles não ocorrem com
tanta frequência, ou com força suficiente para se opor ao mal provocado pela
Polca do Protesto. Ou o tipo de intimidade não é aquele que um parceiro tanto
deseja. Por exemplo, homens com tendência a recuar de confrontações começam
a intimidade sexual no quarto, mas para a maioria das mulheres, as relações
sexuais não são suficientes para satisfazer suas necessidades de relacionamento.
Durante anos terapeutas viram erroneamente esse padrão como disputas e
lutas de poder, e tentaram resolvêlo ensinando aos casais habilidades para
solucionar problemas. É mais ou menos como oferecer um lenço de papel para
curar uma pneumonia viral. Essa abordagem ignora os temas “quentes” ligados
ao apego e que fundamentam o padrão. Mais do que conflito ou o controle, o
tema, de uma perspectiva de apego, é a distância emocional. Não é nenhum
acidente o fato de Ken estar adotando a tática da “esquiva”, como sua maciça
falta de receptividade é chamada na literatura, e que isso deflagre raiva e
agressão por parte da mulher. Uma resposta agressiva parece estar programada
nos primatas quando uma pessoa amada, da qual um indivíduo depende, age
como se o indivíduo não exis-tisse. Um bebê humano ou de macaco atacará a
mãe esquiva, numa tentativa desesperada de obter reconhecimento. Se ne-nhuma
resposta ocorre, seguem-se isolamento “fatal”, sensação de perda e desamparo.
O que vimos acima é apenas uma ocorrência da Polca do Protesto. Nem todo
parceiro defensivo, e que se afasta, fala de “ficar estático” como Ken fala. Mas
descobri que parceiros que buscam apego emocional, ou se distanciam, tendem a
usar expressões características quando descrevem suas experiências. Vamos
ouvir; talvez você reconheça alguns dos seus próprios padrões e movimentos.
Parceiros que seguem as pegadas de Mia muitas vezes usam estas frases:
• “Estou com o coração partido. Posso continuar chorando para sempre. Algumas vezes acho que estou
morrendo nessa relação.”
• “Nesses dias ele está sempre ocupado, em qualquer outro lugar. Mesmo quando está em casa ele fica
no computador ou vendo televisão. Parece que moramos em planetas separados. Eu estou excluída.”
• “Algumas vezes penso que estou mais só nessa relação do que estava quando morava sozinha. Parece
mais fácil morar só do que viver desse jeito; junto, mas separado.”
• “Precisei tanto dele naquele momento, e ele estava tão distante. Era como se ele não se importasse.
Meus sentimentos não tinham importância para ele. Ele simplesmente os descartava.”
• “Éramos companheiros de quarto. Parece que nunca mais seremos íntimos.”
• “Eu enlouqueço, garanto. Ele simplesmente parece não se importar, então eu o ataco, garanto. Só
quero uma resposta dele, qualquer resposta.”
• “Não tenho mais certeza se sou importante para ele. É como se ele não me visse. Não sei como
chegar até ele.”
• “Se eu não forçasse e forçasse, nunca nos aproximaríamos. Nunca aconteceria.”

O exame dessas frases revela rigorosamente um tesouro de temas de apego:


sentirse não importante ou não valorizado por um parceiro; experimentar
separação em termos de vida e morte; sentirse abandonado em momento de
necessidade ou ser incapaz de depender de um parceiro; ansiar por conexão
emocional e sentir raiva com a falta de receptividade de um parceiro; sentir a
pessoa amada como um amigo ou companheiro de quarto.
Quando esses parceiros são encorajados a focar na dança negativa e descrever
apenas os seus movimentos, em vez dos erros ou faltas do parceiro, eles quase
sempre usam os seguintes verbos: forçar, puxar, esbofetear, atacar, criticar,
queixar, pressionar, explodir, gritar, provocar, tentar chegar perto, e conseguir.
Algumas vezes é difícil ver como seu pé se move na dança. Nesses momentos,
quando somos apanhados no padrão da perseguição e do protesto, a maioria de
nós fala simplesmente de ficar frustrado, com raiva, ou angustiado, e isso é o que
nosso par vê. Mas é apenas a primeira camada, a mais superficial, do que está
acontecendo na polca.
Os parceiros que seguem as pegadas de Ken normalmente falam desse jeito:
• “Nunca consigo me acertar com ela, então eu desisto. Tudo parece irremediável.”
• “Eu fico entorpecido. Não sei como me sinto. Então simplesmente fico estático e imponho distância.”
• “Percebo que fui, de alguma forma, reprovado. Sou um fracasso como marido. De alguma forma isso
acaba me paralisando.”
• “Eu me fecho e espero que ela se acalme. Tento manter tudo calmo, e não balançar o barco. Essa é a
minha maneira de cuidar da relação. Não balance o barco.”
• “Eu me enfio em minha concha, onde é seguro.” “Vou para trás da minha parede.” “Tento fechar a
porta a todos os seus comentários raivosos. Eu sou o prisioneiro no banco dos réus e ela é a juíza.”
• “Eu me sinto como um zero nessa relação. Inadequado. Então hobbies. No trabalho eu sou alguém.
De forma alguma acho que seja alguma coisa especial para ela.”
• “Eu não tenho importância para ela. Estou lá embaixo na sua lista. Estou em algum lugar depois dos
filhos, da casa, e da sua família. Caramba, até o cachorro vem antes de mim! Eu simplesmente levo
dinheiro para casa. Então eu acabo me sentindo meio vazio. Você nunca sabe se o amor vai estar lá ou
não.”
• “Não acho que precise de alguém do jeito que ela precisa. Eu não sou tão carente. Sempre me
ensinaram que é sinal de fraqueza precisar de alguém daquele jeito, imaturo. Então tento tocar as
coisas do meu jeito. Simplesmente me afasto.”
• “Eu não sei sobre o que ela está falando. Estamos bem. É isso o que o casamento é. A gente
simplesmente se torna amigos. Não tenho certeza se entendo o que ela quer dizer com ‘intimidade’.”
• “Eu tento resolver o problema de maneiras concretas. Tento consertar. Tento lidar com ele na minha
cabeça. Mas não funciona. Ela não quer isso. Eu não sei o que ela quer.”
Há temas de apego aqui, também: sentir desamparo e falta de confiança para
agir; lidar com sentimentos negativos fechando-se em copas e não respondendo;
considerar-se um fracasso como parceiro, um inadequado; sentirse julgado e não
aceito pelo parceiro; tentar enfrentar negando os problemas na relação e as
necessidades de apego; fazer tudo para evitar a raiva do parceiro e sua
desaprovação; usar a solução racional do problema como uma saída para as
interações emocionais.
Quando parceiros como Ken descrevem seus próprios movimentos, eles usam
os seguintes termos: afastar-se, fechar-se,ficar paralisado, afastar os sentimentos,
esconder-se, distanciar-se,racionalizar, e consertar as coisas. Quando se referem
normalmente a seus sentimentos, usam depressão, entorpecimento, falta de
sentimento, ou sensação de desamparo e fracasso. O que o parceiro deles
geralmente vê é simplesmente uma falta de resposta emocional.
O gênero tem uma parte aqui, embora os papéis variem com a cultura e o
casal. Em nossa sociedade, as mulheres tendem a ser as cuidadoras dos
relacionamentos. Elas normalmente captam o distanciamento mais cedo do que
os parceiros, e muitas vezes estão mais em contato com suas necessidades de
apego. Então o papel delas na dança é, na maioria das vezes, o da esposa que
mais pressiona e se queixa. Os homens, por outro lado, foram ensinados a
suprimir as respostas e as necessidades emocionais, e também a serem
solucionadores de problemas, o que os predispõe mais ao afastamento.
Se apelo a você por conexão emocional, e você responde intelectualmente a
um problema, e não diretamente a mim, no nível da relação, eu vou entender isso
como uma “não respos-ta”. Esta é uma das razões pelas quais a pesquisa sobre
apoio social afirma uniformemente que as pessoas querem apoio “indireto”, isto
é, confirmação e cuidado emocional das pessoas amadas, e não conselho. Muitas
vezes os homens dizem que não sabem como responder num nível emocional.
Mas eles sa-bem! Fazem isso quando se sentem seguros, na maioria das vezes
com seus filhos. A tragédia aqui é que o homem pode estar fazendo o máximo
para responder às preocupações de sua mulher, oferecendo conselho e soluções,
não entendendo que o que ela realmente está querendo dele é engajamento
emocional. O seu engajamento é a solução para ela.
Tanto homens quanto mulheres estão imbuídos de crenças sociais que ajudam
a envolvêlos na polca. Mais destruidor é a cren-ça de que um adulto sadio e
maduro não necessita de conexão emocional, e dessa forma não é merecedor
desse tipo de cuidado. Clientes me dizem: “Não posso falar com ele que estou
me sentindo insignificante e que preciso dos braços dele me envolvendo. Não
sou mais uma criança”. Ou: “Não posso pedir para vir em primeiro lugar, mesmo
de vez em quando. Nunca pedi isso. Não me sinto merecedor. Eu não deveria
precisar disso”. Se não pu-dermos nomear e aceitar nossas necessidades de
apego, é impos-sível enviar mensagens claras aos outros quando essas
necessidades estão “quentes”. Mensagens ambíguas é que fazem a polca conti-
nuar. É muito mais fácil dizer “Por que você não está comunica-tivo? Você não
tem nada a me dizer?” do que se abrir e pedir que a nossa necessidade de
conexão amorosa seja correspondida.
A Polca do Protesto é dançada não apenas pelos que se amam, mas pelos pais
e filhos, e irmãos e irmãs, na verdade por qualquer um com vínculos emocionais
com outro. Algumas vezes é mais fácil para nós nos vermos dançando com
nossos irmãos ou nossos filhos do que com a nossa mulher. Será que a
vulnerabilidade é menos óbvia? Pergunto-me por que meu filho adolescente,
suspirando e desqualificando meus comentários sobre seus atrasos, leva-me à
beira da acusação crítica, mesmo quando temos um vínculo amoroso entre nós?
A resposta é fá-cil. De repente ouço mensagens que vibram de significados de
apego. Ele ergue os olhos para o céu. Seu tom é insolente. Ouço que minhas
preocupações ou comentários não têm importância para ele. Eu sou irrelevante.
Então eu elevo a música e o critico. Ele recua e me desdenha novamente.
Estamos desconectados. A música da polca está a pleno vapor. Mas de repente
eu reconheço a música. Então dou um passo para o lado e o convido a olhar a
dança. “Um momento. O que está acontecen-do aqui? Estamos sendo engolfados
numa briga idiota, e nós dois estamos ficando feridos.” Este é o primeiro passo
para in-terromper a polca: reconheça a música.
O que eu aprendi em 20 anos observando parceiros recuperarem suas relações
a partir dessa dança? Meus casais me ensinaram muitas coisas.
Primeiro, me ensinaram que é preciso saber ver. Todo o conjunto. Você
precisa ver a razão da dança entre você e seu par, e o que ele fala sobre a relação,
não simplesmente o conteúdo da discussão. Você também precisa ver a danãa de
forma completa. Se você focar apenas em passos específicos, principalmente nos
da outra pessoa, como em “Hei, você acabou de me atacar”, você estará perdido.
Você deve se afastar e ver o quadro inteiro.
Em segundo lugar, os dois devem captar como os movimentos de cada
parceiro impulsionam o outro para a dança. Cada pessoa é fisgada pela dança e
involuntariamente ajuda a fisgar a outra. Se eu o ataco, colocoo na defensiva e
forneço justificativa. Inadvertidamente torno difícil para você ser aberto e
receptivo em relação a mim. Se continuo indiferente e à parte, deixo o par
separado e sozinho e empurro-o para a pressão e a busca da conexão.
Em terceiro lugar, a polca diz respeito à ansiedade da separação. Que não
pode ser interrompida com a solução lógica de problemas ou habilidades
técnicas formais de comunicação. Temos que saber a natureza da dança se
queremos modificar o elementochave e retornar à conexão segura. Temos que
aprender a reconhecer chamamentos para a conexão e como o desespero vira
“Eu pressiono, cutuco, faço qualquer coisa para fazêlo responder”, ou “Fico
estático, para parar de ouvir cada vez mais como sou imperfeito e como já a
perdi”. Esses padrões são universais, porque nossas necessidades e temores, e
nossas respostas quando percebemos uma perda e uma separação, são universais.
Em quarto lugar, podemos ver a natureza do amor, ligarnos nesses momentos
de desconexão e no protesto, e no sofrimen-to, que são parteschave da polca.
Podemos então aprender a ver a polca como o inimigo, não o nosso par.
Em quinto lugar, os parceiros podem aprender a ficar juntos e chamar o
inimigo pelo nome, de modo a poderem abaixar a música e aprender a se colocar
de lado e criar segurança suficiente para falar de emoções e necessidades de
apego.
Quando Ken e Mia puderem fazer isso, vão começar a ter esperança em seu
relacionamento. Como Ken diz: “Quando começarmos a entrar naquela coisa,
você sabe, a espiral que comentamos aqui, não ficamos tão sugados por ela. Eu
disse a Mia ontem: “Nós estamos ficando engolfados. Estou ficando cada vez
mais distante e estático, e você está ficando muito angustiada. Nesses momentos
é que você se sente excluída, não é? Não temos que passar por isso mais. Vamos
parar. Venha cá e vamos dar um abraço”. E ela veio. “Eu me senti ótimo”.
Perguntei a Ken o quê o tinha ajudado mais a derrotar essa polca. Ele respondeu
que foi perceber que Mia não era a “inimiga”, e que ela estava “lutando pelo
relacionamento” quando a polca começou, e não tentando “me matar”.
Ser capaz de reconhecer e aceitar a angústia da separação e sair da Polca do
Protesto é crucial para um relacionamento saudável. Se um vínculo amoroso
seguro deve permanecer forte e aumentar, os casais precisam ser capazes de
restaurar os momentos de desconexão, e sair dos becos sem saída comuns no
modo de lidar com eles, maneiras que na verdade exacerbam a desconexão ao
destruir a confiança e a segurança.

JOGUE E PRATIQUE
A história de Ken e Mia lhe parece familiar? Você reconhece partes dessa dança
no seu relacionamento? Você é capaz de lembrar qual foi a última vez que essa
polca assumiu o controle do seu relacionamento? Você pode colocar seus óculos
de apego e ver além das discussões sobre fatos ou problemas, e perceber a luta
pela conexão entre vocês dois? Por exemplo, a discussão era realmente sobre
reconstruir o chalé, aonde um dos parceiros gosta de ir para pintar, ou era sobre
segurança na ligação? Talvez o parceiro que é deixado para trás seja exata-mente
isso — deixado para trás. Talvez um de vocês estivesse realmente falando sobre
a falta de uma ligação segura e intimi-dade entre os dois, ou tentando que o outro
reafirmasse a liga-ção, mas a conversa ficou focada em temas pragmáticos.
No seu atual relacionamento, o que você tende a fazer quando se sente
desconectado ou inseguro? Tente pensar com qual pessoa você se identifica nas
histórias dos casais mostradas neste capítulo. Você também pode se lembrar da
última discussão, ou episódio doloroso, em seu relacionamento. Se você
fingirFly Gazette,2 o que lhe parece a dança e quais seriam seus principais
movimentos nela? Você se queixa ou se retira? Você acha que está ficando
crítico e tentando mudar a pessoa amada? Ou talvez você se feche, e diga a si
mesmo que qualquer anseio de reafirmação é coisa arriscada e não deveria ser
atendido? Todos nós fazemos todas essas coisas de vez em quando.
A flexibilidade e a capacidade de ver seus próprios movimentos e seu impacto
nos outros é a chave nessa hora. Estou encorajando você a ser corajoso ou
corajosa, a olhar com atenção, e identificar a sua resposta habitual. É aquela que
irrompe depois que você dá uma respirada. Essa é a resposta que pode enredar
você num círculo vicioso de desconexão com a pessoa que você mais ama. Essas
respostas podem também ser diferentes em diferentes relacionamentos. Mas por
ora, pense apenas na sua conexão mais significativa, e em como você responde a
essa pessoa nos momentos em que surgem incertezas e problemas no
relacionamento.
A atitude de distanciamento é, algumas vezes, aquela que é mais difícil de
percebermos, se somos a pessoa que se distancia. Talvez o seu estilo seja recuar
para dentro de si mesmo e tentar se acalmar deixando o mundo do lado de fora?
Isso pode ser muito útil. A menos que comece a fazer isso automaticamente, e
ache cada vez mais difícil manter-se aberto e receptivo. Então esse
distanciamento predispõe você a dançar a Polca do Protesto. Não demora, e seu
parceiro vai precisar de você e se sentir ignorado, abandonado e excluído.
Você é capaz de lembrar um incidente específico em que o distanciamento e a
ausência de resposta funcionaram para você num relacionamento? O que
aconteceu depois de seu distanciamento? Na maioria das vezes pensamos nessa
estratégia como sendo capaz de prevenir uma briga que vai se intensificar e
ameaçar o relacionamento. Agora, você pode lembrar momentos em que se
afastar e se fechar parece não funcionar? O que acontece depois desse
distanciamento, para você e na sua dança com o seu par?
Se você se sente confortável, veja se pode partilhar suas respostas a algumas
destas questões com o seu par. Há momentos em que vocês dois ficam enredados
na polca? Veja se consegue determinar os movimentos de cada pessoa. Você
consegue ver toda a espiral de realimentação? Descreva-a com bastante
simplicidade preenchendo o espaço, com uma palavra, na sentença seguinte.
Quanto mais eu ........., tanto mais você ........., e depois mais e assim continuamos girando.

Use o seu próprio nome para essa dança e veja se cada um pode compartilhar
o quanto isso corrói a sensação de conexão segura no seu relacionamento. Como
isso muda a música emocional entre vocês?
Por exemplo, Todd conta que seu modo principal de conectar-se é por meio do
sexo. Ele fica muito mais seguro de si na cama quando está discutindo
sentimentos com a mulher. E identifica seu principal movimento na polca: “Eu te
procuro pelo sexo. Mas não é só pelo orgasmo. É a maneira que eu sei de ser
íntimo. Quando você me rejeita, te procuro mais e te ‘atormento’ por
explicações. E quanto mais faço isso, mais você se afasta e defende o seu
espaço”.
A mulher dele, Bella, retruca: “Sim, e quanto mais criticada e interpelada me
sinto, mais sufocada eu fico. Então eu me afasto de você cada vez mais. E você
fica mais agressivo e desesperado, e a coisa só continua. É isso?”. Todd
concorda que isso é o esboço da polca para eles. Eles decidem chamála de
Vórtex. Para eles, o nome expressa o quão obcecado Todd fica com a
disponibilidade sexual da mulher, e o quão obcecada ela fica com a defesa de seu
espaço. Todd então é capaz de revelar que se sente cada vez mais rejeitado e
nervoso, e Bella declara que se sente “paralisada” e sozinha no casamento. E
como é para você e a pessoa amada falarem sobre seus movimentos na sua Polca
do Protesto?
Mesmo que você fique atolado na Polca do Protesto, há momentos em que
pode abandonála, desligála,e ir para outra maneira de interação? Há momentos
em que você pode arriscar pedir intimidade e consolo abertamente, ou revelar
seus sentimentos e necessidades para seu cônjuge, e não se afastar? O que é que
torna possível estes momentos? O que você faz para manter a polca sob
controle? Veja se vocês podem encontrar uma expli-cação juntos. Há uma
maneira de fazer cada um se sentir seguro de modo que um sentimento de
desconexão não passe imediatamente a conduzir essa dança? Muitas vezes isso
aparece no reconhecimento de sinais de apego escondidos na polca. Por
exemplo, Juan descobriu que apenas falar à sua esposa, Ana, “Vejo que você está
realmente angustiada e precisa de alguma coisa de mim, mas não sei o que
fazer”, foi o suficiente.

DIÁLOGO DO DEMÔNIO 3 — ESTACAR E FUGIR

Algumas vezes, quando um casal me procura, não ouço a hostilidade de De


quem é a Culpa, ou o ritmo nervoso da Polca do Protesto. Ouço um silêncio
mortal. Se pensarmos num relacionamento como uma dança, então aqui ambos
os parceiros não estão participando dela! Dá a impressão de que não há nada em
jogo; ninguém parece envolvido na dança. Exceto que há uma tensão palpável
no ar, e a dor está evidente no rosto do casal. Teóricos da emoção nos falam que
podemos tentar supri-mir nossas emoções, mas isso simplesmente não funciona.
Como Freud observou, elas escoam por todos os poros. O que eu vejo é que
ambos os parceiros estão entrincheirados numa defesa está-tica e de negação.
Cada um está no modo de autoproteção, ten-tando agir como se não sentisse,
nem tivesse necessidade.
Esta é a dança Estacar e Fugir, que frequentemente evolui da Polca do
Protesto. Isso é o que acontece quando o parceiro que pressiona e critica desiste
de tentar chamar a atenção do cônjuge e fica silencioso. Se este ciclo segue o seu
curso, o parceiro agressivo vai lamentar a desconexão e depois se desligar e se
afastar. Nesse ponto, os parceiros normalmente são muito cor-teses um com o
outro, e até colaboram em assuntos pragmáticos, mas a menos que alguma coisa
seja feita, a relação amorosa acabou. Algumas vezes, o parceiro normalmente
fechado, finalmente sintoniza no fato de que embora as coisas pareçam mais
pacíficas, agora não existe nenhuma conexão emocional, positiva ou negativa.
Esse parceiro frequentemente concorda em buscar um terapeuta ou lê livros
como este.
O distanciamento extremo de Estacar e Fugir é uma resposta à perda de
conexão e ao sentimento de impotência para recuperála. Um dos parceiros
normalmente irá contar como pressionou o cônjuge, protestando contra a falta de
conexão, e lamentando sozinho. Esse parceiro se descreve agora como incapaz
de sentir, como se estivesse congelado. O outro parceiro, muitas vezes, fica preso
no distanciamento que se tornou a opção padrão, e tenta negar o desapego que
está surgindo. Ninguém está buscando o outro nessa hora. Ninguém quer assumir
riscos. Então, não há nenhuma dança. Se o casal não consegue ajuda e isso
continua, surge um ponto em que não há mais maneira de renovar a confiança ou
reviver o relacionamento que agoniza. Daí o padrão Estacar e Fugir vai terminar
o relacionamento.
Terry e Carol admitiram que nunca tinham sido o que se chama de “casal
ligado”. Mas Carol, uma mulher reprimida e intelectual, insistia que tinha
tentado inúmeras vezes falar com o marido sobre a “depressão” dele. Era dessa
maneira que ela compreendia a indiferença emocional dos dois. Terry, um
homem calado e formal, observou que sua mulher vinha encontrando defeitos
nele havia anos, principalmente em temas ligados à criação dos filhos. Eles
tinham vindo me ver porque estavam brigando, um acontecimento muito raro
entre eles. Começou quando Carol escolheu um par de sapatos para usar numa
festa, e que Terry não gostava. Terry tinha declarado que se ela usasse aqueles
sapatos, isso significaria que ela não gosta-va dele, e deveriam se divorciar.
Então, no caminho para a festa, Terry contou a ela que estava a ponto de iniciar
um caso com uma colega de trabalho, e que supunha que isso não tinha
importância para Carol, pois eles, de qualquer forma, nunca faziam sexo. Carol,
por sua vez, revelou que estava apaixonada por um velho amigo, e insistiu que
Terry nunca a tocava com afeição ou interessado em sexo.
Na nossa sessão eles falaram de vidas tão inundadas de deveres profissionais e
responsabilidades com os filhos, que achar tempo para intimidade e sexo era
cada vez mais difícil. Carol alegou que uma vez tinha admitido que estavam se
tornando “estranhos”, e tinha tentado “sacudir Terry” para que ele conversasse
mais com ela. Quando isso não funcionou, ela sentiu muita raiva. Terry
comentou que Carol tinha realmente sido muito “crítica” durante alguns anos,
especialmente sobre sua maneira de lidar com os filhos, mas então, havia mais
ou menos um ano, tinha simplesmente ficado distante. Carol explicou que tinha
finalmente decidido “engolir” a raiva e aceitar que era assim que o casamento
era. Ela concluiu que seu mari-do não a achava mais suficientemente atraente ou
interessante para despertar a sua atenção. Em resposta, Terry falou com tristeza
da profunda ligação de Carol com seus dois filhos, e me disse que de alguma
forma parecia que ele tinha perdido a esposa. Ela era mãe, mas não uma esposa.
Ele ficava imaginando se era porque ele era sério demais ou “ensimesmado”
para ficar com uma mulher.
O problema real com o ciclo de Estacar e Fugir é a desesperança que o colore.
Esses dois parceiros tinham decidido que a dificuldade deles residia neles
próprios, nos seus defeitos ina-tos. A resposta natural nesses casos é esconder,
ocultar o lado desagradável. Lembrese de que a partechave da perspectiva de
apego de Bowlby é que usamos os olhos daqueles a quem amamos para
refletirem de volta a imagem que construímos de nós mesmos. Qual outra
informação poderia ser tão relevante para nós em nossa estruturação diária de
quem somos? Aqueles a quem amamos são nosso espelho.
À medida que Carol e Terry se sentiam progressivamente desconectados e
impotentes, eles se escondiam um do outro cada vez mais. Essa disposição
básica de apego que vemos entre crianças e seus pais, e pessoas que se amam, tal
como o fitar prolongado e a carícia física, primeiro ficou contida, e depois,
inexistente. Terry e Carol nunca se olharam durante nossa sessão e revelaram
que o toque espontâneo tinha desaparecido de suas vidas havia muito tempo. O
fato de serem muito intelectu-alizados lhes tinha permitido racionalizar sua falta
de conexão sexual e negar, pelo menos na maior parte do tempo, a dor de não se
sentirem desejados pelo outro. Os dois falaram de sinto-mas de depressão, e na
verdade, a depressão é uma parte natural da perda de conexão com a pessoa
amada. Com o tempo, o hiato entre eles aumentou, e parecia cada vez mais
arriscado tentar se comunicar com o outro. Carol e Terry descreveram os tópicos,
movimentos e sentimentos que os parceiros afastados revelam na Polca do
Protesto, mas eles tinham dúvidas mais profundas a respeito de sua capacidade
de serem amados. Essa dúvida paralisava os dois e “congelava” a queixa que
normalmente chama atenção para esse tipo de distância destrutiva.
Quando começamos a sondar seus passados, os dois falaram sobre terem
crescido em famílias frias, racionais, cuja distância emocional era a norma.
Quando se sentiam desconectados eles automaticamente se afastavam e negavam
suas necessidades de proximidade emocional. Nossa história passada com as
pessoas amadas modela nossos relacionamentos presentes. Em momentos de
desconexão, quando não podemos nos relacionar em segurança com a pessoa
amada, nós naturalmente nos vol-tamos para a maneira que adotamos quando
criança, a manei-ra que nos permitia apegarnos a nossos pais, pelo menos
minimamente. Quando sentimos as emoções “quentes” que nos avisam que
nossa conexão está em dificuldade, automati-camente tentamos abafálas e correr
para o racional, e para atividades que desviem a atenção. Nessa dança de
distâncias, evitar essas emoções se torna um fim em si mesmo. Como Terry
explica: “Se eu fico calmo nós nunca falamos de sentimentos. Eu não quero abrir
aquela caixa de Pandora”.
Essas maneiras de lidar com nossas emoções e necessidades se tornam opções
padrão; elas “acontecem” tão depressa, que não temos nenhuma sensação de as
estarmos escolhendo. Mas quando percebemos como elas nos aprisionam em
danças destrutivas com a pessoa amada, nós podemos mudálas.Elas não são
partes permanentes de nossa personalidade, e não necessi-tamos de anos de
terapia e perspicácia para modificálas.Terry falou de ter tido um pai mais velho e
hostil, e uma mãe que era uma política famosa. Ele ficou lívido quando perguntei
quando ele tinha se sentido próximo da mãe. Disse que tudo o que lembrava era
de vêla numa tela de tevê. Ele não tinha escolha a não ser tolerar a distância e
sufocar suas necessidades de consolo e proximidade. Tinha aprendido a lição
muito bem. Mas sua estratégia de sobrevivência para a infância foi um desastre
para o casamento. Carol, também, viu como tinha começado a “murchar por
dentro” quando “bloqueou” sua necessidade de toque e conexão.
Como no caso das outras danças, uma vez que Terry e Carol entenderam os
passos que estavam tomando, e que os distanciavam um do outro, começaram a
se sentir mais esperançosos e a revelar seus sentimentos um para o outro. Carol
foi capaz de admitir que havia “desistido” e “erigido um muro” entre ela e Terry
para atenuar seu sentimento de rejeição. Ela confessou que tinha se voltado para
os filhos para preencher seu desejo de toques e conexão. Terry revelou o quanto
ficou chocado ao ouvir isso, e o quanto ainda desejava sua mulher. Os dois
começaram a descobrir o impacto que cada um tinha no outro, e perceberam que
ainda eram importantes mutuamente. Depois de novos riscos, e de mais algumas
brigas, Carol foi capaz de me dizer: “Nós dois nos sentimos mais seguros. As
brigas são difíceis, mas são muito melhores do que o vazio gelado, o silên-cio
cuidadoso”. Terry observou: “Acho que podemos derrotar este círculo vicioso
em que estávamos metidos. Nós dois ficamos feridos e temerosos, e fechamos a
porta para o outro. Mas não temos que fazer isso”. Novos começos principiam
quando sabemos como criamos a armadilha em que fomos apanhados, como nos
privamos do amor de que necessitamos. Vínculos fortes florescem com a
resolução de interromper os ciclos de desconexão, as danças da aflição.

JOGUE E PRATIQUE
O padrão Estacar e Fugir lhe parece familiar? Se parece, onde você aprendeu a
ignorar e reduzir suas necessidades de conexão emocional? Quem lhe ensinou a
fazer isso? Quando você se sente mais sozinho ou sozinha? Você ousa partilhar
as respostas a essas perguntas com seu par? Saber como correr riscos e iniciar
esse tipo de compartilhamento é como tomar um antídoto contra o
amortecimento ou a fuga de suas necessidades de apego. Existe alguma maneira
de seu par ajudálo a fazer isso?
Você pode partilhar com ele ou ela uma deixa que ative a dança do
distanciamento? Ela pode ser tão simples quanto um virar de cabeça num dado
momento. Você pode identificar com exatidão quando afasta seu parceiro ou
torna perigoso para ele ou ela chegar mais perto?
O que você diz quando se afastou emocionalmente para justificar a separação,
e para desencorajar uma reaproximação com o par? Algumas vezes são
declarações sobre o que é o amor, e como deveríamos agir nas relações
amorosas, segundo fomos ensinados por nossos pais e até mesmo pela nossa
cultura. Você pode partilhar essas coisas com seu par?
Você pode fazer uma lista de tudo o que essa dança retirou de você?
Normalmente temos vislumbres de proximidade emocional quando nos
apaixonamos pela primeira vez e queremos correr todos os riscos para estar perto
dele ou dela. Vamos nos lembrar desses momentos da mesma forma que nos
lembramos de nossas esperanças e anseios. E até que ponto essa dança negativa
as deteriorou?
Como um exercício final para este capítulo, você pode identificar quais desses
três padrões — De quem é a Culpa, Polca do Protesto, e Estacar e Fugir —
ameaça mais seu atual relacionamento amoroso? Lembrese de que os fatos de
uma briga (quer seja uma briga referente aos horários dos filhos, sua vida sexual,
suas carreiras) não são o problema principal. A preocupação verdadeira sempre é
a força e a segurança do vínculo emocional que você tem com o par. É sobre a
acessibilidade, a receptividade e o engajamento emocional. Veja se pode resumir
o padrão que assume o controle do seu relacionamento, preenchendo os espaços
das afirmações seguintes. Depois, escreva-os num parágrafo que melhor se
encaixe em você e no seu relacionamento. Em seguida, partilhe com o par.
Quando ............, não me sinto conectado seguramente com você. Preencha com a situação que
inicia a música da desconexão, quando você diz que está muito cansado para fazer sexo, e não o
fazemos há semanas, quando brigamos a respeito da minha maneira de lidar com as crianças, quando
Nenhuma declaração grandio-sa, ou abstrata, ou reclamação disfarçada é permitida aqui; então você
não pode dizer coisas como “quando você está simplesmente sendo difícil, como sempre”. Isso é
trapacear. Seja concreto e específico.
Eu tendo a ............... Eu me movimento assim em nossa dança tentando superar os sentimentos
difíceis e encontrar uma maneira de me conectar com você. Escolha uma palavra que queixar,
criticar, marcar território, ignorar, correr, afastar-se.
Faço isso na esperança de ................ Declare a esperança que o impulsiona para a danãa, por
exemplo: nós vamos evitar mais conflitos ou eu vou persuadir você a me responder mais.
À medida que esse padrão continua, eu sinto .............. Identifique um sentimento. Os mais comuns
que as pessoas podem identificar nessa altura sçofrustração, raiva, entorpecimento, sensação de vazio,
ou confusão.
O que então digo a mim sobre a nossa relação é .................. Resuma a conclusão mais catastrófica
que você possa imaginar, por exemplo: “Você não liga para “Não sou importante “Nunca consigo
agradála”.
Meu entendimento da dança circular que torna mais difícil para nós nos conectarmos com
segurança é que, quando me movimento da maneira descrita acima, você parece então .................
Escolha uma palavra de ação, um verbo, por exemplo: fechar-se, pressionar-me a responder.
Quanto mais eu ..............., mais você ................... Somos então apanhados em dor e isolamento.
Insira verbos que descrevam os seus movimentos e os de seu par na dança.
Talvez possamos nos alertar quando essa dança começar. Nós podemos chamála de ..................
Ver a dança é nosso primeiro passo para sair do círculo de desconexão.

* * *
Uma vez que você possa identificar esses ciclos negativos e reconhecer que eles
enredam os dois, você está pronto para aprender como sair deles. A conversa
seguinte explora mais profundamente as emoções fortes, principalmente a
ansiedade da separação, as quais mantêm essa dança negativa em ação.
Conversa 2:
Localizando os pontos frágeis
“Interrupções no apego são perigosas... como uma
córnea descolada, rupturas no relacionamento produzem
sofrimento.”
THOMAS LEWIS, FARI AMINI E RICHARD LANNON,
A GENERAL THEORY OF LOVE

odos nós somos vulneráveis no amor; uma coisa anda junto da outra.

T
Somos emocionalmente mais desarmados com aqueles a quem amamos e
então, inevitavelmente, às vezes ferimos um ao outro com palavras ou
ações descuidadas. Embora essas ocasiões firam, a dor, muitas vezes, é
superficial e passageira. Mas quase todos nós temos uma sensibilidade
delicada — um ponto frágil em nossa pele emocional — que é delicada
ao toque, facilmente arranhada e muito dolorida. Quando esses pontos frágeis
sofrem atrito, podem sangrar por sobre todo o nosso relacionamento, fazendonos
perder o equilíbrio emocional, e lançandonos nos Diálogos do Demônio.
O que exatamente é um ponto frágil? Eu o defino como uma
hipersensibilidade formada por momentos do passado, ou no relacionamento
atual de uma pessoa, quando uma necessidade de apego foi repetidamente
negligenciada, ignorada, ou rejeitada, resultando para a pessoa num sentimento
que eu chamo de “os 2 Ds” — destituído e desamparado no plano emocional. Os
2 Ds são pontos frágeis universalmente potenciais para os apaixonados.
Essas sensibilidades surgem frequentemente de relacionamentos machucados
com pessoas importantes de nosso passado, principalmente os pais, que nos dão
o modelo básico para as relações amorosas; irmãos e irmãs e outros membros de
nossa família; e, naturalmente, pessoas a quem amamos no passado ou no
presente. Por exemplo, recentemente quando as pálpebras dos olhos de meu
marido, John, começaram a cerrar enquanto eu falava com ele, subi às paredes,
furiosa. Ele estava cansado e sonolento, mas aquilo me levou de volta aos dias
quando um exparceiro caía imediatamente no sono toda vez que eu tentava
começar uma conversa séria. Cochilar não era uma maneira sutil de afastar-se,
desconectando-se de um relacionamento. Essa experiência me fez ficar
supercautelosa — um sono inoportuno para mim sinaliza desamparo emocional.
François, um dos meus clientes, é altamente sensível a qualquer insinuação de
que sua mulher, Nicole, talvez não o deseje, ou esteja desenvolvendo interesse
por outro homem. Em seu primeiro e doloroso casamento sua mulher foi
abertamente infiel várias vezes. Agora, ele entra num pânico completamente
cego quando Nicole sorri para um amigo seu numa festa, ou quando ela não está
em casa quando ele espera que ela esteja.
Linda se queixa que fica realmente magoada quando seu marido, Jonathan,
“evita me dizer o quanto eu pareço bonita ou que fiz um bom trabalho. É como
ser instantaneamente inundada de sofrimento, e então eu fico ressentida e crítica
em relação a você”, ela lhe diz. Linda recua sua sensibilidade até a mãe. “Ela se
recusava a me cumprimentar ou elogiar por alguma coisa, e sempre dizia que eu
não tinha atrativos. Uma vez ela me disse que pensava que se você elogiasse as
pessoas, elas deixariam de se esforçar. Eu queria ardentemente o seu
reconhecimento, e me magoava o fato de ela o negar. E hoje, imagino, desejo o
mesmo de você. E então, quando me apronto e pergunto como estou, e você me
ignora, sofro. Você sabe que necessito do seu elogio, mas você o nega. Pelo
menos é assim que sinto. Simplesmente não consigo ver com clareza, me dói
muito.”
As pessoas podem ter diversos pontos frágeis, embora normalmente um seja o
predominante em termos de desencadear num casal o impulso de ciclos
negativos. Steve se sente como um fracassado em dose dupla quando sua mulher,
Mary, diz que gostaria de fazer sexo mais vezes. Um pedido desses poderia ser
interpretado de maneira muito positiva. Mas para Steve, a declaração é como um
míssil teleguiado que destrói sua confiança sexual; sua amígdala grita
“invadindo” e ele mergulha no chão. Steve reage a Mary, fechando-se em copas
e a excluindo. “É como se de repente tivesse voltado ao meu primeiro
casamento, ouvindo que eu era uma completa decepção e ficando ansioso a
respeito de minha performance geral, mas principalmente na cama.” Uma
lembrança de sua infância realça ainda mais seu ponto frágil. Steve era a criança
mais franzina da classe, e seu pai constantemente perguntava a ele, diante dos
colegas: “Estou falando com Steve ou com Stephanie?”. Aquela experiência o
deixou com a sensação de que não era suficientemente macho para nenhuma
mulher.
Mas os pontos frágeis nem sempre são uma lembrança de feridas do passado;
podem surgir numa relação atual, mesmo numa normalmente feliz, se nos
sentimos emocionalmente destituídos e desamparados. Pontos frágeis podem
ocorrer durante grandes transições ou crises — nascimento de um filho, uma
doença ou a perda do emprego — quando a necessidade de apoio do par é
intensa, e ele não acontece. Podem também se desenvolver quando um dos
parceiros é cronicamente indiferente, o que produz um sofrimento opressivo que
depois passa até para aspectos menos importantes. A incapacidade de nosso
amado em responder arranha a nossa pele viva emocional.
Jeff e Milly tinham uma excelente relação até que o melhor amigo de Jeff foi
promovido para o lugar que Jeff tinha trabalhado tanto para conseguir, e isso o
deixou numa depressão profunda. Em vez de oferecer conforto e tranquilizálo,
uma Milly ansiosa o pressionou a “esquecer o assunto”.
Eles conseguiram superar a crise e restabeleceram o relacionamento, mas a
experiência deixou Jeff hipersensível à reação de sua mulher a qualquer
manifestação de angústia da sua parte. Seus ímpetos de raiva repentinos e
aparentemente irracionais, quando sente que Milly não o está apoiando, fazem
com que ela se coloque na defensiva e se sinta fracassada como esposa. Podese
prever o que acontece depois. Eles se enredam nos seus Diálogos do Demônio.
Helen ficou devastada quando foi acusada por um terapeuta de ser a
responsável pelo problema de bebida do filho adolescente. Durante uma sessão
de avaliação, Sam, o marido de Helen, normalmente afetuoso, repetiu o ponto de
vista do terapeuta.
Mais tarde, quando Helen expressou sua mágoa, Sam enredou-se na tentativa
de justificar sua opinião, e seguiu-se uma série de doloridas discussões. Helen
então decidiu colocar de lado aquele sofrimento “insensato” e concentrar-se nas
coisas boas de seu casamento, e acredita que tenha conseguido.
Mas suprimir emoções importantes é difícil fazer, e muitas vezes acaba
envenenando as relações. A mágoa de Helen começa a vazar. Ela azucrina Sam
por suas opiniões a respeito de tudo o que ela faz, e Sam, inseguro sobre o que
dizer, fala cada vez menos. De repente eles estão brigando por qualquer coisa.
Sam acusa Helen de estar ficando cada vez mais parecida com a sua mãe
“paranoica”. Helen se sente cada vez mais perdida e sozinha.
Os pontos frágeis de Jeff e Helen estão sendo arranhados, mas eles não
percebem. Surpreendentemente, muitos de nós também não percebemos. Na
verdade, nem sequer admitimos que tenhamos pontos frágeis. Somos apenas
conscientes de nossa reação secundária à irritação — entorpecimento defensivo e
isolamento, ou reação irada. O distanciamento e a raiva são as marcas dos
Diálogos do Demônio, e mascaram as emoções que são básicas na
vulnerabilidade: tristeza, vergonha, e principalmente, medo.
Se acontece de você ficar continuamente aferrado aos Diálogos do Demônio
com a pessoa amada, pode apostar que isso está sendo ativado por tentativas de
lidar com uma ferida, ou mais provavelmente, feridas nos dois. E, infelizmente,
seus pontos frágeis quase inevitavelmente arranham um ao outro. Arranhe um
ponto frágil na pessoa amada, e a reação dele ou dela, muitas vezes, vai irritar
um ponto frágil seu.
Observemos Jessie e Mike, que não têm feito nada a não ser brigar desde que
a filha de 12 anos de Jessie veio morar com eles. Jessie diz: “De repente, da
noite para o dia, Mike transformou-se de um homem terno e carinhoso neste
tirano. Ele dá ordens, estabelece regras para minha filha. Na maior parte do
tempo que fica em casa ele está gritando. Ele se parece com todos os homens
agressivos da minha família. Simplesmente não posso suportar alguém gritando
e dando ordens. Ninguém me protegeu, mas posso proteger minha filha”.
Mike oscila entre protestos tristes sobre o quanto ama a mulher, mesmo que
ela se recuse a falar com ele por dias a fio, e altos discursos indignados sobre
como nunca quis ser pai da filha dela, impossível e maleducada. Ele fica
transtornado quando fala de quanto mimou Jessie durante anos, e agora
descobriu que “não existe mais quando a filha está por perto”. Mike lembra de
quando contraiu herpes, mas Jessie, ele diz, estava muito preocupada com a filha
para “confortálo”.Arranhar os pontos frágeis de cada um acabou por enredálos
na Polca do Protesto.
Os pontos frágeis de Tom e Brenda os mandaram para um Diálogo do
Demônio diferente, o Estacar e Fugir. Brenda está obcecada com o bebê recém-
nascido. As tentativas de Tom de conseguir alguma atenção para ele irritam
Brenda, e uma noite ela explode. Ela está cansada de suas reclamações, ela diz, e
o chama de “obsessivo sexual” e de “patético”. Tom fica arrasado. Embora seja
um homem muito atraente, ele é bastante tímido e inseguro com as mulheres.
Sempre precisou sentirse desejado por Brenda.
Ele revida: “Tudo bem. Obviamente você não gosta mais de mim, e tudo o que
passamos juntos esses anos foi uma simulação. Não preciso dos seus abraços.
Não preciso estar ao seu lado. Vou sair para dançar, e você pode ficar cuidando
do bebê”. Ele deixa sinais pela casa indicando que está flertando com uma
mulher de seu grupo de dança. Brenda cresceu se sentindo uma garota simples, e
sempre se indagou por que Tom, sendo atraente e bem-sucedido, tinha escolhido
a ela. Aterrorizada, ela se volta mais para o bebê. Tom e Brenda mal se falam.
Ao protegerem constantemente seus pontos frágeis, eles destroem a
receptividade amorosa que os dois tanto desejam.
Interromper estas situações destrutivas depende não apenas de identificar e
refrear os Diálogos do Demônio (Conversa 1), mas também descobrir e acalmar
nossos pontos frágeis, e ajudar a pessoa amada a fazer o mesmo. Aqueles que
cresceram no refúgio de uma relação amorosa segura terão mais facilidade para
curar esses arranhões. Seus pontos frágeis são poucos, e não muito profundos. E
uma vez que compreendam o que está subjacente às suas interações negativas
com a pessoa amada, são mais capazes de livrar-se delas rapidamente e acalmar
as feridas.
Para outros, contudo, que ficaram traumatizados ou foram abandonados por
quem tinham amado ou de quem dependiam, o processo é mais longo e mais
árduo. Seus pontos frágeis são tão grandes e tão doloridos, que avaliar seus
medos e confiar no apoio da pessoa amada é um desafio enorme. Kal, um
sobrevivente de vários insultos e veterano do exército, diz: “Eu sou apenas um
grande ponto frágil. Eu clamo por carícias, mas muitas vezes quando minha
dama me toca não sei dizer se é uma carícia ou outro corte”.
Contudo, não somos prisioneiros do passado. Podemos mudar para melhor.
Recente pesquisa feita pela psicóloga Joanne Davila, da State University of New
York, em Stony Brook, bem como outras, confirmam o que eu vejo em minhas
sessões: que podemos curar até vulnerabilidades profundas com a ajuda de um
cônjuge amoroso. Podemos “ganhar” uma sensação básica de conexão segura
com a ajuda de um parceiro receptivo, que nos ajuda a lidar com sentimentos
dolorosos. O amor realmente nos transforma.

RECONHECENDO QUANDO UM PONTO FRÁGIL É


ARRANHADO

Há dois sinais que indicam quando um ponto frágil seu ou da pessoa amada foi
tocado. Primeiro, há uma mudança radical repentina no tom emocional da
conversa. Há poucos momentos você e a pessoa amada estavam gracejando, mas
agora você está contrariado ou irritado, ou, de modo oposto, indiferente ou
reservado. Você foi tirado do seu equilíbrio. É como se as regras do jogo
tivessem mudado, e ninguém tivesse comunicado a você. O parceiro ferido está
enviando novos sinais, e o outro tenta entender a mudança. Como Ted me diz:
“Estamos num carro conversando calmamente e de repente o gelo invade o
interior do carro. Ela está olhando para fora do carro, com os lábios apertados,
carrancuda, como se desejasse que eu não existisse. E de onde surgiu isso?”.
Em segundo lugar, a reação a uma suposta ofensa muitas vezes parece
desproporcional. Marla diz: “Normalmente fazemos amor nas noites de sexta-
feira. Então eu estava aguardando Pierre, mas fui apanhada num telefonema de
minha irmã, que estava angustiada. A ligação durou uns 15 minutos, acho. Pierre
desceu a escada e ficou furioso. E entramos na briga usual. Ele está
simplesmente não sendo razoável, quando faz isso”. Não, é que Marla ainda não
entende a lógica do amor, e Pierre não consegue explicar sua irritação nem a ele
nem à mulher. Ele fala a ela: “Minha mente diz ‘Por que você está tão chateada?
Relaxe’. Mas já estou subindo pelas paredes”.
Esses sinais mostram as necessidades fundamentais de apego e os medos que
de repente atravessam a linha. São as nossas mais profundas e mais poderosas
emoções repentinamente assumindo o controle. Para realmente entender nossos
pontos frágeis, precisamos olhar mais atentamente as emoções mais profundas e
que são básicas para essa sensibilidade, e desvendálas de uma forma que nos
ajude a lidar com elas. Se não fizermos assim, precipitaremos nossa reação
defensiva, usualmente raiva ou indiferença, o que passa à pessoa amada uma
mensagem completamente equivocada. Em relações inseguras mascaramos as
nossas vulnerabilidades, de modo que nosso parceiro nunca nos vê como somos.
Vejamos por partes o que acontece quando um ponto fraco é arranhado.
1. Um sinal de necessidade de apego prende nossa atenção e aviva nosso sistema emocional, nossos
anseios e medos. Um sinal de necessidade de apego é um estímulo que nos desperta emocionalmente.
Pode ser um olhar, uma frase, uma mudança no tom emocional de uma interação com a pessoa amada.
Esses sinais tanto podem ser positivos quanto negativos, provocando bons ou maus sentimentos. Um
sinal que irrita um ponto frágil dispara um alarme tipo “uh”, “oh”. “Alguma coisa estranha, ruim ou
dolorosa está se aproximando”, diz nosso cérebro. Seu alarme pode disparar quando você perceber um
tom “crítico” na voz da pessoa amada, ou quando seu par se afasta na hora em que você quer
abraçálo.Marie fala a seu marido, Eric: “Sei que você está tentando ser afetuoso. E você está certo.
Você fala comigo sobre meus problemas. E vai tudo bem até que você diz ‘Veja bem’ naquele tom,
como se eu fosse uma garotinha estúpida que não sabe de nada. É como enfiar uma agulha na minha
pele. Percebo que você está exasperado comigo. Você pensa que sou estúpida. E isso magoa”. Isso é
novidade para Eric; ele pensava que estavam discutindo porque ela não gostava de nenhuma de suas
ideias.
2. Nosso corpo responde. As pessoas dizem: “Meu estômago revira e minha voz fica esganiçada”, ou
“Fico frio e paralisado”. Algumas vezes a única maneira de sabermos como nos sentimos é ouvindo
nosso corpo. Emoção forte mobiliza o corpo. Coloca-o no modo de sobrevivência na velocidade de um
raio. Cada emoção tem uma assinatura psicológica específica. Quando estamos com medo o fluxo de
sangue aumenta em direção às pernas; quando estamos com raiva, o fluxo aumenta na direção das
mãos.
3. Nosso intelecto, localizado atrás da fronte, no córtex préfrontal do cérebro, é um pouco lento. Agora
ele emparelha com o nosso cérebro emocional, nossa amígdala, e sai procurando o significado de tudo
isso. Isso acontece quando analisamos nossa percepção inicial e decidimos o que o sinal de
necessidade de apego está nos informando sobre a segurança de nosso vínculo. As catastróficas
conclusões de Carrie se confirmam na hora. Ela diz: “Quando parece que estamos a ponto de fazer
amor e você diz que está cansado, fico muito chateada. É como se você não me desejasse. Como se eu
fosse igual a uma de suas colegas. Simplesmente não sou especial para você”. Seu marido, Derek, fala:
“Será que não posso ficar cansado?”. Carrie responde: “Não quando você passou a noite inteira me
paquerando e provocando todos os tipos de expectativas. Então, se não vão resultar em nada, eu
preciso de um pouco de ajuda para lidar com isso. Não quero só ficar sentindo raiva”.
4. Somos preparados para nos mover de um modo determinado, seja na direção, nos afastando, ou
contra a pessoa amada. Essa presteza de agir está programada em qualquer emoção. A raiva nos manda
aproximar e lutar. A vergonha nos manda afastar e esconder. O medo nos manda fugir ou ficar estático,
ou em extremos reais, virar e contra-atacar. A tristeza nos prepara para lamentar e deixar para lá.
Hannah fala de suas brigas com o marido: “Só quero sair correndo. Preciso ir embora. Vejo seu rosto
enfurecido e dou o fora. Ele diz que o repudio, mas vejo a sua raiva e meus pés já estão se movendo.
simplesmente não dá para ficar e ouvir”.

Tudo isso acontece num nanossegundo. Charles Darwin, que era fascinado
pelo poder da emoção e seu papel na luta pela sobrevivência, queria saber quanto
de controle ele tinha sobre suas emoções. Costumava ficar na frente de uma
parede de vidro no zoológico de Londres, onde uma gigantesca víbora estava
aloja-da, e tentava várias vezes não recuar quando a víbora dava um bote. Nunca
conseguiu. Seu corpo sempre regia de medo, mesmo que a mente consciente lhe
dissesse que estava seguro.
Nas relações, uma versão dessa história pode ser que, em meio a um momento
de intensa ternura, repentinamente eu ouça meu par fazer um comentário crítico.
Sinto meu corpo congelar. O registro da mágoa e do recuo instantâneo
provavelmente levou menos do que dois centésimos de segundo (esse é mais ou
menos o tempo que os cientistas estimam que o rosto leva para registrar uma
emoção). O momento de ternura foi perdido. As emoções nos dizem o que
importa. Elas nos orientam e dirigem, como uma bússola interna.

JOGUE E PRATIQUE
IDENTIFICANDO SEUS PONTOS FRÁGEIS

Você é capaz de localizar com precisão o momento, em sua relação atual, em que
repentinamente perdeu o equilíbrio, quando uma resposta rápida ou falta de uma
resposta pareceu alterar sua sensação de segurança em relação à pessoa amada,
ou quando se viu totalmente compelido a reagir de uma maneira que sabia que
iria enfiálo nos Diálogos do Demônio? Talvez você tenha consciência de um
momento em que se viu reagindo com muita raiva ou indiferença. Busquemos
abaixo da superfície dessa reação as emoções mais profundas, e desvendemos
esse incidente.
• O que estava acontecendo na relação? Qual foi o sinal negativo, o gatilho que deflagrou em você um
sentimento de desconexão emocional? Como estava se sentindo na fração de segundo antes de reagir e
ficar nervoso ou tolhido? O que o seu parceiro disse ou fez especificamente para ativar essa resposta?

Por exemplo, Anne uma jovem estudante de medicina que só namorou


Patrick, um advogado, por uns poucos meses, diz: “Aconteceu quinta-feira à
noite. Ficamos completamente perturbados. Os sentimentos ruins se estenderam
por dias. Começou quando estava falando a Patrick sobre minhas atribuições
escolares. O quanto eu estava me esforçando. E acabei ficando totalmente fora
de mim. Entrei naquela raiva reativa que é a minha parte do nosso ciclo.
Vejamos. Lembro-me de sua voz começar a se elevar, naquele tom distante de
preleção, habitual nele. E então ele disse que não poderia me ajudar se eu fosse
ficar obcecada e aparvalhada. Aquela voz significa perigo para mim. Transforma
um desentendimento numa espécie de crise”.
• Quando você pensa num momento em que seu ponto frágil foi arranhado, o que acontece ao seu
corpo? Talvez pudesse se sentir desnorteado/desnorteada, desinteressado/desinteressada,
acalorado/acalorada, ofegante, com um aperto no peito, minúsculo/minúscula, vazio, instável,
choroso/chorosa, gelado/gelada, em chamas. Esse alerta do corpo ajuda a dar um nome à experiência?

Anne diz: “Fico muito agitada. Reajo como uma gata tendo um ataque de
histeria. Patrick diria que eu fiquei louca. É isso o que ele vê. Mas lá no fundo,
aquele sentimento agitado me torna mais abalada, mais assustada”.
• O que seu cérebro decide a respeito do significado de tudo isso? O que você se diz quando isso
acontece?

Anne diz: “Na minha cabeça, digo a mim mesma, ‘Ele está me julgando’.
Então fico furiosa com ele. Mas não é bem assim. É mais do tipo ‘Ele não está
comigo agora. Tenho que fazer tudo sozinha’. Minha necessidade de apoio não
tem importância para ele. Isso é assustador”.
• O que você fez, então? Como se coloca em ação?

Anne diz: “Oh, eu berrei e gritei e disse a ele que era um canalha por não me
ajudar, e que podia ir para o inferno. Não precisava dele, de qualquer forma.
Então fiquei silenciosamente aborrecida alguns dias. É como se estivesse
bebendo veneno quando faço isso. É como tentar contornar meus sentimentos
mais profundos. E decidi que não se pode confiar em ninguém, seja lá como for.
As pessoas não estarão disponíveis, se você precisar”.
• Veja se você pode juntar todos esses elementos, preenchendo os espaços abaixo:
Neste incidente o deflagrador de meu sentimento foi ............................. . Na superfície,
provavelmente demonstrei ....................... Mas no fundo, senti (escolha uma das emoções negativas
básicas, como tristeza, raiva, vergonha, medo). O que eu mais queria era.................... . A principal
mensagem que senti sobre nosso vínculo, sobre mim ou nosso amor foi ....................

“O deflagrador é o tom de Patrick”, Anne diz. “O que eu ouço é um


julgamento. Rejeição. Provavelmente mostrei que estava com raiva, mas no
fundo me senti assustada e sozinha. Queria muito que me tranquilizasse, que
achasse que era certo eu estar preocupada com o curso, estar insegura e pedir seu
apoio. A mensagem que recebi sobre nossa relação foi que não poderia procurálo
e esperar sua atenção.”
• Nessa situação, qual é o seu entendimento sobre seu ponto frágil?

Anne diz: “Não posso lidar com meu ponto frágil quando preciso dele e digo
que preciso de ajuda e ele parece me rejeitar. Ele até me diz que eu não deveria
querer ou precisar de ajuda. Por dentro me sinto muito assustada”.
Veja se você pode identificar outros momentos em que esse ponto frágil foi
arranhado.
• O ponto frágil que você descreveu é o único nessa relação ou há outros? As pessoas podem ter mais
de um ponto frágil, mas normalmente há um sinal de necessidade de apego principal que ocorre em
situações diferentes.

DESCOBRINDO A ORIGEM DE SEUS PONTOS


FRÁGEIS

• Pense na sua história. O seu ponto fraco emergiu na sua relação com os pais,
seus irmãos e irmãs, em outra relação romântica, mesmo na sua relação com
colegas e amigos? Ou é uma sensibilização que nasceu na sua atual relação?
Outra maneira de pensar nisso é se perguntar, quando sentir dor provocada por
um ponto frágil, se existem fantasmas por trás da pessoa amada. De uma ou
outra maneira, você pode localizar uma resposta danosa no seu passado e
entender isso como o início da vulnerabilidade?
Anne diz: “Minha mãe sempre me disse que eu não valia muita coisa, e que
minha irmã era a única que chegaria a algum lugar. Eu estava sozinha naquela
casa. Meus sonhos eram irrelevantes. Quando conheci Patrick ele parecia
acreditar em mim. Pela primeira vez me senti segura. Mas agora, quando
percebo que ele fica crítico e indiferente quando preciso de apoio, volto a ter
aquela sensação de que ninguém me dá importância. Toda aquela mágoa retorna.
• Você acha que seu parceiro percebe essa vulnerabilidade? Ou ele só vê o sentimento superficial ou a
reação?

Anne diz: “Oh, não. Não deixo que ele veja meu ponto frágil. Isso nunca me
ocorre. Ele apenas me vê ficar furiosa e aí começa a me repreender”.
• Você pode imaginar um ponto frágil em seu par? Você sabe exatamente o que faz para irritálo?

PARTILHANDO COM O PARCEIRO

Nós somos naturalmente relutantes em enfrentar nossas vulnerabilidades.


Vivemos numa sociedade que diz que devemos ser fortes, ser invulneráveis.
Nossa tendência é ignorar ou negar nossa fragilidade. Em vez de encarar sua
tristeza e seus anseios, Carey se apega à sua raiva. “De outra forma, acho que me
tornaria uma pessoa fraca, dependente e chorona”, ela observa. Temos medo,
também, de ficarmos aferrados à nossa dor. Parceiros me dizem: “Se eu começar
a chorar, talvez não consiga parar. Suponha que eu perca o controle e chore o
resto da vida”. Ou: “Se me permito sentir essas coisas, só vou sofrer mais. O
sofrimento vai tomar conta de mim e ficar insuportável”.
Talvez sejamos ainda mais relutantes a confessar uma fragilidade à pessoa
amada. Vai nos tornar menos atraentes, pensamos. Reconhecemos, também, que
admitir a vulnerabilidade parece colocar uma arma nas mãos da pessoa que mais
pode nos ferir. Talvez nosso parceiro se aproveitará da situação. Nosso instinto é
nos proteger.
Quando nós é que somos a pessoa amada algumas vezes detestamos
reconhecer sinais de aflição no nosso par, mesmo quando os sinais são óbvios.
Ficamos inseguros sobre o que fazer ou sentir, especialmente se não temos um
modelo para agir efetivamente. Alguns de nós jamais vimos um vínculo seguro
em ação. Ou não queremos reconhecer, ou nos equiparar à insegurança da pessoa
amada, ou, por consequência, à nossa vulnerabilidade. Sempre me fascinou o
fato de que, quando uma criança chora, damos prioridade a esse sinal. Nós
respondemos. Nossas crianças não nos ameaçam, e aceitamos que são
vulneráveis e precisam de nós. Nós as vemos numa conjuntura de apego. Mas
fomos ensinados a não ver os adultos dessa forma.
A verdade é que nunca criaremos uma conexão realmente forte e segura se
não permitimos à pessoa amada nos conhecer completamente, ou se ela não está
desejosa de nos conhecer. Meu cliente David, um alto executivo, entende. Ele
diz: “Bem, na minha mente, suponho que posso ver que ficar sempre de fora
dessas grandes emoções, de minha tristeza e de meus medos, de um modo ou de
outro acaba torcendo as coisas. Se fico preparado, evitando todo sinal de
angústia de alguém e ouvindo só coisas negativas para que possa correr, isso
acaba limitando como nos conectamos”.
Queremos e desejamos que a pessoa amada responda à nossa mágoa. Mas ela
não pode responder se não demonstramos a mágoa. Amar bem requer coragem
— e confiança. Se você abriga dúvidas reais e substanciais sobre as boas
intenções da pessoa amada, por exemplo, se você teme fisicamente o seu par,
então é claro que é melhor não confiar. (E francamente, você provavelmente
deveria reconsiderar a relação.)
Quando você estiver pronto a compartilhar sua vulnerabilidade, comece
devagar. Não há nenhuma necessidade de desnu-dar sua alma. Muitas vezes a
maneira de começar é falar sobre o ato do compartilhamento. “Para mim é difícil
compartilhar isso...” é um ótimo início. Fica mais fácil então continuar e revelar
um pouco daquilo sobre o que você é sensível. Uma vez que se sinta confortável
você poderá falar mais abertamente sobre a origem da mágoa.
Isso deve abrir a porta para o seu amado retribuir e relevar os seus pontos
frágeis e suas origens. Essas revelações, muitas vezes, são recebidas com
espanto. Em minhas sessões com casais angustiados, a primeira vez que um
parceiro realmente admite e verbaliza suas vulnerabilidades, o outro
normalmente responde com descrença e espanto. O cônjuge apenas tinha visto as
respostas emocionais superficiais dele ou dela, aquelas que encobrem e
escondem as vulnerabilidades mais profundas.
Naturalmente que o simples fato de reconhecer e revelar nossas
vulnerabilidades não vai fazer com que desapareceçam. Elas se tornaram
alarmes incorporados, sinalizando que nossa conexão emocional com a pessoa
amada está em perigo, e não podem facilmente ser desligados. Isso
provavelmente reflete o quão importante o apego é para nós; as informações
incorporadas num código primário não são removidas sem dificuldade.
A emoção básica nessa hora é o medo, medo de perder a conexão. E nosso
sistema nervoso, como assinala Joseph LeDoux, do Center for Neural Science,
da Universidade de Nova York, favorece a manutenção de links entre os alarmes
do medo e a amígdala, a parte do cérebro que registra os eventos emocionais.
Todo o sistema está programado para adicionar informação, e não para facilitar
sua remoção. Se é para evitarmos o perigo, é melhor errar do lado dos falsos
positivos do que dos falsos negativos. Contudo, esses links podem ser
enfraquecidos, como se verá no próximo capítulo.
Mas apenas falar dos medos e anseios mais profundos com o par já afasta um
peso enorme. Pergunto a David: “Você se sente mais magoado ou assustado
quando se deixa conectar com esses sentimentos difíceis e fala deles?”. Ele ri. E
parece surpreso. “Não”, ele responde, “é esquisito. Uma vez que achava que não
havia nada de errado comigo, que esses sentimentos eram programados, não era
tão difícil. Na verdade, até me ajuda a entrar nesse lugar assustador e controlar
esses sentimentos. Uma vez que sejam entendidos parecem perder parte do
perigo”. Olho-o e ele parece mais equilibrado, mais dono de si do que quando
estava ocupado desviando de seus medos e das mensagens “aterrorizantes” da
mulher. Isso me faz lembrar o que meu professor de tango Francis, me diz:
“Quando está equilibrada nos pés, sintonizada em si mesma, você pode me
perceber e mover-se comigo. Então podemos dançar juntos”.
Vincent e James, um casal gay, também descobriu isso. Vincent se afasta e
fica em silêncio quando as coisas não vão bem com James. “O que posso falar?”,
Vincent me diz. “Não sei como me sinto. Não sei o que acontece quando ele
começa a comentar que a nossa relação não é tão boa. James quer ‘conversar’.
Mas como vou conversar sobre alguma coisa que desconheço? Então me dá um
branco, fico quieto e deixo que ele fale. Mas aí ele fica cada vez mais irritado.”
Sabemos que quando nosso refúgio seguro com a pessoa amada está ameaçado,
ficamos sufocados por uma tristeza vulnerável, uma vergonha diante dos
sentimentos de incapacidade e fracasso, e medos desesperados de rejeição,
perda, e abandono. Nessa hora a música básica é o pânico.
Como discutimos anteriormente, nosso sistema de alarme de apego é
disparado por um sentimento de privação: não podemos ter acesso emocional à
pessoa amada e então ficamos privados de atenção, cuidado e consolo — o
consolo que Harry Harlow chama de “conforto do contato”. O segundo disparo é
pelo sentimento de abandono. Esse sentimento pode surgir pelo fato de nos
sentirmos emocionalmente abandonados (“Não há resposta quando chamo,
nenhuma reação. Estou necessitado e estou sozinho”) ou rejeitado (“Sintome não
desejado e criticado. Não sou valorizado. Nunca sou colocado em primeiro
lugar”). Nosso cérebro responde à privação e à rejeição com notificações de
desamparo.
Vincent não foi capaz de entender e verbalizar essas emoções e pedir a ajuda
de James para acalmálas,então elas se tornaram pontos frágeis reativos “quentes”
que sinalizam perigo imediato e provocam seu distanciamento protetor.
Se Vincent vasculha e revela os elementos de seus pontos frágeis, o que
acontece? Ele começa por focar no que acontece a ele antes do habitual “branco”
como resposta, o que James tanto teme. Qual é a deixa específica para esse
“branco”? Depois que se acalma, e pensa um pouco, Vincent é capaz de me
falar: “É o rosto dele, eu acho. É quando ele franze a testa. Vejo frustração, e fico
gelado. E se me concentro em como sinto meu corpo ao falar disso, sinto-me
nervoso, como se houvesse borboletas em meu estômago, como se estivesse
sendo reprovado na escola. Quando penso no significado que isso pode ter, o que
ocorre é que estamos condenados. Não tem remédio. O que quer que seja que ele
queira, obviamente eu não tenho”.
James diz: “E tudo isso somado leva a que sentimento?”. Vincent responde
calmamente: “Bem, ansiedade é uma boa palavra”. E então percebo que seu
rosto relaxa. Mesmo quando a notícia não é boa, poder ordenar seu mundo
interior é uma boa sensação. Então ele continua: “Se a pergunta seguinte é sobre
como esse sentimento me move, me faz agir, a resposta é fácil. Não faço nada.
Não há nada que possa fazer e que não vá piorar as coisas. Fico completamente
imóvel e aguardo que a frustração de James desapareça”.
Então agora Vincent pode descrever o ponto frágil dele que é arranhado e
como ele deflagra sua inabilidade de responder ao parceiro. Ele se sente triste,
ansioso e desanimado, e tenta ficar imóvel com a tênue esperança de que o
problema desaparecerá. Ele me diz que suas emoções são “um território
desconhecido” para ele, então é uma novidade sintonizar nelas. Cumprimento-o
pela coragem e franqueza, e converso com ele sobre o fato de que sua estratégia
de fechar-se funciona muito bem em muitas situações. Mas nas relações
amorosas ela simplesmente alarma seu parceiro, e dá ao resto da história um
desvio negativo. Falamos sobre a origem de seu ponto frágil. Ele lembra que era
muito confiante em James no início de sua ligação, e que às vezes era capaz de
expressar seus sentimentos. Mas com o passar dos anos foram se distanciando. O
distanciamento foi exacerbado quando James sofreu um ferimento nas costas e
que provocava tanta dor, que não suportava ser tocado. Vincent então passou a se
sentir menos confiante e cada vez mais desconfiado das deixas negativas de
James.
James responde a Vincent: “Bem, até agora nunca vi a sua ansiedade. Nem
por um minuto. Vejo apenas alguém que some de mim, e então começamos
aquele maldito diálogo. É frustrante falar com uma estátua, você sabe”. Mas ele
também é capaz de dizer a Vincent que está começando a compreender por que é
tão difícil para ele juntar seu mundo emocional quando James fica furioso tão
depressa. James então consegue falar do seu ponto frágil e como ele sente o fato
de Vincent têlo abandonado em favor da excitação da sua carreira de ator.
Quando Vincent diz ao parceiro “Posso ser o mandachuva no palco, mas ainda
fico completamente baratinado com suas mensagens raivosas”, ele está lidando
com sua vulnerabilidade de uma forma totalmente nova. Está mais presente,
mais acessível.
No amor, geralmente, mesmo quando se compartilham emoções negativas,
desde que não fujam ao controle, o resultado é melhor do que a ausência
emocional. A falta de resposta simplesmente deflagra o pânico primal do outro
parceiro. Como James diz a Vincent: “Quando fico assim só quero atacálo para
provar que você não pode simplesmente me ignorar”. Vincent e James agora
estão no elevador descendo, cada um para o mundo emocional do outro. Mudar
o nível da conversa esclarece as nossas respostas emocionais, e envia ao nosso
parceiro mensagens mais claras sobre nossas necessidades de apego. Nesse
momento oferecemos à pessoa amada a melhor oportunidade de nos responder
com amor.
Vamos ver alguns instantâneos de como James reconhece seus pontos frágeis
e como Vincent o ajuda. Vincent indaga a James qual a deixa que dispara a sua
frustração. James pensa, e então diz: “Estou esperando que aconteça agora.
Aguardando você ‘esquecer’ nossos planos de passar tempo juntos”. Mas então
James desvia do assunto e passa a detalhar profusamente como esse “hábito” de
Vincent começou. Daí Vincent sugere que James tente focar mais em como ele
sabe que isso vai acontecer Qual é a deixa e a primeira percepção de James de
que alguma coisa está errada?
Quando os olhos de James se fecham por um momento, ouço o elevador
emocional que desce soar o sinal de que chegou a um andar. “É que Vincent
parece aturdido. Ele não presta atenção em mim de jeito nenhum”, James diz,
com ímpeto. Se ficamos quietos com nossas emoções, elas, muitas vezes, se
desenvolvem como uma imagem imprecisa que gradualmente vai ficando nítida.
James continua: “Então fico com um caroço na garganta. Sintome triste, acho.
Meu cérebro diz ‘Lá vai ele de novo, pronto para ficar só com seu livro. E eu
estou aqui, sozinho’. Temos essa vida maravilhosa, um monte de coisas. Mas
nela eu continuo sozinho”.
Vincent, que em sessões anteriores reagiu falando do quanto ele tinha dado a
James, e o quanto James deveria, de qualquer modo, ser mais independente, está
agora ouvindo atentamente. Eu dou crédito à solidão de James e seu anseio de
contato amoro-so com Vincent. James continua ouvindo seus sentimentos, pro-
curando a mensagem em suas emoções. Sua voz fica baixa nesse momento, e ele
murmura: “Suponho então que Vincent não precisa de mim. Ele está sempre aí,
mas fora do meu alcance”.
Agora a voz de James é ainda mais fraca, e ele se vira na Direção de Vincent.
“Se não enlouqueço, fico meio inseguro. Agora mesmo estou inseguro e triste. E
não quero olhar para você. Acho que tudo isso vai desalentálo. Seu verdadeiro
amor é o seu trabalho. Tento aceitar isso, mas todo esse medo e tris-teza acabam
virando amargura.” Ele passa a mão pelo rosto, e de repente há uma raiva
desafiadora onde um momento antes eu vi tristeza e vulnerabilidade. “Não quero
estar aqui. Talvez sejamos mais felizes separados.”
Oops! A raiva extravasou. É difícil ficarmos com nossos sentimentos mais
profundos. Mas Vincent é brilhante. Ele vê que James está lutando e vai em seu
auxílio. “Então, debaixo da frustração, você está dizendo que está inseguro e
triste. E você quer saber se meu trabalho não é tudo para mim. Tudo bem. Não
sou bom para falar de necessidades. Mas estou aprenden-do. E peço, pelo amor
de Deus, que pare de falar nessa coisa de ‘mais felizes separados’. Prefiro mil
vezes ser completamente infeliz com você, se está bem?” James dá uma
gargalhada.
Eles estão no caminho. Estão aprendendo a lidar com os pontos frágeis de um
modo que os coloca mais próximos.

JOGUE E PRATIQUE
Pense se cada um pode lembrar um momento em que com-partilharam uma
percepção de vulnerabilidade, ou um sentimento de mágoa, e a pessoa amada
respondeu de um jeito que os ajudou a se aproximarem. O que ela fez que
realmente foi a diferença?
Agora vejam se podem concordar a respeito de um recente e típico incidente
em que os dois se sentiram desconectados e acabaram envolvidos por um tempo
num Diálogo do Demônio. Nessa situação, quem aumentou a temperatura
emocional, e quem a reduziu para evitar fortes emoções? Diga uma frase que
descreva como, normalmente, você lida com os sentimentos mais vulneráveis
nas interações difíceis e a partilhe com o parceiro. Viro uma pedra, fico gelado,
preparo um ataque, corro e me escondo.
Se você lida habitualmente com o parceiro dessa forma, pro-vavelmente é
porque lhe pareceu a única opção viável nos últimos relacionamentos amorosos.
Como essa forma de lidar com a emoção funcionou para manter intacto o
relacionamento mais importante de sua vida? Por exemplo, essa atitude ajudou a
chamar a atenção da pessoa amada ou fazer com que ela demonstrasse menos
obviamente rejeição ou indiferença?
Em suas interações recentes com um parceiro você ficou nos sentimentos
reativos superficiais, ou no final foi capaz de explorar e compartilhar
sentimentos mais profundos? Avalie com seu parceiro, numa escala de um a dez,
o quanto foi difícil para você falar de suas emoções mais vulneráveis. E como é
falar delas nesse momento? Existe alguma forma de seu par ajudálo a
compartilhar mais esses sentimentos? Não se esqueça: estamos todos no mesmo
saco de incompetentes, tentando entender nossas vidas emocionais à medida que
ela transcorre, fazendo o melhor possível, e errando.
Quando você pensa nessa interação em que os dois ficaram presos, vocês
podem identificar a deixa que os fez perder o equilíbrio emocional e precipitálos
numa espiral de insegurança? Tente comentar isso com o seu par como um
simples fato. Sem nenhuma acusação. Anne diz: “É que enquanto eu chorava
você ficou mudo”. Patrick responde: “Vi seu rosto. A mágoa em seu rosto. Por
dentro me senti muito mal. Não sei o que fazer nessas horas”.
Há muitas variações na ferida que se manifesta nos pontos frágeis. Veja se
pode usar as palavras e frases abaixo para descrever à pessoa amada os
sentimentos mais frágeis que surgiram em sua interação recente. Se é difícil
falar, você pode fazer um círculo e mostrar a seu parceiro.
Nesse episódio, se ouço meus sentimentos mais vulneráveis, me senti: sozinho/sozinha,
rejeitado/rejeitada e sem importância, frustrado/ frustrada e desamparado/desamparada, na defensiva
e desconfortável, assustado/assustada, magoado/magoada, desesperançado/desesperançada,
desamparado/desamparada, intimidado/intimidada, ameaçado/ameaçada, em pânico,
repudiado/repudiada, como se não fosse importante, ignorado/ignorada, inadequado/inadequada,
excluído/excluída e isolado/isolada, confuso/confusa e perdido/perdida, constrangido/constrangida,
envergonhado/envergonhada, vazio/ vazia, temeroso/temerosa, chocado/chocada, triste,
abandonado/abandonada, desapontado/desapontada, isolado/isolada, desiludido/desiludida,
tolhido/tolhida, humilhado/humilhada, oprimido/oprimida, pequeno/pequena ou insignificante, não
desejado/desejada, vulnerável, preocupado/preocupada.

Você consegue partilhar esse sentimento com seu par? Se é muito difícil falar
disso agora, é possível então compartilhar a imagem mais catastrófica
imaginável caso você falasse? Você pode falar a seu parceiro:
Quando penso em falar com você dos meus sentimentos mais frágeis, não consigo. Minha pior
fantasia é que o que vai acontecer é ...........................

Você pode perguntar a seu parceiro como ele ou ela se sente quando você fala?
Como ele ou ela o ajuda a se sentir suficientemente seguro para falar? Que
impacto vocês dois acham que esse tipo de revelação tem na relação?
Juntos, podem criar uma nova versão daquela interação Difícil com que você
começou este exercício? Cada um, do seu lado, pode descrever a maneira básica
com que se moveu naquela dança (por exemplo, fecho-me e evito) e nomear os
sentimentos superficiais que eram óbvios para os dois (por exemplo, sentime
desconfortável e nervoso/nervosa, como se quisesse escapar. Apenas
incomodado/incomodada)?
Meu movimento na dança foi ….................... e me senti .....................

Agora podemos nos aprofundar um pouco. Tente acrescentar o sinal específico


que deflagrou as poderosas emoções que você circulou na lista acima. Talvez
tenha sido alguma coisa que pensou ter percebido na voz do seu par. Então
acrescente a essa descrição os sentimentos que você elegeu na lista acima.
Quando ouvi/vi.................................. mesenti.............................

Tente manter uma linguagem simples e concreta. Palavras grandiloquentes, ou


ambíguas, ou rótulos, podem embaralhar a conversa. Se você se sentir
tolhido/tolhida, diga isso ao outro e tente voltar ao último ponto que estava claro
e comece de novo.
Agora podemos juntar todos esses elementos.
Quando ficamos enredados em nosso ciclo e eu ...................... (use um verbo que exprima ação, por
exemplo, pressionar) sinto-me ................. (emoção superficial). O gatilho emocional para a minha
percepção de desconexão é quando eu vejo/ouço ................... (o sinal que deflagra a ansiedade de
separação). Num nível mais profundo, sinto.............
O que cada um de vocês aprendeu sobre o ponto frágil do outro? Você arranha
esses pontos frágeis simplesmente porque vocês se amam. Em toda interação,
mesmo que os dois estejam prestando atenção, não se pode ficar sintonizado
todo o tempo. Sinais não são percebidos, e haverá momentos em que a
vulnerabilidade de apego será o centro do palco. O segredo é reconhecer e lidar
com os pontos frágeis de modo que isso não os coloque em padrões negativos.
No capítulo seguinte você aprenderá mais sobre como trabalhar com esses
sentimentos de apego a fim de acalmar os padrões destrutivos em que caímos.
Conversa 3: Revisitando
um momento instável
“O que importa é corrigir os erros — mesmo que seja
para tentar outra vez.”
DEBORAH BLUM, LOVE AT GOON PARK

ia Doris, uma mulher bem gorda com cabelo oxigenado e pelos no

T queixo, estava despejando rum sobre um enorme Christmas pudding.3


Ela também discutia com meu tio Sid, já quase embriagado. Ela se virou
para ele e disse: “Estamos nos metendo numa daquelas brigas homéricas.
Daquelas que acabam mal. Você está mais pra lá do que pra cá, e juro
que não vou ficar sem meu reluzente Natal. Vamos continuar a briga? Eu vou
atacar, como sempre, e você se esquive, se puder. Vamos nos sentir mal, então.
Precisamos brigar? Ou podemos começar de novo?”. Tio Sid fez solenemente
com a cabeça que sim, e murmurou baixinho “Sem briga, sem esquiva”. E
depois “Excelente sobremesa, Doris”. E deu um tapinha nas costas de Tia Doris
enquanto cambaleava para a outra sala.
Lembro-me de modo vívido desse pequeno drama, pois Tio Sid ia se fantasiar
de Papai Noel naquela noite, e qualquer “briga” provavelmente significaria que
eu não ia ter muita sorte com os presentes. Meu Natal foi salvo por um
cumprimento e um afago. Mas agora, depois de tantos anos, vejo a interação
deles de uma maneira menos egoísta. Num momento de conflito e separação, Tio
Sid e Tia Doris foram capazes de reconhecer um padrão negativo, declarar um
cessar-fogo, e restabelecer uma conexão afetuosa.
Provavelmente foi muito fácil para Doris e Sid interromper a briga e mudar de
curso porque, na maioria dos dias, a relação deles era um lugar seguro de
receptividade amorosa. Sabemos que pessoas que se sentem seguras com o
parceiro têm mais facilidade de fazer isso. Podem recuar e refletir em meio ao
conflito, e podem também assumir sua parte no processo. Para os parceiros
angustiados isso é mais difícil. Eles ficam presos no caos emocional, na
superfície da relação, vendo cada um como ameaça, como o inimigo.
Para reconectar, as pessoas que se amam precisam ser capazes de acalmar o
conflito e criar ativamente uma segurança emocional básica. Elas precisam ser
capazes de trabalhar de comum acordo para reduzir seus diálogos negativos, e
neutralizar suas inseguranças fundamentais. Podem não estar tão ligadas quanto
desejariam, mas podem agora pisar no pé do outro e depois virarse e controlar o
dano. Podem ter suas diferenças e não cair irremediavelmente nos Diálogos do
Demônio. Podem esfolar os pontos frágeis do outro e não escorregar para
exigências ansiosas ou um distanciamento indiferente. Podem lidar melhor com
a ambiguidade desorientadora segundo a qual a pessoa amada, que é a solução
para o medo, pode de repente se tornar a fonte do medo. Em resumo, podem
manter o equilíbrio emocional muito mais vezes e muito mais facilmente. Isso
cria uma plataforma para reparar fraturas em seu relacionamento e estabelecer
uma conexão amorosa verdadeira.
Nessa conversa você verá como encarregar-se dos momentos de desconexão
emocional, ou faltas de sintonia, como os teóricos do apego as denominam, e
desviálas da escalada perigosa rumo à segurança e à confiança. Para aprender
como fazer isso peço a casais que voltem aos momentos instáveis de suas
relações e, aplicando o que aprenderam nas Conversas 1 e 2 sobre o modo como
se comunicam e sobre sua ansiedade de separação, desenvolvam um meio de
aplainar o terreno. Em minha prática, revivemos tanto as discussões turbulentas
episódicas quanto as desconexões mais brandas e contínuas. Eu reduzo o ritmo
da ação, fazendo perguntas aos parceiros (“O que aconteceu nesse ponto?”),
guiando-os para os momentoschave quando as inseguranças emergiram, e
mostrando-lhes como deveriam ter abreviado o conflito e se movido para uma
direção diferente e mais positiva.
Quando Claire e Peter brigam, eles não fingem. Eles seriam indicados para o
Oscar de “bate-boca conjugal”. Dessa vez a briga começa com Claire
observando que Peter poderia tê-la ajudado mais em sua crise de hepatite. “Você
simplesmente continuou como se nada de incomum estivesse acontecendo”, ela
diz. “Quando sugeri que ajudasse um pouco na casa você ficou malcriado e
irritável. Não sei por que eu tinha que aceitar aquela situação.”
“Aceitar!”, exclama Peter. “Oh, você não aceita nada até onde posso ver. Você
faz questão de que eu pague por qualquer pequeno erro. Claro que não importa
que eu estivesse trabalhando feito um louco num grande projeto. Para você sou
apenas um grande desapontamento! Você deixa isso perfeitamente claro. Você
não estava tão doente quando veio e me deu um sermão sobre como limpar
direito os banheiros.” Ele vira a cadeira como se fosse sair.
Claire joga a cabeça para trás e grita com frustração: “Pequenos erros! Como
quando ficou emburrado, e não falou comigo por dois dias. É disso que está
falando? Um asqueroso, isso é o que você é”. Peter, a cabeça virada para a
parede, comenta secamente: “É isso, esse ‘asqueroso’ não está a fim de falar com
a chefe dos serviços domésticos”. Demolição das relações amorosas em
progresso, e por especialistas.

REDUZINDO A DESCONEXÃO

Reproduzamos este pequeno drama e vejamos como o casal pode criar um novo
tipo de dança. Aqui estão os passos que podem recolocálos no caminho de uma
maior harmonia:
1. Interrompendo o Jogo. Na discussão, Claire e Peter ficaram totalmente envolvidos em atacar e
defender: quem está certo, quem está errado; quem é a vítima, quem é o vilão. Eles são adversários,
utilizando os pronomes “eu” e “você” quase exclusivamente. “Tenho direito a ser bem tratada”, Claire
declara de maneira beligerante. “E se você não puder fazer isso, posso me arranjar sozinha.” A vitória,
contudo, é um pouco vazia, pois não é isso o que ela quer. Peter responde calmamente: “Não podemos
parar com isso? Não estamos os dois perdendo nessa espiral?”. Ele mudou o pronome para “nós”.
Claire suspira. E altera sua perspectiva e seu tom. “Sim”, responde, pensativa. “Nós sempre chegamos
a esse ponto. Sempre caímos na armadilha. Nós dois queremos ter a razão, e continuamos assim até
que acabamos completamente exaustos.”
2. Reivindicando seus próprios movimentos, Claire se queixou de que Peter a ignorou, não tentou
entender seu ponto de vista quando as coisas esquentaram entre eles. Eles falam juntos de seus
movimentos. Claire pensa e diz: “Começou quando me queixei e fiquei com muita raiva. E você, o que
você fez?”. “Tratei de me defender, atacando de volta”, ele responde. Claire continua: “Então perdi o
controle e te acusei ainda mais; na realidade, eu estava protestando contra a sua indiferença”. Peter,
mais calmo, arrisca uma ironia: “Você se esqueceu de uma coisinha. Você ameaçou, lembra? Aquela
parte de como você poderia se virar sem mim?”.
Claire sorri. Juntos, os dois fizeram um breve resumo de seus
movimentos. Claire se enfurece enquanto Peter banca o impenetrável;
Claire grita e o ameaça; Peter a acusa de ser impossível e tenta se afastar.
Peter ri: “O rochedo impenetrável e a sujeita mandona. Que conversa, hein?
Bem, acho que falar com um rochedo deve ser frustrante”. Claire segue a
deixa e admite que sua raiva e tom crítico provavelmente deflagram sua
atitude defensiva e contribui para o afastamento dele depois dessas brigas.
Os dois concordam que é difícil ser sincero.
3. Reivindicando seus próprios sentimentos. Claire agora é capaz de falar de seus sentimentos, em vez
de, como ela diz, “concentrar-me em Peter e mascarálos com uma enorme recriminação”. Ela pondera:
“Ainda tenho raiva. Parte de mim quer falar ‘Bem, se sou de tão difícil convivência, vou mostrar. Você
não pode me atingir’. Mas me sinto muito abalada por dentro. Você sabe o que quero dizer?”. Peter
murmura: “Sim, sei, conheço a sensação”. O reconhecimento de Claire dessas enervantes emoções
superficiais, de raiva e confusão, é o começo para se fazer acessível ao seu amado. Algumas vezes a
linguagem das “partes” ajuda a reconhecer essas confissões. Parece que nos ajuda a admitir aspectos
de nós mesmos de que não nos orgulhamos, e também nos ajuda a expressar sentimentos ambíguos.
Peter poderia dizer: “Parte de mim está dormente. É minha resposta automática quando ficamos
emperrados desse jeito. Mas acho que parte de mim também fica abalada”.
4. De como influenciar os sentimentos de seu parceiro. Se nós estamos conectados, meus sentimentos
naturalmente irão afetar os seus. Temos de reconhecer que nossas maneiras habituais de lidar com
nossas emoções desequilibram nosso par e desencadeiam temores de separação ainda mais profundos.
Se nós estamos conectados, meus sentimentos naturalmente irão afetar os seus. Mas perceber o
impacto que temos sobre a pessoa amada pode se tornar muito difícil no momento em que ficamos
presos nas nossas emoções, especialmente se o medo está reduzindo a lente. Na briga, tudo acontece
tão depressa, que Claire fica tão chateada, que não consegue ver como seu tom crítico e a expressão
“aceitar” atingiram Peter num ponto frágil e deflagraram sua indiferença. Na verdade, ela afirma que o
comportamento dele se deve a suas falhas pessoais. Ele é um canalha!
No momento, Peter não consegue ver como sua afirmação de que não
queria falar com a “chefe dos serviços domésticos” leva Claire a fazer uma
escalada de ameaças de se virar sem ele. Para assumir realmente o controle
dos Diálogos do Demônio e acalmar os pontos frágeis, ambos os parceiros
precisam reconhecer como arrastam o outro para espirais negativas e criam
sofrimento para os dois. Agora Peter pode proceder assim. Ele diz: “Nessas
brigas, eu me defendo e depois paro de falar. É quando meu retraimento
pega você toda baratinada, não é? Você começa a imaginar que não estou
disponível para você. Eu me fecho. Não sei mais o que fazer. Só quero
parar de ouvir o quanto você está com raiva de mim”.
5. Perguntar ao outro sobre suas emoções mais profundas. Durante a briga e o período de
distanciamento que normalmente se segue, Peter e Claire estão ocupados demais para sintonizar as
emoções profundas e reconhecem que estão tocando nos pontos frágeis um do outro. Mas quando
podem olhar o quadro inteiro, e se acalmar um pouco, podem também ficar curiosos a respeito das
emoções subjacentes mais agradáveis do outro, em vez de ficarem ouvindo seus sofrimentos e medos,
e imaginando o pior a respeito do amado.
Agora Peter vira-se para a mulher e diz: “Fico pensando que você está
pronta para me deixar. Mas nessas horas você não está só com raiva, está?
Debaixo de todo esse barulho e raiva você está sofrendo, não está? Entendo
isso agora. Percebo que seu ponto sensível é o medo de ser deixada e
abandonada. Não quero que você sofra. Acho que me acostumei a ver você
como a chefe íntegra preocupada em demonstrar o quanto eu era
imprestável como marido”. Quando Claire pergunta a Peter sobre os
sentimentos mais suaves que lhe ocorreram nessa briga, ele é capaz de olhar
para dentro de si e localizar como a expressão “aceitar” incendiou todos os
seus medos de fracasso.
E Claire, lembrando todas as conversas sobre os pontos vulneráveis,
acrescenta: “Então, o que quer que você faça vai me trazer desapontamento.
E isso dá uma sensação tão ruim, que a gente quer só desistir e correr”.
Peter concorda. É claro que nessa hora realmente ajuda se os parceiros
foram capazes de se abrir completamente sobre seus pontos frágeis nas
conversas anteriores. Mas também ajuda se você tiver grande impacto sobre
o parceiro e for efetivamente curioso a respeito das vulnerabilidades dele ou
dela.
6. Expressar suas próprias emoções mais profundas e mais suaves. Embora expressar as emoções mais
profundas, implique, algumas vezes a tristeza e a vergonha, mas na maioria das vezes ansiedade de
separação, possa ser o passo mais difícil para você, é também o mais gratificante. Deixe seu par
perceber o que realmente está em jogo quando você discute. Muitas vezes deixamos de perceber as
necessidades e os medos que estão escondidos em batalhas recorrentes sobre temas do dia a dia.
Revelar momentos de desconexão como esse ajuda Claire a explorar seus próprios sentimentos e
arriscarse a partilhálos com Peter. Claire respira fundo, e fala a Peter: “Estou sofrendo, mas é difícil
contar isso. Tenho essa sensação de horror. Posso sentir um nó na garganta. Se eu parasse de ir até
você, tentando chamar sua atenção, talvez você ficasse nos vendo à deriva, e cada vez mais distantes.
Ou ficasse vendo nossa relação escurecendo até sumir da tela. E isso é assustador”. Peter ouve e
concorda com a cabeça. Ele diz: “Quando você me conta isso, me ajuda. Sintome como se a
conhecesse de uma perspectiva diferente quando fala assim. Você fica, de alguma forma, mais igual a
mim. É mais fácil me sentir próximo. E me faz querer tranquilizála.Algumas vezes eu posso impor
uma barreira, mas não a deixaria afastar-se de mim”.
7. Ficando unidos. Adotar os passos acima cria uma parceria renovada e verdadeira entre os pares.
Agora um casal tem um terreno comum e uma causa comum. Não se veem mais como adversários,
mas como aliados. Podem controlar a escalada das conversas negativas que alimentam sua
insegurança, e enfrentar juntos essas inseguranças. Peter fala à esposa: “Gosto quando a gente pode
parar e diminuir o volume. Gosto quando nós dois concordamos que essa conversa é difícil, que está
fora de controle e nos assustando. É muito confortador sabermos que não vamos ficar mais emperrados
como ficávamos. Mesmo que não saibamos exatamente o passo seguinte, isso é muito melhor. Não
temos mais que ficar presos naquele obstáculo todo o tempo”.

Mas tudo isso não significa que Peter e Claire se sintam realmente
sintonizados e conectados um com o outro num vínculo seguro. Mas significa
que sabem como interromper um desentendimento antes que ele se transforme
num abismo intransponível. Ambos estão conscientes de dois elementos de
desescalada: primeiro, como a forma de um parceiro reagir em momentochave
de conflito e desconexão pode ser profundamente dolorosa e ameaçadora para o
outro; e segundo, que a reação negativa de um pode ser uma tentativa
desesperada de lidar com as ansiedades de separação.
Os casais nem sempre serão capazes de aplicar esse conhecimento e os passos
específicos de desescalada toda vez que se desconectarem. É preciso prática,
repassar um episódio passado inquietante até que ele faça um sentido coerente, e
que, ao contrário do evento original, possa gerar uma possível resposta
apoiadora do outro parceiro. Uma vez que os casais tenham dominado isso, eles
podem começar a integrar esses passos no ritmo diário de seu relacionamento.
Quando divergirem ou se sentirem distantes um do outro, poderão dar um passo
atrás e perguntar: “O que está acontecendo agora?”.
Mesmo com prática, os casais nem sempre serão capazes de fazer isso; a
angústia pode ser muito forte em certos momentos. Normalmente, quando meu
marido não percebe meus sinais de conexão, posso dar um passo atrás e refletir
sobre nossa interação. Ainda estou equilibrada e posso escolher como responder.
Mas algumas vezes fico tão frágil e vulnerável, que o universo imediatamente
encolhe para o que parece uma luta de vida ou morte. Reajo rudemente, para
criar uma sensação de controle que limite a minha impotência. Tudo o que meu
marido vê é minha hostilidade. Quando fico mais calma eu o procuro
novamente. “Humm, podemos voltar atrás e começar outra vez?”, eu pergunto.
Então apertamos a tecla mental de rebobinar e repetimos o incidente.
Fazendo assim, os casais desenvolvem um agudo sentido para perceber
quando estão pisando em terreno acidentado. Sentem o terreno instável com
mais antecedência e são capazes de fugir dele mais rapidamente. E desenvolvem
confiança na sua habilidade de assumir o controle dos momentos de desconexão
e assim criam um relacionamento seguro. Vai custar um pouco, contudo, antes
que os casais desenvolvam a linguagem abreviada, quase taquigráfica, de Tia
Doris e Tio Sid.

RECONHECENDO SEU IMPACTO NO PARCEIRO

Kerrie e Sal são um exemplo acabado dos prós e contras do processo de


desescalada. São um casal ascendente, de boa aparência, casados há 20 anos, e
que só concordam que os últimos quatro foram um “inferno”. Estão
continuamente entrando numa espiral negativa pelo fato de Kerrie, ocupada em
uma nova carreira depois de anos de prendas domésticas, estar indo dormir mais
tarde do que Sal. Eles tentaram vários acordos, só para serem estabelecidos e
quebrados.
Os dois ficaram se alvejando durante uns 10 minutos em meu consultório.
Pergunto se o tiroteio é a maneira comum de se relacionarem. Kerrie, alta e
elegante, vestida toda de vermelho, e com uma pasta de couro da mesma cor, me
fala, incisivamente: “Não. Normalmente eu fico bem calma. Eu prefiro a
gentileza. E fico na minha quando ele fica agressivo. Mas ultimamente venho me
sentido cada vez mais encurralada, então comecei a contra-atacar para fazêlo
recuar por uns tempos”. Sugiro que o ciclo de ataques mútuos que eu estava
vendo fosse um leve desvio do padrão no qual Kerrie se retrai emocionalmente e
Sal tenta recuperar um pouco de controle para atrair a mulher. Eles concordam.
Sal, um brilhante advogado de empresas, com um leve grisalho nas têmporas,
se lança num discurso sobre o quanto se sente carente no casamento. Não lhe é
dada afeição, atenção, ou sexo. Não é ouvido. Está com raiva, e tem o direito de
estar. Kerrie eleva os olhos para o céu, cruza as pernas, e começa a balançar os
pés calçados com um sapato vermelho de salto alto, para cima e para baixo.
Observo que o padrão está ocorrendo naquele momento. Ele está com raiva e
exigindo atenção. Ela está lançando sinais do tipo “você não pode me obrigar”.
Kerrie rompe a tensão nesse momento, rindo francamente enquanto admite
sua estratégia. Sal então faz alguns comentários sobre como a educação de
Kerrie prejudicou sua habilidade de ter empatia, e dá alguns conselhos sobre
como ela deve lidar com isso. Kerrie, naturalmente, ouve apenas que ela é o
problema e precisa trabalhar para anular suas deficiências. A tensão retorna.
Falamos um pouco sobre apego e amor, e como nossa “programação”
determina que quando Sal se sente desconectado ele irá agressivamente procurar
Kerrie, e ela, vendo apenas a sua raiva, irá se afastar defensivamente, tentando se
acalmar e manter a relação. Esta mensagem básica do tipo “Não são suas
deficiências, é como somos programados” parece ajudar bastante.
O padrão desse casal — “Você vai me ouvir/Você não pode me obrigar” —
estava estabelecido durante todo o casamento, mas se tornou mais prejudicial
quando Kerrie começou sua bem-sucedida carreira de corretora de imóveis.
Cada um começou a incluir as brigas, rupturas e as mágoas de todo dia no
padrão. No plano intelectual, eles sentem que esse padrão agora governa sua
relação, e que os dois acabam sendo, como diz Sal, “vítimas dessa espiral
emocional”.
Mas é claro que Kerrie vê Sal através de um estreito prisma de desconfiança.
Ela não compreende realmente o impacto que seu distanciamento tem sobre ele,
e como isso os impele para o ciclo. Ela realmente não percebe que, sem querer,
molda a resposta dele.
Num dado momento ela se vira para ele e pergunta, ríspida: “Então por isso
você fica tão agressivo? Tudo bem, então existe essa necessidade programada de
contato, e eu sou um pouco fria, esse é o meu estilo. Mas tenho sido uma
excelente esposa. Você não acha?”. Sal concorda, sério e com os olhos fixos no
chão. “Mas esta manhã você começou de novo a ladainha de como estou
ocupada, de como só fui dormir muito tarde. Este é um grande problema para
nós. E surge a todo instante. Se não vou para a cama com você, ou se vou mais
tarde, você fica enlouquecido. Há alguma coisa aqui que não entendo. Parece
que nada importa, a não ser o que você quer naquele momento, mesmo que
tenhamos passado o dia juntos.”
Sal inicia uma elaborada argumentação para demonstrar que não é realmente
tão impositivo. Kerrie já está em outro mundo antes que ele termine a primeira
frase.
Precisamos alterar o nível do diálogo nesse momento e conseguir um
engajamento mais emocional. Pergunto se ele se lembra de como se sente
aguardando Kerrie ir para a cama. Ela pensa um momento e então retruca. “Oh,
é maravilhoso ficar o tempo todo aguardando sua mulher. Perguntando-se se e
quando ela vai se dignar a aparecer!” À primeira vista, ele parece exatamente o
que é, um homem acostumado a estar no comando e ter as pessoas correndo para
agradálo.Mas por baixo da raiva ouço a dúvida a respeito de ela “aparecer”.
Eu pergunto: “O que está acontecendo com você, neste momeno, ao falar
disso? Você soa raivoso, mas há amargura por trás do sarcasmo. Como é ficar
aguardando, sentindo que ela não se importa se vai demorar muito ou pouco, ou
se vai aparecer?”. Apertei o botão de descida do elevador. Depois de um longo
silêncio ele responde.
“Amargurado”, Sal admite. “É a palavra. Então eu fico com muita raiva. Mas
o que é ficar aguardando?” E de repente seu rosto se contorce. “É uma agonia.
Isso é o que é.” Ele cobre os olhos com as mãos. “E não suporto me sentir
assim.”
Kerrie afasta a cabeça, com surpresa. E franze o cenho, com incredulidade.
Com suavidade, peço a Sal que me ajude a entender a palavra “agonia”. Quando
ele começa a responder, todos os seus traços, o terror das audiências, tinham se
apagado. “Parece que estou sempre na beirada da vida de Kerrie”, ele diz. “Não
me sinto absolutamente importante para ela. Ela me encaixa nos buracos de sua
ocupada agenda. Costumávamos ter muita intimidade antes de irmos dormir.
Mas agora, quando ela demora horas antes de vir para a cama, eu acabo me
sentindo rejeitado. Se tento falar sobre isso, sou repudiado. Deitado sozinho na
cama, acabo me sentindo sem nenhuma importância. Não sei o que acabou
acontecendo. Nem sempre foi assim. Parece que estou completamente sozinho.”
Eu pego as palavras “sozinho” e “rejeitado”. Lembro-me de ouvilo falar, na
primeira sessão, de sua infância solitária, na maior parte passada em caros
internatos enquanto seus pais diplomatas viajavam pelo mundo. Lembrei dele
me dizendo que Kerrie é a única pessoa de quem se sentiu próximo ou em quem
confiou, e que encontrála tinha aberto as janelas de um novo mundo para ele. Ao
lhe falar desses sentimentos e lembrar-lhe suas palavras, eu legitimo a sua dor.
Depois, pergunto como ele se sente neste momento ao falar novamente do
sentimento difícil de ser rejeitado. Ele continua: “Sintome triste e meio sem
esperança”.
Pergunto: “É como se parte de você dissesse que perdeu seu lugar junto a ela?
Não sabe mais se ainda é importante para Kerrie?”. “Sim.” A voz de Sal está
muito calma. “Eu não sei o que fazer, então fico enfurecido e faço um bocado de
barulho. Foi isso o que fiz na noite passada.” Eu comento: “Você está tentando
chamar a atenção de Kerrie. Mas se sente desesperado. Para a maioria de nós é
assustador quando estamos inseguros sobre nossa ligação, quando não
conseguimos fazer a pessoa que amamos responder”. “Eu não quero me sentir
desse jeito”, Sal acrescenta. “Mas você está certa. É aterrador. E é triste. Na noite
passada fiquei lá no escuro e minha mente dizia: ‘Ela está ocupada. Pode
demorar’. E aqui estou eu, como um idiota patético.” Ao falar, seus olhos se
enchem de lágrimas.
E dessa vez, quando olho para Kerrie, seus olhos estão arrega-lados. Ela tinha
se inclinado na direção do marido. Pergunto como está reagindo às coisas que o
marido está contando. “Estou muito confusa”, ela fala, e virando-se para Sal:
“Você está falando sério? Está. Você fica enfurecido comigo porque não se sente
importante para mim! Você se sente sozinho? Nunca percebi isso em você.
Nunca imaginei...”. A voz dela fraqueja por um instante. “Só vejo esse homem
beligerante disposto a me criticar.”
Falamos sobre como é estranho para ela ouvir que, sendo menos acessível,
causa impacto nele, e que agora ele vive em um mundo em que sente falta dela e
está temeroso de ter perdido seu lugar junto a ela. “Entendo perfeitamente que
você me veria dessa forma”, Sal continua. “Eu tento ficar distante desses
sentimentos. É mais fácil ficar com raiva ou sarcástico, então é isso o que você
vê.”
Kerrie parece que está lutando para entender. Seu marido não é o homem que
pensava que fosse. Não consigo resistir à observação de que a raiva de Sal afasta
Kerrie, e quando ela se distancia, os dois penetram na espiral da insegurança e
do isolamento.
“Realmente, não tinha a menor ideia de que você pensava assim”, Kerrie diz.
“Não sabia que meu afastamento, na tentativa de evitar todas essas discussões...
Nunca imaginei que estava me esperando e se sentindo tão magoado. Não sabia
o quanto isso era doloroso para você. Que era tão importante para você que eu
fosse para a cama. Quando brigamos parece que é sempre porque você deseja
mais sexo.” Agora seu rosto e sua voz tinham se acalmado. Então, num sussurro
maravilhado, ela diz: “Eu não sabia que era tão importante para você. Só pensei
que você queria ficar no controle”.
Perguntei se ela percebia que seu distanciamento para evitar a raiva de Sal
desencadeava a ansiedade de apego nele, tocava-o num ponto frágil, e deflagrava
sua raiva, impulsionando-o para a espiral da angústia.
“Sim, eu percebo”, ela admite. “Acho que é por isso que ele não pode parar
com a raiva, mesmo que tenhamos discutido isso e saiba como eu não gosto.
Acho que está dizendo que quando me afasto e fico ocupada, isso desperta nele
todos aqueles sentimentos. E então sua raiva é muito para mim e me distancio
ainda mais. E ficamos num beco sem saída.” Ela se vira para Sal: “Mas eu...
nunca soube que você ficava sozinho no escuro me esperando. Nunca me caiu a
ficha de que tinha tanto impacto em você. Simplesmente não via. Que podia
estar se sentindo sozinho no escuro”.
Kerrie e Sal estão realmente começando a ver o poder que têm sobre o outro
num nível de apego emocional. Eles podem começar a compreender como cada
um desperta os temores do outro e mantém a sua Polca do Protesto em ação. Ele
se queixa do afastamento dela. Ela se queixa de seus modos agressivos de tentar
se conectar com ela. Sal e Kerrie começam a ver, de maneira concreta, como um
engancha o outro no seu padrão negativo.

RECONHECENDO COMO O MEDO ESTIMULA O


PARCEIRO

Numa outra sessão, Kerrie e Sal estão revisitando outro momento conturbado,
que aconteceu quando Kerrie pediu a opinião de Sal sobre um vestido que ela
estava planejando usar num casamento a que ela não estava à vontade para
comparecer. Kerrie queria seu apoio, mas Sal não percebeu a sinalização. Em
vez de apoio, ele ficou vagamente crítico, dando a entender que ela já sabia que
ele não gostava do vestido, e que a sua opinião, ou o que achava mais atraente,
não tinha nenhuma importância. A divergência escalou rapidamente para uma
discussão sobre a qualidade da vida sexual deles. Voltaram à antiga dança em
que Kerrie se fechava e evitava um Sal cada vez mais irritado. Mas agora,
conhecendo o ciclo, eles repassaram a discussão e recolheram entendimentos
sobre como suas ansiedades de separação os joga na desesperança e no
distanciamento.
“Bem, você me perguntou sobre o seu vestido”, Sal diz. “‘Está bem?’, você
perguntou. “Dei a minha opinião, foi tudo.” Kerrie vira o rosto para a janela.
Luta para não chorar. Quando lhe pergunto o que está acontecendo, ela se vira e
investe contra Sal. “Sim, eu perguntei. E você sabe que era importante para mim
como me apresentar naquele grupo. Não me sinto segura com eles. Você poderia
apenas ter dito alguma coisa me apoiando. Mas não. Só recebi comentários
desdenhosos sobre como não me interesso em te agradar. Eu perguntei, não foi?
Eu queria apoio, não um monte de críticas. Que diabos você quer de mim? Não
faço nada certo. Este é um daqueles momentos em que gostaria de estar longe,
tipo ‘Beam me up Scotty!’.4 E no fim das contas, tudo se resume ao fato de que
você quer mais sexo.” Ela dá as costas para ele e fixa o olhar na parede oposta.
“Você tem razão”, ele responde com voz grave e tensa. “Você perguntou. Mas
desde quando minha opinião faz alguma diferença para nós? Você só vai ouvir o
que interessa a você. O que eu quero é irrelevante. Ah, sim, também não ajuda
você ser tão fria comigo na cama. Mas isso é só parte. Não se resume a eu querer
mais sexo.”
Convido Sal e Kerrie a fazerem uma pausa e apertar o botão de replay. O que
uma filmadora teria visto nos últimos minutos? Eu sei que eles podem conseguir.
Eu os vi saírem de um ciclo na semana passada. Sal sorri e recosta-se na
poltrona. Depois ele pinta um quadro sobre como ficaram enredados. “Sim,
vamos lá. Estamos de novo na história do eu pressiono, você recua. Mas acho
que não se trata do vestido, não é? Nem mesmo de sexo.”
Ouvilo dizer isso me entusiasma. Ele percebe que estão fugindo do ponto —
os sentimentos e necessidades de apego que desencadeiam o drama. Ele vê a
espiral negativa em ação. Agora ele precisa se afastar da postura crítica. Vira-se
para Kerrie. “Acho que estou ficando um pouco agressivo. Penso que ainda
estou magoado com a noite passada. Se você se lembra, sugeri que a gente
namorasse um pouco no estúdio. Mas você estava cansada.” Ele faz uma pausa e
olha para o chão. “Isso acontece um bocado.”
Sal acabou de alterar o nível da conversa de uma maneira poderosa. Volta a
atenção para a sua realidade e convida Kerrie a entrar. Agora aguardo para ver
como Kerrie vai reagir. Será que vai permanecer distante e inacessível, que vai
aproveitar a oportunidade para revidar com um comentário como “Oh, então
você está magoado. Ora, escute bem, meu camarada...”? Ou irá responder à
tentativa de Sal de escapar do círculo usual deles de perseguição ansiosa e fuga
ofendida?
Kerrie respira fundo e começa. Ela fala suavemente. “Muito bem. Trata-se de
você me procurar e eu estar cansada. Então, você fica magoado e amargo, e
depois eu não valorizo sua opinião e não estou disposta para afagos.”
Ela coloca junto a história do apego, o enredo por trás do drama do momento,
identificando o problema emocional na briga. Ela continua: “Eu pedi sua opinião
sobre o vestido, mas você ficou enredado na raiva, foi isso? Hei, passamos por
isso centenas de vezes antes. Já discutimos isso. Por que não podemos
interromper?”.
Não resisto observar que eles estão fazendo exatamente isso. Estão vendo o
quadro maior, ao invés de reduzilo à reação aos movimentos negativos do outro.
Kerrie agora dá outro passo na direção de criar mais segurança. Ela se inclina
para Sal. “Bem, acho que ainda estou aprendendo sobre os seus pontos frágeis.
Entendo que você pode ter sentido que eu estava fria na noite passada. Eu estava
completamente exausta. Acho que fiquei com medo de explicar isso para você.
Sabia que você queria fazer sexo. Talvez estivesse muito temerosa de que íamos
acabar discutindo. Então criei uma barreira.”
“Foi uma daquelas vezes”, Sal pergunta, “e que já comentamos, em que você
acha que só duas horas de sexo intenso é que vão me agradar? Daquelas vezes
em que você ficou se sentindo pressionada, de que não conseguiria atender às
minhas exigências?”
Essa resposta me surpreende. Uma vez que tinham acalmado seus Diálogos do
Demônio, abrese o espaço para a curiosidade, para a procura da realidade do
outro. Sal não está apenas tentando tipificar seus sentimentos; está se colocando
no lugar da mulher e sentir suas emoções.
Kerrie obviamente fica tocada com isso, e vejo que ela se inclina e tira os
sapatos vermelhos de salto alto, seus “sapatos insolentes”, como ela chama.
Esses sapatos anunciam para o mundo que ela é poderosa e deve ser reconhecida
como tal. Ela puxa a cadeira para mais perto. “Claro, senti a pressão. E acho que
coloquei a barreira. Mas nós dois sabemos agora que esse momento aterroriza
você, não é? Então você me procura e eu me afasto mais ainda. É assim que
normalmente acontece.”
Há uma nova música na sala. Cada parceiro está olhando para a dança e dando
nomes aos seus passos. Mas, mais do que isso, está vendo exatamente como são
arrastados à dança. Mas será que eles realmente veem o impacto, e como esse
ciclo os leva para o isolamento e o medo? Comento: “E é muito difícil para os
dois. E acabam sozinhos”.
“Sim”, Sal diz, “e depois vou para aquele lugar triste e aterrador, acho. Era
isso mais ou menos o que estava tentando dizer com meus comentários raivosos.
‘Por que ela pedia minha opinião, como se o que eu dissesse tivesse alguma
importância para ela?’ E quando essa sensação vem...” Ele fica parado e
silencioso.
“É aí que você fica com medo, inseguro quanto a ser importante para Kerrie”,
eu observo. “E é assim que acontece com todos nós. Aquele medo é parte do
amor. Mas é difícil aceitar e reconhecer, é mais fácil ficar raivoso.” Kerrie agora
está totalmente focada no marido, falando baixo, mas muito segura. “Então
aquele medo nos leva a esse lugar obscuro...” “Leva”, Sal responde, “e eu fico
nervoso, tentando lidar com ele. Acabo ficando furioso”.
“E aí, Sal, sua raiva deflagra os medos de Kerrie”, eu comento. “Isso mesmo”,
Kerrie concorda. “É quando eu fico deprimida por não poder agradar a esse
homem. Não sou o bastante. E o curioso é que gosto de namorar no sofá. Gosto
de como fazemos amor. E acabamos nos arrastando para essa dança idiota.”
Observo que os dois acabaram de agarrar o demônio do diálogo e o levaram à
lona. Enfrentaram seus medos de uma forma diferente, que acalma suas
ansiedades, em vez de exacerbálas. Mas Sal ainda tem uma coisa muito
importante a dizer. Ele parece ter crescido na cadeira, como se de repente se
achasse em terreno mais seguro. “Estamos começando a aprender a enfrentar
isso. Se pudermos ver onde ficamos enredados, e se pudermos fazer alguma
coisa a respeito desses pontos frágeis e como eles são ativados, bem, talvez
possamos ser capazes de ficar mais” — ele faz uma pausa e procura as palavras
certas — “bem... ainda mais unidos”, ele conclui e sorri. Kerrie ri e busca a mão
dele.
O que acabamos de ver Sal e Kerrie fazerem nestas duas últimas conversas?
• Eles começaram a ir além de apenas dar os passos na sua dança negativa, e a ver o padrão que ela
está gerando quando ela ocorre e começa a assumir o controle da sua relação.
• Reconheceram seus passos na dança.
• Começaram a ver como esses passos empurram cada um para o programa primal de necessidades de
apego e de ansiedades de separação. Estão começando a entender o incrível impacto que têm um sobre
o outro.
• Estão entendendo, expressando e compartilhando a dor da rejeição e os medos de desamparo que
impulsionam a dança.

Tudo isso significa que têm a habilidade de diminuir os conflitos. Mas, mais
do que isso, cada vez que agem assim estão criando uma plataforma de
segurança, na qual podem se basear para enfrentar as profundas emoções que são
parte do amor.
Agora que já sabem como essa desescalada funciona, chegou a hora de fazê-la
funcionar para a sua relação.

JOGUE E PRATIQUE

1. Junto de seu par, escolha um breve incidente angustiante (mas não muito penoso), ocorrido na
relação há duas ou três semanas, e faça uma descrição simples do que aconteceu como se você fosse
um observador invisível. O ideal é que ambos concordem com a descrição. Agora anote numa
sequência simples os movimentos que você adotou no incidente. Como seus movimentos se
relacionaram e provocaram os movimentos de seu parceiro? Compare as anotações e façam uma
versão conjunta sobre a qual estejam de acordo. E que seja simples e descritiva.
2. Acrescente os sentimentos que ambos tiveram e como cada um ajudou a desencadear a resposta
emocional do outro. Compartilhem as respostas e concordem numa versão conjunta. Agora pergunte
quais sentimentos mais profundos e suaves seu par sentiu. Seja curioso. A curiosidade traz informação
muito valiosa. Se seu par tem dificuldade para acessar seus sentimentos mais suaves, tente adivinhar
usando seu entendimento dos pontos frágeis do par como guia. Confirme ou revise com o parceiro
quais são os sentimentos mais profundos dele ou dela.
3. Usando a informação acima, veja se os dois podem comentar, ou escrever por extenso, o que teriam
dito a cada um ao final do incidente se pudessem permanecer juntos, e completar a anotação de
maneira que os dois se sentissem seguros. Que sensação você poderia ter sentido? Como se sentiriam
com relação ao outro, ou ao relacionamento?
4. Tente as três práticas anteriores com um incidente difícil e não resolvido. Se ficar emperrado, apenas
admita que uma parte determinada do exercício é difícil para você. Se o seu par acha difícil também,
pergunte se existe uma maneira de ajudálo ou ajudála naquele momento. Algumas vezes o que as
pessoas precisam para continuar com essa tarefa é um pequeno apoio.
5. Se você soubesse que poderia selecionar momentos de conflito e desconexão, e desarmálos ou
modificálos, que impacto isso teria sobre a sua relação em geral? Partilhe isso com o parceiro.

Com o que aprendeu nas três primeiras conversas, você agora é capaz de
diminuir os conflitos. Isso é excelente. Mas para se ter uma relação sólida,
amorosa e sadia, você precisa ser capaz não apenas de reduzir os padrões
negativos que geram insegurança na relação, de ouvir e aceitar os protestos do
outro, mas também de criar uma comunicação poderosa e positiva que estimule a
acessibilidade, a capacidade de reação, e o engajamento com o outro. É o que
você fará nas conversas seguintes.
Conversa 4: Abrace-me apertado —
engajando e conectando
“Quando alguém ama você, pronuncia seu nome de um
modo diferente. E você sabe que o seu nome está seguro
nos seus lábios.”
BILLY, DE QUATRO ANOS, DEFININDO O AMOR, COMO POSTADO
NA INTERNET.

xiste uma imagem do amor que Hollywood mostra muito bem. É o

E
momento em que duas pessoas se olham intensamente nos olhos,
aproximam seus braços vagarosamente, e começam a se movimentar em
perfeita sincronia. Sabemos instantaneamente que essas duas pessoas são
importantes uma para a outra, que estão conectadas.
Esses momentos vistos na tela indicam quase invariavelmente que um
par está nos inebriantes primeiros dias de um romance. Raramente são usados
para ilustrar um estágio mais maduro do amor. E é aí que Hollywood erra.
Porque esses momentos de receptividade intensa e de engajamento são vitais
durante toda a relação. Na verdade, são as marcas definidoras dos casais felizes e
seguros.
Quase todos nós somos atraídos de forma natural e espontâ-nea por nossos
parceiros quando estamos apaixonados. Somos completamente conscientes da
presença do outro, e intensamente sensíveis a toda ação e palavra, toda expressão
de sentimentos. Mas com o tempo muitos de nós ficamos menos atentos, mais
acomodados, e até aborrecidos, com o outro. Nossas antenas emocionais perdem
potência, ou talvez os sinais de nosso parceiro fiquem mais frágeis.
Para construir e manter vínculos seguros precisamos ser capazes de ter uma
sintonia com a pessoa amada tão forte quanto antes. Como fazemos isso?
Criando deliberadamente momentos de engajamento e de conexão. Nessa
conversa, você dará o primeiro passo nessa direção, e conversas subsequentes
vão lhe mostrar como provocar uma sensação de proximidade, de modo que
você poderá criar à vontade seus próprios “momentos hollywoodianos”.
A conversa Abrace-me Apertado cria a sensação de segurança que você e seu
par começaram a produzir como resultado das Conversas 1, 2 e 3, que lhe
ensinaram como interromper ou conter os padrões negativos de interação com a
pessoa amada, da mesma forma que identificar pelo menos um dos sentimentos
mais profundos que surgem em ciclos negativos e momentos de desconexão.
Sem uma plataforma básica de segurança, é difícil buscar uma conexão
consciente, e reagir com apoio. Nesta conversa você aprenderá como provocar
padrões positivos de aproximação e resposta à pessoa amada. Na verdade, você
aprenderá a falar a linguagem do apego.
Considere da seguinte forma: se as Conversas 1, 2 e 3 são como passear juntos
pelo parque, então a Conversa 4 é como dançar um tango. É um novo nível de
engajamento emocional. Todas as conversas anteriores são uma preparação para
esta, e todos os diálogos futuros dependem da capacidade do casal de criála. A
conversa Abrace-me Apertado é a ponte definitiva para ligar os espaços entre
duas solidões.
Afastarnos de nossa maneira usual de nos proteger, e admitir nossas
necessidades mais profundas, pode ser difícil e até doloroso. A razão para
assumir o risco é simples. Se não aprendemos a permitir que nosso par realmente
veja nossas necessidades de apego de uma maneira aberta, autêntica, as chances
de que elas sejam atendidas são minúsculas. Temos que enviar sinais altos e
claros para que nosso par receba a mensagem.
Se, geralmente, nos outros encontramos refúgios seguros e Temos vínculo de
confiança com a pessoa amada, então é mais fácil para nós manter nosso
equilíbrio emocional quando nos sentimos vulneráveis, ligarnos com nossos
sentimentos mais profundos, e expressar a necessidade de apego que faz sempre
parte de nós. Se nós estamos nos sentindo inseguros a respeito de nossa relação,
é mais difícil confiar em nossos desejos e arriscar nossa vulnerabilidade. Nessa
situação, alguns de nós tentamos manter o controle das emoções a todo custo, a
escondê-las, em lugar de pedir aquilo de que necessitamos. Outros negam que as
emoções e as necessidades sequer existam. Mas elas continuam aí. Como o vilão
do filme In the Cut5, arguto mas perverso, murmura para Meg Ryan, a heroína
que evita toda proximidade com os outros: “Você deseja tanto que dói”.
A Conversa 4 tem duas partes: a primeira — Do que mais tenho medo? —
requer mais exploração e acréscimo de detalhes aos sentimentos mais profundos
que você percebeu nas conversas anteriores. Nesses diálogos você estava
pegando o elevador que descia na direção de suas emoções. Para descobrir suas
prioridades de apego você deve agora ir até embaixo, no térreo.
A segunda parte — Do que mais necessito de você? — é crucial, o ponto de
inflexão da TFE. Envolve ser capaz de falar aberta e coerentemente de suas
necessidades, de modo a convidar seu par para um novo diálogo, marcado pela
acessibilidade, receptividade, e engajamento, uma conversa A.R.E.

UM CASAL EM APUROS

Charlie e Kyoko são um jovem casal de imigrantes de um país asiático, cuja


cultura estabelece que o homem é o chefe da casa, e expressar emoção é uma
atitude malvista. Kyoko toma antidepressivos prescritos por seu médico quando
ficou “histérica” por ter seu pedido para entrar em uma universidade recusado.
Charlie tentou ajudála com conselhos. Mas eles consistiam quase só em dizerlhe
que não estava preparada para quaisquer dos cursos que tinha escolhido. Não é
preciso dizer que isso não funcionou. Estavam nesse ponto quando me
procuraram.
Charlie e Kyoko identificam facilmente seus Diálogos do Demônio: ele fica
emocionalmente distante e faz discursos cheios de “deveria”, enquanto ela se
esvai em invectivas raivosas e desesperança lacrimosa. Depois de poucas sessões
eles podem tocar seus pontos frágeis, embora ainda seja difícil para eles explorar
suas sensibilidades. Kyoko, pequena, moderna, falando em seu inglês rápido e
cadenciado, revela que sua infância foi cheia de regras rígidas e que era
rechaçada pela família até que se submetesse às regras.
Deduzo que Kyoko agora está alérgica a ouvir como “deveria” fazer e se sente
punida quando Charlie a ignora. Ela tenta explicar a Charlie. “É como se já
estivesse derrotada, me sentindo pequena, e você vem para assumir o controle. E
você me diz ‘Sim, você deveria se sentir pequena, agora faça isso e aquilo’.
Então brigo com você. Seu conselho só consegue me colocar mais pequena. Fico
magoada e furiosa. Então você me dita mais regras para não ficar com raiva. E
eu fico sozinha. Sem consolo.” Ela admite que o marido é “incrível” em muitos
aspectos. É responsável e consciencioso, e ela o respeita muito. Mas suas brigas
e seu distanciamento físico e emocional estão “me enlouquecendo. Acho que
você diz ‘maluca’. E só fico mais deprimida”.
Charlie, um prodígio da física, de início teve muita dificuldade em digerir o
que ouve. Sua ideia de amor era proteger a mulher de seu “aborrecimento” e
“guiála” nesse novo mundo americano. Quanto às suas próprias emoções, ele
admite que seu coração está “arrasado” com as “explosões” de Kyoko. Mas
principalmente ele minimiza sua dor e se concentra nos “problemas” da mulher.
Mas vagarosamente Charlie passa das críticas às reações de Kyoko (“Kyoko
tem um problema psicológico; ela muda como o tempo”) à discussão de suas
reações (“Tento me proteger. Não sei lidar com os acessos de raiva sem razão
dela. Nunca falamos em casa como estamos falando aqui. Esse tipo de conversa
é estranho para mim”) e finalmente, passa a explorar suas próprias emoções e
motivos (“Fico sufocado. E começo a lhe dar conselhos, e fórmulas para deixar
de ficar com tanta raiva”).
Kyoko é mais clara sobre como “pressiona” para fazer valer sua opinião e
evitar que Charlie continue a se afastar. Ela admite sua mágoa com a censura de
Charlie, e revela que se sente “rejeitada”, pois Charlie parou de fazer amor com
ela ou ter qualquer contato físico. As palavras “sufocado” e “rejeitada” parecem
ecoar por toda a sala. No final da sessão, Charlie conclui: “Acho que meu
conselho e minha lógica acabam por magoar Kyoko e fazê-la se sentir pequena.
Tentar que ela afaste os sentimentos só torna as coisas piores”. Kyoko, do seu
lado, diz que agora vê como o afastamento e a lógica de Charlie são uma defesa
contra o seu “aborrecimento”.
Eles passam para a conversa Revisitando um Momento Instável. O momento
ocorreu quando Charlie estava fora, visitando um amigo, e Kyoko, sentindo-se
solitária, ligou para ele. Mesmo tendo percebido a emoção da voz dela, Charlie
foi curto e grosso, dizendo que estava ocupado e tinha que desligar. Mas quando
revivem aquele momento são capazes de esmiuçar completamente o que
aconteceu. Kyoko revelou que estava pensando nos problemas de
relacionamento e teve essa premente necessidade de ligar para se sentir mais
tranquila. Charlie explica que, tão logo percebeu a intensidade emocional da voz
dela, ficou “ansioso” e simplesmente correu da explosão que ele temia estar a
caminho. Kyoko então admite que fica sem dúvida “loucamente aborrecida”
quando Charlie se afasta, e que pode ver como isso o confunde e o sufoca. Os
dois se sentem melhor por poderem agora entender como às vezes “perdem a
cabeça” na ligação e ficam emperrados um se queixando do outro.
Agora é tempo para Charlie e Kyoko passarem à Conversa 4 e arriscarem a
admissão de seus sentimentos mais profundos.
DO QUE TENHO MAIS MEDO?

Essa parte da conversa visa obter mais clareza emocional. Pergunto a Charlie
como Kyoko pode ajudálo a recuperar o sentimento de segurança e amor que já
experimentaram na relação. “Bem, eu não ia mais ficar ansioso nem passar um
sermão se ela parasse de explodir”, ele responde. Então o convido a falar dele e
de seus sentimentos. Ele diz que não tem certeza sobre como começar. O mundo
do sentimento é “estranho” para ele. Mas agora ele percebe, e me dá um largo
sorriso, e diz que talvez haja uma “lógica” em conseguir ouvir os sentimentos e
revelálos. Ele se volta para Kyoko e diz que a vê como mais previsível, mais
“segura”, agora que entende que ela se sente rejeitada e punida pelos seus
conselhos. Mas não tem certeza sobre como entender seus próprios sentimentos
mais profundos.
Pergunto a ele como identificou seus sentimentos nas conversas anteriores.
Por onde ele começou? Ele é um homem muito inteligente, e me diz o que nós,
terapeutas, levamos anos para aprender. Ele diz: “Oh, procuro primeiro o que me
bloqueia, o que torna difícil focar nos sentimentos. Fixo-me naquele momento
em que me afasto dos sentimentos e volto-me para a mente, buscando fórmulas”.
Eu concordo, e Kyoko, prestativa, entra na conversa dizendo-lhe: “Deve ser
como eu aprendendo inglês. Se os sentimentos são uma língua estrangeira para
você, é difícil sentirse confortável. A gente tenta afastar-se do que é estranho. O
estranho é assustador”. Charlie ri e responde à mulher: “Sim. Eu me afasto dos
sentimentos porque eles são estranhos. Não me sinto no controle. É mais fácil
desenvolver um programa de melhoria para você”.
Ele se vira para mim e faz uma segunda afirmação. “Em nossas melhores
conversas, ajudou-me o que você chama de ‘alças’ e meditar sobre elas.” Alças
são imagens, palavras ou frases descritivas que muitas vezes abrem a porta para
seus sentimentos e vulnerabilidades mais íntimos, a sua realidade emocional.
Kyoko e eu lembramos a Charlie algumas das alças que ele usou para descrever
suas reações a Kyoko: coração arrasado, sufocado, ansioso, esquisito, e fugindo.
Charlie concorda com a cabeça, mas parece em dúvida. “Para mim, é difícil
acalmar-me e ficar com essas alças”, ele murmura, “Até mesmo me fazer
pesquisar. Ouvir os sinais que deflagram meus sentimentos e pensamentos. Não
sei aonde isso vai chegar. Acho melhor pensar. Mas talvez isso não seja o
suficiente.” Balanço a cabeça em concordância e pergunto qual alça chama a sua
atenção nesse momento. Ele diz, calmamente: “Oh, isso é ób-vio. Volto-me para
mim mesmo quando não consigo suportar o desassossego, um mau presságio”.
Kyoko e eu nos recostamos um pouco. “O que ‘desassossego’, este termo
abstrato, tem a ver com qualquer coisa?”, eu falo em voz alta. Aí Kyoko entra na
conversa. Ela aprendeu, em conversas anteriores, a “desembrulhar” termos
abstratos como esse, a fim de que eles não confundam a conversa. Ela se inclina
à frente e pergunta: “Charlie, é como se você se afastasse de suas emoções e das
minhas por causa de grandes ansiedades?”. Charlie fita o chão e concorda com a
cabeça, lentamente.
Ele suspira. “Só quero manter tudo sob controle, então acho que há enorme
ansiedade. Fico sufocado quando Kyoko se aborrece comigo, e aí começo a me
sentir perdido. Não sei o que fazer.” Nesse ponto desejo chegar à raiz dos medos
dos parceiros, e então pergunto: “E quais são as maiores catástrofes que
poderiam acontecer aqui, Charlie? Do que é que você tem mais medo?”. Mas
não preciso insistir. Charlie chega lá por iniciativa própria. “A palavra ‘arrasado’
fica martelando na minha cabeça”, ele diz. “Se permaneço e ouço como Kyoko
está aborrecida, eu vou ficar arrasado. Vou perder o controle. A explosão vai nos
matar.” Charlie revelou um bocado. Temos que minerar um pouco este
momento. Então, vou afastando pedra por pedra, ajudando Charlie a estender-se
sobre o tema. É sempre melhor começar identificando a emoção.
Pergunto: “Então, Charlie, a emoção básica que percebo é medo. Estou
certa?”. Ele balança a cabeça, solenemente concordando. “Eu o sinto mesmo
aqui”, e bate com a mão no peito. então eu continuo: “Mas o que esse medo diz a
você? Quais são os terríveis ‘e se’ ... nessa hora? Talvez, se você não ficar
totalmente calmo, Kyoko ficará ainda mais descontrolada? Talvez, você vá ouvir
que ela deseja alguma coisa que não sabe como dar? Se você ficar receptivo e
ouvir que sua mulher sofre, então você não foi o marido perfeito que deveria ter
sido? Então você poderia perdêla completamente?”. Charlie concorda
vigorosamente: “Sim, tudo isso. Tudo isso. Tentei o máximo. Mas o que sei fazer
não funciona. Quanto mais tento que ela fique razoável, mais tudo piora. Então
fico desamparado. Totalmente desamparado. Sou competente em tudo o que
faço. Sigo as regras. Mas agora...”. Ele abre as mãos num gesto de derrota.
Nós todos não queremos uma ou duas regras infalíveis para amar e ser
amado? Mas o amor é improvisação. E Charlie amputou seu melhor guia, as suas
emoções e as de sua mulher.
Pergunto a ele: “Percebendo agora esse sentimento de medo e de desamparo,
qual é a maior ameaça, a mensagem mais aterradora? Você pode contar a
Kyoko?”. Ele se empertiga na cadeira e fala em voz alta: “Eu não sei como fazer
isso. Não tenho ideia”. Ele se vira mais para Kyoko, e continua: “Não sei o que
fazer quando você não está feliz comigo. E você pode explodir a qualquer
momento. Com você nunca me senti seguro de mim. E preciso me sentir. Estou
muito triste. Cruzamos o mundo juntos. Se eu te perder...”. Ele chora. Kyoko
chora junto.
O que aconteceu agora? Charlie se enredou nas emoções mais profundas e
deixou-as expressar sua necessidade de uma ligação emocional segura com sua
mulher. Compôs uma mensagem de apego coerente tirada de seu torvelinho
emocional. Quando olho, ele está sorrindo para mim. Não parece sufocado ou
desamparado. Pergunto: “Como se sente, Charlie, depois de dizer tudo isso?”.
“Muito estranho”, ele responde.
“Sintome bem agora, ser capaz de dizer essas coisas. Não fiquei arrasado.
Kyoko ainda está aqui, e de alguma forma me sinto mais forte.” Quando
examinamos e damos um sentido à nossa experiência, ou como coloco,
“ordenamos e purificamos”, não importa o quanto seja doloroso o processo, há
uma sensação de alívio e fortalecimento.
Aquele é um Charlie novo, mais acessível. A maneira pela qual Kyoko
responde nesse momento é crítica. Muitas vezes, em relacionamentos infelizes,
quando uma pessoa assume o risco e se abre, a outra não percebe ou fica com
medo de confiar na revelação. Já ouvi parceiros rejeitar os novos passos da
pessoa amada com todo tipo de comentários, desde “Isso é ridícu-lo” até
“Vejamos se você pode provar”. E então voltam aos Diálogos do Demônio.
A verdade é que ninguém assume o risco de ser repudiado por se abrir, como
Charlie assumiu, se a outra pessoa não lhe importa muito. E algumas vezes os
parceiros que se expressam devem estar dispostos a ficar repetindo a mensagem
até que a pessoa amada comece a vêlos de outra maneira. Casais enredados em
Diálogos do Demônio também podem seguir adiante repetindo as Conversas 1, 2
e 3.
Felizmente, para Charlie e Kyoko, ela reage com apoio à abertura dele.
“Entendo muito mais agora como você se meteu naquele lugar frio e racional, e
acabou me dando instruções”, ela diz. “Nunca soube que era tão importante para
você para magoálo tanto. Respeito-o por estar fazendo esse tipo de revelação.
Fico muito mais unida a você.” Charlie apenas sorri e dá uma ou duas voltas na
cadeira.
A capacidade de prestar atenção nas revelações mais íntimas de nosso par é o
início de uma capacidade de reação emocional e de engajamento mútuos. A
expressão “prestar atenção” deriva do latim ad tendere, que significa “estender a
mão para”. Kyoko estendeu a mão para Charlie.
Agora é a vez de Kyoko revelar suas emoções e ver se Charlie presta atenção
nelas. Ela volta ao Momento Instável e diz a Charlie: “Quando você chegou em
casa, eu disse que estava aborrecida e você disse ‘Agora não fique furiosa
comigo’, e que se não parasse com meus acessos de raiva, você talvez tivesse
que me deixar. Isso foi o fundo do poço para mim. Eu nem sempre consigo ser
calma e racional”. Charlie parece desconfortável e sussurra um “desculpe” entre
dentes. Ele admite que realmente não entende a mágoa dela nessas horas.
Kyoko aperta o botão de descida do elevador emocional e desce mais alguns
andares. Ela começa: “Sintome muito triste de ver que já não podemos mais
continuar juntos”. Charlie faz que sim com a cabeça e responde: “Mas não
precisa ficar, pois estamos trabalhando nossa relação”. Ele pensa, balança a
cabeça, e continua: “Acho que vou tentar entender a sua mágoa. Qual foi o
momeno pior, o sentimento pior para você?”. É uma pergunta muito boa, e ao
fazê-la Charlie ajudou Kyoko a ir ao fundo da questão.
Mas Kyoko não pode responder. Ela fica sentada em silêncio, e grossas
lágrimas correm-lhe pelo rosto. Charlie acaricia seu joelho. “Só falo que você
está louca porque fico com medo dos pensamentos ruins entre nós”, ele sussurra.
Kyoko conta: “Os piores momentos foram quando você desligou o telefone e
quando disse que ia me abandonar. Eu era muito ‘insensata’, você disse”.
Charlie, agora bastante preocupado, diz: “Não sei como posso melhorar tudo.
O que devo fazer?”, ele pergunta, virando-se para mim. “Para melhorar, Kyoko
precisa sentir que você está ao lado dela”, respondi. “Deixála sentir que você se
preocupa com a sua dor.” Ele arregala os olhos com incredulidade. Ela continua:
“Se fico triste, assustada ou aborrecida, você simplesmente desliga. Você não me
consola. E agora não fazemos mais amor nem você me abraça. Justo quando
preciso de você, você se fecha em desaprovação. Você se afasta e me descarta.
Não sou a mulher que você deseja”.
É triste ouvir Kyoko expressar uma torrente de rejeição e desamparo. Não
estranha que às vezes ela perca o equilíbrio e fique enredada em protestos
raivosos ou em depressão. Mas nesse momento ela é clara e precisa: “Quando
você me ignora, e aferra-se às suas regras, é como se eu morresse. Nunca me
senti tão sozinha”. Agora ela olha diretamente para ele. “Charlie, você não está
disponível, não está junto de mim. Então entro em pânico. Você me entende?”
Ele procura as mãos dela e as prende entre as suas. Balança repetidas vezes a
cabeça: “Sim, sim, sim”. Calmamente, Charlie diz: “É triste, ouvir isso. Estou
triste”. E está. Sua presença emocional é tão palpável quanto a cadeira em que se
assenta. Kyoko transformou sua clara consciência dos sentimentos mais
profundos num nítido sinal de apego para o amado. Ela destilou a pior dor, o
código primal da perda e pânico que ecoa quando nosso amado não está
disponível, e ele a ouviu.
Os dois se conectaram às suas realidades emocionais e se revelaram para o
outro.

JOGUE E PRATIQUE

Charlie faz uma série de ações que fazem uma real diferença em como ele se
conecta e expressa suas emoções mais profundas. Veja se você pode se lembrar,
ou voltar, e encontrar exemplos do seguinte:
• Charlie começa a examinar o momento atual e como é difícil conectar com seus sentimentos. O que o
impede de dizer o que sente?
• Charlie identifica algumas alças de conversas anteriores e expõe à luz as imagens, frases ou
sentimentos. E quando olha atentamente, ele pode ver que na realidade elas são representações de
medo, vergonha, ou tristeza e perda.
• Charlie identifica terríveis “e se...”, as piores coisas que podem acontecer se ele reconhece os
sentimentos da parceira. Listar as consequências catastróficas revela seus medos mais arraigados: que
ele vai ficar desamparado e sozinho. Esse é um momentochave da Conversa 4.
• Charlie revela seus medos à mulher e reflete como é partilhar esses sentimentos profundos com ela.
• Agora observe as revelações de Kyoko e tente responder às seguintes questões:
• Qual foi o pior momento para Kyoko?
• Qual é a catastrófica conclusão a que ela chega?
• Nomeie quatro coisas que Charlie faz quando Kyoko está triste e assustada e que ampliam sua
ansiedade de separação. Kyoko as descreve com palavras de ação.
• Quais são as emoções mais arraigadas de Kyoko?

Volte a um Momento Instável em seu relacionamento atual e descubra suas


próprias alças e as anote. Peça ao seu par que faça o mesmo. Depois sente-se
com ele ou ela. Qual dos dois é o mais fechado? Este parceiro inicia a conversa.
Essa escolha se deve ao fato de que é mais difícil para os pares que protestam
com mais intensidade, normalmente mais sintonizados com suas mágoas e
medos, começar a se aproximar sem sinal de engajamento da parte de seus
parceiros mais reservados. Se você é o mais reservado, siga os passos de Charlie
e sintonize seus medos mais arraigados, expresseos e diga o que sente ao
revelálos.
Se você for quem esteja ouvindo, responda como se sente ao ouvir as
revelações. Foi mais fácil ou mais difícil entender a mensagem? Se foi mais
difícil, em que momento ficou difícil ouvir? Qual sentimento aflorou então?
Examinem juntos os sentimentos.
Agora quem estava ouvindo repete o processo de revelação.
Essa conversa será especialmente benéfica para os casais angustiados, mas
também é valiosa para os que têm relações seguras. Todos nós temos ansiedades
de separação, mesmo que não sejam críticas ou tenham urgência no momento.
Acima de tudo, tenha em mente que essa é uma conversa sensível: os dois
estão expondo sua vulnerabilidade mais profunda. Cada um deve respeitar o
risco que o outro está assumindo. Lembrese,os dois estão dando este passo
porque são especiais um para o outro, e estão tentando criar um tipo muito
especial de vínculo amoroso.

DO QUE MAIS PRECISO DE VOCÊ?

Ser capaz de expressar nossos medos mais arraigados leva naturalmente ao


reconhecimento de nossas necessidades primárias de apego. Medo e anseio são
as duas faces da mesma moeda.
A segunda parte da Conversa 4 envolve diretamente expressar as necessidades
de apego que no momento somente seu par pode satisfazer.
Essa conversa pode ser tranquila e fácil, ou pode ser tensa e ter dúvidas. Uma
coisa é admitir e reconhecer sua própria realidade emocional, e outra, expressála
para seu parceiro. É um grande salto para aqueles dentre nós que tivemos pouca
experiência de segurança real com os outros. Então por que o fazemos? Porque
ansiamos por ligação, e ficarmos na defensiva e isolados é uma coisa triste e
uma maneira vazia de vivermos. A autora Anaïs Nin expressa essa ideia de
forma sensível: “E chegou o dia em que o risco de continuar preso no botão era
mais doloroso do que o risco de florescer”.
Rosemary, uma cliente, a coloca de outra maneira. No Canadá jogamos
hóquei. Algumas vezes até achamos que a vida é uma partida de hóquei!
Rosemary, uma jogadora fanática pelo esporte, vira-se para o parceiro André e
fala: “Estou usando esta máscara. E tenho que tirála se quero que você saiba do
que preciso e eu peça o que eu quero. Uma parte de mim diz que me revelar
dessa forma é como se estivesse pedindo para ser atingida no rosto, como fui
naquele jogo de hóquei no mês passado. Se mantenho a máscara não é porque
não o ame, ou porque é um mau parceiro. É porque sempre jogo na defesa.
Mudar e pedir. Essa é uma posição completamente nova. E isso é aterrador. Mas
se sou sincera, fico inútil atrás da máscara. E desse jeito não consigo vencer o
jogo”.
Voltemos a Charlie e a Kyoko e vejamos como eles avançaram até a parte
crucial da Conversa 4. Provoco Charlie: “Do que é que você necessita de Kyoko
neste momento para se sentir mais, como você diz, “seguro e livre de riscos”? O
que você deseja, Charlie? Você pode dizer a Kyoko exatamente o que você quer
dela? Ele medita por um momento e depois se vira para ela e começa. “Preciso
saber se quando não sou o marido perfeito e fico confuso, e não sei o que fazer,
você ainda quer ficar do meu lado. Talvez mesmo quando você está aborrecida.
Mesmo que eu me sinta sufocado e cometa erros, e fira seus sentimentos. Preciso
saber que você não vai me deixar. Quando você fica deprimida ou muito furiosa,
parece que você já me deixou. Sim, é isso mesmo. Já falei disso”. E então, como
se percebesse de repente o risco que tinha assumido, afasta-se e coça
nervosamente os joelhos. E diz em voz baixa: “É muito difícil para mim pedir.
Nunca pedi a ninguém uma coisa dessas”.
A óbvia emoção no rosto de Charlie sensibiliza Kyoko. Ela responde com
suavidade, mas com firmeza: “Charlie, estou aqui, do seu lado. É tudo o que eu
quero, ficar com você. Não preciso de um marido perfeito. Se podemos falar
como estamos falando, podemos ser novamente unidos. É tudo o que eu sempre
quis”. Charlie parece aliviado e um pouco aturdido. Dá uma risadinha e fala:
“Oh, isso é bom, muito razoável mesmo”. Ela o acompanha na risadinha.
Quando é a vez de Kyoko expressar suas necessidades, ela começa
examinando como agora ela sabe que seu desejo de tranquilização e consolo é
“respeitável e até natural”. Isso a ajuda a pensar no que necessita de Charlie.
Mas então ela se desvia do curso. Olhando para o teto, passa a falar na terceira
pessoa: “Acho que quero que ele...”. Eu interrompo, e peço que ela ouça seus
sentimentos mais profundos, vire a cadeira na direção de Charlie e fale
diretamente a ele.
Kyoko se vira, e respira fundo. “Quero que você aceite que sou mais emotiva
que você e que isso é normal. Não é um defeito que eu tenho. Não há nada de
errado comigo se não encontro consolo em razões e sermões. Quero que você
fique comigo, mais unido, para me mostrar que se importa comigo quando não
me sinto forte. Quero que você me toque, me abrace, e diga que sou muito
importante. Só quero que fique do meu lado. Isso é tudo o que eu preciso.”
Charlie fica completamente perplexo. Ele diz: “Quer dizer que você só quer
que eu me aproxime mais?”. Kyoko pergunta-lhe: “Como é me ouvir dizer essas
coisas?”. Ele balança a cabeça. “É como se eu estivesse trabalhando tanto para
nos manter nesse caminho, que não vi um caminho mais simples e fácil mesmo
ao lado.” Então ele sorri suavemente: “Sintome bem. Assim está melhor. Posso
conseguir. Posso conseguir, ao seu lado”.
Tanto Charlie quanto Kyoko agora estão sintonizados em suas necessidades
que vêm do âmago, e podem dar sinais coerentes sobre essas necessidades ao
parceiro. Eles podem fazer o que parceiros com vínculos seguros podem.
Conhecendo e confiando em suas próprias emoções e ultrapassando seus medos,
eles estão mais fortes, tanto individualmente quanto em conjunto. Quando
conseguem isso, os casais podem mais facilmente acertar conflitos e
divergências, e criar uma ligação estimulante e amorosa.
Charlie e Kyoko não apenas ficaram mais acessíveis, receptivos e engajados
um com o outro, mas também ampliaram seu sentimento de quem são
individualmente. Kyoko está mais afirmativa, e Charlie está mais acessível.
Agora que sabem como convidar o outro para uma conversa A.R.E., podem
ajudar-se mutuamente a crescer no plano pessoal.
Vejamos os momentoschave da conversação Abrace-me Apertado de outros dois
casais. Esses pares têm histórias pessoais mais conturbadas e um sentido de
segurança emocional mais frágil do que Charlie e Kyoko. Contudo, eles também
são capazes de chegar ao fundo do coração.
Diane e David brigaram durante seu relacionamento de 35 anos, por entre a
névoa do medo, da privação e da depressão herdados de suas histórias de abuso e
violação por aqueles de que precisavam mais. No início de nossas sessões, Diane
disse a David: “Tenho que ir embora. Não posso ficar atormentada toda vez que
você fica assustado. Ficar no meu quarto dias a fio já não funciona mais. Não
posso viver atrás dessa parede”. Agora, na conversa Abrace-me Apertado, ela
diz a David: “Te amo. Quero ficar junto de você, mas não posso ser empurrada.
Quero me sentir segura com você. Quero que me dê espaço para me mover, me
ouvir quando digo que estou ficando sufocada. Você tentar mover meus pés em
sincronia com os seus não funciona. Depois de todos esses anos, quero que você
acredite que não vou deixar você se afastar, nós nos afastarmos. Quando
dançamos juntos é maravilhoso. Quero que ajude a sentir-me segura, e só depois
me peça, me procure. Então posso responder ao chamado e dançarmos”.
Quando é a vez de David falar de suas necessidades, em vez de canalizar sua
ansiedade por apego para comentários hostis sobre Diane, ele fala de seu medo
de perda e da outra face do medo, sua necessidade de conexão. Ele tem uma
mensagem coerente, que leva sua mulher em conta, e que claramente reflete suas
emoções e necessidades mais intensas. É uma “conversa segura”. Não
intelectualiza e, portanto, não descamba para a raiva, em reação, nem para a
fuga. Ele agora pode aproximar-se da mulher.
“Não sei como dizer isso”, ele começa. “É como se eu estivesse no exército e
saltando de aviões. Só que aqui não há nenhum paraquedas. Sou uma pessoa
medrosa, Diane. Aprendi a espreitar o perigo, toda a vida. Acho que é muito
difícil para mim não ir direto para o modo tomar conta. Mas agora eu sei que
minha atitude faz você sofrer e afastar-se de mim.” Ele fica em silêncio por uns
instantes, depois continua. “Uma parte de mim está sempre com medo de que
você realmente não me ame. Estou sempre pressionando para ter este
reconhecimento, para saber que sou importante para você. Estou sempre
querendo essa confirmação. Querendo saber se sou amado, mesmo com todos os
meus problemas, meu temperamento. Mas é tão difícil para mim perguntar.
Estou em queda livre! Preciso dessa certeza. E não consigo perguntar. Você pode
me amar com todos os meus problemas?”
O rosto de Diane mostra que ela vê a dor e o medo, então ela se inclina para
ele e diz, muito vagarosamente e determinada: “Eu te amo, David. Te amo desde
que tinha 16 anos. E não saberia como parar agora. Quando fala assim me dá
vontade de te abraçar e nunca soltar”.
Um sorriso de orelha a orelha surge no rosto dos dois.
Phillipe e Tabitha são muito diferentes de David e Diane. Os dois tiveram
primeiros casamentos infelizes e estão muito empenhados em suas carreiras
lucrativas e de sucesso. A crise na sua relação, que começou há cinco anos, é que
toda vez que planejam morar juntos Phillipe muda de opinião. Os dois são
pessoas altamente intelectualizadas, muito talentosas, e que tendem a se fechar
sempre que a tensão emerge. Phillipe puxa o elegante chapéu sobre os olhos e se
refugia na religião ou em sua platônica amizade com outras mulheres, enquanto
Tabitha vai às compras atrás de roupas mais elegantes ou objetos de arte, ou
imerge num frenesi de projetos de trabalho. Os dois estão um pouco surpresos de
não poderem se separar, e Tabitha finalmente deu a Phillipe um ultimato. Venha
viver comigo ou a relação está terminada.
A posição inicial de Phillipe é resumida nesta declaração: “Não acredito em
pessoas que precisam de par. Decidi há muito tempo que isso era pura tolice.
Tenho muitos amigos e estou melhor sozinho. Nunca soube como fazer esse
chamego idiota”. Agora ele fala a Tabitha: “Compreendo que toda vez que nos
sentimos realmente unidos, quando o compromisso surge, uma parte de mim
entra em pânico e fecha a porta. Acho que decidi há muito tempo não colocar
mais todos os meus ovos numa única cesta. Nunca dar a ninguém aquele poder
de me magoar, me tiranizar novamente. Para mim, é muito difícil admitir que
desejo seu carinho, me colocar em suas mãos. Mesmo agora, quando digo isso,
há um oceano de lágrimas esperando por mim. Preciso saber que você nunca vai
se afastar e me rejeitar. Revejo-me quando menino e sendo mandado sair de casa
quando minha mãe ficou doente. De certo modo, aquele menino é quem me diz
para correr quando começo a sentir essa falta de você. Quero deixar que você se
aproxime. Você pode me ajudar a aprender a confiar? Pode me garantir que não
vai se afastar não importa o que aconteça?”.
Tabitha é capaz de garantir, e continuar garantindo, enquanto o casal vai se
movendo em direção a uma conexão mais profunda. Quando chega a sua vez de
participar da conversa A.R.E. ela é capaz de dizer: “Até certo ponto sei que você
é impelido a se afastar de mim pelo seu medo. Mas eu preciso saber que sou tão
importante, que você vai lutar contra o medo. Não posso suportar tanta
insegurança. Magoa demais. Quero que você invista em nós, em nossa relação.
Eu te amo, e acho que pode confiar em mim. Mas preciso dessa estabilidade, um
lugar em que possa contar com você. É difícil dizer isso. Fico temerosa de não
ser boa o suficiente, perfeita o suficiente, para pedir isso. Fico matutando que
talvez seja culpada por você ainda ter medo e que talvez eu peça muito. Acho
que no passado isso me impediu de passar essa linha. Será que realmente
mereço? Tenho direito? Bem, tenha ou não, quero o seu compromisso de que vai
me deixar ser importante para você! Não posso me arriscar mais sem um lugar
seguro. É muito assustador, muito dolorido. Quero que você se arrisque a se abrir
comigo. Não vou deixálo na mão!”.
Phillipe, visivelmente emocionado pelas palavras dela, responde suavemente:
“Sim. Acho que você quer ficar comigo. E merece correr o risco. Fiquei
enredado em meu próprio medo, muito temeroso de abrir-me.Mas não posso
perder você. Portanto, estou investindo, e estou garantindo, mesmo que seja
assustador”.
Uma vez que Phillipe é capaz de dar a ela essa garantia de uma maneira
segura e amorosa, o relacionamento se abre numa base segura para os dois.
A NEUROCIÊNCIA DA HARMONIA

Minha pesquisa mostra que toda vez que um casal tem uma conversa Abrace-me
Apertado ocorre um momento de profunda conexão emocional. Os físicos falam
de “ressonância”, uma vibração de empatia entre dois elementos que lhes
permite sin-cronizar os sinais repentinamente e agir em uma nova harmonia. É a
mesma vibração que ouço nos clímaces de uma sonata de Beethoven, quando
uma centena de sons se juntam. Cada célula de meu corpo responde, fundindo-
me e à música numa coisa única. Quando observo momentos semelhantes entre
mãe e filho, entre pessoas que se amam, entre pessoas que buscam e encontram
uma conexão profunda, minha resposta é sempre a mesma: inunda-me uma
alegria repentina.
Essa sensação de conexão é expressa não apenas por nossos sentimentos, mas
por todas as nossas células. Quando os parceiros respondem com empatia entre
si, sei pelas minhas recentes pesquisas que células nervosas específicas,
chamadas de neurônios-espelho, no córtex préfrontal de seus cérebros, estão
zumbindo. Os neurônios parecem ser um dos mecanismos básicos que nos
permitem sentir efetivamente o que outra pessoa está experimentando. É um
nível de entendimento diferente de quando percebemos, por meio de nosso
intelecto, o que a outra pessoa sente. Quando observamos uma pessoa agir, essas
células cerebrais disparam, como se nós mesmos estivéssemos executando a
ação. Neurônios-espelho são parte de nossa herança “programada para
conectar”, e nos preparam para amar e ser amado.
Os neurocientistas descobriram os neurônios-espelho acidentalmente, em
1922, quando um pesquisador, que estava mapeando um cérebro de macaco e
tomando um sorvete, observou que o cérebro de macaco se iluminava como se
ele também estivesse tomando o sorvete. Os neurônios nos permitem interpretar
intenções e emoções, e literalmente trazer o outro para o nosso interior. Os
neurocientistas, tomando emprestada a física, agora falam de estados de
reverberação de ressonância empática. Isso soa muito abstrato. Mas significa
para os que amam, que existe um poder tangível no ato de olhar para o outro.
Ajudanos a estar emocionalmente presentes e captar os sinais não verbais do
nosso par. Isso cria um nível de engajamento e empatia que se perde numa
conversa menos direta. Neurônios-espelho nos permitem captar a emoção
expressa pelo outro, e sentir essa emoção dentro de nosso corpo. É a validação
científica do conceito de apego, segundo o qual a conexão autêntica com o outro
é “sentir o sentimento”.
No início das sessões, Charlie e Kyoko não mostravam empatia. Mal se
olhavam, e pareciam falar línguas diferentes. Durante a conversa Abrace-me
Apertado, contudo, quando os cantos da boca de Charlie se inclinavam para
baixo e suas pálpebras pendiam, as de Kyoko também começavam a pender.
Quando ele ria, ela sorria. A canção emocional dele virou um dueto. Esse tipo de
capacidade de reação emocional parece ser o coração da emoção com empatia,
em que nós literalmente sentimos com e para o outro, e daí naturalmente agimos
mais amorosamente.
Esse, certamente, é o mesmo tipo de engajamento de corpo, espírito e emoção
que os casais felizes sentem quando fazem amor, ou que a mãe e o bebê sentem
quando se olham, tocam e se arrulham. Eles estão se movendo em sincronia
emocional, sem pensamento consciente ou necessidade de palavras. Há
tranquilidade e alegria.
Mas os neurônios-espelho não são a explicação total. Um número
considerável de estudos recentes traz novas descobertas sobre a base
neuroquímica do apego. Essas pesquisas mostram que em momentos de
engajamento emocional intenso, nossos cérebros são inundados de oxitocina.
Apelidada de “hormônio do amor”, a oxitocina, que é produzida apenas pelos
mamíferos, está associada a estados de felicidade plena. O hormônio parece criar
uma cascata de prazer, bem-estar e calma.
Os pesquisadores descobriram o poder da oxitocina quando compararam os
hábitos de acasalamento de dois diferentes tipos de ratos do campo. Em uma
espécie, ratos machos e fêmeas são monógamos, cuidam dos filhotes juntos e
formam vínculos para toda a vida; em outra, machos e fêmeas se limitam a um
encontro e deixam que a prole cuide de si. Os roedores fiéis produzem oxitocina;
seus primos promíscuos, não. Contudo, quando cientistas deram aos monógamos
uma substância química que neutraliza a oxitocina, esses roedores faziam sexo,
mas não estabeleciam vínculos com os parceiros. E quando pesquisadores deram
aos mesmos roedores doses extras de oxitocina, eles estabeleciam fortes
vínculos, quer acasalassem ou não.
Nos humanos, a oxitocina é liberada quando estamos próximos, ou em contato
físico, com alguém por quem sentimos apego, especialmente nos momentos de
emoção intensificada, como o orgasmo e amamentação. Kerstin Uvnas-Moberg,
um neuroendocrinologista sueco, descobriu que o fato de apenas pensar na
pessoa amada gera liberação de oxitocina. A oxitocina também reduz a produção
de hormônios do estresse, como o cortisol.
Estudos preliminares indicam que a administração de oxitocina a humanos
aumenta a tendência a confiar e interagir com os outros. Essas descobertas
ajudam a explicar minhas observações segundo as quais quando parceiros
angustiados aprendem a abraçar o outro, eles continuam procurando o outro com
frequência, tentando criar esses momentos de transformação e satisfação.
Acredito que as interações A.R.E. ativam essa poção neuroquímica do amor,
aperfeiçoada por milhões de anos de evolução. A oxitocina parece ser a maneira
de a natureza promover o apego.

JOGUE E PRATIQUE

Releia a descrição de Charlie e Kyoko, dando novamente o passo para uma


conexão segura.
Pense sozinho numa relação passada segura com uma pessoa amada, os pais
ou um amigo íntimo. Imagine que essa pessoa está na sua frente agora. Se fosse
contar a ele ou ela a sua mais profunda necessidade de apego, qual seria? Como
acha que ele ou ela lhe responderia?
Considere agora uma relação passada na qual não se sentia seguramente
conectado. O que foi que você realmente necessitou dessa pessoa? Tente
expressar isso em duas frases simples. Como ele ou ela teriam respondido?
Agora passe para o relacionamento com seu atual par. Pense naquilo de que
mais precisa a fim de se sentir seguro e amado. Escreva. Depois comece essa
conversa para valer com o seu par.
A seguir há uma lista de algumas frases que os parceiros usam nessa conversa.
Se ajudar, você pode apenas assinalar a que melhor se adapta a você e mostrar a
seu par.
Eu preciso sentir, perceber que:
• Sou especial para você, e que você realmente valoriza a nossa relação. Preciso da reafirmação de que
sou o número um para você, e que nada é mais importante do que nós.
• Sou desejado por você, como parceiro e como amante, e que me fazer feliz é importante para você.
• Sou amado e aceito com meus defeitos e imperfeições. Eu não sou capaz de ser perfeito.
• Você necessita de mim. E me quer próximo.
• Estou a salvo porque você se importa com meus sentimentos, sofrimentos e necessidades.
• Posso contar que você estará disponível para mim, que não vai me deixar sozinho quando eu mais
precisar.
• Serei ouvido e respeitado. Por favor, não me rejeite nem passe a pensar o pior de mim. Dê-me a
chance de aprender a estar do seu lado.
• Posso contar que você vai me ouvir e deixar tudo de lado.
• Posso pedir que me abrace e que entenda o quanto é difícil para mim pedir.

Se isso é muito penoso, dê um passo menor e fale da dificuldade de formular e


expressar claramente as suas necessidades. Diga ao parceiro se existe alguma
maneira de ele ou ela o ajudarem no processo. Esse diálogo contém o drama
emocionalchave de nossas vidas, então às vezes precisamos chegar até lá
vagarosamente.
Se você for o parceiro que está ouvindo e se sentir inseguro sobre como
responder, ou muito ansioso para responder, diga isso. Estar disponível é o
segredo aqui, muito mais do que responder de determinada maneira. Confirmar
que você ouviu a mensagem do parceiro, que aprecia o que ele ou ela estão
compartilhando, e que você deseja ser receptivo, é um primeiro passo positivo.
Então será possível explorar como começar a satisfazer as necessidades de seu
amado.
Com o par, examine qual das histórias dos outros parceiros — David e Diane,
ou Phillipe e Tabitha — emociona mais a vocês.
Depois que os dois tenham tido a conversa Abrace-me Apertado, anote as
afirmaçõeschave que cada um fez. Num casal heterossexual, a parceira
provavelmente vai achar essa tarefa mais fácil. Muitos estudos mostram que a
mulher retém lembranças mais fortes e mais vívidas de eventos emocionais do
que os homens. Isso parece ser o reflexo de diferenças psicológicas no cérebro, e
não um sinal do nível de envolvimento na relação. Se necessário, a mulher pode
ajudar um pouco os homens nessa hora.
As afirmaçõeschave ajudarão os dois a esclarecer seus dramas internos e
externos e guiálos nas futuras conversas Abrace-me Apertado.
A conversa Abrace-me Apertado é um evento que aumenta positivamente o
vínculo. Ela oferece antídoto para momentos de desengajamento e ciclos
negativos, e possibilita aos casais enfrentarem o mundo juntos, como uma
equipe. Mas acima de tudo, cada vez que for possível criar esses momentos de
ressonância emocional, o vínculo entre vocês ficará mais forte. O poder dessas
conversas para conectar e transformar as relações fica claro. Essas trocas têm
impacto em todos os outros aspectos dos relacionamentos, como se verá nas
próximas conversas.
Conversa 5:
Perdoando ofensas
“Todos dizem que o perdão é uma ideia maravilhosa,
até que tenham alguma coisa a perdoar.”
C. S. LEWIS

onrad e a mulher, Helen, estão imersos na conversa Abrace-me

C
Apertado, e o ar está zunindo de tanta vibração emocional. “Deixeme
abraçála”,Conrad supli-ca. “Conte-me o que você deseja.” Helen vira-se
para ele e sorri, como se estivesse pronta para responder à indagação.
Mas num segundo seu rosto fica sem expressão. Ela fixa o olhar no
chão. E então, numa voz etérea, ela diz: “E eu estava lá, estava sentada
na escada, e disse a você, ‘O médico acha que provavelmente tenho a doença.
Câncer no seio. Estive esperando toda a minha vida, sabendo que iria acontecer.
Minha mãe morreu de câncer. Minha avó também. E agora é a minha vez’”.
Sua voz muda; ela parece atordoada. “E você chegou-se a mim e me tocou —
ela esfrega o ombro, como se ainda estivesse sentindo o toque — e disse
‘Anime-se!Não vale a pena atormentar-se e ficar angustiada se ainda não há
certeza. Fique calma, e vamos discutir isso mais tarde’. Você subiu as escadas
para o seu escritório e fechou a porta. E demorou demais a descer. Você me
deixou sozinha sentada na escada. Você me deixou morrendo na escada.”
Então sua voz muda novamente. Num tom animado e direto me diz que ela e
Conrad fizeram grande progresso na terapia e já não têm mais as terríveis brigas
que os fizeram vir me ver. De fato, as coisas estão tão bem, que provavelmente
não haja mais nada a discutir. Conrad está confuso e intrigado com o que acabou
de acontecer. A conversa na escada ocorreu há mais de três anos, e a
desconfiança do médico estava errada — Helen não tinha câncer de seio.
Ansioso por não alimentar o problema, ele rapidamente concorda com a
avaliação da esposa de que a terapia está indo muito bem e não há mais nada a
discutir.

PEQUENOS EVENTOS, GRANDES


CONSEQUÊNCIAS

Já vi esse tipo de abrupta desconexão ocorrer antes. Casais estão fazendo


progresso constante, sentimentos de ternura fluem, e então... bum! Um dos
parceiros cita um evento, algumas vezes um de menor importância, e é como se
o oxigênio tivesse sido sugado da sala. Imediatamente, a esperança tépida se
transforma numa desesperança gelada.
Como é possível que um pequeno incidente tenha esse tipo de poder
irresistível? Bem, claramente não se trata de um incidente menor. Para um dos
parceiros, pelo menos, é um incidente doloroso.
Durante décadas de pesquisa e terapia, descobri que certos incidentes fazem
mais do que simplesmente arranhar nossos pontos frágeis ou “magoar nossos
sentimentos”. Eles nos ferem tão intensamente, que viram nosso mundo de
cabeça para baixo. São traumas de relacionamento. No dicionário, trauma é
definido como uma ferida que nos mergulha no medo e na impotência, que
desafia todas as nossas presunções de previsibilidade e controle.
Essas feridas são especialmente doloridas, observa Judith Herman, professora
de psiquiatria na Harvard Medical School, quando envolvem uma “violação da
conexão humana”. Sem dúvida, não há trauma maior do que ser magoado
exatamente pelas pessoas com quem contamos para nos dar apoio e nos proteger.
Helen e Conrad chegaram ao ponto de ficar cara a cara com um trauma de
relacionamento. Muito embora o incidente da escada tenha sido há três anos, ele
permaneceu vivo, impedindo qualquer possibilidade de Helen aproximar-se do
marido. De fato, desde o incidente, Helen ficou irritável e precavida com o
marido, ora relembrando vividamente o incidente, ora entrando num estado de
letargia e evitando proximidade. Ficar sempre na defensiva, e em estado de fuga,
e ter flashbacks, são os indicadores clássicos do estresse traumático. Quando
Helen tentou discutir suas sensações, Conrad minimizou o incidente, deixando-a
ainda mais angustiada. Então agora, quando Conrad pede a Helen que se arrisque
com ele, coloque-se em suas mãos, ela instantaneamente se lembra do tempo em
que estava totalmente vulnerável. Um alarme soa, e ela se recusa a exporse
novamente. Chamo a isso de momento do “Nunca Mais”. Não admira que a
conversa Abrace-me Apertado chegue a um beco sem saída.
A falta de uma resposta que traga apoio emocional por parte da pessoa amada
num momento de ameaça pode contaminar toda a relação, observam os
pesquisadores Jeff Simpson, da Universidade de Minnesota; e Steven Rholes, da
Universidade Texas A&M. Pode eclipsar centenas de eventos positivos menores
e, de uma guinada, demolir a segurança de uma relação amorosa. O poder desses
incidentes reside na resposta negativa que oferecem à questão eterna: “Você
estará disponível quando eu mais precisar de você? Você se importa com a
minha dor?”.
Não há muito espaço para meiotermo ou ambiguidade quando sentimos esse
tipo de necessidade urgente de apoio da parte da pessoa amada. O teste é ser
aprovado ou reprovado. Esses momentos podem fazer ruir todas as nossas
presunções positivas sobre o amor e a confiança depositada na pessoa amada,
levando ao início da quebra do relacionamento ou ao desgaste de um vínculo já
frágil. Até que esses incidentes sejam enfrentados e resolvidos, a verdadeira
acessibilidade e o engajamento emocional estão fora de questão.
Quando meu colega e eu começamos a ver gravações de conversas Abrace-me
Apertado, pensamos que as feridas que destroem a relação eram sempre traições.
Só que traição não se encaixava exatamente no que imergia quando ouvimos
parceiros feridos investigando sua dor. “Houve montes de mágoa e tempos
difíceis em nossa relação”, Francine explica a Joseph, que teve um affair com
uma colega. “Posso aceitar que se sentiu negligenciado quando os gêmeos
nasceram, e que você estava sexualmente frustrado quando encontrou essa
mulher. Posso até entender como seu relacionamento com ela simplesmente
aconteceu, e que você foi na onda. Não é o affair em si que é o problema maior
para mim. O que não posso esquecer é como você me contou. Penso nisso o
tempo todo. Você viu como eu fiquei devastada. Eu estava literalmente na
sarjeta. E quando eu estava na pior, o que você fez? Você me culpou pelo affair.
Você relacionou todas as minhas más qualidades, e chegou ao ponto de discutir
as possibilidades que sua vida iria tomar sem mim. Foi como se eu não estivesse
ali. Você não tomou absolutamente conhecimento de mim. É isso que não me sai
da cabeça. Se você uma vez me amou, como pôde fazer isso?”
Obviamente, a angústia de Francine vai além da infidelidade e da deslealdade
de Joseph. Minha prática me fez ver que, embora os parceiros feridos muitas
vezes se sintam traídos, eles principalmente se sentem “abandonados” pelo par.
Seus clamores geralmente são uma versão de “Como você pôde me abandonar
naquele momento de vida ou morte?”. Os parceiros habitualmente sofrem
traumas de relacionamento em épocas de intenso estresse emocional, e quando
as necessidades de apego estão naturalmente elevadas, como o nascimento de
um filho ou um aborto, a morte de pai ou mãe, a perda repentina do emprego, o
diagnóstico e tratamento de doenças sérias.
Os cônjuges que provocam essas feridas não estão sendo malintencionados ou
propositadamente insensíveis. Na verdade, normalmente têm a melhor das
intenções. Muitos, simplesmente não sabem como entrar em sintonia com as
necessidades de apego das pessoas amadas e oferecer o consolo de sua presença
emocional. Alguns, também, estão absorvidos nas tentativas de conter sua
própria ansiedade. Como Sam diz à mulher: “Quando vi todo aquele sangue,
fiquei assustado. Nem sequer pensei que íamos perder o bebê. Pensei que você
fosse morrer. Que eu ia perder você. Só pensei em agir. Deixei você sozinha no
banco de trás do táxi e fui para o da frente, junto do motorista, dizendo-lhe como
chegar ao hospital. Não tinha ideia de que você precisava de mim”.
Parceiros muitas vezes tentam lidar com as feridas do relacionamento
ignorando-as ou enterrando-as.É um grande engano. As feridas do dia a dia são
facilmente tratadas, e os pontos frágeis podem extinguir-se (se nós pararmos de
arranhálos nos Diálogos do Demônio), mas os traumas não resolvidos não saram
por si sós. A impotência e o medo que geram são quase indeléveis; eles
desencadeiam nossos instintos de sobrevivência. É mais inteligente, em termos
de sobrevivência, ter cautela e descobrir que não há perigo real, do que confiar e
descobrir que o perigo é real. A cautela vai limitar a habilidade de um parceiro
ferido de arriscar um engajamento emocional mais profundo. E os traumas só
pioram. Quanto mais Helen exige de Conrad uma desculpa por tê-la deixado na
escada, mais ele racionaliza pretextos para sua ação. E isso só confirma a
sensação de isolamento de Helen, e aumenta sua raiva.
Algumas vezes os parceiros conseguem dividir seus traumas em
compartimentos, mas isso resulta numa ligação fria e distante. E a barricada
funciona apenas por uns tempos. Sentimentos feridos irrompem em algum ponto
quando as necessidades de apego ficam em primeiro plano. Larry, um
proeminente executivo, tratou sua mulher, Susan, com desatenção durante anos.
Depois que se aposentou passou a tentar “cortejar” Susan. O relacionamento
melhorou, mas na conversa Abrace-me Apertado, quando Larry buscou o
consolo da mulher, ela explodiu. E disse que depois de suas atitudes “na cozinha
da casa da Morris Street” ela tinha decidido nunca deixálo se aproximar o
suficiente para ferila.
Larry não tem a menor ideia do que Susan está falando, mas sabe que não
moram mais na Morris Street há 17 anos! Susan não esqueceu o que aconteceu
numa tarde quente de verão. Ela estava deprimida, sofrendo as sequelas de um
acidente de carro, e exausta com os cuidados dos três filhos. Larry tinha chegado
em casa e a encontrou chorando no chão da cozinha. Embora normalmente fosse
uma mulher muito reservada, ela pediu que ele a abraçasse. Ele tinha dito a ela
para se acalmar e saíra da cozinha para dar uns telefonemas. Susan diz a Larry:
“Naquela tarde, sentada no chão, cheguei ao fim das minhas lágrimas. Fiquei
insensível. Disse a mim mesma que nunca mais cometeria o engano de esperar
novamente aquele tipo de carinho de você. Iria buscar apoio de minhas irmãs. E
durante todos esses anos você sequer percebeu! E agora, de repente, você precisa
de mim e quer que eu me abra?”.
A única maneira de sair dessas feridas de relacionamento é enfrentálas e
curálas em conjunto. De preferência, imediatamente. Isso aconteceu comigo
quando meu filho de oito anos foi acometido de apendicite aguda justamente no
momento em que eu e meu marido, John, dávamos uma festa em nossa casa no
lago. Zarpei a toda para o hospital mais próximo, deixando com John instruções
para interromper a festa e nos seguir até o hospital. O pequeno hospital local não
tinha condições de operar, e tivemos que fazer uma longa e angustiada viagem
até a cidade. Quando chegamos lá as coisas pareciam ruins. Um cirurgião correu
a examinar meu filho e anunciou que ele precisava ser operado “agora”. Liguei
para meu marido e ele ainda estava no lago! Duas horas depois, quando observo
meu filho ser levado de maca para o centro de terapia intensiva, meu marido
apareceu no corredor, lépido e fagueiro. Eu subi nas paredes. Ele ficou
horrorizado de ver que estava me sentindo tão assustada e tão sozinha. Ele
tolerou minha raiva e angústia, explicou por que tinha se atrasado, e me
tranquilizou. Mesmo assim, eu precisava ter certeza de que ele tinha
compreendido a minha dor. Discutimos o incidente várias vezes nas semanas
seguintes antes de a ferida ficar completamente curada.
No caso de Conrad e Helen, o processo de cura começa no meu consultório
quando ele revela que depois de a ter deixado na escada ele chorou durante uma
hora. Tinha pensado que demonstrar seu medo e impotência seria muito pior
para ela. Até agora ele tinha escondido sua vergonha, enquanto tentava em vão
persuadir sua mulher de que ela não tinha razão para se sentir magoada.
O primeiro objetivo para os parceiros é o perdão. Da mesma forma que o
amor, o perdão só recentemente passou a ser um tema de estudo por parte dos
cientistas sociais. A maior parte dos estudiosos fala do perdão como uma decisão
moral. Livrar-se do ressentimento e absolver a má conduta de uma pessoa é a
coisa certa a fazer. Mas apenas essa decisão não irá restaurar a fé na pessoa que
feriu nem no relacionamento. Os parceiros precisam é de uma conversa que
promova não apenas o perdão, mas a disposição de confiar novamente.
Confiança renovada é o objetivo primordial.
Há cerca de cinco anos comecei a mapear os passos da dança do perdão e da
reconciliação. Junto a meus estudantes e colegas, vimos gravações de sessões de
aconselhamento, e vimos como alguns casais atingiam o momento Nunca Mais e
não saíam do lugar, e como outros conseguiram avançar. Aprendemos que os
casais precisavam ser capazes de passar pelas Conversas 1 e 2, e criar uma
segurança básica no relacionamento antes de poderem passar à conversa
Perdoando Ofensas.
Um recente projeto de pesquisa aguçou mais nosso entendimento sobre os
traumas de relacionamento. Aprendemos que nem sempre são óbvios, que o
importante não são os eventos em si, mas as vulnerabilidades que eles afloram.
Para alguns parceiros, em certos momentos uma paquera fere mais do que um
affair. Também aprendemos que os casais podem sofrer traumas múltiplos, e que
quanto maior o número, mais difícil é renovar a confiança. A lição mais
importante é que você deve levar a sério a mágoa de seu parceiro, e manter-se
firme e fazer perguntas até que o significado do incidente fique claro, mesmo
que para você o evento pareça trivial, e a mágoa, exagerada.
Mary e Ralph identificaram seus Diálogos do Demônio, e podem falar de seus
pontos frágeis e reviver seus Momentos Instáveis, mas Mary está relutante em
começar a conversa Abrace-me Apertado. Em vez disso, ela repisa sempre o
assunto das fotos picantes de Ralph e secretárias, em roupas de baixo, tiradas
durante uma festa na empresa, e que ele trouxe para casa e deixou na gaveta da
escrivaninha, que ele sabe que ela arruma regularmente. Ralph se desculpa,
admite que a festa foi um pouco além da conta, e que as fotos são inadequadas,
mas continua insistindo que nada de suspeito aconteceu. E realmente não
entende por que ela está tão magoada. Ralph tenta entender a história de Mary, e
finalmente se atém ao fato de que Mary continua repetindo a frase “Naquela
hora”, “depois daquilo”. “Por que é tão importante o momento?”, ele pergunta.
Mary rompe em lágrimas. “Como você pode perguntar? Não se lembra? Foi
logo depois daquelas discussões terríveis, quando você me disse que eu era
muito inibida para você. Você exigiu que eu saísse e comprasse umas lingeries
de seda e lesse alguns livros sobre sexo. Eu cresci num lar muito rígido. Eu disse
que era muito tímida para fazer aquilo. Mas você insistiu. E você me disse que
se não fizesse não seríamos mais um casal. Então eu fiz, por nós dois. Eu fiz
tudo, mas estava tão envergonhada, tão mortificada. E você nem pareceu
perceber. Você nunca disse que ficara contente! Nem uma única vez. Mas você
parecia tão contente posando para as fotos, e aquelas moças pareciam estar se
divertindo muito. Elas não eram tímidas como eu. Quase me virei do avesso para
parecer como as moças das fotos, e não adiantou. E para culminar, você sabia
que eu arrumava a sua escrivaninha, e nem sequer pensou em como eu seria
afetada se descobrisse as fotos! Era como se para você eu fosse invisível!” Ralph
agora percebe a dor da mulher. Procura segurar a mão dela e consolála.
Tanto Mary quanto Ralph demonstraram coragem e determinação nesse
momento, esquadrinhando um evento até que seu significado se tornou evidente.
Algumas vezes não entendemos o que é tão doloroso para nós num evento
particular até que possamos explorálo integralmente com o nosso par. E algumas
vezes é muito penoso abrirnos e mostrar a essência de nossa dor à pessoa que
nos fere. Mas a dor sempre tem significado se a relacionamos com nossas
necessidades de apego e medos de separação.

SEIS PASSOS PARA O PERDÃO

Quais são os passos para a conversa Perdoando Ofensas?


1. O parceiro ferido deve falar de sua dor da forma mais aberta e simples possível. Nem sempre isso é
fácil de fazer. Significa resistir a acusar o par, focar na descrição da dor, a situação específica em que
ela ocorreu, e como ela provoca impacto em sua sensação de segurança com o parceiro. Quando é
difícil captar a essência de uma ofensa, tentamos ajudar as pessoas a sintonizarem nas emoções que
afloram fazendo as seguintes perguntas:

Num momento de urgente necessidade, me senti privado/ privada de consolo?


Ou me senti isolado/isolada e sozinho/sozinha? Sentime depreciado/depreciada
por meu parceiro quando precisei desesperadamente de confirmação de que eu e
meus sentimentos éramos importantes? Meu par de repente pareceu ser uma
fonte de perigo e não o refúgio de segurança de que eu precisava? Essas
situações falam diretamente à natureza traumática das feridas de apego.
Vasculhar o caldo emocional para encontrar a essência de sua ferida pode ser
difícil. Tão difícil quanto é para o parceiro “culpado” agarrar-se e tentar ouvir a
angústia do outro. Mas ter explorado seus Diálogos do Demônio e seus Pontos
Frágeis individuais deverá ajudar cada um a sintonizar com o que o outro está
expressando, mesmo que o que está sendo dito deflagre sua ansiedade. Uma vez
que os dois sejam capazes de entender as feridas, necessidades e ansiedades de
apego que estão em jogo, os dois podem se acalmar e ajudar-se a avançar sem
dificuldade.
Depois de meses de recriminações, Vera finalmente é capaz de dizer a Ted:
“Não se preocupe com aquelas vezes em que era penoso para você me
acompanhar na quimioterapia. Sei que o câncer manda você de volta à época em
que tinha 12 anos e via sua mãe, a única pessoa que sempre cuidou de você,
morrer de câncer. A imagem que me faz prender a respiração é do dia em que
voltei e chorei e chorei. Falei que não conseguia suportar mais. E você ficou
silencioso. Não fez nada. Mas depois minha irmã apareceu, lembra-se? E ela
ficou completamente angustiada e começou a chorar também, e você se levantou
correndo e foi consolála. E você a abraçou, e sussurrou alguma coisa”.
Vera rompe em soluços entrecortados, e depois continua: “Você consolou, mas
não foi a mim. Seu consolo, seu contato, nada era para mim. Naquela noite eu
disse para mim mesma, prefiro morrer a pedir-lhe aquele tipo de carinho
novamente. Mas a dor continua aqui, e estou completamente sozinha com ela”.
Ted olha fixamente para Vera, de repente compreendendo sua dor e sua raiva.
Aquela era uma terrível mensagem, mas pelo menos tem sentido. Vera localizou
com precisão a ferida. Ted a viu. Agora o processo de cura pode começar.
2. O parceiro que causa a ferida permanece emocionalmente presente e admite o sofrimento do
parceiro ferido e sua parte na dor. Até que o parceiro ferido perceba que a dor foi completamente
admitida, eles não serão capazes de avançar. Eles apelarão sempre ao outro, preocupados, protestando
e exigindo. Isso faz completo sentido se entendemos o apego. Se você não percebe como me feriu,
como vou depender, ou sentir-me seguro, com você?

Nas discussões anteriores sobre o trauma, o parceiro causador da ferida pode


ter se afastado com vergonha e sentimento de culpa. Ajuda lembrar que no amor
os enganos são inevitáveis. Nós todos algumas vezes não percebemos os
clamores da pessoa amada por mais proximidade. Todos nós somos às vezes
desatentos. Todos nós nos aferramos a nossos medos ou raiva, e falhamos em
amparar a pessoa amada quando ela cai. Não existe alma gêmea perfeita, nem
pessoa amada sem defeito. Todos nós tropeçamos, pisamos nos pés dos outros
enquanto aprendemos a amar.
Talvez um dos parceiros nunca tenha sintonizado antes mensagens de apego e
só agora comece realmente a entender a dor que causou. É importante lembrar
que, mesmo que o incidente tenha ocorrido no passado, o parceiro causador pode
alterar seus efeitos no futuro. Deixar que o parceiro ferido entenda a resposta do
parceiro que provocou a ferida ajuda a restaurar a capacidade de prever. E estar
emocionalmente presente permite que o parceiro ferido enfrente a dor de uma
maneira diferente.
Ted diz: “Agora estou entendendo. Das últimas vezes que falamos sobre isso,
fui capaz de dizer como o seu câncer me fazia de quando minha mãe estava
doente. Mas você está certa. Aquele dia em que você me viu levantar e consolar
sua irmã, o consolo pelo qual você estava suplicando...”. Vera concorda com a
cabeça, e ao ver, a voz de Ted fica carinhosa. “Aquilo foi insuportável para
você.” Ela concorda outra vez. “Aquilo foi pior do que minha insensibilidade.
Não a consolei, nem a consolo, mesmo quando vejo você sofrer. Por que será
que não faço isso? Acho que é a maneira como a vejo. Você é tão forte, mais
forte do que eu, sem dúvida nenhuma. Sei que parece estúpido, mas acho que foi
mais fácil consolar sua irmã porque, toda vez que olhava para você, tudo o que
eu via era minha perda e minha impotência. Porque você é importante demais
para mim.” Vera pensa por um momento e então tenta esboçar um sorriso.
3. Os parceiros começam a reverter a resolução “Nunca Mais”. Penso nessa situação como um casal
revendo seu roteiro. Vera sai da sua parede de proteção e partilha com Ted a intensidade de sua
solidão, dor e desesperança. Ela diz: “No dia seguinte ao incidente decidi que tudo isso era muito
penoso para você. Não estava segura se você realmente se importava se eu fosse vencer a doença. A
batalha contra o câncer ficou de repente sem sentido. Pensei até em desistir”. Enquanto fala ela olha
fixamente o rosto de Ted. Ele também parece sofrer. E diz: “Não quero que você se sinta desse jeito, e
não posso suportar que pensou em desistir. Desistir porque não poderia dar consolo a você. Isso é
terrível”.
4. Os parceiros causadores da ferida agora assumem a autoria de como a causaram na pessoa amada, e
expressam pesar e remorso. Mas não pode ser na forma de uma desculpa impessoal ou defensiva.
Dizer “Peço desculpas, tudo bem?” num tom frio não significa pesar, mas apenas indiferença pela dor
do outro. Se quisermos ser acreditados nessa hora, precisamos ouvir e nos engajar na dor do parceiro,
como dito no passo 3. Temos que mostrar que a dor do parceiro tem um impacto sobre nós. Quando
Ted se volta para Vera e fala, pode-se ouvir tristeza e remorso na sua voz, e ver em seu rosto. Ele diz a
ela: “Eu realmente a decepcionei, não foi? Não fiquei disponível para você. Lamento muitíssimo, Vera.
Fiquei sufocado e a deixei enfrentar sozinha o inimigo. Para mim é difícil dizer isso. Não quero me ver
como o tipo de pessoa, o tipo de marido, que decepcionaria a mulher. Mas eu a decepcionei. Você tinha
o direito de ficar com raiva. Nunca pensei que meu apoio tivesse tanta importância. Mas sei que a
magoei, e muito. Não sabia o que fazer, então eu vacilei e não fiz nada. Quero poder fazer melhor. Se
você deixar”.

Vera, obviamente, está muito comovida com o pedido de desculpas de Ted. O


que ele faz que é tão eficaz nessa hora? primeiro, sua atitude mostra claramente
que ele sente e se importa com a dor de Vera. Segundo, ele diz explicitamente
que a dor e a raiva dela são legítimas. Terceiro, assume a responsabilidade pelo
que fez e foi tão danoso. Quarto, ele expressa vergonha. Diz à mulher que ele
também se sente consternado e desapontado com o seu comportamento. Quinto,
garante à mulher que a partir de agora estará disponível para ajudála a se curar.
Esse foi um pedido de desculpas verdadeiramente maravilhoso! Tive que fazer
três tentativas para conseguir expressar só a metade do que Ted expressou, num
pedido de desculpas à minha filha depois que a magoei intensamente. A desculpa
de Ted não é apenas uma declaração de arrependimento, mas é um convite ao
reencontro.
5. Uma conversa Abrace-me Apertado pode ocorrer agora, centrada na ferida de apego. Os parceiros
feridos identificam aquilo de que precisam no momento para encerrar o trauma. Depois pedem
diretamente que essas necessidades sejam atendidas, isto é, que as pessoas amadas respondam de
maneira diferente da que fizeram no incidente original. Isso gera um novo sentimento de conexão
emocional que atua como um antídoto contra o terrível isolamento e separação que o incidente
precipitou. “então necessitava de seu consolo e apoio. Necessitava de seu contato. E necessito agora!”,
Vera declara a Ted. “Aquelas sensações de estar com medo e desamparo continuam comigo. Quando
penso que o câncer pode voltar, ou mesmo quando sinto a distância entre nós, preciso que você me
tranquilize.” Ted responde: “Quero que você sinta que pode contar comigo, e que estarei disponível.
Farei tudo o que tiver de fazer. Nem sempre sou bom para perceber os sentimentos das pessoas, mas
estou aprendendo. Não quero que se sinta sozinha nem assustada”. Esta agora é uma conversa A.R.E.
6. O casal agora cria uma nova história que inclui o evento doloroso, como ele aconteceu, erodiu a
confiança e a conexão, e desaguou nos Diálogos do Demônio. Porém, o mais importante, a história
descreve como os dois juntos enfrentaram o trauma e começaram a curálo.É como pegar todos os fios
e tecer um novo tapete. E agora, como uma equipe, podem discutir como um pode ajudar o outro a
aprender e continuar a curar essa ferida e prevenir outras. O processo de cura pode envolver o
estabelecimento de rituais que tranquilizem o parceiro ferido. Por exemplo, depois de um affair, um
casal concordaria que qualquer contato com o objeto do affair será imediatamente comunicado ao
parceiro ferido, ou que o responsável pelo dano chamará durante o dia para dizer onde está. Em certo
momento da conversa Ted diz à mulher: “A coisa maluca é que foi mais fácil para mim consolar a sua
irmã justamente porque ela não é tão importante para mim quanto você. Não estou preocupado se
cometi uma gafe ou um engano. Entendo que, depois que isso aconteceu, você naturalmente não iria
me procurar outras vezes, como quando você ficou com medo de o câncer retornar. Vejo como nós
ficamos cada vez mais emocionalmente distantes. Imagino o quanto de coragem foi preciso para
reviver tudo isso comigo. E eu não ajudei nada quando você tentou isso antes, não foi? Você estava
tentando lançar um sinal luminoso de angústia, e eu achei que você estava incendiando a casa. Sintome
bem quando podemos falar como agora e não ficamos emperrados na ferida em redor de nós”. Vera,
por seu lado, diz a Ted: “Gostei quando você sugeriu que o ajudo quando tremulo uma bandeira de
sinalização, tipo ‘Abrace-me Apertado, Ted’. Isso me faz sentir que você está realmente pensando em
como se sintonizar e assegurar que não aconteça de novo”.

Ted e Vera se moveram suavemente por esses passos. Mas outros casais
podem ter mais dificuldades. Se os Diálogos do Demônio são crônicos, e a
confiança e a segurança desceram a níveis baixos, a conversa Perdoando Ofensas
talvez tenha que ser repetida várias vezes. Da mesma forma, se houver múltiplos
eventos traumáticos. Mesmo nesses casos, contudo, uma ferida geralmente se
sobressai. E quando esta for curada as outras tombam como um castelo de cartas.
Por outro lado, certos eventos, principalmente os affairs, também complicam
o processo de perdão. Porque há muitos pontos de angústia. Mas também nesses
casos normalmente há um momeno que resume a ferida. Lembra-se de Francine
e Joseph? Foi a maneira como ele falou de sua infidelidade que a afastou dele. O
affair foi breve. Os affairs que duram muito tempo são muito mais espinhosos.
Os enganos intencionais de longa duração solapam a imagem que temos do
parceiro como alguém presente e digno de confiança. Como resultado, não
conseguimos definir a nossa realidade e ter segurança sobre o que é
“verdadeiro”. Como quando dizemos a nossos filhos: “É melhor não confiar em
estranhos. Nunca se sabe o que vão fazer”.
As feridas podem ser perdoadas, mas nunca desaparecem. No melhor dos
casos, contudo, integramse nas histórias de apego dos casais como
demonstrações de renovação e conexão.

JOGUE E PRATIQUE

1. O primeiro passo para a cura de uma ferida de apego é reconhecê-la e expressála. Pense numa época
ou num incidente passado quando você foi muito ferido por alguém que era importante, mas não seu
parceiro. O trauma pode ser um dos citados anteriormente ou uma ferida de menor significado. Qual
foi a razão principal da ferida? Foi uma observação, uma ação específica, ou falta de ação da parte do
outro? No incidente relatado acima, Vera diz que o pior momento foi quando percebeu que Ted podia
oferecer consolo a outros durante seus momentos de angústia, mas não a ela. No caso do seu incidente,
a que conclusão inquietante você chegou sobre essa pessoa importante na sua vida? Por exemplo, você
decidiu que ele ou ela simplesmente não se preocupava, e que você não era importante e poderia ser
abandonado? O que você estava desejando quando foi ferido? Se é difícil expressar, veja se pode
imaginar qual teria sido a resposta ideal. Quais movimentos de proteção você adotou? Por exemplo,
mudou de assunto ou saiu do recinto? Ou ficou agressivo e exigiu uma explicação?

Pergunte-se: sentime privado de apoio? Minha dor ou meu medo foram


desconsiderados? Sentime abandonado? Sentime depreciado? De repente passei
a ver essa pessoa como fonte de perigo, como se estivesse se aproveitando de
mim ou me traindo?
Uma vez que tenha apreendido a sensação da ferida passada, tente partilhar
com o parceiro. Marcy conta à sua parceria, Amy, como sua mãe reagiu à notícia
de que ela tinha rompido um relacionamento porque tinha se dado conta de que
era lésbica. “Lembro-me da história toda”, diz Marcy. “Minha mãe e eu
estávamos na cozinha. Eu quase falei sussurrando, de tão assustada que estava.
Ela se virou e seu rosto pareceu de pedra. Ela disse: ‘Vou fingir que você nunca
falou isso. Eu não quero saber. Como vive sua vida estúpida e maluca é com
você’. Sentime como se tivesse levado um soco na barriga. Acho que senti todos
aqueles Ds, mas com certeza me senti ‘depreciada’. Saí da cozinha. Isso foi o
que aconteceu, e essa foi a minha decisão sobre a relação. Nunca mais contei
nada de pessoal a ela. Ela não queria saber nada sobre mim. Então erigi minha
barreira. Acho que desejei que ela aceitasse e me consolasse. E fiquei tão
perdida. Mas acabei renunciando. De fato, durante muito tempo não deixei que
ninguém se aproximasse de mim.”
2. Reflita sobre o quanto é fácil ou difícil para você desculparse, mesmo nas situações de menor
importância. Dê uma nota entre 1 e 10 a essa habilidade. Dez significa que você realmente admite que
tem pontos frágeis e comete enganos. Pode se lembrar de uma época em que expressou seus
arrependimentos de uma dessas maneiras:
• A desculpa de quatro segundos tipo “onde está a saída”. “Sim, bem, me desculpe. O que temos para o
jantar?”
• A desculpa da responsabilidade mínima. “Bem, talvez tenha feito sim, mas...”
• A desculpa forçada. “Acho que devo dizer que...”
• A desculpa de serventia. “Nada vai funcionar até que eu me manifeste, então...”

Estas são respostas com valor simbólico, que algumas vezes podem funcionar
para feridas muito pequenas, mas geralmente no caso das feridas das quais
estamos falando, só aumentam a dor da pessoa ferida.
3. Você se lembra de uma vez em que feriu uma pessoa amada? Uma época em que ela pode ter se
sentido privada de seu apoio ou consolo, ou até abandonada? Em que você pode até ter parecido
perigoso/perigosa, ou rejeitado a pessoa amada?

Podese imaginar admitindo isso sinceramente a ela? O que você diria? O que
pode ser difícil ao assumir a ofensa? parceiros geralmente usam frases simples
quando falam de ter ferido a pessoa amada, como por exemplo:
• “Eu me afastei. Te deixei na mão.”
• “Não percebi sua dor nem o quanto você precisava de mim. Estava perdido, com medo, com raiva,
preocupado. Então me fechei.”
• “Eu não sabia o que fazer. Fiquei bloqueado/bloqueada me sentindo estúpido/estúpida e
preocupado/preocupada em fazer a coisa errada.”

Pense nos cinco elementos do pedido de desculpas de Ted a Vera. Ele diz que
se importa com a dor dela; que a dor é legíti-ma; assume a responsabilidade das
ações danosas; expressa vergonha por seu comportamento; e garante que vai
ajudála a curar-se. Das ações de Ted, qual seria a mais difícil para você levar a
cabo?
Como acha que a pessoa ferida vai se sentir quando você assumir a
responsabilidade? De que forma o gesto vai ajudála?
4. Agora passe a lidar com uma ferida específica de seu atual relacionamento. Você pode fazer isso
sozinho ou enquanto seu par ouve e tenta entender. Se o compartilhamento parece difícil, comece com
uma ofensa recente relativamente pequena. Depois, se quiser, pode repetir novamente com uma ofensa
mais significativa. Tente tornar tudo o mais específico possível. Feridas grandes e vagas são difíceis de
enfrentar. Talvez você tenha passado por um período difícil quando houve muitas feridas. Houve um
momento em que as feridas se cristalizaram? O que deflagrou a dor? Qual foi o sentimento principal?
Que decisões você tomou quanto ao relacionamento, e que ações desenvolveu para proteger-se?

“Foi na época em que estava começando todos esses cursos e estava muito
insegura”, Mary diz a Jim. “Uma noite, depois do jantar, reuni coragem e
perguntei o que você achava de toda a minha luta e do que tinha conseguido até
então. Queria muito que você reconhecesse que eu tinha conseguido muito e que
acreditava em mim. Mas você nem pareceu ouvir e me senti repudiada. E não
mostrei o quanto estava triste. O quanto eu precisava do seu encorajamento.
Então decidi criar sozinha o meu próprio sonho. E mantive toda essa parte da
minha vida separada, separada de nós.”
5. Veja se consegue dizer ao par qual era sua expectativa naquele incidente doloroso, e como se sentiu
ao não obter resposta. Você também pode dizer como se sente agora ao assumir o risco e expressar o
que você tanto desejava. E enquanto diz, tente evitar acusar o par de ter causado a dor. Isso só vai
sabotar a conversa. Como o par que ouve, tente ouvir as vulnerabilidades do outro e expresse o que
isso evoca em você. Normalmente, quando ouvimos alguém que amamos expressar que necessita de
nós, respondemos com carinho.
6. Se foi você quem feriu, veja se pode ajudar o par a entender por que respondeu da forma como
respondeu no momento da ferida. Talvez tenha que ir fundo e “descobrir” por si mesmo como esta
resposta evoluiu. Pense nisso como um passo para tornar suas ações mais previsíveis para seu par. Veja
se consegue ajudar seu par a sentirse suficientemente seguro para revelar seus sentimentos vulneráveis,
a fim de que você tenha um quadro completo do que o incidente significou em termos de necessidade
de apego.
7. Como o par que provocou a ferida, você é capaz de reconhecer o sofrimento e responsabilizar-se
pela dor infligida, e o mais importante, desculparse?Isso é difícil de fazer. É preciso coragem para
admitir que estamos desapontados com o nosso comportamento; é preciso humildade para confessar
que fomos insensíveis ou indiferentes. Talvez só possamos nos desculpar quando nos deixarmos
comover pela dor e os medos da pessoa amada. Se pudermos fazer isso com sinceridade, estaremos
dando ao amado um grande presente.
8. Como o par ferido você pode aceitar o pedido de desculpa? Se pode, isso coloca vocês dois num
novo patamar. A confiança pode começar a surgir novamente. Você pode buscar a reafirmação quando
lembranças dessa ferida ocorrerem no futuro, sabendo que a pessoa amada vai tentar responder com
sensibilidade. E o par que se desculpa agora pode oferecer o amor que se extraviou durante o evento
original.
9. Finalmente, resuma esse evento doloroso com o seu par, e faça um breve relato de como ele
provocou impacto na relação, de como os dois o superaram, e de como pretendem impedir que
aconteça novamente.

Se não puder colocar em prática este exercício, tente simplesmente expressar a


seu par o quanto uma conversa sobre perdão lhe parece estranha ou difícil. Outra
maneira de começar é os dois concordarem sobre uma ferida que precisa ser
curada, e escrever em poucas frases como a conversa deveria ser se os passos
descritos anteriormente fossem seguidos. Depois comente isso com o par.
Compreender as feridas de apego, e saber que você pode encontrar e oferecer
perdão se necessário, dá um poder incrível para criar um vínculo resistente e
duradouro. Não existe relacionamento à prova de dor. Mas vocês poderão dançar
junto com mais energia e desenvoltura, se souberem que poderão se recuperar
quando um pisar no pé do outro.
Conversa 6: Criando vínculo por meio
do sexo e do contato físico
“Perdemos tempo buscando o amado/a amada
perfeito/perfeita, ao invés de criar o amor perfeito.”
TOM ROBBINS

paixão surge facilmente nos primeiros dias de um relacionamento.

A
Praticamente toda palavra, olhar e toque vibram de ardente desejo. É a
maneira de a natureza fazer com que nos atraiamos. Mas depois do
ímpeto apaixonado de desejo, qual é o lugar do sexo numa relação?
Além de nos atrair, pode o sexo ajudar a nos manter unidos, a construir
uma relação duradoura? A resposta, enfática, é sim. De fato, o sexo é
uma poderosa experiência para o vínculo. A paixão da gamação é a apenas o
hors d’oeuvre. Sexo com amor numa relação de longo prazo é o prato principal.
Mas, de maneira geral, não pensamos no sexo dessa forma. Fomos
condicionados, por nossa cultura e uma miríade de gurus de relacionamento, a
encarar a paixão mais como uma sensação passageira do que uma força
duradoura. Dizemnos que os desejos sexuais que ardem com tanto fulgor no
início da paixão, inevitavelmente decaem, da mesma forma que a nossa relação,
outrora plena de excitação, inexoravelmente se transforma numa prosaica
amizade.
Além disso, fomos ensinados a ver o sexo como um fim em si mesmo.
Satisfazer o desejo, de preferência com um grande orgasmo, é o objetivo. Damos
ênfase à mecânica do sexo, às posições, técnicas, e brinquedinhos que possam
intensificar o êxtase físico. Acreditamos que sexo é principalmente satisfação
física imediata.
De fato, vínculo seguro e sexualidade completamente satisfatória andam de
mãos dadas; estimulamse e ampliamse mutuamente. A conexão emocional gera
ótimo sexo, e ótimo sexo gera conexão emocional. Quando os parceiros estão
emocionalmente acessíveis, receptivos, e engajados, o sexo se torna um jogo
íntimo, uma aventura segura. Parceiros emocionalmente seguros se sentem livres
e confiantes de experimentar toda a sensação nos braços do outro, de explorar e
realizar suas necessidades sexuais, e compartilham suas alegrias, desejos e
vulnerabilidades mais profundas. Quando acontece, fazer amor é realmente
“fazer o amor”.
Qual a efetiva importância de sexo satisfatório num relação amorosa? Sexo
prazeroso, sabe-se,faz parte, mas não é primordial para relacionamentos felizes.
Os educadores sexuais Barry e Emily McCarthy, da Universidade American, em
Washington, DC, fizeram um levantamento de pesquisas nessa área. Eles
concluíram que cônjuges satisfeitos atribuem apenas de 15% a 20% de sua
felicidade a uma vida sexual agradável; mas casais infelizes creditam de 50% a
70% de sua infelicidade a problemas sexuais. Parceiros satisfeitos veem o sexo
como uma das muitas fontes de prazer e intimidade, enquanto parceiros
desanimados automaticamente falam de sexo e o consideram a fonte principal de
problema.
Por que o sexo é um assunto tão importante para os parceiros insatisfeitos?
Porque geralmente é a primeira coisa a ser afetada quando a relação fraqueja.
Mas na verdade o sexo não é o problema verdadeiro. Considere a angústia sexual
como a versão do “canário da mina” do relacionamento. O que realmente está
acontecendo é que um casal está perdendo conexão; os parceiros não se sentem
emocionalmente seguros um com o outro. Por seu lado, isso leva a um declínio
no desejo e a um sexo menos satisfatório, e segue para menos sexo e mais
feridas, para uma conexão emocional frouxa, e assim por diante. Em resumo:
quando não há vínculo seguro, não há sexo; quando não há sexo, não há vínculo.
É fácil entender. Como Harry Harlow observou em seu livro Learning to
Love, os primatas se distinguem dos outros animais por praticarem um sexo
carinhoso cara a cara, durante o qual “expõem abertamente as mais vulneráveis
superfícies do corpo em posições comprometedoras”. Nós simplesmente não
estamos programados para sermos cautelosos e medrosos e ao mesmo tempo nos
excitarmos.
A segurança da nossa conexão emocional define nosso relacionamento tanto
na cama como fora dela. Dependendo do quanto estamos confortáveis com a
intimidade e com a segurança que sentimos com nosso desejo pelo amado,
teremos objetivos diferentes na cama. Chamo a esses três tipos diferentes de
sexo de Sexo Lacrado, Sexo Consolo e Sexo Sincrônico.
SEXO LACRADO

No Sexo Lacrado o objetivo é reduzir a tensão sexual, atingir o orgasmo, sentirse


bem com a perícia sexual. Acontece com aqueles que nunca aprenderam a
confiar e não querem se abrir, ou que estão se sentindo inseguros com o parceiro.
O foco é na sensação e no desempenho. O vínculo com a outra pessoa é
secundário. Esse tipo de sexo impessoal é danoso a uma relação amorosa. O
parceiro se sente usado e como objeto, e não valorizado como pessoa.
Enquanto seu parceiro, Kyle, ouve, Marie me fala: “Sou um boneca de inflar
para ele. Nosso sexo é um vazio só. Chegamos ao final e estou sozinha”.
“Admito que possa ser assim”, Kyle concorda. “Mas nós costumávamos ser
muito mais amorosos na cama. Depois que as brigas começaram, eu desisti da
relação. Não sinto nada, e o sexo se torna mecânico. E começo a ver você apenas
como ‘a mulher’. É mais seguro dessa forma. Pelo menos sei como fazer sexo.
Intimidade é mais difícil. Se vejo você como ‘Marie’, e penso em todos os
nossos problemas, vem-me a angústia. Então, só foco no sexo em si. Faz-me
sentir melhor, pelo menos por uns momentos.”
Kyle se fecha emocionalmente porque ele não sabe ser “ínti-mo”. Mas outros,
especialmente se se sentiram traídos no passado, permanecem emocionalmente
afastados por hábito ou por escolha. Esses preferem o sexo em que a excitação e
o orgasmo são o fim em si mesmo. São mais propensos a encontros sexuais que
são curtos, na maior parte durando apenas uma noite. E evitam quaisquer ações
que possam convidar a um engajamento emocional, como toques e beijos
recíprocos, de acordo com uma pesquisa feita pelo psicólogo Jeff Simmons, da
Universidade de Minnesota, e seus colegas. Ron Jeremy, astro de filmes pornôs,
e que pode ser considerado dono de desempenho sexual extraordinário, defende
a troca de parceira como meio de aliviar o tédio sexual, mas sem “absolutamente
nenhuma carícia”. Conexão emocional, a porta para o verdadeiro erotismo, fica
fechada. Contudo, sem nenhuma dúvida, o herói orientado para o sexo é James
Bond. Há quatro décadas ele se envolve com uma penca de mulheres que
virtualmente sempre são potencialmente inimigas e não confiáveis. Apenas uma
vez ele amou, e se envolveu emocional tanto quanto sexualmente (Bond casa-se
com a mulher e, convenientemente, ela é morta no dia do casamento).
O Sexo Lacrado parece ser praticado principalmente pelos homens. A razão
pode ser o hormônio testosterona, que deflagra o impulso sexual, ou pode ser
puramente um condicionamento cultural. Os homens são ensinados, desde cedo,
que demonstrar muita emoção é coisa de fracotes. E sem saber qual é o limite,
quase sempre preferem evitar a emoção. O Sexo Lacrado também pode ser o
resultado da programação sexual do homem. Quem foi que disse que “os
homens são como os micro-ondas,e as mulheres, fornos lentos?” O homem pode
ir da excitação ao orgasmo em segundos e sem a mínima comunicação. A mulher
demora mais a ficar excitada, e é mais difícil para ela ficar focada na simples
sensação. Ela precisa que o parceiro coordene movimentos e carinho com ela.
Ela precisa de comunicação e conexão para um sexo prazeroso.
Tanto para os homens quanto para as mulheres, o afastamento emocional
bloqueia a mais rica dimensão da sexualidade. Jovens emocionalmente distantes
têm mais parceiros sexuais, mas não desfrutam do sexo tanto quanto os que se
ligam mais intimamente aos outros, observa Omri Gillath, psicólogo da
Universidade de Kansas. Nesse tipo de sexo ocorre excitação, mas a paixão tem
vida curta. A experiência é unidimensional, de modo que uma novidade
contínua, na forma de novos parceiros e novas técnicas, é necessária para que a
excitação continue. O nome do jogo é cada vez mais sensação.

SEXO CONSOLO

O Sexo Consolo ocorre quando estamos procurando reafirmação de que somos


valorizados e desejados; o ato sexual é apenas um coadjuvante. O objetivo é
aliviar a ansiedade do distanciamento. Tem mais envolvimento emocional do que
o Sexo La-crado, mas o principal ingrediente comandando a dança sexual é a
ansiedade. A pesquisa de Gillath demonstra que quanto maior nossa ansiedade
de depender dos outros, mais tendemos a preferir carícias e afeição ao ato
sexual. Mandy me diz: “Fazer sexo com Frank é bom. Mas para ser sincera, o
que mais desejo são o toque e as carícias. E o sentimento de reafirmação. É
como se o sexo fosse um teste, e se ele me deseja, me sinto segura. Claro que se
ele não fica com tesão acho que o problema é meu, e então fico assustada”.
Quando o sexo é uma pílula contra a ansiedade ele não pode ser verdadeiramente
erótico.
O Sexo Consolo pode ajudar a manter uma relação estável por algum tempo,
mas também pode desenvolver pontos frágeis e ciclos negativos. Quando alguma
coisa dá errado no departamento de desejo mútuo, há dano e sensação negativa
instantâneos. Se esse tipo de sexo é a norma numa relação, os parceiros podem
ser envolvidos na tentativa obsessiva de tentar agradar, ou a ser tão exigentes,
que aplacam o desejo sexual. Quando a intimidade física se reduz a aprisionar a
ansiedade da separação, ela pode levar ao afastamento dos parceiros.
Então Cory diz à mulher, Amanda: “O que há de errado em muito sexo?
Aposto que muita gente faz sexo toda manhã e toda noite. E um bocado de
mulheres têm dois ou três orgasmos cada vez”. Amanda olha para mim, e nossos
rostos demonstram imediatamente cansaço e desalento. Cory percebe e afasta o
olhar. Ele parece triste e derrotado. “Ora, bem. Não estamos aqui para falar de
sexo, não é?”, ele fala. “A única vez que tenho certeza de que você me ama, que
me sinto realmente seguro com você, é quando a abraço ou quando estamos
fazendo amor e eu a estou realmente excitando, e você está respondendo a mim
com seu corpo. Aí sei que você me ama e que me deseja. Quando penso nisso,
sei que minhas exigências de sexo são excessivas. Quanto mais a forço, menos
você gosta. A verdade é que sou angustiado com a ideia de perder você. Desde
que nos separamos no ano passado, fico permanentemente amedrontado, e então
fazer amor é meu amuleto.” Amanda arrasta sua cadeira para mais perto e coloca
os braços em volta dele. Cory se aninha nos braços dela por instantes e então diz,
com a voz cheia de espanto: “Hei, você está me abraçando! Você não me deseja
menos, por ter dito isso?”. Amanda beija-o na face. Quando Cory percebe que
pode buscar intimidade por meio do toque, e do conforto de ser abraçado, a
relação entre ele e Amanda muda para melhor, da mesma forma que a vida
sexual.
O Sexo Consolo ocorre normalmente quando os parceiros estão emperrados
nos Diálogos do Demônio, e a carícia e o toque afetuoso — os vínculos de
conexão básicos — estão faltando. “Sexo costumava ser o momento em que
realmente podíamos nos aproximar”, lamenta Alec, cuja relação de dez anos
com Nan está ruindo. “Mas agora ela nunca quer fazer amor. É como se estivesse
sendo rejeitado o tempo todo. Algumas vezes fico furioso. E dói toda vez que
penso que ela não se importa mais em fazer sexo comigo. Ela diz que fico muito
agressivo, e vai dormir no quarto de hóspedes. Na verdade, sexo é o de menos,
pois já não nos tocamos mais.”
Quando os parceiros me dizem que não podem demonstrar afeto e procurar o
outro com atos diários de carinho, acendo a luz amarela. Quando me dizem que
não estão fazendo amor, fico preocupada. Mas quando me dizem que eles não se
tocam, sei que eles realmente estão com problemas.
A pele do corpo de um adulto representa aproximadamente 15% do seu peso
corporal, e é o maior órgão sensório que Temos. A carícia afetuosa e os toques
em nossa pele, e as emoções que essas ações evocam, são para muitos de nós a
linha direta para o amor nos relacionamentos. O contato gera dois impulsos
fundamentais: sexo e nossa necessidade de sermos apoiados e reconhecidos por
uma pessoa especial. Como o falecido antropólogo Ashley Montagu observa em
seu livro Touching, contato pele a pele é tanto a linguagem do sexo quanto a
linguagem do apego. O toque excita, mas também acalma e conforta.
Desde que nascemos, até o fim de nossos dias, temos vital necessidade de
toque, afirma Tiffany Field, psicóloga evolucionista da Universidade de
Massachusetts. Ela observa que os norte-americanos estão entre os povos menos
tácteis do mundo, e sofrem de “fome de contato”. Nas crianças, a ausência do
toque, do abraço e da carícia parece retardar o crescimento do cérebro e o
desenvolvimento da inteligência emocional, isto é, a habilidade de organizar as
emoções.
Os machos talvez sejam particularmente vulneráveis à “fome de contato”.
Field assinala que desde o berço os meninos são abraçados durante períodos
menores, e menos acariciados do que as meninas. Quando adultos, os homens
parecem menos receptivos ao toque afetuoso do que as mulheres, mas os homens
que atendo almejam o toque tanto quanto as mulheres. Os homens não pedem
para ser abraçados, ou por condicionamento cultural (homens de verdade não
abraçam), ou falta de habilidade (eles não sabem como pedir). Penso nisso toda
vez que minhas clientes femininas se queixam de que os homens são obcecados
pelo sexo. Eu também seria, eu digo, se o ato sexual fosse o único lugar, além do
campo de futebol, onde eu fosse tocado e abraçado.
“Só desejo que Marjorie me procure e me toque”, afirma Terry. “Preciso saber
se ela quer que me aproxime. Quero me sentir amado, desejado. E não apenas
sob a forma do sexo. É mais do que isso.” “Não, você quer só vapt-vupt e um
orgasmo”, Marjorie discorda. “Talvez isso seja a única coisa que aprendi a
pedir”, ele retruca. Nós não podemos afunilar todas as nossas necessidades de
apego numa conexão emocional no quarto. Quando tentamos, nossa vida sexual
se desintegra sob o peso dessas necessidades.
A melhor receita para um sexo prazeroso é uma relação segura, em que um
casal pode se conectar por meio das conversas A.R.E. e do toque afetuoso.
Mesmo os terapeutas sexuais concordam que o fundamento de uma relação
sexual saudável é o “prazer sem exigências”. Por essa razão, muitas vezes sugiro
aos casais que se abstenham de sexo por algumas semanas. Com a relação sexual
proibida, nenhum dos parceiros fica ansioso ou desapontado, e ambos podem se
concentrar na exploração de todas as sensações do contato físico. Acostumar-se
a pedir carícias afetuosas aprofunda os vínculos do casal; e conhecer o corpo do
par de maneira mais íntima, o que excita e dá prazer, torna-se uma parte preciosa
da conexão tipo “só por você, só com você”.

SEXO SINCRÔNICO

Sexo Sincrônico ocorre quando abertura emocional e capacidade de resposta,


toque afetuoso e exploração erótica, se juntam ao mesmo tempo. Assim é que o
sexo deveria ser. Este é o sexo que realiza, satisfaz e conecta. Quando os
parceiros têm uma conexão emocional segura, a intimidade física pode reter todo
o seu ardor e criatividade inicial e ampliálos. Pessoas que se amam podem ser
afetuosas e brincalhonas num momento, e ardentes e eróticas em outro. Elas
podem focar no orgasmo em um interlúdio, e no seguinte gentilmente deslizar
em direção ao lugar que o poeta Leonard Cohen chama de “mil beijos de
profundidade”.
Usei a palavra sincrônico inicialmente na Conversa 4 para descrever a
harmonia emocional entre os parceiros. Aqui amplio o conceito para incluir
também a harmonia física. O psiquiatra Dan Stern, da Cornell Medical School,
também usa a palavra quando observa que amantes seguros são sintonizados um
com o outro, percebem o estado interior e a intenção do outro, e respondem a
cada alteração da excitação, da mesma maneira que a mãe cuidadosa é
sintonizada com seu bebê. O bebê abre os olhos e balbucia agudamente com
prazer; a mãe o afaga e responde, no mesmo tom. A pessoa amada vira a cabeça
e suspira; o parceiro sorri e acaricia suas costas, seguindo o ritmo do suspiro.
Essa sincronia gera “uma sensação tácita de profunda harmonia” e é a essência
da conexão — emocional, física e sexual. A segurança emocional define a
sincronia física; e a sincronia física define a segurança emocional.
A capacidade de resposta emocional fora do quarto também conta. Parceiros
conectados podem revelar suas vulnerabilidades e desejos sexuais sem medo de
serem rejeitados. Todos nós temos medo de sermos, de alguma forma,
“incapazes” na cama. “Olhe para mim”, diz Carrie. “Tenho sardas por todo o
corpo. Você já viu uma modelo cheia de sardas? Odeio as sardas. E quando
penso nelas só tenho vontade de apagar as luzes.” Andy, o marido dela, sorri.
“Seria uma pena”, ele diz gentilmente. “Gosto das suas sardas. São parte de
você. E quero ficar com você. Não quero uma modelo. Eu gosto de pintinhas,
elas me excitam. É como quando você diz que os carecas, como eu, são os mais
sensuais. Você acha isso mesmo, não acha?” Carrie sorri e concorda.
Parceiros com vínculos seguros podem relaxar, brincar e imergirem nos
prazeres do sexo. Podem falar abertamente, sem se sentirem embaraçados ou
ofendidos, do que os excita ou não. Os psicólogos Deborah Davis, da
Universidade de Nevada; e Cindy Hazan, da Universidade Cornell, descobriram
em seus estudos que parceiros com vínculos de apego mais seguros podem
expressar mais abertamente suas necessidades e preferências, e são mais
dispostos a experiências sexuais. Nos filmes, os parceiros nunca precisam falar
do que querem na cama. simplesmente acontece. Tentar fazer amor sem se sentir
realmente seguro para expressar desejos é como aterrissar um Boeing 747 sem
manual de instruções ou sem a ajuda da torre de controle.
Elizabeth me fala encantada da noite em que seu marido, Jeff, que tem 25
anos, estava discutindo uma fantasia sexual favorita de ser “iniciado” por uma
mulher da vida de alta classe. De repente, Elizabeth engrossou a voz, assumiu
um sotaque francês, e durante uma hora desempenhou o papel da sofisticada
mulher da vida para deleite de seu maravilhado marido. “Você ficou tão macho
naquela noite”, Elizabeth diz a Jeff. “Nunca soube que você tinha aquelas
habilidades.” Jeff cai na gargalhada. “Também nunca pensei que pudesse ser
daquele jeito. E você também foi bem diferente. Onde minha mulherzinha tímida
pode chegar, hein?” Elizabeth ri, e depois diz: “Mas a melhor parte do sexo para
mim, independentemente do que façamos, é depois, quando você me abraça e
me faz sentir que sou muito preciosa para você”.
Parceiros seguros podem acalmar e confortar um ao outro e se juntar e superar
os problemas inevitáveis que nunca são mostrados no cinema, mas que fazem
parte da vida sexual de todo mundo. Frank, que está tendo dificuldades de
ereção, que ele descreve meio envergonhado como “Charlie decidiu tirar uma
soneca”, está lembrando um recente “encontro” sexual com sua mulher, e que
teve todas as marcas de um desastre. “Sylvie disse alguma coisa sobre meu peso
no início e comecei a ficar meio chateado”, diz Frank, “mas logo ela percebeu o
que tinha acontecido e me abraçou, e fui ficando melhor. Então, num momento
crucial nosso filho de 18 anos chegou mais cedo do que o previsto, e Charlie,
bem, começou a cochilar. Sylvie me lembrou de um livro que tínhamos lido, e
que afirmava que numa sessão de sexo de 40 minutos muitos homens perdem a
ereção por um momento ou dois, mas que se não entram em pânico as coisas
voltam ao normal. Encontramos uma maneira de rirmos de Charlie e
permanecemos abraçados. Mas aí o creme que estávamos usando acabou, e
Sylvie teve que sair da cama e pegar mais”. Agora é Sylvie que está rindo de
forma descontrolada. “Finalmente”, Frank continua, “quando tudo tinha voltado
aos trilhos fiquei meio impetuoso e deixei a vela cair no chão. Aí a cortina
começou a pegar fogo!”. Ele abre um sorriso para a mulher e graceja: “Que noite
quente, hein, amorzinho?”. Resumindo a história, Sylvie lembra que decidiram
desistir do sexo e tomar um chocolate quente. “Mas aí”, ela ri de novo, “Frank
falou alguma coisa sexy e acabamos fazendo amor”. Ela coloca os braços acima
da cabeça, inclina-a para um lado, e faz uma pose à Marilyn Monroe.
Essas histórias me entusiasmam. Elas demonstram que ainda podemos ter
encontros sexuais espontâneos, apaixonados e prazerosos, e fazer descobertas
surpreendentes, mesmo depois de décadas de um relacionamento. Elas mostram
que podemos conectar e reconectar, apaixonar de novo, e que o erotismo é
essencialmente participação e habilidade de “ir na onda” e submeterse à
sensação. Mas para isso precisamos de segurança emocional.
Numa relação segura, a excitação não vem da tentativa de ressuscitar os
momentos românticos da paixão inicial, mas do risco que envolve estar aberto à
experiência de conexão física e emocional de momento a momento, e do aqui e
agora. Com a disposição advém o sentido de que fazer amor com seu par é
sempre uma aventura nova. “A prática e a presença emocional levam à
perfeição”, é o melhor guia para um sexo erótico e prazeroso, digo sempre aos
casais, e não a procura incessante da novidade para combater o “tédio”. Não
admira que um levantamento recente sobre sexo nos Estados Unidos, feito por
Edward Laumann, da Universidade de Chicago, mostre que parceiros casados,
que estão juntos há anos e criaram segurança emocional, fazem mais sexo, e
mais prazeroso, do que os solteiros.
Quando especialistas sugerem que apenas as relações recentes, ainda
desfraldando as bandeiras da conquista e da paixão, podem oferecer sexo
excitante, penso num casal que conheço, mais velho e casados há muito tempo, e
como eles dançam o tango argentino. Os dois estão completamente presentes e
engajados um com o outro. Seus movimentos são deliberados, totalmente
alegres, e assombrosamente eróticos. São tão sintonizados e receptivos um com
o outro que, mesmo que a dança seja fluida, improvisada no momento, eles
nunca perdem o passo ou uma volta. Movem-se como um só, com graça e
grande estilo.

RESOLVENDO PROBLEMAS SEXUAIS


Os problemas sexuais mais comuns relatados nos Estados Unidos são o baixo
desejo sexual das mulheres e a ejaculação precoce ou ereção incompleta entre os
homens. Isso não me surpreende. A maior parte dos casais com dificuldades
ficam enredados nos Diálogos do Demônio. As mulheres normalmente se
sentem sozinhas e isoladas. Elas ou buscam o sexo consolo ou se bloqueiam
sexualmente. Os homens se tornam inseguros. Dedicamse ao sexo lacrado ou
experimentam dificuldades sexuais. Quase sempre, quando um casal pode criar
uma conexão segura, sua vida sexual melhora automaticamente, ou por meio de
um esforço conjunto. O prazer e a intimidade do sexo renovado compartilhado,
bem como o fluxo de oxitocina no orgasmo, por sua vez melhoram o
relacionamento.
Uma vez que esteja se sentindo mais segura, Ellen finalmente é capaz de
confiar a Henry que não consegue atingir o orgasmo ao mesmo tempo em que
ele. Há anos ela vem fingindo. Henry não fica ofendido ou ameaçado com a
revelação. Passa a apoiála e confortála. Ele também recorre aos livros e
tranquiliza Ellen com a informação de que cerca de 70% das mulheres não
atingem o orgasmo apenas com a relação. Juntos, desenvolvem três estratégias
eróticas para o projeto “Orgasmos para Ellen”.
Façamos um atento exame de como a conexão e o vínculo se entrelaçam num
relacionamento. A paixão não é uma constante. O desejo naturalmente aumenta e
diminui com os acontecimentos, as estações, a saúde, por mil razões. Essas
flutuações, contudo, atingem um ponto nervoso na maioria de nós, e a menos
que possamos falar delas abertamente, podem desencadear ou ampliar problemas
de relacionamento. Muitos parceiros podem tolerar sexo infrequente, mas não
podem tolerar que seus parceiros não os desejem. Lidar com esses sentimentos é
um desafio que muitos parceiros têm de enfrentar, até mesmo os relativamente
seguros. Foi assim também para Laura e Bill.
Eles vieram me procurar logo depois que Laura se recuperou de uma
depressão provocada pela perda do emprego. Seu médico, que sabe que um
relacionamento saudável é a melhor proteção contra uma recaída, e percebeu que
ela tinha algumas dificuldades com o marido, encaminhou-os para um “check up
marital”. Laura expõe suas preocupações. “Nós nos amamos muito”, ela diz.
“Mas, bem, Bill estava sempre excitado. Estava sempre me acariciando. E eu
gostava. Se eu não quisesse fazer amor, dizia ‘Não’ e ele aceitava. A gente se
acariciava, brincava e se abraçava. Mas agora, nos últimos anos, ele
simplesmente não me procura mais. E quando fazemos amor, é ótimo, mas se eu
não começo não acontece. Isso me magoa muito. Estamos juntos há vinte anos.
Será que estou velha agora e não sou mais sexy para ele? E acabo indo para a
cama mais tarde, quando ele já está dormindo. Para evitar tudo isso. E estamos
ficando cada vez mais distantes.” Bill reage: “É que não tenho mais o mesmo
vigor que tinha. O trabalho me deixa completamente exaurido — você sabe. Mas
gosto de fazer amor, e você é uma mulher muito sexy. Não vejo nenhum
problema. Bem, exceto que você esteja se sentindo mal, claro”.
Essa é uma daquelas ocasiões em que ser capaz de ter uma conversa A.R.E.
realmente importa. A questão é: pode Laura continuar magoada e procurar Bill, e
pode ele ouvir seu protesto e responder? “Como você está dizendo”, Laura me
fala, “quando brigamos podemos entrar numa ciranda tipo ‘eu pressiono e Bill
fica de mau humor’, mas podemos conversar e acertar. E acho que temos um
bom casamento. Mas para nós é difícil falar de sexo. Tentamos, e funciona por
uns tempos, mas depois volta ao que era antes.” Desde que os dois foram
capazes de perceber as espirais negativas de seu relacionamento, e criar mais
receptividade entre eles, sugiro que falemos do mesmo jeito sobre sua vida
sexual.
Pergunto quais são suas expectativas sexuais. Bill diz que gostaria de fazer
amor a cada duas semanas, mais ou menos. Laura diz que prefere a cada 10 dias.
Todos rimos; o problema parece ter se encolhido. Então, apertamos o foco. Bill
diz que o único problema que vê é que Laura parece irritada e um pouco
distante. “Quando quero me aproximar dela e acariciála à noite, ela não quer, e
sinto falta”, ele revela. “De fato, se penso nisso, a falta aumenta.” Laura começa
a chorar. “Eu só não quero começar e depois chegar ao ponto em que fico
pensando que você vai querer fazer amor e ficar desapontado. E acho que tenho
estado muito assustada até para falar qualquer coisa. Você me pergunta se estou
sexualmente frustrada, e quando digo ‘Na verdade não’, a conversa termina.”
Vejo a ansiedade antecipada de Laura e seu movimento para fugir e se proteger.
Concordamos que essa inabilidade de falar sobre as alterações na vida sexual dos
dois está começando a se interpor entre eles e a ferilos.
Peço-lhes que falem mais sobre suas feridas. Laura reluta por um momento,
mas depois consegue ir contando o que é doloroso para ela. “Um pouco é o
temor de que você não me vê mais como mulher. Sou apenas a esposa. Com
mais rugas e um pouco mais gordinha que antes. É doloroso pensar que já não
sou mais sexy e que você não me deseja mais. Você me abraça como eu abraço
uma amiga. Você parece não me dar mais aquela atenção afetuosa. E que fazia
me sentir muito bem. E tão próxima.”
Bill está realmente prestando atenção, e pergunta à mulher: “Esse é o ponto
básico? Você se sente rejeitada, e pensa que não a acho mais sexy?”. Laura
suspira, chora e balança a cabeça concordando. “Bem, então quando fazemos
amor me sinto de alguma forma tensa. Sinto que sou desejada. Por um instante.
Sei que você trabalha muito e está exausto, mas penso que para você é
indiferente fazer sexo ou não. Não é importante. Às vezes acho que se não
pressiono, essa parte da nossa vida desapareceria. E você deixará. Quando penso
sinto raiva. Então digo para mim mesma: ‘Tudo bem, não vou começar. Ele que
vá para o inferno. Mas depois me vem essa mágoa.’” Ela põe a mão sobre o
coração. Bill se aproxima e pega sua mão.
Eu pergunto: “É isso, Laura? Mágoa normalmente vem acompanhada de
tristeza e raiva e medo. Você acha que fazer sexo com você não é importante
para Bill. É isso? Ou há mais coisas?”. Ela concorda com a cabeça e depois
continua. “Se não tomo a iniciativa e me aproximo e sugiro que façamos amor,
fico enredada nesses sentimentos. Se tomo...” A voz fraqueja e ela aperta os
lábios. “É tão difícil falar. Não deveria ser. Temos um bom casamento e sou uma
pessoa forte. Mas fico apavorada de ter de me aproximar. É como cair de um
penhasco. Nunca tive de fazer isso antes. E quando você sorri gentilmente e diz
que está cansado, vira e vai dormir, por dentro eu morro. Finjo que não tem
importância, mas realmente me custa muito pedir.” Bill murmura: “Nunca soube
disso”.
“O que todos esses sentimentos mostram é que você precisa de Bill?”, eu
pergunto a Laura. Ela responde a ele: “Acho que preciso de sua reafirmação de
que dá importância quando fazemos amor. Que você está envolvido. Que você
ainda me deseja. Preciso que tenhamos um tempo para nós, para saber que ficar
comigo Algumas vezes vem em primeiro lugar. Preciso que você mostre —
como mostrava antes — que ainda é o meu homem”. Bill retruca avidamente.
Num ímpeto diz a ela que está tão esgotado, que está “andando dormindo” na
maior parte do tempo. Que a ama, e que pensa nela com desejo durante o dia.
“Mas nunca percebi que sugerir fazer amor fosse tão difícil para você. Sinto
muito, muito”, ele diz. “Fico com medo de te procurar e então, por estar tão
cansado, minha ereção pode não funcionar bem, e aí só continuo se estou
confiante.” Os dois começam a rir, e relembram o tempo em que isso aconteceu
e eles simplesmente acabaram ficando abraçados, sem muita carícia, mas se
sentindo muito próximos.
Essa conversa era tudo o que Bill e Laura precisavam para trazer sua vida
sexual de volta a uma zona segura de contato e conexão. Mas também serviu
como um alerta. Sugeri que eles desenvolvessem um cenário sensual a seguir
quando o ato sexual não estivesse muito garantido. Bill ajudou Laura nessa hora,
e começou sugerindo que fizessem amor com mais frequência. E também teve
mais cuidado de garantir a Laura que, quando ela tomasse a iniciativa, ele ficaria
grato por ela ter assumido o risco. De seu lado, ele disse explicitamente a ela que
precisava saber se ela o desejava, e que não queria que ela evitasse sexo ou
intimidade com ele. E reiterou que a amava e sentia atração sexual por ela.
Bill e Laura também começaram a prestar mais atenção à maneira como
faziam amor. Todo cômodo necessita de um pouco de limpeza e de nova
arrumação de tempos em tempos, e isso inclui o quarto de dormir. Os dois leram
juntos alguns livros eróticos e falaram, pela primeira vez em anos, sobre como
poderiam excitar um ao outro e ter sexo mais prazeroso. E relataram que a vida
sexual tinha melhorado, da mesma forma que o relacionamento.
Como disse a Bill e a Laura na última sessão, a técnica sexual é apenas o
papel de presente, e não o presente! Eles tinham o melhor de todos os manuais
de sexo, a habilidade de provocar intimidade, sintonizar-se e viver em sincronia
emocional.

JOGUE E PRATIQUE

APENAS VOCÊ

Houve algum comentário ou afirmação neste capítulo que fez você pensar na sua
própria vida sexual? Que sentimento então aflorou em você? Escreva. O que
esse sentimento, seja ele uma sensação corpórea ou uma emoção como raiva, lhe
diz sobre a sua própria vida sexual?
Na cama com o parceiro você geralmente se sente emocionalmente
seguro/segura e conectado/conectada? O que ajuda você a pensar assim? Quando
não se sente dessa maneira, como seu par pode ajudar?
Qual é o seu estilo sexual — Lacrado, Consolo ou Sincrônico? Em toda
relação os três estilos provavelmente ocorrerão algumas vezes. Mas se você
habitualmente tende ao Sexo Lacrado ou ao Sexo Consolo, isso revela alguma
coisa sobre seu sentimento de segurança no relacionamento.
Quais são suas quatro mais importantes expectativas na cama? Pense
cuidadosamente antes de responder. Algumas vezes não são as que vêm primeiro
à nossa mente. Parceiros já me contaram que sua mais importante expectativa
depois do sexo era ser abraçado e acariciado afetuosamente, mas nunca tinham
expressado esse desejo ao outro.
Você acha que acaricia e abraça o suficiente em seu relacionamento? Um
simples toque pode expressar conexão, consolo e desejo. Quando você desejaria
ser mais acariciado e abraçado?
Se escrevesse um Guia Breve para o parceiro sexual de ............, e colocasse
seu nome, o que você incluiria? Instruções básicas poderiam incluir respostas ao
seguinte: o que ajuda você a dispor-se emocional e fisicamente ao sexo? O que
excita mais antes e durante a relação sexual? O quanto você gostaria que os
estímulos sexuais preliminares e o ato durassem? Qual é a sua posição preferida?
Você gosta mais de sexo precedido de estímulos ou de sexo direto? Qual é a
maneira de seu parceiro excitar e estimular mais você a atingir ao mais profundo
engajamento na relação sexual? Você é capaz de pedir?
O que torna o sexo mais prazeroso para você? (Pode ser que não seja o
orgasmo, nem o ato.) Quando se sente mais inseguro/insegura ou desconfortável
durante o sexo? Quando se sente mais próximo/próxima de seu parceiro?
Se você é capaz de partilhar o exposto acima com o par, ótimo. Se não, talvez
você possa começar uma conversa sobre o quanto é difícil compartilhar esse tipo
de informação.

COM O PAR

Você pode estimar qual a porcentagem de encontros sexuais realmente


prazerosos você gostaria de ter? Lembrese que em levantamentos os casais
indicam que pelo menos 15% ou 20% dos encontros sexuais são basicamente
fracassos, pelo menos para um dos parceiros. O que gostaria de fazer, como
casal, quando o sexo não está funcionando para você fisicamente? O que
gostaria de fazer quando o sexo não está funcionando emocionalmente? De que
modo seu par pode ajudálo nessa hora? Criem juntos um cenário
cinematográfico de seu sexo que gostariam de ver exibido na tela de cinema.
Jogue o Jogo da Perfeição. Começa com:
Se fosse perfeito na cama, eu faria .................. e então você .................
se sentiria mais ..................
Veja se pode compartilhar pelo menos quatro de suas respostas. Depois diga
uma coisa em que o par é sexualmente perfeito/perfeita para você na cama ou
fora dela.
Os dois podem lembrar uma época de seu relacionamento em que o sexo era
realmente prazeroso? Partilhe a história desse momeno com o par da maneira
mais detalhada possível. Contem um ao outro o que aprenderam ao ouvirem essa
história.
Pense em quantas maneiras o sexo pode aparecer no seu relacionamento. Pode
ser simplesmente um divertimento, uma maneira de ter intimidade, uma descarga
física, um jeito confortável de lidar com o estresse ou o aborrecimento, um
caminho para o romance e fuga do mundo, uma aventura erótica, uma hora de
conexão carinhosa, uma eclosão de paixão. Você se sente seguro/ segura ao
experimentar tudo isso com o par? Qual seria o risco que você gostaria de
assumir na cama? Você pode falar ao par sobre o risco e explicar como ele/ela
deveria responder no caso de as coisas não darem certo, ou darem muito certo?

Costumávamos pensar que o sexo vibrante de emoção e erótico, e um


relacionamento seguro e estável, eram contraditórios. Agora sabemos que
relações seguras são um trampolim flexível para os encontros mais
transbordantes de emoções. Por outro lado, manter seu relacionamento físico
aberto, receptivo e engajado, ajuda a manter fortalecida sua conexão emocional.
A próxima, e última conversa, vai explorar mais como manter seu amor
vibrantemente vivo.
Conversa 7:
Mantendo vivo seu amor
“Qualquer um que esteja aborrecido com o casamento
é porque não está prestando atenção.”
O MARIDO DE UMA AMIGA

“Vocês se dão conta das incríveis alterações que fiZeram em seu


relacionamento?”, pergunto a um casal extremamente agradável ao final de
uma sessão muito positiva. Inez, ruidosa, ruiva e sempre cheia de paixão,
responde: “Sim, mas dá para mantermos esse sentimento? minha irmã é muito
egoísta”. E me fala: “Você acha que encontrou o amor de novo com Fernando.
Mas o casamento é só um hábito. Tem uma data de vencimento, como o leite.
Em seis meses você vai voltar ao mesmo velho absurdo. Você não pode manter o
amor preso. É assim que ele é”. Fico com medo quando ela me diz isso. “Será
que vamos cair de novo em todas aquelas brigas e isolamento?”
A sessão termina aí, mas enquanto faço minhas anotações percebo que tenho
duas vozes na minha cabeça. Uma cita o filósofo grego Heráclito: “Tudo muda,
nada é”. Isso tem que ser verdadeiro para o amor também, medito. Pense no alto
índice de recaídas das terapias de casais. Talvez a irmã de Inez esteja apenas
sendo realista. Mas depois a outra voz se intromete com uma citação de Su
Tung-p’o, poeta chinês do século XVII: “Ano após ano me recordo daquela noite
enluarada que passamos juntos, entre as colinas de pinheiros atrofiados”. Talvez
momentos de profundo apego sejam suficientemente poderosos para manter
unidos os parceiros ano após ano. Penso na nossa pesquisa que mostra que os
casais se apegam à satisfação e à felicidade que alcançam nas sessões de TFE,
mesmo que suas vidas sejam imensamente estressantes.
Nessa hora percebo a resposta para a pergunta de Inez. Na sessão seguinte lhe
digo: “Tudo se move e muda, mas para as relações amorosas não existe mais ‘é
assim’. Estamos finalmente aprendendo a ‘fazer’ e ‘manter’ o amor. E cabe a
você e a Fernando decidirem agora como vai ser no seu relacionamento.
Provavelmente, se não cuidarem ativamente do relacionamento, os ganhos pelos
quais lutaram podem desaparecer. Mas o amor é como uma língua. Se você fala,
ela flui cada vez mais facilmente. Se não fala, você começa a desaprendê-la”.
As conversas A.R.E. são a linguagem do coração. Elas reforçam o refúgio
seguro que é a sua relação, e alimentam sua habilidade de ser flexível, explorar e
manter o amor vivo e aumentando. A Conversa 7 é um mapa rodoviário que vai
levar seu amor até o futuro. Os passos implicam:
• Recapitular e refletir sobre os pontos perigosos de seu relacionamento, nos quais você resvala para a
insegurança e fica emperrado/emperrada nos Diálogos do Demônio. Isso vai permitir entender os
desvios e atalhos que vão leválo de volta a uma conexão segura.
• Celebrar os momentos positivos, sejam fugazes ou duradouros. Isso envolve, primeiro, refletir sobre
os momentos de seu dia a dia que estimulam a abertura e a receptividade, e reforçam seu entendimento
do impacto positivo que têm um sobre o outro; em segundo lugar, falar sobre os momentos de
mudança, na história recente da relação, em que o amor se intensificou.
• Planejar rituais para os momentos de separação e reunião em seu dia a dia, para marcar o
reconhecimento do vínculo, do apoio e da capacidade de reação emocional. Esses rituais são uma
maneira de manter seguro o relacionamento em meio a um mundo cheio de apelos e caótico.
• Ajudar cada um a identificar as dificuldades de apego manifestadas em diferenças e discussões
recorrentes, e a decidirem juntos como neutralizar essas dificuldades antecipadamente para criar
segurança e confiança emocional. Isso vai permitir resolver problemas sem deixar que as dificuldades
mais intensas interfiram. Chamo a isso de Estratégia da Segurança em Primeiro Lugar. Uma vez que a
segurança emocional se estabeleça, um dos parceiros pode levantar um problema de forma mais suave
e menos agressiva, e o outro pode permanecer emocionalmente engajado na discussão, mesmo que ele
ou ela não concorde com a visão que esteja sendo apresentada.
• Criar uma História de Relacionamento Elástica. Esse relato descreverá como os dois desenvolveram e
continuam desenvolvendo um vínculo amoroso. E descreve como ficaram presos a um conflito e a um
distanciamento, e como aprenderam a sanar desavenças, a reconectar e perdoar ofensas. É a história
que vai gerar paixão novamente.
• Criar uma Futura História de Amor. Essa história projeta como você quer que seu vínculo seja daqui
a cinco ou dez anos, e como gostaria que o par ajudasse a transformar o desejo em realidade.

A Conversa 7 se baseia no entendimento de que o amor é um processo


contínuo de busca e perda de conexão emocional, e da procura para encontrála
de novo. O vínculo do amor é algo vivo. Se nós não prestamos atenção e
cuidamos dele, naturalmente ele começa a murchar. Num mundo que se move
cada vez mais rapidamente, exigindo que desempenhemos cada vez mais tarefas,
é um desafio estar disponível e zelar pela necessidade de conexão nossa e do par.
Essa última conversa exige que você seja determinado e atento ao seu amor.
Vejamos como isso funciona na prática.
DESVIOS DOS PONTOS PERIGOSOS

Inez e Fernando não têm dificuldade em identificar os pequenos momentos de


perigo. Eles vêm dançando a Polca do Protesto há anos, dança tornada mais
agressiva pelos excessos de Fernando com a bebida, e as ameaças extravagantes
e os flertes vingativos de Inez. Agora, nessa conversa, Inez é capaz de dizer a
Fernando: “Quando você fica em silêncio e se afasta de mim, fico com medo.
Quero poder dizer: ‘Hei, Fernando, por favor, fique junto de mim’. Você acha
que poderia atender? Iria me ajudar muito. Acho que minha ansiedade então iria
embora”. Fernando, por seu lado, diz a Inez que ele deseja que ela diga
simplesmente que está com raiva dele, e conte exatamente o que a aborrece, em
vez de ficar lançando ultimatos. Os dois concordam que esses desvios podem
ajudar cada um a manter o equilíbrio emocional e a ficar fora das espirais
negativas.
Outro casal, Christine e Darren, quase se divorciaram por causa da
infidelidade dele. “Acho que estamos nos restabelecendo do affair”, ela diz a
Darren. “Mas quero que saiba que, nesse momento, a mais tênue sugestão de que
não estamos fazendo amor com frequência suficiente me faz querer fugir e me
esconder. Nessa hora, o medo de que vai querer sempre mais do que posso dar
fica evidente para mim. Mas isso já não me transtorna, embora ainda me
provoque náuseas na hora.” Darren responde: “Eu entendo. Quando falei aquilo
na outra noite, foi meu jeito desajeitado de tentar dizer que eu desejo você. De
que modo posso ajudar nessas horas?”. Christine, obviamente aliviada,
murmura: “Talvez dizer de forma direta que o sexo que fazemos é bom e que
você fica feliz de estar comigo”. Ele sorri e responde: “Isso eu posso fazer”.

CELEBRANDO MOMENTOS DE CONEXÃO

Na maioria das vezes não contamos a nossos parceiros como eles nos comovem
com a espontaneidade de pequenos gestos e palavras, e criam uma sensação de
que somos parte. Fernando, com um pouco de constrangimento, confessa que
quando Inez, depois de tudo o que tinham passado, o apresentou a uma colega,
dizendo “Este é o meu amor, meu marido”, ele derreteu por dentro. Isso o fez
sentirse “precioso” para ela. E pensa nisso todo dia.
Ninguém esquece aqueles momentos em que o amor de repente assume um
papel mais importante. Esses momentos A.R.E. nos acompanham para sempre. E
é importante compartilhálos. Kay diz a Don: “Um momento marcante para mim,
para superar nossas divergências, foi aquela noite quando você, mesmo depois
de 45 anos de casados, me contou o quanto era importante para você que eu
segurasse sua mão. Você sempre estende a mão, e acho que algumas vezes a
seguro, e outras vezes não. Quando me contou o quanto era importante que eu
segurasse sua mão, pois para você isso significa que estamos juntos, e que
podemos fazer qualquer coisa, fiquei comovida. De repente vi você como
alguém que precisava de mim, e não como esse homenzarrão dominador que
gostava de estabelecer regras”.
Numa sessão com outro casal, estamos discutindo como a depressão de
Lawrence arruinou a sua vida. “Não acho que teria conseguido superála sem sua
ajuda”, ele diz a Nancy, sua mulher. “Mesmo quando estava tão isolado você
continuava disponível para mim. Aquele dia em que fui fazer uma entrevista
para um emprego, e deram o lugar para aquele outro sujeito, e voltei para casa
me sentindo o maior fracassado do mundo, lembra o que você disse?” Nancy
balança a cabeça. “Você me beijou e disse, ‘Você é o meu homem. Não importa
o que aconteça. Nós vamos superar isso. Eu o amo, mister’. Eu nunca vou
esquecer isso. E ainda me ajuda quando as coisas ficam difíceis e duvido de
mim.”
Mesmo quando os parceiros são apanhados nos Diálogos do Demônio, um
deles ainda pode descobrir uma empatia que me tira o fôlego. Eu os encorajo a
segurarem esse momento como se fosse uma luz na escuridão enquanto lutam
para renovar seu relacionamento. Maxine, que normalmente tem raiva de Ricky
por seu “silêncio”, de repente diz a ele numa voz baixa: “Eu acho que entendo.
Você parece tão calmo. Mas você está com medo. Você é aquele garotinho
solitário que vejo na fotografia que temos sobre a lareira. O mais solitário
garotinho do mundo. Você nunca estava confortável em lugar nenhum. E agora
está comigo, a mulher mais falastrona que existe, e eu fico te sufocando. Então
você simplesmente se vira para dentro e tenta se acalmar. Isso é tão triste. E deve
continuar sendo solitário, aí dentro”. Rick se lembra disso como o instante em
que de repente se percebeu visto e compreendido, e que embora sua mulher
estivesse com raiva dele, ela o amava.
Manter vivo um amor consiste, na maior parte, em reconhecer esses
momentoschave de conexão e mantêlos num lugar em que os dois possam vêlo,
da mesma maneira que fazemos com fotografias dos bons momentos da família.
Elas nos lembram de como nossa relação é valiosa, e de como é uma conexão
próxima. Elas nos lembram das maneiras singelas com as quais podemos
transformar o mundo do nosso par com o poder de nosso carinho.

MARCAR OS MOMENTOS DE SEPARAÇÃO E DE


REENCONTRO COM RITUAIS

Os rituais são uma parte importante da sensação de ser parte. São cerimônias
intencionais, e repetidas, que identificam um momento ou uma relação especiais.
Os rituais nos unem, emocional e fisicamente, de modo a nos fixar no momento
presente de uma maneira positiva.
A religião sempre usou os rituais. Lembro-me de um estudo famoso,
conduzido pelo psicólogo Alfred Tomatis, com um grupo de monges
diagnosticados com depressão. Depois de muitos exames, os pesquisadores
concluíram que a depressão do grupo foi provocada pelo fato de terem
abandonado o ritual de se reunirem duas vezes por dia para entoar cânticos
gregorianos. Eles tinham perdido o sentido de comunidade e o conforto de
cantarem juntos em harmonia. Criar belos momentos musicais era um
reconhecimento formal de sua conexão e de um momento de alegria
compartilhada.
Entre todos os primatas a reunião e a separação são momentoschave de apego.
Percebemos isso com nossos filhos quando eles são pequenos. Normalmente os
beijamos para nos despedir e os abraçamos quando voltam. E por que não
aproveitar esses momentos para reconhecer formalmente nossa relação com a
pessoa amada da mesma forma? Pequenos gestos habituais que contenham a
mensagem “você é importante para mim” fazem muito para manter uma relação
segura e sólida.
Os parceiros, às vezes, têm dificuldades para identificar os rituais de
separação e reencontro. Joel fica sem expressão quando peço que identifique
esses atos de liturgia em seu casamento com Emma. Ele me diz: “Diabos, sei que
toda vez que chego em casa e o cachorro fica em volta de mim abanando o rabo,
eu sempre me sento e dou nele uns tapinhas carinhosos. Mas acho que não sei
fazer isso com Emma. O que devo perceber e fazer deliberada e regularmente
todo dia para nos manter sempre unidos? Eu não tenho certeza”. Enquanto ele
coça a cabeça, Emma dá um risinho e o ajuda. “Bobinho, você não acaricia só o
cachorro! Exceto quando a gente fica meio estranho um com o outro, sempre que
entra na cozinha você me diz, bem carinhoso, ‘Como está o sol da minha vida?’
e depois também me dá uns tapinhas, normalmente no traseiro. E gosto disso de
montão. E conto com isso.” Joel parece aliviado e comenta: “Oh, certo. Ótimo.
Bem, de agora em diante talvez devêssemos transformar isso em duas palmadas
e um beijo. Em você, quero dizer, não no cachorro”.
O que você não percebe costuma desaparecer. Parceiros angustiados algumas
vezes se queixam amargamente da perda desses pequenos rituais. Cathy diz a
Nick: “Você não me abraça mais antes de sair toda manhã. Na verdade, você
nem se despede mais. É como se fôssemos apenas companheiros de quarto.
Moramos em mundos totalmente separados, e para você está ótimo”. Depois de
algumas sessões de conversas A.R.E., Cathy e Nick decidem restabelecer o
ritual, e embelezálo com algumas perguntas sobre o que o outro vai fazer durante
o dia. Algumas vezes estendemos esses rituais à vida da família. Lembro-me que
transformamos o jantar de domingo a dois numa reunião familiar quando meus
filhos começaram a crescer. Também me lembro de meu filho, muitos anos mais
tarde, se queixando; “Estou ocupado. Afinal, por que temos de ter esses jantares
de domingo?” Minha filha menor respondeu, com menosprezo: “Porque é
domingo e somos uma família e é especial, idiota”.
Ajudo casais a desenvolverem seus próprios rituais de ligação, principalmente
a reconhecerem os momentos de reencontro e separação, ou os momentoschave
de fazer parte. Esses são momentos deliberadamente estruturados e que
estimulam a futura conexão. Aqui estão alguns que surgem de tempos em
tempos.
• Regularmente, e deliberadamente, tocar, abraçar e beijar ao acordar, ir dormir, sair de casa, e voltar.
• Escrever cartas ou bilhetinhos para o outro, principalmente quando um vai se ausentar, ou quando o
casal se reconciliou depois de uma briga ou de um distanciamento.
• Participar de rituais espirituais ou de outra natureza, tais como reuniões formais para jantares
especiais da família, plantar as primeiras flores da primavera no jardim da casa, orar ou participar
juntos de eventos religiosos.

• Ligar habitualmente durante o dia para ter notícia ou falar com o outro.
• Criar um ritual pessoal de comunhão, isto é, um momento de compartilhar coisas pessoais e conectar-
se, mas não para falar de problemas ou discussões pragmáticas. Pete e Mara criaram um ritual diário
que começa quando um pergunta: “E então, como você está nesse momento?” Ou: “Então o que vamos
fazer juntos?”. O ritual é o sinal para mudarem o ritmo da conversa para outros assuntos. Sarah e Ned
criaram um momento específico semanal. Às sextas-feiras, depois do jantar, eles esticam o café em
pelo menos meia hora. Eles chamam esse momento de “tempo de compartilhar”.
• Destinar um momento especial para simplesmente ficar junto, por exemplo, tomar café na cama sem
os filhos, todo domingo, ou alterar horários para tomar café juntos todo dia.
• Criar rotina de saídas regulares à noite, mesmo que seja uma vez por mês.
• Uma vez por ano fazer um curso juntos, aprender alguma coisa, ou mesmo fazer um projeto juntos.
• Celebrar dias especiais, como datas comemorativas ou aniversários, de forma muito pessoal. Quando
me sinto tentada a comemorar essas celebrações com quem amo, sempre me lembro de que são
símbolos concretos de que você existe na mente de alguém, e que isso é o que significa apego seguro.
• Decidir reconhecer conscientemente os esforços e vitórias diários de seu par, e sempre valorizálos.
Como já dissemos, pequenos comentários como “Foi difícil, mas você conseguiu”, ou “Você lutou
tanto por aquele projeto, ninguém teria lutado mais”, ou “Realmente vi você lutando para ser um bom
pai”, quase sempre são mais efetivos do que um conselho concreto. Muitas vezes valorizamos esses
fatos em nossos filhos, mas nos esquecemos quando se trata do nosso par.
• Aproveitar as oportunidades para reconhecer publicamente o valor de seu par e da relação. Isso pode
ser conseguido sob a forma de uma cerimônia, como a renovação de promessas, ou pode ser um
simples “obrigado” a seu par na frente de amigos, por ele ter preparado um jantar maravilhoso, ou ter
ajudado a atingir um objetivo pessoal.

Alguns parceiros precisam desses tipos de rituais formais para sacudir um


estilo de vida habitual que torna qualquer forma de conexão mais próxima quase
impossível. Sean e Amy, trabalhando intensamente para passar de um
distanciamento a uma conexão mais próxima, perceberam que tinham criado
vidas tão assoberbadas pelas exigências das carreiras, longo tempo indo e vindo
do trabalho, que mesmo nos finais de semana eles praticamente não ficavam
juntos no mesmo cômodo por mais de 10 minutos.
Excesso de trabalho crônico e esgotamento se tornaram parte de nossa cultura.
E pensamos que sejam normais. Juliet Schorr, professora de sociologia no
Boston College, observa em seu livro The Overworked American, que os
Estados Unidos (e o Canadá, também), são “a nação mais workaholic do mundo,
e sobrepujam todos os outros países nos números de dias trabalhados e em horas
trabalhadas por dia”.
Os chineses têm três semanas de férias, por lei. A maioria dos países europeus,
seis semanas. Mas Sean era um americano típico. Ele trabalhava todos os finais
de semana, estava disponível para qualquer emergência financeira ou fiscal, e
levava o BlackBerry e o computador nas suas férias regulares de duas semanas
com a família. Cecile Andrews, líder do movimento Simplicidade Voluntária,
relata em seu informe que os casais americanos dedicam apenas 12 minutos
diários para conversarem. Sean e Amy calculam que para eles cinco ou seis
minutos era um número mais preciso, e que suas conversas eram mais sobre
horários e tarefas. Fazer amor era fora de cogitação. Estavam sempre cansados
demais.
Mas eles decidiram colocar a relação em primeiro lugar. No vocabulário
financeiro de Sean, eles iriam cuidar mais de seu “investimento principal”.
Significou reduzir as atividades dos filhos, estabelecer uma saída mensal, criar
um tempo nas manhãs de domingo para fazer amor, e tomar café juntos três dias
por semana. Amy trabalha em casa, então Sean liga durante o dia apenas para
dizer “alô”, algumas vezes acrescentando nomes sexy. Se alguém pergunta a
Amy quem está ligando, ela responde: “É da Autorizada de Reparos de
Relacionamento”. Esse casal reestruturou seu tempo e encontrou maneiras de
alimentar sua relação para que ela cresça e se fortaleça.

SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR

Separar as dificuldades de apego dos problemas práticos, de modo que os


últimos possam ser facilmente atacados em conjunto, é uma parte básica para
manter forte seu amor. Em Nosso estudo inicial usando a TFE nos anos 1980,
descobrimos que os casais que aprenderam a buscar um ao outro, e criar um
vínculo mais seguro, rapidamente se tornavam peritos em resolver os problemas
do dia a dia que tinham contaminado a relação. Rapidamente ficavam
cooperativos, abertos e flexíveis. Entendemos que isso acontecia porque os
problemas mundanos então eram básicos. Ao fortalecer o vínculo os casais
deixavam de ser o cenário em que medos de separação e necessidades não
atendidas se exibiam.
Jim e Mary agora podem discutir as viagens de Jim para mergulhos no mar
sem ficarem enredados nos Diálogos do Demônio. Mas há muito pouco tempo, a
simples menção dessas viagens deflagraria a raiva e a ansiedade de Mary pela
“atitude machista” de Jim e os “riscos que ele corria”. Agora, quando surgem as
dificuldades logísticas para uma longa viagem, Jim primeiro pergunta a Mary se
ela precisa de alguma ajuda para se sentir segura na conversa. Ela teria alguma
coisa que gostaria de expressar?
Mary gosta de ser perguntada, e diz que está com um pouco de medo. Ela não
se sente mais ignorada quando Jim vai nessas viagens, mas ainda sente um
pouco de angústia. Ela comenta que um dos colegas de mergulho de Jim é
conhecido por ser um pouco temerário. Jim assegura que vai seguir as regras de
segurança que foram acordadas entre todos, e se oferece para adiar a viagem se a
equipe de mergulho é causa de preocupação para ela. Mary se sente ouvida e
tranquilizada, e pode ficar aberta a ouvir como essa viagem é especial para o
marido. E depois, juntos, em mais ou menos 10 minutos, eles resolvem os
problemas práticos da viagem.
Eu encorajo os casais, como parte do planejamento para o futuro, a pegarem
um problema atual, como por exemplo, a mulher querer que o marido seja um
pai mais presente, a primeiro terem uma conversa A.R.E. sobre o assunto,
compartilhando as necessidades de apego e o medo de separação que o problema
provoca. Depois eles podem definir o problema de forma pragmática e
considerar as soluções em conjunto. Janet costumava se queixar do marido,
Morris, de que ele nunca a ajudava a estabelecer limites para o filho; Morris
rapidamente rejeitava suas preocupações e se afastava. Agora ela começa
expressando as suas vulnerabilidades. “Acho que não estou sendo uma boa mãe
nessa hora”, ela diz. “Para mim, é muito difícil estabelecer limites para o garoto.
E me sinto como se estivesse oscilando entre ser uma megera e uma banana.
Fico sufocada. Isso nunca termina, estabelecer regras, lidar com seus subter-
fúgios, falando com a escola, leválo a todas essas atividades. Fico com raiva,
mas é porque realmente preciso da sua ajuda nessa hora. Não consigo fazer tudo
sozinha. Sei que você se afasta com frustração, mas quando você faz isso, me
deixa sozinha e sufocada. Por favor, será que podemos encontrar uma maneira de
tratarmos disso juntos?”
Morris, agora se sentindo seguro de que a mulher o valoriza e precisa dele,
ouve e responde à angústia dela. Concordam que os dois ficam sufocados pelas
exigências da paternidade e precisam que se apoiem. Concluem que o problema
do filho é seu excessivo envolvimento com uma turma de bons-vivants, e
decidem conjuntamente estabelecer alguns limites. E discutem especificamente
como se apoiarem nas conversas com o filho quando ele não respeitar esses
limites.
Uma conversa sobre como exercer juntos a paternidade é possível. Mas um
diálogo que resvale para uma raiva incontida ou irremediável dissimulação
nunca vai terminar em soluções factíveis. A essência da habilidade de solucionar
problemas é ficar focado e flexível. A segurança emocional promove uma
abordagem conjunta e uma criativa maneira de solucionar problemas. Estudos
sem conta ligam a segurança emocional e uma conexão estável à nossa
habilidade de expressar nossas necessidades, estabelecermos empatia com os
outros, tolerar a ambiguidade e pensar com clareza e coerência. É sempre
oportuno lidar primeiro com os temas mais sensíveis dos vínculos, e que se
escondem atrás dos problemas pragmáticos, antes de tentar encontrar soluções
factíveis. Algumas vezes apenas esclarecer qual música emocional está tocando
quando um tópico aflora já muda o próprio problema.
Quando Halley pressiona Don a submeterse a tratamento contra a
infertilidade, ele refuga. Eles enfocam o problema de várias maneiras: luta de
poder, diferença de desejo de ter filhos, o egoísmo de Don, a necessidade de
Halley, e sua falta de ajustamento como casal. Tudo isso realmente é um
problema monumental! Numa conversa A.R.E., o problema se altera e encolhe.
Don é capaz de falar sobre como a obsessão de Halley por filhos o faz sentirse
supérfluo. “Algumas vezes fico com medo de ser apenas um banco de esperma
para você”, ele diz. “Preciso saber que sou importante para você por mim
mesmo.” Como Halley e Don são capazes de discutir o tema, e Halley garante a
Don que seu desejo de ter um filho é parte do seu amor por ele, o problema
encolhe e passa a ser uma questão de tempo. Don entende que se puderem
continuar juntos por mais um ano para solidificarem a relação, ele ficaria mais
disposto a se submeter a um tratamento médico contra infertilidade. Halley
concorda.

CRIANDO UMA HISTÓRIA DE RELACIONAMENTO


RESILIENTE

Quando casais são apanhados nos Diálogos do Demônio, muitas vezes não existe
uma história coerente, mas apenas uma confusão do tipo “O que está
acontecendo conosco?”. As histórias dos parceiros podem ser distorcidas e
unilaterais. Eles me dizem que tudo está bem na relação, e depois ficam
enfurecidos se um culpa o outro. Dizem que querem carinho, mas depois contam
uma história rejeitando as tentativas de aproximação do outro. A volatilidade
emocional destrói a coerência de sua história e sua habilidade de criar um fio
narrativo consistente. Mas quando os parceiros ficam sintonizados e se “sentem
sentidos”, isso os ajuda a alcançar um estado de equilíbrio, fisiológico e
emocional, de modo que possam ordenar a informação em suas mentes e criar
histórias coerentes de suas emoções e relacionamento.
Nós usamos as histórias para dar sentido às nossas vidas. E usamos as
histórias como modelo para nos guiar no futuro. Nós modelamos as histórias, e
depois elas nos modelam. Uma vez que os parceiros se sintam seguros uns com
os outros, eles podem criar uma história transparente de sua relação, e calcular
como se recuperar de desencontros e tornar o vínculo mais forte. O relato não
apenas resume o passado de uma maneira que tenha sentido, mas lhes dá um
projeto para o futuro.
Sua história de resiliência deveria recapitular como os dois ficaram atolados
na insegurança e depois descobrir maneiras de saírem juntos desse atoleiro.
Nicole e Bert relataram versões de seu relacionamento tão diametralmente
opostas quando vieram me procurar, que um não reconhecia nenhuma
legitimidade na versão do outro. estavam vivendo em casamentos diferentes, e
nenhuma de suas histórias fazia algum sentido. Mas uns meses depois, com a
conexão mais segura, eram capazes de criar uma história coerente e lógica de
como seus problemas se desenvolveram, e como recuperaram seu casamento.
Chamaram a história de “Como N&B Venceram os Demônios e o
Distanciamento e Criaram o Amor Definitivo”.
“Bem, nos apaixonamos instantaneamente”, Bert começa dizendo, “e mesmo
que não soubéssemos o que estávamos fazendo, pois nenhum de nós tinha
experiência de uma relação realmente boa, até com nossos pais, nos saímos
muito bem. Nós nos amávamos. Mas quando nasceram as três meninas, as coisas
ficaram muito sem graça e frias entre nós. O território de Nicole era a casa, e o
meu, o trabalho e os esportes. Depois, quando ela teve esses problemas de saúde
e paramos de fazer amor, realmente perdemos o contato. Acho que foi culpa
minha, de certo modo — não a apoiei o suficiente e me refugiei no trabalho e
nos encontros com os amigos.”
“Não foi só sua”, Nicole se interpõe. “Fiquei muito angustiada e comecei a
criar caso com tudo. Depois, entramos naquela dança tipo ‘Ataques de Nicole’ e
‘Zona de Exclusão de Bert’, até que a única coisa que podíamos ver era o quão
desagradável o outro era. Finalmente percebemos que estávamos perdendo um
ao outro, e passamos a trabalhar duro para compartilhar nossas feridas e
necessidades. Percebemos que nós dois nos sentíamos desesperadamente
solitários.”
Bert pega carona na história. “Acho que a coisa que mais nos ajudou foi
entender que não éramos tão diferentes assim. Estávamos apenas expressando
nossas angústias de modo diferente. Tive que entender que meu distanciamento
fazia Nicole se sentir vulnerável e amedrontada. Quando ela assumiu o risco de
me contar, passei a ter sentimentos novos em relação a ela.”
Nicole sorri para o marido e acrescenta: “Para mim o momentochave foi
quando você me disse que estava exausto de me ouvir falar de todas as falhas
que via em você, e que estava sofrendo e começando a admitir que eu não o
amava. Eu não queria que você pensasse isso. Então nós dois encontramos um
jeito de falar de nossos pontos frágeis, aproximarnos um do outro, e decidimos
nos dar uma outra chance. Quando relembramos e falamos daquela noite em que
nossa última filha nasceu, você me ajudou a superar toda aquela velha angústia e
ressentimento. Você aceitou que não ficou do meu lado contra aquele médico
como achei que você deveria. Aquilo foi muito importante para mim. Percebi
que podia começar a confiar novamente em você”.
Bert vira-se para mim e ri. “Acho que parecemos muito satisfeitos conosco
mesmos, mas é que nos sentimos como tendo feito uma proeza. Sinto que tenho
minha mulher de volta. Achamos que encontramos a maneira de nos aproximar,
e gosto de podermos falar e contar como o conseguimos. Isso me traz
confiança.”
Bert e Nicole não precisaram de muita ajuda para compartilhar o relato.
Algumas vezes preciso induzir um pouco alguns casais a alinhavarem os
elementos de sua história. Se precisarem de ajuda, sugiro que se unam para
incluírem na história o seguinte:
• três adjetivos ou imagens que descrevam sua relação quando ela ficou paralisada pela insegurança ou
pelas espirais negativas. num beco sem saída, exaurido/exaurida, ou campo minado.
• dois verbos que descrevam precisamente como cada um se movia na dança negativa e como foram
capazes de alterar todo eu pressionava, você me ignorava. Mas aprendemos a falar sobre o quanto
estávamos assustados e buscamos um ao outro.
• um momentochave em que se viram de maneira diferente, Eu me lembro daquele sábado de tarde
quando saí de casa angustiada. Voltei depois, entrei no quarto e vi você chorando. A expressão de seu
rosto realmente me emocionou. Senti nossa tristeza, me aproximei e disse que queria estar junto de
você novamente e precisava de sua ajuda. “Tivemos que nos ajudar a superar e conseguir”.
• três adjetivos, emoções ou imagens que expressem como é o relacionamento nesse instante. Muito
divertido, delicioso, abençoado, de mãos dadas.
• uma coisa que estejam fazendo para manter a conexão aberta Por exemplo: acariciar-nos quando
vamos dormir, beijar-nos quando acordamos.

Marion e Steve, depois de terem conseguido transformar, com sucesso, seu


relacionamento de conflitos intermináveis em uma ligação emocional segura, me
contaram a seguinte história. “No início, nossa relação era fria, tensa e solitária”,
diz Marion. “Steve pressionava, esmurrava a porta, e eu simplesmente me
afastava e escondia. Cada um de nós via o outro como um problema. Mas
naquele dia em que nos descobrimos falando de divórcio, percebemos que cada
um de nós estava aterrorizado com a possibilidade de nos perdermos. Então
começamos a nos ajudar, e a assumir pequenos riscos para aprendermos a
confiar um no outro.”
Steve nesse momento entra na conversa: “Falar da época em que as coisas
realmente começaram a mudar é o mais interessante. Para mim, um
momentochave foi quando Marion chorou, e me disse que tinha sempre
acreditado que não era para mim, e lamentava muito que me sentisse sozinho. E
que ela queria se abrir e ficar comigo, mas tinha medo. Acho que nunca me senti
mais próximo dela do que naquele momento. Nunca tinha compreendido como
ela se sentia por dentro. Que ela não estava querendo me ferir quando ficava tão
distante. E nunca percebi o impacto que meus comentários raivosos tinham sobre
ela, como ela se sentia pequena”.
Eu pergunto: “O que você acha, Marion? Você se lembra de um momento em
que novas emoções afloraram, uma época em que você começou a ver Steve de
uma maneira diferente?”. “Oh, sim”, ela responde. “Foi numa noite quando
estávamos falando da pressão que ele me fazia até eu estourar. De repente ele
ficou muito triste. E me disse: ‘Bem, prefiro ter você com raiva a ter você
indiferente. Pelo menos sei que com raiva eu significo alguma coisa para você’.
Eu entendi. Agora, quando começo a duvidar de tudo, volto àquele instante. E
me acalmo. Meu maridão poderoso precisa de mim. Fascinante, não é?”. Ela
inclina a cabeça para um lado e sorri como se tivesse acabado de descobrir um
segredo maravilhoso. Um segredo que mudou seu universo.
Steve e Marion não têm nenhuma dificuldade de falar de imagens positivas de
seu relacionamento atual. Concordam que a imagem que melhor descreve como
se sentem em relação ao outro agora é a imagem de como se cumprimentam e se
abraçam quando se encontram à noite. Marion diz que se sente mais “confiante”
como pessoa desde que eles foram capazes de dar uma mexida na relação. Agora
ela se sente mais “junto” de Steve, de um modo que a leva a uma “felicidade
tranquila”. Steve escolhe as palavras com cuidado. “Quando ela se arrisca e me
procura, eu derreto”, ele diz. “E me sinto no céu. Temos um novo patamar de
confiança agora. ‘Derreter’, ‘no céu’, e ‘confiança’ servem?” Digo que sim e que
acho que vão se dar muito bem. Sugiro que ele pergunte a opinião de Marion, e
ela responde com um sorriso aberto.
Depois falamos sobre os momentos que viriam em que não perceberiam os
sinais do outro, não responderiam, e voltariam aos ciclos negativos. Eles
recapitulam exatamente como agora podem neutralizar as “espirais” dos ciclos
negativos nos seus Diálogos do Demônio. Nessas horas, Steve diz a Marion:
“Estamos perdendo o prumo e nos ferindo os dois”. Marion me diz: “A única
coisa que realmente posso fazer é respirar fundo e saltar. Digo a Steve que é
aterrorizante e precisamos nos acalmar”. Eles concordam que agora também
param para ouvir o outro, e consolar-se quando esses sentimentos agoniantes
surgem.
Peço que me digam uma coisa que estão fazendo para manter forte o ciclo
positivo de conectar e aproximar. Eles falam que estão escrevendo bilhetinhos a
cada dois ou três dias, com mensagens de amor, e colocando-os sobre
travesseiros, dentro de bolsas, ou no painel de instrumentos do carro. Bingo! Às
vezes também faço isso com meus filhos. Por que diabos nunca pensei em fazer
isso com o meu marido? Também me dizem que depois de fazer amor sempre
falam de alguma coisa que o outro fez, e de que eles realmente gostaram. Com
tantas brigas, os dois tinham perdido a confiança em seus atrativos e habilidades
sexuais; mas agora encontraram uma maneira de recuperar a confiança.

CRIANDO UMA FUTURA HISTÓRIA DE AMOR

Peço aos casais que imaginem sua história de amor futura. Falamos sobre quais
são seus sonhos pessoais para os próximos cinco ou dez anos. Quanto mais
sentimos um refúgio na pessoa amada, mais confiantes, assertivos e ousados
podemos ser. Quando a pessoa amada está do nosso lado tendemos a ter mais
confiança em nós mesmos, e podemos sonhar de maneira inovadora e ampliada.
Nesta história, os parceiros relatam sua visão do futuro do relacionamento.
Depois pedem apoio um ao outro e discutem como podem os dois tornar a
história uma realidade.
“Pessoalmente, gostaria de ter minha própria empresa”, Steve diz a Marion.
“Mesmo que ela fosse pequena. Mas não pode ser sem o seu apoio. E quero
fazer de modo que você se sinta incluída, não negligenciada. As suas ideias
realmente são muito úteis para mim.” Quando é a vez de Marion, ela diz que está
pensando em finalmente terminar sua graduação. E que fica muito grata por ele
ter se oferecido para cuidar das crianças durante suas aulas noturnas. E depois
menciona que dentro de uns cinco anos poderiam pensar em ter outro filho.
Steve revira os olhos e finge cair da cadeira quando ela fala em outro filho. Mas
concorda que poderão falar do assunto, embora ele tenha alguns temores. Ela
mantém o engajamento com ele e concorda em ouvir suas reservas.
Então falamos sobre como imaginam que será o futuro relacionamento. Os
dois querem manter a proximidade recém-conseguida, e se comprometem a
continuar colocando em prática o que desenvolveram para salvaguardar o tempo
que passam juntos. Marion diz a Steve que quer melhorar a vida sexual deles, e
quer que ele leia alguns livros sobre sexo juntamente com ela. Ele concorda. E
deseja que os dois passem mais tempo com os filhos e menos tempo com a
família dela. Isso é difícil, mas ela consegue ouvir seus argumentos e se colocar
disposta a ficar mais aberta à ideia. Então ela fala dos seus limites. Ela não
“pode deixar de passar” os feriados religiosos com a família dela, e ele respeita.
Ela me olha e diz: “Nada mal, hein? Há poucos meses não conseguíamos nem
concordar com a hora de fazer supermercado, muito menos com esse tipo de
alterações ou planos para o futuro”. Uma conexão emocional segura faz toda a
diferença.
Finalmente pergunto: quando ficarem bem velhinhos, o que gostariam de
poder contar aos bisnetos de sua vida em comum? Steve diz: “Gostaria de contar
que fui um bom marido, e que fiz muita força para fazer minha mulher feliz. Que
ela foi o sol da minha vida. Como é agora”. Nessa hora Marion não consegue
falar. Com lágrimas nos olhos, só murmura: “A mesma coisa”.

AGARRANDO FIRMEMENTE AS MUDANÇAS


POSITIVAS: CRIANDO NOVOS MODELOS

Depois da saída de Marion e Steve, comecei a me lembrar de que nos primeiros


dias da TFE não costumávamos perguntar aos casais como pretendiam se agarrar
às mudanças positivas ocorridas. Eu pensava que se você compreendeu o amor,
aceitou suas necessidades de apego e descobriu caminhos por meio das
conversas A.R.E., esses momentos seriam tão inebriantes, que os casais
naturalmente os repetiriam. Você não teria que fazer planos para manter vivo seu
amor. Mas meus casais me ensinaram outra coisa. Quando você descobre novas
maneiras de se conectar com a pessoa amada, é útil pegar as novas emoções,
percepções e reações e integrar tudo numa narrativa que apreenda todas essas
mudanças. A História de Relacionamento Resiliente dá a você uma maneira
coerente de refletir sobre o enredo do seu relacionamento, um enredo que está
sempre se revelando, não importa o quanto seja nítido o seu foco. Os casais me
dizem que isso torna mais fácil para eles agarrar-se às mudanças positivas que
tenham feito, e transforma seu relacionamento num refúgio seguro, que erigiram
juntos e podem reconstruir repetidas vezes.
Parceiros também podem recorrer a esses modelos positivos para ajudálos a
lidar com as interações momento a momento, especialmente quando um ponto
frágil é arranhado. Esses modelos nos ajudam a conter os efeitos quando somos
feridos, e a lidar com nossas dúvidas e permanecer conectados. Quando estou
voando por entre turbulências e quase entrando em pânico, tranquiliza-me
lembrar de que já vivi essa situação em outros tempos, e como pousei em
segurança.
Uma História de Relacionamento Resiliente é um pouco como isso. Marion
me diz num certo momento: “Algumas vezes meu corpo grita comigo para fugir,
diz que essa relação é igual à que tive com meu pai e meu primeiro marido.
Então me lembro das ocasiões em que corri riscos com Steve, e que foi bom.
Isso me ajuda a repensar e correr riscos novamente, em vez de deixálo de lado.
Algumas vezes minha cabeça me diz que cabe a ele responder, que não tenho
que pedir. Mas então me lembro dele me dizendo que não sabe o que fazer, a
menos que eu o ajude e confie nele. É como se uma parte de meu cérebro
dissesse: ‘Estamos em águas infestadas de tubarões’. Mas eu evoco essas
imagens positivas e elas me lembram de que estou apenas numa pequena
piscina. E que estou segura com Steve”.
Novos modelos de conexão positiva desafiam não apenas nossa maneira
habitual de ver e responder ao nosso par, mas também os moldes para os
relacionamentos que se desenvolvem a partir de nossas milhares de interações
com os pais e antigos pares. Eles alteram nossa visão sobre relacionamentos
íntimos e o que é possível neles. Alteram o que somos como pessoas. Estou
falando dos pensamentos cínicos, suspeitos, induzidos por nosso passado, e dos
quais não estamos conscientes, até que irrompem quando estamos em pânico e
não podemos nos conectar em segurança como a pessoa amada.
Steve me diz: “Algumas vezes, quando não posso me aproximar dela, afundo
nesse lugar negativo real, e minha mente me diz que todos os relacionamentos
são uma merda. Que não se pode confiar ou depender de ninguém, e que você é
um tolo se tentar. Que ficar atento às suas costas e assumir o controle é a única
maneira de viver. Então posso ficar muito hostil, e Marion é o inimigo. Mas nos
dias em que Marion e eu podemos nos conectar, e essas ideias surgem, há uma
outra parte de mim que fica calma e se agarra a essa História Resiliente. Ou
talvez seja mais um filme, e não uma história. Penso nas imagens da história que
criamos, e a velha amargura desaparece. Acho que isso me ajuda a ficar mais
aberto com minha mulher, e com outras pessoas também”.
John Bowlby acreditava que generalizamos a partir de milhares de pequenas
interações com aqueles que já amamos, e construímos em nossa mente modelos
de amar e ser amado. Esses modelos guiam as nossas expectativas e reações no
presente. Isso é bom se nossos modelos do passado são claros, coerentes e
positivos, mas não, se são negativos, confusos e caóticos. Nós sempre temos
uma inclinação a favor do que já conhecemos. Se esse preconceito é negativo,
ele pode literalmente nos prender nos hábitos do passado e dificultar ficarmos
abertos às possibilidades positivas com as pessoas amadas. Modelos negativos
nos dizem que a intimidade é perigosa, e que depender de alguém é uma tolice,
ou que somos indignos e não podemos esperar ser amados. Modelos positivos
nos dizem que os outros são basicamente confiáveis, que somos adoráveis e
merecedores de carinho. Quando aprendemos a estimular interações seguras e
amorosas com nossos pares, podemos integrar experiências novas em modelos
que afirmem nossa conexão com os outros, e entrar em um mundo novo. Antigas
feridas e percepções negativas de relacionamentos passados podem ser afastadas
e impedidas de organizar nosso caminho de responder aos nossos amados.
Se nós observamos as pesquisas, como a da psicóloga Mary Main, da
Universidade da Califórnia, com adultos que têm um sentimento íntimo de
confiança e segurança com relação aos outros, esta característica básica não
advém do fato de sempre terem tido relacionamentos felizes com os pais ou
outros responsáveis no passado. É que eles podem ser emocionalmente abertos,
descrever com lucidez os relacionamentos passados, refletir sobre as boas e más
experiências, e dar a tudo um sentido. Quando encorajo os parceiros a
trabalharem para integrar sua nova dança numa visão do que significa amar e ser
amado, estou estimulando que façam uma remodelagem positiva de suas marcas
inconscientes para uma conexão mais próxima com os outros. Essa nova marca
os ajuda a estarem verdadeiramente presentes junto dos parceiros, em vez de
ficarem lutando contra ecos de relacionamentos passados.
Numa sessão de aconselhamento eu poderia dizer: “Sei que a sua amígdala, a
parte emocional de seu cérebro, está ouvindo novas mensagens e respondendo de
formas diferentes, mas, por favor, pegue essas novas informações, ordene-as,
tabule e armazene no seu córtex pré-frontal, que é a parte da razão em seu
cérebro, para futura referência”. Novas pesquisas de neurociência confirmam
que eu não estaria usando apenas metáforas nesse caso. Dan Siegel, importante
defensor da incorporação das novas descobertas da neurociência no nosso
entendimento dos relacionamentos, observa em seu livro Parenting from the
Inside Out, que os modelos mentais são gravados em nossos cérebros em
padrões de conexões neurológicas. Os neurônios se enviam mensagens, e quando
essas mensagens são repetidas várias vezes, como nos explica o psicólogo
canadense Donald Hebb, os neurônios se ligam juntos e então se conectam
juntos. Experiências novas, se refletimos sobre elas e as assimilamos, podem
realmente remodelar nosso cérebro.
Assim, Marion e Steve estão ocupados traduzindo novas interações em novas
conexões em seus cérebros, conexões que reforçam suas maneiras positivas de
perceber e engajar-se um com o outro. Penso que todas as maneiras de manter
vivo seu amor, descritas nessa conversa, ajudam os neurônios a se conectarem e
criar uma rede neural de esperança e fé, que por sua vez ajudará o casal a manter
a conexão no futuro.
No final, toda essa revisão, esses rituais, criação de histórias, são
simplesmente maneiras de encorajar os casais a permanentemente prestarem
atenção aos seus relacionamentos. Esse cuidado é o oxigênio que mantém uma
relação viva e saudável. O psicólogo Robert Karen, em seu livro Becoming
Attached, nos recorda que para termos um amor forte e duradouro, capaz de
ajudar os amantes a crescerem emocional e intelectualmente, nós não precisamos
ser ricos, ou inteligentes, ou engraçados. Precisamos apenas “estar presentes e
disponíveis”, em todos os sentidos. Se conseguirmos, o amor pode mais do que
durar, pode florescer sempre.

JOGUE E PRATIQUE

• Existe neste momento algum tipo de perigo emergente em seu relacionamento, ecos de pontos frágeis
e ansiedades que estão começando a se manifestar? Você pode identificar a última vez que ficou
consciente disso? Seu corpo envia a mensagem “algo não está bem”, e uma emoção súbita o invade.
Você pode dar um nome a essa emoção? Como seu par pode ajudálo? O que pode acalmar e
tranquilizar você e interromper o desenvolvimento do ciclo negativo? Você pode comentar isso com o
seu par?
• Você pode identificar pequenos momentos positivos em seu relacionamento? Eles podem ser muito
pequenos. Sempre que balançarem seu coração e fizerem aflorar um sorriso em seus lábios, eles são
importantes. Seu par sabe desses momentos? Diga a ele ou a ela.
• Você é capaz de selecionar momentoschave de sua relação quando ela passou para outro patamar, e
você ou seu par assumiram o risco de se tornarem mais abertos e mais receptivos? Como isso
aconteceu? O que você ou seu par fez e que permitiu acontecer? Algumas vezes nos lembramos de um
primeiro beijo, uma reconciliação depois de uma briga, ou um momento em que a pessoa amada se
aproximou e nos deu aquilo de que precisávamos.
• Vocês agora têm rituais marcando a capacidade de estarem disponíveis, a separação e o reencontro?
Vocês conscientemente se dizem alô e tchau? Veja se pode listar esses rituais com a ajuda de seu par.
Vocês poderiam criar um novo ritual diário para o vínculo, e que os faria ficar mais abertos, receptivos
e engajados um com o outro?
• Pensem numa discussão para acertar problemas e que sempre termina em frustração para você e o seu
par. Veja se podem anotar suas necessidades de apego e as ansiedades de separação que estão
subjacentes durante a discussão. Como você poderia expressálas a seu par? O que ele ou ela poderiam
fazer para ajudálo a superálas. Se obtiver essa ajuda, como você acha que afetaria a discussão?
• Com o parceiro, elabore os princípios de uma História de Relacionamento Resiliente. Inclua como
você uma vez ficou preso a um Diálogo do Demônio e como superou o diálogo, criou uma conversa
A.R.E., e renovou o sentimento de conexão. O que vocês dois aprenderam com a experiência? Se
vocês tiverem dificuldades para construir a história, discuta isso com o parceiro e use os elementos
mencionados anteriormente nessa conversa. Por exemplo, cite três adjetivos que descrevam o vínculo,
para ajudálo nesse momento. Discutir os exemplos dessa conversa também pode ajudar.
• Junto do parceiro, crie uma Future Love Story, uma descrição do tipo de relacionamento que pretende
ter nos próximos cinco ou dez anos. Escolha uma coisa que você, individualmente, pode fazer nesse
momento e que contribua para tornar o desejo mais próximo, e comente com o parceiro. Como o
parceiro pode ajudálo a tornar realidade seus sonhos pessoais?
• Identifique uma pequena coisa que possa fazer todos os dias para que seu parceiro sinta que você está
disponível para ele ou ela. Pergunte ao parceiro que impacto isso poderia ter na relação.

Vocês acabaram de fazer uma viagem na nova ciência do amor. Essa ciência
nos mostra que o amor é ainda mais importante do que preconizam as canções
mais inebriantes. Mas o amor não é uma força mística, misteriosa, que nos
arrebata, como essas canções sugerem. O amor é nosso código de sobrevivência,
e contém uma lógica depurada que agora podemos entender. Isso quer dizer que
uma relação amorosa resistente, profunda e prazerosa não é um sonho, mas um
objetivo alcançável para todos nós. E isso muda tudo.
PARTE TRÊS
O poder de Abrace -me Apertado
Curando feridas traumáticas — o poder
do amor
“Falar com minha mulher é um alívio das coisas que
acontecem aqui... Como aquele primeiro respiro depois
de muito tempo debaixo d’água.”
JOEL BUCHANNAN, SOLDADO AMERICANO NO IRAQUE,
WASHINGTON POST MAGAZINE, 22 DE FEVEREIRO DE 2006.

oda vez que algumas pessoas se juntam e começam a contar histórias

T
para tentar entender o mundo aparecem sempre monstros, dragões e
fantasmas. E sempre têm nomes, como a Velha Feiticeira do Norte, o
Dragão de Quatro Cabeças, ou o Anjo da Morte. Esses monstros refletem
nossa sensação de que a vida pode ser muito perigosa e imprevisível.
Quando esses monstros surgem, só temos um recurso — o apoio e o
consolo dos demais. Mesmo quando as coisas parecem irremediáveis, existe
conforto e fortaleza na conexão. Em sua canção “Goodnight Saigon”, Billy Joel
canta como um soldado no Vietnã. O refrão diz: “E todos vamos cair”. E a
canção termina soando como uma afirmação, e não um canto fúnebre. Soldados
reUnidos por vínculos de camaradagem e amor enfrentarão demônios que, caso
estivessem sozinhos, os teriam feito correr.
Minha infância, pagã no pub, mas católica nas salas de aula, foi bastante
segura. Contudo, havia sonhos com o Purgatório e um demônio de olhos
saltados, que se parecia bastante com Madre Tereza, a diretora do colégio,
quando me chamava para prestar contas de crimes como roubar a régua de
Tiffany Amos e golpeála alegremente quando ninguém estava olhando. Eu
costumava rezar para Todos os Santos, minha equipe pessoal de salvadores.
Todos estavam vestidos de azul e branco, e cada um se parecia exatamente como
minha pequena avó inglesa. Minha legião de avós nunca deixou de vir me acudir
e resgatar.
Quando a vida fica perigosa e imprevisível sabemos o quanto precisamos da
ajuda dos outros para enfrentar o desafio que o destino nos reserva. E depois da
luta, quando estamos doloridos e feridos, e toda a máscara de autossuficiência a
que nos aferramos despencou, nossa necessidade dos outros que nos querem bem
assume o papel central. A qualidade de nossos relacionamentos próximos afeta a
maneira como enfrentamos e nos curamos do trauma, e como tudo se move em
círculos, o trauma tem impacto nas relações com as pessoas que amamos.
A palavra trauma vem da palavra grega para ferir. A velha ideia na psicologia
dizia que poucos de nós realmente enfrentamos um trauma ao longo de nossas
vidas. Mas agora estamos começando a perceber que o estresse traumático é
quase tão comum quanto a depressão. Mais de 12% das mulheres nos Estados
Unidos, segundo uma recente pesquisa, relataram um estresse pós-traumático
significativo em algum momento de suas vidas.
Trauma é qualquer evento aterrorizador que instantaneamente modifica nossa
percepção do mundo, deixandonos desamparados e emocionalmente oprimidos.
Já discutimos os traumas causados nos relacionamento pelas pessoas que se
amam, mesmo inconscientemente, na Conversa 5, Perdoando Ofensas. Agora
vamos falar de feridas ainda mais profundas provocadas por pessoas ou eventos
externos às nossas relações amorosas. Ao longo dos anos meus colegas e eu
tratamos sobreviventes de abusos sexuais sofridos na infância, vítimas de
estupros ou violência, pais que sofreram a perda de um filho, e homens e
mulheres que enfrentaram doenças terríveis ou acidentes horrendos. Também
tratamos policiais angustiados com a morte de companheiros, bombeiros
arrasados pela sua incapacidade de salvar todos os que estão em perigo, e
soldados assombrados pelas lembranças das batalhas.
Se você tem um parceiro que responde com amor, você tem uma base segura
no caos. Mas se está emocionalmente sozinho, você está em queda livre. Ter
alguém em quem confiar para obter conexão e apoio torna a cura do trauma mais
fácil. Chris Fraley e seus colegas da Universidade de Illinois descobriram
evidências dessa necessidade no estudo que fiZeram com os sobreviventes do 11
de Setembro que estavam no World Trade Center ou nas imediações. Cerca de
18 meses depois, aqueles que evitaram depender dos outros estavam lutando
contra mais lembranças, hiperirritabilidade, e depressão, em comparação com os
que tinham vínculos seguros com as pessoas amadas. De fato, relatos de amigos
e parentes indicavam que os sobreviventes com essas ligações pareciam até estar
mais ajustados depois do ataque do que antes. Parecia que eles tinham sido
capazes de superar a situação e até crescer com a experiência.
Se não podemos conectar efetivamente com os outros, nossas lutas para
competir com o trauma se tornam menos efetivas, e nosso principal recurso,
nossa relação amorosa, muitas vezes começa a afundar sob o próprio peso. Por
outro lado, enfrentar o monstro tendo a pessoa amada ao nosso lado, nos dá mais
possibilidade de encontrar a força e a resiliência. E permanecer junto fortalece o
vínculo com nossos parceiros.

TRANCANDO OS SENTIMENTOS

Mesmo que num nível instintivo saibamos que precisamos de amor para curar as
feridas de um trauma, nem sempre é fácil abrir-se e buscar esse cuidado.
Muitas vezes, para sobreviver num momento de perigo, Temos que congelar
nossos sentimentos e simplesmente agir. Isso é particularmente verdadeiro para
aqueles que correm riscos em seu trabalho diário. Um bombeiro de Nova York
me diz: “Quando estamos indo para combater um incêndio, especialmente se é
dos grandes, eu vou a mil. Vamos pelas ruas com as sirenes ligadas para salvar
pessoas. E sabemos como salvar. No incêndio, a gente simplesmente age. Não há
lugar para medo ou dúvida. E mesmo que você sinta, simplesmente põe de lado”.
O problema vem depois. Algumas vezes é difícil para nós reconhecer que
estamos feridos. Pensamos que isso nos torna menores ou menos dignos de
admiração como seres humanos. Muitos de nós mantemos esses medos e dúvidas
presos dentro de nós, acreditando que deixar que os sintamos é um sinal de
fraqueza que vai minar nossa força quando o monstro reaparecer. Alguns pensam
que se fechar em si mesmos e manter o monstro isolado numa caixa é a única
maneira de proteger nossa vida familiar. Soldados falam de um código de
silêncio e sobre como têm de enterrar suas experiências de preparação para o
combate para proteger não apenas a eles, mas também as pessoas que amam.
Eles são encorajados a agir dessa forma. Um capelão do exército me diz:
“Falamos aos soldados para não contarem às esposas as más experiências, pois
só vão assustálas e ferilas.E pedimos às esposas que não façam perguntas sobre
as batalhas. Só vão trazer de volta aos maridos lembranças dolorosas”.
Mas os monstros não ficam nas caixas. Eles saem. Esses acontecimentos
alteram para sempre nossa percepção do mundo e a percepção de nós mesmos.
Os traumas destroem nossas presunções de que o mundo é justo e a vida,
previsível. Depois dessas experiências, a maneira como ficamos juntos de nossos
amados e os sinais emocionais que lhes mandamos serão diferentes. O fogo da
respiração do dragão nos muda para sempre.
Um soldado canadense das tropas da ONU encarregadas de manter a paz em
Ruanda, e que presenciou mulheres e crianças serem massacradas, ao voltar para
casa descobre que não consegue abraçar a mulher e filhos. Os filhos parecem ter
os rostos das crianças que morreram. Ele está muito confuso e envergonhado de
contar à mulher. Ele se fecha, por dentro e por fora. A mulher expressa sua
frustração de que “ele nunca voltou para casa”. Ele não está emocionalmente
presente, ela se queixa. Ela não pode “achálo”.
Um soldado, que voltou recentemente do Iraque, e está convalescendo em
casa de uma grande cirurgia, é invadido por uma raiva inexplicável quando sua
mulher sai para ir fazer compras. Ele diz à mulher que nunca mais vai confiar
nela; que a relação deles está acabada. Ela fica totalmente confusa, e depois,
desesperada. Sua confusão termina quando ele finalmente fala do ferimento
recebido no campo de batalha, ferimento que tinha subestimado com a família.
Estendido numa maca, recoberto de sangue, que na maior parte não era seu, ele
recebeu a extremaunção e depois foi deixado sozinho. De repente ela entende
como ele poderia se sentir “ferido” com a ausência dela. Também entende sua
recusa em tomar remédios contra a dor quando ele depois revela que acredita
que sua dor seja uma punição justa pelos “erros” cometidos enquanto em missão.
Temos que ser capazes de descongelar nossos sentimentos e partilhálos com as
pessoas amadas. Isso quer dizer que as pessoas amadas, por um momento,
também precisam ver a cara do dragão. Essa é a única maneira pela qual serão
capazes de entender nossa dor e necessidade, abraçarnos e ajudar a nos
curarmos. O soldado canadense e o soldado ferido no Iraque fizeram o que você
aprendeu a fazer neste livro. Com o apoio dos parceiros, conseguiram se permitir
tocar e compartilhar seus mundos emocionais. Eles não revelaram todos os
detalhes de sua provação, mas aprenderam a expressar o ponto central de sua dor
e de sua luta às pessoas que amavam.
Esses casais foram capazes de ver como a experiência do marido o havia
mudado, do que ele precisava para curar-se,e qual era a melhor maneira de ele
pedir à esposa conexão e consolo. As esposas foram capazes de compartilhar o
quanto foi difícil para elas a época do serviço militar, e o quanto se sentiram
desesperadas com o afastamento de seus parceiros e com a raiva que mostravam
quando voltaram. Quando trabalhamos com soldados e suas esposas, vemos os
dois como guerreiros; um luta numa guerra no exterior, a outra no campo de
batalha doméstico.
Quer compartilhemos explicitamente o que aconteceu ou não conosco, o
trauma é sempre um assunto do casal. Os parceiros sentem a ferroada e o
estresse quando seus amados competem com suas feridas, e também se afligem
com as relações alteradas. Marcie, cujo marido é bombeiro, me diz: “Depois
daquele incêndio quando quatro de seus companheiros morreram, comecei a ter
pesadelos. Eles sempre começavam com o telefone tocando, ou um policial
chegando à porta da casa. E aí eu saberia que Hal tinha morrido. Eu acordava
suando em bicas, e o abraçava na cama. E chorava silenciosamente, para não o
acordar. Eu sabia que ele estava sofrendo muito com o que tinha acontecido.
Ajudou muito quando começamos a nos abrir e a comentar o ocorrido. Ele me
disse que estava sangrando, mas que ainda gostava muito de ser bombeiro. Aí
pude dizer a ele como é difícil às vezes ser mulher de um bombeiro”.
Carol, que se viu envolvida num grande acidente de carro há dois anos, e
ainda sofre de dor crônica e ficou com sequelas físi-cas, fica muito impaciente
quando sua parceira, Laura, chora silenciosamente, mas se recusa a falar; Carol a
acusa de ser fria. Finalmente, em voz baixa, Laura admite: “Tudo bem, estou
perdida. Não consigo lidar com todas essas consultas, advogados, diagnósticos
diferentes, e ainda cuidar sozinha das crianças. E estou tão estressada, que acabo
ficando com raiva de você por ter se ferido. Como posso dizer que também fico
ferida quando você está sofrendo tanto? E que quando você fica irritadiça tudo o
que posso fazer é sair, para não explodir e deixar você ainda mais ferida. Talvez
eu precise que você entenda que o acidente não aconteceu só a você. Aconteceu
a nós duas. O acidente mudou a minha vida para sempre. Eu também preciso de
reconhecimento”.

RECORRENDO À PESSOA AMADA

Como um sentimento de segurança no relacionamento nos ajuda a superar um


trauma?
Dan e Mavis vieram falar comigo, por indicação de médicos preocupados com
o fato de suas brigas frequentes poderem retardar a recuperação de Dan de um
derrame cerebral sofrido três anos antes. As consequências do derrame foram
sérias. Dan, com 46 anos, tinha perdido a carreira, e o casal quase perdera a casa.
Incapaz de falar durante um ano depois do derrame, Dan agora conseguia falar,
mas muito pausadamente, e andava com dificuldade. No meio da sessão percebo
que este casal absolutamente não precisa de nenhuma ajuda minha. Eles têm um
ao outro! São afetuosos e receptivos, e Mavis irradia orgulho quando descreve
como Dan começou um novo negócio, fabricando belos móveis. Pergunto como
superaram o derrame. “Oh, nós apenas nos abraçamos e choramos uns dois
meses”, Mavis conta. “Todo mundo queria que fizéssemos planos concretos, mas
só necessitávamos sofrer juntos. A perda foi muito grande.”
Mavis e Dan estão se ajudando a curar-se, dando um lugar seguro a cada um
onde podem chorar. Os dois ficaram inicialmente sufocados, mas juntos foram
capazes de fazer as pazes com a perda. Dan fala de como Mavis sempre garantiu
que sempre estaria disponível para ele, e que ela acredita na sua força e
habilidade para encontrar uma saída. “Você é um refúgio e um consolo para Dan,
e uma fonte de confiança e esperança, e isso o ajudou a seguir em frente, passo a
passo”, observo.
Mavis, arrependida, admite que nem sempre foi carinhosa e cuidadosa com
ele. Ela, algumas vezes, da mesma forma que Dan, ficou frustrada e irritadiça.
“Perdi a calma um dia e deixei escapar que ele precisava esforçar-se mais para
andar, pois eu não podia tomar conta de tudo. E ele simplesmente se recusou a
olhar para mim, ou a falar comigo, por um dia inteiro.” Dan sorri e acrescenta:
“Então de noite disse que eu mancava tanto, que era um inútil; e que ela era tão
encantadora, que sempre poderia encontrar um outro homem. Mas ela disse
apenas que estava irremediavelmente presa a mim, por mais que eu mancasse”.
Quando Dan não consegue reunir energia para seguir adiante, Mavis faz isso
por ele. “Ela dizia ‘Cante apenas um verso da nossa canção. Faça isso por mim’.
Foi assim que aprendi a falar de novo”, Dan diz. Mavis procura ver o melhor do
marido, e o tranquiliza, dizendo que ainda é muito importante para ela, com
doença ou sem. Ela incessantemente passa a mensagem de que acredita que ele
vai melhorar e criar uma vida melhor para ele. Evita que Dan caia na
desesperança e na depressão. Ela dá a ele uma razão para continuar tentando.
Percebo que embora Dan fale devagar e pronuncie Algumas palavras
arrastadamente, a história que me contam é, sem dúvida, uma criação conjunta.
Sabemos que parte do processo de cura de um trauma é podermos escolher um
acontecimento cataclísmico e transformálo numa história coerente, que dê
sentido ao caos e crie uma visão de renovado controle. Quando um dos parceiros
concentra-se nos aspectos negativos dos incidentes, o outro acorre para
consolálo e mostrar o quadro completo.
Mavis revela: “Depois de alguns meses, quando os recursos médicos pareciam
estar se esgotando, senti muita pressão para ir em frente. Fiquei obcecada com a
ideia de que tudo ia acontecer de novo. Só conseguia pensar nos remédios de
Dan e em evitar todos os fatores de risco para um derrame. Então nos sentamos e
fizemos uma revisão de tudo o que os médicos tinham dito, e decidimos que o
derrame muito provavelmente ocorrera por causa da pressão alta e dos
antecedentes de Dan. Sua família tem um histórico de derrames. Selecionamos
uma pessoa da família que tinha vivido até os 87 anos, seu tio Austin, e
procuramos saber como foi a vida dele. Fizemos quatro alterações e decidimos
que tínhamos uma base para começar e prevenir uma recidiva. Listamos todas as
coisas que já tínhamos feito para enfrentar o problema e o que tinha resultado.
Depois disso fiquei menos ansiosa”. Mas o principal que fiZeram foi enfrentar o
monstro juntos.
Um vínculo seguro nos ajuda a lidar e a curar um trauma quando:
• Alivia nossa dor e nos conforta. A proximidade física e emocional na verdade acalma nosso sistema
nervoso e nos ajuda a reencontrar o equilíbrio, psicológica e emocionalmente. Para o parceiro doente o
conforto do ser amado é tão desesperadamente necessário e poderoso quanto qualquer medicação.
algumas vezes não oferecemos compaixão porque estamos temerosos e pensamos que nossa resposta
emocional de alguma forma enfraquecerá ainda mais o parceiro. Não compreendemos o poder do amor
que podemos oferecer.
• Ajudanos a manter a esperança. Nossos relacionamentos nos dão uma razão para continuarmos
lutando. Dan me diz em voz baixa: “Se Mavis tivesse me abandonado eu teria me entregado e
desistido”. Foi Mavis quem deu a Dan um kit para trabalhos de madeira cerca de um ano depois do
derrame! O fez Dan começar uma carreira nova, e Mavis ficou muito orgulhosa com o trabalho dele.
• Reafirma que a “nova” pessoa em que nos transformamos é ainda valorizada e amada. Precisamos
que nos digam que não é uma marca de fracasso ficarmos sufocados por acontecimentos difíceis.
• Ajudanos a perceber e entender o que aconteceu. Ao compartilhar nossas histórias começamos a
encontrar sentido e a extrair ordem do caos, e recuperar a sensação de controle.

A conexão emocional é crucial para a recuperação. De fato, especialistas em


traumas, na grande maioria, acreditam que o melhor indicador do impacto de
qualquer trauma não é a severidade do evento, mas se o atingido pode procurar e
receber consolo da parte dos outros.
Mas nem todos nós podemos lidar com o dragão com a sutileza de Dan e
Mavis. Como já vimos nos capítulos anteriores, muitas vezes não percebemos os
sinais de necessidade de apego dos outros. Não percebemos o desejo de consolo
emocional ou conexão; entramos em modo de ação, resolvendo problemas
logísticos e práticos, mas deixando nosso parceiro sozinho e sofrendo. Ou
falhamos em enviar um sinal claro de que necessitamos de conforto. Nossa
necessidade, nossa ânsia de conexão, nossa sensação de isolamento quando não
podemos encontrar um refúgio, nossa perda de equilíbrio emocional, todos esses
fatores são exacerbados pelo caos emocional que os acontecimentos horríveis
nos infundem. E quando não podemos encontrar amor e conexão o caos
emocional se aprofunda.

EFEITOS DOS TRAUMAS

Algumas vezes nossas emoções e os sinais que enviamos ficam confusos, porque
os efeitos do trauma são muito intensos. Essas repercussões também podem
assustar e confundir nosso parceiro. Imagens do passado, sensibilidade extrema e
reatividade exacerbada, irritabilidade e raiva, sensação de desamparo e
isolamento grave, são as marcas registradas dos traumas. As pessoas que estão
enfrentando os efeitos do trauma muitas vezes resistem a revelar aos parceiros o
que está acontecendo. Sentem que seriam capazes de superar os traumas
sozinhas, ou que o cônjuge não iria entender. O parceiro então vê nesses
sintomas alguma coisa pessoal e se torna angustiado e assume uma posição
defensiva.
Zena e Will estão tendo uma briga a respeito do que realmente aconteceu e
atrapalhou a relação sexual na noite anterior. Will está ofendido com a “rejeição”
de Zena, e Zena está em silêncio e em lágrimas. Finalmente Zena conta a Will
que, enquanto estava deitada na cama e ouviu os passos dele subindo as escadas,
viu-se de repente no estacionamento onde ela foi estuprada. Ela ouviu de novo
os passos pesados vindo por suas costas, e ficou inundada de medo. A última
coisa que ela queria, naquela hora, era fazer amor. Ao ouvir a revelação, o rosto
de Will transmuda de feroz ressentimento para compaixão e carinho. A confissão
de Zena é crucial. Evitou que Will tomasse a rejeição como uma afronta pessoal
e ficasse com raiva, o que teria confirmado para Zena sua necessidade de ficar
sempre em guarda. Zena explica que seu corpo reage como se ainda estivesse
correndo perigo, embora saiba que está segura em casa. Will é capaz de consolar
Zena enquanto ela chora com a sensação de perda de segurança e controle.
Para nosso sistema nervoso é natural excitar-se uns momentos com o choque
de ter encontrado o dragão. Nosso cérebro está sempre alerta, procurando sinais
de perigo, e apronta todas as defesas ao menor sinal de ameaça. Nós não temos
apenas imagens recorrentes, mas ficamos com a pilha a toda. Não podemos
dormir, e nos tornamos imprevisíveis e facilmente irritáveis. Infelizmente, essa
irritabilidade muitas vezes acaba sendo dirigida ao nosso parceiro. E ele por sua
vez também fica tenso e ansioso. O estresse traumático permeia toda a relação.
Ted, que serviu três anos no Iraque, perde a calma quando outro motorista o
fecha e o faz ir para o acostamento da estrada. Os acostamentos são territórios
muito perigosos no Iraque. Ted persegue o outro motorista por quilômetros, em
alta velocidade, até conseguir bater com o para-choque de seu carro no para-
choque traseiro do outro carro. E diz um palavrão e xinga a mulher, Doreen,
quando ela pede que ele diminua a velocidade e se acalme. Muito depois ele
consegue enxergar o que aconteceu e pede desculpas, e juntos, eles discutem
maneiras diferentes de lidar com esse tipo de situação. A linha divisória entre
ficar ansioso e explodir de raiva é tênue e facilmente ultrapassada, mesmo nos
melhores dos tempos. Depois de um trauma, ela fica ainda mais tênue. Ted
encontra dificuldades em aceitar a revelação de Doreen de que seu
temperamento a assusta. Eles discutem a dificuldade, e escolhem algumas frases
que Doreen pode usar para indicar a Ted que a “raiva e a pilha” estão assumindo
o controle, e que é hora de se acalmar. Agora eles se sentem mais próximos.

FICANDO ISOLADO

Enfrentar o pós-trauma sozinho — fechar-se a todas as emoções numa tentativa


de controlar o tumulto emocional — é desastroso tanto para os sobreviventes
quanto para suas relações. Isso pressiona o parceiro do sobrevivente a uma
espiral de pânico e insegurança, e enfraquece o vínculo entre o casal. também
separa o sobrevivente de todas as emoções ligadas à recuperação, incluindo a
alegria de se sentir próximo à pessoa amada. Barricar as emoções é difícil, e os
sobreviventes muitas vezes recorrem às drogas ou ao álcool para aliviar a tensão,
o que impede qualquer chance de conexão emocional.
Joe, um policial veterano que perdeu seu companheiro de rondas num tiroteio,
está em licença-saúde há três meses. Ele percebeu o quanto se tornara insensível
quando sua filhinha fez seis anos e outro companheiro veio para a festa de
aniversário. O companheiro comentou com Joe que ele era muito afortunado por
ter uma família que obviamente gostava muito dele, e que isso deveria estar
ajudando que ele superasse a morte do amigo. Joe concordou que tinha muita
sorte. Mas não sentiu absolutamente nada. Mais tarde, naquela noite, ele se abriu
com a mulher, Megan. Ele contou que achava que o companheiro tinha morrido
por culpa dele. Estava com vergonha e com medo de seus sentimentos. O amor e
a compreensão de Megan deram a Joe o antídoto mais poderoso contra esse tipo
de vergonha e medo.
Joe e Megan foram capazes de recuperar-se com bastante rapidez, mas o que
acontece quando os sobreviventes de um trauma ficam emocionalmente
fechados em si mesmos? Os efeitos do trauma não podem se dissipar. As
permanentes repercussões gradualmente vão corroendo a conexão e a confiança
na pessoa amada. Os parceiros precisam admitir que evitar as emoções
impulsiona suas relações ladeira abaixo para os Diálogos do Demônio. “Joe”, eu
adverti, “há uma armadilha aqui. Quanto mais estressado e fora de controle você
se sente, mais você se fecha. É muito difícil curar-se quando isso ocorre. A vida
se converte numa busca por maneiras de ficar anestesiado para evitar o dragão. E
se você não pode sentir, sua mulher fica excluída. E ela não pode apoiálo. Na
verdade, ela está sozinha. A relação fraqueja, você percebe e fica ainda mais
angustiado. E assim vai.”
A desesperança que os sobreviventes de traumas sentem, muitas vezes os
impulsiona a ações que afastam os parceiros, na hora em que mais precisam
deles. Jane e Ed estão olhando pela janela do meu consultório. É a quarta sessão
deles. No contato inicial por telefone, Jane me disse que o problema dela é se
sentir solitária no casamento. Os dois vieram me ver, pois na última briga deles,
Jane, normalmente a mais comprometida e exigente, acrescentou um novo passo
à dança negativa dos dois: ela declarou que a única maneira de fugir da dor era o
suicídio. Infelizmente, esse protesto final e desesperado cria mais distanciamento
entre ela e Ed. Ele geralmente é o parceiro mais fechado, mas agora ele se sente
ameaçado e confuso, e se fecha ainda mais.
Jane admite que constantemente aborrece Ed e concorda comigo que isso é
um protesto contra seu permanente distanciamento. Ele diz que reage à sua
“irritabilidade” voltando para casa do trabalho cada vez mais tarde. Este jovem
casal vivia feliz até dois anos atrás, quando Jane abriu a porta para um rapaz que
era um ladrão violento. Ele a esfaqueou cruelmente, e Jane quase morreu de
hemorragia. Ela ficou vários meses no hospital, e desde então sofre de uma dor
crônica. Ed acha que Jane já deveria ter superado o acontecido. Mas os
pesadelos que ela sofre só estão piorando, e ela vem falando em se matar.
Discutimos o ciclo negativo em que estão e como as ameaças de suicídio de
Jane realmente são apelos para o marido ajudála a escapar dos terríveis
sentimentos que a perseguem. Posso ouvir os ecos do seu trauma em suas brigas.
Mas Ed não concorda. Ele me diz: “Bem, claro que tudo mudou entre nós depois
daquela agressão. Mas eu não entendo como isso tem a ver com as nossas
constantes brigas. Como a que tivemos há pouco. Ela ficou completamente
ensandecida comigo porque esqueci de ligar meu celular por mais ou menos
duas horas, quando estava jogando tênis. E agora essas ameaças de se matar. Não
aguento mais”. Ele dá um longo suspiro, e Jane começa a chorar.
Jane ficou muito relutante de contar a Ed os detalhes de sua agressão, ou de
falar que ainda tem imagens recorrentes. Ela acha que ele a culpa de ter sido
muito ingênua ao abrir a porta para o agressor. De repente me lembrei de alguma
coisa bem específica sobre um telefone na história que ela contou sobre aquele
dia terrível. “Espera aí”, eu disse. “Jane, você não me contou que durante a
agressão, quando você estava estendida no chão e quase perdendo a consciência,
você via um telefone sobre o tapete perto da mesa de café? E que não conseguia
fazer seu corpo responder. E com isso não podia alcançar o telefone.” Ela
balança a cabeça concordando, então continuo. “E me lembro que você disse que
mesmo quase desmaiando pensando que fosse morrer, você continuou lutando
para pegar o telefone e ligar para Ed. E você disse a si mesma, ‘Se consigo pegar
o telefone e chamar Ed, ele virá correndo para me salvar’, não foi?” Jane soluça
e murmura: “Mas eu não consegui falar com ele”. “Sim, mas o telefone era a
única esperança que você tinha. Era a sua salvação. Então agora quando tenta
ligar para Ed e o celular dele está desligado, acho que o pânico toma conta de
você. Você não consegue falar com ele novamente, não é mesmo?” Jane chora, e
Ed, com um repentino semblante de entendimento, passa as mãos pelo cabelo.
Jane e Ed mudam a conversa e passam a falar de como ela se sente
desesperadamente necessitada de estabelecer conexão com ele quando alguma
coisa a faz lembrar da agressão. quando ela não consegue, seu corpo literalmente
responde como se ela estivesse novamente estirada no chão e a vida esvaindo-se.
Ela diz a Ed: “Quando percebi que seu telefone estava desligado e eu estava
sozinha, fiquei fora de mim. Meu coração galopava e não conseguia respirar”.
Ela tinha tentado fazer Ed entender o seu desespero, sua sensação de que sua
vida dependia de uma ligação telefônica, dizendo que ia cometer suicídio. Mas
essa ameaça sufocou Ed e fez sua resposta ficar ainda mais difícil.
Uma vez que Jane e Ed se movem para as conversações A.R.E., eles criam
uma base segura a partir da qual podem lidar com o trauma de Jane. Ed percebe
que não dá resultado minimizar a dor e o medo de Jane. Se ele se sente sufocado
é melhor para ele revelar do que simplesmente afastar-se. À medida que o
relacionamento melhora, Ed fica menos deprimido e os pesadelos e as
lembranças de Jane diminuem dramaticamente. Contudo, mais do que isso, Ed
aprendeu que pode dar a Jane o que ninguém mais pode: o conforto de que a sua
dor é percebida e entendida, a reafirmação de que ela não está sozinha mesmo
tendo errado, e o apoio para que a vida dela siga em frente.
Embora os sobreviventes de traumas precisem desesperadamente do apoio das
pessoas que amam, eles muitas vezes reagem de modo a afastar a ajuda. Nesse
caso, a normalização da relação pode tardar décadas, ou mesmo uma vida
inteira. Mas se os casais podem se aproximar e enfrentar o trauma juntos, vão
colocar o dragão para dormir.
Faz muito tempo que aconteceu a guerra do Vietnã, pelos menos para os que
não precisaram lutar ou esperar a volta de alguém. Para Doug, parece que foi
ontem. Ele continua sendo o mesmo tenente voluntarioso de 23 anos que liderou
seus comandados em meio ao perigo e conseguiu trazer todos sãos e salvos de
volta. Bem, quase todos. Doug é um alcoólico em reabilitação vivendo de uma
pensão por invalidez, e no quarto casamento, que não vai nada bem. Ele me diz
que tem certeza de que a mulher, Pauline, vai deixálo. E talvez ele tenha razão.
Quando estão juntos passam quase todo o tempo num dos Diálogos do Demônio,
a Polca do Protesto; ela se queixa, ele se fecha. Pauline, que é um pouco mais
jovem que Doug, e que nunca tinha se casado antes, diz contrariada que eles
estão “simplesmente se distanciando”. Ela diz a Doug: “Eu amo você, mas seu
pavio curto me estressou. Você fica ou irritado ou fechado. Você desaparece
emocionalmente. Se falo o quanto preciso de você, você fica enlouquecido. Eu
não tenho opções”. Ele olha para mim com um sorriso meio retorcido e fala: “Aí,
eu disse que ela ia me deixar. E estarei preparado. É preciso estar preparado para
quando o pior acontecer”. Esse pode ser um bom lema para um soldado, mas não
para um marido.
Pauline e Doug descrevem a sua Polca do Protesto em mais detalhes. Os
passos são mais rápidos e mais extremos do que ocorre com a maioria dos casais
que atendo. Lidar com traumas acrescenta uma volta extra aos ciclos negativos.
Começo a entender a razão da Polca do Protesto quando pergunto a Doug o que
ele aprendeu no Vietnã. “Essa é fácil”, ele responde.
“Nunca sentir medo e nunca errar. Se você erra, alguém morre. E a culpa vai
ser sua. Essas duas regras salvaram a minha vida. Estão gravadas a fogo em
minha alma.” Não é difícil entender por que essas “regras” provocam o
distanciamento de Doug, e seu alerta máximo para qualquer insinuação de que
Pauline o considera menos que perfeito.
Um momentochave ocorre na conversa do casal sobre os Pontos Frágeis
quando eles compartilham suas vulnerabilidades. Doug não apenas admite
“esconder-se, a salvo, num túnel escuro”, mas revela à mulher que seu medo
principal é de que ela o veja como ele é realmente. Por sua vez, Pauline lhe diz:
“Eu grito e pressiono porque não o encontro. E isso é aterrador. Eu te amo. Com
ou sem as cicatrizes do Vietnã”. “Você não me amaria se soubesse o que eu fiz
lá”, ele retruca. “Trouxe os rapazes para casa, mas ninguém precisava fazer o
que fizemos.” Ele revela que nunca falou com ninguém sobre um terrível tiroteio
e as ordens que deu e que o perseguem e o fazem sentir vergonha. “Se soubesse
você me deixaria. Ninguém pode amar uma pessoa que fez aquelas coisas”, ele
diz.
Depois de mais algumas sessões, durante uma conversa Abrace-me Apertado,
Doug finalmente é capaz de abrir-se e falar dos fatos de sua “vergonha secreta”.
Ele não conta a Pauline todos os detalhes. Revela apenas o suficiente para
comprovar seu pior medo: que ninguém pode amálo. Pauline responde com
carinho e compaixão. “Você é um homem bom e carinhoso, e fez o seu melhor e
o que tinha de ser feito. E está pagando por isso todo dia. E nesse momento eu o
amo ainda mais por ter assumido risco e se aberto comigo”, ela diz.
Doug é obrigado a quebrar a sua regra de “invencibilidade”, ou de nunca
mostrar fraqueza. Ele explica que na batalha o medo paralisa; apenas um
desempenho perfeito garante a segurança. Como diz à mulher: “Se você for
perfeito, não cometer nenhum erro, o morticínio vai cessar. E só então poderá
voltar para casa”. Ela chora e lhe diz: “Mas você nunca vai ser perfeito o
suficiente, então nunca vai voltar para casa. Mesmo que eu esteja aqui, de braços
abertos, desejando que você volte”. Agora é a vez dele de chorar.
A relação de Doug e Pauline realmente se transforma quando ela diz com
doçura: “Preciso que você me deixe entrar, me aproximar. Eu o amo e preciso de
você”. Mas Doug não ouve o convite; ele ouve uma acusação. Então olha para os
sapatos e diz: “Bem, você está querendo demais”. O rosto de Pauline se
desmancha em desesperança, mas nesse momento Doug para e levanta os olhos
para ela. “O que foi que você disse?”, ele pergunta. “Ouvi você dizer que eu não
estava fazendo meu trabalho, que estava arruinando sua vida. Se você fosse feliz
não teria que pedir essas coisas. Mas o que você me disse?” Nos minutos
seguintes Doug entende pela primeira vez que é a voz do seu próprio medo que
ele ouve dizendo: “Ela não pode amar você. Você vai estragar tudo e ela vai
deixálo”. Essa voz pega as palavras amorosas de Pauline e as transforma em
crítica. Pauline o abraça. Ele diz: “Eu preciso de você também. Preciso de seu
apoio e confiança. Também quero estar ao seu lado”. Depois de quarenta anos
Doug finalmente voltou para casa.
O MAIOR DOS OBSTÁCULOS

O medo crônico e a raiva são sequelas problemáticas de todos os traumas. Mas o


ponto básico nos problemas de relacionamento, em minha opinião, é o
sentimento de vergonha que aflige os sobreviventes. Depois dos traumas nos
sentimos assustados, contaminados, ou simplesmente muito mal. Sentimonos
responsáveis pelas coisas terríveis que nos aconteceram, e indignos de cuidados
e atenção. Como podemos pedir o que não merecemos? No começo de nossas
sessões, Jane, minha cliente, me diz: “Para falar a verdade, toda essa conversa
sobre relacionamento é perda de tempo. Quem é que haveria de querer ficar
comigo? Desde a agressão sou apenas uma confusão repugnante”. Nesses
momentos, é preciso que as pessoas a quem amamos anulem o resultado deste
sentimento venenoso e nos tragam confiança. Ed diz à mulher: “Você é meu
tesouro. E quase te perdi. Sinto muita dor quando você diz isso. Você estava
ferida. Não há porque se envergonhar. E agora sei como cuidar de você para que
não tenha que sentir tanto medo”.
Precisamos que nosso parceiro seja um refúgio seguro e um verdadeiro
testemunho de nossa dor, para nos garantir que não temos culpa do que
aconteceu, e que não somos frágeis por nos sentirmos desamparados e
sufocados. Uma relação amorosa segura age como um escudo quando
enfrentamos monstros e dragões, e nos ajuda a curarnos depois que o dragão se
foi.
No final de nossas sessões Doug decide contatar todos os companheiros que
estiveram com ele no Vietnã, mesmo com medo de que eles vão se lembrar dele
como o “tirano de cabeça dura”. Ele me diz: “Ao final, o problema verdadeiro é
que você viu o lado escuro, a coisa de que todos nós temos medo, e seu mundo é
diferente do mundo de todos. Você está do lado de fora. Sozinho. Algumas
pessoas podem lhe jogar uma corda, de vez em quando”. Ele se vira para
Pauline. “Mas, meu amor, você veio na hora certa. Você me aceitou, com todos
os meus monstros. Com você, tenho novamente um lugar no mundo.”
Da dor podemos extrair força e um profundo sentimento de conexão — se
pudermos aprender a usar o poder do amor. “algum dia, depois de vencermos o
vento, as ondas, as marés e a gravidade, seremos capazes de subordinar a energia
do amor, e pela segunda vez na história da humanidade, o homem terá
descoberto o fogo”, escreveu Pierre Teilhard de Chardin, místico e escritor
cristão francês. Esse “fogo” não é aquele que queima e aterroriza, mas aquele
que dá luz e calor. É o amor que pode mudar não apenas os nossos
relacionamentos, mas o mundo.
A conexão definitiva — o amor como a
fronteira final
“E você conseguiu tudo o que queria da vida? Consegui.
E o que você queria?
Chamar a mim mesmo de amado, sentir-me amado na Terra.”
RAYMOND CARVER

prender a estimular os vínculos afetivos é uma tarefa urgente. Conexões

A
amorosas nos proporcionam uma rede de intimidade confiável que nos
permite enfrentar a vida e vivêla bem. E isso é o que dá sentido à nossa
vida. No leito de morte, para a maioria de nós o que mais importa é a
qualidade de nossa conexão com as pessoas que mais amamos.
Instintivamente, sabemos que aqueles que captam os imperativos do
apego vivem vidas melhores. Contudo, nossa cultura nos encoraja a competir, e
não a conectar. Mesmo que tenhamos sido programados por milhões de anos de
evolução a procurar implacavelmente afinidade e conexão, persistimos definindo
as pessoas saudáveis como aquelas que não precisam das outras. Isso é
especialmente perigoso numa época em que nosso sentido de comunidade está
sendo diariamente corroído por uma interminável preocupação em fazer mais em
menos tempo e encher nossas vidas com cada vez mais bens.
Estamos construindo uma cultura de separação que está em confronto com a
nossa biologia. Sabemos, como Thomas Lewis e seus colegas afirmam no livro
A General Theory of Love, que se “alimentarmos e vestirmos um bebê humano,
mas o privarmos de contato emocional ele morrerá”. Mas somos ensinados a
acreditar que os adultos são um animal diferente. Como conseguimos chegar até
aqui?
O psiquiatra Jonathan Sahy, em seu livro sobre o trauma dos combates,
Odysseus in America, lembranos que há “dois importantíssimos conceitos
universais humanos”: todos nós nascemos desamparados e independentes, e
todos nós somos mortais, e sabemos disso. A única maneira saudável de lidar
com essa vulnerabilidade é procurarmos o outro e apoiar-nos. Então, acalmados
e fortalecidos, podemos sair para o mundo.
A teoria do apego reconhece que a nossa necessidade de conexão emocional
com os outros é absoluta. Milhares de estudos sobre psicologia do
desenvolvimento com mães e filhos, pesquisas sobre vínculos entre adultos, e as
investigações da moderna neurociência, confirmam que quando mantemos
relacionamentos estreitos somos verdadeiramente interdependentes. Não somos
como pequenos planetas separados girando uns em redor dos outros.
Essa dependência sadia é a essência do amor romântico. Os corpos das
pessoas que se amam são ligados por um dueto neural. Uma pessoa envia sinais
que alteram os níveis hormonais, a função cardiovascular, os ritmos corpóreos, e
até o sistema imune do outro. Numa conexão amorosa a oxitocina, o hormônio
do amor, inunda os corpos dos amantes, gerando uma alegria calma e a sensação
de que tudo vai bem no mundo. Nossos corpos são programados para esse tipo
de vínculo.
Até a nossa identidade forma um tipo de dueto com os que estão mais
próximos de nós. Uma relação amorosa aumenta a sensação de quem somos e
nossa confiança em nós mesmos. Você não estaria lendo este livro se eu não
tivesse encontrado uma maneira de conectar com a crença de meu marido de que
eu poderia escrevêlo, e se minha capacidade de aferrar-me às palavras de apoio
dele não me tivesse impelido a continuar escrevendo, em vez de desistir. As
pessoas que amamos, sem dúvida, nos tocam o coração e a mente, e quando
fazem isso, elas nos transformam.
A qualidade do amor que recebemos nos coloca numa determinada trilha.
Segundo Jeff Simpson, da Universidade de Minnesota, se analisarmos o quanto
crianças de um ano são seguramente conectadas com suas mães quando
colocadas na situação estranha, poderemos prever o quanto essas crianças serão
socialmente capazes na escola primária, e o quanto suas amizades na
adolescência serão próximas. Uma relação segura com a mãe e a intensidade dos
vínculos das primeiras amizades também prenunciam a qualidade das relações
amorosas desses indivíduos quando tiverem 25 anos. Nós somos a história de
nossas relações.

COMO O AMOR FUNCIONA?


Para conseguirmos um vínculo amoroso duradouro temos que ser capazes de
sintonizar com nossas necessidades e nossos desejos mais profundos e traduzilos
em sinais claros que ajudem nossas pessoas amadas a reagirem. Devemos ser
capazes de aceitar o amor e retribuir. Acima de tudo, devemos reconhecer e
aceitar que o apego está em nosso código genético, e não tentar rejeitálo e
ignorálo. Em muitas relações amorosas, a necessidade de apego e a ansiedade de
separação são programações escondidas, que dirigem a ação, mas nunca são
admitidas. É hora de admitirmos essas programações a fim de que possamos
modelar o amor de que tanto necessitamos.
Para forjar o amor necessitamos estar abertos e receptivos, tanto emocional
quanto fisicamente. Estudos conduzidos por Bill Mason e Sally Mendoza, da
Universidade da Califórnia, com os macaquinhos titi, nos mostram o que o amor
envolve. As fêmeas cuidam das crias, mas não lhes oferecem nenhum conforto
maternal. Elas não as limpam nem as tocam. O verdadeiro cuidador é o macho,
que assume 80% dos cuidados. É o macho que pega e carrega a cria, que se
envolve emocionalmente e é o refúgio seguro. Os macaquinhos titi parecem não
ligar a mínima quando suas mães são afastadas da família, mas quando os pais
são afastados seus níveis de cortisol, o hormônio do estresse, aumentam
significativamente.
Em meu consultório, pais mais distantes emocionalmente algumas vezes me
dizem: “Faço tudo o que é possível para mostrar que me interesso. Cuido do
gramado, trago para casa um bom salário, resolvo problemas, e não fico me
divertindo com os amigos. Por que então é que, no final das contas, essas coisas
não são consideradas, e tudo o que importa para minha mulher é que não
falamos de nossas emoções e que não sou carinhoso?” Digo a eles: “Porque é
desse jeito que somos feitos. Precisamos de quem nos preste atenção, que nos
abrace com carinho, que esteja verdadeiramente disponível e responda a nós de
uma maneira emocional que nos comova, que se conecte conosco. Nada se
compara a isso. Você precisa disso também. Já se esqueceu?” A conexão é uma
sensação doce, abraçar é profundamente calmante e prazeroso, tanto para quem
dá o abraço ou o recebe. A maioria de nós ama abraçar um bebê. A sensação é
ótima, tanto quanto a de abraçarmos a pessoa amada.
Mas será que apego e vínculo são tudo? O amor adulto envolve também
sexualidade e cuidados. O apego é o resultado líquido, o alicerce sobre o qual
todos os outros elementos são erigidos. As interconexões são óbvias. A
sexualidade é melhor quando existe uma conexão segura. O risco que é essencial
ao erotismo não deriva da novidade superficial constante, mas da habilidade de
estarmos abertos a cada momento junto da pessoa amada.
O cuidado e o apoio pragmático surgem naturalmente quando nos sentimos
próximos e conectados. Ernest Hemingway escreveu: “Quando amamos
queremos fazer coisas para o outro. Queremos nos sacrificar pelo outro.
Queremos servir ao outro”. Pesquisas nos dizem que os parceiros seguros são
mais sensíveis às necessidades mútuas de cuidados.
Rose e Bill, um casal de universitários, brigava por tudo e qualquer coisa, mas
especialmente por conexão emocional e apoio pragmático. Até na conclusão da
terapia, em que fizeram um progresso considerável, brigaram porque ele não
mantinha o número do telefone do pediatra em seu celular, como ela havia
pedido. Quando o bebê adoece, ela não pode usar o celular dele para chamar o
médico. Finalmente, eles encontraram uma maneira de superar a discussão.
“Quando não consigo achar o número eu fico assustada”, Rose diz a Bill.
“Preciso que você me ouça quando peço esse tipo de coisas.” Bill agora oferece
apoio. “Eu ouço”, ele diz. “É como se estivesse me dizendo: ‘Tenho o seu
apoio?’. Você depende de mim nesse caso. E você é uma excelente mãe para
nosso filho. Coloquei o número no meu celular, e pedi um celular para você, de
modo que isso não aconteça mais. Você precisa de mais alguma outra coisa?”
Numa sessão posterior Rose diz a Bill que não se importa mais de cuidar dos
filhos à noite quando ele tem que estudar. Agora que se sente mais próxima, ela
até gosta de levar café para ele e perguntar sobre como ele está indo no curso.
Sermos capazes de criar um vínculo mais seguro libera nossa atenção para
podermos sintonizála e darmos um apoio efetivo à pessoa amada.
Num relacionamento romântico, o apego, a sexualidade e o apoio andam
todos juntos. Os parceiros criam um ciclo positivo de proximidade,
receptividade, cuidado e desejo. Em nossa primeira sessão de aconselhamento,
Charlie anunciou solenemente que tinha contratado um advogado para cuidar do
Divórcio. Agora, alguns meses depois, ele me diz, enquanto sua mulher, Sharon,
concorda com ar de felicidade: “Estamos muito mais próximos. Acho que nunca
estivemos tão ligados. Já não fico mais tão irritável e tão ciumento. Confio nela.
Posso falar com ela quando necessito de sua ajuda para acalmar minha cabeça, e
ela pode fazer o mesmo comigo. Nós nos sentimos muito mais à vontade na
cama. O sexo é muito mais fácil. Acho que nós dois nos sentimos desejados e
que podemos pedir o que queremos. Quando nos sentimos ligados desse jeito eu
gosto de cuidar dela. Gosto de ajudar quando suas costas doem. Procurei e
comprei para ela uma almofada elétrica. E agora ela está me ajudando a deixar
de fumar. É como se tivéssemos criado uma relação completamente nova”.
Mas fazer o amor funcionar é também aceitar que, mesmo bom, ele depende
de esforço contínuo. Justamente na hora que dá certo um dos dois muda! Ursula
Le Guin, a escritora, nos lembra que o amor “não é como uma pedra imóvel.
Tem de ser preparado como o pão, amassado e amassado de novo o tempo todo”.
A intenção por trás da TFE é oferecer aos casais uma maneira de fazer
exatamente isso.
Vinte anos de pesquisas nos garantem que ajudamos vários tipos de casais
diferentes a “preparar” seu amor, entre recém-casados e casados há muito tempo,
gays e heterossexuais, casais felizes e seriamente angustiados, tradicionais e não
convencionais, altamente educados e trabalhadores, reticentes e efusivos.
Descobrimos que a TFE não apenas ajuda a curar os relacionamentos, mas cria
relacionamentos que nos curam. Parceiros que estejam deprimidos ou ansiosos
se beneficiam enormemente da experiência de uma conexão que dá apoio, e que
uma relação amorosa oferece.
Se eu tivesse que resumir as lições que aprendi com todos esses casais, seria
mais ou menos assim:
• Nossa necessidade de que os outros respondam quando precisarmos — para nos oferecer um refúgio
seguro — é absoluta.
• A carência afetiva é uma realidade. sentirse emocionalmente isolado, rejeitado ou abandonado
deflagra dor física e emocional e pânico.
• Existem muito poucas maneiras de enfrentar a dor quando nossas necessidades primárias de conexão
não são atendidas.
• Equilíbrio emocional, tranquilidade e alegria vibrante são as recompensas do amor. Amor passageiro
é o prêmio de consolação.
• Não existe uma performance perfeita no amor ou no sexo. Obsessão com a performance leva a um
beco sem saída. A presença emocional é que importa.
• Nos relacionamentos não existe causa e efeito, nem linhas retas, apenas círculos que os parceiros
criam conjuntamente. Arrastamonos em voltas e espirais de conexão e desconexão.
• A emoção nos diz exatamente aquilo de que necessitamos, se a ouvimos e usamos com um guia.
• Todos nós, algumas vezes, disparamos o botão do pânico. Perdemos o equilíbrio e deslizamos para
modos de controle ansioso, entorpecimento e distanciamento. O segredo é não permanecer nessas
posições. É muito difícil para o parceiro encontrar você nessas situações.
• momentoschave de apego, quando uma pessoa busca a outra e é correspondida, requerem coragem,
mas são mágicos e transformadores.
• Perdoar as ofensas é essencial e somente acontece quando os parceiros falam racionalmente de suas
feridas e sabem que a pessoa amada está consciente e compartilha a dor.
• Paixão duradoura é perfeitamente possível no amor. O ardor imprevisível do amor passageiro é
apenas o prelúdio; o vínculo amoroso é a sinfonia.
• O descuido mata o amor. O amor precisa de atenção. Conhecer suas necessidades afetivas e
corresponder às de seu parceiro pode gerar um vínculo que vai durar “até que a morte os separe”.
• Todos os clichês sobre o amor — quando se sentem amadas as pessoas são mais livres, mais
animadas, e mais poderosas — são mais verdadeiros do que jamais imaginamos.

Mesmo sabendo tudo isso, eu ainda tenho que repassar essas lições toda vez
que perco a conexão com um ser amado. Ainda tenho que enfrentar aquele
milésimo de segundo de dúvida: culpar, tentar e assumir o controle, rejeitar,
vingar, fechar-se e afastar-se, ou respirar profundamente e sintonizar as minhas
emoções e as da pessoa amada, arriscar, buscar, confiar, abraçar.

UM CÍRCULO MAIS AMPLO

Quando os parceiros estão unidos por um vínculo forte e seguro, isso fortalece a
conexão mútua. O círculo da receptividade afetiva se amplia como as ondas
provocadas por uma pedra atirada num lago. Compartilhar um relacionamento
amoroso aumenta nosso carinho e compaixão pelos outros, tanto no âmbito de
nossa família quanto da nossa comunidade.
Numa pesquisa pioneira sobre o apego, Mary Ainsworth descobriu que já aos
três anos de idade, as crianças que se sentem mais seguras com as mães têm mais
empatia pelos outros. Não temos que nos preocupar com segurança em relação
às pessoas amadas, naturalmente temos mais energia a dar aos outros. Vemos os
outros mais positivamente, e estamos mais desejosos de nos engajar
emocionalmente. Quando nos sentimos mais seguros ficamos mais gentis e
tolerantes com os outros.
Os psicólogos Phill Shaver e Mario Mikulincer mostraram em seus estudos
que o simples fato de fazer uma pausa e rememorar os momentos em que alguém
se importou com você reduz instantaneamente sua hostilidade em relação a
pessoas que são diferentes de você, ainda que por um breve período. A
afirmação apoia o método de meditação budista que busca ampliar a compaixão
quando pensamos em como alguém é amado por um outro. A jornalista
especializada em ciência Sharon Begley, em seu livro sobre neurociência e
budismo, cita o Dalai Lama quando ele afirma que quando os tibetanos se
sentem em perigo eles gritam “Mãe” em busca de consolo. Isso parece pelo
menos tão útil quanto algumas frases mais agressivas que nós, americanos,
utilizamos!
AMOR ENTRE PARCEIROS, AMOR EM FAMÍLIA

Sabemos há décadas que famílias felizes começam com relacionamentos felizes


entre parceiros. Quando estamos estressados e em briga constante com o
cônjuge, a tensão transborda no relacionamento com os filhos. Está claro, acima
de qualquer dúvida, que o conflito entre os pais é ruim para os filhos. quando
estamos frustrados e ansiosos, nossos filhos sofrem com a maneira como os
disciplinamos. Na maioria das vezes nos tornamos mais severos e contraditórios.
Mas não se trata apenas de uma questão de disciplina. Se nós estamos
envolvidos num relacionamento infeliz, muitas vezes perdemos o equilíbrio
emocional e sentimos mais dificuldades para nos abrirmos e sintonizar
efetivamente com as crianças. E por não estarmos emocionalmente presentes,
elas deixam de receber nossos cuidados afetivos e nossa orientação. Alice me
diz: “Estou virando uma pessoa irritadiça e intolerante. Fico tão esgotada com o
que Frank e eu estamos passando, que não tenho energia para os filhos. Quando
meu mais novo começou a chorar de medo de ir para a escola, eu gritei com ele.
E me senti horrível. Virei uma bruxa, e Frank está distante de todo mundo.
Precisamos resolver isso, para o bem de toda a família”.
Altos níveis de conflitos num casamento muitas vezes precipitam problemas
de comportamento e emocionais nos filhos, entre eles a depressão. Mas o
conflito não é o único fator que afeta as crianças. O distanciamento emocional
dos pais frequentemente leva também ao distanciamento dos filhos. A psicóloga
Melissa Stuge-Apple, da Universidade de Rochester, confirma que isso é
especialmente verdadeiro entre o pai e os filhos. Seus estudos indicam que
quando os homens se afastam das mulheres, eles também se tornam
indisponíveis para os filhos.
Se nós pensamos em termos positivos, quando nos sentimos seguramente
apegados ao nosso par, tendemos a achar mais fácil sermos bons pais, e forjar
um refúgio e uma base seguros para nossas crianças. Dessa forma os filhos
aprendem maneiras positivas de lidar com suas emoções e conectar com os
outros. Há uma montanha de indicações científicas segundo as quais crianças
que se sentem seguramente apegadas são mais felizes, mais competentes
socialmente, e mais resistentes ao estresse. A ideia de que uma das melhores
coisas que você pode fazer para os filhos é criar um relacionamento amoroso
com o parceiro não é sentimentalismo; é um fato científico.
Mas os terapeutas vêm nos dizendo há anos que se queremos realmente ser
bons pais, ou devemos ter tido uma infância segura e amorosa, ou precisamos
recorrer a aconselhamento. minha experiência é que, mesmo que tenhamos
vivido uma meninice com muita dificuldade emocional, e que nunca tenhamos
recorrido a um terapeuta, podemos nos tornar bons pais se trabalhamos para
melhorar nosso casamento. A psicóloga Deborah Cohen, da Universidade de
Virgínia, concorda. Ela afirma que mães que são ansiosas e inseguras sobre
como se aproximar tornamse capazes de ter atitude positiva e amorosa com os
filhos, se tiverem um marido receptivo e que lhes forneça uma conexão segura.
Quando temos uma relação amorosa boa nos ajudamos mutuamente a sermos
bons pais.
Quando existe uma conexão segura em nosso relacionamento, podemos passar
essa qualidade adiante, e não apenas para os filhos, mas para seus parceiros
futuros. O psicólogo Rand Conger e seus colegas da Iowa State University
observaram 193 famí-lias com filhos adolescentes por um período de quatro
anos, e descobriram que o nível de afetividade e apoio entre os pais e a qualidade
da sua ligação indicavam como as crianças iriam se relacionar romanticamente
cinco anos mais tarde. Os filhos de pais mais afetivos e disponíveis agiam da
mesma forma com seus pares, e seus relacionamentos eram mais felizes. Quando
amamos nosso parceiro sem restrições, oferecemos um modelo para nossos
filhos e seus parceiros.
Melhores ligações entre parceiros que se amam não são apenas uma
preferência pessoal, mas um bem social. Melhores relações amorosas significam
melhores famílias. E famílias melhores, mais amorosas, significam comunidades
melhores e mais comprometidas.

SOCIEDADE

Famílias amorosas são a base da sociedade humana. Como o poeta Roberto Sosa
escreve: “Abençoados são os que amam, pois deles é o grão de areia que
sustenta o centro dos mares”. O círculo em expansão do engajamento e do
comprometimento em relação aos outros não termina nas pessoas amadas ou até
nas futuras famílias que elas geram. Ele continua a se expandir, para ajudar a
criar comunidades mais afetivas, e por fim, um mundo mais afetivo.
Entender nossa necessidade de amor, e como o amor funciona, é crucial se
desejamos construir um mundo que permita que essas necessidades sejam
correspondidas, e reflita o melhor da nossa natureza. O ser humano necessita, e
está programado, para conectar-se com os outros. É da nossa natureza
vincularnos intimamente com alguns poucos, mas depois, tendo aprendido as
lições da afinidade, conectarnos com outros, nossos amigos, colegas, nossa tribo.
Quando estamos tranquilos e serenos, oferecemos aos outros apoio e afeição,
porque reconhecemos que eles são exatamente como nós, humanos e
vulneráveis. De fato, vibramos com a camaradagem que nos retira de nosso
pequeno mundo e nos torna parte de um todo.
Eu cresci numa cidade pequena e pobre da Inglaterra depois da Segunda
Grande Guerra, onde a sensação de que todos devíamos nos unir para sobreviver
era tangível. Todos vinham ao pub — o clérigo, o comodoro, o jornaleiro, o juiz,
o médico, o balconista, a dona de casa, e as prostitutas. Os mais velhos passavam
a noite num canto jogando baralho e discutindo política. Vagabundos que
perambulavam de cidade em cidade recebiam abrigo, uma cerveja, e um enorme
prato de ovos com bacon que minha mãe preparava, antes de seguirem caminho.
Soldados com crise nervosa e sufocados pelas memórias da guerra eram levados
para um cômodo nos fundos, consolados e confortados. Os enlutados recebiam
um abraço, um uísque, e talvez uma canção alegre e desafinada tocada no piano,
uma cortesia de minha avó. Naturalmente havia também brigas, discussões,
preconceitos e crueldades. Mas no final havia a sensação de que todos estávamos
no mesmo barco. Sabíamos que precisávamos uns dos outros. E na maioria do
tempo sempre havia um ou dois de nós que conseguia demonstrar compaixão.
sentirse conectado, sentirse com alguém, vai sempre de mãos dadas com o
sentimento por essa pessoa. Podemos aprender a sentir solidariedade e
compaixão pelos outros com a Bíblia, o Corão e os ensinamentos de Buda. Mas
eu acho que primeiro temos que aprender por meio da ternura do abraço de um
pai ou da pessoa amada. Talvez então possamos passar de forma ativa e
intencional para círculos cada vez mais amplos do mundo todo.
De fato, durante séculos, poetas e profetas vêm nos assegurando de que todos
seríamos melhores se amássemos mais uns aos outros, e que deveríamos fazer
exatamente isso. Na maioria das vezes, essa mensagem nos é passada sob a
forma de regras morais e ideias abstratas. Mas o problema é que a mensagem
não parece ter muito impacto, a menos que ela nos toque emocionalmente, que
nos sintamos conectados pessoalmente a um outro ser humano. Então podemos
nos sintonizar com a dor e a tristeza do outro como se fossem nossas.
Como muitas pessoas, passei a contribuir com algum dinheiro para os fundos
de ajuda às vítimas de terremotos e outras catástrofes. Mas é difícil
comprometernos com problemas imensos ou com multidões sem rosto. Para
mim, é muito mais fácil e mais prazeroso doar mais dinheiro todos os meses às
famílias de duas meninas da Índia, que estão registradas num plano de pais
adotivos de uma agência humanitária do Canadá. Tenho retratos delas. Sei os
seus nomes e os nomes de suas cidades. Estou sabendo que uma das famílias
agora tem uma cabra e que a outra dispõe de água potável pela primeira vez.
Sonho em poder ir visitálas. Sintome ligada a essas mães estoicas que estão do
lado das filhas nas fotos que chegam de vez em quando. A moderna tecnologia
torna possível esse elo, e permite que alguém como eu, do outro lado do mundo,
possa estabelecer uma conexão e ajudar.
Três anos atrás, numa pequena e pitoresca comunidade de antigas casas de
madeira, às margens de um rio nas colinas próximas de Ottawa, surgiu uma
organização chamada Wakefield Grannies. Começou com uma pessoa, Rose
Letwaba, uma enfermeira sul-africana que fez uma palestra num domingo de
manhã, na igreja junto ao rio. Ela falou das avós de uma favela de
Johannesburgo que estão cuidando de seus netos, todos órfãos da AIDS, numa
pobreza tão acachapante, que as escovas de dente das crianças precisam ficar
sempre trancadas, dado o valor que têm. Umas doze avós de Wakefield se
juntaram e cada uma se conectou a uma avó sul-africana, e começaram a
contribuir com dinheiro para aquela família. Agora são 150 os grupos de Avó-a-
Avó, no Canadá e nos Estados Unidos.
O livro Three Cups of Tea, de Greg Mortenson, o alpinista e enfermeiro
americano, é o relato de uma conexão pessoal que se transformou numa ação
humanitária. Em 1993, Mortenson perdeu-se nas montanhas do Paquistão depois
de tentar escalar a Montanha K2. Ele acabou chegando ao pequeno povoado de
Korphe. Os moradores salvaram sua vida e criaram um vínculo especial com
Mortenson. Haji Ali, o líder do povoado, explicou que em Korphe “da primeira
vez que você partilha o chá com alguém, você é um estranho. Da segunda vez,
você é um convidado. Da terceira vez, você é da família”.
Mortenson se tornou membro da família. Seus sentimentos se fortificaram
com lembranças de sua irmãzinha, Christa, que tinha morrido depois de uma
longa luta contra a epilepsia. Ele a via nos rostos das crianças de Korphe. A vida
delas era uma luta constante, como tinha sido a de Christa. Ele quis visitar a
escola do povoado, e foi levado a um lugar onde 82 crianças se ajoelhavam no
chão gelado para rabiscar contas de multiplicar na poeira com o auxílio de
gravetos. A escola não tinha uma casa. E como o povoado não podia pagar o
salário de um dólar por dia, na maior parte do tempo não havia um professor.
“Meu coração ficou despedaçado”, Mortenson relata. Ele se virou para Haji
Ali e disse: “Vou construir uma escola, eu prometo”. Nos 12 anos seguintes,
Mortenson e o seu Central Asia Institute construíram mais de 55 escolas, muitas
só para meninas, nas montanhas do Paquistão e do Afeganistão. Mortenson
observa que pelo custo de um míssil é possível construir centenas de escolas que
ofereçam uma educação equilibrada. Essa é um tipo diferente de guerra contra o
eterno dualismo do “nós” contra o “eles” que alimenta o extremismo. O exemplo
de Mortenson enfatiza o poder da compaixão e da ligação afetiva.
Essas histórias me dão a esperança de que podemos aprender com o amor,
alimentálo com nossos parceiros e a família, e então, com a empatia e a coragem
que ele nos ensina, descobrir maneiras de leválo para o mundo e fazer a
diferença. A escritora Judith Campbell sugere: “Quando seu coração falar,
registre”. Essas histórias começaram com as pessoas se mostrando abertas e
receptivas ao sofrimento dos outros. Elas falam ao poder da capacidade de
reação emocional e da conexão pessoal para fomentar um mundo melhor.
As visões do amor e do afeto apresentadas neste livro coincidem com os
pensamentos do monge trapista e escritor Thomas Merton, que acreditava que a
compaixão tinha, no final das contas, de ser baseada numa “aguda consciência
da interdependência de todos os seres vivos, que fazem parte uns dos outros e se
envolvem uns nos outros”. Parece-me que, como espécie, se queremos realmente
sobreviver neste frágil planeta azul e verde, teremos de aprender a superar a
ilusão da separação e admitir que somos todos mutuamente dependentes.
Aprendemos isso com as nossas relações mais íntimas.
* * *
É difícil terminar um livro que fala de amor e afeto. Estas páginas detalharam a
nova ciência do amor e como ela auxilia as pessoas que se amam a criarem um
vínculo seguro. Mas nós nunca chegaremos a compreender completamente o
amor. Quanto mais descobrimos, mais saberemos o quanto nos falta descobrir.
Como o poeta E. E. Cummings observou: “Sempre uma bela resposta que sugere
uma bela pergunta”.
Agradecimentos
m primeiro lugar, quero agradecer a todos os casais com os quais tive a

E
honra de trabalhar durante os últimos 25 anos. Vocês me fascinaram,
cativaram e educaram. No drama da separação e da união em que
consiste uma sessão de terapia de casais, explorei com vocês a realidade
do que significa amar, ficar com o coração dolorido, e descobrir um
caminho para uma ligação profunda e enriquecedora.
Em segundo lugar, quero agradecer aos meus colegas do Ottawa Couple and
Family Institute e do International Center for Excellence em TFE, especialmente
à Dra. Alison Lee e a Gail Palmer. Sem elas, o Institute e o Center não
existiriam; com elas, fui capaz de criar uma família profissional.
Gostaria de agradecer a todos os meus maravilhosos alunos da School of
Psychology, da Universidade de Ottawa, e que se lançaram nos processos de
estudos dos resultados e mudanças em terapia de casais com uma paixão e um
comprometimento que se igualam aos meus. Eles assistiram comigo a milhares
de gravações de sessões de terapia.
Agradeço aos meus colegas da School of Psychology da Universidade de
Ottawa, os quais colaboraram comigo e me apoiaram, especialmente a Dra.
Valerie Whiffen. Também, aos colegas que ensinam a TFE comigo, e escolheram
esse caminho para ajudar casais do mundo todo, entre eles o Dr. Scott Woolley,
da Universidade Alliant, em San Diego, o Dr. Jim Furrow, o Dr. Brent Bradley, o
Dr. Martin North, Doug Tilley, a Dra. Veronica Kallos, Yolanda von Hockauf, a
Dra. Leanne Campbell, a Dra. Judy Makinen, e Ting Liu, que traduziu o livro
fundamental sobre a TFE para o chinês. Um agradecimento especial vai para o
Dr. Les Greenberg, que formulou comigo a primeira versão da TFE na
Universidade British Columbia.
E um obrigado especial vai para os meus colegas de psicologia social,
particularmente o Dr. Phill Shaver e o Dr. Mario Mikulincer, e outros que foram
pioneiros na aplicação da teoria do apego às relações entre adultos, e que
toleraram uma psicóloga aloucada em seu meio. Nos últimos 15 anos eles
produziram uma explosão de pesquisas e estudos e visões enriquecedoras —
conhecimento que eu levei para as minhas sessões com casais e usei para mudar
a vida das pessoas. Também agradeço ao meu querido colega John Gottmnan,
por todos os debates e discussões, e pelo maravilhoso apoio e encorajamento que
me deu ao longo dos anos.
Gostaria de agradecer a Tracy Behar, minha editora na Little; Brown, por seu
incansável entusiasmo e ousada confiança em mim e nesse projeto; a minha
agente, Miriam Altshuler, por seu completo profissionalismo e competente
orientação; à editora freelance Anastasia Toufexis, que leu e selecionou
cuidadosamente todos os rascunhos deste livro, evitando que o leitor tivesse que
fazer o mesmo.
Preciso agradecer também a meus três filhos Tim, Emma e Sarah, por terem
tolerado minha obsessão com este livro, e todos os amigos de Ottawa que
acreditaram em mim. Tive muita sorte de descobrir exatamente o que queria
fazer, como pesquisadora, professora, escritora e terapeuta, mas meu verdadeiro
aprendizado sobre o amor e os relacionamentos foi conseguido, naturalmente,
em minha própria família. Mas acima de tudo, e sempre, devo agradecer a meu
incrível companheiro, John Palmer Douglas, que é meu refúgio, minha base
segura, minha inspiração.
Glossário
2 Ds Termo usado para se referir a pontos sensíveis em todo relacionamento, ou
pontos frágeis, principalmente a sensação de estar destituído de conexão ou
carência emocional, e a sensação de estar desamparado e desdenhado como
indigno do amor pelas pessoas amadas. Os dois resultam no sentimento de
isolamento e vulnerabilidade.
A.R.E. Acrônimo para uma conversa que lida positivamente com a pergunta
“Você está disponível para mim?”. A teoria do apego, e pesquisas sobre o
tema, nos indicam que a Acessibilidade Emocional (Posso aproximar-me?
Você vai prestar atenção em mim?), a Reação Emocional (Posso depender de
você para se importar com meus sentimentos?), e Engajamento (Você vai me
valorizar, me colocar em primeiro lugar, e continuar ao meu lado?)
caracterizam interações entre pessoas unidas por um vínculo seguro.
Alarme de apego Qualquer sinal — de uma sensação interna, da pessoa amada,
ou de uma situação — que ativa nosso sistema de apego, ou emoções
orientadas para o apego, ou nosso sentimento de que precisamos dos outros.
Uma súbita sensação de dúvida de que um par se importa conosco, um
comentário depreciativo ou uma situação de ameaça, nos leva a questionar o
quão disponível e receptivo nossos pares são.
Alças Imagens, palavras ou frases descritivas que captam Nossos sentimentos e
vulnerabilidades mais íntimos. Uma vez que encontremos as alças, podemos
utilizálas para abrir a porta e explorar nosso mundo interior.
Amígdala Área com a forma de uma noz, situada no mesencéfalo, e associada a
rápidas respostas emocionais, especialmente no processamento do medo.
Parece desempenhar um papel crucial nas respostas do tipo “lute ou fuja”.
Quando você pula do caminho ao ver um carro se aproximando rapidamente,
a amígdala acabou de salvar sua vida.
Codependente Termo aplicado a uma pessoa que facilita, embora muitas vezes
não intencionalmente, o comportamento disfuncional da pessoa amada. Por
exemplo, o par de um alcoólico/alcoólica que deseja que ele pare de beber,
mas não insiste para que o problema seja enfrentado. A implicação é que a
dependência do par no relacionamento evita que ele ou ela enfrente o
alcoólico.
Conforto do contato Uma frase usada pelo psicólogo Harry Harlow para
descrever a resposta de bebês macacos com o contato físico como uma mãe
“macia”, feita de pano felpudo. Conforto do contato é, na visão de Harlow,
essencial para ajudar bebês a se acalmarem em momentos de estresse e
ansiedade. Em seus estudos, os bebês macacos procuravam o conforto do
contato antes da comida.
Conversa Neste livro, uma tentativa deliberada de falar com o par, de maneira
que cada um aprenda com a relação. As sete conversas transformadoras
ensinam como interagir, e não apenas como falar.
Cortisol Um importante hormônio do estresse, liberado pelas glândulas
suprarrenais para mobilizarem o corpo, particularmente a amígdala, para
enfrentar emergências. Reações críticas hostis dos pares desencadeiam
especialmente altos níveis de cortisol. Se produzido constantemente, ou em
excesso, pode causar danos ao corpo, principalmente ao coração e ao sistema
imunológico. Existem também evidências sugerindo que o cortisol destrói
neurônios do hipocampo, comprometendo a memória e o aprendizado, e
facilitando a supergeneralização de sinais de perigo. Por exemplo, sabemos
que ruas escuras na calada da noite são potencialmente perigosas, mas sob
estresse prolongado podemos começar a pensar que todas as ruas, a partir do
entardecer, são perigosas.
Dependência afetiva Um sentimento positivo de ligação segura que nos permite
sintonizar com a nossa necessidade dos outros, e pedir apoio e conforto, e
sermos atendidos. Este estado fomenta a conexão com os outros e nos ajuda a
enfrentar o estresse, como também explorar e lidar com o mundo.
Diálogos do Demônio Os três padrões de interação que geram ciclos de
feedback autoalimentados e fazem a conexão segura cada vez mais difícil.
Esses padrões são: De quem é a Culpa, ou críticas e queixas mútuas; a Polca
do Protesto, em que uma pessoa protesta contra a falta de uma conexão
emocional segura e a outra se defende e se afasta (a Polca também é
conhecida como o ciclo ataque/fuga); e Estacar e Fugir, em que os dois se
defendem se afastando em autodefesa.
Emaranhado Proximidade extrema, que impede funcionar separadamente, e
com autonomia. No passado, a falta de separação, muito mais do que a falta
de uma conexão segura e positiva, era considerada como o problema central
nas famílias conflituosas e nas relações dos casais. Sanidade era considerada a
capacidade de se separar dos outros, a permanecer objetivo e no controle das
emoções, e não permitir que as pessoas amadas tivessem tanta influência nas
decisões próprias.
Emoção Do latim emovere, cujo sentido inicial era de “mover para fora”.
Emoção é um processo fisiológico que nos orienta nos momentos mais
importantes de nosso mundo e nos prepara para agir. É mais bem entendida
como um processo. Consiste de uma percepção muito rápida de que alguma
coisa é muito importante, seguida de uma resposta do corpo, um esforço para
entender o significado do sinal, e a ação. As emoções, expressas
principalmente pela voz e pelo rosto, também mandam rápidos sinais para os
outros. Neste livro ora utilizo a palavra emoção, ora a palavra sentimento.
Ferida de apego Uma sensação de traição e/ou abandono num momentochave
de necessidade que, se não atendida ou curada, corrói a confiança e a conexão,
e desencadeia ou alimenta a angústia no relacionamento e a insegurança no
par.
Figura de apego Uma pessoa que amamos ou a que estamos emocionalmente
ligados e a quem vemos como um potencial refúgio seguro e fonte de
conforto. Normalmente, um dos pais, irmãos, par romântico, ou um amigo de
toda a vida. Num nível espiritual, Deus também pode ser uma figura de apego.
Indiferenciado Conceito utilizado em terapia familiar indicando que uma pessoa
é incapaz de distinguir entre sentimento e pensamento racional, e é mais
reativa nos relacionamentos, e menos capaz de escolhas próprias. A
implicação é que esta pessoa é muito dependente de outras em sua autoestima.
Se o terapeuta acredita que uma falta de diferenciação é o problema num
relacionamento angustiado, então a melhoria envolve ajudar os pares a
criarem limites claros um com relação ao outro, e focar em decisões
independentes.
Neurônios-espelhoCélulas nervosas que se ativam quando se estabelece
empatia, e na mesma área do cérebro das células nervosas da pessoa cujas
ações estamos observando. Essa parece ser a base psicológica da imitação,
nossa habilidade de participar das ações do outro. Esses neurônios nos ajudam
a perceber as intenções da outra pessoa, e nos ajudam a conectar, literalmente,
com o que ela sente. Captamos os sentimentos; ecoamos o estado. Os
cientistas sugerem que quanto mais ativado está o sistema de neurônios-
espelho de uma pessoa, mais capacidade de empatia ela tem.
Oxitocina O neurotransmissor mais associado com o vínculo entre mães e filhos
e entre parceiros sexuais. Também conhecido como “o hormônio do amor”, a
oxitocina é sintetizada na região do cérebro conhecida como hipotálamo, e
que só os mamíferos possuem. Desempenha um importante papel durante a
amamentação (ajuda a expelir o leite) e no trabalho de parto e orgasmo
(contrai o útero). Também parece estimular contato íntimo e comportamento
de afiliação com figuras de apego, como também na interação social positiva
no geral. Quanto maior nosso índice de oxitocina, tanto mais desejamos nos
aproximar e relacionarnos com os outros. A oxitocina parece inibir
comportamentos agressivos ou defensivos. Ela também deprime a produção
dos hormônios do estresse, como o cortisol. O contato da pele, o toque e as
carícias estimulam a produção da oxitocina.
Pânico primal O sentimento, muitas vezes provocado pela separação de uma
figura de apego importante. Esse pânico nos estimula a chamar, buscar, e
renovar o contato com a pessoa amada que proporciona proteção e um
sentimento de segurança. Jaak Panksepp, o teórico das emoções que cunhou o
termo, vê o pânico primal como um sistema específico de ansiedade no
cérebro que é especialmente aguçado entre os mamíferos. Ele se refere a ele
como um “código neural ancestral” que estimula nosso cérebro a produzir
hormônios do estresse, como o cortisol, diante de uma separação; e o
hormônio calmante oxitocina, quando estamos novamente em contato
próximo com a pessoa amada.
Protesto de apego Uma reação à separação percebida numa figura de apego.
Muitas vezes é a primeira resposta à desconexão emocional e física. O
protesto objetiva sinalizar angústia para as figuras de apego e fazê-las
responder. É caracterizado pela raiva e a ansiedade.
Ressonância Termo que na física denota uma vibração de empatia entre dois
elementos e que os leva a repentinamente sintonizarem sinais e igualar ritmo e
vibração. Isso cria uma resposta prolongada. Nos relacionamentos, existe
ressonância quando estamos sintonizados com o outro fisiologicamente.
Então, os estados emocionais convergem. Ficamos no mesmo comprimento de
onda, de modo que literalmente compartilhamos a experiência do outro. É
essa ressonância que deflagra uma onda de emoção numa multidão, por
exemplo, nos casamentos quando os votos são trocados e o feliz casal deixa a
igreja juntos, ou nos funerais de soldados quando o corneteiro toca o adeus.
Segurança adquirida Conceito de que nossas expectativas de apego e de
receptividade podem ser revisadas à medida que adquirimos experiência nos
relacionamentos. Mesmo que tenhamos uma história negativa, por exemplo
com pai ou mãe, se tivermos um par amoroso/amorosa, poderemos “adquirir”
a sensação de segurança em nosso relacionamento.
Simbiose Na teoria psicológica, um estado no qual uma pessoa está mental e
emocionalmente amalgamada com outra. Originalmente, por exemplo,
acreditava-se que um bebê se sentia como parte do corpo da mãe. Admitia-se
que crescer era principalmente um processo pelo qual se ficava cada vez mais
separado e autônomo. A inabilidade de separar-se poderia levar à doença
mental. Por exemplo, a esquizofrenia outrora era considerada o resultado de se
estar amalgamado, geralmente com a própria mãe. A ideia é parte da escola de
pensamento segundo a qual “a dependência e a proximidade são perigos para
a sua saúde mental”. Teorias mais recentes questionam a validade deste
conceito.
Sincronia Um estado de sincronia e receptividade emocionais mútuas.
Situação Estranha A célebre e fundamental experiência criada por Mary
Ainsworth e John Bowlby para estudar o apego entre mães e seus bebês.
Envolve separar um bebê de sua mãe num ambiente não familiar, onde o bebê
provavelmente vai se sentir indeciso e ansioso, e codificar suas respostas
emocionais quando a mãe retorna.
Vasopressina Um hormônio produzido no cérebro, intimamente relacionado à
oxitocina, e que tem efeitos similares. Em pesquisas com ratos do campo
machos, a vasopressina atinge o pico durante a excitação sexual; e a oxitocina,
durante a ejaculação. A vasopressina parece deflagrar uma preferência por
uma parceira determinada, e uma tendência agressiva de defendê-la de outros
pretendentes. Ela também parece deflagrar um cuidado mais intenso com a
prole.
Para mais informações sobre a TFE, ou para localizar um terapeuta treinado na
TFE, acesse www.eft.ca.
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Para onde foi o nosso amor?


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PARTE DOIS
Sete conversas transformadoras
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affection and sex. Trabalho apresentado na Conferência Internacional de
Relações Pessoais, em Groningen, Holanda, 1994.
McCarthy, Barry, e Emily McCarthy. Rekindling Desire. Brunner/Routledge,
2003.
Michael, R., J. Gagnon, E., Laumann, e G. Kolata. Sex in America: A definitive
survey. Little, Brown and Company, 1994.
Montague, Ashley. Touching. Harper Row, 1978.
Simpson, Jeffry, e S. Gangestad. Individual differences in sociosexuality:
Evidence for convergent and discriminant validity. Journal of Personality and
Social Psychology, 1991, vol. 60, pp. 870–883.
Stern, Daniel. The Present Moment in Psychotherapy and Everyday Life. Norton,
2004.

CONVERSA 7: MANTENDO VIVO SEU AMOR

Johnson, Sue, e Leslie Greenberg. The differential effects of experiential and


problem solving interventions in resolving marital conflict. Journal of
Consulting and Clinical Psychology, 1985, vol. 53, pp. 175–184.
Main, Mary. Metacognitive knowledge, metacognitive monitoring and singular
(coherent) vs. multiple (incoherent) models of attachment. In Attachment
Across the Life Cycle, Colin Murray Parkes, Joan Stevenson-Hinde, and Peter
Marris (editors), Routledge, 1991, pp. 127–159.
Schor, Juliet. The Overworked American. Basic Books, 1992.

PARTE TRÊS
O poder de Abrace-me Apertado
CURANDO FERIDAS TRAUMÁTICAS — O PODER DO AMOR

Fraley, R., D., Fazzari, G., Bonanno, e S. Dekel. Attachment and psychological
adaptation in high exposure survivors of the September 11th attack on the
World Trade Center. Personality and Social Psychology Bulletin, 2006, vol.
32, pp. 538–551.
Johnson, Susan. Emotionally Focused Couples Therapy with Trauma Survivors:
Strengthening attachment bonds. Guilford Press, 2002.
Matsakis, Aphrodite. Trust After Trauma: A guide to relationships for survivors
and those who love them. New Harbinger Press, 1997.
Matsakis, Aphrodite. In Harm’s way: Help for the wives of military men, police,
EMTs and Firefighters. New Harbinger Press, 2005.
Resnick, Heidi, Dean Kilpatrick, Bonnie, Dansky, Benjamin Saunders, e Connie
Best. Prevalence of civilian trauma and posttraumatic stress disorder in a
representative national sample of women. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 1993, vol. 61, pp. 984–991.
Shay, Jonathan. Odysseus in America: Combat trauma and the trials of
homecoming. Scribner, 2002.

A CONEXÃO DEFINITIVA — O AMOR COMO A FRONTEIRA FINAL

Cohn, Deborah, Daniel, Silver, Carolyn, Cowan, Philip Cowan, e Jane Pearson.
Working models of childhood attachment and couple relationships. Journal of
Family Issues, 1992, vol. 13, pp. 432–449.
Conger, Rand, Ming Cui, Chalandra Bryant, e Glen Elden. Competence in early
adult relationships: A developmental perspective on family influences.
Journal of Personality and Social Psychology, 2000, vol. 79, pp. 224–237.
Mason, Bill, e Sally Mendoza. Generic aspects of primate attachments: Parents,
offspring and mates. Psychoneuroendocrinology, 1998, vol. 23, pp. 765–778.
Mikulincer, Mario, Phillip Shaver, Omri, Gillath, e Rachel Nitzberg. Attachment,
caregiving and altruism: Boosting attachment security increases compassion
and helping. Journal of Personality and Social Psychology, 2005, vol. 89, pp.
817–839.
Mortenson, Greg, e David Oliver Relin. Three Cups of Tea. Penguin, 2006.
Simpson, Jeffry, Andrew, Collins, SiSi, Tran, e Katherine Haydon. Attachment
and the experience and expression of emotions in romantic relationships: A
developmental perspective. Journal of Personality and Social Psychology,
2007, vol. 92, pp. 355–367.
Sturge-Apple, Melissa, Patrick Davis, e Mark Cummings. Impact of hostility and
withdrawal in interparental conflict on parental emotional unavailability and
children’s adjustment difficulties. Child Development, 2006, vol. 77, pp.
1623–1641.
Sobre a autora
Dra. SUE JOHNSON dirige o Couple and Family Institute and

A
International Center for Excellence in Emotionally Focused Therapy,
em Ottawa, no Cana-dá. É também docente da Clinical Psychology, na
Universi-dade de Ottawa and Research Professor at Alliant na
Universidade de San Diego, Califórnia. Ela é membro da American
Psychological Association e recebeu numerosas honrarias por seu
trabalho, entre elas o prêmio por Relevante Contribuição ao Campo da Terapia
de Casais e Famílias, da American Association for Marriage and Family
Therapy, e o prêmio de Pesquisa sobre a Família, da American Family Therapy
Academy. Ela treina aconselhadores em TFE no mundo todo, e é consultora do
Exército dos Estados Unidos e do Canadá, e do Departamento de Bombeiros de
Nova York. Ela mora em Ottawa, com o marido e três filhos e um ca-chorro.
Susan adora Gilbert and Sullivan, Monty Python, tango argentino, e andar de
caiaque nos lagos do norte do Canadá.
Powered by
1 N. do T.: Míssil balístico móvel, de curto alcance, desenvolvido pela exUnião

Soviética; 42 foram lançados contra Israel, pelo Iraque, no início de 1991.


2 N. do T.: No original a autora usa a expressão idiomática “fly on the wall”,

usada para indicar um observador não percebido, e “Fly Gazette”, para fazer um
trocadilho.
3 N. do T.: Tradicional sobremesa servida na Inglaterra no dia de Natal, cuja

origem data do século XV.


4 N. do T.: Bordão da série de tevê Star Trek (Jornada nas Estrelas), dita pelo

capitão Kirk ao engenheiro-chefe Montgomery “Scotty” Scott quando queria ser


transportado de volta à nave Enterprise.
5 N. do T.: No Brasil o filme foi exibido com o título de “Em Carne Viva”.
Simplesmente irresistível
Gibson, Rachel
9788563420374
392 páginas

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O que a paixão uniu o homem não pode separar.


A belíssima Georgeanne deixa o noivo no altar ao
perceber que não pode se casar com um homem
velho o suficiente para ser seu avô, mesmo
riquíssimo. O astro do hóquei John Kowalsky, sem
saber, ajuda-a a escapar e só percebe que está
ajudando a noiva do seu chefe quando já é tarde.
Os dois passam a noite juntos, mas no dia seguinte,
John dispensa Georgeanne, deixando-a com
coração partido e sem rumo. Sete anos depois, os
dois se reencontram e John fica sabendo que sua
única noite de amor produziu uma filha, de cuja vida
ele quer fazer parte. A paixão dele por Georgeanne
renasce; mas será que ele vai se arriscar, outra vez,
a incorrer na cólera do seu patrão? E ela? Vai
aceitá-lo, depois de ter levado um fora dele?

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Iraque
Fontenelle, Paula
9788581301624
274 páginas

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Neste livro, Paula Fontenelle examina em


profundidade os perigos enfrentados por repórteres
durante a cobertura da guerra. Oficiais de soldados
envolvidos no apoio logístico de todas as fases da
reportagem, das gravações na linha de frente dos
combates ao transporte de equipamentos para os
pontos de transmissão de satélite. Repórteres com
uniformes militares à prova de bala, dentro de
tanques de unidades lançadoras de mísseis
teleguiados, sempre estrategicamente longe dos
civis, os que mais sofreram com a guerra. Além
disso, o livro apresenta depoimentos de sinceridade
constrangedora. Militares britânicos, escalados em
postos de comando, admitem serem subjulgados
pelos parceiros americanos, que decidiam sozinhos
o que divulgar e o que deveria ser escondido do
público.

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O príncipe da privataria
Dória, Palmério
9788581302027
400 páginas

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O Príncipe da Privataria revela quem é o "Senhor


X", o homem que denunciou a compra da reeleição
Uma grande reportagem, 400 páginas, 36 capítulos,
20 anos de apuração, um repórter da velha guarda,
um personagem central recheado de contradições,
poderoso, ex-presidente da República, um furo
jornalístico, os bastidores da imprensa, eis o
conteúdo principal da mais nova polêmica do
mercado editorial brasileiro: O Príncipe da Privataria
- A história secreta de como o Brasil perdeu seu
patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou
sua reeleição (Geração Editorial, R$ 39,90).
Com uma tiragem inicial de 25 mil exemplares, um
número altíssimo para o padrão nacional, O
Príncipe da Privataria é o 9° título da coleção
História Agora da Geração Editorial, do qual faz
parte o bombástico A Privataria Tucana e o mais
recente Segredos do Conclave.

O personagem principal da obra é o ex-presidente


Fernando Henrique Cardoso, o autor é o jornalista
Palmério Dória, (Honoráveis Bandidos - Um retrato
do Brasil na era Sarney, entre outros títulos). A
reportagem retrata os dois mandatos de FHC, que
vão de 1995 a 2002, as polêmicas e contraditórias
privatizações do governo do PSDB e revela, com
profundidade de apuração, quais foram os trâmites
para a compra da reeleição, quem foi o "Senhor X" -
a misteriosa fonte que gravou deputados
confessando venda de votos para reeleição - e
quem foram os verdadeiros amigos do presidente, o
papel da imprensa em relação ao governo tucano, e
a ligação do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap) com a CIA, além do suposto
filho fora do casamento, um "segredo de
polichinelo" guardado durante anos…

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Brilho
Ryan, Amy Kathleen
9788581300740
354 páginas

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A mais fascinante trilogia desde Jogos Vorazes. A


Terra não existe mais, e em duas naves que
procuram um novo mundo no espaço, uma menina
de 15 anos precisa casar e engravidar para garantir
a sobrevivência da humanidade. Enquanto isso,
uma sucessão de acontecimentos eletrizantes torna
a jornada pelo espaço algo absolutamente
imprevisto.
Temas como religião, a escolha da mulher e a ideia
de poder e dominação vão aparecendo muito
suavemente articulados ao longo da trama,
amarrando o leitor com surpresas e reviravoltas
estonteantes. São temas universais, postos num
livro por uma escritora surpreendente e que
promete arrasar a cena literária a partir desta sua
fantástica criação.

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Os judeus do Papa
Thomas, Gordon
9788581301280
392 páginas

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A II Guerra Mundial eclodiu na Europa. O exército


nazista avança pelo continente anexando e
massacrando, deixando o rastro de sangue que
marcou o século XX. No Vaticano, o papa Pio XII
observa os horrores dos combates e tem que definir
a posição da Igreja perante o mundo. Mas ele não
declara repúdio a Hitler nem se coloca ao lado dos
Aliados — simplesmente silencia e a História lhe
confere o título de papa omisso.

Por trás do silêncio havia um segredo agora


revelado por documentos oficiais secretos. Pio XII
organizou uma ampla rede de ajuda humanitária
para os judeus de toda a Europa. Sob orientação
dele, padres e freiras arriscaram a vida fornecendo
abrigo nos mosteiros e conventos a milhares de
judeus. Pio XII doou ouro do próprio Vaticano para
ajudar os judeus romanos e escondeu milhares
deles em sua residência de verão, enquanto Roma
era ocupada e bombardeada pelos alemães.

Os judeus do papa é um dos melhores livros


históricos já escritos. Baseado em uma rica
pesquisa documental, é uma obra indispensável
aos leitores que querem entender o que realmente
aconteceu em Roma sob a liderança do injustiçado
papa Pio XII.

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