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A FERIDA DO ABANDONO

O dependente tem necessidade de atenção e da presença dos outros, mas não


se apercebe do número em que não faz aos outros o que quer que lhes façam. Por
exemplo, ele gosta de se sentir sozinho a ler um livro, mas não quer que o seu
parceiro o faça. Gosta de ir sozinho a certos locais, quando a escolha é sua, mas se
sentirá abandonado e desprezado se o seu parceiro agir da mesma maneira. Dirá:
“Pronto, não sou suficientemente importante para que ele/ela queira estar comigo.”
É também difícil para uma pessoa dependente não ser com vidada para uma reunião
ou um encontro qualquer, quando, logicamente, deveria ter sido. Causa-lhe uma
grande tristeza, um sentimento de abandono e de falta de importância.
O dependente tem o hábito de se agarrar à pessoa amada. Em criança, a
menina agarra-se ao pai e o menino à mãe. Em casal, o dependente apoia-se no
Outro, dá-lhe a mão ou toca-o com frequência. Observa-se em pessoas que querem
que o Outro fale apenas olhando para elas, pois acham que não estão recebendo
atenção, e também, têm o hábito de tocar o Outro enquanto conversa. Quando está
de pé, tenta apoiar-se a uma parede, uma porta ou outra coisa. Mesmo sentado, tem
dificuldade em manter-se direito e as suas costas tendem a inclinar-se para a frente.
Quando você vê alguém que procura atrair demasiado a atenção em um
reunião social, observa seu corpo e verá que há nele sinais do dependente. Já pude
perceber enquanto realizo palestras que pessoas dependentes sempre me procuram
no intervalo para que eu lhes dê atenção extra ou maior do que aquela que foi
dispensada durante a palestra a todo o auditório. O dependente crê que merece mais
atenção e que o assunto dele é o mais importante. Ficam se sentindo desmerecidos,
melindram-se com facilidade quando peço para propor as questões em público para
que todos aproveitem o que terei a falar sobre aquele tema. E quando o evento
recomeça, os dependentes afirmam que já não querem mais falar. Na verdade, o que
interessava a eles era apenas a atenção particularizada.
O dependente é uma pessoa que se funde facilmente com o Outro, o que o
leva a sentir-se responsável pela infelicidade e pela felicidade dos que o rodeiam, tal
como acredita que estes são responsáveis pela sua felicidade ou infelicidade. Uma
pessoa é chamada de “fusional, porque sente as emoções dos outros e deixa-se
invadir facilmente. Esse desejo de fusão gera diversos medos, podendo mesmo levar
à agorafobia, que pode ser o medo a lugares vazios e cheios, o medo da morte e o
medo da loucura. No caso do dependente, quando alguém que lhe é querido morre,
ele vive um sentimento de abandono. Tem cada vez mais dificuldade de aceitar a
morte de quem quer que seja, porque cada morte vem reavivar a sua ferida de
abandono e contribui para acentuar o seu grau de agorafobia.
A mãe dependente, como é fusional, depende muito do amor do seu filho e
faz tudo para que ele sinta que ela pensa muito nele.

Frases comuns dos dependentes:


“Não suporto quando alguém não gosta de mim!”
“Faço tudo para manter a paz e a união na situação!”
“É importante que me digas aonde vais!”
“Só preciso de um telefonema que diga que chegou bem!”
Quando o dependente está em contato com os problemas criados pela sua
dependência, nesse momento, deseja tornar-se independente. Julgar-se independente
torna-se uma reação muito comum entre pessoas dependentes e elas gostam de
dizer aos outros como estão independentes. Contudo, isso só serve para acentuar e
esconder a ferida do abandono, visto que essa não está tratada.
Na vida sexual, o dependente tem o mesmo comportamento. Utiliza muitas
vezes o sexo para prender o Outro. Isso, vê-se, sobretudo, na mulher. Quando a
pessoa dependente se sente desejada pelo Outro, acha-se mais importante. Entre os
cinco tipos, diria que é a pessoa com medo de ser abandonada que mais gosta de
sexo. Deseja fazer sexo mais do que o seu parceiro, e é comum observar as queixas
desse perfil acerca da falta de sexo, até porque essas pessoas sentem doer a ferida do
abandono quando creem não ser desejadas sexualmente com frequência.
A mulher dependente, mesmo que não esteja com vontade de fazer sexo,
fingirá até querer sexo com seu parceiro, a fim de que não se sinta em abandono. Há
casos de mulheres permitirem que seus parceiros tenham outras mulheres apenas
para não se sentirem ou serem realmente abandonadas. Já vi homens dizerem as
suas esposas, “eu amo por nós dois, mas não me deixe!” como uma tentativa de
fugir desesperadamente de sentir a sua ferida de abandono. Há, inclusive, homens
dependentes que fingem não saberem que suas mulheres possuem relações com
outros homens, por medo de perderem a parceira.
O dependente evita até mesmo chorar em muitas situações para não parecer
fraco e isso não se tornar um motivo de não ser admirado pelo parceiro, pois assim,
estaria evitando o abandono. Para não receber um NÃO e assim não se sentir
rejeitado ou sob ameaça de abandono, são capazes de se submeterem a atitudes
como, concordar sempre com o Outro, evitar falar o que pensam ou sentem, além
de se colocarem como importantes e indispensáveis na vida do Outro, quando em
verdade, são essas pessoas que morrem de medo de se sentirem menos importantes
e desejadas.

“ENQUANTO A PESSOA QUE SOFREU ABANDONO SE MANTIVER


MAGOADA COM SEU PROGENITOR (AINDA QUE
INCONSCIENTEMENTE), AS SUAS RELAÇÕES COM TODAS AS OUTRAS
PESSOAS DO MESMO SEXO DESSE PROGENITOR SERÃO DIFÍCEIS.”

Aquele que vive o abandono alimenta a sua ferida sempre que abandona um
projeto em que se empenhava, quando se deixa abater, quando não se ocupa o
suficiente de si próprio e não se concede a atenção de que necessita. Assusta os
outros, agarrando-se demasiado a eles, e assim, consegue perde-los e ficar
novamente sozinho. Faz sofrer muito o seu corpo, criando doenças para chamar a
atenção.
O dependente gosta de fazer figura de independente e dizer a quem quiser
ouvi-lo como se sente bem sozinho e que não precisa de ninguém. Quando a ferida
de ABANDONO é animada, usa a máscara de dependente. Essa torna-te uma
criança que precisa de atenção e procura a mesma a chorar, com lamúrias ou
submissão ao que se passa, porque acredita que não chegará em algum lugar
sozinha. Essa máscara obriga-te a fazer uma grande ginástica para evitar que te
deixem ou para teres mais atenção. Pode mesmo ir ao ponto de te convencer a
adoecer ou a dotar a postura de vítima para obteres o apoio ou o amparo que
procuras.
O maior medo do dependente é a solidão. Não se apercebe disso porque
arranja maneira de raramente estar sozinho, e quando está, pode fazer-se acreditar
que se sente bem, sem ter noção, porém, de que procura febrilmente ocupações
para passar o tempo. Na falta de presença física, a televisão e o telefone lhe farão
companhia. Para os seus parentes próximos é mais fácil verem e sobretudo sentirem
o grande medo da solidão que há nele, mesmo quando está rodeado de pessoas. Os
seus olhos tristes também o traem.

O Tom de voz de um dependente é de criança e de queixume.


A dança que ele prefere é a de contato, porque lhe dão a oportunidade de
ficar colado ao seu par. Às vezes parece que se pendura no Outro. O que ele tenta
dizer nessa hora é, “Olhem como meu par me ama!”
O carro preferido do dependente é um que seja confortável e não comum ao
de qualquer pessoa.

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