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A Revolucao Das Letras 25 de Abril Explicado as CRIANÇAS
A Revolucao Das Letras 25 de Abril Explicado as CRIANÇAS
As letras queriam viver em liberdade, e sem birra, nem desfeita, tinha chegado,
desta feita, a ocasião de irem dizê-lo à cidade, por que não?, nem que tivessem de
marchar, por terra e mar, contra a nação.
Como o que tem de ser tem muita força, e não cumprir um dever, diz o poeta, é o
que há na vida de melhor, logo as letras se fardaram, a rigor, e vai de abrir
caminho, numa boa, de Santarém até Lisboa, pondo de aviso Portugal de que , se
não mudasse a bem, mudava a mal!
Mas por que havia de se opor, o povo português, a quem tão bem lhe queria?
Como em 1385 e em 1640, a revolta era, de resto, para levar à letra.
Heróis do mar não são heróis da treta.
E já que a pátria, em guerra, assim sofria, cada letra decidiu fazer de Abril um
grande dia nos quartéis, derrubar o vinte e quatro/a vinte e cinco, com afinco, e
fazer de Portugal, outro país a vinte e seis.
No Quartel das Letras, o Comandante-General é que
nem queria acreditar.
Não vai que as letras, alinhadas em coluna, sem
demora se dirigiram à capital, estrada fora?
E como ninguém ousou fazer-lhes frente, não
tardaram a chegar às portas de Lisboa, cada um por
sua vez, pelotões de letras, armados de G-3, e a jurar
fidelidade a um jovem Capitão, que os comandava a
bem da democracia da nação.
Já do alto do Castelo de São Jorge o sol dardejava o Terreiro do Paço e o Tejo
& tudo amanheciam, quando as letras, ao romper do dia, ignorando o que podia
acontecer, foram informadas que os Ditadores tinham fugido a correr, de rabo
entre as pernas, rumo à fronteira e pró Brasil, apercebendo-se que morreriam
nesse Abril, caso insistissem em ficar nos cadeirões de São Bento e de Belém,
pudessem lá saber, por ordem de quem.
Foi então que as letras, uma a uma, combinaram avançar pró
Largo do Carmo em carros de combate, ainda que isso lhes
parecesse um disparate.
Só que Lisboa, nessa noite, não estava para dormir. Chamou o
povo à rua, fez história, ergueu a voz, e cantou vitória, em forma
de canção.
Em nome da liberdade,
Foi-se o regime à viola.
Longe de ti, ó cidade,
Deram os tiranos à sola.
Ai deles que não dessem!
Pois mal do Quartel da Guarda veio sinal de rendição, logo
as letras, de cravo vermelho na espingarda, se juntaram
para decretar a Revolução.
Era o fim da Censura, da mão pesada e dura dos Coronéis,
que, daí então, de bico calado e aos papéis, teriam que dar
volta ao quarteirão.
E a partir de agora?
Rádios, jornais, televisão podiam já noticiar em liberdade que a Revolução iria ser
coisa nunca vista, apesar do povo em festa nem sequer pensar no que iria mudar
com a conquista. Cada letra era um soldado, trajado à maneira, e as multidões, do
Rossio ao Camões, celebravam o fim da pasmaceira nacional, dando vivas de novo
a Portugal.
Onde quer que chegassem, com beijos e abraços recebidas, as letras não podiam ser
esquecidas, devendo-lhes, de ora em diante, cada cidadão o direito de ser filho da
nação.
Como, além de mandar de guias a velha Ditadura, tinham as letras por
missão criar ideias, logo que abriram as portas aos presos políticos nas
cadeias, todo o alfabeto passou dos discursos à acção, prometendo
Trabalho, Segurança, Habitação.
Isto, porém, não era tudo, lá isso não, pois em Saúde, Cultura,
Educação, de nada valeria meter na linha a Reacção. Não perderam
tempo, os maganões, que, pelo cheiro, puseram ao fresco o seu
dinheiro; quais ricos pobretões a passear como gente bem pelos
salões.
Vai daí, antes não fosse, como no conto do vigário, que à primeira quem quer
cai, à segunda cai quem quer.
Entre político & militar não há que meter colher.
Pois que revolução, para inglês ver, em português – lá se foi, era uma vez…
Este texto foi retirado da obra “A Revolução das Letras”, de Vergílio
Alberto Vieira e ilustrado por Fedra Santos.
Com adaptação gráfica efectuada pelo professor Paulo Gomes para
as comemorações do Dia da Liberdade nas Escolas de Sacavém.