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FISCHER, FM. & LIEBER, RR. Trabalho em Turnos.. In: Mendes, R.. (Org.). Patologia do Trabalho. 2 ed.

Rio de
Janeiro: Atheneu, 2003, v. 1, p. 825-868.

TRABALHO EM TURNOS

Frida Marina Fischer


Renato Rocha Lieber

Índice do capítulo

1. Introdução
2. A ocorrência de trabalho em turnos e noturno, terminologia, escalas de trabalho, legislação.
3. Natureza das variações rítmicas
4. Questões relacionadas à higiene ocupacional
4.1. Horários de trabalho
4.2. Trabalho em turnos e riscos ambientais
4.3. Riscos químicos
4.3.1. Variações rítmicas e interação com xenobióticos
4.3.2. Evidências experimentais
4.4. Limites de exposição ocupacional no trabalho em turnos
5. Alterações de saúde decorrentes do trabalho em turnos
5.1. Alterações de ritmos biológicos
5.2. Desempenho e acidentes
5.3. Sono
5.4. Alterações cardiovasculares
5.5. Alterações gastrointestinais
5.6. Perturbações psiconeuróticas
5.7. Efeitos cumulativos
5.8. Mortalidade
5.9. Absentismo
5.10. Trabalho em turnos e gênero
5.11. Fatores sócio-familiares
6. As variáveis que interagem na adaptação ao trabalho em turnos.
Alguns modelos explicativos
7. Instrumentos utilizados na coleta de dados
8. Organização do trabalho em turnos e formas de intervenção
9. Referências bibliográficas
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1. INTRODUÇÃO

A produção de bens e prestação de serviços na sociedade ainda tem como elemento fundamental
dos processos a presença do Homem, a despeito da crescente utilização de sistemas de trabalho
automatizados. Parte de complexos ecossistemas produtivos, os trabalhadores enfrentam
constantes desafios no decorrer de suas vidas de trabalho. Estes são devidos não apenas a
situações de risco ocupacional associados com as características físico –químico- biológicas
presentes nos ambientes de trabalho, mas também por numerosos outros fatores perturbadores
da saúde que trazem desconforto, restringem a participação dos trabalhadores nas atividades
sócio-familiares, são potencializadores de doenças, pioram a qualidade de vida, tanto no
trabalho como fora dele.
Os fatores organizacionais do trabalho reconhecidos como importantes e muitas vezes
também responsáveis pelo desencadeamento das doenças e desconforto no trabalho têm sido
minuciosamente analisados pelos pesquisadores de várias áreas, particularmente em
Ergonomia, como discutidos na primeira parte deste capítulo. Levi (1981), Karasek (1981),
Johansson (1991) citam alguns destes fatores, muitos dos quais indicam a perda, redução, ou
ausência do controle no trabalho: o aumento das responsabilidades individuais com conseqüente
sobrecarga de trabalho, a intensificação nos ritmos de produção, tendo o trabalhador controle ou
não da situação, a constante repetição de ciclos de trabalho, a predeterminação detalhada de
métodos e técnicas levando à baixa utilização de conhecimentos e iniciativas dos trabalhadores,
os locais de trabalho não compatíveis com as necessidades de concentração aumentando as
dificuldades em realizar as tarefas, particularmente as que exigem longos períodos de atenção
sustentada, as más relações de trabalho, a crescente incerteza sobre a permanência no emprego,
as pausas insuficientes para descanso intra e interjornadas, os horários irregulares e em turnos
de trabalho. Mais recentemente durante a última década, teve lugar processos de reestruturação
produtiva, ao surgirem políticas gerenciais que levaram à desregulamentação das relações de
trabalho. Se para as empresas a principal razão alegada foi a manutenção da competitividade, ao
se reduzir os custos de produção ou de prestação de serviços, para muitos trabalhadores isto
representou, entre outros, perdas salariais e de benefícios sociais. Em muitos casos, ao serem
contratados por empresas que prestam serviços a terceiros, a mudança converteu-se na
imposição de maior flexibilidade nos horários de trabalho (inclusive na duração semanal,
mensal das jornadas de trabalho), maior instabilidade no emprego, empregos temporários, ou
simplesmente a impossibilidade de ter um emprego decente.
As questões sobre qualidade de vida no trabalho tomaram então outros caminhos além
daqueles que até então eram conhecidos em décadas passadas e se constituíam no principal
motivo de preocupação dos profissionais de Medicina do Trabalho. Desde o início da década de
70, um grupo de pesquisadores escandinavos na área de Saúde Ocupacional discutiu em
numerosos eventos e publicações haver a necessidade imperiosa de uma visão holística do
Homem no ambiente de trabalho, onde sejam considerados de forma abrangente os vários
elementos constituintes do trabalho e as repercussões destes na saúde. Desta visão global é que
deriva o conceito dos fatores psicossociais no trabalho influenciando no desempenho e na
satisfação do trabalho realizado, além da saúde dos trabalhadores. Os fatores psicossociais
referem-se às interações entre o ambiente de trabalho, o conteúdo das tarefas, as condições
organizacionais, interagindo com as capacidades, expectativas e necessidades dos trabalhadores,
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seus costumes e cultura, como também suas condições de vida fora do trabalho (Levi, 1981;
ILO/WHO, 1984). A avaliação destes fatores e seu impacto sobre o trabalho e a saúde requerem
abordagens que levem em conta os múltiplos aspectos das questões diretas ou indiretamente
envolvidas com trabalho. O trabalho realizado em sistemas de turnos fixos ou rodiziantes,
somente à noite, ou em horários irregulares, faz parte do grupo de fatores psicossociais no
trabalho que interagem nos processos saúde-doença. Serão genericamente citados neste texto
como ‘trabalho em turnos”, embora as diferentes características da organização do trabalho
provoquem distintas repercussões à saúde, às relações sócio-familiares e ao próprio
desenvolvimento do trabalho.
O plano deste capítulo inclui, além das questões de saúde-doença, também a exposição dos
temas mais atuais, como a tolerância ao trabalho e as diferenças individuais, questões ligadas à
higiene ocupacional, à seleção de instrumentos de pesquisa, bem como às principais propostas
para a organização e intervenção em sistemas de turnos. Como esta forma de organização do
trabalho pode interferir sobremaneira na ritmicidade biológica dos trabalhadores envolvidos, o
texto inclui uma fundamentação teórica da natureza dos ritmos biológicos para melhor
orientação dos leitores ainda não versados no assunto.

2. A OCORRÊNCIA DE TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO,


TERMINOLOGIA, ESCALAS DE TRABALHO, LEGISLAÇÃO.

2.1. Um pouco da História do trabalho em turnos e noturno

A história da organização do tempo de trabalho pode ser traçada desde o início da vida. O livro
Eclesiastes já menciona existir um tempo certo para as atividades humanas: tudo tem seu tempo
determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de
morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, tempo de
curar; tempo de arrancar, tempo de construir; tempo de chorar, tempo de rir.....
Uma interessante descrição da evolução e freqüência da ocorrência de trabalho noturno ao
longo dos séculos foi feita por Scherrer (1981). Este autor relata fatos ocorridos desde o Império
Romano até a época atual. Segundo este autor, havia nas estreitas ruas das cidades romanas um
grande congestionamento durante o dia, de mercadores, camponeses, artesãos, etc. Foi então
proibida pelos imperadores Claudius e Marcus Aurelius tanto na Itália como em todas as outras
cidades do Império, a circulação de veículos durante o dia, exceto de funerais a pé, e a
construção e demolição de edifícios. Assim sendo, os trabalhadores que deviam conduzir
carroças, cavalos, mercadorias, passaram a trabalhar à noite, perturbando o próprio sono assim
como o das pessoas que habitavam em ruas de grande movimento.
Durante a Idade Média, houve diminuição do trabalho noturno por conta das migrações
populacionais das cidades para os campos e da predominância das atividades dos artesãos, que
se dedicavam ao trabalho principalmente durante o dia. Após a Idade Média e antes do início da
Revolução Industrial, o trabalho noturno volta à cena principalmente devido à atividade mineira.
O livro escrito em 1556 pelo médico Georg Bauer, De Re Metallica, relata as dificuldades que
os mineiros enfrentavam no seu cotidiano, incluindo o trabalho noturno (Hunter, 1975).
Também Ramazzini, em sua obra De Morbis Artificum, de 1700, descreveu os padeiros como
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“artífices noturnos; quando outros artesãos terminaram a tarefa diária e se entregam a um


sono reparador de suas fatigadas forças, eles trabalham de noite e dormem quase todo o
dia...”(p. 91, Ramazzini, 1700, trad. 1985).
A Revolução Industrial na Europa se dá entre 1770 e 1850. Com as grandes descorbertas nas
áreas da física, química e a mecanização, houve um tremendo aumento do uso do carvão para
mover fábricas que passaram a trabalhar dia e noite. Uma rápida urbanização acompanhou a
Revolução Industrial. Neste período era comum se empregarem homens, mulheres e crianças,
para trabalharem longas jornadas, que se iniciavam ao redor de 5 horas da manhã, e se
extendiam por 12, 14 ou 16 horas consecutivas. Era freqüente a ocorrência de acidentes, tanto
pela fadiga dos trabalhadores, quanto pelas precárias condições de trabalho existentes nas
fábricas.
Uma das limitações ao trabalho noturno era a precária iluminação por lâmpadas a óleo. Esta foi
abandonada em 1800 quando surgiu a iluminação a gás, e posteriormente a querosene na metade
do século XIX. No final do século XIX, Thomas Edison inventa a lâmpada elétrica, tornando
possível extender em larga escala a jornada de trabalho para os horários noturnos. O grande
desenvolvimento das atividades industriais e comerciais no final do século XVIII e início do
século XIX, acompanhado da transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial,
levou milhares de pessoas de todas as idades a se dedicarem ao trabalho nas indústrias
emergentes. A duração do dia normal de trabalho teve cada vez menos relação com as horas do
dia: longas e extenuantes jornadas diurnas e noturnas tornaram-se freqüentes. Os limites entre o
dia e a noite não são mais respeitados para a vigília e o descanso dos trabalhadores- que são
organismos diurnos. O trabalho noturno torna-se tão importante como o trabalho diurno, numa
grande variedade de locais e tarefas a serem conduzidas. Shapiro e colaboradores (1997)
comentam em seu ilustrativo e interessante livro de auto-ajuda aos trabalhadores em turnos: “
Thomas Edison previu que sua invenção nos liberaria da noite, e transformaria nossas vidas. .
nós podemos fazer compras, ir a um banco eletrônico, comer fora de casa, fazer ginástica em
academias, clubes, e ir a locais de entretenimento à noite. O preço que pagamos por esta
liberdade é a necessidade do trabalho em turnos...” (p.27). Moore-Ede (1993) comenta que nos
dias de hoje somos participantes de uma nova revolução: a conversão de nosso mundo numa
única comunidade integrada pela tecnologia, a round- the- clock community, uma sociedade que
trabalha continuamente, 24 horas por dia, e que se desenvolveu em resposta às várias
necessidades.

2.2. Principais razões para a existência do trabalho em turnos

As razões de se estabelecer o trabalho em turnos podem ser de ordem técnica, social, e/ou
econômica. Desde as atividades essenciais do setor público (telecomunicações, serviços de
eletricidade, água, serviços de saúde, segurança pública) àquelas ligadas as atividades do setor
industrial onde a interrupção dos processos de produção só deveria ocorrer durante paradas
programadas para serviços de manutenção. Nestes casos inserem-se quase todas as indústrias
petroquímicas, químicas, de petróleo, siderúrgicas, cimento, vidro, papel, mineração, que são
empresas de processo contínuo. O setor de serviços também apresenta significativo número de
estabelecimentos que mantêm turnos de trabalho. Citam-se como exemplos: transportes urbanos
e interurbanos, rodoviário, aéreo e fluvial, serviços de saúde (hospitais e outros serviços de
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emergência), segurança pública, eletricidade, distribuição e tratamento de água e esgotos,


telecomunicações, serviços de compensação bancária, restaurantes, bares, supermercados,
estabelecimentos de lazer.
Presser (1999) lembra que em anos recentes cresceram em todo o mundo os serviços 24
horas. Segundo esta autora três fatores podem ser citados para explicar porque houve um grande
aumento no trabalho executado fora horário diurno e de fim-de- semana: mudanças nas
características demográficas, na tecnologia, e importante modificações na economia americana.
Especialmente este último fator levou a um grande aumento de empregos no setor de serviços,
principalmente aqueles que fazem uso de computadores e todas as outras formas de
telecomunicação, com elevada prevalência de horários de trabalho não-usuais, se comparados
com os setores da manufatura que tinham e ainda tem horários de trabalho mais tradicionais.
Também houve um grande aumento do número de corporações internacionais que tem
escritórios em vários países do mundo, e exigem que estes estejam operando seus serviços 24
horas diárias, para se manterem em permanente contato uns com os outros. Além disso, os
mercados financeiros internacionais expandiram suas horas de operação, assim como os
serviços de correspondência, particularmente os de operação rápida.

2.3. Definindo trabalho em turnos

O trabalho em turnos é caracterizado pela “continuidade da produção e uma quebra da


continuidade no trabalho realizado pelo trabalhador” (Maurice, 1975). A continuidade da
produção ou da prestação de serviços é alcançada pe1a participação de várias turmas que se
sucedem nos locais de trabalho. Estas turmas podem modificar seus horários de trabalho ou
serem fixas. Pode haver várias turmas trabalhando continuamente durante as 24 horas,
mantendo a produção ou a prestação de serviços ininterruptamente ou paralisar suas atividades
por algumas horas durante a noite e, ou no fim-de semana, ou em dia pré-determinado.
É muito grande a diversidade dos turnos de trabalho existente entre as empresas ou mesmo
intra-empresas, em distintos setores da produção. Algumas mantêm turnos bastante regulares,
permitindo que os empregados recebam seus calendários de trabalho e folga com até um ano de
antecedência, como é comum se observar entre os trabalhadores dos ramos das industrias
químicas, petroquímicas, petróleo, siderúrgicas, vidro, etc. Certos setores econômicos
empregam trabalhadores durante alguns meses do ano e reduzem temporariamente as atividades
de trabalho em épocas de menor demanda de produção. Este é o caso dos produtos agrícolas.
Nas usinas de cana-de -açúcar, por exemplo, após a colheita, trabalhadores são contratados para
trabalhar por 6 meses, em turnos de 8 ou 12 horas diárias; muitos são dispensados no período
entre-safra, permanecendo pessoal das áreas de manutenção. Antes de certas festas religiosas,
como o Natal, por exemplo, são empregados no comércio temporariamente para o trabalho
pessoas em turnos diurnos e vespertinos.
Em anos recentes, com o aumento da terceirização, muitas empresas que possuem turnos
contínuos tem contingentes de trabalhadores terceirizados que prestam serviços em suas
instalações. As jornadas diárias e semanais não tem relação com as dos trabalhadores
empregados pela empresa na qual prestam os serviços. Usualmente estes trabalhadores não
gozam dos mesmos benefícios, suas escalas de trabalho costumam ser piores, como menor
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número de folgas (além de menor remuneração), comparado as dos funcionários nestas


empresas.
Uma outra tendência tem sido observada na Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália.
Muitas empresas do ramo petroquímico e petróleo, implantaram a
semana comprimida de trabalho. Trabalha-se mais de 8 horas por dias (usualmente 12 horas por
dia), em turnos fixos ou rodiziantes, por 3 a 4 dias consecutivos, seguidos de 3 a 4 dias de folga.
A principal vantagem é o número de dias de folgas consecutivas. A principal desvantagem é a
própria duração da jornada, que pode ser muito fatigante dependendo do tipo de tarefas que são
realizadas, e quantas pessoas as realizam em cada turno. Quando o tempo de transporte para
chegar no trabalho é longo, por exemplo, em plataformas de produção de petróleo, mineração,
os turnos de 12 horas podem ser uma alternativa correta, pois os trabalhadores geralmente não
moram próximo do trabalho com suas famílias, dormem em alojamentos e necessitam de um
período livre maior para retornar a seus lares. Mas, se o tempo de transpote de ida e volta ao
trabalho é demorado, e os trabalhadores devem retornar às suas residências todos os dias, o
tempo livre para outras atividades não diretamente associadas ao trabalho torna-se
extremamente restrito. Isto trará problemas para a recuperação, com insuficiente repouso, e
muitas dificuldades para realizar outras atividades nos dias de trabalho.
Existem escalas de trabalho com uma característica singular: são completamente
irregulares. Os horários de entrada e saída no trabalho, assim como os dias de folga não
obedecem a um esquema pré-determinado. Em quase todos os períodos de trabalho semanais há
significativas variações na duração, nos inícios e finais de jornadas. Um bom exemplo desta
irregularidade de turnos pode ser encontrado na aviação civil, entre os aeronautas (pilotos,
engenheiros de vôo e comissários de bordo). Entre estes profissionais há um agravo adicional : a
restrita previsibilidade de seus períodos de folga, pois somente alguns dias antes do mês
terminar ou ainda, semanalmente recebem suas escalas de vôo contendo os horários de início e
fim de suas jornadas diárias, os dias de trabalho e folga, os itinerários a serem cumpridos, em
que cidades irão repousar após cada jornada diária (Fernandez & Fischer, 1990; Fischer, 1991).

2.4. Terminologia básica que define os esquemas de trabalho em turnos

Turno: unidade de tempo de trabalho (6, 8 ou 12 horas, em geral)


Turmas: grupos de trabalhadores que operam em revezamento, isto é, trabalham no mesmo
local, nos mesmos horários, sucedendo-se umas às outras.
Turno fixo: os trabalhadores tem horários fixos de trabalho, sejam diurnos ou noturnos.
Turno alternante ou rodiziante: os trabalhadores modificam seus horários de trabalho segundo
uma escala pré-determinada. Ou seja, são escalados para trabalhar em determinado horário por
alguns dias, semana, quinzena ou mês, e após este período passam a trabalhar em outro horário
ou período.
Ciclo de rotação: intervalo de tempo compreendido entre duas designações de um trabalhador
para o mesmo turno.
Rodízio direto: o trabalhador modifica seus horários de trabalho segundo os ponteiros do
relógio. Ou seja, se está trabalhando no turno matutino e o próximo turno que deve cumprir é o
vespertino, seus horários de entrada e saída no trabalho se atrasam, em relação ao turno anterior.
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Rodízio inverso: o trabalhador modifica seus horários de trabalho ao contrário dos ponteiros do
relógio. Se está trabalhando no turno matutino e o próximo turno que deve cumprir é o noturno,
seus horários de entrada e saída do trabalho se antecipam, comparados ao do turno anterior.
Sistema de turnos contínuos: o trabalho na empresa é realizado durante 24 horas diárias, 7 dias
por semana, o ano todo. Geralmente há três ou quatro turnos diários, dependendo se as jornadas
são de 8 ou 6 horas respectivamente.
Sistema de turnos semi-contínuos: o trabalho na empresa é realizado durante 24 horas diárias,
mas há uma interrupção semanal de um ou dois dias. Geralmente há três ou quatro turnos
diários.
Sistema de turnos descontínuos: a empresa não mantem trabalhadores 24 horas por dia.
Geralmente, há um ou dois turnos diários.

2.5. Características de escalas de trabalho

Através da descrição das características das escalas de turnos pode-se avaliar seus aspectos
positivos e negativos, assim como, propor melhorias na forma de organizar as escalas .
As escalas de trabalho devem ser caracterizadas avaliando-se pelo menos os seguintes
parâmetros:
- Regularidade do sistema de turnos
- Número de equipes (turmas) de trabalho por turno
- Duração do ciclo de turnos
- Duração diária dos turnos
- Horários de início e f im das jornadas de trabalho
- Número de horas de repouso entre dois turnos consecutivos
- Número de noites consecutivas de trabalho
- Número de turnos trabalhados, antes da folga
- Direção do rodízio (direto ou inverso)
- Outras características (número de dias livres por semana, dias livres em cada ciclo de
turnos, dias de férias por ano, possibilidades de trocas entre colegas, etc).

As figuras 1, 2 e 3 apresentam distintas escalas de trabalho em turnos rodiziantes, contínuos. A


figura 1 apresenta a escala de uma refinaria de petróleo brasileira. Há cinco equipes que
trabalham 6 horas diárias, e se alternam nos turnos em sentido anti-horário (rodízio inverso). O
número de turnos trabalhados consecutivos varia de 3 a 7 dias. Embora os trabalhadores tenham
jornadas diárias reduzidas, este tipo de escala não permite muitos dias de folga durante o ciclo
de turnos, assim como há muitos dias consecutivos de trabalho sem folgas intermediárias.
A figura 2 apresenta uma escala de trabalho com turnos rodiziantes contínuos. Esta escala tem
boas vantagens: permite aos trabalhadores ter dois grupos de 5 dias de folgas coincidentes com
o fim de semana durante o ciclo de turnos, o sentido de rotação dos turnos é horário, e há poucas
noites de trabalho consecutivas.
A figura 3 e correspondente tabela 1 foram extraídas de um exemplo de Lillqvist, Härmä e
Gärtner (1997). Foi construída uma escala de trabalho com 5 turmas. A novidade desta escala é
que há possibilidades de distribuir de forma diferencial o total de turnos matutinos, verpertinos e
noturnos que cada equipe vai trabalhar. Por exemplo, o grupo A e C terão menor número de
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noites do que os outros grupos. Segundo os autores, tal esquema seria adequado em empresas
onde alguns funcionários preferem trabalhar um menor número de noites e outros mais noites de
trabalho. Por razões de saúde ou para cuidar da família, trabalhadores mais velhos ou com filhos
pequenos podem preferir permanecer em casa no período da noite por mais tempo, do que
trabalhadores mais jovens que preferem ganhar mais trabalhando à noite. Os autores citados
consideram que quanto maior for o número de dias de trabalho noturno mais exigente será a
carga de trabalho deste turno.
As escalas de trabalho flexíveis dependem de modificações: na organização do trabalho, nos
tempos de trabalho e esquemas de turnos. Há várias possibilidades dentro da mesma empresa:
grupos que trabalham apenas em jornadas parciais, combinação de jornadas parciais e integrais,
horas de trabalho variáveis segundo o mes, ou período do ano, interrupção temporária do
emprego para reciclagem, ou estudos, por prazos mais longos, reposição de horas durante
períodos de férias, teletrabalho, etc. Os esquemas de trabalho vão depender da forma como as
tarefas e processos de produção estão organizados ou pretendem se re-organizar (Kogi, 2000).

(inserir figuras 1, 2, 3 e tabela 1)

2.6. Quantos são os trabalhadores em turnos?

Segundo Shapiro et al (1997) um em cada quatro trabalhadores no mundo desenvolve suas


atividades em horários fora do período entre 8:00 horas da manhã às 17:00 horas. Um
levantamento de 1994 na Comunidade Européia mostrou que ao redor de 20 por cento dos
setores de manufatura e serviços trabalham em algum sistema de turnos ou em trabalho não-
diurno (BEST, 1993). Em pesquisa conduzida nos Estados Unidos em maio de 1997, foi
constatado que apenas 29,1% dos trabalhadores americanos empregados trabalhavam na
chamada semana padrão, definida como sendo de segunda a sexta feira, num horário de
trabalho fixo, e de 35 a 40 horas por semana
(Presser, 1999). É importante ressaltar que as estimativas dos números de trabalhadores em
turnos dependem da definição que é dada ao trabalho em turnos. Se se corresponder apenas a
jornadas não-diurnas, os trabalhadores em turnos no período da tarde serão excluídos das
estatísticas.
Estatísticas mais antigas, como a da Organização Internacional do Trabalho, estimam
freqüência entre 15 a 30% em países em desenvolvimento industrial da força de trabalho
empregada em sistemas de turnos (Dumont, 1985). O porcentual dos trabalhadores empregados
em turnos em relação ao número total de trabalhadores depende do ramo de atividade e do
tamanho das empresas. Por exemplo, é mais comum haver trabalho em turnos, com jornadas
noturnas de trabalho, entre bombeiros, policiais, enfermeiros, do que entre comerciários.
Segundo levantamento efetuado pelo lnstituto Nacional de Pesquisa e Segurança-INRS, na
Fiança, em 1975, enquanto a indústria metalúrgica Francesa alcançava 71%, a indústria química
tinha 34,6%. As empresas com até 499 empregados apresentavam em seus quadros 25,1% de
trabalhadores em turnos, e aquelas com mais de 500 empregados, 43,1% (INRS, 1975). É
possível que o número de trabalhadores em turnos no Brasil (aí incluídos todos os que
trabalham em horários não diurnos de forma regular ou irregular) alcance aproximadamente
15% da força de trabalho. Em 1994, em levantamento realizado pela Fundação SEADE, a
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pedido da Fundacentro, verificou-se que entre os trabalhadores residentes na área metropolitana


de São Paulo (correspondente a 38 cidades e na época a 16 milhões de habitantes), 8,6% eram
de trabalhadores em turnos. Destes, 3,3% eram trabalhadores fixos noturnos, 3,0% de turnos
alternantes e 2,3% trabalhavam em horários irregulares (Fischer et al, 1995).

2.7. Legislação Brasileira

No Brasil, o trabalhador noturno tem hora de trabalho reduzida igural a 52 minutos e 30


segundos e tem remuneração 20 por cento superior à hora diurna. Pela legislação brasileira
(Consolidação das Leis do Trabalho, Seção IV, Do trabalho noturno) é considerado trabalho
noturno aquele realizado entre 22:00 horas de um dia até 05:00 horas do dia seguinte
(Campanhole e Campanhole, 1994).
Em 1988, foi prevista pela nova Constituição Brasileira em seu artigo 7º inciso XIV, a jornada
de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociação coletiva (Brasil, 1988). Em muitas empresas que possuem três turnos contínuos, ou
seja, naquelas cujas atividades continuam durante as 24 horas do dia, sete dias por semana, a
quinta turma de trabalhadores foi criada. Entretanto, a jurisprudência firmada após a aprovação
da nova Constituição estabeleceu que apenas nas empresas onde há modificação dos horários
dos trabalhadores haveria exigência de reduzir as jornadas de trabalho. O texto da Constituição
menciona turnos ininterruptos de revezamento que foi erroneamente confundido com rodízio
dos horários de trabalho. No Novo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1999) o termo revezar
significa substituir alternadamente, trocar de posição e revezador significa aquele que reveza ou
substitui outro por sua vez ou turno. Portanto, turno de revezamento poderia perfeitamente ser
como aquele que tem outro que lhe sucede e não necessariamente estaria ligado aos horários de
cada trabalhador, mas dependeria exclusivamente da existência da continuidade do sistema de
turnos em vigor nas empresas. Devido a esta interpretação, muitas empresas fixaram horários de
trabalho dos seus empregados, com reais prejuízos para os trabalhadores em turnos,
especialmente aqueles que devem cumprir jornadas fixas vespertinas e/ou noturnas. Também
com este artifício, as jornadas diárias e semanais não foram reduzidas, e mantidas as 44 horas
semanais nos turnos fixos.
Vale lembrar que o artigo 7o, inciso XXXIII da Constituição Federal de 1988 proíbe o trabalho
noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18 anos (Brasil, 1988).

A 77ª Conferência Internacional do Trabalho (Fundacentro, 1990) discutiu numerosas


proposições sobre o trabalho noturno, estabelecendo recomendações quanto à duração do
trabalho, períodos de descanso, compensações pecuniárias, aspectos relacionados com a
segurança e saúde, serviços sociais, entre outros itens. Entre as recomendações, surge uma
novidade: a necessidade de ser dada uma atenção especial aos efeitos cumulativos originados
por fatores que provocam agravos à saúde, inclusive às formas de organização do trabalho em
turnos.

Em 12 de maio de 1999 foi publicado no Diário Oficial da União a nova regulamentação


acerca das doenças profissionais e doenças relacionadas com o trabalho, regulamentando o
Decreto 3.048 de 6 de maio de 1999. Este dá nova redação ao regulamento da Previdência
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Social, aí incluindo os benefícios a serem auferidos pelos trabalhadores em caso de acidente e


doenças profissionais e do trabalho. O trabalho em turnos e noturno está incluído como agente
etiológico ou fator de risco de natureza ocupacional, sendo descrito como má adaptação à
organização do horário de trabalho - trabalho em turnos e trabalho noturno ( Z56.6 da CID-
10) para o desenvolvimento de transtornos do ciclo vigília-sono devido a fatores não -orgânicos
(F 51.2, grupo V da CID-10), e de distúrbios do ciclo vigília-sono (G 47.2, grupo VI da CID-10)
( Diário Oficial da União, 1999). Isto representa um grande avanço, colocando a legislação
brasileira à frente da maioria dos países do mundo no que diz respeito à proteção legal conferida
a trabalhadores em turnos e noturnos.

3. NATUREZA DAS VARIAÇÕES RÍTMICAS

Os seres vivos vivem num mundo rodeado por ciclos naturais. Ao longo do processo evolutivo,
criaram-se mecanismos que os permitiram apresentar um comportamento adaptativo frente às
variações ambientais. As funções dos seres vivos obedecem de forma geral a variações rítmicas
endógenas e são influenciadas e modificadas, na presença de certos estímulos ambientais.
Somente alguns fatores ambientais são capazes de arrastar os ritmos, tais como, a duração do
dia e da noite, a intensidade luminosa, a temperatura, a disponibilidade de alimento, os hábitos
alimentares, etc. Os ritmos endógenos dos seres vivos são independentes das variações
ambientais e continuam a se manifestar mesmo na ausência destes estímulos. Ou seja, na
ausência de influências do ciclo de luz/ escuro, ou de pistas temporais sociais, o sistema
temporizador endógeno mantem a ritmicidade das suas funções. O sistema temporizador
humano é composto de estruturas no sistema nervoso central, tais como, o núcleo
supraquiasmático e a glândula pineal, que juntos contribuem para a sincronização de ritmos
fisiológicos e comportamentais. Estas estruturas são conhecidas como osciladores ou relógios
biológicos porque contribuem continuamente para a geração da ritmicidade circadiana. Modelos
foram propostos para explicar o sistema temporizador: seria composto de osciladores múltiplos
acoplados, muitos dos quais ainda desconhecidos (Comperatore e Krueger, 1990). Os ritmos
endógenos não se modificam imeditamente após uma brusca mudança ambiental, ou de hábitos
dos organismos.
As variações fisiológicas e comportamentais apresentadas por todos seres vivos são rítmicas
e seu período (o tempo para completar um ciclo completo) pode ocorrer em frações de
segundos (como por exemplo os ritmos de disparo de neurônios ou de batimento do flagelo de
espermatozóides), segundos (os batimentos rítmicos do coração), uma vez por dia (a nossa
temperatura corporal), uma vez por mês (o ciclo menstrual), uma vez por ano ( o
comportamento de hibernar de alguns animais ou até anos, como o ciclo reprodutivo da cigarra
americana (13 ou 17 anos) ou do bambu chinês (100 anos) . O ciclo claro- escuro é um dos mais
importantes que influencia o comportamento dos ritmos biológicos. Os ritmos biológicos
associados ao ciclo claro-escuro são conhecidos como ritmos circadianos, e o período destes
ritmos pode variar de 20 a 28 horas, de acordo com a espécie. Nos seres humanos, muitas das
variações observadas no funcionamento do nosso organismo apresentam comportamento
rítmico com duração aproximada de 24 horas. Os ritmos que oscilam com períodos menores que
20 horas são chamados de ultradianos (por exemplo, os batimentos cardíacos, a respiração, as
11

fases do sono REM e não-REM, as variações de sonolência diurna). Enquanto que os


infradianos são ritmos de baixa freqüência com períodos maiores de 28 horas (Marques,
Golombek & Moreno, 1997).
Conforme comentado em parágrafo anterior, o resultado observado de um ritmo advém da
combinação de sua expressão endógena, ajustada pelos fatores ambientais. Nos seres humanos,
o período de oscilação dos ritmos circadianos é maior que 24 horas. Sob condições normais este
relógio deve ser ajustado diariamente, um processo que se chama arrastamento. O arrastamento
do relógio interno é alcançado por ciclos no ambiente externo que fazem o papel de
sincronizadores ou Zeitgebers (em alemão, doadores do tempo), ou seja, há pistas temporais
externas que permitem aos organismos deslocar as fases de seus ritmos e ajustá-los segundo as
modificações ambientais e suas necessidades. Se não houvesse a sincronização do relógio
interno, haveria um contínuo desajuste entre nosso tempo interno e externo. Para o homem, os
grupos de sincronizadores mais importantes que diariamente ajustam o relógio biológico são
aqueles ligados à vida social, familiar e de trabalho, embora o ciclo de luz-escuro também possa
influenciar no comportamento dos ritmos biológicos. As modificações do ciclo claro-escuro
alcançam o relógio biológico no homem através da projeção da retina no núcleo
supraquiasmático do hipotálamo.
Há relações de fase harmônicas entre vários ritmos. Por exemplo, a sonolência vai
aumentando à medida que passamos mais tempo acordados, e à noite. O aumento da sonolência
depende de um outro ritmo endógeno: o da temperatura corporal. Sua diminuição à noite facilita
o adormecimento e a manutenção do sono, mantendo uma relação de fase com o ritmo da
temperatura. Durante o sono aumenta a secreção de melatonina, sinalizando ao sistema
temporizador de nosso organismo que é noite. Quando os níveis de melatonina começam a
declinar, no final de uma noite de repouso, o nível de cortisol começa a se elevar, e acordamos
(Monk e Folkard, 1992). Há outros processos reguladores do sono funcionando de forma
integrada.
As variações nas funções, no comportamento, na morfologia estrutural e ultra-estrutural dos
seres vivos ocorrem de forma generalizada com toda matéria viva. Acumulam-se evidências
experimentais de ritmos biológicos dos mais diferentes tipos e nas mais diferentes espécies.
Apenas para citar alguns poucos exemplos: já foram observados ritmos mesmo em protistas,
(Brady, 1979); em seres vivos superiores, observa-se ritmo não apenas em nível sistêmico, mas
também em nível celular, como, por exemplo, na morfologia (Von Mayersbach (1976), no
conteúdo enzimático ( North et al, 1981), na divisão mitótica por Scheving e Pauly (1967),
entre muitos outros. A observação sistemática no homem teve início em 1960 com os trabalhos
experimentais de Aschoff (Reinberg e Smolensly, 1983). O caráter periódico das variações
expressando ritmo foi sistematicamente estudado a partir dos anos 50, após a demonstração por
Bünning, em 1935, da origem genética na duração do período. Revisões do assunto são
apresentadas por Moore-Ede et al (1975), Reinberg e Smolensky (1983) e em nosso país há
grupos de estudo com livros-texto publicados sobre o assunto (Cipolla-Neto et al,1988; Marques
e Menna-Barreto, 1997).
As observações do comportamento de numerosos ritmos permitiram estabelecer as
características comuns aos ritmos biológicos, distinguindo-os das variações triviais. Segundo
Minors e Waterhouse (1985), os principais componentes de um ritmo são: a média, a faixa de
oscilação, a fase do ritmo (momento quando os valores máximos são encontrados), o período do
12

ritmo (o tempo para completar um ciclo- como no caso dos ritmos circadianos é cerca de 24
horas). Como os valores de um determinado ritmo em cada indivíduo podem se expressar com
muitas variações, estas podem ser ajustadas e quantificadas utilizando-se uma curva senóide. Os
principais parâmetros desta curva ajustada são: o seu valor médio (mesor), a distância entre o
valor máximo e o mesor (amplitude), o momento quando ocorre o valor máximo da curva
ajustada (acrofase). A figura 4 apresenta a representação de uma curva senóide ajustada aos
dados obtidos da temperatura corporal de um indivíduo com vigília diurna e repouso noturno,
no decorrer de 24 horas.
Pode-se avaliar se os ritmos biológicos estão se expressando de maneira usual, ou se estão
alterados. Por exemplo, comparando o comportamento de um determinado ritmo biológico entre
vários indivíduos avaliados num mesmo período de tempo, ou no mesmo indivíduo com dados
coletados em dias ou épocas distintas. Isto tem sido muito útil para avaliar a intensidade e a
gravidade das alterações apresentadas em vários ritmos biológicos, conforme será descrito no
item “alterações dos ritmos biológicos”.
Na figura 4 há uma representação gráfica do ritmo biológico circadiano da temperatura corporal
de um indivíduo com vigília diurna e repouso noturno. Dados ajustados segundo uma curva
senóide.
Na figura 5, extraída de Folkard (1996), são apresentados exemplos de ritmos circadianos da
temperatura oral, níveis urinários de corticosteróides (17-OCHS), adrenalina, noradrenalina,
potássio e sódio, de pessoas vivendo em condições controladas de laboratório, mas com ciclo
vigília-sono normal (ou seja, com vigília diurna e repouso noturno). Segundo o autor, todas as
variáveis foram medidas nos mesmos dias, e nos mesmos indivíduos. Os erros-padrão dão
indicação da variabilidade individual entre as pessoas. Os ritmos apresentados na figura 5 não
estão na mesma fase, embora seus valores máximos ocorram em diferentes momentos durante a
vigília diurna. Exemplos: o valor máximo diário da temperatura corporal ocorre geralmente no
final da tarde, enquanto o dos metabólitos urinários dos corticosteróides, de manhã. A maior
parte dos ritmos comportamentais e fisiológicos que exibem periodicidades circadianas
apresenta suas acrofases durante o dia. Durante o sono noturno são observados os níveis
máximos de melatonina e hormônio de crescimento.

(Inserir figuras 4 e 5)

4. QUESTÕES RELACIONADAS À HIGIENE OCUPACIONAL NO TRABALHO EM


TURNOS

4.1. Horário de trabalho e as exposições ambientais

Há condições de trabalho em que o horário de realização da tarefa acaba por determinar uma
exposição a um risco ambiental específico. Entre os riscos biológicos, é freqüente a maior
ocorrência do agente ou do vetor em determinadas horas do dia. Tal acontece, por exemplo, nas
pneumonites provocadas por fungos (Lacey e Crook, 1988). Em nosso meio, Iversson (1989) e
Romano (1996) constataram por inquérito sorológico, que o risco de encefalite viral predomina
entre lavradores e pescadores, já que estes deslocam-se pelas matas em direção ao trabalho nos
13

horários em que os vetores se encontram em maior atividade. Este fato foi também verificado por
Khan et al (1997) para diferentes espécies do gênero Culex no Egito. Relação semelhante foi
sugerida por Favre (1989) para o risco da esquistossomose entre lavradores de culturas alagadas,
pela simultaneidade dos horários de trabalho e de liberação das cercárias.
Em ambiente hospitalar, não só os horários, como também a duração dos turnos, podem
favorecer as contaminações acidentais, conforme Parks et al (2000). Ações de prevenção
generalizada, como o uso de vacinas na população trabalhadora, podem comprometer seriamente
a disponibilidade da mão de obra, particularmente quando não se leva em conta as reações
adversas, cujas manifestações também estão sujeitas a ritmo, conforme constataram Langlois et al
(1995) para a influenza.
Em atividades industriais, mesmo organizadas em regime contínuo, também pode ocorrer a
preferência por determinados horários para execução de algumas tarefas, como manutenções,
inspeções, manobras perigosas ou mesmo descargas de efluentes. Nesse caso, além da falta de
critério relativo aos horários de maior toxicidade para a fauna e flora, as rotinas de
reconhecimento podem ser inadequadas e a avaliação acaba sendo conduzida por procedimentos
que vão levar a falsos resultados. Conseqüentemente, será sempre necessária uma descrição não
apenas das tarefas envolvidas, mas também das rotinas dos processos e operações, dos seus
desajustes, bem como dos procedimentos de correção adotados que podem resultar nas
exposições sob investigação.

4.2. Trabalho em turnos e os riscos ambientais

No caso do trabalho em turnos, contudo, no qual o próprio horário não-usual de trabalho pode
constituir um dos fatores causais para doenças, Sanchez-Ferrandiz (1988), entre outros, propõe
que os agentes ambientais sejam considerados também como co-fatores etiológicos, capazes de
contribuir para as doenças observadas. Todavia, há evidências mostrando que o nível desta
contribuição deletéria depende também do horário em que a exposição ocorre.
Assim sendo, o problema permitiria duas linhas de abordagem sistemática. Ou as exposições
ambientais agravam uma situação patológica pré-determinada em função da organização do
trabalho em turnos, ou os efeitos da exposição são maiores em decorrência do horário dessa
exposição levando à doença. Na prática, entretanto, não se pode esperar uma separação entre
esses dois fatos. Considerando-se o trabalhador como um sujeito bio-psicossocial, a doença
passa a ser o resultado desfavorável de um dado processo de interação. Nesse sentido, desde os
trabalhos pioneiros nesta área, como de House et al (1979), por exemplo, até os mais recentes,
como o de Parkes (1999), vem sendo demonstrado claramente que a percepção subjetiva dos
riscos ambientais e os efeitos decorrentes das exposições dependem das relações
organizacionais mantidas no trabalho.
Conseqüentemente, a proposta mais atual é abordar o problema sob o ponto de vista de efeitos
combinados, decorrente da exposição aos riscos ambientais e ao trabalho em turnos
simultaneamente, como sugerem Rutenfranz, Knauth e Angersbach (1981); Rutenfranz et al
(1989), Fischer et al (1997b). Essa abordagem complexa, entretanto, como o trabalho de Parkes
(1999) entre petroleiros, tem sido rara. Com maior freqüência, são apresentados estudos
relatando horários de resistência diminuída (HRD), ou seja, demonstrações do agravo dos
efeitos das exposições em função do horário da sua ocorrência. Esses estudos têm mostrado tais
14

diferenças na exposição ao calor (Sanchez-Ferrandiz, 1988; Rutenfranz et al, 1989) e ao ruído


(Kamal et al, 1989; Karnicki, 1989; Koller et al, 1987; Nurminen e Kurppa, 1989; Seibt et al,
1986; Mukhin, 1994). Outros trabalhos têm indicado também a possibilidade dessas diferenças
entre os agentes biológicos (Wongwiwat et al, 1972) e os relativos à ergonomia postural, como
na resposta às solicitações mecânicas dos discos intervertebrais (Adams et al, 1990). Estudos
subseqüentes da porção lombar da coluna, tanto com o auxílio de ressonância magnética
(Botsford et al, 1994; Paajanen, 1994), como de ultra-som (Ledsome, 1996), mostram que a
distância entre os discos intervertebrais é maior pela manhã em relação à tarde, possivelmente
devido ao processo de reidratação que se observa nesses discos durante à noite, conforme
Paajanen et al,1994. Não é sem razão, portanto, que a movimentação do tronco se verifica mais
contida pela manhã em relação à tarde (Dvorak et al, 1995; Ensink et al, 1996), horário este em
que mesmo a força muscular é maior, conforme Martin et al (1999).
Entre os diferentes riscos físicos a que se sujeitam os trabalhadores em turnos, os efeitos
decorrentes da exposição a campos eletromagnéticos têm merecido particular destaque em
tempos recentes. Para isto, contribuiu não só a popularização da comunicação celular, mas
também a sucessivas descobertas do papel da melatonina na correção das perturbações do sono
(Smolensky e Lamberg, 2000). Estes novos estudos partem do fato bem documentado da
interferência de campos magnéticos na divisão celular e, portanto, na expressão endógena dos
ritmos e suas diferentes conseqüências, como o câncer, combinado com a evidência da
melatonina ser um hormônio secretado pela pineal principalmente à noite (Anderson 1993;
Reitter, 1993a). Cogitou-se também que o campo magnético agiria de forma semelhante ao
estímulo luminoso, como um resincronizador, Reitter (1993b). Nesta época, Yaga et al, (1993)
mostraram, em ratos, que campos magnéticos estáticos afetavam a liberação de melatonina
quando aplicados durante o período de atividade (meio e fim do escuro), mas não quando
aplicados no repouso (começo do escuro e fase clara).
Os resultados em humanos parecem estar coerentes com estes achados. Selmaoui et al
(1996a, b) expuseram 32 sujeitos a campos magnéticos contínuos e intermitentes de 50-60Hz de
10 µT, por 9 horas seguidas durante à noite, e, coerentemente, não verificaram supressão
significativa de melatonina ou variação nos indicadores hematológicos e imunológicos. Pluger e
Minder (1996) chegaram a resultado oposto, ao optarem por exposições diurnas.
Estudos mais recentes mostram que, mesmo tratando-se de exposição diurna, não há
supressão da melatonina se o campo for de baixíssima intensidade (0,1 a 1,0 µT), conforme
Juutilainen et al, 2000, ou de baixa freqüência, como no caso de telefones celulares usados por
2 horas diárias (De Seze et al, 1999). Entretanto, em exposições prolongadas (maior que 2
horas) e sob campos magnéticos intensos trifásicos (mas não nos monofásicos), como em
subestações elétricas, foi constatado a supressão da melatonina entre os eletricitários, (Burch et
al, 2000). Caso tais campos magnéticos sejam aplicados de forma intermitente, há ainda a
possibilidade de interferência no ritmo cardíaco, conforme demonstraram Sastre et al, 1998,
entre 77 voluntários.

4.3. Riscos químicos

Os riscos químicos, por sua vez, há muito têm sido estudados sob essa abordagem de HRD,
permitindo algumas discussões das normas de compensação dos agravos, por exemplo, com a
15

redução dos limites de exposição ocupacional. As variações circadianas nos efeitos tóxicos
decorrentes da exposição aos riscos químicos despertaram interesse inicial na farmacologia,
possibilitando, já em 1971, uma revisão no assunto por Reinberg e Halberg. As conseqüências
destas variações nas exposições relacionadas ao trabalho motivaram alguns pesquisadores
(Smolensky, 1981; Smolensky et al, 1985; Reinberg e Smolensky, 1985; Gaffuri e Costa, 1986)
a questionar a validade da aplicação dos limites de exposição ocupacional, próprios ao controle
dos riscos de uma forma geral, para determinadas situações específicas, como o trabalho em
turnos. Além disso, outros (Calabrese, 1977; Reinberg et al, 1986; Brief e Scala, 1986) têm
sugerido que tais diferenças circadianas deveriam ser também consideradas ao se estender as
jornadas diárias de trabalho além de oito horas de duração.
Como são ainda poucos os estudos epidemiológicos, a argumentação sustenta-se
principalmente na reinterpretação das relações com os xenobióticos e nas evidências
experimentais, sob o ponto de vista de variações rítmicas.

4.3.1. Variações rítmicas e interação com xenobióticos

Na interação de xenobióticos com o organismo vivo destacam-se dois aspectos: ação da


substância sobre o organismo (ação dinâmica) e ação deste sobre a substância (ação cinética).
As conseqüências dessa interação ativa e biunívoca são as mais diversas, podendo ser
favoráveis, como a produção de energia e síntese de proteínas, ou desfavoráveis, caracterizando
uma ação nociva ou efeito tóxico. Todavia (pelo postulado de Paracelso), este aspecto favorável
ou desfavorável não decorre apenas da natureza do xenobiótico em si, mas também da dose ou
da quantidade que se encontra em interação com o organismo vivo. Supõe-se, entretanto, que
uma das contribuições para a adaptação dos organismos vivos ao meio foi o desenvolvimento de
uma organização temporal interna, capaz de prepará-los por antecipação aos eventos ambientais
recorrentes (incluindo aí a interação com xenobióticos). Conseqüentemente, ao se introduzir um
relativismo temporal, pode-se concluir que o efeito nocivo de um xenobiótico em um organismo
vivo dependeria não apenas da dose, mas também das condições do preparo prévio em que
organismo se encontra.
Este conceito complementar, compatível com a interação biunívoca já citada, tem sido
amplamente demonstrado. Assim, observa-se, para os mais diversos xenobióticos, que a mesma
dose produz diferentes efeitos quando aplicada em diferentes horas do dia. Essas variações
circadianas foram evidenciadas na ação farmacológica por Markiewicz (1984), Bruguerolle
(1987) Lemmer e Bruguerolle (1994); no ganho de peso pela alimentação oral por Reinberg
(1974) e Halberg (1974, 1983, 1989); na ação hepatotóxica da hiperalimentação parenteral por
Maine et al (1976), e na utilização dos nutrientes administrados por esta via por Just et al
(1990).

4.3.2.Evidências experimentais

Pelo menos em nível institucional prevalece em alguns países uma posição contrária ao
reconhecimento das implicações até aqui sugeridas. Tem sido alegado por alguns, conforme
consta nos anais da 76ª Reunião da Conferência Internacional do Trabalho promovida pela OIT
em 1989 (ILO, 1989) que não há evidências suficientes demonstrando as implicações
16

particulares do horário de trabalho nos riscos ambientais. Tais alegações, entretanto, não se
sustentam. Extenso trabalho de revisão no assunto, Lieber (1991), mostrou que, ao contrário do
suposto, as evidências disponíveis não só cobrem a maioria dos efeitos à saúde, classificados
pela OSHA (14 dos 19 pertinentes), como também referem-se em grande parte (77%) às
observações com efeitos não letais, de particular interesse ocupacional.
Embora não tenham sido localizadas evidências para danos pulmonares do tipo cumulativo
(pneumoconioses) e do tipo agudo/edema, para anemias do tipo meta-hemoglobulina, bem
como para irritação forte e suave, apresentaram-se evidências indiretas que permitem a
generalização da variação analisada. Dados reunidos no trabalho citado mostram que tanto os
eventos cinéticos (absorção, distribuição, biotransformação e eliminação) como os eventos
dinâmicos (cinco fundamentais) estão sujeitos às variações rítmicas, justificando as diferenças
de sensibilidade observadas. Estudos mais recentes mostraram a variação circadiana também
para o efeito de dano pulmonar agudo/edema, expondo-se ratos ao ozônio. Constatou-se que as
exposições durante o período de atividade acarretam maiores lesões nos bronquíolos terminais
em relação ao período de repouso, segundo Witshi et al, 1997, mas nesse mesmo período de
exposição o grau de inflamação broncoalveolar é menor, conforme McKinney e col. 1998.
Muito embora não tenha sido publicado ainda nenhum estudo relativo às variações circadianas
na anemia induzida por produto químico, sabe-se que a reconstituição da hemoglobina está
sujeita à ritmo, conforme observação de Levitt et al, 1994, em estudo conduzido entre 7
voluntários, usando monóxido de carbono.
Variações temporais do efeito tóxico em exposições agudas têm despertado crescente
interesse na prática médica de urgências (Gallerani et al, 1993). A regularidade observada é tal
que, em alguns casos, como nas cardiopatias, já se usa a expressão cronorisco, como propõem
Portaluppi et al, 1999. Na prática ocupacional, por sua vez, o médico do trabalho deve ter em
mente que os novos estudos vêm não só confirmando os achados anteriores de variação, como é
o caso dos solventes (Harabuchi et al, 1993; Kiesswetter et al, 1996), mas também colocando
em questão as práticas de diagnóstico, como por exemplo, as correlações pela creatinina
(Boeninger et al, 1993), e as avaliações de fluxo respiratório (Gannon e Burge, 1997).
Em grande parte devido aos novos movimentos econômicos observados na última década, os
meios de produção vêm sendo submetidos a um crescente esforço de modernização e
automação.Com isto, pode-se esperar mudanças radicais nos perfis de exposição tóxica. As
exposições crônicas tendem a dar lugar às exposições agudas (acidentais) e às exposições sub-
crônicas. Esse novo contexto, longe de trazer tranqüilidade, fomenta a necessidade da
constatação de efeitos sub-clínicos, obrigando o médico do trabalho a questionar cada vez mais
a adequação dos limites de tolerância a serem adotados com segurança na sua prática.

4.4. Limites de exposição ocupacional no trabalho em turnos

A fixação de limites de exposição ocupacional, restringindo as exposições ambientais nos


locais de trabalho, está sujeita a diversos critérios. Alguns, por omissão ou por restrição de
cobertura, fazem supor que os mesmos sejam aplicáveis independentemente da hora do dia e,
logo, próprios também às exposições noturnas. Tal premissa, entretanto, não tem embasamento
científico suficiente.
17

Já de início, os próprios limites de exposição ocupacional (LEO), na sua grande maioria, não
se sustentam em base científica adequada. Lieber (1991), analisando o embasamento filosófico
e as restrições técnico-científicas no estabelecimento de LEO, concluiu que os fatores
intervenientes são muitos, os coeficientes de segurança são discutíveis, e o estabelecimento
decorre de um processo político pouco participativo. Conseqüentemente, os LEOs podem, na
melhor das hipóteses, ser considerados adequados só para algumas circunstâncias. Não é sem
razão, portanto, o constante questionamento da adequação de tais limites. Ensaios experimentais
ou observações epidemiológicas continuam encontrando efeitos nas condições recomendadas,
como é o caso, por exemplo, do tricloetileno (Arito et al,1994), do benzeno (Nilsson et
al,1996), ou ainda para as exposições aos sais de cromo e níquel (Bright et al, 1997).
O ajuste dos LEOs para o trabalho em turnos não poderia ser ainda recomendado por várias
razões. Constatou-se, por exemplo, que o uso de fórmulas ou coeficientes de correção
atualmente disponíveis para obtenção de valores reduzidos, próprios às condições especiais de
exposição, é inadequado sob o ponto de vista conceitual. Em particular ao trabalho em turnos,
os efeitos subjetivos podem ser tão mais importantes que os efeitos objetivos e, portanto, sem
condições de descrição analítica. Entretanto, também não se pode aceitar que a exposição seja a
mesma, independentemente da hora do dia, se for levada em conta a proposta do projeto de
convenção relativo ao trabalho noturno votado na 77ª Conferência da OIT em 1990, onde consta
no item 12 do capítulo IV (Segurança e Saúde): “O empregador deveria adotar as medidas
necessárias para manter, durante o trabalho noturno, o mesmo nível de proteção contra os
riscos ocupacionais que durante o dia...” (Fundacentro, 1990).
Devemos reconhecer que o mesmo nível de proteção pode implicar diferentes condições de
exposição. Portanto, a alternativa mais viável no atual estágio de conhecimento, é estabelecer
horários em que a exposição deva ser evitada. Tais condições devem ser estabelecidas caso a
caso, com base nas variações cinéticas e dinâmicas. Nada indica que a proposição acima não
seja factível. Trata-se antes de mais nada, de uma questão de propósito. Na busca da eficiência e
do menor custo, já foi sugerido, por exemplo, que o horário de aplicação de herbicidas fosse
adequado ao ritmo biológico das plantas (Camparinon e Koukkari, 1976). Nada, porém, tem
sido recomendado quanto à adequação ao ritmo de susceptibilidade do aplicador.

5. ALTERAÇÕES DE SAÚDE DECORRENTES DO TRABALHO EM TURNOS

O trabalho em turnos contínuos, fixos ou rodiziantes, tem sido apontado como uma
contínua e múltipla fonte de problemas de saúde e de perturbação socio-familiar. Centenas de
pesquisas realizadas, principalmente nos países europeus, Estados Unidos, Canadá, Australia, e
Japão, mostraram os principais problemas que afetam os trabalhadores, e foram apresentadas em
quatorze simpósios internacionais que vêm sendo organizados regularmente desde o final da
década de 60. A grande maioria dos estudos continua sendo publicada nos anais destes
simpósios, seja em publicações especializadas, ou em periódicos indexados. Como exemplo do
último simpósio ocorrido em Weisensteig, Alemanha, no ano de 1999, há 69 trabalhos
publicados, nas seguintes áreas: alerta, desempenho e acidentes, adaptação biológica, trabalho
em turnos e saúde, trabalho em turnos no setor de serviços, trabalho em turnos e diferenças
individuais, construção de escalas de trabalho com auxílio de programas de computador,
18

aspectos psicossociais do trabalho em turnos (Hornberger, Knauth, Costa, Folkard, 2000). Para
obter mais informações sobre os simpósios e outros eventos científicos relacionados à área de
trabalho em turnos e noturno, deve-se consultar o seguinte endereço eletrônico:
http://time.iguw.tuwien.ac.at/scns/index.htm
Este website pertence à Comissão Científica de Trabalho em Turnos e Noturno da ICOH
(International Commission on Occupational Health).

5.1. ALTERAÇÕES DOS RITMOS BIOLÓGICOS

5.1.1. Em trabalhadores em turnos

O organismo humano é fisiologicamente distinto nos diferentes horários diurnos e noturnos,


pois as funções biológicas são rítmicas por determinação genética, como foi anteriormente
descrito no item 3 deste capítulo. Sob uma rotina diurna, estes ritmos estão sincronizados para
que as pessoas estejam física e mentalmente ativas durante o dia e durmam à noite. Quando os
trabalhadores têm jornadas nos turnos noturnos são obrigados a modificar o período de vigília e
repouso. Os distintos ritmos endógenos não se ajustam às novas rotinas com a mesma
velocidade. Por exemplo, o número de batimentos cardíacos por minuto é dependente do ciclo
de atividade-repouso, e ajusta-se relativamente rápido. Outros ritmos que são mais dependentes
do relógio biológico interno, tais como o da temperatura corporal, da melatonina, levam muito
mais tempo para se modificar. Isto leva a um estado de dessincronização interna temporária,
provocando desarmonia entre os vários ritmos, e dificuldades para uma inversão, mesmo
parcial, das funções biológicas (Aschoff, 1981). As conseqüências podem ser sentidas a
curtíssimo prazo, bastando que o trabalhador trabalhe apenas uma noite, e durma de dia na
manhã seguinte. Os sintomas mais freqüentes do mal -estar percebido includem fadiga,
variações no humor, nervosismo, dificuldades em dormir, falta ou aumento de apetite,
dificuldades em realizar um trabalho habitual, perturbações de memória, etc. A duração da
dessincronização biológica depende dos esquemas de turnos: quanto maior o número de
jornadas de trabalho que obrigam o trabalhador a inverter seu ciclo de atividade-repouso, maior
o número de dias necessários para conseguir uma inversão dos ritmos biológicos.
Outros problemas a enfrentar são os conflitos temporais causados pelas escalas de turnos. A
rotina da sociedade é orientada de forma distinta dos períodos de trabalho e folga dos
trabalhadores em turnos, particularmente os de turnos com muitas jornadas vespertinas e
noturnas. O encontro com familiares, amigos, as celebrações sociais, geralmente ocorrem
durante períodos e dias que não lhes permitem participar com a mesma freqüência do que se
trabalhassem durante o dia. O desencontro com os familiares, especialmente os filhos, pode
ficar dificultado. Isto gera conflitos bastante sérios e pode levar a problemas de ordem psíquica,
principalmente se não há alternativas em se engajar em outro emprego diurno (Knauth e Costa,
1996; Monk e Tepas, 1985; Rutenfranz, Knauth e Fischer, 1989).
Muitas das manifestações do trabalho em turnos são subclínicas, temporárias. Isto pode ser
observado em estudos ritmométricos onde são analisadas as flutuações de alguns ritmos
biológicos (Knauth et al, 1978; Aschoff, 1978; Reinberg, Chaumont, Laporte, 1975; Akerstedt e
Froberg, 1975; Mori, 1982; Folkard, 1996). Entre as desordens temporais mais estudadas estão
as alterações do ritmo da temperatura. Apenas citando alguns dos muitos trabalhos publicados
19

(Colquhoun e Edwards, 1970; Knauth et al, 1978; Chaumont et al, 1979; Foret e Benoit, 1978;
Reinberg et al, 1989) pode-se observar que a variação diária da temperatura sofre consideráveis
desvios de sua normalidade ao serem modificados temporalmente os períodos de vigília e de
sono. A dessincronização interna entre o ritmo da temperatura e do ciclo vigília-sono tem como
conseqüências o desencadeamento e/ou o agravamento dos distúrbios de sono (Akerstedt e
Gillberg, 1981; Akerstedt e Torsvall, 1981; Akerstedt, 1985).
Cipolla-Neto (1988) apresenta uma extensa lista de autores que em suas publicações
relataram as implicações da ritmicidade circadiana em: eventos ligados ao ciclo da vida
humana; ao desempenho físico e mental, à incidência de doenças mentais, às variações na per-
cepção da dor, no aparecimento da cefaléia etc.; na área da hematologia e coagulação sangüínea,
na imunologia e alergia; em doenças infectocontagiosas, doenças cardiovasculares,
endocrinologia e metabolismo, oncologia, gastroenterologia, nefrologia, oftalmologia. O tra-
balho em turnos, sendo um importante perturbador da ritmicidade circadiana, tem certamente
implicações negativas na saúde.

5.1.2. Em aeronautas e passageiros

Ao cruzar vários fusos horários em aeronaves, ocorre um desajuste temporal entre nosso
tempo interno e as influências ambientais externas. A velocidade normal de sincronização diária
é de 60 a 90 minutos. Quando as pessoas viajam de navio ou de trem, usualmente cruzam um
fuso horário por dia, e pouco notam a diferença de horário. Entretanto, os aviões a jato podem
cruzar mais de um fuso horário por hora. Ao chegar ao destino, todos os Zeitgebers modificam-
se ao mesmo tempo, facilitando as mudanças de fase de muitos ritmos circadianos ao se
reajustarem em coerência com o novo tempo externo. Entretanto, a incapacidade dos ritmos
endógenos de se ajustarem imediatamente a uma mudança brusca do tempo externo causa o jet-
lag (Wegman e Klein, 1985; Lowden, 1998). Nos primeiros dias quando não há ainda uma
adaptação dos ritmos aos novos horários locais, as pessoas sentem-se fatigadas, mais sonolentas,
com dificuldades para dormir à noite, com atraso ou adiantamento no horário de dormir e
acordar, têm perturbações do apetite, etc. Diferentes ritmos circadianos tem diferentes
velocidades de se ajustar aos novos horários locais. Isto vale tanto para os eventos fisiológicas
como cognitivos. Por exemplo, o ritmo de excreção das catecolaminas urinárias ajusta-se mais
rapidamente do que o da temperatura corporal, enquanto que o ritmo da excreção urinária dos
corticosteróides ressincroniza-se mais lentamente que os dois citados (Wegman e Klein, 1985).
A velocidade de adaptação depende da direção para onde se vai: há adaptação de um fuso
horário cruzado por dia em viagens para oeste, e 0,6 fusos horários por dia em viagem para leste
(Akerstedt, 1996). Voando para oeste, há um atraso de fase dos ritmos biológicos.Isto também
ocorre quando os trabalhadores trocam de horário de trabalho em escalas rodiziantes: no rodízio
direto os atrasos de fases dos ritmos permitem uma adaptação mais rápida, do que no rodízio
inverso.
Como os aeronautas (pilotos e comissários de bordo) não permanecem por muitos dias nos
locais de destino de sua viagem, o processo de adaptação aos novos horários locais não é
completado e persiste um estado de dessincronização temporária dos ritmos biológicos. Este
estado pode afetar não apenas sua saúde, mas também seu desempenho durante o vôo,
particularmente em tarefas complexas (Lowden, 1998).
20

Um dos ritmos afetados nos vôos transmeridianos é o ciclo menstrual, que pode se
prolongar pela repetida exposição ao jet-lag. Queixas de irregularidades menstruais são
freqüentes entre comissárias de bordo destes vôos.
Recomenda-se que em vôos transmeridianos tomem-se medidas para evitar o início de uma
re-sincronização dos ritmos biológicos, se o tempo de permanência no destino for curto, de um a
dois dias, e haja previsão de retorno ao local de origem do vôo. Isto é parcialmente conseguido
mantendo-se o horário de dormir do local de onde viemos
(Lowden e Akerstedt, 1998). Protegendo-se os olhos de serem expostos à luz solar, também se
impede que o ritmo da melatonina seja reajustado ao novo horário. Por outro lado, a ingestão de
melatonina pode acelerar a velocidade de ressincronização do sistema temporizador circadiano,
após uma rápida mudança na fase do ciclo claro-escuro, que é o que ocorre nos vôos
transmeridianos (Comperatore e Krueger, 1990). A melatonina é um poderoso modulador dos
ritmos circadianos. A glândula pineal, onde é sintetizada a maior parte da melatonina, é a
principal interface entre o ciclo claro-escuro ambiental, e os sistemas nervoso e endócrino
(Golombek, Cardinali e Aguilar-Roblero, 1997). A melatonina tem sido utilizada no tratamento
do jet-lag. Entretanto, não são conhecidos os efeitos colaterais, caso seja usada constantemente,
e por longo tempo. A ingestão de pequenas doses de melatonina (até 5 mg) por dia, de 30 a 60
minutos antes de ir dormir, facilita o ajuste do ciclo vigília-sono. A dose mencionada para
tratamento é muito maior que a normalmente secretada pela glândula pineal à noite, que
apresenta valores máximos entre 100 e 200 pg/ml (Smolensky e Lamberg, 2000).
Há similaridades entre as conseqüências do jet-lag e do trabalho em turnos: em ambas as
situações há uma ruptura da sincronia habitual entre os sistemas temporizadores internos e
externos. Entretanto, os passageiros e parcialmente também os aeronautas, após cruzarem vários
fusos horários, têm a seu favor que todos os sincronizadores externos do ambiente (físicos e
sociais) modificam-se ao mesmo tempo. Para os trabalhadores em turnos, especialmente aqueles
que trabalham várias noites consecutivas, as mudanças do ciclo de vigília-sono resultam num
estado quase permanente de conflitos dos indicadores de tempo, e o arrastamento é mais lento e
menos completo do que a ressincronização após vôos transmeridianos.

5.2. Desempenho/ acidentes

Vários estudos evidenciaram aumento de erros e acidentes do trabalho durante certos


períodos do dia e principalmente à noite (Hildebrandt, Rohmert e Rutenfranz, 1974; Harris,
1977; Prokop e Prokop, 1955; Pokorny, Blom e Van Leeuwen, 1987) ou sendo maior entre
trabalhadores em turnos noturnos, do que entre os diurnos (Lavie, Kremerman e Wiel, 1982;
Smith Colligan e Tasto, 1979). Nos estudos onde as observações constataram redução do
número de acidentes de trabalho à noite, houve concomitantemente, outros aspectos favoráveis a
esta ocorrência, como por exemplo, a redução de atividades laborais perigosas, a redução na
movimentação de materiais e pessoal, a excessiva carga de trabalho durante os turnos diurnos
(Bourdouxhe, Quéinnec, Guertin, 2000; Fischer, 1984; Fischer e Bellusci, 2000).
Usualmente, o desempenho e a disposição para o trabalho, ficam prejudicadas no período
noturno, seja pela incompatibilidade da realização de certas tarefas (que exigem esforços físicos
ou mentais em horários em que a eficiência biológica ou a expressão rítmica dessas funções se
encontram em níveis muitos baixos), seja por conseqüências de perturbações do sono, que
21

levam à impossibilidade de manter a atenção ou mesmo a vigília devido à maior sonolência


(Akerstedt, 1988; Akerstedt, TorsvalI e Gillberg, 1982; Borland et al, 1986; Folkard e Monk,
1985; Vries-Griever e Meijman, 1987; Spencer, 1987; Tepas e Mahan, 1988). O fato dos
grandes acidentes no setor nuclear, como Three Mile lsland, Chernobyl e Bophal (em indústria
petroquímica) terem ocorrido durante a madrugada, sugere que pelo menos em parte, pode-se
associar estes eventos à tomada de decisões importantes em períodos desfavoráveis, tanto para o
alerta quanto para a interpretação de fatos (Folkard, Minors e Waterhouse, 1985; Folkard, 1986,
1990; Smolensky e Lamberg, 2000). É necessário lembrar que o nível de alerta é variável ao
longo do dia e da noite, e também depende do tempo que uma pessoa está acordada, dos débitos
de sono, do nível de estimulação do trabalho (Akerstedt, 1996).
As horas da madrugada coincidem com os valores mais baixos da expressão de vários ritmos
biológicos, e com o aumento da sonolência. Isto pode ser um fator de risco importante para a
ocorrência de acidentes, particularmente em tarefas que exigem intensa vigilância, como é o
caso dos motoristas. É mais difícil julgar fatos e tomar decisões quando a sonolência é maior e
as dificuldades aumentam quando o número de pessoas no trabalho é menor, como geralmente
ocorre nas empresas à noite. A sonolência excessiva também pode levar a curtos episódios de
sono (micro-sonos) com duração de alguns segundos, até minutos. Geralmente as pessoas não se
dão conta que dormiram. Estes eventos podem ocorrer várias vezes durante o turno de trabalho,
e são mais freqüentes durante o trabalho noturno (Akerstedt,1988).
Vários estudos mostraram que a sonolência noturna é um fator de risco importante nos
acidentes nas estradas e ferrovias. Uma pesquisa conduzida na Suécia por Akerstedt et al
(1983), mostrou que 11 % dos operadores de trem cochilaram durante o turno de trabalho
noturno, sendo que 59% dormiram pelo menos uma vez durante o trabalho. A porcentagem de
trabalhadores cochilando durante o dia era significativamente menor. O mesmo autor menciona
que na maioria das empresas dos países da Comunidade Européia, o transporte rodoviário de
produtos perigosos é realizado preferencialmente à noite. Concomitantemente, tem havido uma
desregulamentação neste setor, com o objetivo de facilitar a cooperação na Comunidade
Européia. Estes fatos podem trazer maiores acidentes nas estradas, com conseqüentes danos ao
meio ambiente e aos motoristas atingidos.
Os horários irregulares de trabalho podem levar, além de severas perturbações de sono,
também contribuir para o uso de estimulantes para manter-se acordado, conforme mostraram os
estudos conduzidos por Moreno et al (2000 a ,b). Estes estudos, foram realizados no Estado de
São Paulo, em empresas da região Metropolitana de São Paulo, com 43 motoristas de
caminhão, sendo que 27 trabalhavam em horários irregulares e 16 em horários fixos. Os
resultados mostraram que 85% dos motoristas do primeiro grupo consumiam anfetaminas para
manter a vigília durante o trabalho noturno (Moreno et al, 2000a). Em um segundo estudo de
Moreno et al (2000 b) com motoristas de caminhão, foi observado que os motoristas que
trabalhavam em horários irregulares dormiram, em média, menos (303,4 minutos) do que os dos
horários fixos (377,5 min), sendo que esta diferença é estatisticamente significante.
Smith e Folkard (1993), ao comentarem a segurança no trabalho na indústria nuclear,
observaram que, tirar cochilos durante o trabalho de forma involuntária, pode ser um
comportamente perigoso e ter sérias conseqüências tanto para a segurança dos trabalhadores,
quanto para as comunidades que deles dependem.
22

Um outro fator de risco para a ocorrência de acidentes diz respeito ao momento que os
turnos matutinos se iniciam. Quando o trabalho começa muito cedo, às 05:00- 06:00 horas da
manhã, os trabalhadores podem apresentar uma sonolência excessiva no trabalho em
decorrência de uma redução no seu período de sono noturno. Isto pode levar a maior número de
erros e ou acidentes do trabalho neste turno (Pokorny, Blom e Van Leeuwen, 1987; Fischer et
al, 1997a).
Existem controvérsias se a maior duração da jornada de trabalho está ou não associada a um
aumento do número de acidentes do trabalho. Nos Estados Unidos e em vários países europeus
tem havido preferência na adoção de turnos de 12 horas diárias. Estes turnos mostram-se
atraentes ao proporcionar um maior número de dias de folga aos trabalhadores, e ou permitir
aos administradores a possibilidade de ter maior flexibilidade no planejamento de horas extras, e
ou de poder ter um gerenciamento mais flexível na produção. A maioria dos estudos revela que
o risco de acidentes aumenta com a duração da jornada, particularmente se associada às más
condições de trabalho. Em estudo realizado em indústria petroquímica na Região Metropolitana
de São Paulo, Fischer et al, 1998, e em empresa do ramo gráfico (Fischer et al, 1997b), foi
observado que os trabalhadores em turnos tem piores condições de trabalho, sujeitos a doenças
mais sérias decorrentes dos vários estressores combinados, quando comparados a seus colegas
diurnos, especialmente os que trabalhavam nas áreas administrativas. Assim sendo, um maior
risco de acidentes e de problemas de saúde está associado com o trabalho em turnos e com
condições de trabalho inadequadas. Em outro estudo conduzido por Fischer et al (2000),
também realizado em indústria petroquímica que tinha implantado turnos de 12 horas de
trabalho diárias, foi observado durante o período de trabalho noturno uma significativa
diminuição na percepção do alerta, e esta redução se fez sentir mais pronunciadamente na
décima hora do turno noturno (às 05:00 horas da manhã), comparado a outros períodos de
trabalho, tanto diurnos quanto noturnos. Os administradores desta empresa resolveram, em
comum acordo com os trabalhadores em turnos, manter turnos de 8 horas diárias, em função dos
maiores riscos à segurança do trabalho que as jornadas prolongadas poderiam trazer.
Em recente artigo Nachreiner et al, (2000) mostram que o risco relativo de sofrer acidentes
de trabalho fatais aumenta significativamente após a nona hora de trabalho. Os dados desta
pesquisa compreendem todos os acidentes fatais ocorridos na Alemanha, entre 1994 e 1997, e as
fontes foram as principais agências governamentais na área de prevenção de acidentes, e
federação de trabalhadores alemães. Os resultados não aconselham que se deva adotar jornadas
diárias mais longas, com o acúmulo de mais horas trabalhadas num determinado período do ano
ou mes, conforme permite a Diretiva Européia das horas de trabalho.
Costa (1996) chama a atenção para várias questões importantes relacionadas ao trabalho em
turnos e a ocorrência de acidentes ou erros no trabalho. Segundo ele, as pesquisas publicadas
revelam principalmente dados de acidentes mais graves, não sendo avaliados os incidentes e
acidentes de menor gravidade. O real efeito do trabalho em turnos nos acidentes poderia estar
subestimado. Este autor comenta também que, possivelmente haja hoje maior vulnerabilidade a
erros no trabalho, do que no passado, devido ao uso intensivo de tecnologias que requerem
longos períodos de monitoramento, e conseqüentemente, maior alerta e vigilância dos
trabalhadores, quando comparadas às antigas atividades manuais.
23

5.3. Sono

As dificuldades de sono são um grande problema para os trabalhadores em turnos, em


particular para aqueles que trabalham à noite. Significativo número de pesquisas foi publicado
destacando vários tipos de perturbações de sono; entre elas, citam-se alguns exemplos:
a. redução na duração do principal período de sono (Akerstedt e Torsvall, 1985; Akerstedt e
Gillberg, 1981, 1982; Akerstedt, Kecklund e Knutsson, 1991; Chã et al, 1989; Epstein et al,
2000; Fischer, Scatena e Bruni, 1987; Fischer et al, 1997a; Fischer et al, 2000; Frese e
Harwich, 1984; Knauth e Rutenfranz, 1981; Knauth et al, 1980; Tepas et al, 1981; Tepas e
Mahan, 1988);.
b. aumento na sonolência (Akerstedt, 1988, 1996; Anderson e Bremer, 1987;
Gillberg e Akerstedt, 1981; Lowden, 1998;
c. aumento dos cochilos ou períodos de sono fragmentados (Akerstedt e Torsvall,
1985; Brown, 1990; Rosa, 1993);
d. piora na qualidade do sono (Frese e Harwich, 1984; Fischer et al, 1986, 1997; 2000;
Fischer, 1990; Fischer e Paraguay, 1991; Foret et al, 1981; Rahman, 1988; Tepas, Walsh e
Armstrong, 1981).
e. fatores ambientais (ruído, desconforto térmico) perturbam o sono diurno (Fischer et al,
1988; Koller, Kundi e Cervinka, 1978; Knauth e Rutenfranz, 1975).

A estrutura do sono diurno é distinta daquela apresentada pelo sono noturno: os episódios
do sono paradoxal e do estágio 2 são mais curtos, a latência do sono pode ser maior e a
distribuição do sono paradoxal é diferente nos períodos de sono diurnos (Akerstedt, 1985;
Torsvall, Akerstedt e Gillberg, 1981; Foret e Benoit, 1974, 1978; Knauth e Rutenfranz, 1975).
Estas diferenças traduzem-se em percepção de uma qualidade usualmente pior quando o sono é
diurno.
Na figura 6 estão representadas as auto-avaliações da qualidade de sono de trabalhadores
em turnos rodiziantes e diurnos, de uma indústria petroquímica. Os dados referem-se à
publicação de Fischer (1990). Há diferenças significativas (p < 0,05) entre os turnos de trabalho
matutino (manhã) e vespertino (tarde) com o noturno (1n=1ª noite, Noite=2ª à 6ª noites, e 7n =7ª
noite). As piores auto-avaliações (menores escores) da qualidade do sono coincidem com os
dias de trabalho noturno. Quando comparados os dias de trabalho diurno (ADM) dos
empregados administrativos e operacionais diurnos (7h30 min. Às 16h30 min, segunda a sexta-
feira) com os seus dias de folga (sábado-sáb. e domingo—dom.) não são observadas diferenças
significativas. Entretanto, diferenças significativas (p < 0,05) são notadas entre os dias de
trabalho noturno, dos trabalhadores em turnos e os respectivos dias de folga após trabalho
noturno. Ou seja, os trabalhadores em turnos qualificam seu sono como pior do que seus colegas
diurnos, e há diferenças entre os dias de trabalho e de folga. Isto justifica por que eles precisam
ter um maior número de dias livres de folga, do que seus colegas diurnos.
A variação circadiana da sonolência nos faz sentir mais sono em determinadas horas do dia e da
noite. Os períodos de maior sonolência diurna e noturna são respectivamente, os próximos à
hora do almoço, e durante a madrugada. Assim sendo, é mais difícil para quem trabalha à noite
iniciar o sono de manhã, do que no início da tarde. De forma similar, é mais árduo ficar
acordado à noite quando a sonolência é maior, do que em outros períodos. Também pode ser
24

observada maior sonolência no início da tarde, e às vezes luta-se contra o sono para se manter
alerta no trabalho. Isto é mais difícil se foi preciso acordar de madrugada para entrar no trabalho
às 06:00, 07:00 h da manhã. Em alguns países da América Latina, a siesta ainda é um costume
(Taub, 1971), mas são poucos os que podem interromper o trabalho e voltar para casa para uma
soneca. Geralmente, os locais de trabalho não têm locais para repouso.
Entre os numerosos trabalhos publicados sobre sono, cita-se o de Lavie et al (1989) com
trabalhadores de refinarias e de indústria de alumínio. Os resultados refletem as repercussões do
sono em outras esferas. Foi observado que os trabalhadores que apresentavam distúrbios de
sono (15% a 18% da população estudada) também estavam menos satisfeitos com o trabalho,
tinham mais problemas domésticos, maior morbidade (por problemas cardíacos, enxaquecas,
diarréias e dores nas costas), pressão sangüínea diastólica mais elevada, mais queixas e
utilizavam mais medicamentos. Daí a expressão que estes autores usaram: “um marcador de
uma síndrome de má adaptação”.
Em recente e elegante revisão feita por Akerstedt (1998), sobre os padrões de atividade e
repouso utilizados pelos trabalhadores em turnos, uma das conclusões é: “o trabalho em turnos
claramente afeta o sono e a vigília, de uma forma predizível”. O autor também comenta
resultados de estudos que avaliam a extensão do sono matutino após o trabalho noturno, o sono
fragmentado, a freqüência e duração de cochilos, o atraso no sono principal após trabalho
noturno, as estratégias utilizadas pelos trabalhadores noturnos para dormirem melhor segundo a
escala de turnos em vigor.
Com o passar da idade, muitas pessoas percebem que seu sono deteriorou. Para os
trabalhadores em turnos foram observados que os principais efeitos do envelhecimento no sono
são: uma diminuição geral no estágio do sono onde predominam o sono de ondas lentas, maior
duração do estágio 1 de sono, um aumento no número e na duração de despertares, maiores
mudanças nos estágios de sono (Härmä, 1993).
São razoavelmente bem conhecidas muitas das variáveis que interferem no sono, mas ainda
estão sendo avaliadas quais são as melhores estratégias para obter um ótimo sono e reduzir os
efeitos negativos do trabalho em turnos. Para alcançar esta meta, modelos preditivos estão sendo
desenvolvidos, baseados em dados coletados em campo. Os seguintes parâmetros são utilizados
nos atuais modelos: a duração e período do sono principal, os cochilos anteriores ao início do
trabalho (sua duração, freqüência e momento quando ocorrem). Através destes modelos pode-se
também prever o nível de alerta (ou o grau de sonolência) ao longo das horas do dia e da noite,
inclusive durante o trabalho, as possibilidades de haver episódios involuntários de sono durante
o trabalho (micro-sonos), e o tempo necessário para recuperação (Akerstedt, 1996; Folkard e
Akerstedt, 1987). Estes modelos têm sido testados utilizando-se questionários, diários de sono,
escalas de avaliação subjetiva, e medidas objetivas padronizadas.

(inserir figura 6)

5.4. Alterações cardiovasculares

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e incapacidade na maioria dos


países industrializados, e também no Brasil, representando um sério problema de Saúde Pública.
As causas para o desenvolvimento destas doenças são múltiplas, tais como, as características
25

individuais, estilos de vida, estressores ambientais e no trabalho. A exposição ocupacional a


várias substâncias químicas está associada com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares
(tais como, dissulfeto de carbono, nitroglicerina, solventes, organofosforados, cobalto, etc).
Entretanto, conforme pesquisas publicadas principalmente nas últimas duas décadas, também
são relevantes os fatores de risco de natureza psicossocial, entre os quais se incluem, o trabalho
sedentário, monótono, as condições estressoras do trabalho, fumo, e o trabalho em turnos
(Alfredsson, 1982).
As pesquisas de Knutsson e colaboradores (reunidas na obra de Knutsson, 1989)
mostraram, através de uma série de estudos transversais e longitudinais realizados com
diferentes populações de trabalhadores em turnos e diurnos, que há significativo aumento do
risco relativo em desenvolver doenças cardiovasculares devido ao trabalho em turnos: quanto
maior for o tempo trabalhando em turnos, maior o risco. Foram comprovados que alguns fatores
de risco, tais como: o hábito de fumar, dietas mais ricas em carboidratos e lipídios e mais pobres
em fibras são mais acentuados entre os trabalhadores em turnos. Os estudos de Knutsson
revelaram perturbações: na dieta, após o ingresso no trabalho em turnos houve diminuição da
ingestão de fibras e aumento de carboidratos e lipídios; no metabolismo lipoproteico, com
aumento dos níveis de colesterol, e de apo-β-lipoproteínas; no aumento do hábito de fumar,
possivelmente influenciado pelo ambiente de trabalho ou como uma forma de passar o tempo.
A figura 7 apresenta o modelo desenvolvido por Knutsson que explica alguns dos
mecanismos que interferem na ocorrência de doenças, tendo como fator desencadeado do
processo o trabalho em turnos. Neste modelo é destacada a importância da dessincronização de
ritmos biológicos, do aumento de suscetibilidade a doenças, da mudança de hábitos alimentares
e de fumo, das perturbações dos padrões sécio-temporais combinados com insuficiente apoio na
área social.
Rocco, Nabel e Selwyn (1987), citados por Knutsson (1989), levantaram a hipótese de que
as alterações circadianas no suprimento de sangue ao miocárdio e as maiores demandas para
exercer esforços durante o período noturno, quando o normal seria o repouso e sono, poderiam
levar ao aumento de risco da doença coronariana.
Recentemente Boggild (2000) em seu trabalho de doutorado, reuniu mais de duas centenas
de publicações sobre o assunto, analisando-as criticamente. As publicações dizem respeito aos
riscos de desenvolvimento de doença cardiovascular, e os possíveis fatores associados:
características das escalas de trabalho, condições de vida, características individuais (gênero,
idade, índice de massa corporal, valores sanguíneos de triglicérides, colesterol de baixa
densidade e outros marcadores biológicos de stress), classe social, riscos ambientais, fatores
relacionados com o stress no trabalho. Quase todos os trabalhos publicados apresentaram o
trabalho em turnos, direta ou indiretamente como fator de risco no desenvolvimento das doenças
cardiovasculares. Entretanto, os muitos autores destas publicações basearam suas observações
utilizando distintas metodologias na coleta de dados, nas formas de análises, no controle das
variáveis do estudo. Boggild discute várias questões metodológicas dos estudos publicados.
Alguns de seus comentários dizem respeito à falta de controle ou de detalhamento na exposição
aos riscos, neste caso, ao trabalho em turnos. Segundo este autor, há necessidade de se conduzir
uma precisa avaliação da caracterização dos turnos de trabalho- sua natureza, tipo de trabalho
em turnos, as características das escalas de trabalho, número de anos trabalhando nas
respectivas escalas- para que seja possível diferenciar os graus de exposição passada e presente
26

nas populações estudadas, e os possíveis efeitos destas exposições. Como um dos exemplos, cita
que algumas pesquisas podem ter incluído num mesmo grupo exposto ao trabalho em turnos
pessoas que presentemente ou no passado estiveram expostas a este tipo de trabalho, mas que
trabalharam poucas noites por semana ou por mês, e juntas estavam pessoas que trabalharam em
escalas com grande número de noites de trabalho por mês, tendo portanto estas últimas maiores
riscos que as primeiras. Esta tese discute as características de variáveis confundidoras e
mediadoras entre o trabalho em turnos e os efeitos observados, no caso, as doenças
cardiovasculares. Em pesquisas conduzidas para apresentação deste trabalho de doutorado, dois
trabalhos de Boggild e Jeppesen (2000a, 2000b) realizaram avaliações de vários parâmetros
marcadores de stress e de risco de doença cardiovascular, entre enfermeiras e auxiliares de
enfermagem em vários hospitais da Dinamarca. Um dos estudos (2000a) foi realizado o que se
chama de estudo de intervenção, ou seja, foram realizadas modificações nas escalas de trabalho
para avaliar se as mudanças (turnos mais regulares, diminuição do número de noites de trabalho,
aumento dos dias de folga, e estas mais coincidentes com fins de semana, rodízio direto nas
escalas), produziriam modificações nos biomarcadores para doença cardíaca e stress. Os grupos
controles mantiveram seus horários e escalas de trabalho, que apresentavam maiores
irregularidades, assim como maior número de noites de trabalho. Realizadas avaliações dos
níveis de prolactina, colesterol de alta e baixa densidade, triglicérides, fibrinogênio, e
hemoglobina glicosada, antes e após modificação de escalas de trabalho em turnos, foram
observadas mundanças favoráveis na maioria dos parâmetros analisados, no grupo que teve
melhorias nas escalas de trabalho. Em outro estudo (Boggild, 2000b), foram também
comparados os biomarcadores de stress e doença cardíaca em vários grupos de enfermeiras e
auxiliares, associados com as condições de trabalho, características individuais, estilos de vida,
e escalas de trabalho. Os resultados mostraram que o número de horas noturnas trabalhadas
(entre 22:00 e 6:00 horas da manhã) estava associado com maiores níveis de biomarcadores
aterogênicos. Já em 1983, Orth-Gomer havia mostrado que a modificação do sentido do rodízio
inverso (noite-tarde-manhã- noite) para manhã-tarde- noite-manhã (rodízio direto) tinha efeitos
positivos, com redução da pressão sistólica e da excreção urinária de catecolaminas entre
policiais que trabalham em turnos. Segundo esta e outras pesquisas citadas no trabalho de
Boggild (Boggild e Knutsson,1999; Boggild et al, 1999) o trabalho em turnos traz de fato
modificações no metabolismo lipídico, e que se traduzem por maiores riscos à saúde. A tese
mencionada concluiu que “…o trabalho em turnos é provavelmente um fator de risco causal
aumentando o risco entre 30 a 40 % (no desenvolvimento das doenças cardiovasculares), mas
há a possibilidade de que o trabalho em turnos esteja interagindo com fatores desconhecidos, e
não haja aumento de risco em alguns casos”( p.61). Boggild salienta que é absolutamente
importante a implantação de escalas de trabalho que sigam critérios que apresentem menor
perfil de risco, utilizando-se o conhecimento da ritmicidade circadiana e as preferências sociais,
como forma de prevenir os possíveis efeitos do trabalho em turnos, particularmente associado às
doenças cardiovasculares. Conforme as publicações sugerem, a regularidade do trabalho em
turnos e a redução do trabalho noturno são relevantes para a prevenção das doenças.

(inserir figura 7).


27

5.5. Alterações gastrointestinais

Importantes revisões da literatura publicadas por Costa (1996) e Vener, Szabo e Moore
(1989) relativa aos efeitos do trabalho em turnos sobre a função gastrointestinal, reveloram que
os distúrbios gastrointestinais são mais prevalentes entre os trabalhadores em turnos,
particularmente naqueles que também trabalham à noite. Este autores comentam que embora
tenham sido utilizadas diferentes metodologias nas dezenas de trabalhos publicados, na grande
maioria das pesquisas foi claramente demonstrado que há um maior risco no desenvolvimento
de manifestações do apetite, dispepsia, flatulência, azia, dores abdominais, constipação e úlcera
péptica, entre os trabalhadores em turnos.
As maiores dificuldades para associar os problemas gastrointestinais com o trabalho em
turnos advém dos desenhos de estudos realizados. A grande maioria das pesquisas é
transversal e retrospectiva, produzindo uma seleção entre os trabalhadores que estão sendo
investigados e levando ao que conhece como “o efeito do trabalhador sadio”. Outro fator que
poderia confundir os achados diz respeito a trabalhadores em turnos que são transferidos para
outros horários de trabalho, desta forma reduzindo o risco dos que permaneceram no trabalho
noturno. Um trabalho de Segawa e colaboradores, publicado em 1987, e citado por Vener, relata
um inquérito realizado com 11 657 trabalhadores japoneses. Os autores constataram que a
úlcera gástrica era duas vezes mais freqüente entre os trabalhadores em turnos do que entre
diurnos; este estudo também revelou que parece haver uma maior capacidade ulcerogênica
residual entre os ex-trabalhadores em turnos. Em pesquisa de Tarquini, Cecchetin e Cariddi
(1986) foi observado que o trabalho em turnos pode provocar uma mudança importante no
sistema de secreção da gastrina e acidopepsina, causando dificuldades na digestão de certos
alimentos ingeridos em determinados períodos do dia.
Tepas (1990), em uma revisão crítica sobre o assunto, levantou uma série de questões quanto a
considerar-se piores os hábitos de refeições, nutrientes ingeridos em cada refeição e consumo de
cafeína e álcool entre trabalhadores em turnos e diurnos. Lançando mão de estudos por ele
conduzidos entre 1810 trabalhadores dos setores de plástico e borracha, não encontrou
diferenças estatisticamente significantes no tocante a consumo de café e álcool entre
trabalhadores cm turnos e diurnos. Acredita Tepas que efetivamente possa haver diferenças nos
hábitos alimentares de trabalhadores diurnos e em turnos, mas que influências nos padrões
sociais e culturais dos trabalhadores sejam mais importantes para explicar estas diferenças no
que diz respeito aos distúrbios nutricionais e nas conseqüentes queixas e sintomas de problemas
gastrointestinais, que o fato de isoladamente a pessoa trabalhar em turnos. Lennermäs et al
(1993), realizando uma avaliação nutricional (quantidade de gordura, sacarose, fibras, ácido
ascórbico e energia) de cada refeição de trabalhadores em turnos rodiziantes, também não
encontrou diferenças na qualidade nutricional da dieta, nem na freqüência de refeições e
lanches.
Estudos realizados no Brasil, com petroquímicos (Fischer, 1990; Fischer e Paraguay, 1991),
também não evidenciaram maior consumo de álcool e café entre os trabalhadores em turnos
comparados com trabalhadores diurnos da mesma empresa, faixa etária e tempo no emprego.
Entretanto, um maior consumo de café e bebidas foi observado entre pessoas que exerciam fun-
ções gerenciais, independentemente de se trabalhavam de dia ou à noite. Em estudo anterior
28

com carreteiros (Fischer et al, 1988) observaram um acentuado consumo de café (um litro em
média) durante trabalho noturno, para manter a vigília na direção do veículo.
Para manter bons hábitos nutricionais não são importantes apenas os fatores culturais, mas
também as facilidades de alimentação que as empresas ofereçam aos trabalhadores, em todos os
turnos de trabalho. São recomendados cardápios diferenciados entre os turnos; particularmente
para as refeições noturnas, devem predominar sucos naturais, saladas frescas, alimentos com
baixo teor de gorduras e alto teor de fibras.
Segundo Rutenfranz et al, (1985), o trabalho em turnos deve ser incluído como fator de
risco no surgimento da úlcera duodenal, aumentando as possibilidades de surgimento de
doenças, mas nunca como a única causa. A influência de fatores ambientais, as características
individuais, inclusive personalidade, estilos de vida, condições sociais, certamente interferem no
desenvolvimento dos problemas gastrointestinais, e também em manifestações de caráter psico-
emocional. Os conflitos temporais entre os ritmos biológicos e os sincronizadores externos,
favorecem o comprometimento do sono, dificuldades na vida social e familiar, e podem ser
fatores agravantes nos quadros de doença gastrointestinal observados. Um famoso grupo de
cronobiologistas liderados por Halberg descrevem pormenorizadamente como as alterações
biológicas causadas pelas modificações dos padrões de sono podem provocar mudanças na
alimentação, na motilidade intestinal e na patogênese da ulceração gástrica e duodenal.
Reproduzimos aqui um trecho final do artigo mencionado: “...O trabalho em turnos pode
aumentar a freqüência da úlcera (gástrica ou duodenal) da seguinte maneira: os padrões de
sono alterados produzem marcadas mudanças nos padrões secretórios da adrenal, ritmicidade
pineal, secreções de enzimas digestivas, alterações na alimentação e motilidade
gastrointestinal... E possível pensar-se que o trabalho em turnos é capaz de induzir a um estado
de estresse devido ao contínuo processo de dessincronização interna que freqüentemente existe
nos trabalhadores em turnos. Naqueles indivíduos que são mais suscetíveis, a úlcera ocorre. Há
necessidade de ser determinado quantos outros fatores (ambientais e genéticos) contribuem
para a expressão desta doença.”

5.6. Perturbações psiconeuróticas

Estudos de morbidade realizados revelam que os trabalhadores em turnos sentem com certa
freqüência fadiga crônica, nervosismo, mal humor, e às vezes também síndromes
psiconeuróticas, como ansiedade crônica, depressão (Koller, 1979, Gordon, 1986, entre muitos
outros). Existem controvérsias que o trabalhador em turnos estaria mais propenso ao comsumo
de álcool e drogas, mas isto até hoje não foi claramente definido (Cole et al,1990). Foi relatado
por vários autores um aumento do consumo de medicamentos para dormir, tranquilizantes,
associados com o aparecimento dos sintomas acima descritos, entre trabalhadores em turnos.
Um estudo de Lund (1974), sugere uma possível base fisiológica para um aumento de
neuroticismo naqueles que trabalham em turnos. Em pesquisa realizada com 34 pessoas que se
submeteram a um isolamento temporal em laboratório, e desta forma ficaram sem contato com
os Zeitgebers externos, em 7 delas foi observado dessincronização de seus ritmos biológicos
circadianos da temperatura com o ciclo vigília-sono. Comparando estas pessoas com as demais
que não sofreram esta dessincronização interna, verificou-se que estas tinham maior
neuroticismo que os demais. O autor deste estudo concluiu que as pessoas com maior
29

neuroticismo também possuem menor estabilidade de seus ritmos circadianos. Também foi
sugerido que o trabalho em turnos possa causar neuroticismo.
Costa (1996) afirma que há suficiente evidência de trabalhos já publicados sugerindo que há
uma associação entre o trabalho em turnos e o desencademento de problemas psíquicos, sendo
mediados em maior e menor extensão por fatores individuais e sociais.
Dadas as complexas interações entre as condições sociais e as perturbações dos ritmos psico-
fiológicos, as manifestações psíquicas tenderiam a ocorrer com os trabalhadores em turnos. E
mais, poderiam ser um fator agravante no risco do desenvolvimento de sintomas e doenças,
como as perturbações gastrointestinais e cardiovasculares.
Assim como Cole e colabores, Costa salienta que os limites que definem manifestações normais
de anormais não são sempre claramente definidos.É necessário padronizar métodos e
procedimentos para melhor definir as relações entre o trabalho em turnos e as manifestações
psiconeuróticas.

5.7. Efeitos cumulativos

Já foram citados em parágrafos anteriores, os estudos de Knutsson et al (1986), e mais


recentemente os de Boggild (2000), que evidenciaram fortes associações entre o tempo de
trabalho cm turnos e um aumento de risco em desenvolver doenças cardiovasculares. Quanto à
manifestação de distúrbios psicossomáticos, tais como dor de cabeça, tontura, nervosismo,
ansiedade, tremores, fadiga constante, taquicardia, azia, diarréia, perda de apetite etc.,
freqüentemente vêm acompanhados de distúrbios de sono. Nos estudos efetuados por KoIler
(1979,1983) entre trabalhadores em turnos e diurnos, os primeiros relataram maior incidência de
queixas, e estas aumentam significativamente com a idade (o que não ocorre com os
trabalhadores diurnos estudados pela mesma autora — Koller).
Como os distúrbios de sono tendem a se agravar com a idade (Foret et al, 1981; Torsvall,
Akerstedt e Gillberg, 1981), um trabalhador em turnos deve apresentar provavelmente, mais
dificuldades à medida que tenha um maior tempo de trabalho em turnos. Gersten (1987)
apresentou resultados de estudo longitudinal conduzido durante seis anos entre trabalhadores em
turnos e diurnos de um serviço de meteorologia. Verificou que o consumo de aspirinas e
antiácidos aumentou entre os trabalhadores em turnos com o passar dos anos e que não houve
melhora dos problemas de sono ou do que o autor chamava “bem-estar psicossocial” que eles já
apresentavam no início do estudo. Uma revisão bibliográfica elaborada por Rutenfranz, Haider e
Koller (1985) sobre os problemas ocupacionais enfrentados pelos trabalhadores em turnos e
noturnos também se refere à questão da idade e do tempo de exposição a estes regimes de
trabalho como variáveis que marcadamente influenciam os problemas de saúde.
Segundo o trabalho de Frese e Okonek (1984), há várias razões pelas quais as pessoas
deixam de trabalhar em turnos. Os motivos de saúde fazem parte desta lista e não podem ser
ignorados, já que os trabalhadores podem ficar com sérios comprometimentos à saúde e, mesmo
assim, relutar em deixar o trabalho.
O modelo de Haider et al, 1981, foi largamente utilizado para explicar, pelo menos em
parte, o envelhecimento precoce destes trabalhadores. O modelo começa com a fase de
adaptação. Esta ocorreria nos primeiros 5 anos no trabalho. O trabalhador teria que se adaptar a
30

mudanças de hábitos de sono, vigília, alimentação, vida sócio familiar, etc. Neste período, uma
parte dos trabalhadores ainda tolera bem os esquemas de trabalho, enquanto outra não o suporta
e deixa o trabalho em turnos. A fase seguinte seria fase de sensibilização. Neste período com
cerca de 5 a 20 anos de duração, o trabalhador assiste a seu desenvolvimento profissional, galga
postos mais elevados, adquire uma situação financeira mais estável. Na terceira fase, chamada
de fase de acumulação, os estressores ambientais e organizacionais, particularmente as
estratégias utilizadas para melhor tolerar o trabalho em turnos começam a não dar muito bons
resultados, em parte decorrente do processo de envelhecimento biológico. Nesta fase, haverá
trabalhadores aposentando-se precocemente por doença. A quarta fase, chamada de fase de
manifestação, seria caracterizada pelo aparecimento de doenças, que agravadas levariam o
trabalhador à aposentadoria. Em cada fase, haverá sempre aqueles que não tolerarão o trabalho
em turnos por várias razões e vão deixá-lo, assim como uma parcela que vai continuar a
trabalhar sem sentir os sintomas e desenvolver doenças. Cada vez será mais difícil podermos
presenciar estas fases e realizarmos estudos longitudinais com trabalhadores que tenham mais
de 20 anos de trabalho na mesma empresa, ou com longo tempo de exposição ao trabalho em
turnos. Como comenta Boggild em seu trabalho com doenças cardiovasculares, é difícil avaliar
corretamente o tempo de exposição ao trabalho em turnos, que tenha exposto o trabalhador a
riscos similares ao longo da vida de trabalho.
No Brasil, particularmente nas empresas estatais, era freqüente que o emprego durasse toda
a vida ativa do trabalhador. Com as privatizações esta situação permanece em apenas algumas
empresas, pois muitos trabalhadores foram demitidos e terceirizados, trabalhando em empresas
de porte muito menor, e que provavelmente não mantem bons registros de saúde. Será cada vez
mais difícil realizar estudos longitudinais com estes trabalhadores, avaliando seu estado de
saúde e tolerância ao trabalho, ao longo de 2 ou mais décadas de vida ativa.
Pode acontecer que seja necessário ao médico recomendar ao setor de Recursos Humanos
que encontre uma vaga durante o dia para um empregado que necessite deixar o trabalho em
turnos. Freqüentemente, o trabalhador enfrenta o dilema da redução de seu salário ao passar a
trabalhar somente durante o dia. Costuma ocorrer que não haja um outro lugar na empresa
durante o dia, compatível com o preparo e/ou os vencimentos do trabalhador cm turnos. É
importante lembrar que nem sempre as funções dos trabalhadores em turnos têm similar no
serviço diurno, especialmente as da área técnica e operacional (que usualmente apresentam
maiores riscos de exposição ocupacional a variados estressores), o que por vezes torna difícil
uma transferência dentro da mesma empresa.
Importantes estudos longitudinais realizados mostram que os problemas de saúde
relacionados com distúrbios gastrointestinais foram mais significativos entre ex-trabalhadores
em turnos, que se transferiram para o trabalho diurno por razões médicas, do que com traba-
lhadores em turnos que continuavam trabalhando em turnos. Também foi observado que, entre
os ex-trabalhadores em turnos, as queixas e dificuldades de adaptação por razões sociais e de
saúde foram maiores que entre os demais trabalhadores diurnos e em turnos (Angersbach et al,
1980; Dirkx, 1987; Koller, Kundi e Cervinka, 1978; Cervinka, Kundi, Koller e Haider, 1986;
Frese e Semmer, 1986). Pode-se deduzir que, em levantamentos realizados com trabalhadores
em turnos, experimentados, que continuaram por longos anos nestes sistemas de trabalho,
poderemos encontrar o chamado efeito do trabalhador sadio (the healthy worker effect) nas
populações que permanecem ativas no trabalho em turnos. Talvez venha daí a descrença de que
31

trabalhadores em turnos que já estão nestes sistemas há muitos anos (geralmente mais de 15),
sentem-se ainda bastante dispostos, e muitas vezes mais adaptados à situação de trabalho em
turnos que aqueles mais jovens. Estratégias mais eficientes, ou melhores situações no emprego,
e na vida em geral, podem fazer uma significativa diferença no resultado final de manter-se
ativo e bem, mesmo trabalhando em turnos.
Nesta última década, cresceu muito o interesse no envelhecimento precoce funcional, seja por
alijar do trabalho ativo as pessoas que ainda são relativamente jovens, seja pelo custo aos
sistemas de previdência social. Particularmente na Finlândia, um grupo de pesquisadores ligado
ao Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional conduziu importantes estudos com funcionários
públicos, por mais de uma década, para avaliar quais são os profissionais que estão mais
expostos ao risco de envelhecer precocemente, as prováveis causas, e formas de prevenção. O
tema envelhecimento e trabalho faz parte dos congressos de ergonomia, e trabalho em turnos,
entre outros. Entre os numerosos artigos publicados sobre este tema, cita-se um estudo
conduzido no Canadá, entre trabalhadores em turnos de 12 horas, que durante 20 anos
trabalharam em um refinaria de petróleo. Os pesquisadores (Bourdouxhe et al, 1999),
observaram que tanto ex-trabalhadores em turnos, como os atuais, queixavam-se de sintomas de
fadiga, problemas de sono, problemas familiares,etc. Os autores fazem uma importante
observação, de uma situação que infelizmente tem se repetido em outros países: concomitante
com o envelhecimento dos trabalhadores, e seu aumento de experiência no trabalho, tem havido,
sistematicamente, uma redução do número de pessoas trabalhando em cada turno e que
frequentemente leva à necessidade de maior número de horas-extras. Esta situação ocorre
justamente entre uma população que necessita de maior tempo para repouso. Assim sendo, tanto
lá no Canadá, quanto aqui no Brasil, as mudanças que se deram na idade da aposentadoria,
poderão ter sérios efeitos para os trabalhadores em turnos, principalmente numa população já
com maiores riscos de desenvolvimento de doenças.

5.8. Mortalidade

Os estudos sobre mortalidade entre trabalhadores cm turnos que trabalham em indústrias


químicas, petroquímicas e refinarias parecem indicar que o aumento da mortalidade deve-se à
exposição ocupacional de certos agentes. Não é feita qualquer referência ao trabalho em turnos
como um fator potencializador dos efeitos das exposições (Thomas et al, 1980; Hanis et al,
1982). Taylor e Pocock (1972), ao compararem a mortalidade entre trabalhadores em turnos e
diurnos em 10 tipos diferentes de indústrias, observaram que os trabalhadores cm turnos, em
alguns grupos etários, tiveram mortalidade mais elevada que a esperada, embora este fato não
tenha sido consistente nas organizações ou tipos de turnos. Concluem afirmando que o trabalho
em turnos parece não trazer nenhum efeito adverso sobre a mortalidade. Estas conclusões
parecem não corroborar os recentes achados sobre maior risco de desenvolver algumas
patologias, como o caso das doenças cardiovasculares, e vir a morrer precocemente.
Uma opinião largamente aceita foi expressa por Colquhoun e Rutenfranz (1980): “O
estresse (carga) objetivo resultante da modificação e dessincronização dos ritmos biológicos
causados pelo trabalho em turnos e das dificuldades e lentidão de ressincronização destes
ritmos às modificações do ciclo vigília-sono induzem a um estado de strain (desgaste) no
32

trabalhador em turnos, que pode potencialmente afetar sua eficiência no trabalho, sua saúde
física e psicológica, seu bem-estar, sua família e vida social.”

5.9. Absenteísmo

Uma revisão das causas de ausências ao serviço entre trabalhadores em turnos foi realizada
por Fischer (1986) mostrou haver um grande número de fatores envolvidos nesta questão. Os
resultados divergem de um estudo para outro: em alguns trabalhos encontrou-se menor numero
de ausências entre os trabalhadores em turnos, em outros, ocorreu o inverso. Na mesma
publicação citada (Fischer, 1986), são relatados resultados encontrados em estudos conduzidos
entre trabalhadores em turnos de indústrias automobilísticas da Grande São Paulo. Na época,
quando foram coletados os dados (de 1973 a 1975), a rotatividade no setor era imensa, acima de
90% ao ano. A pesquisa evidenciou que o tempo de empresa é uma importante variável na
explicação das ausências: quanto menor o tempo no emprego, maior o número de ausências. As
ausências injustificadas representaram um problema mais sério que as ocorridas devido aos
problemas de saúde, nesta população estudada. Em estudo realizado por Fischer (1990), os
trabalhadores diurnos relataram mais ausências ao trabalho que seus colegas em turnos. Uma
das causas apontadas seria que há uma maior disponibilidade de tempo para quem não trabalha
apenas de dia, para ir ao médico, não havendo necessidade de faltar ao trabalho.
É bem conhecida a solidariedade entre colegas que trabalham em turnos: a ausência de um
pode representar uma dobra no horário de trabalho ou um significativo aumento da carga de
trabalho individual de outro. Por outro lado, esta mesma razão pode esconder o real estado de
saúde dos trabalhadores: pequeno número de ausências não significa necessariamente bom
estado de saúde, pois em tempos de elevado desemprego, as ausências diminuem sensivelmente.

5.10. Trabalho em turnos e gênero: de fato importa?

As mulheres são diferentes dos homens de muitas maneiras: as diferenças biológicas e seu papel
na família as fazem ter e sentir dificuldades distintas dos homens. Na crescente luta por direitos
iguais aos dos homens, desde a equivalência salarial a obter melhores postos de trabalho, muitas
décadas se passaram. Em alguns países foi completamente banido qualquer tipo de restrição ao
trabalho noturno, em qualquer tipo de local, serviços, sejam eles insalubres, perigosos, difíceis,
tisicamente pesados. Os países do chamado Leste Europeu (transition countries) e a China, que
faziam parte das economias socialistas foram os primeiros a permitir a eqüidade entre os sexos.
Havia no Brasil antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, um impedimento
legal das mulheres ocuparem cargos onde havia insalubridade, assim como a proibição, com
algumas exceções, de poderem trabalhar à noite. Estas questões foram revistas após a
Constituição Federal de 1988 que garante a proteção do mercado de trabalho da mulher
mediante incentivos específicos nos termos da Lei (art. 7o, parágrafo XX). Locais que
tradicionalmente não tinham mulheres em seus quadros as admitiram nos últimos anos. Um
exemplo: era proibido o trabalho de mulheres frentistas em postos de gasolina devido à
exposição a agentes insalubres. Após a promulgação da Constituição, já é observado que há
contratação de mulheres para estas funções.
33

Mesmo na ausência de fatores insalubres, mulheres não eram admitidas para certas funções. Na
Companhia do Metrô de São Paulo, por ex. o ingresso das mulheres como operadoras de trens
se deu apenas em 1986, trabalhando em turnos rodiziantes, inclusive à noite. Na época, isto foi
um marco que mereceu festa e discursos por parte de diretores da Companhia, políticos e
membros da Secretaria Estadual dos Transportes. Assim que parece que gradualmente a mulher
vai ganhando espaços de trabalho onde antigamente somente homens trabalhavam. Mas, em
vista desta abertura, fica a dúvida: podem as mulheres trabalhar em qualquer local, em qualquer
horário, sem que isto dificulte suas vidas e prejudique sua saúde? A preocupação inicial em
proteger a mulher em idade fértil do trabalho em locais insalubres foi ligada à gestação, à
proteção fetal e à integridade das células reprodutoras. Pesquisas recentes têm sido realizadas
associando os locais de trabalho dos homens, com malformações congênitas e exposições
ocupacionais paternas a chumbo, solventes, solda e radiações ionizantes.
Os especialistas são unânimes em declarar que, sem dúvida, as mulheres são mais atingidas pela
dupla carga de trabalho (doméstica e no trabalho profissional fora de casa) que os homens
(Presser, 1986; Walker, 1985). Isto lhes traz uma séria desvantagem, especialmente àquelas que
necessitam de descanso diurno, após trabalho noturno (Gadbois, l981; Wedderburn, 1990;
Rotenberg, 1997). Trabalho de Rotenberg (1997) entre trabalhadoras de turnos noturnos fixos de
empresa metalúrgica de São Paulo, concluiu que embora a duração do sono não tenha
apresentado diferenças significativas comparando operárias com filhos e sem filhos, as
primeiras tendem a apresentar maior fragmentação do sono, quando comparadas às demais
trabalhadoras. Segundo Rotenberg, “..as pressões sociais associadas à dupla jornada de
trabalho, em especial as atividades relacionadas com os filhos, interferem diretamente na
alocação temporal do sono diurno”...
Outras perturbações à saúde, particularmente na função reprodutiva, como as perturbações
no ciclo menstrual, dismenorréia, tem sido observado em vários estudos
(Pátkai, 1985). O estudo de McDonald e colaboradores (1988) relata um aumento de risco de
aborto no início de gestação, particularmente antes de décima semana (RR 1,29) e após a 16a.
semana (RR=1,26). Quanto ao desenvolvimento fetal, vários autores publicaram trabalhos que
associaram o trabalho noturno e em turnos com o baixo peso ao nascer e prematuridade.
Outros agentes podem ser fatores de risco às gestantes, como indica o trabalho de
Nurminen (1989): elevada indicência de abortos, e hipertensão durante a gestação, entre
trabalhadoras expostas ao ruído acima de 80dBA(Leq). Estudo realizado por Fischer e Bellusci
(2000), entre 509 enfermeiras (os) e auxiliares de enfermagem de um hospital filantrópico de
São Paulo, que trabalhavam 12 horas diárias, seguidas por 36 horas de descanso, em turnos
fixos, revelou um processo de envelhecimento funcional precoce nesta população.
Particularmente entre as mulheres, o risco relativo de desenvolvimento de doenças neurológicas
e problemas emocionais de menor gravidade era duas vezes maior que entre os colegas do sexo
masculino.
Comentário de Rotenberg et al (2000) ilustra a necessidade de busca de caminhos para
solucionar as questões de gênero e trabalho em turnos: “…A análise do impacto do trabalho
noturno sob a perspectiva do gênero, não deve ser vista como argumento para restringir a
participação das mulheres no trabalho noturno, mas antes, deve ser usada para elaborar
medidas e tomar ações no sentido de reduzir as dificuldades para conciliar o trabalho
34

doméstico e profissional, particularmente aquele relacionado à organização de cuidados com


as crianças.”

5.11. Fatores sócio-familiares

Os distúrbios na vida social e familiar podem ser considerados de significativa relevância


para o bem-estar dos trabalhadores em turnos e são importantes na adaptação destes aos regimes
de turnos (Monk, 1988). Em todos os modelos teóricos que tentam explicar a relação das
variáveis envolvidas no processo saúde-doença, as perturbações da vida sócio-familiar estão
inseridas como parte destes elementos . É bastante vasta a bibliografia a respeito. Em todos os
simpósios e outras reuniões internacionais sobre trabalho em turnos e noturno houve relatos e
publicações sobre o tema.
São freqüentes as queixas dos trabalhadores em relação aos prejuízos causados por relativo
isolamento social, discriminação de atividades e dificuldades em conciliar suas horas de folga
com a de seus amigos e familiares (Brown, 1975; Bunnage, 1984; Chazallete, 1973; Nachreiner
et al, 1984; Walker, 1985; Wedderburn, 1981).
Durante grande parte de sua vida, o trabalhador em turnos está na contramão da sociedade
diurna, não apenas durante as jornadas noturnas, mas também nos horários vespertinos, fins de
semana e feriados. Os benefícios compensatórios (adicionais nos salários) não compensam
necessariamente as restrições enfrentadas por estes trabalhadores em suas vidas. Bosworth e
Dawkins (1981) e Thierry e Jansen (1981) afirmam que outros mecanismos podem ser
necessários, como a redução da jornada de trabalho, facilidades de alimentação, disponibilidade
de serviços médicos, suporte social, oportunidades educacionais.
Vroom (1964), ao discutir as possibilidades de atividades sociais após as horas de trabalho,
lembra que nem todas podem ser realizadas a qualquer hora ou em qualquer período do dia:
quanto menor a flexibilidade no tempo em realizá-la, mais difícil será participar se a pessoa
trabalha em horários irregulares ou em turnos.
Baseado na hipótese de Vroom (1964), Akerstedt e Torsvall (1981) discutem a idéia de que
a vida familiar, as relações sociais e comunitárias também apresentam padrões circadianos ou
padrões temporais específicos. Particularmente difíceis se tornam as atividades conjuntas entre
pais e filhos, como bem o demonstram os trabalhos de Diekmann, Ernnst e Nachreiner (1981),
de Volger et al, (1988). O trabalho de Diekmann e colaboradores mostra que as crianças dos
trabalhadores em turnos, comparadas com aquelas de trabalhadores diurnos, têm mais
dificuldades escolares. Volger et al (1988) explicam estas dificuldades em termos da
“quantidade e posição cronológica de tempo livre comum entre pais e seus filhos”: o tempo
livre que os pais que trabalham em turnos têm em comum com seus filhos é menor que dos
trabalhadores diurnos. A participação na vida das crianças depende também de suas idades e do
esquema de turnos do pai (Nachreiner et al, 1984). Entretanto, apenas a quantidade de tempo
livre não explica as diferenças encontradas entre os trabalhadores em turnos. Na opinião de
Volger e cols. (1988), as relações com os filhos ficam prejudicadas também em qualidade,
causadas possivelmente pelo cansaço após as noites de trabalho, como exemplificam estes
autores. A pressão de tempo a que estão submetidas as mães que tem filhos e trabalham em
turnos pode ter uma influência negativa no papel a ser desempenhado pela mãe, inclusive ter
más conseqüências na educação dos filhos (Colligan e Rosa, 1990).
35

A mensuração da utilidade do tempo livre dos trabalhadores em turnos torna-se ainda mais
relevante em função das observações de que apenas a quantidade de tempo livre não garante que
este possa ser bem aproveitado pelos trabalhadores (Thierry e Jansen, 1981; Jansen, Van Hirtum
e Thierry, 1984).
Em pesquisas efetuadas por Ernst et al (1984), Knauth (1987), Nachreiner et al (1984) e
Wedderburn (1981) sobre o valor do tempo livre, foram constatadas valorizações diferenciadas
no tempo de folga dos períodos da manhã, tarde e noite e entre os dias livres que coincidem com
os dias úteis (segunda a sexta-feira) e o fim de semana. Estes últimos são mais valorizados que
os primeiros. Segundo Wedderburn (1981) “os resultados confirmam a hipótese de que nós
somos uma sociedade vespertina e que o valor de um fim de semana livre é maior para a
maioria das pessoas do que dias de folga durante a semana”. Para Ernst et al (1984), as ativi-
dades de lazer são dependentes de outras atividades, por exemplo, do período de sono; os
esquemas de turnos e os períodos de sono interagem, afetando a utilidade do tempo livre que
resta aos trabalhadores. Segundo Walker (1985), as características individuais e as
circunstâncias que cercam a vida dos trabalhadores são muito diversas para serem feitas
generalizações, mas...” pode-se concluir, no momento, que as desvantagens do trabalho em
turnos na esfera social são maiores que as vantagens”.

6. As variáveis que interagem na tolerância ao trabalho em turnos

Uma grande parcela dos trabalhadores em turnos sofre com o desconforto e mal-estar
causados pelas jornadas de trabalho não-diurnas. Estas provocam, principalmente, a
dessincronizaçâo interna dos ritmos biológicos e os conflitos nas áreas social e doméstica
(Folkard, Minors e Waterhouse, 1985).
Foram desenvolvidos questionários baseados nas diferenças individuais observadas em
hábitos e preferências dos horários de acordar e dormir, da capacidade maior ou menor de
dormir em diferentes períodos do dia e da noite, da disposição em manter-se acordado
superando a sonolência (Horne e Östberg, 1976; Folkard e Monk, 1979; Torsvall e Akerstedt,
1980; Smith, Rally e Midkiff, l989; Brown, 1993). Os trabalhadores com características mais
marcantes de matutinidade parecem enfrentar mais problemas que seus colegas vespertinos na
adaptação ao trabalho noturno (Moog, 1987). Entretanto, a tolerância a estes tipos de
organização de trabalho pode ser influenciada por muitos outros fatores, conforme analisado
por Hildebrandt (1986).
As diferenças individuais na suscetibilidade e tolerância ao trabalho em turnos e noturno são
influenciadas por fatores externos e internos dos indivíduos. Os fatores externos que poderiam
influenciar seriam, entre outros, as condições da habitação, os problemas sociais, condições
ambientais e organizacionais em que se desenvolvem as tarefas, a satisfação com o trabalho, as
características do sistema de turnos, a conciliação entre as varias atividades no tempo de folga;
e os fatores internos, seriam a idade, o gênero, o estado de saúde do trabalhador, algumas
características da personalidade (neuroticismo, introversão/extroversão) e dos ritmos biológicos
(amplitude rítmica, habilidade à dessincronização interna, propriedades do ciclo do sono,
posição da fase circadiana - matutinidade/vespertinidade — reatividade psicofisiológica
magnitude diferencial de resposta aos estímulos externos e zeitgtbers). Alguns destes fatores
interagem entre si. Por exemplo, a idade com a posição de fase circadiana (matutinidade), a
36

diminuição da amplitude rítmica e os distúrbios de sono que tendem a se acentuar com a idade;
as condições de moradia (ruído e calor interferindo no sono diurno ou noturno) com as
influências sazonais, as características dos ritmos biológicos e as perturbações no sono
(Akerstedt e Torsvall, 1981; Monk e Folkard, 1985).
Entretanto, como a tolerância ao trabalho em turnos é sujeita a significativo número de
variáveis, são muitas as diferenças individuais influenciadas tanto pelas características dos
ritmos circadianos, como pelos fatores situacionais e organizacionais relativos à vida e as
condições de trabalho (Costa et al, 1989; Fischer et al, 1989; Foret e Benoit, 1986; Monk e
Folkard, 1985; Gillberg e Akerstedt, 1986). Härma (1993) em revisão sobre o tema enfatiza a
questão das diferenças individuais que podem modificar a resposta à tolerância ao trabalho em
turnos. Entre as já citadas, também discute: a capacidade de superar a sonolência, a melhor
aptidão física, a flexibilidade nos hábitos de sono, a idade. Estes seriam fatores importantes para
um melhor repouso, e maior vigília em horários não diurnos.
As repercussões do apoio familiar e comunitário para superar os desencontros dos horários
de folga do trabalhador com sua família e amigos também são parte do problema, mas também
de suas soluções. A questão da tolerância ao trabalho em turnos deve ser vista de uma maneira
integrada, isto é, dando atenção aos fatores biológico-comportamentais interagindo de forma
contínua com os fatores do trabalho e com os fatores psicossociais. Assim como um estado de
saúde não é algo fixo e imutável, da mesma forma são dinâmicas as diferentes adaptações que
se consegue frente a uma situação de trabalho. Exemplos: trabalhadores submetidos a árduas
condições de trabalho, ambientes insalubres com riscos de acidentes de trabalho, baixa
motivação no trabalho terão possivelmente pior desempenho e satisfação no trabalho. A
exposição a fatores nocivos em ambientes perigosos e desconfortáveis levará a maiores riscos
de desenvolvimento de doenças, ou de ocorrência de acidentes de trabalho. Condições
organizacionais desfavoráveis tornarão mais difíceis o ajuste dos tempos de sono e lazer,
coincidentes com as aspirações individuais e familiares assim como trarão maiores perturbações
de sono. Dada ao número de variáveis que interferem no processo de tolerância, isto nos impede
de dar uma receita sobre quais são os indivíduos que melhor se adaptariam ao trabalho em
turnos ou quais são aqueles que conseguem lançar mão de estratégias mais eficientes para fazer
frente aos múltiplos agravos à saúde e à vida privada, causados pela organização do trabalho.
Por exemplo, em determinadas épocas do ano quando as crianças estão na escola, as mães que
trabalham em turnos podem ser mais bem-sucedidas em conseguir ajustar seus horários de
trabalho e o cuidado com os filhos, do que em períodos de férias escolares (Wedderburn, 1990).
Um outro exemplo poderia ser o de um trabalhador em turnos que, além das usuais perturbações
dos ritmos biológicos causadas principalmente pelas alterações do ciclo de vigília-sono, tem o
agravante do ruído doméstico diurno devido à presença de crianças pequenas em sua casa que
provocam os ruídos típicos que todos nós conhecemos: as brincadeiras infantis, choro, gritos,
brigas entre irmãos etc. Anos mais tarde, quando todas as suas crianças estiverem na escola du-
rante o dia, o ruído doméstico poderá não mais se consitutuir mais um problema. Com o passar
da idade, embora o trabalhador tenha mais experiência, e saiba e/ou possa controlar melhor sua
vida em função do trabalho, a crônica dessincronização dos seus ritmos biológicos poderá lhe
afetar mais seriamente a duração e qualidade do sono, assim como levar ao desenvolvimento de
várias doenças (conforme foi descrito anteriormente no modelo de Haider et al 1981). Este
fenômeno tende a piorar com o passar da idade e o maior número de anos no trabalho em turnos
37

(Kundi, Koller, Cervinka e Haider, 1986). Froberg (1981), ao discutir questões metodológicas
que envolvem o estudo do trabalho em turnos e de horários irregulares de trabalho na Suécia,
chama a atenção para o efeito do trabalhador sadio nos resultados das investigações. Este efeito
traria dificuldades na interpretação dos resultados pelo fato de os trabalhadores representarem
(eventualmente) um grupo selecionado de pessoas, que foram capazes de se adaptar aos
esquemas de trabalho em turnos. Aqueles indivíduos com problemas de saúde ou questões de
cunho sócio-familiar mais graves e difíceis de serem contornados teriam deixado o trabalho e,
nestes casos, as comparações entre trabalhadores em turnos e diurnos podem ser enganosas. É
muito difícil, quase impossível, avaliar-se de forma correta os problemas enfrentados pelos
trabalhadores, assim como estudar os efeitos que são causados pelo trabalho em turnos naquelas
empresas com grande rotatividade de sua força de trabalho. Em empresas que adotam estas
políticas de elevada rotatividade, os sobreviventes das demissões certamente representarão urna
parcela de pessoas que está longe de ser considerada padrão. Estes fatos podem contribuir para
reforçar os efeitos do trabalhador sadio.

Modelos explicativos da tolerância ao trabalho em turnos

Um dos objetivos das investigações na área é a possibilidade de explorar e construir e/ou


melhorar os modelos que explicam a inter-relação dos fatores causais, o peso da influência de
algumas características individuais, domésticas, sociais e das condições de trabalho na
manifestação de doenças, a fim de orientar os trabalhadores em turnos, e administradores de
empresas, de forma preventiva, quanto aos riscos à saúde e os prováveis prejuízos que se possa
esperar no trabalho em turnos.
Baseados nos resultados apresentados pela vasta literatura já publicada sobre os efeitos do
trabalho em turnos sobre a saúde, vários autores propuseram modelos que explicassem as
interações entre as múltiplas variáveis dependentes e independentes que interferem nos
processos de saúde-doença.
No modelo proposto por Colquhoun e Rutenfranz, stress- strain (estressor – desgaste)
intervém no processo, os fatores biológicos, domésticos e das condições de trabalho: a natureza
e a solicitação das tarefas, o esquema de trabalho em turnos, duração da jornada, pausas,
ambiente físico (fatores climáticos, ruído, exposição a produtos tóxicos); as características
individuais dos trabalhadores (fisiológicas e psicológicas); a composição e situação doméstica
(qualidade da habitação, idade dos filhos, aceitação do trabalho pela família).
Um dos modelos (Haider et al, 1981), já descrito em item anterior, está centrado na teoria
dos fatores que levam à desestabilização psicofisiológica que ocorre ao longo dos anos de
exposição ao trabalho em turnos. Diz a teoria que “.. para preservar a saúde, é necessário que
os subsistemas, inseridos no sistema homem-ambiente, tais como o trabalho, a família, lazer e
sono, permaneçam em um equilíbrio dinâmico. Isto implicaria que os prejuízos sofridos por
uma parte do sistema seriam regulados ou balanceados por outra parte, de forma que os danos
ou mal-estar fossem temporários. As influências ambientais e suas combinações (trabalho em
turnos, poluição ambiental, ruído) poderiam perturbar o equilíbrio de um ou mais subsistemas,
produzindo conflitos entre as partes e levando à desestabilização”. Os efeitos à saúde poderiam
ser induzidos diretamente ou indiretamente. É amplamente conhecido que existem interações
entre as muitas variáveis, e que somente de forma integrada, identificando e quantificando cada
38

variável do sistema, é possível mensurar os fatores críticos que em cada caso influenciam no
bem-estar geral do trabalhador.

7. Instrumentos utilizados na coleta de dados

É sempre necessário associar a adequação do instrumento a ser utilizado para a população


objeto do estudo. Tem havido contínuas pesquisas na busca de instrumentos-questionários
específicos para avaliações objetivas e subjetivas de bem-estar. Nos últimos 20 anos surgiram
um grande número de questionários, nem sempre padronizados, que foram utilizados em
estudos de caso e populacionais. Urna das preocupações metodológicas é de normatizar ques-
tionários a fim de que possam ser comparáveis os resultados obtidos em várias investigações.
Quando avaliadas respostas dadas por indivíduos que vivem em outros 1ugares do mundo, em
populações que possuem diferentes características demográficas daquelas que serviram de base
para a formulação do questionário, os padrões de respostas não serão necessariamente os
mesmos. Um esforço internacional tem sido feito neste sentido. Liderado pelo grupo de
pesquisa do MRC/ESRC/Social and Applied Psych1ogy Unit. Department of Psychology, da
Universidade de Sheffield (Inglaterra), o “Shiftwork Research Team” (Barton et al, 1991)
publicou uma coletânea de questionários, já apresentados por vários outros autores. Estes foram
distribuídos a pesquisadores de vários países do mundo, interessados em avaliar se aqueles
instrumentos podem servir de base para levantamentos regionais ou nacionais sobre os seguintes
assuntos ligados a trabalhadores em turnos: satisfação geral no trabalho; hábitos e distúrbios de
sono; fadiga crônica; saúde; qualidade de vida; processos somáticos e cognitivos da ansiedade;
coping; hábitos de matutinidade; inventário do tipo circadiano; inventário de personalidade.
No Brasil, o Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos, que tem seu
laboratório de pesquisas no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo,
realizou levantamentos sobre hábitos de matutinidade/vespertinidade em varias cidades
brasileiras. A detecção de possíveis diferenças nos escores de classificação dos indivíduos, em
relação à latitude e aos hábitos regionais, esteve entre as finalidades deste estudo (Benedito-
Silva et al, 1991).
Um outro exemplo pode ser citado. No sentido de padronizar o questionário de
matutinidade-vespertinidade, Brown (1993), desenvolveu um estudo onde aplicou um
questionário de avaliação de matutinidade idealizado inicialmente para uma população
universitária, e adaptado em uma linguagem mais simples para pessoas que completaram sete
anos escolares (chamado de Basic Language Morningness Scale). O autor encontrou escores de
matutinidade mais elevados para trabalhadores em turnos, quando comparados com
trabalhadores diurnos; sugere uma redução no número de itens do questionário original, pois o
adaptado parece ser mais objetivo.
A forma de obtenção de dados a partir de informações prestadas pelos próprios
trabalhadores pode ser considerada, aos olhos de pessoas acostumadas a obtenção através de
informações prestadas por instrumentos, como sendo uma maneira não confiável de detecção de
problemas de saúde e meio ambiente. Entretanto, cada vez mais, esta forma de coleta de dados
torna-se difundida para avaliar grande número de estressores no trabalho e na vida em geral. Ela
não deve ser substituída por outras, notadamente mais instrumentais, pois que, para cada tipo de
análise há indicações dos instrumentos mais apropriados. Assim é que necessitamos de moni-
39

toramento ambiental e biológico para comprovar onde e a quanto se encontram os níveis de


risco à saúde, Mas, uma manifestação dos trabalhadores acerca do desconforto causado por
estressores jamais deve ser negligenciada, mesmo que o monitoramento instrumental indique
que os níveis são aceitáveis segundo a legislação, pois esta não pode referir-se aos indivíduos
em questão. Com relação a este assunto, vale conferir a discussão a respeito do estabelecimento
dos limites de tolerância já vistos.
Não se deve também esquecer que a susceptibilidade aos agentes causadores de desconforto
e doenças é distinta num grupo de trabalhadores, comparando-os com outro grupo. Isto tem a
ver com a idade, sexo, estado de saúde etc. O ambiente nunca será considerado homogêneo em
relação à intensidade dos estressores por todos os trabalhadores.
Vários autores pronunciam-se sobre a coleta de dados utilizando a percepção dos próprios
trabalhadores.
“O conhecimento do operário a respeito de seu trabalho e de seu impacto sobre a saúde é,
sem dúvida, muito rico e oferece uma compreensão da problemática em grande medida
resgatável unicamente a partir da ótica operária” (Laurell e Noriega, 1989). Estes autores
citam ainda, que entre as vantagens de obter informações a respeito das condições de trabalho e
seus eleitos na saúde, “a experiência dos trabalhadores permite alcançar um conhecimento
preciso do processo de trabalho, suas cargas e dimensões distintas de desgaste...” Entretanto,
não descartam a utilidade de quantificar certos fenômenos, pelo fato “da experiência dos
trabalhadores com relação às condições de trabalho e seus efeitos sobre a saúde não estar
universalmente reconhecida como um conhecimento objetivo ou científico”...
Bohle e Tilley (1989), citando Harrington (1978), ressaltam que a percepção dos
trabalhadores acerca de sua saúde pode ser mais importante que os muitos, assim chamados,
índices objetivos de doença. A mesma opinião é compartilhada por Smith, Colligan e Tasto
(1979) em trabalho onde avaliam os méritos relativos da aplicação de questionários e outros
métodos de coleta de dados: um levantamento realizado por questionários, ainda que menos
objetivo que os registros de Saúde e Segurança ou um estudo médico, é uma maneira eficiente e
rápida de levantar uma quantidade grande e detalhada coleção de dados acerca das
conseqüências psicológicas, sociais e de saúde do trabalho em turnos. Estes dados geralmente
não constam em registros mantidos nas empresas.
Tepas e Monk (1987) comentam que, em numerosas aplicações da Psicologia Industrial e
Organizacional, o conhecimento de como os trabalhadores percebem os problemas pode ser tão
importante quanto a análise de fatos objetivos.
Em trabalho conjunto publicado pela Organização internacional do Trabalho e Organização
Mundial da Saúde (ILO/WHO, 1984) sobre o reconhecimento e controle de fatores
psicossociais adversos no trabalho, são discutidas as varias formas de coletas de dados:
objetivas, por análises do trabalho através de técnicas de observação, de medidas dos agravos à
saúde utilizando instrumentos, estatísticas, e através do conhecimento da percepção dos
trabalhadores sobre as suas condições de trabalho através de entrevistas e questionários. Após
considerarem os aspectos positivos de ambos os métodos, concluem que a avaliação objetiva é
necessária, mas “os aspectos percebidos pelo trabalhador, de seu ambiente, deveriam receber
primeira atenção”.
40

Na grande maioria das publicações já citadas em itens anteriores, os dados foram obtidos
através de auto-avaliações realizadas ocasionalmente ou periodicamente para observação dos
efeitos à saúde ao longo de meses ou anos.
Como exemplo, cita-se dois estudos concluídos em empresas petroquímicas (Fischer, 1990;
Fischer e Paraguay, 1991). Na coleta de dados foram utilizadas coleta de informações a partir da
percepção dos trabalhadores. Foram investigados os aspectos relativos a:
— condições de vida;
— duração de seis atividades diárias (tempos de trabalho, transporte, descanso durante o
trabalho, outras atividades não relacionadas com o trabalho, lazer e sono durante várias
semanas, em dias de trabalho e de folga);
— diários de sono indicaram a qualidade do sono, de todos 05 episódios, assim como
intercorrências antes, durante e após o período de repouso. A qualidade dos diversos
episódios de sono foi avaliada através de escalas contínuas de 10cm chamadas Escalas
Visuais Analógicas (Monk, 1989).
— alterações do estado emocional (seis estados apresentados, sendo que três são negativos
e três positivos: sonolento, irritado, tenso, motivado, satisfeito e fisicamente disposto para
o trabalho);
— os efeitos do trabalho na saúde, na vida e as dificuldades enfrentadas diariamente no
trabalho, assim chamado perfil de carga de trabalho diário;
— avaliação da percepção dos trabalhadores após uma semana de trabalho (diurno, e em
turnos matutino, vespertino e noturno). Os 16 quesitos perguntados relacionavam-se com:
fadiga, irritação, dores de cabeça, dificuldades de sono, disposição para o trabalho,
relações sócio-familiares, lazer, problemas digestivos;
— auto-avaliação de ritmos biológicos. Protocolos foram preenchidos a cada quatro horas,
enquanto em vigília, durante cinco semanas consecutivas por oito indivíduos que
trabalhavam em turnos. Foram avaliadas as seguintes variáveis psicofisiológicas: alerta,
nervosismo, humor, disposição, através de escalas analógicas contínuas de 10 cm. A
medida da temperatura oral, através de termômetro com discriminação de 0,050C) foi
também obtida durante as auto-avaliações. Os dados individuais da temperatura oral e das
variáveis psicofisiológicas foram preenchidos a cada quatro horas enquanto em vigília,
durante cinco semanas consecutivas. Foram analisados através do método Cosinor
(Halberg et al, 1972), utilizando-se o programa Cosana (Benedito-Silva, 1988).
Estas análises dos ciclos de vigília-sono de alguns trabalhadores em turnos, conjuntamente
com resultados de medidas periódicas da temperatura oral, da percepção das variações de
alerta e humor, e estado de calma, além de entrevistas que investigaram as principais
dificuldades que enfrentavam no seu dia-a-dia, permitiram quantificar e distinguir alguns
pontos críticos que interferem no seu bem estar, e certamente influenciam a chamada
adaptação ao trabalho”;
— atividades realizadas durante o tempo livre: protocolo respondido diariamente, em dias
de trabalho e de folga, durante três semanas; os trabalhadores preenchiam num espaço
destinado à atividade o que haviam feito nas horas de folga, e quanto valorizavam a
atividade em questão. A valorização era indicada marcando-se com um traço horizontal
em escalas contínuas de auto-avaliação de 10cm (modelo baseado em Baer et al, 1985).
41

As atividades anotadas pelos trabalhadores foram classificadas e foi feita uma análise
percentual baseada nos turnos e horários diurnos de trabalho e de folga.
—entrevistas individuais com os trabalhadores, segundo o seguinte roteiro: idade, estado
civil, número e idade dos filhos, tipo de empresa, função, qualidade de sono diurno e
noturno, condições de moradia (especialmente do quarto de dormir), atividades nas
horas de folga, queixas de saúde, atitude da família e pessoal quanto ao trabalho em
turnos, auto-avaliação de adaptação ao trabalho em turnos. As esposas dos
trabalhadores também foram entrevistadas em suas residências. O roteiro da entrevista
explorou a atividade da família em relação ao trabalho do marido, as atividades rea-
lizadas por ela em suas horas de folga e por ambos, quando o marido sai de folga.

Em decorrência do desenvolvimento de instrumentação eletrônica que permite o


monitoramento contínuo da atividade, e da disponibilidade no mercado a preços mais razoáveis,
tem sido utilizados actígrafos para estimar os períodos de atividade e repouso. O actígrafo é um
acelerômetro, colocado na mão não-dominante. A cada movimento do actígrafo é gerada uma
voltagem que é transformada em representação numérica. Estas são agrupadas em intervalos
constantes denominados épocas. Em geral, usa-se a época, ou o intervalo de coleta, de um
minuto. Os actígrafos acumulam dados e é possível transferi-los para programas de computador.
Foram desenvolvidos alguns programas que usando algoritmos estimam o sono e vigília a partir
destes registros, e que são capazes de estimar através da quantidade de atividade ocorrida num
determinado instante, os períodos e sono e vigília de cada indivíduo. Estes algoritmos possuem
precisão de aproximadamente 90 % de concordância quando comparados com a polissonografia.
O uso do actígrafo se justifica pela capacidade de detectar pequenas interrupções de sono, que
usualmente não são percebidas pelos trabalhadores quando respondem a questionários e
protocolos de atividade diária (Souza, 1999; Moreno e Louzada, 2000).
A polissonografia tem sido utilizada quando se objetiva analisar com detalhes os estágios de
sono e fazer o diagnóstico de patologias relacionadas ao sono. Alguns estudos sobre micro-
sonos ocorridos durante o trabalho são avaliados com a eletroencefalografia.
A sonolência diurna ao longo das horas do dia é avaliada com os testes múltiplos de latência
de sono (MSLT). A capacidade de superar a sonolência e manter a vigília é avaliada com o teste
de manutenção da vigília (MWT). Estes testes vêm sendo utilizados em estudos com motoristas
profissionais para avaliar a sonolência diurna e conseqüentemente, evitar acidentes rodoviários
(Häkkänen, 2000; Moreno e Louzada, 2000).

8. Organização do trabalho em turnos e formas de intervenção

Entre os grandes desafios enfrentados pelos administradores e pessoal do serviço de Saúde


Ocupacional das empresas com trabalhadores em turnos, podem-se citar dois importantes:
— como implementar o trabalho em turnos para obter o máximo da produtividade dos
empregados e equipamentos?
— como conciliar as necessidades da produção ou prestação de serviços com bons padrões
de saúde da população dos trabalhadores?
À primeira vista há alguma ambigüidade nestas duas metas. Depois de discutirmos sobre a
repercussão do trabalho em turnos sobre a saúde, fica a dúvida se há possibilidades de
42

conciliarmos as necessidades da empresa com as dos indivíduos. Não há respostas definitivas


sobre esta questão. Vários autores (Knauth e Rutenfranz, 1982; Rutenfranz, Haider e Koller,
1985; Corlett et al, 1988; Rosa et al, 1990) já sugeriram medidas de intervenção que podem
auxiliar a resolver alguns dos graves problemas que normalmente surgem em qualquer empresa
que trabalhe em turnos. Para fins didáticos, algumas destas recomendações foram agrupadas e
descritas a seguir:
a) Implementação de uma política de Saúde do Trabalhador que objetive a curto e médio
prazos, estabelecer bons padrões de qualidade de condições de trabalho e de vida para os
empregados.
b)A existência de um serviço de Saúde Ocupacional que se preocupe não somente em realizar
exames pré-admissionais, periódicos e demissionais, mas busque ativamente participar das
melhorias das condições de trabalho. No caso do trabalho em turnos, isto pode ser entendido
como um programa de vigilância epidemiológica, com a contínua investigação das condições de
trabalho, conjuntamente com o setor de Segurança do Trabalho, de levantamentos periódicos
junto à população trabalhadora, realizando estudos retrospectivos e prospectivos. O
monitoramento de alguns parâmetros biológicos, tais como a duração e a qualidade do sono,
podem ser bons indicadores de algumas das dificuldades que os trabalhadores enfrentam no seu
dia-a-dia.
É também importante lembrar que os riscos do trabalho em turnos raramente estão sozinhos.
Os trabalhadores expõem-se, usualmente, a vários estressores ao mesmo tempo. Somente
recentemente é que têm surgido estudos sobre os efeitos combinados de vários agentes
causadores de doenças (Haider et al, 1989; Rutenfranz et al, 1989).
Cabem ao departamento médico tarefas específicas, como é o caso dos exames médicos.
Outras medidas adotadas em muitas empresas têm sido o aconselhamento dos trabalhadores em
relação à sua dieta, à prevenção de certos hábitos: fumo, ingestão de bebidas com cafeína,
bebidas alcóolicas; mais raramente, é controlada a ingestão de drogas estimulantes ou
facilitadoras do sono. Uma das dificuldades apontadas para controle da ingestão de drogas deve-
se à liberalidade de venda de certos medicamentos que não necessitam de prescrição médica
para aliviar desconfortos, tais como dores de cabeça e tensões. Como as queixas de sono são
bastante freqüentes entre os trabalhadores em turnos, o uso de benzodiazepínicos por curtos
períodos de tempo parece estar indicado entre alguns trabalhadores (Smolensky e
Reinberg,1990). Entretanto, deve ficar claro que, embora possa ser observada diminuição nas
queixas de sono, estes medicamentos não melhoram a capacidade adaptativa dos trabalhadores.
Servem apenas como paliativos, sendo que as origens do problema são geralmente os turnos de
trabalho, e raramente as empresas mostram-se dispostas a modificá-los.

Sono durante o período de trabalho

Com relação aos problemas de sono, e a necessidade de ficar atento nas horas mais críticas
da madrugada (entre 2:00h e 5:00h da manhã), já foi sugerido, por inúmeros autores, que sejam
estabelecidos formalmente os cochilos noturnos (Matsumoto et al, 1982; Naitoh et al, 1982;
Gillberg, 1985; Thierry e Jansen, 1981). Estes poderiam ser implantados em comum acordo com
os empregados e a administração, formalizados, e não como ocorre atualmente: geralmente todo
mundo sabe que os trabalhadores em turnos tiram seus cochilos de madrugada (ou, pelo menos,
43

“descansam os olhos”, se assim podem fazê-lo), mas todos evitam falar sobre o assunto, com
um receio de quebrar normas estabelecidas (lembra-nos aquele dito “eu finjo que estou
acordado, e você finge que não nota que estou dormindo”). A sonolência tem sérias
repercussões na segurança do trabalho. Os cochilos podem facilitar a transição do turno diurno
para o noturno, especialmente nos primeiros dias de trabalho noturno, mantendo o alerta em
níveis aceitáveis e diminuindo a fadiga durante o trabalho.

Sono fora do período de trabalho

Um dos conselhos usualmente dados pelos neurologistas para os indivíduos que têm
dificuldades em dormir: mantenha hábitos regulares de sono, vá dormir sempre na mesma hora,
arranje um bom local para dormir, confortável do ponto de vista térmico, acústico e que seja
escuro. Mantenha uma rotina de sono.
Para trabalhadores em turnos rodiziantes, o conselho que diz respeito a fixar horários mais
regulares de sono tem sentido, pois mesmo estes trabalhadores podem estabelecer distintas
rotinas que funcionem sempre durante os dias de trabalho diurno e noturno. O aumento da
sonolência e, consequentemente, a menor latência do sono ocorre concomitantemente com a
queda da temperatura corporal (durante o dia entre
11:00h e l5:00h, e à noite após às 22:00- 23:00h, com mínimo valor próximo das 3:00h da
manhã). Portanto, é mais fácil adormecer quando a pessoa se deita após o almoço do que no
período da manhã (Monk, 1987). Como muitos ritmos biológicos ficam alterados quando ocorre
o deslocamento do ciclo vigília-sono, é possível que a queda da temperatura durante o dia não
seja da mesma magnitude que aquela que geralmente ocorre quando o indivíduo tem sempre
vigília diurna e repouso noturno (Monk et al, 1983). Entretanto, a latência do sono neste período
do dia tende a ser mais curta, o que facilita o sono diurno. Há ainda certas dúvidas se os
cochilos diurnos dificultariam a inversão de ritmos biológicos, e uma possível parcial adaptação
do trabalhador para o trabalho noturno (especialmente aquele que trabalha sempre à noite).
Parece que o indivíduo que cochila muito durante o dia, em vez de dormir por períodos mais
prolongados tem mais dificuldades em manter a vigília noturna, e sente-se mais sonolento nos
períodos em que está acordado. Portanto, uma recomendação para evitar cochilos curtos durante
o dia é apropriada (Tepas e Mahan, 1988).
Outra recomendação é a de que não sejam ingeridas bebidas com cafeína (café, chás não
herbáceos, refrigerantes) algumas horas antes da hora de ir dormir, pois poderiam prejudicar o
sono diurno. As bebidas gaseificadas e com cafeína poderiam ser substituídas por sucos
naturais. Não se deve fazer refeições pesadas próximas da hora de ir para cama, e devem ser
evitadas bebidas alcoólicas, pois elas podem facilitar o adormecimento, mas interferem na sua
continuidade. Exercícios leves, freqüentes são recomendados, e melhoram a qualidade do sono.

Implementação de esquemas de trabalho em turnos compatíveis

Talvez a mais importante medida de promoção de saúde para trabalhadores em turnos já


adotada no Brasil tenha sido a redução da jornada de trabalho diária (ou semanal).
Normalmente, a organização de turnos de trabalho nas empresas fica a cargo de algum setor de
produção (ou de planejamento dos serviços) e aos principais interessados, os trabalhadores em
44

turnos, não são perguntados, como eles gostariam que fosse organizado. Exceções existem. No
Brasil houve ocasiões onde foram realizadas pesquisas para avaliar quais seriam os melhores
turnos de trabalho. Por exemplo, na reorganização dos turnos de trabalho da Companhia do
Metrô de São Paulo, em 1986, realizou-se uma investigação com os trabalhadores em turnos
(operadores, supervisores e inspetores de trens). Levantados os principais pontos críticos do
esquema de turnos através de estudo das condições de trabalho e de vida, inclusive das
perturbações de alguns ritmos biológicos, foi possível sugerir um esquema que atendesse às
reivindicações dos trabalhadores (Fischer et al, 1987). Um outro bom exemplo ocorreu
recentemente, uma empresa petroquímica que havia adotado turnos de 12 horas diárias, e
retornou a 8 horas diárias, de comum acordo com seus funcionários, após resultados de uma
investigação sobre os turnos de trabalho e a saúde (Fischer et al, 2000).
Temos visto isto ao longo de duas décadas de trabalho e pesquisa na área, que as tradições
das empresas, as necessidades da produção e as idéias dos administradores muitas vezes
prevalecem sobre o senso comum dos trabalhadores em turnos. Um exemplo disso ocorreu
numa petroquímica da região metropolitana de São Paulo. Quando houve a redução da jornada
de trabalho garantida pela Constituição de 1988, os gerentes de produção manifestaram-se
formalmente contrários às propostas dos trabalhadores: estes preferiram turnos de oito horas
diárias, com folgas de cinco dias consecutivos após os turnos noturnos de trabalho, e aqueles
temiam que cinco dias fora da fábrica era um tempo demasiadamente longo e poderia prejudicar
as comunicações entre os trabalhadores operacionais e suas referências. O sistema foi
implantado conforme a vontade da maioria dos trabalhadores em turnos, com dois períodos de
folga de cinco dias, num ciclo de 35 dias de trabalho. O que era temido parece não ter pro-
vocado maiores dificuldades para o susten1a de produção.
Na última década houve um tremendo desenvolvimento de programas para uso em
computadores, que permitem a implantação de escalas de turnos segundo as necessidades das
empresas, as épocas do ano, as características das tarefas etc, utilizando critérios adequados para
preservar da melhor forma possível, a qualidade de vida e a saúde dos trabalhadores. Hoje já é
uma realidade a implantação de escalas segundo as necessidades do cliente (empresa) e de seus
funcionários. Escalas de turnos individualizadas estão sendo cada vez mais organizadas, com
claros benefícios para todas as partes envolvidas. O processo de computer aided shift scheduling
já faz parte dos programas de competitividade e de qualidade de vida em muitas empresas
européias (Gärtner, Hörwein e Wahl, 1998).

Algumas recomendações quanto a implantações ou reorganizações de turnos, apresentadas


abaixo, foram propostas inicialmente pelo Shiftwork Committee of the Japan Association of
Industrial Health em 1978, sendo posteriormente acrescidas várias recomendações por Knauth e
Rutenfranz, em 1982, e Knauth, em 1993.
1. O trabalho noturno deve ser reduzido ao máximo possível. Não manter longos períodos
de trabalho noturno. Na maioria dos casos, é preferível manter turnos rodiziantes do
que turnos fixos noturnos. O sistema de turnos deve ter poucas noites (máximo de 3
noites) sucessivas de trabalho. Os turnos matutinos e vespertinos devem também ter
rodízio rápido.
45

2. A duração da jornada diária deve estar em função das cargas físicas e mentais das
tarefas.

3. As folgas devem prever dias de recuperação e dias de lazer. Folgas de um ou dois dias
somente proporcionam uma curta e parcial recuperação, prejudicando o lazer. Prover
folgas intercalares maiores após os dias de trabalho noturno. Deve haver pelo menos 48
horas de folga para os trabalhadores, entre a saída do turno da noite, e a entrada no
turno da manhã.

4. Horários de entrada e saída dos turnos devem ser compatíveis com a existência
de transporte e segurança para os empregados. Os horários de entrada dos
turnos matutinos não devem se iniciar muito cedo pela manhã, pois podem
provocar redução do sono noturno. O turno vespertino não deve terminar muito
tarde à noite, pois, da mesma forma, prejudicará o sono noturno.

5. Preferencialmente, o rodízio deve ser direto, ou seja, na direção dos ponteiros do


relógio (aos turnos da manhã seguem-se os da tarde e da noite).

6. Cochilos no trabalho devem ser permitidos à noite, pois diminuem a sensação de


fadiga, mantêm melhores níveis de alerta. Para tanto é necessário planejar turmas de
trabalhadores que possam se revezar nas funções noturnas.

7. Os turnos devem ser preferencialmente regulares, permitir certa flexibilidade nas trocas
de horários de trabalho, e a duração do ciclo de turnos não deve ser muito longa.

As organizações geralmente diferem em seus objetivos, estruturas organizacionais,


ambientes de trabalho, processos, clientes, etc. Assim sendo, alguns dos fatores que influenciam
na estruturação de escalas de trabalho, devem levar em conta que: a duração dos turnos depende
das cargas físicas e mentais do trabalho; as preferências para a distribuição dos tempos de
trabalho e de folga vão depender dos interesses particulares dos trabalhadores; as necessidades
de arranjos flexíveis dependem dos clientes; os procedimentos legais (por exemplo, de duração
das jornadas), podem variar segundo o tipo de empresa, região, etc (Gärtner, Hörwein e Wahl,
1998). É fundamental que haja um ativo processo participatório antes e durante a implantação
de mudanças de jornadas de trabalho. Durante este processo deverá haver completo apoio das
gerências e informações que permitam a escolha das melhores opções. Certamente, isto
facilitará o consenso entre os grupos e escolhas bem-sucedidas.

Dietas especiais, atividade física, manipulação pela luz dos ritmos biológicos

Recomenda-se que as dietas servidas aos trabalhadores sejam pobres em lipídios e ricas em
fibras. Normalmente o serviço de alimentação das empresas, prepara, congela ou resfria as
refeições que são servidas em todos os turnos. O cardápio diurno geralmente é o mesmo que o
noturno o que o torna não-recomendável. A digestão de alguns tipos de alimentos é mais difícil
46

durante a madrugada. A ingestão abusiva de açúcares, chocolates, doces, lipídios, especialmente


durante o período noturno de trabalho, deve ser evitada.
A atividade física regular, recomendada a todas as pessoas, tem grande importância para
quem trabalha em turnos. Além de facilitar o sono diurno, reduz os riscos de doenças
cardiovasculares. Estudos foram conduzidos por Härmä, Ilmarinen e Knauth (1988) sobre os
efeitos de um programa de condicionamento físico entre enfermeiras que trabalhavam em
turnos. Observou-se que o grupo que havia realizado treinamento apresentou ao final de quatro
meses, menos queixas de sono, maior disposição para o trabalho, redução da sensação de fadiga
(principalmente após o turno noturno), diminuição de queixas músculo-esqueléticas, e aumento
da VO2 máximo, comparado ao grupo controle, que não realizou nenhum tipo de exercício.
A exposição à luz (2500 a 5000 lux) tem sido utilizada no tratamento de doenças afetivas
sazonais (seasonal affective disorders) que são relativamente freqüentes nos países de clima
temperado, durante o inverno. O efeito da luz estaria relacionado com a influência que ela
exerce na glândula pineal e no hormônio por ela secretado a melatonina. A glândula pineal é
considerada como um dos componentes do sistema biológico que mantém a estrutura temporal
de alguns ritmos, e a melatonina pode ser capaz de induzir mudanças de fase na estrutura dos
ritmos circadianos. A ingestão de comprimidos de melatonina foi testada com alguns resultados
promissores para atenuar os efeitos do jet lag. Entretanto, são desconhecidos os efeitos a longo
prazo desta utilização (Arendt e cols., 1981),conforme foi descrito em item anterior.
Pesquisas realizadas por Czeisler et al, (1990), Eastman (1987), Wever (1989), entre outros,
evidenciaram o papel da luz nas alterações de fases de ritmos biológicos. Foi demonstrada que a
exposição à luz brilhante (7.000 a 12.000 lux) durante à noite, alternando com a completa não-
exposição à luz durante o dia, seria uma medida que facilitaria os ajustes dos ritmos biológicos
em trabalhadores em turnos rodiziantes, durante turnos noturnos. Entretanto, estas medidas têm
alcance muito limitado, pois os trabalhadores estão expostos a uma série de Zeitgebers de cunho
social, que não coincidem, necessariamente, ao mesmo tempo, com os de cunho biológico.

Contra - indicações para trabalhar em turnos

Contraindicar a alguém para trabalhar em turnos pode ser urna tarefa delicada, se a pessoa
depende do emprego para viver e não tem perspectivas de arrumar outra ocupação durante o dia.
Entretanto, há determinados estados patológicos que contra-indicam seriamente a permanência
da pessoa no trabalho em turnos, especialmente se há necessidade de trabalhar à noite. Scott e
Ladou (1990) elaboraram a lista a seguir, baseada em 174 trabalhos publicados por muitos
autores. Uma lista semelhante já havia sido publicada por Rutenfranz (1982).
1) Epilepsia - o paciente utilizou-se de medicação durante o ano anterior até o presente.
2) Doença coronariana, especialmente se o paciente tem historia de infarto de miocárdio ou
angina instável.
3) Asma necessitando medicação regular, especialmente se o paciente é esteróide-
dependente.
4) Diabetes mellitus dependentes de insulina. O trabalhador poderá ser capaz de
tolerar turnos fixos noturnos se houver regularidade de refeições, atividades e
medicação, em dias de trabalho e de folga.
5) Hipertensão requerendo uso de múltiplos medicamentos.
47

6) Úlcera péptica recorrente.


7) Síndrome do cólon irritável, se os sintomas são severos.
8) Depressão crônica ou outro distúrbio psiquiátrico que requer medicação regular.
9) Usando medicação que apresente variação circadiana para sua necessária efecácia.
10) História de síndrome de má adaptação ao trabalho em turnos.

Agradecimentos: À Dra. Claudia Roberta de Castro Moreno, pelas sugestões apresentadas; aos
pós-graduandos, Flavio Notarnicola da Silva Borges e Liliane Reis Teixeira, pelo auxílio na
preparação da edição do texto.

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