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ESPÍRITO DE 69: A BÍBLIA DO SKINHEAD

GEORGE MARSHALL

Tradução e notas adicionais de GLAUCO MATTOSO

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO [Glauco Mattoso]


INTRODUÇÃO [George Marshall]
AGRADECIMENTOS
ESPÍRITO DE 69
REGGAE SKINHEAD
FILHOS DO SKINHEAD
ANJOS DE CARA SUJA
O SENTIMENTO RUEIRO
BEM-VINDOS AO MUNDO REAL
NEM WASHINGTON NEM MOSCOW
RESSURREIÇÃO DO SKINHEAD
A-Z DO VESTUÁRIO SKIN (E OUTROS SÍMBOLOS)
APÊNDICE: CANCIONEIRO MÍNIMO

///

APRESENTAÇÃO [Glauco Mattoso]

Este livro vai decepcionar aqueles que pensam que vão ler um tratado
de neonazismo, um manual do terrorista ou algo tipo MEIN KAMPF
requentado.

Inclusive muitos cientistas sociais e jornalistas que, por dever de


ofício, teriam que estar bem informados e objetivar a exatidão, mas
que (inadvertida ou malevolamente) andam pisando feio na bola e
distorcendo a história e a essência do movimento skinhead, como se
este se reduzisse à política e como se esta se limitasse à direita e
ao extremismo.

Quem encara o careca por essa óptica vai quebrar a cara. Após a
leitura, verá que o skinhead é, antes de tudo, uma "tribo", ou seja,
um segmento da juventude e da sociedade cuja característica básica é
um gênero musical. Há gêneros efêmeros que duram tanto quanto a moda
da estação (de rádio), e outros que acompanham toda uma geração. O
skinhead é talvez o mais duradouro, anterior ao hippie, ao heavy
metal, ao punk, ao funk, ao rap e ao próprio reggae, com o qual
conviveu em sua origem. Só é caçula em relação ao rockabilly e,
naturalmente, ao blues. Confundir, ou tentar confundir o skinhead com
alguns desdobramentos políticos ou policiais de natureza episódica ou
cíclica, tais como atos de vandalismo, terrorismo ou racismo, é
falsear a realidade histórica e atiçar a intolerância. Seria o mesmo
que tachar todos os favelados de bandidos, todos os policiais de
assassinos, todos os militares de golpistas, todos os empresários de
sonegadores, todos os políticos de corruptos e todos os governantes de
culpados, só porque alguns merecem os respectivos rótulos. Por esse
caminho, não se salvaria ninguém.

Generalizações são sinônimo de desinformação, e a desinformação é o


adubo do preconceito. Quem diz taxativamente que "careca é nazista" ou
"skinhead é racista" é tão preconceituoso quanto aquele que diz "preto
quando não caga na entrada caga na saída", "viado é doente", comunista
come criancinha", "judeu é mau, avarento, usurário" (vide Aurélio).

A despeito de toda essa "sujação de barra", o skinhead autêntico


mantém seu brio e sua tradição, baseada nos valores da classe
operária, ou seja, o visual durão, estóico e orgulhoso (como o cabelo
raspado, a bota, a tatuagem), a paixão pelo esporte do povão (como o
futebol e o boxe), e pela música de rua, de gueto ou de garagem (como
o reggae e o rock punk e Oi!).

O autor do livro sabe do que está falando. Ele não é um estranho no


ninho, como o universitário americano Bill Buford, que foi conviver
com os hooligans ingleses para escrever ENTRE OS VÂNDALOS. Nem fala
como certos antropólogos, que parecem marcianos espiando os terráqueos
pelo telescópio e fazendo diagnósticos no plural da terceira pessoa.
George Marshall é um skin que escreve com conhecimento de causa e sabe
onde lhe aperta o coturno.

Nascido em Glasgow, Escócia, sua família sentiu o desemprego na pele.


Com cinco anos, mudaram-se para Kent (sudeste da Inglaterra) e, aos
nove, o pai os abandonou. Aos dez já era um skin, e aos dezoito voltou
para a Escócia, onde se casou e se estabeleceu. De Kent e da
Inglaterra sua única lembrança marcante é o time local, o Gillingham,
que vive na lanterninha do campeonato mas que, nem por isso, deixa de
ter sua fanática torcida skin. Na Escócia George torce pelo Patrick
Thistle.

Depois de editar um zine de ska e reggae chamado ZOOT, George fundou


seu cartão de visita: o tablóide SKINHEAD TIMES que, sob o lema "Pride
without prejudice" (orgulho sem preconceito), e distribuído
gratuitamente em tiragem de 5.000 exemplares, vem mantendo a
periodicidade trimestral a serviço do resgate da autenticidade do
movimento, dissociando-o da escalada neonazi e vinculando-o àquilo que
tradicionalmente representou: a juventude operária britânica, tão
desassistida quanto as marginalizadas comunidades de imigrantes de
outras raças e nacionalidades.

Aproveitando a infra e a receptividade do SKINHEAD TIMES, George


partiu pra publicação de livros que, segundo ele, documentam o
movimento antes que os sociólogos e jornalistas o façam como seus
narizes. Além de SPIRIT OF '69, escreveu THE TWO TONE STORY (já
publicado) e TOTAL MADNESS (a sair). Sua editora também está
relançando a obra completa de Richard Allen (o Kerouac dos skins),
originalmente publicada em brochurinhas de bolso hoje esgotadas.

Se, aqui no Brasil, fenômenos como os hippies ou punks já chegam


defasados e adulterados, imagine-se o que não ocorre com o skinhead,
que na própria Inglaterra e nos países europeus vem sendo desvirtuado
por culpa da infiltração direitista e xenófoba. Alguém tem que ter a
coragem de separar o joio do trigo.

Numa coisa a imprensa e a comunidade intelectual estão certas: é


preciso conscientizar o maior número de pessoas possível, para que não
se repitam as circunstâncias propícias à volta do obscurantismo e do
genocídio. E é preciso também desarmar os espíritos, para que as
pessoas possam encarar a vida pelo lado lúdico, escolhendo livremente
seu estilo de comportamento e suas preferências musicais ou
esportivas.

Daí a razão deste livro: informar a quem se preocupa com as questões


sociais pertinentes à música, e sobretudo informar aos próprios skins
sobre suas raízes.
Este livro não tem a mínima pretensão de que vai mudar a cabeça da
sociedade em geral. Nem mesmo o MEIN KAMPF ou a própria Bíblia
conseguiram isso. Mas, daqui por diante, os interessados ou envolvidos
no assunto não vão ter mais desculpa, se excogitarem, digitarem ou
indigitarem bobagens contra a carecada. Vejam lá se não vão dormir de
botina, hem?

///

INTRODUÇÃO [George Marshall, skinhead de Glasgow]

[Uma vez me lembro de ter lido que os jornais russos, sabendo que a
palavra "skinhead" nada significava na União Soviética, escreveram que
"gente careca" estava causando bagunça e quebra-pau nos campos de
futebol britânicos. Obviamente o capitalismo era tão completamente
podre que até mesmo os que sofriam de queda de cabelo se juntavam para
protestar contra ele.]

Aqui na Grã-Bretanha, somos situados em algum lugar entre cachorros


loucos, fãs da Inglaterra e maníacos assassinos, nas seções mais
mundo-cão dos tablóides sensacionalistas, e as coisas não são muito
diferentes em qualquer outro país.

Não me entendam mal. Ninguém em sã consciência sustentaria que os


skinheads são anjos, e a treta bem que pode ser nossa marca
registrada.

Mas retratar-nos a todos, sistematicamente, como se não passássemos de


valentões desmiolados, é algo que não beneficia ninguém. Só digo o
seguinte: não sei onde o magazine australiano PEOPLE vai buscar suas
informações, mas, por incrível que pareça, não existe isso de
skinheads passarem o fim-de-semana atirando na vovozinha dos outros.
Pelo menos aqui, neste cu do mundo. [1]

Tudo quanto é abobrinha já me pintou pela frente em forma de notícia,


mas isso não me impressiona mais. Outro recorte para o álbum, e é só.
Rir não ajuda nada, e se levarmos a sério só estaremos dando a eles
uma credibilidade que não merecem.

Parodiando meu velho colega Oscar Wilde, existem mentiras, mentiras


cabeludas e histórias carecas. E existe o lado triste daquilo que os
jornais têm feito ao movimento skinhead nos últimos vinte e poucos
anos. Por não deixarem a realidade permear uma boa história, eles
enterraram a maior de todas as culturas juvenis da Grã-Bretanha sob
resmas de papagaiada sensacionalista. [2]

No fim das contas, o prejuízo é deles mesmos, já que a cultura


skinhead representa de longe a maior herança juvenil deles todos, sem
exceção.

Nós somos a nata da classe proletária, e seria melhor se eles se


convencessem disso.

Há muito orgulho e paixão sob a embalagem dum skinhead. O mesmo tipo


de orgulho e paixão que enche as arquibancadas de futebol todo sábado.
É um sentimento de participação, de ser alguém e de estar com sua
própria classe. Qualquer um que já tenha tido sua turma e tenha
calçado um par de botas pode lhe contar, história por história, por
que ser um skinhead o fez sentir-se com dois metros de altura quando
só tinha um metro e meio.

Temos nossos defeitos como qualquer um, mas ser um skinhead é muito
mais do que dar porrada na boca de alguém. E quando vier o Dia do
Juízo vai ter muito vendedor de bota e suspensório escalando os
portões do Céu. Quem viver verá.

Tomara que este livro ajude de alguma forma a pôr o movimento skinhead
em pratos limpos. Não porque queiramos entrar para a história como
inocentes injustiçados, e certamente não para impressionar algum
estúpido estudante de sociologia. Este livro não foi escrito por
nenhuma outra razão exceto dar aos próprios skinheads uma idéia melhor
de onde vieram.

Não alfinetamos nem tiramos da seringa, e por isso mesmo este livro é
uma celebração do modo de vida skinhead. Não me desculpo pelo conteúdo
do livro. Tudo que faço é tentar, da melhor maneira, resgatar
livremente o movimento nestes vinte e poucos anos. E você pode pegar
ou largar.

O movimento skinhead vem duma longa estrada, desde os dias de glória


de 1969, quando cada esquina era a casa duma gangue skinhead. É fácil
ser nostálgico de dias passados, mas a era dos skinheads originais
representou o apogeu do movimento, e tudo que se seguiu devia ser
avaliado por comparação a ela.

Sem dúvida muitos verão este livro como uma glorificação da violência.
Não tem nada a ver. Quando os skinheads detonavam as gigs da Sham 69 e
aprontavam na turnê da 2-Tone, as únicas pessoas que eles machucavam
eram eles mesmos. Não precisa ser muito inteligente para perceber. E
nunca houve motivo de orgulho ao se ouvir falar que algum skinhead
cheirador de cola tenha violentado uma velhinha. Qualquer um dessa
laia nada mais é que escória.

A lei da selva de pedra não vê nada de errado em gangues rivais


guerreando na rua ou times de futebol se enfrentando nos estádios, e a
maioria dos skinheads encara isso como parte do território. Isso não
torna as coisas certas ou erradas, mas, como você logo vai ver nas
páginas seguintes, é a realidade da vida, da qual não se pode escapar.

Política é um fardo ainda maior para o movimento. É como um verme


roendo até o caroço e deixando o movimento no bagaço em que se acha
agora. Em cada um há algo de bom e ruim, seja branco ou negro, e este
fato era ponto pacífico para a grande maioria dos skinheads originais.
Hoje o movimento está rasgado ao meio por causa duns políticos
ordinários. Não tenho nem pista de quem sai vencedor disso, mas está
mais que evidente quem são os perdedores. Nós.

Felizmente, porém, o movimento skinhead não vai ficar de pé ou vir


abaixo por causa dum pilar podre, e são as tradições, o estilo e a
música aquilo que preenche muitas das páginas seguintes. O espaço
nunca terá sido suficiente para fazer justiça a cada banda skinhead,
principalmente aquelas que desempenharam papel relevante na evolução
do movimento. Além do mais, não sou especialista em nada, e nem
importa.
Há muita gente por aí que poderia escrever um livro decente sobre o
Oi! ou a Sham 69, e talvez um dia o façam.

Para variar, provavelmente fui mais prolixo do que devia. Skinhead é


um modo de vida e, mais que tudo, é o SEU modo de vida. Faça disso o
melhor que puder, divirta-se, e sem dúvida vamos nos ver qualquer dia
naquele grande pub lá do Céu e poderemos trocar lembranças em volta de
uma ou mais canecas de cerveja.

Cuide-se, mantenha a confiança e obrigado pela leitura.

[1] "Na noite de sábado, o medo se multiplica a cada semana nas


cidades européias, até mesmo atrás da Cortina de Ferro. É a noite em
que bandos de skinheads ultra-racistas e ultra-fascistas tomam as
ruas, prontos a chutar, esbordoar, esfaquear e balear garotos,
famílias e aposentados."
(Revista PEOPLE, 1986)

[2] Em muitas ocasiões tive que evitar a tradução literal para poder
falar a linguagem das tribos daqui. É o caso da expressão "skinhead
cult" -- onde "cult" para eles não tem tanta conotação religiosa como
para nós -- que ficou traduzida como "movimento skinhead", onde
"movimento" tem para nossa juventude um sentido mais comportamental
que ideológico, mais próximo de "onda" ou "agito" que de "corrente" ou
"tendência". (NT) [nota do tradutor]

///

AGRADECIMENTOS

DO AUTOR: Este livro não seria possível sem a ajuda de centenas de


skins que enviaram fotos, recortes e, em alguns casos, tudo menos a
pia da cozinha. Não há espaço para agradecer a cada um, mas vale um
especial obrigado a Nick Hewitson, Brian Kelson, Mandy Jarman, Louie
(The Spurs), Iain McInlay & Ian Hutchison, Eric Liddle, Steve Barrow,
Gary Fielding, Richard Edwards, Darren Clark, Uli Grossmann, David
Swindells, John Byrne, Lol & Mark (Link Records), Scott (United
Forces), Steve Harrington, Alex Annul, Angy Majeka, Antonella Cavanna,
SOUNDS (descanse em paz), Richard Davenport, Gail McGee, Collaps
Strauch, Chrysalis Records, e, por fim mas não por menos, minha mulher
Rhona, que trabalhou na diagramação e arte final do livro.

DO TRADUTOR: a Marçal Aquino & Marília Schumann (com o computador),


Peter Swillen (PURE IMPACT), Edward McRae, Sérgio Lopes da Rocha
(apesar da pisada), Carlos Alberto Gonçalves (editoração eletrônica),
Ruy Pereira (pela edição) e ao próprio autor, com quem me correspondo
e que, pronta e pacientemente, esclareceu os pontos duvidosos no
texto.

///

Capítulo Um
ESPÍRITO DE 69

[Como diria Bob Dylan, os tempos estavam mesmo mudados naqueles


incrementados anos 60. Porreteiros, teds e outros garotos barra-pesada
já eram, seu som demoníaco também, e mesmo os rivais mods e rockers
podiam ter saudade de melhores dias. Após animados quebra-paus nos
feriados bancários, ambas as tribos entravam em declínio e deixavam
para trás o tempo quente do verão de 64.]

Por um horrível momento, parecia que a melhor coisa que a juventude


britânica tinha a oferecer eram comunidades hippies e passeatas
estudantis. 1967 nos tinha dado o Verão do Amor e, em toda parte, os
jovens de classe média davam tchau pro mundo real e partiam pra
"viagem" e pro "desbunde". Bem, pelo menos até que o papai lhes
arrumasse um servicinho maneiro no escritório.
Os hippies estavam mesmo com a corda toda, com suas cores & flores e
seus manifestos por um futuro novo e ensolarado. Tudo então passava a
ser paz & amor, sob o prisma do caleidoscópio psicodélico. O idealismo
sempre fez parte da adolescência, mas aquilo de ficar sentado na
grama, de cabelo comprido e seboso, túnica suja, fumando haxixe e
lendo números atrasados do OZ nunca que iria construir o admirável
mundo novo. Mundo da lua talvez, mas utopia jamais. O "desbunde" não
passava de "bunda-moleza", essa é que é a verdade. É só assistir uns
velhos vídeos do Jethro Tull e você vê como aquilo tudo era babaca.

Como se não bastassem os baratinados, a estudantada também queria


entrar nessa de vamos-mudar-o-mundo. A turma do uniforme costumava ser
vista pela molecada da esquina como CDFs e até odiada pelos hippies
por ser "quadrada". Mas lá estavam eles em 1968, desfilando pra cima e
pra baixo. Não chegavam a montar barricadas como em Paris, mas eram o
elemento humano "revolucionário", ou faziam o gênero.

"Skinhead, skinhead, over there,


What's it like to have no hair?
Is it hot or is it cold?
What's it like to -- BE BALD!"
(Cantiga infantil dos anos 70)

[algo como:
"Skinhead, ô skinhead!
Como é que é não ter cabelo?
É quente ou frio?
É como ser CARECA!"]

Para os filhos de quem morava no interior, em terras desvalorizadas


depois da guerra, a vida não era tão fácil. Não dava pra chegar em
casa e contar ao pai que você queria morar numa barraca de
acampamento. Na cidade, algumas crianças da classe operária chegavam à
faculdade e um ou dois gatos pingados fugiam de casa para incursionar
na vida hippie, nas drogas e no amor livre, mas nem estavam por dentro
do que seria paz ou mundo novo. A grande maioria mal terminava os
estudos a tempo de entrar no batente, e o trabalho disponível era tipo
subemprego. Mesmo assim, dava para ter uns trocados no bolso e um
motivo para se queixar da segunda-feira.

Os apelos para que os "camaradas operários" se aliassem aos estudantes


na deposição dos "porcos capitalistas" encontravam ouvidos moucos.
Muito pouca gente estava a fim de dar uma mãozinha a estudantes e
hippies, mesmo que fosse apenas um tapinha de "apoio moral" no ombro.
Era mais fácil levar um chute no rabo, duma bota reforçada tamanho 44.
O placar desse jogo era o contraste entre a pichação dos muros e os
gritos das torcidas. Enquanto os estudantes pichavam ABAIXO O ESTADO!
E VITÓRIA AO VIETNÃ!, a galera do Chelsea cantava "Estudantes,
estudantes, ha ha ha!".

"A gente tá aqui pra quê? Pra nada, é isso aí. Somos só um grupo de
caras. Não estamos nem aí pra nada." (Chris Bridges, 16 anos, skinhead
de Brighton)

Tariq Ali e seus revolucionários de fim-de-semana só sacaram isso


quando da Grande Marcha de Solidariedade ao Vietnã, em outubro de
1968. Fábricas e estádios tinham sido panfletados, convocando o
operariado às ruas, e quando chegou o grande dia as "massas" não
passavam de 30 mil estudantes, com alguns desocupados no meio,
zanzando por Londres e causando nada mais que engarrafamentos. Ah,
sim, e umas poucas cabeças doloridas, numa gentileza de duzentos
garotos botinudos e carecas, vestidos nas cores do Millwall, correndo
atrás da passeata, cantando "Enoch! Enoch!" e causando alguma confusão
para a cobertura dos jornais do dia seguinte. Esqueçam suas guerras no
Sudeste Asiático e suas "viagens" de ácido para parte alguma! Os
skinheads chegaram!

É bom frisar que comete um equívoco quem confunde a chegada dos


skinheads às manchetes com o berço do movimento. Tomar 1968 como data
de nascimento só serve para alimentar a mentira de que os skinheads
surgiram como mera reação ao crescimento da onda hippie e respectivo
cabelo. Quem cairia nessa hoje em dia?

A palavra "skinhead" não teve uso corrente antes de 1969, mas moleques
usando botas e cabelo à escovinha eram vistos nos círculos mods desde
1964. Foram eles os precursores do movimento skin, que veio derivando
lentamente daquele grupo. Toda a papagaiada de "paz & amor" só pintou
três anos depois, de modo que rotular o skin de "reação ao hippie" é
querer pôr o carro adiante dos bois. Rejeição vá lá, mas reação nunca.

Em 1965 o Who lançava "My generation", mas a essa altura o mod já


tinha os dias contados. A repercussão que a mídia tinha dado aos
tumultos de feriado bancário em 63 e 64 levara os mods a uma crise de
identidade.

Antes, eram tidos como garotos maneiros e aprumados; depois, veio um


maciço afluxo de jovens mods, malvistos como "metidos" sem a menor
idéia de classe ou estilo, que iam a High Street para ver o que deviam
vestir. Evidentemente, quebrar cadeira na cabeça dos outros era uma
idéia que só podia atrair tipos indesejáveis, capazes de manchar
qualquer coisa que os mods tivessem simbolizado.

"Sempre fui um skinhead. Eu era um skinhead antes mesmo que a palavra


fosse inventada. Eu tinha 12 ou 13 anos, resolvi que não queria mais
ser cabeludo e mandei raspar o cabelo. As botas, os suspensórios e o
capote sempre fizeram parte da minha vida." (Wolfgang Von Jurgen, skin
londrino de 22 anos)

O estilo mod entrou em rota de colisão consigo mesmo, e só tinha que


implodir. Muitos mods já estavam na faculdade, onde seriam
influenciados pelos novos pontos de vista e sons que pintavam. Esses
se juntariam ao esfarrapado exército de estudantes e hippies na trilha
das drogas leves, do rock progressivo, das camisas floridas e da pop
art.

"A visão das cabeças raspadas e o barulho das botas pesadas, bar ou
danceteria adentro, é verdadeiro motivo de friozinho na barriga."
(Chris Welch, MELODY MAKER, 1969)

Ainda bem que essa receita de "avanço" não era do gosto geral. No
norte da Inglaterra, por exemplo, as coisas eram bem diferentes. O mod
tinha aparecido no final dos anos 50, nos clubes e cafés do Soho
londrino, mas levou bom tempo para pegar ao norte de Watford Gap. Em
compensação, a cena setentrional sobreviveu mais algum tempo,
ambientada em torno de fanáticos clubes de lambretistas e, mais tarde,
em casas noturnas de soul, como o famoso Casino Club em Wigan e The
Torch em Stoke.

Para o movimento skin, mais importante foi o crescimento numérico das


gangues mods, que assolavam a selva de pedra das cidades britânicas.
Também conhecidos como "hard mods", seus membros revelavam a face
violenta e agressiva do modernismo pós-64, e começavam a se vestir de
acordo com ela. À noite, o terninho era substituído pelos trajes de
briga: camisas e jeans. Sapatos caros também eram trocados por botas,
mais apropriadas para rachar cabeças. E o cabelo foi ficando cada vez
mais curto, desde que o corte à francesa entrou na moda e baixou a
escala da máquina do barbeiro de quatro para um.

O East End de Londres era casa de numerosas gangues desses mods,


muitos dos quais se envolviam no crime organizado e acabavam atrás das
grades.

Não por coincidência, os bem-vestidos marginais do submundo londrino


eram pais, tios, irmãos, ou simplesmente ídolos de algum mod. E quem
não estivesse envolvido fingia estar, já que isso dava um charme
próprio de filme de gangster, uma das predileções dos mods.

"O nome do movimento deles é insólito, quase grotesco: skinhead. Mas


eles não o encaram como pejorativo. Orgulham-se dele... e de toda a
angústia que ele acarreta para seus pais, para as autoridades e para
os paquistaneses aqui radicados, contra quem eles descarregam uma
infinita e insensata vendetta." (Eugene Hugo, um jornalista com um
nome igualmente grotesco, 1970)

Em "Youth! Youth! Youth!", Garry Bushell fala de mods conhecidos como


"suits" (modelitos), que representavam "o ramo espartano do mod,
identificado pela primeira vez na cena noturna londrina por volta de
1965, como uma moda alternativa da classe operária, para se contrapor
ao dúbio chamariz do psicodelismo", e que ele vê como ascendentes
diretos do movimento skinhead. De fato, os skinheads que se vestiam na
estica para passar a noite nalguma danceteria badalada costumavam ser
chamados de "suits", quando o movimento estava no auge, em 1969 e
1970.
Não só em Londres, aliás.

Outras cidades, como Liverpool, Birmingham e Newcastle, ostentavam


seus "hard mods", mas a maior concentração deles podia ser encontrada
em Glasgow, onde a turma fazia parte do amadurecimento de cada moleque
de rua, desde as gangues da navalha nos anos 30.

Os mods de Glasgow sempre tiveram reputação de violentos, enturmados


em "esquadras" ou "times" (nomes ainda usados pelas gangues locais) a
fim de defender seu pedaço. Áreas mal-afamadas por causa desses mods
(Maryhill's Valley, Barnes Road, em Possilpark, e outras) hoje fazem
parte do folclore de Glasgow e ainda são evitadas pelos cidadãos
pacatos.

A música ainda desempenhava seu papel na vida grupal dos mods, mas não
tanto quanto nos primeiros anos. Havia pouco interesse em curtir novos
gêneros, e o soul americano e o ska jamaicano tornaram-se dieta básica
para a maioria.

A música jamaicana recebera uma mãozinha para se desenvolver na


Grã-Bretanha, graças ao consumo da populosa comunidade antilhana aqui
radicada. Os jovens mods brancos logo se tornaram freqüentadores
habituais das festinhas e botecos ilegais que podiam ser achados em
North Kent, Sheffield, Birmingham, Bristol e áreas de Londres como
Notting Hill e Brixton. Isso lhes dava chance para ouvir os últimos
sons e os colocava em contato com os jovens negros. Muitos desses
garotos negros tinham seu próprio estilo de roupa, baseado no das
gangues de "rude boys" de Kingston, que também cultivavam sua
reputaçãode violência naquela cidade. O visual do rude boy se
concentrava em terninhos com calça acima do tornozelo e manga acima do
punho, tipo "o defunto era menor". Completando o modelito, sapatos bem
engraxados, um chapéu de feltro e óculos escuros de haste larga.

Tanto mods como skinheads entraram na dos rude boys em matéria de


inspiração para o visual. Conta-se até uma anedota sobre o cantor
jamaicano Desmond Dekker e o nascimento do movimento skin, segundo
versão de Tony Cousins. Tony dirigia uma empresa promotora de eventos
chamada Creole no final dos anos 60, a qual veio a bancar uma
gravadora de sucesso com o mesmo nome.

"Quando trouxemos Desmond Dekker, demos-lhe um terno, mas ele fez


questão que fossem cortadas seis polegadas da perna das calças. Os
garotos passaram a imitá-lo, enrolando a bainha das calças e cortando
o cabelo bem curto."

Dekker foi trazido à Grã-Bretanha pela Creole em 1967 para promover


seu single "007 (Shanty Town)", que aqui chegou aos "vinte mais" pelo
selo Pyramid. "Train to Skaville" dos Ethiopians (Rio), "Guns of
Navarone" dos Skatalites (Island) e "Al Capone" de Prince Buster (Blue
Beat) também chegaram às paradas naquele ano, graças ao maciço consumo
underground que a música jamaicana começava a atingir. [1]

Claro que o surgimento de ídolos como Desmond Dekker deu um empurrão


no visual dos rude boys no sentido de transportá-lo das comunidades
antilhanas até o guarda-roupa daquela nova audiência branca. Mas havia
um fator ainda mais essencial à evolução do movimento skin que a
música, fator esse que tem sido subestimado pelos pretensos estudiosos
da juventude: o futebol.

"Botinadas não são nosso único passatempo. Nós gostamos de reggae,


roupas, futebol e garotas, e também de sermos deixados em paz." (Paul
Thompson, skinhead de Londres, 1969)

A Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, levou muita gente às


arquibancadas e carreou para as quatro divisões do futebol um público
adicional de faixa etária mais baixa. A atração dos jovens pelo jogo
aumentou como nunca, e pela primeira vez eles vinham ao estádio com
seus colegas ao invés dos pais ou tios, como sempre ocorrera havia
décadas. Graças à então abundante oferta de empregos, eles tinham
dinheiro no bolso para viajar, o que também contrariava a tradição de
só assistir jogos na casa de seu time.

"Todos fomos mods um dia e tivemos nosso cabelo curtinho. Aí ele


começou a ficar um pouco mais curto. Acho que usamos curto
principalmente porque odiamos os hippies e os Hell's Angels de cabelo
comprido. Nós gostamos de estar na estica. As botas são ótimas nas
tretas, e você se acostuma com elas. Se vamos a qualquer lugar à
noite, pomos terno ou roupa passada." (Phillip Daniels, 16 anos, skin
de West Ham, 1970)

A vez do torcedor itinerante chegava pra valer, e com ela a


oportunidade de demonstrar que vocês eram melhores que seus
adversários, fosse dentro ou fora de campo. A violência no futebol tem
sido parte do jogo secularmente, mas no final dos anos 60 ela foi
ficando cada vez mais organizada, com batalhas regulares entre
torcidas rivais. Nas arquibancadas, o hooligan adquiria status
próprio, uniformizado em botas pesadas, jeans e camisa, à semelhança
do hard mod, que por sua vez não era estranho às catracas de entrada.
Eram esses os garotos botinudos do futebol, de cujas fileiras
emergiria a maioria dos primeiros skinheads em 1967 e 1968, e que
voltariam a atacar quando o movimento arrefecesse.

O movimento skinhead emergiu, portanto, do mod enturmado na rua, do


"boot boy" na arquibancada e do rude boy na pista de dança. O que no
começo era uma vaga tendência ganhou diferentes nomes em diferentes
áreas. "Noheads" (descabeçados), "baldheads" (cabeças-peladas),
"cropheads" (cabeças-raspadas), "suedeheads" (cabeças-de-camurça),
"lemons" (limões), "prickles" (espinhos), "spy kids" (moleques
xeretas), "boiled eggs" (ovos cozidos), "mates" (colegas) e até
"peanuts" (amendoins), aparentemente por causa do barulho do motor da
lambreta, lembrando amendoins chacoalhando numa lata, segundo opinião
de alguns. Já em 1969, quando os skins tinham adquirido personalidade
própria, emancipada de seus "antepassados", ainda havia quem os
chamasse de mods.

Qualquer um que duvide que os mods "geraram" os skins pode checar a


clássica citação de Chris Welch a respeito ("A visão das cabeças
raspadas...") num artigo sobre mods publicado pela MELODY MAKER em
1969.

Nessa ocasião, um nome para designar aquele violento e "novo"


movimento juvenil estava mais ou menos sacramentado. E a palavra que
corria em todas as bocas naquele verão era "skinhead". Até o primeiro-
ministro Harold Wilson, do Partido Trabalhista, tirou o cachimbo em
sinal de reconhecimento, quando tachou alguns conservadores de
"skinheads de Surbiton" em plena Câmara dos Comuns.

Cada movimento juvenil pode ser identificado pelo estilo ou pela moda
que o acompanha, e o skinhead não foge à regra. No final de 69, um
uniforme estava virtualmente definido e em exposição através destas
belas ilhas, mas nada indicava que a coisa pararia por ali. Uma vez
usando botas, você já podia se intitular um skinhead, o que valia para
praticamente todo adolescente da classe operária naquela época.

"O que eles precisam é dumas boas varadas, é o que eu sempre digo."
(Dona-de-casa de Bournemouth, 1970)

Curiosamente, o comprimento do seu cabelo não era tão importante como


é hoje. Ali por 1969, os garotos geralmente faziam suas visitinhas ao
barbeiro e justificavam o nome skinhead, mas ao longo da trajetória do
movimento você tanto podia sair de cabelo todo curto, como aparado só
atrás e nos lados, ou mesmo meio comprido.

Foi por isso que o movimento passou por fases chamadas "suedehead" e
"smooth", como veremos adiante. Mesmo assim, a figura da cabeça
raspada, uma mistura de reco com preso, tinha forte carga simbólica e
se popularizou. Até porque havia o lado prático. A aparência limpa
podia ser bem vista por pais e patrões, e os próprios garotos viam
vantagem em dispensar o pente.

A palavra "skinhead" vem do fato de que você pode ver o "escalpo" do


couro cabeludo através do cabelo cortado rente. O corte à escovinha,
em si, não era nenhuma novidade, mas foi a combinação da careca com as
botas que atraiu o rótulo. Alguns dizem que o corte e o nome derivam
do padrão americano, comum nas forças armadas, mas o estilo é bem
diferente do corte skin. A versão ianque requer quase nenhum cabelo
atrás e nos lados, e aparado porém mais longo no alto, tal como usado
por Richard Gere em A FORÇA DO DESTINO ("An Officer and a Gentleman",
1981).

O mais engraçado foi que, em 1969, as altas patentes dos States,


temendo que os soldados americanos servindo na Grã-Bretanha fossem
confundidos com skinheads, permitiram que eles usassem perucas e
apliques quando estivessem de licença!

As máquinas elétricas costumam ter uma escala que vai do um ao quatro


(às vezes cinco) conforme o corte seja mais curto ou mais longo. A
escolha dependia da ocasião ou do local. Alguém podia aparecer na
escola de cabelo aparado no dois e, em poucos dias, qualquer um o
estaria imitando. Alguns skinheads se arriscavam a uma "sombra
escura", isto é, um corte a navalha quase sem nenhum relevo, portanto
mais curto que o número um, mas a careca totalmente lisa nunca esteve
em voga. A idéia era parecer durão e aprumado, mas não lembrando um
caralho com orelhas. Quem ficava contente nessa história era o
barbeiro, com o barulhinho da caixa registradora a cada visita dum
skin, principalmente numa época em que os "desbundados" nem sequer
lavavam suas guedelhas, quanto mais cortar! Nem todos os cabeleireiros
usavam navalhas, contudo. Alguns preferiam tesouras que, se bem
usadas, faziam bom efeito.

Não há muito o que exprimir num corte de cabelo, mas as variações


possíveis até que tentavam. Na nuca o corte podia seguir a linha do
cabelo, ficar arredondado ou quadrado, estilo Boston. Os três estilos
tinham seus adeptos. Outra variação era um aparado com risca. Riscas
davam um toque de classe a algo que, em si, era bem simples. A idéia
veio dos garotos jamaicanos, cuja versão de cabelo aparado era chamada
de "skiffle".

"...vestidos de Levi's desbotadas, seguras por estreitos suspensórios


sobre camisas axadrezadas, calçando grandes botas e trazendo um capote
no braço, ostentando um lenço de seda no bolso, preso por um alfinete
de gema, e um chapéu de feltro de aba inclinada com as cores do
Chelsea."
(Iain Stewart, identificando o verdadeiro estilo em "The boys that got
big by bovvering", 1970)

Costeletas também estavam na moda, à maneira do jogador Charlie


George, do Arsenal, que exibia um belo par delas. Suíças eram usadas
por skins que tinham barba suficiente e queriam parecer mais velhos e
"respeitáveis" perante a fauna das ruas. Para estes a barba era um
prolongamento da escovinha da careca, mas, mais que isso, representava
um atributo viril.

Some-se a isso um par de botas, e você estava a rigor. Um belo par de


botas de cadarço era indispensável, e quanto mais pesadas, melhor.
Muitos skins usavam um ou dois números a mais que o tamanho do pé, a
fim de reforçar a "ameaça" da botinada. Biqueiras de aço eram muito
populares, pintadas de branco ou nas cores dos times, de modo a chamar
mais atenção.

Você podia improvisar com botas profissionais, que já vinham


reforçadas e até pintadas. Botas dos mineiros de carvão, coturnos
militares e similares entravam no meio sem problema. O padrão era a
bota de oito ou dez ilhoses, mas, principalmente após o advento do
punk, qualquer coisa passaria a valer. Em todo caso, o que marcaria
pontos a seu favor perante os colegas era ter um produto de boa
fabricação, superior ao usado pelos demais.

"Entrei na briga, dei e levei botinada, e acabei debaixo da sola dos


tiras." (Chris Harward, 15 anos, skin de Streatham, 1969)

Se hoje a bota Doctor Marten está universalmente adotada, é porque as


biqueiras metálicas acabaram proibidas nas arquibancadas por serem
consideradas armas perigosas. Mas a popularidade das "Docs" não tem só
essa razão. Elas tinham outras vantagens sobre os borzeguins
ordinários: permitiam maior polimento e, acima de tudo, eram mais
macias e confortáveis, o que fez daquela marca a favorita desde que
apareceu no mercado.

"Meu filho nunca se meteu em encrenca." (Senhora Harward, 1969)

As calças iam do verde-oliva ao veludo cotelê, mas para a maioria dos


garotos eram os jeans os campeões da preferência. A bainha costumava
ser dobrada ou cortada para encurtar o comprimento e deixar à mostra o
cano alto dos coturnos, que podiam levar até duas horas de lustro para
pegar o brilho máximo. Às vezes o cara exibia a bota inteira, mas
normalmente a calça chegava pouco acima do tornozelo.

O modelo mais popular de jeans era a Levi's, usada desde o início da


década pelos mods, por ser mais cara e "exclusiva" que os jeans
comuns. Mas os skins não a preferiam só por esse motivo. Além de ter a
braguilha abotoada, a genuína 501 da Levi's era feita de pano mais
pesado e resistente que o das calças então vendidas na High Street.

O denim grosso durava a vida inteira, mas precisava dum encolhimento


até servir bem no corpo, o que levava os caras a comprar a calça um ou
dois tamanhos maior e entrar no banho vestidos com ela para pegar a
forma justa. Isso parece piada, mas mais gozado é que a calça podia
encolher mais um pouco na segunda lavada, provocando verdadeiros
contorcionismos sobre a cama na hora de vestir novamente. Como se não
bastasse, o corante azul que o pano novo soltava na água era às vezes
duro de sair da perna e do chão do banheiro. Não admira, portanto, que
finalmente a Levi's tenha adotado a brilhante idéia de vender calças
pré-encolhidas.

Outro dado sobre a Levi's é que a calça era desenhada para ser usada
nos quadris, mas todo mundo a puxava até a cintura, daí a necessidade
de algo que as segurasse bem, o que acrescentou o suspensório ao
guarda-roupa dos skinheads.

Lee e Wrangler eram duas outras marcas populares entre os skins,


particularmente fora de Londres, em lugares onde a Levi's era mais
difícil de achar. Eram similares no estilo, talvez um pouco mais
largas, mas tinham a vantagem de vir pré-encolhidas.

A alta qualidade dos jeans da época tinha seus inconvenientes. O pano


grosso levava algum tempo para parecer usado, e um tempão para
desbotar. Ora, todo mundo quer dar a impressão de que está usando seus
jeans por anos a fio, e não desde a semana passada. A solução mais à
mão era o alvejante da mamãe. Os caras podiam meter o novo indigo blue
num balde d'água com alvejante e em poucos minutos tiravam uma "velha
calça desbotada". Ou então podiam aspergir o alvejante direto na
calça, criando uma estilizada camuflagem de roupa usada. O mesmo
tratamento valia, claro, para as jaquetas jeans, mas a mágica do
desbotamento instantâneo tinha seus poréns. A química tinha o péssimo
hábito de estragar a costura e o tecido, o que diminuía a vida útil
dum pano artificialmente clareado. Não que alguém ligasse se você
resolvesse guardar uma calça detonada para alguma ocasião solene.

As camisas é que davam o toque final no emergente uniforme skin de


1969. Padronagens floridas já não estavam mesmo com nada, mas nos
primórdios do movimento qualquer camisa servia, até que dois estilos
se firmaram como favoritos. Um sem colarinho, em cores lisas,
ocasionalmente em listras. O outro era o clássico colarinho americano,
abotoado nas pontas, usadíssimo pelos mods em meados dos 60.

O modelo mais procurado de camisa com colarinho americano era da marca


Ben Sherman, originalmente fabricado em tecido Oxford muito
confortável, com um botão na parte de trás do colarinho, além duma
prega nas costas, com uma alcinha para pendurar a camisa. Essa era
imbatível no estilo. Os colarinhos iam até quatro polegadas na largura
e vinham listrados ou em cores lisas, já que as "Bennies" axadrezadas
só apareceram depois de 1970. Na verdade, a Ben Sherman entrou no
padrão xadrez imitando outros fabricantes, mas nem sempre foi feliz,
já que alguns desenhos eram qualquer coisa de horrível.

Um ponto que precisa ser esclarecido é quanto à Ben Sherman branca. A


maioria das pesquisas sobre os skinheads originais não vai além duma
folheada num exemplar de THE PAINTHOUSE, um livro sobre uma pequena
gangue de jovens skins do East End de Londres. [2]

Hoje a noção que fica é a de que eles não usavam Bennies brancas, como
se os skinheads nunca as tivessem usado. A verdade é que a Ben Sherman
branca foi popular entre os skinheads pelo país todo, em várias
épocas, e era considerada tão elegante como qualquer outra camisa,
particularmente com soda ou água tônica, ou terno de "tonic". E fim de
papo.

A Ben Sherman pode ter sido a marca mais famosa, mas não era a única
na qual os skinheads punham fé. A Brutus também tinha uma coleção
decente e, em tartã, não se podia comprar uma melhor. A Jaytex era
outra concorrente, que oferecia as melhores camisas axadrezadas do
mercado. A Permanent Press tinha feitio tão de primeira quanto as
demais, e suas blusas femininas gozavam de boa aceitação. Até Arnold
Palmer, o jogador de golfe, emprestou seu nome a uma grife de
excelentes camisas de colarinho americano. Na verdade, a demanda por
boas camisas era tal, que alguns alfaiates fabricavam sua própria
grife, sabendo que teria saída entre a clientela skinhead.

"Aquela época foi demais, sabe? Tudo tinha seu nome. Se você saía à
noite, saía de camisa Ben Sherman, calça Levi's, bota Doctor Marten...
Todos tínhamos a mesma aparência, como se usássemos uniforme,
encasacados, de jeans branco e botas." (Andrew McClelland, skinhead de
Woolwich, 1971)

Outro tipo de camisa usado por skinheads era a velha Fred Perry de
tênis, com mangas curtas. A propaganda garantia produto de alta
qualidade, mas a popularidade estava nos detalhes, como o rolotê no
colarinho e nas mangas, além da combinação de cores imitando as dos
times de futebol: branco e azul-marinho (do Spurs), púrpura e azul (do
West Ham), e assim por diante.

E ali estava você. Todo produzido, no rigor da moda operária e pronto


pra encarar o mundo. A partir daí, tudo que você tinha a fazer era
descolar uns trocados do velho e sair ao encontro dos colegas. A
maioria dos skins era de menor, e só os mais velhos tinham chance de
desfrutar livremente a noite na cidade.

Cada área tinha pelo menos um boteco onde os skinheads podiam levantar
umas canecas e jogar um bilharzinho, antes de dar a noite por
encerrada ou partir para uma esticada até o baile mais próximo.
Enquanto rolava na jukebox a última novidade em reggae ou soul, a
carecada trocava figurinhas sobre mulheres e tretas, com novas canecas
brindando a cada caso mais quente. Era essa a hora propícia para usar
a melhor roupa, quando a nata da turma dava aos caras o reconhecimento
que compensava toda a grana deixada nas lojas. E enquanto as manchetes
viviam cheias de botas e suspensórios, pouca gente reparava que os
skinheads representavam talvez a parcela mais estilosa e distinta da
juventude.

No futebol, as botas e os jeans eram por vezes deixados de lado, em


favor da Levi's "sta-press" (que nunca amarrotava), do terno de
mohair, dos sapatões engraxados e da meticulosa atenção nos detalhes
daquela que já foi descrita como a "agressiva elegância" dos mods. Os
caras exibiam seus ternos de três botões (o de baixo sempre
desabotoado), e a quantidade de bolsinhos internos e de botões na
manga, bem como o tamanho da abertura na parte de trás do paletó, era
o que marcava a diferença entre os invejados e os maria-vai-com-as-
outras. Outros detalhes: lenço bem dobrado no bolso, latinha de fumo
decorada e, claro, as garotas, com seus cabelos estilo "feathercut",
sempre chocantes em suas saias e meias em vez de calças, e seus
casaquinhos longos, ou então em roupas de mohair igualmente atraentes.
Aquilo era o paraíso dos skinheads.

Não bastava estar bem-vestido, era preciso ter lugares aonde ir. O
Mecca Ballroom, o Palais, o Locarno, entre outros pontos quentes para
beber e dançar a noite toda. Os salões ficavam lotados de skinheads
ávidos por reggae, ska e soul.

O reggae estava despontando na cena britânica principalmente devido à


curtição dos skinheads. A imprensa musical e as rádios não davam
grande apoio, até desdenhavam o gênero por ser "cru" e "simples".
Chegavam a chamar de "yobbo music" ("música de mongolóide"),
justamente por causa da conexão com o movimento skin. [3]

Aquilo era um círculo vicioso, pois, sem cobertura da imprensa e sem


tocar nas rádios, as lojas de disco não encomendavam e, portanto, a
música nunca aparecia nas listas de mais vendidos.

E como algumas estações, particularmente a Radio One, baseavam sua


programação na colocação das músicas como reflexo da preferência do
público, o reggae raramente figuraria como "popular". Os dois únicos
programas dedicados ao gênero eram o "Reggae Time" da BBC de Londres e
o "Reggae Reggae" da Rádio Birmingham. Eram chamados programas "de
minoria", numa época em que os singles de reggae vendiam dezenas de
milhares de cópias sem qualquer tipo de promoção.

Isso fez dos salões e dos pontos de venda (que geralmente não passavam
de barracas de mercado) os únicos locais onde se podia ouvir os
últimos lançamentos. Mesmo os discos que chegavam às paradas, como o
grande sucesso de Dekker "Israelites", passavam meses expostos nos
clubes e pubs até galgarem uma posição. Mas em 1969 já era tal a
procura que os pequenos comerciantes não davam conta. Não demorou para
que o som fosse ouvido em locais públicos nos fins-de-semana, até que
casas noturnas badaladas, como o Flamingo ou The Roaring Twenties
começaram a atender aos fãs de reggae. [4]

O grande nome do reggae skin foi a Trojan, uma etiqueta lançada pela
gravadora Island Records e pela Beat & Commercial Company em 1968. A
Island já tinha tradição no mercado de música jamaicana na Grã-
Bretanha e chegara ao segundo lugar nas paradas em 1964 com "My boy
lollipop" de Millie. Mas em 1968 o dono da gravadora, Chris Blackwell,
estava mais interessado em transformar a Island num grande selo do
rock, com um elenco de bandas tipo Free, Fairport Convention ou King
Crimson. Para isso tinha que se livrar da imagem de gravadora
especializada em "minoria", e descartou todos os astros do reggae, com
exceção de Jimmy Cliff. Já a companhia Beat & Commercial pertencia a
Lee Goptal, um comerciante de tino, bem entrosado na música jamaicana.
A princípio a B & C trabalhava na distribuição entre a Musicland e as
lojas da Music City em Londres, nas áreas de Stoke, Newington, Brixton
e Shepherd's Bush.

"É como se eles imitassem de propósito o estilo dos moleques de rua


das favelas de antes da guerra. Nossa gangue ficou escrota, uma
caricatura de gibi que não tinha mais graça." (Alan Brien, 1969)

Quando a Trojan se estabeleceu, veio como uma salvação para ambos,


pois dava continuidade à política da Island de investir no reggae mais
pop como forma de levar o som jamaicano para além do gueto. As
"asperezas" das gravações de produção mais barata foram amenizadas e
contornadas com a adição de cordas e até coros, de modo a torná-las
palatáveis ao mercado britânico. Singles promocionais, baladas,
versões cover de música pop, tudo valia para abrir o mercado aos
produtos da Trojan e suas subsidiárias, garantindo espaço nas rádios e
faturando-lhe dezessete hits entre os "vinte mais" no período de 1969
a 1972.

A Trojan também foi das primeiras a vender discos a preço promocional


para ampliar o mercado. Coletâneas como as das séries "TIGHTEN UP" e
"REGGAE CHARTBUSTERS" cavaram sua trincheira num mercado dominado
pelos dinossauros do rock, graças a tais promoções.

Com suas mais de quarenta subsidiárias, a Trojan acabou controlando


80% do mercado de reggae, isso numa época em que cerca de 180 discos
de reggae eram lançados cada semana. Em termos de reggae, era
impossível rivalizar com ela, mas, apesar de ter alguns de seus astros
entre os mais famosos do showbusiness, o som jamaicano permanecia
dentro dos limites do underground. De mais a mais, o gosto dos
apreciadores de reggae skin não coincidia necessariamente com o do
consumidor comum, o que gerava distorções do tipo: canções de maciço
sucesso nos clubes, que passavam despercebidas do público em geral e
da mídia musical. Para um skin, nomes como Derrick Morgan e Pat Kelly
significavam muito, tanto ou mais que um Desmond Dekker ou um Jimmy
Cliff.

A única real concorrente da Trojan era a Pama Records e sua dúzia de


etiquetas subsidiárias. Fundada em 1967, no auge do rocksteady, pelos
três irmãos Palmer, ela incrementou a autêntica reputação do reggae,
dirigindo seus lançamentos especificamente ao mercado étnico e ao
movimento skin.

Os produtores jamaicanos, que já não tinham muita fama de honestos,


trataram de explorar a rivalidade entre as duas maiores empresas de
reggae. Eles voavam até Londres e assinavam contrato com ambas para os
mesmos lançamentos, o que resultava em litígios que culminaram em
1969, quando a Trojan lançou pela Treasure Isle o célebre "Skinhead
moonstomp" do grupo Symarip, só para abafar o sucesso do "Moonhop" de
Derrick Morgan, que saíra pelo selo Crab da Pama.

O rolo tinha começado quando Bunny Lee cedeu uma mesma música ("Seven
letters", de Derrick Morgan) para a Trojan, que a lançaria em sua nova
subsidiária Jackpot, e para a Pama, que a lançaria pela Crab. Na hora
em que a Pama cronogramava seus melhores lançamentos para sair em
função do sucesso de "Moonhop", a Trojan melou tudo com uma versão
não-creditada da dita cuja, que não era outra senão a famigerada
"Skinhead moonstomp", interpretada pelos Pyramids sob a falsa
identidade de Symarip (um óbvio anagrama), a fim de faturar em cima da
promoção da concorrente.

Ironicamente, "Skinhead moonstomp" é hoje reconhecido como um clássico


do reggae skin, enquanto o original "Moonhop" caiu no esquecimento. O
mais chato de tudo era o fato de Bunny Lee ser cunhado de Derrick!

Casos como esse iam sujando a barra da música jamaicana. Na verdade, a


própria "Moonhop" de Derrick Morgan era baseada noutra canção, chamada
"I thank you", que tinha sido lançada por Sam & Dave, uma dupla soul
de Memphis. Quanto aos Pyramids, uma banda de estúdio que topava
qualquer parada, estavam acostumados a gravar sob pseudônimo. Na mesma
época, tinham saído discos deles como The Alterations, The Bed Bugs e
The Rough Riders.

"O reggae, o ska e o rocksteady são novidade por aqui, e a garotada


adora. O que ninguém saca é que os Beatles usaram a batida do ska em
'Ob-la-di, Ob-la-da'." (Desmond Dekker, 1969) [5]

Tanto a Trojan como a Pama chegaram a produzir seu material na própria


Grã-Bretanha, às vezes com músicos de estúdio brancos e vocalistas
jamaicanos, todos aqui radicados ou que vinham passar temporada.
Laurel Aitken, um dos recordistas de vendas da Pama, costumava dizer
que só dava ele de negro no estúdio quando era gravado um reggae.

Claro que "Skinhead moonstomp" não foi o primeiro nem o último disco
de reggae a celebrar seus próprios fãs skinheads. Os mesmos Pyramids
aproveitaram a onda para faturar outras canções em cima do tema, sob o
nome fantasia de Symarip, como a clássica "Skinhead girl" e a
"Skinhead jamboree". Algumas canções eram excelentes, outras
pavorosas. Os Mohawks pintaram com "Skinhead shuffle" pela Pama,
Laurel Aitken com "Skinhead train" (Nu Beat), os Hot Rod Allstars com
"Skinheads don't fear" e "Skinhead moondust" pela Torpedo, Joe The
Boss com "Skinhead revolt" (Joe), Desmond Riley com "Skinhead, a
message to you" (Downtown), e a lista vai longe. [6]

"O grande barato do reggae é que esse tipo de música tem um público de
brancos e negros completamente integrado. Se é que se pode conseguir
uma harmonia racial dessa maneira, eu acho que nosso trabalho não tá
nada mau." (Tony Cousins, empresário de reggae, 1969)

A atração dos skinheads pelo reggae se devia ao ritmo contagiante da


música. As letras pouco importavam, já que a maioria não sacava o
significado da gíria jamaicana. "Israelites" de Desmond Dekker pode
ter vendido oito milhões de cópias pelo mundo afora, mas se você
perguntar a meia dúzia de caras o que a letra quer dizer, você vai ter
meia dúzia de respostas diferentes. Por isso mesmo as faixas
instrumentais tinham tanta popularidade quanto os números vocais: o
essencial estava no som.
[7]

Mesmo maquiado nas gravadoras e "selecionado" pelos DJs nos salões, o


velho som primitivo do ska e do rocksteady nunca perdeu seu charme, o
que manteve o reggae como o som favorito dos skinheads. Mas o soul
americano também era bem curtido, através dos lançamentos das
gravadoras Tamla Motown, Stax e Atlantic. [8]

As ilhas britânicas foram atingidas pela tempestade soul no começo dos


anos 60, quando o finado Otis Redding chegou a ter um dos programas da
série de TV "Ready, steady, go!" inteiramente dedicado à sua figura.
No final da década, nova onda de soul passou por aqui, com muitos
relançamentos e sucessos revisitando as paradas.

"Adolescente do sexo masculino que usa o cabelo bem curto, é adepto da


violência, tem vocabulário muito reduzido e, com efeito, não é muito
dado a se expressar verbalmente." (Definição do skinhead no DICTIONARY
OF THE TEENAGE REVOLUTION AND ITS AFTERMATH)

Ao contrário do reggae, o soul estava com tudo junto à mídia. Os


jornais davam constante destaque a artistas como Aretha Franklin,
Smokey Robinson & The Miracles ou Booker T & The MGs, e o espaço nas
rádios era garantido pelo sucesso nas vendas. Os artistas jamaicanos
também partiam pro soul, seguindo os passos dos Mohawks e de Jimmy
Cliff.

Nas noites de reggae e soul, os skinheads dançavam à sua maneira.


Qualquer um sabia pisar forte acompanhando os compassos do reggae, e
normalmente rapazes dançavam com rapazes, e as garotas... com suas
próprias bolsas. Mas, no fim da noite, quando vinham os números de
soul, mais lentos, a coisa mudava de figura. As garotas se
sobressaíam, e os rapazes que se metiam a exibidos caíam do cavalo.

O melhor de tudo, porém, eram as gigs (apresentações ao vivo). O


sucesso do reggae na Grã-Bretanha trouxe praticamente todos os astros
da Jamaica, e alguns ficavam por aqui. Em Londres você podia ir a uma
gig de reggae quase todos os dias da semana, nos enfumaçados clubes do
tipo The Ska Bar, The Ram Jam Club, The Golden Star Club, ou Cue Club,
onde sempre havia um astro de primeira linha em cartaz. Até Wembley
aderiu e hospedou um público de 9 mil pessoas no Caribbean Music
Festival de 1970. Todo o show foi filmado e depois exibido em pequeno
circuito, incluindo a participação dos skinheads, sob o criativo
título de... REGGAE.

No interior as gigs eram mais raras, e apenas alguns astros se


apresentavam em cidades como Bristol, onde Derrick Morgan ia sabendo
que teria acolhida garantida dos skins locais e que a bilheteria ia
compensar. Mas de vez em quando um pacote de reggae incluía uma turnê
por todas as grandes cidades, e aí você podia assistir numa única
noite cinco ou seis ídolos jamaicanos performando em meio a um sistema
de som de primeira.

Muitos skinheads se tornaram colecionadores de música jamaicana e


gastavam cada minuto, pra não dizer cada centavo, fuçando as lojas da
sua área à cata dos últimos lançamentos. Todo mundo sabia em que dia
chegavam os novos estoques, e esse era o dia de descolar aqueles
discos que iam deixar os colegas de água na boca. Os importados
jamaicanos eram os mais procurados, já que, até serem lançados na Grã-
Bretanha, valiam como "raridade". O próprio herói dos skins, Judge
Dread, costumava ir às docas com seu operador de som, só para comprar
discos direto do navio e se antecipar à concorrência. [9] Era tamanho
o orgulho de se ter uma boa coleção, que alguns chegavam a rasurar o
nome da música e do intérprete nos singles, de modo a impedir que os
colegas tivessem acesso aos melhores itens do acervo, guardados como
segredo de estado. Um velho truque pirata, copiado das máfias do som
jamaicanas.

Alguns skins instalavam seu próprio sistema de som, para concorrer com
os mais profissionais dos negros e com o equipamento dos outros skins.
Dava pra escutar de longe a briga de amplificação (caixas cada vez
maiores) dos baixos para disputar a atenção do público dançante.
Os skins mais jovens (vale dizer, a maioria) tinham que se contentar
em ouvir discos na casa dos colegas ou no clube local.

Alguns sistemas de som tocavam em bailes das escolas. Fora disso, o


jeito era aguardar as gigs como chance de ouvir música ao vivo e de se
exibir um pouco, tentando parecer tão durão quanto os mais velhos. E
se nada de novo estivesse rolando, a esquina era o melhor local para
fazer ponto e ficar à toa. Até que algum filha da puta ligasse pra
polícia tirar você dali.

Outra coisa de que os skins mais novos sentiam falta era um


guarda-roupa apresentável. Não que os mais velhos tivessem grana para
encher as gavetas de Ben Shermans, mas para quem ainda estava na
escola a situação era particularmente dura. Ainda mais quando havia
aniversários ou Natal pela frente. Enquanto isso, chegava o sábado, e
você precisava pelo menos dum par de botas e duma grana para ir ao
futebol. E duma garrafa pra passar com ela escondida pela catraca.

"Eu gosto de violência, violência e... hã... violência." (Skinhead


anônimo, entrevistado na TV, 1969)

O futebol era uma das raras ocasiões em que todos os skinheads duma
cidade ou área podiam se juntar duma só vez. Nos outros dias da
semana, só dava chance pra coturnar junto com a própria turma, e as
turmas só se cruzavam nos bailes ou para algum ajuste de contas. Mas
aí vinha o sábado, e as diferenças locais eram momentaneamente
deixadas de lado, em nome da torcida pelo time da casa contra os
torcedores do clube visitante.

As primeiras galeras de skinheads entraram em ação na temporada


futebolística de 1968-69, quando o Leeds United, o Liverpool e o
Everton eram os times em evidência. Nada teve o dom de propagar melhor
o estilo skin do que as galeras itinerantes que atuavam antes, durante
e depois de cada partida. Na temporada seguinte, até os amistosos
virariam campo de batalha, e a treta se alastraria pelas várias
categorias do futebol inglês e também do escocês.

Cada time do sul tinha sua torcida skinhead, e os do norte logo


entraram nessa. O Portsmouth foi o primeiro da temporada a se
vangloriar de ter posto pra correr a torcida troglodita e cabeluda do
Manchester City pelo Fratton Park afora. Isso foi num amistoso, e o
quebra-pau só tenderia a aumentar, quando a temporada começasse
oficialmente em Blackpool. Em poucas semanas, a primeira página do
FOOTBALL MAIL alardeava a "ameaça skinhead", e o nível de violência já
alarmava os gabinetes dos guardiões da moral.

Times como o Manchester United, com sua famigerada galera Red Army
(Exército Vermelho), bem como os grandes clubes de Londres, contavam
aos milhares seus torcedores skins. Até um clube menor, como o Crystal
Palace, tinha sempre algumas centenas deles animando o Holmesdale End.
No norte, o futebol chegava a superar a música como paixão maior do
movimento skinhead, a ponto de tornar a moda das arquibancadas
(camisa, jeans e botas) mais típica que a da noite. Times tipo
Sunderland e Newcastle United eram grandes rivais, e ambos contavam
com cerca de dois mil skins a serviço da treta nos dias de clássico.

Geralmente a treta começava por causa da ocupação de pontos


estratégicos do campo, de onde se pudesse interferir no andamento da
partida. Por exemplo: a galera visitante chegava primeiro e ocupava o
espaço da torcida da casa, obrigando-a a se espalhar por outros pontos
da arquibancada. Outro exemplo: ao comemorar um gol do seu time, a
torcida aproveitava para escorraçar a galera adversária do local que
ocupava.

A princípio vacilante, a polícia foi tratando de separar as torcidas


organizadas dentro de campo, o que incentivou a treta organizada fora
de campo, a qual incluía emboscadas na estação do trem e nos pubs,
cores dos times camufladas debaixo de outras roupas no caminho de ida
ou volta, e outros macetes.

"Os arruaceiros, do tipo freqüentemente rotulado de skinhead por seu


cabelo raspado, suas pesadas botas e suas calças de pernas
arregaçadas, seguras por estreitos suspensórios, eram displicentemente
revistados pela polícia antes de ingressar no estádio. Aqui e ali se
apreendia uma garrafa, uma lima de unha, uma correia, um tijolo, um
gancho de carne.

Alguns que usavam biqueira de aço na bota eram barrados na entrada."


(Dermot Purgavie, reportando uma partida entre o Arsenal e o Chelsea
no DAILY SKETCH, 1969)

Armas eram usadas no futebol com a maior naturalidade. Garrafas,


meios-tijolos, dardos, giletes dentro de laranjas, estrelas cortantes,
pedaços de cano e outras "ferramentas". Até a velha espingarda de caça
ou de ar comprimido era usada. Mas o melhor de todos os armamentos era
mesmo o par de botas com biqueira de aço, que logo foram classificadas
como arma perigosa e, muito a contragosto, tiveram que ser deixadas em
casa.

As botas eram o centro das atenções da polícia, que costumava


"confiscar" os cadarços para dificultar a vida dos skins mais
briguentos, que ficavam impedidos de correr ou chutar. Aquilo virou um
jogo de gato & rato, pois os skins não se davam por vencidos e
substituíam os cadarços por araminhos, clipes, ou simplesmente por um
par sobressalente de cordões guardado no bolso ou comprado às pressas
na sapataria mais próxima. Claro que a polícia revidava, proibindo a
venda de cadarços nas imediações dos estádios e revistando os caras
para esvaziar-lhes os bolsos.

Aí vinha o arrocho decisivo: na saída do jogo, os skinheads eram


enfileirados e obrigados a descalçar as botas, que eram jogadas a esmo
numa grande pilha, enquanto os caras ficavam só de meia esperando até
que a torcida adversária fosse escoltada a uma distância segura. Claro
que isso dava aos skins mais espertos a chance de descolar os melhores
pares de botas na hora do salve-se-quem-puder, quando a polícia
liberava os caras para se calçarem de novo. Mas o pior era o
impressionante "efeito de máquina de lavar" que tinha a tal pilha de
botas. Já é chato quando você põe um par de meias na máquina e só tira
um pé. Agora imagine o ridículo de voltar pra casa depois do jogo só
com um pé de bota.

A norma era a revista na hora de passar pela catraca. Era quando as


garotas torcedoras entravam em ação. Elas podiam levar os "armamentos"
para dentro de campo com mais facilidade, já que raramente eram
revistadas. Somente a polícia feminina podia revistar garotas, e, como
as policiais eram em menor número, podiam ser facilmente evitadas. Era
só dirigir-se a uma catraca onde houvesse um policial.

Não que as garotas viessem aos montes. Elas só apareciam acompanhadas


do namorado ou em busca de um novo. Às vezes pintavam aquelas que
realmente curtiam futebol ou eram fãs de algum jogador. Mas os
melhores casos eram contados sobre gangues só de mulheres, que vinham
com tudo quando o namorado de alguma delas corria perigo. Algumas
tinham mais pique que muitos caras. Só que, em se tratando de meninas-
amazonas, todo mundo sabe quem são, mas nenhum cara diz que as viu
agindo em sua própria defesa, por uma questão de autodefesa. É que tá
assim de cara que corre da raia mais que mulher. Isso explica muita
coisa.

À medida que ia ficando mais difícil "contrabandear" armas para dentro


de campo, a manha dos skins se aperfeiçoava. Jornais eram enrolados
bem apertado a fim de formar os chamados "tijolos do Millwall". Outro
truque era improvisar uma soqueira com moedas presas num embrulho de
jornal.
Afinal, você não podia ser barrado por ter muito trocado no bolso e um
DAILY MIRROR debaixo do braço...

O agito maior tinha lugar no caminho do estádio. Embarcar num ônibus


fretado rumo a terras estranhas, xingar a torcida inimiga no trajeto e
escapar do policiamento eram as prioridades. Guerrear, se possível.
Mas veja bem, a guerra muitas vezes não passava dum arremesso de
garrafas, duma perseguição e duma tempestade de palavrões. Ou seja, as
batalhas podiam, quando muito, descambar para um tumulto em larga
escala. Nada de mais.

Depredar trens a caminho de casa virou rotina. Tanto que a British


Rail teve que renovar sua frota, à medida que os velhos vagões iam
ficando inutilizados. Mais um serviço de utilidade pública dos nossos
escoteiríssimos amiguinhos carecas. Mas a treta no futebol freqüentava
semanalmente as manchetes que, em tom indignado, espalhavam a
reputação dos skinheads pelos quatro cantos. Naturalmente acompanhadas
daquelas teorias baratas sobre lares desfeitos, problemas de
escolaridade, áreas carentes, etc... Que até podiam ter algum
fundamento, mas que escamoteavam o verdadeiro motivo pelo qual a
molecada se envolvia no hooliganismo do futebol: porque curtiam a
coisa. Tão simples que dispensa maiores explicações.

A maioria das respostas ao problema do futebol, vindas da parte duma


sociedade supostamente zelosa, têm sido mais violentas que o problema
em si. Ponham-nos de joelho no milho! Açoitem-nos com vara de marmelo!
Reformatório neles! Trabalhos forçados! Serviço militar! Um tal Bobby
Robson, falando em nome do Ipswich Town, chegou a sugerir o uso de
lança-chamas contra os baderneiros da torcida do Millwall! E o cara
chegou a cartola da seleção inglesa! É mole?

Os sociólogos de plantão sustentavam que os skinheads não estavam nem


aí pro futebol, mas eles, os sociólogos, é que estavam por fora. Podem
falar o que quiserem, mas poucos são tão fiéis torcedores dum time
como os hooligans.

"Cerca de 150 skinheads, a caminho de casa após uma partida entre o


Arsenal e o West Ham em Highbury, depredaram um trem do metrô que
partia da estação Farringdon, próximo a Holburn Circus. Janelas e
luminárias foram quebradas, causando prejuízo equivalente a 250
libras." (Reportagem de jornal, 1969)

A cobertura da TV transformava o futebol num jogo de replays, onde


cada movimento podia ser decomposto e analisado. Mas se o futebol se
resumisse nisso, quem iria perder tempo assistindo merdas como o
Maidstone United semana sim, semana não? Os telespectadores,
refestelados e seguros em suas poltronas, talvez se disponham a ficar
passivamente acompanhando cada jogada, mas a vida nas arquibancadas
são outros quinhentos. De um lado, rola o jogo de passes, lançamentos
e chutes a gol, mas isso não é tudo. É do lado de cá, fora do gramado,
que a paixão, o envolvimento e as simpatias predominam. E tem sempre
um filha da puta bem na sua frente, atrapalhando sua visão nos
momentos mais cruciais.

Mas a treta dos skinheads não se limitava às arquibancadas, longe


disso.
A maior parte das rixas era entre gangues de determinado "território",
que incursionavam em outras áreas da cidade. Algumas gangues vinham de
uma única rua, outras eram formadas por freqüentadores dum pub, dum
café ou até duma zona. O território era tudo.

O vestuário do skinhead era ao mesmo tempo o uniforme da gangue. Tinha


que refletir agressividade e ser característico da classe operária,
mas isso não quer dizer que todos os moleques que se tornavam skins
tivessem uma filosofia. Para alguns era um estilo de vida, para outros
apenas um modismo, mas você não poderia usar o cabelo raspado, calçar
um par de botas e se engajar no batalhão se não levasse consigo algum
daqueles valores. Pertencer a uma gangue dava um puta sentimento de
participação, e daí provinha o orgulho, o respeito e a lealdade que
você cultivava para com os companheiros e em prol da reputação da
gangue. A lei da selva é a única válida entre bandidos. Quem não
quisesse ficar indefeso tinha que entrar para uma gangue.

Em cada grupo sempre existem os líderes, os briguentos, os Romeus, os


palhaços, os bodes expiatórios e os sacos-de-pancada. O núcleo da
gangue consistia naqueles que só estavam a fim de briga e naqueles que
eram bons de briga. A "tropa de choque", que vinha na frente e se saía
melhor na hora do pega-pra-capar. Mosqueteiros que estariam a seu lado
na base do "um por todos e todos por um".

Para cada membro, a gangue era o mundo. Se você fosse chutado fora,
dava pra se sentir um peso morto, um otário, ou pra se julgar traído.
Mas nunca pra se dar por vencido. Um chute no rabo podia ter seu sabor
de vitória, se você se tomasse de brios e corresse logo pra casa a fim
de lamber as feridas e remoer alguma vingança.

Duas costelas quebradas e o nariz amassado podiam abalar um pouco mais


o moral, mas você ainda poderia rir por último se, mesmo fugindo,
conseguisse xingar alguém de filha da puta. E sempre havia o dia da
caça.

As gangues de skinheads pareciam achar encrenca onde quer que fossem.


Na saída da escola, na porta duma loja, numa galeria, num ponto de
ônibus.
E se a encrenca não viesse até você, só lhe restava uma solução: ir
atrás da encrenca. Como? Invadindo o território de outra gangue ou
dando em cima duma das garotas deles. Era treta garantida. Ou isso, ou
então escolher alguém pra Cristo e zoar legal com quem merecesse a
honra e o prazer de conhecer o solado das suas botas.

"Os skinheads atacaram novamente neste fim-de-semana. Entraram em


choque com a polícia e apavoraram torcedores nos campos de futebol.
Compravam briga, como gostam de fazer. Eles interromperam uma partida
de futebol em Rochdale, Lancs, e tumultuaram outra do campeonato de
rugby que estava sendo televisionada em Leeds." (THE SUN, 1970)

Quem fosse estranho no pedaço era um alvo potencial da treta. Isso


valia para o membro da gangue rival ou para a pobre alma que estivesse
no lugar certo na hora errada. O alvo variava conforme a área. Perto
de quartéis, a "malhação do reco" era o esporte favorito, muito embora
vários skinheads estivessem, eles próprios, prestando serviço militar.
Perto das universidades, eram os estudantes que atraíam os pés da
carecada. E assim por diante.

Bichas ou qualquer um que tivesse um arzinho remotamente fresco eram


cobaias preferenciais para as botinadas, principalmente se fosse na
proporção de um viado pra dez bagunceiros. Os jornais viviam cheios de
notícias sobre algum freqüentador ou funcionário de banheiro público
que levava cacete dos skinheads só porque eles o achavam com cara de
bicha velha ou enrustida.

Hippies também eram vítimas fáceis. Eram vistos pelos skins como
parasitas sujos e desgrenhados, rebeldes de araque, totalmente
estranhos aos valores tradicionais da comunidade donde os skins eram
oriundos. Não que os hippies passeassem de propósito pelo território
dos skins, mas estes os caçavam onde quer que estivessem, como se
organizassem uma expedição ou excursão. E não era difícil capturá-los.
Bastava localizar a "comunidade" (o cortiço onde moravam) ou ir a um
festival pop, e estavam no papo.

Na verdade, a sanha contra os hippies foi uma das causas da presença


dos skinheads nos jornais. Em setembro de 1969, a ocupação dum prédio
de Londres pelos hippies virou notícia, causando ajuntamento popular
do lado de fora. Em meio à multidão de curiosos estavam a polícia e as
gangues de skinheads, aliadas no mesmo propósito de acabar com a
"invasão". Se não fosse a presença dos Hell's Angels, nada impediria
que os skins atacassem o prédio. É, os hippies também se defendiam.

"Odeio cabeludos. Toda aquela conversa de paz & amor e aquelas roupas
todas. Eles são vagabundos. Quer dizer, eu trabalho pra viver e tenho
que sustentar eles com o imposto que pago. A maioria deles tem sotaque
chique e todos estão na escola pública." (Jimmy, 17 anos, skinhead de
Bethnal Green, East London)

Nos festivais pop, você não tinha trabalho para achar os hippies, já
que ninguém precisava pagar ingresso. O maior festival de 69 foi o
show dos Rolling Stones no Hyde Park, em julho, que atraiu 250 mil
pessoas.
Novamente lá estavam os Hell's Angels, pagos para manter a ordem, mas
eles não puderam barrar os skins penetras, que viraram algumas motos
de rodas para o ar e sabotaram algumas cestas de piquenique. No ano
seguinte, os festivais gratuitos pululavam por toda parte, no Hyde
Park de novo, na ilha de Wight, em Bath, todos formigando de hippies.
Os skinheads bem que tentaram "limpar" as ruas deles, mas a tarefa era
inglória. Até mesmo o crítico pop Jonathan King, que nunca foi muito
amigo dos skins, chamava a fauna de Bath de "sombria, suja, baixo-
astral e mal-encarada", e dizia que ela "tresandava a meia fedida e a
cueca sem lavar". Isso deixava os skins ainda mais crentes que Deus
estava do seu lado.

Às vezes se ouvia falar num "tratado de paz" entre skinheads e


hippies, mas tudo não passava duma página esporádica no INTERNATIONAL
TIMES. E como os skins não costumavam ler as cascatas dos hippies, a
coisa se reduzia a isso: cascata.

Skinheads e Hell's Angels também não se beijavam, mesmo que nenhum


hippie estivesse por perto precisando de proteção. Eram freqüentes os
choques entre as duas tribos nas praias e cidades que sediavam uma
filial dos Angels ou dalguma gangue de motoqueiros do tipo. A popstar
Toyah Wilcox conta uma história escabrosa sobre a rivalidade entre
skinheads e Angels no Oeste. Certa manhã, uma cabeça raspada e
decapitada foi achada numa passagem de pedestres. Não admira que ela
tenha desistido da criação de ovelhas em Barnet. Já em Whitby
(Yorkshire) um Angel foi esfaqueado até a morte por um skin, cuja
garota o motoqueiro tinha tomado. Elas por elas.

Há que ressalvar a despeitada admiração que alguns skins nutriam pelos


verdadeiros motoqueiros, já que estes viviam de acordo com o estilo em
que acreditavam. Até porque algo como uma moto não estava ao alcance
dum skin de quatorze anos, muito menos o confronto direto com um
Angel.
Apesar das roupas de couro estilo Peter Test Tube, usadas por alguns
moleques motorizados que posavam de Hell's Angels. Mas isso era só pra
fazer gênero.

Assim como os mods guerreavam com os rockers, os skinheads iriam


guerrear com os "greasers" (sebosos), que eram descendentes diretos
dos rockers, embora não se saiba qual das duas tribos, rockers ou
greasers, seria o elo perdido que os antropólogos tanto procuram no
meio dos fósseis. Quer dizer, existem caras sujas e caras sujos. E
sujeira é do que os greasers gostavam.

"Não gostamos de cabeludo, porque eles não se lavam, só usam couro e


aquele cabelo seboso. São sujos, e suas garotas são até piores. Quando
a gente cruza com eles, dá vontade de partir pra cima e acabar com
eles."
(Skinhead de 16 anos de Margate, 1969)

O gozado é que, em certos aspectos, os skinheads tinham mais coisas em


comum com os greasers que com os próprios mods. O certo é que, na crua
realidade do mundo skin, não havia lugar para cabelos estilizados e
bem tratados, cigarros finos ou maquiagem para homens, tão do agrado
de certos mods. [10] Enquanto o espírito do mod privilegiava a
individualidade, os skinheads valorizavam a uniformidade de pertencer
a uma turma. Os greasers, por outro lado, partilhavam dos mesmos
valores que os skins cultivavam em torno da masculinidade, do machismo
e do companheirismo, mas as semelhanças vão só até aí. Em outros
campos, as tribos não falavam a mesma linguagem. As idéias sobre
roupa, música, higiene e transporte eram muito divergentes entre elas.
Enquanto os greasers andavam de motocicleta, os skinheads iam de Ford
Anglia, de lambreta, ou, mais comumente, de ônibus ou trem.

O ódio dos skins contra os greasers nunca se encarniçava tanto como


por ocasião dos feriados bancários, quando os choques se multiplicavam
pela orla marítima em todo o país. Os skins sempre estavam em
superioridade numérica, mas eram mais jovens, o que fazia mais
diferença do que pode parecer. É por isso que a coisa mais gostosa
para uma gangue skin era pegar um greaser sozinho e desprevenido. O
cara precisava de cada polegada da corrente de sua moto para manter os
skins a distância!

Futebol e tretas de feriado bancário eram bons assuntos para as


manchetes, mas o lado mais preocupante da violência skinhead era a
hostilidade contra os asiáticos residentes na Grã-Bretanha. As coisas
chegariam a tal ponto, que a "paki-bashing" ("malhação do paki", como
se tornou conhecida a perseguição aos imigrantes paquistaneses) acabou
virando pauta de conversações entre os governos britânico e do
Paquistão.

Não eram apenas os paquistaneses as vítimas dos ataques. Hindus,


bengaleses e outros asiáticos eram todos rotulados de "pakis" e
visados pelos skinheads. E não era simples questão de violência
racial, como alguns observadores comentavam. Na verdade, a hostilidade
não partia só dos skinheads, ou só de jovens brancos. Jovens gregos,
antilhanos e outros também participavam da perseguição.

O problema tinha duas faces. De um lado, a Grã-Bretanha parecia


mergulhar numa onda de histeria coletiva quanto à iminência duma
invasão de estrangeiros, que ficou emblemática no discurso de Enoch
Powell sobre "rios de sangue", jogando lenha na fogueira em abril de
1968. [11] Powell perdeu sua pasta no Shadow Cabinet (ministério
paralelo da oposição) por causa daquele discurso, mas sem dúvida
granjeou a simpatia do povo britânico, como ficou claro nas pesquisas
de opinião. Ele recebeu dezenas de milhares de cartas de apoio, e até
os estivadores e carregadores do mercado fizeram passeata a seu favor
desde o East End de Londres até o Parlamento.

Do outro lado, havia um afluxo de imigrantes do subcontinente hindu e


de Uganda, que se mantinham isolados, sem o menor interesse em se
integrar às comunidades para onde se mudavam. Os asiáticos tinham seus
próprios cafés, cinemas e mesquitas, donde não saíam, e estavam aqui
unicamente para achar trabalho e mandar dinheiro para as famílias. A
maioria nem sequer falava inglês e, o que era pior, não sabiam jogar
futebol!

"O líder da turma de Stepney é Mickey Steal, 18 anos, filho dum


operário londrino, chefe de seção numa fábrica de chá. São 50 os
membros da gangue, alguns deles de cor, desmentindo a noção de que a
malhação do paki é puro fruto do ódio racial." (Eugene Hugo, 1970)

A cor da pele fez deles bodes expiatórios dum país que, tendo ganhado
a guerra, estava perdendo a paz. Os asiáticos eram encarados como
competidores por trabalho e habitação, numa época em que o emprego na
indústria pesada ficava mais difícil e as tradicionais comunidades da
classe operária perdiam terreno para os novos planejadores do
urbanismo, interessados na construção de torres de apartamentos.
Somando-se a isso o fato de que os pakis não revidavam, o alvo se
tornava perfeito para um soco no meio da cara.

Algum jovem skinhead pode ter aclamado o velho Enoch como herói, mas o
fato é que os skins que se engajaram na política o fizeram pela mão
dos Jovens Liberais em Skegness, num feriado bancário. A maioria dos
skins era jovem demais para votar, mas o Partido Trabalhista seria
seguramente o mais popular entre eles. A prática da "paki-bashing" (ou
"paki-rolling", como também era chamada a pancadaria nos imigrantes)
certamente não estava no programa partidário de nenhuma extrema-
direita.
Os pakis eram mais um inimigo que os skins acrescentavam à lista que
já incluía hippies, gays, tarados em geral, greasers e outros que
aparentemente estivessem do lado errado da vida.

Por essa época, os antilhanos estavam quase adaptados ao estilo de


vida britânico, e o reggae tinha sido importante elo de ligação. Isso
não significava que, no departamento do Caribe, as coisas corressem às
mil maravilhas. As gangues de skinheads negros, chamados de "affro
boys" (o duplo F é pra trocadilhar com a grafia de "aggro boys"),
também entravam em choque com as gangues brancas e até com as mistas,
mas era mais uma questão de território que de cor.

Quando nada de importante merecesse atenção, os skinheads se voltavam


para travessuras mais inocentes. Rachas de carro eram moda nalgumas
áreas. Outra peraltice legal era pôr de pernas pro ar a loja da
esquina.
Sem falar nas máquinas de cigarro ou de doce, que ficavam do lado de
fora e podiam ser arrancadas do lugar em segundos e levadas para local
seguro, onde eram saqueadas tranqüilamente. Você sabe, sempre existem
idiotas numa gangue. Enquanto você está ocupado passando a mão na
grana, eles ficam catando chicletes...

Os chamados "pequenos delitos" não eram apanágio dos skinheads. Faziam


parte do comportamento adolescente, e é como tal que vêm à mente dos
garotos depois de crescidos. Reminiscências dos bons tempos. E a treta
fazia parte da perspectiva do mundo do ponto de vista da classe
operária a que os skinheads pertenciam. Eventualmente a treta podia
degenerar em assassinato, mas em circunstâncias normais era
basicamente bravata de playground.

"Tinha uma mina num cortiço que era mesmo feia. Era a coisa mais gorda
que eu já vi, e também a mais feia. Parecia a garota dum Hell's Angel.
Bom, pensei eu, roubar a garota dum Hell's Angel é o tipo da coisa do
cacete prum skinhead fazer, certo? É por isso que fui parar na Clínica
Stratford." (John Butler, 20 anos, skinhead de East Ham, 1970)

Os skinheads adoravam a imagem violenta que tinham. Aparecer no jornal


é sempre bom pra dar moral. Até mesmo ir em cana tinha suas vantagens,
pois quando você sai é tratado com honras. A menos que você pegue uma
longa pena e só saia para encontrar os colegas todos casados,
acomodados ou morando longe.

"Quando não tem garrafa nem navalha e o negócio é só na base da bota,


é um sarro. Quer dizer, sobra botinada pra todo mundo e ninguém morre
por causa disso." (Georgie, skin londrino de 16 anos)

Ser um skinhead acabou se tornando sinônimo de botinada, botinada


virou sinônimo de perigo social, e o cara vivia visado, sem poder
sequer jogar no chão um papel de bala, que a polícia já vinha parando.
Era só um tira avistar uma cabeça raspada e umas botas, e o cara
estava marcado. Você seria responsabilizado por causar problema mesmo
que estivesse indo ou voltando do trabalho. E se você fosse levado a
julgamento e o juiz tivesse tido seu carro riscado por um skin na
semana passada, você podia sair de baixo que alguma coisa bem pesada
ia cair na sua cabeça.

Ali pelo final de 1970, muitos skins mais velhos começaram a partir
pra outra. O movimento já estava sendo associado à violência pura e
simples, e a garotada mais nova acreditava que o skinhead se resumia
nisso. Em Luton, os skinheads já nem podiam sair à rua, depois que um
verdadeiro "toque de recolher" lhes foi imposto pelos homens da farda,
por causa duma série de incidentes violentos envolvendo asiáticos,
greasers, gangues de skinheads rivais e quaisquer outros interessados
em exercitar o braço e a perna. Poucos skins podiam passear sem
problema, e, quanto mais velhos, mais facilmente se recolhiam e mais
rapidamente tratavam de se ocupar com coisas mais sérias. Para que
sair à procura de encrenca se os pais da sua namorada vão passar a
noite fora?

Tudo que é bom dura pouco, e, cedo ou tarde, o movimento tinha que dar
um tempo. Mas o velho cachorro ainda não estava morto e não iríamos
nos livrar dele tão fácil. As botas e os suspensórios podiam ir pro
fundo do armário, mas o fantasma, ou o espírito de 69 continuaria
saltitando pela casa.

///
[notas/boxes ao capítulo 1]

[1] Desmond Dekker foi o primeiro jamaicano a chegar às paradas


britânicas com "Israelites" em 1969. Na verdade, o disco tinha sido
lançado um ano antes, mas ainda não repercutira fora dos clubes e
danceterias de música negra.

[2] Se os primeiros skins vieram ou não do East End londrino, é


questão aberta ao debate, mas que o lugar é bom pra ter sido berço, lá
isso é.
Em 1972 a Penguin publicou um livro de autoria coletiva chamado THE
PAINTHOUSE ("A casa das tintas", trocadilhando com "penthouse",
"apartamento de cobertura") sobre uma gangue skin de Bethnal Green,
quando os skins estavam em declínio. Em todo caso, o livro não era
dirigido ao movimento, e sim à turma da sociologia. Mesmo assim, foi
um dos poucos registros impressos decentes sobre os skins originais, e
compensa a leitura se você tiver umas horinhas vagas. O livro está
baseado nas idéias e atitudes duma turma chamada Collinwood, a partir
do fato de que viviam à toa.

Painthouse era um misto de clube jovem e centro comunitário


desativado, que se transformou num segundo lar para os skins da
Collinwood. Já em 1968, eles usavam o uniforme de praxe: botas, jeans,
camisas Ben, blusões e capotes, e foram, portanto, uma das primeiras
gangues típicas. Não era essa a visão dos dois principais autores do
livro, já que os próprios meninos admitiam ter copiado o estilo de
rapazes mais velhos. O livro aborda diferentes aspectos na vida da
gangue, da escola ao futebol, das tretas à imigração, no que contribui
para disseminar o mito de que os skins seriam racistas desde o
primeiro dia. A "malhação do paki" ocorria ali como em outros setores
da sociedade, mas, por outro lado, havia também negros na gangue.
Infelizmente, porém, o mito pegou, sobretudo aos olhos de quem vê no
livro um estudo "definitivo" sobre skinheads. Mas o livro nunca
pretendeu tal coisa, e as opiniões da gangue em nada diferem daquelas
compartilhadas por várias gerações de meninos de rua. Ninguém precisa
ter o cabelo raspado pra ficar de saco cheio com a escola ou se
estranhar com alguém no futebol. No final das contas, os Collinwood
não passavam de meros adolescentes da classe operária, crescendo e
farreando com seus companheiros. E só porque torciam pro Spurs e
curtiam reggae, isso nem por sombra queria dizer que todos os outros
skins tivessem os mesmos gostos.

[3] O reggae deve muito de seu sucesso na Grã-Bretanha aos skins, que
o adotaram como sua própria música. Sucessos como "Wet dream" de Max
Romeo explodiram nos clubes e pubs sem apoio da mídia. Sistemas de
som, como o dirigido por Sir Neville The Enchanter, passaram a tocar
fora das comunidades antilhanas e chegaram a clubes freqüentados pela
juventude branca. Isso propiciou uma temporária convivência entre
garotos brancos e negros, que dançavam a noite inteira juntos sem o
menor problema. A paz durou até 1970, quando a assim chamada "Grande
Guerra do Reggae" comeu solta por nove meses, à revelia dos clubes e
das senhoritas que os freqüentavam. Num clube jovem do sul de Londres,
a resposta dos skinheads à canção "Young, gifted and black" de Bob &
Marcia foi cortar o fio dos alto-falantes e entoar o coro contrário de
"Young, gifted and white" ("Jovem, talentoso e branco"). Em 1971, o
reggae perdia parte de seu charme junto aos garotos brancos. A mudança
de rumo nas letras, em direção à Babilônia, Jah e outros temas
africanos, deixou muita gente a ver navios, e mais uma vez o som foi
ficando confinado nos guetos da colônia jamaicana.

[4] No início de 1970, começava na Grã-Bretanha uma turnê de quatro


semanas daquele que foi vendido como "o maior pacote turístico mundial
do reggae". No programa, figuravam os Upsetters, os Pioneers, Jimmy
Cliff, Harry J's All Stars, Desmond Dekker, Max Romeo e outros astros
jamaicanos.

[5] Aliás, a letra de Paul McCartney alude a um certo Desmond. (NT)

[6] "Skinhead girl" tem uma excelente cover Oi! pela banda Oppressed
(1984). "Skinhead moonstomp" tem cover num medley ao vivo pelos
Specials, intitulado "Skinhead symphony". (NT)

[7] A letra de "Israelites" é tão obscura e dialetal, que cada um a


entende e canta à sua maneira: "Get up every morning, slaving for
bread, sir / So that every mouth can be fed / Ohh, the Israelites,
sir." Pode variar pra "Wake up in the morning, working for bread, sir"
ou pra "Wake up in the morning, straight down to breakfast" ou pra
"Wake up in the morning, baked beans for breakfast". (NT)

[8] Durante a fase dos primeiros skins, os astros de soul americanos


disputavam com os astros de reggae jamaicanos os corações e pés dos
skinheads. As noites dançantes de ambos os gêneros animavam o país
todo, e muitos jamaicanos interpretavam números de soul nas
apresentações ao vivo. Na verdade, em 1969 o próprio Jimmy Cliff se
dizia um cantor de soul, e algumas das faixas que compôs foram cedidas
a Desmond Dekker e outros da Trojan. Soul e reggae têm muito em comum,
já que ambos derivam do velho rhythm and blues. Enquanto o rock'n'roll
ocupava o centro das atenções, a música jamaicana evoluía para o ska e
o R & B americano para o soul. Cada grande cidade americana tinha seu
som típico. De Detroit veio a Tamla Motown, uma gravadora que
desfrutou de grande sucesso nos anos 60. De Memphis veio o som mais
estridente da Stax, casa do grande Otis Redding e de Booker T & the
MGs. O soul foi muito consumido na Grã-Bretanha no começo dos anos 70,
quando as paradas pululavam de clássicos do gênero.

[9] Judge Dread é o nome de guerra de Alex Hughes, um dos primeiros


vocalistas brancos surgidos na gravadora Trojan, onde emplacou 16
singles de sucesso, vendendo 20 milhões de cópias. Antes de lançar
"Big Six", o "Juiz" trabalhara como leão-de-chácara e DJ no clube Ram
Jam e como guarda-costas de astros tipo Prince Buster e os Rolling
Stones. Ele começou na Trojan como cobrador de contas, mas,
ironicamente, veio a arcar com prejuízo de milhão de libras quando a
companhia faliu em 1975.
(O nome artístico é uma variante gráfica de Judge Dredd, personagem de
HQ muito popular na Inglaterra. NT)

[10] O autor alude aqui não aos "hardmods" (ou "gangmods"), tipos mais
barra-pesada dos quais derivaram os skinheads, mas sim ao lado
pó-de-arroz dos mods, os chamados "art college mods" ou "trendy mods"
(mods estudantes de arte ou mods modistas), cuja vaidade na aparência
beirava a frescura nos detalhes & retoques, extrapolando a "dureza" do
estilo skin. Em tempo: a palavra "mod" vem de "modern", o que já
indica a tendência ao lado "visual" do comportamento. (NT)

[11] O discurso de Powell profetizava que a Inglaterra seria banhada


por "rios de sangue" caso a imigração africana e asiática não fosse
detida.
"Rivers of blood" virou título dum clássico do cancioneiro skin,
gravado pela banda Brutal Attack nos anos 80.

Enoch Powell tinha sido ministro da saúde antes de se destacar como


membro do Partido Conservador no parlamento. Edward Heath, líder do
partido, não apoiava seu radicalismo racista, mas Powell não estava
nem aí pras conveniências. Na época do discurso, sua guarda pessoal
era formada por skinheads. (NT)

///

REGGAE SKINHEAD

O reggae foi sem dúvida o som "oficial" dos primeiros skinheads. O


soul também era popular, mas, ao contrário do reggae skin, tem tido o
espaço e a cobertura que merece em outros livros.

Este guia talvez venha de alguma forma reparar a omissão e equilibrar


as coisas, e poderá lhe dar algum subsídio na hora de pesquisar as
raridades ou relançamentos nas lojas. Nem de longe é um levantamento
completo, mas servirá de roteiro a quem não tinha por onde começar. Os
créditos pela ajuda na compilação vão para Iain McInlay e Steve
Barrows.

ACKEE - Etiqueta que esteve na praça entre 1969 e 1972, mais dois anos
sob controle da Trojan. Cerca de 50 lançamentos, com "Life of a
millionaire" de Dave Barker superando "Whispering bell" de Owen Gray.

AMALGAMATED - Antiga etiqueta da Trojan, uma das melhores para os


skins. No mercado entre 68 e 71, especializada em lançamentos
produzidos por Joe Gibbs para os Pioneers, Ken Parker, The Destroyers
e The Reggae Boys. Os melhores registros incluem "Nevada Joe" do
próprio Joe Gibbs & The Destroyers, "Wreck a buddy" das Soul Sisters,
"Only yesterday" de Ken Parker e "Them a laugh and kiki" dos
Soulmates, além das mais antigas e melhores faixas dos Pioneers.

ATTACK - Criada em 1969, uma das mais prolíficas etiquetas da Trojan,


com cerca de 130 singles e 20 álbuns, até o encerramento em 1978.
Todos os cobras pintaram nela alguma vez, inclusive Derrick Morgan, os
Upsetters e os Pioneers. Procurada por colecionadores por cobrir a
música jamaicana desde o reggae primitivo até o dub.

B & C - Parte do império da Beat & Commercial de Lee Goptal, lançou


material por volta de 1969.

BAF - Pequena etiqueta, conhecida por gravações instrumentais,


incluindo o primeiro lançamento do grupo The Cats, "Swan lake".

BAMBOO - Etiqueta britânica dirigida por Junior Lincoln de 1969 a


1972.
Mais de 70 lançamentos, incluindo os da Studio 1 com grandes nomes
tipo John Holt, Jackie Mittoo e o Sound Dimension.

BANANA - Outra etiqueta de Junior Lincoln, com o mesmo material da


Bamboo. Iniciou atividades em 1970 com John Holt, Ken Boothe e os
Freedom Singers.

BIG - Etiqueta da Trojan, especializada nas produções de Rupie


Edwards.
O próprio Rupie, Joe White e os Itals foram a prata da casa, a qual
emplacou 40 lançamentos entre 1970 e 1972.

BIG SHOT - Uma das mais tradicionais etiquetas da Trojan, que remonta
a 1968, antes mesmo da fusão da Island com a B&C. Cerca de 130
lançamentos, mais quatro discos de diamante, com nomes como Niney The
Observer, Rudi Mills, Lloyd & The Prophets e o impecável Judge Dread.
Entre os destaques, The Kingstonians com "Sufferer", ameaçado de perto
por Rudi Mills com "John Jones".

BLACK SWAN - Originalmente subsidiária da Island, lançou clássicos do


ska ainda em 63 e 64. Não confundir com lançamentos de 1970 sob o
mesmo nome. Altamente interessante para o colecionador, graças a um
plantel que inclui The Maytals, The Vikings, Delroy Wilson, Stranger
Cole, Ba Ba Brooks, Sonny Burke e Shenley Duffus.

BLUE BEAT - Etiqueta que dispensa apresentação para os fãs de ska.


Braço britânico da Melodisc, que registrou sete gloriosos anos de som
jamaicano, de 60 a 67. Rhythm & blues, ska, rocksteady, estava tudo
ali, incluindo mais de cem lançamentos de Prince Buster e vários de
Laurel Aitken e Derrick Morgan, entre os produzidos pelos quadros de
Duke Reid, Coxsone, Smiths, e outros. Seria preciso escrever um livro
só sobre esta gravadora para fazer-lhe justiça. Algumas preciosidades
são gravações de banda britânica com vocalista branco, sob a
supervisão de Siggy Jackson.

BLUE CAT - Etiqueta que lançou cerca de 70 singles de rocksteady,


reggae e soul entre 68 e 69. Principais astros foram os Pioneers, os
Maytones e Dermot Lynch. Alguns lançamentos de Coxsone, embora a
etiqueta não fosse da Studio 1.

BLUE MOUNTAIN - Etiqueta da Island com algumas boas faixas como


"Breakfast in bed" de Lorna Bennett.

BREAD - Pequena subsidiária da Trojan, com menos de 25 lançamentos.


Principais astros: Jackie Edwards e Del Dennis.

BULLET - Etiqueta da Pama, teve longa duração (69 a 75), mas os


melhores lançamentos estão nos primeiros anos. Bons clássicos skins,
como "Fistful of dollars" dos Crystalites e "V rocket" dos Fabions.

CALTONE - Divisão da R&B Records, dirigida por Rita e Benny King, com
boas faixas de rocksteady, destacando o talento de Tommy McCook e
outros. Foi arrendada do jamaicano Ken Lock, antigo empresário dos
Skatalites. Lançou as primeiras produções de Bunny Lee.

CAMEL - Clássico selo da Pama, com cerca de 100 lançamentos entre 1969
e 1973. Principais artistas: Owen Gray e as bandas The Techniques, The
Upsetters, The Maytones e Gloria's All Stars. Muito material bom, mas
para os skins o fundamental é "For a few dollars more" dos Upsetters,
"Who you gonna run to" dos Techniques (que inaugurou o selo) e
"Jumping Dick" dos Gloria's All Stars.

CARIBOU - Calipso e ska de 1965, incluindo clássicos como "Bellevue


blues" de Don Drummond e o quentíssimo "Belly lick" de Orville
Alphonso.

CARNIVAL - Etiqueta britânica de ska, produziu aqui todo seu material.


Apesar disso, é de primeira. Especializou-se no ska de rimas infantis
de Sugar'n'Dandy (Sugar Simone e Dandy Livingstone).

CLANDISC - Selo clássico da Trojan que emplacou algumas faixas legais


entre 1969 e 1972. Raramente lançou material ruim, graças ao nível de
Clancy Eccles, que dirigiu o selo, King Stitt, The Dynamites e Cynthia
Richards. "The world needs loving" de Clancy e "Vigarton" de King
Stitt inauguraram a etiqueta com chave de ouro.

COLLINS DOWNBEAT - Pequena gravadora dirigida por Sir Collins, que não
lançou mais que uma dúzia de discos, hoje raros. "Dry the water from
your eyes" de C. Collins e "I'm a fool for you" dos Uniques são
quentes.

COLUMBIA BLUEBEAT - Etiqueta que concentra o rocksteady produzido na


Grã-Bretanha em 67 e 68. Mais de dez lançamentos dos grupos The Bees,
Blue Rivers & The Maroons, Cindy Starr & The Mopeds e outros que
tocavam no circuito londrino dos clubes na época. Créditos para Siggy
Jackson.

COXSONE - Etiqueta britânica de Clement "Coxsone" Dodd, lançou cerca


de 100 gravações de rocksteady e reggae, incluindo clássicos de Slim
Smith, Jackie Mittoo, The Soul Vendors, Ken Boothe e Norma Fraser.
Segundo Steve Barrows, a gravadora é "clássica como a Chess, fértil
como a Sun, seleta como a Blue Note, memorável como a Motown".

CRAB - Indubitavelmente a mais seleta etiqueta da Pama, casa dos


maiores reggaes ao gosto skinhead. Cerca de 70 lançamentos entre 68 e
71, incluindo o melhor de Derrick Morgan: "Seven letters", "Night at
the hop" e "Moonhop". No nível de "Spread your bed" dos Versatiles,
mais o bom material dos Tennors, Ernest Wilson e The Kingstonians, que
fez o bom nome do selo.

CREOLE - Uma das muitas etiquetas da Trojan.

CRYSTAL - Etiqueta pouco conhecida. "Sherman", do grupo The Cats, saiu


por ela.

DICE - Principalmente ska e rhythm & blues, mais algum soul. A maioria
das gravações na Grã-Bretanha. "Blackhead Chinaman" de Prince Buster
(dedicada a Derrick Morgan) saiu neste selo.

DIRECT - Pequena gravadora britânica de ska, de meados dos anos 60.

DOCTOR BIRD - Provavelmente a mais colecionada de todas as etiquetas


de ska e reggae entre 1966 e 1969, esta subsidiária da Island lançou
incontáveis clássicos, incluindo "Skaing West" de Sir Lord Comic e
"Phoenix City" de Roland Alphonso. Os fãs de rocksteady colocam-na ao
lado da Treasure Isle em matéria de grandes lançamentos. Entre seus
álbuns figuram várias coletâneas do gênero.

DOWNTOWN - Etiqueta da Trojan especializada em lançamentos produzidos


por Dandy Livingstone entre 1968 e 1973. Cerca de 120 lançamentos, com
muito material medíocre no meio, e alguns destaques como "Reggae in
your jeggae" de Dandy e "Skinheads, a message to you" de Desmond
Riley, além de "Red red wine" de Tony Tribe.

DRAGON - Etiqueta do finado Byron Lee, durou de 1973 a 75, com algum
bom material dos Maytals e Eric Donaldson. Posteriormente encampada
pela Trojan.

DUKE - Tal como a Trojan e a Big Shot, foi uma das etiquetas que
precederam a associação da Island com a B&C. Entre 1968 e 1973, lançou
mais de 170 gravações e está entre as mais seletas etiquetas da
Trojan.
Principais astros: Boris Gardiner, Carl Dawkins, Winston Wright, The
Dials e The Techniques. Qualquer boa coleção de reggae skin tem que
ter uma cópia de "I wish it would rain" dos Techniques, "Elizabethan
reggae" de Boris Gardiner, "Love is a treasure" dos Dials e "The law"
de Andy Capp. O material mais antigo da gravadora é difícil de
descolar.
DUKE REID - Subsidiária da Trojan, tem material colecionável. Menos de
30 lançamentos. O interesse maior está nas gravações de U-Roy.

DYNAMIC - Outra subsidiária da Trojan, com 60 lançamentos importantes


entre 1970 e 1972. Principais intérpretes: The Slickers ("Johnny too
bad" é quente), Eric Donaldson e Dennis Alcapone.

ESCORT - Etiqueta da Pama, lançou alguma coisa boa entre 69 e 71, mas
não é o melhor da companhia. Principais artistas: Tony Scott, Stranger
Cole e Lloyd Charmers (ou Chalmers). Vale conferir "What am I to do"
de Tony Scott, que usa o ritmo de "Liquidator" com grande efeito, e a
versão de Denzil e Jennifer para "Young, gifted and black".

EXPLOSION - Etiqueta da Trojan, mais conhecida pelas gravações


instrumentais de 69 a 74. Os maiores astros foram Lloyd Chalmers, The
Crystalites e The G. G. All Stars, que nos deram o clássico skin "Man
from Carolina".

FAB - Partindo do ponto onde a Blue Beat tinha parado, este selo é
conhecido pelos lançamentos de Prince Buster, como "Madness" e o
temperadíssimo "Pharaohan house crash" (no ritmo de "Everything crash"
dos Ethiopians). Também é casa de clássicos tipo "Ride your donkey"
dos Tennors e de Owen Gray. Como os mesmos códigos de catálogo foram
usados para mais de uma gravação, o trabalho do colecionador vira um
pesadelo.
Há raridades dos Wailers, Ethiopians e outros, que ficaram esquecidas
na confusão.

GG - Etiqueta da Trojan, do começo da década de 70, com algumas boas


faixas dos Maytones, Max Romeo e G. G. All Stars. O principal produtor
foi Alvin Ranglin.

GAS - Selo da Pama de 1968 a 1971. Nos primeiros meses lançou algumas
faixas de rocksteady em meio a muito reggae. Alguns clássicos skins,
incluindo o melhor de Pat Kelly, entre cerca de 70 lançamentos. Para
quem não conhece Pat Kelly, vale conferir "How long will it take",
"Festival time" e "If it don't work out", só pra começar. "Sail away"
dos Marvels é outra faixa da Gas que não pode passar em branco.

GAYFEET - Pequena etiqueta da Trojan, sob a batuta da produtora Sonia


Pottinger. Cerca de dez lançamentos em quatro anos no começo dos 70,
mas a etiqueta vem dos anos 60, fundada pelo ex-marido Lindon, quando
lançou o ska de Baba Brooks, Lord Tanamo e outros.

GIANT - Etiqueta da R&B, especializada em rocksteady entre 67 e 68.


Dandy Livingstone, Ewan & Jerry, Junior Smith e Roy Shirley se
abrigaram neste teto. Mais de 40 lançamentos, incluindo antigas
produções de Bunny Lee para Pat Kelly, Ken Parker e Val Bennet.

GRAPE - Etiqueta da Trojan que lançou alguns clássicos skins na fase


1969-73. Verdadeira preciosidade é "Skinhead a bash dem" de Claudette
& Corporation. Valem a pena também "Loch Ness monster" de King Horror
e "Nevada Joe" de Joe Gibbs & The Destroyers, que também saiu pela
Amalgamated.

GREEN DOOR - Etiqueta rara, de reggae e soul, dos quadros da Trojan.


Inclui material antigo dos Wailers e velhas produções de Keith Hudson.

HARRY J - Etiqueta da Trojan, responsável pelo lançamento da maioria


do material de Harry Johnson na Grã-Bretanha entre 1969 e 1974 (os
primeiros registros saíram pela Trojan). Artistas principais: Harry J.
All Stars, Bob & Marcia e os Ethiopians. Já que "Liquidator" de Harry
J. saiu pela Trojan, a etiqueta Harry J. tem seu maior destaque na
versão de Bob & Marcia para "Young, gifted and black".

HIGH NOTE - Etiqueta da Trojan que atuou de 68 a 74, trabalhando com


material produzido por Sonia Pottinger. Pra variar, os melhores
lançamentos são os mais antigos, com alguns bons clássicos skins.
Principais astros: The Hippy Boys, Delano Stewart e The Gaytones.
Melhor lançamento: Patsy, com "Fire in your wire".

HORSE - Etiqueta da Trojan nos anos 70, uma das mais duradouras
(1971-78). Mais conhecida pelos dois hits de Dandy Livingstone,
"Suzanne beware of the devil" e "Big city".

HOT ROD - Etiqueta da Trojan especializada em lançamentos dos Hot Rod


All Stars.

HOT SHOT - Selo independente, de 1970, com poucos lançamentos.

ISLAND - Em se tratando de música jamaicana, a Island está na linha de


frente. Entre 1962 e 1968, lançou mais de 400 discos, a maioria de ska
e rocksteady. Um pouco de soul e reggae também, tudo de alto valor
para o colecionador, mais até que o material da Blue Beat. O único
inconveniente é o preço de alguns itens. É difícil escolher em meio a
tanta coisa boa, mas a ponta do iceberg no plantel da gravadora pode
ser resumida em Derrick Morgan, The Maytals, The Wailers, Jimmy Cliff,
Derrick Harriott e Theo Beckford.

JJ - Outra etiqueta de Harry J., algo curiosa, já que seus lançamentos


não passam de relançamentos do material da Dr. Bird e da Pyramid, como
"Hong Kong flu" dos Ethiopians.

J DAN - Etiqueta da Trojan, de 1970, especializada em material


produzido por Dandy, com ênfase nos lançamentos dos Music Doctors.

JACKPOT - Etiqueta da Trojan, com Bunny Lee por trás da mesa de


mixagem na maioria dos lançamentos. Entre 69 e 73, lançou mais de 100
singles, com gente tipo Pat Kelly, Slim Smith, Delroy Wilson, Derrick
Morgan e Dave Baker. "Seven letters" de Derrick inaugurou o selo,
muito embora Bunny tenha vendido a gravação também para a Crab.

JOE - Subsidiária da Trojan, cujos antigos lançamentos trazem códigos


do catálogo da Duke. Aqui o produtor foi Joe Mansano, com astros tipo
Dice The Boss e Joe The Boss. Boas gravações, como "Trial of Pama
Dice" de Lloyd Dice e Mum.

JOLLY - Parte da empresa situada em Stamford Hill, propriedade de


Benny e Rita King. Cerca de 20 lançamentos de rocksteady e reggae
entre 1968 e 1969.

JUMP UP - Etiqueta da Island do começo dos anos 60, posteriormente


reativada pela Trojan. Muito calipso "rude" tipo "Dr. Kitch" de Lord
Kitchener e "Pussy Galore" de Young Growler.

KALYPSO - Etiqueta similar à Jump Up em termos de produção, embora


preceda aquela em um ou dois anos. Algumas gravações antigas de Laurel
Aitken.

KING - Divisão da R&B, levando o sobrenome do proprietário. Não


ultrapassa os 20 lançamentos entre 1964 e 1965, incluindo soul e outro
material americano. Seu principal registro é "Do the ska" de Clive &
Gloria.

LIMBO - Calipso de 1960, por aí.

MARYLYN - Selo pouco conhecido, com pelo menos um reggae apresentável:


"Time is tight" de Pat Rhoden.

MOODISC - Apareceu como subsidiária da Trojan em 1970, lançando


material produzido por Harry Mudie. Desde 1971 partiu para uma atuação
independente. De uma forma ou de outra, boas gravações, incluindo
"Give me some more loving" de Slim Smith & The Uniques. Outros astros:
John Holt, The Rhythm Rulers e I-Roy.

NATIONAL CALYPSO - Selo de calipso da Studio One, de meados dos anos


60. Uns três discos dignos de nota.

NU BEAT / NEW BEAT - Certamente a melhor das etiquetas subsidiárias da


Pama, com cerca de 100 lançamentos, inicialmente como Nu Beat e depois
como New Beat. Perto de um quarto dos lançamentos foram de Laurel
Aitken, com seus melhores temas skins, tipo "Landlords and tennants",
"Pussy price", "Jesse James", "Skinhead train" e "Reggae '69". Outra
favorita dos skins é "Festival '68" de Clancy Eccles.

PAMA - Selo-matriz dirigido pelos irmãos Palmer, responsáveis pela


manutenção do bom nível do material. De 67 a 73, lançou cerca de 150
singles de rocksteady, soul e reggae, incluindo "Birth control" de
Lloyd Terrell e "Skinhead shuffle" dos Mohawks. Clancy Eccles e Alton
Ellis foram outros contratados da gravadora.

PAMA SUPREME - Departamento de reggae da Pama, elencando mais ou menos


os mesmos astros. Alguns dos melhores lançamentos do selo saíram após
a primeira onda skin, em 73.

PLANETONE - Antiga etiqueta de ska britânica, com cerca de uma dúzia


de lançamentos. Chegou a fazer concorrência à Island, mas foi alijada
do mercado por não poder competir com a qualidade dos lançamentos da
outra.

PORT O JAM - Etiqueta da R&B de 64, forneceu à Studio 1 lançamentos de


ska tipo Lee Perry e Lord Creator.

PRESSURE BEAT - Etiqueta da Trojan, lançou produções de Joe Gibbs no


começo dos anos 70. Cerca de 20 lançamentos, incluindo Peter Tosh e
Lord Comic.

PRINCE BUSTER - A Blue Beat gerou a Fab, que gerou a Prince Buster.
Poucos lançamentos em 67, mas o grosso dos seus cerca de 50 itens saiu
entre 71/72. O "Príncipe" (o próprio Buster) foi o principal astro, é
claro ("Big Five" e "Rough rider" foram antigos lançamentos), com
Dennis Alcapone e John Holt na retaguarda.

PUNCH - Clássica etiqueta da Pama que lançou alguns grandes números de


reggae skin entre 1969 e 1972. Mais de 100 lançamentos, altamente
interessantes para o colecionador. Entre eles, "Dry acid" de Count
Sticky & The Upsetters, "Too experienced" de Winston Francis, "Clint
Eastwood" dos Upsetters e "Shock of mighty" de Dave Barker.

PYRAMID - Subsidiária da Island de 67 a 69, brevemente revivida pela


Trojan em 1973. Por volta de 80 lançamentos, incluindo "54-46 that's
my number" dos Maytals, "Tougher than tough" de Derrick Morgan, e o
primeiro reggae bem-colocado nas paradas, "Israelites" de Desmond
Dekker. A maioria do material é produção de Leslie Kong.

Q - Etiqueta da Trojan de 1970, batizada depois do clube homônimo de


Count Suckle localizado em Praed Street, Paddington. Possivelmente
selo de um lançamento só, a gravação de "Please don't go" de Count
Suckle e Freddie Notes & The Rudies.

R&B / SKA BEAT - Selo principal do esquema da R&B, dirigida pelo casal
King a partir da loja em Stamford Hill, Londres. Entre 1963 e a venda
da empresa em 67, saíram mais de 300 lançamentos, figurando ao lado da
Island e da Blue Beat no mercado de ska. Principais astros: The
Wailers, Delroy Wilson, Lee Perry, Dandy Livingstone e Winston
Samuels. Grande selo.

RAINBOW - Subsidiária da Melodisc, com cerca de 20 singles de


rocksteady e soul durante 1966 e 1967. Principais contratados foram
Prince Buster e Laurel Aitken, embora o lançamento de maior sucesso
tenha sido "Rude girls" de Doreen & The Rude Girls.

RANDYS - Etiqueta da Trojan especializada nas produções de V. Chin


entre 1970 e 1973. Alguns bons itens, incluindo "Pepper pot" dos
Randy's All Stars.

RHINO - Subsidiária da Creole, depois que esta se desvinculou da


Trojan. Entre 72 e 74, agitou uns 30 lançamentos, alguns ao gosto do
reggae mais pop e comercial. Dave Collins, Bruce Ruffins, Desmond
Dekker e Winston Francis foram o recheio do bolo.

RIO - Etiqueta da Island/B&C, parte do grupo da Dr. Bird. Entre 63 e


67 lançou cerca de 140 singles, a maioria produzida na Grã-Bretanha,
exceto lançamentos de rocksteady jamaicanos tipo "Train to Skaville"
dos Ethiopians e "Don't be a rude boy" dos Rulers. Também muito
material de Laurel Aitken e da Studio One.

RYMSKA - Etiqueta de ska britânica de 64. Muito poucos lançamentos,


mas não à altura dos da Jamaica.

SIOUX - Cerca de 25 lançamentos durante 1971 e 1972 deram a esta


gravadora independente alguns sucessos menores tipo "Heavy reggae" dos
Roosevelt Singers, uma versão do "Johnny Reggae". Principais
intérpretes foram Sammy Jones, Joe Higgs e P. Jackson.

SMASH - Etiqueta da Trojan de 1970 a 1973. Principais astros foram


Delroy Wilson, Keith Hudson e John Holt. Melhor faixa? Talvez "Stop
them" de Bill Gentles.

SONG BIRD - Subsidiária da Trojan que lançou menos de 90 singles


produzidos por Derrick Harriott entre 1969 e 1973. O cara devia adorar
western spaghetti, já que a maioria dos títulos parecia tirada
daqueles filmes de bangue-bangue. Principais artistas: The
Crystalites, The Kingstonians e o próprio Derrick. Faixas vitais para
os skinheads são "Singer man" dos Kingstonians, "The undertaker" e
"The overtaker" dos Crystalites e "Isies", da mesma banda de estúdio.

SOUND SYSTEM - Etiqueta independente com poucos lançamentos entre


1969-70.

SPINNING WHEEL - Etiqueta da Trojan com mais ou menos dez lançamentos,


incluindo produções de Lee Perry, tudo do começo dos anos 70.
STARLITE - Etiqueta bem antiga, de 1960, cujos lançamentos apareceriam
depois na Island. Tem a seu crédito uns 80 singles de astros como
Laurel Aitken, Owen Gray, Wilfred Edwards (mais conhecido como Jackie)
e outros.

STUDIO ONE - Etiqueta britânica, clássica porém rara, que lançou


material de Coxsone Dodd entre 67 e 69. Principalmente rocksteady de
gente como Ken Boothe, The Heptones, Delroy Wilson, The Soul Vendors e
Jackie Mittoo.

SUCCESS - Etiqueta da Pama de 1969 a 1970, com cerca de quinze


lançamentos produzidos por Rupie Edwards. Algumas faixas
apresentáveis, incluindo "Fat girl, sexy girl" de John Holt.

SUMMIT - Etiqueta da Trojan do começo dos anos 70, com cerca de 45


singles lançados, incluindo duas grandes faixas dos Maytals, "Peeping
Tom" e "Monkey girl".

SUPREME - Etiqueta da Pama (não confundir com a Pama Supreme). Entre


1969 e 71, lançou cerca de 30 singles. Nada muito digno de nota,
exceto um punhado tipo "Work it up" de Jack & The Beanstalks (também
chamados The Kingstonians) e "Starvation" dos Pioneers.

SWAY - Etiqueta de ska da Planetone, de 63. Só três lançamentos.

TECHNIQUES - Etiqueta da Trojan com mais de 30 lançamentos entre 1970


e 1974. Winston Riley era o produtor e entre os contratados figuravam
Dave & Ansel Collins, que emplacaram hits como "Monkey spanner" e
"Double barrel".

TORPEDO - Selo independente, que lançou 35 singles especiais durante


1970 e que foi brevemente revivido em 1975. Os Hot Rod All Stars foram
o grande nome da gravadora, uma banda que nos deu um single precioso,
com "Moonhop in London" dum lado e "Skinhead moondust" do outro, além
da célebre "Skinheads don't fear".

TREASURE ISLE - Entre 1969 e 1973 foi uma etiqueta da Trojan, mas nos
dois anos anteriores tinha lançado rocksteady como parte do esquema da
Island. O nome vem da etiqueta jamaicana da Duke Reid, responsável por
algumas das melhores faixas de rocksteady. É só conferir qualquer
coisa de Phillis Dillon, especialmente "Things of the past". Já nas
mãos da Trojan, alguns clássicos skins vieram à luz, incluindo
"Skinhead moonstomp" e "Parson's corner" do grupo Symarip (também
chamado The Pyramids) e "Pop a top" de Andy Capp.

TROJAN - Inicialmente (1967) uma etiqueta da Duke Reid para


lançamentos de rocksteady. Foi o nome escolhido pela associação da
Island com a B&C para introduzir o reggae na Grã-Bretanha. Os
primeiros lançamentos são os mais raros e geralmente os melhores; os
últimos perdem muito da dura aspereza com o emprego de cordas,
orquestrações e outras excrescências do pop. Mesmo assim, há muita
faixa boa a escolher, inclusive clássicos skins. Quem não se tocou com
"Tighten up" dos Untouchables, ou "Place in the sun" de David Isaac,
ou "Love up kiss up" dos Termites, ou "Fattie fattie" de Clancy
Eccles, ou "Sweet sensation" dos Melodians, ou "Barbwire" de Nora
Dean, ou "Monkey man" dos Maytals, ou "Angel of the morning" de Joya
Landis...? Não é de admirar que Trojan tenha virado sinônimo de
reggae.

TROPICAL - Por volta de 20 lançamentos, com Max Romeo e Dennis


Alcapone fornecendo o grosso do material para esta gravadora
independente.

UNITY - Grande etiqueta da Pama. Entre 1968 e 1970, entrou com mais de
70 singles, na maioria reggae, com algum ska. Clássicos skins incluem
"Return of Jack Slade" e "Top the pop" de Derrick Morgan, "Wet dream"
de Max Romeo e seu "Clap clap" com os Hippy Boys, "1,000 tons of
version" de Jeff Barnes, "Peyton Place" de Don Tony Lee e "Pepper
seed" de Ranny Williams. Mais um montão de coisas de Slim Smith.

UPSETTER - No campo do reggae skin, esta foi a melhor resposta da


Trojan aos tiros certeiros da Pama. Entre 1969 e 1973, Lee Perry e sua
banda de estúdio The Upsetters vieram com grandes faixas: "Return of
Django", "The night doctor", "Live injection", "Cold sweat" e "Shocks
'71" com Dave Barker. Fique de olho também em "Come into my parlour"
dos Bleechers e "Kiddy-O" dos Muskyteers.

VÁRIOS - Sempre vão aparecer duas ou três faixas apresentáveis numa


gravadora que não seja necessariamente especializada em som jamaicano.
"Johnny Reggae" dos Piglets, por exemplo, saiu pela Bell. [1] Outros
exemplos podem ser encontrados na Atlantic, Columbia, Fontana
(especialmente Millie), President e Page One. Outras subsidiárias da
Trojan que podem cruzar o caminho do colecionador são a Action, a
Ashanti, a CSP e a Sacred, embora nenhuma delas tenha interesse
específico para os skinheads.

///

[1] Para muitos, Jonathan King não passa dum gabola metido a sabichão,
mas justiça lhe seja feita: ele ao menos diz o que quer e não o que as
pessoas querem ouvir, e nesse ponto merece algum respeito. Ainda nos
anos 60 e no começo dos 70, Jonathan King manjava de tudo no negócio
da música. Enquanto os pretensos cobrões todos trabalhavam em álbuns
"conceituais", Mr. King tinha toda uma série de hits no gênero
"bubblegum pop" (isto é, pop "descartável" como chiclete) debaixo duma
porrada de pseudônimos. Surpreendente hit de 1970 foi o terceiro lugar
obtido por "Johnny Reggae" (Bell) dos Piglets. A música falava sobre
"a real tasty geezer" (um camarada gostosão pra caramba) que usava
"two tone tonic strides" (calças de tonic de dois tons) e que olhava
sua menina nos olhos "when he shoots" (quando gozava). Claro que os
Piglets nunca existiram fora do estúdio, e basta uma olhada mais
atenta no disco pra verificar que ele foi "concebido, criado,
produzido e dirigido por Jonathan King". A banda nada mais era que
três vozes novatas cantando em falso sotaque cockney (londrino) e
fingindo ser putas velhas de 30 anos.
Curioso foi que King imaginava que o disco seria o último prego no
caixão do reggae, e, ironicamente, a gravação é tida hoje como um
clássico por muitos skinheads.

///

O ATAQUE ÀS PARADAS

A popularidade do reggae, no período que vai do final da década de 60


ao princípio dos anos 70, fica claramente atestada pela quantidade de
colocações na parada. Todas elas produções de pequenas gravadoras, e
poucas programadas nas rádios ou comentadas na imprensa musical. A
melhor posição alcançada na lista dos mais vendidos vem assinalada
após os dados discográficos de cada canção.
1969
Desmond Dekker & The Aces - "Israelites" (Pyramid) 1
The Cats - "Swan Lake" (Baf) 48
Max Romeo - "Wet dream" (Unity) 10
Desmond Dekker & The Aces - "It mek" (Pyramid) 7
Tony Tribe - "Red red wine" (Downtown) 46
The Upsetters - "Return of Django" (Upsetter) 5
The Pioneers - "Long shot kick de bucket" (Trojan) 21
Harry J All Stars - "Liquidator" (Trojan) 9
Jimmy Cliff - "Wonderful world, beautiful people" (Trojan) 6

1970
Desmond Dekker & The Aces - "Pickney gal" (Pyramid) 42
The Melodians - "Sweet sensation" (Trojan) 41
Derrick Morgan - "Moonhop" (Crab) 49
Boris Gardiner - "Elizabethan reggae" (Duke) 14
Jimmy Cliff - "Vietnam" (Trojan) 46
Bob & Marcia - "Young, gifted and black" (Harry J) 5
The Maytals - "Monkey man" (Trojan) 47
Nicky Thomas - "Love of the common people" (Trojan) 9
Desmond Dekker - "You can get it if you really want" (Trojan) 2
Horace Faith - "Black pearl" (Trojan) 13
Freddie Note & The Rudies - "Montego Bay" (Trojan) 45

1971
Dave and Ansel Collins - "Double barrel" (Technique) 1
Bruce Ruffin - "Rain" (Trojan) 19
Bob & Marcia - "Pied piper" (Trojan) 11
Dave and Ansel Collins - "Monkey spanner" (Technique) 7
Greyhound - "Black and white" (Trojan) 6
The Pioneers - "Let your yeah be yeah" (Trojan) 5

1972
Greyhound - "Moon river" (Trojan) 12
The Pioneers - "Give and take" (Trojan) 38
Greyhound - "I am what I am" (Trojan) 20
Bruce Ruffin - "Mad about you" (Rhino) 9
Dandy Livingstone - "Suzanne beware of the devil" (Horse) 14
Judge Dread - "Big 6" (Big Shot) 11
Judge Dread - "Big 7" (Big Shot) 8

1973
Dandy Livingstone - "Big city" (Horse) 26
Judge Dread - "Big 8" (Big Shot) 14

///
Capítulo Dois
FILHOS DO SKINHEAD

[O tempo não pára pra ninguém, e isso vale particularmente para os


movimentos juvenis. Apesar dos solenes & afoitos juramentos de
permanecer skinhead a vida toda, no fundo todos sabem que chega a hora
de pendurar as botas e suspender os suspensórios. É assim com todo
movimento, guardadas as poucas exceções de praxe. Se amanhã um
vovozinho punk aparecer no jornal, não terá maior credibilidade que o
monstro de Loch Ness. Tudo acaba virando lenda.]

Quer dizer, há algo de muito especial no fato de ter participado dum


movimento, e isso fica para o resto da vida. Aos trinta, você já pensa
completamente diferente, mas um pedaço do seu coração continua fiel à
causa até a morte. Se eu ganhasse dez pence cada vez que um bêbado
brinda comigo confidenciando "Eu já fui skinhead, sabia?", eu não
precisava jogar na loteria toda semana.

"Eu me tornei skinhead porque era moda, e porque queria alguma coisa
pra fazer à noite. Era só uma moda. Quer dizer, agora eu uso calça de
botões brilhantes. Me livrei do capote." (Alan Timms, ex-skinhead de
Archway, 1971)

Todos temos que crescer, e nossas prioridades mudam à medida que


amadurecemos. Nada como brincar de coisa séria pra esquecer a
juventude desperdiçada. Num ano você percorre a feira atrás duma nova
camisa Brutus; no outro você corre atrás dum novo emprego e atrás do
bonde. De repente, seu cabelo cresceu e suas responsabilidades também.
Sem falar no fato de que os movimentos jovens também envelhecem e
mudam com a moda.

O movimento skinhead cativou de tal maneira os garotos da classe


operária que não poderia se esvair da noite pro dia no limiar da
década de 70. Alguns marmanjos broncos só estavam numa de ir na onda
do cabelo raspado, da bota e da bagunça, enquanto outros ainda teriam
gás para mais uns anos de fidelidade aos valores. Mas o número destes
últimos tendia a diminuir, deixando claro que somente uns poucos
apóstolos levariam a fé adiante, em direção às novas gerações.

Os tablóides tinham estigmatizado o skinhead como um desmiolado e


pernicioso valentão. Poucos fizeram jus ao rótulo e muitos deram tudo
de si para merecê-lo, mas ele não beneficiou ninguém.

Ser detido ou deixar o campo de futebol começa a perder a graça na


terceira vez. Há muita diferença entre dar uma de otário e ser otário
a vida inteira.

Um grande número de skinheads começou a deixar crescer o cabelo assim


que virou inevitável e instantânea a associação dos skins com a
escória da botinada. Ternos e sapatos, que eram quase que
exclusivamente usados à noite, viraram traje padrão a qualquer hora do
dia. O visual skin não chegou a desaparecer por completo, mas já
ficava claro qual seria o novo protótipo do pedaço. Um bicho mais
maneiro & maneiroso, que atenderia pelo nome de "suedehead" (cabeça-
de-camurça).

Os suedeheads foram produto dos grandes centros urbanos, e estavam


vários quarteirões à frente de seus primos do interior em matéria de
estilo. Poucos skins tinham se vestido naquela que viria a ser a moda
suedehead, mas já no fim de 1969 o suedehead se delineava como um
movimento à parte, principalmente em Londres e no sul.
O nome "suedehead" veio do cabelo à escovinha que, ao crescer, ganhava
aparência de camurça. O cabelo era longo o bastante para o pente, mas,
a rigor, curto a ponto de manter a tradição de visual "durão" do
skinhead. Nas garotas, o estilo suedehead era mais longo. Pouquíssimas
garotas skins (as "skingirls") tinham usado cabelo à escovinha, ainda
que uma ou outra fosse a um barbeiro masculino para escapar do preço
dos cabeleireiros de madame. As que já usavam cabelo mais comprido
simplesmente continuaram usando na fase suedehead e dali em diante. Os
cortes estilo feathercut ou Jean Shrimpton permitiam cabelo mais
crescido e cheio, que na garota certa podia ter efeito irresistível.

Roupas unissex geralmente caíam melhor e davam aparência mais


arrojada, lembrando um pouco o "atrevimento" mod. Um suede vestido
informalmente podia estar de sapato sem cadarço (loafer), Levi's "sta-
press", camisa Fred e uma jaqueta leve tipo Harrington. Para uma
grande noitada, não se poupavam despesas. Sapatões de amarrar, com
sola grossa e bem engraxados (tipo "brogue"), um terno alinhado, uma
Bennie e um sobretudo ou capote (tipo "crombie") ficavam bem.

Os ternos mantinham seu status, sua simbologia, mas no novo visual


eram feitos de material mais barato e chamativo. A maioria dos ternos
skins eram de cores neutras, em mohair e tonic, ou ao menos uma
imitação, quando a grana não dava pro original. Já os suedeheads
tendiam para tons mais claros de marrom ou azul, ou mesmo para o "azul
gasolina" ou dois tons contrastantes de tonic. Também se podia sair de
terno xadrez, estilo Príncipe de Gales, que ninguém da turma
estranharia.
Suspensórios foram substituídos por cintos. Outra peça favorita do
vestuário suede era o blazer com brasão do seu time de futebol, bem no
estilo final de campeonato.

Alguns suedeheads levavam o estilo "cavalheiro urbano" tão ao extremo,


que chegavam a carregar guarda-chuva e usar chapéu-coco.

Hoje em dia ninguém acredita que um verdadeiro homem precise de


guarda-chuva, mas usá-lo podia não ser tão "caricatural" como se
imagina. Vá lá que desfilar pela rua de guarda-chuva no braço era algo
diametralmente oposto do sujeito durão com cara de poucos amigos que
os skinheads personificavam alguns meses antes. Mas a coisa não era só
"fazeção de gênero". Alguns guarda-chuvas tinham ponteiras metálicas
que dariam apoio "logístico" numa sessão de porrada, sem falar que, em
caso de chuva, seu casaco podia ficar livre daquele cheiro de cachorro
molhado.

"Eu me lembro das roupas leves e exibidas, das pessoas que não estavam
mais a fim de posar de gente grossa." (Chris Lightbrown, skinhead de
West Ham)

O capote (chamado de "crombie") era o tipo do sobretudo próprio para


usar com um terno bem-apanhado, e, juntamente com a jaqueta
Harrington, mais modesta, compunha um guarda-roupa mais que
respeitável para um suedehead. Claro que poucos suedes tinham meios de
comprar um genuíno sobretudo Abercrombie, mas dava para encomendar um
parecido no alfaiate local ou então descolar uma imitação. Os velhos
casacões de pele também continuavam fazendo a cabeça e nunca sairiam
de moda. Tal como eles, os crombies eram usados nos círculos skins
desde 68, mas sua época áurea foi 1970. Chegou a haver inclusive uma
espécie de "submovimento" conhecido como "crombie boys", que só usavam
a roupa certinha, fosse ela skinhead ou suede, mas sempre com
colarinho e cabelo comprido até o ombro. Era um visual comum em certas
áreas, particularmente em North Kent. O astro branco dos skins, Judge
Dread, tinha longa cabeleira ao mesmo tempo que cantava sobre gente
careca, tal qual muitos de seus seguidores, que eram skinheads em
tudo, menos na cabeça raspada, que permanecia cabeluda.

"É gozado: quanto mais longe você vai no território das turmas do
Black Country [1], mais velhos são os estilos. Tem gente ali que ainda
usa coturno, enquanto aqui na cidade nós todos usamos 'brogues'. Os
tiras nos pegavam se a gente estivesse de bota. 'Brogues' parecem
inofensivos, mas podem machucar." (Bob, 18 anos, chefe da Quinton Mob,
galera de Birmingham composta de bootboys, 1971)

Logo os suedeheads também foram deixando o cabelo crescer e, ali por


volta da primavera de 1971, muitos deles iam se tornando "smoothies".
As datas são necessariamente vagas, já que os estilos pintam em graus
diferentes em áreas diferentes. Em alguns lugares os smoothies já
circulavam desde o verão de 1970, enquanto noutros a fase das botas e
suspensórios ainda não tinha passado. Certos pontos abrigavam uma
convivência mista de skins, suedes, smooths e bootboys a um só tempo.

Os "smooths" ganharam seu nome devido ao estilo de cabelo, que era


curto no alto e comprido até o colarinho atrás e dos lados. Rod
Stewart chegou a usá-lo quando era mais pobre. Eles também eram
chamados "smoothies" por causa de suas preferências por sapatos bem
lisos, sem muitos detalhes ou arremates. Usava-se muito um tipo de
sapato onde o couro imitava o trançado de cesta, chamado Norwegian
(sem dúvida porque tal sapato nunca ganharia um concurso de elegância
"careta" tipo Eurovision Shoe Contest). [2]

Os smoothies se vestiam mais informalmente que seus priminhos


suedeheads, preferindo camisas menos "sociais", calças listradas ou
axadrezadas, blusões (às vezes sem mangas, chamados "tank tops"),
geralmente em chamativas combinações de cores, propositalmente de "mau
gosto". À noite, porém, ternos em tonic e "crombies" ainda tinham
largo uso.

Pela primeira vez, as garotas tinham seu próprio nome enquanto tribo.
As "smoothie girls" eram chamadas "sorts". O skinhead tinha sido um
movimento eminentemente machista, mas, à medida que evoluiu, as
"skingirls" desenvolveram seu estilo peculiar, que se manteve na fase
suedehead, e, por volta de 1971, elas partiam para uma identidade à
parte como "sorts". Neste caso o cabelo também ficou mais longo, mas o
rigor no vestuário continuava sendo a prioridade máxima, com
conjuntinhos de duas peças de trevira, camisas Brutus, medidas
justinhas e aqueles pesados sapatinhos de enfermeira, tão charmosos,
que completavam o modelito feminino.

"Nunca existiu essa de primeiro skins, depois suedes, depois


smoothies.
Era tudo misturado, você se vestia conforme a ocasião." (Roddy Moreno,
skinhead de Cardiff)

Para muitos, os smoothies pareciam comuns demais, sem nada que os


distinguisse em matéria de "uniforme" ou de identidade grupal. Quase
ninguém reparava neles, como se não passassem de fogo-de-palha.
Praticamente todos os vínculos com os "antepassados" skins estavam
cortados, muito embora a maioria dos smooths tivesse sido skinhead
há um ou dois anos. Dessa forma, o movimento smooth nunca obteria a
notoriedade dos skins, nem mesmo a dos suedes, e estava, portanto,
fadado à vida curta. Já no final do ano eles estariam virtualmente
sumidos.
Entretanto, os smooths tiveram seus gêmeos não-idênticos, que iriam
sobreviver melhor na década de 70. A violência no futebol atingiria
níveis sem precedente durante as temporadas de 1970-71 e 1971-72, e
foi nessa reviravolta que pintou a segunda onda dos bootboys.

Enquanto que os smoothies herdaram os valores tribais dos skinheads e


dos suedeheads, os bootboys adotaram a faceta das arquibancadas. Tanto
suedes quanto smooths eram primordialmente movimentos sulistas, embora
certos aspectos de seu vestuário não conhecessem fronteiras (como os
"crombies", por exemplo). Já os bootboys podiam ser vistos por toda
parte nas ilhas britânicas, como prolongamento natural dos skinheads.

No caso dos bootboys, a música e a moda desempenhavam papel secundário


em suas vidas, já que tudo convergia para a treta em torno de
territórios, fossem eles uma cidade do interior, um bairro de
metrópole, um pub ou um clube de futebol. Soul e reggae ainda gozavam
de alguma popularidade para uns ou outros, mas a maioria consumia o
que estava nas paradas ou em oferta na esquina. O movimento se
preocupava com a vida grupal enquanto gangue, nada mais.

As gangues de bootboys eram chamadas de "mobs" ("quadrilhas" ou, em


termos de futebol, "galeras"), onde os moleques mais novos gravitavam
em volta dos mais velhos, que formavam o núcleo. Assim, por exemplo,
havia uma Holmesdale Mob e também uma Holmesdale Star, espécie de
"time de juniores" da galera maior. Mais ou menos como as atuais
torcidas organizadas de hooligans "under-five", como são chamadas as
alas mais jovens (menores de idade). E não parava por aí: havia até
"mobs" de bootgirls, que também arranjavam nomes para se batizarem.
[3]

A maioria dos bootboys fora skinhead, mas tinham "pulado" as fases


suedehead e smooth. Estavam quase todos em seus 19, 20 anos, e se
consideravam uma espécie de elite mais experiente e calejada.

Já os bootboys mais jovens encaravam os velhos skins como


ultrapassados e decadentes. A coisa se colocava em termos de skins a
pé, querendo voltar pra casa sem saber que ônibus tomar, enquanto os
bootboys saíam a passeio organizando uma caravana de jipes e peruas.
[4]

O futebol era o ponto alto da semana dum bootboy. Casacos brancos tipo
açougueiro, geralmente com o nome do time gravado nas costas e manchas
de sangue respingado, representavam a última palavra no estilo
arquibancada da época. Diz a lenda que a Shed (galera do Chelsea)
inventou essa maluquice, mas a verdade é que torcedores da Inglaterra
toda aderiram ao pano branco ensangüentado.

Era aí que entravam os pequenos batalhões de fanáticos, vestindo terno


branco que estilizava o clima de LARANJA MECÂNICA, sequiosos da velha
ultraviolência. [5]

O time de maior torcida hooligan ainda era o Manchester United, com


clubes como o Spurs, Stoke City e West Ham no seu encalço. A mídia
fazia sensacionalismo em cima, e muitos jogos acabavam em pancadaria,
principalmente se a Red Army (torcida do Man Utd) estivesse no meio.
Os noticiários de TV pareciam ter suas câmeras sempre a postos, e todo
mundo parecia jogar para a platéia. Mas ainda sobrava espaço para as
velhas rivalidades, e o torcedor comum só escaparia das botinadas se
ficasse na dele, fora do pega-pra-capar. Os trens, contudo, já não
eram tão depredados como antes, para alívio da British Rail, apesar de
que houve um que teria sido "seqüestrado"!

"Sempre me lembro de quando eu ia me divertir com meu irmão mais


velho, e nós sempre tocávamos ska, tipo 'Live injector' e 'Monkey
spanner'.
Não era como essa merda de hoje. No futebol, a mesma coisa. Naquela
época o coro da torcida tinha refrões das canções pop do momento. Que
fim levaram todas aquelas grandes canções?" (Martyn Sears, skin de
Sittingbourne)
Botas & tretas à parte, os bootboys de arquibancada pouco tinham em
comum com os skinheads que haviam tomado conta do pedaço algum tempo
atrás. Por volta de 1972, os últimos traços do estilo skin estavam
confinados ao norte, onde o movimento sobreviveria até 1974.
Naturalmente o movimento não chegou a morrer de todo, mas ficou na mão
(ou no pé) duns poucos gatos pingados a missão de carregar a bandeira
(ou, às vezes, de pisá-la).

As lojas da High Street tinham novos estilos em suas prateleiras,


prontos a atacar as próximas gerações de trouxas que tentavam se
situar no difícil universo adolescente. O reggae tinha perdido o
charme para muitos garotos brancos, já que colocava seus talentos a
serviço do espírito de Jah, do rastafarianismo e doutros temas
africanos. O "glam rock" era a nova onda, e uma porrada de hooligans
partia pra parafernália debilóide do Slade e do Mott The Hoople. Até o
soul tinha sido eclipsado pelo funk, e o gênero discoteca à la John
Travolta logo encontraria terreno fértil. No meio disso, algo tão bom
como o skinhead não podia desaparecer nem ser esquecido, de forma que,
quando Judge Dread lançou seu clássico "Bring back the skins" no álbum
"LAST OF THE SKINHEADS" (Cactus), mal supunha ele que poucos anos
depois seu sonho e seu apelo se converteriam em realidade. [6]

///

[notas/boxes ao capítulo 2]

[1] Black Country (Região Negra) é a denominação dada à poluída área


industrial de West Midlands na Inglaterra. (NT)

[2] As palavras "smooth" (lisura) e "smoothy" (lisinho) referem-se ao


cabelo liso, no sentido próprio, e ao comportamento sonso, no sentido
figurado, equivalendo mais ou menos ao nosso "pisa-mansinho" ou
"pisa-macio". (NT)

[3] Um ex-skinhead chamado Chris Lightbrown é autor dum guia de campos


de futebol onde, sob cada verbete dedicado a um time, aparecem vários
códigos em forma de logotipos. Uma bota significava que os skins
freqüentavam o respectivo estádio; setas indicavam tretas freqüentes;
capacete de polícia com um "X" significava polícia já de prevenção
contra o torcedor; sem o "X", polícia não-violenta, e assim por
diante.
Os principais times em matéria de treta eram o Manchester United, o
Manchester City, o West Ham, o Spurs e o Stoke City. O Ipswich Town
era famoso pelo contingente feminino de sua torcida, e coisinhas do
gênero.
Poucas armas foram usadas em 1972, embora a temporada anterior tivesse
sido particularmente violenta. Alguns times nortistas ainda tinham
galeras formadas por skins, mas em geral o hooligan não usava um
"uniforme" típico. O guia de Chris chama a atenção para o fato de que
a queda de público nos estádios se devia menos ao hooliganismo que ao
próprio baixo nível do futebol apresentado pelos times, e que o
torcedor comum ia ao campo para ver o espetáculo e não para comprar
briga. Vinte anos atrás, Chris apontava outro fator bem atual: o
torcedor era vítima do pouco caso dos clubes, o que não mudou nada. Na
época, Chris tinha 19 anos e se tornou correspondente do SUNDAY TIMES.

[4] INVASÃO SKINHEAD!

Provavelmente o skinhead mais famoso de todos é um tal de Joe Hawkins.


Uma façanha para um moleque arruaceiro que só existiu nas brochurinhas
baratas escritas por seu criador, Richard Allen.

Joe fez sua primeira aparição em 1970, na novela SKINHEAD, publicada


pela New English Library. O movimento estava no auge, e as aventuras
do "velho" Joe Hawkins eram leitura obrigatória de todo skin que se
prezasse. Milhares de exemplares foram vendidos, e o buchicho em torno
do assunto só ajudava a vender mais. No final do ano, SKINHEAD estava
na lista dos dez bestsellers, e Richard Allen (nome verdadeiro: James)
era autor consagrado.

Logo saiu uma continuação intitulada SUEDEHEAD, onde Joe saía da


prisão para encontrar o movimento já mudado. A partir daí, novos
livros foram saindo de tempos em tempos, cada um tentando faturar em
cima da onda mais recente. SMOOTHIES, BOOT BOYS, TERRACE TERRORS, até
chegar ao PUNK ROCK e ao MOD RULE.

Hoje virou moda pichar as novelas de Richard Allen, o que não é


difícil. Se Joe não estava na cama com alguma menina, estava metendo a
bota nalgum pobre coitado, malhando algum paki, tramando algum assalto
ou coisa que o valha. Nem sei como é que ele achava tempo para
assassinar um tira, mas era batata que Joe se daria bem, pouco antes
do final de cada novelinha daquelas.

Muitos dos personagens também estavam simplisticamente situados


naquele mundinho bidimensional, as mulheres em particular. A maioria
delas tinha pernas de margarina e só serviam para cair aos pés de Joe.

Ficção é ficção, é claro, e nem teria sentido dedicar um capítulo a


Joe perambulando pela zona numa quarta-feira chuvosa só pra dar com o
nariz na porta do puteiro. Mas os enredos iam ficando mais barra-
pesada à medida que o autor bolava novas situações. TOP GEAR SKIN, por
exemplo, extrapolou os limites da realidade. Era sobre um moleque
americano chamado Roy Baird, que assume o comando duma gangue skin e
se mete com ela numa corrida de stock-cars.

Tudo bem, o cara raspava até o fundo do baú, mas acontece que os
livrinhos de bolso de Richard Allen já faziam parte da cultura popular
e até já caíam nas provas de literatura inglesa das escolas.

Hoje pode até ser chique meter o pau neles, mas no começo da década de
70 eram o que de melhor um skin podia comprar com a grana que tinha. O
tema dos sonhos de todo skin era o que ele lia sobre Joe, trepando &
tretando a cada dois capítulos alternadamente. Quando você passou dos
12 anos e não chegou aos 21, não pode exigir mais que isso.

"Joe tinha orgulho de suas botas (...) de sola grossa, reforçadas,


pesadas no pé e pesadas para quem as sentia batendo na costela."
(Richard Allen, SKINHEAD)

Faça-se justiça a Richard Allen: ele documenta fielmente as diversas


fases do movimento skinhead, embora seus livros não entrem em detalhe
no que tange a estilo ou música, exceto aquilo que rolava no rádio
enquanto Joe rolava na cama numa cena de pornografia leve com sua mais
recente conquista.

Os livros de Richard Allen são: SKINHEAD, SUEDEHEAD, SKINHEAD ESCAPES


(A fuga do skinhead), SKINHEAD GIRLS, BOOT BOYS, SMOOTHIES, TROUBLE
FOR SKINHEAD (Skinhead em apuros), SORTS, TOP GEAR SKIN (Skin a toda
velocidade), DEMO, SKINHEAD FAREWELL (A despedida do skinhead), GLAM,
TERRACE TERRORS (Os capetas da arquibancada), DRAGON SKINS, KNUCKLE
GIRLS (Garotas da pesada), PUNK ROCK e MOD RULE (A lei do mod).

O personagem-símbolo dos skins teve, é claro, uma canção em sua


homenagem: "Joe Hawkins", de Roddy Moreno, pela banda Oppressed
(1984).

[5] Poucos filmes causaram tanta controvérsia como LARANJA MECÂNICA


("A CLOCKWORK ORANGE") de Stanley Kubrick. Baseado no livro homônimo
de Anthony Burgess, é um épico da ultraviolência e da meteção, mas
sobretudo é uma história em torno da liberdade de escolha.
Ironicamente, os censores não conseguiram enxergar isso, de forma que,
antes mesmo do filme chegar às telas, as velhas tesourinhas já
entravam em ação.

LARANJA MECÂNICA foi lançado em 1971, na esteira de SOB O DOMÍNIO DO


MEDO ("STRAW DOGS", de Sam Peckinpah), outro filme que ouriçou os
guardiões da moral. Algumas câmaras municipais proibiram sua exibição,
e o buchicho foi tão grande que Stanley Kubrick mandou retirar o filme
de cartaz após 61 semanas. Circularam boatos de que ele fez isso por
ter recebido ameaças de morte, mas mais plausível foi o fato de que
ele não quis se sujeitar a novas arbitrariedades da censura.

O filme teve especial fascínio entre os skins da época, que o viram


não uma mas meia dúzia de vezes. Enquanto isso, os jornais bradavam
que o filme era um causador de encrenca, e qualquer ato de violência
era logo rotulado de "clockwork crime".

Kubrick tinha filmado LARANJA MECÂNICA na famigerada área londrina de


Thamesmeade. Sua versão se manteve fiel ao livro, tendo como única
alteração significativa a presença duma garota mais velha no lugar da
choraminguenta ninfetinha de dez anos na cena da curra (pela gangue do
Billyboy, capítulo 2 do livro - NT). "Devotchka" (garota) era uma das
palavras usadas pelos jovens baderneiros do filme, tirada dum idioma
chamado "nadsat" (adolescente), meio russo, meio cockney. A princípio
meio confuso também, mas logo o público se familiarizava com a língua
artificial inventada por Burgess, espécie de anti-esperanto
neobárbaro.

O protagonista é um tal de Alex Delarge (Alex The Large, ou Alexandre


O Grandalhão), líder duma gangue de "droogs" (camaradas).

Ele acaba enjaulado por causa duma série de crimes, mas é libertado
sob a condição de que se submeta a uma nova cura para delinqüentes, a
qual envolve lavagem cerebral e drogas que provocam náuseas se o cara
reincide na violência. Alguns liberais, convictos de que ele está
sendo privado da liberdade de escolha, entram em cena, e Alex vira
pivô do jogo político.

Alex e seus cupinchas se vestem no rigor da moda, que Kubrick


caricatura como um coquetel de elegância urbana misturada com o estilo
bootboy do momento. Em troca, LARANJA MECÂNICA também influenciou a
moda da rua, gerando uma ramificação do movimento skinhead voltada
para o culto a Alex e seus "droogs". Tais fãs podiam ser vistos nos
campos de futebol, de terno branco, bota preta e chapéu-coco, e depois
do jogo, pondo em prática o verdadeiro estilo "horrorshow" ("massa",
"do cacete", segundo o dialeto nadsat).

A retirada do filme, em 1972, só aumentou sua fama, já que a era do


vídeo perpetuaria o culto. Antes da fita selada vieram as pirateadas,
cópias de cópias, até que não houvesse um skin sem a sua. Não
importava se a imagem não era limpa, o que valia era ter o vídeo.

Para os padrões de hoje, o sexo e a violência são banais, mais


banalizados ainda pela exibição do filme sob outros títulos, o que nem
sempre se revelou uma feliz idéia. Em 1986, trinta skinheads de
chapéu-coco promoveram um quebra-quebra durante a projeção de
MECHANICAL FRUIT, obrigando o cinema a reduzir de uma semana para um
dia a permanência do filme em cartaz.

LARANJA MECÂNICA é um dos mais populares na cena underground, tendo


influenciado várias bandas skins. The Violators, Blitz, The Oppressed
e The Clockwork Soldiers usaram o tema cítrico com bom efeito. O
single "Teenage warning" dos Upstarts (1979) mostrava na capa uma
laranja com chave (isto é, uma laranja "de corda", significado do
termo "clockwork"). A banda Last Resort gravou "Horrorshow" como The
Warriors, e a Major Accident, de Darlington, decididamente fissurou no
tema.

A principal das influenciadas, porém, foi a banda The Adicts. Eles se


vestem como Alex e cantam versões punks da música clássica que o ídolo
tanto curtia. Chegaram até a intitular um de seus álbuns "SMART ALEX"
(trocadilho com "smart alec", o caga-regras, e "Alex na estica").

[6] SLADE

Quando se trata de citar a primeira banda skinhead, os filhos


prediletos de Wolverhampton (o grupo Slade) encabeçam as listas. Soul
e reggae eram o som da carecada, mas praticamente todos os astros eram
negros americanos ou jamaicanos, que pouco tinham a ver com seus
tietes skins, a não ser o gosto pelo mesmo tipo de som.

A maioria dos músicos brancos da época tratava de agradar os hippies.


Já o Slade era formado por caras brancos, da classe operária, e faziam
questão de se vestir de acordo com ela. É só dar uma olhada no álbum
de estréia da banda, "PLAY IT LOUD" (Polydor) e lá estão eles, todos
marrudinhos em suas botas e suspensórios.

Lamento contrariar alguém, mas o Slade não era um grupo de skins que
resolveram formar uma banda e fazer nome como tal. Na verdade, quando
o movimento skin ganhou notoriedade nacional, em 1969, eles nem
estavam no país, mas nas Bahamas, tocando reggae e soul como banda de
apoio. E o pior é que eles odiavam aqueles gêneros!

Quando Chas Chandler, ex-baixista dos Animals, viu o Slade no Rasputin


Club, em Londres, eles não passavam duma banda de cover, e já tinham
tirado fotos para divulgação usando cabelo comprido.

"Os skins são só moleques realistas, que têm o pé no chão e trabalham


pra viver. A gente usa bota e suspensório porque gosta, e pronto."
(Noddy Holder, vocalista do Slade)

Foi só depois que Chandler se tornou empresário da banda que eles


resolveram raspar a cabeça e virar skinheads.

No começo eles não estavam lá muito a fim de levar adiante a imagem


careca, mas Chas Chandler os convenceu de que os skins precisavam
urgentemente duma banda com a qual pudessem se identificar, e poderia
estar ali o passaporte para o sucesso.

A banda já tocava desde 66 e até 69 nada tinha acontecido. Sem nada a


perder, eles se converteram à causa skin da noite pro dia. Na verdade,
isso não adiantou muito, já que o primeiro hit só veio em 1971, com
uma cover de Little Richard, "Get down and get with it", e aí eles já
tinham se afastado do movimento e já trilhavam estrada própria como os
cabeludos palhaços do glam que a gente aprendeu a ouvir e curtir. O
resto é história, incluindo o máximo empenho dos caras em assassinar a
gramática inglesa, graças a títulos como "Skweeze me pleeze me"
(corruptela de "Squeeze me, please me", "Me aperta, vai") e "Mama weer
all crazee now" (corruptela de "Mama, we're all crazy now", "Mamãe,
nóis já tamo tudo lôco"), bem à maneira da escolaridade proletária
típica dos skins.

O nome do Slade só voltou a ser associado com skinheads quando tocaram


no Great British Music Festival de 1978, onde as tretas entre skins e
mods durante a apresentação do The Jam acabaram em sangue e alguém
esfaqueado.

///

Capítulo Três
ANJOS DE CARA SUJA

[Quando os punks deflagraram sua cruzada para virar o mundo de pernas


pro ar, em 1976, a coisa deve ter tido início num sábado ou domingo.
Isso é ponto pacífico, porque o punk nunca foi uma espontânea rebelião
de rua, como diz a lenda. Foi mais uma escaramuça de fim-de-semana,
que aconteceu graças a estudantes de arte fazendo arte e inventando
moda.
Tudo isso a quilômetros de distância dos moleques ranhentos e
maltrapilhos, que estavam ocupados demais chutando bola nalgum terreno
baldio de subúrbio para se alistarem na brigada punk.]

O punk foi simplesmente a maior de todas as fajutices do rock'n'roll.


É verdade que bandas como os Sex Pistols e o Clash deram o merecido
chute no saco da estagnada indústria musical, abrindo uma alternativa
mais arejada para o cansado & cansativo pop comercial e para o rock
dos dinossauros. Ter conseguido puxar as calças dos medalhões é uma
proeza e merece reconhecimento, mas, pelo amor de Deus, isso não é a
descoberta da pólvora! Meia dúzia de palavrões durante uma comportada
entrevista de Bill Grundy no programa "Today" da London Weekend
Television não é exatamente o que se pode chamar de ruptura da lei e
da ordem. [1]

Vá até o pátio do recreio de qualquer escola primária, e você vai


escutar coisa bem pior, mas ninguém se tocava com o óbvio. Aquilo foi
o bastante para levar os Sex Pistols à capa dos jornais e colocar
"Anarchy in the UK" nas paradas. Nada mau para uma banda formada por
um empresariozinho de nome Malcolm McLaren a fim de agitar umas gigs
de escolinha de arte e promover sua loja de roupas caras na King's
Road, chamada Sex.

"-- Esta é pra vocês! -- Foi o que dedicou Jimmy Pursey aos estudantes
da platéia que faziam compras na King's Road, editavam fanzines e
cheiravam à amenidade da classe média. -- A música se chama 'Hey
little rich boy' [Ei, menininho rico]." (Tony Parsons, NEW MUSICAL
EXPRESS, 1977)
Não é nenhuma surpresa, portanto, que o punk tenha sido rapidamente
absorvido pela ordem estabelecida que ele fingia desdenhar tão
radicalmente. Quando ele virou moda na High Street a preços da High
Street, tornou-se ao mesmo tempo um patrimônio dos que podiam comprar
e não dos que poderiam viver sua realidade. Virar punk de butique
comprando na King's Road podia parecer algo "esperto" em certos
círculos, nem que você pagasse uma nota por um pano rasgado. Eu mesmo
quase me tornei um punk, mas o símbolo da anarquia, que eu encomendei
pelo correio pra pregar na roupa, nunca chegou.

Por volta de 1978 o recado estava grafitado nos muros. "Punk is dead"
(O punk está morto), em letras garrafais. Mais um maldito ponto a
favor da indústria musical, que reduziu a bandas cuspidoras aquilo que
seria a rebeldia contra a sociedade. Na verdade, o movimento nem
sequer continuou a ser chamado de punk. As palavras que rolavam nos
buchichos eram "new wave" (nova onda). O fanzine punk mais inspirado &
inspirador, SNIFFIN' GLUE (Cheirando cola), xerocava seu último
número. The Roxy fechava as portas pela última vez. The Roundhouse
celebrou um "love-in" (orgia de paz & amor) à moda hippy. E Johnny
Rotten resumiu tudo quando, na gig de despedida dos Pistols em
Winterland, San Francisco, perguntou ao público: "Vocês já tinham
sentido a sensação que acabaram de ter?".
Até mesmo bandas como os Stranglers, que nos deram um dos mais
"antenados" hinos do punk, a canção "No more heroes" (1977),
dispensaram a intimidade dos pequenos clubes para tocar no Ally Pally
e outros templos do rock, onde poderiam concentrar 6 mil otários
endinheirados.
"Aqui está a paixão e a raiva dum garoto endiabrado e de índole
agressiva." (Adrian Thrills, sobre Jimmy Pursey no NEW MUSICAL
EXPRESS, 1978)

Tudo acabaria bem se aquela onda toda não houvesse deixado tantos
garotos a ver navios. Um contracheque quinzenal nunca seria passaporte
para o sonho, mas isso não importava, desde que um punhado de bandas
ainda tocasse punk rock do jeito que viviam. Nada de palavras-de-ordem
sobre anarquia. E nada de ficar tocando no estúdio enquanto a
Grã-Bretanha pegava fogo e enquanto, no quarto de hotel, tudo estava
pronto para um banho quente com TV a cores.

O punk autêntico, honesto e fiel, viria direto do coração de bandas de


rua, como Sham 69, Cock Sparrer, Menace e Skrewdriver.

Tais bandas eram boicotadas e chutadas pra escanteio, ficando sempre


por último nas programações e na divulgação, mas isso não as impediria
de romper o cerco e atingir-nos com a sutileza dum cassetete. No final
de 77, Jimmy Pursey & Cia. chegavam à maioridade e enchiam clubes por
sua própria conta, tocando o punk rock como ele devia ter sido tocado
desde o primeiro dia. Música de rua pra moleques de rua. [2]

O advento do punk rueiro foi a invocação que faltava para o retorno do


skinhead. Mas o skin que voltava não seria um papel carbono do
anterior, mero revival. O skin dos anos 70 pouco tinha a ver com o
skin da classe de 69, a não ser o nome do movimento e algumas
tinturas. Na verdade, a nova estirpe de skinheads surgiu pura e
simplesmente como punks carecas, que levavam a quebra dos valores um
passo além, a fim de se diferenciar da massificação em que tinha se
transformado o punk de classe média.

Mas não bastava reviver o velho visual skin, com suas armas e
bagagens.
Muita água tinha passado por debaixo da ponte, e a nova estirpe
refletia as mudanças da década em que vivia. Em vez de máquina três ou
dois, a raspagem a zero e até a careca lisa viraram norma. Ainda se
usavam botas como antes, mas agora totalmente expostas, com a perna da
calça acima da beira do cano. Além disso, a moda passou a ser botas de
14 e até 22 ilhoses, em alguns casos chegando ao joelho. Até que você
acabasse de amarrá-las, a moda já teria passado.

Em vez da tradicional tatuagem no braço, as tatuagens faciais


começaram a fazer parte do movimento. Agora, a tatuagem passava a ser
questão de escolha pessoal, mas o fato é que muitos garotos partiam
pra coisas tipo frases na testa, algo como "Made in Britain"
(fabricado na Grã-Bretanha). O pior é que, como os tatuadores
profissionais não trabalhavam na face, o que se via eram tatuagens
improvisadas mal e porcamente por picaretas de fundo de quintal. A
coisa só pioraria mais se você deixasse um amigo bêbado chegar pro
"teu" lado com uma agulha e um vidro de tinta nanquim. Sai de baixo.

Com a tatuagem você não ia ter uma segunda chance caso errasse na
ortografia ou na concordância das palavras, sem falar no desenho. Sua
burrice ficaria imortalizada.

Andar com algo tipo "Brittisch" (como escrever "inglez") na testa


certamente não era uma boa para o movimento. Só servia para aumentar a
aura de desconfiança que a imprensa marrom se encarregava de
disseminar com suas histórias chocantes e escabrosas. Na verdade,
alguns dos tipos que se diziam skinheads precisavam mais era tatuar
seus próprios endereços no meio da cara, para o caso de esquecerem
onde moravam.
Chame-os como quiser: punks carecas, cabeças-duras, cabeçudos. O fato
é que eles nada tinham a ver com o espírito de 69, que primava pelo
rude rigor no vestir.

Os poucos skinheads legítimos que sobreviveram aos áridos anos de


glam, disco e outras excrescências do rock não queriam nem saber de
qualquer identificação com os mal-encarados punks carecas. O antigo
movimento não desaparecera de todo, mas mesmo numa metrópole como
Londres não era nada fácil cruzar com um skin de verdade. Para bater
papo com um deles em volta duma caneca de cerveja, você teria que
freqüentar certos pontos, onde o punk careca (ou o skin punk) não
teria vez. Se um skin fajuto desses fosse bisbilhotar num tradicional
pub skinhead, seria posto porta afora no ato, a cabeça antes das
pernas. Os skins originais eram muito orgulhosos do movimento e não
admitiam ver um moleque metido a skin assustando velhinhas e batendo
carteiras de transeuntes apavorados.

"Os caras da Skrewdriver se apresentaram numa gig do Sparrer em


Camden, logo que chegaram a Londres. Eles tinham pinta de hippies. Aí,
quando foi da outra vez que a gente os viu, eles já eram skinheads!"
(Steve Burgess, baixista do Cock Sparrer)

Jimmy Pursey, letrista e vocalista da Sham 69, disse uma vez que, se o
som punk já existisse em 1969, os skinheads iriam se ligar nele e
adorar, mas o mais provável é que ele fosse logo tachado de música
para greaser ou para hippy. Se alguém usando jaqueta de couro e cabelo
moicano pintasse no pedaço (a cidade balneária de Margate, por
exemplo) durante um típico feriado bancário, na certa seria
transformado em bola de futebol como parte do programa de divertimento
dos skins.

Da mesma forma, nada causava mais nojo a um legítimo ted que um raio
de punk sujo, vagabundando de casaco esfarrapado cheio de
penduricalhos escrotos. No entanto, eram ambos, o punk e o teddy boy,
fregueses de McLaren, já que este tratava de equipar sua butique com
roupa para teds, desde o tempo em que a Sex se chamava Let It Rock e
atendia aqueles primitivos adolescentes rebeldes da Inglaterra.

Durante o verão de 1977, quando as batalhas entre teds e punks pela


King's Road já eram quase atração turística de todo fim-de-semana, os
skinheads originais costumavam tomar partido dos teds, enquanto a nova
geração de skins ficava do lado dos punks.

Era o confronto do orgulho e da tradição contra o desrespeito


debochado por tudo e todos. A treta às vezes não passava dos
xingamentos, correrias e sopapos de praxe, mas os tablóides
sensacionalistas e até mesmo a imprensa musical emprestavam ao fato
proporções de Terceira Guerra Mundial.

Uma das bandas que teriam preferido ficar em casa naquele verão foi um
grupo punk de Blackpool chamado Skrewdriver. Era a primeira viagem que
faziam à grande capital, e, no que eles saíam do The Roxy com seu
equipamento após uma gig, foram atacados por uma gangue de teds. O
baterista Grinton foi quem levou a pior: perdeu uns dentes e precisou
de 23 pontos por causa dum suporte de microfone que lhe entrou pela
cara. No dia seguinte, o furgão da banda foi roubado com todo o
equipamento dentro, deixando o líder Ian Stuart e seus rapazes com uns
trocados no bolso e sem condução para casa. Não é de se admirar que
eles tenham dedicado seu segundo single, "Anti-social", aos queridos
teds.

Com os meses transcorrendo e o punk caindo mais e mais na aceitação


geral, a nova geração de skinheads começou a se afastar da imagem punk
e tratou de procurar sua própria identidade. Foi aí que o velho estilo
voltou à cena, e foram reaparecendo os "crombies", as Ben Shermans, as
"sta-press". Os "brogues" já se misturavam livremente com as botas e
os jeans desbotados. Era o visual de 69 com sotaque de 76. Os
skinheads voltaram a se preocupar com a aparência, preferindo a estica
ao deliberado relaxamento dos punks. Até o reggae skin foi
redescoberto e teve espaço entre os DJs e as bandas.

As bandas punks de rua viraram foco de atenção para a nova geração de


skinheads. No começo de 1978, eles já recebiam apoio dos punks que
tinham se desiludido e que partiam pro uso de cabelo raspado e botas
como forma de repúdio ao punk de plástico e como sinal de adesão a
bandas como a Sham. Mesmo assim, os skinheads constituíam minoria nas
gigs, onde o público era formado principalmente por punks e herberts.
Os herberts eram garotos de esquina que curtiam a música mas não se
ajustavam nem no figurino punk nem no perfil skinhead. Apenas em
Londres e tão somente em determinadas gigs é que os skinheads
predominavam amplamente, mas isso porque era ali que o movimento
mantinha o sopro de vida.

Nenhuma das principais bandas rueiras era propriamente skinhead.


Aquela que é considerada precursora do punk de rua, a Cock Sparrer,
costumava subir ao palco usando botas, colarinho abotoado nas pontas e
calças "sta-press", mas faltava a cabeça raspada para acompanhar. Da
mesma forma, Jimmy Pursey tinha sido skin antes de fundar a Sham 69,
mas se a banda aparecesse de repente vestida como skin numa gig, a
turma toda ia pensar que era pose.

Seja como for, a Sham nunca foi uma banda puramente skin. Eles estavam
era a fim de conquistar a molecada em toda parte, fosse ou não de
cabelo raspado. A única que, ainda na década de 70, deixou de lado a
moda punk e adotou o vestuário skin, visando satisfazer as
expectativas dessa faixa de público, foi a Skrewdriver.

Quer dizer, foram os skinheads que "adotaram" as bandas rueiras como


"suas" bandas. Dessas, a predileta era a dos diletos filhos de
Hersham, a Sham 69. Tentar restringir uma banda como a Sham às páginas
dum livro seria o mesmo que mandar Jimmy Pursey calar a boca. Ambos
são desabridos & abrangentes demais, e não se limitam aos parâmetros
do sucesso, são fenômenos sociais. As letras de canções como "Borstal
breakout" e "If the kids are united" podem parecer simplistas e até
simplórias no papel, mas acontece que elas não foram feitas para
participar de nenhum concurso de poesia barroca. É só quando são
tocadas ao vivo que se pode senti-las no seu "meio ambiente", onde
parecem cortar como uma gilete nova. [3]

Estas obras-primas de três minutos eram cantadas com tamanho orgulho e


paixão, e cada palavra ecoava com tal unanimidade no meio da turma,
que não dá pra descrever. Ir a uma gig da Sham era tomar parte de algo
coletivo, participar da própria banda, provavelmente a melhor das
bandas enquanto som de rua. Se você não é capaz de sacar o orgulho dum
moleque que usava as palavras "Sham Army" (Exército Sham) escritas nas
costas da jaqueta, tá por fora e azar seu. É porque você não está no
nível da rua.

Nada resumiu melhor a Sham 69 que o show de abertura do clube punk


Vortex, na Hanway Street de Londres, em outubro de 77. Jimmy e os
rapazes deram uma de Beatles, subiram ao telhado e detonaram canções
como "George Davis is innocent" (o oráculo da Sham julgando inocentes
os moleques londrinos, os moleques de Glasgow, e absolvendo a si
mesmos) e "What have we got?", para delírio de skins e punks no meio
da rua e de empregados de escritório que se debruçavam nas janelas.
Acontece que o telhado que a banda resolveu ocupar não era do Vortex
Club, e os legítimos proprietários, ajudados pelos simpáticos rapazes
de farda, não estavam lá muito ligados na banda.

O pobre Jimmy acabou em cana por "comportamento ameaçador", e o pique


da Sham para agitar gigs começou a ser patrulhado de perto. Mas isso
não abalaria as rendas do single de estréia da banda, "I don't wanna",
que tinha sido lançado pela Small Wonder no próprio dia da performance
do Vortex.

A Sham começou carreira com os habituais ensaios, até que fez sua
primeira gig em novembro de 1976 nas sessões matinais de sábado do
Walton. Seguiu-se um ano de apresentações ao vivo, que lhe valeram a
reputação de feras do palco, graças ao desempenho do líder Pursey. As
coisas só vieram a acontecer pra valer em junho do ano seguinte,
quando Jimmy expurgou da banda quem não compartilhava de sua fé no que
faziam.
A nova formação passou a contar com Dave Parsons na guitarra, Mark
Cain na bateria e, poucos meses depois, Dave Treganna no baixo,
substituindo Albie Slider, que se tornava empresário de estrada da
banda.

"Eu tô sabendo que não vou mudar o mundo. Se eu tivesse essa ilusão,
seria um perfeito panaca. Tudo que eu posso é subir no palco, cantar a
respeito e deixar as pessoas curtirem e se tocarem enquanto ouvem. Não
sou um político. Não sou um líder, sou só um cara que sobe no palco e
canta rock'n'roll." (Jimmy Pursey)

Jimmy fazia e desfazia simplesmente porque a banda era ele. Isso não
desmerece os outros, mas eles próprios eram os primeiros a reconhecer
que não estavam disputando nenhum prêmio de melhor músico do ano. A
questão é que, sem aquele homenzinho de bocarra, eles nunca seriam a
Sham 69.

A boca de Jimmy não era apenas seu maior trunfo, era também seu maior
problema. Quando ele a abria, seu coração vomitava. O pior é que
geralmente suas declarações faziam tanto sentido quanto um discurso de
bêbado. Não era culpa dele, contudo. Jimmy não tivera boa instrução,
muito menos graduação em nenhuma porra de filosofia, e ainda por cima
sua opinião era cobrada em questões que políticos escolados se
esquivam de responder.

Claro que Jimmy nunca foi de deixar nada sem resposta, mas quando se
encaixava na pergunta era por puro acaso. Era engraçado e chegava a
ser divertido. Alguém lhe perguntava uma coisa e ficava tentando catar
no ar cada uma de suas palavras, enquanto ele despejava as maiores
abobrinhas durante cinco minutos. Uma ou outra pausa para meditação,
que, em vez de ajudar, só aumentava a expectativa de mais merda no
ventilador.

Mas quando ele estava no palco a coisa mudava totalmente de figura. O


cara era um fenômeno elétrico espontâneo, um fliperama humano
totalmente aceso e faiscando, inesgotável e imprevisível.

Uma canção atrás da outra, falando da vida no lado mais fraco da corda
e na base da pirâmide, e todas com aquele refrão no melhor estilo da
arquibancada, que o "exército" entoava uníssono, fazendo como que um
coro de torcida acompanhando os versos de Jimmy. "Tell us the truth",
"Hurry up Harry", "I don't wanna", "The cockney kids are innocent".
Cada uma delas era um sucesso, e isso era só a ponta do iceberg da
Sham. Quando ele gritava "Que é que a gente ganhou?", os anjinhos de
cara suja de Jimmy não titubeavam. "Porra nenhuma!" era a resposta
automática.

Além do mais, parece não haver dúvida de que o cara era gente fina e
sincero em seus sentimentos. Ninguém poderia acusá-lo nesse
departamento, a não ser que depositasse nele mais expectativas do que
estava a seu alcance. Alguns seguidores skins embarcaram nessa e
acharam que a Sham 69 podia "mudar" alguma coisa. Se não o mundo, ao
menos a cabeça dos que apoiavam a banda. Jimmy também pensava assim,
e, mesmo que custasse uma hora ou metade do concerto da Sham,
martelava na tecla do "mundo sem futuro" a cada semana.

Tampouco havia nada daquilo que os astros do rock tanto cultivam: a


tietagem e a idolatria intangível. As gigs eram tratadas como um
churrasco entre colegas ou piquenique em família. Todo mundo cantava
junto, e geralmente o grosso do público acabava em cima do palco,
misturado à banda. Até o vestiário ou camarim adotava a política da
porta aberta o tempo todo, e toda a comida e a cerveja trazidas para a
banda evaporavam instantaneamente numa boquinha livre. Às vezes Jimmy
se deixava ficar ali, horas sentado depois duma gig, jogando conversa
fora e atendendo os fãs.

"O cabelo raspado já identificou o fã da nossa banda, mas esse mesmo


símbolo jogou por terra tudo aquilo que eu sempre defendi." (Jimmy
Pursey)

Nunca houve outra banda assim, que tivesse ao mesmo tempo a


popularidade e a simplicidade da Sham. Um concerto dela equivalia a
uma viagem de ônibus lotado, onde cada brecada ia jogando alguém pra
frente e cada acelerada empurrando alguém pro fundo, fosse ou não
fumante. A invasão do palco escapava ao controle, e os organizadores
nem se davam ao trabalho de colocar barreiras metálicas, mesmo porque
elas não fariam diferença. O ingresso até que não era barato, o que
dava certos direitos ao "espectador". Azar de quem ficava atrás,
enquanto os da frente se penduravam na figura franzina de Jimmy,
tentando dublá-lo.

Tudo ia bem, até que pintaram os primeiros problemas graves durante as


gigs, principalmente em Londres e arredores: Kingston, London School
of Economics, Middlesex Poly e outros locais, onde as apresentações
degeneraram em pancadaria. Quando foi no Reading Festival de agosto de
78, Jimmy abandonou o palco chorando, depois que os fãs transformaram
o evento num quebra-pau generalizado.

Ele fazia o possível para deter qualquer princípio de encrenca, mas é


que as gigs estavam virando campo de batalha onde as disputas por
território (a cidade, o bairro, o time de futebol, o partido político)
passavam da mera rivalidade ao derramamento de sangue. Exatamente o
que Jimmy não queria que acontecesse: moleques vindo à gig somente
para comprar briga com os da outra turma ou facção. Isso rolava também
nas gigs das demais bandas, fossem os UK Subs, as Poison Girls ou Ian
Dury, mas no caso da Sham era mais deplorável.

Quando o Cock Sparrer tocou sua última gig (salvo as "recaídas" e


"ressurreições") no Fulham Greyhound, uns imbecis tocaram fogo no
papel de parede antes mesmo que a banda entrasse. E, quando ela saiu
do pub, o palco estava demolido e seu furgão tinha os pneus furados a
faca. Menace e outras bandas de rua tiveram o mesmo problema em suas
gigs, e a coisa se estendeu a bandas que nada tinham a ver com a cena
punk. Era o triste reflexo da época, que deixava muito fã inseguro se
valia a pena ver sua banda favorita ao vivo.

Na hora de acusar, todos os dedos apontavam na direção do skinhead,


não sem motivo. Em se tratando de violência nas gigs de punks, eram
sempre os skins que começavam a treta, e, se não começavam, acabavam.
Isso não quer dizer que todos os skins estivessem a fim de detonar a
música pela qual haviam pago ingresso para curtir, mas era um problema
crônico que se tornava insustentável. Sempre havia um suposto skin
partindo pra ignorância se o vizinho não tivesse o mesmo coturno,
suspensório, cor ou distintivo na roupa. De repente, virou passatempo
praticar a malhação do punk, a malhação do mod, etc., para desespero
de Jimmy e dos que tinham seu ideal de "molecada unida jamais será
vencida".

"O Sistema adora essas divisões: teds contra Hell's Angels, contra
skinheads, contra estes, contra aqueles. Mas se a molecada tivesse a
mínima consciência de que não importa o que você veste ou pensa, que o
que importa é se unir contra o Sistema, aí sim, ele, o Sistema, teria
motivo pra se preocupar. Agora, do jeito que está, com 27 tribos e
identidades diferentes, o Sistema sabe que pode nos derrotar." (Jimmy
Pursey)

Quem vê algum registro fotográfico ou filmado duma gig da Sham pode


até se surpreender com a quantidade de cabelo que aparece. No entanto,
a fama que ficou foi a duma banda skinhead, e o ônus disso foi a
escalada da violência. Bastou que os jornais movessem uma palha para
associar a imagem da banda com a dos skins, e cada vez que era
anunciada uma nova gig os caras mais botinudos e marrudos corriam a
comprar ingresso, na esperança duma tretazinha onde desenferrujar as
articulações. Se a treta não rolasse, decepção geral.
Mas grande parte do problema poderia ter sido evitada com um mínimo de
bom senso. Como na Escola de Economia, onde o prejuízo foi de 8 mil
libras em danos materiais, ou pelo menos foi o que se declarou à
companhia de seguros. Acontece que não havia segurança nenhuma, exceto
meia dúzia de estudantes voluntários, inseguros e nervosos. Em vez de
copos plásticos, usaram copos de vidro. E mesmo que a casa estivesse
lotada, Jimmy fazia questão de deixar entrar até o último cara que
sobrasse do lado de fora. A eventual presença das câmeras da BBC não
contribuía em nada para organizar a bagunça, nem tampouco o hoje
desativado contingente do SPG (Special Patrol Group, um esquadrão
policial de elite) que só teria, digamos, "mantido a ordem" da única
forma que sabiam.

A gota d'água que entornou o copo da Sham não foi tanto a violência em
si. Um ou outro quebra-pau poderia ter sido controlado ou contornado.
Mas a violência orquestrada em nome da política era algo bem mais
sério.
A questão é que grande parte dos skinheads que curtiam o som da Sham e
de outras bandas punks rueiras apoiava o National Front e o British
Movement, duas organizações de extrema-direita cuja militância já
tinha crescido bastante àquela época. Muitos skins viam as duas coisas
como atividades paralelas e compatíveis, mas a Sham acabou se
defrontando com a contingência de repudiar publicamente os militantes
ou expulsá-los das gigs.

"É muito fácil e muito bacana pra gente que nem Tom Robinson ficar
cantando que não querem ser nazistas. Comigo a coisa muda um
pouquinho, já que eu tô lá na frente de cem skinheads e eles chegam
pro meu lado puxando faca, me encurralando no camarim e me acusando de
ser um comuna." (Jimmy Pursey)

A princípio Jimmy Pursey vacilava em tomar qualquer atitude além


daquelas que já tinha tomado contra a violência. Afinal, todo mundo
sabia que a Sham 69 não queria nada com a política nem com o NF ou o
BM, que não fazia nada pra incentivar aqueles movimentos durante as
gigs e que, em suma, desaprovava sua ideologia. Por outro lado, Jimmy
não queria virar as costas para nenhum fã nem barrar ninguém numa gig.
Ele preferia dialogar dentro e fora do palco, apostando que os
agitadores se acalmariam ou mudariam de idéia.

Se essa era ou não a melhor maneira de lidar com a questão, é coisa a


discutir. Em todo caso, Jimmy não usava os clichês da esquerda, tipo
sermãozinho para convertidos. Uma coisa é discursar pruma platéia
engajada como aquela que usava o emblema do RAR (Rock Against Racism);
outra coisa era querer fazer a cabeça de gente não-alinhada ou
desalinhada, anti-ativista ou reacionária, toda misturada.

Mas a independência da banda não satisfazia as cobranças. A imprensa


musical, os grupos de pressão da esquerda, e outros caga-regras
diversos queriam ver a Sham 69 participando das gigs do RAR juntamente
com outras bandas punks de rua. E ai daquela que não atendesse aos
"apelos"! Podia dizer adeus a qualquer cobertura da imprensa, qualquer
espaço nas rádios, qualquer promoção de shows, qualquer coisa. É o
caso de perguntar quem eram os verdadeiros fascistas. Mas Jimmy cedeu,
e a banda tocou num show beneficente para o RAR, junto com o grupo de
reggae Misty. Foi na Central London Polytechnic, em fevereiro de 78.
Em abril, Jimmy topou participar do carnaval da Anti-Nazi League (Liga
Antinazista) em Hackney, ao lado do Clash, mas, quando chegou mais
para o final do ano, a Sham teve que descartar novas participações
para evitar as tretas, e só saiu ganhando, já que tais participações
implicavam unicamente um compromisso com a esquerda para não se
comprometer com a direita. Ora, se a Sham não queria ser usada pela
direita, por que se deixar usar pela esquerda? Quando uma banda entra
nessa, só tem a perder, a começar pelo público.

Mas era tarde para recuperar a independência. Uma vez que o nome da
Sham tinha estado ligado às cores da bandeira do RAR, a militância
direitista recrudesceu em violência nas gigs, particularmente na área
de Londres, onde o apoio ao Front e ao British Movement era mais
forte.
Os skins ficaram no centro da tormenta, usados como joguete das
batalhas políticas cujo foro devia ser o palanque dos comícios
eleitorais, não o palco das gigs. Foi assim que sobreveio a
degringolada para a Sham 69.

Os promotores de eventos queriam distância da banda, por medo de


encrenca, e, onde quer que lhe fosse permitido tocar, o público ficava
cada vez mais reduzido, pelo mesmo motivo. Apesar das ousadas
apresentações no "Top of the Pops" (programa semanal da BBC com clipes
e execuções ao vivo), a verdade é que os dias da banda estavam
contados. Jimmy bateu com a cabeça na parede, mas não tinha outro
remédio. Não adiantava pedir para pararem de brigar. Não adiantava nem
brigar. A banda já não conseguia tocar na Grã-Bretanha e Jimmy não
queria tocar no exterior. O jeito era parar.

O fim foi anunciado quando se programou uma gig de despedida no


Apollo, em Glasgow, mas antes mesmo do show se realizar já se
especulava sobre outro adeus na Finlândia e depois outro em Londres. O
"Exército Sham" de Glasgow deixaria a Sham 69 orgulhosa, pois os
skins, punks e herberts sepultaram suas diferenças por um dia,
mostrando que, como dizia a letra, se os garotos se empenhassem,
poderiam se unir. No palco chegou até a acontecer uma canja histórica,
com a presença de Steve Jones e Paul Cook, o que alimentou as fofocas
de que pintaria uma superbanda chamada Sham Pistols.

"Neste momento eu tô assustado pra valer com o National Front... Tanto


pelos garotos como por mim mesmo. Agora eu entendo como essas coisas
começam. Quer dizer, é fácil ser antinazista quando você não tá
levando cacete de pivetes negros e não tem nenhum deles morando ao
lado." (Jimmy Pursey)

Quando a Sham subiu ao palco do Rainbow Theatre em Londres sob os


acordes do tema de "2001", ficou claro na hora que a banda parecia
rezar pela cartilha do BOOK OF FAREWELL GIGS (Livro das gigs de
despedida) de Gary Glitter. As duas bandas de apoio, Little Roosters e
The Low Numbers, seguraram a barra, mas ela pesou mesmo foi na hora de
sobrar para a Sham.

"Ao menos eu posso dizer que tentei, mas vocês continuaram chutando a
nossa boca." (Jimmy Pursey)

Aquilo que devia ser a suprema hora e meia da Sham até que começou sem
problema. Ironicamente, o som parecia o dos velhos tempos, senão
melhor. "What have you got?" abriu o show, mas, quando era tocado o
quarto número, "Angels with dirty faces", as coisas começaram a dar
errado. Um skinhead tentou subir no palco e foi barrado pela
segurança.
Seguiu-se um tumulto, e, para acalmar os ânimos, Jimmy deixou o skin
se juntar à banda. Foi a deixa para que os outros skins pulassem a
cerca.
A segurança formou uma barreira humana, e a Sham teve que se retirar
do palco.

O caos reinou pelos 20 minutos seguintes, enquanto cerca de 200


skinheads, supostamente mobilizados pelo British Movement, avançaram
em onda pelo meio da multidão, abrindo caminho como um comboio de
tanques, ao mesmo tempo em que, de cima do palco, outros entoavam a
saudação nazista "Sieg Heil!" (À vitória!).

Quando a ordem foi parcialmente restabelecida, a Sham retornou e deu


continuidade ao repertório, mas logo depois o show era novamente
interrompido pelos militantes, que ameaçavam tomar o palco de assalto,
o que acabaram conseguindo. Aí Jimmy perdeu a paciência, atirou longe
um tambor da bateria e berrou no microfone: "Eu amei vocês pra
caralho! Eu fiz o caralho por vocês! E vocês só querem saber de
briga!".

O show "Sham's last stand" (A última posição da Sham) fez jus ao nome
no exato momento em que o "general Jimmy Custer" era apunhalado pelas
costas por supostos "fãs" da banda. Ele quis dar mais uma chance a
Londres, e só levou na cabeça, numa derradeira prova de ingratidão. E
os skins pareciam não estar nem aí. No dia seguinte, cem deles melaram
uma gig dos Young Socialists (um movimento jovem de esquerda) onde se
apresentariam as bandas The Ruts e Misty, em prol da criação de mais
empregos para a juventude. Bela metáfora.

Aí começou o falatório. Fofocar sobre a Sham 69 passou a render


dividendos. Jimmy Pursey tinha virado burguês. Jimmy Pursey agora era
da classe média. Jimmy Pursey comprou uma mansão com piscina por 130
mil libras. Jimmy Pursey não tinha se criado num conjunto habitacional
do East End coisa nenhuma. Jimmy Pursey não era um autêntico
proletário... E daí se fosse ou não verdade? Ninguém vai ser riscado
da lista por causa do endereço da maternidade onde nasceu. Aliás,
Jimmy tinha morado num trailer até que seus pais conseguissem juntar
grana pra comprar a casa própria.

E o que é que havia de errado em querer subir na vida? Quem disse que
a classe operária tem que ficar confinada em guetos suburbanos e viver
na fila das esmolas governamentais? Temos nosso amor próprio, e já é
tempo de parar com essa mania de ficar reivindicando "assistência" e
ir à luta. Quanto à grana que a banda tenha eventualmente faturado,
boa sorte a eles. Certamente fizeram por merecê-la.

Jimmy desembolsou uma boa grana dando força a outras bandas no começo
de suas carreiras. Pelo menos duas delas se firmaram, quando a Sham 69
acabou: os Angelic Upstarts e os Cockney Rejects.

Sem dúvida, ambas tinham credenciais para corresponder ao


apadrinhamento e levar avante a tocha da Sham. Os Upstarts eram
oriundos das comunidades da construção naval em Tyneside (próximo a
Newcastle), enquanto os Rejects eram genuínos habitantes do East End,
a proletária Zona Leste de Londres. As duas bandas tocavam o mais
áspero punk rock, as duas acabaram arregimentando uma saudável legião
de skinheads, e as duas contabilizaram um saldo bem mais positivo que
o mero intercâmbio de porrada.

Os Angelic Upstarts começaram a tocar no verão de 77, mas metade da


formação original mudou, depois duma problemática gig de estréia em
Jarrow. O primeiro single, "Murder of Liddle Towers", lançado
originalmente pela Dead Records, depois pela Small Wonder (via Rough
Trade), trouxe complicações de onde menos se esperava.
"Sacaneado? Claro que me sinto sacaneado! É como se tudo voltasse ao
que era em 74 e 75. Mas eu tenho certeza que a coisa vai começar de
novo, aqui no East End. O sentimento tá voltando mais uma vez." (Micky
Geggus, guitarrista dos Cockney Rejects, 1979)

Towers era o nome dum treinador de boxe que tinha morrido enquanto se
achava sob custódia policial, e a música era uma maneira de denunciar
as suspeitas circunstâncias de sua morte. Naturalmente a coisa não
pegou nada bem junto às autoridades, muito menos a performance que a
banda montou quando a canção era tocada ao vivo: uma cabeça de porco
esmagada em pleno palco.

A polícia passou a vigiar de perto cada nova gig dos Upstarts,


esperando o primeiro passo em falso do líder Mensi (apelido de Tommy
Mensforth) e seus rapazes para enquadrá-los. Embora a polícia negue a
intenção, isso acabou prejudicando e quase inviabilizando as
apresentações da banda em sua região natal (o nordeste da Inglaterra),
já que os promotores de eventos não queriam envolvimento com a Lei e a
Ordem. A coisa se estenderia também aos shows beneficentes.

"O skin malha o mod, mas qual a diferença? Uma polegada de cabelo."
(Grant Fleming, do grupo Kidz Next Door, que tocou na mesma noite dos
Upstarts no 100 Club, templo punk de Londres)

Foi quando Jimmy Pursey acolheu os Upstarts e resolveu apadrinhar-lhes


a carreira. Jimmy tinha convencido a Polydor a lançar uma nova
etiqueta, a Wedge, onde os Upstarts assinaram contrato.

Mas antes que qualquer vinil fosse prensado, a Polydor chutou os


Upstarts, criando uma reação em cadeia onde o último chute foi na boca
dum segurança da própria gravadora. Pursey ficou puto pela maneira
como a Polydor tratara seus protegidos e, em sinal de protesto,
espatifou o disco de prata que ganhara da gravadora quando a Sham
emplacou o segundo álbum, "THAT'S LIFE". A maré de azar pareceu
terminar quando Mensi e sua curriola assinou com outra grande
gravadora, a Warner.

Aí pintou de novo a política no meio para complicar. Apesar de ter


sido sempre uma banda punk, os Upstarts já eram vistos basicamente
como banda skinhead, o que lhes carreou as mesmas velhas acusações de
incitamento à violência e incentivo à militância direitista nas gigs.
O pior é que os próprios Upstarts foram pessoalmente apontados como
fascistas, por causa de canções como "Spandau" e "England" no
repertório, quando, na verdade, eles eram socialistas à velha moda
operária, do que aliás se orgulhavam.

Tal como ocorrera com a Sham, não havia condições de impedir que
membros do NF ou do BM freqüentassem as gigs, nem a banda queria isso.
O jeito era tentar dialogar, trocar idéia, o que a banda achava menos
perigoso que simplesmente ignorá-los ou repudiá-los.

Mas novamente a coisa se revelou infrutífera. A esquerda patrulhava


duro, acusava de muro, cobrava uma opção clara da banda entre a
direita e a esquerda, quando a banda só estava interessada na
diferença entre o direito e o errado.

A banda acabou tocando para o RAR e fazendo outra gig até para a CND
(Campaign for Nuclear Disarmament) durante turnê pela Escócia, mas a
política não era a mola mestra da banda naquela época. Na gig da CND,
Mensi foi solicitado a dizer algumas palavras à platéia em prol da
campanha. "Faça amor, não faça a guerra. Garotas, façam fila depois do
show!" -- berrou o "homem-elefante" no seu carregado sotaque
nordestino, antes de detonar a canção seguinte.

Em junho de 79, cinqüenta ativistas do National Front atacaram a banda


numa gig em Wolverhampton. O então empresário Keith Bell levou seis
pontos por causa dum caco de vidro. Mas não eram skinheads os
provocadores, e sim militantes comuns. Claro que começou imediatamente
uma campanha para melar as gigs da banda, até porque a própria
extrema-direita já encarava os Upstarts como comunistas. Se eles o
fossem, não creio que a banda apoiasse causas como a resistência
armada dos rebeldes afegãos contra Moscow, nem tampouco o sindicato
polonês Solidariedade (tema de canções como "Guns for the Afghan
rebels" ou "Solidarity"), mas isso parecia não importar na cabeça dos
bitolados.
Para eles, se você não é nazista, tem que ser comunista, e vice-versa.
É a regra do absurdo elementar, onde a razão só tem um lado.

"Nós somos o que o pessoal achava que a Sham era. Nós somos só quatro
caras do East End. Você não acha outra banda tão real como nós. Ou que
represente a realidade como nós." (Micky Geggus)

Certa vez um programa de TV tentou vincular os Rejects ao British


Movement, mas a história das tretas do grupo pouco tem a ver com
política. Como sucessores da Sham e arcando com a "responsabilidade"
de ser o que a outra não conseguiu, a personalidade dos Rejects ficou
confusa. Os dois irmãos Geggus, que deram início à banda, eram
pugilistas amadores. O mais velho, Micky, já tinha defendido as cores
da Inglaterra no ringue. A eles se juntou o grandalhão Vince Riorden,
que fora um misto de zelador e roadie da Sham 69 antes de dedilhar o
baixo para os Dead Flowers. Os três contribuíram com seu visual
agressivo para que a banda ficasse com a imagem de "ruck'n'roll" (rock
de ralé, enfatizado na frase "We ruck and you roll", ou "Nós
amarrotamos e vocês alisam", trocadilhando com "A gente somos gentalha
e vocês é que dançam"), que logo atraiu o grosso do público que curtia
Sham e Menace, bem como os atentos olhos da Lei.

Em maio de 79, Mick e seu mano Geoff (que viria a ser conhecido como
Stinky Turner) cruzaram num pub com um jovem redator do jornal musical
SOUNDS chamado Garry Bushell, a quem entregaram uma demo. O cara ficou
impressionado a ponto de apresentá-los a Jimmy Pursey, o qual
concordou em produzir-lhes uma demo mais profissional. Foi essa demo
que, com algum cuspe e graxa, acabou saindo em vinil em agosto como o
EP "FLARES AND SLIPPERS", pela (como não podia deixar de ser)
gravadora Small Wonder.

"Jimmy Pursey fez cagada com a gente e nós cagamos pra Sham 69. Ele
usa as pessoas. Quando pintava treta nas gigs, ele pulava fora e
deixava a gente segurando a barra." (Vince Riorden, baixista dos
Rejects)

Se pintasse alguma encrenca nas gigs, a banda e seus fãs mais chegados
estavam a fim de agir com energia e apagar o estopim antes que
detonasse. Foi assim quando os Rejects tocaram com os Upstarts no
Electric Ballroom. A atitude lhes rendeu a primeira aura de
respeitabilidade, mas os Rejects foram além. Todos eles eram hooligans
e torciam pro West Ham. Pois bem: estava resolvido que ninguém devia
ficar em dúvida sobre isso. Os incomodados que não dessem as caras. A
banda pendurava bandeiras da Inglaterra (apelidadas "Union Jacks") e
do time no palco, e a maioria de seus discos incorporava as cores
púrpura e azul na capa. Eles chegaram a gravar sua própria versão de
"I'm forever blowing bubbles" para celebrar os Hammers chegando à
final da Copa, seguida de "We are the firm" e "War on the terraces".
Tudo isso quando a violência relacionada com futebol invadia as gigs e
parecia incontrolável.

Um mês após o lançamento de "Bubbles", uma gig dos Rejects no Cedar


Club de Birmingham acabava em quebra-pau, o que quase pôs fim à banda.
Mais de 200 skinheads deram as caras para ajustar contas por causa dum
incidente ocorrido numa gig anterior dos Rejects no mesmo local,
envolvendo as simpatias & antipatias ao West Ham. Durante o segundo
número da banda, começaram a chover copos plásticos, e, antes que
Stinky pudesse esboçar qualquer reação, veio uma segunda chuva, desta
vez com copos de verdade, além de cinzeiros e outros apetrechos
arremessáveis. A banda e mais uma dúzia de seguidores revidaram na
porrada e a coisa descambou pra batalha dos visitantes contra os skins
de Birmingham por toda a pista de dança. Micky foi parar no hospital
local e levou nove pontos, mas o pior estava por vir. O furgão da
banda foi literalmente desmanchado, e todo o equipamento (valendo o
dobro do furgão e fora do seguro) foi roubado.

Naquela noite a banda que tocou junto foram os Kidz Next Door,
liderados pelo irmão de Jimmy Pursey, Robbie. Outro que fazia parte da
banda era um ex-ajudante da Sham, Grant Fleming, baixista que estrelou
um documentário sobre a Sham intitulado GRANT'S STORY, para a série
"Arena" da BBC. Grant era um veterano da violência em Hendon e no
Rainbow (gigs da Sham) e em Hatfield (gig do Madness), mas o quebra-
pau no Cedar Club suplantou todos os outros.

No dia seguinte, todo mundo saiu fora em direção a Huddersfield, onde


rolaria a próxima gig, menos Grant e Micky, que ficaram para trás a
fim de ver se recuperavam a parafernália roubada.

Ambos acabaram se metendo em mais encrenca e foram em cana. A acusação


contra Micky teria sido o uso duma barra de ferro numa briga de rua
que ele próprio teria provocado.

"Nós defendemos o som punk enquanto música de bootboys. Harringtons,


botas e princípios, é disso que estamos a fim." (Stinky Turner,
vocalista dos Rejects)

Após nove meses de expectativa, Mick pegou mais seis de "suspensão",


fora a multa de 500 libras, enquanto Grant levou 150 horas de
"prestação de serviços à comunidade" e foi aliviado em 200 libras. Se
Micky fosse sentenciado à prisão, a banda estaria acabada. Mas já que
continuavam na estrada, o negócio era ver se dava pra se livrar da
imagem violenta, o que não seria fácil. A turnê de outono de 1980 teve
que ser cancelada por causa de novos problemas logo nas primeiras
gigs, particularmente na de Liverpool, em outubro. Àquela altura era
quase impossível para eles tocar fora de Londres sem que alguém viesse
puxar briga, mas a culpa era deles mesmos, no final das contas. [4]

Agora que os tempos são propícios a "correções de rumo" na área


musical, os Rejects já adquiriram nova imagem, voltada para o universo
do heavy metal. Mas eles já tinham dado sua contribuição, e era vez
duma nova safra de bandas rueiras que levariam o som punk a praias
mais radicais. Mas isso é uma outra história, que fica para um outro
capítulo.
///

[notas/boxes ao capítulo 3]
[1] O autor se refere à entrevista de 1º de dezembro de 1976, onde
Johnny Rotten usou a palavra "fuck" ("foda" ou "foder") num programa
de TV, coisa inadmissível em público na Inglaterra. O apresentador do
programa foi suspenso, a imprensa fez escândalo, as famílias se
indignaram, mas o compacto de "Anarchy in the UK" vendeu e isso era o
que interessava. Para outras informações sobre o episódio, veja O QUE
É PUNK de Antônio Bivar (coleção "Primeiros passos" da Brasiliense).
(NT)

[2] Dá pra notar que o autor é extremamente crítico quanto ao


movimento punk, opinião com a qual concordo apenas em parte (quanto ao
oportunismo "político" [leia-se "comercial"] e à diluição como
modismo), mas da qual discordo sob o aspecto musical, pois considero o
punk um dos dois únicos momentos da história do rock onde este
respirou a vitalidade primitiva (leia-se guitarra mal-passada, sem
molho e sem legumes). O outro momento foi sua própria origem no
rockabilly dos anos 50. (NT)

[3] "If the kids are united" é a canção-símbolo da filosofia da Sham


69, o que se poderia chamar, numa linguagem empolada, de
"confraternizacionismo intertribal". A letra diz coisas ingenuamente
utópicas como "Olhe em volta, o que você vê? Moleques por todo lado,
com sentimentos como eu ou você", "Eu não quero ser rejeitado", "Eu
não tenho liberdade", "Se ficarmos juntos, será só o começo", "Se os
moleques se unirem, nunca poderão ser divididos". (NT)

[4] Segue texto escrito por um skin presidiário, que recebeu o irônico
título de "Borstal breakout", alusão à canção da Sham 69:

"Alguns de vocês já sabem como é bom cumprir sentença. Alguns de vocês


podem até estar aguardando julgamento e esperando o veredicto, e devem
estar imaginando como é a vida aqui dentro. Quem não tá em nenhum dos
casos é um sortudo, porque pode gozar sua liberdade. Mas até quando?

Não vou fazer nenhuma porra de sermão a vocês. Cada um leva a vida que
quer e como quer. Mas posso falar por mim, e no momento estou
cumprindo pena de 4 anos e meio em Portland. Fui em cana quando menos
esperava.
Eu já tava evitando encrenca e não queria mais saber de treta. Já
tinha até parado de beber com os tais 'camaradas', e não só tava com a
ficha limpa como não ia a gigs ou festas. A questão é que os caras que
só se ligam em pontos da moda nunca vão aos lugares que eu curtia pra
sair à noite.

Uma noite eu tava com minha turma festejando o aniversário dum amigo.
Quando dei por mim, estava de novo em clima de comemoração... e tô
comemorando até agora. Tudo bem, sou o primeiro a admitir que a vida
aqui não é tão dura (em outras prisões é até mais leve). Já cumpri 20
meses e até que passaram voando. Mas é óbvio que eu preferia estar do
lado de fora, fazendo o que quisesse e não o que me dissessem pra
fazer. Gigs, pubs, namoradas, a casa dum colega, a lista é infinita.
Em vez disso, aqui meu dia normal corre mais ou menos assim:

7:00 Despertado pelos gentis criados desta hospedaria através do suave


toque dum sino. Em seguida, tirar o corpo da cama e arrumá-la. Limpar
sua 'casa' para a inspeção diária. Se não estiver pronta a tempo você
perde o direito a uma reunião com os companheiros à noite. Se perder a
inspeção, você tem outra chance às 19:45, mas aí a geral é rigorosa,
feita pelo próprio diretor se cair num sábado. Checagem total,
naturalmente dando especial atenção à eventual sujeira (e eles olham
cada canto, pode acreditar)."

"Uma porrada de fãs nossos já tá em cana. Acho que é por isso que já
não tem tanta gente nas gigs. Talvez tenhamos que fazer uma turnê
pelas prisões." (Jimmy Pursey)

"7:30 Quarto aberto, sanitário usado, banho tomado, barba feita.


Cumprida esta etapa, sair fora pra pegar o café da manhã. Nada de
esperar por algum bom rango frito! Você ganha uma gororoba grudenta
chamada de 'mingau', umas fatias de pão e a especialidade do dia – uma
salsicha, um pedaço de bacon ou um ovo. Provavelmente você quer comer
sossegado, né? Trate de voltar pra cela e comer lá.

8:20 Quarto aberto de novo, desta vez pro trampo. São poucos os
serviços à sua escolha, e todos em 'benefício' da comunidade.

Mas antes tem a formatura da sua ala, e você fica perfilado junto com
a sua turma de trabalho, e depois outra formatura da prisão toda. Aí
você marcha até o local de trabalho para outra formatura, onde vão lhe
dizer o que fazer naquele dia. O bom do trampo é que você passeia por
toda a prisão e até por fora dela, se o serviço for externo.

11:50 Cada turma marcha de volta pra sua ala, pro almoço. De novo,
nada de esperar pelo cardápio, mas, pra ser sincero, podia ser pior.
De novo, toca pra cela pra comer.

13:30 De volta ao trabalho, via mesma velha rotina de formaturas.

16:30 De volta à sua ala, pegar o chá e já pra cela.

18:15 Quarto aberto pra hora de lazer. Você tá liberado pra se reunir
com os colegas, menos às quartas, mas mesmo nesse dia você tem
permissão pra participar de alguma atividade vespertina (trabalhos
manuais tipo marcenaria, ou então algum passatempo leve). O bom de
Portland é que você pode tomar um banho na hora de reunião, o que não
ocorre em todas as prisões. Há sessões de vídeo quatro noites por
semana, quando não a própria TV, além da sinuca, dos dardos, do tênis
de mesa ou coisa do tipo.

20:00 Fim da hora de convívio, volta à cela, e você fica trancado até
o dia seguinte. Aí começa tudo de novo.

E aí está você. Um típico dia em Portland. Nem todas as prisões são


como esta. Algumas têm menos serviço, a maioria tem menos convivência,
mas outras deixam a cela aberta o dia todo. São coisas que variam duma
pra outra.

De qualquer modo, você não tá aqui pra passar férias nem por ter
recebido um prêmio. Como você veio parar aqui dentro é assunto seu. Eu
sei onde devia estar em vez de ficar preso, mas já que a gente tá na
jaula o jeito é ficar na linha e não deixar que os filhadaputas te
abatam o moral.

Ficar firme e manter a cuca fresca."

Fuzz, skinhead de Didcott, 1990.


(Mais conhecido como Clark WP 0879 pelas autoridades)

///

[Nas discografias o autor não registra datas. Os anos aqui incluídos


foram pesquisados pelo tradutor em sua própria coleção e nas de skins
amigos, além de catálogos. Por esse motivo, não foi possível datar
todos os discos listados.]

DISCOGRAFIA DO MENACE

SINGLES:

"Screwed up" (Illegal)


"GLC" (Small Wonder, 1978)
"I need nothing" (Illegal)
"The young ones" (Fresh, 1981)
"Final vinyl" (Small Wonder)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"OI! CHARTBUSTERS" vol. 1 (Link)


"THE BEST OF OI!" vols. 1 & 2 (CD) (Link, 1991 e 1992)

///

DISCOGRAFIA DO COCK SPARRER

SINGLES:

"Running riot" (Decca)


"I love you" (Decca) (7" e 12")
"England belongs to me" (Carrere, 1982)

ÁLBUNS:

"SHOCK TROOPS" (Razor, 1983)


"RUNNIN' RIOT IN '84" (Syndicate, 1984)
"TRUE GRIT" (Razor, 1987)
"LIVE AND LOUD" (Link, 1987)
"RUNNIN' RIOT" (Link, relançamento)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"OI! THE ALBUM" (EMI, 1980)


"STRENGTH THRU OI!" (Decca, 1981)
"THE KIDS ARE UNITED"
"SON OF OI!" (Syndicate, 1983)
"THE SUN SAYS"
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1, 2 e 3 (Link)
"THE SOUND OF OI!" (Link, 1987)
"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)
"BEAT OF THE STREET" (Link)
"A GUARANTEED MUG FREE ZONE" (Link)

Os caras do Cock SParrer podem não ter sido skinheads, mas para muita
gente são eles os fundadores do punk de rua. Eles já guigavam havia um
ano quando os Sex Pistols se juntaram, e ao final da onda punk já
estavam na mira das grandes gravadoras por tocarem juntos havia tanto
tempo. Mas o Sparrer era tão genuinamente rueiro que sua estrela não
se apagaria tão cedo: eles ainda fariam uma reaparição triunfal com o
advento do Oi!. Não há dúvida de que bandas como os Cockney Rejects
têm uma dívida com o Cock Sparrer, e a maioria das bandas punks
rueiras coloca o grupo na sua lista de influências.

(NT -- Pra nós brasileiros a banda tem particular interesse porque um


de seus guitarristas é nascido aqui: Chris Skepis, um paulistano que
chegou à Inglaterra em 83, a tempo de participar da gravação do
primeiro LP, "SHOCK TROOPS" -- já que anteriormente o CS só tinha
gravado singles.

Voltando ao Brasil, Chris quase reformou o CS em São Paulo, mas sua


banda acabou optando pelo nome Sabotage. Antes da fase inglesa, Chris
integrara o grupo satírico Fickle Pickle. Atualmente é vocal &
guitarra na banda Pitbulls on Crack.)

///

DISCOGRAFIA DA SHAM 69

SINGLES:

"I don't wanna" (Step Forward, 1977)


"What have we got" (disco grátis de um só lado, 1977)
"Borstal breakout" (Polydor, 1978)
"Angels with dirty faces" (Polydor, 1978)
"If the kids are united" (Polydor, 1978)
"Hurry up Harry" (Polydor, 1978)
"Questions and answers" (Polydor, 1979)
"Hersham boys" (Polydor, 1979) 7" e 12"
"You're a better man than I" (Polydor, 1979)
"Tell the children" (Polydor, 1980)
"Unite and win" (Polydor, 1980)
"Rip and tear" (Legacy, 1987) 7" e 12"
"Outside the warehouse" (Legacy, 1988) 7" e 12"
"That's live EP" (Skunx, 1988) 12"
"What have we got EP" (Link, 1989) 12"

ÁLBUNS:

"TELL US THE TRUTH" (Polydor, 1978)


"THAT'S LIFE" (Polydor, 1978)
"THE ADVENTURES OF HERSHAM BOYS" (Polydor, 1979)
"THE GAME" (Polydor, 1980)
"THE FIRST, THE BEST AND THE LAST" (Polydor, 1980)
"ANGELS WITH DIRTY FACES" (Receiver, 1986)
"LIVE AND LOUD" (Link, 1987)
"LIVE AND LOUD" vol. 2 (Link, 1988)
"VOLUNTEER" (Legacy, 1988)
"TELL US THE TRUTH/THAT'S LIFE" (duplo, Receiver, 1989)
"THE ADVENTURES OF HERSHAM BOYS/THE GAME" (duplo, Receiver, 1989)
"SHAM'S LAST STAND" (Link, 1989)
"THE BEST AND THE REST OF" (Receiver, 1989)
"THE COMPLETE SHAM 69 LIVE" (Castle Communications, 1989)
"LIVE AT THE ROXY" (Receiver, 1990)

///

DISCOGRAFIA DOS ANGELIC UPSTARTS

SINGLES:

"The murder of Liddle Towers" (Dead Records)


"The murder of Liddle Towers" (Small Wonder, relançamento)
"I'm an upstart" (Warner Bros, 1979) 7" e 12"
"Teenage warning" (Warner Bros, 1979)
"Never 'ad nothin'" (Warner Bros, 1979)
"Flashback" (Warner Bros, 1979)
"Out of control" (Warner Bros, 1980)
"We gotta get out of this place" (Warner Bros, 1980)
"Last night another soldier" (Zonophone, 1980)
"England" (Zonophone, 1980)
"Kids on the street" (Zonophone, 1981)
"I understand" (Zonophone, 1981) 7" e 12"
"Different strokes" (Zonophone, 1981)
"Never say die" (Zonophone, 1982)
"Woman in disguise" (Anagram, 1982) 7" e 12"
"Solidarity" (Anagram, 1983) 7" e 12"
"Not just a name" (Anagram, 1983) 7" e 12"
"The burglar" (Anagram, 1983)
"Machine Gun Kelly" (Picasso, 1985) 7" e 12"
"Brighton bomb" (Gas, 1985) somente em 12"
"England's alive EP" (Skunx, 1988) somente em 12"

ÁLBUNS:

"TEENAGE WARNING" (Warner Bros, 1979)


"WE GOTTA GET OUT OF THIS PLACE" (Warner Bros, 1980)
"2,000,000 VOICES" (EMI, 1981)
"LIVE" (EMI, 1981)
"STILL FROM THE HEART" (EMI, 1982)
"REASON WHY" (Anagram, 1983)
"ANGEL DUST (THE COLLECTED HIGHS 1978-83)" (Anagram, 1983)
"LAST TANGO IN MOSCOW" (Picasso, 1985)
"LIVE IN YUGOSLAVIA" (Picasso, 1985)
"BOOTLEGS AND RARITIES" (Dojo, 1986)
"THE POWER OF THE PRESS" (Gas, 1986)
"BLOOD ON THE TERRACES" (Link, 1987)
"LOST AND FOUND" (Link)
"WE GOTTA GET OUT OF THIS PLACE" (WEA, 1987, relançamento)

PARTICIPAÇÃO EM VÁRIAS COLETÂNEAS, entre as quais:

"WARGASM"
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1 a 5 (Link)
"OI! THE MAIN EVENT" (Link, 1988)

///

DISCOGRAFIA DOS COCKNEY REJECTS

SINGLES:

"Flares and slippers" (Small Wonder, 1979)


"I'm not a fool" (EMI, 1979)
"Bad man" (EMI)
"The greatest cockney rip-off" (Zonophone, 1980)
"I'm forever blowing bubbles" (Zonophone, 1980)
"We can do anything" (Zonophone, 1980)
"We are the firm" (Zonophone, 1980)
"Easy life" (Zonophone, 1981)
"On the streets again" (Zonophone, 1981)
"Till the end of the day" (AKA, 1982)

ÁLBUNS:

"GREATEST HITS" vol. 1 (EMI, 1980)


"GREATEST HITS" vol. 2 (EMI, 1980)
"GREATEST HITS (LIVE AND LOUD)" vol. 3 (EMI, 1981)
"THE POWER AND THE GLORY" (EMI, 1981)
"THE WILD ONES" (AKA, 1982)
"QUIET STORM" (Heavy Metal, como The Rejects)
"UNHEARD REJECTS" (Wonderful World, 1985)
"WE ARE THE FIRM" (Dojo, 1986)
"LIVE AND LOUD" (Link, 1987)
"LETHAL" (Neat)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"OI! THE ALBUM" (como The Postmen e The Terrible Twins, EMI, 1980)
"TOTAL NOISE"
"OI! OI! THAT'S YER LOT" (como Arthur and The Afters, Secret, 1982)
"BACKSTAGE PASS"
"BURNING AMBITIONS" (Cherry Red, 1982)
"VIVA LA REVOLUTION"
"THE VINYL SOLUTION" (Dojo, 1986)
"OI! THE RESURRECTION" (Link, 1987)
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1, 2, 4 e 6 (Link)
"THE SOUND OF OI!" (Link, 1987)
"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)
"OI! GLORIOUS OI! (Link, 1987)
"BEAT OF THE STREET" (Link)

///

Capítulo Quatro
O SENTIMENTO RUEIRO

[Um público fanático é fator decisivo para o sucesso (ou insucesso)


duma turnê, e esta, por sua vez, ponto de partida (ou de despedida)
para uma grande carreira. A menos que o artista caia de paraquedas no
meio do show e do anonimato, como ocorreu com uma banda de Coventry
chamada The Special AKA, que se apresentou junto com o Clash durante
sua turnê "On Parole" em 1978. Aí foi mais um caso de "brilho"
momentâneo, sem conseqüências financeiras. Nesse caso a banda tem que
voltar à estaca zero.]

Simplesmente não deu certo a tentativa de consumar o matrimônio entre


o punk e o reggae, o que era a intenção da banda. A certa altura eles
convidavam o público a dançar; no momento seguinte, o convite era para
poguear. O resultado foi que a platéia acabava não fazendo uma coisa
nem outra. Num dia de sorte, o pior que poderia acontecer era os
espectadores se retirarem para a segurança dos bares e esperarem a
entrada do Clash. Num dia de azar, eles ficariam na platéia para dar à
banda as tradicionais boas vindas reservadas a toda banda que abre o
show da outra mais famosa: um fogo cerrado de xingamentos, vaias e
copos vazios.

Quando a turnê acabou, os Specials voltaram para Coventry com o rabo


entre as pernas. A banda passou um longo e tenebroso inverno no
quartinho dos fundos dum pub, dando tratos à bola e tentando pôr a
casa em ordem.

O cabeça do The Special AKA era o tecladista Jerry Dammers. Com seu
sorriso de manicômio e sua dentuça banguela, o garoto parecia
completamente retardado, mas na verdade era exatamente o contrário.
Apesar das aparências, o cara era crânio. Ele vinha conseguindo manter
a banda unida havia dois anos. Horace Panter fora colega de Dammers na
escola de arte, e tocava baixo numa banda local de soul chamada
Breaker.
Além disso, ele sabia dirigir um furgão. Lynval Golding tocara
guitarra numa banda chamada Pharoah's Kingdom, da qual sairiam dois
futuros Selecters. Terry Hall fora vocalista e cuspidor-mor num grupo
punk do pedaço chamado Squad. Roddy "Radiation" Byers tinha sido
guitarrista e vocalista dos Wild Boys. Outros desgarrados eram o
baterista John Bradbury, que viera de empréstimo duma sessão de
gravação e nunca mais voltara ao estúdio, e Neville Staples, que
participara da turnê como roadie e acabou entrando na banda junto com
Terry.

"Quando pintou a Sham 69 eu deixei crescer o cabelo." (Suggsy,


vocalista do Madness)

As propostas e oportunidades podem não ter surgido com a turnê "On


Parole", mas os Specials aprenderam alguns macetes trabalhando com
Bernie Rhodes, que era empresário do Clash na ocasião. A primeira
coisa era dar uma "limpada" no som, coisa que estava ao alcance da
mão.

Foi idéia de Dammers trocar o reggae pelo primitivo som jamaicano, o


ska, a fim de "radicalizar" e definir melhor a linha da banda. Em
tese, não parece uma mudança drástica, mas na prática a diferença é
enorme. O resultado foi a batida contagiante do ska junto com a rudeza
do punk, um som que tomaria de assalto uma nação desprevenida dentro
dos próximos meses.

A segunda coisa foi "vender" a banda não apenas pela música, mas como
um "pacote" completo, o que significava "ser do ramo" e não meramente
"tocar o som de quem tá no ramo". 1979 iria se revelar um ano
histórico para os movimentos jovens, não só para um ou outro, mas para
todos. Se você entrasse numa sala de aula de escola secundária naquele
momento, iria se deparar com uma festiva pluralidade de botas, parkas
(tipo de agasalho de lã com capuz), alfinetes de fralda, topetes e
emblemas do Motorhead.

Os Specials estavam tocando ska punkizado; logo, a alternativa mais


óbvia seria adotar o visual sessentista dos rude boys jamaicanos, com
um toque de detalhes mais atuais, como algo de mini-mod e de
suedehead.
"Porkpie hats" (um tipo de chapéu: ver capítulo 8), óculos escuros,
ternos de mohair, camisas de colarinho abotoado nas pontas, meias
brancas e sapatos pretos, tudo isso virou a última palavra em
vestuário, que caracterizaria o famoso logotipo da 2-Tone conhecido
como Walt Jabsco: uma caricatura de rude boy de corpo inteiro, que
aparecia parado de mão no bolso ou em posição típica do passista de
ska dançando.

O restante da banda já se dava por feliz pela aura de reconhecimento


advinda da nova imagem, uma bela compensação pelos anos de anonimato
na cena musical dos Midlands. Mas Dammers não estava satisfeito.
Queria algo mais, não o mero sucesso conduzindo à fama & à fortuna.
Claro que isso tudo seria bem-vindo. O que Dammers ambicionava,
contudo, era criar uma banda modelo, um protótipo, a exemplo do Who,
dos Small Faces, do Slade ou dos Pistols. Uma banda que abrisse o
caminho e fosse seguida, que tivesse conteúdo, algo mais consistente
que colocação nas paradas e aparições no "Top of the Pops".

A visão de Dammers envolvia a criação dum novo movimento, girando em


torno duma gravadora, tal como a Stax e a Tamla em relação ao soul
sessentista. O lançamento do single de estréia da banda, "Gangsters",
em março de 79, foi o nascimento daquela que seria a almejada
gravadora. Seu nome era 2-Tone, e pelos próximos dois anos seria ela o
toque de reunir para a nata das bandas do ska britânico e seus fãs.

Os Specials não poderiam ter escolhido melhor hora para levantar a


bandeira quadriculada da 2-Tone. Os mods tinham sido os pioneiros na
"descoberta" do som ska nos anos 60, e os skinheads originais tinham
algo daquela batida em sua formação. Ambas as tribos começavam a
reviver maciçamente aqueles valores no final dos anos 70, o que
garantia o potencial sucesso dos Specials e de outras bandas que logo
associariam sua imagem à da gravadora 2-Tone.

"Eu entrei de sola nesse negócio de 'gênero' suedehead. Fui fundo


numas de bebida e vandalismo. Eu costumava ficar de porre bravo e
metia o pé nas vitrines." (Jerry Dammers, tecladista dos Specials)

Se foi a Sham e suas co-irmãs que deu aos skinheads um novo sopro de
vida no plano musical, a 2-Tone foi quem lhes deu uma trilha sonora
mais autêntica no que concerne ao aspecto dançante. Na verdade, os
Specials carrearam para si muitos skins que curtiam bandas punks, e
transformaram seu ska num chamariz para novos skins.

Uma das primeiras grandes apresentações da banda em Londres foi em


abril de 1979, no Lyceum, quando foram anunciados no último lugar do
cartaz, embaixo dos nomes do Damned e dos UK Subs. Os Subs tinham uma
respeitável platéia skinhead na época, a qual imediatamente aderiu aos
Specials, passando a freqüentar-lhes as gigs, dali por diante. Logo
novos pares de botas se juntaram para pular no assoalho, exigindo
barulhentamente que alguma grande gravadora prestasse atenção na banda
e firmasse contrato com ela.

Mal sabiam os Specials que não eram a única banda a fazer tanto
sucesso com o ska. Na mesma ocasião, pelo menos duas bandas trilhavam
as mesmas ruas em Birmingham: The Beat e UB40. Na própria Londres já
havia bandas similares, nos moldes do Madness e dos Bad Manners. Todas
gerando imitadores por toda parte. O passo inicial fora dado pelos
Specials, e agora era questão de tempo para que as outras quebrassem
as barreiras da indústria musical e pusessem aquela palavrinha
simpática -- ska -- no vocabulário da moda dançante.

Poucos meses depois do lançamento de "Gangsters", os Specials já não


estavam confinados ao público do circuito punk. Eles tinham criado o
maior tititi desde que Johnny Rotten pusera sua boca a serviço dos Sex
Pistols, e agora tinham casa cheia como atração principal e não mais
abaixo de outras bandas. No final de julho, a 2-Tone promoveu uma
noitada no Electric Ballroom de Camden Town (Londres), com a
participação dos Specials, do Madness e duma outra banda de Coventry
chamada The Selecter. Filas de skinheads, mods e punks do lado de
fora, ameaçando obstruir toda a High Road de Camden. Estava na cara de
cada tribo que aquilo tinha virado uma verdadeira coqueluche.

Quem estava em seu próprio território naquela noite era o Madness, que
no momento contava com o maior contingente de fãs skins entre as
bandas de ska. Muitos desses fãs eram comerciantes de botas e
suspensórios que aproveitavam a maré favorável para levar alguma
vantagem. Um dos skins mais fanáticos, Chas "Smash" Smythe, acabou
entrando para a banda. Ele já tinha sido cortado da primeira formação,
porque só "fingia" tocar baixo, mas conseguiu reconquistar o lugar de
membro permanente graças à sua habilidade como "mestre de cerimônias"
nas gigs e também como passista do ska (incluindo umas botinadas de
lambuja).
Na verdade, a banda vinha sobrevivendo aos trancos e barrancos desde
sua formação em 77 como The North London Invaders. Desde então,
tentavam manter uma formação fixa. O principal vocalista, Graham
"Suggs" McPherson, chegara a ser cortado porque tinha abandonado um
ensaio só para assistir o jogo do seu time do coração, o Arsenal.
Outro não muito garantido na banda era o saxofonista Lee Thompson.
Somando-se Mike Barsons no teclado, Chrissy Boy Foreman na guitarra,
Mark Bedford no baixo e Dan Woodgate na bateria, os Invaders começaram
1979 rebatizados de Madness, e daí em diante foi o que se viu: pura
loucura (significado da palavra "madness").

Quis o acaso que Suggs se entrosasse com os Specials certa noite no


Hope & Anchor, papeando com Jerry Dammers. Desse papo resultou uma
colaboração entre as duas bandas, que logo compartilharam os mesmos
palcos e cartazes, como no Nashville no verão seguinte.

Tão logo o Madness começou a fazer nome como banda skinhead, suas gigs
se encheram de skins os mais pirados e desabotinados, que se sacudiam
à sua maneira no embalo daquele som incrementado.

Uma banda londrina de Fellow Norf, chamada Bad Manners, também teve
seus tipos excêntricos entre os fãs e na própria formação,
particularmente um que fez enorme sucesso no meio da carecada,
conquistando a simpatia de todos, principalmente dos gordos.

Seu nome era Doug Trendle, mas o pesoal o conhecia como Buster
Bloodvessel (algo como "o brutamontes batuta"). Sua marca registrada,
além da lenda de encarar trinta Big Macs duma vez só e de ter uma
língua de treze polegadas de comprimento, era a cabeça totalmente
careca. Dentro ou fora do palco, aquele vocalista descomunal era
inconfundível, graças ao crânio reluzente e ao corpo condizente. Um
artista de peso, poder-se-ia dizer.

"Outro dia eu tava num pub e dois caras tavam tocando acordeão. De
repente, começou um quebra-pau. Por aí se vê que esse lance não rola
só nas nossas gigs..." (Louis Alphonso, guitarrista dos Bad Manners)

Quando o cara pulava nas suas botas, suando em bicas por dentro dos
jeans e cantando coisas sobre skinheads, gordos e pileques, ficava
rodeado de músicos que pareciam refugiados duma liquidação de
hospício.
Seria difícil achar uma trupe de marcianos mais esquisita. Não é que
Buster se vestisse mal. É que, quando Deus estava distribuindo
camisetas listradas sujas e furadas, o gordo devia ser o único cara
que tava na fila.

Ao contrário do Madness, que transou seu primeiro single, "The


prince", pela 2-Tone, os Manners preferiram seguir estrada própria e
acabaram nos quadros da Magnet. E não fizeram má escolha, já que
emplacaram gravações como "Lip up fatty" e "Special brew" e não
deixaram de aparecer no filme da 2-Tone (um filme algo decepcionante,
aliás) intitulado DANCE CRAZE.

Os skinheads estavam como peixe n'água com o novo som do ska. Era como
reencontrar velhos amigos depois duma longa ausência, em vez de tentar
fazer novos. Principalmente praqueles que tinham idade pra lembrar dos
melhores dias do reggae skinhead.

Mesmo assim, ainda metia um pouco de medo tocar para uma audiência
majoritariamente skinhead, como ocorria regularmente em Londres. Uma
banda chamada simplesmente The Beat, que lançou "Tears of a clown"
pela 2-Tone, teve prova disso na primeira vez que se viu cara a cara
com um mar de carecas numa gig. Foi um concerto desconcertante para os
concertistas. Eles talvez não contassem com tantos skins, mas o caso é
que o cabelo raspado tinha virado moda de novo e nem todo mundo
percebia isso. Porém o susto da Beat não se repetiria. Eles se
acostumaram depressinha.

O sucesso dos Specials, do Madness e de outras bandas de ska não


estava só baseado nos desertores deserdados da Sham Army. Toda a nova
geração de skins aderiu, inclusive os que não queriam saber de som
punk. Estes se dedicaram de corpo, alma e cabeça raspada ao ska e ao
reggae, revividos nos clubes e gigs.

Agora era comum a garotada chamar-se a si mesma "rude boys" ou "rude


girls". Desta vez a maioria era composta de brancos, cujo amor pela
música fora despertado pelas bandas ligadas à 2-Tone. O "código
indumentário" dessa geração era estritamente preto-e-branco, e, ao
final do verão, as ruas estavam literalmente trajadas nesses dois tons
(significado do nome 2-Tone, que também jogava com o sentido racial,
ou antes, inter-racial, além do musical). Era uma verdadeira multidão
rueira composta de milhares de mini Walt Jabscos.

O nome fazia pouca diferença. No geral, a única coisa que distinguia


um skinhead dum rude boy ou dum mod era um distintivo, um button, um
detalhe sutil aqui ou ali. Se você visse um cara andando na rua de
cabeça raspada, jaqueta Harrington, jeans e mocassins, podia imaginar
que ele se declararia membro de qualquer daquelas três tribos. Só pra
confundir um pouco mais, muitos skins, mods e rudies costumavam agitar
juntos.

A rapidez como o ska cobriu a Grã-Bretanha de preto-e-branco foi


impressionante. Por ocasião da turnê da 2-Tone (programada para 50
shows em diferentes cidades, a começar pelo Top Rank de Brighton, um
dos templos do reggae e do soul em anos passados), nada menos que três
bandas da gravadora estavam nas paradas. E antes que a turnê
terminasse, todas três (Specials, Selecter e Madness) tinham aparecido
na mesma edição do "Top of the Pops". Foi mais uma suada conquista que
propriamente uma barbada tranqüila.

Não nos esqueçamos, porém, que a vida no meio da estrada não é feita
só de cestinhas de piquenique e flores do campo. A violência dos
skinheads não tardava a dar o ar de sua graça, ameaçando estragar a
festa. Era aquela velha história: a treta podia começar por causa do
futebol, da política ou da própria rivalidade entre gangues ou tribos.
São coisas que não mudam nunca, e assim continuava pintando gente nas
gigs só para comprar barulho. Nesse caso, bastava uma simples
cotovelada no balcão do bar, e pronto. Estava entornado o caldo pruma
tretinha em proporções monumentais.

Houve, de fato, alguns casos de violência durante a turnê da 2-Tone,


mas o mais grave foi o ocorrido na Poly, em Hatfield, logo na primeira
semana da excursão. No meio da apresentação do Selecter, uma gangue de
30 caras forçou passagem na área do bar, através da saída de incêndio,
passando a atacar as pessoas com navalhas e facas Stanley.

Eram os mesmos caras que tinham sido barrados na entrada pouco antes,
por estarem portando bandeiras com as inscrições "The Hatfield Mafia"
e "Hatfield Anti-Fascist League" (Liga Antifascista de Hatfield), e
estava na cara que eles tinham vindo procurar confronto com adeptos do
National Front. Por "adepto do NF" entenda-se (segundo a cabeça deles)
qualquer um que estivesse de cabelo raspado e de botas, já que eram os
skins que pagavam o pato em caso de violência. Pra que perder tempo
perguntando sobre filiações partidárias se tudo "estava na cara"?
Placar final: entre "mortos & feridos", dez pessoas hospitalizadas,
onze presas e um puta prejuízo material no prédio dos estudantes da
Politécnica.

O que estava na cara, pra quem tem a cabeça no lugar, é que a maioria
dos skinheads que iam assistir as bandas da 2-Tone não apoiava nem o
NF nem o British Movement. Na verdade, não estavam nem aí pra
política. Mas acontece que, apesar da óbvia composição e postura
multi-racial das bandas, alguns setores do público das gigs da 2-Tone
dava força, ao menos da boca pra fora, à extrema-direita. Fingimento?
Provavelmente não.

Muitos skinheads não viam o menor problema em dançar num show do grupo
The Beat com um exemplar do BULLDOG debaixo do braço ou enrolado no
bolso de trás da calça. Nem lhes passava pela cabeça qualquer sinal de
incoerência. Mas aí é que estão as vicissitudes e contingências duma
participação coletiva envolvendo meninos que caminham para a idade
adulta.

Mesmo as pessoas que deviam ter maior noção das coisas pareciam não
enxergar muito mais longe que seus narizes metidos. A maioria dos
tablóides sensacionalistas vinculava a 2-Tone aos skinheads, e faziam
tal associação para tentar exorcizar o que se supunha ser um movimento
fascista musical. O EVENING NEWS de Londres chegou a estampar uma foto
do Selecter sob a seguinte manchete: "Don't rock with the sieg
heilers" ("Não entre no rock dos hitleristas"). Considerando que, numa
banda de sete membros, o único branco era Neol Davies, qualquer
criança de três anos concluiria que o conjunto não era exatamente o
candidato favorito das bases do NF. O movimento Rock Against Racism
(Rock contra o racismo) não demorou a vir pegar no pé das bandas de
ska com aquela ladainha de que elas não estavam fazendo "o suficiente"
para combater o racismo, mas isso só servia para dar uma idéia da
visão mesquinha e sectária do RAR, em comparação com a total abertura
de cuca do Madness ou dos Specials.

Não podia haver melhor apelo em favor da harmonia racial que ver
negros e brancos juntos no mesmo palco, principalmente quando o palco
era da TV, atingindo milhões de lares. Muitos skins talvez fossem do
NF na época, mas, se não fosse a 2-Tone, vocês podem apostar até o
esfíncter que os partidários do nazismo seriam muitos milhares a mais.

O Madness foi a banda que sofreu mais crítica, por serem todos
brancos.
Quem sabe se Lee Thompson se travestisse de menestrel mulato a coisa
fizesse alguma diferença... O fato é que ska e fascismo nunca foram os
melhores parceiros na cama, e o Madness deixava isso claro, ao
declararem que não pertenciam ao NF nem faziam política. Como se não
bastasse, eles avisaram os fãs que, se a violência não tivesse um
paradeiro, a banda jogaria tudo pro alto e pediria o boné. [1]

É claro que a advertência não deteve a freqüência de skinheads do NF


nas gigs. Chas pisou de leve no calo quando declarou ao NEW MUSICAL
EXPRESS que o Madness não ia, de jeito nenhum, fazer algo para
impedi-los de vir, mas sua opinião não foi compartilhada pelo resto da
banda. Isso não era o que a imprensa queria ouvir, mas ele marcou seu
ponto, e ponto.

Alguns garotos eram a favor do NF só porque estava na moda. Afinal, se


eles não tivessem a frase "Eu sou NF" tatuada na testa, como poderiam
os outros saber quem freqüentava as gigs e quem não freqüentava? Quem
mandou a sociedade "reprovar" o NF? Agora nós "temos" que apoiá-lo,
porque somos mesmo do contra...

Não é que o Madness fosse indiferente. Simplesmente não era um


problema que pudesse ser facilmente resolvido com pontos de vista,
como queriam alguns setores da imprensa. Se se proibissem as insígnias
do NF, os caras do partido viriam sem elas. Se se proibissem os
skinheads, eles apenas deixariam o cabelo crescer, e viriam. De mais a
mais, nada impediria os mods do NF ou os boyzinhos do BM de
comparecer.

Era até melhor que eles estivessem dentro das gigs, onde poderiam
ouvir ska e reggae e talvez aprender a apreciar o som negro com todas
as suas implicações, até concluírem que ser um skinhead envolvia algo
mais que erguer o braço direito e cuspir slogans.

O Madness não estava sozinho nessa posição. Rankin' Roger, do Beat,


achava melhor papear com os garotos que se diziam do NF, tentando
trazê-los para o lado não-racista. Lynval Golding, dos Specials,
concordava com Roger, mesmo depois de ter sido hospitalizado em
conseqüência dum ataque racista na porta do Moonlight Club em 1980.

Não era a tática que o RAR tinha em mente, mas se você perguntar a
alguém do lado da 2-Tone do que ele mais se lembra disso tudo, é quase
certo que ele lhe contará uma história sobre um skin racista que levou
um papo com Lynval ou outro membro negro duma banda, e acabou voltando
sem o distintivo do NF.

Ninguém queria violência nas gigs, mas, ao mesmo tempo, as bandas não
tinham interesse em repelir os fãs skinheads. Eram eles, antes de
tudo, quem tinha dado força para que elas galgassem os primeiros
degraus do sucesso. Muitos clubes adotaram a política da porta fechada
aos skinheads por causa das tretas, mas a reação das bandas como os
Specials e as Bodysnatchers foi a recusa de tocar em tais clubes.
Boicote respondido com boicote. Pena que sejam poucas as bandas a
colocar seus fãs na frente de interesses menos lúdicos e mais
contábeis.

De qualquer modo, a violência nas gigs da 2-Tone não tinha motivações


exclusivamente políticas, e o episódio de Hatfield não se repetiu.
Muitas tretas eram dirigidas contra as bandas que não tocavam ska mas
participavam das mesmas gigs. Nesse caso era uma treta típica entre
adeptos de diferentes gêneros de som. Foi o que ocorreu quando os
skinheads não deixaram a banda Echo & The Bunnymen terminar sua
apresentação, que rolava na mesma gig em que estavam incluídos o
Madness e os Manners, no Electric Ballroom. A mesma coisa aconteceu
com a Red Beans and Rice quando o Madness voltou a tocar no Ballroom
meses depois, e com a Holly and The Italians, forçada a desistir de
abrir o show do Selecter na turnê da 2-Tone, depois que seus fãs foram
atacados na gig pelos skins.

"Todo mundo cai de pau em cima do skinhead, mas ninguém olha o lado
bom. Em Dingwalls, por exemplo, os skins estavam sempre em volta,
prontos pra acabar com qualquer bagunça." (Chas Smash, trompetista e
vocalista do Madness)

Não quer dizer que todas as gigs acabassem em treta. Assim como as
passadas gigs da Sham e as futuras do Oi!, muitas transcorriam sem o
menor incidente, a menor "palavrinha" trocada ou qualquer intervenção
da polícia, a qual vivia estacionada nas imediações, torcendo para ter
uma chance de "manter a ordem".

A tranqüilidade às vezes chegava ao ponto de se ver mods e skinheads


curtindo a gignuma boa em vez de criar seu próprio entretenimento, o
que, afinal de contas, era o que se espera duma gig. Mais que qualquer
outro gênero, era o ska que operava esse prodígio de permear as
barreiras entre as diversas tribos. Mesmo porque, fora das gigs, os
skins e mods andavam se aliando nas tretas de feriado bancário contra
os teds e os rockers.

O Southend e a costa de Kent eram os retiros mais procurados pelos


skinheads de Londres nos feriados prolongados. Brighton, Scarborough,
Great Yarmouth, Rhyl, e praticamente todas as outras cidades que
tivessem praia e garotas acabavam ganhando espaço no noticiário por
causa dalguma visitinha de cortesia da brigada botinuda.

As batalhas regulares entre mods e skins só rolariam pra valer quando


a fase da 2-Tone desse vez à era Oi!, mas nem sempre a coisa era como
os tablóides noticiavam. A imprensa marrom via tudo e todos como alvos
potenciais da treta skinhead. E passava essa versão aos leitores com
total leviandade e inconseqüência. Mas a cena mais comum era a dos
"exércitos mistos", formados por skins, mods e rudies, que se aliavam
para combater o "inimigo comum", os greasers, numa espécie de retomada
das batalhas dos anos 60.

Uma ou outra ocasião, nesta ou naquela praia, você podia deparar com
mods tretando com teds, skins tretando com motoqueiros, torcedores
tretando com skins, ou mesmo mods tretando com mods.

Tudo dependia de com quem você estava e com quem você cruzava. As
pessoas se reconhecem ou se estranham por vários motivos, desde uma
paquera até um pisão no pé. O resto é com a turma.

Logo logo, os "exércitos de ocupação" skin não puderam passar da


plataforma da estação de trem. Os homens da lei estavam a postos para
colocá-los de volta no trem e mandá-los pra casa antes que os
botinudos pudessem tirar sua casquinha da calçada da praia.

A polícia tinha um gostinho todo especial em enquadrar skinheads pra


tirar-lhes o gostinho de deixar a marca da sola do coturno na areia,
coisa de que a carecada se orgulhava. Os tiras tiravam-lhes os
cadarços e os suspensórios, deixando claro que tinham raiva dos skins
porque eles cancelavam sua folga do feriado.

Cada skin revistado procurava manter a pose na frente dos


companheiros, e os mais velhos demoravam mais para "circular", mas
quando os guardas vinham com os cachorros e ameaçavam soltá-los, todo
mundo dava no pé que nem criança.

A maioria das detenções era por delitos leves, como bebedeira,


perturbação da ordem ou comportamento ameaçador. Considerando o número
dos que dançavam por causa de treta, a quantidade de ferimentos graves
era bem pequena, descontadas, naturalmente, as queimaduras de sol.
Isso porque a treta raramente ia além das puteações entre turmas
rivais duma calçada pra outra, ou, no máximo, uma "caçada" de ponta a
ponta da rua, com muita correria e gritaria, só para impressionar. A
polícia tinha ciência disso, e as chances de alguém ficar com a cara
debaixo da sola só eram grandes se o cara se desgarrasse da turma e
fosse pego sozinho, ou se saísse para "caçar" em bando muito pequeno.
[2]
"Quem sou eu pra dizer que eles não podem subir no palco? Eles não
pagaram ingresso? Então podem fazer o que quiserem, na minha opinião."
(Terry Hall, vocalista dos Specials)

Voltando à cena musical: o Madness deu um jeito de tirar o corpo fora


daquela violência quando foi tocar nos States e, ao voltar, fez o
possível para dissociar seu nome do rótulo skin. O som dos caras já se
distanciava do ska e caía mais no pop convencional, manobra que faria
do Madness uma das bandas mais bem-sucedidas da década de 80. Gigs em
horário de matinê eram programadas para que os fãs mais jovens
pudessem assistir seus heróis mais cedo, sem risco de voltar para casa
de nariz sangrando. Tais mudanças fizeram do grupo o queridinho dos
"teenyboppers", e evitaram que passasse à história como uma versão ska
da Sham 69.

Guinadas como essa em direção ao som mais pop não eram do agrado de
todo mundo. Alguns viam nisso apenas uma jogada comercial, oportunista
e até traidora. Algo como: primeiro deixamos que os skins nos promovam
e incrementem nossa lenda; depois a gente os descarta como
inconvenientes e sujadores de barra. Nem sempre era esse o caso.
Quanto ao Madness, os skins compareceram às gigs até que "The ghost
train" marcasse a despedida da banda em outubro de 1986. E nunca
deixaram de prestigiar as antigas preciosidades como "One step
beyond", "Night boat to Cairo" e "My girl".

Na verdade, o Madness já tinha dado outra guinada em sua carreira,


quando assinara com a Stiff e abrira mão do compromisso com a 2-Tone e
com a imagem desta, a qual, por sua vez, se firmaria com as
Bodysnatchers no verão de 1980, um ano depois que "Gangsters" chegou
aos vinte mais. Mas a imprensa musical é frívola & volúvel, e se
dependesse dela, tão depressa quanto alguém é promovido ao estrelato,
comemora-se-lhe a decadência. De repente, a 2-Tone era um peso morto e
todo mundo esperava o dia do enterro.

Uma que não caiu nas boas graças da mídia foi a Bad Manners. Sua linha
de música desencucada, de pura curtição, caracterizada por faixas
descontraídas e piradas como "Ne ne na na na na nu nu", era
estigmatizada pelos críticos de paladar exigente como "nonsense
superficial" e relegada à categoria de material descartável.

"A 2-Tone virou um monstro, que nem o do Frankenstein. É o perigo de


se tornar muito comercial. As pessoas já não acreditam na gente, mas a
gente continua fazendo a coisa, dum jeito ou de outro." (Jerry
Dammers)

Tem gente que tem sérios problemas com a curtição e não consegue
admitir que alguém só queira se divertir. Vendo os Bad Manners ao vivo
se tem a exata noção disso. As músicas dos caras podem não ser páreo
para as do Selecter ou dos Specials em termos de conteúdo social, mas
o gordo e sua curriola estavam pau a pau com qualquer banda em matéria
de entretenimento.

Para quem tinha uma bandinha de ska interiorana querendo vê-la


explodindo nacional e internacionalmente, a coisa podia ficar na
vontade. Bandas como Mobster e The Ska Dows não conseguiam sequer
divulgar seus lançamentos junto aos resenhistas. Algumas eram
reconhecidamente pobres, outras meramente oportunistas, mas, ao
dispensar qualquer coisa que não trouxesse o timbre da 2-Tone no
release, a imprensa musical podia estar injustiçando verdadeiras
preciosidades, que desapareciam no anonimato.
"Que é isso? O controle de qualidade da 2-Tone saiu de férias, ou o
quê?" (Resenha do NEW MUSICAL EXPRESS sobre os Swinging Cats)

Uma banda de Hull chamada Akrylykz lançou uma dessas preciosidades,


"Spyderman", pela Red Rhino, e deu ao vocalista Roland Gift (dos Fine
Young Cannibals) a chance de entrar no showbiz. Outra foi "Ska wars"
(pela Red Admiral) da banda de Herne Bay chamada Arthur Kay & The
Originals, cujo líder encontraria melhor sorte na banda Oi! The Last
Resort. E por aí vai: muitas boas faixas gravadas por bandas quase
desconhecidas como Boss, Redline, Cairo ou The Gangsters, que
mereceriam melhor acolhida do que aquela que tiveram.

Mais cedo ou mais tarde, o revertério atingiria a própria 2-Tone.


Sempre havia um ou outro jornalista que tinha tido alguma experiência
desagradável num trem do metrô lotado de skinheads, e as Bodysnatchers
pareciam um ótimo bode expiatório pra desforrar em cima.

Uma inexperiente banda só de garotas, que tinha conseguido chegar às


paradas mais cedo do que outras bandas achavam lugar pra ensaiar,
carecia de algumas palavrinhas mais contundentes ditas nos lugares
adequados. Mas, mesmo com uma cover bem escolhida do clássico de Dandy
Livingstone "Let's do rock steady", as meninas não se encaixavam nas
expectativas da imprensa, que queria algo mais "radical" numa banda
feminina.

O single seguinte, "Easy life", era tão bom quanto outros lançamentos
da famosa etiqueta xadrezinha, que amargaria outros fracassos de
bandas mistas como The Swinging Cats, The Higsons e The Apollinaires,
todas três vistas como inferiores aos grupos masculinos do gênero e
rejeitadas pelo próprio público da 2-Tone.

A verdade é que não havia uma única banda de ska que não tivesse
"ressuscitado" algum sucesso do passado como "muleta" do repertório. O
EP dos Specials "Too much too young" incluía quatro clássicos do
reggae skinhead, e até a faixa-título era uma nova roupagem do "Birth
control" de Lloyd Terrell. O Selecter incorporou ao repertório
"Murder" de Owen Gray e "Carry go bring come" de Justin Hinds & The
Dominoes, e o Madness teve acesso a uma bela coleção de canções de
Prince Buster. The Beat fez cover de "Tears of a clown" dos Miracles,
entre outras, e praticamente todas as bandas interpretavam "Madness"
do Prince alguma vezinha. A UB40 chegou a tocar ao vivo como banda
cover, resultando no álbum "LABOUR OF LOVE".

Tudo isso tinha um lado positivo. Canções clássicas, que perigavam ser
esquecidas, voltavam à vida e ganhavam nova geração de apreciadores
entre os skinheads. Em troca, a demanda pelos originais era
incrementada, o que daria à Trojan e à Island novo gancho para
relançar seus catálogos. "Skinhead moonstomp" pôde reassumir seu
lugarzinho lá no fim da lista dos mais vendidos, enquanto os veteranos
Prince Buster, Desmond Dekker, Judge Dread e outros viam-se de volta
aos estúdios de gravação. Laurel Aitken teve inclusive seu primeiro
hit nas paradas, com "Rudi got married" (I Spy), mas o grande barato
mesmo foi poder ver de novo os velhos monstros como Laurel em cima do
palco, o lugar que lhes cabia.

Durante 1980, Jimmy Cliff, Desmond Dekker, The Heptones, Toots & The
Maytals, Judge Dread e a patota toda correram a Grã-Bretanha pra cima
e pra baixo, para deleite do novo público. Eles tinham mais é que
agradecer às bandas da 2-Tone pela chance de revitalizar o som da
Jamaica.
Quanto à própria 2-Tone, parecia um monstro fora de controle. Era algo
certamente muito maior do que Dammers e sua turma poderiam ter
sonhado, mas em lugar duma trilha de conto de fadas rumo ao sucesso, a
coisa tendia mais pro pesadelo. Os planos e pretensões originais da
gravadora já estavam mortos e enterrados sob uma pilha de distintivos
costuráveis, gravatas pretas baratas e coisinhas do gênero. Para o
Selecter era o que bastava pra dizer chega.

Primeiro tentaram fechar a 2-Tone e "passar o ponto", mas, como os


Specials não atavam nem desatavam, o Selecter saiu fora e assinou
diretamente com a Chrysalis, pela qual lançariam novos singles e um
segundo LP, "CELEBRATE THE BULLET", mas a banda que tinha tudo para
ser uma das maiores da década de 80 não passou de 1981.

Os Specials também sentiram o drama e resolveram romper com o passado,


em busca dum novo território musical. O lançamento de "MORE SPECIALS"
(1980) já sublinhava a mudança de rumo. Vestígios de ska ainda
remanesciam, mas misturados a pesadas doses de soul, rockabilly e
daquilo que Jerry chamava "musak". O álbum era bem mais relaxado que o
de estréia, e a banda tratou de tirar os ternos e "loafers" pra vestir
uma roupa mais esportiva, de acordo com seu novo estilo "eclético".

Música para servir de tema a estudantes era algo que fazia um skinhead
fugir de susto, mas, depois de tudo feito e irreversível, o álbum até
que satisfazia aos vários gostos, abrindo a brecha para que a banda
continuasse produzindo outras coisas do agrado coletivo como "Rat
race", "A message to you Rudy", "Concrete jungle", etc.

Todo músico tem o direito de desenvolver seu som e pesquisar novas


fórmulas. Deve ser um saco ter que executar as mesmas músicas noite
após noite, e, se você se contenta em repassar o mesmo repertório pelo
resto da vida, então era melhor dar as mãos a gente como o Yes desde o
começo. Da mesma forma, os fãs têm o direito de dizer não, obrigado. E
a visão de centenas de skins fãs de "musak" enchendo as platéias da
2-Tone era algo tão absurdo quanto João Gilberto fazendo cover de
"Mosca na sopa".

"Veja o caso dos Specials. Nós não viramos sucesso da noite pro dia.
Já as Bodysnatchers e os Swinging Cats parece que não querem batalhar
pra chegar lá. Eu acho que os Swinging Cats são é folgados, isso sim."
(Lynval Golding, guitarrista dos Specials e da Selecter)

Mesmo assim, os Specials ainda eram capazes de lotar qualquer casa do


país e, com toda a "abertura" de seu som, o público tribal continuava
fiel. Pelo final de 1980, a ampla maioria dos freqüentadores das gigs
era composta de skinheads, mods, rudies e uns quatro punks pingados.
Os chamados "normais" às vezes nem voltavam, de medo de ficarem em
inferioridade e serem escolhidos para a velha prática da botinada.

A invasão do palco durante as apresentações era outro problema não


resolvido. Era uma tradição que se generalizara entre as bandas de
ska, mas, tal como sucedera com a Sham, ficava cada vez mais duro de
controlar. Assim que os Specials entravam no palco, os fãs os cercavam
como uma roda de linchadores, até o ponto em que as músicas tinham que
ser interrompidas porque os instrumentistas não conseguiam espaço para
tocar.

Em vez de providenciar barricadas, os Specials simplesmente mandaram


fazer palcos cada vez mais altos, de forma que a banda ficasse mais
resguardada e pudesse ao menos tocar tranqüila. Mesmo assim, a coisa
chegou a um ponto tal que, no verão de 1980 em Skegness, o palco cedeu
sob o peso de metade do público que conseguira escalá-lo, enquanto a
outra metade ainda tentava escalar.

Alguém ainda ia acabar morrendo daquele jeito. Muito a contragosto,


foi tomada a decisão de esvaziar o palco durante as performances. A
providência causou revolta e tumulto em Dublin, quando a banda
visitava a tão pacata Irlanda. Os freqüentadores quebraram o pau com
os leões-de-chácara bem munidos, na tentativa de alcançar o palco do
Starlight Ballroom, e poucos dias depois a casa foi totalmente
incendiada.

Ao contrário do que houve com o Madness, a mudança de rumo dos


Specials não logrou pôr paradeiro às tretas nas gigs. Durante a turnê
"More Specials", o quebra-pau pipocou em Cardiff, Edinburgh e
Newcastle.
Mesma coisa em Cambridge, onde uns 30 ou 40 jovens sem ingresso
forçaram a entrada no imenso recinto do Midsummer Common, que já
abrigava 3.500 pagantes ávidos por ver os heróis da 2-Tone. A treta
começou por causa de futebol, mas já que os diplomáticos
leões-de-chácara meteram seu diálogo no meio, as conversações foram da
porrada ao derramamento de sangue.

Os Specials faziam o possível para baixar a temperatura, saindo do


palco em diversas oportunidades, mas o fato é que eles não estavam
preparados sequer para ficar e presenciar algum moleque ser chutado
pelos seguranças trogloditas. Com a chegada da polícia e a
desobstrução do local, Dammers e o vocalista Terry Hall se viram
indiciados por incitamento a distúrbios, e ambos acabaram
desembolsando multas de milhares de libras, graças ao sistema legal
mais legal do mundo.

Era demais, também para os Specials. As coisas só se acalmaram do lado


da 2-Tone quando cada membro da banda foi se dedicar aos projetos
pessoais. A dissolução da banda já se prenunciava, mas não se
concretizaria antes duma especialíssima experiência criativa durante o
longo e quente verão de 1981.

"Não basta você pessoalmente ser anti-racista. Você tem que ser
afirmativamente anti-racista. Você tem que assumir firmemente uma
posição contra o racismo, do contrário nada vai mudar." (Jerry
Dammers)

O desemprego atingia níveis sem precedentes na Inglaterra, e as


cidades do interior literalmente pegavam fogo. O que tornava as coisas
mais irônicas e amargas para o povão eram as bodas reais (o casamento
do príncipe Charles com Lady Di) que monopolizavam as atenções
oficiais. O ponto culminante foi quando o helicóptero que seguia o
cortejo real sobrevoou um estacionamento de vários andares, em cujo
telhado estavam pintadas em letras colossais as palavras "Tudo de bom
pro Chas e pra Di são os votos dos skins de West Ham". No meio de toda
aquela pompa & circunstância, as emissoras de rádio por todo o país
tocavam o novo número dos Specials chamado "Ghost town" (cidade
fantasma).

Nenhuma canção poderia ter resumido melhor a situação nacional que


aqueles três minutos de lucidez da 2-Tone. O mote punk de 76, "No
future" (sem futuro), parecia água-com-açúcar diante das perspectivas
da molecada cinco anos depois, no governo Thatcher, e a 2-Tone fazia a
sua parte refletindo musicalmente aquele baixo astral.
Depois de "Ghost town" e da decisão dos Specials de dissolver a banda,
a 2-Tone estava praticamente liquidada, embora continuasse em
atividade até 1985. Mas nos dois anos de glória ela já tinha
preenchido as vidas de incontáveis garotos do povo com algo de valor
inestimável, e só por isso merece a fama de selo de estimação dos
skinheads, ao lado da Trojan.

Para os skins, o ano de 1981 traria um outro foco de atenção (e


tensão): o movimento Oi!, justamente na hora em que a 2-Tone estava em
declínio. E foi com o Oi! que pintou a maior cidade fantasma do
movimento skin, chamada Southall.

///

[notas/boxes ao capítulo 4]

[1] O autor ironiza aludindo ao fato de que uma outra banda, os Bad
Manners, ainda mais avacalhada que o Madness, tinha como vocalista o
performer Bloodvessel, o qual, além de gordo e careca, se travestia e
dançava cancan no palco, coisa que, curiosamente, em vez de irritar um
público machista como os skins, levava-os ao delírio, talvez porque o
travestismo de Buster pertencesse ao gênero caricato absoluto. Com
relação ao Madness, o patrulhamento não era maior apenas por serem
todos brancos: é que o vocalista Suggsy já tinha sido roadie da
Skrewdriver e ainda mantinha amizade com Ian Stuart, o grande vilão
dos conflitos raciais na área musical. (NT)

[2] TRETAS DE FERIADO

Um dos aspectos mais importantes do movimento skin, na época em que


tomei contato com ele pela primeira vez, eram os feriadões bancários,
que incluíam o fim-de-semana e a segunda-feira.

Esse era o dia em que eu podia fugir da rotina da vida mundana e me


juntar a centenas de outros para umas poucas horas de folia.

Eu não ia à praia, ficava botando banca no meu pedaço. Me sentia como


se pudesse tomar conta do mundo. Quando avistei o primeiro grupo de
skins, meu coração se encheu de orgulho. Eu fazia parte daquele
exército e, ao menos por um dia, a cidade seria nossa.

A polícia, em sua infinita sabedoria, podia confiscar nossos cadarços


e suspensórios, numa vã tentativa de coibir a violência.

Eu não estava nem aí. Meus jeans eram bem justos na cintura, e um
bolso cheio de clipes logo resolvia o problema da falta de cordão na
bota.

Em termos londrinos, meus amigos e eu poderíamos contar vantagem pras


garotas mais charmosas que encontrássemos. Com alguma sorte, eu
ganharia um chamego e um chupão ou dentadinha de amor no cangote, pra
poder mostrar pros colegas na escola, ao passar-lhes uma versão mais
aventurosa de como conseguira o "troféu".

A hora mais difícil para mim era como fazer pra descolar uma cerveja.
Sendo um fedelho de 15 anos, os balconistas sempre me perguntavam a
idade. Quando eu dizia ter 18, eles riam e me despachavam de mãos
abanando. Não faz mal. Sempre tinha um skin mais velho e camarada que,
pelo preço duma lata, compraria outra pra mim. E com quatro daquelas
na caveira, eu tava bem servido.
Mais tarde, quando os pubs punham pra fora sua clientela mais bêbada,
todos os skins podiam se reunir. Era hora pra esbordoar algumas
cabeças, e uma delas geralmente era a minha. A polícia nos via como o
inimigo. Qualquer chance era pretexto pra parar a gente na rua. Eles
nos levavam até a praia, nos faziam esvaziar os bolsos e vinham com
perguntinhas idiotas tipo "Que é que você veio fazer em Margate,
filho?". Eu pensava comigo mesmo que a resposta era óbvia. Nós
estávamos atrás duma tretinha.

Mas a resposta costumeira era "Só tirar um sarro." ("Just having a


laugh." -- Vide capítulo 8) Com o passar da tarde, os meganhas
formavam grupos de captura, e alguns de nós éramos conduzidos ao posto
policial local. Era ali que se trocavam figurinhas sobre as minas que
ganhávamos e as brigas que... ganhávamos.

Depois dalgumas horas, a polícia liberava a gente, quase sempre sem


nenhum indiciamento, e podíamos coturnar de volta pra casa. Dia
seguinte, na escola, ostentando um olho roxo ou um lábio inchado, eu
iria contar aos colegas tudo que rolou na hora do pega-pra-capar.
Aquilo é que eram dias bons, quando os skins eram reis, e aprontar
significava coturnar à vontade.

(texto de Toast, editor do skinzine TIGHTEN UP)

///

DISCOGRAFIA DO SELECTER

SINGLES:

"On my radio" (2-Tone, 1979)


"Too much pressure" (2-Tone, 1980)
"Three minute hero" (2-Tone, 1980)
"Missing words" (2-Tone, 1980)
"The whisper" (Chrysalis, 1981)
"Celebrate the bullet" (Chrysalis, 1981)

ÁLBUNS:

"TOO MUCH PRESSURE" (2-Tone, 1980)


"CELEBRATE THE BULLET" (Chrysalis, 1981)

///

DISCOGRAFIA DO MADNESS

SINGLES:

"The prince" (2-Tone, 1979)


"One step beyond" (Stiff, 1980)
"My girl" (Stiff, 1980)
"Work rest & play" EP (Stiff, 1980)
"Baggy trousers" (Stiff)
"Embarrassment" (Stiff)
"Return of the Los Palmas 7" (Stiff)
"Grey day" (Stiff)
"Shut up" (Stiff)
"It must be love" (Stiff)
"Cardiac" (Stiff)
"House of fun" (Stiff)
"Driving in my car" (Stiff, 1982)
"Our house" (Stiff)
"Tomorrow's just another day" (Stiff)
"Wings of a dove" (Stiff)
"The sun and the rain" (Stiff)
"Michael Caine" (Stiff)
"One better day" (Stiff)
"Yesterday's men" (Virgin)
"Uncle Sam" (Virgin)
"Sweetest girl" (Virgin)
"Waiting for the train" (Virgin)

ÁLBUNS:

"ONE STEP BEYOND" (Stiff, 1979)


"ABSOLUTELY" (Stiff, 1980)
"7" (Stiff, 1981)
"COMPLETE MADNESS" (Stiff, 1982)
"THE RISE AND FALL" (Stiff, 1982)
"KEEP MOVING" (Stiff, 1984)
"MAD NOT MAD" (Zarjazz, 1985)
"UTTER MADNESS" (Zarjazz, 1986)

///

DISCOGRAFIA DOS BAD MANNERS

SINGLES:

"Ne-ne na-na na-na nu-nu" (Magnet)


"Lip up fatty" (Magnet) 7" e 12"
"Special brew" (Magnet)
"Lorraine" (Magnet) 7" e 12"
"No respect" (Flexipop)
"Just a feeling" (Magnet)
"Can can" (Magnet)
"Runaway" (Record Mirror)
"Walking in the sunshine" (Magnet) 7" e 12"
"Buona sera" (Magnet)
"Got no brains" (Magnet)
"My girl lollipop" (Magnet, 1982) 7" e 12"
"Samson and Delilah" (Magnet) 7" e 12"
"That'll do nicely" (Magnet) 7" e 12"
"Blue summer" (Portrait) 7" e 12"
"What the papers say" (Portrait) 7" e 12"
"Tossin' in my sleep" (Portrait)
"Skinhead girl" (lançamento de fã-clube)
"Skaville UK" (Blue Beat) 7" e 12"
"Gonna get along without you now" (Blue Beat) 7" e 12"
"Christmas time again" (Blue Beat)

ÁLBUNS:

"SKA N'B" (Magnet, 1980)


"LOONEE TUNES" (Magnet, 1980)
"GOSH IT'S..." (Magnet, 1981)
"FORGING AHEAD" (Magnet, 1982)
"THE HEIGHT OF BAD MANNERS" (Telstar, 1983)
"MENTAL NOTES" (Portrait, 1985)
"SHAKE A LEG!" (Link)
"EAT THE BEAT" (Blue Beat)
"RETURN OF THE UGLY" (Blue Beat)
PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"DANCE CRAZE" (2-Tone, 1981)


"LIFE IN THE EUROPEAN THEATRE"
"PARTY PARTY"
"SKANK - LICENSED TO SKA"
"SKANKIN' ROUND THE WORLD"
"LIVE IN LONDON"
"MAX THE DOG SAYS DO THE SKA"

///

DISCOGRAFIA DO "THE BEAT"

SINGLES:

"Tears of a clown" (2-Tone, 1979)


"Hands off... she's mine" (Go Feet)
"Best friend" (Go Feet)
"Too nice to talk to" (Go Feet)
"Drowning" (Go Feet)
"Doors of your heart" (Go Feet)
"Hit it" (Go Feet)
"Save it for later" (Go Feet)
"Jeanette" (Go Feet)
"I confess" (Go Feet)
"Can't get used to losing you" (Go Feet)
"Ackee 1,2,3" (Go Feet)

ÁLBUNS:

"I JUST CAN'T STOP IT" (Go Feet, 1980)


"WHA'PPEN" (Go Feet, 1981)
"SPECIAL BEAT SERVICE" (Go Feet, 1982)
"WHAT IS BEAT?" (Go Feet, 1983)

///

DISCOGRAFIA DA 2-TONE

SINGLES:

"Gangsters" - The Special AKA (1979)


"The prince" - Madness (1979)
"On my radio" - The Selecter (1979)
"A message to you Rudy" - The Specials (1979)
"Ranking full stop" - The Beat (1979)
"Tears of a clown" - The Beat (1979)
"Too much too young" - Special AKA (1980)
"Three minute hero" - The Selecter (1980)
"Missing words" - The Selecter (1980)
"Let's do rocksteady" - The Bodysnatchers (1980)
"Ruder than you" - The Bodysnatchers (1980)
"Stereotype" - The Specials (1980)
"Away" - Swinging Cats (1980)
"Sea cruise" - Rico (1980)
"Do nothing" - The Specials (1980)
"Ghost town" - The Specials (1981) 7" e 12"
"Why?" - The Specials (1981)
"The boiler" - Rhoda & The Special AKA (1982) 7" e 12"
"Jungle music" - Rico & The Special AKA (1982) 7" e 12"
"The feeling's gone" - The Apollinaires (1984) 7" e 12"
"Tear the whole thing down" - The Higsons (1984) 7" e 12"
"Envy the love" - The Apollinaires (1984) 7" e 12"
"War crimes" - The Special AKA (1984) 7" e 12"
"Run me down" - The Higsons (1984) 7" e 12"
"Racist friend" - The Special AKA (1984) 7" e 12"
"Nelson Mandela" - The Special AKA (1984) 7" e 12"
"What I like most about you is your girlfriend" - The Special AKA
(1984)
"Window shopping" - The Friday Club (1984) 7" e 12"
"The alphabet army" - J. B. Allstars (1984) 7" e 12"

ÁLBUNS:

"SPECIALS" - The Specials (1979)


"TOO MUCH PRESSURE" - The Selecter (1980)
"MORE SPECIALS" - The Specials (1980)
"DANCE CRAZE" - Vários (1981)
"THAT MAN IS FORWARD" - Rico (1981)
"JAMA" - Rico (1982)
"THIS ARE TWO TONE" - Vários (1984)
"IN THE STUDIO" - The Special AKA (1984)
"THE TWO TONE STORY" - Vários (1989)

///
Capítulo Cinco
BEM-VINDOS AO MUNDO REAL

[Uma lei pra nós e outra pra eles. Foi assim que os 4-Skins
sintetizaram a ressaca de Southall. E com toda razão. A noite em que a
Hambrough Tavern pegou fogo foi o início do maior buraco na colcha de
retalhos do lado de fora da fábrica de máquinas de costura. A música
Oi!, as bandas que a tocavam nas gigs e seu público de skinheads, tudo
foi usado como bode expiatório, de tal forma que nenhum dedo
consciente pôde apontar na direção dos verdadeiros culpados por todo
aquele estado de coisas.]

"As bandas e os ingredientes já estavam lá, os Cockney Rejects e seu


público, que ia formando novas bandas. Tudo que eu fiz foi escrever
sobre isso, o que provavelmente lhes deu uma força para evoluir no
sentido de algo maior." (Garry Bushell)

É muito fácil jogar pela janela a culpa daquilo que acontece na nossa
porta, principalmente quando os skins têm as costas largas pra receber
todo tipo de responsabilidade num raio de dez milhas. Perante a
comissão parlamentar do horror nacional, os skinheads ocupam uma
posição intermediária no ranking, logo abaixo dos terroristas e
imediatamente na frente dos traficantes, estupradores e
seqüestradores, e, claro, dos criminosos do colarinho branco. É como
se raspar a cabeça e calçar um par de botas DM seja um ritual
demoníaco capaz de transformar os "possuídos" em algum tipo de Alien
exterminador.

A treta sempre foi parte e parcela da vida skinhead, ninguém vai


pretender desmentir. A maioria dos skins encara isso como um pedaço de
seu território, e nem quer que seja de outra maneira.

Afinal, qual é o quarto dum skin que não está forrado de recortes de
jornal sobre quebra-paus de feriado bancário, brigas de torcida ou
quebra-quebra em show de rock? É claro que os jornais distorcem e
exageram, mas isso também faz parte da consciência do movimento, saber
que assusta mais do que faz. É o efeito psicológico, que faz bem ao
moral do grupo social explorado e ao ego do indivíduo anonimizado. Mas
tudo isso dista um abismo de tudo quanto foi dito a respeito de
Southall.

Ali eles foram um pouco mais longe do que as habituais manchetes


folclóricas e legendas lendárias. Bem mais longe, na verdade, já que
quase acertaram o coração do movimento Oi! e quase anularam seu papel
na história do rock. Se tivessem conseguido, seria uma calamidade, já
que uma verdadeira música jovem se perderia em função de mentiras
extramusicais.

O Oi! foi o autêntico som de rua em seu melhor momento. Era, quiçá, a
primeira vez em que os caras do palco pertenciam à mesma turma do
pessoal da pista de dança. Antes da gig, as bandas bebiam no mesmo bar
e jogavam uma sinuquinha com seus próprios fãs e colegas. Era como que
um mundo povoado por gente igual a qualquer um, que se cruzava na
esquina. Muitos poderiam ter feito fortuna como fofoqueiros ou
comerciantes, e alguns fizeram isso mesmo.

Antes de Southall, o Oi! tinha tudo para se firmar e dar certo. O nome
desse gênero musical tinha sido tomado duma música dos Cockney Rejects
("Oi! Oi! Oi!"), e se devia à insistência do vocalista Stinky Turner
em repetir esse grito em vez do costumeiro "Um, dois, três..." no
início de cada canção. Acabou virando um grito de guerra para as novas
bandas punks rueiras que vieram na trilha da Sham e seus amigos
Rejects e Upstarts. [1]

Bandas como os Pistols podem ter sido relevantes em seu papel


histórico, mas se o som punk abriu algumas portas para qualquer garoto
que tivesse uma guitarra e alguma pose, o Oi! veio para arrancar essas
portas de suas dobradiças.

O cara que deu o nome de Oi! ao movimento foi o ex-empresário dos


Rejects e colaborador do semanário musical SOUNDS, Garry Bushell. Ele
tinha se calejado participando de vários fanzines punks, inclusive o
quase célebre NAPALM, e se destacou como um dos poucos jornalistas com
sensibilidade e interesse pelo que rolava nas ruas em matéria de
música. Quando outros críticos resolveram ir com o milho, ele já
voltava com a pipoca.

Além da antena ligada, Bushell escrevia bem pra caralho, ainda que
meio preso a um mítico mundo cockney (londrino) povoado de peões
honestos, assalariados honrados, proletários puros, pubs vitorianos,
portas sem tranca e todo mundo se tratando por John. E ainda por cima
torcia pro Charlton Athletic. Aliás, a prova de que Londres não era
aquela colossal maravilha que ele pintava está no time que escolheu.

Costuma-se dizer que Bushell "inventou" o Oi!, mas isso seria dar
muita cancha ao cara e subestimar a importância das bandas. Se o Oi!
Tivesse sido arquitetado nas páginas do SOUNDS, tudo não passaria duma
frágil paparicação dos Rejects em seu cenário londrino. É verdade que
o movimento às vezes ficou concentrado demais na capital, tanto que
uma série de álbuns foi quase totalmente dedicada ao som da Big Smoke
(a "Fumaçona", como Londres é apelidada), mas a contribuição de bandas
do interior como a nordestina Upstarts, a Criminal Class (de Coventry)
e a Blitz (de Manchester) deixa claro que a coisa acontecia em escala
nacional. Como diz o ditado inglês, a Zona Leste tá em todo lugar, ou,
como diriam os Titãs, miséria é miséria em qualquer canto.
Mas justiça seja feita. Bushell teve a visão necessária para perceber
que as bandas punks da segunda safra precisavam dum novo denominador
comum, algo além da mera anarquia dos anos 70, que as aglutinasse
enquanto movimento. Se dependesse de algumas bandas, elas continuariam
tocando no velho estilo punk numa boa. Mas um novo nome tinha o sabor
de proposta mais avançada e radical, num mundo onde as pessoas vivem
esperando pela próxima atração. Basta perguntar aos caras do Cock
Sparrer.

Eles nem tinham ouvido falar em Oi!, até que foram comunicados que sua
"Sunday stripper" fora incluída no LP "OI! THE ALBUM", uma coletânea
de som punk rueiro que, por sugestão de Bushell, o SOUNDS e a EMI
estavam bancando e lançando em novembro de 1980. A banda tocava desde
1975, não estava conseguindo gravar nada desde 77, e tinha
praticamente tirado seu cavalo da chuva. Resumindo, não eram
exatamente jovens estreantes à espera da primeira chance.

"Quando a gente era punk, em 1977, tinha os skins que andavam com a
gente, e por isso éramos todos chamados de skunks." (Chubby Chris,
vocalista da Combat 84) [2]

A maioria das outras bandas incluídas no LP também não poderia ser


descrita como debutante. Lá estava a velha canção favorita do
Slaughter, "Where have all the bootboys gone?", e os Angelic Upstarts
davam sua força ao incipiente movimento Oi! com umas faixas.

Até os Cockney Rejects deram um jeito de incluir nada menos que três
faixas, sendo duas sob o nome falso de The Postmen e uma como The
Terrible Twins. E como todo álbum Oi! tinha que ter seus altos e
baixos, o baixo ficou por conta dos Splodgenessabounds com a pavorosa
"Isubeleene", uma canção que não estava nem de longe à altura de seu
sucesso do último verão, a estupidamente gelada e deliciosa "Two pints
of lager and a packet of crisps" ("Duas canecas de cerveja e um pacote
de batatinhas chips", um dos slogans que os hooligans sabiam de cor),
lançada pela Deram.

E por falar em hooligans, a música "Bootboys" do grupo Barney and the


Rubbles dava o toque futebolístico ao LP. Mas a única banda do disco
que se destacou de cabeça e ombros acima de todas as demais, velhas ou
novas, eram os 4-Skins, com duas estupendas faixas punks chamadas
"Wonderful world" e "Chaos". Agora sim, tínhamos algo novo, um talento
cru e podre pronto para ser revelado. [3]

A banda tinha se formado em 1979 por quatro colegas skinheads, Hoxton


Tom McCourt (guitarra), Gary Hodges (vocal), Steve'N'Harmer (baixo) e
Gary Hitchcock (empresário). O interesse deles pelo punk começou por
causa de sua admiração pela Sham 69, pelo Menace, pela Skrewdriver e
pelos Rejects, mas eles também nutriam seu fanatismo pelos favoritos
dos mods, a banda Secret Affair.

Os 4-Skins eram todos uns grandes sarristas, e, apesar de terem atuado


lindamente abrindo show para o Damned e os Cockney Rejects na Bridge
House (com o próprio Micky Geggus dando sua mãozinha na batera), eles
não levavam a coisa tão a sério, até porque nem tinham um equipamento
minimamente decente.

O disco "OI! THE ALBUM" lhes deu o pontapé inicial de que precisavam,
e no ano seguinte eles já estavam prontos para levar o movimento Oi! a
maiores glórias. Mas não sem antes dar uma reformulada na formação.
Saiu o H, que foi ser roadie dos Rejects. Hoxton Tom tomou seu lugar
no baixo, enquanto Rockabilly Steve Pear veio para a guitarra. A
batera ficou por conta dum tal de John Jacobs.

A idéia era a de promover uma série de encontros ou "convenções" para


aglutinar o novo público punk e skinhead em torno de suas melhores
bandas. Uma convenção seria em Southgate, outra na Bridge House, em
Canning Town, e outra no Acklam Hall. Mas, como não há parto sem dor,
duas das três gigs acabaram em violência.

A de Southgate, no norte de Londres, foi a primeira a detonar. A gig


rolou no começo de janeiro no Alan Pullenger Centre, um nome chique
para aquilo que era pouco mais que um clubinho jovem.

Trezentos caras foram pra ver a própria banda da Zona Norte (a


Infa-Riot), a Criminal Class vinda de Coventry e os Angelic Upstarts,
que entraram na última hora porque os 4-Skins não se apresentaram. É
que o tal de H tinha acabado de deixar a banda (pra falar a verdade,
ele tinha era ido a julgamento por agredir um policial) e eles ainda
esperavam pela substituição a fim de pôr a vida em dia.

O vocalista da Criminal Class era Craig St. Leon, que já tinha sido
skinhead dos antigos, mas, quando a banda se formou em 79, suas
maiores influências eram a Sham, a Skrewdriver e o Slade, e não o
reggae e o soul dos primórdios. O som também tinha pesada dose dos
antigos Upstarts, e viera ao conhecimento público nas Midlands
(interior da Inglaterra) como um tipo de rock bandido enquanto o Oi!
ainda não tinha despontado. Era a primeira gig da banda em Londres, e
os caras encaravam muito bem a platéia de punks, skins e "normais".

"A única diferença entre punks e skins é que os skins ainda chocam."
(Mackie, baixista da Blitz)

Depois da Criminal Class se apresentaram os capangas do Mensi, tocando


algumas peças do seu repertório, até que chegou a hora da banda da
casa, Infa-Riot, exibir seu material. Dois membros da banda, Lee e
Floyd Wilson, eram irmãos, oriundos do West Country (região sudoeste
da Grã-Bretanha), que tinham se mudado para a Zona Norte de Londres a
tempo de formar o conjunto em fevereiro de 1980, com dois moleques do
próprio bairro, Barry Damery e Gary McInerny. Quando pintou a gig de
Southgate, eles já tinham reputação de banda punk das melhores e já
haviam aberto show para os Upstarts e os 4 Be2s de Johnny Lydon sem
fazer feio. Nada mau para dois caras de 17 anos e dois colegiais.

Infelizmente, os caras não tiveram chance de impressionar ninguém no


Alan Pullenger Centre. Eles estavam prestes a detonar "Brick wall" e
"Riot riot" (que significa tumulto ou pancadaria) quando a própria
estourou. Mas desta vez não eram os skinheads que tinham começado a
treta. Caras mais velhos, que vinham procurando encrenca a noite toda,
acabaram achando, e quase transformaram o nascimento do Oi! num
aborto.

Em contraste, o show da Bridge House não era propício para degenerar


em bagunça. Ali era território dos Rejects e já estava mais que
testado como local seguro para uma boa noitada. O novo visual dos 4-
Skins entrou em cena como atração principal, detonando as canções
prediletas da molecada, incluindo uma nova, "Clockwork skinhead",
frente a 450 legítimos pivetes de rua. Quem abria o show era uma banda
punk de Bristol chamada Vice Squad, liderada por ninguém menos que a
Rainha do Oi!, Beki Bondage, e também a banda da Zona Sul de Londres
chamada Anti-Establishment, contribuindo com meia dúzia de letras
sobre o tema da violência.
Um belo material. Só pra dar o toquezinho que faltava, o "Juiz" Dread
apareceu para uma canja e selou seu aval ao trabalho da nova horda
skinhead.

Aí foi a vez do Acklam Hall, no oeste de Londres. Quem abriu foi a


Anti-Establishment de novo, mas sem acrescentar nada ao que tinha sido
apresentado na Bridge House. Muito melhor fez a Last Resort, banda que
tinha aproveitado o nome duma famosa loja skin situada em Aldgate,
perto de Petticoat Lane.

A banda era empresariada por Micky French, que dirigia a loja homônima
com sua esposa Margaret, e quase todas as decisões eram tomadas na
própria arquibancada do estádio Den (do time do Millwall). A loja já
era por si só uma verdadeira Meca de skinheads de todas as partes do
mundo no início da década de 80, como que um segundo lar para muitos
deles. Como peça principal da decoração, tinha uma Marilyn Monroe em
tamanho maior que o natural. Ali se podia comprar roupa skin e punk de
tudo quanto era gosto. Não que você tivesse que comprar alguma coisa.
Também servia como ponto de encontro para um bate-papo, um cigarro, o
que era muito bem-vindo da parte do casal proprietário, ambos
respeitadíssimos nos círculos skins. Além disso, a loja sediava um
zine chamado justamente SKINS.

"Os moleques que tocam nas bandas são os mesmíssimos que estão ali
ouvindo." (Garry Bushell)

O negócio foi entrando em decadência nos dois anos que se seguiram aos
incidentes de Southall, principalmente nas vendas por encomenda
postal, quando os garotos começaram a receber mercadoria usada em
troca da grana remetida. A loja acabou fechando as portas quando Mick
foi preso por "mau comportamento", e com ela se virou uma página no
livro de História do Movimento Skin.

Voltando à Last Resort: a banda vinha da ensolarada Herne Bay, na


costa de Kent, embora todos os integrantes fossem dos arredores de
Londres. O vocalista Roy (ou Roi) Pearce tinha sido roadie da
principal banda a abrir os shows da Sham, a Menace, enquanto o
baixista Arthur "Bilko" Kitchener, o Peter Pan do Oi! na provecta
idade de 32, era veterano da cena musical desde os badalados anos 60.
Os outros dois, Charlie Duggan na guitarra e Andy Benfield na batera,
quase que poderiam passar por filhos dos dois primeiros.

Assim como os 4-Skins, a Last Resort era um grupo tipicamente skin. Na


verdade, só o Arthur não era skin, mas pouca gente percebia por causa
do seu inseparável boné. Para manter fidelidade às tradições
skinheads, a maioria das canções da banda era sobre tretas e a vida
nas ruas.

E voltando ao Acklam Hall, a Last Resort encerrou sua apresentação e


passou a vez para a Infa-Riot, mas uma vez mais os pobres coitados não
tiveram o gostinho de tocar. Assim que vieram ao palco, uma gangue
local (de Ladbroke Grove), de skins e fãs de soul, abriu caminho à
força e partiu pra porrada. A banda e seus fãs responderam à altura,
mas ficaram sitiados no local até que os Homens viessem restaurar a
Ordem e socorrer uns sete corpos machucados a caminho do hospital.

A gangue de Ladbroke Grove aparentemente havia pensado que naquele


público se misturava uma galera do West Ham, mas era desculpa
esfarrapada, já que o time dos Hammers estava disputando uma partida
do campeonato europeu em Upton Park naquela noite. Pelo menos uma
coisa servia de consolo: desta vez a treta viera de fora da gig, o que
não excluía o fato de que a violência era um problema maior e mais
abrangente que o movimento Oi!, a despeito de todas as acusações e
patrulhamentos. Enquanto uns classificavam o Oi! como som punk de
segunda, o movimento tentava manter a casa em ordem. Uma barra.

"Oi! é rock'n'roll, cerveja, sexo, freqüentar gigs, tirar um sarro,


puxar briga. É a nossa vida, nosso show, nosso mundo, nossa
filosofia."
(Garry Johnson, poeta e ativista Oi!)

Mas era uma batalha que tinha que ser ganha. Tretas sempre tinham sido
problema em gigs punks desde o show da Skrewdriver no Vortex em 77,
mas o movimento Oi! aprendia a descascar o abacaxi com a experiência.
A maioria das bandas Oi! tinha como público a galera dalgum time, que
implicava a inevitável presença das galeras adversárias nas gigs. Ora,
todo mundo sabia como a barba dos Rejects tinha ardido e todo mundo
queria pôr a sua de molho. Aquele negócio de querer "tocar torcendo"
era sujeira. Claro que as gigs Oi! não iriam se ver livres das
torcidas (basta lembrar a "gloriosa" gig da Business e da Oppressed em
Cardiff), mas agora já se adotava um de dois jeitos práticos de
prevenir encrencas: convocar uma trégua por uma noite ou contratar uma
equipe de segurança a fim de peitar as patotas de hooligans.

As bandas Oi! eram constantemente acusadas de atiçar as tretas por


causa das letras de algumas canções. É verdade que a violência era o
tema principal em peças como "Someone's gonna die" (Alguém vai morrer)
da Blitz, "Violence" da Combat 84, "Violence in our minds" (Violência
em nossas mentes) da Last Resort, "Smash the discos" (Quebrem as
danceterias!) da Business ou "In for a riot" (A fim de bagunça) da
Infa-Riot, que representavam apenas a ponta do iceberg.

As bandas sempre argumentavam que não estavam advogando a violência, e


sim cantando sobre a realidade da vida nas ruas. De mais a mais,
muitas das canções se posicionavam contra a treta, mas sempre haveria
algum troglodita ouvindo e achando que aquilo era uma convocação às
armas.
Agora, se você quisesse ver alguma violência irracional pra valer, era
só se meter no meio do pessoal que afluía feito gado aos nightclubs do
momento nas noites de sexta e sábado. Ali sim, era mais fácil você
levar uma facada que numa gig Oi!, mas sabe-se lá por que cargas
d'água as facadas dos clubinhos burgueses não apareciam nos jornais.

Quanto às gigs, se pintasse treta, era batata que tinha skinhead no


meio, ou pelo menos caras de cabeça raspada e botas. Afinal, não
existia nenhum funcionário do controle de qualidade de plantão na
porta do movimento skin para fazer uma triagem entre quem podia e quem
não podia entrar. Qualquer um pode se dizer skinhead e se vestir como
tal, e quem vê não vai saber de cara se o cara é do ramo. Sem falar
que o Oi! exercia uma atração especial em quem não era skin mas estava
louco para se passar por um.

Em certos círculos Oi!, a moda skinhead andava em baixa, e em alguns


casos o último vestígio de massa cinzenta fora substituído pelo
vasilhame de cola. Sim, tinha skin cheirando de tudo, desde inalante
pra asma até esmalte de unha.

Claro que essa total perda dos referenciais não atingia todos os
membros do movimento. Ainda havia os que permaneciam fiéis ao
vestuário, à roupa no rigor do estilo (o que eles chamavam de
"dressing hard, dressing smart") e às tradições da classe operária
daqueles que os precederam, enquanto outros apenas se limitavam a
vestir qualquer coisa que não fosse social e a freqüentar os estádios
como qualquer "arquibaldo" ou "geraldino" em tarde de sábado.

As torcidas "organizadas" do Leeds (a Leeds Service Crew), do Millwall


(os Bushwackers) e do West Ham (a ICF, Inter-City Firm) estavam
repletas de ex-skinheads no meio dos desorganizados e desuniformizados
freqüentadores. Ir "à paisana" era uma boa tática para não ter que se
misturar com bicões e ao mesmo tempo driblar a atenção da polícia,
sempre de olho nos skins trajados "a caráter".

As tretas entre tribos (o que eles chamavam de "cult bashing", isto é,


a malhação dos movimentos rivais) ainda era um jogo muito praticado
nas gigs londrinas, enquanto, no norte do país, skins e punks tendiam
a conviver mais ou menos pacificamente. A mentalidade do "Fuck a mod"
[4] levava alguns skins a deixar de lado qualquer noção de suas raízes
para se digladiar com os mods nas praias durante os feriados
bancários. Até mesmo o polivalente John Jacobs (que tocou bateria,
guitarra e piano nos 4-Skins) não resistiu à tentação e teve que
desembolsar uma multa de 175 libras por causa das tretas onde se meteu
em Hastings naquela Páscoa.

E eis que aquela palavra nojenta, a política, tinha que meter sua
colherzinha torta na sopa de bota dos skins. Sempre tem quem acha que
dois skinheads juntos já são um congresso da Juventude Hitlerista, e
não se pode fazer nada para desmentir isso, já que sempre tem alguma
Juventude Hitlerista fazendo algum congresso e convidando algum skin.
O movimento Oi! teria que agüentar mais essa, a pecha de direitista. O
chato é que o Oi! tinha de fato uma motivação política, mas de
esquerda, arriscada a se comprometer com o corpo estranho nazista. Uma
rápida olhada na contracapa do EP "BOLLOCKS TO CHRISTMAS" (Bolas pro
Natal!), lançado pela Secret, já basta para dar uma idéia do nível de
engajamento. Ali estava um verdadeiro manifesto que qualquer partido
de oposição poderia subscrever com todo o orgulho. Bem, pelo menos o
Monster Raving Loony Green Giant Party (Partido Gigante Verde Pirado
Delirante Monstro) assinaria tranqüilamente. Nacionalização das
cervejarias, barateamento do preço da loira gelada e fim do desemprego
pelo incentivo à superprodução de discos Oi! estavam entre os três,
digamos, pontos programáticos do "movimento". [5]

O Oi! era a fim de tirar sarro mesmo, mas sempre passando um conteúdo
crítico ("Having a laugh and having a say"), ou seja, a política das
ruas e não das urnas ou das cadeiras parlamentares.

Os Gonads resumiam isso muito bem em "Pubs not jails" (Bares, não
cadeias) e "Hitler was an 'omo" (Hitler era gay), já que todo mundo
estava careca de saber que, independentemente de quem estivesse no
governo, a classe operária estaria sempre na base da pirâmide. A
maioria das bandas e respectivo público não estava nem aí pra partido
político algum e não queria nada com extremistas de esquerda ou
direita.

Quando a Last Resort tocava, os espectadores eram convidados a tirar


da roupa qualquer distintivo político antes de terem acesso ao recinto
das gigs. A Infa-Riot foi mais longe: cortou a música "Britain's not
dead" do repertório para evitar supostas conotações com o National
Front num momento em que até mesmo o comportadíssimo Spandau Ballet
figurou no jornal BULLDOG do YNF (Young National Front, a ala jovem do
partido) só por causa do nome. [6] Quanto a Garry Bushell, toda semana
ele se via às voltas com o binômio política/violência nas páginas do
SOUNDS.
Qualquer manifestação nazista vinda de algum setor do público era logo
respondida na base da gozação de cima do palco. Se uma ala começava a
gritar "Sieg Heil!", Max Splodge (líder do grupo Splodgenessabounds)
costumava retrucar: "Não tô vendo nenhuma gaivota." [7] E quando Tony
"Panther" Cummins assumiu o posto de vocalista dos 4-Skins no lugar de
Gary Hodges, sua resposta aos nazis era "Não precisa levantar a mão,
que eu não vou fazer chamada".

Em comparação com os dias da Sham, o Oi! até que parecia calmo em


matéria de violência ou extremismo político. Ao menos até abril de
1981, quando Bushell resolveu comemorar seus 25 aninhos com uma festa
na Bridge House. Naquele momento já se prenunciava a tremenda briga em
família em que o movimento skin iria mergulhar.

Uns 600 herberts, incluindo membros de várias bandas, se amontoaram no


pub para ver a Business, a Last Resort, o Cock Sparrer (reunido
novamente só por aquela noite) e os 4-Skins. Por incrível que pareça,
não foi desferido um murro sequer a noite toda. Até mesmo a tentativa
da imprensa marrom de pagar uns moleques para fazer a saudação nazista
na frente das câmeras não deu certo. Os detratores podiam inventar o
que quisessem, mas, como já tinha dito Micky Fitz (vocalista da
Business), o Oi! nada mais era que o punk sem pose. Mas havia algo no
ar.

As coisas ainda pareciam ir muito bem quando chegou às ruas o segundo


álbum Oi! pela Deram, intitulado "STRENGTH THRU OI!", em meados de
maio. Desta feita, "para sua maior inebriação, titilação e
emancipação", Garry Bushell servia uma generosa bandeja salpicada de
quitutes dos 4-Skins, Last Resort, Infa-Riot, Cock Sparrer, Splodge,
The Strike e outros.

As gigs Oi! vinham se sucedendo pelo país afora, e a treta chamava a


atenção pelo simples fato de não estar ocorrendo na medida que se
esperava. Com a proximidade do verão, a expectativa de violência tinha
apenas efeito cumulativo. Dois grandes festivais estavam sendo
programados para julho, em Manchester e Bradford, com perspectivas de
eventos similares na Escócia e em Londres, na seqüência. Enquanto
isso, era preparada uma série de mini-festivais, cujo promotor Dave
Long pretendia vender como "a prova de que o Oi! não estava a fim da
violência gratuita".

Quis o destino que um desses mini-festivais fosse marcado para um pub


chamado Hambrough Tavern, no subúrbio londrino de Southall, em
princípios de julho. No programa constavam The Business, The Last
Resort e The 4-Skins, que já vinham se encontrando no mesmo palco
havia várias gigs. Como surgiam queixas de que as bandas só tocavam na
Zona Leste, a idéia era variar e dar uma chance ao lado ocidental da
cidade. Para quem não fosse da área, sempre havia problemas de
condução na volta, e, dessa forma, ao menos daquela vez os residentes
em Southall teriam sua chance de ficar "em casa", enquanto a molecada
dos outros bairros é que teria de se deslocar até ali.

"O problema todo tava rolando do lado de fora da gig, e não tinha nada
a ver com os 4-Skins." (Gary Hodges, vocalista dos 4-Skins)

Southall era então (e ainda é) um subúrbio normalmente pacato da Zona


Oeste, e era com isso que as bandas contavam para mais uma gig sem
problemas. É verdade que no pedaço residia uma grande colônia
asiática, mas isso não tornava o local uma área proibida. As bandas
Oi! já tinham tocado em lugares bem mais inflamáveis, tipo Deptford,
Hackney, Moss Side e Bradford, sem maiores botinadas.
Naquela noite, as bandas chegaram com horas de antecedência, a fim de
testar o som e ensaiar. A última a chegar foi a Business, cujo furgão
tinha sido atacado (sem nenhuma razão aparente) por uma gangue de
jovens asiáticos assim que entrou no "território". O motorista teve
que fazer um desvio e dar uma boa volta para que o veículo
estacionasse inteiro na porta da casa. Quando a banda entrou na
Tavern, já tinha uma pequena multidão duns trezentos asiáticos na
outra ponta da rua, com duas dúzias de policiais de olho.

Por volta das sete e meia, os caras que vinham pra gig entravam
contando os boatos sobre o que rolava do lado de fora do pub. Alguns
tinham sido atacados no caminho, outros puteados. Um skinhead chegou a
ser arrancado do ônibus e agredido, enquanto outros recebiam ameaças
sobre o que os aguardava mais tarde da noite. O pior foi quando uns
skins resolveram espatifar a vitrine duma lojinha, mas isso não dava
nem idéia do que estava pra vir.

Sabe-se lá por que razão, os asiáticos locais (talvez pelos traumas


das antigas malhações de Pakis) já esperavam encrenca e estavam
preparados para ela. Muito bem preparados, aliás. Ninguém estoca
gasolina só para uma remota eventualidade. Uma hipótese é a de que
eles associavam o Oi! com os skinheads e estes com o National Front,
encarando as gigs como algum tipo de showmício de supremacistas
brancos bem no meio da sua comunidade. Pouco tempo atrás, em 79, um
ato público da Anti-Nazi League frente a um comício do NF em plena
sede da municipalidade de Southall descambou para a violência,
provocando a morte dum ativista anti-racista chamado Blair Peach, e o
episódio ainda estava fresquinho na memória dos habitantes. [8] Sem
falar nos esporádicos (alguns diriam: freqüentes) ataques de skinheads
contra asiáticos, particularmente no East End, do outro lado de
Londres.

Mesmo confirmada a hipótese, nada justifica nem explica as cenas que


se seguiriam. O que se comentava nas ruas era que, se nada acontecesse
naquela gig, acabaria acontecendo na próxima, programada para os
Meteors na semana seguinte. Ora, uma banda psychobilly como os Meteors
não tinha público skin nem racista, o que provaria que o estopim
explodiria, mais cedo ou mais tarde, de qualquer jeito, a bomba já
armada.

A chegada de dois ônibus fretados pela loja Last Resort certamente não
contribuiu para pacificar o ambiente, segundo a imprensa. Quando
Southall fosse para as manchetes de primeira página, os jornais
estampariam que nada menos que seis ônibus lotados desembarcaram um
exército mobilizado pelo National Front. Na verdade, o próprio Micky
French havia contratado os ônibus, e aquilo era um procedimento
habitual quando a banda da Last Resort tocava fora e sabia que seus
fãs precisavam de condução.

Outro buchicho espalhado pela imprensa foi que os ônibus vieram


embandeirados com a insígnia do National Front. Era essa a versão dos
tablóides para as duas bandeiras da Inglaterra (Union Jacks) que a
Last Resort colocara nas janelas de trás dos ônibus.

Teria sido isso que provocou a reação dos moradores da área, mas
parece que só mesmo neste país desfraldar a bandeira nacional pode ser
interpretado como algo ofensivo. Por sinal, a mesma bandeira que lutou
contra Hitler e seus partidários durante a Segunda Guerra, vejam só.

O que todo mundo parecia esquecer é que o National Front não era
detentor exclusivo dos direitos de utilização da "marca" Union Jack, e
não havia razão alguma para imaginar que alguém se "apropriasse" do
símbolo da pátria. Praticamente todo skinhead era patriota, mas isso
não quer dizer que todo skinhead fosse racista. Sem chance.

"Se os moradores estavam assustados, deviam ter pedido proteção à


polícia. Em vez disso, quiseram tomar a lei nas próprias mãos. Foram
eles que tocaram fogo no pub e começaram a jogar bombas caseiras de
gasolina." (Micky French, dono da loja Last Resort)

Tudo isso não impedia que simpatizantes do NF e do BM estivessem na


gig, como de fato estavam. Mas lá também estavam skinheads
esquerdistas, skinheads irlandeses e até mesmo (oh céus!) uma dupla de
skinheads negros que curtiam a Last Resort. A mídia tentou passar a
imagem de que tudo não passava duma assembléia racista, mas tava mesmo
por fora. Se esse fosse o caso, as bandas programadas seriam outras
(algumas bandas Oi! como The Elite e The Ovaltinies tinham se vendido
para a extrema-direita naquela época), e viriam mais bem escoltadas.

Aliás, talvez só a metade daquela audiência dumas 500 pessoas fosse


skinhead. Havia um pouco de punks, um pouco de rockabillies e uma boa
dose de tipos normais fazendo seu programinha com cerveja e sarro.
Havia também alguns moleques que eram simplesmente fãs das bandas,
além duma centena de mulheres. E quando digo mulheres é isso mesmo que
quero dizer. Não exatamente garotas skins pugilistas capazes de
enfrentar um peso pesado no ringue, mas esposas e namoradas dos
membros das bandas e de suas equipes. Em resumo: nenhum exército de
skins neonazistas, como certos setores da mídia afirmaram estar
presente.

Quando a aglomeração fora do pub ainda era "só" de algumas centenas, a


polícia podia muito bem ter baixado a tempo e cortado pela raiz
qualquer princípio de tumulto. Em vez disso, os tiras preferiram ficar
"observando" até que a multidão passasse da marca dos dois mil, o que
aumentava seriamente a chance duma treta em grandes proporções. Um
erro tático que custaria caro, mas que a mídia não levaria em conta.

Mesmo com a iminência de encrenca, tomou-se a decisão de deixar rolar


a gig. Cancelá-la seria pior, pois muita gente ficaria do lado de fora
esperando pelos ônibus para voltar pra casa, e aí as duas multidões
opostas dariam um belíssimo motivo para os jornais dos dias seguintes
comporem suas lindas manchetinhas. Ao menos a polícia sabia exatamente
onde estavam as bandas e seus fãs, enquanto eles não saíssem do pub.

O bar foi fechado, as portas trancadas e as cortinas cerradas, e


durante algum tempo a gig rolou como qualquer outra. Primeiro veio a
Business, do sul de Londres (la, la, la). A banda se formara em
outubro de 1979, com Micky Fitz (oficialmente Fitzsimons) dando os
berros, Nick Cunningham martelando os tambores, Steve Kent guitarrando
e Martin Smith baixando, mas ainda na época de Southall eles não
tinham sido totalmente aceitos nos círculos skins, por causa de suas
tendências meio pops. Na verdade tais tendências até lhes davam uma
certa vantagem sobre a maioria das bandas punks, já que seu som era
mais nítido e definido.
Logo se veria que a banda ia despontar como uma das melhores do Oi! em
todos os tempos.

No pub Hambrough, eles estiveram melhores do que nunca, detonando


aqueles que passariam à História como clássicos do Oi!, como "Harry
May" e "Suburban rebels", esta uma canção composta em cima da letra do
poeta Oi! Garry Johnson. [9] O "rock bêbado" ou "rock de porre" da
Business deveria estar disponível em cada pub do país.

Em seguida à Business, entrou a Last Resort, que já estava bem cotada


com vários sucessos no circuito Oi!. Eles mandaram ver algumas
favoritas do público, como "King of the jungle" e "Working class
kids", antes de dar a vez aos foderosos 4-Skins, que botaram pra
quebrar seus clássicos tipo "A.C.A.B." e "Wonderful world". Em
qualquer estimativa, aquela teria sido uma gig histórica no bom
sentido, se não fosse pelo tempo quente armado do lado de fora.

À medida que a noite avançava, as bandas davam o melhor de si,


torcendo para que o pior não acontecesse e os fãs ficassem longe das
janelas, atentos ao show. A polícia começou a se mexer e pressionar a
multidão, e, justamente na hora em que os 4-Skins interpretavam
"Chaos", as janelas do pub começaram a vir abaixo. Tijolos e garrafas
choveram sobre a polícia e o pub, e do lado de dentro deflagrou o
maior pandemônio, à medida que os músicos e seus fãs agarravam o que
podiam para se defender.

Ainda se tentou manter a calma lá dentro, mas quem estava mais perto
das janelas se cortava nos pedaços do vidro estilhaçado que voavam pra
todo lado. Foi quando a Tavern sofreu ataque pelos fundos. Parecia que
o local estava sendo atingido por raios, enquanto bombas incendiárias
(improvisadas com gasolina) substituíam as pedras através das janelas,
até que, já por volta das onze, as portas foram destrancadas e tomou-
se a decisão de evacuar o recinto.

A polícia fez o que pôde para manter distância entre freqüentadores e


moradores. Alguns tijolos e garrafas foram atirados de volta contra a
horda asiática, mas a mídia noticiou que eram os skinheads que
atacavam a polícia. Puro grupo. Alguns skins mais maduros até se
posicionaram atrás dos escudos da tropa de choque, tentando preservar
o pub enquanto as bandas se retiravam com seus equipamentos.

Mas a quantidade de gente era demais para qualquer resistência


organizada. Os 4-Skins já tinham tirado sua parafernália lá de dentro,
quando todo mundo, polícia e skins, teve que recuar às pressas. Uma
viatura policial foi incendiada e empurrada feito aríete contra a
Tavern, que explodiu em chamas. A essa altura, a maioria dos fãs
debandara, na base do salve-se-quem-puder, rumo à estação Hayes &
Harlington. Como a polícia havia cercado a área e os ônibus já não
podiam circular, o jeito era tentar pegar o trem.

O Special Patrol Group (Grupamento de Ronda Especial) fora chamado


para reforçar o policiamento (na prática, para piorar a situação), e
algumas prisões foram efetuadas de ambos os lados, principalmente por
"perturbação da ordem pública". Arthur, da Last Resort, foi um dos
azarados que entraram em cana naquela noite.

Ao invés de perseguir os rockeiros a caminho da estação, os jovens


asiáticos pareciam contentes em descarregar a fúria contra os tiras e
o pub. A Hambrough Tavern era um típico ponto da clientela branca e
representava um alvo tão concreto quanto simbólico, onde a gig Oi!
desempenhara o papel de pretexto. Seja como for, o confronto entre
moradores e polícia continuou rolando bem depois que as bandas e seu
público tinham ido pra caminha sonhar com anjinhos carecas e
botinudos.

Mas na hora em que o pub estava sob ataque, muita gente pensou que
tinha chegado sua hora. Alguém podia mesmo ter morrido naquela noite,
mas quando se olha para trás dá para ver que houve também uns lances
cômicos. Como o do operador de som, que acorrentou seu equipamento
todo, de medo que os skinheads o roubassem. Os amplificadores ficaram
tão fortemente presos que foram consumidos pelas chamas junto com o
pub, porque o cara não conseguiu tirar as correntes a tempo.

"Oi! não é música skinhead. É pra punks sem cabelo e sem miolo."
(Darren, skin de Stoke, 1981)

Teve também o caso do moleque que levou uma metralhadora de brinquedo


para dentro do pub. Um skinhead tomou a "arma" da mão do menino,
quebrou o vidro duma das janelas e começou a "atirar" na multidão que
sitiava o prédio. Alguns asiáticos e uns tiras correram na direção
oposta gritando "Eles descolaram uma arma!"... Isso para não falar no
membro dos 4-Skins (cujo nome permanece em sigilo) que, mesmo com o
prédio reduzido a cinzas, insistia em cobrar da gerência da casa seu
cachê pela gig!

Caso mais emocionante foi o de Rockabilly Steve, o guitarrista da


banda, que pulou a janela para escapar das chamas e foi caçado rua
afora por uma gangue de asiáticos. Na fuga, Steve quis atravessar o
jardim duma casa e levou com uma frigideira na cabeça, empunhada pelo
proprietário que saiu para ver que raio de algazarra era aquela. O
rockeiro acabou sendo levado por uma viatura policial e "despejado" na
periferia da cidade! Desgraça pouca é bobagem.

No dia seguinte, porém, as coisas não tinham graça nenhuma para


ninguém. As razões não vêm ao caso, mas que foram os jovens asiáticos
do próprio bairro os responsáveis pelo incidente de Southall, lá isso
foram. Eles que atacaram o pub e continuaram o resto da noite na
batalha campal com a polícia. Esse ponto nem se discute. Se fosse o
contrário, ou seja, uma turba de skinheads invadindo uma gig de
asiáticos e promovendo o maior quebra-pau, a mídia e os políticos nem
teriam por que pestanejar antes de apontar o dedo acusador.

Mas quando a gente abriu os jornais do dia seguinte, parecia que a


história tinha sido essa hipótese contrária. A impressão era de que a
imprensa toda havia testemunhado um outro fato, num outro lugar. Um
jornal trazia páginas inteiras recheadas de relatos sobre skinheads
racistas partindo para a ignorância depois de assistir um concerto de
bandas nazistas num comício-monstro do National Front. Era incrível,
mas o jornal falava da mesma Hambrough Tavern, do mesmo Southall e do
mesmo incidente.

As bandas e seus fãs não foram apenas responsabilizados pelo tumulto.


Elas foram enforcadas, crucificadas e esquartejadas pela mídia, numa
espécie de tribunal circense com uma corte de palhaços. Para não dizer
que não houve justiça, somente o TIMES e o GUARDIAN estamparam algo
com um mínimo de fidelidade ao que havia ocorrido. É claro que os
tablóides sensacionalistas a-do-ra-ram cada minuto da tragédia e
tiveram um dia bem lucrativo.

Como estavam na linha de frente do movimento Oi!, os 4-Skins foram os


que mais levaram pau. Em março eles já tinham sido destaque junto com
a Infa-Riot numa matéria sobre fascismo do SUNDAY TIMES. Embora o
artigo não afirmasse taxativamente que esta ou aquela banda fosse
racista, isso ficava subentendido, o que custou várias gigs a menos
para ambas.
Elas tiveram que dar declarações negando serem racistas e repudiando
fãs racistas, numa repercussão absurda que parecia uma tempestade em
copo d'água. Afinal, a Infa-Riot até já tocara em gigs tipo Rock
Against Nazi.
Mas os tablóides insistiam nesse tipo de noticiário, como se tivessem
provas irrefutáveis de que os 4-Skins fossem fascistas. Nazistas eram
os jornais, que aplicavam o princípio da propaganda de Goebbels,
segundo o qual a mentira repetida à exaustão passa por verdade. Eles
tanto distorciam, que o público acabava acreditando que a banda
incitava os skinheads nas gigs e gritava "Sieg Heil!" no palco.

Alguns foram ao ponto de usar como "prova" das acusações o fato das
bandas terem seus nomes constantes do programa em Southall, mas a
maledicência envolvia até quem tinha um bom álibi.

Garry Bushell entrou como Pilatos no Credo, pois ele nem estava na
fatídica gig. Quando o episódio de Southall foi noticiado, Bushell se
encontrava em Newcastle com os Angelic Upstarts. Para surpresa dos
caras da Cock Sparrer, até sua banda apareceu num jornal local como
sendo uma das que provocaram o incidente!

Outro tipo de notícia que volta e meia pegava no pé dos 4-Skins era
uma que saiu no SOUNDS sobre skinheads, na qual o empresário da banda,
Gary Hitchcock, teria dito que já pertencera ao British Movement. Mas
o que não era mencionado é que ele também dissera que os skins que se
envolviam em política não passavam de otários, ou que a banda não era
tão antiga quanto a data de formação ali citada.

Clássica foi a foto publicada em alguns jornais mostrando um


chamuscado panfleto do National Front pairando sobre os rescaldos da
Tavern destruída. De duas uma: ou o NF tinha inventado o papel à prova
de fogo, ou alguém colocou o volante ali depois do incêndio.
Noticiava-se também que centenas de volantes iguais tinham sido
distribuídos na gig, mas isso nem vem ao caso. Dois skinheads haviam
tentado passar alguns de mão em mão, mas eram duma tal White
Nationalist Crusade e a tentativa foi interrompida por Steve Cooper, o
roadie da Business. A maioria das pessoas nem percebeu o que os caras
faziam.

O álbum STRENGTH THRU OI! acabou virando mais um esqueleto no armário.


Não só porque o título fazia trocadilho com um slogan nazista (sem
querer ofender alguma banda como a Joy Division), mas também porque a
capa trazia uma foto dum skin em pose agressiva de luta marcial, sem
camisa e mostrando a sola do coturno como se quisesse pisar na cara de
todo mundo. Acontece que aquele skin se chamava Nicky Crane e era
figura manjadíssima no British Movement.

Certo? Errado. A versão correta é esta: o cara da foto se chamava


Carlton Leech e era um halterofilista. Ou será que não? Não importa.
Fotos não são fatos, ou pelo menos nem sempre. Alguém resolve usar a
foto dum skin, e depois de publicada já é tarde. O fotografado pode
ter matado a mãe e o disco vira "propaganda" do Clube dos Matricidas.
Foi mais ou menos assim que Garry Bushell resumiu a ópera. [10]

A mídia não podia ter desencavado maior quantidade de sujeira se


quisesse abrir um buraco até a Austrália. O que não puderam descobrir,
eles não tiveram dúvida de inventar. Da noite pro dia, o Oi! deixou de
ser um movimento ao nível da rua para virar um escândalo de primeira
página. Ele foi descrito como música estúpida para uma audiência
igualmente estúpida e quem quer que fosse remotamente ligado ao
movimento era implacavelmente rotulado de racista.

Por seu turno, os políticos não perdiam a chance de fazer média com a
comunidade asiática de Southall. Ken Livingstone, do GLC (Greater
London Council, espécie de conselho administrativo metropolitano) e a
primeira-ministra Margaret Thatcher (apelidada de Maggie nas ruas)
compactuaram com toda a demagogia, mas ninguém se interessou em
conversar com um representante das bandas para ouvir o outro lado da
história. Nem mesmo o Partido Trabalhista, supostamente porta-voz da
classe operária. Tão unilateral ficou o panorama pós-Southall, que
qualquer historiador seria capaz de registrar que os skinheads
destruiram o pub enquanto meia dúzia de asiáticos jantavam
tranqüilamente sua porção de "halal".

Mesmo a própria versão dos asiáticos sobre os eventos ficou totalmente


obscurecida no meio das abobrinhas que a mídia espalhava, de forma
que, provavelmente, a verdadeira razão (ou razões) do quebra-quebra
nunca vai ser conhecida. Depois de tudo, parecia que a gig fora um
grande equívoco, mas as bandas foram a Southall só pra tocar músicas e
nada mais, e responsabilizá-las pelo tumulto seria mascarar a justiça.

A conseqüência foi que o Oi! ficou manchado com uma suástica do


tamanho dum bonde, e a indústria musical não conseguiu ficar longe do
problema.

A gravadora Deram tratou de retirar o LP "STRENGTH THRU OI!" de


circulação e de catálogo, justo no momento em que ele entrava na lista
dos 50 mais vendidos. Isso sem sequer pedir a opinião das bandas. O
festival Oi! que deveria ter lugar no Mayfield de Manchester foi
primeiro adiado para agosto para "não coincidir com outro show já
programado", e depois definitivamente cancelado, tal como o festival
previsto para o Tiffany's de Bradford. A grande ironia foi que o cara
responsável pela organização do evento em Bradford era asiático e
tinha o apelido de Oi! The Turban (Turbante Oi!).

Os promotores de eventos foram pulando fora de outras gigs, e o Oi!


teve que dar tchau ao espaço nas rádios. Tanto os 4-Skins como a
Business perderam oportunidades de assinar contrato com uma boa
gravadora. As lojas de discos se recusavam a encomendar lançamentos
Oi!, e correram boatos de que os pesquisadores de vendagem eram
instruídos a não registrar a saída das músicas mais procuradas, a fim
de boicotar a classificação na parada. A coisa parecia ter chegado ao
ponto final, com o movimento Oi! rendido e subjugado.

Mas as bandas não tinham a intenção de entregar o jacá e a rapadura


tão fácil. Após uns dias em clima de Juízo Final e deprê, cada um
tratou de juntar seus pedaços. A maior parte da merda do ventilador
tinha caído na cabeça dos 4-Skins, que tiveram mais trabalho para se
limpar. Eles se ofereceram para organizar uma gig beneficente em prol
dos policiais feridos, juntamente com a colônia asiática de Southall,
e ainda se propuseram a tocar numa gig independente anti-racista a fim
de provar que não nutriam "más intenções".

Com uma canção como "A.C.A.B." no repertório, muita gente achava que a
banda era contra a polícia, e agora era o caso de desfazer essa
impressão. Praticamente todo mundo sabe que a sociedade tem que ter
algum tipo de força policial se quiser sobreviver. O que os 4-Skins e
outras bandas (como os Upstarts) condenavam era o mau policiamento,
voltado contra o cidadão menos favorecido. Em Southall, os tiras
tinham sido literalmente o cego no meio do tiroteio, e acabaram
levando a maior sobra de cacete. Uma gig beneficente era a forma de
reatar relações tanto com a comunidade local quanto com as
autoridades. Mas a bandeira branca da banda foi repelida tanto pela
polícia como pela organização da gig anti-racista. Bem, pelo menos
eles tentaram.
Uma gig secreta foi preparada no pub Prince of Wales de Mottingham (no
sul de Londres), e a equipe do "Nationwide" da BBC foi contatada a fim
de verificar in loco que o Oi! não era sinônimo de encrenca. Os 4-
Skins entravam no programa disfarçados como um conjunto de música
country chamado The Skans, e a banda encarregada de abrir o show era
uma tal de The Bollyguns, que não era outra senão a Business em nome
fantasia. A noite transcorreu sem problema, mas prejudicada porque o
som era cortado toda hora durante a apresentação dos 4-Skins. A coisa
redundou num certo fiasco, já que metade do público subiu no palco
para compensar a falta de volume dos amplificadores.

Sem chance de novos acordos com gravadora, os 4-Skins resolveram


lançar um single por sua própria conta, sob a etiqueta-fantasma
Clockwork Fun. A música era "One law for them", e a letra era um
desabafo contra os dois pesos e duas medidas ("one law for them and
another law for us") que vigoravam no elitista sistema jurídico
britânico. Uma forma de responder à hipocrisia e parcialidade quanto a
Southall. Se a justiça britânica é a melhor do mundo, então que Deus
proteja os pobres coitados dos países estrangeiros! A despeito dos
problemas com distribuição (algumas lojas simplesmente recusavam o
compacto), o disquinho foi um dos lançamentos punks mais vendidos do
ano, só pra chatear os críticos.

"Quando o punk apareceu, o Sistema tentou apaziguar aquela que era


vista como uma grave ameaça, rebatizando-a de New Wave e absorvendo-a
na corrente geral ('mainstream') da música popular. Os artifícios de
praxe tipo Elvis Costello, The Police, e outros artistas amenos e
anódinos ('middle-of-the-road'). O Oi! foi justamente uma rebelião
contra esta traição." (Steve Burgess, baixista do Cock Sparrer)
Algumas convenções Oi! foram tentadas, no intuito de "equacionar" os
problemas enfrentados pelas bandas, mas as reuniões viravam pura
conversa jogada fora. A única tábua de salvação viria da parte da
gravadora independente Secret, que concordou em assumir a produção e
distribuição de futuros lançamentos na linha Oi!, inclusive um novo
álbum Oi! (aquele que seria o terceiro da série de coletâneas, após o
pioneiro "OI! THE ALBUM" pela EMI e o infeliz "STRENGTH THRU OI!"),
intitulado muito apropriadamente "CARRY ON OI!" (Vá em frente, Oi!), o
qual veio à luz em outubro de 81.

De fato, por volta do mês de outubro todo o movimento já dava uns


passos no sentido da recuperação. A Infa-Riot e a Business saíram em
turnê para promover seus singles de estréia, respectivamente "Kids of
the eighties" e "Harry May" (ambos pela Secret), e tocaram em algumas
gigs anti-racistas para exercitar as botas, uma em Sheffield e outra
em Manchester. A de Sheffield foi anunciada como Oi! Against Racism,
Political Extremism, But Still Against the System (Oi! contra o
racismo e o extremismo político, mas ainda contra o Sistema), e teve
lugar uma semana depois que o movimento Rock Against Racism promovera
seu próprio concerto na cidade, sob a bandeira Oi! Against Racism.
Mais abreviado, porém não tão doce quanto o vingativo nome da gig dos
skins.

Só pra confundir, a Infa-Riot tocou nas duas, a dos skins e a do RAR,


mas bandas como os 4-Skins e a Business não queriam nada com o RAR
porque seria sair da frigideira pra cair no fogo. A Sham já tinha
caído na esparrela de fazer o que o RAR queria e acabou sendo usada, e
ninguém estava a fim de virar massa de manobra outra vez. Mesmo porque
ninguém é obrigado a carregar um cartaz do SWP (Socialist Workers
Party, Partido dos Trabalhadores Socialistas) para provar que é
anti-racista.
Outra banda pronta pra luta era a Blitz que, embora sempre chamada de
grupo de Manchester, veio na verdade de New Mills e Buxton, em
Derbyshire. Mais ou menos perto. O quarteto, formado por dois punks e
dois skins, estava na estrada desde março de 1980, e já era bem
conhecido na época de Southall porque Bushell vivia elogiando os
caras, e também por ser uma das poucas bandas proibidas de tocar no
Mayflower Club de Manchester. Aparentemente, alguns leões-de-chácara
tinham levado umas coturnadas na cara por tentarem impedir uma invasão
de palco durante a canção "Fuck you". Que imprudência, não é mesmo?

Em agosto de 1981, era lançado seu compacto de estréia pela novíssima


gravadora No Future. Para surpresa geral, e particularmente da própria
banda e da gravadora, "All out attack" acabou vendendo mais de 25 mil
cópias e foi a fonte de renda que provisionou a No Future para
expandir suas atividades.

Outubro assistiu a banda tocando em Bradford como parte dos eventos da


Right to Work March (Marcha pelo Direito ao Trabalho), bem como um
novo pacote de lançamentos da No Future sob o rótulo "Skunk Rock", que
incluía as bandas The Partisans e The Samples.

Skunk era o nome dado ao som para skins e punks, tal como fora
idealizado na primeira das convenções Oi! no Conway Hall de Londres,
pouco antes de Southall, numa proposta de conciliação para acabar com
as tretas entre as duas tribos durante as gigs.

"Veja como são as coisas. Num debate punk você vê todos aqueles
notórios esquerdistas metendo o pau na mídia, mas eles preferiram
acreditar no que a mídia disse sobre nós e Southall, porque isso
ficava bem para eles, era coerente com suas idéias estereotipadas."
(Hoxton Tom, baixista e líder dos 4-Skins)

Até os 4-Skins, que chegaram a crer que nunca mais tocariam ao vivo
depois de Southall, voltaram à estrada antes do fim do ano. Gary
Hodges saíra da banda logo em seguida à gig de Mottingham, e antes da
gig que marcaria o retorno do grupo, no Branningan's, em Leeds, Steve
Pear também pediu o boné. Mesmo desfalcada, a decisão foi manter a
carreira e o nome da banda. Um ex-roadie, Panther Cummins, assumiu os
encargos do vocal; John Jacobs largou a bateria e pegou a guitarra; e
um ex-baterista da banda Conflict chamado Peter Abbott ficou nos
tambores. [11]

A única banda que não deu tudo que tinha foi a Last Resort. O grupo
era pra ter explodido e mostrado muito mais, se Southall não pintasse
no meio para atrapalhar. É só perguntar a quem viu a banda de perto.
Só que, em vez de percorrer o país tocando e fazendo seu nome, eles
ficaram naquela de não sair do pedaço, no meio daquele mesmo
publicozinho de bebuns do sul de Londres.

Resultado: no começo de 82 eles decidiram desfazer a banda, depois


duma gig no King's Lynn onde rolou treta entre os skinheads e fãs de
soul, que acabou pondo o pub de pernas pro ar. O sururu terminou com a
prisão de todo mundo que estava a bordo do ônibus da banda a caminho
de casa, embora todos fossem liberados sem indiciamento.

Um álbum intitulado "A WAY OF LIFE: SKINHEAD ANTHEMS" chegou a ser


gravado e lançado meio às pressas em abril pela própria etiqueta da
Last Resort, que era dirigida pelo dono da loja, Micky French. O disco
foi ostensivamente dirigido ao mercado skin, visando rápido retorno
financeiro, em vez de ser trabalhado para mostrar ao resto do mundo o
que todos estavam perdendo. Daí o apelativo título do álbum, a baixa
qualidade da gravação, e a inclusão de "Red White and Blue" (cores da
bandeira inglesa) e "Last Resort Bootboys" em detrimento de "Soul
Boys" e "Johnny Barden".

Outra decepção foi o livro OI! A VIEW FROM THE DEAD-END OF THE STREET
(Oi!: uma análise do ponto de vista da rua sem saída) pela Babylon
Books. O que supostamente seria a verdadeira história do Oi! deixou a
desejar. Era realmente mal escrito, paternalista e confuso, como se
Garry Johnson o tivesse elaborado em cima da coxa numa noite de porre.
Bem que poderia ter sido feito por um Garry, só que duma outra
estirpe, a dos Bushell. Aí sim, seria o documento oficial do
movimento.

1982 seria um ano de altos e baixos pra todo mundo. Em fevereiro, a


empresa Skunx promoveu uma temporada de som no Blue Coat Boy em
Islington (Londres) que foi aberta com a Infa-Riot. A programação
visava atrair o público skin e punk para um novo ponto na capital.
Nessa ocasião, os Infas estavam se desviando do clichê Oi!, cada vez
mais na direção da cena punk. Eles tinham atuado na abertura da turnê
"Apocalypse Now" do Exploited e tocado junto com os mestres do "Punk's
not dead" no Apollo Theatre de Glasgow num evento chamado "Gathering
of the Clans" (Reunião das Tribos), que teve participação de outras
atrações do cenário punk. Um teatro só de lugares sentados não era
local ideal para um evento punk, ainda mais com uma guerra declarada
por parte das tropas mods da cidade. Era melhor ter marcado o show na
casa do Exploited, a cidade de Edinburgh. Vivendo e aprendendo.

Os 4-Skins lançaram "Yesterday's heroes" em compacto, antes de soltar


o LP de estréia, "THE GOOD, THE BAD, AND THE 4-SKINS". Ambos pela
Secret, com a qual a banda tinha assinado. A Secret era uma etiqueta
que tinha fama de gastar dinheiro à toa com produções mal-acabadas que
causavam impressão desfavorável quanto à qualidade do estúdio. Foi por
isso que teve gente surpresa quando a gravadora deu uma no estilo mais
quente de Chas and Dave, mas só por um momento: o da música "Plastic
gangsters" dos 4-Skins, que poderia perfeitamente ter sido gravada
pelo Madness.

Lá foram os 4-Skins numa turnê para divulgar o novo disco, tocando


junto com a Combat 84. Mas em novembro, duas novas baixas sobrevieram:
Abbott e Jacobs. Para substituí-los, vieram Paul Swain na guitarra e
Ian Davies na bateria, ambos oriundos duma banda Oi! de Hatfield
chamada Criminal Damage. Novos problemas surgiram durante as gigs,
inclusive uma no famoso 100 Club, o que manteria por perto o fantasma
de Southall sempre assombrando.

A administração municipal os proibiu de tocar na Keighley Funhouse, na


peça de Trevor Griffith intitulada "Oi! for England". A peça, que
poderia ter levado os 4-Skins ao conhecimento do público dos
camarotes, era obviamente um espetáculo anti-racista, mas são essas as
vicissitudes da nossa democracia. Acusa-se um conjunto de racista e
não se permite que ele toque num palco anti-racista para poder provar
o contrário. Um grêmio estudantil tentou intervir na montagem da peça,
mas os 4-Skins acabaram recusados por causa da fama de fascistas entre
os próprios estudantes. E depois tem gente que ainda estranha que os
skinheads odeiem universitários...

Com o lançamento de "OI! OI! THAT'S YER LOT", último LP Oi! da Secret,
bem como a publicação do (embora irônico) artigo de Bushell intitulado
"Punk is dead", no SOUNDS, a impressão era de que o Oi! estava
encerrado. Empresas como a Riot City em nada contribuíam oferecendo
velharias de merda com quatro moicanos na capa.

No final de 82, a Blitz estava desfeita após ver seu álbum "VOICE OF A
GENERATION" chegar ao 27º posto entre os LPs mais vendidos no país,
sem qualquer tipo de promoção. Naturalmente, sem a Blitz a No Future
também estava liquidada. Em dezembro foi a vez da Business, que acabou
por diferenças musicais entre os membros.

"As dez mais incríveis e infames razões pelas quais os skins são
barrados na entrada dum pub ou clube:

1. Vai se foder!
2. Eu também já fui skin, mas...
3. Sem chance, rapazes.
4. Se dependesse de mim...
5. Vai desculpar, mas tá lotado.
6. Hoje é só pra sócios.
7. Só casais.
8. Aliás, você nem ia gostar daqui, pode crer.
9. Só com camisa e gravata.
10. Nada. (Nada de gangues, nada de jeans, nada de camisetas, nada de
nada!)"

Mas o Oi! continuava teimoso e não concordava em dar o último suspiro.


Micky Fitz deu as caras de novo no começo de 83 com sua Business de
cara nova, tendo escolhido Mark Brennan para o baixo e Steve Whale
para a guitarra, ambos tirados duma banda de Lewisham chamada
Blackout, e, finalmente, com a entrada de Kevin Boyce para a bateria,
vindo daquela mesma banda. Isso depois duma tentativa de trazer John
Fisher, baterista da Combat 84. O novo grito de guerra era a realidade
punk, como já ficara provado com a música "Suburban rebels" (Secret),
que alcançara a 37ª colocação na parada nacional, apesar de ter sido
desdenhada no SOUNDS pelo próprio padrinho do Oi!.

Como outras bandas Oi!, a Business não se comprometeu com nada ao


longo da carreira. Ela tocou em porradas de concertos beneficentes
(bem mais que as oportunistas bandas de esquerda) e sempre recusou
participar de gigs onde alguma facção do público estivesse proibida de
entrar (como foi o caso daquela no Marquee, que baniu os skinheads) ou
onde o preço dos ingressos ou da cerveja fosse caro demais (como no
caso do Lyceum).
Mas, mais do que qualquer outra banda, a Business captou o espírito do
Oi! desde o início, isto é, tirando um sarro ("having a laugh") com
músicas tipo "Drinkin' and drivin'" e tendo algo a dizer ("having a
say") com canções manifestosas tipo "Guttersnipe", uma clássica letra
antitablóides nos moldes da imortal "The Sun says" da Cock Sparrer.

O herói caolho Roi Pearce foi outro que retornou triunfalmente ao


cenário Oi!, cabendo-lhe o honroso encargo de substituir Panther como
vocalista dos 4-Skins. A Last Resort tinha dado um jeito de incluir a
faixa "Horrorshow" na coletânea "OI! OI! THAT'S YER LOT" sob o nome de
The Warriors, mas agora o foderoso homem do microfone estava
comprometido com Hoxton Tom e seus rapazes até que a morte dos 4-Skins
os separasse em 1984.

Mas o grupo andava meio puto por não conseguir guigar tanto quanto
pretendia, e no meio das discussões Paul Swain e Ian Davies acabaram
pulando fora, ou, segundo outra versão, sendo expulsos por "mau
comportamento" ou "malcriação". [12]

A banda diria adeus com um álbum gravado ao vivo pela Syndicate que
levou o título de "FROM CHAOS TO 1984". O disco tinha todos os
clássicos, menos "Sorry", e foi um tributo à altura da banda número um
do Oi!.

Mas o ano não podia terminar sem uma nova coletânea Oi!. Embora o
último empreendimento da Secret parecesse um ponto final, o texto da
capa abria margem pra novas empreitadas e dava a entender que material
era o que não faltava. Em novembro de 1983 saiu a quinta coletânea da
série, o LP "SON OF OI!", lançado pela Syndicate, uma gravadora que
pegou o bonde mais ou menos no ponto onde a Secret tinha parado. A
etiqueta era mais uma boa cartada da Business, já que seu proprietário
vinha a ser o próprio empresário da banda, Lol Pryor (o mesmo que,
mais tarde, retornaria aos mesmos trilhos com a Link Records). Mas o
novo LP não era o melhor dos álbuns Oi!, já que muitas bandas nem
sequer sobreviveram às sessões de gravação. A bandeira, pelo menos,
continuava hasteada.

Pouca gente apostou na longevidade do Oi! depois do que houve em


Southall, mas, contrariando todos os prognósticos pessimistas, o
movimento cresceu e se multiplicou. O EVENING STANDARD de Londres
chamou o gênero de "o mais devagar denominador comum do pop", mas,
assim como o resto da imprensa, o jornal não fazia a menor idéia do
que estava dizendo. Era ela, a imprensa, o "mínimo denominador comum"
do gosto jovem. O Oi! era uma questão de sarro e conteúdo, mas era
também algo mais que isso. O Oi! foi a voz dos moleques de rua em toda
parte, espécie de linguagem universal que um mês inteiro de Southalls
jamais poderia calar.

///

[notas/boxes ao capítulo 5]

[1] Segundo Brennan & Pryor, respectivamente baixista da Business e


dono da Link Records, o movimento era pra ser chamado "real punk", por
oposição ao diluído e falso punk da new wave, que sucedeu a primeira
leva de bandas (liderada pelos Pistols e revitalizada pela Sham 69). O
nome fazia sentido, por causa da segunda geração liderada pelo
Exploited, que proclamava "Punk's not dead!". Mas era um nome postiço,
e a canção dos Rejects tinha um grito mais forte e expressivo, que
pegou.
(NT)

[2] "Skunk" é um tipo de gambá bem fedorento e, assim como "punk" (que
significa madeira podre), reverte a idéia de porcaria e ainda faz
trocadilho com a palavra "skin", numa fusão muito feliz. Musicalmente,
a designação se popularizou entre os jovens por causa da banda Blitz,
formada meio a meio, por dois skins e dois punks. Era o som pra gregos
e troianos. Ou melhor, os troianos preferiam o som da Trojan... (NT)

[3] "Chaos" tem várias versões gravadas. Dos próprios 4-Skins são pelo
menos quatro gravações, cada uma com vocal diferente: a "oficial" de
estúdio na voz de Gary Hodges (da primeira formação); a versão
"Herbert" (que seria creditada a Harry & The Herberts na coletânea
"SON OF OI!") com o líder Hoxton Tom abrindo uma exceção e fazendo o
vocal (por sinal péssimo); e duas ao vivo, a de Panther (da segunda
formação) no LP "THE GOOD, THE BAD, AND THE 4-SKINS", e a de Roi
Pearce (da terceira formação) no LP "FROM CHAOS TO 1984". Fora as
covers de outras bandas, até antagônicas, como a Oppressed (no LP "OI!
OI! MUSIC") e a Skullhead (no LP "ODIN'S LAW"). É decididamente o
maior hino skin de todos os tempos. (NT)
[4] Título duma letra da banda Exploited em cima da melodia do "Jingle
Bells", que diz, em resumo: "Fode um mod; chuta um mod; mata um mod
hoje: é divertido paca!". (NT)

[5] Outras contracapas de álbuns Oi! traziam textos estilo manifesto,


que poderiam ser encampados por uma corrente de esquerda mais
progressista ou por políticos mais libertários. No LP "OI! OI! THAT'S
YER LOT", o texto era assinado por Garry Bushell e dizia, por exemplo,
que "Os radicais sedentários só conseguem reconhecer a classe operária
no romântico empregado que passa 26 horas por dia nos comitês
sindicais.
Eles chegam pros estivadores e gritam 'Não vivam pra trabalhar,
trabalhem pra viver!'. E se horrorizam com nossas Union Jacks e Doc
Martens. São incapazes de entender a simples e idealista política de
Garry Johnson: Oi! pela Inglaterra, a Inglaterra pelos trabalhadores,
pela liberdade, justiça, pela vida e pela alegria. A extrema direita
se choca ainda mais. Estes atacam fisicamente os defensores do Oi!
Porque sabem que nosso espírito libertário vai totalmente contra sua
perniciosa forma de fascismo sindical e hooliganismo manipulado. O Oi!
manda todos eles pro inferno, junto com as filas do desemprego da
Thatcher, mas também manda pro inferno os tanques russos e o
socialismo de modismos tipo Movimento Vegetariano Gay Contra o que Der
e Vier." No LP "THE OI! OF SEX" vinha um manifesto do Oi! Organising
Committee (Comitê Organizador do Oi!) que arrolava uns 40 pontos,
entre os quais:
Oi! é... maior que qualquer uniforme.
Oi! é... saber que ninguém é melhor que você.
Oi! é... dizer sim ao excesso.
Oi! é... não dar bola pro chefe.
Oi! é... desobedecer ordens.
Oi! é... não cheirar cola.
Oi! é... não se vestir nem se portar como hippy, boyzinho ou nazistão
bronco.
Oi! é... ganhar de 4 a 0 na final da Copa.
Oi! é... ter orgulho de ser da classe operária, mas não de ser
explorado.
Oi! é... ter orgulho de ser inglês, mas não ser xenófobo. (NT)

[6] Spandau é o nome da prisão onde foram recolhidos os nazistas


condenados pelos Aliados no Tribunal de Nuremberg, após a queda do III
Reich. (NT)

[7] Em inglês, a pronúncia de "Sieg Heil!" ("sigal") é igual à de


"seagull" (gaivota), e o sarrista Splodge não ia perder o trocadilho.
(NT)

[8] A coletânea "THE 2 TONE STORY" é dedicada à memória do professor


Blair Peach, morto em 23 de abril de 79, sem que nenhum culpado fosse
punido pelas autoridades, supostamente coniventes com os responsáveis
pelo assassinato. (NT)

[9] A letra de "Suburban rebels" é um libelo contra os


filhinhos-de-papai, estudantes burgueses que ficam posando de
"inconformados", "contestadores" e "esquerdistas", sem ter nada a ver
com a barra da classe operária (mais ou menos como a nossa geração de
"caras-pintadas"). A letra diz coisas tipo:

Oi, oi, oi, the chosen few!


This is what we think of you!
(Oi, oi, oi, privilegiados!
Isso é o que pensamos de vocês!)
You don't scare us with your badges and banners!
You know fuck all about heavy manners!
(Vocês não nos assustam com seus emblemas e bandeiras!
Vocês não sabem porra nenhuma de más maneiras!)
You're middle-class kiddies from public school
Who write your slogans on toilet walls
(Vocês são boyzinhos de classe média da escola pública
Que só escrevem slogans na parede do banheiro)

A versão ao vivo, lançada como faixa-brinde na edição limitada do


álbum "BACK TO BACK" vol. 1 e incluída no primeiro volume da série de
coletâneas "OI! CHARTBUSTERS", é um daqueles casos em que o registro
"live" fica superior ao de estúdio. (NT)

[10] O slogan nazista era "Strength through joy" (força através da


alegria). A indignação de Bushell foi mais longe. Ele divulgou um
texto manifestoso repudiando a violência em Southall e respondendo às
acusações contra o Oi!. O texto vale como um atestado ideológico e diz
o seguinte:

"Recentemente, vários periódicos publicaram alusões a mim e minha


política. Algumas dessas alusões estão 'sub judice' no momento, mas eu
gostaria de aproveitar a oportunidade para esclarecer meu ponto de
vista para os leitores do SOUNDS, embora eu não creia que quem costuma
ler meus artigos tenha qualquer dúvida sobre o que penso.

Sou um socialista, um sindicalista e um patriota. Acredito no sonho


dum Estado com justiça social. Acredito numa sociedade mais humana que
não relegue sua juventude ao léu feito lixo, que não abandone seus
velhos ao relento, que não discrimine seu povo por causa de raça, sexo
ou preferência sexual, e que não deixe um quarto da população no ou
abaixo do limite da miséria. Acredito numa sociedade que proteja seu
povo desde o berço até a tumba, e que seja baseada na igualdade,
liberdade e democracia, com uma proposta concreta para todos os
trabalhadores, sejam eles brancos, negros ou carijós.

Nunca tive nada a ver com bandas que sejam nazistas ou racialistas
(sic). Inclusive me orgulho e me regozijo com o fato de que, ANTES DE
SOUTHALL, as bandas Oi! tenham se comprometido a tocar em gigs
beneficentes para organizações que lutam contra a exploração e o
desemprego, os dois males que afligem a classe operária britânica,
independentemente de credo ou cor -- males que reduzem as atividades
marginais dos lunáticos da ultradireita à insignificância, que é a
verdadeira dimensão desses visionários." GARRY BUSHELL, editor do
SOUNDS

Nunca é demais lembrar que Ian Stuart, este sim um rockeiro


assumidamente nazista, odiava o "comunista" Bushell como típico
representante da imprensa musical "de esquerda", tendo dedicado a ele
a canção "Skrew you" (Foda-se) do LP "HAIL THE NEW DAWN". E olha que
Bushell já tinha até elogiado o som (só o som) da Skrewdriver, hem?
(NT)

[11] Ao contrário das demais bandas, onde o líder costuma ser o


vocalista, nos 4-Skins era o baixista Hoxton Tom, único que ficou
segurando as pontas enquanto a formação ia mudando (três vocalistas em
três anos). E ao contrário dos demais líderes, Tom não gostava de
aparecer: as canções tinham autoria coletiva pra evitar estrelismo do
compositor, e Tom só vocalizou em disco uma vez, cantando (por sinal
pessimamente) o maior sucesso da banda, "Chaos" (uma das quatro
versões gravadas). (NT)
[12] Paul Swain, ou Swainy pros íntimos, foi parar na Skrewdriver e
aparece na formação que gravou o LP "BLOOD & HONOUR" em 1985. Consta
que teria participado também da gravação do LP "HAIL THE NEW DAWN",
ainda em 84, mas seu nome não figura nos créditos do disco. (NT)

///

DISCOGRAFIA DOS 4-SKINS

SINGLES:

"One Law for Them" (Clockwork Fun, 1981)


"Yesterday's Heroes" (Secret, 1981)
"Low Life" (Secret, 1982)
"Plastic Gangsters" (Secret, 1982, sob o nome Plastic Gangsters)

ÁLBUNS:

"THE GOOD, THE BAD, AND THE 4-SKINS" (Secret, 1982)


"A FISTFUL OF..." (Syndicate, 1983)
"FROM CHAOS TO 1984" (Syndicate, 1984)
"THE WONDERFUL WORLD OF THE 4-SKINS" (Link, 1987)
"A FEW 4-SKINS MORE" (Link, 1987)
"A FEW 4-SKINS MORE VOL. 2" (Link, 1987)
"LIVE AND LOUD" (Link, 1989)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"BOLLOCKS TO CHRISTMAS" (Secret, 1980)


"OI! THE ALBUM" (EMI, 1980)
"STRENGTH THRU OI!" (Deram/Decca, 1981)
"CARRY ON OI!" (Secret, 1981)
"THE SECRET LIFE OF PUNKS" (Secret, 1982)
"THE KIDS ARE UNITED"
"SON OF OI!" (Syndicate, 1983)
"OI! THE RESURRECTION" (Link, 1987)
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1, 2 e 5 (Link)
"THE SOUND OF OI!" (Link, 1987)
"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)
"BEAT OF THE STREET"

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DISCOGRAFIA DA LAST RESORT

ÁLBUNS:

"A WAY OF LIFE: SKINHEAD ANTHEMS" (Last Resort, 1982)


"DEATH OR GLORY" (Link)
"KINGS OF THE JUNGLE" (Link, 1988)
"1989" (Link, como The Resort)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"STRENGTH THRU OI!" (Deram/Decca, 1981)


"CARRY ON OI!" (Secret, 1981)
"OI! OI! THAT'S YER LOT" (Secret, 1982)
"THE SECRET LIFE OF PUNKS" (Secret, 1982)
mais outras coletâneas da Link
///

DISCOGRAFIA DA INFA-RIOT

SINGLES:

"Kids of the Eighties" (Secret, 1982)


"The Winner" (Secret, 1982)
"Britannia Waives the Rules" (Secret)
"Sound and Fury" (Panache)

ÁLBUNS:

"STILL OUT OF ORDER" (Secret, 1982)


"SOUND AND FURY" (Panache)
"LIVE AND LOUD" (Link)
"STILL OUT OF ORDER" (Link, relançamento)
mais várias coletâneas

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DISCOGRAFIA DA BUSINESS

SINGLES:

"Harry May" (Secret, 1982)


"Dayo" ("The Banana Boat Song") (Secret, 1982)
"Get Out of My House" (Wonderful World) 12"
"Drinking and Driving" (Diamond, 1985) 7" e 12"
"Get Out of My House" (Link, 1986) 7"
"Do a Runner" (Link, 1988) 12"
mais faixas nos EPs "TOTAL NOISE" (Total Noise) e "BOLLOCKS TO
CHRISTMAS" (Secret)

ÁLBUNS:

"SUBURBAN REBELS" (Secret, 1982)


"THE BUSINESS 1980-81" (Syndicate, 1983)
"LOUD PROUD AND PUNK" (ao vivo) (Syndicate)
"BACK TO BACK" (duplo relançamento, Syndicate)
"BACK TO BACK" vol. 2 (duplo, Wonderful World, 1985)
"SATURDAY'S HEROES" (Harry May, 1986)
"SINGALONGABUSINESS" (coletânea, Dojo, 1986)
"WELCOME TO THE REAL WORLD" (Link, 1988)
"SUBURBAN REBELS" (Link, relançamento)
"SMASH THE DISCOS" (Link)
"LOUD PROUD AND PUNK" (Link, relançamento)
"LIVE AND LOUD" (Link)
"IN AND OUT OF BUSINESS" (Link)
"SATURDAY'S HEROES" (Link, relançamento)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"SUDDEN SURGE OF SOUND"


"CARRY ON OI!" (Secret, 1981)
"OI! OI! THAT'S YER LOT" (Secret, 1982)
"THE SECRET LIFE OF PUNKS" (Secret, 1982)
"BURNING AMBITIONS" (Cherry Red, 1982)
"UK/DK" (Anagram, 1983)
"DEFIANT POSE"
"SON OF OI!" (Syndicate, 1983)
"OI! THE RESURRECTION" (Link, 1987)
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1 a 6 (Link)
"THE SOUND OF OI!" (Link, 1987)
"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)
"BEAT OF THE STREET" (Link)
"OI! THAT'S WHAT I CALL MUSIC" (Link, 1988)
"OI! THE MAIN EVENT" (Link, 1988)
"A GUARANTEED MUG FREE ZONE" (Link)
"POP OI!" (Link)
"PUNK ON THE ROAD" (Jettisoundz, 1983)

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DISCOGRAFIA DA BLITZ

SINGLES:

"Someone's Gonna Die" (No Future, 1981)


"Razors in the Night" (No Future)
"Never Surrender" (No Future, 1982)
"Warriors" (No Future, 1982)
"New Age" (Future, 1983) 7" e 12"
"Telecommunication" (Future, 1983) 7" e 12"
"Solar" (Future) 7" e 12"
mais uma faixa no EP "Total Noise"

ÁLBUNS:

"VOICE OF A GENERATION" (No Future, 1982)


"SECOND EMPIRE JUSTICE" (Future, 1983)
"BLITZED... ALL OUT ATTACK" (Link, 1988)
"THE KILLING DREAM" (Skunx, 1990)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"CARRY ON OI!" (Secret, 1981)


"PUNK AND DISORDERLY" (Abstract, 1982)
"THE SECRET LIFE OF PUNKS" (Secret, 1982)
"BURNING AMBITIONS" (Cherry Red, 1982)
"ANGELS WITH DIRT FACES"
"THE INVISIBLE FRAME"
"VIVA LA REVOLUTION"
"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1 a 4 (Link)
"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)
"SEEDS IV: PUNK"
"A GUARANTEED MUG FREE ZONE" (Link)
"OI! OI! OI!" (Link)

///

DISCOGRAFIA DOS ÁLBUNS OI!

"OI! THE ALBUM" (EMI, 1980)


"STRENGTH THRU OI!" (Deram/Decca, 1981)
"CARRY ON OI!" (Secret, 1981)
"OI! OI! THAT'S YER LOT" (Secret, 1982)
"SON OF OI!" (Syndicate, 1983)
"OI! OF SEX" (Syndicate, 1984)
"THIS IS OI!" (Oi! Records, 1986)
"OI! THE RESURRECTION" (Link, 1987)
"THE SOUND OF OI!" (Link, 1987)
"OI! GLORIOUS OI!" (Link, 1987)
"OI! CHARTBUSTERS" (6 volumes) (Link, a partir de 1987)
"OI! THAT'S WHAT I CALL MUSIC" (Link, 1988)
"OI! THE MAIN EVENT" (Link, 1988)
"POP OI!" (Link, 1989)
"OI! OI! OI!" (Link, 1989)

///

DISCOGRAFIA DA GRAVADORA SECRET

SINGLES E EPS:

"They've Got Me In a Bottle" - Brian Brain


"Tell Him" - Temporary Title
"America" - The Civilians
"Falling Years" - The Fallout Club
"Another Million Miles" - Brian Brain
"Fusion Fusion" - Baby Patrol
"Rubber Ball" - Zoe Nichola
"Dogs of War / Blown to Bits" - The Exploited (1981)
"Exploited Barmy Army / I Believe in Anarchy / What You Gonna Do" -
The
Exploited (1981)
"From A to B" - Lovely Previn
"She's Leaving" - Voice
"Cheonsam / Pyjama Song" - Temporary Title
"Kids of the 80's / Still Out of Order" - Infa-Riot (1981)
"Jive Jive" - Brian Brain
"Dead Cities / Hitler's in the Charts Again / Class War" - The
Exploited
(1981)
"Harry May / Employers Black List" - The Business (1981)
"I'll Never Get Over You" - Lovely Previn
"Yesterday's Heroes / Justice / Get Out of My Life" - The 4-Skins
(1982)
"Bollocks to Christmas" - The Business (mais Gonads, 4-Skins e Max
Splodge) (1982)
"Rosemary" - Polka Dots
"Jet Boy Jet Girl / Abortions / Subway Sadist" - Chron Gen (1982)
"Attack / Alternative" - The Exploited (1982)
"Pure Punk for Row People" (e outras faixas) - The Gonads (1982)
"Smash the Discos / Dayo" - The Business (1982)
"The Winner / Schools Out" - Infa-Riot (1982)
"Peace Artists" (e outras faixas) - The Gonads (1982)
"Wasted Love" - Lovely Previn
"Back on the Streets" - vários
"Outlaw / Behind Closed Doors / Disco Tech" - Chron Gen (1982)
"Computers Don't Blunder / Addiction" - The Exploited (1982)
"Low Life / Bread or Blood" - The 4-Skins (1982)
"Funky Zoo / Flies" - Brian Brain
"Take the Fever" - Dogdogdog
"Plastic Gangsters / Stretsgnag Citsalp" - Plastic Gangsters [4-Skins
sob nome fantasia] (1982)
"The Only One I See Is Me" - The Papers (não lançado)
"The Dossers" - The Dossers
"Seems to Me / Norman" - The 4-Skins (não lançado)
"Chron Gen" - EP ao vivo, brinde distribuído junto com o LP da banda
"One Law for Them / Brave New World" - The 4-Skins (1982)

12" SINGLES:
"Culture" - Brian Brain
"Britannia Waives the Rules" - Exploited / Chron Gen / Infa-Riot
"Ruff Cutts" - Twisted Sister
"Troops of Tomorrow" - The Exploited (1982)
"Somebody's in my Drain" - Dinah Rod and The Drains
"The Dossers" - The Dossers
"Out of Business" - The Business (não lançado)

ÁLBUNS:

"PUNK'S NOT DEAD" - The Exploited (1981)


"CARRY ON OI!" - vários (1981)
"CHRONIC GENERATION" - Chron Gen (1982)
"THE GOOD, THE BAD AND THE 4-SKINS" - The 4-Skins (1982)
"OI! OI! THAT'S YER LOT" - vários (1982)
"SHATTERPROOF" - Lovely Previn
"STILL OUT OF ORDER" - Infa-Riot (1982)
"TROOPS OF TOMORROW" - The Exploited (1982)
"UNDER THE BLADE" - Twisted Sister
"SECRET LIFE OF PUNKS" - vários (1982)
"SUBURBAN REBELS" - The Business (1982)
"UNEXPECTED NOISES" - Brian Brain
///

Capítulo Seis
NEM WASHINGTON NEM MOSCOW

[Nada como um pouco de violência para desmascarar certas figuras


manjadas. Difícil é flagrar os momentos mais comprometedores. Por isso
é surpreendente que as câmeras continuassem rodando incólumes enquanto
mesas e cadeiras voavam pelo Benny's Bar em Harlow. Ver um nightclub
destroçado por gangues rivais de skinheads, e ainda por cima poder
filmar tudo, deve ser o sonho de muito cineasta ou produtor.
Principalmente se seu intuito sempre foi causar impacto.]

"É o tal negócio. Se tem quatro punks no palco usando suásticas, eles
são só uma banda punk. Se tem quatro skinheads no palco usando a mesma
coisa, eles são automaticamente de direita." (Chubby Chris, vocalista
da Combat 84)

Pois é, as câmeras estavam lá para gravar uns lances ao vivo da banda


londrina Combat 84 para um documentário da BBC chamado "Skinheads",
dentro da série 40 MINUTES. Antes de partir para a performance da
Combat, os produtores do programa tinham contatado várias outras
bandas, mas nenhuma se interessou em posar de animal de zoológico para
a burguesada. A Business poderia ter sido uma boa escolha, já que
tinha concordado em dar um depoimento sobre o movimento e sobre si
mesma, mas os caras do 40 MINUTES tinham outras intenções, menos
nobres.

Aproveitando o gancho de Southall, eles queriam algo mais "polêmico",


mais "impressionante". Afinal de contas, para que fazer um programa
sobre skinheads se não for pra pôr uma pitada de racismo e a
perspectiva de alguma botinada na cara duma pobre coitada duma vítima
da "intolerância"? E quem melhor pra ser focalizado senão Chubby Chris
Henderson, vocalista da Combat 84, um manjado e invocado racista do
pedaço?

Chubby Chris nunca desmentiu sua ideologia, e talvez tenha sido esse
seu maior erro. Outros que haviam flertado com a extrema-direita
trataram de maneirar suas declarações públicas e acabaram se dando
bem.
Nem precisa dizer que quem tivesse militado na extrema-esquerda, por
mais radical que fosse, podia se vangloriar tranqüilamente.

Em matéria de encrenca, toda vez que uma gig rolasse em Londres e os


skinheads fossem acusados de alguma coisa, você podia apostar seu
próprio cu como Chubby Chris estava metido no meio. Mesmo que ele nem
tivesse estado lá, seria apontado como réu principal. O cara é o
primeiro a admitir que se envolveu em tudo quanto foi treta a que
tinha direito e não se considera nenhum santo, mas é muito maior a
quantidade de rolos onde não esteve e todos juram que foi ele o
responsável.

Mais irônico foi que, no caso da filmagem, a Combat 84 já tinha


encerrado sua apresentação e estava assistindo outra banda londrina,
The Elite, quando o pau comeu no Benny's. Ainda por cima, Chris só
entrou no meio para tentar apartar, juntamente com Gary Hitchcock, que
também lá estava. Ele subiu no palco, fez apelos no microfone, foi até
os mais esquentados e quis acalmar as turmas da pista na base do deixa
disso. Coisas que não costumava fazer.

Com Chubby Chris à frente, a Combat 84 era descrita em certos círculos


como uma banda de direita que levava encrenca aonde ia. Tudo isso
espantava muito os demais membros do grupo, que não comungavam as
idéias políticas de Chris.

"Eu só levo bronca, dos dois lados. Alguns skinheads não acreditam que
eu seja um deles por causa da minha cor. Aí vêm os negros pra cima de
mim e falam: você é uma vergonha pra sua raça." (Darryl, skinhead
negro de Bournemouth)

De fato, a banda se esforçava para deixar política e futebol fora de


suas músicas, e isso valia pra todos, inclusive Chris.

Encorajar animosidades políticas ou futebolísticas equivalia a assinar


a própria sentença de morte, depois do que ocorrera em Southall.

Quando mais não seja, o documentário "Skinheads" serviu para mostrar


claramente que a banda, bem como todo o movimento skinhead, era
formada por indivíduos e que cada cabeça era uma sentença em termos de
valores pessoais ou coletivos. O baixista Deptford John declarou que
não estava interessado em política nenhuma e com certeza não era
racista, enquanto o baterista Andy The Greek era exatamente o
contrário. Tudo grupo e cascata. Quanto a Chris, levou mais tempo
opinando sobre educação, adoção e sabão em pó do que sobre política.

Para variar, sempre aparecem aqueles que só enxergam o que querem ver.
E a Combat 84 obviamente tinha algo escrito na testa. Graças aos
boatos sobre política e treta que acompanharam a banda ao longo da
carreira, a Combat perdeu gigs, turnês e até um contrato com a
gravadora Secret.

Mas uma coisa que ela nunca perdeu foi sua fiel torcida (como se diz
no futebol) ou suas bases (como se diz na política), que a
prestigiavam lotando as casas punks do circuito londrino, e que
levaram o EP de estréia da banda, "Orders of the day", ao 11º posto na
parada alternativa (tabulada entre as gravadoras independentes),
depois de vender cerca de 5 mil cópias. Nada mau para um lançamento
autofinanciado na própria etiqueta da banda, a Victory, que nem tinha
espaço na imprensa e mal podia fazer a distribuição.
Em outubro de 83, um ano após a exibição de "Skinheads", a Combat 84
se desfez durante a gravação de seu álbum de estréia, "SEND IN THE
MARINES". Deptford John e o guitarrista Jim (muito popular por suas
orelhas de macaco) ficaram de saco cheio com aquela imagem direitista
e caíram fora, indo trabalhar de roadies para os UK Subs. Graças à
política, a Combat entrava para a lista das baixas ilustres do
movimento skinhead.

"Eu acho que o NF e o Partido Trabalhista são a mesma coisa. Na hora


do vamos ver e do pega-pra-capar, ninguém ajuda a gente." (Tommy,
skinhead de Manchester, 1979)

Num mundo perfeito, cada um teria sua própria convicção política e a


guardaria para a urna e pra alguma entrevista ou enquete tipo Ibope.
Era exatamente assim que a Combat 84 queria que fosse, mas ficavam
querendo. A realidade é que cada um tem direito a sua opinião, só que
alguns têm mais direito que os outros. Todo mundo tem sua cruz pra
carregar, e desde o final da década de 70 o movimento skinhead tem
sofrido o peso da política nas costas. Principalmente o ônus de
agüentar políticos pés-de-chinelo. Tanto a esquerda como a direita vêm
tentando usar e abusar dos skinheads, com mais ou menos sucesso, a tal
ponto que hoje em dia os extremismos se impregnaram no movimento como
um chulé dentro do coturno.

Os skinheads originais não demonstravam o menor interesse pela


política partidária e nunca se comprometeram com a direita. Quando se
é jovem e se tem motivação pra música, uma bola pra chutar e uma
esquina pra defender, os políticos não têm onde, como nem por que
meter o bedelho.
Afinal de contas, não importa em quem você vota, o governo nunca está
do seu lado e ainda não apareceu ninguém oferecendo corte de cabelo
grátis ou coturnos baratos, apareceu? Alguém vem prometer cerveja
grátis, disco grátis, futebol grátis? Ou então um emprego que pague
tudo isso?

É verdade que alguém da classe de 69 chegou a apoiar as idéias de


Enoch Powell, mas você podia achar gente apoiando o Partido
Trabalhista, os Tories (conservadores) ou mesmo os liberais. Um ou
outro gato pingado podia até admitir que os hippies tivessem algo de
bom em vez de merda na cabeça. Mas, no fim das contas, a política não
constava da lista de prioridades dum skinhead e nunca seria motivo
para divisionismos.

Foi o National Front quem pela primeira vez meteu a política no meio
dos skinheads. Antes de 76, muito pouca gente levava o NF a sério, e
ele passava o tempo todo perambulando a esmo e clamando no deserto.
Tudo mudou, no entanto, com a chegada duns refugiados africanos vindos
de Malawi naquele verão. A quantidade de gente era irrisória, mas os
tablóides trataram de converter algumas dezenas em um êxodo, causando
um clima de histeria com papos de hotel cinco estrelas e uma porrada
de mordomias às custas do Estado e a título de ajuda.

Ah, pra quê! O National Front viu que os ventos sopravam a seu favor
e, de praticamente nenhuma base eleitoral, encetou uma virada e lançou
candidatos a centenas de cadeiras, assegurando 250 mil votos nas
eleições locais de 77. A voz da direita despertava como um vampiro
adormecido, e já tinha gente falando do Front como a terceira força na
política britânica, tomando o lugar do Partido Liberal.

"A Grã-Bretanha tomou conhecimento do termo 'paki-bashing' pela


primeira vez na última quarta-feira. Um grupo de skinheads se gabava
pela TV de ter espancado imigrantes de cor na Zona Leste de Londres,
por pura diversão." (jornal SUNDAY MIRROR, 1969)

Como todos os partidos, o National Front tinha várias esferas de


atuação e metas distintas, mas era visto como facção de uma única
causa, que podia ser resumida no slogan "If they're black, send them
back" ("Se são negros, que sejam mandados de volta", subentendendo-se
a África). A imigração começava a virar uma questão crucial na
política britânica, que passava então a ser capitaneada por uma
primeira-dama, mais precisamente uma dama de ferro: a primeira-
ministra Margaret Thatcher.
Ela literalmente puxou o tapete do NF, apropriando-se da questão
racial em seu próprio benefício. [1]

Mas isso foi alguns anos mais tarde. Por enquanto, ainda nos anos 70,
o Front angariava considerável apoio, principalmente junto à juventude
do interior. Não eram só os skinheads que atendiam à convocação às
armas feita pelo Front. Punks, teds, mods, cabeludos e tipos normais,
todos passaram a mostrar simpatia pelo Front, embora pouca gente
pudesse contar pra você qualquer coisa sobre o partido que não fosse
meia dúzia de slogans, e menos gente ainda tivesse idade pra votar.

O breve flerte do movimento punk com o chamado Nazi Chic (espécie de


modismo onde a estética nazista ficava só na aparência e no consumo)
tinha provocado uma reação igualmente de vitrine: a formação da
Anti-Nazi League (Liga Antinazista) e seu departamento musical, o Rock
Against Racism. Agora, com o NF mais atuante e pondo suas manguinhas
de
fora, as organizações antifascistas também se revitalizavam a fim de
fazer-lhe frente, principalmente em meio à juventude. É que o NF tinha
criado uma ala jovem, o Young National Front (YNF) em fins de 77,
visando "trabalhar" suas bases (leia-se aliciar sangue novo) nas
escolas, campos de futebol, gigs e clubes juvenis, que passavam a ser
considerados "campos de batalha" ou "áreas estratégicas", onde a
molecada virava massa de manobra de ambos os lados.

Entre os moleques brancos da classe operária, o YNF encontrou terreno


fértil. Em certos círculos, você dizer que era do NF era uma
demonstração de colhão. Da mesma forma que andar com os caras mais
marrudos no recreio, entoando gritos de guerra ou coros de torcida.
Era parte da fase de amadurecimento do adolescente num mundo onde se
fumava escondido e rapidinho no banheiro e se cabulava a aula de
francês. A Liga Antinazista não refrescava nada fazendo cobranças aos
professores pra que condenassem o Front nas aulas. Afinal, quem é que
vai atrás de papo de professor? Essa era a melhor maneira de
"encorajar" os moleques a morrer com dez pence por um exemplar do
BULLDOG. [2]

Os skinheads eram o maior foco de recrutamento de militantes para o


NF, desde os tempos da Sham. Enquanto praticamente todo mundo
condenava o hooliganismo no futebol e outros passatempos dos skins, o
YNF saudava a carecada como guerreiros das arquibancadas, publicando
regularmente no BULLDOG notícias sobre os skins mais "raçudos" (leia-
se bagunceiros) como se fossem heróis, exemplos a serem seguidos. Ali
estava, portanto, um partido que não falava PRA você e sim DE você, e
não olhava você de cima pra baixo, mas "te" tratava como se VOCÊ fosse
a elite da juventude britânica.

Assim como os punks tinham alardeado a anarquia, os skinheads logo


foram vistos pelo público em geral como "soldados" do National Front.
Para a maioria, era uma chance de se exibir desfraldando a bandeira
inglesa e mostrando o dedo pro resto da sociedade, às vezes algo mais
que isso.
Naturalmente, a perspectiva de quebrar pau com ativistas contrários ao
Front durante os atos públicos e passeatas era algo que só aumentava o
charme do partido entre os skins. Falou em treta, ói nóis aqui, era
como se estivesse subentendido.

A Liga Antinazista também ganhava seu terreninho no meio da moçada,


até porque levava bandas de renome pra tocar em suas manifestações. No
Carnival Against the Nazis, que a Liga realizou no Hyde Park de
Londres em abril de 78, cerca de 80 mil pessoas vieram pra ver
conjuntos como o Clash, The Tom Robinson Band e Steel Pulse. A
iniciativa do Rock Against Racism foi mesmo tão bem-sucedida, que não
demorou pra que o YNF copiasse a idéia e viesse com uma réplica, a
organização batizada de Rock Against Communism.

"Você lê nos jornais que todos os skinheads são uns valentões broncos
e fascistas. Eu não sou um valentão bronco e não sou fascista. Tem
algum valentão bronco aí? Tem algum fascista aí?" (Mick, da banda The
Burial, falando do palco pra platéia em Stockton, em 1985. Ninguém se
manifestou.)

O maior erro da ANL, porém, foi tentar acuar o National Front no canto
do ringue. Aquilo tornava o partido mais atrativo para os moleques que
querem dar uma de rebeldes e levava-os a ficar do lado mais "maldito".
[3] Tudo contribuía para reforçar a típica atitude skin resumida na
clássica frase do movimento: "Nobody likes us, we don't care."
("Ninguém gosta da gente, mas não estamos nem aí.") Era já uma postura
amplamente difundida entre os skinheads do YNF. Mas é bom que se diga:
mesmo no seu auge, a filiação ao National Front nunca ultrapassou os
15 mil militantes, e mesmo assim o crédito para tanto reforço deve ser
dado à ANL e organizações antifascistas similares, com sua campanha
antipática e moralista.

Ironicamente, a imagem dos skinheads talvez tenha custado ao National


Front a perda de mais votos do que os que o partido obteve. O
resultado das eleições gerais de 1979 nem chegou perto do êxito
alcançado dois anos antes, e o partido logo voltou à obscuridade,
graças também aos rachas internos que se seguiram. Outra coisa que
prejudicou foram as matérias da imprensa envolvendo vários membros do
partido em escândalos do tipo "fulano é um nazista fugitivo", "sicrano
é homossexual" e "beltrano é corruptor de menores".

A essa altura muitos skinheads desertaram do Front, em parte por causa


dos escândalos citados, em parte porque organizações mais radicais
entravam em cena. Pra ser mais exato, a carecada mais fodida estava
era trocando a carteirinha do YNF por outra com o nome do British
Movement ou duma tal de Anti-Paki League (Liga Antipaquistanesa), isso
sem falar nos que aderiam a "organizações" de estilo paramilitar tipo
Section 88 ou o National Socialist Action Party (Partido da Ação
Nacional-Socialista).

O British Movement foi quem mais se beneficiou com o afluxo de


skinheads, passando a ter um quadro superior a 8.000 membros. Era um
organismo abertamente nazista e, pra gáudio de seus associados, estava
mais interessado numa ação direta nas ruas que na espera da apuração
das urnas pra ver se em determinada seção foram totalizados 326 votos,
15 a menos que os do The Bring a Bottle Party (Partido do "Traz a
Garrafa").
Na época em que Southall estava prestes a entrar para a história, o
apoio dos skinheads, tanto ao National Front quanto ao British
Movement, se achava em declínio. Ambos viviam tão mergulhados em
disputas internas, às voltas com crises de liderança e coisas do
gênero, que se tornavam menos interessantes que assistir uma partida
do Aldershot contra o Halifax Town terminando em zero a zero debaixo
de chuva.

Sem dúvida, a carecada que apoiava o NF e o BM estava, em sua maioria,


só atrás do modismo da ocasião. Como dizia Max Splodge (vocalista dos
Splodgenessabounds e baterista dos Upstarts), quando eles chegaram à
idade de votar, já tinham perdido a vontade de votar. Contudo, fossem
ou não skins, sempre havia aqueles que acreditam piamente na política
da extrema-direita, do mesmo modo que há os sinceramente devotados a
outras causas e crenças. E, praqueles que estavam a fim de lutar em
nome da raça e da pátria, o renascimento da Skrewdriver veio
proporcionar a tábua de salvação que procuravam.

A banda tinha pendurado os coturnos e voltara pra Lancashire no verão


de 1978, totalmente desiludida com o cenário musical. Ao contrário da
Sham, a Skrewdriver tinha-se recusado a atender o apelo da imprensa da
área pra se afastar do racismo e repudiar os racistas de seu público,
e teve que pagar o preço de sua "teimosia": nada de publicidade, nada
de divulgação, nada de gigs nem de contratos pra gravar.

Lá pelo fim de 1979, o vocalista Ian Stuart e o baixista Kev McKay se


mudaram pra Manchester e reativaram a banda com a ajuda de dois caras
da cidade, o guitarrista Glen Jones e o baterista Martin Smith. Eles
ficaram guigando por ali mesmo e lançaram um EP por uma gravadora
independente local, a TJM. A música era um bluesão bem baixo-astral
chamado "Built up, knocked down", de letra neutra, isto é, sem
conotações racistas. Mesmo assim, qualquer esperança de trabalhar o
disco e levá-lo às paradas seria frustrada por causa da fama dos
vínculos com o National Front. Tanto que, no final de 1980, a
Skrewdriver desistia pela segunda vez, apesar da letra dizendo que não
daria o braço a torcer.

"Os skinheads são a favor dos americanos. Os nazistas não apóiam a


América." (Dan Jones, 20 anos, skinhead e fuzileiro naval dos Estados
Unidos)

Quando a banda voltou à tona em Londres, já no final de 81, só o líder


Ian Stuart tinha feito a jornada rumo ao Sul. Ele se mudara de volta a
Londres em agosto e, com o apoio da loja da Last Resort, tinha
reformado a Skrewdriver. Quem tinha vindo trabalhar com ele eram Mark
French e Geoff Williams, dois ex-integrantes da banda The Elite, mais
Mark Neeson. No início de 82, era lançado o single "Back with a bang"
pela Last Resort Sounds, que conseguiu seu lugar nas paradas
independentes. A Skrewdriver começou a guigar de novo, desta vez pela
capital, lotando o Skunx e o 100 Club regularmente.

Ainda pairavam dúvidas sobre a orientação política da banda, mas isso


não duraria muito. A Skrewdriver vinha sendo apontada como partidária
do National Front desde 77, época em que nenhum de seus membros estava
envolvido com o NF. Tudo que eles tinham feito fora recusar o
"banimento" dos skinheads racistas dentre seus fãs, os quais afluíam
às gigs em número sempre crescente. Na verdade, Ian Stuart só entrou
pro Front depois que a banda se desfez e voltou pra Blackpool.

A própria The Elite não era estranha à extrema-direita, e com a nova


formação a Skrewdriver passou a assumir uma posição política mais
declarada. Canções como "White Power" e "Smash the IRA" foram
acrescentadas ao repertório, e Ian Stuart começou a proferir discursos
no palco a favor do Front. A imprensa musical, mais puta do que nunca,
aumentou seus ataques à banda, tentando convencer os clubes a proibi-
la de tocar ao vivo.

A princípio os clubes se mantiveram indiferentes às cobranças da


mídia, mesmo porque as bilheterias falavam mais alto. Mas as coisas
mudaram quando, no verão, rolou um quebra-pau no 100 Club.

A treta foi entre membros e roadies da banda Infa-Riot e os caras da


Skrewdriver. Os promotores do evento já vinham sendo criticados por
patrocinar bandas como a Skrewdriver e a Combat 84 pra tocar ali, e a
treta foi a gota d'água que entornou o copo. O clube Skunx, por sua
vez, continuou a programar a Skrewdriver, até que a própria polícia
pressionou a casa a fechar suas portas pra quem quer que fosse, já no
final do ano.

Sem lugar pra tocar e sem espaço na mídia, a Skrewdriver se voltou


para os únicos amigos que lhe restavam: o National Front. Ian Stuart
se juntou ao responsável pelo Young National Front, Joe Pearce, e
reativou o Rock Against Communism (que estava em recesso desde 79),
partindo pra organização de gigs por toda Londres.

Seguindo os passos da Skrewdriver, outras bandas como The Ovaltinies,


Peter and The Wolves, The Die-Hards e Brutal Attack se uniram pra
tocar sob a bandeira do RAC. E, pra combater o music business em seu
próprio terreno, o NF fundou a gravadora White Noise Records e lançou
o single da Skrewdriver com a música "White Power". [4]

Durante 1983 e 1984, tanto a White Noise quanto o Rock Against


Communism foram de vento em popa. A freqüência às gigs atingia em
média 500 pessoas, só com divulgação boca-a-boca, e, pra consolidar a
iniciativa, saiu o EP antológico "THIS IS WHITE NOISE" (1984),
incluindo as bandas Skrewdriver, ABH, The Die-Hards e a Brutal Attack,
com seu clássico "The return of St. George".

A banda ABH tinha conseguido um lugarzinho na segunda e última


coletânea da Syndicate, THE OI! OF SEX, com a música "Don't mess with
the S.A.S.", mas era só um acidente de percurso. Na intenção de se
afastar o mais possível do NF, os caras da Syndicate se inclinavam
cada vez mais para a esquerda, principalmente na hora de escolher
compositores e letras. Houve até um coro masculino sob o nome de
League of Labour Skins (Liga dos Skins Trabalhistas) que esgoelava uma
patriótica interpretação de "Jerusalem".

A tal Liga teve vida tão curta quanto algumas das bandas que viveram
seus cinco minutinhos de glória ao participar daquelas coletâneas, e
depois nunca mais foram ouvidas. O mesmo se pode dizer dos Skins
Against Nazis, que se formaram em julho de 78 e cuja única invocação à
fama foi uma notícia de meia página no SOUNDS. Na realidade, aquilo
nada mais era que outro distintivo a ser usado ao lado do logotipo dos
Skateboarders Against Nazis (skatistas contra os nazistas), e nunca
angariou larga margem de apoio.

Considerando-se, porém, o apoio que o NF desfrutava naquele momento,


até que os jovens skins do leste de Londres, que tiveram colhão pra
pôr pela primeira vez na rua o nome dos Skins Against Nazis, merecem
que se lhes tire o chapéu.

Ali por 1984, o movimento skinhead estava literalmente partido ao meio


por causa da política, que levava de roldão a música e o vestuário. A
situação foi resumida sintomaticamente em duas cartas dirigidas à
redação do SOUNDS, a propósito duma treta na gig dos Broken Bones em
Hereford. Uma das cartas era dum punk se queixando que os skinheads
tinham atacado qualquer um que se atrevesse a tentar dançar. A queixa
do punk não ficou sem resposta. Um fanzine skinhead chamado HARD AS
NAILS (duro de roer) deu o troco na hora, afirmando que os skinheads
de verdade prefeririam morrer a serem vistos numa gig dos Broken
Bones, e atribuiu a culpa pela treta aos punks carecas.

O HARD AS NAILS iria se tornar uma espécie de ponto de encontro e


tribuna para os skinheads que se opunham ao racismo, assim como o
White Noise Club era o local onde se concentravam os skinheads
racistas. A iniciativa do fanzine de criar a Campaign for Real
Skinheads (campanha pelos verdadeiros skins) e uma etiqueta musical
delineou mais claramente os dois lados daquela batalha ideológica.
"Polarizou", como diria a mídia. O "Evangelho Segundo o HARD AS NAILS"
proclamava que os genuínos skinheads eram a favor do estilo, da
música, e contra a política, enquanto aqueles que curtiam a
Skrewdriver e sua laia não passavam de cheiradores de cola,
espantalhos hitleristas se fingindo de skinheads.

Mas dentro das páginas do HARD AS NAILS também não faltavam as


contradições da vida. Para um fanzine que acusava os punks pela
decadência dos valores skinheads, não deixava de ser estranha a
cobertura excessiva que se dava ao som Oi!. Além do mais, uma banda
como a Indecent Exposure tinha espaço no zine apesar de viver posando
com a bandeira inglesa e guigando junto com a Skrewdriver e a Brutal
Attack. A desculpa era que a banda não se considerava racista, apenas
patriota.

Não que houvesse algo errado com o patriotismo, ainda mais nos
círculos skinheads. Os próprios fanzines existiam como uma forma de
manter o movimento unido, mais que pra dividi-lo. O problema era que,
fustigando a Skrewdriver, fazendo média com os antifascistas rueiros
da Red Action (Ação Vermelha) e propagandeando bandas como os
Redskins, o HARD AS NAILS ia sendo tragado pelo pegajoso e fedido
mundo da política, quer gostasse, quer não. E não se avistava o menor
raio de esperança de que o movimento pudesse ser novamente reunido sob
um único teto.

"Nos jogos de futebol, multidões de jovens desempregados, muitos de


cabeça raspada e usando insígnias nazistas, passam as tardes de sábado
transformando o esporte mais popular da Europa em puro vandalismo."
(NEWSWEEK, 1988)

Originalmente chamados No Swastikas, os Redskins eram abertamente


politizados desde sua formação. Não se tratava apenas duma postura
antinazista, mas dum engajamento pra valer. Dois de seus membros, o
vocalista Chris Dean e o baixista Martin Hewes, eram totalmente
sustentados pelo Socialist Workers Party (Partido dos Trabalhadores
Socialistas), de tendência comunista, ao qual eram filiados. A banda
servia para divulgar a linha política do partido. [5]

Todavia, o apoio dado à banda pelo HARD AS NAILS tinha pouco a ver com
sua cor política. Na verdade, o patrocínio dogmático vindo do SWP era
uma pedra no coturno de muitos skinheads que curtiam os Redskins. A
maioria vinha pra ver a banda por causa da música e da cerveja e não
pra ficar escutando discursos bombásticos contra as outras bandas.

Também no caso da Skrewdriver, nem todo mundo que comparecia às gigs


era racista convicto. Ainda hoje tem gente que não dá a mínima pra
Blood and Honour ou agremiações do gênero, mas reconhece na
Skrewdriver dos primeiros tempos uma das maiores bandas punks da
história, ao menos entre as bandas bandidas.

Um skinhead chamado Fat Jim costumava dizer pra quem quisesse ouvir
que ele curtia a Skrewdriver só por causa da música e não pela
política. Embora ele mentisse por todos os poros do corpo, tocava no
ponto certo. Na mesma roda de papo tinha fã dos Redskins, mas que não
trabalhava pro SWP como Jim.

Aliás, os Redskins nunca foram uma verdadeira banda skin em termos de


público, mesmo com o visual e o nome que tinham. Apesar das botas e
cabeças raspadas, em Londres os caras contavam mais com fãs
rockabillies e com estudantes ligados ao SWP. Fora da capital a
tendência era a mesma.

Para vários skinheads, parecia que os Redskins tinham adotado aquele


estilo por mera jogada de marketing, e a banda era a primeira a
admitir que fazia um esforço consciente para cultivar a imagem skin. O
baterista Paul Hookham só raspou a cabeça quando saiu da banda pop The
Woodentops pra ingressar nas hostes vermelhas, de forma que não levava
jeito pra se passar por um skin da gema.

O topetinho sem-vergonha de Chris Dean também não convencia muito, a


menos que a platéia fosse fã do Tintin. Outra fonte de controvérsia
era o fetichismo do cara em usar uma jaqueta Harrington de cor
diferente a cada noite, durante as turnês. Os fãs já faziam apostas
pra ver quem acertava qual cor ele ia escolher naquela noite. Apesar
disso, o cara era, tal como Martin Hewes, adepto da moda skin desde
tenra idade e não fazia aquilo só por capricho.

Depois de lançar dois singles pela gravadora CNT sediada em Leeds, a


banda assinou com a Decca e apareceu várias vezes na parada, embora
bem longe dos primeiros postos. As músicas de destaque eram "Keep on
keeping on", "The power is yours" e "It can be done".

A conclusão é que, se você for de esquerda, o quente é misturar


política com música. Mas, se você for de direita, pode tirar o cavalo
da chuva.

Contudo, o mais importante foi o fato de que os Redskins ofereceram um


som diferente e interessante, num momento em que a música skinhead
corria risco de se deteriorar no meio dum gênero viciado e medíocre
que se assemelhava a um punk de segunda categoria com um toque de
heavy metal. As maiores influências dos Redskins vinham do soul das
etiquetas Tamla e Stax, mas eles também bebiam na fonte do rockabilly
e em bandas como The Fall. [6]

Skinheads ou não, o fato é que os caras do White Noise Club e os


seguidores dos Redskins não se beijavam, o que não demoraria a acirrar
as tretas. Em junho de 1984, o Greater London Council promoveu um
concorrido festival sob o nome de "Jobs for a Change" (empregos para
uma mudança) nos Jubilee Gardens. Os Redskins constavam da mesma
programação que Billy Bragg, Aswad e The Smiths, mas não chegariam a
completar sua apresentação.

No meio da música "Lean on me", uma garrafa voou pra cima da banda.
Foi como que uma senha para uns 50 skinheads, do National Front e da
torcida organizada Chelsea Headhunters, que investiram contra o palco.
No caos reinante, o baixista acabou se estatelando nos tambores da
bateria, cabeças se partiram e mais garrafas voaram, tudo sob o som
dos amplificadores, inclusive os gritos e palavras-de-ordem dos
nazistas. Os skins antinazistas e outros fãs dos Redskins revidaram,
mas a maioria do público, nas suas camisetinhas da moda escritinhas
com slogans tipo "Free Nelson Mandela" (Libertem Nelson Mandela!),
debandou pra longe dali na base do pernas-pra-que-te-quero. Quanta
solidariedade...

Seguiu-se verdadeira guerrilha urbana pelas ruas adjacentes aos


Jubilee Gardens, com cenas de skinheads dando porrada em skinheads,
deixando muita gente atônita, sem saber quem estava do lado de quem. O
quebra-pau continuou rolando até a estação Waterloo e até mesmo no
interior do St. Thomas Hospital, que ficava ali perto e pra onde
tinham sido encaminhados os feridos. A ala dos mutilados de guerra
reviveu seus dias de glória. Naquela noite, um notório pub de
direitistas em Islington foi atacado por militantes de esquerda
sedentos de vingança.

Depois dos Jubilee Gardens, baixou uma atmosfera de paranóia


permanente nas gigs dos Redskins, especialmente em Londres, onde os
skinheads antinazistas costumavam se plantar na porta feito sentinelas
a fim de alertar pra chegada de qualquer skin nazista que aparecesse
pra tentar entrar. Pelo sim pelo não, a banda se recolheu pruma
atividade mais segura: tocar em gigs estudantis, uma guinada que feriu
os melindres de grande parte de seu público.

Afinal, é duro de engolir que uma banda skinhead fique tocando pra
aluninhos de classe média, cujo interesse na esquerda é tão efêmero
quanto uma bolsa de estudos. Por outro lado, aquilo assegurava cerveja
e ingressos baratos, além de proporcionar verbas beneficentes, já que
os grêmios estudantis se propunham a reverter a arrecadação em prol de
campanhas que os promotores comerciais não costumavam prestigiar.

Ninguém tocou mais em gigs beneficentes que os Redskins,


principalmente durante a greve dos mineiros. Além disso, quando a
Decca se recusou a lançar "KICK OVER THE STATUES" como disco
beneficente em prol de organizações anti-apartheid, a banda fincou pé
e o disco acabou saindo pela etiqueta Abstract, casa de seus
conterrâneos em Yorkshire, os Three Johns.

Voltando ao White Noise Club, os planos para a realização dum festival


do Rock Against Communism estavam em pleno andamento. O local previsto
era uma propriedade privada no interior, mais precisamente na floresta
de Suffolk. Os skinheads viajaram de todos os pontos da Grã-Bretanha e
do exterior pra ver a Skrewdriver e mais cinco outras bandas naquele
que seria o primeiro de vários festivais ao ar livre promovidos pelo
Front.

Àquela altura a Skrewdriver já estava de formação nova, com dois


australianos e um italiano a serviço do indefectível Ian Stuart e do
produtor da banda, Geoff Williams, que também assumia a bateria.
Aquele tempero internacional combinava bem com o fato de que a
reputação e o público da banda já não se restringiam às fronteiras de
nossas belas praias.

"Esse movimento dos Skinheads Against Racial Prejudice é uma


contradição em termos, hoje em dia. Os skinheads podem até ter
começado como um movimento de mistura racial que ouvia música de
crioulo, mas agora o movimento é uma filosofia de vida pros brancos
puros de verdade." (Flubs, da banda Sudden Impact)
O começo da década de 80 via, ou começava a ver, o movimento skinhead
encetando uma espécie de turnê mundial, recrutando adeptos pela
Europa, nos Estados Unidos, na Austrália e até mesmo em lugares
inesperados como o Japão e a América do Sul. Antigamente, o movimento
tinha sido um fenômeno típico da cultura britânica, e a Austrália era
a única exceção digna de nota.

No entanto, com os anos 80 também a Austrália se viu às voltas com


skinheads racistas que adotaram a Skrewdriver e seus amigos como
ídolos do coração. A maioria dos skinheads estrangeiros sabia muito
pouco sobre as origens do movimento e agia como se este não remontasse
mais atrás que a Sham 69. Na verdade, os skins de fora pensavam que o
movimento tinha começado junto com o Oi! e depois passara a ser
"representado" pelas bandas do White Noise, com a parafernália
fascista compondo o uniforme skinhead.

O lançamento do single "invasion", bem como do segundo álbum da banda,


"HAIL THE NEW DAWN" (1984), pela gravadora independente alemã
Rock-o-Rama, sinalizava que a Skrewdriver andava mais que satisfeita
ao ver que sua luta pelo poder branco assumia uma dimensão mundial. A
Rock-o-Rama podia oferecer divulgação e repercussão muito mais amplas
que a patrulhada White Noise Records, e permitiu à banda incursionar
com êxito no virgem e expansivo mercado germânico junto à cena skin.
[7]

Os recrutas britânicos já tinham levado até a Alemanha Ocidental o


chamado estilo skin em voga nos tempos da Sham e da 2-Tone. Na época
em que o Oi! roubou a cena, o movimento frutificava promissoramente, e
times tipo Hamburg SV contavam com algumas centenas de militantes
carecas nas torcidas locais. Logicamente o movimento continuou sendo
uma expressão cultural britânica, estereotipado nos emblemas da Union
Jack, nas cores do West Ham, nos modismos londrinos. Isso porque,
mesmo na Alemanha, era comum os skinheads beberem cerveja junto com os
soldados britânicos que ali serviam, aproveitando as folgas de
fim-de-semana.

Mas, com o passar do tempo, os skinheads germânicos foram adotando seu


próprio senso de orgulho, seus próprios valores patrióticos, e
principiaram a incrementar a cena skin com suas próprias bandas. Uma
delas, a Boehse Onkelz, tornou-se o principal foco do rock dos skins
alemães naqueles anos pioneiros, mas, assim como seus co-irmãos
britânicos, os da Alemanha pareciam refratários ao resgate das raízes
multirraciais da música.

Quando um punk alemão levou um cacete de skinheads ao passear em


Londres, foi declarada a guerra entre as duas tribos lá na terra natal
do cara. Claro que as batalhas tinham que rolar nas gigs da Boehse
Onkelz. Não que a banda estivesse preocupada com política ou facções,
mas seu patriotismo era freqüentemente confundido com nacionalismo
pela mídia, e aquilo atrapalhava os planos de ampliar o raio de ação e
o público. Com efeito, apesar de formada ainda em 79, o primeiro vinil
dos caras só saiu depois que a Rock-o-Rama resolveu lançar "DER NETTE
MANN" em 1984.

Nessa época o movimento skinhead já estava de tal modo politizado, e


de forma tão distorcida, que a maior parte da molecada encarava o
estilo skin como um uniforme duma ressurrecta Juventude Hitlerista.
Isso era particularmente verdadeiro na Alemanha Oriental, onde a
oposição ao comunismo e as aspirações duma Alemanha reunificada se
tornavam cada vez mais declaradas. Ao mesmo tempo, havia grande número
de skinheads esquerdistas que se opunham ao retorno do nazismo, sem
falar naquelas gangues de skinheads que, por uma boa & saudável
tretazinha, não perdem chance de se deleitar botinando tanto à
esquerda quanto à direita.

Os vínculos com a Rock-o-Rama trouxeram bons frutos também para o


White Noise Club, por conta duma coletânea em colaboração entre ambos,
o álbum "NO SURRENDER" (1985, primeiro duma série de volumes). O álbum
destacava as costumeiras bandas nacionalistas, bem como algumas caras
novas e estranhas, inclusive um grupo technopop muito sem-vergonha,
oriundo de Southampton, chamado The Final Sound. Não era exatamente
aquele tipo de "skinhead moonstomping" (a "pisada pesada" que
acompanhava o reggae primitivo) que passaria pela cabeça (ou pelo pé)
dum skin da velha cepa.

Mesmo aquelas bandas skins mais características, e não só as


nacionalistas, tinham percorrido longa trajetória desde os dias do Oi!
ou antes. O thrash e o heavy metal vinham sendo cada vez mais
"pesquisados", numa perigosa digressão que poderia levar a suposta
música skinhead para longe do punk, em direção às praias dos hippies e
dos greasers.

Embora ocasionalmente descrita como banda Oi! por alguns observadores,


a Skrewdriver se considerava mais uma banda de rock, e isso valia
também para as outras bandas do tipo White Power. A cover que a
Skrewdriver fez de "Sweet home Alabama", do grupo metaleiro Lynyrd
Skynyrd, e outras, como a versão da Skullhead para "Silver machine" da
banda Hawkwind ou a da Sudden Impact para "We are the road crew" da
Motorhead, soavam como profanação aos ouvidos dos skinheads da classe
de 69, coisa que teria feito o velho herói Joe Hawkins se revirar na
tumba. [8]

O relacionamento do White Noise Club com a Rock-o-Rama não estava


fadado a um final feliz, principalmente no caso das bandas envolvidas.
Em 1986, o National Front rachou mais uma vez, e a coisa fedeu pro
lado do WNC, cujas bandas se sentiram traídas. Os royalties devidos às
bandas foram caloteados, e a própria Rock-o-Rama levou prejuízo de
milhares de libras nos discos vendidos através do Club.

O resultado foi que a Rock-o-Rama simplesmente se recusou a fornecer


novas cotas de discos ou lançar material novo das bandas do White
Noise até que a dívida fosse paga. Pra variar, os últimos a serem
compensados seriam os caras que tinham remetido grana adiantada pra
encomendar discos e ficaram chupando o dedão. Por causa disso, várias
bandas romperam com o White Noise Club e caíram fora.

Quem liderou o rompimento foi a Skrewdriver, à qual se juntaram duas


bandas londrinas, a No Remorse e a Sudden Impact. A Brutal Attack, que
não tocava havia mais de um ano, acabou aderindo, o que gerou a
irônica situação de, em sua própria casa, as bandas sulistas entrarem
em greve, enquanto as do norte continuavam leais ao White Noise.

Claro que cada lado jogava a culpa no outro. O White Noise Club
acusava a Skrewdriver de dividir o movimento por causa de seus
próprios interesses, e afirmava que tais interesses se resumiam a uma
palavra: grana. Pra complicar as coisas, as bandas dissidentes eram
nazistas, e o NF já não queria se comprometer diretamente com elas nem
com o nazismo.

Divergências políticas podiam servir de pretexto para o racha, mas o


NF estava mesmo era mais que contente em ter aquelas bandas no WNC
enquanto elas davam lucro aos cofres do partido, fossem ou não bandas
nazistas.

Mas a embrulhada não ia parar por ali. As coisas ficaram mais confusas
porque os dois lados que haviam rachado dentro do NF continuaram
usando o nome do partido, mas a ala que controlava o White Noise Club
enveredou pelo que se chamou "revolução nacional". Surpreendentemente,
o jornal oficial do partido, o NATIONAL FRONT NEWS, apareceu com o
punho cerrado de um negro na capa, mais as palavras "Fight racism"
(combata o racismo). Até mesmo o coronel Gadaffi da Líbia virava um
herói involuntário e inesperado.

Não era de espantar, portanto, que a Skrewdriver e as outras bandas


que debandavam firmassem posição numa propalada "política de terceira
opção" ("third way politics"). Para justificar a equidistância,
ventilou-se a versão de que tarados e homossexuais tinham tomado conta
do Front, que agora era chamado pejorativamente de Nutty Fairy Party
(Partido das Bichas Loucas), uma gozação que interessava mais aos
esquerdistas e anti-racistas que a qualquer nazista sério. Para
competir com o WNC, as bandas dissidentes fundaram a Blood and Honour,
uma organização para promover a música branca, centralizada em torno
dum magazine que teria o mesmo nome.

"Eu me descreveria como um nacional-socialista britânico e não como um


germânico, de modos que não vejo motivos pra estar em desavença com os
patriotas britânicos." (Ian Stuart, líder da Skrewdriver)

A Blood & Honour não fazia segredo sobre sua linha nacional-
socialista. Ao contrário, já que o número dois do magazine descrevia o
ideal nazista como "incomensurável". A No Remorse era uma banda que se
coadunava bem com tal filosofia, de vez que fizera uma opção
intransigente pelo nazismo desde sua formação em novembro de 87, e
isso foi o que lhe permitiu uma rápida ascensão nos círculos do Rock
Against Communism, acompanhada da respectiva infâmia nos meios
opostos.

Mesmo adotando a ideologia nazista, a Blood & Honour se apresentava


como a voz independente do Rock Against Communism e abria suas portas
a todas as novas bandas, fossem nazistas, nacionalistas, patrióticas,
anticomunistas ou White Power. O rótulo não importava muito, desde que
a noção de raça & nação estivesse implícita. Além disso, a organização
se recusava a qualquer aliança com este ou aquele partido, preferindo
oferecer apoio a várias outras organizações, incluindo o ressuscitado
British Movement, além do British National Party, a Ku Klux Klan e um
grupo do NF denominado Flag (bandeira).

"Quando você é um skinhead, você é o primeiro cara a se servir de


cerveja e o último cara a deixar a festa." (Dwayne, skinhead negro de
Chicago)

Quanto ao White Noise Club, sobreviveu ainda por mais uns meses,
graças à lealdade das bandas e fanzines que se recusavam a acreditar
que aquela era uma panelinha corrupta e moribunda. O maior nome ainda
associado com o WNC era uma banda de Consett chamada Skullhead,
formada em 1984. Seu líder, o vocalista Kev Turner, participou do
racha e resolveu ficar do lado do WNC, embora não se envolvesse na
lavagem de roupa suja entre o NF e a Blood & Honour.

Depois de preso e solto, Turner seguiu tocando com a banda nas gigs do
White Noise Club. Mesmo durante o período de prisão em Arlington, ele
aproveitava os fins-de-semana livres pra tocar com a banda, pra
indignação das entidades antifascistas e da polícia local. Mas até a
fidelidade da Skullhead não resistiu quando o NF decidiu tirar o corpo
fora do White Noise Club e fundou uma outra organização chamada
Counter Culture (contracultura).

Essa nova organização se propunha a abranger todo o espectro dos


aficionados em música, o que significava que a Skullhead e outras
bandas do WNC (como a Violent Storm, de Cardiff) podiam entrar no
mesmo caldeirão junto com ópera, sinfonia, pop e outros indesejáveis
parceiros de cama. Mas o insulto final veio quando pediram às bandas
skins que deixassem de lado as familiaríssimas botas e adotassem um
visual mais "elegante".

Com tamanha caretice, era natural que a Counter Culture não decolasse.
A Skullhead caiu na real e fundou sua própria entidade, a Unity
Productions, que não se alinharia com nenhum partido político, e sim
com uma religião pagã nórdica, o odinismo. [9] A Unity nunca atingiria
a influência e o prestígio da Blood & Honour, mas contribuiu para
congregar a cena musical nacionalista com numerosas e concorridas
gigs.

Não demorou muito, e a Unity (como indica o próprio nome) se uniu à


Blood & Honour para promover gigs conjuntas, como a comemoração do dia
de São Jorge (padroeiro da Grã-Bretanha) em 1990 na cidade de
Newcastle. A gig contou com Skrewdriver, Brutal Attack, Skullhead,
Squadron, Battlezone, English Rose e Close Shave, tocando frente a uma
carecada de 400 cabeças. [10]

Mas pra tanto era preciso driblar o patrulhamento externo, já que as


organizações antifascistas não davam moleza. A Cable Street Beat, a
Anti-Fascist Action e o magazine SEARCHLIGHT faziam de tudo para
impedir que as bandas nacionalistas tocassem ao vivo, e Newcastle não
seria exceção. [11]

A Blood & Honour podia não ser uma firma especializada, mas não era
tão tacanha como os esquerdistas "espertinhos" imaginavam, e, no mais
das vezes, as gigs acabavam acontecendo. A tática era antecipar a
venda de ingressos em diversos locais públicos, usando falsos nomes
para as bandas e organizadores, enquanto o palco escolhido era mantido
em segredo até o último minuto, por meio de localizações frias
anunciadas só pra despistar. A informação quente ficava só no boca-a-
boca.

A atmosfera gerada por bandas como a Skrewdriver e a Brutal Attack nas


gigs da Blood & Honour funcionava como uma espécie de mini-comícios de
Nuremberg. Centenas de skinheads entoando "Sieg Heil! Sieg Heil!",
enquanto as feras do vocal em cada banda, respectivamente Ian Stuart e
Ken McLellan, faziam sua parte no papel de Hitlers do rock. No
entanto, apesar das opiniões em contrário, a maioria das gigs da B & H
transcorria sem a menor ameaça de treta.

Mas como não há regra sem exceção, houve uma gig no Rock Against
Communism que degenerou. Foi em Brest, na França, em maio de 1988. A
No Remorse era aguardada como nome de destaque num pacote que seria
completado por bandas francesas tipo Brutal Combat, Bunker 84, Légion
88 e Skin Korps. Mas a polícia entrou no meio e cancelou a gig uma
hora antes que as portas fossem abertas, deixando várias centenas de
skinheads, muitos dos quais tinham viajado desde a Alemanha e a
Inglaterra só pra assistir à gig, do lado de fora a ver navios.
Primeiro a revolta geral, em seguida a reação mais típica em se
tratando de skinheads: violência. As gangues saíram feito doidas pelas
ruas da cidade, detonando tudo que viam pela frente. Saldo geral:
gente esfaqueada, prisões à beça.

Tocar no exterior é uma experiência emocionante para as bandas


nacionalistas, pois proporciona a chance de estabelecer contato com
públicos diferentes, entusiastas e sempre mais numerosos.

As gigs do Rock Against Communism eram, por isso mesmo, freqüentes na


Alemanha, Itália, Suécia, Holanda e outros países europeus. Mas havia
um país onde todas as bandas eram loucas pra tocar e até então nenhuma
tinha conseguido: os States. A única que descolara uma chance foi a No
Remorse, que apareceu no Aryan Fest (festival ariano) promovido em
Oklahoma em 1990. A Skrewdriver e outras bandas mais manjadas vinham
sendo barradas (não se lhes concedia o visto de entrada) em várias
tentativas, por causa dos "maus antecedentes". [12]

Mas vale notar que, embora as autoridades americanas estivessem


alertas contra a visita de bandas européias, não é por isso que os
skins ianques deixavam de aprontar em seu próprio quintal.

Através dos anos 80, os ataques racistas dos skinheads freqüentavam o


noticiário, mas desde 1988 a mídia concentrou suas atenções e deu
máxima publicidade a quem quer que usasse a cabeça raspada ou uma
braçadeira com suástica. [13] Todos os grandes jornais dedicavam
espaço, até a ROLLING STONE veio com um artigo intitulado "Skinhead
nation", e os programas de debates na TV, ancorados por nomes
populares como Oprah Winfrey (espécie de Sílvia Poppovic negra) e
Geraldo Rivera (um chicano obviamente esquerdista) deram ampla
cobertura a casos rumorosos envolvendo skins. [14]

A despeito da língua comum, os States são um lugar muito diferente da


Grã-Bretanha. A maioria dos skinheads americanos são só garotos
brancos de classe média que têm grana pra posar de rebeldes (as botas
Doc Marten são três vezes mais caras por lá), e que se sentem atraídos
pelas organizações racistas tipo Aryan Nations (Nações Arianas), WAR
(White Aryan Resistance, Resistência Ariana Branca) e a famigerada Ku
Klux Klan, tudo por causa do sabor de aventura.

Outra grande diferença reside no nível de violência envolvendo


skinheads. Na Grã-Bretanha, facadas podem até ser comuns, mas uma
morte em briga de rua ainda é algo que faz a gente parar pra pensar.
Já do outro lado do Atlântico os murros e navalhadas são substituídos
com a maior naturalidade por revólveres, fuzis automáticos e bombas
incendiárias, e pra provocar algum espanto você tem que ser um "serial
killer" de duas cabeças e um braço só. A palavra "extremismo" ganha
ali uma nova dimensão, quando você tem notícia de que em Sacramento um
homem foi pregado numa tábua por skinheads, como um crucificado, só
porque quis sair fora duma gangue racista. E no caso duma garota
skinhead que tentou a mesma coisa em Chicago, o negócio ultrapassa
todos os limites, considerando-se que o sangue da menina foi usado
para pintar uma suástica na parede da sua própria casa. Decididamente,
a vocação dos americanos para a carnificina covarde não combina muito
com a tradição de valentia e de honra dos skins britânicos.

Mais uma vez, como não podia deixar de ser, as atenções da mídia, com
sua habitual incursão pelo terreno nebuloso das meias-verdades e das
chamadas apelativas, têm imputado ao movimento skinhead tudo quanto é
excentricidade e perversão, como se os skins fossem todos psicopatas
perigosos. Às vezes é puro sensacionalismo, às vezes mera ignorância,
mas dá tudo na mesma. Como no caso do SAN FRANCISCO CHRONICLE, que
escreveu que os skinheads racistas "se espelham nos teddy boys, que
surgiram na Inglaterra no fim dos anos 60", e chegou ao ponto de dizer
que a única diferença entre os skins americanos e os britânicos era um
toque californiano, qual seja, as camisas Fred Perry! [15]

Estima-se que haja entre três e cinco mil skinheads racistas nos
Estados Unidos, e o maior beneficiário de seu apoio tem sido o Aryan
Youth Movement (Movimento da Juventude Ariana), braço caçula da White
Aryan Resistance. A entidade era virtualmente desconhecida nos
círculos skinheads, até que a Skrewdriver deu-lhe crédito na
contracapa dum álbum, e dali por diante a WAR aproveitou a deixa e se
tornou o grupo que mais tem atuado no sentido de aliciar adeptos entre
os skins.

Seu líder, Tom Metzger (pai de John Metzger, encarregado da ala jovem,
o AYM) viu nos skins seus "guerreiros da linha-de-frente" na batalha
pela supremacia branca, mas poucos levaram sua mensagem de "limpeza
das ruas" tão a sério a ponto de formar pelotões de lixeiros. Dois
assassinatos racistas, cometidos por skinheads da WAR em San José e
Remo, foram seguidos por outro crime, o espancamento até a morte de um
estudante etíope por três skins do East Side Pride (Orgulho do Lado
Leste) em Portland. Longas sentenças de prisão foram proferidas, mas a
corte foi muito além da punição dos que empunhavam os bastões de
beisebol.

Ficou patente que a WAR estava implicada no homicídio de Portland,


pois havia encorajado e apoiado a violência racial na região. A
família da vítima obteve indenização de mais de 12 milhões de dólares,
levando Metzger à bancarrota e pondo a WAR fora de circulação. [16]

Assim como as gangues de skinheads racistas nos States, também há


cerca de dez mil skins que são mais a fim de hardcore que qualquer
outra coisa, e uns dois mil skins anti-racistas, muitos dos quais
oriundos das minorias étnicas.

Enquanto os skinheads racistas adotam e adaptam o uniforme do


movimento de forma que se assemelhe a um fardamento paramilitar, os
"hardcore skins" só têm as botas e a careca em comum com seus "primos"
britânicos mais tradicionalistas. Afinal, fora dos meios hardcores
praticamente não há um skin que se preze usando jaqueta de couro ou
muito menos considerando uma prancha de skate como algo mais que um
brinquedo.

Bandas como Agnostic Front e Warzone têm atraído os skins do hardcore


às gigs desde o final dos anos 70, e Harley Flanagan, que já foi
skinhead e vocalista dos Cro-Mags, chegou a iniciar uma aproximação
com os Hare Krishna e sua fé nos meios skins de Nova York. Coisa de
americano, mesmo.

Os skinheads anti-racistas são os que mais fielmente tendem a seguir o


estilo e a tradição dos skins britânicos. O apuro no vestir é quase
sempre obrigatório, enquanto o reggae, o ska e o soul preenchem os
gostos musicais dessa ala da carecada, juntamente com o som Oi! e
punk, numa certa medida. Muitos "hardcories" e punks carecas também se
achavam envolvidos nas atividades anti-racistas, embora um provável
igual número destes esteja com os "white-powers".

"Nenhum dos verdadeiros skins pode ser racista. Sem a cultura


jamaicana, os skinheads não existiriam. Foi a cultura deles, misturada
com a cultura da classe operária britânica, que fez do skinhead o que
ele é." (Roddy Moreno, fundador do SHARP na Grã-Bretanha)

O efeito do folclore criado pela mídia em cima da cena white-power foi


que todos os skinheads passaram a ser vistos como racistas pelo
público em geral. A verdade é que não eram os skinheads que se
inclinavam para o nazismo, mas os nazistas sim, se inclinavam pro
movimento skin, tornando as duas palavras facilmente intercambiáveis
aos olhos de muita gente. A conseqüente reação anti-skinhead
fatalmente atingiria o movimento como um todo, e não apenas a brigada
white-power, o que forçou os que se opunham ao racismo a botar a boca
no trombone.

Durante o ano de 1986, um grupo de Minneapolis chamado Baldies Against


Racism (Carecas Contra o Racismo) deu origem a uma organização que
levou o nome de Anti-Racist Action (Ação Anti-Racista), a qual, por
sua vez, se ramificou e inspirou a criação de entidades similares por
todo o território americano, com adesão de gangues skins de todas as
cores (no sentido próprio e figurado).

Em Nova York, um skinhead chamado Marcus de tal resolveu pôr em


prática a idéia duma certa Skinheads Against Racial Prejudice (Skins
Contra o Preconceito Racial), que pegou e deu cria, gerando filiais em
vários estados.

O SHARP (sigla da organização) tinha seu maior trunfo no fato de não


ser um movimento político. Seu único objetivo era dar conhecimento ao
mundo de que os skinheads não eram todos racistas. É verdade que o
orgulho de ser americano, ostentado por muitos skinheads do SHARP,
principalmente os que serviam nas forças armadas, veio a causar certos
problemas no convívio com as entidades anti-racistas de esquerda, para
as quais o anti-racismo é apenas uma dentre várias causas a defender.

Por usar o slogan "Pride without prejudice" (orgulho sem preconceito)


e as estrelas & listras em seu logo, os skins do SHARP não escaparam à
acusação de reverenciar uma bandeira racista, que implicava no apoio
ao genocídio dos nativos peles-vermelhas. São os ossos do ofício. De
concreto mesmo existe a feliz constatação de que um dos principais
membros da filial SHARP em Santa Cruz é um skin apache, o que só não
convence os que não querem ver.

Outros se decepcionavam ao ver que os skinheads anti-racistas não


denunciavam a violência. Na verdade, muitos se gabavam de tretar com
os skins nazistas e outras gangues, e alguns se metiam a atacar gays e
hippies, numa de considerar isso como parte da tradição skinhead. Não
que isso incomodasse os quadros do SHARP. Eles não faziam questão de
passar à História como bons rapazes, e sim como skinheads sem o
estigma do racismo em suas costas.

"Parece que tá na crista da onda ser politizado outra vez. Usar uma
suástica e sair dando Heils nada tem a ver com ser inglês no meu
dicionário. Uma coisa que me enche o saco pra valer é que, se eu digo
isso, a turma do NF logo cai em cima na base do Ah, lá vem mais um
esquerdista vermelhinho, e merdas do tipo." (Colin Hoskin, no skinzine
CROPTOP, 1986)

A idéia do SHARP foi exportada para a Europa e pro resto do mundo por
Roddy Moreno, que tinha sido líder e vocalista duma banda Oi! de Welsh
chamada The Oppressed. Numa visita aos States para observar e contatar
bandas americanas para sua etiqueta independente Oi! Records, um
panfleto do SHARP lhe caiu nas mãos e ele resolveu levar a idéia pra
casa. Embora a direita o pintasse como comunista, a verdade é que
Roddy não tinha tempo pra política dos outros (o slogan de sua
gravadora era "Neither red or racist", nem vermelho nem racista) e
queria simplesmente combater o foco da mídia sobre a Blood & Honour,
que enviesava a falsa noção de que cada skin era um terrorista
neonazi.

Logo se fundaram sucursais do SHARP na Grã-Bretanha, e, mesmo sem se


filiar, largo número de skins passou a apoiar aquele objetivo por
conta própria, embora a organização nunca atingisse na Europa o nível
de adesão obtido na América. Um dos empecilhos era a suposição de que
se tratava dum organismo político, o que broxava automaticamente o
tesão dos skins já calejados com o racha do movimento desde que os
"progressistas" do tempo da Sham começaram a se meter com política.

Outro obstáculo foi que, a despeito do nome, qualquer um que


concordasse com o ideal do SHARP podia entrar pra organização. Aquilo
acabava virando um covil de hippies, punks, "normaizinhos" e bicões
pleiteando a condição de membros do SHARP, numa espécie de
mal-entendido oficializado. Ora, se esses tipos todos se opunham ao
racismo, tudo bem, mas havia uma caralhada de outras organizações onde
eles poderiam ingressar sem transformar alguns departamentos do SHARP
numa fauna. Teve uma "filial" onde, de meia dúzia de membros, só dois
eram skins.

Mesmo assim, o ideal do SHARP, principalmente na versão americana,


estava muito mais próximo das tradições dos skinheads originais que o
da Blood & Honour. É muito difícil advogar o White Power quando o
grande amor da sua vida é o reggae skinhead, interpretado por artistas
negros.
Além do mais, os skins da geração de 69 não iam gostar nem um
pouquinho se vissem os motoqueiros e Hell's Angels que freqüentavam as
páginas do magazine da Blood & Honour e bradavam saudações nazistas
nas gigs, convivendo paradoxalmente com o orgulho patriótico de ter a
Inglaterra vencido a guerra e cortado as asinhas de Hitler. [17]

Por causa da Blood & Honour, o movimento skinhead tem se afastado cada
vez mais de suas raízes. A tal ponto, que a palavra "bonehead"
(cabeça-dura) virou termo correlato ao de skinhead para descrever o
típico tiete da Skrewdriver, trajado com jaqueta preta de piloto,
botas pesadas e nenhum cabelo. Quase como se se tratasse dum movimento
à parte.

O abismo que separava os primitivos skinheads daqueles que ora seguiam


a cartilha da Blood & Honour era claramente visível sob todos os
ângulos, vestuário, música e cores políticas, e, se a vida fosse assim
tão simples, hoje em dia outros skinheads poderiam estar usando algum
novo rótulo na testa, tipo Skins Satanistas de Exu ou Escola de Samba
Unidos da Máquina Zero.

Como não podia deixar de ser, você vê skinheads usando camisas de


manga comprida, jeans com suspensório e sapatões, curtindo reggae nas
noites de revival, assim como pode ver uns filhadaputas carecas
calçando botas de cano alto e vestindo jaqueta preta de piloto, mas
que odeiam a Blood & Honour. A vida é feita de diferenças que, se não
existissem, as tribos & movimentos radicais não teriam razão de ser.
Até Ian Stuart admite que possui algum velho material da Trojan no
meio de sua coleção de discos, e não é raro ler alguma notícia sobre a
Skrewdriver ao lado de outra sobre Desmond Dekker nos skinzines,
principalmente skinzines estrangeiros. [18] E não é preciso andar mil
milhas pra achar um skin do SHARP que, mesmo sem ter preconceitos ou
antipatias, acalenta a idéia de pôr um paradeiro na imigração
desenfreada em seu país.

Com talvez 5 mil simpatizantes entre skinheads de mais de vinte


países, não resta dúvida de que a Blood & Honour representa uma
respeitável fatia no bolo skin. Mas daí a crer que todos os skinheads
sejam nazistas vai um mundo de distância, seja ele o Primeiro ou o
Terceiro.

É muito fácil apontar um grupo visível que nem os skinheads como


racista, já que eles são alvos preferidos quando se trata de arrumar
um bode expiatório. Mais difícil ainda é identificar o racismo na
maioria silenciosa, anônima e camuflada. Afinal de contas, o movimento
skinhead é talvez o mais temido e odiado dentre todos os que ousam
contestar e transgredir valores numa sociedade hipócrita e coberta de
telhados de vidro. E na hora de acusar, todos os sabichões se ouriçam,
erguem os punhos, cobram "providências" das autoridades, fingindo
esquecer que a própria sociedade é a matriz dos problemas, não as
gangues de moleques de botas e jeans, meros subprodutos dos problemas.

A política nunca beneficiou em nada o movimento skinhead, e duvido que


vá beneficiar algum dia. Isso vale pra esquerda e pra direita. Mas a
praga é epidêmica e cíclica, nunca erradicável.

O fato é que as ingerências da política só têm abastardado e


desvirtuado o movimento, ainda que alguns skins sejam idealistas
sinceros quando abraçam uma ideologia qualquer. A mídia é grandemente
responsável por isso, na medida em que retrata os skins como animais
irracionais, extremistas fanáticos, o que reforça a falácia de que,
pra ser skin, você tem que ser fascista ou então um antifascista
irredutível, sem meio termo, sem nuances, sem contradições, sem as
sutilezas dum grupo social formado basicamente por adolescentes.

Numa democracia, cada um deve usufruir do direito de ter seus pontos


de vista pessoais, sem sentir necessidade de empurrá-los goela abaixo
de outro pobre coitado. Talvez chegue o dia em que os skinheads possam
novamente deixar a política de lado enquanto vão às gigs e pistas de
dança, e talvez os políticos ordinários, que jogam lenha na fogueira e
deixam que os outros se queimem, achem novos otários que topem lutar
por eles. Que era mesmo que nosso velho amigo Jimmy costumava dizer
sobre os moleques ficarem unidos?

///

[notas/boxes ao capítulo 6]

[1] O slogan antinegro não era o principal cartão de visita do NF,


embora fosse o mais folclórico. A divisa mais abrangente e ambiciosa
era "NF: Voice of Britain" (NF, a voz da Grã-Bretanha), que, se não
foi endossada pela maioria do eleitorado, imortalizou-se na cena skin
graças à canção de Ian Stuart para a Skrewdriver, que deu origem ao
mini-LP homônimo. A letra vem reproduzida (em tradução de Júlio
Fischer) no livro de Bill Buford ENTRE OS VÂNDALOS (Cia. das Letras,
1992), porém com muitas falhas e faltando a primeira estrofe (culpa do
autor americano, claro). Reproduzo aqui a letra correta e completa:

VOICE OF BRITAIN (Ian Stuart)

Walking round the streets, hand in hand with fear


Caminhando pelas ruas, mãos dadas com o medo
Nobody knows, what is round the bend
Ninguém sabe o que nos aguarda
Don't side with the other side, cause if you do we'll find you
Não fique do outro lado, pois se ficar nós vamos te achar
We want to know exactly if you classify as friends
Queremos saber direitinho se você sabe escolher seus amigos

This is the voice, the voice of Britain


Esta é a voz, a voz da Grã-Bretanha
And you'd better believe it
É melhor você acreditar
This is the voice, the voice of Britain
Esta é a voz, a voz da Grã-Bretanha
C'mon and fly the flag
Venha desfraldar a bandeira

It's a time when our old people can not walk the streets alone
Hoje em dia nossos velhos não podem andar sozinhos pela rua
Fought for this country, is this all they get back
Eles lutaram por este país, e é isso que levam em troca
Risked their lives for Britain,
Arriscaram suas vidas pela Inglaterra,
And now Britain belongs to aliens
E agora a Inglaterra é dos estrangeiros
It's about time the British went, and took their Britain back
Já é tempo dos ingleses tomarem de volta sua Inglaterra

Now we'll have a go, at the TV and the papers


Agora temos que fazer frente à TV e aos jornais
And all the media zionists who'd like to keep us quiet
E a toda a mídia sionista que quer nos ver quietinhos
They're trying to bleed our country,
Eles só sabem sugar nosso país,
They're the leeches of the nation
São os sanguessugas da nação
But we won't give up quietly, we're going to stand and fight
Mas não vamos dar moleza, vamos fincar pé e lutar

[2] O BULLDOG era o jornal do YNF, que procurava estabelecer ligação


entre o NF e os skins. Era vendido normalmente nas gigs, escolas e
estádios. Seu editor, Joe Pearce, é também autor dum livro intitulado
SKREWDRIVER: THE FIRST TEN YEARS, publicado em 1987 e vendido pela
Blood & Honour. O livro, que não prima pela boa escrita e beira a
pretensão em certos aspectos, dá uma pálida idéia do universo da
banda, exceto pelo detalhado relato sobre cada faixa dos discos. (NT:
Segundo Bill Buford no livro ENTRE OS VÂNDALOS já citado, o jornal
tinha duas colunas regulares. "Uma era 'Rios de Sangue' -- título
tomado de empréstimo da fala de Enoch Powell prevendo rios de sangue
caso a imigração de negros para a Grã-Bretanha não fosse detida. 'Rios
de Sangue' listava os incidentes de injustiça racial ocorridos no mês
anterior" (...) "A outra coluna, intitulada 'Frente Esportiva',
ocupava a última página e era dedicada às atividades nas
arquibancadas." Para as demais faixas de público, o NF dirigia outro
jornal, o NATIONAL FRONT NEWS, mais sério e ideologicamente
aprofundado.)

[3] Olha aí o princípio de Goebbels funcionando: "Podem insultar-nos,


caluniar-nos, investir contra nós, surrar-nos, mas temos de fazê-los
falar de nós, esta a grande tarefa. O insulto é uma arma mais poderosa
na mão do insultado, pois pode ser revertido a seu favor, transformado
em injustiça, inveja e perseguição." Aliás, o próprio Hitler já havia
dito (MEIN KAMPF, parte I, cap. XII, item 13): "Quanto mais eles nos
difamarem, mais nos aproximaremos uns dos outros. Os que nos votam
ódio mais mortal são justamente os nossos melhores amigos." (NT)
[4] "White Power" (1982) é uma daquelas canções que importam menos
pela letra que pela mística, a exemplo de "Born to be wild" com o
Steppenwolf, que originou a expressão "heavy metal" no rock, ou "Oi!
Oi! Oi!" dos Rejects, que batizou o movimento Oi!. As bandas brancas
racistas em toda parte passaram a ser designadas como "white-powers"
por causa dessa música, que acabou relançada pela Rock-o-Rama,
incluída no mini-LP "VOICE OF BRITAIN" (1987). (NT)

[5] "Redskin" é um achado trocadilhesco, jogando com o sentido


"tribal" de pele-vermelha e com a imagem de skin comunista pretendida
pelo partido, funcionando foneticamente como antítese de "skinhead".
(NT)

[6] Não apenas os Redskins, mas outras bandas que adotavam uma postura
abertamente antifascista tinham pouco a ver com o movimento skinhead,
mas havia algumas, como a londrina The Blaggers, a Red Alert e a Red
London, que constituíam honrosas exceções. Demais a mais, ao contrário
dos Redskins, estas não se prendiam a vínculos com nenhum partido
político, e assim tinham mais tempo pra olhar a realidade da vida em
vez de ficar repetindo slogans.

[7] As bandas ditas nacionalistas conseguiram criar uma indústria


fonográfica e um mercado paralelo para si e seu público, movimentando
cerca de um milhão de libras por ano. As duas maiores gravadoras
independentes são a alemã Rock-o-Rama e a francesa Rebelles Européens.
Um single vende em média não mais que mil cópias, mas os discos das
bandas mais famosas acabam sendo reeditados várias vezes, chegando
inclusive a aparecer em CD. (NT: Hoje o catálogo da Rock-o-Rama já
está em CD, mas a gravadora continua prensando vinil, a exemplo das
similares independentes na Europa, já que as grandes desistiram do
velho LP.)

[8] A "metalização" não ficaria nisso. A Skrewdriver ainda gravaria


"Back in black" do AC/DC e, no LP de 91, "THE STRONG SURVIVE",
escancarou de vez, com duas covers, uma do Black Sabbath ("Paranoid")
e outra do Judas Priest ("United"). Quanto à Sudden Impact, até do gay
Elton John fez cover, talvez porque "Saturday night's alright for
fighting" evocasse as velhas tretas dos bons tempos... Aliás, as
contradições & incoerências não param por aí. A despeito da homofobia
nazista, o próprio Ian Stuart teve como ídolos dois superstars
homossexuais que o influenciaram no vocal e na inspiração de
compositor no início da carreira: Mick Jagger e Pete Townshend (sem
falar no grupo New York Dolls!). Dos Stones a Skrewdriver fez cover de
"19th nervous breakdown", e, do Who, de "Won't get fooled again".
Quanto aos negros, Stuart parodiou "Johnny B. Goode" de Chuck Berry em
"Johnny joined the Klan". Parece que o preconceito não era assim tão
tabu... (NT)

[9] A Skullhead não foi a única a render tributo à mitologia nórdica.


As demais bandas ditas white-powers também cultuam uma simbologia
ligada à ancestralidade branca, que vai da cruz céltica às runas,
passando pelas variações da suástica. A No Remorse tem, no LP "SEE YOU
IN VALHALLA", uma canção chamada "Son of Odin". (NT)

[10] A banda Battlezone, de Chelmsford, incluiu, em seu álbum de


estréia "NOWHERE TO HIDE", o clássico ska "Young, gifted and white"
(onde "white" substituía o "black" do original), com a introdução
paródica e tudo. Claro que a "sátira" atrairia fogo cerrado dos
adversários, coisa que não ocorreria se uma banda de reggae fizesse a
cover de "Young, gifted and black".
[11] Para seus opositores, o NF não significa National Front e sim "No
Future" (sem futuro). Não é de admirar que as bandas de extrema-
direita e seu público chamem a atenção dos grupos e publicações
antifascistas.
Conquistar os corações e mentes da juventude parece ser prioridade na
agenda de ambos os lados, e você não corre risco de perder se apostar
que em qualquer publicação política, seja de que linha for, tem sempre
algo que diga respeito aos skinheads.

O magazine antifascista SEARCHLIGHT dedica muitas de suas páginas a


rastrear os passos das bandas white-power e dos skinheads por todo o
mundo. Ele também se empenha para que as gigs e eventos dessas bandas
sejam impedidos de acontecer em qualquer parte. Mesmo que os leitores
não concordem ou não acreditem, a maior parte dos dados que se
publicam é cuidadosamente checada, e os caras procuram furar a
segurança dos grupos direitistas a fim de espionar e entregar. Como
muitos outros, o SEARCHLIGHT tende a descambar para a baixaria dos
tablóides ao cobrir as atividades dos skinheads. Parece-lhe que
qualquer um que use cabeça raspada é nazista, até prova em contrário.
Não é bem o que se chama de justiça, mas é a vida. Melhor coisa tem
sido feita por grupos anti-racistas tipo Red Action, Anti-Fascist
Action e Cable Street Beat, já que todos contam com simpatizantes
skinheads em suas fileiras. Em vez de ficar incorrendo nos mesmos
erros do Rock Against Racism, que faz pouco caso da classe operária
branca e paparica as agremiações estudantis burguesas, aqueles grupos
se dispõem a ir até a periferia e dialogar com os moradores para
apresentar suas propostas.

Os negros são os que mais sentem o problema na pele, mas os brancos


também têm seus problemas, e os grupos antifascistas começam a
perceber que, se querem ganhar alguma batalha, têm que contar com o
apoio e a colaboração dos moleques da classe operária branca que, caso
continuem sendo esnobados e desdenhados, acabarão se bandeando para o
outro lado, vale dizer, o racista.

[12] Tal como Joe Pearce, Kev Turner, e outros ativistas & artistas
comprometidos com a extrema-direita, Ian Stuart não podia passar sem
um contato com a cadeia: em dezembro de 85 foi condenado a um ano de
reclusão por tretas com negros. (Segundo Pearce no livro SKREWDRIVER:
THE FIRST TEN YEARS, o rolo foi o seguinte: Stuart teria sido atacado
por uma gangue de negros na estação King's Cross do metrô só porque os
caras implicaram com seu "corte" de cabelo, e tudo que fizera foi se
defender. Só que o juiz interpretou que os negros é que seriam
"vítimas" e os inocentou, enquanto Stuart, mesmo sem ter antecedentes
na polícia, foi sentenciado.) A exemplo de Hitler, que escreveu MEIN
KAMPF na prisão, Stuart aproveitou para compor (e ruminar mais ódio).
Aliás, parece que ir em cana dá mais moral a quem quer ser herói, já
que acrescenta uma dose de martírio à lenda pessoal... (NT)

[13] Convém atentar para certas diferenças entre o inglês americano e


o autêntico britânico. Quem traduz com vícios americanistas pode
pensar que "braces" significa "braçadeiras". "Braces" é a palavra
inglesa para "suspensórios" (o americano diz "suspenders"), enquanto
"braçadeira" na Inglaterra é "armband", palavra que o autor emprega
neste momento. (NT)

[14] Num dos programas, Winfrey entrevistou um grupo de skins, entre


os quais John Metzger (filho do líder racista Tom Metzger), com
participação do auditório lotado de negros, judeus e homossexuais. Um
bate-boca em vez de bate-papo. Quanto a Rivera, um de seus programas
acabou em pancadaria entre facções de skins e adversários. (NT)
[15] Como se sabe, Fred Perry é uma grife inglesa, e os teddy boys (ou
teds) surgiram nos anos 50 e se chamavam assim porque Ted é
hipocorístico de Edward e os jovens daquela geração exprimiam sua
rebeldia usando roupas no estilo do período eduardiano (início do
século). (NT)

[16] O caso do estudante etíope remonta a 88. O ímpeto homicida dos


skins americanos, que se afigurava ao autor muito mais selvagem que a
violência dos skins ingleses, ficaria parecendo água-com-açúcar
comparado à onda de ataques fatais contra imigrantes na Alemanha
reunificada, já na década de 90. Tudo é relativo, como diria Machado
de Assis ao compor "Círculo vicioso". (NT)

[17] O núcleo das atuais bandas direitistas é o magazine BLOOD &


HONOUR, que tomou o nome (Sangue & Honra) da inscrição encontrada nas
adagas das SS hitleristas. Como "voz independente do Rock Against
Communism", praticamente todo o conteúdo do jornal é dedicado à cena
musical nacionalista. Há uma ou outra entrevista, mas quase todas as
páginas são ocupadas por fotos, cartas de leitores, classificados e
oferta de material (discos, camisetas, broches, adesivos, bandeiras,
vídeos) comercializado pelas bandas. Nada que chegue a entediar quem
lê, até porque o periódico só sai de quando em quando.

O grosso dos leitores (Eu disse grosso? Disse-o bem.) é formado por
skinheads, mas a tentativa é ampliar o público. O trabalho de Ian
Stuart com a Klansmen (banda que mistura as letras da Skrewdriver com
o som do grupo de rockabilly Demented Are Go) visa atrair os
rockabillies como recrutas em potencial, além de sinalizar
amistosamente em direção ao público WASP norte-americano, para o qual
Stuart fez pequena adaptação na letra de "White Power" (versão
rockabilly gravada pela Klansmen onde, em vez de "White Power for
Britain before it gets too late", ele canta "White Power for Europe
and the U.S.A.", sem falar na paródia de "Johnny B. Goode" do negro
Chuck Berry, que virou "Johnny joined the Klan", "Johnny entrou pra Ku
Klux Klan"). A filosofia geral parece ser a seguinte: se o cara se
orgulha de ser da raça branca, merece atenção e respeito. O que
surpreende é que isso inclua skinheads japoneses que provavelmente
seriam reprovados num teste de arianismo feito pelos antropólogos do
III Reich, mas que lembram o Eixo Berlim-Tóquio. Desde que se declarem
anticomunistas e fiquem em seu próprio país, até os latinos são vistos
como aliados sem maior problema.

Os skinheads originais provavelmente não saberiam como lidar com essa


mixórdia toda. Em vários números aparecem fotos de motoqueiros junto
com skinheads, tudo em nome da solidariedade branca.

Eles que fossem dizer isso lá na praia durante as batalhas de 1970


entre skins e Angels, pra ver o que lhes sobraria em termos de
coturnada! E tentar impingir o heavy metal como música skin também
seria motivo pra perder as estribeiras.

O magazine é disponível somente por via postal ou mediante


distribuição nas gigs, principalmente depois que os antifascistas
fizeram piquete diante dos pontos de venda nos arredores da Carnaby
Street em Londres.
É interessante notar que as lojas piquetadas não eram as mais
tradicionais e sim as alternativas, freqüentadas por skinheads. O
Sistema, penhorado, agradece.

Claro que o BLOOD & HONOUR não é ilegal, mas a esquerda só defende seu
direito à livre expressão quando concorda com o que você diz. Por sua
vez, a extrema-direita não tem base pra se queixar, já que o velho
Adolf nunca foi um paladino da liberdade de expressão. É uma roupa
suja a ser lavada no quintal dos dois vizinhos, mas o fato é que,
enquanto os piquetes boicotavam a venda nas lojas em pleno sábado, pra
indignação dos skins que iam comprar outras coisas, a poucos metros
dali um lojista asiático continuava faturando com suas quinquilharias
e souvenirs nazistas em prol do Quarto Reich. Sem nenhum cartaz
esquerdista pra "denunciar"...

[18] Repudiados pela grande imprensa, os skinheads de direita e suas


bandas contam com inúmeros fanzines simpatizantes para divulgar seu
trabalho. A maioria se concentra na música e não vão além de algumas
palavras-de-ordem antinegros, ao contrário do que se supõe. Aliás,
eles nem têm como ir muito além disso. Vários editores de skinzines
têm sido processados por incitamento ao ódio racial. Um skinhead de
nome Chad, que redigia o zine PRIDE OF THE NORTH (orgulho do norte),
foi em cana duas vezes por causa do conteúdo do que publicava.

///

DISCOGRAFIA DA COMBAT 84

SINGLES:

"Orders of the day" (EP, Victory)


"Rapist" (Victory)

ÁLBUNS:

"SEND IN THE MARINES" (Victory)


"DEATH OR GLORY" (Link)
"THE CHARGE OF THE 7TH CAVALRY" (Link)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"OI! CHARTBUSTERS" vols. 1, 2 e 3 (Link)


"OI! THE PICTURE DISC" vols. 1 e 2 (Link)

///

DISCOGRAFIA DA SKREWDRIVER

SINGLES:

"You're so dumb" (Chiswick, 1977)


"Anti-social" (Chiswick, 1977)
"Built up knocked down" (TJM, 1979)
"Back with a bang" (Boots'n'Braces, 1982)
"White Power!" (White Noise, 1982)
"Voice of Britain" (White Noise, 1983)
"When the boat comes in" (White Noise, 1984)
"Invasion" (Rock-o-Rama, 1984)
"The showdown" (Rock-o-Rama, 1985)
"Alabama" (Rock-o-Rama, 1988)
"Land of ice" (Rock-o-Rama, 1988)
"You're so dumb" (Rock-o-Rama, relançamento, 1988)
"Their kingdom will fall" (Rock-o-Rama, 1989)
"The evil crept in" (Rock-o-Rama, 1989)
"Streetfight 1977" (Rock-o-Rama, 1989)
ÁLBUNS:

"ALL SKREWED UP" (Chiswick, 1977)


"HAIL THE NEW DAWN" (Rock-o-Rama, 1984)
"BLOOD AND HONOUR" (Rock-o-Rama, 1985)
"WHITE RIDER" (Rock-o-Rama, 1987)
"VOICE OF BRITAIN" (Rock-o-Rama, 1987)
"BOOTS AND BRACES" (Rock-o-Rama, 1987)
"AFTER THE FIRE" (Rock-o-Rama, 1988)
"WE'VE GOT THE POWER" (Rock-o-Rama, ao vivo)
"WARLORD" (Rock-o-Rama, 1989)
"THE EARLY YEARS" vol. 1 (Ian Records, 1990)
"THE EARLY YEARS" vol. 2 (Ian Records, 1990)
"THE STRONG SURVIVE" (Rock-o-Rama, 1991)
"LIVE AND KICKING" (Rock-o-Rama, 1991, duplo, ao vivo)
"FREEDOM WHAT FREEDOM" (Rock-o-Rama, 1992)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"UNITED SKINS" (Last Resort Sounds, 1982)


"CATCH A WAVE"
"NO SURRENDER" vols. 1, 2 e 3 (Rock-o-Rama)
"GODS OF WAR" vols. 1, 2 e 3 (Rock-o-Rama)

DISCOS SOLO DE IAN STUART

SINGLES:

"No turning back" (Rock-o-Rama, 1990)


"It's a hard road" (Rock-o-Rama)
"Radar love" (Rock-o-Rama)

ÁLBUNS:

"NO TURNING BACK" (Rock-o-Rama, 1990)


"SLAY THE BEAST" (Rock-o-Rama, 1991)
"PATRIOT" (Rock-o-Rama, 1992)
"PATRIOTIC BALLADS" (Rock-o-Rama, 1992)

Ian Stuart parece escrever um punhado de canções por dia, e, as mais


das
vezes, elas acabam registradas em vinil. A maioria dos lançamentos em
single da Rock-o-Rama é composta de faixas tiradas de LPs, o que vale
também pras outras bandas do selo alemão. (NT: Esta observação é
exata,
mas cabe ressalvar, por outro lado, que as faixas da Skrewdriver
incluídas nas coletâneas das séries "NO SURRENDER" e "GODS OF WAR" não
fazem parte dos LPs da banda, constituindo um repertório à parte.)

///

DISCOGRAFIA DOS REDSKINS

SINGLES:

"Peasant army" (CNT)


"Lean on me" (CNT) 7" e 12"
"Keep on keeping on" (Decca) 7" e 12"
"Bring it down" (Decca) 7" e 12"
"Kick over the statues" (Abstract)
"The power is yours" (Decca) 7" e 10"
"It can be done" (Decca) 7" e 10"

ÁLBUNS:

"NEITHER WASHINGTON NOR MOSCOW" (Decca, 1986)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"THEY SHALL NOT PASS"


"EPs FOR HIT"
"JAMMING AND WAKE UP"
"NME COMPILATION"
"JOHN PEEL SESSIONS"

///

DISCOGRAFIA DA BRUTAL ATTACK

SINGLES:

"Return of St. George" (EP, White Noise)

ÁLBUNS:

"STRONGER THAN BEFORE" (Rock-o-Rama, 1986)


"AS THE DRUM BEATS" (Rock-o-Rama, 1987)
"TALES OF GLORY" (Rock-o-Rama)
"STEEL ROLLING ON" (Rock-o-Rama)
"LOST AND FOUND" (Rock-o-Rama)
"INTO APOCALYPSE" (Rock-o-Rama)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"NO SURRENDER" vols. 1 a 3 (Rock-o-Rama)


"GODS OF WAR" vols. 1 a 4 (Rock-o-Rama)

///

DISCOGRAFIA DA NO REMORSE

SINGLES:

"Time will tell" (Rebelles Européens)


"Smash the reds" (Rebelles Européens)
"See you in Valhalla" (Rock-o-Rama)
"Sons of Odin" (Rock-o-Rama)
"The new stormtroopers" (Rock-o-Rama)
"We rise again" (Rock-o-Rama)

ÁLBUNS:

"THIS TIME THE WORLD" (Rebelles Européens)


"SEE YOU IN VALHALLA" (Rock-o-Rama, 1989)
"THE NEW STORMTROOPERS" (Rock-o-Rama)
"BLOOD AGAINST GOLD" (Rock-o-Rama)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"GODS OF WAR" vols. 1 a 4 (Rock-o-Rama)


"DEBOUT" vol. 2 (Rebelles Européens)
"100 YEARS ANNIVERSARY"
///

DISCOGRAFIA DA SKULLHEAD

SINGLES:

"Blame the bosses" (Third Way, com a Violent Storm)


"Look ahead" (White Noise)
"We want the airwaves" (12")

ÁLBUNS:

"WHITE WARRIOR" (United Records)


"ODIN'S LAW" (United Records)
"CRY OF PAIN" (United Records)

PARTICIPAÇÃO EM COLETÂNEAS:

"NO SURRENDER" vol. 4 (Rock-o-Rama)


"GODS OF WAR" vol. 4 (Rock-o-Rama)

///
Capítulo Sete
RESSURREIÇÃO DO SKINHEAD

[A menos que você estivesse "rockando pela raça e pela pátria" [1]
junto com o White Noise Club, era o caso de meter a viola no saco pra
quem se achasse no fronte skin em meados dos anos 80. Cada um dos
grandes nomes do Oi! já tinha dado tchau pra sua torcida, e a 2-Tone
não passava duma pálida lembrança. Se não fosse pelos rachas de
lambreta, as coisas seriam um total marasmo para os skins não-
racistas.]

O verdadeiro espírito do mod nunca tinha morrido de todo no norte da


Inglaterra, graças aos noctívagos amantes do soul e aos clubes de
lambretistas. O imortal Wigan Casino mantivera suas portas abertas
para os nortistas entusiastas do soul até 1981, e a última estimativa
era a invejável conta de 80 mil membros fanáticos.

Qualquer um que tivesse estado no Casino pode testemunhar que não


tinha nada de sofisticado ali. O lugar bem que sentia falta duma
pintura nova, e os banheiros viviam inundados de mijo, mas a única
coisa que importava era ficar na pista e ter os pés onde estava o
soul. Nos Estados Unidos, os caras não passam sem discos de soul, e,
quando passam adiante, eles viram relíquia nos sebos britânicos (dizem
que atravessam o Atlântico como lastro de navio).

Apesar de tal quantidade, a raridade dos discos sempre é preservada,


já que os mais procurados nunca satisfazem a demanda dos
colecionadores. Os discos trocam de mãos na base dumas mil libras cada
single.

A cena soul britânica que ia do centro ao norte do país estava


ambientada nos clubes de lambretistas. Praticamente toda cidade em
Lancashire e Yorkshire ostentava um clube daqueles, cada um com cerca
de duzentos membros. Durante os anos 70, os clubes excursionavam
semanalmente até a praia, e no final da década os rachas eram
concorridíssimos por causa do revival mod.

Os números voltaram a encolher quando os mods de butique ("plastic


mods") descobriram nova mania pra cultuar, mas a confraria dos
lambretistas ficou até mais forte do que jamais tinha sido.

Uma porrada de lambretistas deixou de lado o visual mod, mas não


queriam saber de trocar sua Lammy por uma Skoda de segunda mão, de
forma que as corridas ficaram reservadas aos genuínos entusiastas em
vez dos meros oportunistas da moda.

"Eu fiz minha mãe chorar quando cortei todo o cabelo." (Cathy Price,
skingirl de Worcester)

Logo os números tornaram a crescer, e os clubes se espalharam por toda


a Grã-Bretanha. Aquilo que num ano tinha sido uma disputa doméstica
entre colegas, no outro já era uma competição festiva e acirrada
envolvendo milhares de garotos, mas garotos mesmo. Não bastasse isso,
os rachas viraram uma espécie de confraternização pluralista das
tribos, em vez duma celebração da tradição do mod.

Daí que os acampamentos se tornaram lar temporário de skinheads,


psychobillies, mods, fissurados diversos e, claro, velhos e fiéis
lambretistas. Rolavam até boatos de que alguns "turistas" vinham pra
estrada montados nas duas rodinhas só pra curtir a onda no mais puro
estilo italiano.

Os skins lambreteiros são figura comum na cena setentrional desde o


começo dos anos 70, ainda que pouco numerosos. Por volta de 1984,
todos os grandes clubes, tipo Mansfield Monsters, The Soldiers of
Fortune, The Mercenaries, Stafford Boro Upsetters, etc. tinham sócios
de cabelo raspado. Tinha também os clubes exclusivos para skinheads, a
exemplo do Cardiff Cougars, dos Birmingham Bulldogs e do Union Jack
Club, de Cumbria.

Quase totalmente ignorada pela grande imprensa, a cena lambreteira


logo virou ponto-chave na cultura de rua. Os maiores rachas, durante
os feriados bancários, chegavam a atrair mais de 15 mil pessoas. A
diversão era garantida, já que você podia dançar e beber à vontade nos
terrenos baldios e áreas descampadas (geralmente aquelas devastadas
por bombardeios durante a Segunda Guerra) que as administrações
municipais juravam serem ideais para camping.

Quanto maior o racha, mais organizado se tornava, por causa dos


entretenimentos paralelos (dança e música ao vivo) que se promoviam.
Em compensação, vinha cada vez mais gente de fora, inclusive os
eternos bicões que não tinham o menor interesse por lambreta e só
estavam a fim de pegar uma caroninha na garupa dum colega pra
"participar" do racha.
Alguns caras nem se incomodavam com isso, tanto fazia ir de carro,
furgão ou trem. Os rachas eram vistos por muita gente como o melhor
programa para um feriadão bancário, e foi justamente quando o público
ficou misturado ao máximo que pintaram os problemas.

Entre 1984 e 85, os furtos passaram a ser motivo de preocupação. Peças


e componentes feitos sob encomenda, cromados, acessórios, eram
surrupiados por todo canto, junto com caros escapamentos, latarias
laterais, rodas sobressalentes, enfim, só não levavam o que não dava
pra carregar. Se alguém tinha esquecido a chave inglesa, era só passar
a mão na do vizinho. Se alguém ficou sem a caixa de ferramentas,
desforra assaltando o furgão mais próximo. E por aí vai.

E como se isso não bastasse, a treta não estava descartada. E falando


em treta, que seria dela sem uma bela penca de skinheads no meio? As
sementes tinham sido plantadas em Keswick, já em 84, quando se
noticiou acerca dumas bombas feitas de gasolina que explodiram contra
a delegacia local, mas ainda teríamos que esperar até 1986 pra ver
fogo de verdade.

O primeiro racha do ano foi um rally de grandes proporções em Great


Yarmouth, na Páscoa, um evento já tradicional. Tudo ia bem para os
6.500 lambretistas presentes, até a noite de sábado. Um nightclub
local, chamado Tiffany's, estava recebendo a presença de Desmond
Dekker e, claro, tinha gente saindo pelo ladrão. Todo mundo se
divertindo ao máximo, até que Desmond começou a cantar seu mais
popular sucesso, "Israelites". Foi então que, numa espécie de jogada
ensaiada, trinta skinheads do NF desafiaram a quase inexistente
segurança do local e atacaram o palco, detonando a confusão. Como eram
muito valentes (pra não dizer o contrário), os skins foram logo pra
cima do indefeso astro do reggae, deram-lhe um cacete e caíram fora do
clube, dando-se ao luxo de provocar os lambretistas enquanto fugiam.

Aquilo tudo aconteceu tão rápido que deixou a maioria sem entender
nada. Mas não chegou a haver pânico. O pequeno Desmond foi socorrido e
a noite terminou sem maiores incidentes. O chato é que alguns
elementos da segurança eram, eles próprios, skins do NF, de forma que
muita gente suspeitou que eles teriam facilitado a invasão do palco em
vez de barrar os invasores. Os demais membros da segurança, que não
eram skins, ficaram numa situação ainda mais constrangedora, e deram
graças a Deus por ter sido mantida a ordem.

Alguns atribuíram o ataque a forasteiros, skinheads que tinham vindo


especialmente em busca de treta e nada tinham a ver com lambretismo. O
magazine SCOOTERING veio com muito mais acusação, mas nem era pra
tanto. Grande parte dos skinheads era tão fissurada em lambreta como
outros aficionados, e, gostassem ou não, aquilo valia também para
alguns skinheads do NF e pra outras tribos.

É duro de admitir, mas Great Yarmouth não passou dum piquenique de


escoteiros comparado ao que rolou de treta na ilha de Wight no feriado
bancário de agosto. Aquele sempre tinha sido um dos mais populares e
concorridos rallies, mas 1986 reservava algo diferente. Vários
contratempos, tipo proibição de furgões, o tristemente célebre clima
britânico, informações contraditórias sobre a existência de local
apropriado para acampar, tudo junto não contribuiu muito para o êxito
do evento. No fim o local de acampamento foi providenciado, mas a sete
libras por pessoa, o que estava bem acima do previsto pelo bolso da
maioria, assim como os preços proibitivos da cerveja.

Sábado à noite, tudo parecia encaminhado bem. O astro favorito dos


lambretistas, Edwin Starr, entretinha o povo todo com clássicos da
Motown e uma interpretação de seu próprio repertório, "War". Mas
quando foi no domingo, a coisa mudou de figura. As atrações da noite
eram as bandas Business, Vicious Rumours e Condemned 84. Todas mais
que conhecidas na cena Oi!, mas nenhuma delas desfrutando do gosto
unânime dos lambretistas presentes. A gig ainda rolou sem nenhuma
treta, e pelo menos desta vez o Oi! não pôde ser responsabilizado pelo
revertério que estava a pique de pintar.

"A recordação do skinhead que eu vou levar pro túmulo é de quando


tinha mais de dois skinheads na minha cidade na mesma noite! É essa
lembrança, e foi quando tive minhas primeiras lesões corporais."
(Arfur, skin de Workingham)

Nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, uns gatos pingados,


sedentos de mais algumas gotas de cerveja, baixaram na barraca das
bebidas. O dono já tinha se recusado a atender quem quer que fosse
àquela hora, de maneira que os caras partiram pro estilo Robin Hood,
no que foram imitados por outros lambretistas, na maior
"solidariedade".
Ninguém estava muito incomodado com o saque, até que alguém resolveu
atear fogo à barraca. Antes que você pudesse dizer "três tristes
tigres" rapidinho e sem errar, o incêndio estava alastrado, botijões
de gás explodindo e gente desesperada chamando os bombeiros.

Se tudo terminasse aí, o único a se lamentar seria o dono da barraca,


que, aliás, já estava de bolso mais que cheio. No entanto, uma vez
detonada a barraca, alguns lambretistas se voltaram para as bancas e
quiosques de comida e outras mercadorias, que pertenciam quase tudo a
outros lambretistas e não a comerciantes gananciosos. Quem tentava
proteger seu estoque era atacado ou afugentado, e até a brigada de
incêndio foi recebida por uma saraivada de projéteis improvisados.
Como se não bastasse, ainda tinha os grupos de "vigilantes" que se
encarregavam de distribuir porrada em quem quisesse bancar o
espertinho a ponto de escapar ileso.

Toda a treta ficou circunscrita ao acampamento, e apesar dos tablóides


inventarem "batalhas de mods versus Hell's Angels" a coisa não chegou
a afetar o público em geral. Talvez por isso os rallies de lambreta
puderam continuar acontecendo, mas teve encrenca em Porthcawl e
Margate, bem como em Yarmouth, ainda naquela temporada, e o rally
final em Stoke teve que ser cancelado. No ano seguinte, ficou decidido
que os locais de acampamento seriam acessíveis exclusivamente aos
sócios do National Run Committee (Comitê Nacional de Corridas), e as
apresentações ao vivo foram proibidas para as bandas, numa tentativa
de resgatar os bons tempos dos rachas só pra lambretistas. Muitos
skinheads tradicionalistas chegaram a prestigiar somente os rallies de
mods durante algum tempo, a fim de manter distância dos
desqualificados que sujavam o nome da "categoria".

Desde então, a quantidade de corridas foi minguando outra vez, de


sorte que as tretas e roubos praticamente cessaram. Para alguns
lambretistas esse é o panorama ideal, sem muita badalação; outros
prefeririam mais entretenimento no meio. Seja como for, o cara tem que
ter certa dose de dedicação pra ficar sentado no chão por todo um fim-
de-semana e achar que aquilo é o supra-sumo do passatempo, mas
compensa se você pensar que antes assim do que ter de pedir carona pra
voltar pra casa porque algum filhadaputa lhe roubou a lambreta. Tudo é
relativo.

Nada disso impediria que os skinheads continuassem freqüentando


rachas, tanto os politizados como os apolíticos, rockeiros ou não.
Lambretas têm sido parte da nossa cultura desde o fim da década de 60,
e tudo indica que a coisa vai ser assim ainda por muito tempo.

O ataque a Desmond Dekker em Yarmouth serviu pra mostrar a que ponto


certas facções do movimento skinhead têm se desviado de suas origens.
Se os skinheads primitivos tivessem deixado herança mais sólida e os
herdeiros não tivessem enveredado por caminhos tão incoerentes, o
aniversário de Desmond Dekker seria hoje uma espécie de dia
santificado para o movimento. O que vale é que muitos skinheads ainda
pensam assim e fazem o possível para preservar o movimento em sua
feição tradicional.

A bandeira desse tradicionalismo skin tem sido levantada com orgulho


pelo HARD AS NAILS e um punhado de skinzines que seguem a mesma linha.
Sem dúvida havia espaço e tempo propícios para os skins que não fossem
a fim de seguir os passos das bandas direitistas, e isso ficava
patente em Londres mais que em qualquer outra parte. A maioria dos
skinheads das pequenas cidades do interior eram "fregueses" do White
Noise, e suas únicas alternativas possíveis eram o pessoal ligado ao
HARD AS NAILS e à London Legion of Trojan Skins (Legião Londrina dos
Skins Trojan). Isso valia também para muitas cidades grandes tipo
Dublin, Glasgow, Cardiff, Plymouth, Newcastle, onde havia base para o
culto à tradição como forma de fazer frente à infiltração direitista
ou esquerdista. [2]

Agora que o número de skinheads tem decrescido em relação aos tempos


áureos, os fanzines skins tornam-se o elo de ligação e a maior fonte
de informações sobre bandas, gigs e locais de dança.

Eles também servem para manter os mais dispersos em contato com os


colegas de pontos os mais distantes, tal como os rachas de lambreta em
termos de entrosamento, e assim logo se formou uma espécie de rede
informal de comunicação pelo país todo, estendendo-se a várias outras
regiões do globo. [3]

Eventos dançantes eram a melhor maneira de aglutinar skinheads de todo


canto, e continuaram sendo esporadicamente promovidos aqui e ali.
Entre 1985 e 1987, o lendário One Up Bar na zona leste de Glasgow foi
anfitrião em muitas noites de movimentados passos de coturno, graças à
turma dos Spy Kids, ligada a um zine de mesmo nome, noites essas que
atraíam skins de toda a Grã-Bretanha e até de fora. Em Cardiff, a Casa
Gill e os pubs de Lexington abrigavam 400 skins cada fim-de-semana, e
tranqüilamente uns cem em qualquer gig de meio de semana.

"O estilo de vida do skin Trojan era semelhante ao do skin Sussed:


orgulho pelo movimento, orgulho pela aparência, e a noção de que a
melhor política é não ter política." (Steve Goodman, do skinzine
CHARGESHEET)

Aqueles que seguiam o chamado "espírito de 69" faziam pouco caso dos
skins do WNC, classificando-os de cabeçudos e marrudos boçais. Os
skinheads do White Power revidavam, rotulando os rivais de comunas
sujos, escória do movimento. Este, por sua vez, se via
irremediavelmente rachado pelo meio, as duas metades se vestindo
diferentemente, ouvindo diferentes bandas e cultivando valores
totalmente inconciliáveis com os do outro lado.

Quando skinheads veteranos se pegaram de pau com jovens cheiradores de


cola na Barry Island em 1984, todo mundo que andava por perto tomou
partido, e várias gangues rivais acertaram suas divergências políticas
em cima dos cacos dos copos de cerveja.

O amadurecimento duma consciência de retomada do movimento fora da


politização direitista só teria reflexo na prática quando dois
poderosos aliados vieram dar sua mãozinha: o movimento Oi!, que
voltava com tudo, e uma nova leva de bandas de ska, lideradas por uma
chamada The Potato 5.

A Business tivera um retorno mais que bem-vindo em 1985, com o sucesso


do álbum duplo "BACK TO BACK" (Wonderful World). É importante frisar
que eles tinham reformado os integrantes mas não a personalidade da
banda, e logo provaram isso no single "Drinkin' and drivin'" ("Essa
banda devia ser processada por induzir e incentivar o homicídio",
vociferava um velho e caduco professor, referindo-se ao tema da
música, ou seja, dirigir bêbado), bem como no anunciado lançamento dum
tributo a Jeffrey Archer, vítima dum "erro judiciário" em companhia
duma puta, o qual levaria o título de "Caned and able".

Mais engraçado foi a histeria dos tablóides com uma banda apologista
do porre que tinha a audácia de voltar com o mesmo nome e ainda por
cima entrando de sola no tema etílico e lúdico. Era a prova definitiva
de que a Business continuava a boa e velha Business.

E ainda por cima a banda não estava só. De tudo quanto era canto
afluíam outras bandas doidinhas para agarrar a peteca do Oi!. A
Condemned 84, de Ipswich, liderava a nova leva, que incluía a Section
5, de Stoke, a Vicious Rumours, de Londres, e a Betrayed, da
ensolarada Folkestone.

Após percorrer pubs e clubes do país todo em turnê, a Condemned chegou


a cativar um bom público pra recepcionar seu primeiro registro em
vinil, "BATTLE SCARRED", que foi até o 21º posto na parada nacional
independente, enquanto o seguinte, "OI! AIN'T DEAD" (RFB) pegava o
24º.

"BATTLE SCARRED" tinha sido lançado pela Oi! Records, a gravadora


independente fundada em setembro de 1985 pelo skinhead Roddy Moreno,
líder da banda Oppressed. Ele estava a fim de criar uma etiqueta de
som punk tipicamente rueiro já fazia um tempo, e sua chance pintou
quando recebeu uma verdadeira loteria: nada mais nada menos que o
dinheiro dum seguro de acidente de carro. É verdade que ele também
tinha ganho um subsídio do governo, mas este tinha sido retirado
quando Roddy criticou as instituições numa entrevista. É o tal
negócio: o que eles lhe dão com uma mão, a outra não vê a hora de
tomar de volta de você.

Por alguns anos, a etiqueta levantou a bandeira das novas bandas Oi!
praticamente sozinha. Ficou logo conhecida por promover a música punk
e skin conjuntamente (não apenas em sua série de álbuns "split"
SKINS'N'PUNKS) e também por suas capas muito pouco criativas em
matéria de design. Nenhuma trazia fotos. Mas era essa a Oi! Records,
bem garagística. Nada de contrato, nada de releases pra imprensa, e
naturalmente nada de repercussão. Com Roddy era assim: se na hora do
expediente a TV começava a exibir seu programa favorito, ele
simplesmente desligava o telefone mais depressinha do que você cata
uma nota de dez libras do chão. [4]

Ali por 1987, uma outra etiqueta de rua viria dar à Oi! Records um bom
motivo pra se preocupar com a concorrência. O baixista da Business, um
tal de Mark Brennan, e o velho empresário da banda, Lol Pryor, partiam
pra fundação da Link Records, com a primeira coletânea Oi! (exceto a
antologia organizada por Roddy, "THIS IS OI!") desde aquela que saíra
pela Syndicate, "THE OI! OF SEX". O nome já dizia tudo: "OI! THE
RESURRECTION". Aquilo era o arauto da chegada duma verdadeira
gravadora rueira, que se especializaria em lançar som punk,
psychobilly, ska e, lógico, Oi!, e que sobreviveria ao fim da Oi!
Records de Roddy, em 1990.

A grande vantagem que a Link levava sobre a Oi! Records eram as


conexões com o universo Oi!, que lhe garantiam acesso a todo o acervo
histórico do movimento, incluindo a discografia da Secret e da
Syndicate, um patrimônio inestimável que podia ser revisitado.

Ninguém passa sem uma viagenzinha no tempo, e a Link tratou com


carinho desse departamento. O dinheiro obtido com os relançamentos era
reinvestido em projetos novos (quando não ia sustentar as bebedeiras
de Mark, um dos grandes problemas que a firma enfrentava [5]) ou
ajudava a bancar bandas novas, não só as da Grã-Bretanha, aliás.

A ironia era que tanto o movimento skinhead quanto a música Oi!


desfrutavam de maior prestígio no exterior que no país de origem. E a
maior parte dos discos lançados era destinada à exportação. Um país
como a Itália podia ostentar mais de uma dúzia de bandas Oi! no mesmo
momento em que era difícil alguém se lembrar de igual número de
conjuntos britânicos. A mesma coisa ocorria nos States, na Alemanha,
na França e, em menor proporção, em países inusitados como a
Argentina, o Chile e a Polônia. Tinha até skinheads gregos em
quantidade suficiente para abarrotar a turística ilha de Ios durante
uma semana a cada verão. [6]

Não admira, portanto, que as bandas tivessem mais facilidade em tocar


fora do que em casa. A Condemned 84 tocou em mais de 100 gigs, grande
parte além-mar, nos States, França, Bélgica e Holanda. Outras bandas,
tipo Red London, eram mais viajadas que as aeromoças da British
Airways.

Poucos promotores de eventos na Inglaterra se interessariam pelo Oi!,


de forma que as gigs que rolavam em território britânico eram
normalmente organizadas pelas próprias bandas ou por intermédio de
outros skinheads. Não que houvesse grandes compensações.

Semanas de trabalho e planejamento para uma noitada apresentável


podiam ir por água abaixo em cinco minutos por causa duma bomba de gás
na mão dalgum cretino. Ou então por causa de vandalismo nos banheiros,
motivado sabe-se lá por quais razões psicológicas. Freud que explique.

O Main Event (grande acontecimento) de 1988 foi um bom exemplo de como


organizar um entretenimento noturno só pra ver a vaca ir pro brejo. A
polícia só permitia a realização do show no Astoria se os ingressos
fossem vendidos pelo correio, limitados a um por pessoa e uma pessoa
por endereço. Além disso, a Business foi vetada como banda principal
para que não figurasse em destaque no material promocional impresso, o
que motivou a escolha dos Angelic Upstarts para assumir o posto de
atração máxima.

"Me contaram que as garotas skins têm um visual bem mais apurado que o
das modettes. Quem me disse foi um casal de mods apuradíssimos que eu
conheci num rally mod." (Mandy Jarman, skingirl de Walsall)

Naquela noite, 1.500 pessoas lotaram a casa para ouvir e ver Vicious
Rumours, Section 5, Condemned 84, os prodigiosos holandeses da
Magnificent, um pacote-surpresa chamado The Oi! Allstars, mais a
Business e os Upstarts. Centenas de fãs sem ingresso foram barrados, e
até o grande Judge Dread compareceu para fazer as honras de
apresentador das bandas e ainda aproveitou pra cantar alguns de seus
"hinos" tribais.

Tudo seguia de acordo com o planejado, até que os Upstarts entraram.


Desde o ataque em Wolverhampton, a banda tinha tido vários entreveros
com partidários do NF e já se constituía numa das mais ostensivas na
pregação antifascista. Juntamente com bandas tipo The Blaggers, eles
tocavam regularmente em gigs antinazistas, apoiando o Cable Street
Beat e a Anti-Fascist Action, além de tomar parte em outras atividades
contra o extremismo de direita.

Quando foi no Main Event, os direitistas do público se invocaram com


as canções dos Upstarts e resolveram se manifestar. Era o que os
bagunceiros estavam esperando pra pegar carona, no que a gig degenerou
em três tempos, com 16 detenções efetuadas pelos denodados agentes da
Lei.

Com ou sem treta, o Oi! continuará existindo por muitos anos, disso
não há dúvida. Mas que tenha o brilho e a glória de 81 é coisa pra
esperar pra ver. Com certeza, nenhuma das bandas mais recentes
contribuiu com algum clássico que rivalizasse com os da Sham, dos 4-
Skins, ou de qualquer dos velhos grupos punks rueiros, e enquanto isso
não ocorrer elas não serão mais que meras continuadoras do movimento.

Os ossos do ofício duma banda Oi! são tais, que muitas acabam se
dispersando em direção a outros gêneros. A banda The Burial é uma que,
vinda duma terra conhecida como fértil em rock e esterco chamada
Scarborough, entrou com duas faixas no LP "THE OI! OF SEX", sendo uma
de Oi! e outra crossover no ska. Um experimentalismo que teve
seqüência e resultou num volátil coquetel de punk e soul não muito
distante duma mistura de Redskins com Madness. O tipo de música que
seria mais de esperar dalguma gravadora tipo Go Discs, Zarjazz, ou
mesmo da etiqueta Respond de Paul Weller, isso se algum destes nomes
tivesse colhão e sensibilidade para contratar tal som.

"Meu melhor momento como skinhead rolou numa festa muito boa. Só que
eu tava muito grogue pra lembrar direito que foi que rolou." (Oliver
Bauer, skinhead de Nuremberg)

Outra banda de Yorkshire, a Skin Deep, desistiu do efeito barulhento


que tinha criado pro LP "OI! THE RESURRECTION" e acabou caindo numa
linha sonora semelhante à da Burial. Talvez fosse algo que preferissem
naquele momento, mas o problema é que ficariam perdidos em algum ponto
entre a tribo do Oi! e os radicais do ska, e no fim a banda iria se
desfazer sem sucesso ou antes que ele chegasse. E talvez tenha sido
melhor assim, já que das cinzas da Skin Deep viria uma das mais
autênticas bandas da atualidade, a 100 Men.

1987 foi um ano que testemunhou algo como uma terceira onda de ska.
Revival é uma palavra muito infeliz, pois sempre existe quem mantenha
o ska vivinho da silva, mas pode-se falar com propriedade num revival
de destinos e fatalidades.

A Oi! Records vinha preparada pra lançar sua subsidiária Ska Records,
que resultaria num canal para bandas americanas de ska tipo The
Toasters, Bim Skala Bim e The N.Y. Citizens. A Link também tinha sua
etiqueta Skank na capa de discos reservados a algumas das melhores
bandas do ska britânico, a exemplo dos Loafers, dos Hotknives e dos
Riffs. Mesmo uma etiqueta mod como a Unicorn virou quase que
totalmente ska, projetando principalmente som europeu no feitio dos
Busters (da Alemanha) e do Spy Eye (da Itália), antes de chamar
talentos tipo Laurel Aitken e Derrick Morgan.

Sim, mais uma vez os velhinhos estavam de volta pra mostrar pra
meninada como é que se fazia. Até Prince Buster apareceu de surpresa
no primeiro (e melhor) International Ska Festival em Londres, no
conceituado The Sir George Robey. Afinal, ficava no Finsbury Park. E
depois do fiasco do Main Event, Judge Dread também fez seu bem-vindo
retorno ao palco.

Aquela noite no Robey, e a seguinte no Fridge, em Brixton, parecia o


começo de algo massivo. Ambas tiveram casa cheia com skinheads e
rudies na maior estica, e a impressão era de que o ska estava de novo
com a corda toda.
A impressão se confirmaria, embora não se soubesse bem onde ia parar
aquilo. No começo de 1989 era um verdadeiro vale-tudo, com bandas de
todo calibre querendo seu lugarzinho ao sol. O problema era que, sem
rádio e sem parada, não tinha muito sol pra brilhar pra todo mundo.

As grandes gravadoras não estavam lá muito interessadas, e as menores


que estavam não ajudavam muito, já que lançavam qualquer bagulho que
pudesse levar o rótulo de ska. Da mesma forma que uma porrada de
bandas White Power lançavam mais material em vinil do que podiam
apresentar em gigs, muitos lançamentos ditos de ska não passavam de
demos de categoria inferior a cargo do chamado "black plastic", o
negro de butique. Claro que o grande prejudicado era o trouxa que
morria com sete libras pelo som.

"Eu não gosto de skinheads vindo nas minhas gigs. Eu adoro skinheads
vindo às minhas gigs." (Laurel Aitken)

As bandas que alcançavam algum tipo de sucesso comercial foram as que


venderam bem na Alemanha e nos States, e, pra dizer a verdade, as gigs
em Londres ficariam praticamente às moscas se não fossem os
forasteiros em trânsito pela cidade. Às vezes tinha mais australiano
que londrino nessas gigs.

Ironicamente, as bandas que mereceriam seu quinhão de glória se


perdiam naquela corrida do ouro de tolo. Não que a banda tenha que
entrar pras paradas pra garantir um bom espetáculo aos fãs (na verdade
dá-se exatamente o oposto), mas sem dúvida um pouquinho de sucesso
ajuda a encher a barriga.

Apesar de tudo, é provável que as melhores noites tenham sido curtidas


antes que alguém começasse a sonhar com o "Top of the Pops". As gigs
da Potato 5 durante 1986 e 1987 foram tão boas quanto as passadas ou
futuras. Os "Batatas" eram talvez a melhor banda de ska que a
Grã-Bretanha teve o privilégio de gerar, melhor até que o filão da
2-Tone. Seu álbum de estréia, bem como uma série de singles, mostrava
que a banda teria lugar garantido no pódio do movimento, e já nas
primeiras gigs o público era todo composto de compostíssimos skinheads
e skingirls. Ternos em tonic, Ben Shermans, "brogues" tinindo, lenços
no bolso, tudo em cima. Além do mais, a atmosfera não podia ser
melhor, todo mundo se confraternizando, ou pelo menos não se
estranhando. Mesmo assim, a Potato 5 se desfez em 1990, depois de ter
conseguido não mais que uma corrente de fãs fiéis. É (o que vovó
diria) um pecado.

"O skinhead tá no sangue que corre nas suas veias, no ar que você
respira, é simplesmente um meio de vida." (Simone Carline, skingirl de
Worcester)

Outras bandas londrinas, como a Maroon Town, a feminina Deltones e os


Trojans, também mereciam mais crédito do que tiveram.

Talvez se Gaz Mayall (dos Trojans), filho do famoso bluesman John e


principal agitador das milhares de noites do Gaz's Rockin'Blues,
tivesse usado seu prestígio e paparicado os medalhões certos, a banda
estaria bem de vida e fazendo um bom trabalho ainda hoje.

Mas ainda havia uma nova geração de skinheads capaz de saborear o


tempero da música jamaicana, e portanto estavam plantados os alicerces
pras próximas safras de músicos. Além disso, o movimento estava
fortemente entrincheirado em cidades do mundo todo, numa abrangência
tal que muitos países podiam se gabar de abrigar gangues urbanas
maiores que as das ruas de Londres.

Na Grã-Bretanha, o "bom & velho" skinhead se tornava algo assim como


um filho pródigo. O "mau elemento" que virava bom rapaz.

Os movimentos vêm e vão, mas nenhum tem resistido tanto quanto o


movimento skinhead. Apesar da fama de treteiros, os skins de repente e
de vez em quando são descobertos como atrativo inigualável do ponto de
vista publicitário. Afinal de contas, quem sabe se o careca não é
aquele bicho papão e sim um simples adolescente canhestro e até
carente? O tipo do garoto que mora ali do lado... E por que não
comprar este sabão em pó pra lavar a camisa dele, ou por que não
deixar seu filho brincar, estudar ou trabalhar com ele?

Podia parecer estranho, mas era algo mais realista do que imaginar
algum punk estudante abrindo uma conta bancária. Skinheads
aconselhando você a ler THE GUARDIAN ou a comprar secadores de cabelo
era uma imagem televisiva bem distante da vida nas ruas, mas enfim...
De qualquer forma, era pouco provável que tais campanhas fossem
imitadas pelo resto da Europa, onde as pessoas guardavam uma impressão
bem mais estereotipada e negativa do skinhead.

Pelo continente as coisas tendiam a voltar ao ponto de partida, com


skins provocando treta nos estádios e entrando em choque com outras
tribos. Grandes times como o St. Etienne, o Barcelona, a Inter de
Milão e o Locomotiv Leipzig, todos tinham centenas de skinheads em
suas torcidas organizadas, mesmo que a arquibancada fosse cara. É
difícil de acreditar que o mais britânico e proletário dos movimentos
fosse ditar o comportamento suburbano pelo mundo afora. Em termos de
produto de exportação, o movimento skinhead seguramente levaria o
primeiro prêmio.

O movimento percorreu logicamente uma longa e tortuosa trajetória,


desde os subúrbios e conjuntos habitacionais da Inglaterra
sessentista. Os tempos mudaram, e com eles o skinhead evoluiu, às
vezes pra melhor, mas quase sempre pra pior. Certamente os skins
primitivos mijariam na cara dos espécimes atuais se estes estivessem
pendurados no abismo pedindo socorro. Mas quem pode culpá-los?

Em compensação, os mesmos skins de outrora mal podiam antever que,


mais de duas décadas depois, a molecada ainda teria prazer e orgulho
de desfilar pela rua de bota e suspensório. E não só em Birmingham e
Liverpool, mas em Berlim e Los Angeles também. [7]

Tudo indica que o movimento skinhead estará vivo e ativo entrando pelo
século vinte e um. Nem todo mundo se alegra com a hipótese, mas é bom
que ela contrarie os políticos, os cientistas sociais e os doutores da
imprensa que estão sempre de plantão pra diagnosticar o certo e o
errado, o "problema" e a "solução". Que cada um faça seu prognóstico,
mas há uma coisa que a fraternidade do cabelo raspado, a confraria dos
pés botinudos não deve esquecer nunca.

O skinhead sempre foi firme no orgulho de si próprio, no orgulho de


sua cidade, no orgulho de sua classe e no orgulho de seu país. Você
pode não ter recebido as melhores cartas quando Deus baralhou e
distribuiu, mas ninguém pode trapacear com você no jogo da vida, a
menos que você mesmo escolha bancar o otário.

Podem juntar todas as tribos, mods, punks, cabeludos, teds, boyzinhos


e rockeiros de qualquer corrente, mas nem juntas elas podem nos
ameaçar.
Nem nunca poderão, enquanto os skinheads recordarem suas tradições e
passarem-nas adiante. Quanto ao Sistema, bem, o Sistema tem mais é que
se incomodar. Quem sabe assim ele se muda...

Mantenham a fé, e vida longa ao espírito de 69!

///

[notas/boxes ao capítulo 7]

[1] "Rockin' for race & nation" é um dos slogans que virou título de
canção, no caso uma da banda Brutal Attack. (NT)

[2] Quando saiu o primeiro número do HARD AS NAILS em agosto de 1983,


não chegou exatamente a virar o mundo de pernas pro ar. Só 75
exemplares foram vendidos, mas foi o bastante pra lançar os alicerces
duma retomada dos valores tradicionais dos skinheads em grande estilo.

"Muitos dos que se dizem skinheads são só punks carecas. Skins não têm
nada a ver com a cabeça careca, a cheiração de cola e botas Doc Marten
de 18 ilhoses." (Ian, no zine HARD AS NAILS)

O objetivo principal era atuar como um ponto de convergência para os


ditos "sussed skinheads" (skins cônscios), isto é, aqueles que
esmeravam na aparência e se colocavam como baluartes da autenticidade
do movimento. Uma matéria no SOUNDS colocou o zine em evidência,
elevando rapidamente sua tiragem para várias centenas. O mais
importante foi que os seis números do HARD AS NAILS que saíram entre
83 e 85 serviram de inspiração para uma série de zines imitadores que
aproveitaram a onda: BACKS AGAINST THE WALL (de costas pra parede),
BOVVER BOOT (bota de briga), TELL US THE TRUTH (conte-nos a verdade),
CROPHEAD (cabeça raspada), e a lista vai por aí.

O HARD AS NAILS foi criado por uma pequena turma de skins de Canvey
Island, no Essex, que viviam de saco cheio com a Last Resort e com o
estereótipo de skinhead difundido por tablóides como THE SUN. Os caras
queriam voltar aos bons tempos da roupa típica do skin, do estilo de
vida suburbano e proletário, e da boa música. Claro que os tempos eram
outros, particularmente em termos do que os skins entendiam por "boa
música", de maneiras que bandas como The Oppressed, The Burial e Red
London eram tão bem-vindas às páginas do zine quanto velhos ídolos
tipo Desmond Dekker.

Havia inclusive espaço para info tipo nova coletânea Oi! que levaria o
título de OI! TIGHTEN UP, com possível inclusão das bandas Condemned
84, Allegiance To No One, Winston and The Churchills, The Burial e
outras, mas o disco acabou não saindo e o HARD AS NAILS também parou
de sair e acabou logo depois.

[3] O autor coloca, de um lado, os skinzines do White Power, todos


extremistas, panfletários e clandestinos, e, do outro, os zines dos
skins Trojan ou "sussed", revivalistas do reggae, anti-racistas e
apolíticos, como se não houvesse meio-termo possível. É verdade que a
maioria dos fanzines é precária e efêmera demais pra merecer registro,
mas existe pelo menos um skinzine onde o ponto de equilíbrio se
mantém, unindo qualidade gráfica, redação de nível, senso crítico,
longevidade, e, o que é mais importante, neutralidade sem omissão,
isto é, as bandas White Power não são boicotadas, mas seu
posicionamento político fica restrito às opiniões pessoais dos músicos
entrevistados e ao material iconográfico das próprias bandas. Esse
zine é o belga PURE IMPACT, de Bruxelas, editado por Peter Swillen, um
jovem poliglota e discófilo de admirável competência. Fundado em 1985
por dois outros zineiros, Luc e Peegie, o PURE IMPACT começou como um
zine skunk (pra skins & punks) até que, no quinto número, virou
exclusivamente skin. Em formato meio-ofício, impresso por computador e
trazendo fotos nítidas, suas seções são bem divididas entre
entrevistas, notícias ("News from the Front"), crítica de discos &
demos e, naturalmente, endereços de outros fanzines. Desnecessário
dizer que o título deriva do slogan da Last Resort: "No mess, no fuss,
just pure impact..." (v. Cap. 8) (NT)

[4] Roddy Moreno tem tido sua importância subestimada, não digo pelo
autor deste livro, mas principalmente pelos skins WP, que o odeiam e
ofendem sistematicamente em seus skinzines, em parte por causa do
logotipo do movimento SHARP nos discos de sua gravadora (cujas bandas
são antinazistas), em parte porque se esquecem (ou ignoram) que a
banda Oppressed foi a legítima sucessora dos 4-Skins em relação ao
movimento Oi!, já que o LP "OI! OI! MUSIC" da Oppressed saiu no mesmo
ano (1984) em que os rapazes de Hoxton Tom se despediam. Roddy foi
fera no vocal e nas letras, que retomavam toda a temática skinhead
mais original, desde o reggae primitivo (cover de "Skinhead girl" do
Symarip) até a ultraviolência do filme LARANJA MECÂNICA, passando
pelos livrinhos de bolso de Richard Allen (na canção "Joe Hawkins").
As canções do LP "OI! OI! MUSIC" (Jungle Records) reapareceram no LP
"DEAD AND BURIED", já sob o selo da Oi! Records. (NT)

[5] Após a publicação do presente livro, o SKINHEAD TIMES registrou


uma retratação a título de desculpas. Mark Brennan teria entrado na
justiça contra o autor por causa da alusão ao "problema de bebida",
mas a ação foi retirada em troca da retratação. Só que a nota do
SKINHEAD TIMES deixa uma ponta de dúvida ao brincar sobre os termos da
"solução amigável": Brennan seria "indenizado" com três garrafas de
vodka, duas de uísque, uma de rum, uma de tequila... (NT)

[6] TUPINISKIN
O autor não chega a cometer uma injustiça com os brasileiros deixando
de citar o país como um dos terrenos férteis para o movimento skin e
pro Oi!. Na verdade, o Brasil assimilou o skinhead em grande proporção
pela via musical, mas, devido ao baixo nível de instrução e
informação, não houve comunicação nem intercâmbio com as "matrizes"
(Inglaterra e States), pois os principais fanzines estão em inglês e
pouquíssimos carecas dominam sequer o português. Acresce que, ao
contrário das demais tribos, o skinhead não tem cobertura favorável da
grande imprensa e é ignorado como público-alvo pela imprensa musical e
esportiva, razão pela qual os carecas brasileiros ficaram ilhados em
relação aos skins de fora.

A observação de George (de que os skins não-britânicos acreditavam que


o movimento skinhead começara com o Oi! e fora retomado pelos
white-powers) também se aplica ao Brasil, mas aqui a desinformação
gerou uma distorção ainda maior no conceito de "skinhead", não só fora
como dentro do movimento, a ponto de os próprios skins repudiarem seu
nome em troca do termo "careca". O que se deu foi o seguinte: tal como
no resto do mundo, a introdução do skinhead no Brasil é bem mais
recente que na Inglaterra e veio de carona com a segunda safra punk
(Exploited, Dead Kennedys) e com o som Oi! (4-Skins, Blitz, Last
Resort), no começo da década de 80. Foi quando, ao lado das primeiras
bandas punks paulistas (Inocentes, Cólera, Ratos de Porão), surgiram
os grupos mais representativos do Oi! local: Garotos Podres, Vírus 27,
Histeria, Kaos 64, Dose Brutal, seguidos de inúmeras bandas de rua em
outros estados (Carbonário no Mato Grosso do Sul, Bandeira de Combate
na Bahia, Central do Brasil no Rio, etc.), que, mesmo sem chegar ao
vinil, têm público cativo entre os cerca de dez mil carecas [de acordo
com alguns zines] em todo o país, graças às gigs itinerantes e à
circulação de demos e zines.

Durante toda a década, os carecas não viram conflito com o termo


"skinhead", já que tinham tudo em comum com skins de outros países: a
classe operária, a periferia, a familiaridade com a miséria e a
violência, a simpatia por um vago nacionalismo forte que combatesse a
"corrupção política" e a "exploração dos trabalhadores" pelos
"capitalistas", estes supostamente "judeus" e geralmente
"multinacionais". Um raciocínio de protesto que, ironicamente,
misturava a retórica da esquerda tradicional antiimperialista com o
discurso nacionalista da ultradireita, sem que, no entanto, houvesse
lugar para o racismo "ariano" tipicamente nazista, uma vez que a
maioria da população pobre é negra ou miscigenada.

A prova desse convívio pacífico entre os termos "skinhead" e "careca"


está no fato de que o LP de estréia da banda Vírus 27 ("PARASITAS
OBRIGATÓRIOS") traz a advertência "Este disco é dedicado só pra punks
e skins, não pra boy!" e inclui uma canção intitulada "Vida longa aos
skins heads" [sic], cuja letra, absolutamente perfeita em seu
contexto, é uma obra-prima de síntese:

O tempo passa
E tudo modifica
Inventam moda
E nada nos transforma

Vida longa aos skinheads!

Somos consciente
Que o mundo é decadente
E também bem forte
Skin até a morte

É evidente que os carecas sempre se identificaram com seus


companheiros ingleses, não só no coturno, no suspensório, na cabeça
raspada ou na tatuagem, mas na consciência de que, para um salário de
fome e um endereço no subúrbio, os únicos valores correspondentes são
o esporte de massa, o rock rústico, a bronca e a porrada. Em três
palavras, a subsistência, a resistência e a persistência.

Mas eis que, já no começo da década de 90, os white-powers conseguem


se organizar em São Paulo, criando um foco de irradiação baseado na
colonização européia (supremacia branca), no separatismo (o progresso
local contra o atraso nacional) e na discriminação radical aos
nordestinos, negros, mestiços, esquerdistas, judeus e homossexuais. E
foi justamente a hostilidade à migração e à cor que provocou a reação
da carecada em geral, já que a cena suburbana tem forte raiz
nordestina e/ou negra. Só que tal reação se deu na retranca, como se
os WPs é que fossem o time favorito jogando em casa. Ao invés de agir
como na Europa (onde os skins autênticos "isolaram" os WPs chamando-os
de "boneheads" e reservando o termo "skinhead" para si próprios), os
carecas brasileiros recuaram e abriram mão do termo, deixando que os
WPs dele se apropriassem. O resultado foi, de um lado, milhares de
carecas agrupados em numerosas facções pelo país afora (em São Paulo,
os Carecas do Subúrbio, os Carecas do ABC, os Carecas do Vale; no Rio,
os Carecas do Brasil, os Carecas da Baixada; no Mato Grosso do Sul, o
Movimento Xenófobo Nacionalista ou MXN, e assim por diante) e, do
outro, poucas centenas de WPs em São Paulo e nos estados do sul, numa
rivalidade onde o conceito de "skinhead" saía perdendo. Tudo
culminaria em 92, quando os WPs se superexpuseram (até na TV) e foram
pivôs de atentados contra nordestinos, negros e judeus, desencadeando
repressão em nível federal, não mais por causa de arruaças e agressões
como as que ocorriam entre carecas e outras tribos em shows dos
Ramones (São Paulo, 1987 e 1991; Rio, 1992) ou dos Toy Dolls (São
Paulo, 1988), mas desta vez por crime ideológico envolvendo duas
questões constitucionais conflitantes, a liberdade de expressão e o
racismo. Uma controvérsia bizantina aos olhos do observador neutro.
Afinal, a principal banda WP chamava-se Poder Branco e teve que mudar
o nome para Locomotiva (aliás muito bem inspirado, tratando-se duma
banda paulista), enquanto um grupo de reggae chamado Cidade Negra
lançava um LP intitulado "NEGRO NO PODER". Se a lei fosse observada
imparcialmente, ou ambas as bandas estariam proibidas, ou poderiam ser
igualmente divulgadas. É como dizia um skin inglês no livro de Nick
Knight (SKINHEAD, Omnibus Press, 1982, pág. 32): "Um Rasta pode usar
um distintivo tipo 'Black is Beautiful' e todo mundo aplaude. Se eu
uso um distintivo escrito 'White is Beautiful' sou chamado de
racista."... Anti-racismo com dois pesos e duas medidas não é anti-
racismo, é hipocrisia demagógica, acrescento eu.

Mas tudo isso passa para um plano secundário quando verificamos que,
não só no visual mas nas preferências sonoras e até esportivas (há WPs
e carecas nas torcidas uniformizadas mais fanáticas do futebol
paulista, como a palmeirense Mancha Verde, a corinthiana Gaviões da
Fiel e a são-paulina Independente), todos comungam os mesmos valores,
ou seja, raça, no sentido da garra, não da cor da pele.

O resto é folclore, um terreno fértil para o oportunismo, não só da


imprensa como dos antropólogos e sociólogos da vida que, por trás da
"neutralidade" científica, manipulam o tema skin a serviço do
partidarismo político e, claro, em proveito próprio. Seria menos mal
se se ativessem aos fatos, mas eles ignoram solenemente o essencial,
que é o som e o futebol, e invertem as prioridades, colocando a
política num hipotético primeiro plano. Em suma, querem falar de
bandos em vez de bandas, de crimes em vez de times. Explica-se: são
professores universitários, que não entendem e não gostam de rock ou
esporte. Fica no ar a pergunta: por que diabo alguém se mete a
escrever sobre aquilo de que não gosta? Eu diria que se trata de
antitesão, não de tese...
(NT)

[7] Esta é pra fundir a cuca dos desavisados que, dentro ou fora do
movimento, ignoravam que este comportaria uma posição libertária a tal
ponto. A banda escocesa Oi Polloi, que dividiu um LP split com a
Betrayed (o vol. 2 da série SKINS'N'PUNKS da gravadora Oi! Records), e
teve seu LP "UNITE AND WIN" lançado pela mesma etiqueta, não só
incorporou o espírito "confraternizacionista" da Sham 69 ("Unite and
win" era também uma canção-slogan da Sham, que pregava a união das
tribos) e a causa anti-nazi dos Upstarts, como deu um passo além: seu
mais recente CD (1992), intitulado "TOTAL ANARCHOI", reúne material de
estúdio e ao vivo que, além dos temas habituais (anti-armamentismo em
"Nuclear waste", anti-imperialismo em "Americans out" e antinazismo em
"Nazi scum"), assume posições muito avançadas em relação às demais
bandas Oi!. Os lucros do CD (tiragem limitada de mil cópias) são
parcialmente doados à Liga Antinazista e também ao Greenpeace, numa
clara atitude ecológica. Mas a postura mais corajosa está na canção
"When two men kiss" (considerada por eles das mais importantes do
repertório), que combate a homofobia e a perseguição aos gays por
parte dos direitistas. A letra vale a transcrição:
WHEN TWO MEN KISS
QUANDO DOIS HOMENS SE BEIJAM

When two men kiss,


Quando dois homens se beijam,
Walk hand in hand
Andam de mãos dadas
The fear of what you don't understand
O medo daquilo que você não entende
Explodes into violence
Explode em violência
-- Screams break the silence
-- Gritos quebram o silêncio
"The guy was a poof",
"O cara era um viado",
"The guy was a queer"
"O cara era bicha"
Dehumanised and living in fear
Desumanizado e vivendo com medo
No, you're not thick
Não, você não é burro,
And you say "They're sick"
Mas diz "Eles são doentes"
But the only sickness I can see
Porém a única doença que eu vejo
Is the cancer of your bigotry
É o câncer da sua intolerância.

Note-se que a banda não é nenhum grupinho performático "homo-core" do


gueto gay, mas um dos nomes mais conhecidos do público radical punk e
skin. O libreto que acompanha o CD não deixa dúvidas quanto às
posições defendidas, pois inclui o texto do "discurso" pró-gay que é
proferido durante a música. Se alguém achava que o skinhead não tinha
espaço pra homossexualidade, vai cair de quatro. (NT)

///

DISCOGRAFIA DA CONDEMNED 84

SINGLES:

"Oi! ain't dead" (RFB) 7" e 12"


"In search of the new breed" (RFB) 12"

ÁLBUNS:

"BATTLE SCARRED" (Oi! Records, 1985)


"FACE THE AGGRESSION" (Grade 1, 1988)
"LIVE AND LOUD" (Link, 1989)
"THE BOOTS GO MARCHING IN" (Rock-o-Rama, 1991)
"STORMING TO POWER" (Rock-o-Rama, 1992)

Mais participações em várias coletâneas

///

DISCOGRAFIA DA OI! RECORDS

"BRICKS, BLOOD'N'GUTS" (Complete Control)


"WE WON'T CHANGE" (Section 5)
"BATTLE SCARRED" (Condemned 84)
"THIS IS OI!" (vários)
"ANYTIME, DAY OR NIGHT" (Vicious Rumours)
"THE AGE THAT DIDN'T CARE" (Barbed Wire)
"SKINS'N'PUNKS" vol. 1 (Society's Rejects/Last Rough Cause)
"SKINS'N'PUNKS" vol. 2 (Betrayed/Oi Polloi)
"SKINS'N'PUNKS" vol. 3 (The Glory/The Magnificent)
"SKINS'N'PUNKS" vol. 4 (The Abnormal/Barbed Wire)
"UNITE AND WIN" (Oi Polloi)
"DEAD AND BURIED" (The Oppressed)
"ON YER TOEZ" (The Blaggers)
"STREET PUNK USA" (Last Stand)
"SKINS'N'PUNKS" vol. 5 (The Oppressed/The Radicts)
"BREWING SINCE 1983" (Winston & The Churchills)

Ao lado da Oi! Records, Roddy Moreno dirigiu também a Ska Records, que
lançou principalmente ska americano, inclusive quatro volumes da série
de coletâneas SKAVILLE USA.

///

DISCOGRAFIA DA POTATO 5

SINGLES:

"Ska explosion" (Gaz's) só em 12"


"Western special" (Gaz's)
"Mad about you" (Gaz's)
"Sahara" (Gaz's)
"The jerk" (Rhyme & Reason)

ÁLBUNS:

"POTATO 5 MEET LAUREL AITKEN" (Gaz's)


"TRUE FACT" (Rackit)
"FIVE ALIVE" (Unicorn)

Mais participação em numerosas coletâneas

///

Capítulo Oito
A-Z DO VESTUÁRIO SKIN (E OUTROS SÍMBOLOS)

[O Skinhead nunca foi de se prender a rótulos comerciais, no sentido


mais consumista, e este guia não pretende ditar regra sobre o que você
deve ou não usar. É simplesmente um indicador do que está em pleno uso
hoje em dia, ao lado daquilo que foi moda no passado. Não existe lugar
pra esnobismo num movimento que se orgulha de ser proletário, e, só
porque você tem um guarda-roupa abarrotado de ternos de tonics e
camisas
Brutus, isso não o torna melhor que um moleque que só tem uma Ben
Sherman e um par de botas. Afinal de contas, qualquer bicão com grana
no
bolso pode posar de skin, mas o que conta é o que seu coração veste.]

ABERCROMBIE - V. CROMBIE

AIRTEX - Marca de camisa.

AIRWAIR ou AIRWEAR - Tipo de solado sintético (aerado), mais leve e


macio que o de couro dos coturnos e botas industriais em uso antes do
advento das Doc Martens.

ANL (ANTI-NAZI LEAGUE, Liga Antinazista) - Organização política de


esquerda, que promovia os shows do RAR, para a qual tocaram ou
colaboraram várias bandas skins, desde a Sham 69 e os Angelic Upstarts
até a Oi Polloi, passando pelas da 2-Tone.

ARNOLD PALMER - Marca de camisa, geralmente (des)combinando várias


cores em xadrez. Nem todas com o colarinho abotoado nas pontas.

ASTRONAUTAS - Tipo de botas que já estiveram em moda, caracterizadas


pelo cano alto (onze ilhoses). Assim chamadas por causa do solado tipo
batata Ruffles ou tábua de lavar roupa, que lembra as pegadas do homem
na lua.

BATISMO - V. SANGRAMENTO

BEN SHERMAN - A mais famosa marca de camisa skinhead disponível, não


só por ser a mais acessível. Ben Sherman era um canadense que começou
vendendo sua própria linha de camisas estilo americano, no começo dos
anos 60. Elas logo entraram na moda entre os mods, mas foram os
skinheads que fizeram a fama do cara. O colarinho de ponta abotoada
inclui um botão na parte de trás, e o modelo traz uma alcinha nas
costas pra pendurar a camisa, além duma prega. Tudo isso, somado ao
bolso no peito esquerdo, virou marca registrada dos skins. Os modelos
de manga curta tinham um corte em V na manga. Às vezes chamadas
Bennies, e disponíveis em cor lisa, listradas ou axadrezadas.

BIQUEIRA METÁLICA - As botas reforçadas com tal aparato foram famosas


por seu potencial nas tretas. Um chute daqueles nos bagos, e o cara
dificilmente voltava pro pau. Mas desde que foram classificadas de
"arma", as biqueiras foram caindo em desuso, em benefício de outras
variedades de pisantes & chutantes.

BLAZERS - Foram muito usados pelos suedeheads, num modelo padrão de


botões prateados. Geralmente traziam as cores dos times de futebol e o
distintivo dum clube costurado no bolso do peito.

BLOOD & HONOUR (Sangue & Honra) - Organização político-musical que


congrega as bandas white-power. Seu slogan é "a voz independente do
RAC" e o símbolo é a suástica de três braços.

BLUSÕES DE LÃ - Elegantes e confortáveis, especialmente os tricotados


em lã de cordeiro. O skin vira lobo em pele de cordeiro.

BONÉ - O do tipo "achatado" e xadrez, tipicamente inglês, não pode


faltar no inverno pra proteger a careca.

BOTAS - Originalmente eram coturnos militares, guarnecidos de


biqueiras de aço. Também se usavam botas de mineiro da NCB (National
Coal Board) ou as chamadas botinas "monkey". Posteriormente as
chamadas Doc Marten foram "oficialmente" adotadas, já que as de
biqueira metálica não mais podiam ser usadas por estarem classificadas
como "arma perigosa". As cores mais procuradas são o vermelho-cereja e
o preto, apesar de que o preto perdeu um pouco do charme quando esse
modelo foi adotado por policiais. Outras botas vêm em tons de marrom.

BOTINA "MONKEY" - Botas de cano baixo (até o tornozelo) com a palavra


"Monkey" (macaco) escrita na sola. Popular entre meninos e meninas por
ser disponível nas numerações mais baixas.
BOVVER BOOT (bota de briga) - O coturno, considerado como instrumento
de combate e reforçado com biqueira metálica. V. BOTAS

BOVVER BRIGADE (brigada de briga) - Apelido que os próprios skins dão


à sua tribo, subentendendo-se o uso das botas como armas nas batalhas
contra outras gangues, tribos ou torcidas.

BRINCOS - Primeiro alguns caras puseram numa só orelha, no começo dos


anos 70. Depois, nas duas. Já as garotas punham vários em cada orelha
(a orelha da menina ficava parecendo um pau de cortina, cheia de
argolinhas). Bem antes do punk, os skins de Sunderland usavam pequenos
anéis no nariz. Era uma peculiaridade da moda local, enquanto os skins
de Maidstone passavam o verão inteiro desfilando com aquelas enormes
orelhas de plástico que você vê em lojas de mágicas & máscaras. Tem
gosto pra tudo.

BROGUES - É como os ingleses chamam os sapatões de amarrar com o couro


pontilhado de furinhos ornamentais formando arabescos (o tal "modelo
italiano" dos yuppies brasileiros). Comum nas cores preta, marrom ou
vinho. Dependendo do fabricante, podem vir com biqueira de aço
opcional. Nos States são conhecidos como "cordivans" ou "cordovans" e
são usados por agentes do FBI.

BRUTUS - Marca de camisa, especialmente as confeccionadas em tartã. A


Brutus Gold era xadrez, com colarinho abotoado nas pontas. A marca
também fabricava jeans, mas estes não eram tão populares entre os
skins quanto os da Levi's.

CACHECÓIS E LENÇOS DE PESCOÇO - Quando usados, são em cores estampadas


bem vivas, de tecido de lã escocês tipo "paisley", colocados pra
dentro da gola ou colarinho. Boa pedida no inverno, a menos que você
more no Havaí (e antes que você pergunte, existem sim skins morando
lá). Os de futebol são decididamente os preferidos (e os do Gillingham
F.C. os mais cobiçados).

CADARÇOS - A cor dos cordões da bota é assunto pra mais discussão que
um juiz de futebol cego. O problema é que cores diferentes significam
coisas diferentes. Branco pode ser NF numa cidade, mas representa
anarquia na outra. Em Montreal, amarelo quer dizer apoio ao assassino
de tiras. O que complica as coisas é que sempre tem um sabidinho que
conhece tudo e "dita" os significados.

CAMISAS - As de estilo americano, com colarinho de ponta abotoada, são


tranqüilamente as mais populares. Sempre usadas com o botão do pescoço
desabotoado e as mangas compridas dobradas (uma ou duas vezes). As da
marca Fred são geralmente usadas totalmente abotoadas.

CAMISA UNION - Tipo de camisa sem colarinho, também chamada "camisa do


vovô" (no Brasil, "gola de padre"). Remete ao tempo em que o colarinho
era substituível e, no caso de trabalhador braçal, dispensado.
Geralmente disponível em cor lisa ou listrada, com bolso do lado
esquerdo. A palavra "union", no caso, refere-se a sindicato operário.

CAMISETAS - As que trazem algo escrito (T-shirt) sempre foram usadas


pela molecada, desde os anos 50, e os skinheads não seriam exceção.
Afinal de contas, nem todo mundo pode ter uma porrada de camisas Bens.
No caso dos skinheads, a estampa da camiseta vai dos logos de banda
aos distintivos de clubes, passando pela Union Jack (bandeira inglesa)
e outros slogans tipo RAR, RAC, SHARP, Trojan, etc.

CARDIGAN - Casaco de malha de lã. Os da marca Fred Perry tinham boa


aceitação. Os preferidos são os folgados, com bolsos, mas o importante
é não esquecer de deixar o último botão desabotoado.

CASACO DE PELE - O chamado "sheepskin" (couro de carneiro), um casacão


pesado usado por caras ligadões e cartolas do futebol pelo mundo
afora, pra não falar de milhares de skins. É caro, mas vale cada
centavo. De mais a mais, sempre pode ser vendido usado pra lojas tipo
brechó. Os mais populares cobrem até a bunda, e as cores mais
escolhidas vão do castanho ao marrom escuro.

CHAPÉU-COCO - Usado pelos suedeheads na época do filme LARANJA


MECÂNICA (1971).

CHAPÉUS PORK PIE - De aba estreita e revirada, esse tipo de chapéu de


feltro foi copiado do visual do rude boy. Às vezes chamado de chapéu
"blue beat" ou aba curta. Qualquer cor vale, mas o preto é mais
popular. Um de boa qualidade pode durar anos a mais que o de aba
larga.

CROMBIE - Seja lá o que for que você leu ou ouviu por aí, os crombies
(capotes usados como sobretudo) não são traje típico dos suedeheads
pós-1970. Eles têm sido marca registrada dos gangsters desde décadas,
e foram aprovados & aproveitados pelos skinheads desde 1968. Confira
no filme de 69, BRONCO BULLFROG se você e seus amigos duvidarem. O que
variava era o feitio. Os genuínos da marca Abercrombie (origem do nome
abreviado) eram mais curtos, mas havia muitas imitações, sempre com
forro de cetim vermelho. Mesmo estas tinham eventualmente sua
qualidade. O importante era o peso do casaco e um bolso superior do
lado esquerdo onde você pudesse pendurar o lenço. Gola aveludada era
um toque que valorizava.

CRUZ CÉLTICA - A cruz dentro do círculo, símbolo das bandas


white-powers, independentemente da filiação a esta ou aquela
organização. Muito usada em tatuagens e pichações.

CRUZ SUÁSTICA - O símbolo nazista não é tipicamente skin, primeiro


porque a maior parte deles não se declara nazista, segundo porque
outras tribos ("metaleiros", punks) já usaram & abusaram do emblema, a
sério ou por gozação.

DOCTOR MARTEN - Também chamadas Docs ou DMs, são a mais famosa marca
de botas e sapatos, graças ao solado tipo "airwair" (aerado) inventado
pelo bom "doutor" austríaco (na verdade, nem doutor e nem austríaco,
mas um soldado de Luxemburgo que quebrara o pé na Segunda Guerra e
resolvera fazer uma sola mais macia pra sua bota, dividindo a idéia
com um amigo, Klaus Maertens, que o ajudou a produzir em série). Muito
confortáveis, daí vem sua popularidade.

As botas são disponíveis em modelos de 8, 10, 12, 14 e até 20 ilhoses


(contados os furos só dum lado do cano) e em todos os tamanhos,
incluindo meninos pequenos. As de 8 a 12 furos são as mais populares,
embora os "boneheads" (skins nazistas) as prefiram até o joelho. Preto
e cereja são cores-padrão, e também se acham com biqueira de aço.

DRESSING HARD, DRESSING SMART (Ser duro no vestir é ter apuro no


vestir) - Frase proverbial para justificar o rigor com que os skins
seguem sua própria moda, não aquela ditada por interesses comerciais
exteriores ao movimento.

EAST END'S EVERYWHERE (A Zona Leste tá em todo lugar) - Provérbio


londrino que se tornou universal pros skins, já que subúrbio operário
é coisa que existe em qualquer metrópole do mundo. Que o digam os
Garotos Podres.

ESTILO - É a própria essência que emana dum skinhead bem-vestido. O


"bem vestir" do skinhead, embora às vezes rigoroso, não tem relação
direta com os padrões da moda dita "social", nem com a suposta
"informalidade" da chamada moda "jovem", ambas ditadas pela indústria
e pela publicidade. É óbvio que o skin também consome, mas o detalhe é
que ele "subverte" o uso de cada peça do vestuário, desviando ou
contrariando a utilidade ou oportunidade ditadas pela "elegância"
convencional. O punk tentou levar tal subversão às últimas
conseqüências, mas foi caricato e, por isso mesmo, efêmero, enquanto o
skin, mais espontâneo, resiste teimosamente à transitoriedade da moda
comercial.

FALMERS - Marca de jeans do tipo calça larga, popular entre os


smoothies.

FEATHERCUT - Estilo de cabelo feminino, originalmente mais longo e


muito mais suave que os das garotas que a gente vê hoje em dia. De
início era cortado rente no alto (mas não raspado). Como as inglesas
têm cabelo liso, o resultado é uma franjinha na testa e o resto
comprido, atrás e dos lados, às vezes com a orelha aparecendo. No
Brasil, pense numa Rita Lee bem punka. Às vezes a franja é tingida de
cor diferente do resto. Este corte costuma arrebitar as pontas (e
quebrá-las, formando a ponta dupla), particularmente se a menina usa o
bom e velho pente de aço.

FRED PERRY - Linha de roupa pra tênis, que leva o nome do maior
tenista da Grã-Bretanha. A camisa polo de manga curta foi popular
entre os mods nos anos 60, e hoje é peça comum do vestuário skin.
Originalmente de quatro botões, depois três, e atualmente só de dois e
em material mais leve. A variação de cores já foi amena, mas muito
elegante graças ao rolotê da gola e das mangas. Hoje é disponível em
52 tonalidades pavorosas, numa lamentável tentativa de competir com a
Benetton. Já se foram os dias em que os anúncios diziam "Camisas marca
Fred. Não precisa dizer mais nada." Outras linhas da famosa grife,
como cardigans, blusões e jaquetas tipo Harrington também são
populares.

GORRO - Os chapéus e bonés de lã mantêm a careca aquecida. Às vezes o


gorro é chamado chapéu Benny, devido ao personagem duma telenovela
intitulada CROSSROADS que falava dos skinheads. Por falar nisso, onde
andará Miss Diane?

GRAVATAS - Usadas apenas em casamentos, funerais e... na escola, se


você tiver entrado numa da Inglaterra.

GUARDA-CHUVA - Acessório suedehead, geralmente com ponteira aguda,


para o caso de treta.

HARRINGTON - Jaqueta leve, assim chamada por causa de Rodney


Harrington, personagem do seriado de TV PEYTON PLACE ("A caldeira do
diabo"), que sempre usava uma do tipo. Geralmente com zíper na frente
e gola abotoável. Fácil de achar em várias cores (as mais populares
são preto, vermelho e café-com-leite), com forro em tartã, mas, como a
maioria das coisas, sua qualidade atual não é a mesma das que se
vendiam em 69. Os suedes adoravam esse tipo de agasalho, mas em meados
dos anos 70 ele virou moda na High Street.

HARRY FENTON - Famoso alfaiate dos anos 60, que confeccionava uma
camisa bem elegante pro gosto skin, especialmente em tartã.

HAVING A LAUGH AND HAVING A SAY (Tirar um sarro mas ter algo a dizer)
- Um dos lemas do movimento Oi!. A expressão "Having a laugh" é
anterior ao movimento, e servia de pretexto automático, tipo resposta
de algibeira, para retrucar às perguntas cretinas e acusações caretas
dirigidas aos skins. Algo assim: "Que é que vocês foram fazer numa
butique de shopping center?" "Só tirar um sarro..." Posteriormente
virou até nome duma gravadora independente italiana, ligada à banda
Klasse Kriminale.

JAQUETA DE AVIADOR - É o modelo mais popular usado atualmente. A cor


preferida é o verde-oliva, embora as pretas sejam (ironicamente) mais
do agrado dos skins white-power. Outra cor procurada é o azul
tonalidade força aérea. Alguns pensam que seria essa a jaqueta
"oficial" da aeronáutica americana, mas não é o caso, já que as
dragonas no ombro fazem diferença. Além disso, o suposto modelo
original mais cobiçado é o que tem zíperes, inclusive nos bolsos, e
bolso inclusive na manga, além de bolso interno e elástico nos punhos
e na gola. É bem superior às imitações baratas vendidas em feiras e
lojinhas. É o tal negócio: você só consegue um bom artigo se pagar por
ele. Normalmente se usam cores lisas, mas costuma-se aplicar
distintivos de clubes de lambretismo ou similares, do tipo costurável.
Teoricamente as jaquetas são utilizáveis do avesso, este em cor
laranja berrante, pra que o piloto possa ser facilmente avistado caso
tenha que saltar do aparelho.

JAQUETA DE COMBATE - Em padrão tipo "camuflagem", era, juntamente com


as calças, muito usada pelos skins originais, mas atualmente é quase
que exclusiva dos boneheads (os "cabeças-duras" neonazistas). Uma
pena.

JAQUETAS PROFISSIONAIS - Se eram boas pra estivadores, mineiros e


operários, eram boas também pros seus filhos (e filhas). As melhores
são impermeáveis, de plástico cor de laranja ou pretas, e o toque de
classe (disse-o bem) era ter as iniciais NCB (National Coal Board,
entidade profissional dos mineiros de carvão) ou similares estampadas.
Você mesmo podia escrever o que quisesse nas de cores lisas. Enfim,
são baratas, têm bolsos espaçosos e aquecem bem.

JAYTEX - Marca de camisa, famosa pelo modelo xadrez de colarinho


abotoado nas pontas.

LEE - Marca de jeans, muito popular no norte, antes que a Levi's se


tornasse largamente acessível. Tão boa quanto a Levi's.

LENÇO - Toque de classe pra arrematar um produzido paletó ou jaquetão,


colocado no bolsinho apropriado. Seda é o máximo. Dobrado de várias
maneiras e preso por um botão ou alfinete, às vezes nas cores dum time
de futebol.

LENÇO DE PESCOÇO - V. CACHECÓIS

LEVI'S - A famosa calça 501 e respectiva jaqueta são o máximo para um


skinhead. Braguilhas de abotoar às vezes estão em voga, mas o zíper é
eterno. Até o autor prefere zíper. A 505 tem zíper como padrão e o
mesmo feitio da 501. Cores "adicionais" ou estranhas aparecem de vez
em quando, Deus sabe por quê. Mas o jeans original sempre foi azul, e
originalmente os skins usavam bem folgados. As calças apertadas
apareceram já na fase punk.
LOAFERS - Sapatos baixos, sem cadarço, geralmente com uma "franjinha"
no couro da lingüeta e um "nozinho" artificial só de enfeite, com
pinos nas pontas dos falsos cordões. Nas cores usuais pra sapatos, mas
o preto ficou mais popular por causa da 2-Tone. Se você tá atrás duma
boa marca, confira os da Frank Wright. Os chamados "penny loafers"
devem o apelido ao fato de certas garotas fixarem uma moeda de penny
no sapato (outros dizem que é porque é barato).

LONSDALE - Fabricante de equipamentos de boxe. Sua linha de camisetas


(com ou sem manga) e suéteres atléticos tornou-se popular entre os
mods e skins, sem dúvida por causa da proximidade da loja da Lonsdale,
junto à Carnaby Street, além do amor pela nobre arte da luta, é claro.

LUVAS - Estava mais por dentro quem usava as que deixam os dedos de
fora. Fora disso, só as de boxe, dentro do ringue, claro.

MAC - Capa de chuva muito elegante, um toque saudosista do tempo dos


mods. Era mais um hábito dos suedes, nunca totalmente popular.
Atualmente é roupa de velho assanhado.

MACHADINHA - Esteve em voga como arma entre os skinheads brasileiros


em meados da década de 80. Tratando-se de arma letal, seu uso
ocasionou mortes em tretas e acabou deixada de lado. Alguns atribuem a
moda ao filme PINK FLOYD: THE WALL (de Alan Parker), mas a informação
é furada, porque o suposto "símbolo dos skinheads" caricaturado no
filme é um martelo.

MÁQUINA ZERO - A querida maquininha, que pode ser um simples barbeador


elétrico ("shaver") ou a de barbeiro mesmo ("clipper"), é fácil de
achar e compensa comprar, pois se paga sozinha depois de uns dez ou
vinte cortes. A melhor marca é a Wahl, que vem com pentes adicionais
pra você regular o comprimento de um a quatro, conforme o gosto.
Mantenha lubrificada pra durar a vida toda.

MEIAS - As esportivas, brancas, são universais. O vermelho ficou pra


trás faz tempo.

MEIAS FEMININAS - As "transparentes", que cobriam toda a perna sob a


mini-saia, eram o sonho erótico de todo skinhead. Aquelas cuja malha
imitava "rede de pesca" ("fishnet"), chamadas de "arrastão" no Brasil,
eram as mais sensuais, mas também se usavam meias-calças de outras
padronagens. Meias soquete brancas podiam ser usadas por cima,
combinando com o sapato preto.

MINI-SAIA - Feitas de denim (às vezes aproveitando uma velha calça


501), em pano liso, Príncipe de Gales, tonic, você escolhe. Muito
elegante com paletó do mesmo pano, camisa e meia-calça.

MOCASSINS - Já foi um calçado popular lá pelos idos de 79, mas agora


raramente é visto. Talvez porque nossas mamães todas tenham um par
deles bem macio servindo de chinelo.

MOHAIR - Tecido caro, feito de pêlo de cabra angorá. Perfeito pra


ternos se você pode pagar a conta do alfaiate ou o crediário da loja.

NEITHER RED OR RACIST (Nem vermelho, nem racista) - Slogan da


gravadora Oi! Records de Roddy Moreno, que propunha o não-alinhamento
e a eqüidistância dos polos ideológicos, tanto de esquerda como de
direita.

NOBODY LIKES US, WE DON'T CARE (Ninguém gosta da gente, mas não
estamos nem aí) - Espécie de frase proverbial que exprime a verdadeira
dimensão do movimento skinhead: independência e indiferença, quer isso
agrade ou não à sociedade, que tenta reprimir os skins, ou às
correntes políticas (de esquerda ou direita), que tentam cooptá-los.

NO MESS, NO FUSS, JUST PURE IMPACT: THE LAST RESORT (Nem confa, nem
bronca, só puro impacto: o último recurso) - Palavra-de-ordem da banda
Last Resort, justificando a violência em vez do protesto infrutífero.
A expressão foi muito reutilizada dentro do movimento, e inspirou o
título dum dos mais importantes skinzines, o belga PURE IMPACT.

NORWEGIAN (norueguês) - Tipo de sapato de amarrar cujo cabedal tem o


couro trançado imitando cesta. Muito popular entre os smoothies.
Selatio era a marca mais procurada.

ÓCULOS - A menos que você seja míope ou caolho (como Roi Pearce, dos
4-Skins, ou o tradutor deste livro), o uso de óculos não é
aconselhável para os skins que vivem às voltas com treta. Como item de
estilo, os óculos escuros de haste larga fazem parte do visual dos
rude boys até mesmo à noite. Fora disso, os do tipo raibã de aviador,
de haste fina, também andaram em moda.

OXFORD - Tipo de sapato clássico, de couro liso e bico quadrado.

PENTES - Não têm muita utilidade quando você raspou o cabelo. Mas em
69 alguém com cabelo suficientemente longo pra ser penteado podia ser
um skinhead. Pentes de aço eram bem cotados, de qualquer modo, não só
pela finalidade básica, mas também porque poderiam servir de arma bem
portátil e enrustível. Guardá-lo no bolso de trás era uma boa maneira
de mostrar aos outros que você tinha um.

PERMANENT PRESS - Marca de camisa. Excelente modelo de colarinho com


pontas abotoadas, próprio para garotas. Também fabrica calças que,
como diz o nome, estão permanentemente passadas e dispensam o ferro.
V. também STA-PRESS

POLIMENTO - Os skinheads não primam por ser polidos ou por serem bons
de saliva. Eu arriscaria dizer que ninguém gosta de engraxar sapato,
mas conheço algumas pessoas que precisavam muito trabalhar nesse ramo.
É claro que, se você se orgulha de sua aparência, não vai sair sem dar
uma lustrada nas suas botas ou sapatos, mesmo que dali a pouco eles
sejam pisados numa gig ou tenham que se sujar esfregando a cara dalgum
filhadaputa.

PRIDE WITHOUT PREJUDICE (Orgulho sem preconceito) - Lema do movimento


SHARP, adotado também pelo autor deste livro como slogan de seu jornal
SKINHEAD TIMES. O jogo de palavras ganha peso por lembrar o título do
romance de Jane Austen, PRIDE AND PREJUDICE (Orgulho e preconceito).

PULSEIRAS PERSONALIZADAS - Um acessório muito popular entre os


joalheiros durante o período dos skins primitivos, que ainda é muito
usado por qualquer skin.

RAC (ROCK AGAINST COMMUNISM) (Rock contra o comunismo) - Resposta


musical do NF e da Blood & Honour ao RAR. O símbolo é a foice e o
martelo, mas o cabo do martelo é mordido por uma caveira.

RAR (ROCK AGAINST RACISM) (Rock contra o racismo) - Braço musical da


ANL (Anti-Nazi League, Liga Antinazista). Seu símbolo é uma estrela
dentro dum círculo, com as palavras do slogan por cima da estrela.
ROYAL - Faith Royal foi a empresa pioneira na fabricação do sapatão
tipo "brogue", daí ele ser chamado também de Royal.

RUNAS - Os signos do alfabeto nórdico são usados como símbolo por


bandas e gangues white-powers, copiando uma tradição nazista (as
tropas de elite adotavam runas como brasão de cada batalhão ou
corporação). A runa de Odal é a mais conhecida.

SANGRAMENTO - Quem estivesse usando botas novas ficava sujeito ao


"sangramento" ou "batismo". Todos os colegas vinham com tudo pra pisar
e sapatear em cima delas a fim de sujá-las mais depressa, igualando-as
às do resto da turma.

SAPATOS - V. BROGUES, LOAFERS, MOCASSINS, NORWEGIAN, OXFORD

SHARP (SKINHEADS AGAINST RACIAL PREJUDICE) (Skins contra o preconceito


racial) - Movimento anti-racista e antinazista ramificado em vários
países do mundo. O símbolo varia conforme o país. Geralmente é o
perfil estilizado dum elmo ou capacete troiano (evocando a Trojan,
gravadora de reggae, música tradicional dos skins não-racistas), mas a
seção alemã usa o perfil duma cabeça careca, as seções francesa e
norueguesa um par de coturnos, etc. O lema do movimento é PRIDE
WITHOUT PREJUDICE (orgulho sem preconceito).

STA-PRESS ou STA-PREST (soa como "stay pressed", isto é, se mantém


passada) - Diz-se das calças que dispensam o ferro e são muito
elegantes entre os skins. Feitas por várias empresas, mas nenhuma
chega aos pés da Levi's, cujos modelos na cor branca são chocantes.
Outra marca é a Ever-Prest. As cores vão do branco ao castanho,
passando pelo preto, o azul claro e o vinho. V. também PERMANENT PRESS

SUSPENSÓRIOS - Servem para segurar as calças, mas os skins os usam por


questão de estilo, mais que por conforto, já que os bagos ficam mais
prensados. Às vezes são usados por cima dum pulôver leve ou dum
"tanktop". A largura varia: originalmente em torno de duas polegadas,
maior que a atual de uma polegada. Detalhe: o suspensório foi feito
pra usar por cima do ombro e não caído na bunda, como os skins mais
punks adotaram.

TANKTOP - Blusão sem manga, popular no começo dos anos 70. Geralmente
com padronagens, algumas de péssimo gosto. O suspensório era usado por
cima.

TATUAGENS - Uma porrada de skinheads se tatua. Times de futebol,


clubes de lambretismo, bandas, namoradas(os), países, torcidas
organizadas, gangues, tudo serve de motivo. Muitos skins londrinos têm
uma estrela no centro da palma esquerda. Outra que foi popular é a das
quatro pintas, em forma do quatro no jogo de dados. Os quatro pontos
são tatuados no dorso da mão, entre o indicador e o polegar, e
significam as iniciais ACAB ("All coppers are bastards", todos os
tiras são filhadaputas), que aliás é título duma canção dos 4-Skins. A
tatuagem pode parecer algo muito elegante ou uma verdadeira
escrotidão, dependendo do tatuador e do tatuado. No fim das contas,
porém, é bom lembrar que você vai levá-la pro resto da vida, e aí a
decisão de fazer uma é muito pessoal. Os bons tatuadores são famosos,
já que sua clientela não é exclusivamente skin (outras tribos,
inclusive as mais consumistas, como a dos surfistas, também se ligam
em "tattoo"). Entre os skins é comum que o tatuador seja alguém da
turma ou das próprias bandas. No Brasil, pode-se citar o caso de Mauro
(dos Garotos Podres, que trabalhava no mesmo ateliê que George, da
Kães Vadius e da Devotos de Nossa Senhora Aparecida) ou de Jabá (da
Vírus 27).

TERNOS - De três e quatro botões, lapela estreita, com uma abertura


atrás ou duas dos lados (de até 18 polegadas), são estes os padrões no
feitio de ternos para skins. Bolsinhos são outro toque de classe. A
vaidade e a rivalidade fazem com que os bolsos se multipliquem nos
melhores ternos, de forma que alguns paletós têm mais bolsos dum lado
que do outro. Botões na manga são outra medida de estilo, onde o
mínimo é três e, em alguns casos, a manga leva botões até o cotovelo!
O último botão da frente do paletó (de cima pra baixo) fica sempre
desabotoado, e as calças são curtas o bastante pra que dê pra ver se o
cara tá de sapato baixo, botina ou coturno, e ainda que tipo de meia
ele usa.
Quanto ao tecido, originalmente era de mohair liso ou de trevira, mais
barato, depois similares, incluindo Príncipe de Gales, padrões
axadrezados e tonics. As cores de verão tendem pro azul-gasolina,
verde ou marinho, ficando o preto e o marrom pro inverno. Os smoothies
preferiam os modelos trespassados em tecidos semelhantes. As garotas
skins usavam originalmente seu paletó em comprimento três quartos.

TONIC ou TONIK - Tecido de dupla tonalidade, que muda de cor conforme


a luz. Muito elegante pra ternos.

TREVIRA - Tipo de pano semelhante ao mohair, porém menos caro. Também


próprio pra ternos.

TRIM FIT - Camisa da Brutus, popular especialmente entre as meninas.


Não indicada no caso das barrigas de cerveja.

VELUDO COTELÊ - Por esta você não esperava! Pois é, jaquetas e calças
da Levi's, da Lee e da Wrangler nesse tecido (que os ingleses chamam
de "corduroy") eram "o fino" no começo dos anos 70.

VERDE-OLIVA - Calças dessa cor, principalmente em pano durável e


barato, são sempre muito procuradas. As do tipo militar dão pro gasto.

WRANGLER - Outra marca popular de jeans e jaquetas. Usada por skins do


norte da Grã-Bretanha.

///

APÊNDICE: CANCIONEIRO MÍNIMO

Eis um rol de canções (suficientes para encher um CD) onde a temática


skin, a começar pela explicitação da própria palavra "skinhead" e
correlatas, comparece em seus ingredientes básicos. Repertório mais
abrangente é objeto dum livro à parte, intitulado SKINHEAD LETRA POR
LETRA e, verbetando separadamente cada canção, dum outro livro
intitulado ALMANAQUE DO SKINHEAD. (NT)

[1] SKINHEAD GIRL [Symarip]

There she was, swinging down the high street, yeah!


Lá vinha ela, desfilando pela avenida,
Hair cropped short, boots and perm [jeans]
Cabelo curtinho, botas e jeans
I couldn't believe my eyes, like a story out of a book
Eu nem acreditava no que via, como se fosse história
saída dum livro,
She was my height, my weight, my size
Ela era minha altura, meu peso, meu tamanho
She wore (her) braces and blue jeans
Usava suspensórios e jeans

She was mine (Skinhead girl!)


Ela era minha garota skin!

I made up my mind, was gonna be courageous, yeah!


Fiquei decidido: tinha que arrumar coragem
Her head on my hand and touch her gentle
Aquela cabecinha na minha mão pra tocar de leve
She looked at me and smiled, I know that was for real
Ela me olhou e sorriu: vi que era verdade
She was my height, my weight, my size
Ela era minha altura, meu peso, meu tamanho
She wore (her) braces and blue jeans
Usava suspensórios e jeans

///

[2] SKINHEAD GIRL [Battlezone]

You're out and about not a care in your mind


A gente sai pra rua e pro que der e vier
Walking through town centre nothing else to do
Dá um rolê pelo centro, sem nada pra fazer
Loads of casual tarts but nothing catches your eye
Garotas pra todo lado mas nenhuma nos chama a atenção
You know it ain't easy 'cos skinhead girls are few
A gente sabe que é difícil achar alguma garota skin

Feathers with hair cropped neat:


Cabelo bem cortado, formando penachos:
You're my skinhead girl!
Você é minha garota skin!
Braces, Doc Martens on feet:
Suspensórios e botas Doc Marten no pé:
You're my skinhead girl!
Você é minha garota skin!
Crombie, Ben Sherman shirt:
Capote e camisa xadrezinha:
You're my skinhead girl!
Você é minha garota skin!
Looking good, you're no casual flirt:
Lindo visual, você não é qualquer paquera:
You're my skinhead girl!
Você é minha garota skin!

Got a crew together down the local pub


Juntando a turma no barzinho do pedaço
The pub's full of skinheads having a good time
O bar tá lotado de skins se divertindo
I see this skinhead girl and start chatting her up
Vejo aquela garota skin e vou puxar papo
I'm getting on real well I'm gonna end up making her mine
Ponho na cabeça que ela tem que ser minha

On the way to my mates I've got my girl on my arm


Vou me encontrar com os amigos e ela vem comigo
Town centre's full of wankers got to keep my cool
O centro tá cheio de imbecis, o jeito é manter a calma
I got my 14 holes in case we get any harm
Uso bota de cano alto pro caso de alguma agressão
Trendies laugh in my face but it's them who're the fools
Os boyzinhos riem de mim, mas eles é que são os babacas

///

[3] SKINHEAD GIRL [Mistreat]

The Queen of these filthy streets, always knows what to do


A rainha dessas ruas sujas sempre sabe o que faz
As fast as she can blink the eye, she's gonna scare the hell out of
you
Num piscar de olhos ela deixa você apavorado
She's my sweet little rebel Queen, she's the girl next door
Ela é minha rainha, a doce rebeldinha, a garota vizinha
She looks really hot in her tight blue jeans, she's the girl I've been
[looking for
Ela é mesmo quente no seu jeans justinho, é a garota que sempre
procurei

She's the most beautiful pearl, she's my skinhead girl


Ela é a pérola mais linda, é minha garota skin
Can't even keep my eyes off her, she's my skinhead girl
Nem posso tirar o olho dela, é minha garota skin
Everybody looks after her, she's my skinhead girl
Todo mundo tá de olho nela, é minha garota skin
All the others are just the same, but my babe... they can never tame
As outras são todas iguais, mas meu bem ninguém domestica

She don't care what the others do, don't care what they say
Ela não tá nem aí pro que os outros fazem ou falam
She's the vagabond of these streets, that's the way she lives today
Ela é rueira mesmo, é assim que ela vive
No one can twist her mind, she just wanna make love with her life
Ninguém muda a cabeça dela, ela só quer transar com sua própria vida
When she comes through the night I know, she's the girl I've been
[waiting for
Quando ela pinta na noite, sei que é a garota que sempre esperei

///

[4] SKINHEAD LOVE AFFAIR [Bad Manners]

I met her at a Ballroom gig


Eu a conheci numa gig no Ballroom
She said my braces were too big
Ela falou que meu suspensório era muito grande
I said "I like your 2-tone clothes"
Eu falei que gostava das roupas preto-e-branco dela
She said "I like your broken nose"
Ela falou que gostava do meu nariz quebrado
I bought her a lot of drinks that night
Aquela noite paguei-lhe bastante bebida
She bought me nothing but a fight
Mas ela só me pagou com briga
She said I wasn't Mister Right
Ela falou que eu não era o dono da verdade
It's over, it's over, it's over!
Agora está acabado, está acabado!
It was a skinhead love affair
Foi um caso de amor skin
You know a skinhead love affair
Sabe como é, um caso de amor skin

I took her down to Last Resort


Levei a garota à loja da Last Resort
She stole a shirt, I went to court
Ela afanou uma camisa e eu fui em cana
She said she'd always stand by me
Ela falou que ficaria sempre a meu lado
Even when I did D.C.
Mesmo que eu tivesse que recomeçar
I thought about her everyday
Eu pensava nela todo dia
Like lovers do when they're away
Como amantes que estão distantes
She never came to visit me
Ela nunca veio me visitar
It's over, it's over, it's over!
Agora está acabado, está acabado!

On the day that I got out


No dia em que fui solto
My skinhead weren't about
Minha garota skin não apareceu
She got herself a solger perm
Ela arranjou uma camisa da moda
Joined the Canvey Island Firm
E se juntou a uma facção radical
I got down on bended knee
Eu caí de joelho
And asked her if she'd marry me
E perguntei se ela queria casar comigo
She said "Skinhead can't you see?"
Ela perguntou se eu não percebia
It's over, it's over, it's over!
Que estava acabado, acabado...

Just a skinhead in love


Só um skin apaixonado
Just a skinhead in love
Só um skin apaixonado
A skinhead,a skinhead, a skinhead in love
Um skin, um skin apaixonado

///

[5] BRING BACK THE SKINS [Judge Dread]

Oh dear, not worth while going out...


Ah, benzinho, não vale mais a pena a gente sair...
Don't play much reggae in the clubs...
Não tocam mais reggae nos clubes...
Still, I can still dream...
Mas ainda posso sonhar...

Every Wednesday the papers came out


Toda quarta dava nos jornais
The RECORD MIRROR, best thing about
No RECORD MIRROR, o que tinha de melhor
Brutus, Crombie, he was a lad...
Camisa Brutus, capote Crombie, eu era um rapagão...
When we were skins
Quando a gente era skin

All the dance halls were full of skins


Todas as pistas se enchiam de skins
Sometime yed get yer head kicked in
De vez em quando você levava uns chutes na cabeça
Still one day Reggae will be king again
Um dia o reggae ainda vai reinar de novo
I hope so, anyway.
Pelo menos eu espero
Reggae!

We'd live and die for Friday night


A gente dava a vida por uma sexta à noite
Up to the Palais and have a fight
Lá no Palais pra arrumar treta
Danced the reggae most of the night
Dançávamos reggae pela noite afora
When we were skins
Quando a gente era skin

Above all this our one big hope


Acima de tudo, nossa grande esperança
Was pull a bird and have a groap
Era chegar numa garota e ganhá-la
And if you were lucky she'd take you home
E se você tivesse sorte ela o levava pra casa
When we were skins
Quando a gente era skin

When mama and dad went off to bed


Quando mamãe e papai tinham ido pra cama
You'd stay and maybe have your end away
Você estaria livre pra cair fora
You never know it might come back
Pois nunca se sabe quando pinta outra noitada dessas
When we were skins
Quando a gente era skin

I had a bird with er hair cropped short


Eu tinha uma garota de cabelinho curto
Who put it about, she was quite a sport
Que botava pra quebrar, era bem animada
But that's what your mates were for, we all shared birds
Mas amigos são pra isso, compartilhar a menina
When we were skins
Quando a gente era skin

The stupid tart got in the family way


A babaquinha quis entrar na minha família
Half hours pleasure now I've got to pay
Por meia horinha de sarro acabei tendo que pagar
But that won't change the way I feel
Mas isso não muda o que eu sentia
I'm still a skin
Ainda sou um skin

Music crazes come and go


As ondas musicais vêm e vão
And down the Palais I still make a show
E lá no Palais ainda dou meu show
But all the birds, they're dressin up like something out the forties
Mas as garotas parecem vestidas à moda de outra década

Granny's flowers and the real long skirt


Saia bem longa e flores do tempo da vovó
Stiletto heals I bet they hurt
Saltos que machucam, sou capaz de apostar
And when they dance it's a real cheap thrill
E quando elas dançam é mesmo uma tremenda breguice
But they're not skins
Mas acontece que não são skins

They used to dance all night til 6


A turma dançava a noite inteira, até as seis
To Reggae sounds just like "Big Six"
Ao som de canções como "Big Six"
Those were the days, hope they'd come back
Aqueles foram os melhores dias, tomara que voltem
I really do
Assim espero
Reggae!

We'd live and die for Friday night


A gente dava a vida por uma sexta à noite
Up to the Palais and have a fight
Lá no Palais pra arrumar uma treta
Danced the reggae most of the night
Dançavamos reggae pela noite afora
When we were skins
Quando a gente era skin

Above all this our one big hope


Acima de tudo, nossa grande esperança
Was blag a bird have a crafty groap
Era chegar numa garota e ganhá-la
If you were lucky she'd take you home
Se você tivesse sorte, ela o levava pra casa
And let you in... (of course some chance of that)
E convidava pra entrar... (boa chance, com certeza)

Darling let's have a little bit of luvin'...


Querida, vamos dar uma transadinha...
Cool... That's the way...
De leve... é o jeito...

///

[6] REGGAE FEVER [Pioneers]

Did you read the news


Vocês já leram a notícia
In the daily paper, people?
No jornal do dia, pessoal?
The reggae fever is good! The reggae fever!
A febre do reggae é uma boa! A febre do reggae!

Skinhead braces and big boots


Suspensórios pra skinhead e grandes botas
Is the talk of this town
Estão dando o que falar pela cidade
The reggae fever is good! The reggae fever!
A febre do reggae é uma boa! A febre do reggae!

Every time you read a MIRROR sketch


Toda vez que você lê uma matéria no MIRROR
Skinheads are always at their very best
Lá estão os skinheads fazendo boa figura
It's the fever, yeah! The reggae fever!
É a febre, é isso aí, a febre do reggae!

The simplest thing is...


A coisa é muito simples:
What is this in our little London?
Que é que tá havendo nesta nossa metropolezinha?
It's the fever, yeah! The reggae fever!
É a febre, é isso aí, a febre do reggae!

You can know a skinhead


Você reconhece um skinhead
By the way he skins his head
Pelo modo como ele raspa a cabeça
The reggae fever is good! The reggae fever!
A febre do reggae é uma boa! A febre do reggae!

Don't you try to stop them


Nem tente detê-los
You don't know what it means
Você não sabe o risco que corre
The reggae fever is good! The reggae fever!
A febre do reggae é uma boa! A febre do reggae!

///

[7] SKINHEAD A MESSAGE TO YOU [Desmond Riley]

Don't call me skinhead, my name is John, John the Baptist.


Não me chame de skinhead, meu nome é João, João Batista.
Don't call me skinhead, my name is John, John the Callfoot...
Não me chame de skinhead, meu nome é João, João Chamapé.

Skinhead, a message to you:


Skinhead, um recado pra você:

Wear your boots


Use suas botas
But don't kick nobody. [sic]
Mas não vá chutar ninguém.
Please, be good
Por favor, seja bonzinho
And don't hurt nobody. [sic]
E não vá machucar ninguém.

Music is sweet,
A música é doce,
Come and join the beat.
Venha e entre no ritmo.
Music is nice,
A música é legal,
It makes you feel alright.
Ela faz você se sentir bem.

For the last time, don't call me skinhead,


Pela última vez, não me chame de skinhead,
My name is John the Baptist...
Meu nome é João Batista...

///

[8] PULLING ON THE BOOTS [do filme ROMPER STOMPER, de Geoffrey Wright]

Pulling on the boots and tightening up the laces,


Calçando as botas e amarrando os cadarços,
Shaving their heads and stepping on the faces,
Raspando as cabeças e pisando nas caras,
There you are a skinhead, looking for a fight!
Aí está você, um skin procurando briga!
Skinhead, skinhead, running through the night!
Skinhead, skinhead, circulando à noite!

Skinhead, skinhead, running through the night,


Skinhead, skinhead, circulando à noite,
Making lots of trouble, starting lots of fights,
Perturbando à pampa e provocando um monte de encrenca,
Skinhead, skinhead, getting really pissed,
Skinhead, skinhead, ficando bronqueado pra valer,
Skinhead, skinhead, tattooed on my wrist!
Skinhead, skinhead, tatuado no meu pulso!

Waiting in the lane way, waiting for the scum,


De tocaia na rua, esperando aquela escória,
Especially yellow faces, kick their fucking bum!
Principalmente os [asiáticos] de cara amarela, pra chutar-lhes os
traseiros fodidos!
When they plee for mercy, we will show none!
Quando eles pedem piedade, nós mostramos que não temos!
Skinhead, skinhead, 'til the job is done!
Skinhead, skinhead, até que completemos a tarefa!

Skinhead, skinhead, putting on the boot,


Skinhead, skinhead, metendo a bota,
Looking for a streetfight, looking for a row!
Puxando briga na rua, procurando encrenca!
Skinhead, skinhead, running through the place,
Skinhead, skinhead, rondando pelo pedaço,
Skinhead, skinhead, stomping on your face!
Skinhead, skinhead, pisando na sua cara!

When the coppers see us, at first they pull the gun,
Quando os tiras nos avistam, vão logo sacando as armas,
But when they see us come towards, then they start to run!
Mas quando vêem que a gente avança, eles saem correndo!
When we wear our badges it make us feel proud!
Quando usamos nossos símbolos, nos sentimos orgulhosos!
Skinhead, skinhead, shout it out loud!
Skinhead, skinhead, grite isso bem alto!

Skinhead, skinhead, skinhead, skinhead...

///
[9] SKINHEADS [Condemned 84]

We wear our boots with bright red laces


Usamos nossas botas de cadarço vermelho
Combat greens held up by braces
Calças militares com suspensórios
We've got our hair in a number one crop
Temos cabelo raspado em máquina um
We'll kick you in the head until you drop
Vamos chutar sua cabeça até você cair.
We're on the streets looking for a fight
Estamos na rua procurando briga
We are down the pub every night
Vamos pro bar todas as noites
We hate the soulies, mods and teds
Odiamos funkeiros, mods e boyzinhos
All we like is kicking heads
Só gostamos de chutar cabeças

Skinheads, skinheads rucking in the night


Skinheads, skinheads, badernando pela noite
Skinheads doing every one in sight
Skinheads dando em cima de quem pintar pela frente
We're all skinheads through and through
Somos todos skins pro que der e vier
We're all skinheads, who the fuck are you?
Somos todos skins: e você, que diabo é você?

The Union Jack is our flag


Nossa bandeira é a da pátria
When we wear it, it makes us proud
Quando a usamos, sentimos orgulho
And when the commies slag us down
E quando os comunas nos desmoralizam
We kick 'em all to the ground
Nós os chutamos ao chão

///

[10] THE BOOTS GO MARCHING IN [Condemned 84]

Everybody's out on a Friday night


Sexta-feira à noite todo mundo sai
Boots on their feet, feeling just right
Calçando bota e de moral lá em cima
On their way to places where everybody meet
A caminho dos pontos onde todos se cruzam
Looking your best, knowing you're the elite
No melhor visual, sabendo que você tem classe
The night might be young but your numbers mount
A noite é criança e a tropa só aumenta
Cause tonight is the night when it all counts
Pois esta é a noite decisiva
There's no need to ask what it's all about
Nem precisa perguntar qual é o lance
At the end of the night we'll all shout
Quando a noite acabar, gritaremos todos juntos

We'll go marching on to win!


Seguiremos marchando para vencer!
With our boots we'll go marching in!
Entraremos marchando com nossas botas!
And with our boots go marching in!
Com nossas botas entraremos marchando!
And with our boots go marching in!
Com nossas botas entraremos marchando!

Gangs on the corners, looking for trouble


Turmas nas esquinas, procurando encrenca
No hesitation they've all got the bottle
Todos de cara cheia e sem fraquejar
Soulboys on the left and bikers on the right
Funkeiros à esquerda, motoqueiros à direita
All psyched up, looking for a fight
Todos de cabeça quente e loucos pra brigar
We are the ones whose go the suss ?
Somos os únicos conscientizados
And if they've got any sense, they won't pick on us
Se eles tiverem juízo não vão se meter com a gente
The one at the front given in the mouth
Só nós temos voz ativa no pedaço
But at the end of the night we'll all shout
Quando a noite acabar, gritaremos todos juntos

///

[11] CHAOS [4-Skins]

Do you remember the days in 69?


Você se lembra dos tempos de 69?
Seeing all the skinheads standing in a line
Vendo a carecada toda perfilada
Foaming at the mouth, waiting for a fight
Espumando pela boca, esperando pela briga
High boots, cropped hair, what a fucking sight!
Bota de cano alto, cabelo raspado, que cena do caralho!

Come back of the skinhead, come back of the boot!


Que venha de volta o skin, que venha de volta a bota!
People that we don't beat up we're gonna fucking shoot!
Quem a gente não pegar de pau, a gente fode à bala!
We are the new breed, [and] we will have our say!
Somos a nova estirpe e vamos ter nossa voz!
We are the new breed, we ain't gonna die!
Somos a nova estirpe e não vamos morrer!

Down in East London, trouble on the streets


Pela Zona Leste, encrenca nas ruas
On the street corners where the gang still meets
Nas esquinas onde a gangue ainda faz ponto
Talking about the weekend: What they're gonna do?
Falando do fim-de-semana e do que vão aprontar
If you ain't careful they're gonna do you!
Se não tomar cuidado, eles aprontam com você!

Chaos in the city! Civil war now!


Caos na cidade! Guerra civil já!
Skinheads now wanna do it, skinheads know how!
Os skins já querem aprontar, e sabem como!
Skinhead with his boots on, nobody's fool
O skin calça bota, que ninguém é bobo
Skinheads taking over, chaos is the rule!
Skins tomando conta, é a lei do caos!

Chaos! Chaos! Chaos! Don't give a toss!


Caos! Caos! Caos! Ninguém tá nem aí!

///

[12] CLOCKWORK SKINHEAD [4-Skins]

Wearing braces, the red, white, and blue


Usando suspensórios nas cores da pátria
Doing what he thinks he ought to do
Fazendo o que acha que é seu dever
Used to be a punk and a mod too
Ele já foi punk e também mod
Or is it just a phase he's going through
Será que agora é outro fogo-de-palha?

He's a Clockwork skinhead, just a clockwork skinhead


Ele não passa dum skin robotizado
Clockwork skinhead -- got no choice
Skin robotizado, sem escolha
He's a Clockwork skinhead, just a clockwork skinhead
Ele não passa dum skin robotizado
Clockwork skinhead -- One of the boys!
Skin robotizado -- um entre muitos

Take him to the pub, buy him a beer


Ponha o cara num bar, pague-lhe uma cerveja
Tell him what he wants to hear
Converse com ele sobre o que ele quer ouvir
Wind him up like clockwork toy
Dê-lhe corda como se ele fosse um boneco
Wants to be a man but he's just a boy
Ele quer ser homem mas não passa dum menino

Believes everything the papers say


Ele acredita em tudo que sai no jornal
What's he gonna be today?
Que será que ele vai virar hoje?
What is it hip to be?
Que é que tá mais na moda ser agora?
Will he be himself or will he copy me?
Será que ele vai ser ele mesmo ou vai me imitar?

///

[13] BACK WITH A BANG [Skrewdriver]

Do you remember in the summer,


Você tá lembrado daquele verão
Back in nineteen seventy eight?
Naquele ano de 78
When they reckoned that the Skinhead's days were numbered
Quando se achava que a época dos skins já tinha passado
And the papers dripped with liquid hate,
E os jornais destilavam veneno
Being Patriotic's not the fashion, so they say,
Ser patriota não tá mais na moda, é o que dizem
To fly your countries' flag's a crime,
Levantar bandeira da pátria agora virou crime
But the spirit lives until the end of time.
Mas o espírito sobreviverá até o fim dos tempos
'Cos we're...
Pois nós estamos...

Back with a bang now,


De volta, agora com força total
Back with the gang now,
De volta, agora com a turma toda
Back with a bang now,
De volta, agora com força total
Back with the gang now, 2, 3, 4...
De volta, agora com a turma toda...

They reckoned every Skinhead was a bad man,


Achavam que todo skinhead era mau caráter
Enough to make an honest man be sick,
É de dar nojo num homem honesto!
And they fill their papers with this rubbish every day,
E todo dia se enchem os jornais com essa bobagem
Never miss a dirty little trick.
Nunca perdem a chance de fazer aquele joguinho sujo
One little thing is that we're...
Só que tem uma coisinha...

And still today they keep on lying,


Até hoje insistem nessas mentiras
Four years on and they still ain't learned,
Já faz quatro anos e eles não aprendem
That the Skinhead way of life is getting stronger everyday,
Que o modo de ser do skin vai se fortalecendo a cada dia
And we are never gonna turn.
E nós nunca recuaremos
I'll say we're...
Só vou dizer uma coisa...

///

[14] BOOTS AND BRACES [Skrewdriver]

Trying to figure out just what to do


Só pra dar uma idéia do que se pode fazer
Wonder what the future holds for you
É o caso de perguntar o que é que o futuro lhe reserva
Being in a cult is part of growing up today
Estar num movimento faz parte da vida de quem já não é mais criança
Drifting 'round the streets you're living your life your own way,
Pairando em torno das ruas por onde você leva a vida do seu jeito,
In your...
Nas suas...

Boots and braces, shaven-headed hoards


Botas e suspensórios, hordas de cabeças-raspadas
Boots and braces, fighting 'cos you're bored
Botas e suspensórios, brigando porque você já está de saco cheio
Boots and braces, you'll always get the blame
Botas e suspensórios, você vai sempre levar a culpa
Boots and braces, we'll come in just the same
Botas e suspensórios, vamos entrar na parada como sempre entramos

Wearing your Ben Sherman in the sun


Vestindo sua camisa Ben Sherman durante o dia
Trying to figure out just who to run
Só matutando com quem se juntar
Levi jeans, Doc Marten boots, and just hear the skinhead roar:
Jeans Levi's, botas Doc Marten, e é só escutar o vozeirão dos skins:
Skinhead!
No one stands against us, 'cause we've beat 'em all before
Ninguém agüenta ficar contra nós, porque já pegamos todo mundo

Try and get you banned from everywhere


Querem expulsar você de tudo quanto é lugar
'Cos you wear your boots and you cut your hair
Só porque você usa botas e raspa o cabelo
They would rather see you in a dirty old Afghan
Preferiam ver você parecendo um afegão velho e sujo
If you were a Left-wing hippie, you won't face no ban
Se você fosse um hippy de esquerda não sofreria qualquer perseguição

///

[15] HURRY UP HARRY [Sham 69]

Come on! Come on!


Vamos! Vamos!
Hurry up Harry! Come on!
Depressa, vamos!
We're going down the pub!
Estamos indo pro bar!

Now listen here Harry


Escute aqui, Harry
If we're going down the pub
Se estamos indo pro bar
You'd better tell your mum and dad
Melhor você avisar sua mãe e seu pai
And finish up your grub
Mas antes termine de comer
I wish you'd listen to me
Eu queria que você me escutasse
No, I don't want a cup of tea
Não, eu não quero uma xícara de chá

You're telling me to grow up


Você fica falando que eu preciso crescer
But Harry don't you see
Mas Harry, será que não percebe?
If I tried to act my age
Se eu tentasse agir de acordo com minha idade
I wouldn't be me
Eu não seria quem sou
We never do anything
Nós nunca fazemos nada
So now's the time to begin
Então chegou a hora de fazer algo

You don't have to tell me


Você não pode ficar me dizendo
That the things I do are wrong
Que eu só faço coisa errada
But everything I do in life
Mas tudo que faço na vida
Is with us right or wrong
É em grupo, certo ou errado
Now I think I understand
Agora acho que entendo
How to have some fun
Como devo fazer pra me divertir

///

[16] VIOLENCE IN OUR MINDS [Last Resort]

I was walking down the road with a dozen pals of mine


Eu andava pela rua com minha turma
Looking for some aggro, just to pass the time
Procurando uma tretinha só pra passar o tempo
We met a stupid hippy who tried to run away
Topamos um hippy idiota que quis correr
But I punched him in the nose just to pass the time of day
Mas amassei o nariz dele só pra ganhar o dia

Great big boots, great long laces


Botas grandonas com cadarços grandões
Our jeans held up by scarlet braces
Suspensórios
vermelhos segurando nossos jeans
Get out of our way or get took for a ride
Saia do caminho ou a gente pega você
We've just got violence in our minds
A gente só tem violência na cabeça
In our minds, we've got violence in our minds
Na cabeça, a gente tem violência na cabeça
Violence, ultra-violence, violence in our minds
Violência, ultraviolência, violência na cabeça

Wake up in the morning, have me ready brek


Acordo de manhã, o café tá pronto
I drink me cup of Bovril and wring my mother's neck
Engulo o caldo e faço um agrado na mamãe
I stroll into town and beat a Soul Boy black and blue
Saio pela cidade e dou um cacete num nego da turma do soul
Put a fruit gum in the meter cos there's fuck all else to do
Enfio chiclete no parquímetro na falta de outra coisa pra fazer

We go to football matches, we always have a laugh


Vamos pro estádio e sempre temos motivo pra rir
We always get some bovver in, before the second half
Sempre pinta alguma briga por ali antes do segundo tempo
We really have a smashing time, we really have some fun
Fazemos nosso programão e nos divertimos paca
Especially when the odds are ours 25 to 1, to 1
Principalmente quando as chances são 25 a 1 a nosso favor...

///

[17] SKINHEAD [Combat 84]

We will never fade and die


Nós nunca vamos ser extintos
Whatever you try to do
Seja lá o que você faça
We're the first of today
Somos os primeiros de hoje
And the last of tomorrow
E os últimos de amanhã
Skinhead's not a fashion
Skinhead não é uma moda
It's a way of life
É um modo de vida

Skinhead skinhead never give up


Skinhead, skinhead, não entregue os pontos
Stick together and act as one
Se junte e aja unido
You never never never give up
Você nunca entrega os pontos
You stick together and act as one
Você se junta e age unido

You see us on the telly


Você nos vê na TV
You read about us in the news
Você lê sobre nós no jornal
We will never fade and die
Nós nunca vamos ser extintos
Whatever you try to do
Seja lá o que você faça

///

[18] OI! OI! OI! [Cockney Rejects]

Hear that cry throughout the streets? We know just what it means
Tá ouvindo aquele grito pelas ruas? Sabemos bem o que significa
And even to the ignorant, it ain't what it seems
Até quem tá por fora não se ilude com isso
From every scene and fashion, the kids from all around
De tudo quanto é cena ou moda a molecada vem chegando
They all come and join the fun because they know that sound
Todos vêm se juntando porque sacam esse som

They will try to ignore us, but we won't let them win
Eles vão nos menosprezar, mas não deixaremos que vençam
The wankers try to put us down, but we will smash them in
Os imbecis querem nos derrubar, mas vamos rechaçá-los
Because we all say that they are full of shit
Porque todos dizemos que eles não estão com nada
And we're running down the backstreet! (Oi! Oi! Oi!)
E vamos tomar conta das quebradas!
And we're running and we're free! (Oi! Oi! Oi!)
E vamos em frente, que somos livres!
Because we all know that that's the sound of the streets
Porque sabemos todos que esse é que é o som da rua
And we're running down the backstreet! (Oi! Oi! Oi!)
E vamos tomar conta das quebradas!
We got our Martens on our feet! (Oi! Oi! Oi!)
Estamos de bota no pé!
And you're all running down the backstreet with me
E vocês todos vêm pras quebradas comigo

The kids they come from everywhere, the East End's all around
Os moleques vêm de todo canto, a Zona Leste tá por todo lado
Because they all know just what it means when they hear that sound
Porque todos sacam bem quando escutam esse som
Do you know what to do when you hear the call?
Sabe o que fazer quando você ouve o chamado?
Put your boots and Harrington and kick down that fuckin' wall
Calçar botas e jaqueta e meter o pé na parede

You can listen to the politicians, they'll nail you to a stake


Se der ouvidos aos políticos, eles vão ferrar você
You're gonna see the light and you're gonna see the way
Você vai ver que há luz no fim do túnel
And we all know that there's nothing like us
E todos sabemos que nada se compara a nós
And we're running down the backstreet! (Oi! Oi! Oi!)
E vamos tomar conta das quebradas!
And we're never giving in! (Oi! Oi! Oi!)
E nunca vamos entregar os pontos!
Because we all know that we're gonna fuckin' win
Porque todos sabemos que vamos vencer essa porra
And we're running down the backstreet! (Oi! Oi! Oi!)
E vamos tomar conta das quebradas!
And we're here to stay! (Oi! Oi! Oi!)
E viemos pra ficar!
And we all know that the firm are on their way
E todos sabemos que a galera vai nessa

///

[19] URBAN SOLDIERS [Oppressed]

Urban soldiers back out on the streets


Soldados urbanos de volta às ruas
Kids in braces with their hair cropped neat
Moleques de suspensório e cabelo bem raspado
You don't know them, but you know their name
Você não os conhece mas sabe o nome deles
Bootboys, suedeheads, they're all the same
Botinudos, cabeças-de-camurça, é tudo a mesma coisa

Urban soldiers! On the streets!


Soldados urbanos na rua!
Urban soldiers! Kids you meet!
Soldados urbanos, moleques como os que você encontra!
Urban soldiers! They won't run!
Soldados urbanos, eles não vão correr da raia!
Urban soldiers! From no-one!
Soldados urbanos, não correm de ninguém!
'Cos they're skinheads! Skinheads! Skinheads! Skinheads!
Porque eles são skinheads!

Up the town for a drink on a Friday night


Indo ao centro pra beber na sexta à noite
They'll be ready if you start a fight
Eles estão prontos pra briga se alguém provocar
They're the new breed and they get stuck in
São a nova estirpe e vão ficar firmes
Urban soldiers, they're gonna win
Soldados urbanos, eles vão vencer

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[20] JOE HAWKINS [Oppressed]


See him walking down the street
Olha lá ele andando pela rua
Doctor Martens on his feet
De bota Doc Martens no pé
Levis jeans, Ben Sherman shirt
Calça Levi's e camisa Ben Sherman
Fuck with him and you'll get hurt
Vai se meter com ele que você sai machucado

He's a skinhead, he don't [sic] care


Ele é um skin e não tá nem aí
Marten boots and short cropped hair
Bota Doc Marten e cabelo raspado curto
He's a skinhead and he don't care about you
Ele é um skin e não tá nem aí pra você

Walking down on Brighton pier


Andando pelo cais de Brighton
Long-haired hippies are filled with fear
Faz os hippies cabeludos tremerem de medo
Crunch of bone as the boot goes in
Tem osso quebrando se a bota acerta
Joe's so proud to be a skin
Joe tem muito orgulho de ser skin

Prison couldn't change his ways


Nem a prisão vai mudar sua conduta
Skinhead's back he's here to stay
O skin tá de volta e veio pra ficar
So if you think you've got the suss
Por isso, se você se acha consciente
(Then) be a skinhead, be like us
Trate de ser um skin como nós

Who is he then?
Então, quem é ele?
He's the king, (the) king of the skins
Ele é o rei dos skins
What's his name? Joe Hawkins!
Qual o nome dele? Joe Hawkins!

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[sumário de canções]

[1] SKINHEAD GIRL [Symarip]


[2] SKINHEAD GIRL [Battlezone]
[3] SKINHEAD GIRL [Mistreat]
[4] SKINHEAD LOVE AFFAIR [Bad Manners]
[5] BRING BACK THE SKINS [Judge Dread]
[6] REGGAE FEVER [Pioneers]
[7] SKINHEAD A MESSAGE TO YOU [Desmond Riley]
[8] PULLING ON THE BOOTS [do filme ROMPER STOMPER, de Geoffrey Wright]
[9] SKINHEADS [Condemned 84]
[10] THE BOOTS GO MARCHING IN [Condemned 84]
[11] CHAOS [4-Skins]
[12] CLOCKWORK SKINHEAD [4-Skins]
[13] BACK WITH A BANG [Skrewdriver]
[14] BOOTS AND BRACES [Skrewdriver]
[15] HURRY UP HARRY [Sham 69]
[16] VIOLENCE IN OUR MINDS [Last Resort]
[17] SKINHEAD [Combat 84]
[18] OI! OI! OI! [Cockney Rejects]
[19] URBAN SOLDIERS [Oppressed]
[20] JOE HAWKINS [Oppressed]

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