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Lurker
O misticismo é algo que sempre desafiar os conceitos existentes com a
esteve muito associado ao Satanismo. proposta de um novo calendário para as
Demasiado até, atrevo-me a dizer. É im- estações do ano e correspondentes mo-
portante existir uma carga mística em mentos marcantes associados? É com o
redor do Satanismo, de onde podemos desafio das normas estabelecidas que
retirar forças latentes na nossa mente e alargamos também as fronteiras da nos-
aproveitá-las em nosso próprio favor. sa própria percepção.
Mas não à custa de um folclore desen- Esta é também a primeira edição
freado que torna qualquer sentimento deste novo ano, que esperamos ser re-
mais nobre numa amálgama de referên- cheado de muitas e proveitosas con-
cias que percorrem a história, múltiplas quistas, nos terrenos em que nos move-
religiões e crenças. Satanismo é realida- mos. E se por vezes o que se consegue
de, não é fantasia. Assim como o misti- é menos visível ou publicável, não quer
cismo. dizer que seja menos saboroso.
Mas nada impede que realidade e Hail Satan!
fantasia não coexistam. Aliás, qualquer
realidade é fantasia até ser concretizada,
e o Satanista sabe utilizar esse artifício
com mestria. Mesmo a base ritualista do
Satanismo é baseada na visualização, Ficha Técnica
na projecção de uma realidade que não Infernus XII
existe ainda, mas que pretendemos que
venha realmente a concretizar-se. Uma Editor: Lurker
realidade que existe ainda apenas na
nossa mente, e que a partir desse mo- Produção: Fósforo, Colectivo Criativo
mento estaremos mais aptos a torná-la
física, palpável, real. Numa palavra, Equipa Editorial: Black Lotus, Outubro,
uma fantasia que queremos tornar rea- Mosath, BM Resende ÍNDICE
lidade.
Serve isto para enquadrar o tema Colaboradores: Devis, Lupum, Assas- Equinócios, Solstícios e Estações ----4
central desta nova edição da Infernus sIIn, KingChaos Lurker
– a Mitologia. Porque, em muitos caos,
o mito percorre o percurso inverso do Revisão: Metzli Bem-vindos ao Mundo “Djinn”----- 7
referido anteriormente: começa por King Chaos
uma realidade que é complementada Créditos das Imagens:
com uma boa dose de fantasia para que, - CAPA: AssassIIn (http://assassiin.deviantart.com) Snuff - Mito ou Realidade ----------- 10
mais tarde, se torne difusa a fronteira - Pág. 4: Marcel Rotzinger (http://dawn42.deviantart.com/) Lupum
entre o que realmente aconteceu e o que - Pág. 7: Erin Lamoreux
gostaríamos que tivesse acontecido. Tal- (http://bongoshock.deviantart.com/) Arlequim Diabólico ------------------- 16
vez seja esse o propósito do mito – levar - Pág. 8: Christine McNamara Devis DeV deviLs g
mais além a fronteira da realidade, do (http://littlegoblet.deviantart.com/)
plausível, do aceitável, para que possa- - Pág. 10 e 11: Peter Hrynkiw O Satanismo Através dos Tempos - 18
mos transcender-nos em busca da apro- (http://jackswastedart.deviantart.com/) Draconis Blackthorne
ximação da nossa própria realidade ao - Pág. 12: Xharay Navarro
mito passado de geração em geração. (http://xnphotography.deviantart.com/) O Convite -------------------------------- 25
Visualização, projecção, e temos o círcu- - Pág. 13: Kristìn Andreas Outubro
lo a completar-se. (http://mangaaisonfire.deviantart.com/)
Considerações aparte, há muito - Pág. 14: Xharay Navarro Entrevista Pedro Silva ---------------- 27
mais no Satanismo do que apenas o que (http://xnphotography.deviantart.com/) Lurker & Black Lotus
decorre desde 1966 até hoje. Podemos - Pág. 16: “Il Diavolo e Arlecchino” (ilustração medieval)
perceber um pouco melhor isso na tra- - Pág. 18: Julien Olry (http://julien57000.deviantart.com/) In Otin Ihuan In Tonáltin
dução de um ensaio de Draconis Bla- - Pág. 25: Matjaz Tancic (http://2raven.deviantart.com/) Nicam Tzonquíca --------------------- 32
ckthorne que percorre vários séculos de - Pág. 26: Carmacao (http://carmacao.deviantart.com/) BM Resende
História em torno de um eixo comum, - Pág. 32 e 33: Jaime Jasso (http://jjasso.deviantart.com/)
assim como em vários outros artigos - Pág. 34: Carlos Ortega (http://stroggtank.deviantart.com/) Ficheiro Mitológico sobre Set ------ 36
dos nossos Membros e colaboradores. - Pág. 35: Gonzalo Arias (http://genzoman.deviantart.com/) Mosath
O nosso país tem também um historial - Pág. 36: Sara Strand (http://www.silvestris.net/)
mitológico muito rico, e isso fica latente - Pág. 37: Thomas Dorman
na conversa com Pedro Silva, autor de (http://dr-benway.deviantart.com/)
diversos livros que focam o nosso mito - Pág. 38: arquivo da National Geographic
e mística. Para finalizar, porque não - Pág. 41: arquivo da National Geographic
3 ~ Infernus XII
Equinócios, Solstícios
e Estações do Ano Lurker
Quando não estamos satisfeitos com alguma coisa procu- Desde muito cedo que o alinha-
mento da publicação da Infernus
ramos uma alternativa que corrija esse desvio. Parece-me uma com os Equinócios e Solstícios to-
mou forma. Diria talvez que desde o
boa prática para o pensamento e acção satânicos, mesmo que primeiro momento em que a semen-
te da ideia de uma revista em Por-
a tarefa em causa seja mudar um calendário milenar. De qual- tuguês totalmente dedicada ao Sata-
nismo foi plantada no terreno fértil
quer forma, mesmo o mais longo dos percursos começa com um das nossas mentes. E, ao longo dos
anos em que essa ideia se transfor-
simples passo, por isso porque não tomá-lo desde já e ver onde mou na realidade que alberga agora
estas linhas, um sentimento de des-
este caminho nos leva? conforto foi crescendo até se tornar
4 ~ Infernus XII
Lurker
insuportável e ter que ser purgado mais quente do ano com o dia teori- sentem o seu apogeu. Desta forma a
através de uma tentativa de corrigir camente mais quente do calendário, coerência do que se pretende repre-
o que está na sua génese – porque indo a partir dessa altura decaindo sentar com as estações do ano é pre-
só eliminando o problema pela raiz o número de horas de exposição so- servada, assim como os momentos
poderá ele alguma vez ser resolvido. lar até ao Equinócio de Outono? A marcantes do calendário solar.
Associada à celebração de um mim também não, devo confessar. Como é possível ver na figura
evento solar muito especial, a partir
do qual a maioria dos calendários
foi criada, foram também criadas o
que hoje chamamos das estações do
ano. Nomenclaturas simples, com
o propósito inerentemente humano
de catalogar tudo o que nos rodeia,
que definem um conjunto de traços
característicos pelos quais é possível
padronizar o ciclo natural da vida:
gestação e nascimento, crescimen-
to e floração, apogeu e frutificação,
declínio e morte. Ou, por outras pa-
lavras, Inverno, Primavera, Verão e Parecer-me-ia muito mais lógico 1, teríamos um Inverno que se es-
Outono. que o dia teoricamente mais quente tenderia desde 6 de Novembro até
Não é aqui que reside o incómo- do ano representasse o apogeu da 5 de Fevereiro, uma Primavera de 6
do, seria porventura relevante revi- estação mais quente do ano, assim de Fevereiro até 5 de Maio, um Ve-
sitar estas próprias definições, mas como o dia teoricamente mais frio rão de 6 de Maio até 5 de Agosto e
não é isso que está aqui em causa. representaria o apogeu da estação um Outono de 6 de Agosto até 5 de
O enfoque deste pensamento não mais fria do ano, sendo o mesmo Novembro, cada estação centrada no
o quê, mas quando. Porém, iremos raciocínio aplicados aos Equinócios seu respectivo Equinócio ou Solstí-
abordar o quando de duas perspec- respectivos. cio. Um harmónico perfeitamente
tivas diferentes. Retomemos como exemplo o definido, com o seu apogeu no even-
Começando pela questão de Solstício de Verão e a estação de to celeste relevante, procurando
princípio da definição de Solstício e onde obtém o seu nome: inicia-se no uma melhor distribuição dos concei-
Equinócio. O primeiro pode ser re- final de Junho e prolonga-se até final tos associados a cada estação do ano
duzido ao momento no ano em que de Setembro. Para nós, povo latino nos meses respectivos. Uma melhor
o número de horas de exposição so- e mediterrâneo, o calor que instin- distribuição do tempo para reflectir
lar no dia se maximiza ou minimiza, tivamente associamos à estação do a realidade do que nos rodeia. No
enquanto o segundo representa o ano em causa tem na realidade o seu entanto, não é suficiente...
momento de equilíbrio no ano, em apogeu no mês de Julho, iniciando- O que nos leva à segunda pers-
que o número de horas de exposição se bem antes e tendo em Agosto um pectiva de abordar o assunto do
solar é o mesmo das horas noctur- mês tipicamente de declínio desse quando, referida anteriormente. As
nas. Representam portanto momen- período estival. Não será uma paró- alterações que introduzimos no am-
tos marcantes durante o calendário dia de tempos idos chamar Verão a biente levaram ao extremar das con-
anual: o dia mais longo (e, portanto, Agostos repetidamente chuvosos e dições atmosféricas e climatéricas
teoricamente também um dos mais Setembros frios e sombrios? Não te- em que vivemos, prolongando os
quentes), o dia mais curto (que em remos já mudado de tal forma o am- pontos mais distantes do equilíbrio
exercício análogo, seria teoricamen- biente que nos rodeia que tenhamos em detrimento deste balanço transi-
te um dos mais frios) e os dias de que alterar também o calendário tório. Desta forma, o calor do Verão
equilíbrio, marcando a transição de pelo que nos regemos? alargou-se, assim como a chuva do
um extremo para o outro. Mas, o que Portanto, a minha primeira su- Inverno, encurtando-se as transições
encontramos quando olhamos para o gestão de alteração é desfasar as es- do Outono e da Primavera. O que fa-
calendário actual? Uma incoerência. tações do ano para que não se ini- zer então? Como introduziu Darwin:
Usemos como exemplo o Verão: ciem nem terminem em Equinócios adaptar-se para sobreviver!
parece-vos lógico iniciar a estação e Solstícios, mas que estes repre-
5 ~ Infernus XII
Equinócios, Solstícios e Estações do Ano
Cada cultura/religião possui a sua Djinn do Árabe “Jin”, possuí em criaturas com virtudes e defeitos, nas
Mitologia, fruto dos seus medos, de- português o equivalente a grosso modo “hierarquias sobrenaturais” são con-
sejos, catástrofes, milagres, objectivos de “Génio”! O Djinn provém de uma siderados inferiores tanto em ralação
alcançados ou fracassados e de outras raça de seres sobrenaturais, os Djinni, aos Anjos (pois estes possuíam apenas
coisas que tais. Como tal e natural- remetente a Djanna (do Árabe), que a face da obediência) como aos Demó-
mente, existem mitos e mitologias mais significa coisa dissimulada ou invisí- nios (pois não eram tão maus nem po-
exaltadas publicamente do que outras, vel. Têm origem na Mitologia Árabe e derosos quanto os mesmos). No entan-
o que não significa que se sobreponham mais tarde são “assimilados” pelo Isla- to e relativamente aos segundos, eram
entre elas, uma vez que a sua importân- mismo. A sua presença é notada por di- igualmente detentores de uma enorme
cia depende sim de quem as estuda, vive versas vezes no Alcorão, inclusive, para força e astúcia que usariam sem hesitar,
e ou venera, como é óbvio. além de constantes referências suas nos independentemente do meio, para atin-
textos sagrados, existe uma Sura (capí- girem os seus objectivos. Após domínio
Há uns tempos atrás aluguei um fil- tulo do Alcorão) inteiramente dedicada Islâmico e por influência do mesmo, a
me em VHS, de nome “Djinn - O Senhor aos Djinni, a “Al-Jinn” (Sura nº 72). alguns dos Djinni foram-lhes progres-
dos Desejos” (“Wishmaster”). O filme A história desta “espécie”, segundo sivamente retiradas as suas “qualida-
não era uma super-produção mas a rezam diversas escrituras, é já milenar, des” ficando assim criaturas negras e
sua história despertou-me o interesse e os Djinni são criaturas antiquíssimas enraivecidas, aos restantes foram-lhes
como tal resolvi pesquisar sobre a cria- postas a vaguear no paraíso há cerca de conservada a capacidade de ajuda e
tura. Espanto o meu quando descubro quatro mil anos atrás, dois mil anos an- interacção com os homens, embora na
que Djinn é muito mais do que um sim- tes da criação de Adão. Alá fê-los de ar maior parte das vezes estes o façam
ples fato de látex avermelhado, proprie- e fogo razão pela qual se diz que estes para proveito e gozo próprio e não pela
dade de um estúdio de cinema qualquer podem assumir todo o tipo de formas afinidade com a inferior espécie!
de Hollywood. De facto, Djinn é uma animadas e inanimadas, inclusive a Aquando da criação de Adão, Alá
criatura ancestral da Mitologia Árabe humana, podendo assim permanecer e ordenou que os Djinni se curvassem pe-
Pré-islâmica, uma personagem supra- caminhar “camuflados” entre nós sem rante o recém-criado ser, no entanto es-
humana e mais do que isso,neste caso é que possam ser detectados, ou então tes refutaram a ordem, dada a sua “an-
um “semi-demónio”, não porque é feio simplesmente permanecerem ocultos tiguidade” no Paraíso e sob o comando
mas porque fluentemente é persuasivo, no ar que nos rodeia a observarem a seu e liderança de Iblis (o actual equivalen-
e maléfico até, nos seus actos e propósi- belo prazer a nossa sociedade. A prin- te cristão de Satan), um dos mais “ne-
tos, pode causar dor e desespero onde cípio, ainda antes da chegada do Isla- gros” Djinni caracterizado como sendo
se encontra mas... já lá vamos! mismo ao mundo Árabe os Djinni eram orgulhoso e ciumento do poder de Alá,
7 ~ Infernus XII
Bem-vindos ao Mundo “Djinn”
8 ~ Infernus XII
King Chaos
mundo em que vivemos, sempre que Já a exibição dos filmes é um pro- vestigações, os boatos começaram a
há procura, há oferta”. Isto é próximo cesso mais complicado. Para ver um surgir.
da Lei da Oferta e da Procura! Não es- snuff, só em grandes cidades, como A palavra snuff, na gíria, significa
tará Joe certo? Nova Iorque, Amesterdão e Tóquio, morte e foi largamente utilizada no
Joe garante que viu um snuff ver- dizem outros. livro A Laranja Mecânica de Anthony
dadeiro, em 1982, em Dallas (EUA). Na Tailândia, há informações so- Burguess.
Segundo ele, uma boa parte dos filmes bre bares underground onde seriam O célebre Holocausto Canibal
snuff seriam produzidos na América exibidos e fala-se que em São Paulo é (1980) de Ruggero Deoadato foi con-
do Sul, especialmente na Colômbia, possível ver um snuff por 100 Reais. siderado, durante muito tempo, um
onde a máfia da cocaína manteria es- Mas nada foi provado até hoje! genuíno filme snuf”. Soube-se mais
quadrões para exterminar viciados e Foram agentes do FBI os primeiros tarde que a extrema violência gráfica
usurpadores, que atrapalhariam o co- a partilhar informações para jornais do filme (mortes, desmembramentos,
mércio de cocaína. Filmar os crimes como Los Angeles Times, USA To- actos canibais…) nada teve de real,
seria apenas uma maneira de ganhar day, Chicago Tribune e San Francisco excepto a morte de alguns animais!
dinheiro extra. Chronicle. Depois das primeiras in- No entanto, durante as últimas
13 ~ Infernus XII
Snuff - Mito ou Realidade?
duas décadas, têm surgido, de quan- bramentos...). ser considerado snuff, pois não são
do em vez, notícias de supostos filmes O actor achou tão real que entre- mortes para um propósito descrito
snuff reais, ou seja, com cenas de tor- gou Flower of Flesh and Blood (título anteriormente. Soube-se, há relativa-
tura, mutilações, muito sangue, cani- do filme) ao FBI para averiguar a au- mente pouco tempo, que em Faces of
balismo e mortes horrendas de pesso- tenticidade e origem do filme. Afinal, Death algumas mortes foram encena-
as captadas em vídeo, para venda em o que Charlie Sheen vira fazia parte das com efeitos especiais associados,
circuitos underground e satisfação de de uma série de filmes de terror ja- mas independentemente da veraci-
clientes mentalmente desequilibrados ponês cuja particularidade era o abu- dade das imagens exibidas, estas não
(e sádicos em último grau). so do gore e dos efeitos especiais de deixam de ser bastante perturbado-
Rumores indicam que o mercado grande impacto e realismo. Mas a dú- ras, sendo banida a sua comercializa-
dos snuff movies é controlado por di- vida mantém-se e com o advento da ção em diversos países.
versas máfias, nomeadamente a japo- internet, ainda mais: os snuff movies Faces of Death não é um filme fácil
nesa, muito dada ao culto das excen- existem mesmo ou são meras especu- e muito menos para qualquer um.
tricidades e depravações. lações que enriquecem o imaginário Para quem não conhece Mark L.
Daí que há alguns anos tenha da cultura popular? Rosen foi o grande responsável pelo
sido badalado o caso do actor de Um dos filmes que parecia retra- The Texas Chainsaw Massacre, de
Hollywood Charlie Sheen. Sheen viu tar um pouco o snuff seria o Faces of 1974 da Bryanston Pictures. Esse filme
um filme asiático numa velha cassete Death. serviu de base, segundo algumas re-
VHS com cenas de grande violência e São filmadas mortes reais que vistas da época para se falar de filmes
brutalidade (decapitações, desmem- ocorrerem no dia-a-dia, mas não pode snuff.
Mark fala de diversos episódios
pós filme e conta que foi contactado
por umas pessoas das Filipinas, que
diziam que já tinham feito filmes do
género, no sentido de realizar um
verdadeiro snuff. Proposta recusada
imediatamente pelo próprio, mas aqui
questiono-me eu, se as pessoas o con-
tactaram e ele recusou, porque não se
dirigiu à polícia?
Mark fala também de um caso,
dado a conhecer por Jason Burke. Um
caso em que se pode falar de snuff.
Com Dmitri V. Kuznetsov, um
russo a quem se encomendavam fil-
mes snuff, as crianças foram abusadas
e mortas para a objectiva. Muitos dos
seus clientes eram italianos, mas ha-
viam clientes de muitos outros sítios.
Cada filme era vendido entre £300
e £4,000, dependendo do tipo de filme.
Il Mattino, um jornal italiano, chegou
a publicar um excerto de uma conver-
sa mantida por Kuznetsov e um po-
tencial comprador italiano, acerca de
umas filmagens:
“_Prometa-me que desta vez não
serei enganado, diz o italiano.
_Calma, eu dou-lhe a certeza que
este morre mesmo, responde o russo.
_Da última vez que paguei, não re-
cebi o prometido.
_Mas quer o quê?
_Quero vâ-los a morrer.”
Em 2000, as autoridades captu-
raram Kuznetsov, Ivanov, Minaev e
ainda 2 americanos, cujas identidades
são desconhecidas. Uns cumprem ain-
da a pena e outros saíram ao abrigo de
uma Lei russa que amnistiava imen-
sos reclusos, devido ao descomedi-
mento de pessoas nas cárceres russas.
Será real? Será tudo fabricado pela
máquina publicitária destes tempos?
Blair Witch foi um extraordinário
exemplo de publicidade bem conse-
guida.
14 ~ Infernus XII
Lupum
FBI, polícia, jornalistas, todos co- e Nova Iorque (EUA), Londres (In- se imagens que me parecem reais, de
mentam o caso de Kuznetsov. Até glaterra), Amesterdão (Holanda), Pa- decapitações cometidas por soldados.
onde se estende a linha da realidade? ris (França), Belgrado (Jugoslávia) e Serão reais? Chocantes são. Mas não
Quando começa a ficção, se é que a Bangkok (Tailândia). O seu objectivo posso considerar essas filmagens snu-
há? era encontrar um filme snuff e provar ff. Simplesmente recuso-me a acredi-
Serial Killers matam e guardam a existência de uma rede mundial de tar. Será que me recuso? Será que o
quase sempre troféus. distribuição desses filmes. ser humano não será capaz de come-
Houve um caso em que Charles e Svoray consegue revelações cho- ter atrocidades assim? Talvez não me
Lake (2 serial killers) filmaram os seus cantes. Em Nova Iorque, ele diz que recuse a acreditar. Talvez seja o con-
actos sádicos para uma câmara, sem viu, em vídeo, uma mulher ser morta trário. Não acredito em recusar…
terem intuito de vender. É perturba- com diversas facadas após fazer sexo Mas também me questiono, tam-
dor ver os excertos que saíram “para com dois homens. Paga uma enorme bém ponho a televisão interna a fun-
fora”. Num caso particular, obriga- quantia pelo “privilégio”, numa ses- cionar e no meu canal da informação,
ram o marido, atado, a ver tudo o que são junto a vários homens bem ves- questiono-me, “Se isto for falso, ve-
iam fazendo à sua esposa. São cenas tidos, mas sai sem qualquer cópia do nham daí os Óscares para este tipo de
perturbantes e que nos obrigam a ver vídeo. Em Paris, numa outra reunião filmes!”. Existem muitas histórias, ou
e rever o vocabulário, para conseguir- semelhante com mais tarados, um co- melhor, existem apenas (?!) histórias.
mos classificar tais cenas. merciante oferece-lhe um snuff por É por isso uma lenda com muitas his-
Será este caso um snuff? Não deve uma avultada quantia de dinheiro. tórias e muitas personagens. Saliento
ser considerado como tal, pois o seu Na Jugoslávia, Svoray descobre novamente, o ser humano é isso mes-
propósito não é a venda, lucro, nem que há produtores que filmam as atro- mo, humano! Não é preciso ir muito
tão pouco a sua distribuição. São “pe- cidades cometidas pelos soldados, longe para ver do que somos capazes
ças” muito pessoais. com o intuito de as vender. Consegue e todos temos os nossos requintes. Se-
Mas porque não falarmos da guer- um vídeo que mostra dois soldados jam eles extravagantes ou não.
ra? Aquela onde todos podemos ver o matando uma mulher a facadas, mas Pergunto novamente, conhecem
sniper JUBA a atingir diversos milita- acaba por ver o vídeo confiscado. Svo- algum snuff? Já viram algum filme,
res no Iraque? ray termina as buscas sem ter em mãos seja ele “home made” por alguém que
Decapitações? Tchetchenia, Ira- qualquer cópia de um filme snuff, ou possam eventualmente conhecer? Ad-
que, Vietname… Quantas mutilações seja, apesar das histórias, ele nunca quirido por vós ou por alguém, em
não foram registadas para a fita? Pon- termina com uma prova real daquilo que sejam filmadas tais cenas? Até que
derem, será isso uma porção de snuff? que está a contar. No que podemos ponto o snuff é uma lenda? Depois de
Fico sem resposta quando me in- acreditar? Será que Svoray assistiu tantas investigações, abrimos a mão e
terpelam… Há pessoas para tudo. As mesmo a isto? Será que é um embuste o que encontramos? A minha opinião
demências do ser humano são conhe- para lhe tentar dar alguma fama? encontra-se de mão fechada para um
cidas. Poderia dizer que existe um tercei- contacto fortuito com estes filmes.
Existem películas que transmitem ro livro, relacionado com esta temáti- O marco que separa o mentalmen-
ideias acerca do snuff. O filme 8MM, ca em que o seu autor, Marcos Fábio te sadio dos distintos é ténue…
com Nicolas cage, é um dos imensos Katudjian, diz que o livro tem como Basta procurarem… Olhem para o
exemplos. É uma película que aborda pano de fundo os snuffs e que está outro lado da rua… A loucura é já ali
conteúdos tabu, assuntos que nos fa- ali apenas para mostrar a miséria que ao lado…
zem questionar a nossa identidade en- pode ser a condição humana.
quanto seres humanos, um filme que “A minha doença é ter 46 cromos- “E cada um acredita, facilmente,
nos faz ponderar! somas”. É assim que Fernanda, a pro- no que teme e no que deseja.”
Existe também a literatura snuff, tagonista do livro Snuff Movie – De- Jean de La Fontaine •
mas não é tão violento, pois não tem pois do Fim do Mundo, explica a sua
as imagens que nos provocam asco. condição no mundo. E na verdade
São conhecidos apenas dois livros que esse é um mal que aflige todos os se-
possam merecer esse rótulo. Foram res humanos. O homem cada vez mais
ambos lançados nos Estados Unidos surpreende-se com as possibilidades
da América e abordam o tema com al- da sua mente e algo que ainda nos es-
guma rectidão. panta, e muito, é a capacidade de uma “Decapitações? Tch-
O primeiro, Killing For Culture, de pessoa matar outra por puro prazer.
David Kerekes e David Slater, é mais Com certeza que isso não é ne- etchenia, Iraque,
sério. Tenta analisar a histeria das len- nhuma novidade na nossa civilização,
das sobre os snuffs sob um ponto de mas, as formas de lidar com esse pra- Vietname… Quantas
vista sociológico. Traça um longo pai- zer mórbido estão de alguma maneira
nel dos filmes que mostram violência a acompanhar as evoluções tecnológi- mutilações não foram
real, entre eles a colecção de Faces of cas. E foi justamente isso que, de certa
Death, um conjunto de seis filmes que forma, perturbou o cineasta e roman- registadas para a
mostram cenas dantescas de execu- cista Marcos Fábio Katudjian. “Ouvi
ções, acidentes e autópsias. falar pela primeira vez em snuff mo- fita? Ponderem, será
O segundo livro é mais recente: vies em 1997 pela boca do Arnaldo
surgiu em 1997, a partir de uma in- Jabor. Logo essa ideia de existir esse isso uma porção de
vestigação feita pelo ex-militar israeli- tipo de coisas entrou-me pelos ouvi-
ta Jaron Svoray. Neste livro é narrada, dos. Concluí ser esse o fundo do poço snuff?”
detalhadamente, a peregrinação de em termos de humanidade”
Svoray por cidades como Los Angeles Eu próprio tenho em minha pos-
15 ~ Infernus XII
Arlequim Diabólico
Devis DeV deviLs g.
Hoje em dia a celebração de Car- sionais de teatro que viajavam de como serventes. Como tal, os seus
naval mais famosa no mundo é con- terra em terra formaram os “Com- interesses nem sempre coincidem
certeza a brasileira, no Rio de Janei- media dell’arte” em Itália no século com aqueles dos senhores, porque
ro, mas até alguns séculos atrás, o XV apresentando máscaras de carna- os seus objectivos primários são o
Carnaval de Veneza era o mais fa- val, fazendo diálogos improvisados seu próprio conforto e satisfação dos
moso. e teatro de rua. Estas personagens mais variados desejos. Esta atitude
de carnaval multiplicaram-se com o misciva podia dar uma pista acerca
O Carnaval é um festival tradi- tempo e com eles a personagem do das suas origens. Até a sua máscara
cional italiano e envolve o uso de Arlequim tornou-se a mais conheci- negra devia evocar uma sensação de-
máscaras, representando o mesmo da pelo mundo fora. moníaca e assustadora.
que o Halloween para o povo anglo- Em francês é conhecido como Os estudiosos acreditam que o
saxónico. Existem muitos estudioso Arlequin, enquanto que em inglês é Arlequim é o que resta de uma fi-
que referem que as tradições carna- Harlequin e no original italiano Ar- gura demoníaca pré-cristã que par-
valescas remontam aos tempos pré- lecchino. Ele é acrobata e maroto, tilhava o mesmo nome e aspecto em
cristãos, tal como acontece com o veste tipicamente uma máscara preta vários locais diferentes da Europa.
festival de Halloween/Samhain. com um inchaço e um fato colorido No século XII o historiador da
Os antigos festivais romanos de em forma de losangulos. igreja Orderico Vitale escreveu no
Saturnalia e o grego de Dionísio, Segundo as tradicionais conspi- seu livro Historia Ecclesiastica, algo
são provavelmente as origens do rações dos “Commedia”, o Arlequim acerca de um clã de demónios cha-
carnaval italiano, mas muitas tra- é nativo de Bergamo, uma cidade mados Herlechini. Depois disso sur-
dições são baseadas noutros rituais do norte de Itália, e o seu compor- giram contos medievais franceses
pré-cristãos, tal como ocorre com o tamento é um reflexo exagerado do que fazem relatos de um emissário
Krampus e Perchten, que são figuras comportamento tosco das pessoas do Diabo que apresentava face negra
do folclore alpino. rurais de Bergamo, que foram obri- e que se chamava Harlek e por vezes
Eventualmente, artistas profis- gadas a ir para Veneza para viver Hellequin e que se diz que vaguea-
16 ~ Infernus XII
Devis DeV deviLs g.
18 ~ Infernus XII
Draconis Blackthorne
Os Cavaleiros Templários
• Arquétipo: Baphomet
• Personalidade: Jacques De-
Molay
• Período: Idade das Trevas
com os seus servos, acabando triste- O Hellfire Club os opositores, frequentemente ado-
mente como mártires da “causa” e/ • Arquétipo: Satan / Lúcifer / radores do mesmo conceito geral de
ou eram incriminados pela Igreja Baphomet deus e originando, por conseguinte,
caso recusassem submeter-se às suas • Grupo: O Hellfire Club (US uma série de “denominações”.
leis. Escusado será dizer que um Sa- & UK) Relativamente à ideia da actual
tanista projectaria fosse que imagem • Personalidades: Sir Fran- Maçonaria ser de certa forma “Satâ-
fosse, para proteger os seus interes- cis Dashwood, Benjamin Franklin, nica”: Existindo actualmente como
ses e assegurar a sua preservação, William Blake, George Washington, referência histórica e apesar das
mantendo em simultâneo a sua pers- The Earl of Sandwich, Thomas Je- alegações inexactas e paranóicas de
pectiva intacta. Essa seria simples- fferson, John Adams, James Nadi- alguns teoristas da conspiração, a
mente a atitude mais sensata. son, John Hancock e outros. Maçonaria é actualmente irrelevante
para o Satanismo, tal como foi uma
Exclusivo à Aristocracia no pas- das várias pedras basilares para a
Os Khlysty sado, o grupo contava com icono- evolução final da Church of Satan.
• Grupo: Os Khlysty clastas que fundaram nações inteiras Por outras palavras: Já não o que era,
• Arquétipos: Tchort, Kaschei, de acordo com a sua ingenuidade e sendo agora essencialmente frequen-
Morena e outros visão carnal e que embora apresen- tada por deslumbrados, necessitados
• Personalidade: Grigori Efi- tando-se como personagens agra- de uma muleta para os seus egos
movich Rasputin dáveis aos supersticiosos comuns, empobrecidos, fornecendo enquan-
satisfaziam alegremente os seus to isso um pouco de misticismo a
Os Khlysty eram um grupo que pseudo-ocultistas, através de rituais
proclamava a “paz e a redenção atra- estéreis que, à semelhança de outras
vés do pecado” (geralmente sexual e religiões do caminho absoluto, mais
de natureza ritualista), o que se har- parecem rotinas de um serviço reli-
moniza claramente com a ideia de gioso de Domingo, ou de um clube
que “o estágio mais alto do desenvol- social, do que sinónimo de verdadei-
vimento humano é o reconhecimento ro diabolismo.
da carne”, embora acatando muitas
das instrumentalizações da Ortodo- (4) Criaram até um símbolo
xia Russa, à semelhança de muitas para Baphomet, por vezes referido
outras culturas, que se tinham de como a conhecida “Cruz de Lorrai-
aclimatar à teocracia vigente, pelo ne”: ‡; de notar ambas as “cruzes”
menos à superfície, a fim de sobre- herméticas, uma invertida outra di-
viverem, limitando-se a combinar a reita, simbolizando ambos os poten-
iconografia tradicional com a con- ciais num só “o que está em cima é
temporânea, embora continuando a como o que está em baixo”; “Tudo é
praticar a sua religião em privado. Um” infere.
Tal como os Yezidis, o seu arqué- (5) É de referir que o “Rei Sa-
tipo era um deus negro, que no seu lomão” bíblico (ver “Canção de Sa-
caso dava pelo nome de Tchort (aci- lomão) era um crente do caminho
dentalmente utilizado como inspira- absoluto que se considerava ele mes-
ção do Diabo na Fantasia de Disney, mo sob a égide de “Yahew/Jeová,
pelo Satanista de facto, Walt Disney, desejos carnais, enquanto mexiam cujos “manuais”, “O Lemegeton” e
nem mais nem menos!), que andava os cordelinhos políticos e governa- “Goetia” são utilizados, até aos dias
escondido pela terra, tal como Belial. mentais e prestavam homenagem a de hoje, por magos em cerimónias,
Para além Tchort havia um panteão Baphomet(4), como o Senhor da Car- incluindo Aleister Crowley, que tal
diabólico de deuses demoníacos com ne. Considerando a suas verdadeiras como eles próprios reconhecem,
diversos papéis. inclinações e práticas privadas, cer- NÃO são Satanistas!
Embora Rasputin não fosse o fun- tamente que seriam totalmente a fa-
dador dos Khlysty, a filosofia destes vor de uma América Satânica Unida!
harmonizava-se bastante com a sua (ver Lúcifer Day). A Church of Satan
visão do mundo. Justapondo a in- Como nota de rodapé: promo- • Personalidades: Anton
dulgência ao misticismo, foi empre- vendo de início avanços na arquitec- Szandor LaVey, Peter H.Gilmore,
gando princípios de Magia Inferior tura e nas matemáticas, muitos dos Peggy Nadramia, Blanche Barton e
para conquistar os favores do Czar ritos(5) subsequentes de influência Hierarquia.
e Czarina, assegurando dessa for- Salomónica eram provavelmente uti- • Textos Fundamentaos: A
ma uma posição entre a nobreza. lizados com fins dramáticos, permi- Bíblia Satânica, The Satanic Rituals,
Conhecido como o “Monge Louco”, tindo a utilização de terminologia bí- The Satanic Witch; The Devil’s No-
tornou-se um conselheiro, dirigindo blica em doses liberais, por cortesia tebook, Satan Speaks (Magus Anton
basicamente o governo através do de um tal Albert Pike, complementa- LaVey); The Satanic Scriptures (Ma-
seu aconselhamento auto-engran- da com sentimentos Anti-Católicos. gus Peter H.Gilmore).
decedor e modificando situações de É sabido que parte da conduta dos • Textos Adicionais /Suple-
acordo com a sua visão. religiosos do caminho absoluto in- mentares (incluindo mas não limita-
[Leituras Relacionadas: Homage clui forjar propaganda utilizada para do a): The Church of Satan: History
To Tchort: The Satanic Rituals] difamar o carácter daqueles que não of The World Most Notorious Reli-
concordem com o seu fundamenta- gion, The Secret Life of A Satanist:
lismo, “demonizando” dessa forma The Authorized Biografy of Anton
23 ~ Infernus XII
O Satanismo Através dos Tempos
Videos Relacionados
• Satanis: The Devil’s Mass
(Something Eeird Video)
• Speak of the Devil: The Ca-
non of Anton LaVey (Feral House)
• Church of Satan Interview
Archives (Purging Talon Publishing)
• Inside The Church of Satan
(Shadowbox Entertainment)
CONCLUSÃO
Sendo criaturas práticas e car-
nais, os Satanistas utilizaram através
dos tempos, todos os meios neces-
sários para assegurar a sua sobrevi-
vência e facilitar a indulgência, em-
pregando a Arte do Engano quando
necessário, criando símbolos, códi-
gos, terminologias, locais clandesti-
nos, arquitectura, etc., associados a
uma mística estimulante, embora va-
lorizando sempre a razão e o instin-
to, em detrimento dos sonhos irreais
e supersticiosos de que o rebanho se
embebe, e abraçando as maravilhas e
os mistérios da natureza.
O Satanismo deriva de uma rica e
vasta colecção de tradições culturais
– permitindo-nos assim modificar e
personalizar seja o que for, para ser-
vir os nossos propósitos e potenciar
o nosso Eu, seja reunindo-nos em
grupo e/ou perseguindo os nossos
interesses individuais.
Em última análise, as religiões
do caminho absoluto sempre foram
irrelevantes para o Satanismo na sua
essência, que apenas explora certas
imagens mitológicas e lendárias para
manipulação, divertimento, ou por
vezes, para estabelecer um ponto de
vista metafórico mais amplo.
LaVey (Magistra Blanch Barton); 1969, através d’A Bíblia Satânica o Em termos gerais, tal ofuscação é
Para Além do Bem e do Mal, Gene- que nós, indivíduos carnais, ineren- absolutamente desnecessária; agora
alogia da Moral, O Anticristo (Fre- temente sentíamos e praticávamos que entrámos em pleno na Idade do
derick Nietzsche); Might is Right desde sempre, a nível intelectual e Fogo, poderemos, se assim o dese-
(Ragnar Redbeard); Atlas Shrugged instintivo, permitindo, pela primeira jarmos, proclamar ousadamente que
(Ayn Rand), The Evolution of Spe- vez na história, que Satanistas se afi- somos Satanistas! •
cies (Charles Darwin), O Homem e liassem abertamente ou em privado,
os Seus Símbolos; Mark Twain, Ben a uma organização oficial, que serve
Hecht, Jack London e muitos outros, os nossos interesses, ostentado orgu-
de vários géneros, que exprimem o lhosamente o nome do Diabo.
ponto de vista satânico. Desde o Ano Um, que o mundo
• Website: www.churchofsa- continua a ser indelevelmente in-
tan.com fluenciado pela filosofia e estética
do Satanismo, dos filmes à música, à
Impulsionado pelas experiências arte e à literatura, com membros de
do Magic Circle fundado como tal todas os estratos sociais, velada ou
em 1966 e.c., reconhecendo as opor- abertamente presentes.
tunas mudanças do clima cultural Leituras Relacionadas
e opondo-se igualmente a muita da • A Bíblia Satânica de Magus
irresponsabilidade, abuso de dro- Anton Szandor LaVey.
gas e mediocridade, Magus Anton • History of The Church of
Szandor La Vey proclamou o Ano Satan de Magus Peter H.Gilmore.
Um da Idade do Fogo, formando a • The Church of Satan de Ma-
Cabala conhecida como Church of gistra Blanche Barton
Satan, formulando por escrito em
24 ~ Infernus XII
O Convite Outubro
Sentado aqui, eis que modelo ho- portador da luz. A gafe é tal que dá vontade de rir,
mens Na verdade, os sucessivos “ata- mas demonstra, pela via do absurdo, o
À minha imagem ques” ao mito de Prometeu resumem motivo pelo qual o conhecimento racio-
Uma raça que me seja comparável, na perfeição o conflito iniciado pelo nal se afigura a única salvação plausí-
Para sofrer e chorar, Cristianismo, que tão oportunamente vel, de uma vida pautada por quedas
Para gozar e jubilar, logrou conotar a herança de Prometeu vertiginosas nos abismos gelados da ig-
E para não te venerar, com a salvação espiritual e a filantropia norância, que pelo facto de abreviarem
Como eu! altruísta de Cristo, (embora sem respos- a estadia do acidentado, e só por isso,
ta para a questão da desobediência ao é bem provável que o conduzam mais
Goethe – Prometeu Zeus/Deus), por oposição à vida mate- rapidamente à “salvação eterna”.
rial e à perdição, habituando-nos desde Eis o início da guerra. Nascida da
Se fosse possível condensar num então a essas dicotomias plenas de lacu- necessidade humana de explicar fenó-
mito, o advento do conhecimento ra- nas mais fundas que um fiorde norue- menos naturais, as suas próprias moti-
cional e as tempestades inerentes, eu guês, em detrimento da evidência mais vações e conflitos perante estes, projec-
escolheria sem dúvida o mito que mais claramente expressa na história de que tando-os em divindades “guia”, cujos
trambolhões e reformulações sofreu: a munição essencial à sobrevivência IN- atributos, em conjunto com os temas
Prometeu. O único capaz de reunir em TEIRA do homem na terra, aquilo que o narrados, sistematizam por inerência
si os atributos paradoxais de Cristo e distingue e o potência é a chama do co- os padrões éticos, pelos quais se procu-
Anticristo. Por um lado, o semi-deus nhecimento e isso traduz não uma dico- ra reger, a Mitologia anuncia-se desde
sofredor, o filantropo que dá a vida tomia mas uma alternativa a esta. (Tão logo como a antecâmara paradoxal da
pelos homens, por outro a metáfora de pouco empresta ao portador da luz o razão, que levaria os primeiros filósofos
qualquer rebelde, cujo sofrimento se perfil de sofredor submisso. Lembrem- da Grécia Antiga a estabelecer a ponte
afigura apenas como um mal necessá- se que enganou Zeus com o boi e Cristo entre o pensar mítico e o pensamento
rio, cem vezes preferível à paz podre jamais o faria). Pois é: O “espírito” não racional, que, por sua vez, marca a or-
sob a hegemonia de um deus ou senhor. se opõe à matéria. O conhecimento inte- ganização da polis, em consequência da
Cristo, o salvador espiritual, Lúcifer o gra a matéria e a razão. racionalização social, em que o homem
25 ~ Infernus XII
O Convite
Templário de Tomar, tendo em conta Tendo essa possibilidade, em que nal. Quase nove séculos de História
que ali consigo conjugar a beleza da época da História escolheria viver? são a melhor prova de maturidade do
História com a paixão das minhas ra- E que momento marcante gostaria nosso país.
ízes tomarenses. de presenciar com os seus próprios
olhos? E quais são os seus principais in-
Qual é o momento na História de A época da História que mais apre- teresses na vida, para além da His-
Portugal de que mais se orgulha, e cio é, naturalmente, a Idade Média. tória, e os seus objectivos enquanto
o que mais o envergonha? E qual as Se pudesse seleccionar um momento indivíduo?
figuras históricas que mais aprecia e marcante, por mais curioso que pos- Para além da História, tenho entre
mais o desagradam? sa parecer, creio que gostaria de ter a leitura, as viagens e o desporto os
Sendo, por natureza, uma pessoa assistido à construção de um Castelo, principais interesses da minha vida.
com visão positiva e optimista da His- dado que me fascina a forma como, Em termos de objectivos pessoais, o
tória e da vida, vou cingir-me apenas sem grandes meios técnicos, como ac- principal a destacar é o interesse cons-
ao momento da História de Portugal tualmente dispomos, conseguiram os tante no estudo de tudo o que me ro-
de que mais me orgulho e às figuras nossos antepassados criar estruturas deia.
históricas que mais aprecio. No que de pedra tão impressionantes.
diz respeito à primeira parte da ques- Algumas palavras finais?
tão, creio que a época dos Descobri- Como é que vê o nosso mundo nos Gostaria de agradecer a vossa dis-
mentos seja relevante, tendo em conta dias de hoje? ponibilidade para realizarem esta en-
perceber como um pequeno país, com Naturalmente, com alguma apre- trevista e espero que a mesma possa
escasso número de habitantes, conse- ensão, atendendo à crise económico- suscitar, ainda mais, em vós o interesse
guiu ampliar tanto os seus próprios financeira. Ainda assim, sempre com pela História de Portugal e, se possí-
horizontes. Dentro das figuras históri- optimismo e crença em dias de bonan- vel, na leitura dos meus livros. •
cas portuguesas, D. Afonso Henriques ça.
é um nome incontornável, tal como D.
Nuno Álvares Pereira ou D. João IV, Com a crescente corrente unifica-
cada um dos quais figuras cruciais na dora a nível Europeu, acha que há o
sua época e que, para além do mais, risco de países como Portugal perde-
influenciaram, em larga medida, não rem a sua identidade nacional?
apenas o presente como o futuro do Não acredito que haja algum risco
país. de se perder alguma identidade nacio-
31 ~ Infernus XII
In Otin Ihuan In Tonáltin
Nicam Tzonquíca
BM Resende
“Aqui terminam os caminhos e os tem- manhã, parte integrante da cosmovisão temporal. A contextualização espaço-
pos.” Asteca. Visão onde Huitzlipochtli pode- temporal é de enorme relevância visto
ria ser simbolizado pela águia, atributos as complexas estruturas de contagem
Entre 1325 e 1521 do falso calendá- solares e guerreiros, partes de uma vi- temporais nos contextos, não apenas
rio cristão floresceu na América Central são cósmica de equilíbrio entre os seus complexas mas também incrivelmente
um dos maiores impérios alguma vez 3 mundos onde claramente não existia precisas astronomicamente. A exem-
vistos, iniciado na improbabilidade do possibilidade de hierarquia com domí- plo o tempo sideral, tempo que a Terra
lago Texcoco no cumprimento da pro- nio solar sobre Vénus. Na perspectiva demora a fazer a volta completa em
fecia transmitida pelo deus Huitzlipo- Asteca tais simbologias significariam torno do Sol, calculada em precisão da
chtli, a busca pela águia em cima de um a completa desordem cósmica e não astronomia moderna em 365,2422 dias,
cacto. Facto expresso no Codex Men- um ponto de início de um império por sabendo-se que o calendário gregoria-
doza e mais tarde adulterado cristiana- uma tribo semi-nómada. A evolução e no; o falso calendário cristão; conta
mente para a presença de uma serpente desenvolvimento de Tenochtitlán; ci- 365,2425 dias, e o juliano, utilizado na
na boca da águia, simbologia presente dade esplendorosa detentora da maior Europa até 1582 ditava 365,2500 dias.
na bandeira do México que serviu os importância dentro da Tripla Alian- Foi com uma excepcional mestria que
propósitos das cruzadas evangélicas ça, provavelmente a maior cidade do os Maias atingiram os 365,2420 dias,
na erradicação dos males simboliza- mundo na altura em que existia. Apa- sem relógios ou ampulhetas, provavel-
dos como a serpente, personagem de rentemente impensáveis surgem como mente apenas com os seus escritos e
significações extremamente negativas produto natural da evolução do pen- anotações baseados numa observação
nas mitologias judaíco-cristãs, tudo de- samento dos Maias aliado ao poderio do Cosmos constante. Não será então
monstrando um confuso absurdo pois militar e às profecias apocalípticas ini- complexo saber que estes povos conse-
a significação mais linear com a ser- ciadas em 3113 antes do profeta cristão, guiam entre outros feitos prever eclip-
pente é o deus Quetzalcoatl, associado ponto de início do tempo Maia e a base ses, contar intervalos de tempo curtos
com conhecimento e com a estrela da de partida da sua complexa máquina ou longos.
32 ~ Infernus XI
A chave dos maiores mistérios nas teca, altura onde uma enorme angústia de tempo mágico dos Maias, acrescida
civilizações ameríndias parece residir se abatia na perspectiva do fim dos tem- ao número 5, contextualizado sobre os
na variável Vénus, a julgar pelas medi- pos, do mundo, pior ainda como se ana- pontos cardeais, onde o centro também
ções apresentadas no Codex de Dresde, lisa seguidamente, o fim do último dos o era, e talvez o ponto de maior impor-
um dos poucos escritos sobreviventes mundos, o quinto. Os enigmas Maias tância. O declínio Maia surge umas de-
à destruição cristã, onde é encontrada, obtiveram resposta no seu complexo zenas de anos antes do seu previsto fim
a talvez mais extraordinária medição calendário, cidades abandonadas, mi- do mundo, provavelmente a contagem
astronómica Maia, o ano venusiano. O grações em massa, um estranho noma- imparável para o apocalipse os precipi-
ano venusiano correspondente à me- dismo onde sumptuosas cidades eram tou para a decadência, para a fuga dos
dida de 584 dias, medida muito seme- deixadas ao imperialismo da natureza. seus impérios, para a asfixia temporal
lhante às das modernas observações, Após interpretação da sua complexa e angústia da morte, de cada indiví-
de 583,92 dias, acrescentando-se o facto máquina temporal a nitidez dos seus duo, da sua civilização, e do mundo,
das revoluções irregulares do planeta mais profundos desígnios surge, o iní- no século 10 do falso calendário o seu
completamente observadas e interpre- cio do seu complexo sistema temporal mundo acabara, não completamente,
tadas por estes fascinantes astrónomos, revela-se em 3113 antes do profeta cris- mas a colossal civilização se transfor-
5 revoluções sucessivas de 580, 587, 583, tão, por motivos ainda inexplicáveis. mou rapidamente em tribos dispersas,
583, e 587 dias. Interpretando o tempo Ora os seus sistemas temporais ditavam provavelmente desconhecedoras de tão
interpreta-se aquilo que é suposto ser o a existência de 5 mundos, com 1400 incríveis conhecimentos ou simples-
espaço, assim sendo, ao ano sideral foi anos solares cada um, resultado elabo- mente temerosas da pesada máquina
acrescentado o ano mágico, 260 dias, rado de complexos cálculos baseados temporal.
sistema vigesimal multiplicado pelo no seu sistema vigesimal, a calendari- Os Astecas surgem então como os
mágico número 13, ao que se obteve o zação mágica dos 260 dias, equivalente prováveis detentores do quinto mundo,
ciclo de 52 anos, o ciclo provavelmente a 13 vezes o número 20, número mágico aliando conhecimentos vários dos seus
mais importante para a civilização As- encontrado em todas as organizações antepassados à sua veia guerreira. Em
33 ~ Infernus XI
In Otin Ihuan In Tonált in Nicam Tzonquíca
Tenochtitlán brotaram como uma colos- nidade, o choque frontal da estranha respondência com os 5 pontos carde-
sal civilização, uma sumptuosa cida- cristandade contra os povos e nature- ais, um no cimo toca flauta e dança
de da qual agora apenas se poderão za. Notáveis guerreiros e ainda mais enquanto os outros 4, com uma corda
fazer imaginações, à altura da inva- notáveis seres em harmonia com a amarrada a um tornozelo vão descen-
são evangelizadora, Bernal Díaz del natureza, os Astecas produziram e re- do de cabeça para baixo num total de
Castillo, um dos súbditos de Hernán produziram uma estonteante cultura, 13 rotações, sendo então 4 homens
Cortés, o déspota católico, escreveu uma panóplia de deidades associadas temos o número 52, o ciclo de tempo
o seguinte: “Não sei como descrever a uma diversidade natural, um con- correspondente ao tempo que decor-
isto, estamos a ver coisas que nunca junto de diversos rituais executados re entre a coincidência do calendário
antes tínhamos ouvido falar ou visto, sobre diversas festivalidades alusó- solar e o mágico; 4 elementos, terra,
nem sequer sonhado”. Magnificência rias a diversos momentos marcantes ar, fogo, água; 4 estações, 4 ventos,
de limpezas absolutas, cerca de 1000 na sua cultura, um dos mais obsessi- toda uma enorme significância ritual
pessoas na cidade se dedicavam a vos rituais efectuava-se no ciclo de 52 num evento que normalmente é visto
limpá-la diariamente, não seria de es- anos, a altura em que existia coinci- por olhos desatentos como um mero
tranhar que tais limpezas fossem um dência entre o ano solar e o mágico, entretenimento superficial e insigni-
dos muitos choques para a moral cris- altura esperada por um possível fim ficante. Conseguindo um mínimo co-
tã da comitiva conquistadora. Relatos dos tempos e altura em que uma série nhecimento da cosmovisão em causa,
de vários povos evangelizados fazem de ritualizações eram feitas em súpli- as coisas passam a ser mais que nu-
notar um dos pontos mais negativos cas aos deuses, para que um novo ci- merologias e geometrias harmonio-
da cristianice, o mau cheiro, dado que clo de 52 anos se iniciasse. sas, toda uma complexa estrutura de
felizmente, ou infelizmentemente, Poucos vestígios existem depois interacção humana com a realidade
não se vai conservando nas documen- do extermínio espanhol e da evange- envolvente, e de apenas um exemplo
tações escritas, provavelmente toma- lização violenta, livros queimados, se podem vislumbrar uma panóplia
do como secundário. Não será difícil estátuas e outras obras de arte em de rituais diversos com diversos deu-
de perceber que seria bastante primá- ouro derretidas, templos destruídos, ses em causa e de múltiplas perspec-
rio, antes de qualquer relação social e um sem número de atrocidades tí- tivas, desde a necessidade de manter
adviria primariamente o cheiro, au- picas nas tentativas de destruição o ciclo solar através da dádiva à terra
sência de banhos, transpirações den- absoluta de pessoas e culturas pelas da fonte da vida humana, sangue, até
tro de pesados vestuários, limpezas cristianices. Um dos poucos exem- alucinações e contacto com os deuses
vistas como sinais de pecado de sen- plos que ainda subsistem é a Danza embriagados e com ingestões de co-
sualidade e de feminilidades, antes de los Voladores de Papantla, onde gumelos deificados, a complexidade
de quaisquer impurezas de espírito se podem efectuar algumas constru- e diversidade é enorme e em sintonia
e de mente será importante mencio- ções sobre a cultura que praticamente com os calendários, marcas de tem-
nar as impurezas do corpo, nada que deixou de existir. Nesse ritual existe po de referência, a estrutura cultural
fosse inovador na história da Huma- um poste a que sobem 5 homens, cor- Asteca é um hino ao ser humano e às
34 ~ Infernus XII
BM Resende
O Antigo Egipto é uma das maiores do do Nilo, evocava uma majestosa de mais aprofundada com um dos pla-
mitologias de todos os tempos. Em moldes vivência do povo que iniciou proces- nos. As escolhas eram feitas mediante
próprios de escalas incomparáveis, a ci- sos de vida num mundo de mistérios uma curiosa harmonia com o seu pró-
vilização do Antigo Egipto deu provas ao frescos. Os antigos egípcios lançaram prio livre arbítrio, o que não impediu
mundo de uma existência grandiosamente sementes criativas e originais aos regos que esquecessem tradições ou culturas
frutífera. As suas terras, os seus climas, as do quotidiano do Homem, esses anti- vitais. Em pormenor, um seguidor de
cidades e arquitecturas fabulosas, os seus gos que como povo foram poderosos e um dos deuses fazia escolhas conscien-
segredos, as virtudes e as necrópoles, per- hierarquizados, como seres individuais tes sobre as suas prioridades e sob os
sistem em fascinar o Homem que nasceu foram precursores de causas imortais e seus interesses.
e que vive tantos anos após, facto deveras como politeístas foram artistas de uma O Antigo Egipto foi um local gran-
alusivo ao âmago que uma mitologia repre- imensa imaginação. Os habitantes do dioso, rico, que se expandiu exponen-
senta… Antigo Egipto veneravam e seguiam cialmente sob cintas imperiosas, e que
diversos deuses, uma grande quanti- posou para a fotografia como um fértil
O Antigo Egipto era atestado de dade deles, todavia alguns habitantes império do Antigo Mundo. O clima, a
crenças aguerridas e imortais, com par- entraram numa consciência de maior riqueza dos recursos naturais e toda
tes destas sobre a areia do deserto e com veneração a um tipo ou nome de deus, uma beleza pura ofereceram as vanta-
partes debaixo da mesma. A tonalidade sem nunca deixar de respeitar todos os gens e os seus recreios à evolução do
brilhante da areia, pertence reverencia- outros, mas procurando uma fidelida- Homem naqueles tempos. O Antigo
36 ~ Infernus XII
Mosath
38 ~ Infernus XII
Mosath
41 ~ Infernus XII