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INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ANIMAL


BOVINICULTURA

HIGIÉNE SANIDADE E BEM-ESTAR:


QUISTOS OVÁRICOS

Trabalho realizado por:


David Quintino #2439 EPA

Santarém, 17 de Junho de 2008


Introdução
“Os quistos ováricos são uma das principais causas de desordens reprodutivas e
de perdas económicas em explorações de bovinos leiteiros.” (Gaverick, 1997;
Youngquist, 1997).
Tradicionalmente os quistos ováricos têm sido definidos como estruturas
foliculares que não ovulam com um diametro superior a 25mm, que persistem
por 10 ou mais dias com ausência de um corpo luteo funcional e são
normalmente acompanhados por um comportamento reprodutivo anormal
(intervalo reprodutivo irregular, ninfomania ou anestro). Contudo, dados recentes
obtidos por ultrasonografia indicam que os folículos ovulam ao atingirem os
17mm de diametro e folículos que mantêm estes 17mm ou os ultrapassam
poderam ser considerados quistosos.
Os quistos ováricos nas vacas leiteiras ocorrem mais frequentemente 30 a 60
dias pós-parto, mais em vacas velhas do que novas, quando é suposto
retomarem a actividade ovárica normal e entrar em cio.
“Cada ocorrência de quisto ovárico folicular aumenta o intervalo entre partos por
22-64 dias.” (segundo Hatler et al., 2003.)
“A incidência de quistos ováricos varia entre 5 e 30% das vacas leiteiras.”
(Kesler e Garverick 1982; Hooijer et al., 2001)

Figura 1: Ovário quistoso (à esquerda) e ovário normal (à direita)

ii
Patologia e factores de risco

“O quisto ovárico e a persistência folicular pode ser descrita como um estado em


que não ocorre ovulação com crescimento do folículo à dimensão de ovulação
ou maior.” (Wiltbank 2002).
Basicamente o folículo dominante da anterior onda folicular persiste e não ovula
e consequentemente os folículos seguintes também não ovulam. As vacas com
quistos ováricos têm o ovário num “estado semelhante” ao de uma vaca normal
antes da ovulação.
A causa psicológica do quisto ovárico é a ausência do aumento de LH que
normalmente provoca a ovulação.
Factores que podem causar quistos ováricos:
doenças metabólicas (cetose e acidose),
deficiência de energia,
alta produtividade,
retenção da placenta (endometrite),
distócia,
patologia gestante,
stress
e hereditabilidade genética.

iii
Níveis insuficientes de progesterona observados em
vacas leiteiras de elevada produção, especialmente
em vacas com deficiência em energia

Má formação dos receptores


de LH

Folículo em crescimento com a


sensibilidade ao LH reduzida

Formação do quisto
Suspensão do ciclo follicular e da ovulação
Não ovulação e anestro

Figura em: http://www.ces.purdue.edu/extmedia

iv
Diagnóstico clínico de quistos ováricos

O quisto ovárico é normalmente detectado pós-parto através de apalpação


transrectal do tracto reprodutivo da vaca, sendo a única forma prática de o
detectar exije alguma noção técnica para distinguir um ovário normal de um
quistoso. O tipo de quisto pode ser distinguido pelas concentrações de
progesterona no sangue da vaca, sendo a baixa concentração o quisto folicular
e a alta concentração o quisto luteínico. Hoje em dia consegue-se distinguir um
quisto folicular dum quisto luteínico visualmente através de ultrasonografia
transrectal.
O diagnóstico clínico dos quistos ováricos está dependente da actividade
hormonal do quisto. Alguns sintomas são comuns aos dois tipos de quistos,
embora nem sempre ocorram:
Contracção do pescoço
Relaxamento de ligamentos do sacro, fazendo parecer que a cauda está
elevada
Falta de musculo na vulva, vagina, cervix e útero
Prolapso passivo da vagina e/ou libertação excessiva de muco vaginal
Mudanças metabólicas
Alimentação e ruminação descontrolada.

v
Quistos Foliculares (libertação de estradiol), 70% dos casos
Os quistos foliculares são quistos de parede fina com uma dimensão maior ou
igual a 25mm formados apartir do folículo maduro que não liberta o óvulo e
acumula um fluído no seu interior. Estes podem surgir um ou vários em um ou
ambos os ovários.
Sintomas:
Hiperestrogenização
Ninfomania – comportamento éstrico permanente
Monta de outras vacas (bulling)
Produção de leite reduzida.

Figura 2: Ovário com 3 quistos foliculares, foto exterior (esquerda), interior demarcado (centro) e ultrasonografia (direita)

vi
Quistos Luteínicos (libertação de progesterona), 30% dos casos
Os quistos luteínicos são quistos de parede grossa com uma dimensão maior ou
igual a 25mm formados apartir do corpo lúteo e acumula um fluído no seu
interior. Estes surgem geralmente um só num dos ovários.

Sintomas:
Não apresentam cio
Intervalo entre cios prolongado
Anestro

Figura 3: Ovário com quisto luteínico, foto exterior (esquerda), interior demarcado (centro) e ultrasonografia (direita)

vii
Prevenção e tratamento dos quistos ováricos

Como são diversas as causas para a formação de quistos nos ovários, nem
sempre se podem evitar, mas é sempre conveniente tomar algumas precauções
como:
assegurar uma pontuação da condição corporal entre 2 e 3;
manter uma alimentação equilibrada;
aumentar a ingestão de matéria seca;
minimizar as doenças metabólicas;
aumentar os cuidados durante e após a gestação.

Actualmente o tratamento dos quistos ováricos reside essencialmente em


corrigir os factores responsáveis pelo desenvolvimento destes.
1. Correcção dos problemas nutricionais e metabólicos;
2. Tratamento hormonal que conduza à indução da evolução normal do
folículo e da retoma da actividade cíclica do ovário.

viii
Tratamento de quistos foliculares
1. GnRH – Corrige a falta na estimulação do LH para maturação final e
ovulação da nova onda folicular. Para reduzir o tempo para inseminação,
é recomendada uma combinação de GnRH e prostaglandina:
a. PGF2α 7 dias após injecção de GnRH ou seguir o protocolo
Ovsynch:
“Ovsynch:
dia 0: injecção de GnRH inicia uma nova onda folicular
(sincroniza ondas foliculares)
dia 7: injecção de PG sincroniza ciclos éstricos;
dia 9: segunda injecção de GnRH induz ovulação;
dia 10: IA 16 h depois da injecção de GnRH.
É muito caro, mas pode ter uma boa taxa de sucesso (50% em
ensaios iniciais) e é uma boa solução quando a detecção de cios é
má. A dose de GnRH pode reduzir-se a 50%, embaratecendo
bastante o tratamento.”.
b. As vacas podem ser inseminadas no cio que é induzido.

Observação de cio e
Dia 0: Dia 7: inseminação de
GnRH PGF2α vacas

Ovulação Luteólise
do folículo
dominante.
Nova onda
folicular,

ix
2. hCG (Human Chorionic Gonadotrophin) – A forte estimulação semelhante
à do LH realizada pelo hCG permite a maturação final e a ovulação da
onda folicular suspendida
a. PGF2α 7 dias após injecção de hCG
b. As vacas podem ser inseminadas no cio cio que é induzido.

3. Progestagénios – O tratamento com progestagénios como Crestar não só


induzem a ovulação do novo folículo dominante como também
provenenciam o chamado “progesterone priming” que previne a
reocorrência de quistos foliculares. As vacas podem ser inseminadas no
cio que é induzido.

Tratamento de quistos luteínicos


Estes quistos com origem no corpo lúteo libertam progesterona e são sensíveis
à acção de prostaglandinas. O tratamento normalmente consiste em uma ou
duas doses de PGF2α . As vacas podem ser inseminadas no cio que é induzido.

Observação de cio e inseminação de


vacas Inseminação de
vacas em cio

11-14 dias Detecção do cio 5-7 dias

PGF2α PGF2α

x
Conclusão
Ainda hoje não se sabe a verdadeira causa dos quistos ováricos, apenas se
conhecem vários factores que o provocam, mas com o progressivo estudo neles
investido, está assegurado que num futuro próximo se saberá a sua razão.

Bibliografia
http://www.partners-in-reproduction.com 2008.
http://www.thedairysite.com NADIS 2002 – 2007.
COLEMAN, Dr. D. A.. “Dairy Integrated Reproductive Management -
Cystic Ovarian Disease”. West Virginia University. 2007.
FRICKE, Paul M.; SHAVER, Randy D. “Managing Reproductive Disorders
in Dairy Cows”. Department of Dairy Science, University of Wisconsin-
Madison. 2007.
“The Merck Veterinary Manual - Follicular Cystic Ovary Disease Overview”
Merck & Co., Inc.Whitehouse Station. 2008.
ZULU, Victor Chisha; PENNY, Colin. “Risk Factors of Cystic Ovarian
Disease in Dairy Cattle”. J. Reprod. Dev. Vol. 44, 191-195 (1998) .
SANTOS, C.; RIBEIRO, E.; SIMÕES, J.. “Incidência e resposta ao
tratamento de quistos ováricos em explorações de bovinos leiteiros”. I
Jornadas Internacionais de Reprodução Animal. Évora. 16 a 18 de Março
de 2007
GOMES, António L. “Reprodução de Bovinos”. Sector de Produção
Animal, Escola Superior Agrária de Santarém. 2002.

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