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Praxe, castigo e humilhação

De ciência incerta, Paulo Martins, Chefe de Redacção


adjunto

Quando eu era estudante, já lá vão uns anitos, as


praxes académicas tinham perdido o seu sentido nas
curvas da tradição. Uma aula simulada, a distribuição
de bibliografia com ficção à mistura e a selecção de
um ou outro caloiro para ser submetido a "exame
médico" eram actividades que faziam as vezes da
praxe, paródias desmascaradas num ápice.

Com o tempo, voltaram aos meios universitários as


velhas praxes. E as novas à boleia delas. "Teóricos"
mais genuínos voltaram a apresentá-las como meio
de promoção da camaradagem entre alunos e ajuda
indispensável à integração de quem se descobre, de
súbito, num mundo diferente. As praxes teriam todas
essas virtudes se não se transformassem,
frequentemente, em exercícios de humilhação do mais
fraco, verdadeiras torturas sobre quem ousa
"desobedecer" aos ditames dos auto- -intitulados
"veteranos".

Ana Francisco, a antiga aluna da Escola Superior


Agrária de Santarém que, por estes dias, conta a sua
odisseia em tribunal, assumiu ter sentido medo da
turba que lhe tocou em sorte. Com o corpo barrado de
excrementos, sentiu que, nas mãos de uns tantos
energúmenos, a "tradição" - que como se sabe tem as
costas demasiado largas - serve de pretexto para os
mais inacreditáveis actos de abuso de poder. Tanto
mais violentos quanto maior for a dimensão da
impunidade de quem os comete.

Declarando-se contra a praxe, Ana acabaria por ser


posta de parte pelos colegas. E só não abandonou a
escola porque aquele era o seu curso de eleição. Não
foi a única caloira "praxada" (o sentido é esse mesmo,
de castigo). Mas foi das poucas que tiveram a
coragem de denunciar os abusos. Honra lhe seja feita.

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