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A Representação Da Identidade Feminina No Bildungosroman de Autoria Feminina Contemporâneo
A Representação Da Identidade Feminina No Bildungosroman de Autoria Feminina Contemporâneo
A Representação Da Identidade Feminina No Bildungosroman de Autoria Feminina Contemporâneo
Resumo:
O Bildungsroman tradicional, cujo modelo seria Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1795), de
Goethe, mostra o aperfeioamento humano e a formao do seu carter. Esse conceito de romance, tido
como um fenmeno tipicamente alemo e voltado a representao de personagens masculinos, comea a ser
problematizado a partir do sculo XVIII. Na atualidade, sobretudo a partir dos estudos de Cristina Ferreira
Pinto, de 1990, pode-se falar em um Bildungsroman de autoria feminina brasileiro. Os temas que permeiam
esses romances variam muito, desde a representao da infncia e adolescncia das personagens, a reflexes
sobre os problemas amorosos e de formao cultural e identitria. Desse modo, o objetivo desse trabalho
uma anlise da representao das identidades femininas deslocadas da contemporaneidade em romances de
trs scritoras contemporneas bastantes singulares: Cntia Moscovich, Duas Iguais (2004), Paloma Vidal,
Algum Lugar (2009) e Adriana Lisboa, com Azul-Corvo (2010).
Palavras-chave: Romance de formao; Escritoras contemporneas; Identidade feminina.
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No sculo XIX, esse desenvolvimento pessoal era representado por meio de uma
narrativa linear, a qual apresentava um indivduo harmnico no seu processo de
aprendizado e formao . O sculo XX, por sua vez, faz com que a ideia desse sujeito
uno e harmnico sofra alguns descentramentos em funo de, entre outras causas, o
surgimento da psicanlise e a ocorrncia das duas grandes guerras mundiais. Nesse
sentido, Stuart Hall (2011) estabelece diferenas cruciais entre o sujeito cartesiano
(iluminista) e o sujeito contemporneo. O sujeito cartesiano, que nasceu da filosofia de
Decartes, j emergiu em meio s dvidas e ao ceticismo provocados pelo
desenvolvimento cientfico que marcou o sculo XVIII. Mesmo assim, era concebido
como racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento.
Esse sujeito vai sofrer alguns descentramentos ao longo do sculo XX. Entre os
mais significativos estariam a descoberta do inconsciente por Freud e o impacto causado
pela crtica feminista. A concepo psicanaltica possibilitou a destruio da noo do
sujeito racional provido de uma identidade fixa ao ressaltar que a identidade
realmente algo formada ao longo do tempo, atravs de processos inconscientes , e no
algo inato, existente na conscincia no momento do nascimento (Hall, 2011, p. 38). J
o feminismo, tanto como crtica terica quanto como movimento social, pelo seu carter
questionador e problematizador, contribuiu consideravelmente para o descentramento
do sujeito cartesiano.
Em consequncia disso, no sculo XX, ocorre uma ruptura em relao ao
conceito teleolgico do processo linear do desenvolvimento do Bildungsroman. Para
Maas, sob a gide da crise do romance configurou-se nas primeiras dcadas do
sculo XX, uma concepo que reconhece a dissoluo dos pressupostos realistas que
sustentaram o romance burgus realista e, por conseguinte, do modelo teleolgico de
desenvolvimento e formao (2000, pp.209-10). Contudo, a autora cita Benjamin que
acredita na continuidade do Bildungsroman no perodo burgus, com adpataes que o
reconfiguram conforme a realidade histrica do sculo XX. isso o que faz com que
haja uma expanso do gnero para alm do ambiente de origem. Para a autora,
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Referncias
BAUMAN, Zygmunt (2001). Modernidade liquida. Traduo de Plnio Dentzien. Rio
de Janeiro: Zahar.
HALL, Stuart (2011). A identidade cultural na ps-modernidade. Traduo de
Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A editora.
LISBOA, Adriana (2010). Azul-corvo. Rio de Janeiro: Rocco.
MAAS, Wilma Patrcia Marzari Dinardo (2000). O cnone mnimo: o Bildungsroman
na histria da literatura. So Paulo: Editora UNESP.
MAGRI, Ieda (2010). Livro de Paloma Vidal dialoga com o cinema de Walter
Benjamin. Jornal do Brasil, 10 abr. 2010. Disponvel em:
<http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2010/04/10/livro-de-paloma-vidal-dialoga-como-cinema-de-walter-benjamin/>. Acesso em: 6 de maio de 2012.
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