Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este trabalho realiza uma leitura das obras História da Província Santa Cruz a que
vulgarmente chamamos Brasil, Ubirajara, A Expedição Montaigne e Coisas de Índio,
buscando identificar e definir as diferentes representações do povo nativo brasileiro em suas
semelhanças e diferenças ao longo das obras. O trabalho também busca confrontar essas
representações com a concepção de “bom selvagem”, conforme expressa por Jean-Jacques
Rousseau em Discurso sobre as Ciências e as Artes, Emílio e Do Contrato Social.
O suíço Jean-Jacques Rousseau, pensador de grande influência na filosofia, na
política, na literatura e na educação (ARBOUSSE-BASTIDE; MACHADO, 1978), produziu
sua obra na Europa do século XVIII, um contexto em que as pequenas comunidades
extratoras tradicionais rapidamente davam lugar a centros urbanos em que tanto a
população quanto a riqueza cresciam, sendo que a última se distribuía de maneira
marcadamente desigual entre as pessoas (JOHNSTON, 1999). Ao vivenciar essa realidade
e refletir sobre esse contexto, o autor percebeu uma contradição fundamental entre o estado
de natureza e a sociedade civilizada, e atribuiu a degenerescência da humanidade à sua
trajetória do estado natural primitivo às sociedades modernas.
O fio de sentido que percorre o trabalho de Rousseau, presente já em seu primeiro
ensaio, publicado em 1750, Discurso sobre as Ciências e as Artes (ROUSSEAU, 1978a), é
a idéia de que o ser humano é essencialmente bom e feliz quando em seu estado natural –
anterior à criação da civilização e da sociedade – mas, submetido à influência corruptora
das sociedades artificiais, marcadas pela interdependência, pela hierarquia e pela
desigualdade, ele se torna insatisfeito consigo mesmo, mesquinho e invejoso, ou seja, mau
e infeliz. “O luxo, a dissolução e a escravidão foram, em todos os tempos, o castigo dos
esforços orgulhosos que fizemos para sair da ignorância feliz na qual nos colocara a
sabedoria eterna” (op. cit., p. 341), afirma o autor para sustentar sua tese.
Para Rousseau, uma das mais gritantes evidências da falha das sociedades em
promover o bem comum é a presença das desigualdades, não as individuais – dadas pelas
características marcantes que diferem os seres humanos uns dos outros – mas as sociais,
que não apenas permitem que alguns possuam mais que outros, mas também – e em
REFERÊNCIAS:
ALENCAR, José de. Ubirajara: lenda Tupy. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969.
GANDAVO, Pero de Magalhães de. História da Província Santa Cruz a que vulgarmente
chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Annuário do Brasil, 1924.
ROGERS, Pat. The Oxford illustrated history of English literature. Oxford: Oxford University
Press, 2001.
_____. Do contrato social. In: Os pensadores: Rousseau. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural,
1978b.
_____. Emílio: ou, da educação. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.