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(*)
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou gro de rocha
Sou o vento que a desgasta (*)
Sou plen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das rvores
Existo onde me desconheo
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperana do futuro
(*)
No mundo que combato morro
no mundo por que luto naso
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
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Ademiro Alves paulistano e trafega na literatura entre a prosa (romance e
contos) e a poesia negra/afro-brasileira urbana. Analisaremos aqui o conto
Os prazeres de Sara (ALVES, 2008), publicado em Cadernos Negros.
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Recordaes do escrivo Isaas Caminha,
O trem parara e eu me abstinha de saltar. Uma vez, porm,
o fiz; no sei mesmo em que estao. Tive fome e dirigi-me
ao pequeno balco onde havia caf e bolos. Encontravam-se
l muitos passageiros. Servi-me e dei uma pequena nota a
pagar. Como se demorassem em trazer-me o troco reclamei:
Oh! Fez o caixeiro indignado e em tom desabrido. Que
pressa tem voc?! Aqui no se rouba, fique sabendo! Ao
mesmo tempo, a meu lado, um rapazola alourado reclamava
o dele, que lhe foi prontamente entregue. O contraste feriume, e com os olhares que os presentes me lanaram, mais
cresceu a minha indignao. Curti, durante segundos, uma
raiva muda, e por pouco ela no rebentou em pranto.
Trpego e tonto, embarquei e tentei decifrar a razo da
diferena dos dois tratamentos. No atinei; em vo passei
em revista a minha roupa e a minha pessoa... Os meus
dezenove anos eram sadios e poupados, e o meu corpo
regularmente talhado (BARRETO, 1949b, p.43).
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