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DOMINGO, 2 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

aliás,
Três na briga
Nick Clegg (C) é a novidade política que sacode
Cameron, Brown e o Reino Unido. Pág. J3

JEFF OVERS/REUTERS
A SEMANA REVISTA
estadão.com.br

JF DIORIO/AE

(In)segurança
pública
A escalada da violência e o combate ao crime organizado
chegam ao debate eleitoral. E são temas de análise dos cientistas
políticos Rogério Arantes e Leandro Piquet Carneiro
Págs. J4 e J5

EXCLUSIVO ❘ Eugênio Bucci


Era uma criança e temia aqueles rostos desconhecidos,
os terroristas procurados que o regime estampava
em cartazes, sem nenhuma gentileza com o olhar infantil
Pág. J8

7 8 9 10 11 12
J4 aliás
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DOMINGO, 2 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

‘Tem que Durante o programa da TV Band Brasil Urgente,


engaiolar’ de José Luiz Datena, o presidenciável tucano,
José Serra, promete a criação de um Ministério
de Segurança. “Bandido tem que ser enfrentado
com dureza. Não precisa desrespeitar o ser hu-
SEGUNDA, 26 DE ABRIL
mano, mas tem que engaiolar”, disse.

RODRIGO LOBO/JC - 5/9/2006


unidade da federação, voltou a subir. Outro
dado preocupante: desde 2004, 21.240 das
97.549 armas de fogo registradas em nome
de empresas de segurança privada foram
roubadas ou furtadas. O que fazer?
Cabe à PF a fiscalização do porte de armas
pelas empresas de segurança. A polícia não
vinha sendo capaz de exercer esse controle
de fato, e a sociedade desconhecia esses nú-
meros e seu significado. Nós realizamos
um referendo nacional sobre comercializa-
ção de armas e não dispúnhamos dessa in-
formação crucial sobre o ingresso de armas
no mercado ilegal brasileiro.

● Por que o debate sobre segurança parece


tão atrasado no País?
Porque desde a redemocratização a ques-
tão da segurança foi muito mais trabalhada
sob o signo dos direitos humanos do que
do fortalecimento do aparato policial. Isso
foi muito benéfico, mas travou a discussão
sobre a questão do crime a necessidade de
reaparelhar as instituições de segurança pú-
blica. Naquele momento, importava mais
reconstruir o Estado de Direito. O que
ocorre agora é uma mudança de paradig-
ma, e não deixa de ser curioso que tenha ti-
do início na passagem da era FHC para a
era Lula. Talvez por isso o Plano Nacional
de Direitos Humanos (PNDH-3) não tenha
encontrado terreno propício no debate pú-
blico ou o STF tenha posto uma pedra so-
bre a ideia de revisão da Lei de Anistia. Não
sei se essa é a melhor forma de encerrar o
longo ciclo da redemocratização, mas diria
que foram os últimos suspiros do cisne.

● Uma das conclusões da pesquisa que o sr.


realizou foi de que o crime organizado no Bra-
sil é 'dependente-associado' do Estado em 4
de cada 10 casos. O que isso quer dizer?
Força-tarefa. Operação conjunta entre as Polícias Militar, Federal e Civil transfere presos do PCC para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná Que, em grande parte dos casos, o crime or-
ganizado depende do Estado e de seus
agentes para se realizar. Seja de modo ati-
vo, pelo assalto a recursos públicos, seja

Um debate atrasado e urgente passivo, pela corrupção das atividades de


fiscalização e de policiamento. Quando de-
cidi estudar as operações da PF, estava mo-
tivado pela ideia de conhecer a ação do Es-
Segurança pública não é só um problema cotidiano dos cidadãos – é questão de governo e de Estado, diz especialista tado contra a corrupção e o crime organiza-
do. O que acabei conhecendo melhor foi co-
mo o crime organizado e a corrupção são
dependentes do Estado. O maior número
Na entrevista a seguir, o cientista políti- zidos ao cargo mediante essa política arti- de operações da PF, por exemplo, ocorreu
IVAN MARSIGLIA co fala do atraso com que o tema da segu- culada entre o governo federal e estaduais. no combate à corrupção no INSS – que, no
rança entrou na agenda da redemocratiza- E as Secretarias de Segurança sempre fo- orçamento federal, detém a maior rubrica.
ção, dos R$ 22 bilhões em recursos sugados ram cargos estratégicos para as elites locais Uma única operação desbaratou uma qua-

Q
uando o cientista do País pelas organizações criminosas – – que hoje não se incomodam ou se veem drilha que desfalcou a Previdência em R$ 1
político Rogério mais que o orçamento anual do Bolsa-Famí- obrigadas a cedê-los para o nível federal. bilhão. De modo que a PF a apelidou de
Bastos Arantes de- lia –, do papel decisivo e dos riscos da atua- Dilma também disse: “Nós fizemos a Força “Ajuste Fiscal”. O volume de recursos mo-
cidiu, em um tra- ção da PF e da conivência que marca por ve- Nacional”. Mas o eleitor pergunta: onde es- vimentados pelas organizações criminosas,
Entrevista balho inédito, zes o cidadão brasileiro: “As pessoas costu- tá essa força? Ela não existe como corpora- estimado a partir de 125 dessas operações,
Rogério Arantes construir um ban- mam ver a corrupção apenas no Estado, ção, é um conceito, que serve, nos casos foi da ordem de R$ 22 bilhões (o orçamento
co de dados para mas ela está na sociedade também”. previstos pela lei, para reunir policiais de do Bolsa-Família previsto para 2010 é de R$
analisar 600 ope- corporações já existentes. A verdadeira for- 13,7 bi). Isso quer dizer que boa parte da ri-
PROFESSOR DO rações da Polícia ● Pesquisas de opinião mostram que a segu- ça nacional hoje é a PF. queza socialmente produzida no Brasil não
DEPARTAMENTO DE Federal ocorridas rança, ao lado da educação, é a segunda é apropriada pelas vias legais – mas pelo cri-
CIÊNCIA POLÍTICA entre 2003 e maior preocupação dos eleitores brasileiros, ● Por quê? me, pela sonegação, pela facilitação de ne-
DA UNIVERSIDADE 2008, ele espera- atrás apenas da saúde. O tema será decisivo Ela é uma novidade republicana. Para repe- gócios ilícitos, etc. As pessoas costumam
DE SÃO PAULO va conhecer a ação do Estado contra a cor- na campanha presidencial? tir o bordão de Lula, nunca na história des- ver a corrupção apenas no Estado, mas ela
rupção e o crime organizado no País. O Sem dúvida, é um dos temas candentes da te país se teve uma força policial de caráter está na sociedade também.
que acabou conhecendo melhor, conta ele, opinião pública nacional por aquilo que cer- civil, sob o comando do Poder Executivo fe-
foi outra coisa: “Como o crime organizado ca as pessoas em seu cotidiano. Mas o deba- deral e com capacidade de atuação em to- ● Sua pesquisa considera a atuação da PF
e a corrupção são dependentes do Estado”. te entre os principais candidatos, Serra e do o território nacional. Nem os militares positiva. Há problemas também?
Professor da Faculdade de Filosofia, Le- Dilma, me parece, vai além: diz respeito a ousaram “empoderar” assim a organiza- A PF aparece na linha de frente dessas ope-
tras e Ciências Humanas da Universidade políticas de governo e de Estado. Foi o que ção. Após a ditadura não se fez isso, o gover- rações, mas por trás dela há quase sempre
de São Paulo (USP) e docente da Pontifícia os levou a divergir sobre a criação de um no FHC não o fez – exceto no final, quando uma “força-tarefa”, envolvendo também o
Universidade Católica (PUC-SP) de 1995 a Ministério da Segurança Pública. inicia o reaparelhamento da PF. Quem de MP e o Poder Judiciário e até agentes de ou-
2008, Arantes, 41 anos, é um especialista fato “soltou os federais” foi Lula. Já a cria- tras instituições. Isso gera maior eficácia,
no funcionamento das instituições políti- ● Um novo ministério é o caminho? ção de um ministério específico para a área mas preocupa os defensores das garantias
cas e judiciais brasileiras. Goiano de Anápo- Eu diria que é natural que essa ideia apare- esbarraria no texto constitucional. Seria e liberdades individuais. É o receio de que
lis, ele viu sua pesquisa sobre a atuação da ça no contexto atual. Uma política que, se- uma tarefa mais complicada. resultem em abuso de autoridade – como
PF ganhar relevância extra essa semana, gundo a Constituição, é fundamentalmen- chegou a alertar o ex-presidente do STF,
quando notícias sobre o grupo criminoso te estadual, sofreu nos últimos anos um ● Nos últimos dias, o PCC saltou do noticiário Gilmar Mendes.
Primeiro Comando da Capital (PCC) extra- deslocamento para o plano federal – em paulista para o internacional, com o atentado
polaram as fronteiras nacionais. função da política de segurança capitanea- no Paraguai e a recomendação do governo ● Os principais candidatos à Presidência pa-
Dois brasileiros supostamente ligados à da pelo Planalto. Esse deslocamento envol- americano para que seus turistas evitem o recem bem informados sobre segurança?
organização foram presos em Pedro Juan ve um fortalecimento das instituições fede- litoral sul de São Paulo. A pressão de fora O primeiro round travado entre os dois re-
Caballero após um atentado contra o sena- rais de combate ao crime organizado e à pode mobilizar as autoridades brasileiras? vela baixo grau de entendimento dessas
dor paraguaio Robert Acevedo. Não foi só corrupção, como a Polícia Federal e o Mi- Esses episódios pressionam o governo, questões. Quero crer que a campanha elei-
isso: na segunda-feira, o governo dos EUA nistério Público. O governo chamou para si mas são de fôlego curto. Entretanto, é peri- toral seja capaz de produzir informação
emitiu um comunicado pedindo que seus a responsabilidade de coordenar a área, e a goso para a segurança do Estado brasileiro mais qualificada. Se a gente considerar que
cidadãos evitem o litoral sul paulista, onde proposição de um Ministério da Segurança o fato de que na região fronteiriça haja uma nas áreas econômica e social o mais prová-
13 assassinatos foram atribuídos à facção viria consolidar esse processo. confluência do tráfico de drogas, de armas vel é que haja continuidade, independente-
criminosa nos últimos dias. e do crime organizado. Quando um Estado mente de quem assumir a Presidência em
Diante dos fatos, os principais pré-candi- ● E por que Dilma rejeitou a proposta? não consegue controlar minimamente seu 2011, o que pode fazer diferença nas elei-
datos à Presidência da República foram à Foi como se Serra se apropriasse de uma território e o uso da força nele, a ponto de ções deste ano são áreas como a da seguran-
guerra. O postulante tucano, José Serra, política que vem sendo conduzida de mo- ter que decretar “estado de exceção”, co- ça. Seria muito útil, por exemplo, se esses
prometeu, se eleito, a criação de um Minis- do bem-sucedido pelo atual governo – na li- mo fez o Paraguai, passa a caminhar na di- candidatos pelo menos antecipassem o per-
tério da Segurança Pública. A petista Dilma nha da estratégia de campanha tucana, que reção do que a literatura chama de failed sta- fil dos futuros ocupantes dos cargos de mi-
Rousseff rebateu, exaltando a coordenação é a do “podemos mais”. Dilma disse que a tes – “Estados falidos”. No Brasil, o crime nistro da Justiça e procurador-geral da Re-
federal da área, que já vem sendo feita via questão é mais de coordenação que de insti- organizado nunca chegou a ameaçar a or- pública. São estes que lideram as organiza-
Ministério da Justiça. “Pela Constituição, tucionalização em forma de ministério, dem nesse nível. Mas a atenção do País de- ções mais importantes para a segurança ho-
cabe aos governos estaduais o combate ao pois é o que o Ministério da Justiça já vem ve ser redobrada. je, a PF e o MP, e terão que enfrentar o de-
crime”, ressalta Rogério Arantes, “mas se- fazendo. E em nível bastante agressivo: ho- safio de manter o equilíbrio das funções no
gurança pública diz respeito também a polí- je, 17 Estados têm como secretários de se- ● Depois de um período de retração, o núme- interior do sistema. Eu definiria o meu vo-
ticas de governo e de Estado”. gurança delegados da PF que foram condu- ro de homicídios em São Paulo, a principal to em função dessas escolhas.

NOTÍCIAS DE SENADOR PARAGUAIO EX-PRESIDENTE DO STF


UMA GUERRA Robert Acevedo pede que Brasil reaja Gilmar Mendes pede garantias
PÚBLICA
“Precisamos de medidas mais duras por parte do Bra- “Combate ao crime organizado? Sim. Mas dentro dos
sil. O que está acontecendo aqui no Paraguai é que os paradigmas do Estado de Direito. (...) Não podemos
narcotraficantes estão se organizando em consórcios. fazer concessões no que diz respeito à observância dos
Eles acertam até os valores para liquidar pessoas” direitos e das garantias individuais”
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 2 DE MAIO DE 2010 aliás J5

Boqueirão A Polícia Militar desloca 200 homens para San-


tos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá em res-
quente posta à violência na região, onde, por suposta
ação do PCC, 23 pessoas foram assassinadas
em dez dias. O governo dos EUA orientou seus
cidadãos a não viajar para o litoral sul paulista.
TERÇA, 27 DE ABRIL

MONICA ZARATTINI/AE

A sedução do PCC suas preferências. Não é injusto dizer que


em sua maioria esse é um grupo que ostenta
fortes convicções anticontrole social, o que
se expressa também em uma preocupação
maior com a violação dos direitos humanos
A supervalorização do crime organizado tem ajudado na negação praticadas por instituições do Estado do
que com o controle do crime. Mas, parado-
das políticas públicas visando a diminuir o crime em São Paulo xalmente, o principal resultado dessa atitu-
de de aparência progressista é o aumento
da desinformação do público e a definição
Ainda não sabemos com certeza, mas con- de prioridades equivocadas para as políti-
LEANDRO PIQUET CARNEIRO cretamente os governos de São Paulo da cas públicas.
última década optaram por aumentar o gas- A supervalorização das ações do crime or-
to com o sistema de Justiça criminal e tam- ganizado tem se mostrado uma forma efi-

A
lgo aconteceu em São bém em tentar ampliar sua eficiência. Um ciente de negação do papel das políticas pú-
Pauloquenãoaconte- indicador parece resumir bem o resultado blicas de segurança e Justiça na contenção
ceu em nenhum ou- dessa política: entre 1995 e 2006, a popula- do crime. Há especialistas que chegam ao
tro Estado do Brasil. ção carcerária de São Paulo aumentou extremo de argumentar que o PCC foi um
No curto período de 166% e o Estado tem atualmente a maior fator importante, se não o mais importante,
uma década São Pau- taxa de encarceramento por 100 mil habi- para explicar a queda dos homicídios em São
lo tornou-se um dos tantes do Brasil. No curto período entre Paulo. Não é absurdo supor que a forma co-
Estados menos vio- 2005 e 2008 o aumento foi de 103%. Houve mo o PCC se organiza e atua nos mercados
lentos do país, após nesse período também um aumento da pro- ilícitos pode ter umefeito sobreo número de
apresentarumaredu- porção de condenações por crimes que são homicídios,mas para podermos afirmar isso
ção de 66% na taxa de homicídios entre 1999 tipicamente organizados, como o tráfico necessitaríamos de muita pesquisa empírica
e 2008. Em 1999 era o quinto Estado mais de drogas, que aumentaram 134% entre sobre a atuação do PCC, não apenas nos pre-
violento e em 2007 passou a ser o terceiro 2005 e 2009. sídios, mas na sociedade como um todo.
menos violento do país, perdendo apenas Oproblema é que o encarceramento custa A redução dos homicídios ocorreu em to-
paraSanta CatarinaePiauí.Ataxadehomicí- muito caro: os gastos com a administração do o Estado de São Paulo, um Estado com 41
dios no Brasil, excluindo-se São Paulo, é de penitenciária aumentaram 172% entre 2000 milhões de habitantes, distribuídos em 645
29 por 100 mil, o que é quase duas vezes a e 2009. Foram R$ 2 bilhões gastos com o municípios. O processo foi mais ou menos o
taxa do Estado de São Paulo, de 14,8 por 100 sistemapenitenciárioem2009,oquecorres- mesmo na região metropolitana, no inte-
mil habitantes. O número de roubos segui- ponde a quase 2% do gasto total do Estado rior, nos pequenos, nos médios e nos gran-
dos de morte no Estado também diminuiu no ano. Além de caro, o sistema penitenciá- des municípios. No entanto, toda a comple-
67% entre 1999 e 2008. rio torna-se facilmente uma fonte de novos xidade institucional e demográfica envolvi-
Se nesse período São Paulo tivesse segui- problemas para a sociedade. O pior deles é o da no processo que resultou na redução de
do a mesma tendência dos demais Estados aparecimento do crime organizado nos pre- 66% da taxa de homicídios em uma década,
brasileiros na evolução das taxas de homicí- sídios e o risco de transbordamento desse logrando salvar milhares de vidas de jovens
dio, a taxa esperada em 2008 teria sido quase problema para a sociedade. nasáreas mais pobresdo Estado,parece ape-
quatro vezes maior do que aquela efetiva- Apresença docrimeorganizado nos presí- nas um detalhe pouco importante para al-
mente observada. Com base nessa simula- dios e secundariamente na sociedade tor- guns observadores. Essa atitude não só con-
ção é possível afirmar que a redução dos ho- nou-se um problema desafiador para o siste- tribui para a desinformação do público, co-
micídios ocorrida entre 1999 e 2008 permi- ma de Justiça criminal e constantemente mo mostra preconceito contra o trabalho
tiu poupar 71 mil vidas, sendo que 34 mil tem sido utilizado como argumento de que a das instituições de segurança pública e da
foram vidas de jovens entre 15 e 29 anos. política de segurança pública seguida em Justiça. Se nada foi feito de relevante pelas
Umaestimativa maisconservadora,simples- São Paulo na última década caminha para o instituições públicas, nada precisa ser pre-
mente supondo-se a manutenção da mesma fracasso. Pode-se mesmo dizer que o tema servado, aprimorado e reproduzido. Apenas
taxa de homicídios de 1999, nos nove anos do crime organizado e de seu poder na socie- tivemos sorte. Esse é um equívoco que pode
seguintes,até2008,teriapoupadoaproxima- dade tem recebido mais atenção do que o ter um custo pesado para a sociedade no fu-
damente 55 mil vidas. debate sobre as causas da redução dos cri- turo próximo.
Esses resultados colocam o Estado de São mes violentos no Estado de São Paulo na
Paulo ao lado de outros casos de sucesso na última década. ✽
reduçãodehomicídios, comoNovaYork eas Para entender por que ocorre essa inver- LEANDRO PIQUET CARNEIRO É PROFESSOR DO
cidades colombianas de Medellín e Bogotá. são de “valores” é preciso olhar para a comu- INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E PES-
Que políticas públicas tornaram esses resul- nidade de especialistas que militam na área QUISADOR DO NÚCLEO DE PESQUISA DE POLÍTI- Lei da grade. Chega-se a usar uma suposta importância
tados possíveis? de segurança pública e entender melhor CAS PÚBLICAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO da organização para explicar a queda dos homicídios

Politização do escuro
A bufa partidarização de tudo nos põe ante o fato de que a história da nova democracia brasileira
está balizada por apagões, e quem atira a primeira pedra não fica imune ao efeito bumerangue

MÔNICA ZARATTINI/AE
do Estado realizou a exposição de Eduardo Queixas.
JOSÉ DE SOUZA MARTINS Muylaert,Boanoite,Pauliceia!,combelasima- Iluminação
gens feitas numa excursão fotográfica de sempre aquém
uma única noite pela cidade de São Paulo. do desejado e do

A
s justas queixas dos Uma verdadeira etnografia da escuridão na necessário
consumidores de leitura das revelações das luzes residuais da
energia elétrica e dos cidade. A beleza da noite escura é uma das
usuários noturnos grandes marcas das xilogravuras com que
das ruas de cidades OswaldoGoeldi registrouos cenáriosnotur-
como São Paulo e nos dos subúrbios do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, de Se há o romantismo do escuro e da noite
que a iluminação pú- no imaginário popular, há também a queixa
blica nestas localida- frequente contra a luz insuficiente. É nesse
desestáaquém do de- contraponto que podemos compreender a sem energia a área atingida por 15 dias. Mui- longe e o PT não disse.
sejável e do necessário, nos remetem ao fas- questão da iluminação pública atual como tos querem a luz, mas não querem encrenca Mas quem atira a primeira pedra nem
cinante mundo do lugar da escuridão na empobrecimento do nosso imaginário. A com os ladrões de fios da rede elétrica. Ho- sempre está imune ao efeito bumerangue
história e na política. Como nos remetem, luz e a escuridão se politizaram, tornaram- je, a reclamação contra a luz insuficiente da pedrada. Em 2009, o governo de Luiz
também, ao lugar da iluminação pública no se temas de demandas e de questionamen- vem do medo ao outro, ao vulto que vaga, Inácio Lula da Silva teve o seu apagão, este
imaginário social e na sociabilidade das gen- tos políticos frequen- nas cidades em que o sim de verdade. Ficaram total ou parcial-
tes urbanas. Até por suas implicações estéti- tes. A mais estranha outro se tornou suspei- mente sem energia elétrica 18 estados. Foi,
cas, esse é um mundo fascinante. queixa ocorreu na épo- Passamos do escurinho to, não importa de que. no entanto, poupado pelas oposições. Ao
Nossas tradições românticas passam não ca da substituição dos do cinema a um A bufa partidariza- longo desse mesmo governo, houve vários
só pela época do escurinho do cinema, mas lampiões a gás pela luz ção de tudo nos põe an- apagões menores, também eles por falta de
também pela de um cotidiano que insistia e elétrica. Em São Paulo, cotidiano que insiste te o fato insólito de que planejamento. Aliás, ninguém fala na fre-
insiste cada vez mais em iluminar a todos e a a primeira rua ilumina- em iluminar tudo a história da nova de- quente falta de energia nas casas de bairros
tudo e, portanto, em acabar com esse reduto da por eletricidade foi a mocracia brasileira es- inteiros de São Paulo, até durante o dia, apa-
de nossas liberdades que é o breu insubmis- Barão de Itapetininga, tábalizada pordoisapa- gões em plena claridade diurna! É que aí,
so. Passam, também, pelas obras de arte. Em em 1905, e em 1935 apagou-se o último lam- gões, o de 1991 e o de 2009. O de 1991 nem responsável é a distribuidora, empresa pri-
Macário, do poeta Álvares de Azevedo, na pião a gás. Para muitos a cidade ficara me- apagão chegou a ser, logo domesticado por vada, e não o governo local. É eleitoralmen-
garupa do burro preto de Satã, a personagem nos iluminada do que fora com o gás. medidas de emergência, com ampla e pre- te inútil satanizá-la.
se deslumbra com os contornos de São Pau- Nos dias atuais, o frequente clamor con- miada adesão popular, no racionamento vo-
lo no começo da noite. Reproduz o poeta tra a insuficiente iluminação da cidade vem luntário. Não obstante, rendeu dividendos ✽
paulistano visão descrita em sua mais bela do fato de que cerca de 4% das lâmpadas de políticos ao PT, que usou e abusou do assun- JOSÉ DE SOUZA MARTINS, PROFESSOR EMÉRITO
carta, a um amigo, em 1848: “Lá ao longe, se iluminação pública estão queimadas. A que to e questionou, com razão, a falta de plane- DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP, É AUTOR,
levantavaacidadenegra;eoslampiõesabala- se junta o roubo anual de centenas de quilô- jamento para o setor de energia elétrica por ENTRE OUTROS LIVROS, DE A SOCIABILIDADE DO
dos pela ventania...” Em 2006, a Pinacoteca metros de fios da rede, o que em geral deixa parte do Estado brasileiro, o que vinha de HOMEM SIMPLES (CONTEXTO)

CANDIDATO TUCANO CANDIDATA PETISTA


José Serra defende na TV a criação Dilma Rousseff prefere articulação
de ministério específico para a área entre Estados e governo federal
“Se for presidente, vou criar o Ministério da Segurança “Concordo que é importante o foco na segurança. Mas
Pública, concentrado só em tarefas da segurança. (...) o Ministério da Justiça tem desempenhado a função.
Porque a situação no Brasil é gravíssima” Não vejo a necessidade de criar mais um ministério”

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