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No famoso livro de John Bunyan, O Peregrino, observamos a jornada de Cristão desde a sua
conversão a Cristo até chegar à cidade celestial. Em vários momentos da narrativa, podemos
notar que a convicção sobre as verdades da Palavra de Deus foram fundamentais na jornada do
peregrino. Na ocasião em que ele teve que atravessar o Vale da Sombra da Morte, vários outros
homens desistiram afirmando que a travessia era perigosa demais, por isso aconselharam
Cristão a não prosseguir. Mas a convicção deste peregrino era firmada na Palavra de Deus: “Pelo
que dizeis, cada vez me persuado mais de que é este caminho que devo seguir, para chegar ao
porto desejado” (Salmos 44:18).
Em meio às lutas e dores alguém pode desistir facilmente da caminhada com Deus porque
não cultivou convicções fortes o suficiente para manter-se de pé. O cristão não irá crescer e
amadurecer se não tiver convicções espirituais firmes. Não existem atalhos na vida cristã que
nos levem à maturidade espiritual. Observando a história descrita neste texto bíblico e
percebendo as atitudes de Davi ao passar por aquela disciplina do Senhor, passei a refletir sobre
a importância de termos convicções sólidas. Nossas convicções devem se transformar em
atitudes que honram e glorificam a Deus, como fez Davi neste texto. Diante dos fatos relatados
nos versículos lidos, eu gostaria de afirmar o seguinte:
Em outra ocasião, quando Davi pecou ao ter feito um recenseamento em Israel, a punição
do Senhor foi colocada em três alternativas. Davi poderia escolher entre sete anos de fome, três
meses de perseguição dos inimigos de Israel ou três dias de peste. As palavras de Davi em II
Samuel 24:14 mostram que ele confiava na misericórdia do Senhor: “Estou em grande angústia;
porém caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos
homens não caia eu.” Naqueles três dias morreram setenta mil homens pela peste, mas Davi
mostrou-se dependente da grande compaixão de Deus.
O cativeiro babilônico foi uma dura disciplina do Senhor sobre o seu povo. A calamidade se
instaurou em Judá conforme a advertência dos profetas. Jeremias escreveu vários lamentos nos
quais destaca a grande desolação sofrida pelo povo. Porém, diante de toda aquela disciplina ele
não podia deixar de confiar na misericórdia do Senhor, por isso ele escreveu: “As misericórdias
do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim,
renovam-se cada manhã” (Lm. 3: 22). Mais adiante o profeta deixa claro que “o Senhor não
rejeitará para sempre; pois ainda que entristeça alguém usará de compaixão, segundo a
grandeza das suas misericórdias” (Lm. 3: 31 e 32).
Quando nós estamos sob a vara da disciplina do Senhor nossa primeira reação é achar que
Deus mudou. Pensamos que Ele retirou de nós a sua misericórdia amorosa e tiramos conclusões
baseadas unicamente na dor que estamos enfrentando. A disciplina que vem de Deus nos leva a
duvidar de sua misericórdia e bondade sobre as nossas vidas. Começamos a racionalizar e
concluímos que Deus não é mais compassivo por causa de tamanha angústia em nosso coração.
Este é pensamento da grande maioria dos crentes que estão sendo disciplinados.
Como você avalia a sua convicção a respeito da misericórdia de Deus quando está sob
disciplina? Como crentes, devemos ter convicções bem fundamentadas quanto à misericórdia do
Senhor, para que não sejamos enganados em meio à dor. Precisamos confiar plenamente que
Deus não retirou de nós a sua compaixão. Se Ele assim o fizesse estaríamos totalmente perdidos
e destruídos. Mas esta convicção não aparece de repente na vida do cristão. É necessário
aprender a enxergar a misericórdia do Senhor em cada circunstância da vida, seja ela boa ou
ruim. Já fomos alvos da misericórdia do Senhor ao nos resgatar por meio de Cristo Jesus e nunca
é demais lembrar que Deus continuará sendo misericordioso mesmo quanto tiver que disciplinar
os seus filhos.
Será que nós evidenciamos que Deus continua sendo digno de adoração mesmo em meio à
disciplina que estamos enfrentando? Será que levantamos nossa voz em louvor e adoração ao
Senhor enquanto estamos sob a vara de correção? É muito fácil e até comum ver o cristão
louvando ao Senhor quando tudo vai bem em sua vida. Mas não é tão comum ver cristão
apresentar uma adoração sincera a Deus quando está sendo disciplinado. Geralmente o que se
ouve são murmurações e reclamações de todo tipo. E muitas destas murmurações são
direcionadas diretamente a Deus, provenientes de pessoas que estão “decepcionadas” com Ele.
Ao passar pela dura disciplina, muitos crentes não se reúnem mais com a igreja local porque
deduzem que estão sendo maltratados por Deus.
Outro problema é quando a nossa adoração ao Senhor tem como objetivo alcançar méritos
diante d’Ele. Esta prática é um grande insulto e nos afasta totalmente do propósito da adoração
genuína. A verdade é que se o foco está no homem e se Deus é apenas acessório,
definitivamente isto não é adoração verdadeira. Devemos abandonar qualquer forma vazia de
adoração que tenta barganhar certos privilégios.
Precisamos abrir os nossos lábios para adorar ao Senhor em meio à disciplina porque Ele
continua sendo digno. Deus não perde sua excelência ou poder, porque n’Ele não há variação ou
sombra de mudança (Tg. 1:17). Deus sempre será o mesmo em glória, honra e majestade, e nós
precisamos apreciar esta glória de Deus mesmo debaixo da Sua disciplina. Um bom motivo de
louvor a Deus é justamente o fato de estar passando pela disciplina, pois isto prova que é um
filho legítimo e não um bastardo. Deus é digno de ser adorado e exaltado porque Ele é o único
Deus que disciplina os filhos a quem ama. E também devemos confiar integralmente no Senhor,
pois a confiança em Deus é a base para uma adoração autêntica.
O rei Davi escreveu o maior poema que exalta a Palavra de Deus. No Salmo 119, ele faz
referência às transformações efetuadas em sua vida depois de ter passado por disciplina. “Antes
de ser afligido andava errado, mas agora guardo a tua palavra” (Sl. 119:67), e também: “Foi-me
bom ter passado pela aflição para que aprendesse os teus decretos” (Sl. 119:71). Estes versos
nos mostram que o propósito corretivo foi cumprido na vida de Davi justamente por causa da
disciplina que veio do Senhor.
O escritor aos Hebreus nos ensina que a disciplina sempre é acompanhada dos justos
propósitos do Senhor (“não há dor que seja sem divino fim”). Em Hb. 12: 10-11 está escrito:
“Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes em sua
santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de
tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que tem sido por ela exercitados, fruto
de justiça.” Deus não é um carrasco celestial que trata o crente com uma correção
desproporcional.Quando Deus nos corrige, Ele o faz sem excessos; Ele o faz na medida exata da
nossa necessidade e com um alvo muito claro: a nossa santificação. O cristão não deve
menosprezar a disciplina, porque ao menosprezar a disciplina, estará contribuindo para atrair
sobre si uma disciplina ainda mais severa, como aconteceu várias vezes com o povo de Israel.
Portanto, é fundamental que confiemos plenamente que Deus está trabalhando para nos
aperfeiçoar, pois Ele começou uma boa obra em nós e é fiel para completá-la (Fl. 1:6). Somos
uma obra de arte que ainda não chegou ao estágio
Concluindo, é verdade que a disciplina traz dor e que não é nada confortável passar pela
dura correção do Senhor. É por isso que convicções firmes são fundamentais para o cristão
atravessar a disciplina de modo agradável a Deus. Somente assim um aperfeiçoamento real será
visível na vida do crente. Precisamos ter convicções a respeito da misericórdia de Deus, da Sua
excelência que nos leva a adorá-Lo e dos seus justos propósitos que se cumprirão em nossas
vidas. Você tem estas convicções em seu coração? A Palavra de Deus nos assegura a
importância de todas elas para que sejamos servos fiéis em qualquer circunstância,
especialmente quando estivermos passando por um processo de disciplina.
Que Deus nos abençoe na aplicação de Sua Palavra em nosso viver diário.