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Curso Roteiro
Curso Roteiro
Capítulo 1
1. Introdução
Muita gente sonha em escreve um roteiro para Cinema e/ou TV.
As dificuldades começam ao se buscar informação a respeito. Poucos são os livros disponíveis. Cursos geralmente só
acontecem em grandes cidades e normalmente são pagos. Mesmo na internet não se encontra muito.
Foi por isso que eu resolvi escrever esse Curso de Roteiro e disponibiliza-lo gratuitamente no site Banco de Roteiros. É
uma forma de democratizar mais a informação, de dividir a experiência que eu tenho com você. É também uma forma
de agradecer a todos aqueles que colocam informação na internet em várias áreas, da música à informática, e que já
me ajudaram tanto em minhas pesquisas.
Objetivo - durante as aulas você vai acompanhar como eu escrevo um roteiro passo a passo, etapa por etapa. No
final, seguindo essas mesmas etapas, espero que você possa também escrever o seu roteiro.
Faremos o roteiro de um Curta metragem. Os elementos da trama estão todos aí como num longa, mas numa escala
menor. Aconselho a escrever alguns curtas antes de tentar escrever um longa-metragem.
Capítulo 2
Capitulo 3
3. Formatando o roteiro
Mal o sujeito decide escrever um roteiro e lá vem a dúvida cruel: em que formato se deve escrever um roteiro?
Existe uma tentativa de estabelecer normas para o formato de um roteiro. Livros, manuais e alguns sites abordam isso.
Existem até alguns programas que prometem facilitar essa formatação.
Há um tempo atrás eu também fiquei na dúvida. Queria formatar corretamente meus roteiros conforme mandavam os
manuais. Daí comecei a ler roteiros de descobri que a grande verdade é uma só: cada roteirista acaba escrevendo da
maneira como achar mais cômodo. É isso que pouca gente diz pra você.
Pessoalmente achei mais fácil desenvolver uma forma do que aprender a operar esses programas. E depois que eu li o
roteiro do longa Cidade de Deus fiquei mais tranqüilo em relação a formato.
Então o meu conselho é o seguinte: na dúvida escreva do seu jeito, do jeito que você achar melhor. Se você ficar se
preocupando com isso agora sua idéia de roteiro vai por água abaixo e você ficará preso nas teias das teorias e
normas.
Depois que você acabar de escrever e revisar seu roteiro aí se preocupe com a formatação. Baixe alguns roteiros na
internet, dê uma boa lida e analise que tipo de estilo combina mais com você.
No meu ofício de roteirista tenho desenvolvido não uma mas várias formas de escrever um roteiro, desde o tipo mais
próximo do tradicional até os mais ousados.
Pra você ter uma idéia: o roteiro do Curta O MEDO mais parece um Plano de Câmera do que vai ser filmado. O roteiro
do Curta O TELEFONEMA parece um Plano de Edição. NAMORO NA INTERNET já tem um formato mais tradicional.
Tudo depende muito do que eu estou querendo/precisando escrever. No caso do MEDO e do TELEFONEMA eu
(roteirista) quis fazer um roteiro detalhado do que tinha imaginado para que eu (diretor) pudesse filmar depois com
mais facilidade. É a vantagem de você filmar seus próprios roteiros.
Via de regra, porém, você não precisa se dar a esse trabalho. Pode apenas indicar o lugar onde se passa a cena, o
momento, se é interna ou externa. São informações que ajudam o diretor a compreender melhor o roteiro.
Outra coisa que você vai observar nos meus roteiros: dificilmente uso palavras em inglês. Procuro sempre o
equivalente em português. Isso faz parte da busca de uma identidade tupiniquim para o cinema nacional. Sei que o
assunto é polêmico mas é assim que eu trabalho. Busco criar uma nova linguagem dentro de uma nova estética até
mesmo na formatação do roteiro. Mentes novas, idéias novas.
Capitulo 4
4. A idéia
O fantasma da folha em branco vem assolar todos nós, escritores e roteiristas. A abertura do filme JOGUE A MAMÃE
DO TREM tem uma seqüência primorosa de um escritor com a síndrome da folha em branco. Sentado à frente de sua
máquina de escrever o pobre homem sofre um bocado sem conseguir uma frase que preste para começar seu novo
romance. Folhas e mais folhas são tiradas da maquina, violentamente amassadas e jogadas ao lixo.
Como o filme é um pouco antigo hoje em dia o escritor estaria na frente da tela em branco do Word...
De onde vem a idéia? Como e quando um roteiro realmente começa?
Eu tenho 2 processos de criação. Estando sempre atento a observar o mundo e tentar entende-lo nesse processo
aparecem boas idéias. Uma notícia num jornal, uma observação feita acerca de determinada situação, um tema que
me pareceu pouco (ou erroneamente) explorado pela mídia, tudo isso me fornecem idéias.
Esse primeiro processo é muito mais cerebral, fruto de usar a observação aliada ao talento. Depende de você estar
conscientemente atento e fazer um trabalho que parte muitas vezes do racional para o emocional.
Mas existe um segundo processo que é mais, digamos assim, mágico, um tanto quanto incontrolável e imprevisível: a
inspiração. Você não pode prever quando ela vem nem força-la a vir. Mas quando ela vem ela vem com tudo.
De estalo, aparentemente do nada, tenho uma idéia. Ao invés de deixa-la passar, de espanta-la como se espanta uma
mariposa que voa em volta da nossa cabeça eu a deixo voar. Deixo a idéia evoluir na frente dos meus olhos pra ver até
onde vai dar.
Daí o roteiro me aparece quase pronto. Seqüências inteiras estão ali, diante dos meus olhos, numa velocidade
vertiginosa. E é preciso anotar tudo nessa hora - porque depois vai ser tarde demais. Porque isso é um processo
emocional e a parte racional agora estragaria tudo.
Nessas horas o negócio é anotar com o máximo de detalhes possíveis a idéia e se lançar ao roteiro o quanto antes.
Porque depois o tempo vai passando, as cores da idéia vão se desbotando, e o que poderia ser o roteiro do ano pode
acabar com mais um pedaço de papel amassado no fundo da gaveta.
Para esses momentos mágicos recomendo estar sempre com caneta e um bloco de anotações à mão. Afinal você
nunca sabe onde vai ter uma idéia: pode ser no serviço, no ônibus, no carro enquanto você dirige (esse é o pior dos
momentos), enfim em qualquer lugar.
Muitas vezes um pensamento se encadeia com outro, que não tinha nada a ver com o primeiro nem com onde eu
estava, e de repente se abre a janela da mente e voa a idéia fazendo suas evoluções magníficas. Outras vezes um fato
acontecido ali na minha frente liberta a idéia - que no fim não vai ter nada ou pouco a ver com o fato que a originou.
Muita gente fica esperando a vida toda por esses momentos mágicos que ou não vem ou quando vêm não podem ser
aproveitados. Então meu conselho como roteirista é: trabalhe. Não espere a idéia pintada de dourado na sua frente.
Porque no fim as idéias nascem mesmo das nossas observações. E observar ajuda muito a inspiração.
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
7. Começando a escrever
Como eu já disse às vezes você tem aquela inspiração e o filme parece rodar na frente dos seus olhos, na tela interna
da imaginação. Outras vezes você tem que trabalhar duro pra chegar lá.
Começar do nada é sempre mais difícil. Há mais perguntas a responder do que quando você tem a bendita inspiração.
Mas às vezes podemos dar uma ajudinha ao processo criativo se estivermos atentos.
Resolvi dar um exemplo desses primeiro. Porque do seu lado todo dia acontecem milhares de coisas. Com você, com
as pessoas que o cercam. Tudo é material para um bom roteiro.
Você é um bom material para um roteiro. As coisas que você vê, vivencia, pensa.
Desde os tempos de cronista que eu me uso como material de trabalho.
Tem muitos escritores e roteiristas que fazem isso: vão escrevendo a suas biografias aos pedaços. Mas esse não é o
meu caso.
Muitas vezes eu parto de algo que aconteceu comigo, ou de um pensamento, de uma emoção, e extrapolo. Às vezes
crio toda uma situação em cima de um fragmento, de um detalhe, de uma sensação. Outras vezes escracho o que está
acontecendo comigo mesmo, crio personagens, dou-lhes vida - e no final o que é escrito nem tem mais a ver com a
situação que originou todo o processo.
Quis dar esse exemplo primeiro porque você passa por situações assim no cotidiano e nem presta a atenção. Coisas
interessantes estão acontecendo agora e poderiam ser seu próximo roteiro, se você estivesse ligado, pronto para ver a
oportunidade.
Então vou contar primeiro o que aconteceu comigo no começo do ano.
Era uma noite dessas mornas. Tudo parecia calmo e eu me sentia bem comigo mesmo. Nada tinha acontecido de
especial, nada de anormal. Eu só estava me sentido bem.
Daí jantei e fui escovar os dentes. Abri o armário com espelho do banheiro, peguei a escova e já ia pegar a pasta
dental quando a porta do armário resolveu fechar na minha mão. Calmamente abri novamente a porta só pra ela se
fechar de novo inexplicavelmente.
A porta do armário nunca tinha feito isso, e eu tentei abrir de novo. Mas ela insistia em fechar. Aquilo se repetiu por
mais algumas vezes.
Eu confesso que isso estragou o meu humor. Você pode pensar que é pouco pra se perder o humor - mas tente ficar
abrindo uma porta de armário com ela insistindo em fechar umas 20 vezes no seu dedo.
Eu percebi que tinha me irritado. E aquela prometia ser uma noite perfeita. Então, agora com a boca cheia de espuma
de pasta de dente, e escovando os dentes com meu dedo doendo, pensei nas variações de humor que assolam o ser
humano. Em como a sensação de felicidade pode ser fugaz, pode se evaporar de um momento para o outro. Em como
o que parecia um dia perfeito se transforma num péssimo dia - e quantas vezes a gente passa por esse tipo de
situação.
E pensando assim pensei que tudo isso daria um roteiro de um curta. Até pra levar as pessoas a refletirem sobre tudo
isso e não se deixarem levar - como eu - por tropeços tão pequenos. E foi assim que surgiu a idéia do roteiro HOJE
VAI SER UM DIA PERFEITO.
Claro que eu podia só ter me chateado, saído do banheiro e procurado uma chave de fendas pra consertar o maldito
armário. Mas uma idéia levou a outra e eu saí com mais uma idéia.
Quis mostrar aqui o encadeamento de idéias, de pensamentos, de colocações que me levaram até esse roteiro. O que
importa mais pra você não é o roteiro em si, mas o processo de criação.
Você precisará abstrair do gênero que você gosta ou não para perceber o processo de criação que eu vou descrever
nas próximas aulas. Se conseguir perceber o mecanismo pode usar esse processo pra escrever um filme de suspense
- bem diferente dessa comédinha que eu escrevi.
Capitulo 8
Capitulo 9
Todo roteiro meu tem um motivo pelo qual eu o escrevi, uma espécie de história antes da história, o que o originou e o
que eu estou querendo dizer.
Assim escrevi O MEDO para abordar o medo que as crianças tem as vezes de coisas que para os adultos parecem
insignificantes. E fui também motivado pelo desejo de fazer um filme totalmente doméstico, caseiro e em VHS,
experimental - idéia que eu já tinha e que foi muito alimentada depois que eu vi o making off dos Pequenos Espiões 3,
com o talentoso diretor Robert Rodrigues.
NAMORO NA INTERNET é uma comédia que aborda a solidão das pessoas e a busca constante de um
relacionamento ainda que pela internet - e a falsidade dos perfis eletrônicos que costumamos ler por aí. É também um
alerta de que no mundo virtual muita coisa/gente não é o que parece.
O SEQUESTRO DE VICTOR LIMA é um retrato do preconceito racial presente em nossa sociedade, e as desgraças
que isso ocasiona. Escrevi em homenagem ao dentista negro assassinado pela Polícia em São Paulo.
De posse da minha idéia fui para o computador pensando como transformar isso tudo em roteiro: banheiro, humores
perdidos, porta de armário chata, filosofia no banheiro. Como?
Associação de idéias de novo: o que eu queria dizer? O que eu queria mostrar? Como é frágil o estado de espírito
humano e como é preciso sabedoria para preserva-lo. Como um dia que começa perfeito pode terminar péssimo, e às
vezes por uma coisa boba e sem tanto sentido. Como algo que é grande pra mim pode ser pequeno pra você - e do
exagero de uma emoção muitas vezes vem a graça - embora eu não estivesse perseguindo o objetivo de ser
engraçado no roteiro.
Como um dia que era perfeito pra você pode se transformar num dia péssimo e ainda assim ser perfeito pra outra
pessoa.
Mas pra contar tudo isso não queria contar o que você leu na lição 7. Ia escrever uma coisa daquelas? Um roteirista no
banheiro com problemas com a porta do armário? Não, eu já estava muito além disso, como mostrei acima.
Quem era ele? O que fazia? De onde vinha e para onde ia?
Quanto mais detalhes você der dos personagens para si, e para o diretor e atores que irão filmar o seu roteiro, melhor
pra tudo mundo. Em cada lacuna que você deixar eles serão obrigados a criar, pra preencher os vazios deixados pelo
roteirista.
Quando chega na hora do nome é fogo. Pra mim o nome tem que ter a cara do personagem que eu estou imaginando.
Eu preciso sentir que o nome combinou com o personagem.
Pra isso preciso de mais dados: onde ele mora? Na cidade. Numa cidade média ou grande. Tanto faz nesse caso, mas
tem que ser num prédio. Você vai ler depois porque (não quero estragar a surpresa).
Trabalha onde? Num escritório. Num escritório de um banco, onde tem mais contato com papéis e chefia, nada de
clientes (eu gosto desse tipo de personagem). Então ele tem cara de que?
Tenho um dicionário de nomes aqui em casa, mas fica na biblioteca a uns 5 passos do computador - o que na hora em
que você está digitando é o mesmo que dizer que fica a 5 milhões de anos-luz. Já pensou parar de escrever pra ir
pegar o dicionário e daí procurar um nome?
Então, sentindo o personagem aqui na minha frente pedindo pelamordedeus um nome, eu fito os olhos dele e arrisco:
Astrogildo?
Pela cara que ele fez claro que não. Emiliano? Vão falar que eu pus o nome de Emiliano só por causa do meu nome.
Apesar de eu nunca ter usado esse nome antes.
Francisco? Daí vira Chico, sei lá. Não tem cara disso. Apelido? Não, nome mesmo. É um nome pro roteiro, eu sei. Já
visualizei o curta e sei que ninguém vai falar o nome dele. Mas eu preciso saber o nome dele. O diretor precisa saber.
O ator nem se fala. Um nome é um nome, coisa importante.
Estou descrevendo tudo isso pra você ver o dilema que é colocar um nome em um personagem. E como um nome é
importante. Tem gente que não se preocupa com isso - e o nome fica falso depois.
Vou vasculhando meu arquivo mental de nomes: Tonho? Não, ele não é da roça. É um cara da cidade (mais uma
descrição, dessa vez ajudada pelo nome). Valério? Depois das CPIs melhor não. Cindi? Nem sei porque pensei nisso,
mas tenho certeza que não - ele é hetero e jamais seria Cindi.
Miltinho. Parece nome de pessoa mais velha. Sobretudo porque eu conheço um Miltinho que tem uma auto-elétrica e
uns 50 anos, daí...
Opa, cuidado pra não se perder nas idéias e nas associações delas. Senão logo você vai levar seu carro pra consertar
e o roteiro fica ali pra nunca mais ser feito.
De tudo que eu pensei gostei mais de Marcos. É um nome comum mas nem tanto. Curto, nada muito chamativo (como
Xenofonte, por exemplo), bem o nome de um cara comum numa vida comum (que me desculpem aqueles Marcos
especiais...). Gostei: ele tem cara de Marcos.
Onde? E o cenário? Já sabemos que ele mora num apartamento. Preciso que seja ali pelo 5o. ou 6o. andar. Pode ser
um pouco mais pra cima.
Preciso do quarto dele e do banheiro - e que os 2 sejam conjugados, como numa suíte. Depois vou precisar de uma
externa da janela dele.
Como é o quarto dele? Quarto de rapaz, um tanto bagunçado. Decidi não colocar os tradicionais pôsteres de mulheres
sem roupa. Ele recebe visitas ali e não combina com o perfil que ele quer mostrar às visitas.
Ele mora sozinho nesse apartamento. O quarto é de tamanho médio, assim como o banheiro. Ele tem um rádio-relógio
que o desperta todo dia. Ele odeia acordar cedo para trabalhar. Até coloca o relógio pra despertar bem antes pra não
ter que sair correndo. Porque ele não pega no tranco - acorda aos poucos.
É o tipo do cara metódico que já cronometrou quanto tempo leva pra acordar e deu quase 2 horas. É metódico mas
não o esteriótipo a que a palavra remete normalmente as pessoas. Metódico no sentido de ter método, ser organizado,
não chato, cafona e ultrapassado.
Já disse que um curta é pra ser curto. Nada de ficar enfiando personagens desnecessários que não acrescentam nada
- mas que distraem pra burro - nem cenários ou efeitos mirabolantes.
O truque é: coloque somente o que precisa. Nem mais e nem menos. Só o necessário.
Se você exagerar inviabiliza inclusive a produção do filme. O que será muito chato. Pior ainda é você ver depois que
colocou um monte de coisas que simplesmente não acrescentam à história, que não levam a história para frente.
É legal você visualizar um pouco do cenário e até dos figurinos pra ir dando pistas pro pessoal da produção. A
recomendação é sempre a mesma: só dê o necessário. Se você começar a descreve a cor e o modelo da cueca do
Marcos que nem vai aparecer no filme, o diretor vai ficar maluco.
Capitulo 10
Capitulo 11
Compare o que aconteceu comigo no banheiro - aula 7 - com o resumo do roteiro na aula 10.
Está tudo ali: os mesmos elementos, as mesmas idéias. Está e não está. Ou está de uma forma completamente
diferente, mais artística agora.
Só que o Marcos não sou eu. A situação é diferente: pra mim a noite parecia ótima, pra ele o dia já começou péssimo
porque ele teve que acordar. Eu não moro num apartamento, e sim numa casa - isso foi só um recurso dramático de
cena - para a cena final.
O Marcos é mais novo que eu, que nunca trabalhei em banco. Moro com minha família e seria impossível levantar de
manhã sem ouvir "bom-dia" de todo mundo da casa.
Também não uso rádio-relógio: eu simplesmente acordo bem antes pra não perder a hora. Ou me acordam.
Se você ler a situação da pag 7 e perceber pra onde um acontecimento banal no banheiro nos levou, talvez possa
começar a fazer o mesmo com os acontecimentos da sua própria vida.
Mais uma vez repito: eu não escrevo somente sobre o que acontece comigo. Ao contrário. Mas o próprio roteirista é
também um bom material para um roteiro.
Não perca.
Capitulo 12
12. Recapitulando
- seja roteirista 24 horas por dia e esteja sempre atento. Tudo que você ver e observar da vida, das pessoas, do
cotidiano poderá ser material para o seu próximo roteiro
- veja todos os filmes que puder ver e analise um por um, cena por cena. Defina seus gêneros preferidos e invista
neles
- existem programas que formatam roteiros e existem roteiros a disposição para que você veja mais sobre a
formatação. Mas no momento da criação não vamos nos preocupar com isso - apenas com a criação
- se você teve uma idéia sente e escreva. Ou grave. Ande com uma caneta e um bloco de notas - ou um mini-
gravador - no bolso e registre suas idéias
- se, por outro lado, você não teve ainda a idéia defina: sobre o que gostaria de escrever? Que gênero? Sobre o
que é sua história? E parta disso para criar seu roteiro
- quando você começa a criar personagens e histórias podem ser tudo que você quiser. Mas quanto mais você
escrever menos opções vai tendo. Pode ser que termine um roteiro de um jeito totalmente diferente do que imaginou
quando começou. Pode ser que aquela seqüência que lhe pareceu brilhante no início seja agora dispensável. O
importante é: não force! Crie bem as personagens e depois as deixe seguir o seu caminho
- defina o gênero do seu roteiro, o tema (sobre o que é) e o personagem principal. Defina também o núcleo que
circula em volta desse personagem - mas só o que for realmente essencial ao roteiro e levar o filme pra frente. Porque
há varias formas de você dizer as mesmas coisas - e se você ficar parando toda hora para explicar tudo pode estar
perdendo o ritmo do filme
- não fique se importando com o sucesso. Simplesmente escreva o que está a fim de escrever. Você ficaria
surpreso em saber quantos filmes já foram feitos que nem desconfiavam se seriam ou não sucesso e foram.
AMADEUS, de 1984, é um desses exemplos que só se teve idéia real do sucesso do filme depois das primeiras
exibições. (Uma grande dica pra você ver. Na Versão do Diretor tem um making off primoroso).
- Você pode ser seu próprio personagem. O ator e dramaturgo Juca de Oliveira disse certa vez que os
personagens que ele escreve na verdade estão dentro dele, fazem parte dele. Tem gente que trabalha assim mesmo.
Afinal quantas facetas temos dentro de cada um de nós, e deixamos transparecer somente as que queremos?
- Outra técnica é colocar parentes e amigos no seu filme. Ou ainda partir de pessoas que você conhece para
formar personagens totalmente diferentes. A uma certa altura você vai estar criando personagens sem usar esses
artifícios. Sua técnica terá evoluído para você montar personagens que são sínteses, súmulas do que você já observou
e pensou ao longo da vida. Serão personagens Franksteins, que terão um traço de personalidade de um amigo, outro
traço de sua observação, outro ainda do que você está querendo mostrar/criticar
- Ficção ou não-ficção? Na ficção você está livre para criar, falar o que quiser. Na não-ficção você está mais preso
a realidade, vai ter que pesquisar mais sobre a(s) pessoa(s) biografada(s) e tentar dar forma artística a uma
pessoa/vida real. São dois trabalhos distintos e interessantes, duas formas diferentes, dois desafios que valem a pena.
- Se você teve uma idéia a ponto de sentir o personagem como se estivesse vendo-o na frente, isso é muito bom:
escreva febrilmente tudo que lhe vier a mente. Mas caso esse milagre não aconteça - e não acontece todo dia -
comece desenvolvendo uma idéia. Dê um nome ao personagem, comece a descreve-lo, descrever o cenário em que
ele vive..
- Quem é ele? O que ele quer? Por que ele está aqui? Onde ele quer chegar? De onde veio? Que tipo de pessoa
ele é? Que tipo de pessoa ele aparenta ser? Quem se relaciona com ele e quem ele prefere evitar? Tudo isso são
subsídios para você começar a compor o personagem
- Em que tempo ele está? Agora, no futuro ou no passado? E ele é uma pessoa do seu tempo? Ou muito
avançado em relação a sua época? Ou talvez muito atrasado?
- Faça o resumo do seu roteiro, sem a preocupação agora de formatar nada - a não ser que você já visualize
roteiros assim. Não se preocupe com diálogos agora, mas anote tudo que você pensar como referencia posterior.
- Escreva um resumo com começo-meio-fim. Nem que seja pra mudar tudo ou parte depois. Mostre para alguns
amigos, tente contar a história pra alguém, veja como lhe parece. "Estou escrevendo uma história sobre um noivo que
na manhã do seu casamento acha o cadáver da noiva na sala dele. Detalhe: não era o cadáver da noiva dele - mas
uma mulher desconhecida vestida de noiva". Ou então: "É a história de uma mulher que descobre que está sendo
traída pelo namorado e resolve revidar". Veja a reação das pessoas. Se familiarize com sua história.
- Pense sua história 24 horas por dia: na mesa, no banheiro, na condução, comendo, bebendo, dormindo. Inspire
suas idéias e expire seu roteiro.
Capitulo 13
Antes de chegar aqui tem uma longa história, certo? Você nasceu, e é assim que geralmente tudo começa. Quem é
você? Que tipo de infância teve? E a adolescência? Que tipos de filmes via? A partir de quando decidiu/quis ser
roteirista? Já escreveu alguma coisa antes? Foi filmada? Você ficou contente com o que escreveu antes do curso?
Daí tem o durante. Durante o curso você vai ter grandes idéias ou não. Vai achar que o curso lhe abriu caminhos ou vai
se aborrecer porque o professor fala pra caramba e não chega nunca no roteiro... rsss
Vai achar que aqui tem grandes idéias para serem aproveitadas - ou que isso tudo você já sabia. Vai deixar sua
namorada (ou namorado) pra fazer o curso ou vai deixar o curso pra namorar. Vai ficar esperando pelas aulas ou só vai
lembrar quando receber um e-mail. Vai começar um roteiro junto comigo ou vai esperar eu terminar esse pra daí você
começar o seu.
Depois do curso você vai sentir que agora pode mais que antes ou que deu na mesma. Pode escrever um roteiro
inspirado ou achar que não era isso que você queria e no final seu negócio é ser ator. Não sei. Tudo pode acontecer.
O personagem é assim também. Tem o antes, o durante e o depois. Ou seja: tem o de onde ele veio, onde ele está e
para onde ele vai.
Quem estabelece tudo isso é você, o roteirista, o criador de tudo isso. É você, e só você, quem sabe de tudo isso a
respeito de seus personagens. E se não sabe... deveria saber. Porque se você não sabe quem é que vai saber, não é?
Então pegue o Marcos, de HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO. Eu o descrevi lá na aula 9, enquanto estava
procurando seu nome e descrevendo o cenário onde tudo se passa.
Tudo num filme tem que falar sobre o personagem: suas roupas, seu modo de falar/andar, o lugar onde mora/trabalha,
as pessoas com quem prefere ou não conviver, manias, etc
Tudo que você descreve vai para o roteiro, seja nas primeiras páginas (como vou mostrar na próxima lição), seja nas
entrelinhas do próprio roteiro. E quanto mais você souber de seus personagens melhor. Agora é a hora: não dá pra
ficar escrevendo um roteiro pra lá no meio parar pra tentar descrever o personagem principal.
Então descreva-o agora. Claro: faça mil rascunhos se precisar - o que hoje é fácil com os programas de texto. Mas
deixe o personagem completo. Nada pior que aqueles personagens vazios que se der um vento leva o coitado voando.
Esse cuidado é pra todos os personagens, do principal até o menor deles. Do galã até o porteiro que só aparece por 1
minuto e meio. Não importa: todos os papéis são importantes. Todos! Roteiristas e diretores que sabem disso e põe em
prática são os que fazem os grandes filmes, sem barrigas, sem paradas, filmes que fluem aos nossos olhos e que
quando acaba você olha no relógio e não acredita que já se passaram 2 horas.
Então seu personagem está vindo de algum lugar, está aqui agora e vai para outro lugar. Antes-durante-depois da
cena.
Há uma mudança? A situação pela qual que ele passa o transforma de alguma forma? É uma abordagem de roteiro.
Por outro lado ele pode passar por tudo e não mudar nada, o que faz com que o roteirista critique o marasmo de certos
seres humanos que insistem em não aprender.
Tudo vai depender da sua filosofia de vida, da forma como você enxerga as coisas e do que quer colocar no seu filme.
O ator Bill Murray gosta de fazer filmes onde o seu personagem começa meio ranzinza e vai sofrendo uma
transformação no decorrer do filme até ficar simpático. No início a gente não dá muita bola para o personagem dele.
Depois vai vendo a mudança, começa a se importar com o personagem e a torcer por ele. Veja por exemplo O Feitiço
do Tempo.
Quando o público se importa com o personagem então você ganhou o dia. Ou o filme. Esse é o segredo. Em Um
Monge à Prova de Balas o dono do cinema onde o herói trabalha aparece em poucas cenas. Mas ele é tão marcante
(e a interpretação do ator tão densa) que quando ele é assassinado a platéia leva um choque. Porque se importava
com ele, mesmo sendo um papel secundário.
Esse é o segredo: personagens densos. Aliás muito além de meros personagens: pessoas que a gente pode conhecer
no dia a dia e que estão ali sofrendo, rindo, aproveitando a vida ou sendo aprisionado por ela.
O público se importa com personagens que sejam reais, como se existissem mesmo, fossem de carne e osso. E isso
só acontece quando você tem o antes-durante-depois do personagem.
Capitulo 14
Quando um diretor, produtor ou ator/atriz pegar o seu roteiro pra ler, pra ver se interessa, são as primeiras páginas que
eles vão ler primeiro.
Por isso as primeiras páginas devem conter informação suficiente para despertar o interesse do leitor pelo roteiro.
- Título
- Nome do roteirista
- Sinopse do roteiro
Muitos roteiristas não fazem isso. O resultado é que se o leitor quiser saber do que se trata o roteiro terá que ler pelo
menos a metade dele para se inteirar do assunto. Isso se ele não se cansar antes...
- Descrição dos personagens: nome de cada personagem com um resumo de quem ele é
- Observações: tudo que é pertinente ao roteiro e não coube nos 2 tópicos acima
Descrever os personagens é essencial para que o leitor perceba desde o início quem é quem na trama, e como cada
personagem é.
Muitos roteiristas iniciantes não fazem essa descrição inicial. E o resultado é que começamos a ler o roteiro sem ter
uma idéia sobre quem é o personagem. Resultado: o leitor é obrigado a tentar entender os personagens em meio à
leitura do roteiro.
Daí ao invés de ler a história e ver como o roteiro flui, o leitor fica tentando achar os personagens no meio das
descrições de cenas e dos diálogos. Pode ser que ele se canse, jogue o seu roteiro do lado e leia outro que tenha as
descrições dos personagens logo no início...
Listar e descrever os cenários onde tudo acontece é excelente também para o leitor. De cara ele vai ter uma noção da
viabilidade da produção - ao invés de ter que ficar procurando essa informação enquanto lê o roteiro.
E nas observações você esclarece pontos que não couberam nos itens anteriores. Pontos que são necessários para
entender o roteiro e clarear a produção do mesmo.
A idéia é simples: o leitor tem uma visão geral do roteiro antes de entrar nele. Fica sabendo sobre a história, sobre os
personagens e cenários antes de ler o roteiro. E quando entrar no roteiro está livre para se concentrar no que
interessa: a história.
Você não pode esquecer que: você sabe sobre o que o roteiro trata, conhece os personagens e tem a idéia dos
cenários. Mas o leitor não.
É muito importante ser resumido nas informações. E escrever com linguagem clara. Isso não é um tratado ou uma tese
de doutorado. É o seu roteiro.
Não cometa o erro de a introdução ser mais longa que o roteiro: 30 páginas de introdução e 15 páginas de roteiro.
Informação demais acaba confundindo o leitor e isso cansa.
Então escreva como se você estivesse conversando com o leitor. Como aliás eu tenho feito durante todo esse curso.
Não se esqueça de numerar as páginas do roteiro. Normalmente se usa a letra Times New Roman tamanho 12.
O título é a primeira coisa que o leitor do seu roteiro - e depois o público - vai ver.
O papel do título é altamente importante. Ele pode ser chamativo e atrair o público - ou ser inexpressivo e não
despertar a atenção.
Não de vê ser muito longo nem muito curto. O tamanho deve ser o suficiente para chamar a atenção. De preferência se
destacar no meio de um monte de outros roteiros e filmes.
O título precisa dar uma idéia do seu roteiro, dizer alguma coisa sobre ele. Sugiro que você vá até uma locadora e faça
uma análise apurada dos títulos. Tanto dos filmes que você gosta como daqueles que você nunca viu. Você vai ver que
alguns títulos são muito felizes e outros totalmente infelizes.
Ao escrever a continuação do NAMORO NA INTERNET eu pensei em dar um outro título. É a história de Cacilda, uma
jovem solteira que procura um namorado na internet. Ela, que é desleixada com sua aparência, coloca uma foto de
uma modelo lindíssima no seu perfil. E acaba atraindo um homem lindo também.
Quando ele quer se encontrar com ela, depois de semanas de namoro virtual, ela está numa grande encrenca. Afinal
ela não é a moça da foto - como vai se encontrar com aquele homem maravilhoso?
Pensei no título O PAR IDEAL. Até podia ser. Mas não tinha totalmente a ver com a história. E pra piorar não gostei do
título. Não achei chamativo.
Acabei colocando NAMORO NA INTERNET 2 - que tem muito mais a ver com o filme, já que eles namoram boa parte
do tempo pela internet, e esse inclusive é o tema dos 2 filmes.
Pensando assim mudei o nome desse curta também. HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO é bem interessante. Mas
achei longo demais e resolvi mudar para UM DIA PERFEITO.
O primeiro tem jeito de nome de crônica - o segundo tem jeito de nome de filme.
Títulos são como nomes de personagens. Enquanto você não achar aquele que você sente que combina o roteiro não
vai funcionar. Por isso - para o caso de nomes de personagens - adquira um dicionário de nome (muito bom naqueles
dias em que você simplesmente não tem um nome que sirva para seu personagem).
Vamos então às primeiras páginas do roteiro HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO:
Comédia
Sinopse:
De repente o rádio-relógio liga automaticamente. A voz do Dr. Positivo acorda Marcos dizendo:
O Dr. Positivo é muito conhecido pelo seu programa matinal de automotivação. E pelo jeito conseguiu convencer
Marcos, que se levantou da cama e foi até o banheiro em busca do seu dia perfeito.
Mas será mesmo? Até que ponto esse dia que começou perfeito vai continuar sendo perfeito?
Personagens
Marcos: um rapaz de 25 anos que mora sozinho num apartamento no 5o. andar de um edificio. Trabalha no setor
administrativo de um banco onde não tem contato com o público. Todos os dias inevitavelmente seu rádio-relógio
desperta as 6:30 da manhã, e tem início sua rotina diária. Ontem ele resolveu que hoje despertaria com o programa do
Dr. Positivo, para tomar uma injeção de ânimo enquanto acorda - e assim tentar acordar mais rápido do que o normal.
É o tipo do cara metódico que já cronometrou quanto tempo leva pra acordar e deu quase 2 horas. É metódico mas
não o esteriótipo a que a palavra remete normalmente as pessoas. Metódico no sentido de ter método, ser organizado,
não chato, cafona e ultrapassado.
.Ele tem um rádio-relógio que o desperta todo dia. Ele odeia acordar cedo para trabalhar. Até coloca o relógio pra
despertar bem antes pra não ter que sair correndo. Porque ele não pega no tranco - acorda aos poucos.
Dr. Positivo: típico auto-motivador da era neo-liberal. Você conhece o tipo: tem alguns livros de auto-ajuda lançados,
vive dando palestras de motivação para empregados de empresas e agora conseguiu um programa de rádio só seu.
Ele transpira auto-confiança. É um ser tão auto-suficiente e tão confiante em si próprio que chega até a incomodar um
pouco. É comos e ele dissesse o tempo todo que "você também pode ser como eu se fizer meus cursos" quando você
sabe que não pode.
Mas por pressão da empresa em que trabalha você vai acabar fazendo um desses cursos. Afinal os outros colegas vão
fazer e você não quer ficar para trás na fila de uma possível promoção.
Catador de Papel: um homem que vive nas ruas andando o dia todo em busca do seu ganha-pão. Ultimamente a
mídia passou a chamá-lo de agente de reciclagem. O que não mudou a sua realidade.
Apesar da vida dura, puxando seu carrinho pelas ruas (que com o passar do dia fica mais pesado) ele não perdeu o
bom-humor. Sabe que pra viver no meio do transito e das pessoas - do engravatado ao mais humilde - ele precisa ter
jogo de cintura. É um sujeito simpático que sabe que o lixo de uns é luxo pra outros.
CENÁRIOS
Quarto de Marcos: (Interno) quarto típico de rapaz solteiro, meio desarrumado, conjugado com um banheiro. Como
ele recebe visitas ali tentar dar uma aparência de quem ao menos tentou arrumar o ambiente. E como as visitas
incluem moças nada de pôsteres de mulheres sem roupa.
Capitulo 15
Há alguns anos acompanhei uma discussão sobre qual deveria ser o idioma dos termos técnicos a ser usado no
roteiro.
De um lado um grupo argumentava que já há algum tempo se usam termos em inglês - e que por isso mesmo não se
deveria mudar nada.
- estamos no Brasil e falamos o português. Por isso o idioma tem que ser o português (ou o "brasileiro", como
querem alguns movimentos lingüísticos).
- Que jamais um norte-americano colocaria termos técnicos em português em seu roteiro - o que é mais uma
razão para usarmos o nosso idioma.
Como roteirista eu sempre preferi usar termos em português. Acho que facilita mais a comunicação entre o roteirista, o
diretor e a equipe. Afinal todos nós crescemos e convivemos com nossa língua pátria.
Como professor do curso de roteiro deixo à sua escolha o idioma que vai usar para os termos técnicos.
Muita gente tem dificuldade em traduzir os termos do inglês para o nosso português (ou brasileiro). Por isso nessa lição
publico uma lista de termos equivalentes garimpada na internet na época dessa discussão sobre idiomas.
DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS EM PORTUGUÊS
Capitulo 16
Para que o roteirista possa melhor se expressar no roteiro é bom que ele conheça os termos técnicos que são usados
no Cinema e no Vídeo, do roteiro à edição.
Abaixo listo vários desses termos com uma breve explicação de cada um deles:
A
AÇÃO - Termo usado para descrever a função do movimento que acontece frente à câmara.
AÇÃO DIRETA - Roteiro que obedece à ordem cronológica.
AÇÃO DRAMÁTICA - Somatório da vontade do personagem, da decisão e da mudança.
ADAPTAÇÃO - Passagem de uma história de uma linguagem para outra. Assim, um conto pode ser adaptado para ser
filmado como um longa metragem ou um seriado para televisão.
ÂNGULO ALTO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ou o objeto de cima para baixo.
ÂNGULO BAIXO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ou o objeto de baixo para cima.
ÂNGULO PLANO - Ângulo que apresenta as pessoas ou objetos filmados num plano horizontal em relação à posição
da câmara.
ANTECIPAÇÃO - A capacidade que tem a platéia de antecipar uma situação. Criação de uma expectativa.
ANTIPATIA - Reação ao personagem.
ARGUMENTO - Percurso da ação, resumo contendo as principais indicações da história, localização, personagens.
Defesa do desenrolar da história. Tratando-se de telenovela, chama-se sinopse. Não confundir com story-line que é o
resumo resumido.
ÁUDIO - A porção sonora de um filme ou programa de tv.
C
CÂMARA OBJETIVA - Posicionamento da câmara quando ela permite a filmagem de uma cena do ponto de vista de
um público imaginário.
CÂMARA SUBJETIVA - Câmara que funciona como se fosse o olhar do ator. A câmara é tratada como "participante da
ação", ou seja, a pessoa que está sendo filmada olha diretamente para a lente e a câmara representa o ponto de vista
de uma outra personagem participando dessa mesma cena.
CAPA - Folha do roteiro que contém o título, nome do autor, etc.
CENA - Unidade dramática do roteiro, seção contínua de ação, dentro de uma mesma localização. Seqüência
dramática com unidade de lugar e tempo, que pode ser "coberta" de vários ângulos no momento da filmagem. Cada
um desses ângulos pode ser chamado de plano ou tomada.
CENA MASTER - É a filmagem em um único plano de toda a ação contínua dentro do cenário. A cena master dá ao
Diretor a garantia dele ter "coberto" toda a ação numa só tomada.
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO - Pistas, indícios do que está para acontecer, pequenas revelações do
encaminhamento da ação. Essas pequenas insinuações constituem verdadeiro trunfo das emissoras de TV, pois
servem para prender o telespectador à narrativa. O recurso foi ignorado na década de 60: o seu aproveitamento
iniciou-se na década de 70, sendo novamente abandonado nos anos 90. Os antigos folhetins costumavam, também,
insinuar o que estava para acontecer, ao suspenderem a narração escrita.
CENOGRAFIA - Arte e técnica de criar, desenhar e supervisionar a construção dos cenários de um filme.
CHICOTE - Câmara corre lateralmente durante a filmagem de uma determinada cena, deslocando rapidamente a
imagem.
CLAQUETE - Quadro usado para marcar cenas e tomadas e cujo som, na montagem, serve como ponto para
sincronização de som e imagem.
CLICHÊ - Cacoetes verbais. Uso repetitivo e enfadonho de diálogos e soluções cênicas em qualquer tipo de produção
artística.
CLÍMAX - Ponto culminante da ação dramática.
"CLOSE-UP" - Plano que enfatiza um detalhe. Primeiro plano ou plano de pormenor. Tomando a figura humana como
base, este plano enquadra apenas os ombros e a cabeça de um ator, tornando bastante nítidas suas expressões
faciais.
COMPILAÇÃO - Tipo de montagem onde a imagem do filme passa a ser uma "ilustração" da narração.
COMPOSIÇÃO - Características psicológicas, físicas e sociais que formam um personagem (composição da
imagem/tipologia).
CONFLITO - Embate de forças e personagens, através do qual a ação se desenvolve.
CONSTRUÇÃO DRAMÁTICA - Realização de uma estrutura dramática.
CONTINUIDADE - Seqüência lógica que deve haver entre as diversas cenas, sem a qual o filme torna-se apenas uma
série de imagens, com pulos de eixo, ação e tempo. Há diversos tipos de continuidade: de tempo, de espaço, direcional
dinâmica, direcional estática, etc.
CONTRACAMPO - Tomada efetuada com a câmara na direção oposta à posição da tomada anterior.
CONTRASTE - Criação de diferenças explícitas na iluminação de objetos ou áreas.
CORTE - Passagem direta de uma cena para outra dentro do filme.
CORTE DE CONTINUIDADE - Corte no meio de uma cena, retomando logo a seguir a mesma cena em outro tempo.
CRÉDITOS - Qualquer título ou reconhecimento à contribuição de pessoas ao filme. Relação de pessoas físicas e
jurídicas que participam da - ou contribuem para a - realização de um produto audiovisual. Geralmente, é mostrada no
final da produção.
CRISE DRAMÁTICA - Ponto de grande intensidade e mudanças da ação dramática.
CURVA DRAMÁTICA - Variação da intensidade dramática em relação ao tempo.
CUT-AWAY CLOSE-UP - Este conceito só tem significado dentro do contexto da montagem. É uma tomada em close-
up de uma ação secundária que está desenvolvendo-se simultaneamente em outro lugar, mas que tem uma relação
direta com a ação principal. O cut-away close-up deve ser montado entre duas tomadas da ação principal.
CUT-IN CLOSE-UP - Como o item acima, este conceito só tem significado no contexto da montagem. É uma tomada
em close-up de uma parte importante da ação principal, e que deve ser montada entre duas tomadas normais dessa
ação.
D
DECUPAGEM - Planificação do filme definida pelo diretor, incluindo todas as cenas, posições de câmara, lentes a
serem usadas, movimentação de atores, diálogos e duração de cada cena.
DESFOCAR - Câmara muda o foco de um objeto para outro.
DIÁLOGO - Corpo de comunicação do roteiro. Discurso entre personagens.
DISSOLVE - Imagem se dissolve até o branco ou se funde com a outra.
DIVISÃO DO QUADRO - Registro fotográfico de duas ou mais imagens distintas em um mesmo fotograma.
DOLLY - Veículo que transporta a câmara e o operador, para facilitar a movimentação durante as tomadas.
"DOLLY BACK" - Câmara se afasta do objeto. Travelling ou grua de afastamento.
"DOLLY IN" - Câmara se aproxima do objeto. Travelling ou grua de aproximação.
"DOLLY OUT" - Câmara recua, abandona a cena.
"DOLLY SHOT" - Movimento de câmara que se caracteriza por se aproximar e se afastar do objetivo, e também por
movimentos verticais.
DUBLAGEM - Inclusão de diálogo, narração, canto, etc. sobre a imagem filmada anteriormente.
E
EIXO DE AÇÃO - Linha imaginária traçada exatamente no mesmo itinerário de um ator, de um veículo ou de um animal
em movimento. É também a linha imaginária que interliga os olhares de duas ou mais pessoas paradas em cena.
ELENCO - Conjunto de pessoas (atores, atrizes, figurantes) selecionados para uma produção, que representam as
personagens e fazem a figuração de um filme.
ELIPSE - Passagem muito rápida de tempo.
EMISSOR - Quem transmite a mensagem no processo de comunicação.
EMPATIA - Identificação do público com o personagem.
ENCADEADO - Fusão de duas imagens, uma sobrepondo-se à outra.
ENQUADRAMENTO - Limites laterais, superior e inferior da cena filmada. É a imagem que aparece no visor da
câmara.
ENTRECORTES - Tomadas da ação principal ou de uma ação secundária (ligada direta ou indiretamente à ação
principal), que permitem uma montagem mais flexível em termos de continuidade.
EPÍLOGO - Cenas de resolução.
EPÍSTOLA - Técnica narrativa (narrativa epistolar), que consiste em abrir uma obra com uma carta em que o autor se
dirige a um amigo seu, a fim de relatar uma história pretensamente verídica. Este recurso foi largamente utilizado pelos
autores românticos (José de Alencar, por exemplo, entre nós) e, por sua vez, foi inspirado em narradores do século
XVIII (Richardson, Goethe, Rousseau), que abusavam do estratagema, fazendo com que seus romances se
constituíssem inteiramente em troca de cartas entre as diversas personagens.
ESFUMAR - A imagem dissolve-se na cor branca ou funde-se com outra.
ESPELHO - Página de roteiro, geralmente de abertura, contendo informações como personagens, cenários, locações,
etc.
ESTRUTURA - Fragmentação do argumento em cenas, arcabouço da seqüência de cenas.
"ETHOS" - Ética, moral da história.
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS - Cenas de informações, explicativas.
EXTERNAS - Cenas filmadas nas praças, ruas, parques, campos, estádios, rodovias, enfim, ao ar livre.
EXTRAS - São os figurantes de um filme: pessoas contratadas para desempenhar papéis secundários, como os
componentes de uma multidão.
F
"FADE IN" - O surgir da imagem a partir de uma tela escura ou clara, que gradualmente atinge a sua intensidade
normal de luz..
"FADE OUT" - Escurecimento ou clareamento gradual da imagem partindo da sua intensidade normal de luz.
FICÇÃO - Inventar, compor e imaginar. Recriação do real.
"FLASH-BACK" - Cena que revela algo do passado, para lembrá-lo, situar ou revelar enigmas.
"FLASH-FORWARD" - Cena que revela parcialmente algo que acontecerá após o tempo presente. O mesmo que flash
para frente.
FOLHA DE ROSTO - Página de roteiro contendo informações de título, nome do autor, etc.
FOLHETIM - Longa história parcelada, desenrolando-se segundo vários trançamentos dramáticos, apresentados aos
poucos. É a origem histórica das telenovelas. O vocábulo vem do termo francês feuilleton e designava uma seção
específica dos jornais franceses da década de 1830 - o rodapé -, introduzida pelo jornalista Émile de Girardin, que
aproveitou o gosto do público pelo romance como chamariz para vendas maiores. A peculiaridade do folhetim residia
na exploração de histórias repletas de peripécias, com um sem-número de personagens, às voltas com temas que iam
desde a orfandade, casamentos desfeitos por tramas diabólicas, raptos, até vinganças altamente elaboradas,
testamentos perdidos e recuperados, falsas identidades, etc. O mais famoso folhetim - e mais aproveitado
posteriormente pelo cinema e pela televisão - foi O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. O mais extraordinário
e mais bem elaborado foi a obra-prima Os mistérios de Paris de Eugène Sue.
FOLHETIM EXÓTICO - Diz-se do folhetim que, via de regra, tem sua ação situada em lugares distantes, exóticos,
suscitando uma atmosfera misteriosa. Caso, por exemplo de narrativas localizadas no Oriente, como a novela O sheik
de Agadir.
FOLHETIM MELODRAMÁTICO - Narrativa excessivamente maniqueísta, em que os personagens encarnam o Bem, ou
o Mal, não havendo meios-termos: característica, enfim do melodrama, gênero teatral do início do século XIX. O Mal,
no melodrama, tem sempre forma concreta, personificando-se num indivíduo propositadamente mau, o vilão. Do outro
lado, encarnando o Bem, estão outros indivíduos, sempre virtuosos, procurando provar, a qualquer custo, a verdade.
FOTONOVELA - Ver Novela.
"FREEZE" - Manter uma mesma imagem por repetição de quadro. Congelar.
FULL SHOT - Ver long shot.
FUSÃO - Fusão de duas imagens, a 1ª sobrepondo-se à 2ª. Serve para mudar de cena ou enfatizar a relação entre
elas
G
GANCHO - Momento de grande interesse que precede a um comercial. Pequenos ou grandes clímax, arranjados de
modo tal que não permitam que o telespectador abandone a história. Na exibição diária de telenovelas, há três
ganchos de menor grau - pausas para comerciais -, e um de maior grau, para o dia seguinte. Aos sábados, ocorre o
"gancho do diálogo" ou "grande break", pois haverá a pausa de domingo, quando não se exibe as histórias. O "grande
break" sempre será um momento de alto suspense e pensado calculadamente para o retorno da segunda-feira.
"GIMMICK" - Recurso usado para resolver uma situação problemática. Reversão de expectativa.
GUERRA DO PAPEL - Momento de discussão e análise, depois da escrita do primeiro roteiro.
H
HALO DESFOCADO - Câmara desfoca as coisas em torno do objeto, mantendo-o em foco.
I
IDÉIA - Semente da história, idéia primeira.
INDICAÇÕES - Anotações sobre a cena, o estado de ânimo, etc.
"INSERT" - Imagem breve, rápida e quase sempre inesperada que lembra momentaneamente o passado ou antecipa
algum acontecimento. Os inserts podem ser variados ou repetidos, estes servindo, às vezes, de plot, o núcleo
dramático ou algo que o simbolize.
INTENÇÃO - Vontade implícita ou explícita do personagem.
L
LOCALIZAÇÃO - Localização de uma história no espaço.
LOCUÇÃO EM OFF - Texto que acompanha a ação do filme, pronunciado por um locutor ou locutora que não
aparecem em cena. O mesmo que off.
"LOGOS" - Palavra, discurso, estrutura verbal de um roteiro.
"LONG SHOT" - "Full shot", plano geral; plano que inclui todo o cenário. É usado para mostrar um grande ambiente.
"LOOP" - Segmento de filme, cortado e separado para montagem. Fita ou aro de película
M
MACROESTRUTURA - Estrutura geral do roteiro.
MANIQUEÍSMO - Princípio filosófico segundo o qual o universo foi criado e é dominado por dois princípios
antagônicos: Deus ou o Bem absoluto, e o Mal absoluto, ou o Diabo. A partir desse princípio, aplica-se o termo à
cosmovisão que enxerga o mundo à luz dessa dualidade.
MEIO - Instrumento de transmissão da mensagem.
MENSAGEM - Sentido político, social, filosófico ou qualquer outro que uma história pode conter. Quase a moral da
história, das fábulas.
MICROESTRUTURA - Estrutura de cada cena.
MINISSÉRIE - Obra fechada, com vários plots que se desenrola durante um número de episódios, geralmente não
superior a dez.
MOVIOLA - Máquina usada para a edição e montagem de filmes ou vídeo.
MUDANÇAS DE EXPECTATIVAS - Quando o curso da história muda de repente.
"MULTIPLOT" - Várias linhas de ação, igualmente importantes, dentro de uma mesma história.
N
NOITE AMERICANA - Técnica de iluminação e filtragem utilizada utilizada para simular um efeito noturno numa
imagem filmada durante o dia.
NOVELA - Obra aberta, com multiplot.
NOVELA DENTRO DA NOVELA - Simultaneidade narrativa superpondo tempos. O exemplo mais bem-acabado desta
técnica foi a telenovela O casarão, de Lauro César Muniz, enfocando cinco gerações de uma família estabelecida ao
norte de São Paulo, na fase áurea do café. Um casarão de fazenda colonial foi o centro gerador da história, desde que
foi construído, em 1900, até a modernidade, em 1976. Outro exemplo é Espelho mágico, do mesmo autor, onde, além
da história propriamente dita (a vida dos astros e estrelas no cotidiano), há ainda a gravação de uma novela, Coquetel
de amor, encenada pelos astros da primeira história, e a montagem da peça teatral Cyrano de Bergerac, de Edmond
Rostand.
NOVELÃO - Nome pejorativo, análogo a dramalhão, que conota a telenovela repleta de conflitos sentimentais, com
muita recorrência à emoção fácil. O mesmo que telelágrima.
NÚCLEO DRAMÁTICO - Reunião de personagens ligados entre si pela mesma ação dramática, organizados num
"plot".
O
OBJETIVO DRAMÁTICO - A razão da existência de uma cena.
OBJETOS DE CENA - São todos os itens utilizados para decoração do cenário: cinzeiros, vasos, telefones, objetos de
arte, etc.
"OFF" - Vozes ou sons presentes sem se mostrar a fonte emissora.
OLIMPIANO - Adjetivo usado por Edgar Morin (Cultura de massas no século XX) para designar a categoria sagrada
dos campeões, príncipes, reis, astros de cinema, playboys, artistas célebres. Diz Morin: "o olimpismo de uns nasce do
imaginário, isto é, dos papéis encarnados nos filmes (astros); o de outros nasce de sua função sagrada (realeza,
presidência), de seus trabalhos heróicos (campeões, exploradores) ou eráticos (playboys).
P
PANORÂMICA - (pan) Câmara que se move de um lado para outro, dando uma visão geral do ambiente, mostrando-o
ou sondando-o.
PASSAGEM DE TEMPO - Artifício usado para mostrar que o tempo passou.
"PATHOS" - Drama, conflito.
PERCURSO DA AÇÃO - Conjunto de acontecimentos ligados entre si por conflitos que vão sendo solucionados
através de uma história.
PERIPÉCIA - O mesmo que incidente, aventura. Excesso de ação, recurso marcadamente usado em telenovelas, em
folhetins, no melodrama, na radionovela. O romance romântico abusou da peripécia: aí alguns críticos apontam a
causa maior de seu sucesso junto ao público feminino, no século XIX.
PERSONAGEM - Quem vive a ação dramática.
PING-PONG - Tipo específico de montagem onde duas imagens semelhantes, em termos de ângulo, tamanho e
posicionamento dentro do quadro, se alternam regularmente; mantendo a unidade da cena.
PLANO AMERICANO - Plano que enquadra a figura humana da altura dos joelhos para cima.
PLANO DE CONJUNTO - Plano um pouco mais fechado do que o plano geral.
PLANO DE DETALHE - Mostra apenas um detalhe, como, por exemplo, os olhos do ator, dominando praticamente
todo o quadro.
PLANO GERAL - Plano que mostra uma área de ação relativamente ampla.
PLANO MÉDIO - Plano que mostra uma pessoa enquadrada da cintura para cima.
PLANO PRÓXIMO - Enquadramento da figura humana da metade do tórax para cima.
"PLOT" - Dorso dramático do roteiro, núcleo central da ação dramática e seu gerador. Segundo os teóricos literários,
uma narrativa de acontecimentos, com a ênfase incidindo sobre a causalidade. Em linguagem televisual, todavia, o
termo é usado como sinônimo do enredo, trama ou fábula: uma cadeia de acontecimentos, organizada segundo um
modo dramático escolhido pelo autor. Em uma história multiplot, o plot principal será aquele que, num dado momento,
se mostrar preferido pelo público telespectador.
PONTES - Tomadas escolhidas para interligar duas cenas que não poderiam ser montadas seguidamente. As pontes
ajudam a resolver problemas de continuidade do filme.
PONTO DE IDENTIFICAÇÃO - Relação convergente entre platéia e ação dramática.
PONTO DE PARTIDA - Conjunto de cenas iniciais que abre um espetáculo.
PONTO DE VISTA - Câmara situada na mesma altura do olho do ator, vendo o ambiente como este. No geral,
intensifica a dramaticidade do roteiro. Durante o ataque de uma assassino o ponto de vista da vítima pode ver mãos
enluvadas avançando em sua direção. Isso é mostrado com as mãos avançando em direção à lente da câmara.
PREPARAÇÃO - Cenas que antecipam uma complicação (e/ou clímax).
PRIMEIRO PLANO - Posição ocupada pelas pessoas ou objetos mais próximos à câmara, à frente dos demais
elementos que compõem o quadro.
"PROCESS SHOT" - Truque usado para fingir movimento. Uma cena pré-filmada é projetada atrás dos atores.
Q
"QUICK MOTION" - Câmara rápida. Movimento acelerado.
R
RECEPTOR - Quem recebe uma mensagem no processo de comunicação.
REPETIÇÃO - (usada em comédia) O roteiro repete situações dramáticas conhecidas da platéia.
RESOLUÇÃO - Final da ação dramática.
RETROPROJEÇÃO - Técnica de filmagem onde se projeta uma determinada imagem em uma tela colocada à frente
do projetor, para que essa imagem possa servir de fundo para a cena que está desenvolvendo-se do outro lado da tela.
REVERSÃO DE EXPECTATIVAS - Quando se transforma, com surpresa, o curso da história.
RITMO - Cadência de um roteiro. Harmonia.
ROTEIRO - Forma escrita de qualquer espetáculo audiovisual. Descrição objetiva das cenas, seqüências, diálogos e
indicações técnicas do filme.
ROTEIRO FINAL - Roteiro aprovado para o início da filmagem ou gravação.
ROTEIRO LITERÁRIO - Roteiro que não contém indicações técnicas.
ROTEIRO TÉCNICO - Roteiro contendo indicações referentes a câmara, iluminação, som, etc.
RUBRICA - Indicação de cena, informações de estado de ânimo, gestos, etc. Observação entre parênteses nos
diálogos, indicando a reação dos personagens, bem como mudanças de tom e pausas.
S
"SCREENPLAY" - Roteiro para cinema.
"SCRIPT" - Roteiro quando entregue à equipe de filmagem. Plano completo de um programa, tanto em cinema quanto
em televisão. É o instrumento básico de apoio para a direção e produção, pois contém as falas, indicações, marcas,
posicionamentos e movimentação cênica, de forma genérica e detalhada. Expressa as idéias principais do autor, do
produtor e do diretor a serem desenvolvidas pela equipe que o realiza.
SEQÜÊNCIA - (1) Uma série de tomadas (cenas) ligadas por continuidade. (2) A denominação para cena em cinema.
SÉRIE - Obra fechada, com personagens fixas, que vivem uma história completa em cada capítulo.
"SET" - Local de filmagem.
"SHOOTING SCRIPT" - Roteiro feito pelo diretor, a partir do roteiro final. É usado pela produção.
"SHOT" - Plano. Imagem gravada ou filmada.
SIMPATIA - Solidariedade do público para com a personagem.
SINOPSE - Vista de conjunto. Narração breve que resume uma história. No cinema, é chamada de argumento.
SITCOM - (Comédia de situação) - Série fechada de humor, normalmente de um só plot.
SOM DIRETO - Som correspondente à ação que está sendo filmada. Em geral, é gravado em aparelho de precisão,
sincronizado com a câmara.
SOM GUIA (OU PLAYBACK) - É a reprodução do som já gravado anteriormente, durante a filmagem, permitindo um
sincronismo entre as ações (falas e/ou movimentos) do elenco com a própria gravação.
"SLOW MOTION" - Câmara lenta. Movimento retardado.
"SPLIT SCREEN" - Imagem partida na tela, mostrando dois acontecimentos separados ao mesmo tempo. Recurso
muito usado em telefonemas.
"STORY-BOARD" - Série de desenhos em seqüência das principais cenas ou tomadas.
"STORY-LINE" - Síntese de uma história.
"SUBPLOT" - Linha secundária de ação.
SUBTEXTO - Sentido implícito nas entrelinhas.
SUPERCLOSE - Plano muito próximo que mostra, por exemplo, somente a cabeça de um ator, dominando
praticamente toda a tela.
SUSPENSE - Antecipação urgente. Diálogo ou ação que faz prever algo chocante, temível, emocionante ou decisivo.
T
"TAKE" - Tomada; começa no momento em que se liga a câmara até que é desligada. É o parágrafo de uma cena.
TELEGRAFAR - Breve informação que se dá sobre alguma coisa que vai acontecer.
"TELEVISIONPLAY" - Roteiro para televisão.
TEMPO DRAMÁTICO - Tempo estético, cadência.
TEMPORALIDADE - Localização de uma história no tempo.
TILT - Movimentação da câmara no sentido vertical, sobre o seu eixo horizontal.
TOMADA - Filmagem contínua de cada segmento específico da ação do filme.
TOTALIDADE - Princípio básico da unidade.
"TRAVELLING" - Câmara em movimento na dolly acompanhando, por exemplo, o andar dos atores, na mesma
velocidade. Também, qualquer deslocamento horizontal da câmara.
V
VALORES DRAMÁTICOS - Pontos-chave de um roteiro.
VARRIDO - A câmara corre, mudando a imagem de lugar rapidamente. O mesmo que chicote.
Z
"ZOOM" - Efeito óptico de aproximação ou distanciamento repentino de personagens e detalhes. Serve para dramatizar
ou esclarecer lances do roteiro.
ZOOM-IN - Aumento na distância focal da lente da câmara durante uma tomada, o que dá ao espectador a impressão
de aproximação do elemento que está sendo filmado.
ZOOM-OUT - Diminuição da distância focal da lente durante uma tomada, o que dá ao espectador a impressão de que
está se afastando do elemento que está sendo filmado
Capitulo 17
Cinema é ação. Tem sempre algo acontecendo na tela, seja fora ou dentro do personagem. Ele pode estar pulando de
prédio em prédio ou totalmente imóvel - e ainda assim teremos sua atividade interna, seus pensamentos, sentimentos,
emoções e toda a trilha sonora que vai emoldurar tudo isso: música, respiração, batimento cardíaco. Todos esses sons
juntos ou separados, criando a atmosfera da ação.
Por isso sempre que você imaginar um determinado som na cena, ou um tipo de música, dê uma dica ao diretor.
Normalmente dou essas indicações entre parênteses, pra facilitar a vida de quem lê o roteiro:
A outra forma é por seqüência. Por exemplo: na Cena 1 o personagem chega em casa, abre a porta da sala e se joga
pesadamente na poltrona. Liga a TV e começa a ver o telejornal. Daí ouve o som de um prato quebrando na cozinha.
Olha para a porta interna que dá pra cozinha e se levanta.
Estamos prontos para a Cena 2, na cozinha. O personagem passa pela porta e ouve novamente o barulho, mas não vê
o que é. Amedrontado ele pega um rolo de macarrão que estava em cima da mesa para tentar se defender.
Cautelosamente ele percorre toda a cozinha em busca do que ou quem está fazendo esse barulho. A tensão aumenta.
Ele procura num extremo da cozinha - e agora ouve o barulho na outra ponta. Susto. Toma um susto, cria coragem e
vai na direção do barulho. E vê finalmente: é o seu gato, mexendo nos utensílios. Suspira aliviado.
Daí temos na Cena 1 a seqüência da sala e na Cena 2 a seqüência da cozinha. Isso facilita pra quem for filmar o seu
roteiro.
Sendo INT = Interna e EXT = Externa. Isso facilita a filmagem e também facilita pra você se orientar durante o processo
de escrever o roteiro.
Cuidado com a passagem de tempo. Não fique pulando do dia pra noite sem explicar para o diretor e para o público o
que está acontecendo.
- Quanto tempo leva (em dias, meses e anos)? Uma história pode acontecer em minutos e pode acontecer em
anos.
Outro ponto a se considerar é a duração do seu filme na tela. O que você está escrevendo? Um curta ou um longa?
Curtas tem até 15-20 minutos e longas de 70 até 120 minutos (longas normais. Sagas duram mais de 3 horas, mas
sejamos modestos no começo).
Um amigo engraçadinho disse que era fácil saber: era só filmar tudo e depois de pronto o filme a gente olharia no
contador de tempo do DVD...
Na prática podemos nos orientar pelo seguinte: uma página dá cerca de 1 minuto de filmagem. Pronto! Se você vai
escrever um curta tem até 15 páginas para contar toda a trama.
O público não tem muita paciência com cenas lentas, e aquele tipo de filme que só acontece nos últimos 2 minutos. Se
estiverem num festival de curtas vendo seu filme vão se desconcentrar e começar a conversar. Se estiverem vendo um
DVD do seu longa em casa vão acabar trocando de DVD. Se for na TV mudam de canal.
Syd Field - autor de diversos livros sobre roteiro - estima em 10 minutos num longa. Esse é o tempo para o espectador
decidir se vai ver o seu filme ou o de outro. Por isso chame a atenção desde o primeiro minuto, desde a primeira
página. Se o espectador já teve que esperar por todos os créditos dê-lhe história logo no primeiro minuto de filme.
Tem quem diga que um filme não pode ter narrador. Bobagem. Um filme precisa ter o que ele precisa ter. Nem mais e
nem menos. Por isso ponha o que ele precisa ter. Sem pressão de ninguém.
E isso é outro detalhe importante: se você começar a se deixar pressionar por todo tipo de influências vai começar a
fazer o mesmo que todos fazem - quando devia estar desenvolvendo seu próprio estilo.
Não ponha uma mulher tomando banho nua só porque você acha que o espectador vai ver um filme parado só pra ver
a mocinha pelada no penúltimo minuto. Ele não vai ter essa paciência toda e a cena gratuita vai ficar com cara de
apelação.
Cuidado com a linguagem. Não coloque um bandido falando como num livro de Machado de Assis - mas não ponha
todo mundo falando como bandido. Observe as pessoas e como elas falam. Nem todas falam aquele amontoado de
gírias que são um tremendo clichê para humoristas.
Escreva um roteiro que você vai gostar de ver depois de filmado. Não vá fazer mais do mesmo - porque já fizeram isso
e você não terá chance. No seu dia-a-dia existem pessoas, fatos e acontecimentos que dão uma bela história. Já disse
isso mas nunca é demais repetir.
Seja original. Não vá fazer Carandiru de novo só porque o primeiro fez sucesso. Seja honesto com você e conte a sua
história.
Por falar nisso: sua história pessoal acaba sendo um grande material para escreve
Capitulo 18
Roteiros são compostos de várias histórias que se somam, se juntam e finalmente nos dão o filme.
Mesmo em curtas essas histórias existem - ainda que não tenhamos consciência disso.
No roteiro UM DIA PERFEITO temos a história do personagem principal - que acorda de mal grado pela manhã e se
depara com um irritante programa motivacional e uma porta rebelde de armário de banheiro. São o pano de fundo para
mostrar que a forma como se vê a realidade depende do estado de espírito da pessoa. Um dia perfeito pra um pode
estar sendo uma droga para o vizinho, e muito disso depende de como encaramos a vida, as coisas, e como reagimos
a elas.
Em paralelo tenho a história do Dr. Positivo, um homem fruto do neo-liberalismo que tenta motivar logo cedo as
pessoas que vão para o trabalho - e com isso garantir o seu próprio trabalho. Quem é ele, o que pensa, quais seus
objetivos, o que ele quer. É isso que precisamos saber e passar através de seu programa.
Temos ainda a história do reciclador, à margem da problemática competitiva organizacional, que vive a vida num ritmo
mais lento e consegue observa-la de outro ângulo.
No nosso caso o curta vai se passar numa linha contínua de tempo: desde a hora que o personagem acorda até
quando ele joga o rádio-relógio pela janela. Mas há casos de saltos de tempo, onde a história pode se desenrolar por
alguns dias, meses ou até anos. Não se esqueça de dar essa informação ao diretor e ao seu público.
Finalmente na próxima pretendo postar o roteiro pronto para que você possa ler. Espero que esteja aproveitando esse
curso e escrevendo muito.
Abraços.