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Yuval Harari fala sobre a necessidade

de retreinar pessoas com o avanço da


inteligência artificial
Para o filósofo e historiador, avanço da automação demandará rede de proteção às pessoas;
segundo dia da HSM Expo 2019 destaca importância do autoconhecimento para melhoria da
performance nas empresas

Por Natalia Pianegonda

06/11/2019

Filósofo, historiador, autor de diversos best-sellers – o mais recente "21 lições para o século 21"
–, Yuval Harari defendeu, nesta terça-feira (5), a criação de uma rede de segurança para proteger
as pessoas dos impactos do avanço da inteligência artificial, especialmente no mercado de
trabalho. Ele foi um dos grandes destaques da HSM Expo 2019, evento sobre gestão e inovação,
que ocorre em São Paulo (SP). O evento conta com a participação do Sistema CNT (Confederação
Nacional do Transporte, SEST SENAT e Instituto de Transporte e Logística).

Uma das principais medidas a serem adotadas, segundo ele, será o “retreinamento” de
trabalhadores. “Ninguém sabe como será o mercado de trabalho nas próximas décadas. O que
se sabe é que será completamente diferente do atual. Muitos, senão a maioria dos trabalhos
desaparecerão. Outros trabalhos vão emergir, mas não sabemos se o suficiente. O grande
problema vai ser retreinar as pessoas para preencherem essas novas funções”, disse.

Nos países mais pobres, as dificuldades devem ser maiores, uma vez que a baixa qualificação da
mão de obra tem sido, até agora, razão para empregos mal remunerados. Esses são os postos
de trabalho que primeiro devem ser substituídos por máquinas em escala massiva. “Muitas
pessoas podem se tornar inúteis do ponto de vista econômico. A próxima luta vai ser por não
ser irrelevante. Ser irrelevante é ainda pior do que ser explorado.” Por isso Hararai acredita na
necessidade de uma rede global de segurança, que apoie os trabalhadores para essa transição.
“Muitos países não conseguirão se não tiverem apoio”.

Medidas para preparar os profissionais do futuro devem, além disso, iniciar agora. “A revolução
da inteligência artificial ainda vai levar algum tempo até sair dos laboratórios para o mercado de
trabalho. Temos, talvez, 10, 20, 30 anos. Mas é crucial agir agora. O importante é o que você
ensina agora para que as crianças tenham habilidades relevantes em 2050.”

E quais serão as habilidades do futuro? Para Harari, as relacionadas à criatividade, habilidades


manuais e sociais.

É por essa, entre outras razões, que Yuval Harari considera a disrupção tecnológica como um
dos principais desafios a serem enfrentados pela humanidade neste século, juntamente com o
“colapso ecológico” e a “guerra nuclear”.

Para ele, ainda, o avanço da inteligência artificial vai permitir que se “hackeiem humanos”.
“Muitas vezes você fala sobre hackear contas bancárias, computadores. Mas pouco se fala de
hackear humanos. Hackear humanos significa criar algoritmos que vão me entender melhor do
que eu mesmo me entendo. Assim, poderão prever e manipular sentimentos e decisões. Para
isso, nem precisam me conhecer perfeitamente, basta me conhecer um pouco mais do que eu
mesmo.”

Autoconhecimento para a mudança


Mas a tecnologia não é determinista, lembra o filósofo. “O que fazer para evitar piores
resultados? No nível do indivíduo, o conselho mais importante, talvez, seja conheça a você
mesmo.” Isso, segundo ele, funcionaria como uma espécie de “antivírus” para a mente.

A importância do autoconhecimento foi pontuada, também, por Jill Ader, primeira líder
feminina a atuar em consultoria de liderança e pesquisa de executivos de nível internacional e
que, por mais de 20 anos, tem ajudado organizações a desenvolverem seus líderes.

“Os líderes precisam se conhecer, porque eles têm que ser capazes de transformarem a si
próprios para transformar as organizações”, destacou. Para ela, é necessário identificar o que
trava o potencial.

Ela exemplifica alguns padrões de comportamento que geram essa consequência. O primeiro,
disse, é que “quanto mais bem-sucedido você é, mais você se cega”. Isso porque o sucesso nos
torna confiantes, e é quando ficamos presos em nossos comportamentos antigos.

O segundo é que “a nossa identidade pode ser uma armadilha”. “Quem você se tornou quando
estava tão ocupado? E você gosta de quem você se tornou?”, provoca. Ela explica, também, que
a nossa identidade, normalmente, está vinculada ao nosso passado e temos atalhos mentais que
nos levam a nossa zona de conforto.

E o terceiro é a perda de propósito. “As pessoas querem saber por que existem, por que fazem
o que fazem. A próxima geração de líderes talentosos não ficará na sua empresa se você não
criar propósito. Isso afeta sua organização e toda a sociedade.”

Ao final, aconselhou: “Fique profundamente curioso sobre sua identidade, seu propósito e como
você se manifesta. Como você pode ser uma força do bem neste mundo? Porque isso, com
certeza, é liderança.”

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